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Campinas, de 13 a 19 de agosto de 2012 - ANO XXVI - Nº 535 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
BANCOS DE HISTÓRIAS O livro Brasil dos Bancos, do professor Fernando Nogueira da Costa, do Instituto de Economia, resgata a história bancária do país nos últimos 200 anos.
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BANCARROTA
A quebradeira das famílias norte-americanas no cerne da crise de 2008.
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SEM NORTE Indefinição no Brasil pode inviabilizar projeto de integração do Banco do Sul.
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Almir Mavignier no Ateliê de Pintura. Fotografia negativada de desenho. Foto: autor desconhecido. Acervo da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente
Segredos do quinto gosto Página 4
A ciência segundo Calvino Página 12
Almir Mavignier e os meandros do inconsciente Páginas 6 e 7
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Pesquisadora desenvolve dispositivo para ser usado no
tratamento de queimaduras Foto: Divulgação
Tecnologia, que ainda não é comercial, faz uso de derme suína e de polímero degradável pelo organismo MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
esquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado de Giselle Cherutti, apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, abre perspectivas para a produção de um dispositivo comercial para ser usado no tratamento de úlceras e queimaduras, especialmente as de grande extensão. De acordo com testes mecânicos e biológicos, a tecnologia, que contribui para a regeneração da pele, apresentou algumas vantagens em relação aos produtos encontrados atualmente no mercado, entre elas o fato de o polímero que a compõe ser degradado pelo organismo. “Nosso objetivo, agora, é aprimorar o dispositivo e partir posteriormente para testes em modelo animal e clínicos”, afirma a autora do trabalho, que foi orientada pela professora Eliana Aparecida de Rezende Duek. De acordo com Giselle, que contou com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o objetivo do estudo foi buscar uma alternativa mais barata e eficiente que as soluções já disponíveis no mercado para o tratamento de lesões, principalmente as causadas por queimaduras. O intento é oferecer futuramente uma opção de menor custo que possa ser utilizada pelos serviços públicos de saúde que mantêm áreas de atendimento a queimados. Para isso, a pesquisadora concebeu uma matriz dérmica composta por uma camada celular, que é colocada sobre a derme suína, que por sua vez é acomodada sobre um polímero. Este último, observa a pesquisadora, foi desenvolvido pela sua orientadora, que tem investigado ao longo dos últimos anos materiais biorreabsorvidos pelo organismo, com vistas ao emprego na área médica. A autora da dissertação explica que optou pelo uso da derme suína por ela apresentar características similares às da pele humana. “Dito de forma simplificada, nós pegamos um pedaço de tecido do porco e adotamos uma série de procedimentos para obter a camada dérmica, que tem os componentes necessários para favorecer a proliferação celular. Também usei células VERO, que constituem uma linhagem de fibroblastos [sintetizadores do colágeno] considerada padrão. Nos testes mecânicos e biológicos que realizamos, constatamos alguns aspectos importantes. O material contribui para a proliferação celular, devido a sua porosidade. Além disso, o dispositivo também se mostrou atóxico às células VERO. Ou seja, não foi verificada morte celular”, elenca Giselle. Além disso, prossegue a pesquisadora, também foi constatado que a matriz dérmica favorece a regeneração da pele por ser flexível, uma propriedade desejável quando o assunto é o tratamento de queimaduras. “Quando a pele está em processo de regeneração, pode haver contração. Assim, por apresentar flexibilidade, o material facilita esse movimento natural”. Outro benefício proporcionado pela nova tecnologia é o fato de o polímero que compõe o dispositivo ser degrado pelo organismo. Na prática, ele funciona como uma barreira física que protege a lesão do contato com o ambiente. Giselle esclarece que os produtos similares encontrados no mercado ou não contam com esse tipo de película protetora ou, quando contam, ela pode ou não ser degradada pelo organismo. “Quando não ocorre a degradação, o polímero tem que ser retirado posteriormente através de uma intervenção cirúrgica”, informa. Por fim, conforme a autora da dissertação, os ensaios laboratoriais determinaram que o período de regenera-
Giselle Cherutti (dir.) e a professora Eliane Rezende Duek: objetivo é oferecer soluções mais baratas para uso no sistema público de saúde
ção da pele foi equivalente ao obtido com a aplicação das matrizes dérmicas comerciais. Por tudo isso, observa a pesquisadora, o trabalho concluiu que o dispositivo estudado apresenta potencial para ser utilizado como um substituto dérmico para implantes de áreas de queimaduras extensas. Antes de ser transformada em produto, no entanto, a tecnologia terá que cumprir mais algumas etapas, como faz questão de destacar Giselle. De acordo com ela, a matriz dérmica ainda precisará sofrer alguns aperfeiçoamentos. Ademais, também terá que ser submetida a testes em modelo animal e clínico. “Vou dar continuidade aos estudos na minha tese de doutorado. Meu objetivo será superar alguns desses desafios”, avisa a pós-graduanda. Ela assinala que o tratamento de pessoas que sofrem queimaduras extensas é longo, doloroso e caro. Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) dão conta de que, no Brasil, são registrados aproximadamente 1 milhão de casos de queimaduras a cada ano. Tal número se torna ainda mais dramático quando se considera que de cada três pessoas queimadas, duas são crianças. As vítimas desse tipo de acidente normalmente passam a conviver com sequelas pelo resto da vida. Na maioria das vezes, informa a SBQ, os traumas envolvendo crianças ocorrem dentro da residência, especialmente na cozinha. Um fator agravante desse quadro, segundo os especialistas, é a facilidade com que o álcool líquido é adquirido no Brasil. Vendido livremente em qualquer mercado, esse produto inflamável responde por cerca de 20% das causas de queimaduras no país. São consideradas queimaduras graves aquelas que atingem mais de 30% da superfície corporal. No Brasil, entre as vítimas desse tipo de lesão, 5% das crianças e 10% dos adultos morrem. As queimaduras, conforme a SBQ, estão entre as principais causas externas de morte, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de trânsito e homicídios.
BIOCOMPATIBILIDADE
A orientadora da dissertação de Giselle, professora Eliana Aparecida de Rezende Duek, tem se dedicado nos últimos anos ao desenvolvimento de materiais biocompatíveis, voltados ao uso na área de Medicina Regenerativa. As pesquisas são desenvolvidas no Laboratório de Biomateriais da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. O trabalho da docente já foi objeto de reportagem no Jornal da Unicamp em 2007. Pioneiros no Brasil, os estudos já renderam materiais para uma série de aplicações. Foram desenvolvidos, por exemplo, placas e parafusos para serem utilizados em cirurgias reparadoras buco-maxilo-faciais, bem como pinos para fraturas e membranas para procedimentos odontológicos. Um dos polímeros concebidos por Eliana Duek, cujo pedido de patente já foi depositado, compôs a matriz dérmica desenvolvida por Giselle. Além de serem biorreabsorvíveis pelo organismo, esses materiais são bem mais baratos do que os disponíveis no mercado, normalmente importados. De acordo com estimativas da própria docente, os dispositivos criados no Laboratório de Biomateriais da FEM chegam a custar entre quatro e cinco vezes menos do que os comerciais.
Publicação Dissertação: “: Desenvolvimento e caracterização de dispositivo de PLLA/Trietil-Citrato associado à derme suína acelular para reparação de lesões cutâneas” Autora: Giselle Cherutti Orientadora: Eliana Aparecida de Rezende Duek. Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: CNPq
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O Brasil dos bancos
Foto: Antoninho Perri
Livro analisa a história bancária do país nos últimos 200 anos
Fotos: Febrabam/Reprodução
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
sistema bancário do Brasil pode contribuir para consolidar a democracia, ampliar a justiça social e melhorar a qualidade de vida da população, desde que saiba aproveitar as perspectivas de negócios que se apresentam, “crescendo junto com a mobilidade social de seus clientes”. A avaliação, que pode causar estranheza àqueles que enxergam os banqueiros como a encarnação do demônio, é defendida no recente livro do professor Fernando Nogueira da Costa, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. Intitulada Brasil dos Bancos, a obra, editada pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), faz uma análise profunda e inédita da história bancária do país nos últimos 200 anos, sustentada em estudos desenvolvidos ao longo de quase 30 anos de carreira acadêmica do autor. Carreira que, registre-se, continua em franca produção. “Minha próxima pesquisa, que já está em andamento, pois recebi bolsa de pesquisa do IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], tratará do papel do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] no financiamento da infraestrutura nacional”, avisa o economista. Para conduzir a pesquisa que deu origem ao livro, Fernando Costa recorreu a documentos oficiais, notícias de jornais, bibliografia especializada, mas também à sua experiência como vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal (CEF) e diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), no período janeiro de 2003 a junho de 2007. De acordo com o docente do IE, seu objetivo foi fazer uma recuperação histórica da atuação das instituições bancárias, desde a fundação do Banco do Brasil, em 1808, até os dias que correm. “Também me preocupei em abordar a questão das funções socioeconômicas dos bancos, bem como em analisar as perspectivas de negócios do setor no contexto de uma sociedade democrática e com menor desigualdade social”, informa. Em relação a essas oportunidades, Fernando Costa conta ter relacionado quatro áreas prioritárias para investimento dos bancos. A primeira é constituída pelo crédito rural, segmento no qual o Banco do Brasil tem desempenhado papel histórico, respondendo sozinho por cerca de 60% do financiamento à produção agrícola que propiciou o País se tornar o maior exportador de alimentos do mundo. “O desafio, agora, é fazer o seguro rural, que no meu entender é melhor forma de subsídio social que o recorrente perdão de dívida agrícola. Ele evita prejuízos, por exemplo, com acidentes climáticos. Outro ponto é o uso de derivativos do mercado futuro, para enfrentar o risco da oscilação de preços do mercado”, defende o autor do livro. O segundo foco de investimento elencado pelo economista é o crédito imobiliário, cujo mercado é dominado pela Caixa. “A grande oportunidade de negócio nessa área, no meu entender, é a chamada urbanização de favelas. É preciso que o Brasil faça como outros países fizeram com as autoconstruções. Na Europa, cidades como Paris, Londres e Napoli também tiveram favelas no passado. Ocorre que elas foram urbanizadas e integradas às cidades. É preciso conceder crédito imobiliário às pessoas, para que essas comunidades sejam revitalizadas, a partir de um planejamento urbano delineado pelo Estado. Transformadas em bairros populares, e integradas às cidades brasileiras, estas deixam de ser partidas”. Fernando Costa adverte, porém, que o crédito imobiliário voltado ao mercado de classe média precisa ser securitizado. Ou seja, precisa ser transformado em títulos financeiros a serem vendidos a investidores institucionais, particularmente os fundos de pensão, que fazem investimentos em longo prazo. A terceira perspectiva de negócio indicada por Fernando Costa refere-se ao financiamento do consumo. Segundo o docente do IE, é preciso dar seguimento à inclusão social e consequente ampliação do mercado de consumo brasileiro, que se tornou o quinto maior mercado nacional do mundo, ficando atrás
Fotos mostram funcionários, aspectos e transformações de bancos ao longo do século 20: pesquisa reúne documentos, notícias e bibliografia especializada
somente dos Estados Unidos, China, Japão e Índia. “Temos que atrair capital para criar investimentos e empregos, de modo a promover cada vez mais a inclusão de novas fatias da população no mercado consumidor”, diz.
