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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 - ANO XXVI - Nº 542 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti
Um novo arranjo para enfrentar o colapso na
saúde 3 A falta de regulação entre o público e o privado, além de outros problemas enfrentados pelo sistema de saúde no país, podem agravar as mazelas no setor, caso não sejam devidamente enfrentados. A constatação está na tese do economista João Fernando Moura Viana, defendida no Instituto de Economia (IE), sob orientação do professor Pedro Luiz Barros Silva. O autor do estudo defende a elaboração de um novo arranjo institucional que envolva o Estado, as famílias e as empresas.
Foto: Antoninho Perri
Idosos aguardam em fila de atendimento: envelhecimento da população é um dos problemas do sistema
Bibliotecas de clones Placa conte ndo fragm entos de DNA da cana-de-aç úcar
Equipame n armazena to 380 mil c bacterian lones o DNA de d s de de cana-d uas variedades e-açúcar.
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Descoberta na spintrôn s ica
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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012
Trabalho de grupo do IFGW é publicado na ‘Physical Review Letters’ LUIS SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
revista Physical Review Letters publicou um trabalho liderado por um grupo de pesquisadores do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, revelando de maneira inédita uma nova forma de excitação coletiva em materiais sólidos, que os autores denominaram spin-elétron-fônon. A importância da descoberta é conceitual, podendo contribuir para o melhor entendimento dos fenômenos envolvendo os chamados meio-metais, materiais que despertam grande interesse na área da spintrônica, considerada uma das vertentes da eletrônica do futuro. O professor Eduardo Granado, do Departamento de Eletrônica Quântica do IFGW, informa que os resultados foram obtidos ao longo de três dissertações de mestrado defendidas por Alessandro Lisboa, Ulisses Ferreira Kaneko e Fábio Machado Ardito, bem como no trabalho de pós-doutorado de Alí Francisco GarcíaFlores. As pesquisas foram realizadas no Laboratório de Espectroscopia Raman do Grupo de Propriedades Ópticas e Magnéticas de Sólidos. “O foco do nosso grupo está em descobrir e investigar novos materiais que apresentem fenômenos físicos fundamentalmente novos ou ainda não completamente compreendidos, quase sempre envolvendo conceitos de mecânica quântica”, explica Granado. “O Laboratório Raman nos permite observar excitações vibracionais, eletrônicas e magnéticas destes materiais. Neste trabalho em particular, estudamos compostos da família de perovskitas duplas, que são óxidos que possuem uma estrutura atômica específica formada por ‘gaiolas’ de oxigênio que rodeiam átomos de metais como ferro (Fe), cromo (Cr), e rênio (Re).” Segundo o pesquisador, em sólidos atomicamente ordenados como as perovskitas duplas, os átomos possuem uma dinâmica coletiva, participando de vibrações que viajam rapidamente na forma de uma onda, levando à propagação do som e contribuindo para a propagação de calor, entre outros fenômenos. “Trata-se dos fônons, que é um tipo de excitação coletiva já bem conhecida. Existem também outros tipos de excitações coletivas, como por exemplo, aquelas envolvendo flutuações dos momentos magnéticos diminutos que átomos como de ferro, cromo e rênio possuem, e que também se propagam como ondas: são as ondas de spin, também conhecidas como mágnons.” O professor do IFGW explica que a investigação que resultou neste artigo vem de uma descoberta acidental, em 2008, durante o trabalho de dissertação
Forjando a
eletrônica do futuro Foto: Antoninho Perri
quentes. “Para uma investigação mais completa do fenômeno, submetemos o material a condições extremas, aplicando campos magnéticos muito fortes a temperaturas baixíssimas, a fim de testar todas as hipóteses que pudessem ser elaboradas para explicar o fenômeno.” Depois de estudo tão detalhado, a conclusão foi de que havia uma única maneira de explicar o fenômeno: propor a existência de uma nova forma de excitação coletiva. “É uma mistura de três componentes: uma vibracional, uma eletrônica e uma magnética. As três juntas formam uma excitação que oscila em frequência bem definida, sempre que o material é resfriado a temperaturas suficientes para que os momentos magnéticos do sólido se ordenem. Uma vez ordenados, é possível promover a propagação do momento magnético em cada átomo juntamente com as vibrações e as excitações eletrônicas.”
OS COMPOSTOS
O professor Eduardo Granado, coordenador das pesquisas, no laboratório do Departamento de Eletrônica Quântica: contribuindo para o melhor entendimento dos fenômenos envolvendo os meio-metais
de Alessandro Lisboa. “Estudávamos as propriedades vibracionais de perovskitas duplas em função da temperatura. Foi quando percebemos um modo de vibração cuja frequência mudava abruptamente – e bastante – conforme se variava a temperatura. Intrigou-nos o fato da variação neste modo de vibração acontecer na mesma temperatura em que os momentos magnéticos do Fe (ou Cr) e Re se ordenavam, ao passo que a estrutura atômica do material apresentava poucas mudanças. Também nos chamou a atenção que o efeito ocor-
reu apenas para um modo em particular, envolvendo a vibração em fase da gaiola de oxigênios contra os átomos de Fe (ou Cr) e Re, lembrando um movimento de respiração.” A incógnita, de acordo com Eduardo Granado, estava no fato de que os mecanismos conhecidos para explicar estas variações de frequência associadas ao ordenamento magnético não eram suficientes para justificar aquele efeito observado. Foi com o objetivo de buscar as causas que o docente orientou as teses subse-
Os pesquisadores do IFGW estudaram dois compostos de perovskitas duplas: um de bário, ferro, rênio e oxigênio (Ba2FeReO6) e outro de estrôncio, cromo, rênio e oxigênio (Sr2CrReO6). “Eles são meio-metais, assim chamados por possuírem elétrons de condução que são polarizados magneticamente, ou seja, que têm o momento magnético apenas em uma direção. É como se o material tivesse personalidade dupla: ele é um metal visto por elétrons magnetizados em uma direção, e um isolante para os elétrons magnetizados na direção oposta. Na pesquisa, descobrimos que um movimento de respiração das gaiolas de oxigênio é capaz de modular alternadamente a densidade de elétrons dentro dos átomos de ferro (ou cromo) e rênio, modulando também o momento magnético dentro destes átomos. É uma nova forma de excitação coletiva envolvendo três graus de liberdade combinados (vibracional, eletrônico e magnético) que pode ocorrer em vários outros materiais com características similares.” Eduardo Granado afirma que os meio-metais são bastante estudados dentro da área da spintrônica, que se acredita ser a próxima geração da eletrônica. “É uma tecnologia que mescla os condutores elétricos com outros materiais que tenham propriedades também magnéticas. De tal maneira que a informação é controlada e transmitida não só pelas correntes elétricas, mas também pelas direções dos momentos magnéticos dos elétrons que estão conduzindo. Os dois materiais que estudamos estão dentro de uma classe de compostos de grande interesse para a spintrônica, chamada de injetores de spin.” As perovskitas duplas utilizadas no laboratório do IFGW eram pós-prensadas na forma de cerâmicas, mas Granado observa que, viabilizada a aplicação tecnológica destes materiais, eles podem também ser produzidos em outras formas, como de um filme fino, dependendo da aplicação desejada.
As aplicações da spintrônica Spintrônica é um neologismo para “eletrônica baseada em spin”. Também conhecida como magneto-eletrônica, é uma tecnologia emergente que explora a propensão quântica dos elétrons de girar (spin em inglês), bem como fazer uso do estado de suas cargas. O spin, por si só, é manifestado como um estado de energia magnético fracamente detectável, carac-
terizado como “spin para cima” e “spin para baixo”. Graças à spintrônica foi possível, por exemplo, reduzir o tamanho dos discos rígidos e ao mesmo tempo aumentar a capacidade de armazenamento. A tecnologia também está presente nas novas memórias de computador chamadas de RAM (Random Access Memory, ou memó-
ria de acesso aleatório). Pesquisadores acreditam que, além do armazenamento de dados, a spintrônica pode ser aplicada aos semicondutores e na criação de processadores para computadores quânticos. Existem diversas outras aplicações, mas o ponto forte das pesquisas em spintrônica é a utilização do “entrelaçamento” quântico que existe entre os elé-
trons, sendo possível, assim, transmitir uma informação apenas com o gasto de energia de produzir o primeiro pulso: “girar” um elétron, mudar a orientação do seu spin. A partir deste pulso, toda a cadeia ligada a este elétron vai responder da mesma forma, mudando a orientação do seu spin e não gastando energia a mais para isso.
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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012
Sem arranjo,
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Tese propõe alternativas para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro
não há saída MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
Foto: Antoninho Perri
o Brasil, os planos de saúde não podem mais ser caracterizados como uma atividade supletiva. Hoje, eles competem diretamente com o Sistema Único de Saúde (SUS), visto que ambos têm a mesma base de prestação de serviços. Esta é uma das constatações da tese de doutorado do economista João Fernando Moura Viana, defendida recentemente no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Pedro Luiz Barros Silva. De acordo com o autor do trabalho, a falta de regulação entre o público e o privado e alguns outros problemas enfrentados pelo sistema de saúde no país, como o aumento dos gastos com a assistência devido ao envelhecimento progressivo da população, podem aprofundar as iniquidades presentes no setor, caso não sejam devidamente enfrentados. Em sua pesquisa, intitulada “Saúde supletiva: Estado, famílias e empresas em novo arranjo institucional”, Viana tratou não apenas de diagnosticar as dificuldades enfrentadas pelo sistema de saúde brasileiro, mas cuidou também de propor alternativas para superá-las.
O economista explica que o chamado setor de saúde suplementar opera no Brasil desde meados da década de 1960. Somente no final da década de 1990, porém, é que começou a tramitar no Congresso Nacional projeto de lei para regulamentar a atividade. A matéria chegou a ser aprovada pela Câmara dos Deputados, mas foi posteriormente barrada no Senado. Na oportunidade, o ministro da Saúde era José Serra, que entabulou uma negociação com os senadores com o propósito de ver o projeto finalmente aprovado. “Em razão dessas conversações, o texto sofreu mudanças em alguns pontos. Um aspecto fundamental do acordo foi o compromisso assumido por Serra de editar uma medida provisória caso a matéria passasse pelo crivo dos parlamentares. Ao cabo de tudo, a matéria foi aprovada e o ministro Serra cumpriu a promessa. Ocorre que a medida provisória determinou que as operadoras passassem a oferecer o chamado plano de referência, ou seja, um plano completo, que cobriria todas as doenças. Assim, o que deveria ser suplementar passou a oferecer cobertura total, da mesma forma como o SUS já fazia. Estabeleceuse, desse modo, um sistema duplicado, no qual as par-
Espera para o atendimento na rede pública: envelhecimento da população é um dos desafios do sistema
tes passaram a competir entre si”, sustenta Viana. O economista detalha melhor esse aspecto. Segundo ele, com o advento da medida provisória os planos de saúde não se tornaram nem suplementares e nem complementares. “O termo suplementar indica a agregação de algo. Ou seja, em tese o consumidor poderia optar por um plano que oferecesse um quarto particular, para ficar em um exemplo. Já o termo complementar sugere a oferta de serviços adicionais, como cobertura de transplantes. Como os dois sistemas passaram a oferecer tudo, eles tornaram-se competidores, uma vez que atuam sobre uma mesma base de prestação de serviços”, reforça o autor da tese. As implicações dessa duplicidade, conforme Viana, são diversas. Uma das mais importantes, e que impacta diretamente os usuários, é o fato de os planos de saúde terem passado a competir com o SUS em situação de vantagem, visto que remuneram melhor os diversos procedimentos médicos e hospitalares. “Como a base é a mesma, insisto, isso cria um sério problema. Essa situação indica claramente que as relações entre o setor público e o privado ainda carecem de regulamentação”, considera o economista. Em sua pesquisa, ele foi ainda mais fundo nos problemas enfrentados pelo sistema de saúde brasileiro. Na visão de Viana, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde responsável por regulamentar essas atividades, dispõe de uma agenda, mas esta não tem contemplado aspectos que ele entende como cruciais para o enfrentamento dos atuais e futuros entraves do sistema de saúde do país. Um deles, destaca o economista, é o acelerado processo de envelhecimento da população. De acordo com projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10% da população brasileira tem atualmente mais de 60 anos. Em 2030, esse contingente subirá para 20% e em 2050, para 30%. “É justamente na faixa etária mais elevada que as pessoas, principalmente as pertencentes à classe média, passam a ganhar menos, em razão da aposentadoria, e a pagar mais pelos planos de saúde”, assinala o autor da tese. Ademais, prossegue Viana, dois outros pontos fundamentais a serem considerados são a incorporação tecnológica e os hábitos de consumo na área da saúde. O pesquisador esclarece que a primeira questão está ligada aos crescentes gastos feitos pelo sistema para a adoção de novas tecnologias. “Em outros setores, a incorporação tecnológica tende a reduzir custos. Normalmente, os computadores e outros equipamentos vão se tornando mais baratos com o tempo. No caso da saúde ocorre o contrário. Normalmente, os equipamentos novos custam bem mais do que os das gerações imediatamente anteriores”, diz. Quanto aos hábitos de consumo, Viana diz que o usuário, num momento de doença, obviamente tende a querer usar todos os recursos disponíveis para alcançar a cura. “Os dois fatores contribuem para a ampliação dos gastos do setor. Ocorre que, a persistir essa tendência, vai chegar o momento em que será impossível pagar por tudo isso, o que colocará o sistema de saúde sob o risco de um colapso”, adverte. As alternativas mais frequentes para enfrentar quadros como este têm sido, conforme o economista, o aumento do preço dos planos ou a geração de filas. “Aqui, as filas não devem ser entendidas apenas como uma ala de pessoas em pé à espera de atendimento, mas também como a demora cada vez maior para a
marcação de consultas, exames e cirurgias”.
