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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 537 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Fotos:: Antonio Scarpinetti / Reprodução Fotos
Fausto Castilho na biblioteca do IFCH: professor da Unicamp foi aluno de Heidegger (imagem ao fundo)
A mais completa
TRADUÇÃO O professor emérito da Unicamp Fausto Castilho traduziu para o português Ser e Tempo, considerada a obra maior do filósofo alemão Martin Heidegger. O trabalho, que consumiu mais de 30 anos, acaba de ser publicado em edição bilíngue, de 1,2 mil páginas, pela Editora da Unicamp, em parceria com a Vozes. Páginas 6 e 7
O artista residente e a maré do coletivo
A máquina que produz ‘lenha ecológica’
Foto: Antoninho Perri
Fatores de risco da degeneração macular Foto: Antoninho Perri
Foto: Antonio Scarpinetti
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A chaminé solar que gera conforto térmico
A relação entre educador e menino de rua
A música com ‘aroma’ do capista Steinweiss
Ilustração: Reprodução/ Google Images
Foto: Divulgação
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Foto: Reprodução
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012 Fotos: Antoninho Perri
Na maré da troca e da cooperação
Uma das três impressões da mesma gravura concebida por Bonato: todos deixaram uma marca
Projeto do artista residente Ernesto Bonato é finalizado com exposição PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
rnesto Bonato resolveu deixar de dar aulas há alguns anos, após longo período de docência, porque não estava mais satisfeito com o modelo tradicional de aprendizado. Ele vislumbrava a possibilidade de tornar mais próximos ensino e pesquisa, exatamente o que faz o Programa de Residência Artística da Unicamp, para o qual foi o convidado nos últimos dois semestres. Bonato levou a proposta do programa quase ao pé da letra, transferindo seu ateliê para o Instituto de Artes (IA). Chegava todo dia para trabalhar às 9 da manhã, saía às vezes depois das 10 da noite. “A ideia não foi dar um curso ou aulas expositivas porque essa experiência os alunos já têm normalmente com os professores, mas oferecer outra situação de trabalho, mais aberta”, salienta. Dessa forma, pensa Bonato, um artista com mais experiência trabalha ao lado de artistas mais jovens em um ambiente de cooperação e de troca. Foi o que aconteceu ao longo do último ano. Com o ateliê aberto a qualquer um que se interessasse em participar ou somente observar, Bonato construiu uma relação com os alunos. Alguns deles produziram gravuras que também integram a exposição “Maré”, montada na Galeria de Arte da Unicamp, como encerramento do trabalho do artista residente na Unicamp. No dia a dia, o trabalho no ateliê era dividido da seguinte forma: pela manhã Bonato se dedicava à gravura e à gravação de matrizes, além do desenho. As tardes eram reservadas também ao desenho e à pintura. No período da noite, para quem visitasse o ateliê, o tempo era consumido apenas com a pintura. “O contato intenso que os estudantes puderam ter com o trabalho foi muito interessante, especialmente pela imersão em determinadas técnicas que durante a graduação não é possível. Nesse caso, eles puderam se aprofundar em uma expressão mais autêntica. O programa propõe isso”, afirma. Além da presença constante de um grupo de estudantes, a frequência de alunos no ateliê não foi pequena. Em um registro de visitação, há mais de mil assinaturas. A seleção dos alunos que participam da exposição foi feita naturalmente, segundo Bonato. “Ficaram os que persistiram, aqueles que se identificaram com o trabalho”. Wagner De Santana Silva foi um deles. “Para mim foi e é um grande aprendizado vivenciar o dia a dia do ateliê, desde os fundamentos de qual material usar e como, até receber a
O aluno Deni Lantzman: “O meu trabalho não era tão consistente como é hoje”
Wagner De Santana Silva. “Foi um grande aprendizado vivenciar o dia a dia do ateliê”
O artista residente Ernesto Bonato ao violão e com o grupo de alunos: seleção natural
atenção do Ernesto, acompanhando nossa evolução”. A experiência remonta o antigo aprendizado da arte, que se dava somente nos ateliês. “Só muito recentemente o aprendizado da arte passou a se dar na escola. Nosso modelo vem da universidade francesa e de um pensamento mais teórico do ensino”, esclarece o artista. De acordo com ele, a aproximação entre ensino e pesquisa possibilita que as descobertas sejam feitas com a contribuição dos estudantes. “O frescor e a ingenuidade dos mais jovens, às vezes, trazem soluções que os mais experientes não ousariam pensar. Na pesquisa, isso é importante”. No lugar da transmissão do conhecimento, o artista residente fala em construção do conhecimento. Para o aluno Deni Lantzman, que também participa com gravuras próprias na exposição, a coincidência de ter nascido no mesmo bairro paulistano do Atelier Piratininga, que tem Bonato como co-fundador, não é mero acaso. “Eu já admirava o trabalho do Ernesto, então aproveitei a oportunidade. O meu traba-
lho não era tão consistente como é hoje, me ajudou muito. E, para nós, é importante participar de uma exposição grande como essa”.
MARÉ
“Maré.01” é composta por três impressões diferentes da mesma gravura homônima, cada uma com 1 x 4 metros. Os estudantes só não participaram do processo de concepção da obra, que é de autoria de Bonato. “Trabalhei no começo em duas frentes: gravando as matrizes do projeto Maré e preparando os estudantes para me ajudarem depois. Isso demandou muitos meses. Quando estavam aptos, participaram no final da gravação e, sobretudo, na impressão. Claro que cada um colocou o seu gesto ali. Deixou sua marca”, diz o artista. Bonato traz para as gravuras imagens que aparecem no trabalho dele há pelo menos uma década: da água. “Até o momento que eu fiz uma foto de água e vi que essa imagem poderia representar o que eu sinto. Foi uma coincidência eu ter chegado nessa imagem, poucos me-
ses antes de eu vir para a Unicamp”. A partir de uma foto, Bonato teve a intenção de atribuir à imagem uma qualidade diferente daquela encontrada em uma ampliação fotográfica comum. Nessa perspectiva, o projeto nasce no âmbito da fotografia e vai buscar a gravura para se realizar. “Queria que a ampliação da fotografia se desse manualmente, incorporando a matéria da madeira, por isso a escolha da xilogravura. A imagem é gravada na madeira e depois é impressa no papel”. Embora o compromisso de Bonato com a Unicamp tenha se encerrado, o projeto ainda deve continuar com o envolvimento dos alunos. O processo de gravação das matrizes será feito até a obra triplicar de tamanho. “Nós terminamos o período na Universidade com algo real, um trabalho que chega realmente a um resultado consistente, não apenas um exercício de sala de aula. Isso coloca o ensino em outro patamar”, observa.
Serviço Exposição: Maré.01 Artistas: Ernesto Bonato, Adeise Pinez, Carol Vergotti, Deni Lantzman, Dio Pinez, Isabelle Cedotti, João Paulo Marques, Roger Soler e Wagner De Santana Silva Quando: até 5 de setembro Local: Galeria de Arte da Unicamp Horário: Dias úteis, das 8h30 às 17h30
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
Máquina produz
Equipamento desenvolvido no IFGW produz briquete de alta densidade
“lenha ecológica” Foto: Divulgação
LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
A briquetadeira e os blocos cilíndricos resultantes da compactação de resíduos: inúmeras vantagens
Foto: Antonio Scarpinetti
stá em fase de ensaios e prestes a entrar no mercado uma máquina que produz um briquete de alta densidade possível de ser carbonizado e utilizado como carvão. O briquete, conhecido como “lenha ecológica”, é um bloco cilíndrico resultante da compactação de resíduos como serragem, casca de arroz, palha de milho, bagaço de cana, capim e tantos outros gerados em atividades agrícolas. Este combustível de biomassa já vem substituindo a lenha, por exemplo, em pizzarias e padarias, mas a produção de carvão a partir dele, em escala comercial, depende de ajustes nesta máquina desenvolvida com tecnologia nacional. Batizada de Biotor, a briquetadeira é fruto de projeto financiado pela Fapesp e executado em parceria entre o Grupo Combustíveis Alternativos (GCA) do Instituto de Física da Unicamp, a Bioware Tecnologia (empresa graduada na Incamp/Unicamp) e a Embrapa Agroenergia. “A máquina foi deslocada por alguns meses para uma empresa interessada em realizar os ensaios. O intuito é aperfeiçoar a tecnologia até o ponto de levá-la ao mercado”, explicava o professor Carlos Alberto Luengo, coordenador do GCA, enquanto mostrava uma foto de Lula, ainda presidente, despejando resíduos na briquetadeira. “A presença de Lula se deve a uma palavra mágica: cana-de-açúcar (o bagaço e a cana), o que traz um potencial muito grande para o equipamento.” A ideia de transformar briquete em carvão veio de Felix Fonseca Felfli, em pesquisa de doutorado desenvolvida em 2003 sob a orientação de Luengo, quando procurou identificar as principais barreiras técnicas e mercadológicas para produzir e comercializar a biomassa torrefeita. “Como temos um forno no laboratório, pensei: ao invés de torrificar lenha, vamos torrificar briquetes para substituir o carvão vegetal. Se o briquete já substitui a lenha, ainda não havia um substituto ecológico do carvão. Vemos no mercado produtos que se dizem ecológicos, mas que na verdade são resíduos de carvão prensados, ou seja, vendem a mesma coisa: trabalho infantil e escravo, poluição, árvores nativas cortadas.” Briquetes foram doados para a pesquisa de Felix Felfli, que se decepcionou com o que saiu inicialmente do forno. “Virou pipoca. O bloco se quebrou em camadas e, muito frágil, se transformaria em pó com o manuseio e transporte. Começamos a investigar e descobrimos que o problema está no processo de compactação pelas briquetadeiras existentes no Brasil, que funcionam por meio de pistão mecânico. O briquete pode ser grande, mas é frágil estruturalmente: com o calor, surgem ranhuras que correspondem a cada percurso do pistão, e que depois se abrem.” O doutorando voltou a se animar com a ideia quando José Dilcio Rocha, pesquisa-
O professor Carlos Alberto Luengo, coordenador do GCA: “A cana-de-açúcar traz um potencial muito grande para o equipamento”
dor da Embrapa Agroenergia , trouxe de suas viagens briquetes produzidos com uma máquina importada. “Eram verdadeiros tijolos. Nos testes, o material ficou carbonizado, não quebrou e vi que é possível produzir o carvão ecológico a partir do briquete. Mas para isso era preciso uma máquina capaz de garantir um briquete de alta densidade e resistência mecânica, o que depende da compressão e da continuidade de processo.”
PRENSAGEM POR EXTRUSÃO
Terminado o doutorado, Felix Felfli passou a trabalhar na Bioware e aproveitou esta condição para enviar à Fapesp um projeto PIPE – Programa de Inovação Tecnológica em
Felix Felfli: identificando as principais barreiras técnicas e mercadológicas para produzir e comercializar a biomassa torrefeita
Pequenas Empresas – propondo o desenvolvimento de uma máquina do tipo extrusora, que não é feita no país. “O Japão possuía estas máquinas, que depois chegaram à Europa e produzem o briquete em processo contínuo. Como ficaria muito custoso comprá-las, decidimos criar uma versão nacional, que já se tornou um produto, embora a pesquisa continue em andamento.” O pesquisador explica que existem várias tecnologias de compactação no mundo, sendo que a mais difundida é a de pistão mecânico: como no motor de automóvel, há uma manivela com a qual se prensa os resíduos por impacto. “Esta tecnologia se difundiu no Brasil a partir dos anos 1930 e algumas empresas
passaram a comercializar a máquina, mas em escala bem modesta. Houve certo boom na crise do petróleo nos anos 70, mas na década de 90, com o óleo barato, ninguém mais se interessou. Agora temos toda essa preocupação ecológica, principalmente em relação às árvores.” Os ensaios com a briquetadeira, ora realizados em uma empresa de beneficiamento de arroz, se devem à constatação do desgaste das peças, segundo o esclarecimento de Felfli. “É uma tecnologia nova, em que a compactação se dá por meio de uma rosca girando em alta velocidade, que vai moendo e prensando a matéria-prima, não se percebe nenhuma fibra: é este movimento que causa o desgaste. Isso me trouxe de volta ao GCA depois do doutorado, a fim de aperfeiçoar a tecnologia com peças e outros materiais. A casca de arroz é o resíduo vegetal mais abrasivo que existe; se conseguirmos um tempo de vida útil aceitável da máquina, isso valerá para qualquer matéria-prima.”
As inúmeras aplicações do briquete O interesse da empresa beneficiadora de arroz em testar a briquetadeira desenvolvida por Felix Felfli está no ganho adicional que a casca do produto, hoje vendida para servir de cama na criação de frangos, pode trazer enquanto matéria-prima de briquete a ser transformado em carvão. “Por causa das fezes das aves, a casca de arroz se torna ainda mais poluidora, sendo depois descartada em algum lugar. Antes, a cama era usada como adubo, o que foi proibido por lei justamente pelo risco de transmissão de doenças. Uma solução seria o briquete, pois a casca de arroz, depois de queimada em caldeiras, deixa muita cinza rica em sílica, que poderia ter outros usos”, observa o pesquisador. Felfli afirma que a máquina extrusora
nacional, em comparação com as de pistão, é bem menor e silenciosa e de manutenção mais barata. “Resolvido o problema do desgaste, o mercado é amplo. Temos, por exemplo, cerca de dois mil fabricantes de móveis apenas no Estado de São Paulo, que produzem 500 quilos de serragem por hora. Também seria interessante exportar briquetes para a Europa, onde se queima muito carvão mineral – eles querem comprar nossos resíduos, que somam 300 milhões de toneladas anuais. Uma grande vantagem é a densidade: se a do bagaço de cana é de cem quilos por metro cúbico, a do briquete por chegar a uma tonelada por metro cúbico no navio.” Em relação às vantagens do briquete,
seja de alta densidade ou não, o professor Carlos Luengo mostra um vídeo produzido pela Embrapa Agroenergia enaltecendo a diminuição da derrubada de árvores nativas e o aproveitamento dos resíduos agrícolas; a ausência de produtos químicos (cola, verniz, tinta), tornando-os apropriados para a indústria alimentícia, pizzarias, churrascarias e padarias, caldeiras em lavanderias e abatedouros, e aquecimento de água em hotéis, motéis e piscinas; a higiene e o menor espaço para armazenagem; o alto poder calorífero, regularidade térmica e geração de menos cinza e fumaça, poluindo menos que a lenha; e, no final, a redução do custo na geração de energia. Luengo, entretanto, enxerga outro
grande benefício da pesquisa e produção de briquetes. “A parceria com instituições fora da Unicamp é uma prática muito antiga em nosso laboratório e acredito nestas pesquisas porque os alunos, que um dia terão de conseguir emprego, já se integram naturalmente à parte produtiva. Trata-se de uma inovação tecnológica que beneficia a todos que participam dela, gerando novos empregos e benefício ao meio ambiente. Os briquetes estão cada vez mais populares e daqui a pouco estarão no supermercado.” Atualmente, a empresa de base tecnológica EcoDevices é a responsável pela continuação do desenvolvimento e introdução dessa tecnologia no mercado.
