JU543

Page 1

Foto: Antoninho Perri

3 Débora Jeffrey

analisa a progressão continuada

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012 - ANO XXVI - Nº 543 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti

Descompasso no

CICLO DAS ÁGUAS

4

Estudo mostra que exploração desenfreada, lacunas na legislação e falta de gestão ambiental ameaçam mananciais de água mineral no país.

5 A cirurgia do trauma, dos 6 e7 acidentes à telemedicina Técnica é alternativa para 9 esterilizar material hospitalar Sistema pode viabilizar 11 prédio com ‘energia zero’ Por um espaço público 12 aberto e comunitário Pacote de medidas agrega qualidade à vida estudantil

2 Congresso de Iniciação reúne 1,4 mil trabalhos


2

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

Os primeiros passos na ciência XX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp reunirá 1.465 trabalhos no Ginásio da FEF Foto: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Unicamp promoverá entre os dias 24 e 26 de outubro o XX Congresso Interno de Iniciação Científica, organizado pelas pró-reitorias de Pesquisa e de Graduação. Neste ano, o evento apresentará 1.465 trabalhos, contra 1.300 em 2011. A edição de 2012 terá, pela primeira vez, a participação de alunos do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), curso oferecido pela instituição exclusivamente a egressos de escolas públicas de Campinas. A cerimônia de abertura do Congresso será no dia 24, a partir das 14h, no Centro de Convenções da Universidade. A solenidade contará com a presença do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva. Os trabalhos, na forma de painéis, serão expostos no Ginásio da Faculdade de Educação Física (FEF), divididos por áreas do conhecimento ao longo dos três dias. De acordo com o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, professor Ronaldo Aloise Pilli, ao alcançar a sua vigésima edição, o Congresso demonstra a consolidação de um programa de enorme sucesso. “A iniciação científica tem impactos positivos em várias áreas de atuação da Universidade. Ela complementa de maneira ímpar a formação dada aos alunos em sala de aula, contribui para reduzir o índice de evasão em algumas carreiras e prepara esses estudantes para a transição para a pós-graduação. O jovem que passa por essa experiência sem dúvida alguma amplia a sua capacidade de resolver problemas e de criar hipóteses de trabalho, que serão posteriormente testadas em laboratório”, relaciona. Tão importante quanto destacar a progressiva ampliação do número de trabalhos apresentados no evento, conforme o próreitor de Pesquisa, é enfatizar o elevado nível dos estudos desenvolvidos pelos alunos de graduação da Universidade, bem como dos participantes do programa Iniciação Científica Júnior (PICJr), oferecido aos estudantes de ensino médio das escolas públicas da região de Campinas. “Ano após anos, temos constatado que os trabalhos têm mantido um excelente padrão de qualidade, muitos deles com forte caráter inovador. Isso se deve ao fato de os autores se inserirem em programas de pesquisa que envolvem, além do docente-orientador, estudantes de mestrado, doutorado e pósdoutorado. Assim, eles são confrontados com temas desafiadores e problemas de reconhecida importância científica”, considera Pilli. Ademais, prossegue o pró-reitor de Pesquisa, os estudantes que participam das atividades de iniciação científica frequentemente se interessam por tomar parte em programas de intercâmbio, iniciativa estimulada pela Universidade dentro do processo de internacionalização intensificado ao longo dos últimos quatro anos. “O que temos identificado é que esses estudantes têm tido muito êxito em instituições estrangeiras, onde o grau de competitividade científica é muito alto”, informa Pilli. Ainda em relação à qualidade dos trabalhos, o pró-reitor de Pesquisa lembra que esse aspecto não é reconhecido somente pelo comitê interno responsável pela seleção dos mesmos. “Também tem sido sistematicamente reafirmada pelo comitê externo, constituído por docentes de importantes instituições de ensino e pesquisa”, diz. A esse propósito, acrescenta o professor Mario Fernando de Goes, assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e um dos organizadores do Congresso, os 20 melhores trabalhos serão premiados com

Painéis expostos na última edição do Congresso Interno de Iniciação Científica: estudos envolvem todas as áreas do conhecimento Fotos: Antoninho Perri

de ensino. “Penso que o momento é de celebração, mas também de homenagear simbolicamente todos aqueles que contribuíram para que a iniciação científica se tornasse uma das ações estratégicas mais exitosas da Universidade”, conclui Pilli.

NOVO LOCAL

O pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Pilli: “Ano após anos, temos constatado que os trabalhos têm mantido um excelente padrão de qualidade, muitos deles com forte caráter inovador”

O assessor da PRP, Mario Fernando de Goes: presença do professor-orientador ao lado do autor do trabalho é fundamental

R$ 3 mil cada um. Além disso, seus autores terão os custos de participação no próximo congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), marcado para julho de 2013, em Recife, arcados pela Unicamp. Outro dado importante em relação à iniciação científica na Unicamp, de acordo com o pró-reitor de Pesquisa, é o número de bolsas relacionadas com o programa. Este ano, por exemplo, foram concedidas perto de 1.400 delas, o que representa uma cobertura de aproximadamente 40% do número de ingressantes nos cursos de graduação. “Trata-se de uma taxa muito representativa. Isso significa que

as chances de o aluno com bom desempenho acadêmico desenvolver um trabalho de iniciação científica na Universidade com bolsa, ao longo da sua permanência na instituição, são muito grandes. Nem todas as universidades oferecem essa taxa de cobertura. E é sabido que as bolsas são um importante mecanismo de manutenção dos estudantes nesse tipo de programa”, pondera Pilli. O dirigente da PRP assinala, ainda, que se for calculada a proporção entre o número de participantes no programa de iniciação científica e o contingente de docentes da Unicamp (1.465 para 1.727), esta chegará a um índice muito próximo de 1. Ou seja, isso representa que cada professor tem pelo menos um orientando. “É uma excelente média, que reflete a vocação da Unicamp em promover a pesquisa desde a graduação. É um caso raro no cenário nacional e raríssimo no internacional, visto que poucos países têm programas de iniciação científica tão bem estruturados quanto o do Brasil. Não por outra razão, sempre que recebemos delegações estrangeiras na Universidade, os visitantes demonstram surpresa com a experiência brasileira nessa área”, diz Pilli. A presença do presidente do presidente do CNPq na cerimônia de abertura do XX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, avalia o pró-reitor de Pesquisa, é um reconhecimento ao trabalho que a Universidade vem desenvolvendo ao longo das últimas duas décadas nesse segmento

De acordo com o professor Mario Fernando de Goes, assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e um dos organizadores do XX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, este ano a exposição dos painéis não será no Ginásio Multidisciplinar porque o espaço está passando por reformas. Assim, a mostra será transferida para o Ginásio da Faculdade de Educação Física (FEF). “Por causa do número de trabalhos, e para facilitar a visitação do público, nós dividimos a exposição dos painéis em três dias. No dia 24, a partir das 15h30, as pessoas poderão conhecer os estudos das áreas de Exatas e Humanas (536 painéis). No dia 25, será a vez dos trabalhos de Artes e Biológicas (516). No último dia, estarão expostos os da área de Tecnológicas (413)”, elenca. Os trabalhos dos participantes do PICJr também estarão expostos ao longo dos três dias. Goes observa que um ponto importante do Congresso é a presença do professor-orientador ao lado do autor do trabalho. Segundo ele, além de prestigiar e dar mais tranquilidade ao orientando, a participação do docente é levada em conta pelo comitê externo que avalia o evento. “De fato, esse aspecto é muito importante tanto para os participantes quanto para a instituição. Nós pedimos aos professores que porventura não possam estar presentes ao evento, para que entrem em contato conosco na PRP para indicarem seus substitutos”, acrescenta o pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Aloise Pilli. Além da exposição de painéis, o Congresso contará com outras atrações. Durante a cerimônia de abertura haverá a apresentação da banda Viva Trio. No dia 25, a partir das 13h, no Auditório I do Centro de Convenções, a Agência de Inovação Inova Unicamp promoverá palestra intitulada “Propriedade Intelectual e as iniciativas de empreendedorismo na Unicamp”. O tema será abordado por Morgana Gleibe Lucio e Beatriz Andrade Florence, respectivamente analista de Propriedade Intelectual e analista de Empreendedorismo da Inova. Detalhes sobre os trabalhos que serão expostos no Congresso podem ser conferidos no site do evento, no seguinte endereço: http://www.prp.unicamp.br/ pibic/congressos/xxcongresso/index.php.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

3 Foto: Antoninho Perri

Progressão continuada é adotada com variados objetivos por diferentes governos, aponta Débora Jeffrey

Uma proposta,

várias interpretações

A professora Débora Jeffrey, da Faculdade de Educação: “A adoção ou não da progressão continuada acaba sendo uma opção dos governos, já que a LDB flexibiliza essa questão”

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

o início de outubro, a professora Débora Cristina Jeffrey, chefe do Departamento de Políticas, Administração e Sistemas Educacionais (Depase) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, recebeu das mãos do governador Geraldo Alckmin o Prêmio Fundação Bunge por um estudo profundo sobre as implicações do regime de progressão continuada, adotado pelo Estado de São Paulo em 1988. Mais do que o prestigiar um trabalho específico, a premiação é o reconhecimento do envolvimento da docente com questões essenciais da educação. Na entrevista que segue, Débora Jeffrey fala sobre os desafios dessa área, com especial atenção às questões dos sistemas de ciclos e da formação de jovens e adultos. Jornal da Unicamp – Em uma de suas palestras, a senhora afirmou que as discussões em torno do sistema de ciclos remontam à década de 20. Que circunstâncias contribuíram para que ele fosse adotado a partir do final da década de 80 no país? Débora Jeffrey – No período de redemocratização do país, houve um movimento em favor da democratização da escola pública. A aprovação da Constituição de 1988 foi fundamental para a conquista do direito à educação. A ideia principal era a de criar oportunidades para que todos pudessem ter garantido o direito ao acesso e permanência na escola. Em 1996, esse direito foi reafirmado com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Assim, os governos tiveram que enfrentar a questão de garantir oferta e permanência. A questão dos ciclos e da progressão escolar acabou entrando nesse debate. É claro que seria necessário se fazer uma análise específica sobre a forma como cada governo trabalhou com esse sistema. JU – A impressão que se tem é que a proposta continua sendo incompreendida por muita gente, não? Débora Jeffrey – Penso que sim. A proposta visa a ampliar a oportunidade educacional, mas vai além. Também pretende repensar a função social da escola e estabelecer uma nova dinâmica de trabalho na escola. Ou seja, o objetivo é superar um modelo seletivo, pautado na meritocracia do indivíduo, para um proces-

so coletivo, que tenha como base o envolvimento da comunidade escolar. JU – Mas, cada governo fez a sua própria interpretação dessas premissas, não? Débora Jeffrey – Sim. Na década de 1980, foram enfatizados os elementos da democracia, da escola como espaço de gestão democrática. Nesse caso, os ciclos representaram uma medida com o propósito de contribuir com a democratização da escola e o combate à exclusão dos alunos deste espaço, nos anos iniciais do primeiro grau. Já na década seguinte, muitos governos adotaram este discurso, mas procurando resolver um problema imediato, que era entendido como uma “disfuncionalidade do sistema”: a reprovação, tendo em vista a regularização do fluxo escolar. Desse modo, tivemos governos que adotaram e interpretaram a medida com base em pressupostos pedagógicos. Outros, acabaram por adotar a proposta de ciclos como parte de um processo de reforma administrativa, com vistas à economia de recursos. JU – Em São Paulo, o sistema de progressão escolar foi adotado há 14 anos. Que avaliação pode ser feita sobre essa experiência? Débora Jeffrey – Apesar de toda inquietação e críticas que a medida suscitou, em nenhum momento se pensou em revogá-la. O objetivo principal, a princípio, era promover a correção do fluxo escolar, e este foi alcançado. A questão da universalização do ensino fundamental também foi atingida, pois hoje temos mais de 98% dos alunos de 6 a 14 anos matriculados. Em relação à questão qualitativa, porém, muitos debates vêm ocorrendo desde 1998. A questão central é: o aluno está aprendendo? Do ponto de vista da cultura escolar, entretanto, a medida não teve um impacto direto. Ainda não foi feita a reflexão de duas questões fundamentais: “que escola temos?” e “que escola queremos?”, pois a política educacional não estimulou isso. JU – A adoção do sistema alterou de fato a estrutura das escolas em São Paulo? Débora Jeffrey – Embora a proposta garanta um tempo maior de aprendizagem, a estrutura da escola paulista não foi alterada, visto que permanece seriada. Ou seja, temos ciclos com progressão, mas o calendário escolar e o projeto pedagógico são seriados. O currículo, por sua vez, é pensando em disciplinas e não de forma interdisciplinar. Numa entrevista que realizei para coleta de dados de uma pes-

quisa já concluída, um professor resumiu essa situação da seguinte maneira: “Temos um sujeito velho com roupa nova, que não se sente confortável nessa vestimenta”. JU – O sistema conta com mecanismos de avaliação, para que problemas possam ser diagnosticados e correções de rumo possam ser adotadas? Débora Jeffrey – O grande problema da medida é justamente a falta de uma avaliação sobre ela. São Paulo tentou fazer uma avaliação em 2001, mas com foco nos alunos e escolas, por meio do Saresp [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo]. Mas, a medida não deu certo. Então, não temos nenhum instrumento para avaliar a proposta. JU – E quanto à avaliação dos alunos? Por muito tempo, dizia-se que eles eram aprovados automaticamente, mesmo que não tivessem aprendido os diversos conteúdos ministrados. Isso confere? Débora Jeffrey – De fato, a promoção automática se configurou, e foi legitimada como uma iniciativa adotada, nos primeiros anos da proposta do regime de progressão continuada, nas escolas estaduais de São Paulo, inclusive com críticas e denúncias de pais, professores, sindicatos e mídia. Porém, é necessário compreender os caráteres pedagógico e político que envolveram a iniciativa paulista e distingui-los, procurando identificar como os governos têm se apropriado do discurso pedagógico que embasa a proposta para justificar o seu propósito como política educacional. JU – Ainda hoje temos notícias de alunos que saem do ensino fundamental sem dominar as operações matemáticas e sem saber interpretar textos simples, mesmo em Estados mais desenvolvidos como São Paulo. Essa questão não tem solução? Débora Jeffrey – Temos uma geração que, infelizmente, se perdeu ao longo do processo de implantação dessas medidas. Além disso, o objetivo principal dessas políticas foi alcançar a universalização da educação, dos 6 aos 17 anos. Mas, quando se pensa em universalização da educação básica, normalmente se desconsidera os problemas vivenciados no ensino fundamental. Os alunos quando chegam ao ensino médio, saem de um sistema de ciclos para adentrarem em uma organização seriada, cuja lógica é outra. No ensino médio, eles não contam mais com mecanismos como reforço e recuperação, apesar de muitas vezes a escola manter simultaneamente ciclos no ensino fundamental e seriação no ensino médio e professores que atuam concomitantemente nesses dois níveis. Isso acaba gerando confusão.