INSERÇÃO O quarto e último filão, conforme o economista, está na inserção da economia brasileira no mundo. “Historicamente, essa introdução tem sido feita pelos bancos estrangeiros, que lidam com câmbio e financiamento externo. Penso que é chegado o momento de os bancos brasileiros ganharem escala e promoverem, eles mesmos, essa internacionalização. Com a moeda brasileira apreciada recentemente, tivemos oportunidade de ganhar maior competividade bancária no plano global”, acredita. Esses quatro movimentos, observa Fernando Costa, tendem a ser coroados pelo momento histórico e social vivido atualmente pelo Brasil. Ele assinala que o país tem experimentado o que os especialistas classificam de bônus demográfico. Em outras palavras, está em curso um processo no qual a popu-
lação economicamente ativa se torna maior do que a inativa. Isso se deve, entre outros fatores, à redução da taxa de fecundidade das mulheres e ao crescente ingresso delas no mercado de trabalho. Com isso, a renda das famílias tem crescido e a despesa, caído. “O resultado dessa equação é a eventual sobra de dinheiro para que as pessoas apliquem, por exemplo, em previdência complementar, visto que a Previdência Social não dará conta de responder às necessidades da população com maior longevidade. Penso que temos uma oportunidade histórica de proporcionarmos um salto na qualidade de vida dos brasileiros, possivelmente maior do que o registrado na era desenvolvimentista, entre 1950 e 1980”, imagina. Além desses pontos, Costa também aborda outros temas igualmente instigantes no livro, como a concentração bancária, intensificada nos últimos anos através de aquisições e fusões. O economista estudou diferentes casos de instituições que atuam no mercado de varejo, principalmente Real, Unibanco, Bradesco, Itaú e Safra, que juntos constituem a sigla “RUBIS”, cunhada por ele para exem-
O economista Fernando Nogueira da Costa: sistema bancário pode contribuir para consolidar a democracia e ampliar a justiça social
plificar a trajetória dessas marcas, que são consideradas vencedoras ou “joias da coroa”. “Esses bancos privados nacionais fizeram inovações financeiras e tecnológicas cruciais para o setor. Além disso, também contribuíram para popularizar os serviços bancários, em conjunto com o Banco do Brasil, a Caixa e os bancos estaduais”, diz. Conforme o autor do livro, a concentração está no DNA dos bancos. Ele esclarece que, em razão da forte competição, os grupos familiares perdem, em dado momento, a capacidade de capitalizar o negócio. Assim, o caminho natural passa a ser a venda ou a incorporação a instituições maiores. “Isso é benéfico particularmente para o banco comprador, que amplia de forma importante a carteira de clientes, mas corta todos os custos duplicados. Ou seja, o segredo está na economia de escala. Quanto mais clientes, mais depósitos, internalização do multiplicador monetário, cobrança de taxas de juros e tarifas de prestação de serviços bancários”, pormenoriza Fernando Costa. Na opinião do docente da Unicamp, é uma ingenuidade ser contra a concentração. “O processo tende a tornar os bancos mais fortes. E, cá entre nós, todos queremos manter nosso dinheiro em instituições classificadas como grandes demais para quebrar”. Questionado sobre o problema da fiscalização do setor bancário, Fernando Costa afirma que não é possível fazer críticas fáceis ao Banco Central (BC) quando ocorrem fraudes ou “embonecamento” de balanços. “Não dá para culpar o BC por esses casos. Seria o mesmo que culpar a Polícia pelos crimes. A culpa do crime é do criminoso. Obviamente, cabe ao BC fiscalizar e punir quem comete crimes financeiros, popularmente conhecidos como crimes do colarinho branco. Há casos, porém, em que as irregularidades vão além de manipulações e maquiagens contábeis. São inovações financeiras que não podem ser coibidas pelos mecanismos de controle conhecidos. O que aconteceu com o Banco Panamericano é um exemplo de caso de polícia. Segundo informações da imprensa, diretores deixaram a sede do banco com os porta-malas dos carros cheios de dinheiro!” Fernando Costa lembra, por fim, que o sistema bancário não é formado somente pelas instituições do setor. “O sistema bancário é constituído por todos nós. Apenas as pessoas que são economicamente inativas não mantêm relação com as instituições financeiras. Todos os demais recebem seus salários, guardam suas economias e fazem seus pagamentos através dos bancos. É preciso que tenhamos essa consciência. Por prestarem um serviço público, que é uma concessão do governo, os bancos precisam prestar contas à sociedade. São grandes corporações que lidam com um bem público: a moeda oficial, símbolo da soberania nacional. Eles devem ser bem fiscalizados, pois trabalham com recursos de terceiros. É por isso que os bancos grandes não podem quebrar. Eles são um elo muito importante do sistema econômico nacional, responsável pela guarda das economias populares”. O docente da Unicamp assinala, porém, que dizer que há bancos grandes demais para quebrar não é o mesmo que dizer que os banqueiros não possam falir. “São coisas distintas: salvar o banco e desapropriar o banqueiro”, assevera. A apresentação de Brasil dos Bancos é feita pela economista Maria da Conceição Tavares, professora de Fernando Costa no mestrado e no doutorado, ambos feitos na Unicamp. Acerca do autor, ela escreveu o seguinte: “Não posso deixar de me regozijar com a produtividade e a coerência de sua vida acadêmica e com a sua militância esclarecida contra a desnacionalização e a privatização dos bancos públicos”.
Serviço Título: Brasil dos Bancos Autor: Fernando Nogueira da Costa Editora: Edusp Páginas: 532 Preço: R$ 74,00
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Livro revela aspectos do
glutamato monossódico Obra aborda propriedades do gosto umami, muito usado para realçar o sabor Fotos: Antoninho Perri
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
SEGURANÇA O glutamato monossódico foi aprovado ao longo do século 20 como aditivo alimentar, e avaliado internacionalmente por peritos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Também foi avaliado regionalmente por comitês da União Europeia e nacionalmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, e pelo Food and Drugs Administration (FDA), nos Estados Unidos, além de ser aprovado pelo Codex Alimentarius, comissão criada em 1963 pela FAO e pela OMS para o desenvolvimento de normas alimentares internacionais. De acordo com o docente, essas avaliações, indistintamente, têm atestado que o uso do glutamato como aditivo alimentar é seguro, apesar de haver investigações sugerindo o contrário. “Por acreditar no uso seguro, começamos a pesquisar o MSG na Unicamp como aditivo alimentar”, opina. Na época, Felix integrava o comitê da OMS/FAO, o Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), que avalia o uso de aditivos alimentares. Trata-se de um organismo internacional que orienta os governos de países-
O glutamato monossódico pode ser encontrado no tomate e no molho de soja: potencializando o sabor dos alimentos Foto: Antonio Scarpinetti
s esforços conduzidos por pesquisadores de todo o mundo para desvendar o gosto umami, como é chamado o quinto gosto básico do paladar humano, chegaram ao glutamato monossódico (MSG), aminoácido que confere esse gosto a certos alimentos como o queijo parmesão, o tomate e o shoyu. Originário do vocábulo “umai”, que em japonês significa “saboroso” ou “delicioso”, o gosto umami está abrindo novas frentes de divulgação, agora com o livro Umami e Glutamato: Aspectos Químicos, Biológicos e Tecnológicos, organizado pelo docente da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Felix G. Reyes. O volume, de 622 páginas, recém-lançado pela Editora Plêiade, possui uma tiragem inicial de mil exemplares. Nele se expõem os pontos mais recentes sobre o uso seguro do glutamato, os seus aspectos biológicos e bioquímicos, sensoriais e tecnológicos, a sua produção e legislação. Esse projeto se avolumou de tal forma que o livro já está em processo adiantado de tradução para o espanhol. De acordo com o docente, a expectativa é que em pouco tempo esse conhecimento esteja totalmente disponível à América Latina, para os interessados e profissionais da área, alunos de graduação e de pós-graduação, além de médicos, farmacêuticos, químicos, biólogos e pessoas que atuam na área governamental, no campo de substâncias químicas alimentares. No livro, Felix relembra que até pouco tempo eram reconhecidos pela comunidade científica apenas quatro gostos básicos: o doce, conferido pela sacarose; o salgado, pelo sal de cozinha; o amargo, pela cafeína, por exemplo; e o azedo, pelo ácido cítrico. A descoberta do quinto gosto iniciou com o químico japonês e pesquisador da Universidade Imperial de Tóquio, Kikunae Ikeda, no primeiro decênio do século passado. O pesquisador percebeu que um dos ingredientes da comida que ele consumia diariamente – a sopa de caldo dashi (feita com alga konbu) –, muito usada na culinária japonesa, era responsável por sensações agradáveis que iam além dos quatro gostos básicos até então conhecidos cientificamente. Kikunae desvendou que as algas poderiam conter alguma substância capaz de produzir aquela sensação agradável. Ele partiu então para pesquisar uma possível molécula que seria responsável pelo novo gosto. O pesquisador constatou que, quando o glutamato estava ligado a proteínas, ele não apresentava o novo gosto, mas era notado quando estava em sua forma livre. Após detectar a substância responsável pelo quinto gosto a partir desta descoberta, em 1909, Kikunae Ikeda registrou a patente do produto glutamato monossódico, e o empresário japonês Saburosuke Suzuki II fundou a empresa Ajinomoto. A fama do produto correu mundo. “Os orientais são os que mais produzem e consomem o MSG”, recorda Felix. Em pouco tempo, passou a ser comercializado e agregado a alimentos durante o preparo, assim como ocorre com outras substâncias, como os edulcorantes, aromatizantes, estabilizantes e corantes. Após muita experimentação, foi mundialmente aceito como aditivo alimentar, com a função de realçador de sabor. Inicialmente, o aditivo alimentar glutamato era fabricado mediante hidrólises de proteínas, em geral de cereais, porém tratava-se de um processo caro, demorado e complexo. Hoje, é produzido com mais de 99% de pureza por meio de fermentação, a partir do melaço de cana, com microrganismos que geram o glutamato livre.
O professor Felix Reyes, coordenador do livro: “Conclui-se que o MSG como aditivo alimentar é seguro”
membros da ONU sobre normas, condutas para a produção, elaboração e manuseio de alimentos, para que não ofereçam risco à saúde. Graças à sua expertise como perito, o professor abriu uma linha de pesquisa em Toxicologia de Alimentos na FEA, subárea de aditivos alimentares, privilegiando a abordagem do glutamato. As especulações começaram pelos aspectos bioquímicos, utilizando um modelo de estudo com ratos que até então não havia sido praticado – a exposição subcrônica com posterior indução do diabetes. A decisão de aplicar esse modelo foi para tornar o animal mais suscetível aos efeitos de substâncias químicas. O raciocínio foi usar o sistema biológico para fazer experimentos mais apurados e detectar os efeitos pela exposição ao glutamato. O docente relata que os animais foram alimentados com MSG em diversas concentrações e em diversos grupos. Após um período, foram induzidos ao diabetes e continuaram sendo alimentados com glutamato monossódico. Ao final, eles foram avaliados quanto a parâmetros bioquímicos, hematológicos e histológicos, para saber se o MSG estaria atingindo as células e as enzimas do seu metabolismo. Não foram achados efeitos adversos associados a este consumo. “Podemos dizer que a exposição à substância como aditivo na dieta não provoca danos ao organismo animal e, por extrapolação, nem ao humano”, revela Felix. Todos os estudos com o glutamato eram feitos com vistas ao seu uso como aditivo alimentar, mas a partir do ano 2000 houve um marco divisor, quando pesquisadores da Universidade de Miami publicaram uma pesquisa indicando haver receptores para o MSG nas papilas gustativas da língua. Era o que faltava para comprovar que ele seria o responsável pelo quinto gosto básico, nascendo, cientificamente, o conceito umami, naturalmente presente em diversos alimentos, como o queijo parmesão, por exemplo. “Este é um dos alimentos mais ricos em umami”, ensina o docente. “Com isso, ele pode ser adicionado na salada, na sopa e na pizza, potencializando o sabor do alimento.” Outro alimento rico em umami é o tomate. E à medida que ele amadurece, aumenta a sua quantidade de gluta-
mato livre. Por isso nas massas em geral empregam-se os molhos de tomate, para tornar o alimento mais apetitoso. O molho de soja, o shoyu, também tem glutamato livre em boa quantidade. “E adicionamos ao alimento uma pequena quantidade, pois seu uso é autolimitante”, expõe o professor. “É que, em excesso, o MSG torna o quinto gosto desagradável, como o açúcar, quando adoçamos demais, e o sal, quando salgamos demais.” Qual então seria a quantidade ideal? Recomenda-se algo entre 0,3% e 0,8%, o que equivale a uma colher de sobremesa para cada 100 gramas de alimento. Usado conjuntamente, frisa o professor, o glutamato exigiria uma menor quantidade de sal. Pesquisas de mérito científico têm enfatizado que a população brasileira consome muito sal: em média 12 gramas diárias por pessoa (o dobro do sugerido pela OMS), favorecendo a hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares. Aconselha-se o emprego de duas partes de glutamato para uma parte de sal. Isso faria com que o gosto salgado permanecesse no alimento, tornando possível utilizar menos sal sem prejuízo ao sabor.
AVANÇOS
O grupo de Felix na Unicamp desenvolve duas vertentes de pesquisa relacionadas ao glutamato monossódico. Além do modelo de experimentação em animais diabéticos, há uma pesquisa sobre receptores cerebrais. No último estudo, de mestrado, relata o professor, almejava-se avaliar possíveis efeitos indesejáveis em receptores cerebrais pelo consumo do MSG, uma vez que alguns trabalhos diziam que a substância poderia alterar recepServiço tores do hipotálamo, e que isso provavelmente levaria à obesida- Título: Umami e Glutamato: Aspectos Químicos, Biológide. “Como há uma epidemia ge- cos e Tecnológicos neralizada de obesidade no mun- Autor: Felix G. Reyes (org.) do, alguns estudos têm tentado Editora: Plêiade associá-la ao consumo do MSG. Páginas: 622 Evidentemente isso é difícil de aceitar, haja vista que os maiores consumidores do produto são os orientais, em cujos países a obesidade é mínima”, pondera Felix. “Em compensação, entre os ocidentais, que têm as maiores taxas de obesidade (como os Estados Unidos), o consumo de MSG é de seis a sete vezes menor do que entre os orientais”, argumenta. Esse estudo, segundo o docente, demonstrou que o glutamato não provoca alterações em receptores do hipotálamo. “Considerando todas avaliações feitas, conclui-se que o MSG como aditivo alimentar é seguro, se utilizado no nível necessário para obter efeito tecnológico desejado”, esclarece.