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
Médica investiga degeneração macular relacionada à idade Histórico familiar, doenças cardiovasculares, dislipidemia e sedentarismo são fatores de risco Foto: Antoninho Perri
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma das principais causas de cegueira no mundo desenvolvido, acometendo indivíduos com mais de 65 anos. Degenerativa, progressiva e decorrente de condições multifatoriais, ocasiona perda da visão central de um ou de ambos os olhos e afeta a independência do idoso. Entre os vários fatores de risco associados a ela, estão os oculares, genéticos, demográficos, nutricionais, médicos e ambientais. Sobre eles não há estudo sistemático na população brasileira, embora seja importante conhecer o alcance e proliferação desses fatores de risco no Brasil com vistas à adoção de eventuais estratégias de prevenção e diagnóstico precoce da doença. Principalmente quando se sabe que, apesar dos notáveis avanços na terapia da DMRI, o impacto socioeconômico dela e de suas complicações tende a crescer com o sistemático aumento da perspectiva de vida das populações que, segundo o censo de 2010, chega a 73 anos no Brasil. Com o objetivo de identificar os fatores de risco associados ao desenvolvimento e progressão da DMRI em um segmento da população brasileira, a médica Priscila Hae Hyun Rim, da Disciplina de Oftalmologia, do Departamento de Oftalmo-Otorrinolaringologia, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, realizou pesquisa junto a pacientes assistidos no serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade. O estudo transversal envolveu 236 participantes com mais de 50 anos, incluindo 141 afetados pelo mal e 96 controles, em que todos foram submetidos a exame oftalmológico completo incluindo fundoscopia, retinografia e angiografia. Os participantes foram ainda submetidos a um questionário para o mapeamento dos fatores demográficos, antecedentes médicos e oculares, histórico familiar de DMRI, estilo de vida, hábitos de tabagismo e etilismo. O trabalho e a tese decorrente foram orientados pela professora Antonia Paula Marques de Faria e coorientados pelo professor Luis Alberto Magna, médicos docentes da FCM. A degeneração macular relacionada à idade é uma doença que compromete a mácula, região da retina responsável pela visão detalhada, pela percepção das cores, produzindo uma mancha que prejudica a visão central tanto de perto como de longe. Se não diagnosticada precocemente e tratada em tempo hábil, a doença gera prejuízos à qualidade de vida dos pacientes por dificultar a realização de tarefas diárias e até a locomoção. Ela atinge basicamente a retina e a coroide, situada abaixo da retina, que constituem uma das regiões mais importantes do sistema ocular. Com efeito, se a córnea pode ser trocada por transplante e nas cirurgias de catarata o cristalino é substituído por uma lente intraocular, a retina, o nervo ótico e o sistema nervoso central relacionado à visão, uma vez danificados não podem ser recuperados. Se mortas as células nervosas dessa delicada área central de visão, em que se encontram os foto sensores, não há possibilidade de substituí-los. Para a pesquisadora, essa doença complexa ou multifatorial envolve carga genética e fatores ambientais. Vários genes estão associados a ela e seus portadores têm muito mais possibilidade de desenvolvê-la na velhice. Embora a idade seja uma das causas comprovadas na manifestação da doença, a literatura menciona como fatores de risco a predisposição genética, nos casos de antecedentes familiares, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, obesidade, tabagismo, consumo de álcool, olhos e pele claros, exposição excessiva aos raios solares, dieta pobre em vitaminas, minerais e antioxidantes e sedentarismo. O aumento da perspectiva de vida em países desenvolvidos ou em desenvolvimento determina o crescimento do porcentual de idosos e, em consequência, as doenças degenerativas passam a aparecer. Nos estudos epidemiológicos da OMS, a DMRI ocupa o
Priscila Hae Hyun Rim (em pé), autora do estudo, durante exame no HC: diagnóstico precoce foi uma das metas da pesquisa
A DMRI atinge a mácula, porção da retina responsável pela visão detalhada e central
terceiro lugar como causa de deficiência visual, antecedida pela catarata e pelo glaucoma e sucedida pela retinopatia diabética. A catarata se resolve com cirurgia, o glaucoma é controlável com medicação na grande parte dos casos e a retinopatia diabética está atrelada ao controle do índice de glicemia. Restou como inevitável a DMRI. Com efeito, já em 2010, a OMS constatou que nos países desenvolvidos a doença ocupava o primeiro lugar, até porque para ela não há cura, mesmo em países altamente desenvolvidos que dispõem de alta tecnologia e recursos para medicações. No Brasil, os tratamentos caros não são acessíveis à maioria da população.
FATORES DE RISCO
Segundo estimativas, 50 milhões de pessoas no mundo são portadoras da doença que, dependendo da região, atinge de 11% a 30% das pessoas com mais de 75 anos. Devido à sua complexidade, esse estudo não foi ainda realizado em termos de Brasil. Essa dificuldade levou Priscila a estudar os fatores de risco prevalecentes em uma amostra portadora da doença, comparado-os primeiro com um grupo de controle e depois com os dados da literatura internacional. Um objetivo era caracterizar os fatores de risco e outro verificar o que levava a doença a desenvolver-se nos seus vários estágios de graduação, que vão da forma mais branda a mais agressiva. Na realidade, existem cerca de 70 fatores de risco descritos na literatura, mas a pesquisadora se ateve aos mais frequentemente associados à doença. Com base em entrevista pessoal com cada paciente, ela comparou os dois grupos quanto a antecedentes familiares, presença de doenças cardiovasculares; colesterol ou triglicérides alterados; sedentarismo; índice de massa corpórea; realização de cirurgia de catarata; cor da pele; cor da íris; uso do tabaco e de bebidas alcoólicas; tempo de exposição solar; hipertensão arterial sistêmica; presença de diabetes; tipo de dieta; e consumo de antioxidantes, entre os
quais as vitaminas C, E, A e zinco, que exercem efeitos benéficos para a saúde em geral. Priscila explica: “A partir da verificação da preponderância dos fatores de risco no universo estudado, pretendia propor medidas preventivas que pudessem ser aplicadas com a finalidade de evitar a progressão das formas leves da doença ou mesmo a sua instalação”. Acrescenta ainda que é em relação aos aspectos multifatoriais que o estudo adquire maior importância, porque os pacientes podem evitar a progressão da doença controlando a pressão arterial, adotando dieta menos calórica, eliminando o fumo e o álcool e tudo que possa contribuir para diminuir as complicações cardiovasculares. Se em relação à carga genética nada pode ser feito, resta atuar em relação aos fatores subjacentes como estilo de vida, controle de doenças, sem desconsiderar o diagnóstico precoce, mesmo porque existem certos formas de DMRI incontroláveis se descobertas tardiamente. Por esta razão, a médica adota como uma das metas do estudo o diagnóstico precoce. Identificados os fatores de risco que mais afetam uma população suscetível à doença, a partir de uma determinada idade, os indivíduos com antecedentes familiares devem ser submetidos a um exame fundoscópico anual. Mas toda a população, a partir de uma certa idade, deve ser submetida preventivamente a exames de fundo de olho, como já ocorre de certa forma em relação a outros males que podem afetá-la como hipertensão arterial e diabetes. Em relação aos fatores de risco, a pesquisadora procurou comparar a população brasileira com a de outros países, face às diferenças de hábitos e de etnias. Por exemplo, os indivíduos de pele branca, os chamados caucasianos, e os de olhos claros têm mais chances de desenvolver a doença, devido à radiação solar. As estatísticas internacionais mostram também que 30% dos portadores da doença entram em depressão e 60% revelam dificulda-
des na vida diária, como caminhar sem companhia ou dirigir veículos. O predomínio da baixa renda na população pesquisada a impede de chegar a tempo para tratamento, que por sua vez, nem sempre é barato. Apesar de apenas 10% dos portadores serem acometidos pela modalidade neovascular, associada à formação de vasos indevidos, 90% da cegueira provocada pela doença provém deles. Mas, mesmo para esses casos, existe um tratamento relativamente recente, em que uma injeção intraocular aplicada no tempo devido pode levar a resultados positivos. Essa medicação inibe a formação dos vasos e atrofia os que se formaram, mas tem custos altos. Para os casos menos graves, o emprego de determinados antioxidantes e a mudança de hábitos conseguem evitar a progressão da doença em 25% dos casos ou até reduzir a velocidade da progressão. A pesquisadora considera que, depois de determinados os polimorfismos no DNA da população brasileira, estudo a que se dedica atualmente, os filhos dos pacientes poderão ser orientados em relação aos fatores de risco e a exames periódicos quando atingida certa idade. Mas ela considera ideal um exame de fundo de olho rotineiro em todos os indivíduos acima de 50 anos que chegam a um consultório oftalmológico.
CONCLUSÕES
Considerando o desenvolvimento e a progressão da DMRI na amostra estudada, Priscila Rim afirma que idade, história familiar positiva, doenças cardiovasculares, dislipidemia (alteração dos níveis sanguíneos de colesterol e/ou triglicérides) e sedentarismo constituem os principais fatores de risco. Indivíduos com antecedentes de doenças cardiovasculares apresentaram risco aumentado no desenvolvimento da forma avançada da DMRI e a hipercolesterolemia mostrou-se predominante naqueles com a doença na fase inicial. Ela constatou que mais de 70% dos afetados tinham a forma avançada da doença e 52 deles apresentavam visão subnormal (19%) e cegueira (33%). Nesse grupo, tipo de alimentação, uso de antioxidantes, etilismo, tabagismo e exposição solar não foram associados significativamente ao desenvolvimento ou à forma de DMRI. A pesquisadora entende que as doenças cardiovasculares e a DMRI na forma avançada aparentemente apresentam vários fatores de risco em comum e poderiam ser prevenidas conjuntamente por meio de programas de promoção da saúde do idoso, envolvendo combate a fatores como hipertensão arterial, diabetes, obesidade (alto IMC), tabagismo, etilismo e maus hábitos alimentares, embora isoladamente esses fatores não fossem estatisticamente significativos no estudo realizado.
Publicação Tese: “Degeneração macular relacionada à idade: estudo dos fatores de risco em uma população brasileira” Autora: Priscila Hae Hyun Rim Orientadora: Antonia Paula Marques de Faria Coorientador: Luis Alberto Magna Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
Chaminé solar
é alternativa natural para conforto térmico Testes demonstram que houve um incremento de quase 50% na ventilação Fotos: Divulgação
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
s edifícios brasileiros nem sempre são projetados ou construídos de modo a auxiliar os processos naturais para promoção de conforto térmico. Mas uma solução estudada pela arquiteta Letícia Neves em sua tese de doutorado mostrou que a chaminé solar pode ser uma boa estratégia à climatização natural, sobretudo em regiões de clima quente, para refrescar os ambientes internos. Enquanto num experimento com uma chaminé convencional, alcançouse uma taxa de 3,7 renovações do ar por hora no ambiente interno, com a chaminé solar chegou-se a 5,5 renovações por hora, para o dia típico de verão no clima de São Paulo. Houve então um incremento de quase 50% na ventilação natural. “Outra vantagem do sistema também está no fato de não fazer uso de eletricidade, contribuindo assim para a economia e a eficiência energética das edificações”, assinala a pesquisadora. A chaminé estudada foi composta por um coletor solar cujo princípio é o mesmo de um coletor para aquecimento de água, só que visando aquecer o ar: possui uma superfície de vidro, uma câmara de ar e uma superfície negra absorvedora na parte interna do canal. A autora empregou o coletor solar na chaminé para aquecer o ar próximo à cobertura da edificação, a fim de induzir a ventilação natural. Nesse processo, os raios solares atravessam a superfície de vidro do coletor solar e aquecem a placa absorvedora preta, que vem logo abaixo dela. Consequentemente, há o aquecimento do ar no interior do canal. O coletor solar da chaminé funciona pelo princípio do efeito estufa: o calor entra, mas não consegue sair, causando a elevação da temperatura do ar. Nos coletores solares convencionais, a água se aquece ao circular em tubos que passam sobre essa placa quente. No caso da chaminé solar, em vez de água, passa o ar. A pesquisadora explica que o ar sofre ascensão por diferença de temperatura. Assim, como o ar quente é menos denso, ele tende a se elevar no interior da chaminé, provocando a sucção do ar do ambiente interno. E quanto maior é a temperatura do ar na chaminé solar, maior é o fluxo de ar por efeito chaminé e a ventilação natural no ambiente, contribuindo para melhorar a qualidade do ar e o conforto térmico. Na tese, defendida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), a pesquisadora constatou que, aplicada a um projeto de arquitetura, essa técnica pode fazer uma grande diferença no resfriamento passivo, ou seja, sem uso de fontes convencionais de energia. No Brasil, lamenta ela, nem sempre existe um investimento em projetos. Por isso, esse ônus é carregado para toda a operação da edificação, sendo que, gastando-se um pouco mais em tal etapa, poupa-se energia. Ao delimitar a abordagem que iria fazer, a autora da tese resolveu propor um estudo para prédios de baixa altura, um edifício térreo. Apesar disso, ela salienta que também é possível levar essa técnica a prédios com outras dimensões. A lógica da arquiteta foi a seguinte: quanto mais alto for o edifício, maiores são as possibilidades de se aproveitar as diferenças de altura entre a zona ocupada e a cobertura. E esta diferença é muito importante para incrementar o volume de ar removido pelo sistema. Já num prédio baixo, não haveria grande variação de altura e nem diferença de temperatura elevada entre a cobertura e a zona ocupada.
A arquiteta Letícia Neves, autora da tese: contribuição para a economia e para a eficiência energética das edificações Célula de teste experimental: princípio é o mesmo de um coletor para aquecimento de água
Segundo a autora, em geral costumase associar muito o conforto térmico com a temperatura do ar. No entanto, para o conforto térmico, entram ainda em jogo variáveis climáticas como a velocidade do ar, a umidade relativa e a temperatura radiante (que influencia na troca de calor por radiação entre superfícies – como troca de calor entre a pele e uma superfície envidraçada exposta ao sol, por exemplo). Todas elas, expõe Letícia, trabalham em conjunto. “Quando a umidade relativa do ar é elevada e a velocidade do ar é próxima de zero, é possível sentir um certo desconforto, semelhante ao que sentimos em dias quentes e abafados. Agora, quando se tem uma velocidade do ar mais elevada, é possível suportar temperaturas e umidades mais altas.”