SAÍDAS
Como não se limitou somente a diagnosticar as mazelas do sistema de saúde brasileiro, o autor da tese faz algumas proposições no seu trabalho, como forma de estimular o diálogo com vistas à formulação de políticas públicas mais efetivas para o setor. Assim, ele aponta opções às medidas convencionalmente adotadas para fazer frente aos problemas que se apresentam. Seguindo o que sugere o título do seu trabalho, Viana defende a elaboração de um novo arranjo institucional que envolva o Estado, as famílias e as empresas. É a partir desse modelo, acredita o economista, que será possível ao país adotar ações para vencer os desafios mais urgentes. Viana adianta que não acredita que o imbróglio possa ser resolvido pela via da ampliação do financiamento. “Nesse aspecto, vejo pouca margem de manobra. Penso que a alternativa mais viável é a redução de custos”, sinaliza. Segundo o economista, é preciso atuar no sentido de tornar o processo de incorporação tecnológica mais rigoroso. Atualmente, diz, os gastos nessa área são feitos sem tanto controle. “Muitas vezes, são usados recursos desnecessários. Há casos em que são utilizados stents [tubos de metal que têm a função de aumentar o calibre dos vasos sanguíneos] que custam R$ 20 mil, quando existem similares no mercado que custam quatro ou cinco vezes menos”, exemplifica. Uma sugestão dada por O economista João Fernando Viana que pode Moura Viana, autor da tese: soar polêmica “Os planos de saúde, que deveriam aos usuários de ser complementares, hoje plano de saúde competem com o SUS, visto que é a instituição do ambos têm a mesma base de gasto compartiprestação de serviços” lhado. O modelo prevê que os consumidores paguem um valor além da mensalidade para ter acesso a determinados procedimentos médicos e/ou hospitalares. “Isso faria com que as famílias controlassem melhor o uso dos planos”, cogita o autor da tese. Para não sobrecarregar demais os usuários, o economista recomenda a ampliação das deduções tributárias, notadamente do Imposto de Renda, tanto de pessoas acima de 60 anos quanto de empresas que têm elevado número de empregados e que arcam parcial ou integralmente com os custos dos planos de saúde destes. A ideia, nesse caso, é que esses segmentos específicos possam deduzir do IR um índice superior àquele que normalmente teriam direito. “No caso dos idosos, esse seria um mecanismo compensatório para um momento em que a mensalidade do plano de saúde sobe e a renda cai. No caso das empresas, a compensação seria um estímulo para que continuem bancando a assistência médica de seus funcionários, principalmente em períodos recessivos”, acredita Viana, que faz questão de ressaltar que tais propostas não têm a pretensão de resolver todos os problemas do sistema de saúde brasileiro. “A tese pretende apenas abrir o debate em torno de temas tão relevantes para a sociedade”, ratifica.
Publicações Tese: “Saúde supletiva: Estado, famílias e empresas em novo arranjo institucional” Autor: João Fernando Moura Viana Orientador: Pedro Luiz Barros Silva Unidade: Instituto de Economia (IE)
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Cooperativa pode ser a saída para produção de café gourmet Lucros com grãos de qualidade superior normalmente não são repassados a produtores Fotos: Antoninho Perri
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
consumo crescente de cafés de melhor qualidade no Brasil e no mundo vem estimulando cafeicultores na busca de produtos de maior rentabilidade e que possam contribuir para a proteção econômica do segmento. Em decorrência, o setor tem procurado diferenciações nesta commodity, resultando daí a produção de grãos de qualidade superior, como os classificados de cafés gourmet. A elevação dos produtos a esta categoria envolve cuidados especiais, desde a produção até a comercialização. Os bons resultados, além de atrelados às características geomorfológicas da região de cultura, resultam de técnicas adequadas, do plantio à manutenção das plantas; de cuidados especiais dispensados às colheitas; da separação de grãos selecionados com base nas características esperadas para a bebida; do emprego condizente de processos de torrefação, embalagem e até de preparo da bebida. Desse conjunto resultam bebidas diferenciadas, não amargas, mais puxadas para o doce, e até com sabores específicos, a exemplo das que ostentam naturalmente o sabor de caramelo, o que leva muitos a ingeri-las sem açúcar para maior percepção dos seus aspectos sensoriais. O leigo imagina que os produtores desses grãos recebam uma remuneração diferenciada na sua comercialização. Essa visão é reforçada pelo preço de um simples cafezinho gourmet, que em cafeterias mais sofisticadas da cidade de São Paulo chega a oito reais. Mas, nem sempre o resultado financeiro da valorização maior desse grão pelo mercado consumidor chega ao produtor. Foi o que constatou Allan Vieira de Castro Quadros compulsando inicialmente estudos específicos desenvolvidos principalmente por pesquisadores da USP e acessando entrevistas realizadas com produtores. Diante desta constatação prévia, ele se propôs a avaliar a extensão do problema e determinar qual seria a estrutura econômica necessária, denominada genericamente de estrutura de governança, que permitiria redução dos custos de transação e apropriação de maior renda pelo ruralista na comercialização do produto diferenciado. Durante o trabalho, o pesquisador se deparou efetivamente com vários problemas que impedem em muitos casos que o cafeicultor usufrua maior lucro em um produto requisitado por um mercado consumidor mais exigente. Com base em bibliografia específica, envolvendo produção e comercialização de café e utilizando subsídios clássicos da teoria economia, Allan elaborou previamente algumas hipóteses que explicassem essa aparente contradição: que fatores impedem que um produto mais nobre gere maior renda para o produtor? Mesmo porque em economia considera-se que a diferenciação na produção constitui um dos caminhos para obtenção de maior renda, o que não acontece com segmentos de produtores de café gourmet, mesmo quando vencedores de concursos de qualidade. “Então eu me propus a mostrar como produtores de café considerados gourmet poderiam conseguir obter maior rendimento na comercialização do produto. Ou seja, que formas de gestão, que estruturas de governança deveriam ser adotadas na estruturação do negócio para obtenção de uma remuneração diferenciada e mais adequada a uma qualidade igualmente diferenciada”, diz ele. O pesquisador então elaborou previamente algumas hipóteses. Essas levaram à seleção de alguns estudos de caso que permitissem confirmar ou não o acerto das proposições iniciais. Esses estudos envolveram pesquisas junto a um grande produtor, uma cooperativa e cinco produtores cooperados de porte médio e pequeno, todos da região da Alta Mogiana – que abrange o nordeste do estado de São Paulo, em que se destacam as cidades de Franca e Pedregulho, e avança até o sul de Minas Gerais – tradicionalmente conhecida como produtora de cafés de excelente qualidade pelas suas características geomorfológi-
Consumidor em cafeteria em Campinas
Allan Vieira de Castro Quadros: cooperativa permitiria estabelecer contatos mais amplos e com maior poder de barganha
cas e que, segundo alguns especialistas, exibe cafés que se rivalizam com os colombianos, considerados os melhores do mundo. A dissertação de mestrado recebeu orientação do professor Walter Belik, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, onde foi apresentada. Entre as hipóteses aventadas, Allan Quadros sugeriu a verticalização do negócio. Além da produção, o cafeicultor deveria manter uma torrefação, criar uma marca e comercializar diretamente o produto com os revendedores ou até, em certos casos, fazê-lo diretamente com consumidor. Esta seria a forma de conseguir maior renda, porque o maior ganho acaba em geral sendo das empresas que beneficiam o produto, caso das torrefadoras, que separam os melhores grãos e fazem chegar ao comércio um café de melhor qualidade por maior preço. Esta seria uma das hipóteses. Entretanto, o processo exige investimentos de certo vulto, que podem comprometer eventuais lucros, o que o torna inviável para os pequenos e médios produtores. Para atender a esses dois segmentos, ele sugere a organização em cooperativas, recurso sobejamente tratado na teoria econômica.
A cooperativa viria a constituir então outra estrutura de governança, ainda que diversa da simples verticalização. Ou melhor, a associação horizontal permitiria a um conjunto de produtores a integração vertical. O pesquisador explica: “Parti do pressuposto de que essa seria a saída mais viável para o pequeno e médio produtor. A torrefação e a marca do café gourmet passam a ser do grupo de cooperados e a comercialização se torna mais viável por se tratar de um conglomerado capaz de estabelecer contatos mais amplos e com maior poder de barganha”. Mas a comprovação da viabilidade desse tipo de governança exigia um estudo de caso, baseado preferencialmente no que ocorre em uma região produtora de cafés gourmet de excelente qualidade, que dispusesse de uma cooperativa com pequenos e médios cooperados e que mantivesse uma indústria de torrefação e uma marca de café gourmet. Ao decidir-se pela Alta Mogiana, ele centrou os estudos em uma cooperativa e em cooperados com o perfil desejado e também em um grande produtor, de forma a estabelecer um contraponto com os pequenos e médios cafeicultores. Entrevistando cinco produtores pequenos e médios de cafés gourmet, Allan
verificou que o seu pressuposto não se verificava, pois não conseguiam que a cooperativa os comprasse com maior valor. Embora pagasse o mesmo preço de uma commodity, a cooperativa vendia esse café de qualidade superior por um preço maior, ficando com os lucros que não chegavam aos produtores. É verdade que durante os concursos de qualidade por ela promovidos pudessem ocorrer vendas diretas de lotes de grãos a torrefações por um preço maior e mais condizente com a qualidade do produto. Além disso, quando procurada por grandes compradores, a cooperativa indicava-lhes os produtores que dispunham do café com a qualidade procurada. Nesses casos, o produtor também efetivamente se beneficia diretamente com a venda por melhor preço. O pesquisador verificou que, entre os produtores, existe consenso sobre a importância da cooperativa em relação à orientação técnica que ela lhes proporciona com vistas à obtenção de grãos cada vez melhores e sobre a facilitação da comercialização dessa commodity. Reconhecem ainda a importância dos contatos que a cooperativa promove permitindo a venda direta aos compradores de cafés gourmet. Mas essas alternativas não lhes oferecem segurança porque não garantem que a empresa de torrefação venha a comprar o produto sistematicamente do mesmo produtor. Já em relação ao grande produtor, pelo menos no que diz respeito ao caso estudado, o modelo da verticalização se mostrou plenamente viável, inclusive com a instalação de pontos com vendas diretas ao consumidor de cafés gourmet e até instalação de cafeterias sofisticadas, particularmente em grandes centros. Com base nos estudos de casos envolvendo cafés gourmet, Allan conclui que a estrutura verticalizada é adequada ao grande produtor; a estrutura horizontal se mostra eficiente na intermediação de contratos entre cooperados e torrefadoras; e a coordenação horizontal acompanhada da integração vertical, que caracteriza as cooperativas, não se mostra eficiente para os produtores desses produtos diferenciados. Ele termina o trabalho sugerindo a avaliação de cooperativas e produtores de cafés gourmet de outras regiões a fim de verificar a compatibilidade dos resultados. Propõe também uma pesquisa mais abrangente, que abarque maior número de produtores e que permita maiores generalizações e extrapolações dos dados obtidos.
Publicação Dissertação: “Estruturas de governança na cadeia produtiva de cafés gourmet: o caso dos produtores da Alta Mogiana” Autor: Allan Vieira de Castro Quadros Orientador: Walter Belik Unidade: Instituto de Economia (IE)
Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012
As bibliotecas
5 Fotos: Antonio Scarpinetti
da cana
Estão armazenados 380 mil clones bacterianos com fragmentos de DNA de duas variedades ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
biólogo Danilo Sforça acaba de construir duas bibliotecas de Bacs (em português Cromossomo Artificial de Bactéria) que somam um pouco mais de 380 mil clones bacterianos contendo fragmentos de DNA de duas variedades de cana: a SP80-3280 (221.184 clones) e a IACSP93-3046 (165.888 clones). Representam quatro vezes o genoma completo da planta, feito inédito no mundo. A cana plantada hoje é um híbrido entre o cruzamento das espécies Saccharum spontaneum e Saccharum officinarum. Trocando em miúdos, o biólogo construiu um recurso genético e genômico para estudo da cana e uma plataforma de seleção rápida de clones Bacs, agilizando o uso das bibliotecas por pesquisadores que desejem encontrar genes ou outros tipos de sequências no genoma da cana. Assim, pode-se recuperar um gene com todas as suas cópias variantes em poucas horas. “A nossa biblioteca está pronta, é fácil de ser utilizada e é representativa”, assinala ele. Vieram da França para o Brasil em agosto e poderão ser consultadas no ano que vem, uma vez que falta fazer uma cópia de segurança. Elas são um recurso genético pois, com esse material, compreende-se melhor a genética da cana; e é genômico pois, com seus clones, pode-se obter informações do genoma diretamente, como o sequenciamento de pedaços do genoma, de genes e de qualquer região que se queira desvendar. Exceto essas, há só mais uma biblioteca representativa do genoma, de cerca de 100 mil clones, construída por um grupo americano de uma variedade de cana francesa, a R570. O objetivo do pesquisador era encontrar rapidamente a sequência completa de genes de interesse à agricultura bem como de seus variantes, proeza que apenas é uma realidade com essa biblioteca. Danilo contou com a colaboração da pesquisadora Mônica Conte e foi orientado pela professora Anete Pereira de Souza, do Instituto de Biologia (IB) e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG). Teve ainda apoio do grupo da professora Hélène Berges, do Centro Nacional de Recursos Genômicos (CNRGV) do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas Francês, de Toulouse.