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Famílias
no passivo
Economista vai na raiz da crise imobiliária que atingiu os Estados Unidos em 2007 Foto: Reprodução
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
m um espaço de quase um século, a família norte-americana prosperou e passou não só a consumir mais, como também adquiriu um imóvel que começou a valorizar. Sobre este mesmo imóvel tomou mais crédito dos bancos, fez novas hipotecas, já que havia lastro: um imóvel que seguia valendo mais. O problema é que chegou o dia em que o processo foi interrompido e se reverteu, ou seja, o ativo real (imóvel) foi perdendo o valor, enquanto as dívidas só aumentavam. Foi o princípio da grande crise imobiliária de 2007 nos Estados Unidos, que desencadeou a crise financeira internacional em 2008. Nas primeiras análises, o abalo ficou conhecido como crise do subprime. Isso porque os bancos deram crédito às famílias menos abastadas, com histórico financeiro ruim, o que teria propiciado a instabilidade. Na realidade, a questão é muito mais complexa, como observa o economista Everton Rosa, autor da dissertação de mestrado “O papel macroeconômico das famílias e a geração de fragilidade financeira“, orientada pela docente Simone Silva de Deos, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. Rosa usou o caso norte-americano para comprovar o papel das famílias como agentes que, da mesma forma que as empresas e as instituições financeiras, podem tanto contribuir para o dinamismo da economia, como para o aumento de sua vulnerabilidade. Para o pesquisador, as famílias do subprime apenas entraram em um processo de endividamento que já estava em curso. O aspecto importante seria justamente as dívidas contraídas pelas famílias intermediárias, algo que abrange ampla classe média e a classe trabalhadora. Após décadas de endividamento, juntam-se as famílias menos abastadas, quando o ciclo dos imóveis já estava se esgotando. O fato de grande parte dos economistas não atentar para estas questões era algo que incomodava o pesquisador. Segundo ele, o instrumental desenvolvido para análise dos ativos e passivos das relações financeiras pode ser aplicado a qualquer contexto histórico e econômico, inclusive o brasileiro. “Se a renda e os mecanismos de crédito continuarem evoluindo no Brasil, acredito que, com o tempo, as famílias brasileiras terão novas prioridades que excedem a dimensão e as motivações do consumo, como as aplicações financeiras e as decisões para o futuro”. Segundo o autor da pesquisa, o Brasil ainda precisaria criar mercados secundários e sofisticar seus instrumentos financeiros de longo prazo, bem como modificar a regulamentação do mercado imobiliário, para abrir uma possibilidade de fragilidade. “Até o momento, uma crise imobiliária no Brasil, como a americana, é uma possibilidade afastada”, ressalta Rosa. O crédito imobiliário, que foi o epicentro da crise de 2007, representa nos Estados Unidos, segundo o pesquisador, 65% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil a porcentagem é de apenas 5%.
crises de 2001 e 2007. O endividamento de longo prazo é o que indica a mudança no comportamento das famílias, sugerindo um papel mais dinâmico na economia”.
CÂNONES REVISITADOS
DADOS DO FED
Rosa optou por estudar a economia dos EUA justamente pela complexidade das relações financeiras do país e pelo capitalismo norte-americano ser o mais sofisticado, profundo e diverso em relação aos instrumentos financeiros, instituições de crédito e mercado de capitais. Também contribuíram para a pesquisa as vastas bases de dados disponibilizadas pelo Federal Reserve (Fed), que é o banco central norte-americano. Sabe-se que a crise de 2007 ganhou as devidas proporções em função do processo de securitização e de difusão dos instrumentos derivativos. De um lado foram eliminadas as restrições aos empréstimos dos bancos e, de outro, permitiu-se a difusão de papéis financeiros derivados de compromissos de crédito nos diferentes investidores. A contribuição das famílias para explicar a crise era, de certa maneira, colocada em segundo plano. Em geral as análises se voltavam ao crédito para o consumo. Rosa avalia que as famílias devem ser vistas além de suas decisões de consumo, isto é, como agentes que constituem dívidas e adquirem ativos. “A forma como decidem sobre seus estoques de ativos e/ou dívidas tem efeitos sobre as próprias decisões de consumo, ou seja, ele pode ser estimulado, indo além das restrições de renda no caso do enriquecimento com ativos ou com acesso difundido ao crédito”, argumenta. O crédito ao consumo, que pode alavancar a atividade econômica, apenas seria um fator de fragilidade caso as relações de endividamento fossem generalizadas entre as famílias e houvesse desemprego em massa. “Nesse caso, a contrapartida das obrigações financeiras é diretamente a magnitude da própria renda. Quando se trata de ativos, a comparação é direta com o valor da dívida”, diz. No caso estudado, o endividamento das famílias americanas era sobretudo de longo prazo, associado à aquisição de imóveis. “A abordagem da crise em geral foi de que as famílias se endividaram para o consumo pela facilidade do crédito. Eu coloco que a dívida não é para o consumo. As famílias se endividaram no longo prazo para a compra de ativos que se valorizavam. Essa valorização permitiu acesso a mais crédito e isso lastreou novas decisões das famílias, tendo inclusive reflexo na ampliação do consumo. É outra dinâmica”. Os norte-americanos tinham a sensação de ter enriquecido rapidamente, mas na realidade o que havia era um ativo carregado por uma dívida. Rosa não está demonizando o crédito. “Nas economias de-
Casa à venda nos Estados Unidos: ativo real foi perdendo valor ao longo dos anos
Foto: Antoninho Perri
Everton Sotto Tibiriçá Rosa: analisando o papel macroeconômico das famílias norte-americanas
senvolvidas, o crédito representa em geral mais de 100% do PIB. A economia acelera pela disponibilidade de crédito”. No entanto, o endividamento das famílias sugere outros pontos: enriquecer com a valorização dos ativos representa uma atitude especulativa segundo o autor. “Elas podem não saber que estão especulando, mas quem só tem uma casa e decide aumentar o endividamento em vez de pagar a dívida ou exercer o ganho que teve, quer o ganho”. Ademais a crise dos EUA não teria sido conjuntural. O pesquisador fundamenta sua opinião com base nos estudos de dados do Fed desde a crise de 1929, especialmente no pós-Segunda Guerra Mundial. “O endividamento das famílias norte-americanas é estrutural, parte constitutiva da economia daquele país desde o pós-guerra. O processo ganha maior dimensão nos anos 80 quando são realizadas reformas no setor financeiro em resposta à crise das instituições de poupança. A securitização e a forte presença de gigantes estatais (Fannie Mae e Freddie Mac) constituíram um amplo mercado secundário de hipotecas, garantindo a ampliação do crédito imobiliário e o acesso à casa própria. Nos anos 90, ocorrem novos saltos de endividamento até as
As bases para o trabalho de Rosa estão em John Maynard Keynes e Hymman Minsky. Em 1936, Keynes, considerado o pai da macroeconomia, lançou “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. Consumo e investimento determinavam a renda e o produto. “Já estava claro que as duas variáveis precisam ser analisadas conjuntamente” afirma o pesquisador, muito embora ressalte que a teoria keynesiana apresenta a especificidade de ter sido criada num período no qual a massa trabalhadora não tinha acesso ao sistema financeiro e a formas de renda eram distintas das do trabalho. “O padrão de disseminação do consumo e produção em massa começa a se desenvolver a partir de meados do século passado e, além da distribuição de renda e dos mecanismos do Estado de bem-estar social, a difusão do crédito foi fundamental neste processo”, acrescenta. Já Minsky explorou as relações financeiras da economia descrita por Keynes, destacando o papel do financiamento das decisões, em particular do investimento a partir da Hipótese de Instabilidade Financeira (HIF). O próprio autor destacava que a abordagem dos ativos e passivos – e dos fluxos monetários que estes estabelecem – deveria ser aplicada a outros agentes da economia. Rosa trouxe a análise para as famílias. “Eu não podia olhar para o endividamento familiar a partir do enfoque keynesiano de curto prazo e sem incorporar os passivos. Minsky, por outro lado, seguindo e criticando a construção de Keynes, enfatizou os impactos da dívida no sistema, e embora tratasse de diversos agentes, volta sua exposição para as empresas e ao investimento. A crise imobiliária norte-americana não poderia ser avaliada com referência apenas na função consumo de Keynes”, salienta. A conclusão do trabalho aponta para a importante evolução do papel das famílias na economia. Ressalte-se que, quando fala em “família”, Rosa está tratando da família em geral, uma vez que as mais ricas já estariam “sujeitas” aos fatores de crédito e de aquisição de ativos. “As relações financeiras que eram restritas aos mais ricos se generalizam. As famílias, de forma geral, apresentam uma inserção financeira dupla, via ativos e passivos. O crédito facilitado contribui, mas não justifica a crise norte-americana. As famílias tomam decisões que não estão relacionadas ao consumo e que afetam a economia, principalmente em função do acesso aos ativos reais, isto é, à facilidade de crédito somam-se as expectativas e motivações das famílias que excedem a decisão de consumo”.
Publicações Dissertação: “O papel macroeconômico das famílias e a geração de fragilidade financeira” Autor: Everton Sotto Tibiriçá Rosa Orientação: Simone Silva de Deos Unidade: Instituto de Economia (IE)
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Campinas, de 13 a 19
No ateliê do
inconsciente Livro detalha atuação de Almir Mavignier no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro
Almir Mavignier caminha ent
EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU
eriferia do Rio de Janeiro, ano de 1946. Um jovem precisava de um emprego de meio período para dar tempo de trabalhar como artista plástico. Foi contratado como artífice diarista para “acalmar doente”, mas não tinha físico para isso. Certo dia, ele viu uma psiquiatra comandando uma festinha do grupo de seção terapêutica. O jovem dirigiu-se a ela e propôs abrir um ateliê de pintura para os internos do hospital. O nome desse jovem: Almir Mavignier. Filho de mãe maranhense e pai paraibano, Mavignier era o caçula de cinco irmãos. Fez desenho vivo e estudou com professores europeus no Brasil. No afã de dar vazão à sua arte, propôs à psiquiatra Nise da Silveira que se montasse um ateliê de pintura no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, localizado na periferia do Rio de Janeiro. A psiquiatra gostou da ideia e disse que só não tinha aberto ainda um ateliê por falta de alguém habilitado para tanto – ou de um funcionário que ficasse responsável. No período de 1946 a 1951, os internos de Engenho de Dentro participavam de atividades de arte no ateliê coletivo, orientados por Mavignier. Nos seis anos em que ficou no local, foram produzidos centenas de desenhos, pinturas e modelagens que vieram a compor a coleção do Museu de Imagens do Inconsciente (MII). Em 1951, Mavignier mudou-se para a Europa, onde vive até hoje. “A história que prevaleceu dos primórdios do ateliê do Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro foi o relato da psiquiatra Nise da Silveira. Entretanto, todas as histórias merecem ser conhecidas”, explica a professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp Lucia Reily, uma das organizadoras do livro Marcas e memórias – Almir Mavignier e o ateliê de pintura de Engenho de Dentro, recém-publicado pela editora Komedi. O livro é resultado do desdobramento da pesquisa “A psiquiatra e o artista: Nise da Silveira e Almir Mavignier encontram as imagens do inconsciente” realizada em 2006 por José Otávio Pompeu e Silva, professor do curso de terapia ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na época aluno de pós-graduação do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. “As professoras da Unicamp Ligia Eluf e Ana Angélica Medeiros Albano perceberam que o material era digno de uma maior investigação. Apresentamos uma proposta ao edital Petrobras Cultural de 2007. A professora Lucia Reily acreditou na ideia e assumiu a escrita e coordenação do projeto, que deu origem ao livro”, explica Pompeu e Silva. A elaboração do livro envolveu um grande número de pessoas nos processos de pesquisa histórica e documental; coleta, transcrição e análise de entrevistas; procura por imagens; seleção, preparação, redação, revisão do manuscrito e tradução – a edição é bilíngue (português-inglês). As entrevistas, por exemplo, foram feitas por cartas, e-mails e ligações telefônicas. Uma aluna que ia para a Alemanha, em 2006, fez uma entrevista de seis horas com Mavignier, que recebeu antecipadamente as questões. Em 2008, durante a abertura de uma exposição do artista no Museu de Arte Contemporânea em Niterói, RJ, Pompeu e Silva teve uma conversa informal com Mavignier, durante horas. “Ainda mantenho contato com Mavignier, que vive em Hamburgo e está com 87 anos, recuperando-se de problemas de saúde”, diz Pompeu e Silva.
Mais de 120 fotos coloridas e em preto e branco compõem o livro. Cerca de 20 pesquisadores procuram as imagens em acervos ligados ao tema no eixo RioSão Paulo e fora do país. Algumas das fotografias de Almir Mavignier foram feitas pelo filho dele, Delmar, na Alemanha. As obras do MII foram procuradas uma a uma, para descobrir as que eram do período em que Mavignier foi monitor do ateliê de pintura de Engenho de Dentro. O livro é dividido em cinco capítulos. Além de Lucia, José Otávio e Ana Angélica, professora do Laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação (Laboarte) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, escrevem também: Maria Heloisa Corrêa de Toledo Ferraz, professora da Escola de Comunicações e Artes da USP; Raquel Amin, professora do curso de artes visuais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), e Rosa Cristina Maria de Carvalho, doutorando em história da arte no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. O prefácio é do psicanalista João Augusto Frayze-Pereira, professor aposentado do Instituto de Psicologia da USP. O material coletado para o livro deu origem também a uma coleção de DVDs, destinada a centros de pesquisas e museus. Um dos DVDs traz a descrição de todas as obras que ilustram o livro para pessoas com baixa visão ou cegueira. “De 1946 a 1961, Nise da Silveria guardou as produções artísticas e artigos de jornais sobre as exposições. Tudo foi digitalizado pelo grupo de pesquisa. Esta é uma das grandes contribuições do projeto, que teve apoio do Ministério da Cultural”, explica Lucia.