INVERNO E VERÃO Ao avaliar o uso da chaminé solar para promover ventilação natural, a pesquisadora descobriu algumas possibilidades de uso do sistema. Ela poderia ser adaptada para funcionamento em conjunto com uma lareira. “Uma lareira convencional é utilizada para aquecer, mas dá para fazer uma inversão do sistema no período de verão, com vistas ao resfriamento”, sugere. No inverno, pode-se empregar um sistema que permita criar uma recirculação. Assim, o ar quente próximo à cobertura, ao invés de sair pela chaminé, volta ao ambiente interno e aquece a zona ocupada. No verão, abre-se a chaminé para o ar quente sair, o que garante um resfriamento do ambiente interno. Neste caso, é preciso prever uma abertura para entrada de ar mais fresco em outra fachada da edificação. “Na nossa latitude, durante o verão, o sol ocupa posições muito altas no céu e este fato provoca o aumento da intensidade da radiação recebida pelas coberturas e superfícies horizontais”, informa a autora. Já no Hemisfério Norte, há muitos estudos de chaminés solares em latitudes maiores [o Building Research Establishment (BRE), em Garston, no Reino Unido, é uma edificação que tem chaminé solar]. Para o contexto brasileiro, dependendo da latitude e da época do ano, isso não
funciona bem, porque a maior parte da radiação solar incide sobre o plano horizontal. Por essa razão, a arquiteta fez uma chaminé solar na cobertura da edificação e com uma inclinação adequada à latitude local.
POTENCIAL
Qualquer chaminé externa pode ser uma chaminé solar, situa a autora da tese, pois o aquecimento de sua face externa pelo sol aumenta a diferença de temperatura entre o ar da chaminé e o ar da zona ocupada. A ventilação natural, no caso, é propiciada pelo movimento do ar por diferença de temperatura. A proposta de Letícia e de seu orientador, o professor Maurício Roriz, foi incrementar o processo: aquecer ainda mais o ar na região próxima da cobertura e aumentar o fluxo de ar na zona ocupada do ambiente. A pesquisadora fez um projeto de chaminé solar para a construção de uma célula de teste experimental, construída no campus da Universidade Federal de São Carlos. Financiado pela Fapesp, o projeto desenvolveu um modelo em escala real com um sistema de monitoramento da temperatura do ar, temperatura superficial e velocidade do ar no canal da chaminé. “Comparamos os dados do interior da chaminé com os dados de variáveis climáticas externas”, conta ela. Com base no monitoramento, calibrou-se um modelo em um software de simulação termoenergética, o EnergyPlus. A partir daí, passou-se a uma análise de quais parâmetros geométricos e construtivos funcionariam melhor: qual seria o comprimento e a inclinação da chaminé, a profundidade do canal e o tipo de material ideais? A parte experimental foi a mais complexa, relata a arquiteta, com problemas construtivos e de monitoramento para solucionar, mas serviu de base para calibrar o modelo de simulação. Dele se conseguiram extrair os resultados mais interessantes, contrapondo-se uma chaminé convencional – sem coletor solar para aquecimento do ar – com uma chaminé solar.
MAIS ALTERNATIVAS
Os exaustores eólicos são um exem-
plo de mecanismos para ventilação natural muito empregados em galpões, pois são acionados pela força do vento para renovar o ar ambiente. Fazendo uma correlação com o projeto e comercialização de chaminés solares no mercado, daria para partir dessa mesma linha dos exaustores eólicos. Seriam produzidos módulos de chaminés solares para simplesmente serem instalados na cobertura da edificação. A saída seria criar um método simples para dimensionar e definir as características da chaminé solar a ser instalada em cada caso. “Agora aguardamos que a chaminé solar entre em escala industrial, com o interesse de alguma empresa”, espera a arquiteta. Até onde se sabe, nacionalmente apenas se fazem pesquisas com chaminé solar para secagem de grãos, de madeira. Em outros países, já existe essa chaminé com aplicação para climatização natural, iniciativa que foi retomada da arquitetura vernacular e ganhou mais espaço por volta da década de 1990. O trabalho de Letícia conseguiu uma solução geométrica diferenciada, em que foi garantida a máxima irradiância solar no plano do coletor e a manutenção de uma diferença na altura adequada entre as aberturas de entrada e saída do ar da chaminé. Sua pesquisa foi financiada pela Fapesp e uma importante parte dos estudos foi feita em Portugal, onde, sob a supervisão do engenheiro Fernando Marques da Silva, ela realizou uma série de ensaios no túnel de vento do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), situado em Lisboa.
Publicações - Neves, L. & Roriz, M. Procedimentos estimativos do potencial de uso de chaminés solares para promover a ventilação natural em edificações de baixa altura. Ambient. constr. [online]. 2012, vol.12, n.1, pp. 177-192. Tese: “Chaminé solar como elemento indutor de ventilação natural em edificações” Autora: Letícia de Oliveira Neves Orientador: Maurício Roriz Financiamento: Fapesp
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Campinas, 27 de agosto a
Fausto Castilho traduz ‘Ser e Tempo’, obra maior de Heidegger Professor do IFCH, que foi aluno do filósofo alemão, começou a verter livro para o português em 1949, quando estudava na Sorbonne
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LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
Editora da Unicamp está lançando a primeira edição bilíngue (alemão-português) de Sein und Zeit (Ser e Tempo), considerada a obra mais importante de Martin Heidegger, para muitos o principal filósofo do século 20. O responsável pela tradução é Fausto Castilho, professor emérito da Unicamp, que frequentou o curso de Heidegger na Universidade de Friburgo. Na opinião do professor, Ser e Tempo é um livro singular “porque pressupõe a leitura por Heidegger de toda a história da filosofia”. O lançamento ocorre em parceria com a Vozes, editora que detém os direitos de publicação de títulos do filósofo alemão no Brasil. Em sua graduação em filosofia na Universidade de Sorbonne, Fausto
Jornal da Unicamp – O que representa o livro Ser e Tempo para o campo da filosofia? Fausto Castilho – É um livro bastante singular, excepcional entre os livros de filosofia do século 20. Em primeiro lugar, porque a obra pressupõe a leitura por Heidegger de toda a história da filosofia. Em 1951, filólogos importantes na área da filosofia (alemães, suíços e de outras nacionalidades) promoveram um seminário em Zurique e convidaram Heidegger para presidi-lo. Um dos filólogos presentes, o suíço Emil Staiger, grande nome da crítica literária, perguntou a Heidegger o seguinte: “Por que o senhor, para enunciar o seu pensamento, precisa se apoiar no comentário dos filósofos?”. Ele respondeu: “Nunca enunciei nada que me coubesse. Sempre disse o que os filósofos e alguns grandes poetas disseram”. Heidegger comenta os autores contemporâneos, como por exemplo, [Edmund] Husserl, de quem foi aluno e discípulo; era um grande intérprete de Kant; um dos maiores adversários de Descartes; e um grande crítico de Hegel. Conhecia não só toda a filosofia moderna, mas também a filosofia medieval, o que é igualmente excepcional: em geral, quem gosta dos modernos, não gosta dos medievais. E, mais do que isso, passou os últimos 30 ou 40 anos da vida comentando os pré-socráticos: Parmênides, Anaximandro e assim vai... Então, qual é a excepcionalidade deste livro? É que se trata de um livro de história da filosofia, sem dizer que o é. Heidegger não faz história da filosofia, vai direto aos filósofos como se fossem contemporâneos seus, e os examina fora de qualquer esquema de desenvolvimento histórico. Isso é excepcional porque pressupõe um conhecimento direto dos filósofos, principalmente os gregos, o que é raro. A filosofia da moda americana é a filosofia analítica, que simplesmente ignora a história da filosofia. E por que um alemão, um francês ou um escandinavo têm essa possibilidade? Por causa do liceu. A Finlândia, país cuja língua não é sequer europeia, exige cinco anos de latim no liceu. Por aí, vemos que a possibilidade de ter acesso aos gregos depende do liceu. É, portanto, um exemplo flagrante da formação que um liceu alemão (que lá se chama gymnasium) produz. JU – O senhor manifesta inconformismo com a adesão de Heidegger ao nazismo. Que explicação encontra para que ele tenha tomado tal posição? Fausto Castilho – Esta adesão ao nazismo é realmente uma coisa insuportável na biografia dele. Eu tenho lá as minhas ideias a respeito disso. Eu o conheci pessoalmente por frequentar suas aulas, nunca tive um contato direto. Mas era um tipo rústico de camponês (aliás, um montanhês, nascido nas montanhas do sul do país), o que você
Fotos: Antonio Scarpinetti
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Qual é a excepcionalidade deste livro? É que se trata de um livro de história da filosofia, sem dizer que o é
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Em minha opinião, a opção pelo nazismo não vem apenas da sua origem montanhesa, mas também de arrivismo
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Do ponto de vista do conteúdo, procurei cotejar os conceitos de Heidegger, alguns bastante inusitados, com os conceitos dos outros filósofos
Castilho foi aluno de Merleau-Ponty, Jean Piaget e Gaston Bachelard. Paralelamente, como convém a um futuro filósofo, cuidou de aprender o alemão com um grupo de colegas, quando já começou a traduzir a obraprima de Heidegger, ao mesmo tempo em que a estudava. Foi fazendo a tradução por partes, conforme as necessidades de estudante, professor e palestrante, até se dar conta, no início dos anos 1980, de que havia traduzido praticamente todo o livro. Fausto Castilho, na entrevista que segue, conta como nasceu seu interesse por Heidegger, dimensiona a importância de Ser e Tempo no campo da filosofia e apresenta a sua explicação para a adesão do filósofo alemão ao nazismo, grande mácula em sua trajetória. Perto de completar 83 anos de idade, o professor emérito retoma neste semestre os estudos sobre a interpretação do Brasil – o outro tema de seu interesse –, prevendo inclusive a realização de seminários multidisciplinares a respeito.
sentia logo na primeira vez que o encontrasse. Ao contrário, por exemplo, de Sartre, que era uma pessoa delicadíssima. Essa origem marca Heidegger, que depois de concluir o curso universitário não tinha nenhuma perspectiva de ascensão social. Quando aparece o movimento nazista, seus antecedentes de família – o pai sacristão de uma igrejinha na montanha e de um catolicismo atrasadíssimo, reacionário – já predispunham o rapaz para atitudes políticas que fugiam das soluções citadinas, urbanas. Quando Hitler toma o poder, Heidegger recebe o apoio de praticamente todo o corpo docente para que assumisse a reitoria da Universidade de Friburgo, inclusive – e talvez principalmente – dos judeus, amigos dele. Em minha opinião, a opção [pelo nazismo] não vem apenas da sua origem montanhesa, que é uma razão fortíssima, mas também de arrivismo, isto é, vontade de subir na vida. Isso contou muito. Minha compreensão deste episódio, em face da imensa obra escrita e publicada, no fundo é de apenas um episódio em toda a sua vida. Como dizia Hannah Arendt, que era judia e foi aluna dele, o curso que nós assistimos de Heidegger sobre O Sofista, de Platão, nunca mais vai haver igual numa universidade alemã. Porque a voz de Heidegger, isto é, o modo como ele interpretava o texto de Platão, dizia Hannah Arendt, não era contemporânea, vinha dos primórdios, como se ele tivesse a capacidade de se transportar até a Grécia. Isso para quem estuda filosofia é uma coisa importantíssima. Então, quando você compara os textos de filosofia propriamente ditos, com esta atitude que durou alguns meses em que Heidegger permaneceu na reitoria, tem de optar: ou considera o filósofo, ou considera aquele político ocasional – e não pode confundir as coisas, de jeito nenhum. JU – Como surgiu o projeto de traduzir Ser e Tempo? Fausto Castilho – Surgiu quando fui para Paris em 1949. A primeira vez que ouvi falar em Heidegger foi em 1946 (eu tinha, portanto, 17 anos), na revista do Sartre, Les Temps Modernes, que começou a circular em São Paulo; chegavam alguns exemplares na Livraria Francesa. Eu estudei no Liceu Franco-Brasileiro, que se chama Liceu Pasteur – o Getúlio [Vargas] tinha eliminado as denominações estrangeiras – e lia o francês correntemente. Nessa revista do Sartre apareceu um debate entre dois filósofos, [Karl] Löwith, que é um alemão, e [Alphonse] De Waelhens, um belga: os dois discutiam justamente a opção de Heidegger pela reitoria nazista. Em 1949, ingressei na graduação em filosofia da Sorbonne. Quando cheguei a Paris, tinha uma carta do Antonio Candido pedindo para o Paulo Emílio Salles Gomes me dar
Fotos: Reprodução
Merleau-Ponty, Jean Piaget e Gaston Bachelard foram professores de Fausto Castilho, na França: docente da Unicamp “acordava ouvindo o tocar dos sinos da igreja da Sorbonne”
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a 2 de setembro de 2012 Fotos: Antonio Scarpinetti
cobertura. Fui morar num pequeno apartamento que Paulo Emílio tinha ocupado antes da Guerra – ele era muito amigo da proprietária, madame Jeanne – e, ao se despedir, me disse: “Agora, você é prisioneiro aqui da Praça da Sorbonne”. Realmente, fiquei lá por quatro ou cinco anos. E digo sempre que tive muita sorte de encontrar aquele apartamento: acordava ouvindo o tocar dos sinos da igreja da Sorbonne e me vestia rapidamente para ir à aula – foi um ponto de disciplina formidável. Morei diante da Livraria Vrin. Pedi ao velho Joseph Vrin que conseguisse um exemplar do texto de Ser e Tempo em alemão, que ele conseguiu com um confrade livreiro. É a famosa edição nazista, toda censurada [sem a dedicatória de Heidegger ao mestre Edmund Husserl, judeu] e que guardo até hoje. Ao mesmo tempo da graduação, passei a estudar alemão com um grupo de colegas e também o Ser e Tempo. Um dia, acho que em 1951, Merleau-Ponty, meu professor, perguntou se eu sabia que Heidegger ia voltar a dar aulas – ele estava afastado por causa da “desnazificação” e, só quando foi “desnazificado”, os militares franceses que ocupavam a região autorizaram a sua volta. Passei a ir até Friburgo uma vez por semana. Tinha muito interesse por esta obra de Heidegger e comecei a sua tradução ainda como estudante em Paris, ao mesmo tempo em que estudava o alemão. Nunca fiz uma tradução contínua, fui fazendo por partes, para utilizá-las como professor e em seminários. Isso desde 49 até o início dos 80, quando me dei conta de que já havia traduzido Este volume oferece, em praticamente todo o liedição bilíngue (alemãovro. Foi então que procuportuguês), a Primeira Parte rei a Editora da Unicamp incompleta de um tratado sugerindo a publicação, concebido para abranger com a condição de que duas grandes partes. Esse ela fosse bilíngue. texto, denominado Ser e tempo, é amplamente considerado a contribuição maior JU – Quais foram as dificuldades que encondaquele que muitos têm trou na tradução? como o principal filósofo do Fausto Castilho – As dificuldades foram não século XX. só de conteúdo, isto é, de filosofia propriamente
Sobre ‘Ser e Tempo’
O filósofo e professor Fausto Castilho: trabalho de décadas está sendo publicado pela Editora da Unicamp
Quem foi Heidegger Martin Heidegger nasceu em Meßkirch, distrito de Baden, no interior da Alemanha, em 26 de setembro de 1889, e faleceu em Friburgo, em 26 de maio de 1976. O filósofo alemão, um dos principais pensadores do século XX, estudou na Universidade de Friburgo, com Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia, de quem foi assistente. Professor por alguns anos na Universidade de Marburgo, em 1929 sucedeu Husserl na cátedra de filosofia em Friburgo. Em 1927 publicou sua obra mais importante: Ser e tempo.