JU – Segundo dados apresentados pela senhora, com base no Censo Escolar de 2009, mais de 60% das matrículas no país ainda estão vinculados ao sistema seriado. Isso tende a mudar? Débora Jeffrey – Penso que a seriação não tende a mudar. Percebemos que muitos municípios que adotaram ciclos estão revogando a experiência. Alguns optam pela revogação por desconhecimento da medida do ponto de vista pedagógico. Então, é mais fácil acabar com a medida do que avaliar a proposta, identificar problemas e estabelecer ações para superar as dificuldades. A adoção ou não da progressão acaba sendo uma opção dos governos, já que a LDB flexibiliza essa questão. JU – A senhora também tem desenvolvido pesquisas em torno da educação de jovens e adultos. Como está esse nível de ensino hoje no país? Débora Jeffrey – Muitos dos alunos excluídos no ensino fundamental estão atualmente matriculados na EJA [Educação de Jovens e Adultos], especialmente jovens entre a faixa etária dos 15 anos aos 17 anos (no ensino fundamental) e acima do 18 anos (no ensino médio), configurando a juvenilização da modalidade, fato que não deveria acontecer e que expressa a dificuldade existente no atendimento dessa população no ensino regular, por parte das políticas educacionais adotadas. Atualmente, temos dois movimentos na EJA: a matrícula de jovens na modalidade, pelo fato de comprometerem o fluxo escolar com várias reprovações no ensino regular, e, consequentemente, os indicadores da escola; e o processo de articulação da EJA com a Educação Profissional, que vem ocorrendo desde o ano de 2007, contemplando a faixa etária dos 18 anos aos 24 anos. Desse modo, a educação desse segmento se encontra em meio a um dilema: garantir a aprendizagem dos jovens alunos excluídos do ensino regular e proporcionar a profissionalização deste grupo, com o intuito de favorecer a empregabilidade dos mesmos. JU – Recentemente, um estudo desenvolvido pela senhora sobre a progressão escolar foi contemplado com o Prêmio Fundação Bunge. A premiação é um estímulo à continuidade das suas pesquisas? Débora Jeffrey – Tive grande alegria em receber o prêmio. Ele é o resultado do meu envolvimento com a educação. Sem dúvida, trata-se de um reconhecimento importante ao trabalho que venho desenvolvendo. Eu me senti muito honrada por representar a Faculdade de Educação e a Unicamp nacionalmente. Penso que o prêmio também serve de estímulo para que eu continue pesquisando as políticas educacionais, a qualidade de ensino e suas implicações na escola, pois há muitos temas a serem investigados.


4

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

Estudo analisa gestão ambiental e direcionamentos legais e institucionais da exploração das águas minerais no Brasil CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

desavisado consumidor de águas minerais e de bebidas industrializadas que as utilizam como insumo – caso das cervejas, refrigerantes, sucos, chás prontos, isotônicos – não se dá conta das implicações decorrentes de sua captação sem limites na fonte e da comercialização em embalagens PET de que fabricantes e empresas usuárias não se julgam responsáveis pelo destino, conforme determina a nova lei de resíduos sólidos, promulgada mais recentemente. Vista como recurso perene, não se cogita que a retirada indiscriminada e sem controle de águas subterrâneas possa comprometer a fonte com o rebaixamento do lençol freático e até causar afundamento do solo. Constituem exemplos dessas ocorrências extremas a Cidade do México, construída sobre um aquífero, cuja exploração sem controle provocou o rebaixamento do subsolo, drástico no afundamento de sete metros da Praça Central. Em vários países, observa-se o rebaixamento dos lençóis freáticos de um a três metros por ano. No Brasil, onde Minas Gerais é o Estado brasileiro que mais processos de conflitos na exploração de águas possui, é emblemático o caso de São Lourenço. A desenfreada exploração de água mineral no município provocou o esgotamento de uma fonte, destruição do seu fontanário, diminuição da quantidade e peso dos minerais nas águas das demais fontes do Parque das Águas, além do rebaixamento do terreno próximo à lavra. Diante desses problemas, e principalmente em razão da iminente escassez relativa e absoluta da água no futuro próximo em muitas regiões do mundo, ganha força entre os ambientalistas a questão da preservação dos mananciais. Dissertação de mestrado desenvolvida pelo economista Pedro dos Santos Portugal Junior no Instituto de Economia (IE) da Unicamp analisa especificamente a questão das águas minerais, enfatizando o desenvolvimento recente desse mercado no Brasil, os principais direcionamentos legais e institucionais que regem sua exploração e a gestão ambiental das empresas desse segmento. No estudo, o pesquisador enfatiza a importância de mudar o padrão institucional vigente, pois a água mineral é considerada como minério e não como recurso hídrico, o que acarreta sérias implicações sobre os controles adequados de sua exploração comercial, comprometendo a excelência esperada para a sua gestão ambiental. Nos estudos de casos envolvendo empresas de águas minerais do Circuito das Águas do Sul de Minas Gerais, ele centrou o foco na compreensão de como se encontra o nível de gestão ambiental em engarrafadoras das cidades de Caxambu, Cambuquira, Lambari, São Lourenço e Passa Quatro. Os resultados mostram que nenhuma das empresas analisadas possui um nível avançado de gestão ambiental e não manifestam perspectiva de atingi-lo. Para ele, fica evidente que essa situação decorre de um arranjo institucional ultrapassado para gestão das águas minerais no Brasil, além de desarticulado em consequência dessas águas serem reguladas e geridas como um minério, conforme estabelecem o Código de Águas Minerais de 1945 e o Código de Mineração de 1967. Essas amarras impedem a aplicação de políticas públicas mais eficazes, descentralizadas, e a participação das comunidades na gestão desse importante recurso. O pesquisador defende que estes impasses seriam superados se as águas minerais estivessem integradas na gestão de recursos hídricos estabelecida pela Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) de 1997, o que as submeteria ao gerenciamento dos comitês de bacia hidrográfica. Em vista disso, o pesquisador considera de suma importância uma reestruturação do atual arranjo institucional regulatório desse recurso natural a fim de que venha a ser explorado de forma consciente e com ampla participação das comunidades mais diretamente envolvidas.

Fotos: Antonio Scarpinetti

Antes que

a fonte

seque

Galões de água mineral em distribuidora em Campinas: exploração desenfreada é ameaça a mananciais

O professor Bastiaan Philip Reydon (à esq.), orientador, e Pedro dos Santos Portugal Júnior, autor da dissertação

A propósito, ele lembra que as águas minerais têm suma importância na formação histórica, econômica e social do Sul de Minas, onde se instalaram no passado parques balneários que as tornaram então requisitadas estações de tratamento e centros turísticos que lhe deram dinamismo. Com a gestão descentralizada pelos comitês de bacia, a exemplo dos recursos hídricos, a população e a sociedade passariam a ter participação maior, pois esses comitês contam com representação dos vários segmentos das sociedades, de ONGS, das prefeituras, das universidades e das próprias empresas que garantem tomadas de decisões mais democráticas. Nesse contexto, a dissertação analisa as principais linhas de pensamento sobre a relação entre economia e meio ambiente, enfatizando a economia ecológica e o ecodesenvolvimento. Exibe dados que mostram o comportamento desse segmento de mercado no Brasil e suas perspectivas para os próximos anos. Apresenta os resultados qualitativos de três estudos de casos que envolveram a pesquisa sobre níveis de gestão ambiental adotadas por três distintas empresas do setor – uma multinacional, uma de economia mista e uma de pequeno porte – concluindo que a aplicação de tal gestão nessas empresas depende diretamente de sua política interna que se restringe, em geral, a apenas cumprir as determinações da desatualizada legislação vigente. Para o autor, o estudo evidencia que a apli-

cação dos instrumentos de comando e controle atuais não se revelam suficientes para a adoção de padrões avançados de gestão ambiental, havendo necessidade de fazê-los mais efetivos. Paralelamente, ele defende a aplicação de medidas econômicas como a cobraça pelo uso, a exemplo do que já ocorre nos comitês de bacias. Desse modo, os recursos seriam carreados para garantir o controle da exploração da água mineral de acordo com a capacidade de renovação dos lençóis freáticos; para a implantação de projetos ambientais envolvendo preservação e recuperação dos locais de exploração; para o incremento da crenoterapia, que é o tratamento pelas águas minerais; e para a exploração do ecoturismo e do turismo, no caso, primordial para o Sul de Minas.

MÚLTIS

Os dados divulgados por consultorias internacionais dão conta de que é significativamente crescente em todo o mundo o consumo de águas minerais. Esse segmento é cada vez mais ocupado por empresas multinacionais. Em 2009, cerca de 30% do mercado mundial de águas engarrafadas era atendido por apenas quatro das maiores empresas do setor. Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), esse domínio passa a 50% se considerada a utilização dessas águas em produtos industrializados. No Brasil, entre 2005 e 2009, o aumento do consumo de água mineral engarrafada foi de aproximadamente 25% e chegou a 200% quan-

do considerada também a sua utilização em bebidas. Ressalve-se que, neste caso, a variação decorreu em grande parte do controle mais efetivo sobre a produção da indústria de bebidas, que sonegava impostos não declarando a real produção. O aumento da demanda de água engarrafada no Brasil decorre, principalmente, da baixa qualidade das águas fornecidas pelos serviços de saneamento. Por apresentar baixo nível de resíduos, mais de 90% da água mineral extraída do Sul de Minas é engarrafada. As empresas de água mineral no Brasil podem ser situadas em duas categorias principais: as grandes empresas nacionais e multinacionais e as micro, pequenas e médias nacionais, responsáveis por uma produção altamente pulverizada. Entre 2005 e 2009, duplicou o número de multinacionais entre as maiores produtoras que atuam no país, que passaram de duas para quatro. Segundo dados do MME, as dez maiores empresas do setor no país detêm cerca de 30% do mercado. Estes dados e as estimativas de crescimento do setor nos próximos anos levam o professor Bastiaan, defensor de uma economia ecológica, a afirmar que “todo capital natural é limitado e deve ser usado com parcimônia. A gestão ambiental precisa garantir o desenvolvimento sustentável, o crescimento econômico e social. Sem essas três pernas, o sistema não se sustenta”. Nessas perspectivas, em determinado momento do desenvolvimento do estudo, o professor se deu conta de que o trabalho passaria a ter sentido mais amplo se levado em consideração o arcabouço legal e institucional que controla a exploração de águas minerais no Brasil. Foi aí, segundo ele, que o estudo passou a ter mais significado, pois permitiu contrapor às gestões das empresas o aparato institucional legal, o que possibilitou determinar como essas duas estruturas conformam uma maneira de trabalhar com uma questão eminentemente ambiental. Os pesquisadores lembram da surpresa que os acometeu diante da constatação de que a exploração das águas minerais depende da concessão do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a exemplo de uma mineração. Os órgãos reguladores de gestão de recursos hídricos são consultados pelo DNPM apenas sobre a existência de outorgas de exploração em determinada região quando o Departamento recebe solicitação para exploração. Como a fonte envolve uma exploração pontual, diferentemente dos minérios que têm lavra extensiva, desperta menor preocupação ambiental. Ademais, pelo volume de recursos envolvidos, o DNPM está mais preocupado com os principais minérios. O pesquisador considera que o maior problema decorrente desse descontrole está relacionado à exploração acima da capacidade de recarga do sistema, sem respeitar o ciclo das águas. Com isso pode haver rompimento do sistema de sustentação do solo, levando ao seu rebaixamento, como já ocorreu em São Lourenço. Para Pedro “a grande questão envolvendo as águas minerais é sua exploração comercial, em um segmento cada vez mais dominado por grandes empresas, que as tratam como uma mercadoria, como uma commodity”. O professor Bastiaan constata que nos locais em que existe pressão popular ocorreram significativos avanços. Mas além dela, destaca a ação do Ministério Público. Ele considera que a gestão ambiental no país passou a ser outra depois do MP e que os promotores têm cumprido um papel decisivo nesta área. Enfatiza que quando se trata de meio ambiente, a participação das pessoas e da sociedade é fundamental. Daí decorre o seu envolvimento nesses estudos, preocupado com as ações possíveis em termos da sociedade civil e das empresas. “Surpreendi-me muito negativamente com o comportamento descompromissado de empresas de um setor tão dependente de um bem contínuo e diretamente ligado à natureza, em uma época em que se avolumam cada vez mais as preocupações ecológicas de grandes empresas em todo o mundo”, admite. Ao final da publicação, Pedro sugere um estudo mais avançado sobre o tema, com vistas a desenhar uma possível integração entre a Política Nacional de Recursos Hídricos, a Política Nacional de Recursos Sólidos e os comitês de bacias para a articulação de uma gestão ambiental mais sustentável para o setor.

