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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 545 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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O professor e escritor Paulo Franchetti analisa o mercado editorial e detalha as ações que colocaram, em sua gestão, a Editora da Unicamp entre as melhores do país.
3 5 11 Quando Nelson A predisposição para Nanopartículas 4 o melanoma cutâneo 9 carreiam fármaco 12 migra para a TV As instituições e a dinâmica econômica
Técnica aprimora mapas geológicos
Os novos cursos e a conjuntura
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
ARTIGO
por: Edison Lins
A faceta acadêmica dos funcionários da Unicamp Unicamp, que acaba de completar 46 anos, tem muitos motivos para se orgulhar, entre eles o fato de ser sólido paradigma de excelência no cenário acadêmico e científico brasileiro. O Simtec (Simpósio de Profissionais da Unicamp), que iniciou em 1997 e cuja quarta edição acontece em novembro, tendo como tema central “Conhecimento e experiência: reconhecendo fronteiras e construindo pontes”, busca evidenciar a participação e o comprometimento dos quadros técnicos e administrativos com a abrangente produção da Universidade. Há, e o evento demonstra, efetiva inserção dos funcionários no esforço institucional que sustenta os resultados obtidos pela Universidade. O Simtec expressa, de forma representativa e institucional, a riqueza de conteúdo e de resultados e também a diversidade profissional do conjunto da Carreira Paepe (Profissionais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão) e, em certa medida, também a produção dos integrantes da Carreira PQ – Pesquisadores, segmentos funcionais qualificados e com foco para os desafios da Unicamp no seu papel junto à sociedade brasileira. Já na origem da formação dos quadros técnicos da Universidade, em 1966, se faziam presentes os desafios de suprir as peculiaridades para atuar profissionalmente na construção desta que hoje integra o conjunto das mais importantes instituições acadêmicas e científicas brasileiras. Certamente, os primeiros integrantes do quadro de funcionários da Unicamp tiveram que se constituir neste cenário em perspectiva da construção de uma universidade de vanguarda. Isso prosseguiu nos heróicos tempos em que o atual campus não passava de um grande canavial, e Barão Geraldo era um longínquo distrito, quase rural, de Campinas. Eram tempos em que os funcionários já marcavam presença com trabalho diferenciado em ações administrativas e nos laboratórios. Antes mesmo de sua instalação definitiva, a Unicamp, numa perspectiva visionária do seu fundador, Zeferino Vaz, já havia atraído para seus quadros mais de 200 professores estrangeiros das diferentes áreas do conhecimento e cerca de 180 vindos das melhores universidades brasileiras. Um quadro funcional diferenciado qualitativamente, portanto, já se impunha naquele momento. E assim prosseguiu. Pesquisando um pouco da trajetória da Unicamp, em sua ainda curta história, vemos que a Universidade veio se afirmando, sobretudo a partir da década de 1970, no desenvolvimento de pesquisas de imediata aplicabilidade e com repercussão social relevante, passando a fazer parte do cotidiano da sociedade em questões como telefonia digital, controle biológico de pragas que acometem a agricultura, desenvolvimento da fibra óptica e suas múltiplas aplicações, surgimento do raio laser e seu uso nos mais diversos campos, resultados notáveis e inovadores também nas áreas de educação, economia, nas ciências sociais e políticas, artes, letras, história, nas áreas de produção de alimentos, dentre outras áreas. E em temas mais recentes, como o direito à acessibilidade universal ou mobilidade urbana, a Unicamp é pioneira e com destaque significativo em pesquisas que resultam em melhorias sociais importantes, produção que, no seu conjunto, representa em torno de 15% de toda a pesquisa científica brasileira. O Simtec é afirmativo no tocante à participação dos profissionais da instituição neste
Foto: Talita Matias
Estandes com trabalhos de funcionários na última edição do Simtec: evento serve de modelo para várias instituições do país
Grau de escolaridade dos inscritos no IV Simtec que enviaram trabalhos 7%
2%
91%
superior superior incompleto ensino médio e fundamental graduação
14% 16%
pós-graduação
47%
mestrado
23%
doutorado
Grau de escolaridade dos inscritos no IV Simtec
12% 11%
superior superior incompleto
77%
ensino médio e fundamental
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graduação
24%
pós-graduação
62%
mestrado doutorado
universo científico e acadêmico. A Unicamp é pioneira na busca da visibilidade deste vínculo, visto que o Simtec é, até hoje, pelas observações, o único evento desta natureza em uma universidade pública. Já inspirou o 1º Conpuesp – Congresso de Profissionais que, ano passado, reuniu centenas de profissionais da USP e Unesp, sob a liderança e participação da Unicamp. Esse evento terá sua segunda edição em outubro de 2013, com uma comissão organizadora que conta com representantes da Unicamp. Está na pauta da próxima edição do Conpuesp a participação de todas as universidades públicas que funcionam no Estado de São Paulo e algumas universidades públicas latino-americanas. Registre-se ainda que a iniciativa pioneira da Unicamp, cujo livro resumo do Simtec é distribuído para todas as universidades públicas brasileiras, se associa a outras iniciativas concomitantes, em universidades importantes como a UFPR (Universidade Federal do Paraná), onde funcionários realizarão, em fins de novembro, evento no qual representantes das três universidades estaduais do Estado de São Paulo estarão presentes como convidados para falar em um fórum que busca discutir, conforme seus pressupostos, que “é preciso dar visibilidade ao que vem sendo produzido pelos técnico-administrativos para incluí-los na política de incentivos à produção acadêmica e técnica”.