Quem é Fausto Castilho Fausto Castilho é licenciado em filosofia pela Sorbonne (Paris, França). Foi professor de filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Universidade Estadual Paulista (Unesp), na Universidade de São Paulo (USP), no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, onde é professor emérito, e na Universidade de Besançon, na França. Dirige as coleções Multilíngues de Filosofia Unicamp e Estudos de Filosofia Moderna e Contemporânea, desta Editora.
dita, mas também de linguagem. A solução que encontrei para a maior parte dessas dificuldades foi lançar mão dos três índices que menciono no livro e que tratam da linguagem de Ser e Tempo. [São os índices de Hildegard Feick, Index zu Heideggers “Sein und Zeit”, 1961; de Theodore Kiesel, “Lexicon”, in Being and Time, traduzido por J. Stambaugh, 1972; e de Rainer A. Abast/Heinrich P. Delfosse, Handbuch zum Textstudium von Martin Heideggers “Sein un Zeit”, vol. 1, 1980]. Evidentemente que as duas traduções para o inglês, as duas para o francês e a tradução para o italiano me ajudaram muito, porque são línguas afins. No fundo, a solução final sempre esteve na possibilidade de criar neologismos, não só de termos, mas de locuções. A coisa é complicada. Do ponto de vista do conteúdo, procurei cotejar os conceitos de Heidegger, alguns bastante inusitados, com os conceitos dos outros filósofos, principalmente dos modernos a partir de Descartes, como Kant e Hegel.
Fausto Castilho — que frequentou o curso de Heidegger na Universidade de Friburgo, transformado no livro Que significa “pensar”?, e o seminário de Eugen Fink sobre a Monadologia de Leibniz — é o responsável por esta tradução que constitui um marco na história da recepção desta obra no Brasil.
Serviço Autor: Martin Heidegger Tradução, organização, nota prévia, anexos e notas: Fausto Castilho Ficha técnica: 1a edição, 2012 Páginas: 1200 páginas Formato: 16 x 23 cm Editora da Unicamp Coedição: Editora Vozes Área de interesse: Filosofia Preço: R$ 160,00 (de 5 a 28 de setembro, por R$ 96,00 nas livrarias da Editora da Unicamp, na BC e no IEL
JU – Houve dificuldade, também, na obtenção da autorização do Comitê Heidegger para a publicação da obra em português. Fausto Castilho – As dificuldades não foram minhas, mas do doutor Maiorino [José Emílio, assistente de direção da Editora da Unicamp], que fez toda a negociação. Até alguns anos atrás, havia uma secretária do Comitê que tinha mais simpatia pela nossa proposta, mas depois a editora das obras de Heidegger foi vendida para uma editora americana, o que tornou a negociação ainda mais demorada. E ainda surgiu a Editora Vozes [detentora dos direitos de publicação de Heidegger no Brasil], que começou a influir em nossas decisões – esta é a primeira edição bilíngue de Ser e Tempo, mas existe outra tradução para o português, feita por um professor carioca. Finalmente, chegou-se ao entendimento de uma edição comum.
JU – Sem falsa modéstia, qual é a contribuição que o seu livro traz? Fausto Castilho – Sendo uma edição bilíngue, obviamente vai facilitar muito o entendimento de uma obra de leitura dificílima. Do ponto de vista didático, isso é importante, porque entrar no texto de Heidegger sem nenhuma ajuda é uma árdua tarefa. Eu costumo fazer seminários, mas eles já pressupõem um conhecimento de filosofia.
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
De patrulheiro
a mestre Denis Cacique aproveitava o longo trajeto do ônibus para ler Aristóteles
Foto: Antoninho Perri
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
O ônibus da linha urbana 2.10 (Unicamp/Terminal Campo Grande) embalava a leitura de obras de Aristóteles e de outros autores enquanto Denis Barbosa Cacique preparava-se para ser um filósofo formado pela Unicamp. A longa distância favorecia o cumprimento da carga de leitura exigida para sua formação, já que dividia as 24 horas de seus dias entre o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e a Área de Estatística do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), onde trabalha desde 2001. Foi nesse trajeto entre o bairro Jardim Nova Esperança e a Universidade, que a maior parte da história profissional e acadêmica de Dênis se escreveu. A “quase sem querença” do início desta relação hoje pode ser espelho para muitos olhos voltados para uma dúvida comum: “o que quero ser quando crescer?” Quando planejava abordar o dono do supermercado do outro lado da avenida para pedir seu primeiro emprego, como empacotador, o garoto do Jardim Nova Esperança nem pensava chegar à graduação de qualquer área do conhecimento. Muito menos planejava se tornar mestre em tocoginecologia pela Unicamp. Mas se tornou. No bairro Nova Esperança, apesar da boa aplicação na escola, os olhos buscavam apenas uma possibilidade profissional: manusear as sacolas de comércio. A timidez sobrepôs a coragem, e Denis nunca falou com o comerciante e jamais empacotou compra de cliente em nenhum outro O funcionário Denis Barbosa Cacique, do Caism: “Se eu não trabalhasse estabelecimento. na Unicamp, não conseguiria concluir o curso de filosofia” A trajetória ascendente do garoto do Nova Esperança teve início na área administrativa os coordenadores desses cursos procuram despertar da EPTV de Campinas, afiliada da Rede Globo, por in- no aluno uma capacitação para fazer vestibular. “Eles termédio do Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro contribuem para a afirmação do jovem como cidadão. de Campinas (Campc). Seria o emprego perfeito, não Não é somente aprender a fazer regra de três. Tem cafosse tão demorado o trajeto do ônibus. E, naquele mo- racterística social de receber aluno que vem de origem mento, o transporte fretado seria o único diferencial mais humilde. É complicado comparar porque não teda Unicamp em relação a outras empresas na cabeça nho outra referência, mas posso falar desses dois pela de Dênis, que não se conformava em chegar atrasado à experiência que tive.” Em 2008, tornou-se filósofo escola por conta da distância. Acatando à sugestão de pela Unicamp. um amigo, que já trabalhava na Universidade, pediu Com uma carga de leitura grande a cumprir e o sua transferência no Campc. compromisso diário com a equipe da Área de EstatísMesmo sem conhecimento prévio do que encontra- tica do Caism, a busca do conhecimento foi um tanto ria na Unicamp, surpreendeu-se em 2000, ao ser enca- mais complicada. “O curso era diurno, eu trabalhava minhado para o Centro de Atenção Integral à Saúde da na Estatística, mas consegui liberação das supervisões, Mulher (Caism). Logo pôde perceber, no contato com das gerências. Meu horário foi flexibilizado. Sem esse profissionais como o médico Francisco Mezaccappa, a apoio e se eu não trabalhasse na Unicamp, não consejornalista Clarice Rosa e o escritor e jornalista Eustá- guiria concluir o curso de filosofia”, enfatiza. As leiquio Gomes, que o caminho para se manter empregado turas, geralmente, aconteciam a bordo do ônibus da era completar os estudos. Para completar os estudos, linha 2.10 (Unicamp/Terminal Campo Grande). “Senporém, era necessário se manter empregado. Assim, tava na poltrona e abria o livro de Aristóteles e outros o patrulheiro, ao completar 18 anos, em 2000, empe- autores. Fiz muito trabalho com essa leitura em conhou-se para ser aprovado num processo seletivo para a letivo. Fiz parte considerável de minha graduação em ônibus”, brinca. Seção de Agendamento de Consultas do Caism. Embora goste de filosofia, Dênis destaca uma das Sagaz no objetivo que os mestres haviam cochichado aos seus ouvidos, com o trabalho garantido pela lacunas do estudo, pois sentiu falta de um debate mais Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Fun- aprofundado sobre um assunto contemporâneo, com camp), em 2001, apressou-se em se inscrever no ves- problemas mais presentes. “Sem fazer distinção simtibular para o curso de administração da PUC-Campi- plista entre teoria e prática”, explica. Essa inquietação nas. Mas o instinto questionador fez com que apenas o fez escolher o aborto como problema a ser abordado uma disciplina do curso lhe satisfizesse: a filosofia. em sua dissertação no programa de pós-graduação em Então por que não se graduar em filosofia? Na ver- tocoginecologia. No trabalho, apresentado em junho dade, era esta a área do conhecimento escondida na deste ano, ele desenvolveu e validou um questionário infância do já questionador garoto do Nova Esperança. capaz de avaliar a opinião dos profissionais da área de “Sempre tive aquela angústia existencial. E quando se saúde sobre o aborto. começa a estudar filosofia, vê que não está sozinho. A experiência na Universidade foi fazendo de DêExistem muitas pessoas com preocupações parecidas, nis, ainda no início da juventude, um homem responsejam de cunho moral, social ou estético. Todas essas sável. Em 2006, além da aprovação no vestibular para áreas clássicas da filosofia”, acrescenta. o curso de filosofia, ele foi aprovado em um concurso O primeiro contato com a filosofia foi encantador, público para a Unicamp. Depois de três anos na fila de segundo Dênis, e, apesar de não conhecer muito sobre espera, em 2009 foi convocado e continuou a trabalhar a área, decidiu se matricular nos cursos pré-vestibula- na Área de Estatística do Caism. res Herbert de Souza e DCE. “Dois cursos muito bons, A transferência da Seção de Agendamento para a Esem minha opinião. Aprendi muito, pois complementa- tatística também foi providência da história de vida do ram minha formação no ensino médio”, pontua Dênis. garoto do Nova Esperança. Em 2001, quando acabava Para ele, mais que oferecer desconto ou bolsa integral, de deixar a farda de patrulheiro, ele soube da necessida-
de de um funcionário que digitasse folhas de atendimento ambulatorial na Estatística. Prontificou-se, foi aceito e de lá não sairia mais. Lá mesmo se dedicaria à área administrativa, ao mesmo tempo em que, em seu universo de questionamentos, participasse da formulação de questionário para medir a satisfação de funcionários do hospital. A participação nessas atividades, bem como na condição de membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp, ajudou no desenvolvimento de sua dissertação. “Quando revemos a pesquisa dos outros, começamos a aprender como deve ser a nossa”, declara. A dissertação, orientada pelos professores Renato Passini e Maria José Martins Duarte Osis, soma-se a uma série de trabalhos com abordagem voltada para o aborto na academia. Para ele, o aborto tem grandes possibilidades de abordagem ética e conhecer a opinião de profissionais da área de saúde sobre a moralidade do aborto é importante para dar continuidade às pesquisas sobre o tema. “São esses profissionais que atendem em primeira mão a paciente com complicação de abortamento ou que interrompe a gravidez de forma legal, em caso de violência. Estão numa posição delicada que precisa ser estudada”, pontua o filósofo.
O ENCONTRO
“Mesmo miseráveis os poetas, os seus versos serão bons” (Chico Buarque). Dênis é prova de que se a poesia não é boa, o poeta pode melhorar com o tempo. Provou do gosto de escrever poesias na adolescência, quando ainda era patrulheiro mirim, mas admitiu a necessidade de melhorar quando um amigo apontou os pontos a melhorar ainda nos primeiros encontros entre os dois. “Encantei-me com ele logo no primeiro encontro. Até então não conhecia Eustáquio Gomes. Hoje leio tudo o que publicou. Ainda releio suas crônicas”, revela, entre um sorriso e outro, o jovem mestre. Hoje, Dênis partiu para a crônica e tem espaço cativo para publicação de artigos no Boletim Caism Notícias. Sem falar na publicação de artigo em periódico. Essas conquistas poderiam ser compartilhadas com o [ídolo], não fosse o problema de saúde enfrentado por Eustáquio em 2010. Um dos fundadores da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unicamp (Ascom), o jornalista surpreendeu o jovem por receber um patrulheiro aspirante a escritor em sua sala tantas muitas vezes, mesmo que não estivesse mais na companhia de Clarice, que foi quem fez a apresentação. “Eu o procurava para contar sobre minhas conquistas e para pedir opinião sobre algum novo texto.” Dênis admite sua fraqueza pela poesia, mas relembra que se alegrou com as críticas, e decidiu continuar a escrevê-las porque lhe é prazeroso. O primeiro encontro, ainda quando era o garoto do “Nova Esperança”, embalado por uma leitura a bordo do ônibus fretado, nunca mais abandonou a memória: “Lembro com perfeição de ter ido para uma sala onde Eustáquio escrevia o livro Unicamp 35 anos. Ele me recebeu com uma abertura tão grande, foi muito simpático. Descobri o privilégio ao conhecê-lo pessoalmente. Indicou leitura, me deu livros, falava que minhas poesias eram ruins com muito jeito. Ainda leio seus textos. Tenho crônicas dele. Fiquei encantado pela fala bonita vinda de uma pessoa simples. E a gente que gosta de estudar, de escrever, quando encontra gente assim fica encantado. Ele falava sobre literatura brasileira com um domínio que nenhum professor meu da escola tinha. Passava a impressão de entender muito de filosofia. Escreveu um diálogo com um gato, que começa a filosofar, falar sobre o sentido da vida. Como literatura é ótimo e como conteúdo filosófico também. Eustáquio é um exemplo para mim. Sou encantado por ele até hoje”, para rememorar. Certamente o escritor, jornalista e amigo se orgulharia de conhecer as últimas conquistas do garoto do “Nova Esperança”, que promete ainda mais no doutorado que se anuncia.
Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
Nas n bas ca
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Estudo aponta associação entre toxocaríase, asma e obesidade Bióloga analisou prontuário de crianças e adolescentes em bairro de Campinas Fotos: Antonio Scarpinetti
RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br
m 116 prontuários de crianças e adolescentes atendidos na Unidade Básica de Saúde do Jardim Santa Mônica, em Campinas, e analisados pela bióloga Paula Mayara Matos Fialho, foi constatada uma associação entre a toxocaríase – doença causada por vermes intestinais presentes nos cães e em gatos – a asma e a obesidade. De acordo com a bióloga, todos os pacientes, entre dois e 14 anos, apresentavam os sintomas das três doenças conjuntamente. O que chama a atenção no estudo de mestrado, orientado pelo professor Carlos Roberto Silveira Corrêa e apresentado no Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), é que se trata de um dado novo e relevante para a saúde pública, pois são enfermidades com fatores de risco diferentes, mas todas com alta prevalência na população brasileira. Segundo a bióloga, foi a primeira vez em que se realizou um estudo associando estas três doenças. Por isso, Paula pretende fazer novas investigações para entender os processos inflamatórios tanto da obesidade como da asma e, eventualmente, para as relações de comportamento do parasita no hospedeiro, para assim, entender como essas três doenças se inter-relacionam. “Vários estudos já apontam para a associação entre a toxocaríase com a asma ou a asma e obesidade. Mas, as três ainda não haviam sido estudadas, e a pesquisa mostra a vulnerabilidade dos pacientes com toxocaríase”, explica. Paula Fialho analisou 178 prontuários registrados entre 1996 e 1998 e, em 116, encontrou a associação. “Considerando a população do bairro na época, de 10 mil pessoas, e que 10% deles tinham menos de cinco anos, acredito que seja uma amostragem bastan-
A bióloga Paula Mayara Matos Fialho, autora da dissertação: “Pesquisa mostra a vulnerabilidade dos pacientes com toxocaríase”
te significativa”, destaca. Além da análise do prontuário, Paula também visitou todas as residências das crianças em que o diagnóstico coincidia. Ela percorreu o bairro em busca de dados que pudessem indicar a relação entre as doenças. No entanto, não conseguiu encontrar os pacientes, uma vez que muitos moradores já haviam se mudado ou tinham morrido por outros fatores. “A minha análise ficou comprometida por ter achado apenas 22 indivíduos analisados”, lamenta.
O desconhecimento em torno da toxocaríase preocupa Paula Fialho. Também conhecida como Síndrome da Larva Migrante, a doença atinge principalmente crianças. Existe ainda a questão da dificuldade do diagnóstico, uma vez que é necessário um exame específico e de custo elevado para que se comprove a existência do parasita no organismo humano. “No Sistema Único de Saúde (SUS) dificilmente ele pode ser realizado”, afirma Paula. Neste sentido, a pesquisa contribui para que
os profissionais da saúde estejam atentos ao quadro de sintomas que o paciente possa apresentar. No caso da Síndrome, a maioria das infecções é assintomática, mas, em casos mais graves, podem aparecer manchas avermelhadas na pele, problemas na visão, diarreia, febre, problemas respiratórios e hepatomegalia (aumento do fígado). Os parasitas Toxocara canis, cujo hospedeiro é o cão, e Toxacara cati, do gato, podem liberar os ovos nas fezes e contaminar água e solo e, se ingerido acidentalmente pelo homem, acomete vários órgãos pela corrente sanguínea. “São poucos os relatos de óbito por conta disso, mas as sequelas podem alcançar a vida escolar da criança”, esclarece. Para o doutorado, ela pretende realizar estudo de base populacional no Jardim Santa Mônica. Para tanto irá fazer a coleta de sangue e realizar análises parasitológicas de voluntários em laboratório, pois a associação das doenças no trabalho inicial envolveu o parasita Toxacara canis. A expectativa é encontrar interação entre essas três doenças e identificar os diferentes fatores de risco que podem estar envolvidos nos mais diferentes processos inflamatórios
Publicação Dissertação: “Estudo da associação entre toxocaríase, asma e obesidade em crianças de um bairro do município de Campinas” Autor: Paula Mayara Matos Fialho Orientador: Carlos Roberto Silveira Corrêa Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Capes
Sistema automatizado norteia adoção de políticas públicas Ferramenta permite tomadas de decisão baseadas em fatos reais e não em hipóteses Das pessoas que receberam benefícios sociais voltados ao público jovem da Prefeitura Municipal de Campinas (PMC), no período entre 2008 e 2012, a maioria é constituída pelo público feminino e se divide em dois grupos: deficientes e não deficientes. O primeiro grupo possui elevado grau de instrução e está concentrado na região leste da cidade. Já o segundo, possui um grau de instrução médio e se localiza na região central. Este cenário só foi possível traçar graças a um conjunto de sistemas automatizados desenvolvido no Laboratório de Redes e Comunicação (Larcom) da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), coordenado pelo professor Leonardo de Souza Mendes. Os dados compõem o módulo de Gestão Social do Sistema Integrado de Governança Municipal (SIGM) e foram cedidos pela PMC para simulações. O autor do estudo, Everton Luiz de Almeida Gago Júnior, acredita que a proposta muda o paradigma na tomada de decisões, pois elas serão baseadas em fatos reais e não em hipóteses como acontece com os sistemas tradicionais. “Desta forma, é possível encaminhar soluções que surtirão mais efeito nas políticas públicas”, destaca. O caso do cenário traçado na Prefeitura de Campinas em relação aos benefícios sociais é um exemplo. Com os dados apresentados de forma minuciosa, o administrador consegue visualizar a necessidade de ações que incluam as mulheres com deficiência no mercado de trabalho,
soluções que favoreçam o cidadão, ou seja, este aspecto muda o paradigma da tomada de decisões, pois serão feitas baseadas em dados reais”, explica o engenheiro da computação, que teve a orientação do professor Leonardo. Embora o sistema existente na Prefeitura de Campinas seja integrado e consiga automatizar várias ações tidas como burocráticas, ele não permite o cruzamento de informações entre as secretarias, ou seja, possui deficiências. Everton Gago propôs, então, que se incorporasse a técnica de mineração de dados como forma de análise inteligente dessas informações. A mineração de dados, explica ele, possibilita a descoberta de padrões até então desconhecidos, e os mapas auto-organizáveis são modelos promissores para a descoberta de informações ocultas em meio aos dados. O mapa auto-organizável é um tipo de Rede Neural Artificial, constituído por um conjunto de células computacionais interligadas entre si. (R.C.S.)
O autor do estudo, Everton Luiz de Almeida Gago Júnior: soluções podem favorecer o cidadão
uma vez que elas possuem um elevado grau de instrução. Os softwares desenvolvidos na FEEC foram baseados em técnicas de mineração de dados por meio de mapas auto-organizáveis. Estes softwares são aplicados em governo eletrônico de instituições públicas e auxiliam o administrador na tomada de decisão com base em informações sistematizadas. Em geral, segundo Everton Gago, tanto a iniciativa privada como os órgãos públicos trabalham com volume intenso de dados de maneira
dispersa. Daí a importância de se pensar em sistemas inteligentes para obter informações qualificadas, para auxiliar o processo de tomada de decisão. O modelo desenvolvido na FEEC permite agrupar as informações e compreender as características acerca destes agrupamentos. Isto significa identificar padrões e comportamentos ocultos nos dados operacionais das instituições de maneira clara e, consequentemente, analisar as possíveis decisões com mais eficiência. “Desta forma, pode-se propor
Publicação Dissertação: “Mapas auto-organizáveis aplicados em governo eletrônico” Autor: Everton Luiz de Almeida Gago Júnior Orientador: Leonardo de Souza Mendes Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012 na página eletrônica da PRP http://www.prp.rei.unicamp.br/ A História da África -Aconferência “AHistória da África vista pelos africanos” acontece no dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala da Congregação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Mais informações: http://www.ifch.unicamp.br/eventos/index.php?conteudo=mostra_evento&coff&codevenot=2228 Redes complexas em processamento de Linguagem Natural - O professor Osvaldo Novaes de Oliveira Jr. é o convidado para a palestra “Redes complexas em processamento de Linguagem Natural”, marcada para o dia 31 de agosto, às 14h30, no auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). O evento tem como organizadora a professora Eleonora CavalcanteAlbano. Mais informações: 3521-1520 ou e-mail eventos@iel.unicamp.br. Performa Clavis 2012 - O Instituto de Artes (IA) e o Espaço Cultural Casa do Lago promovem de 3 a 5 de setembro, das 9 às 21 horas, o Simpósio Internacional Performa Clavis 2012. O evento conta com a parceria dos Programas de Pós-graduação do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, de Música da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O Simpósio visa colaborar tanto com a consolidação do campo de pesquisas que vem se organizando em torno dos conceitos centrais que estruturam a Prática Interpretativa Tecladistica em geral, quanto com as demonstrações práticas dos Master-Class, áreas em franca atuação. Informações: performaclavis12@ iar.unicamp.br
Painel da semana
Teses da semana
Palestra dos Programas PAD/PED - As Pró-reitorias de Graduação (PRG) e de Pós-Graduação (PRPG) organizam no dia 27 de agosto, às 14 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, uma palestra de Aperfeiçoamento Didático dos Programas PAD/PED, com Lúcia Mourão, professora titular da Unicamp, docente dos Programas de Pós-graduação em Gerontologia e do Mestrado em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação. Aborda: Expressividade vocal no exercício docente. Público-alvo: alunos dos programas PAD (Programa de Aperfeiçoamento Didático) e PED (Programa de Estágio docente). Mais detalhes no site www.ea2.unicamp.br ou telefone 19-3521 7990. Gerenciamento de resíduos - No dia 27 de agosto, às 9 horas, no Auditório II da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), acontece a apresentação do Plano de Gerenciamento de Resíduos do Gabinete da Reitoria (GR) e da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), incluindo palestras sobre Educação Ambiental e Responsabilidade Pós-consumo na área de pneus. A organização é da Comissão do Programa de Gerenciamento de Resíduos (PGR). Mais informações: 19-3521-4736 ou e-mail clariza@reitoria.unicamp.br O desenho no Brasil no teatro do mundo – A Editora da Unicamp lança, dia 28 de agosto, às 18 horas, no Empório do Nono, em Barão Gerado, o livro “O desenho no Brasil no teatro do mundo”, do professor Paulo Miceli (Unicamp). O Empório do Nono fica na Rua Albino J. B. de Oliveira, 1128. Mais informações: 19-3289-0041. Processo seletivo - O The Boston Consulting Group, líder mundial em consultoria estratégica, convida os formandos da Unicamp de 2012 e 2013 para uma apresentação sobre a carreira em consultoria e a primeira etapa do processo seletivo para Estagiários (formandos em Julho ou Dezembro de 2013) e Associates (formandos em 2012 com Duplo Diploma). A realização dos testes, envio do CV e histórico são indispensáveis para participação do processo. O prazo para inscrições é até 28 de agosto. Palestra e testes: 29 de agosto, das 19h30 às 21h30, no Auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL). Mais informações: Tel.: 11 3046 3673 ou saobcgrecruiting@bcg.com Combate ao fumo - O Programa Viva Mais e o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) organizam em 29 de agosto, uma palestra sobre tabagismo com o médico Jamiro da Silva Wanderley. O evento ocorre às 11h30, na Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). A atividade marca a campanha do Dia Nacional de Combate ao Fumo, que este ano traz como tema “Fumar: faz mal pra você, faz mal pro planeta”. Na ocasião, funcionários e docentes da Unicamp receberão um informativo com conteúdo fornecido pelo INCA. Mais detalhes no link www. cecom.unicamp.br/vivamais ou e-mail bazzo@unicamp.br Palestra do Programa Saiba Mais - O Programa Saiba Mais promove palestras aos alunos de graduação focando o processo de aprendizagem na Universidade e apresenta temas relevantes para a formação e vivência na educação superior. Autorregulação da aprendizagem, motivação, transição para o ensino superior, gerenciamento de tempo, estratégias de aprendizagem e desenvolvimento de carreira, são alguns temas tratados nos encontros. A primeira palestra do semestre ocorre no dia 30 de agosto, às 12h30, na sala CB-18 do Ciclo Básico I. Contará com a participação dos professores Tânia Casado (USP/FEA) e Petrus Raulino. Mais informações: 19-3521-6539. Ciência e Arte nas Férias – O prazo para a submissão de projetos para o XI Ciência e Arte nas Férias vai até o dia 31 de agosto. O programa visa proporcionar aos alunos do ensino médio da rede pública de ensino a oportunidade de participarem no desenvolvimento de projetos de pesquisa em laboratórios da Unicamp, durante o período de férias escolares de janeiro (9 de janeiro a 8 de fevereiro de 2013), sob a supervisão de professores e pesquisadores da Universidade. O docente ou pesquisador interessado em participar deverá submeter um único projeto ao Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa da Unicamp (Faepex). O projeto, envolvendo no mínimo dois bolsistas, deverá somente ser submetido por docentes ou pesquisadores da Unicamp. Eventualmente e mediante justificativa à coordenação do Programa, um laboratório poderá acolher até quatro alunos. No entanto, o montante de recursos destinado será o mesmo. Outras informações estão disponíveis