MELHORAMENTO
O Brasil tem a maior área plantada de cana-de-açúcar no interior de São Paulo, que produzirá, na safra 2011/2012, mais de 308 milhões de toneladas, o equivale a 54% do total a ser produzido no país. Dependendo da variedade e região, pode-se obter em média 75-85 toneladas por hectare. Essa planta é uma cultura bianual e, após o seu plantio, pode levar um ano e meio para poder crescer bem. Necessita de muita água, temperaturas elevadas e muita radiação solar para se desenvolver. Pode ser plantada em três épocas diferentes, dependendo da área de plantio: sistema de ano-e-meio, sistema de ano e plantio de inverno. O produtor procede aos cortes todos os anos (cada ano em uma área) e, depois, vem o replantio. Os projetos genomas podem sequenciar o genoma completo ou só os genes. O genoma da cana é grande e cheio de sequências repetidas, dificultando o seu sequenciamen-
O biólogo Danilo Sforça e a professora Anete Pereira de Souza, orientadora da pesquisa, em frente ao biofreezer para armazenamento de clones; abaixo, o equipamento de replicagem de colônias de bactérias
Apesar do grande tamanho do genoma, o número dos genes da cana não deve ser diferente daquele de outras plantas com genomas menores. Além do número de variantes de cada gene, o genoma possui muitas sequências repetidas, responsáveis em parte pelo seu tamanho. São elas que dificultam os projetos de sequenciamento do genoma completo da cana.
SELEÇÃO RÁPIDA
to e organização, por isso o genoma completo ainda não está sequenciado e não há unanimidade quanto à melhor estratégia para isso. Vários grupos lidam com suas táticas para chegar a ele. Há projetos de sequenciamento do genoma completo da cana ou de partes dele espalhados pelo mundo. O Brasil efetuou um genoma parcial da cana, no qual uma porção do genoma foi sequenciada pelo cDNA, um DNA complementar, representando os genes da cana. E outros grupos vêm repetindo tal sequenciamento com tecnologias modernas como as de nova geração, com as quais se vai mais longe. Outros grupos ainda refizeram o sequenciamento de genes e de outras regiões do genoma pois, com a pesquisa, notou-se que era fundamental saber a região onde não havia genes funcionando. Mesmo ninguém sabendo a melhor abordagem para o sequenciamento do genoma completo, uma coisa é certa entre os pesquisadores: ter Bacs que representam o genoma completo para sequenciar conduzirá a um resultado mais fiel. Esse processo é urgente, situa a docente, pelas informações no genoma que ajudam a obter variedades mais produtivas e adaptadas aos solos brasileiros. O maior beneficiado será o melhoramento genético, sobretudo em áreas agrícolas com condições climáticas desfavoráveis. “Já plantamos em regiões de solo pobre e devemos plantar em regiões secas. É preciso ter genes que confiram adaptabilidade a diferentes condições de solo e clima limitantes à cultura. Precisamos dos genes e da região de controle deles, que está na parte que não é gene; com isso faremos variedades de cana para uma agricultura mais sustentável”, pondera Anete. Os dados do genoma poderão guiar o trabalho do melhorista no campo. Hoje nota-se um nítido interesse na produção de álcool a partir do bagaço de cana usado nas usinas para queima, resultando na produção de energia. Dessa forma, a usina produz grande parte da energia da queima do bagaço para o funcionamento de suas máquinas, sem gastar com a compra da energia elétrica produzida pelo governo. “Há usinas em que o excedente de energia produzida queimando o bagaço pode ser vendido às cidades ao redor”, expõe Anete.
Outra vertente do bagaço é a produção de etanol. Por isso, equipes de melhoramento de cana buscam genes ligados à degradação do bagaço pelo acesso da celulose ao ataque químico ou biológico por fungos.
VARIANTES
O interesse de Danilo era ver a variação dos genes da cana, já que esse genoma diverge dos mamíferos e de outras plantas. O homem, por exemplo, recebe duas cópias de cada cromossomo do seu genoma: uma cópia vem do pai e uma da mãe. Então ele é diploide. Para cada gene, tem pelo menos dois variantes ou alelos. No caso da cana, ela pode receber de seis a 12 cópias de cada um de seus cromossomos. E essas cópias podem vir em número variável dos genitores. Por isso, a cana é poliploide. Para cada gene, ela tem de seis a 12 variantes ou alelos. Para entender a importância do número de variantes dos genes no genoma, basta analisar o caso de alguma doença genética, como a fenilcetonúria, no homem: se ele tiver os dois variantes do gene defeituosos, será doente. Se tiver um variante e o outro não, pode não ser doente. Mas, se for dominante, basta um variante defeituoso para a doença ocorrer. Essa situação é mais complicada para a cana, que possui dez cromossomos que podem estar repetidos de seis a 12 vezes em cada gene. Além disso, o total de cromossomos é variável no caso da cana cultivada, por ela ser um híbrido entre duas espécies. Para estudar como e quanto os genes e seus variantes influenciam no parecimento de uma característica, é preciso ter todas formas variantes do gene em mãos, saber sua sequência e as regiões que regulam seu funcionamento. A única forma rápida é ter uma biblioteca de clones com pedaços do genoma completo. O maior empecilho à obtenção de uma biblioteca de Bacs que represente o genoma completo da cana está no tamanho do genoma e nas sequências repetidas em grande quantidade. Comparativamente, o tamanho do genoma do sorgo, também usado na produção de etanol, tem 750 megabases. Já o genoma da cana tem dez gigabases (dez mil megas). É 14 vezes maior que o do sorgo.
Este trabalho é ímpar por somar duas variedades de cana adaptadas ao Brasil em uma biblioteca capaz de buscar genes de interesse às condições de cultivo brasileiras e é um recurso que deve alavancar a pesquisa mundial da cana. “Queremos que engenheiros, biólogos, farmacêuticos usem as nossas bibliotecas”, convida a docente. Elas permitirão fazer trabalhos básicos, como chegar a um gene específico e pegar a sua sequência na biblioteca, a trabalhos mais complexos, como buscar uma região comum a vários genes, avisa Danilo. Haverá uma pessoa treinada para ensinar a selecionar os clones Bacs na nova plataforma. Com isso, em poucas horas, a seleção será feita mediante reações de amplificação de DNA (PCRs), e o pesquisador recuperará o gene desejado com as cópias variantes. Poucos grupos no mundo, entre eles o de Anete e Danilo, detêm essa tecnologia. Para ganhar acesso aos mais de 380 mil clones, será preciso construir mais três plataformas. Cada qual permite acesso imediato a 110 mil clones. Nos próximos meses, será construída uma segunda plataforma de modo que os 221.184 clones da biblioteca para a variedade SP80-3280 estarão disponíveis ao acesso rápido. Esse trabalho integra um temático do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia, o Bioen. Por meio dele, Danilo fez um estágio de oito meses no CNRGV, onde montou as bibliotecas de Bacs e a plataforma, tecnologias que servem ao estudo genômico de qualquer espécie de planta, animal ou microrganismo. Essa biblioteca teve desmembramentos. O seu autor já selecionou 700 clones de Bacs com a nova plataforma, que foram transferidos para o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, para o seu sequenciamento no projeto Genoma da Cana-de-Açúcar da Fapesp. Outra parte do estudo envolvia saber se as bibliotecas tinham um tamanho ideal de clones a partir de fragmentos de uma dada variedade de cana. A conclusão foi que sim. Os clones estão com um tamanho de DNA muito bom: 100-120 mil pares de bases. Agora o biólogo está na segunda etapa do projeto. Avalia a variação de genes únicos na cana com quatro equipamentos adquiridos: um robô para rearranjo de bibliotecas, um sequenciador de nova geração, um biofreezer com backup e um espectrômetro de massas, alcançados com recursos do Bioen e do INCT Bioetanol do CNPq. Outros recursos estão para chegar, vindos do projeto CeProbio, apoiado pelo CNPq e Comunidade Europeia. “O país já pode se orgulhar da contribuição que as bibliotecas de clones Bacs trarão à pesquisa genética e genômica em cana”, conclui Anete.
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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 Fotos: Antonio Scarpinetti
Estudo revela aumento de emissão
de poluentes em safra da cana
Trabalhador rural em canavial depois de queima: concentração média das partículas inaláveis durante a safra superou o padrão médio anual
Tese mostra que concentração de partículas inaláveis tem aumento de 70% em Araraquara PATRÍCIA LAURETTI
patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
studo realizado na região canavieira de Araraquara, interior do estado de São Paulo, apontou que a atmosfera apresenta um aumento de 70% na concentração das partículas inaláveis no período de safra da cana-de-açúcar. As partículas finas, que são as mais perigosas porque podem alcançar os alvéolos pulmonares, representam quase a metade do material particulado recolhido nas amostras. Nesta fração encontra-se ainda a maior quantidade de metais tóxicos, como arsênio, cádmio e chumbo. Os dados estão na tese “Química da atmosfera de uma região agroindustrial do sudeste do Brasil”, doutorado da tecnóloga em saneamento ambiental Patrícia Lopes de Oliveira, apresentado ao Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. Material particulado é o termo utilizado para uma mistura de partículas sólidas e líquidas encontradas na atmosfera. Algumas dessas partículas podem ser grandes, escuras e, portanto, visíveis, tais como a fumaça ou a fuligem. Outras são tão pequenas que somente podem ser vistas através de um microscópio. O material particulado pode ter origem natural, como poeiras do solo e emissões de vulcões, ou antrópica (proveniente das atividades humanas), como emissões veiculares e industriais, por exemplo. A concentração média das partículas inaláveis durante a safra superou o padrão médio anual estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a comparação deve ser realizada com cautela. “As coletas foram realizadas utilizando metodologias distintas, o que pode influenciar na quantidade de material particulado coletado”, pondera a pesquisadora. O aumento foi atribuído à intensificação das atividades agrícolas, bem como aos baixos índices de chuvas do período de safra. A atmosfera natural é composta por nitrogênio e oxigênio que, juntos, correspondem a 99% de sua constituição. Outros gases e o material particulado são componentes minoritários e mesmo assim têm papel importante na modificação das propriedades químicas e físicas da atmosfera. Os metais chegam à atmosfera da região de Araraquara principalmente por meio da suspensão da poeira ou da queima da palha da cana-de-açúcar, além das emissões de máquinas e veículos. Em menores proporções, podem ser provenientes de outras localida-
Patrícia Lopes de Oliveira, autora da tese: “Os resultados representam uma base de dados importante”
des, transportados pelos ventos para locais mais distantes. O estudo comprova que os metais tóxicos arsênio, cádmio e chumbo se concentram no material particulado fino em porcentagens que variam entre 73% a 75% no período de safra e entre 67% e 80% na entressafra. “Apesar de não existir legislação que estabeleça as concentrações máximas desses elementos no material particulado fino, é preocupante a constatação de que os metais mais prejudiciais se concentram principalmente nesta fração mais prejudicial à saúde” argumenta. Parte do trabalho realizado pela pesquisadora integra um projeto temático Fapesp, coordenado pelo professor Arnaldo Cardoso, do Instituto de Química da Unesp-Araraquara, que tem como objetivo avaliar os efeitos das emissões atmosféricas nos padrões atuais e futuros das chuvas no sudeste do Brasil, região sob a influência da agroindústria da cana-de-açúcar. Neste projeto temático, pesquisadores de diferentes universidades investigam as propriedades físicas e a composição química dos compostos na atmosfera. Coube à tese de Patrícia a determinação da concentração dos metais, até então pouco estudados no Brasil. Araraquara atravessa o período de transição da queima da palha da cana-de-açúcar, que ainda ocorre em 40% dos canaviais, para a colheita mecanizada. Os pesquisadores monitoram quais serão os impactos desta mudança. “Existe a ideia de que a completa eliminação da queima da palha é um benefício tanto para o ambiente como para a saúde, porém devemos continuar monitorando a região porque realmente não conhecemos quais serão os
impactos ambientais e na saúde humana com a mecanização da colheita”. Com a mecanização da colheita, as áreas canavieiras ainda apresentarão importante papel na emissão de compostos para a atmosfera. A palha da cana será decomposta na superfície do solo, queimada em termoelétricas ou até mesmo utilizada como produto secundário na produção de biocombustível. Outra implicação é o aumento do número de veículos de corte nas plantações e de transporte, responsáveis tanto pelo aumento da emissão proveniente de combustíveis fósseis, como também pela maior suspensão de poeiras do solo. A tese aborda os metais encontrados nas amostras de material particulado atmosférico coletadas em Araraquara durante cinco semanas no período da safra de 2009 e outras cinco semanas na entressafra de 2010. O coletor utilizado funciona como uma espécie de aspirador, que suga o ar e retém as partículas em membranas. Muitos compostos metálicos estudados na tese são tóxicos para a saúde e também podem afetar os sistemas aquáticos e terrestres. Patrícia ainda estudou a composição das águas de chuva e do particulado total em suspensão de Araraquara. Além da determinação dos metais, foram observadas partículas geogênicas, biogênicas como o pólen, algumas ligas metálicas associadas a poluentes de veículos, além de grande quantidade de fuligem nas amostras do período de safra. A autora ressalta que, dependendo do caso, os compostos químicos na atmosfera podem ter ações benéficas. “A deposição de elementos como potássio, fosfato e nitrogênio, por
exemplo, pode melhorar a condição de cultivo dos solos”. O material particulado pode ser classificado de acordo com o tamanho aerodinâmico. “Teoricamente, as partículas atmosféricas são consideradas esféricas, que possuem diferentes diâmetros”, explica a pesquisadora. O particulado total em suspensão geralmente é composto de partículas menores que 100 micrômetros de diâmetro, enquanto a fração inalável seria a menor que 10 micrômetros. As partículas inaláveis grossas ficam retidas nas vias respiratórias superiores e têm o diâmetro entre 2,5 a 10 micrômetros. As inaláveis finas estão abaixo de 2,5 micrômetros. Enquanto os metais tóxicos se concentram principalmente nesta última fração, as partículas grossas têm alta concentração de alumínio, ferro, potássio e cálcio, além dos minerais do solo. A autora avalia que estudar o que ocorre no período de safra em comparação com a entressafra é importante para determinação da sazonalidade da composição do material particulado. “Na entressafra a região continua sendo influenciada por outras fontes, embora na safra a alteração na composição química da atmosfera seja mais representativa”. Patrícia relembra, por exemplo, que as emissões veiculares não apenas afetam a atmosfera pela queima do combustível, mas também em função da utilização de freios e desgaste de outros materiais que ocorre durante o deslocamento veicular. Em relação aos metais, ela diz que, se o estudo tivesse sido realizado em outra região, a composição e a quantidade dos compostos seriam diferentes dos encontrados nos particulados atmosféricos de Araraquara. “Uma região como a do polo petroquímico de Paulínia, por exemplo, possivelmente tem uma concentração mais elevada de metais na atmosfera”. Por enquanto o que interessa ao grupo do projeto temático que Patrícia faz parte é monitorar o processo de mecanização das áreas canavieiras. “Os resultados apresentados neste trabalho representam uma base de dados importante que podem ser relacionados com outras características físicas e químicas das emissões atmosféricas que estão sendo reunidas durante o desenvolvimento do projeto temático e permitirão prever qual o efeito das mudanças em curso na região que podem afetar a atmosfera”.