Efraim (1949). Emygdio de Barros. Óleo sobre tela, 70x98 cm. Foto: Augusto Fidalgo. Acervo do Museu de Imagens do Inconsciente
ARTE E PSICANÁLISE Durante todo o tempo em que Mavignier trabalhou com Nise da Silveria, ele personificou a figura de guardião, um descobridor da potencialidade criativa de cada um dos pacientes que o ateliê de pintura de Engenho de Dentro acolheu. Ele era um facilitador da criatividade que deixava surgir e respeitava quaisquer que fossem as suas formas de manifestação artística. Assim, pode se dizer que Mavignier realizava, de maneira bastante incomum, certa articulação entre arte e psicanálise. Na busca inicial por internos que poderiam usufruir de um espaço de expressão artística, Mavignier utilizou-se de critérios subjetivos. Contanto com sua intuição, o acaso, os dados de atendentes e enfermeiros sobre quem tinha interesse em desenhar, descobriu os pintores do Engenho de Dentro. Ele iniciou uma verdadeira arqueologia humana, pesquisando pacientes depositados em alas, enferma-
Sem título. Caricatura de Almir Mavignier (1948). Abelardo Correia de Medeiros (Autin). Guache sobre papel, 40 x 20,3 cm. Foto: Ravena Sena. Acervo do Museu de Imagens do Inconsciente
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9 de agosto de 2012 Foto: Delmar Mavignier
tre obras em seu ateliê, na cidade alemã de Hamburgo, em 2006: artista plástico desenvolveu trabalho seminal no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro
Foto: Antoninho Perri
Exposição no MAM São Paulo com obras de Lucio e Vicente (1949). Foto: autor desconhecido. Acervo da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente
Sem título (1948). Fernando Diniz. Óleo sobre papel, 56,4x76,2 cm. Foto: Augusto Fidalgo. Acervo do Museu de Imagens do Inconsciente
A professora Lucia Reily, um das coordenadoras do livro: “Todas as histórias merecem ser conhecidas”
rias e setores do hospital que formavam um conglomerado psiquiátrico com mais de mil internos na época. “Tinha um interno aí que enchia, embaixo da cama dele, uma caixa cheia de papel higiênico com coisas estranhas. Então eu vi as caixas com desenhos fabulosos... esse era o Carlos Pertuis. Tinha a Adelina, que fazia bonecas. Diziam que era agressiva. Mas ela precisa de gentileza. Vim buscá-la de chapéu, sob chuva, e ela ria muito. No pátio, foi uma pérola. Tinha um charme, uma beleza interior muito grande”, relata Mavignier. No ateliê, os materiais eram elementares: água para guache, aquarelas e terebintina para óleos. Mavignier explicava como misturar as tintas e lavar os pincéis. As tintas e telas eram compradas. Emygdio é outro paciente descoberto pelo monitor de encadernação de forma casual por causa de sua mirada “de canto de olho”. “A interpretação de ‘canto de olho’ é uma ciência apurada”, dizia Nise da Silveira. Para Ferreira Gullar, Emygdio talvez seja o único gênio da pintura brasileira. “Para Emygdio, eu precisava fazer o possível para comprar telas cada vez maiores e tintas melhores. Ele era um Van Gogh, um Matisse”, relembra Mavignier. A sensibilidade terapêutica de Nise da Silveira complementava a sensibilidade artística de Almir Mavignier. Nise orientava Almir a não interferir nos trabalhos dos pintores do Engenho de Dentro. Muitas vezes, ele levava os pacientes para os jardins entre os diversos hospitais que formavam o Centro Psiquiátrico Nacional para que pintassem ao ar
livre. Diversas vezes conseguiu transporte para que os internos fossem pintar em pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro, como a Capela do Mayrink e a Floresta da Tijuca. O ateliê foi uma verdadeira oficina coletiva, cujos integrantes passaram longos períodos e até décadas a produzir e reinventar sua arte. Carlos Pertuis produziu mais de 21.500 obras; Adelina, aproximadamente 17.500. À medida que o trabalho se consolidou, chamou a atenção de críticos de arte, artistas plásticos e curadores
de museus, como Sérgio Milliet, Quirino da Silva, Flávio de Aquino e Mário Pedrosa. Em 1949, ocorreu uma exposição dos “9 Artistas de Engenho de Dentro” no Museu de Arte Moderna de São Paulo. No mesmo ano, no Rio de Janeiro, as obras foram expostas na Câmara Municipal. A exposição causou impacto na elite cultural de São Paulo. A apreciação das obras gerou comentários que ligavam as produções dos internos de Engenho de Dentro a grandes nomes da arte erudita. De acordo com o livro, é interessante notar que em muitas reportagens o papel de Almir Mavignier ficou bastante apagado nas primeiras exposições. Ele ficou nos bastidores. As falas remetem mais a Nise da Silveira. Foi preciso que ele estivesse circulando com maior evidência nos circuitos das artes para que seu nome aparecesse nos catálogos e os autores dos artigos também o enxergassem. A presença de Almir Mavignier é lembrada no jornal O Estado de São Paulo: “um jovem pintor do Rio, Almir Mavignier, teve a boa ideia de trazer a São Paulo, para seServiço rem estudados peTítulo: Marcas e memórias: Almir Malos nossos críticos vignier e o ateliê de pintura de Engede arte, os trabalhos nho de Dentro plásticos dos artisAutores: Lucia Reily, José Otávio Pomtas de Engenho de peu e Silva e colaboradores Dentro, em cujos serviços ele colaboEditora: Komedi ra, na secção de pinPreço: R$ 80,00 tura dos alienados”. Páginas: 320 A imagem de uma idosa frágil numa cadeira de rodas com os dedos em riste apontados para cima entrou no imaginário de muitos que passaram a divulgar que Nise da Silveria foi a única responsável pelo trabalho desenvolvido no Engenho de Dentro. O ateliê teve outros monitores e artistas, além de Mavignier. Segundo Pompeu e Silva, Mavignier tem um papel central no desenvolvimento das atividades de artes visuais com pessoas com distúrbios mentais. Foi ele que encontrou artistas como Emygdio de Barros, Raphael Domingues e Adelina Gomes, entre outros, em meio a mais de quatro mil internos dos vários hospitais psiquiáticos que existiam no Engenho de Dentro no Rio de Janeiro na década de 1940. Além disso, ele foi um verdadeiro professor que encontrou o meio para cada artista expressar seu talento. Uma frase de Almir Mavignier faz pensar em tudo que aconteceu naquele subúrbio do Rio de Janeiro: “Eu descobri muitos artistas, e quanto aos artistas que eu encobri e nunca foram descobertos?”. O livro conta a versão do Mavignier artista, monitor, professor de artes que ficou mais de 60 anos longe do Brasil. Os dados levantados na pesquisa apontam que nunca houve nenhum ressentimento entre Nise da Silveira e Almir Mavignier e sempre existiu muito respeito e amizade. O próprio Mavignier conta isso: “Nossas relações eram as melhores possíveis, porque ela me ensinava, me instruía, me dizia como trabalhar com o pessoal, de não influenciar, de não mexer em coisa alguma, apenas dar uma orientação técnica. Então, começamos a trabalhar”, revela.
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Os giros de
‘Amaury da dança’ MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
e perguntar a qualquer pessoa sobre Amaury Fernandes, talvez ela não saiba responder, mas experimente procurar por “Amaury da dança”. Assim ficou conhecido o funcionário dançarino do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) desde que deixou de ser o Amaury da Educação, faculdade em que iniciou suas atividades como guardinha na Unicamp. Lugar modesto em área física, no térreo do Ciclo Básico 1, mas repleto de personalidades que Amaury se sente honrado em ter conhecido, como Paulo Freire, Rubem Alves, Luiz Carlos de Freitas, Hilário Fracalanza, Ezequiel Teodoro da Silva, Sueli Bonato, Marina Paranhos e muitos outros, entre eles Márcia Strazzacappa, que foi sua concorrente no vestibular para a primeira turma do curso de dança da Unicamp. “Na prova de aptidão, fiquei em segundo lugar, mas meu desempenho não foi bom em física e matemática, acabei ficando de fora”. A não-aprovação no vestibular, porém, não fez com que Amaury se sentisse menos dançarino. A arte que começou em matinês e mais tarde em bailes noturnos começou a ganhar contornos profissionais com seu ingresso no grupo cênico Liberdade, Canto e Dança, criado em 1983, em Campinas, com o objetivo de difundir a cultura negra. Neste grupo, ele atuou por dois anos, ao lado de outros amigos da Unicamp, Jayme Souza Filho e Silva Helena Zeferino e mestre Jacinto, que, apesar de ser funcionário, acabou sendo contratado como dançarino popular para ministrar aulas de capoeira no Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes (IA). Em seguida, Amaury teve oportunidade de dançar no grupo Urucungos, Puítas e Quijêngues, formado pela professora do curso de artes cênicas da Unicamp Raquel Trindade. “Era curso de extensão. Chegamos a dançar no Circo Voador, no Memorial da América Latina. Muitas pessoas que trabalhavam com cultura negra na cidade fizeram parte desse grupo”, relembra. Antes, havia trabalhado também como grupo Nó na Garganta. De 1993 a 1995, Amaury ficou responsável pelas aulas de dança de salão da Academia Lina Penteado. Hoje, afirma que sua didática foi tirada da experiência com teatro. Quando se tornou professora de licenciatura em dança na FE, a amiga Márcia Strazzacappa convidou-o para ministrar uma palestra a graduandos do Instituto de Artes. Na ocasião, Amaury falou sobre a experiência como professor de dança na Fundação Síndrome de Down, de Barão Geraldo, de 1997 a 2002. Durante cinco anos, Amaury dedicou o intervalo do almoço aos alunos da fundação. Lá, desenvolveu várias formas de trabalhar dança com crianças especiais, algumas delas hoje protagonistas da campanha “Ser diferente é normal”. “O que a dança faz com você? Todo mundo dança.” Com essas frases, Amaury insistiu no desejo de transmitir os benefícios da dança a outras pessoas. Em 1994, ele também reservava o horário de almoço para oferecer aulas de dança na Faculdade de Educação, de segunda a quarta-feira, e na Diretoria Geral de Administração (DGA) da Unicamp, às terças e quintas-feiras. Antes mesmo de algumas empresas privadas defenderem a importância de quebrar a rotina dos funcionários com ginástica laboral e outras atividades físicas, Amaury já atentava para a importância de amenizar doenças ocupacionais com atividade física, entretenimento e, principalmente, relações pessoais saudáveis. Ele recorda que na DGA, por exemplo, conseguia aproximar profissionais de diferentes cargos, inclusive a diretora, na atividade de dança. Esse resultado satisfaz Amaury, que não quer transformar seus alunos em grandes coreógrafos, mas conhecedores do próprio corpo. “Sempre digo aos alunos que o fato de se propor a dançar significa 50% de chance de conseguir chegar ao que deseja.” Um de meus cursos tinha o título “Relacione-se melhor. Faça dança de salão”. Mas este verbo relacionar, segundo o professor, não está voltado simplesmente para a boa convivência, mas sim na consciência do que o aluno é como pessoa e no seu meio social. Para ele, a dança de salão ajuda a se relacionar melhor, pois, por meio dela, é possível se conhecer e conhecer outras pessoas e até mesmo aprender a respeitar o espaço do outro. “Porque a dança de salão exige que existam cinco pilares: harmonia, postura, ritmo, condução e coreografia.” Durante a graduação em recursos humanos, pelas Faculdades Anhanguera, ofereceu uma palestra na qual fez essa analogia da dança de salão com a rotina de trabalho: “Tanto para a dança de salão quanto para qualquer área de atuação, se a pessoa não tiver os quatro primeiros pilares, o último não virá. Porque a coreografia é o momento em que você trabalhará o que aprendeu”, reforça. E prossegue: “Tem de ter harmonia com a pessoa e consigo. Tem de ter postura correta, ritmo, saber conduzir e ser conduzido, tem de ter criatividade”. Para Amaury, mais que ensinar passos, a dança de salão tem de oferecer liberdade ao aluno. “A dança de salão não pode ficar restrita a ensinar coreografias e passos e tem professor que quer que o aluno fique somente naquilo que ele está passando. Eu colocaria a dança de salão numa relação próxima à gestão de pessoas, pois estou lá como orientador, direcionando o aprendizado, mas tenho de trabalhar um de cada jeito. Tenho de arrumar didática diferente de ele aprender aquilo que eu quero passar. Sempre deixo claro que não vou às aulas para
Funcionário da Unicamp desde 1977, dançarino dá aulas nas unidades Fotos Divulgação
Foto: Antoninho Perri
Amaury atuando no grupo Urucungos, Puítas e Quijêngues, (acima) em 1982, e durante aula na Unicamp (ao lado) O funcionário do GGBS Amaury Fernandes : “Tem de ter harmonia com a pessoa e consigo”
ensinar estilos. Digo: ‘Eu vou cutucar seu estilo para que você me mostre o que você está fazendo para atingir o que você quer’”, enfatiza. É assim na dança, é assim no mundo do trabalho. Como estudante de MBA em gestão de pessoas, Amaury defende que “o líder é; e o gerente está”. Em suas aulas, ele deixa claro aos alunos: “Vocês têm de atingir seu objetivo e o seu próprio estilo”. Na Unicamp, o sonho de trabalhar movimentos começou com sua realocação da FE, liberado pelo então diretor Luiz Carlos de Freitas, para os Programas Educativos da DGRH (atual Dedic), onde, de 2003 a 2009, ensinou dança de salão a alunos do espaço lúdico do Prodecad e da Escola Estadual Físico Sérgio Porto. Além disso, participou por seis meses do Programa Mexa-se, voltado à prevenção de doenças e reabilitação de funcionários com problemas de saúde. O número de doenças psicossomáticas fez com que a superintendência do HC criasse a sala de descanso do HC, e Amaury, de 2008 a 2010, mais uma vez colocou-se à disposição para desenvolver uma das atividades, mas apesar de as atividades serem o divisor de águas na vida de pessoas que sofriam de estresse e depressão, de acordo com depoimento dos alunos, mais uma vez a proposta de Amaury esbarrou na questão de interrelações. Os colegas de trabalho, segundo Amaury, não compreenderam que a “reabilitação” do trabalhador se traduziria em benefícios para a equipe. Muitas pessoas não aceitavam que o companheiro ampliasse seu horário de trabalho em alguns minutos para participar do programa. Com isso, houve gradativamente a redução do número de pessoas no grupo, até chegar ao fim. Ele relata que quando iniciou o trabalho pediu que a administração trabalhasse a ideia com a chefia imediata, pois o ideal era que o aluno tivesse o tempo para a aula e para sua alimentação, mas algumas pessoas não entenderam a proposta de quebrar a rotina. “Assim acontece em empresas privadas que se conscientizaram da necessidade quebrar a rotina”, explica. Pelo trabalho realizado em prol da saúde humana, tanto na Unicamp quanto fora dela, seja na Fundação Síndrome de Down, no Projeto Escola da Prefeitura Municipal de Campinas e até mesmo na academia Giras, que mantém com a esposa Isabel Pieroni, Amaury foi condecorado com a medalha Carlos Gomes, em 2004, oferecida pela Câmara Municipal de Cam-
pinas. “O capital humano é o maior bem que uma empresa tem. Se souber valorizá-lo será mais fácil atingir suas metas”, resolve. Espelho jamais, pois, para Amaury, na dança as pessoas precisam se sentir e não se ver. “O espelho só é verdadeiro quando você se encara. Fora disso, ele é mentiroso. Porque quando você consegue realmente se olhar no espelho, enfrenta o mundo porque precisa se enfrentar primeiramente para depois enfrentar o resto”, conclui. Com tanto talento, difícil imaginar que Amaury já se sentiu rejeitado pelo jeito de dançar, mas na adolescência, em pleno auge da discoteca, chegou a ser preterido por seu estilo “black” de se movimentar e pelo black power (corte de cabelo) que carregava. “Foi uma espécie de bulling. Tive dificuldades, mas não me ressenti. Fui imediatamente para a convivência com a cultura negra, dançar em grandes bailes e cheguei a ser até discotecário (atual DJ). Foi essa convivência que me abriu portas na área de dança e de teatro”, alegra-se. Amaury diz ter se “formado” em pedagogia por autodidatismo, pois, quando chegou ao campus aos 15 anos, em 23 de maio de 1977, foi beneficiado com um dos acervos mais importantes da Universidade. O da Faculdade de Educação. O contato com as obras e o envolvimento com a produção de trabalhos acadêmicos fizeram com que ele se tornasse um leitor assíduo e um professor de dança aplicado. “Trabalhei durante 13 anos na biblioteca. Então, nesse atendimento bibliotecário, acabei ajudando alunos e até mesmo docentes a pesquisar.” Hoje, o conhecimento obtido com a pedagogia, a gestão, o teatro e a dança garantem que, além da jornada no posto do GGBS do Hospital das Clínicas, ele não se distancie da arte de girar em torno de seus sonhos, em torno de seu próprio corpo e de outros corpos. “Essa é a ideia da Academia Giras, de minha esposa. Além da ideia de que toda dança de salão é composta de giros, queremos fazer a dança circular em vários lugares da cidade e quem sabe do Brasil.”