Publicação Dissertação: “Gestão ambiental nas empresas: estudo de casos com empresas de água mineral do Circuito das Águas do Sul de Minas”. Autor: Pedro dos Santos Portugal Júnior Orientador: Bastiaan Philip Reydon Unidade: Instituto de Economia (IE)


Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

5 Fotos: Antoninho Perri

Pacote amplia número de bolsas e de programas

extracurriculares

Várias medidas agregam mais qualidade à vida estudantil Jessica Cristina Sallasa, participante do programa Aluno Artista: declamando Hilda Hilst, com direito a uma bolsa mensal de R$ 340,00

CLAYTON LEVY clayton@reitoria.unicamp.br

iversos estudos na área de ensino superior mostram que a qualidade de vida no campus é fundamental para uma experiência universitária completa e satisfatória. Além de questões relacionadas à infraestrutura, segurança, transporte e alimentação, são imprescindíveis políticas voltadas para programas extracurriculares e de apoio aos estudantes. Atenta a essa realidade, a Pró-Reitoria de Graduação lançou nos últimos anos um pacote de medidas para agregar mais qualidade à vida estudantil, que vai muito além da mera assistência. Entre as ações concretizadas estão o aumento do número de programas e bolsas concedidas pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE); implantação de editais de apoio às atividades estudantis; lançamento do programa Aluno Artista; aprimoramento do processo de estudo e aprendizagem; empréstimo de bicicletas para circulação no campus; incentivo à leitura, com direito a prêmios; e expansão do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica (Sappe). Por meio dessas iniciativas, muitos alunos conseguem unir o útil ao agradável, participando de atividades que, além de garantir uma ajuda financeira, permitem atuar em projetos sintonizados com sua área de formação. É o caso de Jessica Cristina Sallasa, que cursa o segundo ano de Estudos Literários no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Como participante do programa Aluno Artista, ela passou os últimos três meses declamando em público textos da escritora Hilda Hilst, com direito a uma bolsa no valor de R$ 340,00 por mês. As apresentações podiam ocorrer tanto ao ar livre quanto em áreas cobertas. No final, o projeto, intitulado “Hilda-nos Hilst”, virou um curta-metragem, que foi apresentado em abril na Casa do Lago. “Foi uma experiência muito rica, porque além de divulgar o trabalho da escritora, também aprofundamos a relação da leitura com outras formas de comunicação, como o vídeo”, diz a estudante. Implantado há dois anos, o Aluno Artista permite aos alunos que tenham alguma habilidade artística divulgar o seu trabalho pelo campus. Estudantes de todas as unidades podem participar, independentemente de sua área de formação. A edição 2010 selecionou dez projetos que resultaram em 80 apresentações nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba. Devido ao sucesso da ideia, as edições 2011 e 2012 passaram a selecionar quinze projetos. Os artistas selecionados se comprometem a dedicar 30 horas mensais ao trabalho em períodos que não coincidam com o seu

horário de aulas. A vigência da bolsa é de seis meses. Além da verba mensal, o projeto contemplado ainda recebe um auxílio para sua execução no valor máximo de R$ 3 mil.

MORADIA A bolsa Aluno Artista é apenas um dos itens que integram a política institucional de assistência e permanência estudantil, que além das bolsas inclui diversos programas de apoio ao estudante, entre eles a Moradia Estudantil. Em 2011 o setor contou com recursos da ordem de R$ 30 milhões, correspondendo a 12% do orçamento de custeio da Universidade no período. Só com a Moradia Estudantil foram gastos R$ 3 milhões, incluindo reformas e outros benefícios. Em 2012, a verba para os programas de assistência e permanência estudantil aumentou para R$ 33 milhões, como resultado de inovações na política de bolsas. “A partir de um estudo sobre as demandas, reformulamos bolsas que já existiam e criamos outras, buscando diversificar as opções”, diz o coordenador do SAE, Leandro Medrano. “O objetivo principal é viabilizar a permanência do estudante na Universidade”, completa. Entre as novidades adotadas está a expansão da Bolsa Auxílio Social (BAS), cujo número de beneficiados saltou de 833 em 2011 para 983 em 2012. São 150 bolsas a mais, perfazendo um crescimento de 18%. Nessa modalidade, que substituiu a antiga Bolsa Trabalho, o aluno realiza atividades associadas à sua área de formação ou em movimentos sociais, sempre com a orientação de profissionais ou professores. O valor atual da BAS é de R$ 550,31, referente a 60 horas mensais de dedicação, além dos valores dos Auxílios Transporte e Alimentação, totalizando R$ 670,31. A seleção adota critérios socioeconômicos, com base na renda per capita do aluno. “É um auxílio importante, principalmente para quem chega de outra cidade”, diz Rafael Lucas Cavalheiri, que veio do município de José Bonifácio, na região de São José do Rio Preto, para cursar Artes Visuais no Instituto de Artes (IA). Como beneficiário da BAS, ele está lotado no próprio SAE, onde desenvolve atividades na assessoria cultural, que cuida de projetos como o Aluno Artista. Seu sonho, porém, é atuar como produtor de arte. “Futuramente pretendo trabalhar na curadoria de alguma galeria”, diz. Também foram criadas quatro novas modalidades de bolsas: Bolsa Auxílio ao Ensino e Aprendizagem (BAEF), no valor de R$ 733,00, para quem já completou metade do curso; Bolsa ProFIS, no valor de R$ 670,00, para todos os 120 alunos do Programa de Formação Interdisciplinar Superior; Bolsa Auxílio So-

cial e Iniciação Científica (BAS-IC), que complementa bolsas de iniciação científica concedidas pela Fapesp e CNPq, totalizando R$ 680,00; e a Bolsa Auxilio Instalação, no valor de R$ 300,00, destinada a auxiliar nas primeiras despesas do estudante que acaba de chegar à cidade. O SAE oferece ainda a Bolsa Emergência para atender alunos que passam por dificuldades econômicas pontuais; Bolsa Programa de Auxílio a Projetos Institucionais (PAPI), criada com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento dos projetos de cunho institucional; e Bolsa Pesquisa Empresa, que tem por objetivo facilitar a interação entre empresa e universidade, estimulando o financiamento de bolsas, pelo setor produtivo, destinadas a alunos de graduação e pós-graduação.

EDITAIS A política voltada para atividades estudantis passou a contar com outro importante reforço em 2011, quando foram lançados os dois primeiros editais de apoio à realização ou participação de alunos em eventos acadêmicos, científicos, culturais e esportivos. O valor destinado a cada edital é de R$ 30 mil. Segundo Dora Maria Grassi Kassisse, assessora da PRG, estas chamadas representam um aporte adicional ao Programa de Apoio a Atividades Estudantis Extracurriculares, criado em 2011, e que destinou cerca de R$ 700 mil para entidades e associações estudantis. Além do auxílio financeiro através das bolsas, os estudantes contam com o Programa de Moradia Estudantil (PME). Em atividade desde 1990, tem por finalidade garantir estadia gratuita para estudantes de graduação e pós-graduação provenientes de famílias com baixa renda. Historicamente, nenhum aluno com renda per capita familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo deixou de ser atendido. Em situações emergenciais, os estudantes contam ainda com uma bolsa moradia, destinada ao aluguel de residência. A qualidade da vida estudantil não se limita, porém, às condições de moradia, alimentação e transporte. Um fator fundamental é o desempenho do aluno nos cursos, que pode encorajá-lo a permanecer ou abandonar a Universidade. “Muitos saem porque não se adaptam ao ritmo das aulas”, observa Medrano. Para atender aos estudantes que enfrentam dificuldades nesse aspecto, o SAE criou em 2011 o programa Saiba Mais. Os alunos recebem orientações que vão desde estratégias de aprendizagem até gestão do tempo. O número de atendidos saltou de 300 em 2011 para 1,2 mil em 2012. Atuando na mesma linha, mas direcionado a públicos diferentes, o Projecta é um programa destinado

a auxiliar os estudantes na inserção profissional. Os interessados participam de atividades destinadas a auxiliar no planejamento da carreira. Há ainda atividades para aqueles que se sentem inseguros quanto à escolha do curso que estão fazendo. “Nesse aspecto, o programa ajuda o estudante a entender se está no curso certo”, diz Medrano. Outra novidade de sucesso é a Estante Literária, que tem como objetivo incentivar a leitura entre os estudantes. Lançada em abril de 2011, a ideia é selecionar os dez melhores leitores da Universidade, que serão premiados ao final de cada ano. O primeiro colocado ganhará uma viagem para as feiras internacionais do livro, como as de Guadalajara, Frankfurt ou Paris. Os demais classificados receberão vale-livros. Inédito entre as universidades públicas brasileiras, o projeto está sendo viabilizado por meio de um site vinculado ao SAE. O site também oferece notícias sobre literatura, indicações de especialistas, sorteio de livros entre os inscritos e integração com o Facebook. Atualmente há mais de 700 inscritos e aproximadamente 1.200 obras resenhadas ou cadastradas pelos alunos. Numa outra vertente, os estudantes podem também contar com a ajuda do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (SAPPE), que oferece as seguintes modalidades de atendimento: pronto atendimento psicológico, atendimento psicológico individual, grupal e relacional (famílias, casais, pessoas que têm relações próximas) e atendimento psiquiátrico. Além da assistência, o SAPPE ministra cursos de extensão universitária para psicólogos e psiquiatras, através da Escola de Extensão da Unicamp. A demanda crescente pelos serviços levou a uma expansão na equipe fixa de atendimento, hoje composta por dez psicólogas, sendo que uma presta assistência no posto criado pelo SAPPE há três anos, na FOP em Piracicaba, duas psiquiatras, três funcionários administrativos, além de psicólogos que passam por treinamento em psicoterapia breve e pronto atendimento psicológico nos cursos de extensão. Com a ampliação do atendimento, entre 2009 e 2011 houve aumento superior a 40% no número de atendimentos psiquiátricos e de 20% para psicoterapia. Recentemente, o SAPPE iniciou uma pesquisa para conhecer o impacto de suas atividades na vida acadêmica bem como os sintomas mais frequentes que afetam os estudantes. “O objetivo é reunir subsídios para um melhor planejamento do trabalho”, explica a psiquiatra Tânia Maron Vichi Freire de Mello, coordenadora do SAPPE.

O coordenador do SAE, professor Leandro Medrano: “Reformulamos bolsas que já existiam e criamos outras”

Tânia Freire de Mello, coordenadora do SAPPE: aumento no número de procedimentos nos últimos dois anos

O estudante Rafael Lucas Cavalheiri: desenvolvendo atividades na assessoria cultural do SAE


6

Campinas, 22 a 28 d

Disciplina de Ciru consolida vocação

Oito trabalhos da FCM apresentados em três congressos são publicados no ‘World EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU

e se envolvam nos projetos”, revelou Fraga.

esquisas da Disciplina de Cirurgia do Trauma da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp acabam de ser publicadas na Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e no World Journal of Emergency Surgery. No total, são oito artigos que focam desde o trauma hepático e o diagnóstico pós-traumático de hérnia diafragmática até acidentes fatais com motocicletas e a utilização da telemedicina como ferramenta para o ensino e capacitação de alunos e médicos. À frente de todas as pesquisas está o médico Gustavo Pereira Fraga, do Departamento de Cirurgia da FCM. Os trabalhos foram apresentados durante a primeira edição do Congresso Mundial do Trauma, do X Congresso da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT) e do XIV Congresso Brasileiro das Ligas do Trauma (CoLT), ocorridos no final de agosto no Rio de Janeiro. Os eventos receberam um público de 3.500 participantes de 50 países, com 72 palestrantes internacionais. A palavra trauma vem do grego trauma (plural: traumatos, traumas), cujo significado é “ferida”. A terminologia trauma, em medicina, admite vários significados, todos eles ligados a acontecimentos não previstos e indesejáveis que, de forma mais ou menos violenta, atingem indivíduos neles envolvidos, produzindo-lhes alguma forma de lesão ou dano. O trauma representa um problema de saúde pública no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), em 2010 o Brasil registrou 143.256 mortes por causas externas, como acidentes de trânsito, queimaduras, homicídios, entre outros, 21% a mais do que em 2000. As causas externas correspondem a 12,9% das mortes registradas no país. É a terceira causa de óbitos entre os brasileiros – perde apenas para as doenças do aparelho circulatório (29%) e cânceres (16%). Ainda segundo dados do Ministério da Saúde, 36% dos óbitos por fatores externos têm como principal causa a violência urbana. Em 2010, o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM/MS) notificou 52.260 homicídios. Em seguida, vêm os acidentes de trânsito, com 42.884 casos notificados (30%). O sexo masculino responde por 82,5% dos óbitos notificados por causas externas. “Atualmente, temos trabalhado com estudos clínicos na área de epidemiologia, diagnóstico e tratamento de lesões traumáticas. Temos parcerias com outras disciplinas e departamentos. Também temos projetos de redução de acidentes, principalmente no trânsito, em consequência do consumo de bebida alcoólica. Isto já constitui uma nova linha de pesquisa, assim como os estudos sobre ensino na área de suporte básico de vida, ensino médico, prevenção e telemedicina. Temos de oito a dez assistentes atuando em pesquisa. Alguns deles são alunos de doutorado e mestrado. Os cinco médicos-residentes da disciplina também realizam pesquisas. Sempre temos de dois a três alunos com bolsa Fapesp e a Liga do Trauma, que a cada ano recebe 20 novos alunos, serve como estímulo para que eles frequentem o HC a partir do quarto semestre do curso