Publicação Tese: “Química da atmosfera de uma região agroindustrial do Sudeste do Brasil” Autora: Patrícia Lopes de Oliveira Orientador: Bernardino Ribeiro Figueiredo Coorientador: Arnaldo Alves Cardoso (Unesp-Araraquara) Unidade: Instituto de Geociências (IG) Financiamento: Capes e Fapesp
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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012
Mobilidade é incrementada Aumenta a oferta de programas no âmbito do processo de internacionalização da Universidade Foto: Divulgação
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
m aspecto muito valorizado no currículo de um candidato a uma vaga no mercado de trabalho atualmente é a possível experiência internacional que ele tenha tido. Na Unicamp, os estudantes de graduação dispõem de diversos programas e iniciativas que lhes proporcionam a chance de participar de intercâmbios em várias das melhores escolas de nível superior do mundo. Somente no segundo semestre de 2012, considerados os dados até 31 de agosto, a Universidade registrou 457 trancamentos de matrículas de alunos que foram para fora do país. Os principais destinos foram França, Alemanha, Argentina, Portugal, Espanha e Estados Unidos, entre outros. “Esta vivência internacional traz ganhos importantes tanto para a vida pessoal quanto acadêmica desses jovens”, considera o titular da Co- Grupo de estudantes da Unicamp em Londres: Universidade enviou aproximadamente 400 alunos ao exterior em 2011 ordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori), professor Alberto ções Institucionais e Internacionais] tem feito esses educadores”, antecipa a docente. um excelente trabalho no apoio aos participanLuiz Serpa. Outra ação importante dentro do esforço de internacionalização da instituição no âmbito da A oferta desses programas de mobilidade, tes do programa”, observa. Os alunos dos cursos de licenciatura da Uni- graduação foi a promoção de um intercâmbio lembra o dirigente da Cori, constitui uma das principais ações dentro do processo de inter- camp contam com uma oportunidade específica específico para alunos das áreas de Humanas nacionalização da Unicamp e representa um para o cumprimento de período de estudos no e Artes, que contou com o apoio do programa diferencial importante da Universidade em re- exterior. Trata-se do Programa de Licenciaturas Santander Universidades. Foram investidos R$ lação a outras instituições. “Nas conversas que Internacionais (PLI), oferecido pela Coordena- 300 mil para enviar 14 estudantes dos cursos mantemos com nossos alunos, percebemos que ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível de Arquitetura, Artes Ciências, Artes Visuais, a existência dessas oportunidades de viajar ao Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Dança, exterior pesou na decisão de fazer a graduação da Educação. O objetivo do PLI é conferir mais Filosofia, História, Letras, Midialogia, Música e aqui”, relata. Uma medida que tem contribuí- qualidade a essa modalidade de ensino, com o Gestão de Políticas Públicas para um intercâmdo para incrementar ainda mais esse esforço da consequente incremento na formação de profes- bio de dois meses e meio (janeiro, fevereiro e instituição é o Ciência sem Fronteiras (CsF), sores que vão trabalhar posteriormente nos en- parte de março de 2012) no Goldsmiths Colleprograma de internacionalização criado pelo sinos fundamental e médio. Através do progra- ge, em Londres. Foto: Antonio Scarpinetti governo federal, voltado prioritariamente às ma, os participantes recebem Conforme a professora uma bolsa para permanecer áreas de exatas, tecnológicas e engenharias. Gabriela Celani, assessora da PRG, os estudantes foram Graças às bolsas oferecidas pelo CsF, o nú- por até 24 meses numa instiselecionados tendo em vista mero de intercâmbios na Unicamp experimen- tuição estrangeira. Ao final dos não somente o seu desempetou um significativo avanço. Se no segundo estudos, eles obtêm uma dupla nho acadêmico, mas também semestre deste ano foram feitos 457 trancamen- diplomação. sua motivação e habilidades A Capes já lançou três editos de matrículas de intercambistas, no mesmo específicas, que foram analisaperíodo de 2011 foram realizados somente 225 tais para o PLI, como conta o das por meio de uma redação, procedimentos do tipo. De acordo com o coor- professor Guilherme do Val Touma entrevista e a apresentadenador do CsF na Unicamp, professor Guido ledo do Prado, vice-presidente ção de portfólios, no caso dos Costa Souza de Araújo, a Universidade já parti- da Subcomissão Permanente pertencentes às áreas de múcipou de três editais do programa. Um quarto para Formação de Professores sica e artes plásticas. “A iniciaestá em vigência, com o encerramento das ins- da Comissão Central de Grativa foi importante de divercrições previsto para meados de setembro. “O duação (CCG). De acordo com sos pontos de vista. Primeiro, interesse dos nossos estudantes pelo programa, ele, a Unicamp não participou porque ela contemplou áreas especialmente os de graduação, tem sido cres- do primeiro, por questões de não alcançadas pelo programa cente. Na primeira chamada, nós contabiliza- calendário. No segundo, volCiência sem Fronteiras. Semos 88 interessados. Na terceira, esse número tado exclusivamente para a gundo, porque proporcionou subiu para cerca de 400. Esperamos encerrar Universidade de Coimbra, sete O coordenador da Cori, professor a atual chamada com algo perto de 600 inscri- alunos de licenciatura em Edu- Alberto Luiz Serpa: “A vivência internacio- uma experiência acadêmica e pessoal ímpar ao grupo. Terções”, prevê o docente. cação Física (3), Biologia (3) e nal traz ganhos importantes” ceiro, porque eles já estão tendo a oportunidade Matemática (1) foram contemplados com bolGuido Araújo explica que os inscritos passam por uma seleção, que leva em conta, entre outros sas, tendo por base o desempenho acadêmico de compartilhar essa vivência com colegas de cursos e demais integrantes da comunidade inaspectos, o desempenho acadêmico dos interes- deles e outros requisitos. sados. Uma vez selecionados, eles são alocados Esses estudantes estão há um ano na insti- terna”, avalia a docente. Os participantes desse “curso de verão”, nos países interessados. Nesse ponto, ainda há tuição portuguesa. “Os relatos que temos obprossegue a assessora da atribuição às instituições receptoras. “Cada país tido deles são muito positivos em relação ao Foto: Antoninho Perri PRG, puderam optar por curconta com um operador, que receberá a indica- que estão vivenciando tanto sar disciplinas que não precição dos estudantes. Este operador entrará em no plano acadêmico quanto savam estar necessariamente contato com o candidato para solicitar o envio do cultural. Eles elaboraram um ligadas às suas carreiras, o histórico escolar traduzido e outros documentos. relatório sobre esse primeiro que ampliou a possibilidade Depois de analisar os perfis, a instituição estran- ano, que foi apreciado pelos de aprendizado para além geira manifesta, então, o interesse pelo estudan- coordenadores de graduação dos temas específicos de cada te”, detalha o coordenador do CsF na Unicamp. da Universidade de Coimbra área. “Um dado interessanAtualmente, segundo ele, 190 estudantes da e da Unicamp. Esse docute é que nossos estudantes mento foi enviado à Capes Universidade estão cumprindo o programa em foram acomodados em casas para aprovação”, informa. países como Austrália, Estados Unidos, Alemade família, várias delas comA professora Eliana Ayoub, nha, França, Itália, Holanda, Coreia, Bélgica e postas por imigrantes de difepresidente da Subcomissão Canadá. Todos passarão um ano fora estudando rentes locais do mundo. Isso e cumprindo estágio, caso a instituição receptora Permanente para Formação também fez com que esses joconsiga colocações nesse sentido. “Essa é uma de Professores, acrescenta vens tomassem contato com excelente oportunidade para esses jovens, tanto que antes de viajarem, os sete realidades e culturas muito do ponto de vista acadêmico quanto cultural. Em alunos e suas famílias partidiferentes”. Durante a estada geral, esse tipo de experiência abre muito a cabe- ciparam de um encontro da em Londres, o grupo criou ça do estudante. Ele retorna muito mais madu- Unicamp. “Temos a ideia de O professor Guido Araújo, coordenador um blog, no qual registrou as promover um segundo enro”, considera o professor Guido Araújo. do CsF: “O interesse dos nossos variadas experiências vividas contro com esses estudantes estudantes tem sido crescente” De acordo com ele, a Unicamp mantém um naquele período. nos próximos meses, mas de portal (http://www.prg.unicamp.br/csf/index. forma virtual, para colher as impressões mais Após o retorno ao Brasil, os intercambistas php) com todas as informações sobre o CsF. Nele, os interessados podem encontrar dados recentes deles acerca do programa. No retorno participaram de uma série de discussões sobre sobre os editais, indicações sobre os passos a do grupo ao Brasil, organizaremos reuniões e as lições aprendidas durante a viagem. Os debaserem seguidos para as inscrições, orientações debates, para que eles possam transmitir as ex- tes resultaram em um evento que contou com acerca de como proceder para traduzir o históri- periências adquiridas para a comunidade inter- a presença de integrantes da comunidade acaco escolar e recomendações sobre como realizar na. Outra intenção é colocá-los em contato com dêmica, durante o qual foi apresentado um auo teste de proficiência em idioma estrangeiro. professores dos ensinos fundamental e médio, diovisual elaborado pelo grupo, seguido de dois “Além disso, a Cori [Coordenadoria de Rela- para identificar que contribuição poderão dar a debates em forma de mesas-redondas. “A expe-
riência dos nossos alunos no Goldsmiths College também deu origem a dois artigos que foram publicados na revista Ensino Superior Unicamp, sendo que um deles foi assinado pelos intercambistas e por mim e o outro, pelos professores Marcelo Knobel [pró-reitor de Graduação], Gilberto Alexandre Sobrinho [assessor da PRG] e também por mim”, complementa Gabriela Celani.
ESTRANGEIROS
No que se refere à internacionalização da graduação, a Unicamp não se preocupa somente em enviar estudantes ao exterior, mas também em receber jovens estrangeiros interessados em cumprir parte de sua formação aqui. Em 2011, a instituição recepcionou 341 desses jovens em seus cursos de graduação. Uma das iniciativas mais importantes nesse sentido, e que tem amplo alcance social, é o Programa Emergencial Pró-Haiti em Educação Superior, financiado pela Capes e do qual a Universidade é uma das mais efetivas participantes. A finalidade da ação é contribuir para a formação de recursos humanos e para reconstrução do sistema de ensino superior daquele país, que foi devastado por um terremoto em 2010. Segundo a professora Eliana Amaral, assessora da PRG, a Unicamp colocou 80 vagas de graduação à disposição do programa, a maioria em cursos de humanidades, mas também em outras carreiras. Entretanto, a Capes indicou somente 41 haitianos para estudarem na Universidade, recebendo bolsa. Eliana Amaral afirma que, além do apoio da Capes, os haitianos também contam com amplo suporte por parte da Unicamp. “Nós os recepcionamos e os ajudamos a encontrar moradias, a comunidade fez doações para ajudá-los a se instalarem em Campinas. Foram oferecidas bolsas para alunos de Pós-Graduação e Graduação (PED e PAD), com recursos da Capes e da Unicamp, para maior apoio aos estudos deste grupo. O programa previa que eles estudassem português nos primeiros seis meses e cursassem disciplinas de graduação durante mais um ano. O que temos notado é que os haitianos são muito esforçados. Estão tendo bom desempenho, ainda que tenham o desafio de estudar na Unicamp em português”. “Como os processos de inscrição, seleção e liberação para a viagem atrasaram, vários desses alunos declararam, ao chegarem aqui, que já haviam concluído a graduação em seu país e que estavam interessados em participar de programas de pós-graduação. Um grande número dos demais estudantes gostaria de concluir os estudos de Graduação no Brasil. Nós estamos aguardando um posicionamento oficial da Capes para saber quais os procedimentos para uma eventual alteração de status desses estudantes, antes do término do programa, ao final de 2012”, esclarece. Também na linha da recepção de estudantes estrangeiros, a Unicamp participa do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PECG), mecanismo de cooperação firmado entre o governo brasileiro e países em vias de desenvolvimento, especialmente da África e América Latina. Através do PEC-G, a Universidade informa à Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu-MEC) o número de vagas disponíveis em cursos do período diurno. A seleção é feita com a participação do Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores (DCT-MRE) e SESu-MEC, assessorados por uma comissão indicada pelo fórum de Pró-reitores de Graduação das universidades brasileiras. De acordo com a professora Dora Kassisse, assessora da PRG, os aprovados cumprem seis meses de estudos de português e depois partem para fazer os cursos de graduação. “Nesse caso, os estudantes realizam toda a formação na Unicamp. Eles são matriculados como alunos regulares da instituição. Para viajar ao Brasil, eles precisam provar que têm como se sustentar. Assim, não podem concorrer a bolsas sociais, mas apenas a bolsas acadêmicas. Os participantes do PEC-G não seguem o nosso regimento geral de cursos de graduação, pois atendem a um protocolo específico. O que temos notado é que esses estudantes são muito dedicados, sendo que vários têm obtido muito sucesso nos estudos”, relata a docente. Atualmente, conforme a Diretoria Acadêmica, 41 estudantes participam do programa na Unicamp.