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Campinas, de 13 a 19 de agosto de 2012
O Banco do Sul tem futuro?
Dissertação mostra que indefinição do Brasil põe em risco projeto de integração
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Foto: Sérgio Lima/Folhapress
RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br
Brasil tem pela frente um grande desafio, se realmente quiser avançar no processo da integração regional: a aprovação da participação do país no Banco do Sul – iniciativa criada com o objetivo de financiar a integração física, o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza na América do Sul. Na avaliação da mestre em Ciências Econômicas Elia Elisa Mancini Cia, a ratificação do acordo pelo Congresso Nacional é essencial para que a iniciativa ganhe corpo. Ela argumenta que a economia brasileira é a mais robusta na América do Sul, além de o país possuir forte experiência nesse âmbito com o papel desempenhado pelo BNDES. “A atuação do Brasil é fundamental nesse cenário econômico e político”, acredita. No papel, o Banco do Sul já é uma instituição jurídica internacional desde dezembro de 2011, com a ratificação pelo congresso do Uruguai. Tem hoje como sócios a Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela, onde ficará a sede. Além do Brasil, o Paraguai também não aprovou o acordo em seu congresso nacional. Ainda que a expectativa seja que o banco entre em funcionamento a partir de 2013, Elia Cia analisa que, para além da esfera política, existem vários desafios para que a iniciativa atenda efetivamente às demandas de financiamento dos projetos nos países da região. A autora do estudo acredita que, por ser uma iniciativa que envolve governos diferentes, os esforços em relação ao alinhamento das definições da sua atuação são muito grandes, pois diferentes interesses e projetos de integração estão na agenda dos países. A autora das avaliações é graduada em Relações Internacionais e analisou em dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Economia (IE), sob orientação do professor André Martins Biancareli, todo o processo de implementação do Banco do Sul. Seu objetivo foi mostrar as principais divergências dos projetos de integração para a América do Sul e fazer um levantamento de toda a bibliografia relacionada à sua criação, inclusive reunindo todos os documentos oficiais publicados ao longo do processo de negociação. São eles “A Declaração de Quito”, a “Ata de Fundação” e o “Convênio Constitutivo”. Além disso, a autora do estudo enumera os pontos controversos, especialmente os técnicos. Para Elia Elisa, a iniciativa é interessante, pois a exemplo do Banco Europeu de Investimentos (BEI), a existência de um Banco Regional de Desenvolvimento em que os próprios países sócios deliberam sobre sua atuação agrega muito no sentido de proporcionar oportunidades de financiamento para os setores produtivo, energético, comercial e de infraestrutura. Por outro lado, ela enfatiza que ainda são vários os pontos de divergência entre os países se se considerar que a proposta está inserida em um campo de discussão mais abrangente de integração. “Essas questões precisam ser discutidas caso realmente decida-se avançar na temática da integração regional não apenas na esfera político-institucional, mas também em termos concretos”, destaca. As primeiras tratativas para a criação do Banco do Sul surgiram ainda em 2004, em discurso do ministro das Relações Ex-
Foto: Antonio Scarpinetti
Elia Elisa Mancini Cia, autora do estudo: “A atuação do Brasil é fundamental” Encontro em Brasília reúne ministros e presidentes de bancos centrais de países do Mercosul
teriores da Venezuela na XI Reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). “O cenário era favorável às economias da região, já que havia um acúmulo de reservas externas nunca visto anteriormente entre os países da América do Sul. Consistia em um meio de canalizar tais recursos para que fossem investidos nos países da própria região”, relata. Desde a apresentação, a proposta passou por um longo processo de amadurecimento em reuniões de negociações tanto no aspecto técnico como no político. Entre idas e vindas, Venezuela, a Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Uruguai e Paraguai assinaram um Convênio Constitutivo, em setembro de 2009, com a recomendação de que os países iriam ratificar internamente o acordo para que o Banco do Sul entrasse em vigor oficialmente. Elia pondera que os grandes obstáculos foram surgindo durante o processo de negociação e remontam a temáticas distintas. Num primeiro momento, discutiu-se muito a própria natureza do banco, se seria uma instituição de financiamento de desenvolvimento ou um fundo monetário. Também houve um debate intenso sobre a estrutura de capital, das suas fontes de captação e da distribuição dos votos, entre outros. Um ponto que fica claro nas análises da autora do estudo foi a definição de que o Banco do Sul terá distribuição igualitária do poder de voto. “Algo muito inovador na estrutura de um banco com essa natureza”, avalia. Se superadas essas questões, ainda restam os impasses relacionados aos tipos de projetos que serão financiados pelo banco, já que o convênio deixa margens para supor que a instituição poderá financiar tanto projetos a fundo perdido, como aqueles que sejam rentáveis.
VENEZUELA
O lançamento do Banco do Sul é parte do projeto financeiro regional da Venezuela para a América do Sul. “O papel deste país é de suma importância, pois está no bojo da constituição de uma Nova Arquitetura Financeira Regional (NARF) que romperia com a dinâmica do sistema financeiro internacional”, explica Elia. No caso específico do Banco do Sul, a Venezuela defendia determinados posicionamentos técnicos que refletiam sua concepção de instituição para a América do Sul. Além disso, o país, com o apoio da Bolívia e do Equador, divulga a proposta de constituir, na região, um modelo de integração autointitulado “bolivariano”. “O Brasil, por ser o mais importante país do ponto de vista econômico e por defender um distinto projeto financeiro para a região, assumiu o papel de contrapor a algumas colocações da Venezuela em relação ao Banco do Sul”, analisa. Neste sentido, a inserção na dinâmica internacional defendida seria mais de “reforma” e não um completo rompimento com o sistema internacional.
Publicação Dissertação: “O Banco do Sul, seus dilemas e os divergentes projetos de integração regional para a América do Sul” Autor: Elia Elisa Mancini Cia Orientador: André Martins Biancareli Unidade: Instituto de Economia (IE) Financiamento: CNPQ
Escala aponta alterações de humor em exercícios físicos Ferramenta pode ser útil para o monitoramento de aspectos emocionais do atleta Em testes realizados na Escola Preparatória de Cadetes do Exército de Campinas com 123 voluntários a partir da Escala de Humor Brasileira (BRAMS) foi possível aferir as alterações de humor durante diferentes cargas de treinamento físico. Os resultados permitiram traçar o perfil de humor para uma população brasileira fisicamente ativa. “Os testes mostraram ser um instrumento eficiente para monitoramento mais acurado das variações do estado de humor em resposta ao treinamento, visto que fornecem um psicodiagnóstico do estado emocional do atleta. Como estamos tratando de dados subjetivos acerca do humor, é importante validar instrumentos que forneçam uma mensuração mais próxima da realidade do indivíduo”, define a psicológa Dalila Victória Ayala Talmasky. Ela apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Educação Física (FEF), sob orientação do professor Luiz Eduardo Barreto Martins. A ferramenta é útil para o monitoramento dos aspectos emocionais, os quais são mais pontuais de acordo com os resultados. Dalila Talmasky é psicóloga da seleção paralímpica brasileira de natação e já aplica este mesmo instrumento nos nadadores. Em sua opinião, a principal contribuição deste tipo de investigação está em obter um maior número de informações sobre os sentimentos que são gerados muitas vezes pelos pensamentos e influenciam diretamente no desempenho do atleta. “O importante é entender o quadro, fazer com que o atleta também se conheça melhor e poder intervir de forma específica em alguns pontos que afetam o indivíduo”, explica.
Dalila Talmasky trabalhou também como psicóloga do Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex) do Instituto de Biologia (IB), coordenado pela professora Denise Vaz de Macedo, por vários anos. Foi no Labex que teve origem a sua pesquisa ao utilizar a escala com diversas modalidades para apoio nas intervenções junto aos atletas. No laboratório também foram feitas as análises da enzima alfa-amilase salivar, que segundo vários autores, têm seus valores aumentados sob estresse físico e/ou psíquico. O instrumento BRAMS é composto por 24 itens da escala agrupadas em seis fatores – tensão, depressão, raiva, vigor, fatiga e confusão mental – e foi possível determinar o estado de humor do atleta em diferentes momentos, como em estado de ansiedade, depressão ou melancolia e raiva. Posteriormente, os resultados são colocados em um gráfico, que permite a leitura do humor da pessoa. É traçada uma linha média no percentil 50, a qual corresponde a média do humor de cada fator humoral de determinado grupo para que sejam comparados a valores padronizados. No item vigor, por exemplo, se os itens são pontuados acima da média, este fator é positivo, ou seja, em termos emocionais o atleta está bem em termos de energia, disposição ou motivação. Se, por outro lado, os outros fatores humorais negativos não estiverem abaixo da linha média, significa que o atleta está com algumas alterações negativas no humor, podendo este resultado afetar o seu desempenho negativamente. Nesse caso, poderá
ser necessária a intervenção psicológica ou a redução da carga de treinamento. “Para cada alteração humoral, o psicólogo pode propor diferentes estratégias de intervenções que estimulem o atleta a melhorar a sua performance”, esclarece. A escala foi aplicada em uma população de idade de 18 anos, após uma rotina de treinamento físico diário e sistematizado e, num segundo momento, após uma semana de acampamento militar sob forte estresse psicológico e situação extrema de estresse físico. Outro ponto importante do estudo destacado por Dalila foi a criação da folha de perfil de humor para a população de indivíduos fisicamente ativos. “Antes da elaboração desta folha, as comparações de resultados poderiam ser equivocadas e, portanto, poderíamos ter um psicodiagnóstico errado. Isto valida muito nosso estudo”. (R.C.S.)