Para examinar os resultados de trauma hepático e comparar o tratamento cirúrgico e não cirúrgico em pacientes internados com estabilidade hemodinâmica e sem indicações de laparotomia, Thiago Messias Zago fez um estudo retrospectivo em 120 pacientes atendidos no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Do total, 65 pacientes não operados foram tratados e 55 pacientes foram submetidos à cirurgia. Thiago observou que os pacientes operados sem indicações óbvias para a cirurgia tiveram maiores taxas de complicação e mortalidade do que os pacientes não operados. A abordagem não cirúrgica resultou em complicações mais baixas, uma menor necessidade de transfusões de sangue e menor mortalidade dos pacientes. Na mesma linha de pesquisa, Thiago estudou o tratamento não cirúrgico para pacientes com grau quatro de trauma hepático. A taxa de mortalidade para as lesões do fígado de grau quatro envolve hematoma interno e sangramento e varia de 8% a 56%, de acordo com a literatura internacional. O tratamento de lesões hepáticas complexas continua a ser um desafio para os cirurgiões. De 1996 a 2011, período do estudo, 754 pacientes com trauma hepático foram admitidos no HC. Deste total, 294 dos pacientes tiveram trauma hepático fechado e 80 preencheram os critérios da pesquisa. Dezoito pacientes foram classificados como tendo uma lesão hepática grau quatro. “Em nossa experiência, tratamento não cirúrgico de lesão hepática grau quatro para pacientes vítimas de trauma fechado e estáveis hemodinamicamente está associado a altas taxas de sucesso, sem complicações significativas”, disse Thiago. Uma simples radiografia de tórax para o diagnóstico pós-traumático de hérnia diafragmática pode ser uma ferramenta de grande utilidade para o médico. É o que aponta pesquisa conduzida pelo médicoassistente Elcio Shiyoiti Hirano. Entre janeiro de 1990 e agosto de 2008, 45 pacientes com hérnia diafragmática pós-traumática foram tratados pela equipe da cirurgia do trauma da FCM. Para descrever as mudanças no exame radiográfico do tórax nesses pacientes, Hirano analisou dados demográficos, causa da lesão, mudanças na radiografia de tórax, extensão e localização da lesão diafragmática da hérnia e órgãos. “O estudo mostrou que o raio-x de tórax é muito útil na abordagem inicial de diagnóstico para hérnia diafragmática póstraumática. A dificuldade é que as lesões diafragmáticas, especialmente após trauma penetrante, podem, inicialmente, passar despercebidas, dificultando o diagnóstico”, alertou Hirano. Os números de motocicletas aumenta em todo o mundo, assim como o de acidentes fatais. Em Campinas, não é diferente. Carlos E. Carrasco analisou todos os acidentes de moto com vítimas fatais entre janeiro de 2001 e dezembro de 2009 em Campinas. Os dados oficiais foram coletados a partir de relatórios da polícia e de hospitais. De acordo com a pesquisa, no período houve 479 mortes; 90,8% eram do sexo masculino, a idade média foi de 27,8; 86,4% eram condutores dos veículos; álcool no sangue foi registrado em 42,3%; 49,7% morreram em um hospital e 32,6% perderam a vida no local do acidente; 26,1% dos acidentes ocorreram durante a noite; e 69,1% eram urbanos e 30,9% ocorreram em rodovias. As principais causas de lesões foram colisões (63%) e quedas (14%). No que diz respeito a lesões, traumas na cabeça (67%) e trau-

PESQUISAS

ma torácico (40%) foram os mais comuns, seguidos por trauma abdominal (35%). A lesão cerebral traumática (67%) e o choque hipovolêmico (38%) foram as causas mais frequentes de morte. “O álcool foi um fator significativo em relação aos acidentes. Trauma na cabeça foi a lesão mais frequente e grave. Metade das vítimas morreu antes de receber atenção médica adequada, o que sugere que os programas de prevenção e as leis devem ser implementadas e aplicadas a fim de salvar vidas futuras”, disse Carrasco. Para os envolvidos em acidentes de trânsito ou em qualquer outro tipo de trauma, a agilidade no transporte do paciente é fundamental. Ricardo A. T. Gonzaga, do Departamento de Cirurgia da Escola Integrada de Medicina Padre Albino e pósgraduando da FCM da Unicamp, comparou dois sistemas de atendimento pré-hospitalar em Catanduva, SP: o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou 192 e o Grupo de Brigada de Incêndio do Corpo de Bombeiros (CB). Na pesquisa, foram incluídos 850 pacientes. A maioria deles era de homens (67,5%) e a idade média variou de 38,5 a 18,5 anos. Em relação ao uso de sistemas de pré-hospitalar, 62,1% dos pacientes foram transportados pelo Samu. Os acidentes de moto representaram 32,7% dos casos, seguidos pelas quedas, com índice de 25,8%. Em relação ao tempo de resposta, o Grupo de Brigada de Incêndio apresentou as menores taxas. Em relação à evolução do paciente, apenas 15,5% necessitaram de internação. “Vítimas de trauma são predominantemente jovens e do sexo masculino. Os acidentes de moto representaram a maioria dos casos de trauma. O Corpo de Bombeiros respondeu mais rapidamente do que o Samu e não houve diferença estatística entre os serviços do Samu e do CB em termos de gravidade do trauma e as taxas de mortalidade”, observou Gonzaga. As chances de ocorrer um derrame na cavidade torácica e pulmões é grande em caso de colisão. João Baptista de Rezende-Neto, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e chefe da Cirurgia de Trauma e Urgências do Hospital Risoleta Tolentino Neves, de Belo Horizonte, MG, em parceria com a equipe da Disciplina da Cirurgia do Trauma da Unicamp, pesquisou as recomendações “baseadas em evidência” para a condução do hemotórax residual pós-drenagem pleural em pacientes com trauma toráxico. “O hemotórax residual após traumatismos contribui significativamente para o aumento do tempo de internação, dos custos hospitalares e é causa importante de morbidade. As modalidades atuais para o tratamento do hemotórax residual são bastante variadas. As mais empregadas são tratamento conservador com observação apenas, punção torácica guiada, colocação de um segundo dreno torácico, injeção intrapleural de agentes fibrinolíticos, videotoracoscopia e a toracotomia ou pleurostomia”, mencionou Rezende-Neto.

O coordenador dos estudos do Departamento de Cirurgia da FCM, profess

INSERÇÃO INTERNACIONAL

Fundada pelo professor Mario Mantovani, a Disciplina de Cirurgia do Trauma completa 25 anos em 2012 e sempre manteve um foco na pesquisa, assistência e ensino. Fraga atribui o crescimento da produção científica a maior inserção internacional da disciplina, iniciada em 2007 após pósdoutorado na Universidade da Califórnia, San Diego, coordenado pelo professor Raul Coimbra. Outros fatores também contribuíram: em 2008, Campinas foi sede do Congresso Panamericano de Trauma; há

Acidente envolvendo carro e motocicleta: estudo sugere que programas de


7

de outubro de 2012

urgia do Trauma o para a pesquisa

d Journal of Emergency Surgery’ e na ‘Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões’

sor Gustavo Pereira Fraga (sentado, centro), e a equipe de pesquisadores: parcerias e trabalhos clínicos em várias áreas

e prevenção devem ser implementados para que o número de vítimas seja menor

Foto: Antoninho Perri

discussões de artigos via telemedicina com o professor Sandro Rizoli, da Universidade de Toronto, que participou do projeto professor pesquisador visitante em 2011; e, atualmente, a disciplina recebe o professor Antonio Capone Neto, do Hospital Israelita Albert Einstein, por meio de um projeto da Pró-Reitoria de Graduação. Outros fatores determinantes para maior produção de pesquisas, segundo Fraga, foram a abertura da UTI do Trauma no HC Unicamp, que além de melhorar a assistência aos doentes, permitiu a contratação de mais profissionais, e as reuniões semanais com a Universidade de Miami por meio da telemedicina, tecnologia que está revolucionando a forma como os profissionais de saúde obtém informações. Em atendimento ao trauma, as equipes de médicos e outros clínicos frequentemente contam com um fluxo de informações usando uma infinidade de modos de comunicação. Um deles é a telemedicina. Novas técnicas cirúrgicas e procedimentos, com ênfase em protocolos de atenção ao trauma e medicina baseada em evidências, podem ser transmitidas de um centro especializado localizado nos Estados Unidos, por exemplo, para outros países, ao mesmo tempo. O Ryder Trauma Center, da Universidade de Miami, juntamente com várias instituições ao redor do mundo, estabeleceram o “Trauma Internacional Tele-Grand Rounds”. Por meio de videoconferência, apresentam casos de traumas complexos, e tópicos avançados de cuidados críticos são discutidos semanalmente. Atualmente, 42 instituições dos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Bahamas, Haiti, Canadá, Venezuela, Argentina, Panamá, Porto Rico, República Dominicana, Ilhas Virgens Britânicas, Espanha, Tailândia, Turquia e Iraque participam do projeto, dentre elas a Disciplina de Cirurgia do Trauma da FCM que, em dois anos, participou de mais de 100 reuniões e relatou suas experiências no Hospital de Clínicas da Unicamp. “A apresentação de casos proporciona aos alunos, residentes, e médicos assistentes, uma excelente ferramenta para a educação e compartilhamento de experiências

na área de cirurgia do trauma e emergência. A partir dos resultados do sucesso do programa, a telemedicina é agora uma parte integrante do currículo da residência”, explicou o médico Antonio C. Marttos, da Universidade de Miami, um dos autores do artigo “Melhora mundial de educação sobre trauma através da telemedicina”, juntamente com Fernanda M. Kuchkarian, da mesma Universidade. De acordo com a pesquisa “A produção científica no trauma de um país emergente” do professor Gustavo P. Fraga, o número de artigos publicados em revistas brasileiras por cirurgiões brasileiros em cirurgia e trauma tem experimentado um crescimento linear ao longo dos últimos 14 anos. As principais características dos cirurgiões brasileiros que escrevem artigos em trauma podem ser descritos, segundo Fraga, como alguém que vive no Sudeste do Brasil, provavelmente no Estado de São Paulo, e se formou médico há mais de 16 anos. O estudo seguiu a identificação e classificação dos manuscritos e seus autores a partir de bancos de dados como PubMed , Scielo e Plataforma Lattes e sites como o Google, além da lista dos membros da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT). Foram aplicados testes estatísticos para comparar os períodos de 1997 a 2003 e 2004 a 2010.Também foram analisadas as seguintes variáveis: fator de impacto dos periódicos em que foram publicados os manuscritos, origem regional dos autores, o tempo desde a graduação, e realização de pós-doutorado no exterior. O crescimento observado no número de publicações acompanha o crescimento econômico do país e os investimentos feitos pelo governo brasileiro em pesquisa e desenvolvimento nos últimos anos. Parceria e cooperação internacional para o desenvolvimento da ciência também são pontos observados na pesquisa. “O aumento de trabalhos científicos em cirurgia do trauma é, provavelmente, o resultado de um crescimento global em investigação e desenvolvimento e menos devido ao crescimento específico dos casos de trauma”, disse Fraga.

Publicações Zago TM, Pereira BM, Calderan TR, Hirano ES, Rizoli S, Fraga GP. Blunt hepatic trauma: comparison between surgical and nonoperative treatment. Rev Col Bras Cir. 2012 Aug;39(4):307-313. Link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22936230 Hirano ES, Silva VG, Bortoto JB, Barros RH, Caserta NM, Fraga GP. Plain chest radiographs for the diagnosis of post-traumatic diaphragmatic hernia. Rev Col Bras Cir. 2012 Aug;39(4):280-285. Link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22936226 Rezende-Neto JB, Pastore Neto M, Hirano ES, Rizoli S, Nascimento B Jr, Fraga GP. Management of retained hemothoraces after chest tube thoracostomy for trauma. Rev Col Bras Cir. 2012 Aug;39(4):344-9. Link: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S010069912012000400017&lng=en&nrm=is o&tlng=en Marttos AC, Kuchkarian FM, Pereira BM, Collet-Silva FS, Fraga GP. Enhancing Trauma Education Worldwide through Telemedicine. World Journal of Emergency Surgery 2012, 7(Suppl 1):S4.