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Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 de Campinas. De Carlos Gomes, Niza já emprestou quase tudo para seu canto. Algumas de suas canções, por um tempo perdidas, hoje estão gravadas na voz da soprano em um CD. O conjunto de 40 músicas está organizado em um livro, resultado de sua tese de doutorado, defendida na Unicamp quando Niza já era docente no Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade. Na tese, ela analisou cada uma delas. A montagem das óperas no Brasil depende de força dos poderes públicos. Fora do Brasil, elas foram insistentemente montadas, segundo Niza, “porém, o que se faz por aqui, no solo onde esse mestre nasceu, é bonito, mas é tímido, singelo”. Por ação do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA) e outros setores sociais de Campinas, a Semana Carlos Gomes ainda consegue organizar concursos, nos quais muitos musicistas foram revelados. Mas as óperas são caras e de difícil montagem, segundo Niza, por esse motivo precisariam de verba. Quando a Unicamp criou a cadeira de canto no Departamento de Música, Niza estava com a documentação organizada para assumir a vaga de docente na Universidade de Brasília, mas desistiu da ideia ao receber o convite do maestro então diretor do DM Benito Juarez. “Arrumei as coisas no dia seguinte”, enfatiza. Um presente para a área administrativa da Universidade e os profissionais do Instituto de Geociências, pois foram ali as primeiras instalações do DM, de onde se podiam ouvir as primeiras notas emitidas pela soprano Niza Tank na Unicamp. Algumas vezes, por falta de
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
roma de comida caseira, plantas no quintal, aves que reproduzem uma pequena ária, afinadíssimas, conforme o pedido cantado da mestra. Assim a soprano Niza de Castro Tank quer a vida fora dos palcos. Simples. Mas sempre que a música chama, ela tranca a porta pelo lado de fora e vai cantar. Em casa, porém, entretida com seus afazeres, prefere não cantar. “Sai errado”, brinca a senhora de 80 anos, reconhecida como uma das mais importantes sopranos brasileiras. Tem uma biblioteca de óperas na cabeça, de acordo com depoimento da amiga Sarah Lopes no documentário As Joias da Princesa: Niza de Castro Tank, dirigido por Teresa Aguiar e Ariane Porto. Niza nasceu numa família em que a educação musical era quase uma exigência. Já na infância era ouvinte de música, principalmente clássica. Apreciava especialmente Mozart e Bach. Mas para chegar ao status de uma profissional da música, explorou a qualidade de desafiar obstáculos. E qual seria o sabor da vitória sem desafios? O primeiro deles foi o que a revelou cantora. Durante uma aula de piano no Colégio São José, em Limeira, sua professora, uma freira que havia sido aluna de Fritz Jank, pediu que solfejasse um trecho de uma peça de Bach para ajudar na performance ao piano. Surpresa com a qualidade vocal e a afinação da aluna, a freira disse a Nadir,
Fotos: Antonio Scarpinetti
Niza Tank não resiste ao chamado da música
irmã mais velha de Niza: “O piano será muito útil para os estudos de música de sua irmã, mas ela não será pianista, será cantora.” Contente com as palavras da professora, Niza ficou feliz quando, ao chegar a Campinas, para onde a família inteira se mudou em 1945, o pai, funcionário público da Secretaria da Fazenda, disse a ela que lhe arrumaria uma professora de canto. Assim mesmo, no feminino: pro-fes-so-ra, acentua Niza. “Mas quem disse que, naquela época, encontrava uma professora?” Encontrou, para sua alegria, Silvio Bueno Teixeira, o único professor de canto de sua vida. Exigente, o mestre não arriscou palpite promissor sobre o desejo da jovem Niza de trabalhar na Rádio Gazeta, dizendo que não seria cantora profissional. Mas sempre disposta a desafiar os desafios, como escrito anteriormente, viajou à capital paulista, mais precisamente aos estúdios da Gazeta e, apesar de não chegar em um dia reservado para apresentação-teste, convenceu, por estratégia, o maestro a ouvi-la. “Eu disse que não estava em busca de teste, mas sim da opinião de um maestro competente sobre meu potencial”, relembra. Voltou a Campinas com contrato assinado. O sorriso largo foi se fechando aos poucos quando, ao chegar a sua casa, anunciou à família sua contratação. O olhar repreensivo daquele homem sério, descendente de alemães, por um momento deixou sua filha assustada. As palavras estão armazenadas até hoje no coração de Niza, que brinca: “Ele disse-me: ‘Filha minha não faz carreira artística’.” Mas logo, ela pôde comemorar as palavras da mãe: “Você se esquece que é minha também? Filha minha segue carreira artística”. As aulas com Samuel não duraram muito, pois a cantora teve de se mudar para São Paulo. Suas previsões também nem passaram perto do que seria o futuro de Niza. Mas a cantora reconhece: “Samuel foi muito importante em minha vida. Ele foi exigente como um professor de canto deve ser”, evidencia. Da ópera, conhecia somente trechos, que achava bonitos, mas não tinha inclinação para este repertório logo de início, porém, não se inibiu com o repertório complexo da Rádio Gazeta. Certa de que enfrentaria mais este desfio, deu seu melhor e, de 1954 a 1960, brilhou na programação da rádio cantando árias de óperas. Seu desempenho a levou à primeira apresentação no Teatro Municipal de São Paulo, em 1957. Mas desafio maior que o seu, em sua opinião, foi a coragem do maestro Armando Belardi de gravar completa a ópera Il Guarany, composta por mais uma joia da Princesa, Antônio Carlos Gomes. A produção fez com que Niza ficasse conhecida como a primeira soprano a gravar a Ceci, namorada do índio Peri na ópera do compositor campineiro. “Um dos momentos que mais marcaram minha vida, pois se tratava de uma montagem muito complexa, por tratar de tribos indígenas, fidalgo português e muito mais personagens no elenco”, explica Niza. Mas o momento que faz marejar os olhos da cantora é o do lançamento do disco. “Il Guarany sempre esteve presente em minha vida. Aquela movimentação toda de Belardi escolhendo o elenco, organizando a encenação está guardada até hoje.”, reforça a cantora. “E quando ficou pronta, fomos à Itália com Il Guarany. Foi importante também por empregar e dar satisfação a muita gente”, retoca. Il Guarany, Schiavo, Fosca, A Noite do Castelo, Salvador Rosa, Colombo. Ao relatar alguns detalhes dessas óperas, seja no documentário ou na entrevista, Niza agradece ao compositor e maestro Carlos Gomes e se desculpa, em nome dos campineiros, pelo mato que cobre parte de seu túmulo, no centro
Apresentação de Niza Tank durante a entrega da Medalha Carlos Gomes, na Câmara Municipal de Campinas, em 2007; reconhecimento internacional
“
Tem gente que tem muita qualidade, talento, postura, voz, mas tem um gênio horroroso
A trajetória de uma das mais importantes sopranos do país e ex-professora da Unicamp
espaço físico, as aulas aconteciam ao ar livre para alegria da comunidade universitária. “Aqui [na Unicamp], trabalhei com profissionais muito competentes e ainda tenho a oportunidade de atuar com alunos talentosos e assistir aos seus concertos. Tenho saudades da Unicamp, de meus alunos, meu trabalho e meus amigos. Trabalhei com pessoas muito boas, a começar pelos diretores Benito Juarez, José Antônio Rezende de Almeida Prado, Antonio Lauro Del Claro, Helena Jank, entre outros”. Mas Niza faz questão de mencionar o evento no qual celebrou 40 anos de amizade com a professora do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp Sarah Lopes. Aos poucos, com revisões acadêmicas, o rol de alunos foi aumentando na vida de Niza, além dos que mantinha fora da Universidade, em horário contrário à jornada na academia. Conforme Niza, os alunos são seus filhos, já que a vida não lhe deu biológicos. Realiza-se também como mãe na relação com Raquel, sua secretária, “É como minha filha, e seu filho me chama de avó.” O orgulho de preparar músicos para o mundo é refletido nos olhos e no sorriso “saudoso” de Niza ao citar alguns nomes. “É bonito formar um aluno e fazê-lo entrar para o mundo que sempre sonhou, seja à frente de um musical, de uma orquestra, assumindo cargos públicos ou até mesmo dirigindo a ex-professora”. O canto de Niza cruzou oceanos. As temporadas, relembradas com uma saudade gostosa, e não doída, como ela diz, foram importantes não somente pelo reconhecimento, mas para crescimento profissional. Nessa trajetória de mais de 50 anos, cantou em teatros de Israel, Rússia, Alemanha, Itália, Uruguai, entre outros. Entre as óperas das quais participou estão Lucia de Lammermoor, de Donizetti; Rigoletto, de Verdi; A flauta mágica, de Mozart. “Acabamos de receber uma gravação da Alemanha de Salvador Rosa e, para meu orgulho, o tenor é negro”, comemora Niza, que se diz admiradora do timbre de cantores negros. Apesar de gostar de falar de experiências internacionais, afirma que nunca passou por sua cabeça deixar o Brasil. O reconhecimento como uma das melhores sopranos brasileiras foi colhido ao longo do tempo e, para Niza, independe do desejo do profissional. “Vem com a carreira, com o temperamento. Tem gente que tem muita qualidade, talento, postura, voz, mas tem um gênio horroroso. Acho que tenho bom gênio. Tudo isso ajudou, faz parte de minha constituição de artista”, revela. Quando sua seleção para a Rádio Gazeta e, um pouco mais tarde, sua participação em várias montagens operísticas ganharam páginas em jornais da região, seus conterrâneos limeirenses questionaram o fato de ser chamada de “cantora campineira”. Mas a “Princesa D’Oeste” rapidamente lhe concedeu o título de cidadã campineira. E acabou com o assunto antes mesmo de ele tomar corpo. Hoje, faz parte das Joias da Princesa por adoção. Nessa condição, tem permissão para fazer comentário final em seu perfil. “O acesso à música erudita amentou nos últimos anos, pois alguns mitos, em minha opinião antipáticos, deixaram de existir, como proibir a entrada de homens sem terno e gravata. Outras inovações que atraem a sociedade aos concertos são a introdução das legendas para textos em língua estrangeira e a falta de rigor na indumentária dos personagens e no cenário. Essa modernização, sem exageros, pode aproximar a ópera da sociedade. Mas não podemos falar isso sobre Campinas, pois não temos um teatro. Só eu inaugurei o Castro Mendes duas vezes. E espero ter tempo de ver a terceira.”
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Nas n bas ca
Para medir a dor do bebê na UTI Enfermeira traduz e adapta escala que pode atenuar desconforto de crianças Foto: Antoninho Perri
RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br
sabido que os recém-nascidos internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal são submetidos a muitos procedimentos e tratamentos considerados invasivos, dolorosos e estressantes. O problema é que eles não podem, muitas vezes, nem mesmo chorar, por estarem entubados. Foi pensando nisso que a enfermeira Flávia de Souza Barbosa Dias traduziu para o Português e validou para a população brasileira a única escala específica no mundo para se medir corretamente a dor prolongada nos bebês e que pode ser utilizada em qualquer unidade neonatal no país. “Desta forma, é possível determinar um tratamento adequado para amenizar o desconforto do recémnascido, que já sofre por estar internado em uma UTI”, declara a enfermeira que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), com orientação do professor Sérgio Tadeu Martins Marba. De acordo com Flávia Dias, este tipo de dor prolongada ocorre depois de procedimentos cirúrgicos, quando há infecções ou doenças crônicas e em procedimentos repetitivos como, por exemplo, picadas de agulhas. Fazer uma avaliação acurada era uma das principais dificuldades encontradas pelos profissionais de saúde que atuam na área de neonatologia. Ela afirma que, por muito tempo, o assunto foi deixado de lado por diversos fatores. “Até a década de 1970, por exemplo, algumas cirurgias eram realizadas nos recém-nascidos sem analgesia”, lembra.