Artes - “Confluindo co-habitares no corpo do intérprete formado no método BPI (bailarino-pesquisador-Intérprete)” (mestrado). Candidata: Nara de Moraes Cálipo. Orientadora: professora Graziela Rodrigues. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala AD06 do Departamento de Artes Corporais do IA. - “O arlequim nordestino: as personagens-palhaço de Ariano Suassuna” (mestrado). Candidata: Romina Quadros Borba. Orientadora: professora Larissa de Oliveira Neves Catalão. Dia 28 de agosto, às 10 horas, na sala 3 da Pós-graduação do IA. - “Davi e Golias no labirinto: elementos neobarrocos na poética de Derek Jarman” (mestrado). Candidato: Luiz Carlos Andreghetto. Orientador: professor Mauricius Martins Farina. Dia 28 de agosto, às 14 horas, na CPG do IA, sala 02. - “Dançar para a fonte: as reverberações de apresentar um espetáculo criado dentro do método Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI) ao campo onde foi realizado o co-habitar com a Fonte” (mestrado). Candidata: Elisa Massariolli da Costa. Orientadora: professora Graziela Estela Fonseca Rodrigues. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala AD-06 do Departamento de Artes Corporais. - “Corpo delével: uma poética da autoimagem distorcida” (mestrado). Candidata: Lindsay Caroline de Brito Ribeiro. Orientadora: professora Marta Luiza Strambi. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala 2 da CPG do IA. - “A tentativa do impossível: a arte mágica como matéria poética da cena teatral” (doutorado). Candidato: Ricardo Godoy Harada. Orientadora: professora Verônica Fabrini Machado de Almeida. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala 03 do IA. - “Hélio Oiticia, quase-cinemas e os desdobramentos na videoinstalação contemporânea” (mestrado). Candidata: Natasha Marzliak. Orientador: professor GilbertoAlexandre Sobrinho. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na Casa do Lago. - “A capa convida: o design gráfico de Marius Lauritzen Bern para a editora Civilização Brasileira” (mestrado). Candidata: Carina da Rocha Naufel. Orientador: professor Edson do Prado Pfutzenreuter. Dia 30 de agosto, às 10 horas, na sala 3 da Pós-graduação. - “O design gráfico no terreno cultural brasileiro. A veiculação de conteúdo cultural artístico nos projetos de Kiko Farkas, Rico Lins e Vicente Gil, participantes da 9a Bienal Brasileira de Design Gráfico” (mestrado). Candidata: Jade Samara Piaia. Orientador: professor Edson do Prado Pfutzenreuter. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala 2 da Pós-graduação do IA. - “A vida como ela é: Nelson Rodrigues no palimpsesto televisivo” (mestrado). Candidata: Stefanie Hesse Alves. Orientador: professor Gilberto Alexandre Sobrinho. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala MM02 do IA. - “Geratiz improvisacional espetacular: processo criativo da boa companhia” (doutorado). Candidato: Daves Otani. Orientadora: professora Verônica Fabrini Machado de Almeida. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala de reunião do Barracão de Artes Cênicas. - “A expressão da criança no documentário Promessas de um novo mundo: um estudo de caso” (mestrado). Candidata: Letizia Osorio Nicoli. Orientador: professorAntonio Fernando da Conceição Passos. Dia 31 de agosto, às 9 horas, na sala 3 do IA. - “O intérprete no método BPI: um estudo sobre as relações afetivas vivenciadas pelo sujeito no processo de formação e criação cênica do bailarino-pesquisador-Intérprete” (mestrado). Candidato: Flavio Campos Braga. Orientadora: professora Graziela Estela Fonseca Rodrigues. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala 3 da CPG do IA. - “A utilização do gestual cotidiano em Kontakthof de Pina Bausch dançado por três gerações” (mestrado). Candidata: Marina Milito de Medeiros. Orientador: professor Sayonara Pereira. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala AC 04 do Barracão de Artes Cênicas do IA. - “Rolf Gelewski e as interrelações entre forma, espaço e tempo: uma proposta de improvisação para processo artístico-criativo em dança” (mestrado). Candidata: Juliana Cunha Passos. Orientador: professor Elisabeth Bauch Zimmermann. Dia 31 de agosto, às 14 horas, no Auditório do IA. Alimentos - “Ferro e zinco em pães industrializados” (mestrado). Candidata: Grasiela de Souza Costa da Silva. Orientadora: professora Juliana Azevedo Lima Pallone. Dia 28 de agosto, às 9 horas, no anfiteatro do DCA. - “Capacidade desativadora de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio por carotenoides e extrato de maná-cubiu” (doutorado). Candidato: Eliseu Rodrigues. Orientadora: professoraAdriana Zerlotti Mercadante. Dia 29 de agosto, às 14 horas, no Salão nobre da FEA. - “Produção, caracterização bioquímica de proteases de Aspergillus
oryzae e aplicação na hidrólise de proteínas para obtenção de hidrolisados proteicos com atividade antioxidante” (mestrado). Candidato: Ruann Janser Soares de Castro. Orientadora: professora Helia Harumi Sato. Dia 31 de agosto, às 9 horas, no Salão nobre da FEA. Biologia - “Avaliação da citotoxicidade e das atividades analgésica e antinflamatória do ácido p-coumárico intercalado em nanopartículas de hidróxidos duplos lamelares”(mestrado). Candidata: Viviane Aparecida Guilherme. Orientadora: professora Daniele Ribeiro de Araujo. Dia 29 de agosto, às 9 horas, na sala de defesa de tese da CPG do IB. Computação - “LUTS: A light-weight user-Level transaction scheduler” (doutorado). Candidato: Daniel Henricus de Knegt Dutra Nicácio. Orientador: professor Guido Costa e Souza Araújo. Dia 31 de agosto, às 10 horas, no auditório IC 2, sala 85. Economia - “O enfrentamento da pobreza como desafio para as políticas sociais no Brasil: uma análise a partir do Programa Bolsa Família” (doutorado). Candidata: Claudia Regina Baddini Curralero. Orientador: professor Claudio Salvadori Dedecca. Dia 31 de agosto, às 13 horas, na sala 23, Pavilhão de aulas da Pós-graduação. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Auxílio multicritério à decisão aplicado à implantação de sistema de armazenamento de grãos na propriedade rural” (mestrado). Candidato: Lucas Scatulin Bocca. Orientadora: professora Maria Lucia Galves. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala CA-22. - “Acoplamento MEC-MEF para análise de pórtico linear sobre base elástica” (mestrado). Candidato: Luiz Antônio dos Reis. Orientador: professor Leandro Palermo Junior. Dia 27 de agosto, às 15 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC. - “Uso de efluentes sanitário em cultura de eucaliptos (Eucaliptus urograndis): avaliação da toxidade na sua aplicação” (mestrado). Candidato: Giovani Archanjo Brota. Orientador: professor Alexandre Nunes Ponezi. Dia 28 de agosto, às 9 horas, na sala CA-22 da CPG/FEC. - “Análise da exploração da materialidade no processo de projeto” (mestrado). Candidata: Sara Beloti Ferreira. Orientador: professor Daniel de Carvalho Moreira. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala CA-22 da CPG/FEC. - “Redução da concentração de fenol presente em águas residuárias utilizando sistema combinado; desempenho e toxidade residual” (mestrado). Candidata: Luciana Vechi Carvalho. Orientador: professor Edson Aparecido Abdul Nour. Dia 30 de agosto, às 9 horas, na sala CA-22 da FEC. - “Análise de prova de carga em tubulão a céu aberto submetido a esforço horizontal em solo não saturado de diabásio da região de Campinas” (mestrado). Candidato: Roberto Kassouf. Orientador: professor David de Carvalho. Dia 30 de agosto, às 10 horas, na sala de defesa de teses da FEC. - “Geração distribuída aplicada a edificações: edifícios de energia zero e o caso do laboratório de ensino da FEC- Unicamp” (mestrado). Candidato: Bruno Wilmer Fontes Lima. Orientador: professor Gilberto de Martino Jannuzzi. Dia 31 de agosto de 2012, às 14 horas, na sala de videoconferência da diretoria da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Equalização da potência de cargas ressonantes de alta tensão alimentadas em paralelo, por meio de compensação eletrônica de parâmetros” (mestrado). Candidato: Diego Tardivo Rodrigues. Orientador: professor José Antenor Pomilio. Dia 28 de agosto, às 9 horas, na sala PE 11, prédio da CPG/FEEC. - “Construção de Baselines para gerência de sistemas Voip” (mestrado). Candidato: Luis Henrique Gibeli. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 28 de agosto, 2, às 14 horas, na FEEC. - “Ferramentas interativas de auxílio a diagnóstico por neuroimagens 3D” ( mestrado). Candidato: José Elías Yauri Vidalón. Orientadora: professora Wu Shin-Ting. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na CPG/FEEC. - “Benefícios associados à operação coordenada do sistema interligado nacional junto com as usinas binacionais de Corpus e Yacyretá” (mestrado). Candidato: Luis Germán Barrientos Mujica. Orientador: professor Secundino Soares Filho. Dia 31 de agosto, às 9 horas, na sala PE12, prédio da CPG/FEEC. - “Modelo de simulação em base horária da vazão na estação fluviométrica da régua-11” (mestrado). Candidato: Liz Rosana Alvarez Ferreira. Orientador: professor Secundino Soares Filho. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala PE12, prédio da CPG/FEEC. - “Filtros digitais para recepção coerente em 112 Gb/s de sinais ópticos com modulação QPSK e multiplexação por divisão em polarização” (mestrado). Candidato: Vitor Bedotti Ribeiro. Orientador: professor Aldário Chrestani Bordonalli. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. Engenharia Mecânica - “Arquitetura de software não-uniforme para o método de elementos finitos de alta ordem” (mestrado). Candidato: Gilberto Luis Valente da Costa. Orientador: professor Marco Lucio Bittencourt. Dia: 27 de agosto, às 9 horas, no auditório do DPM/FEM. Engenharia Química - “Controle do regime fluidodinâmico estável durante o processo de umedecimento de inertes em leito de jorro utilizando análise espectral” (mestrado). Candidato: José Júnior Butzge. Orientador: professor Osvaldir Pereira Taranto. Dia 30 de agosto, às 9h30, na sala de defesa de teses da FEQ. Física - “O efeito da pressão sobre transições entre fases desordenadas do silício líquido” (doutorado). Candidato: Karl Marx Silva Garcez. Orientador: professor Alex Antonelli. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala de seminários do DFMC do IFGW. n Geociências - “Extensão e transferência de conhecimento: as incubadoras tecnológicas de cooperativas populares” (doutorado). Candidata: Laís Silveira Fraga. Orientador: professor Renato Peixoto Dagnino. Dia 27 de agosto, às 9 horas, no auditório o IG. - “Uso de macrófitas em leitos cultivados em crostas de eletrofusão em bauxita” (mestrado). Candidata: Delci Magalhães Poli. Orientador: professor José Teixeira Filho. Dia 27 de agosto, às 9 horas, na sala B do DGRN do IG. - “Território usado em movimento: cada canto um rap, cada rap um canto” (mestrado). Candidato: Renan Lelis Gomes. Orientador: professor Marcio Cataia. Dia 27 de agosto, às 9h30, na salaAdo DGRN. - “Urbanização e usos do território: as crianças e adolescentes em situação de rua na cidade de Campinas/SP” (mestrado). Candidata: Ana Tereza Coutinho Penteado. Orientadora: professora Adriana
Maria Bernardes da Silva. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala B do DGRN do IG. - “Quem decide? Core set e participação pública no caso da experimentação animal no estado de São Paulo” (mestrado). Candidato: Alexandre Meloni Vicente. Orientadora: professora Maria Conceição da Costa. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala A da DGRN do IG. - “Turismo sustentável: uma proposta para São Simão/SP” (doutorado). Candidata: Viviane Minati Panzeri. Orientador: professor Carlos Roberto Espindola. Dia 27 de agosto, às 14 horas, no auditório o IG. - “As consultorias imobiliárias para empresas e os edifícios inteligentes: uma análise para a cidade de São Paulo” (mestrado). Candidato: Gerônimo Almeida. Orientadora: professora Adriana Maria Bernardes da Silva. Dia 28 de agosto, às 9h30, na sala A da DGRN do IG. - “Fatores locacionais dos profissionais do conhecimento: o caso da fundação Certi em Florianópolis”(mestrado). Candidato: Alexis Maximiliano Frick. Orientador: professor André Tosi Furtado. Dia 28 de agosto, às 9h30, no IG. - “Projeto geo-escola em Cajamar, SP: o conhecimento socioambiental local como estratégia de valorização do lugar”(mestrado). Candidata: Aline Trombini Ferreira Lima. Orientador: professor Celso Dal Ré Carneiro. Dia 28 de agosto, às 13h30, na sala de pesquisa do DPCT do IG. - “Química da atmosfera de uma região agroindustrial do sudoeste do Brasil” (doutorado). Candidata: Patricia Lopes de Oliveira. Orientador: professor Bernardino Ribeiro de Figueiredo. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala A da DGRN do IG. - “Avanços e limites da regularização fundiária em Campinas: Vila Brandina, o estudo de um lugar” (doutorado). Candidato: Cristiano Silva da Rocha Diógenes. Orientadora: professora Claudete de Castro Silva Vitte. Dia 30 de agosto, às 13h30, no auditório do IG. - “Trajetórias inovativas do setor farmacêutico no Brasil: tendências recentes e desafios futuros” (doutorado). Candidata: Vanderleia Radaelli. Orientador: professor Sérgio Robles Reis de Queiroz. Dia 31 de agosto, às 14 horas, no auditório do IG. - “Gênero e ciência: um estudo sobre as mulheres na física” (mestrado). Candidata: Sandra Maria Carlos Cartaxo. Orientador: professor Lea Maria Leme Strini Velho. Dia 31 de agosto, às 9 horas, no auditório do IG. - “O ensino-aprendizagem da língua portuguesa a partir do estudo do local e das práticas interdisciplinares com as ciências da natureza” (mestrado). Candidata: Maria Aparecida Montagner. Orientadora: professora Fernanda Keila Marinho da Silva. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala B do DGRN do IG. Linguagem - “Sentidos interditos: entre as formas de dizer e as formas de negar” (doutorado). Candidato: Paulo Cesar Tafarello. Orientadora: professora Cristiane Pereira Dias. Dia 27 de agosto, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Dos nomes à história - o processo constitutivo de um estado: Mato Grosso” (doutorado). Candidato: Taisir Mahmudo Karim. Orientador: professor Eduardo Roberto Junqueira Guimarães. Dia 28 de agosto, às 14 horas, na Sala dos Colegiados do IEL. - “Povo umutína: a busca da identidade linguística e cultural” (doutorado). Candidata: Mônica Cidele da Cruz. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 28 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro do IEL. - “A comunidade São Lourenço em Cáceres-MT: aspectos linguísticos e culturais” (doutorado). Candidata: Jocineide Macedo Karim. Orientador: professor Vandersi Sant’Ana Castro. Dia 28 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Instrumentos linguísticos de língua brasileira de sinais: construção e formulação” (doutorado). Candidata: Nilce Maria da Silva. Orientadora: professora Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo. Dia 29 de agosto, às 9h30, na sala coletiva I do IEL. - “Política de informática na educação: o discurso governamental” (doutorado). Candidata: Sandra Luzia Wrobel Straub. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Teorias linguísticas da espacialidade: uma agenda dialetológica na gramatização do português do Brasil” (doutorado). Candidato: Marcelo Rocha Barros Gonçalves. Orientadora: professora Maria Bernadete Marques Abaurre. Dia 29 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro do IEL. - “Sintaxe e interpretação de negativas sentenciais no português brasileiro” (doutorado). Candidata: Lílian Teixeira de Sousa. Orientadora: professora Sonia Maria Lazzarini Cyrino. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na Sala dos Colegiados. - “Radialista: análise acústica da variação entoacional na fala profissional e na fala coloquial” (mestrado). Candidata: Luana Caroline Pereira Campos. Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 30 de agosto, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “O motoboy de São Paulo: uma análise discursiva” (doutorado). Candidata: Julia Frascarelli Lucca. Orientadora: professora Monica Graciela Zoppi Fontana. Dia 30 de agosto de 2012, às 9 horas, no Anfiteatro do IEL. - “Políticas de formação continuada de professores em Mato Grosso: uma análise discursiva do Programa Gestar” (doutorado). Candidata: Joelma Aparecida Bressanin. Orientadora: professora Claudia Regina Castellanos Pfeiffer. Dia 30 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro do IEL. - “A geometrização do dizer no discurso do infográfico” (doutorado). Candidata: Silvia Regina Nunes. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na Sala dos Ccolegiados. - “Periódicos científicos: a produção e a circulação da ciência da linguagem no Brasil” (doutorado). Candidata: Sandra Raquel de Almeida Hayashida. Orientadora: professora Claudia Regina Castellanos Pfeiffer. Dia 31 de agosto de 2012, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Genêro biográfico e historiográfico na Roma antiga: os testemunhos das fontes e a obra de Suetônio e Tácito” (mestrado). Candidata: Danielle Chagas de Lima. Orientador: professor Paulo Sérgio de Vasconcellos. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na Sala dos Colegiados do IEL. - “A injunção ao novo e a repetição do velho: um olhar discursivo ao programa um computador por aluno (prouca)” (doutorado). Candidata: Maristela Cury Sarian. Orientadora: professora Claudia