Link: http://www.wjes.org/content/7/S1/ S4 Carrasco CE, Godinho M, de Azevedo Barros MB, Rizoli S, Fraga GP. Fatal Motorcycle Crashes: A Serious Public Health Problem in Brazil. World Journal of Emergency Surgery 2012, 7(Suppl 1):S5. Link: http://www.wjes.org/content/7/S1/S5 Gonsaga RAT, Brugugnolli ID, Fraga GP. Comparison between two systems of mobile prehospital care to trauma patients. World Journal of Emergency Surgery 2012, 7(Suppl 1):S6. Link: http://www.wjes.org/content/7/S1/S6 Zago TM, Pereira BM, Calderan TRA, Nascimento B, Fraga GP. Nonoperative management for patients with grade IV blunt hepatic trauma. World Journal of Emergency Surgery 2012, 7(Suppl 1):S8. Link: http:// www.wjes.org/content/7/S1/S8 Fraga GP, de Andrade VA, Schwingel R, Neto JP, Starling SV, Rizoli S. The scientific production in trauma of an emerging country. World Journal of Emergency Surgery 2012, 7(Suppl 1):S13. Link: http://www.wjes.org/content/7/S1/S13


Harmonia 8

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

Harmonia

é a palavra-chave para Olga Morales

Foto: Antonio Scarpinetti

Secretária trabalhou com todos os pró-reitores de Pesquisa

A secretária Olga Regina Sofia Morales: “Tive oportunidade de trabalhar com pessoas inteligentes, comprometidas e visionárias”

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

odo projeto precisa de um cientista que o idealize, pesquisadores que o desenvolvam e um secretário que o encaminhe. Alguns anos na secretaria de uma Universidade fazem com que muitos funcionários assistam às primeiras discussões de grandes e importantes projetos. Foi na função de secretária que Olga Regina Sofia Morales participou, na Faculdade de Engenharia de Campinas, em meados da década de 1970, do projeto de desenvolvimento do metrô, trem metropolitano que facilitou a vida de muitos paulistanos. Para os amigos, a Olga da PRP (PróReitoria de Pesquisa). Para pesquisadores, alunos e docentes, a Olga da Fapesp. Assim Olga Regina Sofia Morales ficou conhecida na Unicamp. Primeiro, por secretariar todos os pró-reitores de Pesquisa desde a criação das pró-reitorias da Unicamp, em 1986. Depois, por ser o elo, na Unicamp, entre pesquisadores e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Cabe a Olga providenciar o encaminhamento e o acompanhamento de solicitações de financiamento, assim como orientá-los sobre os procedimentos operacionais junto à agência de fomento. Olga é exemplo de que a organização de agenda e o atendimento telefônico viraram coisas de novela. Aquelas histórias narradas em alguns filmes hollywoodianos em que o secretário estende o paletó do patrão e providencia seu café da manhã em cafeteria de luxo também andam ultrapassadas na Unicamp, onde as atribuições de um secretário extrapolam até mesmo o formato antigo dos cursos de secretariado. Se cumprir o tripé capacitação-comprometimento-boa vontade, um secretário pode assumir cargos de confiança e tornar-se responsável por uma equipe de trabalho ou até mesmo por um programa. É o caso de Olga, que além de dar assistência ao pró-reitor Ronaldo Pilli e atender pesquisadores de toda a Universidade, se responsabiliza pela equipe administrativa da PRP. Mas já adianta: sem perder a essência que a faz tratar bem todas as pessoas do grupo e manter a harmonia no ambiente de trabalho. “Passamos a maior parte do tempo na Unicamp e, sendo assim, temos que contribuir para que o ambiente na PRP seja o mais agradável possível”, acrescenta. E Olga pode falar de muitas equipes,

já que é uma das poucas funcionárias que permanecem nas pró-reitorias desde sua criação, sem interrupção. “Todos os pró-reitores me mantiveram na secretaria, o que, espero, mostra que estive e estou no caminho certo”, avalia. Com o tempo, ela viu a lista de programas da PRP se agigantar. Pibic, Ciência e Arte, PIC Júnior precisaram de um nome que se responsabilizasse por eles e, assim, a equipe de funcionários, como também a de assessores dos pró-reitores, foi crescendo, e Olga sempre procurou receber amistosamente e ajudar no que fosse preciso. Hoje profissional de assuntos universitários, com atribuições de assistente técnico de direção, Olga manifesta a satisfação por trabalhar numa área que é diretamente responsável pelo avanço da ciência no país e também pela oportunidade dada a estudantes de ensino médio de experimentarem o conhecimento desenvolvido na academia, por meio dos programas Ciência e Arte nas Férias e do PIC Júnior. A Pró-Reitoria é responsável pelo gerenciamento Fundo de Apoio a Pesquisa e Extensão (Faepex), além de assumir a Comissão de Avaliação e Desenvolvimento Institucional (Cadi). O desenvolvimento dos pesquisadores é observado por Olga a partir dos projetos Fapesp. “Alguns nomes que apareciam nos editais como alunos, depois de um tempo se inscrevem como docentes e em seguida, como orientadores. Também acompanhamos o crescimento desses pesquisadores pela divulgação de seus trabalhos no portal, acrescenta. A trajetória dos pesquisadores que atende na PRP também se torna visível quando Olga contribui com o pró-reitor na edição do Anuário de Pesquisas da Unicamp. “Quando os dados são consolidados, observamos a quantidade de trabalhos. É impressionante o crescimento que tais dados apontam. Observamos que o número de publicações e de trabalhos indexados e o valor de financiamento são crescentes a cada ano”, reforça Olga. Isso, em sua opinião, demonstra a capacidade de todo o corpo docente e dos grupos de pesquisa existentes de fomentar tudo isso. “Qualquer um que acesse a tabela do Anuário concordará com o que estou falando.” Além da inter-relação interna, é observável a interação dos pesquisadores da Unicamp com grupos de outras instituições e, na opinião de Olga, essa realidade contribui para o processo de internacionalização da Unicamp. Antes de assumir a secretaria da PRP, Olga já havia prestado concurso para a Unicamp em 1972, quando foi encaminhada para a Faculdade de Engenharia de Campinas para secretariar o diretor da unidade, Manoel Sobral Júnior, e em seguida um de seus sucessores, Hélio Waldman. O órgão abrigava os departamentos de engenharia elétrica, eletrônica e eletrotécnica, mecânica e, mais tarde, engenharia química. Dele originaram-se as Facul-

dades de Engenharia Elétrica e Computação (Feec), Engenharia Mecânica (FEM) e Engenharia Química (FEQ). Quando essas unidades foram criadas, a Faculdade de Engenharia de Campinas deixou de existir, e Olga permaneceu secretariando o diretor da Feec na época, Hélio Waldman, até que foi convidada a coordenar administrativamente os convênios da Telebrás, forte parceira da Unicamp na época, que envolvia vários professores da Unicamp. Ficou nesta função de 1978 a 1985, mas para assumi-la precisou rescindir contrato com a Universidade. Embora nunca tivesse saído da Unicamp fisicamente, pois os projetos eram sediados no campus de Barão Geraldo, Olga comemorou sua volta para a carreira de funcionários da Unicamp em 1985, quando o diretor da Feec ao ser convidado para criar o Escritório de Ex-alunos e a Escola Brasileira e Argentina de Informática (Ebai), não abriu mão da eficiência de sua secretária desde a Faculdade de Engenharia de Campinas. No Escritório de Ex-Alunos, Olga tinha como missão tentar manter um vínculo com profissionais formados pela Universidade, a fim de conhecer a atuação deles no mercado a partir da graduação assim como mantê-los informados sobre os acontecimentos da Universidade. Em dezembro de 1985, foi publicado o primeiro exemplar do Jornal Ex – Jornal do ex-aluno, editado pela Assessoria de Imprensa da Unicamp. A Ebai, conforme a secretária, oferecia cursos na área de investigação em tecnologia informática a 250 estudantes brasileiros e 250 argentinos. Desde a primeira edição da Ebai, a Unicamp, por meio do ex-reitor da Unicamp Paulo Renato Costa Souza, assumiu a responsabilidade de organizá-la e sediá-la. Logo Waldman precisaria mais uma vez da competência de Olga para secretariá-lo na Pró-Reitoria de Pesquisa, para a qual teve o privilégio de ser nomeado o primeiro gestor. E este foi início, desconhecido de muitos, de Olga no prédio 1 da Reitoria da Unicamp. Bacharel em letras e formada em magistério, área que chegou a levá-la para salas de primeiro grau (atual ensino fundamental), se diz orgulhosa de trabalhar “no coração da Universidade”. Olga nem precisa consultar documentos para contar a história da criação das pró-reitorias e, apesar de não conhecer a experiência anterior, acredita que a distribuição das competências tenha potencializado as ações e projetos para o avanço no desenvolvimento da Universidade. “Aqui, na PRP, tive oportunidade de trabalhar com pessoas inteligentes, comprometidas e visionárias, que só agregaram valor a minha trajetória. Durante estes anos, pude vivenciar aperfeiçoamento de ações, envolvimento com a comunidade como um todo.” Com a informatização do sistema, os pes-

quisadores passaram a submeter seus projetos diretamente à Fapesp, mas Olga ainda os orienta, em caso de dúvidas, e providencia a assinatura do termo de outorga. “A ajuda é permanente, pois as dúvidas em relação ao sistema continuam.” Se em algum momento Olga foge de suas atribuições, é porque percebe que alguém precisa de ajuda técnica. “É um traço meu. Se percebo pessoas em momento de necessidade, ofereço auxílio.” Para Olga, a trajetória na Unicamp está alinhavada a sua história de vida. “Quando vejo alguém chorando por ter perdido emprego, penso no quanto sou privilegiada”, acrescenta. A oportunidade de conhecer uma Unicamp adolescente, com apenas 17 anos de fundação, fez com que Olga acompanhasse marcos importantes como o movimento pela autonomia financeira e o Projeto Qualidade, que, há 20 anos, visava à qualidade acadêmica dos docentes da Universidade. A autonomia, em sua opinião, garantiu melhorias ao orçamento da instituição, enquanto o Projeto Qualidade reforçou sua excelência. Diante do tempo de experiência, a receita para ser um bom secretário na Unicamp vem fácil: comprometimento, lealdade e busca constante de oportunidade, de conhecimento e de crescimento. “Os jovens que entram hoje na Universidade precisam estar atentos ao leque de oportunidades que ela oferece. É preciso que eles se capacitem para chegar onde querem e usufruir de todas as possibilidades que ela oferece.” Ela reforça que, quando chegou à Unicamp, os jovens funcionários não tinham o horizonte que se abre hoje a cada dia. Atualmente há um planejamento, por meio do qual as pessoas podem estabelecer seu crescimento e conhecer os instrumentos que a levem a isso. “Era uma luta. Trabalhávamos sem saber onde poderíamos chegar, era tudo muito novo, ligado ao governo do Estado. Somente depois de quatro, cinco anos tive uma promoção. Hoje é diferente”, reforça. As atividades devem ser desenvolvidas com leveza, mas, na opinião da secretária, as pessoas trabalham muito preocupadas. Mas ela acentua: “Tem de gostar do que faz, saber que é um colaborador e, diante disso, tem de apoiar a pessoa que está secretariando da maneira mais sincera possível.” Fora da Unicamp, Olga procura fugir do agito. Gosta de sua casa e aproveitar o tempo com a família. O cinema, como para a maioria dos brasileiros, mudou-se para sua casa. Mas, do lado de fora, tem algo que vai poder preencher o espaço saudoso, quando se aposentar: as viagens, das quais Olga não abre mão. Mas em suas rondas pelo mundo e pelo Brasil não elegeu um lugar de sua preferência. “Sempre o que é novo é muito interessante. O novo nos refaz. Dá novo alento. Sempre encontramos beleza nas coisas novas, pois o ainda não visto nos desperta.”