– neste último caso é preciso aferir se o bebê se acalma facilmente ou não. Ao final, são somados os pontos totais dos cinco itens, que chegariam até 15. “Se o valor total somar mais do que seis, indica que o bebê está sentindo uma dor prolongada”, explica. Para garantir a confiabilidade da escala traduzida, a enfermeira realizou as análises baseada na observação feita por dois profissionais que aplicaram a escala simultaneamente durante quatro horas, sendo que um não sabia o resultado do outro. Assim, ela pôde constar as semelhanças nos resultados finais e concluir se tratar de um instrumento válido e confiável. “Localizar a dor ou aferir a sua intensidade é algo subjetivo até mesmo para os adultos, por isso, a validação desta forma é importante para ter o olhar de dois profissionais”, esclarece. Além deste, foram feitos outros dois testes estatísticos para analisar o peso dos cinco itens da escala e para comparar os resultados com os obtidos por outra escala existente para avaliar a dor aguda nos recém-nascidos.
Publicação Bebê em UTI neonatal: método pode indicar tratamento adequado para recém-nascido
A própria escala traduzida pela enfermeira é um caso da pouca atenção em termos de estudos. Denominada Échelle Douleur Incofort Nouveau-Né (EDIN), ela foi publicada somente em 2001 na França, ainda que os primeiros estudos tivessem iniciado em 1994. Depois da tradução, Flávia aplicou a escala em 107 bebês internados na UTI do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
– Caism Unicamp e no Hospital Estadual de Sumaré Dr. Leandro Franceschinni. Basicamente, o teste consiste em atribuir pontuação de zero a três em cinco indicadores de comportamento. Os parâmetros avaliam os aspectos da face, os movimentos do corpo, o padrão de sono do bebê, o relacionamento ou como o recém-nascido reage a estímulos e o grau em que ele consegue ser consolado
Dissertação: “Tradução, adaptação cultural e validação de EDIN – Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né – para a Língua Portuguesa do Brasil” Autor: Flávia de Souza Barbosa Dias Orientador: Sérgio Tadeu Martins Marba Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Capes
Para o professor não perder a voz Fonoaudióloga desenvolve e testa programa de saúde vocal voltado para docentes A fonoaudióloga Raquel Aparecida Pizolato desenvolveu e testou um Programa de Saúde Vocal voltado para professores, especialmente da rede pública. A iniciativa, de caráter educativo, consiste em oferecer palestras com orientações e medidas preventivas que podem melhorar e evitar o desgaste da voz. “Sabemos que o professor tem uma rotina sobrecarregada, principalmente quando precisa dar aulas em mais de duas escolas na semana. Por isso, a proposta é, justamente, auxiliar no cuidado com a voz, um dos principais instrumentos que ele possui”, defende. A necessidade de um profissional especializado que atue de forma a prevenir as disfonias ocupacionais destes profissionais foi o que motivou a fonoaudióloga a desenvolver o programa. A proposta de Raquel Pizolato, em sua tese de doutorado apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), com orientação do professor Antonio Carlos Pereira, poderia perfeitamente ser implementada nas escolas públicas com benefícios significativos para a qualidade da voz do professor. Consiste em encontros intercalados a cada 15 dias, com sessões de 30 minutos. “Orientações básicas sobre hábitos de higiene vocal e treinamento de exercícios específicos são medidas preventivas que podem amenizar os sintomas de cansaço vocal e outros ligados ao uso excessivo do emprego da fala”, comenta. Para a pesquisa, a fonoaudióloga avaliou 102 professores de 11 escolas da rede pública de Piracicaba, mas somente 36 professores participaram das atividades completas do programa educativo. “No período de três meses já foram obtidos resultados bastante positivos na qualidade da voz e na melhora nos aspectos preventivos. Por isso, acredito que um programa contínuo seria o ideal para que os resultados fossem ainda melhores”, defende. Foram realizadas cinco palestras, sendo que em uma delas foi abordado o funcionamento da voz e a importância de se manter hábitos de higiene vocal. Nos outros quatro encontros, foram apresentados exercícios específicos para a voz
Fotos: Antonio Scarpinetti
Hábitos que devem ser desenvolvidos pelos professores Ingerir pequenos goles de água durante a rotina Evitar gritar e falar com competição sonora Evitar uso de sprays e pastilhas Postura corporal alinhada ao corpo de forma a não sobrecarregar os músculos cervicais
Professora em sala de aula da rede pública de ensino: ações simples para poupar a voz podem fazer a diferença
A fonoaudióloga Raquel Aparecida Pizolato, autora da tese: resultados positivos
como postura e relaxamento cervical, respiração, fonação, intensidade e frequência da voz, ressonância e articulação. Durante as sessões, os professores foram orientados a praticar os exercícios na sua rotina de trabalho durante 10 a 15 minutos duas vezes ao dia, além, é claro, de mudar os hábitos, um dos aspectos imprescindíveis para que o resultado seja efetivo. De acordo com Raquel, são ações simples que fazem muita diferença tanto no presente como no futuro, mas que são necessárias para não cair no esquecimento ou deixar de serem feitas por desconhecimento. Algo que chamou a atenção da fonoau-
dióloga na pesquisa foi que o grupo avaliado apresentou intensidade vocal acima do padrão de limite considerado normal. “Os professores acabam incorporando um hábito de falar em uma intensidade forte devido às condições de trabalho. O falar com competição sonora na presença de ruído leva-o a pronunciar as palavras em intensidade forte”, analisa. Segundo Raquel, já existe aprovado pela Câmara dos Deputados um projeto de lei (PLC 11/09) que autoriza o Executivo a instituir o Programa Nacional de Saúde Vocal do Professor nas redes públicas de ensino. O programa prevê a capacitação dos professores, a cada seis meses, por meio de treinamentos teóricos e
práticos, ministrados por fonoaudiólogos com experiência comprovada na área. O objetivo seria orientar e habilitar os profissionais quanto ao uso profissional da voz e aos cuidados com a saúde vocal, além de exames específicos de rotina. “No entanto, a prática da instalação definitiva do programa ainda não está em vigor na maior parte do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, o que poderia ser de grande importância para a prevenção dos problemas da voz nesta categoria”, relata. (R.C.S.)
Publicação Tese: “Programa de saúde vocal para o professor: avaliação, auto-percepção vocal e ação educativa da voz” Autor: Raquel Aparecida Pizolato Orientador: Antonio Carlos Pereira Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) Financiamento: Fapesp
10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
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Painel da semana Representação discente da Pós junto ao Consu - A Secretaria Geral recebe, até 15 de outubro, as inscrições dos estudantes de pós-graduação para composição de sua representação junto ao Conselho Universitário – Consu e Comissão Central de Pós-Graduação – CCPG. Poderão se candidatar à representação todos os alunos regularmente matriculados na pós-graduação que não estejam com a matrícula trancada e não sejam servidores públicos da Unicamp. As inscrições devem ser feitas diretamente na Secretaria Geral, Prédio da Reitoria II e as eleições serão realizadas entre os dias 7 e 8 de novembro. Informações adicionais poderão ser obtidas junto à Secretaria Geral da Unicamp pelo ramal 1-4949, ou ainda, através do site www.sg.unicamp.br. Semana Nacional de Ciência e tecnologia - Com o tema “Economia Verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza”, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) acontece entre 15 e 21 de outubro. Na SNCT serão promovidas e estimuladas em todo o país, atividades de difusão e de aproximação social de conhecimentos científicos e tecnológicos relacionados com o tema, que foi escolhido em função de ser o tema da Conferência Rio+20, evento organizado pela Organização das Nações Unidas, ocorrido no Brasil, em junho de 2012. Um objetivo da SNCT 2012 será debater em escolas, universidades, comunidades e locais públicos, os diversos aspectos envolvidos no estabelecimento de uma economia verde, bem como os desafios da sustentabilidade nas suas dimensões ambiental, econômica e social. Todos os eventos da SNCT são gratuitos. Para participar, inscrever eventos e esclarecer dúvidas, envie mensagem para o e-mail semanact@mct.gov.br. A SNCT é de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Departamento de Popularização e Difusão de C&T da Secretaria de C&T para Inclusão Social. Outras informações: 61-2033-7826. Palestra com Hilário Franco Jr. - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) recebe, para palestra, o historiador Hilário Franco Jr. (USP). Especialista em Idade Média ocidental, seus interesses estão voltados particularmente para a cultura, a sensibilidade coletiva e a mitologia daquele período, bem como para as reflexões teóricas que fundamentam tais pesquisas. O encontro ocorre no dia 15 de outubro, às 14 horas, no Anfiteatro do IEL. A organização é do professor Carlos Eduardo O. Berriel. Mais informações: 19-3521-1520. n Artes em Espaço Aberto e Urbano - O Centro
de Memória Unicamp (CMU) recebe a Mostra “Artes em Espaço Aberto e Urbano”, em espaço expositivo do Ciclo Básico I, até 15 de outubro, com visitação e horários livres. A mostra apresenta os projetos finais elaborados pelos alunos da Disciplina ART-224 – Objeto e Espaço na Arte Contemporânea, que integra o Curso de Especialização em Artes Visuais do Instituto de Artes da Unicamp. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2012/09/17/ cmu-recebe-mostra-de-artes-visuais Rousseau e as artes - Dentre as festividades em torno do tricentenário de nascimento do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, o Instituto de Artes (IA) da Unicamp e o Consulado Geral da Suíça realizam o colóquio Rousseau e as artes, dia 16 de outubro, às 13h30, no IA. Nos dias 17 e 19, o evento ocorre na Pinacoteca do Estado – São Paulo. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site http://www.iar.unicamp.br/dap/ rousseau. Para abordar a complexa relação do pensador com o mundo artístico, foram convidados pesquisadores brasileiros e internacionais nas áreas de História da Arte, Musicologia e Filosofia, como Benjamin Pintiaux (École de Danse de l’Opéra de Paris), Christine Siegert (Universität der Künste, Berlim), Luciano Migliaccio (FAU-USP), Luiz Marques (IFCH-Unicamp), Pierpaolo Polzonetti (University of Notre Dame), Marie-Pauline Martin (Université de Provence), Peter Schneeman (Universität Bern), Elaine Dias (Unifesp) e Maria Constança Pissarra (PUC-SP), entre outros especialistas. Com inscrição gratuita, a programação terá mesas de discussão (com tradução simultânea); uma palestra-concerto, com peças de Bodin de Boismortier, F. Couperin, Jean Xavier Lefèvre, G. Ph. Telemann e J. M. Leclair; e a exibição de curtas-metragens da série La Faute à Rousseau. O evento terá tradução simultânea. O IA fica na Rua Elis Regina 50, no campus da Unicamp. Mais informações pelo e-mail paulokuhl@iar.unicamp.br ou telefone 19-3521-7194. “E por falar em Tradução” – Encontro acontece de 16 a 18 de outubro, no Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Na conferência de abertura, às 9h10, o professor José Yuste Frías, da Universidade de Vigo (Espanha), aborda o tema “Vivir para-traducir: experiencias profesionales, docentes e investigadoras en paratraducción”. O evento é organizado pelo Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada do IEL, pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução (FFLCH-USP). Programação: http://ddveras.webs.com. Mais detalhes: 19-3521-1506. Aluno-artista - No dia 16 de outubro, às 10 horas, na Sala do Conselho Universitário (Consu), acontece a cerimônia de apresentação dos alunos selecionados para a 3ª edição do Programa Aluno-artista e o lançamento do catálogo da 2ª edição. Formas de avaliação impactam a aprendizagem? O Workshop será realizado no dia 16 de outubro, às 14 horas, no Anfiteatro 3 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O evento é direcionado para a área de Saúde e Biológicas. A proposta do encontro é compartilhar experiências, indagar-se sobre procedimentos de avaliação de conteúdos e aspectos relacionados à aprendizagem. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19- 3521 7990. Dia Mundial da Alimentação - Para comemorar a data, a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) organiza no dia 16 de outubro, duas palestras e o lançamento de um livro. Às 14h30, no Salão Nobre da unidade, a professora Delia Rodriguez-Amaya fala sobre segurança alimentar. Já a palestra “Dietas funcionais: desafios para o Século XXI” será proferida pelo professor Waldemiro Carlos Sgarbieri. Na sequência, Sgarbieri lança o livro “Inovação nos processos de obtenção, purificação e aplicação de componentes do leite bovino” (Editora
Atheneu). Organização: Direção da FEA. Mais informações pelo e-mail babia@fea.unicamp.br Oficina Coletiva do PROAF - O Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), através de seu Programa de Autonomia Financeira, promove uma oficina coletiva aos funcionários da Unicamp. Para garantir a participação, os interessados devem entrar em contato com o Serviço Social do GGBS. O evento será realizado no dia 18 de outubro, às 9 horas, na Sala Multiuso da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail camila.campos@ reitoria.unicamp.br ou telefone 19-3521-5098. Ex Mai Lovi - No dia 18 de outubro, às 10 horas, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), acontece a apresentação da peça de teatro “Ex Mai Lovi” e o lançamento do mascote do Setor de Patrimônio da FCM. Os eventos fazem parte do projeto de conscientização e sensibilização das equipes quanto aos cuidados dos bens patrimoniais da faculdade. A peça é encenada por funcionários da FCM. A direção e texto é de Sérgio Roberto Virgílio. O vencedor do concurso do mascote ganhará um prêmio em dinheiro. No total, treze trabalhos foram apresentados. Realização: Diretoria de Suprimentos, Setor de Patrimônio e CSA Rh da FCM, com apoio da Assessoria de Relações Públicas, Diretoria da FCM e Agência de Formação Profissional Unicamp (AFPU). Outras informações: 19-3521-8968. Saúde Mental do Estudante Universitário - 1º Simpósio será realizado no dia 19 de outubro, às 8h30, no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O evento comemora os 25 anos do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (Sappe), órgão da Pró-Reitoria de Graduação (PRG). Participam conferencistas que têm trabalhos relevantes nos cenários brasileiro e internacional, no que diz respeito à atenção à saúde mental dos estudantes universitários. A temática do encontro será direcionada aos profissionais envolvidos com o cotidiano dos alunos universitários e que procuram conhecer melhor os aspectos envolvidos no desenvolvimento de saúde mental da vida dos estudantes com o objetivo de identificar e lidar com esses aspectos. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.prg.unicamp.br/sappe/simposio ou telefone 3521-4187. Conferência com Jean-Michel Vivès - No dia 19 de outubro, às 14 horas, no Anfiteatro do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Mèdicas (FCM), o professor Jean-Michel Vivès (Nice – França) profere a conferência “Avoz na psicanálise: como a música ensina o psicanalista?”. A organização é do Laboratório de Psicopatologia Fundamental. Site do evento: http:// www.fcm.unicamp.br/fcm/fcm-hoje/eventos/2012/voz-napsicanalise-como-musica-ensina-o-psicanalista 3ª Volta da Unicamp – Corrida se inicia às 8 horas, no Estacionamento da Biblioteca Central César Lattes. Agrega num mesmo evento, três eixos de ações educacionais: promover saúde, fazer ciência e alertar para questões de sustentabilidade. Informações e inscrições no link www.sportrunner.com.br ou e-mail unicamp@ sportrunner.com.br.