Publicação Dissertação: “Análise do perfil de humor e da enzima alfa-amilase salivar em indivíduos fisicamente ativos” Orientação: Luiz Eduardo Barreto Martins Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) Financiamento: Capes
10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
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Campinas, 13 a 19 de agosto de 2012
Painel da semana Introdução à poesia lírica e grega - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), através da Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp) recebe, até 14 de agosto, as inscrições para o curso de extensão “Introdução à Poesia Lírica Grega”. Elas podem ser feitas no site http://www.extecamp.unicamp.br/ dados.asp?sigla=IEL-0182&of=002. Com carga horária 30 horas, o curso tem como público-alvo estudantes de graduação, de pós-graduação e a comunidade em geral. Ele será ministrado pelo professor Flávio Ribeiro de Oliveira, aos sábados, das 15 às 18 horas, no IEL. Sua realização ocorre de 18 de agosto a 10 de novembro. Cópias do RG, CPF e do comprovante de escolaridade (Certificado de Conclusão ou Diploma), são os documentos exigidos. O ensino fundamental é o pré-requisito para a inscrição. O valor do curso, R$ 429,63, pode ser dividido em duas parcelas. O pagamento será efetuado por meio de boleto bancário. Em sala de aula serão analisados e comentados os fragmentos mais importantes dos poetas líricos Arquíloco, Safo, Alceu, Mimnermo, Anacreonte, entre outros. O IEL fica na Rua Sérgio Buarque de Holanda 571, no campus da Unicamp. Mais informações: 19-35211520 ou e-mail seee@iel.unicamp.br IEL recebe Jim Marks - O Centro de Estudos Clássicos (CEC) do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp promove, dia 14 de agosto, a palestra Herding Cats: Zeus, the Other Gods, and the plot of the Iliad, com o professor Jim Marks, da Universidade da Califórnia-EUA. O encontro ocorre às 10 horas, no Anfiteatro do IEL. TabletPC - O Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) promove, dia 14 de agosto, das 14 às 17 horas, no Ciclo Básico, o workshop de TabletPC. Público-alvo: docentes e alunos participantes do Programa de Estágio Docente (PED). O workshop será ministrado pelo professor Rodolfo Jardim de Azevedo, do Instituto de Computação (IC). No evento serão abordados temas relacionados à conversão das aulas para uso no TabletPC, gravação e envio para o servidor de vídeo e distribuição das aulas (em forma de vídeo), entre outros assuntos. Inscrições: até o dia do evento no link http://www.ea2.unicamp. br. Outras informações: 19-3521- 7990. Fórum de Desafios do Magistério - O Fórum Permanente de Desafios do Magistério, que será realizado no dia 15 de agosto, traz para discussão no Centro de Convenções da Unicamp, o tema “Desconstruindo a violência na escola: o que a realidade da Escola Básica traz à universidade e o que a universidade tem a contribuir para com a escola básica”. O evento da série da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) é organizado nesta edição pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e ocorre das 8h30 às 16h30. Mais informações: 19-3521-4759 ou e-mail sonia.mazzariol@reitoria. unicamp.br. Mãe Preta - No dia 15 de agosto, às 20 horas, a peça teatral “Mãe Preta” será apresentada no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS Guanabara). A apresentação será baseada no contexto da
história do Brasil, visualizando recortes sobre o papel das mulheres e mães negras. Através de canções e poesias, entre estas “Navio Negreiro”, de Castro Alves, o texto aborda a história da escravidão no Brasil, desde Zumbi dos Palmares até a abolição. A história é contada através das mães negras que muitas vezes tinham seus filhos vendidos (ainda bebês) para servirem de mãe de leite às suas sinhás. Uma homenagem a todas as mães e em especial às mulheres negras. O CIS Guanabara está localizado na Rua Mário Siqueira, 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Investimento em tesouro direto - A Associação de Pós-graduandos da FEEC-Unicamp (Apogeeu), com apoio da Feec e do Centro Acadêmico da Computação, recebe a economista Tércia Bispo Rocha, da BM&F Bovespa, para uma palestra sobre investimento em Tesouro Direto. O evento acontece dia 15 de agosto, às 16 horas, na sala PE-12 (piso térreo do prédio de pós da Feec). A palestrante abordará as principais características do programa e orientará sobre a realização das operações. A entrada é gratuita com vagas limitadas. Inscrições: http://goo.gl/H0zZo. Mais informações pelo email apogeeu@fee.unicamp.br Interdisciplinaridade, Arte e Ciência e Ambiente e Sustentabilidade - A Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) organiza, a partir das 16 horas do dia 15 de agosto, evento que visa discutir, por meio de palestras e mesas-redondas, “Interdisciplinaridade”, “Arte e Ciência” e “Ambiente e Sustentabilidade”. As atividades são abertas ao público e acontecem às quartas-feiras, entre 16 e 18 horas, no Auditório Verde (UL05). Da primeira mesa-redonda, “Interdisciplinaridade, formação específica e formação geral no ensino da graduação: a proposta do curso Estudos Contemporâneos”, participam os professores Francisco Foot Hardman (IEL/Unicamp) e Silvia Figueirôa (IG/Unicamp). O debatedor será Álvaro D’Antona (FCA/Unicamp). Programação e outras informações no site http://www.fca.unicamp.br Becoming a professional - No contexto da XV Semana de Engenharia Elétrica, a Unicamp recebe Janet Rochester, membro da Associação Profissional IEEE e ex-presidente da Society on Social Implications of Technology. Em palestra, ela falará sobre importantes atributos de um engenheiro que tipicamente não são aprendidos na universidade. A palestra “Becoming a professional” é aberta para a comunidade em geral e será apresentada em inglês. O evento ocorre no dia 15 de agosto, às 16 horas, no Auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL). Organização: XV Semana de Engenharia Elétrica. Mais informações: telefone 19-8801-3938 ou email pdpcosta@gmail.com Projeto Trajetórias - Fernando Rossetti, secretário-geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e chairman da Worldwide Initiatives for Grantmakers Support (Wings) é o próximo convidado a participar do Projeto Trajetórias. Com organização da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), o encontro será no dia 15 de agosto, às 17h30, na sala CB-10 do Ciclo Básico I da Unicamp. Entrada franca sem necessidade de inscrição. Mais detalhes no link http://bit.ly/MhYRuj Lançamento - O professor George Martine profere palestra e lança o livro “População e Sustentabilidade na era das mudanças ambientais - contribuições para uma agenda brasileira”. O evento está marcado para o dia 15 de agosto, às 19 horas, no Auditório da Livraria Cultura do Shopping Center Iguatemi Campinas (Av. Iguatemi 777, Vila Brandina). Conversando sobre a Graduação - A PróReitoria de Graduação (PRG) organiza no dia 16 de agosto, mais uma edição do “Conversando sobre a Graduação”. Desta vez, a convidada a proferir palestra será a professora Teboho Moja, da Universidade de Nova Iorque. O encontro ocorre às 12h30, na Sala CB 05 do Ciclo Básico I da Unicamp. A palestra será em inglês e não haverá tradução. Moja é sul-africana e autora de artigos sobre questões de reforma do ensino superior em áreas como a gestão, os processos políticos e o impacto da globalização. Já ocupou cargos importantes em várias universidades sul-africanas. Foi nomeada presidente do Conselho de Curadores da Universidade da África do Sul. Tem participação na Unesco (Institute for International Education Planning and the World Education Market) e integrou a Comissão que elaborou um relatório nacional que forneceu um quadro para a reforma do ensino superior na África do Sul, no governo do presidente Mandela. Fórum de Esporte e Saúde - Com o tema “Se-
gurança e qualidade na nutrição enteral domiciliar”, acontece no dia 16 de agosto, mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. As atividades ocorrem das 8h30 às 16h30, no Centro de Convenções da Unicamp. Mais detalhes no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/ forum/htmls_descricoes_eventos/saude48.html Projeto Performance V - Com organização do Centro de Integração, Documentação e Difusão cultural (Ciddic), no dia 16 de agosto, às 19 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago, acontece a apresentação do Projeto Performance V, que está vinculado a duas pesquisas de doutorado desenvolvidas no Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, na área de performance instrumental pianística. Na ocasião, a Orquestra Sinfônica da Unicamp, sob a regência do maestro Jorge Augusto, executa obras de Igor Stravinsky (1882-1971), E. Mahle (1929) e F. Poulenc (1899-1963). Solistas: Ellen de Albuquerque Boger Stencel e Eliana Asano Ramos. A realização é do Projeto Arte No Campus e da Comissão de Apoio Cultural da Reitoria. Mais informações: 19-3251-6506. Prêmio de Nutrição, Ciência e Tecnologia de Alimentos - O Grupo Bimbo, empresa líder em panificação, recebe até 17 de agosto, as inscrições para o Prêmio Panamericano Bimbo de Nutrição, Ciência e Tecnologia de Alimentos. O prêmio foi criado em 2004 e faz parte do comprometimento da empresa com a saúde da população, por meio do incentivo à pesquisa científica. Nesta edição serão premiados os melhores trabalhos de pesquisa publicados em 2011 ou 2012, feitos na área de Nutrição Humana ou Ciência e Tecnologia de Alimentos, nas categorias “Tese de mestrado ou doutorado” e “Profissional”, em cada uma das quatro áreas geográficas envolvidas, em um total de 16 prêmios. Tanto as inscrições, como os trabalhos devem estar traduzidos para o inglês ou espanhol. Mais informações e acesso ao regulamento no link www.premiobimbo.com Fórum de Esporte e Saúde - O Fórum Permanente de Esporte e Saúde, que tem como tema “Da pesquisa básica à aplicada: o desafio de fármacos para doenças negligenciadas”, será realizado no dia 17 de agosto, das 8h30 às 17 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é da Próreitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac). Inscrições e outras informações: 19-3521-4759. Workshop Smart Grid Energia 2012 - O 2º Workshop Smart Grid Energia 2012 ocorre nos dias 17 E 18 de agosto, das 8 às 18 horas, no Hotel Nacional Inn, em Campinas. O evento reunirá especialistas do Inmetro, Siemens, CPFL, CTEEP, Cobei, Abinee, CCEE, América Energia, Órion, entre outras empresas. Inscrições e submissão de projetos, no site http://www.smartgridenergia.com.br/inscricao/. Da Unicamp haverá a participação dos professores Yuzo Iano e Michel Doud Yakoub (Decom), Akebo Yamakami (DT), Ernesto Ruppert (DSCE) e Hugo Figueroa (DMO), todos professores-doutores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O Workshop é organizado pelo professor Rosivaldo Ferrarezi, doutorando na área de Telecomunicações pela mesma faculdade. Veja programa detalhado no link www.smartgridenergia. com.br. O Hotel Nacional Inn está localizado na Av. Benedito de Campos 35, em Campinas. Mais informações sobre o Smart Grid Energia 2012 podem ser obtidas pelos telefones (19) 3025-2559 e (19) 8806-6040 ou e-mail r.ferrarezi@rferrarezi.com.br. A teia de Aracne - A conferência “A teia de Aracne: fragmentos textuais em lugares improváveis” será realizada no dia 17 de agosto, às 14 horas, na sala da Congregação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). É promovida pelo Programa de Pós-Graduação em História (Capes/Proex), com organização da professora Neri de Barros. Aires Augusto do Nascimento, professor da Universidade de Lisboa, será o convidado da conferência. Informações: 19-3521-1678 ou seceven@unicamp.br.