Nas bancas

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

9

Técnica da indústria alimentícia pode esterilizar material hospitalar Farmacêutico consegue, em laboratório do IB, inativação completa de bactéria resistente Foto: Antoninho Perri

RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br

m método já consagrado para inativação de micro-organismos na indústria alimentícia, a alta pressão hidrostática, pode ser utilizado como alternativa para a esterilização de materiais hospitalares contaminados com a bactéria Mycobacterium abscessus – um patógeno causador de infecções hospitalares, que é muito resistente e de difícil tratamento. A proposta é do farmacêutico Ancelmo Rabelo de Souza, que investigou em laboratório diferentes condições de aplicação da técnica para conseguir a inativação completa da bactéria. A crescente incidência deste patógeno, bem como a sua gravidade clínica, foram as principais motivações do farmacêutico para o desenvolvimento da pesquisa de mestrado, apresentada no Instituto de Biologia (IB), com orientação do professor Carlos Francisco Sampaio Bonafé. Souza lembra que os materiais cirúrgicos e biofarmacêuticos, quando mal esterilizados, são fontes de infecções e geram graves doenças nas pessoas expostas a eles. Ademais, existe uma dificuldade muito grande em se conseguir descontaminar certos fômites hospitalares, principalmente, com o Mycobacterium abscessos, pelo fato de resistirem ao tratamento com a maioria dos agentes desinfetantes existentes. Neste sentido, a pesquisa desenvolvida pelo farmacêutico consiste em uma importante contribuição para o melhoramento em termos de segurança dos protocolos de esterilização. Nos métodos tradicionais de autoclavagem em que os materiais são submetidos a temperaturas médias de 121 ºC por até 30 minutos, os instrumentos podem ficar danificados, visto que nem todo material suporta temperaturas tão altas. Com isso, enumera Souza, esta é mais uma vantagem da técnica que garante a

o sabor, odor e outras, fundamentais para o controle de qualidade dos alimentos. “A técnica foi introduzida na indústria alimentícia na década de 1990 no Japão. Portanto é um método já consolidado, sem riscos à saúde”, afirma. Também possui um nível de segurança muito positivo por não necessitar de reagentes químicos que possam alterar a qualidade do alimento e materiais hospitalares. Para simular a esterilização, nos ensaios foram utilizadas amostras de PVC contaminadas com elevada concentração do Mycobacterium abscessus. Souza testou a pressão de 2.500 a 3.500 atmosferas em várias temperaturas e pH para selecionar as condições que atingem os melhores resultados. “Ao nível do mar a pressão é de uma atmosfera, o que dá para se ter ideia do nível de pressão a que submetemos as bactérias”, explica. Ele definiu o tratamento de -15ºC por 90 minutos, assim como o tratamento a 60º C por 45 minutos, como duas condições de inativação completa da bactéria, sem presença de agentes químicos. Anselmo Souza enfatiza que não se trata de redução, mas de inativação bacteriana. Essas condições foram as que apresentaram resultados interessantes para preservação de materiais.

Publicação

Ancelmo Rabelo de Souza, autor do estudo: método já consolidado e sem riscos à saúde

preservação do material por utilizar temperaturas mais amenas na esterilização. Um ponto a ser destacado é a ideia de se

propor um método físico que já é utilizado para os alimentos, uma vez que a alta pressão hidrostática preserva as características como

Dissertação: “Tratamento com alta pressão hidrostática combinado com diferentes condições de temperatura e pH na inativação do Mycobacterium abscessus” Autor: Ancelmo Rabelo de Souza Orientador: Carlos Francisco Sampaio Bonafé Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Capes

Método identifica perda de água na rede Monitoramento conseguiu evitar desperdício anual de 800 mil metros cúbicos em São Paulo Método implantado para identificar as perdas físicas de água, proposto pelo tecnólogo em construção civil Aldo Roberto Silva Diniz, conseguiu economizar 800 mil metros cúbicos de água em um ano na rede de abastecimento do setor Casa Verde, na zona norte da cidade de São Paulo. Isto significa uma redução de quase metade do total anual de perdas desta região, que correspondem a cerca de dois milhões de metros cúbicos. “É um volume considerável, pois equivale ao abastecimento de aproximadamente 12 mil residências por 40 dias”, estima Diniz. Segundo o tecnólogo, os vazamentos em redes de abastecimento são um problema sério para as companhias. Calcula-se que, no Brasil, as perdas com faturamento atinjam em torno de 40% do volume total inserido no sistema, sendo aproximadamente a metade originada pelas perdas físicas. Por outro lado, a população também sofre com a interrupção do abastecimento causada pelos vazamentos. Aldo Diniz faz parte do quadro funcional da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e, assim, pôde desenvolver um estudo de caso na Região Metropolitana de São Paulo. A proposta consta da dissertação de mestrado apresentada por Diniz na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), sob orientação do professor José Gilberto Dalfré Filho. A ideia, segundo ele, é unir dois métodos de balaço hídrico com as modernas tecnologias para detecção dos vazamentos para um controle estatístico das perdas físicas. O sistema permite localizar os pontos de vazamentos não visíveis nos reservatórios, bem como traçar um perfil do tipo de perda que pode ocorrer na rede de abas-

Foto: Antonio Scarpinetti

pais desafios para as companhias”. Isto porque os vazamentos não visíveis são difíceis de serem detectados, embora ocorram com frequência por conta da degradação natural ou mesmo por causas externas como, por exemplo, eventuais impactos sofridos por transporte de carga, que podem danificar as tubulações. Neste sentido, a nova abordagem consiste em um modelo a ser adotado, principalmente, em áreas densamente povoadas. O estudo de caso realizado nos 84 quilômetros de redes de distribuição do setor Casa Verde permitiu ainda identificar elementos que pudessem ser aproveitados para o planejamento na troca de tubulações. “A região é estratégica, pois, além de possuir um alto volume de perdas físicas, apresenta indicadores de cerca de 480 litros por ligação por dia”, explica. Outro fator que contribuiu para a escolha da região foi o fato de as tubulações serem consideradas antigas – algumas com mais de 70 anos – e, portanto, possuírem um nível de degradação já avançado. “A substituição de parte dos encanamentos seria fundamental para a avaliação final do método e para fazer um diagnóstico eficiente do custo-beneficio”, destaca.

Publicação

O professor José Gilberto Dalfré Filho (à esq.), orientador, e Aldo Diniz, autor da dissertação: diagnóstico eficiente

tecimento. “A partir da avaliação utilizando este método é possível priorizar as ações de combate”, esclarece. Os resultados foram aferidos utilizando o

software gratuito Water Audit 4.0, que possibilita manter um monitoramento e identificar a proporção das perdas e a ação mais eficaz a ser implantada. “Trata-se de um dos princi-

Dissertação: “Avaliação do controle de perdas físicas em redes de distribuição de água na RMPS” Autor: Aldo Roberto Diniz Silva Orientador: José Gilberto Dalfré Filho Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

aa c dêi ma c

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012

Painel da semana  Trilha sonora ao vivo – Proposta de espetáculo que pretende levar ao público a experiência da música para filmes executada ao vivo, envolvendo a participação de Alexandre Guerra e os músicos do grupo instrumental “O Quintal Brasileiro”. As apresentações contam com a projeção simultânea das imagens de filmes, permitindo que os espectadores assistam a execução da trilha musical dos filmes ao vivo, sincronizada com as imagens que serão projetadas em um telão. O evento será realizado nos dias 22 e 29 de outubro, às 12 horas, no Auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. A organização é de Carol Novaes. Mais informações www.alexandreguerra.com.br/tsav ou telefone 11-3814-3354.  Encontro de enfermagem - O XI Encontro de Enfermagem em Centro Cirúrgico e Centro de Material de Esterilização de Campinas acontece no dia 23 de outubro, das 8 às 17 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. É organizado pelo Caism e pelo HC da Unicamp. Informações: 19-3521-9405 ou e-mail cme@caism.unicamp.br.

o evento será realizado no dia 23 de outubro, às 9 horas, na Faculdade de Tecnologia de Limeira. A organização é do professor Celmar Guimarães. Inscrições, programação e outras informações na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp. br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno58.html  Congresso Interno de Iniciação Científica – Organizado pelas Pró-Reitorias de Pesquisa (PRP) e de Graduação (PRG), o XX Congresso Interno de Iniciação Científica acontece de 24 a 26 de outubro, no Ginásio da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. Na última edição, realizada em 2011, foram apresentados 1.300 trabalhos. A área de tecnológicas participou com 391 trabalhos, a de biológicas com 335, a de exatas com 205, a de humanas com 258 e as artes com 83 trabalhos, contando com a participação dos alunos do PICJr com 28 trabalhos, como forma de integrá-los ao esforço da Unicamp na geração de conhecimento. Os organizadores solicitam que os orientadores de trabalhos de IC estimulem seus alunos a se inscreverem no XX Congresso Interno de Iniciação Científica. Mais informações sobre o congresso e as inscrições podem ser encontradas no site do evento http://www.prp.unicamp.br/pibic/ congressos/xxcongresso/comite.php  Diálogos em linguística aplicada - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) organiza no dia 24 de outubro, às 9 horas, em seu Anfiteatro, o Ciclo “Diálogos em Linguística Aplicada”. Em uma das mesas-redondas será tratado o tema “Políticas Linguísticas e Identidades”. Participam os professores Lynn Mário Trindade Menezes de Souza (USP) e Terezinha de Jesus Machado Maher (Unicamp). A organização e do professor Petrilson Pinheiro. Mais informações: 19-3521-1520.  Dinâmica cooperativa em motores moleculares – O Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) recebe, dia 24 de outubro, às 14 horas, no Auditório Méson Pi, o professor Ney Lemke, do Departamento de Física e Biofísica do Instituto de Biociências (Unesp). Em seminário, ele fala sobre “Dinâmica cooperativa em motores moleculares”. Mais informações: 19-3521-5275.  Projeto Interpares 3 - O Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia: Projeto Interpares 3 - preservação e acesso de documentos arquivísticos digitais autênticos: os resultados do TEAM Brasil ocorre no dia 24 de outubro, às 9 horas, no Auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). Organizador: SIARQ. Programação e outras informações no site http:// foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/tecno57.html ou telefone 19-3521-4759.

 Empírika – A inserção cada vez maior das ciências, tecnologias e inovações (C,T&I) nos mais diferentes âmbitos da vida caracteriza a chamada cultura científica. Essa atmosfera criada pelas relações entre ciência, tecnologia e sociedade apresenta um dinamismo que possibilita a abertura de brechas para novas formas de pensar a própria ciência, as culturas, o mundo. É nesse contexto que será realizada, no Brasil, a segunda edição da Empírika – Feira Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e Inovação. Para propiciar aos visitantes o contato e a vivência dos assuntos relacionadas a C,T&I, a Empírika 2012 contará com um espaço expositivo, na Expo Barra Funda em São Paulo, de 23 a 25 de outubro, que trará novidades de instituições científicas, tecnológicas e culturais; além de um espaço virtual, a Pólis Empírika, que permitirá a participação à distância em diversas atividades de caráter científico e educativo. Fazem parte da programação da Empírika 2012 também atividades de cunho acadêmico, como seminários, palestras e oficinas voltadas para públicos diversos. O II Seminário Internacional Empírika acontece após a feira expositiva, nos dias 26 e 27 de outubro, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Outras informações: contacto@empirika.org

 Performance VII - Com a regência da maestrina Cinthia Aliteri, a Orquestra de Cordas da Unicamp realiza no dia 25 de outubro, às 19 horas, o concerto Performance VII – 2012. O evento ocorre no Espaço Cultural Casa do Lago (Rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp. A Orquestra apresentará as obras “Branco”, de Denise Garcia; “Cantoria”, de Jônatas Manzolli, e “Verônica” e “Lamento”, de Silvio Ferraz. Participam os solistas Arthur Roberto Huf (violino); Lara Ziggiati Nunes e Teresa Cristina Rodrigues (violoncelo), e Kaynan Consoli (Barítono). A realização é do Projeto Artes no Campus, da Comissão de Ação Cultural da Reitoria, do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic) e da Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU). O evento é apoiado pelo Espaço Cultural Casa do Lago. Mais informações: 19-3521-6506.

 Fórum de ciência e tecnologia – Com o tema “Visualização de informação e os grandes desafios da pesquisa em computação no Brasil”,

 “Intervenções” celebra John Cage em Cingapura - Obra do professor Jônatas Manzolli, coordenador do Núcleo Interdiscipinar

de Comunicação Sonora (Nics) da Unicamp, será apresentada no “Performer’s Voice Symposium: Horizons Crossing Boundaries”. O evento ocorre de 25 a 28 de outubro, na Escola de Música “Yong Siew Toh” da “National University” de Cingapura. Mais informações: 19-3521-7923.  Fórum de esporte e saúde – O câncer de mama será debatido durante a realização do evento, dia 25 de outubro, às 9 horas, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A organização é das professoras Angela Bacha e Roseli Calil. Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp. br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude55.html  Soberania alimentar e globalização - O Núcleo de Estudos de Pesquisas em Alimentação (Nepa) organiza, dia 25 de outubro, às 14 horas, no Auditório do Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA-FEA), a palestra “Soberania alimentar e globalização: um estudo através de indígenas em contexto urbano na cidade de Letícia (Amazônia Colombiana)”. Ela será proferida por Blanca Yague Pascual, mestranda em Estudos Amazônicos da Universidad Nacional da Colômbia. Mais informações pelo telefone 19-3521-4022 ou no site http://www. unicamp.br/nepa/index.php  Método lógico para redação científica - O Espaço da Escrita organiza no dia 26 de outubro, das 8h30 às 17 horas, no Centro de Convenções, o workshop “Método lógico para redação científica”, com o professor Gilson L. Volpato. As inscrições podem ser feitas pelo e -mail workshops.escrita@reitoria.unicamp.br e serão aceitas por ordem de chegada. O evento tem como público-alvo docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação regularmente matriculados na Unicamp. A promoção é da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), da Pró-reitoria de Pesquisa (PRP) e da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). O Espaço da Escrita é vinculado à CGU. Oferece serviços de tradução e assessoria gratuitos aos docentes da Unicamp como objetivo de facilitar e estimular a publicação e/ou apresentação de seus trabalhos acadêmicos em conceituadas revistas científicas ou congressos internacionais. Outras informações: 19-3521 6649.  Simpeq e Simpequinho - O Instituto de Química (IQ), através do Grupo de Pesquisas em Química Analítica e Educação (GPQUAE), organiza nos dias 26 e 27 de outubro, o Simpeq e o Simpequinho. O Simpeq é um evento dirigido aos professores que ministram aulas de Química no ensino médio. É uma iniciativa para promover interação entre membros da universidade e professores do ensino médio, que acontece desde 2001. O SIMPEQ celebra o seu aniversário de 45 anos do IQ, junto com o SIMPEQuinho - 5, que é voltado para estudantes a partir do nono ano. Abertura: 9 horas, no IQ. Mais detalhes no site http://gpquae.iqm.unicamp.br/simpeq11.html ou telefone 19-3521-3082.