Regina Castellanos Pfeiffer. Dia 31 de agosto, às 15 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Medicina - “Near miss e mortalidade materna em mulheres com distúrbios hipertensivos graves: estudo multicêntrico no Brasil” (doutorado). Candidata: Elvira Amélia de Oliveira Zanette. Orientadora: professora Mary Angela Parpinelli. Dia 27 de agosto, às 9 horas, no Anfiteatro do Caism. - “Tosse crônica em crianças e adolescentes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana” (mestrado). Candidata: Lilian Thaís Wigman. Orientador: professor Marcos Tadeu Nolasco da Silva. Dia 27 de agosto, às 9 horas, no Auditório José Martins Filho, no CIPED. - “Infecção ativa por Herpesvírus em pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico” (mestrado). Candidato: Murilo de Freitas Peigo. Orientadora: professora Sandra Cecilia Botelho Costa. Dia 27 de agosto, às 10 horas, na sala vermelha da Pós-graduação da FCM. - “Estudo de biodisponibilidade comparativa de uma formulação de teste (Lipless [Ciprofibrato] - comprimido - 100 mg; Biolab Sanus Farmacêutica Ltda.) versus uma formulação de referência (Oroxadin [Ciprofibrato] comprimido - 100 mg; Sanofi-Aventis) em voluntários sadios de ambos os sexos” (doutorado). Candidata: Fabiana Duarte Mendes e Modolo. Orientador: professor Gilberto de Nucci. Dia 27 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da FCM. - “Supressão das emissões otoacústicas em neonatos com risco para perda auditiva” (mestrado). Candidata: Paula Maria Faria Martins. Orientadora: professora Maria Francisca Colella dos Santos. Dia 28 de agosto, às 9h30, no auditório do Ciped. - “Dessaturação em teste incremental de caminhada” (mestrado). Candidato: Daniel Machado de Seixas. Orientadora: professora Ilma Aparecida Paschoal. Dia 28 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro da Pós-graduação da FCM. - “Disfunção cognitiva no lúpus eritematoso sistêmico juvenil: um estudo de prevalência comparando três critérios de definição” (mestrado). Candidata: Bruna Siqueira Bellini. Orientadora: professora Simone Appenzeller. Dia 28 de agosto, às 14 horas, na Sala de Teleconferência da FCM. - “Investigação dos polimorfismos dos genes IL1B, IL1RN, IL4, IL6 e IL10 em pacientes adultos portadores de Púrpura Trombocitopênica Imune” (mestrado). Candidata: Josie Fadul Vilela. Orientador: professor Marcelo Addas Carvalho. Dia 29 de agosto, às 10 horas, no Anfiteatro do Departamento de Enfermagem da FCM. - “Atividade física como forma de lidar com sintomas da síndrome pré-menstrual: perspectiva e experiência de mulheres e médicos ginecologistas” (mestrado). Candidata: Maria Amélia Ralio Higinio. Orientadora: professora Maria José Martins Duarte Osis. Dia 29 de agosto, às 10 horas, no Anfiteatro do CAISM. - “Análise da densidade mineral óssea de pacientes pós-menopausa com terapia supressiva do TSH por carcinoma diferenciado da tireóide” (mestrado). Candidata: Thaís Gomes de Melo. Orientadora: professora Ligía Vera Montalli Assumpção. Dia 29 de agosto, às 14 horas, no Anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da FCM. - “Contribuição ao estudo da infusão de linfócitos do doador (ILD) em pacientes onco-hematológicos após transplante de MO alogênico” (mestrado). Candidata: Mara Cabral Moraes. Orientador: professor José Francisco Comenalli Marques Junior. Dia 29 de agosto, às 15 horas, no Anfiteatro do Hemocentro. - “Perfil clínico, laboratorial e epidemiológico de pacientes chagásicos idosos seguidos em um serviço de referência” (mestrado). Candidata: Mariane Barroso Pereira. Orientador: professor Eros Antonio de Almeida. Dia 30 de agosto, às 9 horas, no anfiteatro da CPG/FCM. - “Condrogênese a partir de células tronco do líquido amniótico humano estimulado com TGF-β3 em micromass” (mestrado). Candidata: Mariana Freschi Bombini. Orientador: professor Ibsen Bellini Coimbra. Dia 30 de agosto, às 9 horas, no Anfiteatro do Departamento de Enfermagem. - “Caracterização farmacológica da guanilato ciclase solúvel em preparações de artéria mesentérica isolada de ratos normotensos e hipertensos” (doutorado). Candidato: JulioAlejandro Rojas Moscoso. Orientador: professor Gilberto de Nucci. Dia 30 de agosto, às 9 horas, no Anfiteatro do Departamento de Farmacologia. - “Caracterização da população de recém-nascidos com diagnóstico de encefalocele” (mestrado). Candidata: Andrea Peterson Zomignani. Orientador: professor Sergio Tadeu Martins Marba. Dia 30 de agosto, às 9h30, no Auditório José Martins Filho, no CIPED. - “Análise comparativa das alterações teciduais entre as técnicas de microflap, microflap com sutura e microflap com uso de cola de fibrina em pregas vocais de coelhos” (doutorado). Candidata: Rebecca Christina Kathleen Maunsell. Orientador: professor Agricio Nubiato Crespo. Dia 31 de agosto, às 9 horas, no Anfiteatro da Disciplina de Otorrinolaringologia do HC. - “Efeitos da atividade física programada sobre a pressão arterial, expressão da via NFKB e HSP 70 em ratos espontaneamente hipertensos” (mestrado). Candidato: Vinicius Rodrigues Silva. Orientador: professor José Antônio Rocha Gontijo. Dia 31 de agosto, às 14 horas, na sala vermelha da CPG/FCM. Química - “Sílicas e carbonos mesoestruturados organofucionalizados e aplicação à liberação controlada de fármacos” (doutorado). Candidato: Ramon Kenned de SousaAlmeida. Orientador: professor Claudio Airoldi. Dia 27 de agosto, às 13 horas, no miniauditório do IQ. - “Preparação de biomicrofibras vegetais condutoras e aplicação como agente antiestático em poliamida-6” (doutorado). Candidata: Joyce Rodrigues de Araujo. Orientador: professor Marco-Aurelio De Paoli. Dia 28 de agosto, às 14 horas, no miniauditório do IQ. - “Avaliação da influência do Selênio e Zinco no metabolismo do Girassol por meio de um estudo metalômico” (doutorado). Candidato: Marcelo Anselmo Oseas da Silva. Orientador: professor Marco Aurélio Zezzi Arruda. Dia 29 de agosto, às 14 horas, no miniauditório do IQ. - “Materiais híbridos mesoestruturados funcionalizados via cocondensação aplicados na sorção” (mestrado). Candidato: Luelc Souza da Costa. Orientador: professor Claudio Airoldi. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala E-312. - “Polímeros de impressão molecular para extração seletiva de drogas em matrizes biológicas e determinação por LC-MS/MS e MS/MS” (doutorado). Candidata: Raquel Maria Trindade Fernandes. Orientador: professor Marcos Nogueira Eberlin. Dia 30 de agosto, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Inscrições para o Vestibular vão até o dia 14 de setembro Uma hora antes de a cerimônia de lançamento do Vestibular Nacional 2013 da Unicamp acontecer, no último dia 20, 380 pessoas já haviam se inscrito. A primeira confirmação partiu de um candidato ao curso de medicina. Quem deseja concorrer a uma das 3.444 vagas distribuídas em 68 cursos de graduação na Universidade e dois na Faculdade Pública de Medicina e Enfermagem (Farmaerp) tem até 14 de setembro para efetuar a inscrição na página da Comissão Permanente de Vestibular (Comvest). A taxa é de R$ 135, e o kit do vestibulando é gratuito. A primeira fase acontece em 11 de novembro de 2012 e a segunda, nos dias 13, 14 e 15 de janeiro. Segunda fase Além de dar atenção ao texto do manual do Candidato, é bom ficar atento a mudanças e novidades realizadas com vista na
melhoria do processo seletivo, de acordo com o diretor da Comvest, Maurício Urban Kleinke. A primeira delas está na redução do número de convocados para a segunda fase. Em vez de convocar oito vezes o número de vagas oferecidas, como foi feito em 2012, este ano o vestibular convocará apenas seis vezes. Serão considerados os candidatos que optaram pelo curso em primeira opção. De acordo com o reitor Fernando Costa, o Vestibular é um dos eventos mais importantes da Unicamp. A grande competitividade imposta pela demanda de inscrições – ano passado foram 61.500 candidatos para quase 3.500 vagas – faz com que o exame seja repensado a cada edição a fim de escolher os melhores alunos. Segundo o reitor, a ideia é tornar a escolha mais justa e objetiva possível.
Segundo o pró-reitor de graduação da Universidade, Marcelo Knobel, a Unicamp inova em busca de um vestibular que seja referência para outros exames. De acordo com Kleinke, a universidade mantém compromisso com os egressos da rede pública, combinando inclusão social com qualidade acadêmica. Redação O número de redações solicitadas foi reduzido de três para apenas dois textos de gêneros diversos e de execução obrigatória. A decisão atende a um pedido feito pelos candidatos de edições anteriores do processo e deve aprimorar a qualidade das redações por oferecer mais tempo para a produção dos candidatos, de acordo com Kleinke. Novos cursos A novidade envolve um dos campi de Limeira, a Faculdade de Tecnologia (FT),
que abrigará três novos cursos de graduação: engenharia de telecomunicações (50 vagas, em período integral), sistemas de informação (45 vagas, integral) e engenharia ambiental (60 vagas, período noturno). Outro curso criado para 2013 é o de engenharia física, a ser oferecido dentro do tradicional Cursão da Unicamp, por onde passam também os alunos de matemática, matemática aplicada, matemática computacional e física antes de fazerem sua opção por uma dessas áreas. Este curso será oferecido no campus de Barão Geraldo. Enem As notas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) para classificação para a segunda fase do vestibular serão computadas apenas se o Ministério da Educação e Cultura (MEC) divulgá-las até 30 de novembro de 2012. Caso contrário, não serão
consideradas para nenhum candidato. As notas do exame para compor a nota da primeira fase no cálculo da nota final só serão consideradas se forem divulgadas até 15 de janeiro de 2013. Música O candidato a este curso não precisa mais gravar uma peça em vídeo. A decisão foi tomada pelo fato de a Comvest reconhecer que os candidatos não teriam tempo hábil para preparação e gravação de mídia para seleção. As provas de habilidades específicas são mantidas e serão realizadas após a segunda fase do vestibular. Mais informações sobre o Vestibular 2013 na página da Comvest. Curitiba e Rio de Janeiro Com base em experiências anteriores, as provas deixam de ser aplicadas nessas cidades. (Maria Alice da Cruz)
Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
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A geógrafa Marina Moreto: “Ser educador de menino de rua pressupõe haver uma disposição emocional individual”
Tecendo a colcha no chão da praça Geógrafa investiga, em dissertação, relação entre educadores e meninos de rua MARIA ALICE CRUZ halice@unicamp.br
m desejo muito grande de mudar alguma coisa num Brasil tão desigual” leva profissionais de diferentes áreas a encontrarem sua missão como educadores sociais de rua, na opinião da geógrafa Marina Moreto. Autora da dissertação “A educação e a arte nos entrelugares da rua – uma história de educadores e meninos de rua”, orientada pelo professor da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp Rogério Adolfo de Moura, Marina lembra que a situação de rua é muito presente nas metrópoles brasileiras. Educadora social de rua por vocação, ela explica que o que muito se vê é somente uma tentativa de retirada dos meninos da rua, sem um trabalho que seja socioeducativo. “Acredito que essa motivação por fazer algo diferente por uma população tão à margem é algo instigante nas pessoas”. “Arrisco dizer ainda que nem somente os chãos das praças podem ensinar esse trabalho. Ser educador de menino de rua, assim como ser professor, psicólogo, médico, ou seja, trabalhar com gente que sofre, pressupõe haver uma disposição emocional individual, uma vontade própria, um impulso, um desejo que não tem a ver com a formação acadêmica, mas com a empatia com o outro, por acreditar que a relação com o outro pode ser vetor de uma mudança individual e social”, faz questão de reler com ênfase a educadora e ex-coordenadora da Casa Guadalupana. A dissertação é redigida assim mesmo, em primeira pessoa, alinhavando sua experiência como educadora social à reflexão das metodologias utilizadas pelo educador de rua, bem como a relação entre este profissional e os meninos. Marina foi atraída pela proposta de entender como as artes são usadas com meninos em situação de rua. “Sempre gostei de arte-educação. Descobri o mundo no Laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação (Laborarte) da Faculdade de Educação, ao mesmo tempo em que me especializei em psicanálise e arteterapia para fundamentação teórica de minha pesquisa”, explica Marina. A dissertação, de acordo com ela, mistura educação, arte, situação de rua e políticas sociais. A ONG Mano a Mano, grupo de extensão da Unicamp, e a Casa Guadalupana, setor da ONG Instituição Padre Haroldo, que era cofinanciada pela Prefeitura de Campinas, são lembradas para destacar algumas metodologias desenvolvidas para o trabalho com os jovens. Entre dez projetos desenvolvidos com os meninos, Marina destaca o Zine Meninos Românticos, revista mensal feita pelos próprios meninos, com poesia, texto, fotos, montada por um educador em parceria com o grupo. Segundo Marina, esta revista tinha tiragem de mil cópias por mês, distribuídas entre meninos, serviços públicos e alguns pontos de cultura da cidade. Além do Zine, os meninos participavam de proje-
tos como “Maracatu”, no qual desenvolviam atividades desde a construção de instrumentos até aulas para executá-los. Neste projeto, eles formaram um bloco de carnaval puxado por meninos de rua. Marina também faz questão de citar o projeto de alfabetização, desenvolvido não simplesmente para letramento, mas também para dar segurança para que eles pudessem ir para a escola. Dentro dessas atividades, os meninos eram levados a passeios mensais em lugares como Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), acampamentos do Movimento Sem-Terra (MST). Na dissertação, as descrições das atividades são fundamentadas pela pedagogia social de Paulo Freire. Na abordagem, não poderia faltar a colcha, uma metodologia desenvolvida pela Mano a Mano e adotada pela Casa Guadalupana, em que os educadores iam para as ruas com uma caixa, uma colcha de cama de casal e esperavam os meninos se aproximarem para brincar sobre aquele pedaço de pano, criando um universo, regado a conversas, brincadeiras, choros, contação e relato de histórias e até encaminhamentos, como por exemplo, para atendimento médico. “Considero a colcha uma intervenção artística urbana necessária, dando visibilidade a um indivíduo criativo, cheio de energia, que aprecia o universo estético e cultural para além das veredas das drogas, do crime e do sofrimento”, reflete. Marina trata a colcha como uma intervenção urbana, onde o que era construído ficava pregado em alguma parede ou pendurado como um móbile, ou em uma árvore de praça. “Quando iam para a rua e não encontravam os meninos, deixavam recado para eles. Os motoristas que por ali passavam observavam as cenas. Eles mexiam com aquele espaço”, ressalta. A aproximação entre educadores e meninos de rua era permeada por essas atividades artísticas e lúdicas, dando suporte emocional e educativo para os participantes almejarem outras coisas em sua vida. “Quem mais quer tirá-los da rua servindo como suporte para eles se enxergarem como indivíduos, sujeitos autônomos para sair do estigma de que meninos em situação de rua são iguais a droga, furtos, malandro, trombadinha?”, indaga Marina. Ela atenta para o fato de que o intuito do trabalho não era transformar meninos e educadores em artistas profissionais, mas usar o que a arte desperta de emoção, sentimento, criatividade para sonhar com outra condição. Marina lembra que em Campinas os educadores tinham o MIS como parceiro, garantindo espaço para expor os trabalhos produzidos pelos adolescentes, dando visibilidade aos trabalhos.