Tese da semana Artes - “Os muros também falam - Grafite: as ruas como lugares de representação” (mestrado). Candidata: Erna Barros. Orientadora: professora Etienne Ghislain Samain. Dia 13 de agosto, às 9 horas, na sala 3, prédio da Pós-graduação em Multimeios do IA. - “Caderno de dramaturgia: uma proposta de trabalho a partir de “Noite de Reis”, de William Shakespeare” (mestrado). Candidato: Luis Roberto Arthur de Faria. Orientadora: professora Larissa de Oliveira Neves
Catalão. Dia 14 de agosto, às 10 horas, na sala de reuniões do Departamento de Artes Cênicas. - “(Re)apresentações do outro: travestilidades e estética fotográfica” (doutorado). Candidato: Gilson Goulart Carrijo. Orientador: professor Ronaldo Entler. Dia 15 de agosto, às 9 horas, na sala de defesa de teses do Departamento de Multimeios. Economia - “Saúde supletiva: estado, famílias e empresas em novo arranjo institucional” (doutorado). Candidato: João Fernando Moura Viana. Orientador: professor Pedro Luiz Barros Silva. Dia 14 de agosto, às 10 horas, na sala IE-23. n Educação - “O ensino da arte no ensino médio integrado: trabalho, integração e arte” (mestrado). Candidata: Luciana Lima Batista. Orientador: professor Rogério Adolfo de Moura. Dia 13 de agosto, às 14 horas, na FE. Engenharia Elétrica e de Computação - “Efeitos do ultrassom de potência sobre o coração: experimentos in vitro e in vivo” (doutorado). Candidata: Olivia Campos. Orientador: professor Eduardo Tavares Costa. Dia 15 de agosto, às 9 horas, na CPG/FEEC. - “Análise de observabilidade baseada em variâncias de medidas estimadas” (mestrado). Candidato: Wilson Aparecido de Oliveira. Orientador: professor Madson Cortes de Almeida. Dia 15 de agosto, às 14 horas, na CPG/FEEC. Engenharia Mecânica - “Reação de deslocamento de gás d’água sobre catalisadores de Cobre e Níquel suportados em Lumina e Nanofibra de carbono” (mestrado). Candidata: Natália Maira Braga Oliveira. Orientador: professor Gustavo Paim Valença. Dia 13 de agosto, às 14h30, na sala de defesa de teses da FEM. - “Contribuição do estudo aço inoxidável superduplex empregando ferramentas de metal duro com revestimento” (mestrado). Candidato: Herbert César Gonçalves de Aguiar. Orientador: professor Amauri Hassui. Dia 14 de agosto, às 10 horas, no auditório do DEF da FEM. Linguagem - “Aspectos dinâmicos da fala e da entoação do português brasileiro” (doutorado). Candidato: Luciana Lucente . Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 13 de agosto, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Olhar, verbo expressionista”(doutorado). Candidato: Benilton Lobato Cruz. Orientadora: professora Maria Eugenia Boaventura Dias. Dia 15 de agosto, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. - “Redes virtuais de relacionamento: dispositivos de subjetivação, individuação e controle” (doutorado). Candidata: Ana Claudia Cunha Salum. Orientadora: professora Maria José Rodrigues Faria Coracini. Dia 15 de agosto de 2012, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Algoritmo do ponto proximal para operadores não monótonos” (mestrado). Candidata: Nancy Baygorrea Cusihuallpa. Orientador: professor Roberto Andreani. Dia 14 de agosto, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Medicina - “Validação clínica do nursing activities score em uma unidade de clínica médica” (mestrado). Candidata: Ana Paula de Brito. Orientadora: professora Edinêis de Brito Guirardello. Dia 14 de agosto, às 10 horas, no Anfiteatro da CPG/FCM. - “Síndrome do eutireoidiano doente em portadores de diabetes mellitus tipo 2: relação com controle glicêmico, atividade inflamatória e doença cardiovascular” (mestrado). Candidato: Arnaldo Moura Neto. Orientadora: professora Denise Engelbrecht Zantut Wittmann. Dia 16 de agosto, às 10 horas, no Anfiteatro da CPG/FCM. - “Efeito do sulfeto de hidrogênio (H2S) no estresse oxidativo pulmonar em camundongos alérgicos” (mestrado). Candidata: Daiana Campos. Orientadora: professora Heloisa Helena de Araujo Ferreira. Dia 16 de agosto às 14 horas, no Anfiteatro do Departamento de Farmacologia. - “Expectativas de aprendizagem e estratégias pedagógicas: o olhar de professoras que atuam com alunos com deficiência múltipla” (mestrado profissional). Candidata: Mirna Tordin Polli. Orientadora: professora Zilda Maria Gesueli Oliveira da Paz. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no anfiteatro do Departamento de Enfermagem. Química - “Produção de veículos moleculares à base de nanoestruturas de sílica porosa para carreamento de compostos hidrofóbicos” (doutorado). Candidato: Amauri Jardim de Paula. Orientador: professor Oswaldo Luiz Alves. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Livro
da semana
Como pensam as imagens Organizador: Etienne Samain Ficha técnica: 1a edição, 2012; 240 páginas; Formato: 23 x 23 cm; peso: 0,550 kg ISBN: 978-85-268-0961-1 Área de interesse: Antropologia, Fotografia Preço: R$ 64,00 Sinopse: Uma afirmação nos parece suficientemente estabelecida: toda imagem nos faz pensar. Etienne Samain desdobra essa constatação óbvia numa questão mais complexa: Será que podemos aprofundar esse dado no sentido não tanto de saber “por que” ela nos permite pensar, e sim “como” nos faz pensar? Finalmente, ele chega à pergunta inquietante que lança a si mesmo e a outros nove pesquisadores: Como pensam as imagens? Organizador: Etienne Samain nasceu na Bélgica, onde se formou em teologia. No Brasil desde 1973, tornou-se antropólogo e fotógrafo, convivendo com as comunidades Kamayurá (Alto Xingu, MT) e Urubu-Kaapor (MA). Interessouse de modo amplo pelas imagens, desde aquelas presentes nas narrativas míticas até as que são produzidas pelas novas tecnologias. Enquanto se esforçava para fazer da antropologia uma ciência não só de palavras, acabou por aproximá-la da comunicação e da arte. É professor titular do Instituto de Artes da Unicamp, atuando no Programa de Pós-Graduação em Multimeios, no qual tem orientado pesquisas de mestrado e doutorado com forte presença experimental das imagens. Entre outros trabalhos, publicou o livro Moroneta-Kamayurá (1991) e organizou a coletânea O fotográfico (2005). Com o suporte de bolsa produtividade do CNPq, suas pesquisas recentes partem da obra de Gregory Bateson e de Aby Warburg para pensar a comunicação humana na perspectiva da antropologia e da epistemologia.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Unicamp cria cursos e faculdade O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, órgão máximo deliberativo da Universidade, aprovou por unanimidade no dia 7 a criação de quatro novos cursos de graduação: Engenharia de Telecomunicações (50 vagas, período integral), Sistemas de Informação (45 vagas, integral), Engenharia Ambiental (60 vagas, período noturno), oferecidos na Faculdade de Tecnologia (FT) de Limeira; e Engenharia Física (15 vagas, período integral), no campus de Campinas, em Barão Geraldo. Na mesma sessão, o Consu também decidiu pela extinção dos cursos de Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Integral). Os conselheiros deliberaram, ainda, pela criação da Faculdade de Enfermagem, que atualmente funciona como departamento da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A criação e a extinção dos cursos não alterarão o número de vagas oferecidas atualmente pelo Vestibular da Unicamp. Os cursos de Engenharia de Telecomunicações e de Sistemas de Informação absorverão, respectivamente, as vagas oferecidas pelos de Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, que serão extintos. Já as vagas a serem oferecidas pelo curso de Engenharia Ambiental serão provenientes dos cursos de Tecnologia em Construção de Edifícios (30 vagas) e Tecnologia em Controle Ambiental (30 vagas). Estes dois últimos
Foto: Antonio Scarpinetti
Sessão do Consu ocorrida no último dia 7: aprovação por unanimidade serão mantidos, agora com 50 vagas cada um. As vagas da Engenharia Física, por sua vez, serão oriundas do chamado Cursão (Física, Matemática e Matemática Aplicada e Computacional), que segue mantido, agora com 140 vagas. De acordo com o diretor da Faculdade de Tecnologia (FT), professor José Geraldo Pena de Andrade, a criação dos cursos de Engenharia de Telecomunicações, Sistemas de Informação e Engenharia Ambiental é uma resposta
à necessidade premente do país por engenheiros qualificados. “Além disso, os novos cursos também têm a intenção de atrair alunos com perfis diferenciados, que se integrarão àqueles que já fazem parte do nosso destacado corpo discente. Outro ponto importante é que os novos cursos contribuirão para aprofundar as atividades de pesquisa na FT”, disse. Segundo o docente, as alterações não exigirão mudanças estruturais significativas. “Teremos que
fazer somente uma ou outra adequação, visto que já contamos, por exemplo, com laboratórios”, previu Pena Andrade. O reitor Fernando Costa considerou que os novos cursos marcarão uma nova etapa na história da FT. O pró-reitor de Graduação, professor Marcelo Knobel, esclareceu que a criação do curso de Engenharia Física vinha sendo discutida há muito tempo na Unicamp. “Trata-se de um curso que já está consolidado em outros países e que vem sendo gradativamente implantado no Brasil, devido à sua importância”. Knobel destacou que antes de serem levadas à apreciação do Consu, as propostas de criação e extinção dos cursos foram amplamente debatidas pela comunidade interna e pelas instâncias formais da Universidade. O diretor da FCM, professor Mario José Abdalla Saad, destacou que a criação da Faculdade de Enfermagem representa um avanço importante, sobretudo para a formação de quadros qualificados para trabalhar no atendimento à saúde da população. Ele lembrou que o curso de graduação, considerado de excelência, é oferecido pela Unicamp há 34 anos. Além disso, há dez anos foi instituída a pós-graduação, igualmente com alto nível de qualidade. “Há muito tempo endentemos que o curso precisava de autonomia para crescer e ampliar a formação dos futuros profissionais. Com a criação da faculdade, essas tarefas certamente serão facilitadas”, avaliou.
Campinas, de 13 a 19 de agosto de 2012
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Técnica detecta predisposição para
tumor de base de língua Foto: Antoninho Perri
Objetivo de pesquisa da FCM é prevenção e diagnóstico precoce CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
s estudos genéticos envolvendo câncer se concentram em geral nas mutações adquiridas pelos indivíduos ao longo da vida em seus genes. No Laboratório de Genética do Câncer – ligado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp – estuda-se a predisposição genética herdada para o desenvolvimento de diversos tipos de tumores. Esses estudos possibilitam conhecer aspectos da fisiopatologia dos tumores diversos e estabelecer programas de prevenção e de detecção precoce dos mesmos para indivíduos saudáveis com comprovada maior predisposição herdada a eles. A professora de Oncologia Clínica Carmen Silvia Passos Lima, responsável pelo laboratório e orientadora do programa, considera que constitui papel dos serviços de oncologia não apenas tratar pacientes com tumores já estabelecidos, mas atuar na prevenção e diagnóstico precoce de tumores. Além da docência, que envolve cursos de graduação e pós-graduação, ela atua na assistência a pacientes nos ambulatórios e dedica-se ainda a pesquisas de fatores hereditários na prevalência de cânceres. Centrado nessa linha de pesquisa, o biólogo Gustavo Jacob Lourenço – que se dedica à identificação de anormalidades cromossômicas e gênicas, hereditárias e adquiridas em tumores malignos – se propôs a estudar, orientado pela docente, a influência de alterações genéticas herdadas na predisposição para o desenvolvimento do carcinoma de células escamosas (CEC) de cabeça e pescoço, particularmente o de base de língua. A base de língua corresponde à sua parte inferior, próximo à orofaringe. A terminologia CEC de cabeça e pescoço engloba um conjunto de tumores identificados na cavidade oral, faringe, fossa nasal, seios paranasais e laringe. São tumores de alta incidência e mortalidade em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil. Dos cerca de 650 mil novos casos identificados anualmente em todo o mundo, aproximadamente 65% deles apresentam-se em estágios avançados. O CEC da faringe constitui de 15% a 25% desses tumores e inclui os tumores de nasofaringe, orofaringe e hipofaringe. Os de orofaringe têm comportamento agressivo e, entre eles, os de base de língua são importantes, face à incidência, morbidade e mortalidade. Apresentam maior probabilidade de desenvolver os tumores de base de língua indivíduos com mais de 50 anos, do sexo masculino, que cultivaram por longos anos os hábitos de fumar e ingerir bebidas alcoólicas, e possivelmente os que adotam dieta alimentar pobre em verduras e frutas e com excesso de alimentos gordurosos. O pesquisador concentrou-se no estudo desses tumores levado por seu índice de incidência, por apresentarem causas principais bem caracterizadas, por serem pouco estudados e porque eram desconhecidas anormalidades genéticas recorrentes nos portadores dos tumores. Utilizando a técnica de genotipagem em larga escala ele conseguiu identificar variações (polimorfismos de base única) em genes de suscetibilidade ao CEC de base de língua. A técnica permitiu a varredura de mais de 500 mil polimorfismos gênicos de base única com rapidez e confiabilidade. O autor desenvolveu a técnica no Laboratório de Genética do Câncer da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e no laboratório do Centro de Biologia Molecular Estrutural da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron. A análise dos resultados foi realizada com a supervisão do professor Benilton Carvalho, do Grupo de Biologia Computacional, do Departamento de Oncologia, em estágio de dois meses, na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Lourenço explica que “o polimorfismo gênico de base única é uma variação genética de apenas uma única base nitrogenada na sequência do DNA de um gene. Essa variação pode alterar a formação de proteínas – alterações de quantidade ou de função – que estão relacionadas, por exemplo, com o metabolismo de carcinógenos, ou com a regulação do ciclo celular, com o reparo de lesões no DNA e indução de células anormais à morte, fenômeno conhecido como apoptose”. Em outras palavras: os polimorfismos de base única na cadeia de DNA de genes determinam trocas de bases nitrogenadas em posições determinadas da cadeia. As quatro bases do DNA, citosina (C), guanina (G), timina (T) e adenina (A) combinam-se em sequências específicas em gene da maioria dos indivíduos saudáveis, como por exemplo a sequência “TGC”. Na forma variante do gene polimórfico, presente em número menor de indivíduos saudáveis, ocorre a troca de uma base nitrogenada. Assim, a citosina pode ser trocada por guanina, determinando então a sequência “TGG”. Ser portador de uma ou outra sequência nesse gene é característica individual, que se transfere de pais para filhos.