Teses da semana  Educação Física - “Educação física e inclusão educacional: entender para atender” (doutorado). Candidato: Luiz Seabra Junior. Orientador: professor Paulo Ferreira de Araújo. Dia 26 de outubro, às 9 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Mecânica - “Avaliação microestrutural e de desempenho de juntas soldadas por atrito com pino de aços inoxidáveis duplex” (doutorado). Candidato: Tiago Felipe de Abreu Santos. Orientador: professor Antonio José Ramirez Londono. Dia 25 de outubro, às 9 horas, no auditório do Bloco K da FEM.

- “Otimização econômica de um sistema bomba de calor e reservatório térmico para aquecimento de água para fins domésticos em edifício” (mestrado). Candidato: Bruno Gimenez Fernandes. Orientador: professor José Ricardo Figueiredo. Dia 26 de outubro, às 14 horas, na sala de seminários do bloco ID2 da FEM.

Livro

da semana

 Engenharia Química - “Desenvolvimento de um simulador dinâmico para um sistema experimental de resfriamento de líquido” (mestrado). Candidato: Saulo Fernando dos Santos Vidal. Orientadora: professora Ana Maria Frattini Fileti. Dia 22 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ.  Física - “Testando a conjectura da censura cósmica em buracos negros” (doutorado). Candidato: Raphael Santarelli. Orientador: professor Alberto V. Saa. Dia 25 de outubro, às 14 horas, na sala de seminários do DFMC/IFGW.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Modelos dinâmicos para a produção de ATP em mitocôndrias” (mestrado). Candidata: Kellen Manoela Siqueira. Orientador: professor Alberto Vazquez Saa. Dia 24 de outubro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Medicina - “Adequação funcional em amputados transtibiais submetidos a técnicas cirúrgicas não convencionais” (doutorado). Candidato: José André Carvalho. Orientador: professor Bruno Livani. Dia 22 de outubro, às 9 horas, no Anfiteatro da Comissão de Pósgraduação da FCM. - “Estudo da associação entre o score do International Consultation on Incontinence Questionnaire - Urinary Incontinence/Short Form e a avaliação urodinâmica em mulheres com incontinência urinária” (mestrado). Candidata: Renata Gebara De Grande Di Sessa. Orientadora: professora Viviane Herrmann. Dia 23 de outubro, às 9 horas, no Anfiteatro do Caism. - “Alterações autonômicas na doença de Machado-Joseph” (mestrado). Candidata: Karen Antonia Girotto Takazaki. Orientador: professor Marcondes Cavalcante França Junior. Dia 24 de outubro, às 9h30, no Anfiteatro do Departamento de Neurologia da FCM. - “Análise comparativa do efeito da criopreservação com dimetilsulfóxido (Me2SO-) (DMSO) em células-tronco mesenquimais obtidas de tecido adiposo” (mestrado). Candidata: Marilisa Ferruda Andreoli Risso. Orientadora: professora Ângela Cristina Malheiros Luzo. Dia 25 de outubro, às 9 horas, no Anfiteatro do Hemocentro. - “Análise da composição corporal em idosas não institucionalizada segundo medidas de funcionalidade” (mestrado). Candidata: Manuela Nassim Jorge Santos. Orientadora: professora Arlete Maria Valente Coimbra. Dia 26 de outubro, às 14 horas, no Anfiteatro da Pós-graduação da FCM.  Odontologia - “Avaliação da interação entre as diferentes substâncias químicas auxiliares utilizadas em endodontia e seus efeitos nas etapas do tratamento endodôntico” (doutorado). Candidata: Maíra do Prado. Orientadora: professora Brenda Paula Figueiredo Gomes. Dia 22 de outubro, às 13h30, na sala de seminários do Departamento Histologia da FOP. - “Metalografia, análise de oxigênio e nitrogênio e teste de dureza vickers dos materiais de fixação interna usados no esqueleto craniofacial” (mestrado). Candidato: Marcelo Breno Meneses Mendes. Orientador: professor Roger Willian Fernandes Moreira. Dia 26 de outubro,

Haikai

Antologia e história Introdução, notas e textos críticos: Paulo Franchetti (org.) Seleção e tradução: Elza Taeko Doi e Paulo Franchetti Ficha técnica: 4a edição, 2012; 240 páginas; formato 16 x 23 cm; peso 0,38 kg ISBN: 978-85-268-0982-6 Área de interesse: Crítica e Teoria Literária Preço: R$ 45,00 Sinopse: Publicado em 1990, este livro constituiu a primeira exposição sistemática da poética do haikai em língua portuguesa, bem como a primeira publicação bilíngue de um conjunto significativo de poemas. Tornouse assim, como o demonstram as inúmeras referências e as três seguidas edições, um clássico no estudo e na divulgação da poesia japonesa no Brasil. Passado quase um quarto de século, como ainda houvesse demanda de novas tiragens, surge esta nova edição, que mantém as partes centrais do livro e acrescenta, a título de atualização, dois ensaios diretamente decorrentes das pesquisas que conduziram à redação deste volume, dedicados à história do haikai no Brasil. Autores: Paulo Franchetti é professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Publicou, entre outros, Nostalgia, exílio e melancolia — Leituras de Camilo Pessanha (Edusp, 2001), Estudos de literatura brasileira e portuguesa (Ateliê, 2007) e O essencial sobre Camilo Pessanha (INCM, 2008). Elza Taeko Doi é professora aposentada do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Estagiou vários anos no Japão, onde estudou linguística, língua do período medieval e literatura.

às 13h30, no Anfiteatro 3 da FOP. -“Análise do polimorfismo 118a>g no gene receptor µ-opióide em desarranjo interno da articulação temporomandibular e fibromialgia” (Tese) Candidata: Luana Maria Martins de Aquino. Orientadora: professora Celia Marisa Rizzatti Barbosa. Dia 26 de outubro, às 14 horas, na sala de seminários do Departamento de Periodontia da FOP.

DESTAQUES do Portal da Unicamp

Luiz Bravo propõe formação cidadã para nova faculdade O improviso do matemático e professor Luiz Barco ‘roubou a cena’ durante os festejos pela aprovação da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Ele foi convidado para proferir ao público aula magna após o descerramento de placa comemorativa da nova unidade. A criação da Faculdade de Enfermagem, que até o momento funciona como departamento da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consu) em sessão realizada no dia 7 de agosto deste ano. “Eu tinha preparado um texto sobre um novo jeito de fazer ciência, a chamada ciência da complexidade. Mas ele é muito acadêmico. E tudo que é acadêmico costuma ser muito chato [risos]. Portanto, eu mudei tudo. Agora, vou falar livremente o que penso sobre o papel de uma nova faculdade de enfermagem. Eu diria, rapidamente, que for-

mar médicos, engenheiros, advogados e enfermeiros é muito fácil. Formar cidadão é muito difícil. Eu espero que a faculdade de enfermagem, ganhando agora esta ‘alforria’, ajude numa melhor compreensão da cidadania”, propôs Luiz Barco, que é docente da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais divulgadores do ensino da matemática no país. “Eu diria que não se ensina cidadania nas escolas. Era preciso devolver ao ensino primário e secundário a formação cidadã. Não se discute amor ao próximo na escola, respeito, qualidade de vida, respeito ao meio ambiente, alimentação e lazer. A escola tem que ser mais lúdica, devolver ao humano o prazer da vida. Você conhece alguma criança que gosta da escola?”, questiona o professor, que é membro da Academia Paulista de Educação e autor das séries televisivas “Teleaula” (1974) e “Arte & Matemática” (2001).

Foto: Antoninho Perri

O matemático e professor Luiz Barco: “Formar cidadão é muito difícil”

CERIMÔNIA

A cerimônia, realizada no último dia 10 no auditório da FCM, foi presidida pelo reitor Fernando Ferreira Costa. O evento contou com a participação do diretor da Unidade, Mário José Abdalla Saad; da diretora-associada, Rosa Inês Costa Pereira Maria Inês; e

da chefe do Departamento de Enfermagem, Maria Isabel Pedreira de Freitas. Também prestigiaram, docentes, alunos e funcionários da Universidade. “A área da saúde é especialmente importante para a Unicamp. Quase sete milhões de pessoas só conhecem a Unicamp

porque existe o Hospital de Clínicas, o Caism, o Hemocentro e o Gastrocentro. E essas pessoas dependem disso para sua assistência médica. Portanto, a área da saúde contribuiu e contribui de maneira significativa para a Unicamp ser uma universidade fundamental para o progresso do país. Agora, com a Faculdade de Enfermagem, eu tenho certeza que esta contribuição será ainda maior”, salientou o reitor Fernando Costa. O diretor da FCM, Mário Saad, ressaltou a importância da autonomia para o desenvolvimento das unidades de ensino e pesquisa. “Vamos só relembrar que a Unicamp até 1989 não tinha autonomia. É importante verificar como a Universidade cresceu depois que conquistou a autonomia a partir desta data”, disse. Para a chefe do Departamento de Enfermagem, Maria Isabel Pedreira de Freitas, “este é um momento de profundo significado por representar um sonho realizado”.


11

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012 SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

s edifícios residenciais, comerciais e públicos são responsáveis por aproximadamente 47% de toda a eletricidade consumida no país, conforme relatório do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), instituições do governo federal. O dado é um dos fundamentos de estudo conduzido na Unicamp pelo engenheiro de controle e automação Bruno Wilmer Fontes Lima. O pesquisador da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) acaba de propor metodologia para desenvolvimento de sistema de geração de energia que permitirá a esses prédios a produção de toda a eletricidade consumida por eles. O projeto utilizaria fontes renováveis, principalmente, painéis solares fotovoltaicos – dispositivos responsáveis pela captação e transformação da energia solar em elétrica. O estudo integra mestrado apresentado por Bruno Lima ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos da FEM. “A ideia surgiu com esta nova tendência de edificações que podem gerar a própria eletricidade que consomem. Isso vem sendo implantado em alguns países da Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Nestes países já existem legislações obrigando, a partir de 2020, que prédios públicos sejam edifícios de energia zero, isto é, prédios que, ao longo do ano, gerem toda a eletricidade que consomem a partir de fontes renováveis”, conceitua o estudioso. De acordo com ele, sua pesquisa objetiva, em especial, auxiliar engenheiros e arquitetos no dimensionamento de sistemas de energia zero, permitindo maior adoção deste tipo de edificação no país. O engenheiro revela que esta metodologia será aplicada, inclusive, em um laboratório de ensino e pesquisa da Unicamp, cujo projeto já está em andamento. O edifício para abrigar o laboratório deverá ser construído nas instalações da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). “A meta do projeto, desenvolvido em parceria com a CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz], é ter o menor impacto ambiental durante sua construção e operação, além de tornar o prédio um edifício de energia zero. O laboratório contará com aproximadamente 600 metros quadrados e será integralmente instrumentado e monitorado, de modo a ser utilizado para futuras pesquisas nesta área”, informa o pesquisador. O docente do Departamento de Energia da FEM, Gilberto de Martino Jannuzzi, orientou a dissertação. Já o projeto para a construção do laboratório da Unicamp, que deverá ser um dos primeiros edifícios de energia zero do país, é coordenado pela professora Vanessa Gomes da Silva, do Departamento de Arquitetura e Construção da FEC. O estudo de Bruno Lima obteve financiamento da CPFL, por meio de convênio com o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da instituição.

Prédio com

‘energia zero’ Engenheiro desenvolve metodologia voltada para edifícios que geram toda a eletricidade consumida Fotos: Antonio Scarpinetti

Os painéis solares fotovoltaicos captam e transformam energia solar em elétrica

VIABILIDADE

Ecologicamente corretos, os edifícios de energia zero também podem ser viáveis do ponto de vista econômico. O engenheiro e estudioso da Unicamp afirma ter efetuado cálculos demonstrando que, em aproximadamente 15 anos, os custos com a implementação e manutenção do sistema são pagos com a economia de energia obtida. “O edifício de energia zero é mais caro que um prédio convencional, principalmente, devido ao acréscimo de custo para instalação do sistema de geração de energia. Mas os valores

O engenheiro Bruno Wilmer Fontes Lima, autor do estudo: “A tomada de decisão não é feita sob uma visão de longo prazo”

vêm diminuindo. É importante que estas tecnologias e conceitos tornemse viáveis, pois só assim se popularizarão. Mas, infelizmente, ainda existem obstáculos no Brasil. O primeiro é que quem investe na construção do edifício, geralmente, não é aquele que vai pagar a conta de eletricidade. Outro problema é que, normalmente, a tomada de decisão não é feita sob uma visão de longo prazo”, destaca Bruno Lima. Para o orientador do trabalho, o docente Gilberto de Martino Jannuzzi, uma série de fatores tem permitido o desenvolvimento de projetos renováveis e viáveis economicamente. Ele cita “o avanço das tecnologias de geração descentralizada de energia, a integração com edifícios e o conhecimento sobre as possibilidades de eficiência energética”. A geração distribuída de eletricidade, de acordo com Gilberto Jannuzzi, é aquela produzida próxima ou no próprio local de consumo. “A sua utilização a partir de fontes renováveis pode atender parte da crescente demanda por energia no país, evitando, por exemplo, a construção de novas hidrelétricas e termelétricas; e reduzindo os impactos socioambientais”, esclarece o orientador, que atua como pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp.