VÍNCULOS
Marina revela que todos os meninos participantes do projeto tinham família, mas o vínculo familiar era fragilizado por situações de violência, condições precárias, falta de dinheiro, de moradia fixa, grande número de filhos. “Em nenhum momento, tomávamos a família como culpada pelo fato de o menino estar na rua, mas aconteciam várias violações de direito que
levavam os meninos às ruas. Então, tentávamos restabelecer o vínculo”, afirma Marina. O trabalho como educador social torna-se ainda mais gratificante quando alguns adolescentes conseguem mudar sua história de vida a partir das atividades oferecidas, como é o caso de um jovem poeta que, fascinado pela escrita, compôs um livreto com mais de 60 poemas e continuou a escrever poesia. Tempo depois, um de seus poemas foi encontrado em uma revista eletrônica. De acordo com Marina, os educadores assumem um grande compromisso com esse trabalho, sem medir o grande esforço exigido para isso, além da necessidade de muito estudo. “Uma coisa muito interessante que tirei como resultado das entrevistas dos educadores foi a importância das diversidades das formações. A maioria tinha nível superior, entre eles havia filósofo, designer, cientista social, física, educadora física, artista plástico, pedagogo. E cada um traz contribuição no trabalho com eles, todos puxando para o viés artístico”, revela a pesquisadora. Muitos que não tinham essa facilidade encontravam sua importância na conversa com os meninos, em dupla com outro educador, para trabalhar outras questões. A pesquisa de mestrado torna mais clara a melhor forma de utilizar a relação educação-arte com meninos de rua na prática, a partir da entrevista com dez educadores. Ela reforça que muito já se publicou em termos de abordagem teórica da arte, da educação, da importância da pedagogia. “Mas eu quis mostrar como isso era feito”, diz Marina. Em Campinas, segundo a pesquisadora, existe uma Associação de Educadores Sociais, e, como a profissão não é regulamentada, a associação é um espaço importante para lutarem por seus direitos, porém a situação é delicada, segundo Marina, já que muitos empregadores atribuem atividades múltiplas aos educadores sociais. Cada instituição, segundo a pesquisadora, decide o que vai fazer. Poder mostrar como essas relações acontecem a partir de experiência prática é uma questão de honra para quem tem o desejo muito grande de mudar alguma coisa num Brasil tão desigual. “Considero ainda que a colcha e a arte não salvarão nenhum menino de rua de sua situação social e econômica, mas essas ferramentas de trabalho lançam reflexão suficiente para que pensem sobre sua vida e possam fazer escolhas”, conclui.
Publicação Dissertação: “A educação e a arte nos entrelugares da rua – uma história de educadores e meninos de rua” Autora: Marina Moreto Orientador: Rogério Adolfo de Moura Unidade: Faculdade de Educação (FE)
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Campinas, 27 de agosto a 2 de setembro de 2012
Música
com ‘aroma’ Foto: André Novaes de Rezende
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
lex Steinweiss tinha 89 anos quando recebeu a visita de um pesquisador que veio de longe. André havia combinado a entrevista por carta simples, enviada do Brasil. Dia e horário foram acertados por telefone e o local teria que ser o Assisted Living, na cidade de Sarasota, Flórida, onde Steinweiss acompanhava a mulher no tratamento para a doença de Alzheimer. Quando abriu a porta, estavam frente a frente, vestindo camisas da mesma cor. Aquele rapaz mais alto, de fala pausada, parecia ávido pelas histórias do artista. Fazia mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e tentava controlar a ansiedade pelo feito: entrevistar o designer gráfico considerado o inventor das capas de disco. A conversa começou na casa de apoio, se estendeu para o ateliê, na residência de Steinweiss, que ficava em um bairro próximo, e terminou em jantar em um restaurante chinês. Em 2011, cinco anos depois do encontro, Steinweiss morreu. André Novaes de Rezende defendeu o mestrado logo na volta para Brasil. Ele investigava a representação da figura do sambista malandro nas capas de discos e a entrevista se transformou em um anexo, por pura falta de tempo. Era muito desperdício. Um integrante da banca disse o que parecia óbvio: o anexo deveria ser o ponto de partida para uma tese de doutorado. E assim foi feito. “No Caminho das Pedras Brancas: Alex Steinweiss e o processo de fundamentação de um paradigma para o projeto de capas de discos” procura não só descrever a obra do artista e resgatar a importância de Steinweiss para história da indústria fonográfica, mas, para além disso, propor um resgate dos diversos fatores que contribuíram para que Steinweiss se tornasse um pioneiro no design do segmento. Para fazer a coleta de dados, André conseguiu uma bolsa Capes e pesquisou durante um período na Universidade de Yale, em Connecticut, sob supervisão de Sheila Levrant, de Bretteville. Na Unicamp, foi orientado pelo docente Edson do Prado Pfützenreuter, do Instituto de Artes (IA). Já na época da entrevista, Steinweiss se surpreendeu com a visita do brasileiro. O designer era pouco lembrado em seu país e muita gente sequer sabia que ele ainda estava vivo – com exceção do pessoal da editora especializada Taschen, que concluía a edição de um dos livros a respeito da vida dele. E André, que percorre o caminho de Stein (pedra em alemão) Weiss (branca) ao longo do doutorado. A entrevista foi carne e espírito da tese. “Steinweiss foi um divisor de águas em uma área que acaba unindo música e design gráfico”, afirma o pesquisador. Não é difícil entender o motivo da consideração. Até 1938 havia um padrão gráfico para as capas de discos de 78 rotações por minuto. Sobre um fundo pardo, as informações eram impressas na capa por tipografia, da mesma forma como ocorria em publicações de jornais e revistas. Mesmo nas lojas, a forma de armazenar os discos era diferente do que ainda hoje costumamos ver. Os discos eram colocados em estantes e exibiam apenas as lombadas, como se fossem livros. O consumidor não comprava nada com os olhos, mas fazia suas escolhas apenas conforme o gosto musical. Entre a Grande Depressão e o início da Segunda Guerra Mundial, os donos da companhia CBS decidiram reabrir a Columbia Records. Steinweiss era a pessoa certa no lugar certo, reafirma André. Era um jovem que passava a integrar uma das primeiras turmas dos grandes designers norte-americanos, tais como Paul Rand e Lester Beall. O grupo respirava a arte da vanguarda europeia por meio dos artistas que migraram para os Estados Unidos. Steinweiss foi contratado como diretor de arte da Columbia. Ele compara as antigas capas da gravadora com lápides de uma sepultura. Este seria o motivo pelo qual a venda de discos não se desenvolvia como esperado, comenta André. Logo Steinweiss propõe a renovação do projeto gráfico. “Para não ser tão categórico, a RCA Victor e a Deca fizeram algumas tentativas de capas ilustradas, mas sem sucesso”, explica. A Steinweiss foram ofere-
Alex Steinweiss, aos 89 anos, durante entrevista em sua casa na cidade de Sarasota, na Flórida: pioneirismo Fotos: Reprodução
Capa do disco Blues by Basie, de Count Basie, de 1944: brincando com a palavra blues e elementos que exigem um segundo momento de atenção
Smash Song Hits by Rodgers & Hart, a primeira capa projetada por Steinweiss para a Columbia Records, em 1940: novas referências Foto: Antoninho Perri
para gerar imagens que fossem imediatamente identificadas pelo público ou que instigassem o consumidor a entrar em contato com esse material”, acrescenta. George Gershwin, nascido no bairro do Brooklin, é representado na capa pela imagem do skyline novaiorquino e o piano em primeiro plano. Uma obra de Prokofiev, que é um compositor moderno, faz alusão à desconstrução de pintores cubistas. La Traviata, de Verdi, relaciona a personagem Violetta com “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas. As composições visuais dependem de estratégias adotadas em diferentes períodos que se complementam muitas vezes, como salienta o pesquisador. “As fases não cessam, mas se sobrepõem. Tentei fazer um apanhado por tipo de solução empregada e em qual período ele se dedicava a esse tipo de solução”. Em um primeiro momento, as composições exploram elementos centrais, o fundo é predominantemente neutro. Depois, Steinweiss começa a criar espaços constituídos por perspectivas, ocupa todo o plano, transforma o fundo em mais um cenário. No terceiro momento são incorporados elementos externos (o chapéu de Napoleão, por exemplo) e metáforas. André destaca uma capa que é a do disco Blues by Basie, de Count Basie. “O artista brinca com a palavra blues, pintando a mão que aparece na capa de azul e fazendo com que ela ‘caminhe’ sobre uma calçada no formato de teclas de piano”. Outra estratégia observada, ainda neste mesmo disco, é a utilização de elementos em escala reduzida que exigem um segundo momento de atenção. “Há uma placa onde está escrita a palavra Lenox, que é a rua da casa noturna onde ocorriam as batalhas das big bands, ou seja, ele cria dois graus de impacto sendo que o segundo nível é um passo além no sentido de contextualizar historicamente a composição da capa”. Durante a entrevista a André, o próprio artista faz o seguinte comentário referindo-se a uma capa de uma sinfonia de Sibelius: “Este é Sibelius. Sibelius veio de um país frio, a Finlândia. E aqui está uma sugestão da bandeira da Finlândia. E, claro, água, gelo e árvores. É isso o que você tem que fazer. Se você não pode mostrar a música, você proporciona o ‘aroma’ da música”. Na contramão da maioria dos artistas gráficos de seu tempo, a obra de Steinweiss não investe no abstrato. “Os outros designers que tiveram uma formação de vanguarda exploram mais a divisão racional do espaço, as famílias tipográficas que conversam com as formas geométricas e orgânicas. Steinweiss mantém o vínculo com a mensagem embutida, que seria o canal pra se comunicar com o consumidor”. Apenas no final do período de gala na Columbia, ele assume para seu trabalho elementos abstratos. Quando a tecnologia evoluiu e os discos de 78 rotações se transformaram em long-plays, o designer também foi o responsável tanto pela criação da nova “embalagem” dos discos, que substituiu os álbuns, como pelo logotipo que perdurou com as letras “LP”.
CAPA CARTAZ
Nas conclusões, o trabalho de André lança mão das teorias de Abraham Moles, para quem “o cartaz, como a poesia, sugere mais do que diz”. André identifica nas capas de Steinweiss os mesmos aspectos que garantem a eficiência comunicativa de um bom cartaz. E mais uma vez aqui, a formação de Steiweiss é evidenciada, uma vez que o artista foi aprendiz daquele que foi, segundo o autor da pesquisa, um dos maiores cartazistas da Europa, o austríaco Joseph Binder. A partir da segunda metade do século 20, Steinweiss foi deixando a indústria fonográfica. Com a emergência do rock, as impressões em offset também foram padronizadas porque as gravadoras precisavam estampar na capa o rosto dos artistas em composições fotográficas. “Um pouco por desilusão, um pouco por falta de tato com a nova realidade, o Alex sai do mercado na década de 60”, afirma André. A tese contribui com o legado do artista e responde à principal questão proposta pelo autor: por que o trabalho de Steinweiss foi paradigmático?
André Novaes Rezende, autor da tese: “Steinweiss foi um divisor de águas”
cidas cinco tentativas para “emplacar” suas ideias. “O processo de impressão tipográfica também possibilita o uso de imagens, mas prioriza o uso de cores uniformes. São confeccionados clichês ou placas gravadas em relevo, correspondentes às diferentes cores pretendidas. Durante a impressão, cada clichê imprime uma cor e a sobreposição de cores resulta na composição final”, esclarece o autor da tese. Para André, este foi o “pulo do gato” de Steinweiss: tirar proveito de uma tecnologia que já existia. A capa da sinfonia Eroica, de Beethoven, de 1943, foi a que o consagrou definitivamente. Trazia um chapéu que lembrava o de Napoleão
e um bilhete de oferecimento da obra “a um grande homem”. As vendas desse disco dispararam, chegando a 900% a mais que a edição com a capa anterior. Com isso, mais discos foram sendo tirados da prateleira e levados para a vitrine.
CONHECIMENTO HISTÓRICO
Steinweiss só pôde trazer para a capa essas referências por causa de seu amor pela música, que era anterior a qualquer ambição profissional, sugere André. Ele conhecia as histórias, os autores, as peças. “Tinha um acúmulo de conhecimento histórico que possibilitou que ele extraísse elementos simbólicos e arquetípicos
Publicação Tese: “No Caminho das Pedras Brancas: Alex Steinweiss e o processo de fundamentação de um paradigma para o projeto de capas de discos”. Autor: André Novaes de Rezende Orientação: Edson do Prado Pfützenreuter Unidade: Instituto de Artes (IA) Financiamento: Capes