POLIMORFISMOS
Sabe-se até o momento que os polimorfismos gênicos
O biólogo Gustavo Jacob Lourenço, autor da tese, e a professora Carmen Silvia Passos Lima, orientadora: genotipagem em larga escala
identificados no presente estudo estão associados ao maior risco de ocorrência dos tumores de base de língua ao longo da vida de indivíduos saudáveis que os herdaram de seus ancestrais. Esses polimorfismos foram identificados em genes envolvidos com a regulação do ciclo celular, com o reparo de lesões no DNA e indução de células à apoptose. O que ainda não é conhecido é porque esses polimorfismos gênicos alteram o risco para os tumores de base de língua, pois ainda não se sabe que papéis desempenham na síntese das respectivas proteínas de funções celulares básicas. Os polimorfismos em genes relacionados ao metabolismo de carcinógenos provavelmente explicam porque existem indivíduos mais sensíveis aos efeitos tóxicos do tabaco do que outros; alguns indivíduos herdam de seus ancestrais formas de polimorfismos gênicos que conferem maior capacidade de metabolizar o tabaco e excretá-lo e outros não. Com vistas a um estudo abrangente, Lourenço utilizou uma técnica recente denominada genotipagem em larga escala que permite determinar, em uma lâmina, na qual estão dispostos arranjos de DNA, formas de 500 mil polimorfismos de um indivíduo em uma única reação. O trabalho envolveu a análise de 49 amostras de sangue de pacientes com carcinoma de base de língua e outro tanto do grupo controle constituído por indivíduos saudáveis, o que permitiu verificar se existem diferenças nas frequências de formas de cada um dos 500 mil polimorfismos gênicos e, assim, identificar aqueles responsáveis pelo aumento de risco no desenvolvimento dos tumores. O objetivo final é o de tentar identificar os indivíduos de maior risco herdado para os tumores e que possam ser submetidos a orientações adequadas para evitar o seu desenvolvimento e a exames periódicos para a sua detecção precoce. “Esse é a nossa meta depois de identificar, comprovar e validar esses resultados na população brasileira. Os indivíduos do grupo de risco devem ser encaminhados aos serviços de oncologia com o intuito de receber recomendações sobre a necessidade de não se esporem a fatores de risco, como o tabaco e o álcool. Eles devem ainda ser avaliados periodicamente através de exames específicos como a nasofibrolaringoscopia para visualização da cavidade oral, nasofaringe e orofaringe, de forma a identificar tumores precocemente, quando a probabilidade de cura é muito maior, pois normalmente esses pacientes chegam com o tumor em uma fase avançada e muito frequentemente em uma forma incurável. É bom lembrar que nós estamos avaliando uma característica herdada e não mutações que se desenvolvem ao longo da vida”, enfatiza a professora Carmen Silvia. A professora esclarece ainda que o próximo passo é o de validar esses resultados com grupos maiores de indivíduos tanto de nossa região como de outras regiões do país. Para tanto, já foram estabelecidos contatos com outros centros de oncologia localizados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Goiás, Brasília, Amazonas, Roraima. Ela considera essa amplitude regional impor-
tante em um país como o nosso, de população etnicamente muito variável, o que permitirá chegar a resultados que se apliquem a toda a população brasileira. Lourenço explica que esses centros teriam que coletar amostras de DNA (sangue) de pacientes e de um grupo de controle e mandá-las para o Laboratório de Genética do Câncer. Pesquisadores das respectivas regiões podem também vir ao laboratório para aprender a técnica. Na ampliação dessas pesquisas não haverá necessidade de usar lâminas com cerca de 500 mil arranjos de DNA, pois “já fizemos uma varredura que possibilitou determinar os polimorfismos mais importantes, o que permite, a partir daí, a utilização de uma técnica mais simples para identificar as formas desses polimorfismos em indivíduos das diversas regiões do Brasil e selecionar os com maior risco para o CEC de base de língua”. O pesquisador explica que utilizou apenas 100 amostras de pacientes e de controles devido ao custo do chip que é utilizado uma única vez. Cada chip tem preço estimado hoje em torno de 500 dólares. O trabalho deu origem a um primeiro manuscrito que será submetido em breve à publicação. Outros manuscritos decorrerão do material já analisado. Ele entende ainda que a ampliação de amostras, oriundas de outras regiões do Brasil, permitirá validar os resultados obtidos até o momento e dará origem à publicação adicional. As pesquisas, que decorreram de uma sequência de projetos desenvolvidos em cinco anos, foram financiadas pela Fapesp, Finep e CNPq. No pós-doutorado, Lourenço pretende identificar eventuais diferenças nas proteínas codificadas por formas distintas de cada polimorfismo gênico de interesse e verificar suas exatas funções no metabolismo celular. Sabe-se que as informações contidas nos genes em núcleos das células são transferidas para o citoplasma das mesmas por meio do RNA, que leva informações para a produção de proteínas no maquinário celular. As formas diversas de cada polimorfismo podem aumentar ou diminuir a quantidade de proteína produzida ou alterar sua estrutura, modificando sua função, como a capacidade de se ligar a certos receptores. A descrição desses polimorfismos que dão origem a proteínas diversas é nova, além do que os papeis delas no desenvolvimento dos tumores estudados ainda não são conhecidos.
Publicação Tese: “Identificação de genes de susceptibilidade ao carcinoma de células escamosas de base de língua por genotipagem em larga escala” Autor: Gustavo Jacob Lourenço Orientadora: Carmen Silvia Passos Lima Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp, Finep e CNPq
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Campinas, de 13 a 19 de agosto de 2012
LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
s convergências e divergências entre literatura e ciência na obra de Italo Calvino [1923-1985]. Ou como o intelectual italiano desfez a visão cristalizada de que a literatura seria um território exclusivo da expressão da subjetividade do autor em contato com o mundo, e de que a ciência se basearia unicamente em procedimentos de precisão e rigor, transmitidos por uma linguagem também exata e fechada. É este o mote descrito por Vanina Carrara Sigrist para a pesquisa de doutorado “Literatura e Ciência em Italo Calvino: o mito Qfwfq”, que ela desenvolveu sob a orientação da professora Maria Betânia Amoroso e vai defender em fins de agosto no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). “Calvino é um escritor que atrai e agrada muito aos leitores e seus escritos percorrem décadas. No mestrado, tentei entender alguns dos sentidos que as fábulas adquiriram para Calvino, principalmente no início de sua trajetória, mas que o acompanhariam por muito tempo. Agora, procuro delinear a relação entre literatura e ciência dentro da sua obra, focando o período de 1965 até 1985, ano da sua morte – ele publicou até o último dia de vida”, afirma Vanina Sigrist. “Há quem diga que sua produção de ensaios e de textos teóricos talvez seja mais interessante e profícua do que a produção ficcional. Minha pesquisa envolve as duas.” A pesquisadora procura entender como Calvino vê literatura e ciência nos ensaios e também através do livro de contos “As Cosmicômicas” (1965). “Neste livro, especificamente, o escritor aborda com clareza temas científicos como Big Bang, teorias matemáticas e cibernéticas, entropia, leis de termodinâmica e leis astronômicas como da Lua, que há milhões de anos estava bem próxima da Terra e agora se distancia cada vez mais”, ilustra a autora da tese. “E Calvino insiste que não se trata de ficção científica, de futurismo, mas de abordar o que aconteceu no passado. Ao mesmo tempo, o livro é bastante atual, com narrativas de casos do cotidiano, como brigas em família e ciúmes entre casais.” Vanina Sigrist explica que o protagonista dos contos de “As Cosmicômicas” tem um nome bastante esquisito, Qfwfq, combinação de letras que remete a fórmula matemática. “Em cada história, Qfwfq possui um rival que vai enfrentar num jogo, uma possível namorada, uma avó, pais, um tio, convivendo todos num mesmo ambiente. Um dos contos mais saborosos é da sua versão para o Big Bang (ainda hoje uma hipótese científica e literária), em que o protagonista e outros personagens ocupam um único ponto. Até que a senhora Ph(i) NKo, figura sensual e ao mesmo tempo maternal, diz que ‘adoraria fazer um tagliatelle para vocês, se não estivéssemos tão espremidos’. Ao pronunciar esta frase, no impulso de cozinhar para todos, teria acontecido o Big Bang.” Segundo Vanina, as narrativas de Calvino são antropomórficas, ou seja, ainda que Qfwfq apareça ora como um dinossauro, ora como um peixe em fase de adaptação na terra, no fundo pensa como se fosse um ser humano. “Há muito humor, principalmente nos estereótipos de familiares, quando a gente se reconhece nos diálogos. É interessante notar que alguns livros do escritor são definitivos, projetos aos quais não retorna. Não é o caso de ‘As Cosmicômicas’, que ele começa a publicar no jornal em 1964, recolhendo doze contos em livro no ano seguinte e dando início a um projeto que mantém até 1984.”
A LEITURA COMO OFÍCIO
Os leitores fiéis de Italo Calvino, diz a pesquisadora, foram pegos de surpresa e desapro-
A ciência de
Calvino Fotos: Reprodução
CIBERNÉTICA E FANTASMAS
Foto de Araquém Alcântara mostra cenário cósmico sem a presença do homem: matéria em metamorfose O escritor italiano Italo Calvino: transitando em várias áreas Ilustração de um dos contos de “As Cosmicômicas”: narrativas antropomórficas
varam os novos contos – eram diferentes demais das narrativas sobre a realidade social e as urgências políticas da Itália, escritas por quem foi membro do Partido Comunista até 1957. “Ele justificou que o discurso político deixou de interessá-lo, por ser uma linguagem que se esvaziava cada vez mais. Queria pensar a narrativa e a ficção com abertura para outros discursos. Em relação à ficção, o romance clássico do século XIX também deixou de interessá-lo.
Precisava escrever outro tipo de história.” Vanina Sigrist observa que em seu trabalho como editor e crítico, Calvino precisava ler muitos livros e de diferentes campos. Lia bastante sobre ciências: Lévi-Strauss, Galileu e também pesquisas recentes em cibernética, matemática, neurociência. “A partir dos anos 60, o conhecimento estava se transformando diante das novas descobertas, como por exemplo, o estruturalismo, o que levou Calvino a Foto: Antoninho Perri
Sucesso de crítica e de público Vanina Sigrist informa que os livros de Italo Calvino foram sucessos de venda, graças, dentre outros fatores, ao seu estilo um tanto cômico e caricatural e ao apadrinhamento intelectual que recebeu desde o início de sua trajetória. Depois de participar da resistência na Itália pelo Partido Comunista, tinha pouco mais de 20 anos quando começou a trabalhar na Einaudi, grande editora da época, envolvendo-se com intelectuais de gerações anteriores como Cesare Pavese. “Ele participou de inúmeros projetos não só como escritor, mas também como editor e resenhando
ler obras científicas e de ficção observando determinismos e constâncias. Fica fascinado ao enxugar um romance ou poema até chegar ao esqueleto que molda o texto: um núcleo matemático que sustenta toda uma história repleta de detalhes, personagens e reviravoltas.” Por conta disso, acrescenta a autora da tese, o escritor italiano se aproxima do grupo OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentielle, algo como Oficina de Literatura em Potencial), formado por matemáticos e físicos interessados em literatura e que combinavam regras de escrita mirabolantes, como de produzir textos sem determinadas vogais ou 99 tipos diferentes de um mesmo enredo. “Calvino vai morar por vários anos em Paris e conhece o OuLiPo, frequentando seminários e aulas de intelectuais como Barthes, Greimas e Wittgenstein, que exploravam a questão do estruturalismo, pósestruturalismo, semiologia e teorias linguísticas. E traz essas tendências para dentro da sua ficção e também das resenhas.”
Vanina Carrara Sigrist, autora da tese: “Obras não têm transbordamento de impressões e sensações pessoais”
livros. Seus principais interlocutores vieram deste ambiente de trabalho.” De acordo com a pesquisadora, “Marcovaldo”, que conta a história de um operário
que busca a natureza na selva de cimento e asfalto, é um de seus livros adaptados para o público infanto-juvenil. “Calvino recebia muitas cartas de alunos das escolas italianas e res-
Na opinião de Vanina Sigrist, além do tom cômico que torna a leitura prazerosa, as narrativas de Italo Calvino são acima de tudo inteligentes, pensadas e articuladas. “Não há transbordamento de impressões e sensações pessoais. Mesmo na ficção, quando ele mescla personagens caricaturais, percebemos a articulação da literatura como conhecimento, e não como entretenimento”, comenta a pesquisadora. “Daí, o fato da sua literatura poder tratar de assuntos da ciência: são visões de mundo, modelos de pensamento, raciocínios lógico, indutivo e dedutivo – parâmetros possíveis de seguir para recortar e analisar o mundo como num microscópio.” É uma postura científica que, na avaliação de Vanina, funciona bem para quem acredita que a literatura deve trabalhar com hipóteses sobre o mundo. “Mas havia relações diretas com a matemática e a ciência das máquinas, que Calvino via funcionar dentro da própria linguagem: as letras do alfabeto se recombinando para a criação de toda história. A ideia do atomismo da escrita e do atomismo das coisas era bastante importante para ele – e bem antiga. Poetas como Lucrécio e Ovídio e cientistas dos séculos 16 e 17 já exploravam a questão dos jogos, das combinações possíveis de se fazer no xadrez e ir mobilizando as peças sobre os quadrados brancos e pretos para produzir literatura.” A crença de Calvino de que certa criatividade e originalidade viriam num segundo momento, depois deste trabalho árduo com as ideias e a linguagem, levou a pesquisadora a incluir na tese o ensaio “Cibernética e fantasmas”. “Neste ensaio, ele afirma que a literatura, em geral, é uma máquina funcionando conforme estruturas e regras gramaticais que condicionam a linguagem e, consequentemente, o pensamento. Mas que fantasmas rondam a máquina, principalmente o inconsciente do leitor ou do escritor, que em certo momento dispara um significado que foge das intenções, produzindo o imprevisto. Criase aí um momento mítico da literatura, que escapa dos determinismos que não são apenas da escrita, mas também culturais, raciais, biológicos.”
Publicação Tese: “Literatura e Ciência em Italo Calvino: o mito Qfwfq” Autora: Vanina Carrara Sigrist Orientação: Maria Betânia Amoroso Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)
pondia a todas. Suas narrativas tinham uma linguagem sempre objetiva e límpida, sem rebuscamentos ou sentimentalismos. Ele apostava em uma linguagem bem acessível, o que obviamente não significava superficialidade. Há muita densidade e problemas humanos tratados em sua obra. Dizem que sua relação com a ciência estava em se pautar por esta busca de clareza.” A maior parte dos ensaios de Italo Calvino foi recolhida pelos críticos Mario Barenghi e Bruno Falcetto em dois grandes volumes, que somam quase 3.000 páginas em papel bíblia. “A coleção não está completa, já que o escritor publicou muitos outros ensaios na imprensa. Quanto aos livros de ficção, são mais de trinta, considerando que escrevia mais de um título por ano e costumava trabalhar em quatro ou cinco projetos ao mesmo tempo”, acrescenta Vanina Sigrist. “Para mim, o mais importante em passar tantos anos pesquisando Calvino, é que através dele também consegui ler muito e conhecer dezenas de escritores.”