COMPENSAÇÃO

Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) baixou uma norma que deve estimular a im-

plementação de projetos mais eficientes no país, como os dos edifícios de energia zero. Aprovada em abril deste ano, a resolução cria um sistema de compensação de energia. Ele permite que proprietários de geração distribuída de eletricidade, como seriam os donos de edifícios de energia zero, possam injetar o excedente da eletricidade não consumida na rede de distribuição. A distribuidora, por sua vez, utilizaria este excedente como crédito para abater do consumo de eletricidade. Essa situação ocorreria, por exemplo, em momentos em que o sistema não fosse capaz de produzir energia suficiente, como nos horários de pico ou em períodos noturnos, quando os sistemas de energia solar não funcionam. “Esta resolução possibilita certa viabilidade para os edifícios de energia zero no Brasil. Ela permite redução de custos porque dispensa a utilização de uma bateria para o sistema poder armazenar o excedente da eletricidade. O sistema com a bateria é mais caro do ponto de vista da manutenção e tem um impacto ambiental muito maior que os sistemas sem baterias. É assim que funciona na Europa e nos EUA”, explica Bruno Lima.

ETAPAS

A metodologia proposta pelo pesquisador da Unicamp consiste em etapas simples que incluem análises sobre o consumo de energia do edifício e sobre o potencial energético local. Ele cita como exemplo a cidade de Campinas, cujo potencial foi analisado com base em dados do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. “Os indicadores do Cepagri demonstram que o potencial eólico da região não é muito forte. A velocidade média anual do vento é muito reduzida, abaixo de 2 metros por segundo. Para uma geração eólica boa são necessários ventos com uma média anu-

al acima de 5,5 metros por segundo, de acordo com estudos de especialistas da área. Por outro lado, o potencial solar da região é muito relevante”, detalha. O estudo propõe ainda o dimensionamento e a simulação do sistema de geração, concluindo com a avaliação dos resultados para averiguar se a energia gerada seria suficiente para classificar o edifício como zero. “Indicamos também ferramentas para auxiliar na escolha de um sistema dentre diversas opções de arranjos e tecnologias, bem como o seu custo, o da eletricidade produzida por ele e o tempo de retorno de energia”, esclarece.

SOLSTÍCIO ENERGIA

Após a conclusão do mestrado, o engenheiro Bruno Lima irá se dedicar às atividades da Solstício Energia, empresa recém-incubada por ele e mais um grupo de amigos na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) da Agência de Inovação Inova Unicamp. “O empreendimento irá desenvolver projetos fotovoltaicos e, principalmente, buscar alternativas para tornar esta fonte de energia mais acessível à população com a redução de custos”, divulga.

Publicação Dissertação: “Geração distribuída aplicada a edificações: edifícios de energia zero e o caso do Laboratório de Ensino da FECUnicamp” Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Autor: Bruno Wilmer Fontes Lima Orientador: Gilberto de Martino Jannuzzi Financiamento: CPFL


12

Campinas, 22 a 28 de outubro de 2012 Foto: Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

á um antagonismo no espaço urbano atual onde cada vez mais as cidades tendem a se fechar ao uso coletivo e às manifestações de cidadania. Essa conduta não passou desapercebida da academia. Uma tese de doutorado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), defendida por Flávia Brito Garboggini, teve como campo de pesquisa a Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, o campus da Unicamp, para avaliar o potencial dos espaços abertos na qualificação urbana. Ter olhado para esse retrato exigiu considerar a sua história, a concepção do seu plano diretor, sem deixar de contemplar a instituição como ela é 46 anos após sua fundação, em 5 de outubro. A conclusão da pesquisa foi que ela colaborou para uma mudança de paradigma sobre os espaços abertos de uso coletivo da Unicamp, iniciando com a requalificação da praça do Ciclo Básico, um projeto piloto que agora, como efeito multiplicador, está levando suas diretrizes à praça das Bandeiras, ao polo de tecnologia da Unicamp e ao novo campus da Faculdade de Ciências Aplicadas. A obra de requalificação está finalizando, e a estimativa de conclusão é nos próximos três meses. O doutorado de Flávia é o terceiro do novo programa de pós-graduação “Arquitetura, tecnologia e cidade”, criado há um ano. O elemento motivador foi a revalorização da vida pública, com uma preocupação maior com a cidade contemporânea. O estudo, entre 2006 e 2011, incluiu uma pesquisa-ação, que ainda deve ter continuidade para o registro da ocupação da Universidade. A autora explica que os espaços abertos geralmente “são entendidos como tudo o que não é edificação e têm grande potencialidade de aplicações, dependendo de como são tratados. Alguns lugares podem ser de maior permanência, outros só de passagem. Valoriza-se o ambiente de uma maneira geral”. O espaço aberto do campus foi analisado pela vertente do desenho urbano, como se daqui para frente houvesse um marco: o pensamento de enxergar e tratar os espaços valorizando não apenas as edificações – também o entorno, em interação com a comunidade. Na cidade tradicional, desde a Idade Média, os edifícios definiam os espaços urbanos e seus contornos funcionavam como paredes dos ambientes externos. Já a partir da cidade moderna, do século 20, os edifícios tornaram-se autônomos, e a malha viária passou a defini-los. Isso desvirtuou o espaço aberto como local de convivência, e as atividades passaram a ser dispersas no território. Nesse contexto surgiu a Unicamp, distante da cidade, formada para funcionar isoladamente. Vários prédios ficaram prontos sem ter calçadas e caminhos para chegar até eles, sem falar na urbanização do entorno, que em muitos casos não foi projetada.

PESQUISA-AÇÃO

Até um certo ponto, a pesquisa seguiu um rumo acadêmico. Quando o projeto de requalificação foi aprovado pela Unicamp, a autora se viu diante do desafio de conciliar a experiência acadêmica e a prática profissional, alinhavando questões como economia e recursos. Ao conversar com o arquiteto João Carlos Bross – que concebeu o plano diretor da Universidade –, Flávia confirmou que a praça do Ciclo Básico sempre teve um papel articulador dos espaços, usos e edificações no desenho original. Vendo a relevância que isso tinha para a instituição, a doutoranda, que passou a atuar como arquiteta da Coordenadoria de Projetos (CPROJ) da FEC, idealizou o projeto para a praça com o arquiteto Antonio Luis Castellano, aplicando os enfoques da sua pesquisa acadêmica. Seu trabalho foi enriquecido com uma pesquisa-ação, metodologia em que o pesquisador não é só um observador do processo. Interage com a comunidade para saber as percepções e expectativas dos vários agentes. Foram ouvidos alunos, funcionários, a Administração, visitantes e expositores da feira de artesanato, etc. Após um tempo na CPROJ, a arquiteta transferiu-se para a Coordenadoria de Projetos e Obras (CPO) da Pró-Reitoria

Desenho mostra como será a praça do Ciclo Básico: releitura propõe integração dos espaços

Aberto e público Foto: Antoninho Perri

rência para que todos os projetos da Universidade priorizem o pedestre e a acessibilidade.

VALORIZAÇÃO

Flávia Brito Garboggini, autora da tese, e a professora Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina, orientadora

de Desenvolvimento Universitário (PRDU) e continuou gerenciando esse projeto, com a chance de poder avaliar o seu desempenho após a conclusão das obras. A praça do Básico foi imaginada como um centro referencial de todo o traçado do campus, com as ruas radiais partindo dele. Foi planejada para funcionar como um espaço de integração entre a comunidade universitária, as unidades básicas e os setores institucionais. Ocorre que a sua urbanização concretizouse somente 12 anos depois, criando uma defasagem entre a concepção e a implementação do projeto. A praça foi inaugurada em 1978, final da gestão Zeferino Vaz, mais configurada como um espaço de passagem do que de uso. O que ela tinha? O espelho d’água com uma escultura de pedra, pela qual jorrava água; o teatro de arena; a torre da caixa d’água e os caminhos radiais. Nesse tempo, já havia o Ciclo Básico 1, e as pessoas se reuniam ali. Requalificar a praça envolvia, além de espaço físico, estimular novos usos para que atingisse o potencial esperado. O próprio arquiteto Bross confirmou que “a praça nunca alcançou esse plano e que o nosso estudo poderia retomar a concepção de forma repaginada”, informa Flávia. O seu projeto buscou respeitar o traçado original da praça. Para a área do espelho d’água, de cerca de 50 metros de diâmetro, sugeriu-se a preservação, fazendo um trabalho com sobreposições. Sobre parte dele, construiu-se um tablado, que deve atuar como palco para manifestações artístico-culturais, tirando partido do desnível natural do terreno. No ponto central, havia uma escultura de pedras que, com o tempo, cedeu e virou uma ilha com árvores. Esse elemento gerou um bloqueio visual, tirando a noção da escala e de orientação do restante da praça. Não se podia enxergar o outro lado. Para esse local, a arquiteta propôs uma escultura urbana verticalizada, marcando esse momento de inovação da Universidade. “Em

breve, será aberto um edital para que artistas se candidatem a fazer projetos de arte que sejam cambiáveis, dando-lhe dinamismo.” Fora isso, foi criado um deck metálico em forma de elipse, suspenso sobre o espelho d’água, fazendo um percurso que liga o Ciclo Básico 1 ao Básico 2. Essa intervenção se justifica, uma vez que aquele espelho d’água, ao invés de integrar as pessoas, as dispersava. Ao chegarem ali, tinham que contorná-lo. Com a inserção da nova estrutura, elas podem cruzar pelo centro da praça, que une os dois conjuntos principais. Uma marquise semicircular vermelha cobre uma área extensa, reforçando o traçado circular da praça e possibilitando outros usos. O projeto expandiu-se para a direção do Restaurante Universitário e interligará a praça ao bairro da Cidade Universitária, nas proximidades do Arquivo Central. O local será uma rua de pedestres. Conforme a docente da FEC Silvia Mikami, orientadora da tese, a praça do Ciclo Básico foi o embrião do projeto, e a ideia de valorizar os espaços abertos no projeto da Universidade foi aos poucos tomando corpo. “Agora suas diretrizes vão se irradiando: os padrões urbanísticos de desenho de piso, de elementos de mobiliário e de desenho urbano passaram a ser usadas em outros campi”, festeja. Paralelamente ao trabalho acadêmico, foi desenvolvido um manual, feito pela CPO-PRDU, “Passeios para os campi da Unicamp”. Ele traz os padrões urbanísticos definidos a partir do projeto para a praça. Já está sendo empregado no polo de tecnologia e nas novas quadras. Os pisos têm rotas para pessoas com necessidades especiais e ciclofaixas. Foram feitos em blocos intertravados de concreto, com apelo de sustentabilidade: são permeáveis e drenam a água da chuva; se precisarem ser removidos, não geram entulho e são reaproveitáveis. Cinco mil exemplares desse manual, impressos pela Gráfica Central, estão sendo distribuídos nas unidades, podendo ser refe-

Esse olhar sobre os espaços abertos passou a ser adotado com uma preocupação com a qualidade espacial do campus. Até no catálogo institucional da PRDU deste ano incorporou-se a valorização dos espaços abertos para usos coletivos. Os projetos hoje já ocorrem com o mesmo parâmetro para o qual foi criada a praça. Isso demonstra que as suas diretrizes estão ganhando novas aplicações. Para viabilizar essa reforma, a obra foi dividida em etapas de execução. A primeira fase está sendo feita com recursos de cerca de R$ 4 milhões. Flávia fez uma enquete a fim de saber das pessoas o que elas achavam da Universidade investir em requalificação. A resposta foi unânime: todos reconheceram que era essencial. Uma avaliação do desempenho da praça demonstrou também o interesse da comunidade pelos espaços de convivência e integração social. Outra constatação foi a tendência de as pessoas usarem mais o interior dos prédios e menos os espaços externos. A ideia é que elas saiam e vivenciem esses espaços com qualidade, pois é também na passagem de um instituto a outro que o aluno pode interagir com pessoas de outras áreas e enriquecer sua aprendizagem, intenção que já estava imbuída na proposta de Zeferino Vaz. Sobre o valor do projeto, Silvia relata que ele permite que a comunidade universitária olhe diferente o seu espaço, sendo possível fazê-lo com qualidade ambiental e social. “As pessoas não ficam mais olhando só uma edificação nova e sim como se integra nessa paisagem e com os outros edifícios.” Academicamente, a pesquisa-ação mostrou-se um instrumento válido e rico de interação entre os envolvidos e a realidade com o projetista – o arquiteto urbanista. “Apesar deste ter sido um ensaio, suas diretrizes poderão ser aproveitadas em outras situações que envolvam o espaço aberto”, expõe a orientadora. A pesquisa documental aconteceu no Arquivo Central e na Assessoria de Comunicação e Imprensa. “Contamos com a colaboração dos órgãos técnicos como a CPO, onde o projeto executivo e a obra foram viabilizados, além da CPROJ, que fez a concepção do projeto”, relata Flávia.

Publicação Tese: “O potencial dos espaços abertos na qualificação urbana: uma experiência piloto na Cidade Universitária Zeferino Vaz” Autora: Flávia Brito Garboggini Orientadora: Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.