Teses da semana Alimentos - “Capacidade de desativação de espécies reativas de oxigênio por polpas de frutas congeladas” (mestrado). Candidata: Lizziane Cynara Vissotto. Orientadora: professora Adriana Zerlotti Mercadante. Dia 18 de outubro, às 10h30, no Anfiteatro do Departamento de Ciência de Alimentos da FEA. Artes - “O corpo e a Casa: etnografias de jovens
infratores no contexto socioeducativo” (mestrado). Candidata: Tatiana Molero Giordano. Orientadora: professora Francirosy Campos Barbosa Ferreira. Dia 19 de outubro, às 10 horas, na CPG/IA. Computação - “On genome rearrangement models” (doutorado). Candidato: Pedro Cipriano Feijão. Orientador: professor João Meidanis. Dia 16 de outubro, às 9 horas, na sala 53 do prédio IC-02.
Livro
da semana
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Segurança e saúde do trabalhador em serviços de limpeza urbana: estudo de casos” (doutorado). Candidato: Luiz Carlos Alves da Luz. Orientadora: professora Eglé Novaes Teixeira. Dia 15 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Planejamento hidrelétrico: otimização multiobjetivo e abordagens evolutivas” (doutorado). Candidata: Priscila Cristina Berbert. Orientador: professor Akebo Yamakami. Dia 19 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. - “Processos alternativos para micro e nanotecnologia” (doutorado). Candidato: Cleber Biasotto. Orientador: professor José Alexandre Diniz. Dia 19 de outubro, às 14 horas, no prédio da CPG/FEEC. Engenharia Química - ”Estudo da produção de ácido hialurônico por cultivo de “Streptococcus zooepidemicus” em espuma de poliuretano” (mestrado). Candidato: Felipe Augusto Ferrari. Orientador: professor Maria Helena Andrade Santana. Dia 16 de outubro, às 10 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ. - “Análise técnico-econômica em estágios preliminares de projeto de processos - estudo de caso: planta de ácido nítrico” (mestrado). Candidato: Camilla Abbati de Assis. Orientador: professor Roger Josef Zemp. Dia 19 de outubro, às 14 horas, na sala de aula PG05 (bloco D) da FEQ. Geociências - “Intervenções urbanas e representações do centro da cidade de Campinas/SP: convergências e divergências” (doutorado). Candidata: Melissa Ramos da Silva Oliveira. Orientadora: professora Maria Tereza Duarte Paes. Dia 15 de outubro, às 13h30, no Auditório do IG. - “A atuação do sistema nacional de defesa civil das enchentes do município de Capivari - SP” (doutorado). Candidato: Orlando Leonardo Berenguel. Orientadora: professora Arlêude Bortolozzi. Dia 16 de outubro, às 9h30, no Auditório do IG. Humanas – “Entre razão e fruição: formação e presença da Segunda Revolução Científica no Brasil (XVIII e XIX)” (doutorado). Candidato: Marcelo Fetz. Orientadora: professora Leila da Costa Ferreira. Dia 16 de outubro, às 9 horas, na sala da Congregação do IFCH. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Modificações ao tensor de Ricci e aplicações” (mestrado). Candidato: Yamit Yesid Yalanda Muelas. Orientador: professor Diego Sebastian Ledesma. Dia 19 de outubro, às 15 horas, na sala 253 do Imecc. Medicina - “Análise computacional de fibras elásticas e colágenas da aorta humana” (doutorado). Candidata: Gislaine Vieira Damiani. Orientador: professor Konradin Metze. Dia 15 de outubro, às 13 horas, no Anfiteatro da Pós-graduação da FCM. Química - “Síntese e caracterização de nanopartículas de Sílica contendo Íons cobre(II) para aplicação agroquímica” (mestrado). Candidata: Tábita Cristina Belini. Orientador: professor Fernando Aparecido Sigoli. Dia 18 de outubro, às 14 horas, no Miniauditório do IQ.
A forma do meio Livro e narração na obra de João Guimarães Rosa Autora: Clara Rowland ISBN: 978-85-268-0943-7 Coedição: Edusp Ficha técnica: 1a edição, 2011; 304 páginas; formato: 16 x 23 cm Área de interesse: Crítica literária Preço: R$ 50,00 Sinopse: A forma do meio é um estudo sobre a obra de Guimarães Rosa que enfrenta em novos termos problemas decisivos e complexos como a relação da forma do livro e do romance com a oralidade e a narrativa tradicional. Isso chegaria a sublinhar a importância deste trabalho notável. Mas há ainda a enorme inteligência da análise de uma questão, a do livro, que, sendo crucial na obra de Rosa, está praticamente ausente na sua fortuna crítica. Não se trata apenas de mais um ensaio sobre Rosa: não só não recusa a tradição de leitura, como nela se integra de modo que obriga a repensá-la radicalmente. É, em suma, um daqueles maravilhosos sobressaltos que fazem o destino da grande literatura. (Abel Barros Baptista) Autora: Clara Rowland é professora no Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pesquisadora do Centro de Estudos Comparatistas da mesma instituição. Desenvolve o seu trabalho nas áreas da literatura brasileira e da literatura comparada.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Unicamp tem 9 indicações no
Prêmio Jabuti 2012 A lista de indicados para a final do Jabuti 2012, divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), tem pelo menos nove autores com vínculo à Unicamp. Os nomes estão distribuídos em seis categorias. A apuração da segunda fase, quando serão indicados três finalistas de cada categoria, acontece em 18 de outubro, e a premiação está agendada para 28 de novembro na Sala São Paulo. O livro A Sociologia e o Mundo Moderno, do professor da Unicamp Octavio Ianni, falecido em 2004, está entre os indicados na categoria Ciências Humanas. A obra de 406 páginas foi publicada pela Editora Civilização Brasileira. A Editora da Unicamp é indicada nas categorias Ciências Exatas e Projeto Gráfico. Na primeira, o indicado é o livro Eletrodinâmica de Ampére, de André Koch Torres Assis e João Paulo Martins de Castro Chaib. Assis foi contemplado com um Jabuti na edição de 1996 pelo livro Eletrodinâmica de Weber, atualmente esgotado no catálogo da Editora da Unicamp e adotado em cursos de diferentes universidades.
A coedição com a Editora Ateliê A Divina Comédia, de Dante Alighieri, está entre os finalistas da categoria Projeto Gráfico. Também na área de Exatas, o júri da primeira fase indicou o livro Controle Linear de Sistemas Dinâmicos: teorias, ensaios práticos e exercícios, da Editora Blucher, de autoria do professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, José Cláudio Geromel. Ainda nessa categoria, concorre o professor do Instituto de Física Gleb Wathagin (IFGW) Marcus de Aguiar, com o título Tópicos da Mecânica Clássica, pela Editora Livraria da Física. Entre os indicados da categoria Artes, está o título “No mar – at sea”, da professora Luise Weiss, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. João Batista Melo, doutor em multimeios pelo mesmo instituto, é indicado na categoria Comunicação com a obra Lanterna Mágica: infância e cinema infantil, publicado pela Civilização Brasileira. Trata-se do primeiro livro sobre cinema infantil, tema abordado na dissertação de Melo no
Capa de “Divina Comédia”, obra finalista na categoria Projeto Gráfico
IA (confira reportagem no Jornal da Unicamp). Pela Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, concorre ao prêmio o professor da Faculdade de Ciências Médicas Celso Dario Ramos, na categoria Ciências da Saúde, com a obra PET e PET/CT em Oncologia. Vilma Arêas, professora do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), está entre os indicados da categoria Contos e Crônicas, com a obra Vento Sul, editada pela Companhia das Letras. Do Departamento de Linguística do mesmo instituto de Vilma, o professor Trajano Vieira é indicado na categoria Tradução, com a obra Odisseia, pela Editora 34. Trajano também já esteve entre os finalistas do prêmio na mesma categoria, na edição de 2007, com o título Xenofobias: releituras de Xenófanes, publicação da Editora da Unicamp e da Imprensa Oficial do Estado. Os indicados à final de 28 de novembro podem ser conferidos na página da CBL. Em 2008 recebeu o Jabuti com Agamêmnon pela editora Perspectiva. (Maria Alice da Cruz)
Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
Revolução Científica desencadeada no século XVII trouxe mudanças significativas na estrutura do pensamento, culminando no estabelecimento do método científico. Esta mudança determinou que o homem passasse a ver a natureza como objeto de sua ação, do seu conhecimento e sua tarefa passou a consistir em representá-la através de hipóteses que pudessem ser experimentadas para certificação da sua validade. Deixaram de ser consideradas as explicações teológicas e metafísicas, o que levou Kepler e Galileu a choques com a cosmogonia e a filosofia de Aristóteles, que serviam de base para o pensamento teológico. Diante desse quadro, chamar de Primeira Revolução Científica aquela que se desenvolveu a partir do século XVII e que perdura até nossos tempos – que teve como expoentes fundadores, entre outros, Descartes, Galileu e Copérnico – e considerar o movimento que surgiu como oposição àquela como Segunda Revolução Científica – que permeou durante apenas 60 anos as últimas décadas do século XVIII e as primeiras do século XIX e passou a ser denominada de Ciência Romântica – certamente provocará uma reação irada de grande parte dos homens de ciências que consideram esta última uma negação da ciência, porque entendem que os eventos que plasmaram a ciência moderna, a Revolução Científica, são únicos e perfeitamente estabelecidos. Mesmo assim, particularmente em países centrais, existem pesquisadores preocupados em resgatar os elementos da Ciência Romântica por considerarem estratificadas as visões que permeiam a ciência institucionalizada. Em tese desenvolvida junto ao Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, orientada pela professora Leila da Costa Ferreira, o pesquisador Marcelo Fetz apresenta uma interpretação da formação da ciência brasileira que escapa ao determinismo da via “institucionalista”, que compreende a trajetória do fortalecimento da atividade científica no país apenas a partir da criação de institutos, museus e universidades, considerando as atividades anteriores de “pequenos feitos científicos”. No estudo, Fetz defende que a formação da ciência no Brasil em sua fase pré-institucional, apresenta uma organização singular em função da realidade histórica do país e do contexto cientifico da época. Neste particular, ele considera que, “a exemplo dos contextos de formação da atividade científica nos países centrais da Europa como Inglaterra e Alemanha, houve a aproximação da atividade científica com as atividades sociais. No caso brasileiro, contudo, diferentemente dos europeus, a recepção e a difusão de um modo do pensamento e da vida científica foram realizados com o auxílio dos círculos literários e artísticos, à época, mais consolidados que os científicos”. Com efeito, no início do século XIX, havia no Brasil revistas dedicadas à literatura e às artes que publicavam também matérias científicas. O pesquisador procura mostrar que a origem do desenvolvimento científico no Brasil decorreu das influências daquela que seria a Segunda Revolução Científica, fundada em países centrais da Europa, de que se originou a denominada ciência romântica, estilo de pensamento contemporâneo ao romantismo literário europeu e impulsionado pela ascensão da burguesia da época. A pesquisa compreende a época que vai da primeira viagem do Capitão Cook (1768) à primeira viagem de Darwin a bordo do Beagle (1831), período em que ocorreu o fortalecimento da concepção romântica de ciência na Europa e a introdução de atividades científicas no Brasil. O pesquisador considera que, em função da conjuntura histórica que marca a abertura cultural brasileira com a chegada da corte de Dom João VI no ano de 1808 ao Brasil, a presença desse estilo de pensamento científico assume valor histórico e sociológico fundamental para a interpretação da formação do pensamento científico brasileiro. Financiamento da Fapesp permitiu que o autor realizasse pesquisas durante seis meses na Universidade do Mississipi, EUA.
Por uma
ciência romântica
Foto: Reprodução
do os princípios dessa ciência romântica, com descrições e análises que adotavam a mensuração, a medição e a observação empírica da natureza, particularmente os elementos da fauna e da flora, mas se utilizavam de “sentimentos” e “sensações” como critério de avaliação da “força da Natureza”, de sua “vitalidade orgânica” e de sua riqueza natural”, diz ele. Estes princípios de organização do saber pretendiam ir além do entendimento empregado por homens de ciência que pautavam a análise da natureza pela separação entre sujeito e objeto. Segundo Fetz, os exemplos canônicos do estilo de conhecimentos científicos da ciência romântica teriam sido as obras finais de Humboldt, em que o naturalista utiliza dois recursos para a compreensão da natureza. O de “sentimento da natureza”, comunicado nas narrativas que expressam os sentidos subjetivos do naturalista, e o “quadro da natureza”, revelado através de palavras ou pinturas de paisagem que procuram dar uma visão panorâmica da natureza. Esse tipo de procedimento característico da ciência romântica é visto em geral como um envolvimento indevido da ciência com esferas sociais que não fazem parte da atividade científica, casos das interações entre ciência e literatura e entre ciência e artes pictóricas, e considerado um retrocesso, uma anticiência, devido aos excessos subjetivos empregados pelo naturalista. O autor ressalva porém que “se consideradas as novas abordagens da compreensão da atividade científica, especialmente na historiografia e na sociologia da ciência, fica difícil separar o que é daquilo que não é ciência. As contribuições ao desenvolvimento científico seriam muito mais complexas do que aquelas que reconhecem a ciência como uma esfera hermeticamente isolada da sociedade e dos demais campos culturais. Trata-se, portanto, de trazer ao debate alguns elementos ativos do mundo científico que não são tradicionalmente considerados como contribuição ao fortalecimento da atividade científica”.
NO BRASIL
Frontispício da Encyclopédie de Diderot e D’Alembert (1772), com desenho de Charles Nicholas Cochim e gravura de Benoît Louis Prévost. No centro, a figura da Verdade; à sua direita, Razão e Filosofia; à sua esquerda, a Imaginação. A gravura destaca a divisão social do trabalho científico
tura e a pintura passaram a ser utilizadas pelos naturalistas da ciência romântica. A literatura é encarada então como um meio ideal da comunicação, particularmente a poesia. Paradigma desse tipo de escrita seria a obra Templo da Natureza (Temple of the Nature), de Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin, em que a tese sobre a origem das espécies surge na forma de poesia. Na pintura, a paisagem é utilizada como recurso para a síntese geral dos elementos componentes da natureza. Para o autor, esse estilo de ciência esteve fortemente presente no Brasil da primeira metade do século XIX através de
viajantes naturalistas estrangeiros, passando a ciência romântica a fazer sentido no cenário de fortalecimento de uma agência científica nacional, pois sua organização epistemológica e metodológica conferia à literatura e à pintura de paisagem um importante papel no entendimento da natureza. Na tese são descritas e analisadas com maiores detalhes as obras de Spix e Martius, Eschwege e Wieud-Neued, sobretudo as narrativas de viagem desses naturalistas. “Esses viajantes, notadamente aqueles de origem germânica ou saxônica, desenvolviam suas pesquisas, segunFoto: Antonio Scarpinetti
O QUE É
Para os que compartilhavam os princípios da ciência romântica, o pensamento nascido da primeira revolução científica teria sido incapaz de compreender todas as faces da natureza. Suas formas de abordagem e comunicação conseguiriam entender apenas parcela do mundo, tornando-o distante dos homens comuns e difundindo uma visão de natureza baseada na fragmentação de suas partes componentes, de que é exemplo uma espécie biológica isolada da paisagem total que a envolve. Em reação a essa particularização, a litera-
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O pesquisador constata que no Brasil a presença desse estilo de conhecimento elaborado com o auxílio da fruição artística que, no entanto, não deixava de lado a observação empírica e as medições quantitativas, deu-se com base nas narrativas das viagens científicas dos naturalistas a partir da primeira metade do século XIX. Para esses viajantes, a natureza brasileira seria o exemplo mais bem acabado da força e da beleza exuberante do mundo natural. A natureza, com sua beleza e exuberância, seria adotada como um dos elementos centrais do oitocentista brasileiro e o seu estudo seria transformado em uma das principais vocações da ciência nacional, na opinião de Marcelo Fetz. Para ele, a Segunda Revolução Científica - expressão cunhada no final do século XVIII pelos escritores ingleses William Wordsworth e Samuel Coleridge – considera que o mundo é dinâmico e o sujeito inseparável do objeto. O pesquisador faz parte do objeto de pesquisa e é tão dinâmico quanto o mundo. A saída para gerar ciência nesse contexto seriam os argumentos literário, poético, artístico. Esse dinamismo é comunicado a partir de uma linguagem específica, além da linguagem científica, que seria capaz de comunicar uma natureza viva, diferentemente do contexto anterior em que a natureza fria, morta é incapaz de gerar qualquer envolvimento com o homem. Qual o sentido dessa postura hoje? A professora Leila da Costa Ferreira reconhece que essa é uma visão científica datada. Para ela, a tese é importante do ponto de vista da sociologia do conhecimento ao mostrar que a ciência não começa com o processo de sua institucionalização, mas é anterior a ele. Especificamente no caso brasileiro, ela afirma que o trabalho mostra que, mesmo antes de 1830, já havia o desenvolvimento de uma ciência da natureza. Fetz conclui: “Procurei trazer para o debate esse contexto pouco científico ou até anticientífico. Já há duas décadas está ocorrendo a intromissão de elementos não científicos na historiografia da ciência. Nessa chamada transdisciplinaridade existe uma grande dificuldade no estabelecimento de critérios de demarcação entre o que é e o que não é ciência, ou até que ponto ela se move por si só ou ela necessita de outros campos de atuação humana para se construir”.
Publicação
A professora Leila da Costa Ferreira, orientadora, e Marcelo Fetz, autor da tese
Tese: “Entre a razão e a fruição: formação e presença da Segunda Revolução Científica no Brasil (XVIII e XIX)” Autor: Marcelo Fetz Orientadora: Leila da Costa Ferreira Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
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Chabloz Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 Fotos: Reprodução / Divulgação
Na sequência, três dos cartazes concebidos por Chabloz para o Semta e a capa do primeiro breviário criado pelo artista para ser distribuído a potenciais migrantes
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
Chabloz em cartaz
artista suíço Jean-Pierre Chabloz já estava morando no Brasil quando recebeu o convite para atuar como desenhista publicitário no Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta), órgão estatal do governo Getúlio Vargas. Entre janeiro e julho de 1943, ele desenvolveu vasto material de propaganda, cujo objetivo imediato parecia ser arregimentar nordestinos para trabalhar na reativação dos seringais amazônicos, os chamados “soldados da borracha”. O programa empreendido pelo Estado Novo procurava atender à necessidade político-econômica de garantir a produção de borracha aos países aliados na Segunda Guerra Mundial, uma vez que os japoneses controlavam a quase totalidade dos seringais asiáticos. A dissertação “Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o Semta”, de Ana Carolina Albuquerque de Moraes, restaura parte da história do período com o objetivo de analisar, como documentos visuais, quatro cartazes que o artista produziu para a “Campanha da Borracha”. A análise do material de propaganda criado por Chabloz extrapola os campos das artes visuais e da publicidade/propagan- Obra feita por Chabloz em 1943, ano de sua chegada ao Ceará, da, para englobar também e que figurou na primeira exposição individual do artista no Estado questões de história social e de história econômica. “Além do ço do período do Semta e correspondências. valor estético, os cartazes constituem Também realizou entrevistas com a filha do documentos visuais bastante repreartista, Ana Maria Chabloz Scherer, e o diretor sentativos da ideologia dominante do MAUC, Pedro Eymar Barbosa Costa. A disem um período significativo tanto da sertação apresenta três frentes de discussão: o artista, o contexto histórico e os cartazes. história do Brasil como da história mundial”, avalia. Chabloz estudou na Escola de Belas-Artes de Genebra (1929-33), na Academia de BelasEm relação à Artes de Florença (1933-36) e na Academia Campanha, não só Real de Belas-Artes de Milão (1936-38). Em a migração não foi 1940, por causa da Segunda Guerra Mundial, desenvolvida com veio para o Brasil, aportando primeiramente idoneidade como no Rio de Janeiro. No Ceará, a partir de 1943, a produção de borrealizou atividades como artista plástico, múracha também não sico, professor, conferencista, crítico de arte e foi satisfatória. Os fomentador cultural. Estados Unidos foram perdendo A pesquisadora ressalta a persistência do interesse pelo proartista ao se deparar com a incipiente vida culgrama e deixando tural da Fortaleza da década de 1940. “Ele orde injetar dinheiganizou exposições, foi professor tanto de deAna Carolina Albuquerque de ro, o que piorava senho como de violino, colunista do jornal O Moraes, autora da dissertação: as condições dos Estado, conferencista, além de alavancar outras analisando os cartazes, migrantes e de carreiras”. O papel de fomentador cultural é a trajetória do artista seus dependentes e o contexto histórico dividido com o grupo de artistas com os quais diretos, assistidos o suíço passou a atuar, como, por exemplo, pelo Semta com verba-norte-ameriMário Baratta, João Maria Siqueira, Antonio cana. Em 1946, com o final da GuerBandeira, Aldemir Martins e Barboza Leite. ra, foi instaurada a CPI da Borracha. Por quatro períodos na cidade, entre a Para desenvolver o estudo, Ana década de 1940 e os anos de 1980, quando Carolina mergulhou na documentamorreu, Chabloz deixou sua herança. A ponção do arquivo Jean-Pierre Chabloz to de influenciar integrantes das novas gerano Museu de Arte da Universidade ções, como a pesquisadora da Unicamp, que Federal do Ceará (MAUC), espedesde criança ouvia falar no artista. Seu tracialmente em dois diários de servibalho acadêmico é o primeiro a analisar, em
profundidade, a atuação de Chabloz como desenhista publicitário da “Campanha da Borracha”. O trabalho também documenta as relevantes iniciativas do suíço em prol das artes no Ceará.
QUATRO PEÇAS
“Mais borracha para a vitória”; “Vai também para a Amazônia, protegido pelo Semta”; “Vida nova na Amazônia”; e “Rumo à Amazônia, terra da fartura” são, na opinião da pesquisadora, os mais ambiciosos projetos que Chabloz desenvolveu no órgão. Os layouts dos cartazes eram enviados para o Rio de Janeiro, então capital do país, para impressão por meio da litografia. “Os litógrafos copiavam a mão os desenhos para elaborar as matrizes e, posteriormente, faziam a impressão em papel, o que influenciava o resultado final e envolvia uma questão de autoria”, explica Ana Carolina. Nos documentos pesquisados por ela, consta que Chabloz não ficou satisfeito com a impressão dos dois primeiros cartazes. “Ele estava preocupado em criar volumes, por meio de jogos sutis de luz e sombra. Ao se deparar com as versões finalizadas dessas imagens, no entanto, considerou que resultaram planas, lisas, sem vibração colorida”. O artista desejava que os seus cartazes fossem reproduzidos mecanicamente, por processo fotolitográfico. A pesquisadora comparou a estética dos
quatro cartazes com 24 layouts do acervo pesquisado, relacionados, sobretudo, ao período de formação de Chabloz na Europa, entre as décadas de 1920 e 1930. “De modo geral, percebi nos layouts europeus uma maior preocupação com a experimentação formal. O artista estava em sintonia com tendências então em voga na Europa. Ele ‘flertou’ com a vertente de art déco reinante nas artes gráficas francesas da época. Naquele período, Chabloz dava muito valor à simplificação das formas, à aplicação de cores no interior de zonas claramente definidas e à tendência à bidimensionalidade dos motivos”. Quando vem para o Brasil, Chabloz adota uma abordagem diferente, mais convencional e didática, tornando-se mais tradicional na abordagem tanto dos motivos quanto das letras. “Ele se preocupa com a obtenção de volume nas formas, com os contrastes de luz e sombra, com a plasticidade dos motivos, distanciando-se das pesquisas de caráter mais nitidamente formalista para adentrar uma abordagem mais voltada ao pronto reconhecimento dos motivos e à rápida assimilação da cena representada”. Para a pesquisadora, uma hipótese para esta mudança seria a proposta de atingir melhor a população de Fortaleza na década de 1940, pouco conectada com as experimentações formais de correntes então consideradas “modernas”. Outra possibilidade de investigação consiste em avaliar o quanto o artista dialogou, ainda na Europa, com o contexto do “retorno à ordem”. A dissertação de Ana Carolina é o primeiro trabalho acadêmico especificamente direcionado à compreensão de aspectos da arte de Chabloz, tendo sido concluída no momento em que o nome do artista tem sido bastante valorizado. “Houve, em 2010 e 2012, duas importantes exposições de documentos pertencentes ao arquivo de Chabloz no MAUC, acervo que, a partir deste ano, está sendo digitalizado”, afirma. A recuperação da história dos cartazes do Semta também é uma reflexão sobre a ideologia dominante do Estado Novo. “Penso ter conseguido começar a construir uma história de Chabloz como cartazista, e, dentre o material que ele produziu, talvez os cartazes da Campanha da Borracha sejam aqueles envolvidos em um contexto histórico mais significativo”.
Publicação Dissertação: “Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o SEMTA”. Autora: Ana Carolina Albuquerque de Moraes Orientação: Maria de Fátima Morethy Couto Unidade: Instituto de Artes (IA)