DIÁLOGO
O Simtec é mostra efetiva de uma produção de qualidade, aberto a todos os profissionais da Unicamp em seus diversos segmentos e níveis. Os 350 trabalhos, número significativo, que serão expostos durante o evento, tornam visíveis essas produções profissionais. Assim, o evento traz perspectivas alvissareiras a cada edição, na medida em que, já fazendo parte da agenda institucional da Universidade é, sobretudo, espaço de afirmação e de reafirmação da qualificada face acadêmica dos funcionários, nas mais diversas ações de
pesquisas, projetos acadêmicos estritos, ações técnicas, operacionais e administrativas. A próxima edição, que acontece nos dias 6 e 7 de novembro, traz avanços importantes, entre os quais espaço para apresentação oral de trabalhos selecionados pela comissão científica do evento, além de uma programação significativa que inclui efetivo diálogo com a área docente da Unicamp, que terá uma mesa em que professores de três áreas distintas da Universidade, mas complementares em tema abrangente, abordarão, a partir de suas linhas de pesquisas, aspectos desafiadores da qualidade na vida e no trabalho. Assim o evento amplia seu objetivo, avançando no dimensionar o chamado segmento técnico, administrativo e operacional como parte ativa da Universidade naquilo que lhe é o papel essencial, de formação e fomento de pesquisa e de serviços no Ensino, Pesquisa e Extensão. Um conjunto de dados, diretamente relacionado à questão aqui em reflexão, é o fato de a Unicamp ser, entre as três universidades estaduais de São Paulo, a que possui o maior número de profissionais com formação superior e com número expressivo de mestres e doutores, reflexo, certamente, do que destacamos em relação ao início da constituição dos quadros técnicos e administrativos da Unicamp. Na atualidade, isso se expressa na busca cada vez maior do desenvolvimento educacional, acadêmico e científico. O que explica também a vanguarda da Unicamp é o fato de ser nossa Universidade pioneira em um evento como o Simtec, que sempre contou com adesão relevante do conjunto de profissionais da instituição, onde esse conjunto mostra sua contribuição como quadro profissional de referência, no importante compromisso que a Unicamp tem com a sociedade que a financia, sempre se pautando pela excelência. Edison Cardoso Lins, da carreira Paepe, mestre em Educação, integra a Comissão, designada pelo reitor. Coordena os trabalhos de organização geral do IV Simtec.
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali
Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
Pesquisa premiada analisa as conexões entre instituições e dinâmica econômica LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
Economista aponta inconsistências da abordagem de Variedades de Capitalismo
os últimos anos tem crescido o debate em torno do papel das instituições no desempenho econômico dos países, sendo que uma das vertentes que Foto: Moacyr Lopes Júnior/Folhapress analisam este papel é a chamada abordagem de Variedades de Capitalismo (VoC). Desenvolvida a partir de um livro homônimo escrito em 2001 por Peter Hall e David Soskice, a abordagem de VoC apresenta-se como uma resposta específica do campo de estudos em economia política comparada aos fenômenos recentes da globalização, em que os movimentos de liberalização comercial e financeira reduziram o grau de autonomia dos Estados nacionais na formulação de políticas públicas em geral, e da política econômica em particular. É com esta explicação que Cláudio Roberto Amitrano nos introduz ao tema de sua tese de doutorado, uma das cinco vencedoras do Prêmio Capes 2011 pela Unicamp, na área de Economia. O estudo intitulado “Instituições e desenvolvimento: críticas e alternativas à abordagem de Variedades de Capitalismo” teve a orientação Em abordagem que caracteriza a performance das economias, o autor mostra que uma teoria alternativa pode gerar modelos diferentes de desenvolvimento do professor Antonio Carlos Macedo e Silva. “A ideia foi trabalhar num lho, reconheço as virtudes desta abordagem, colocam as preferências dos agentes como campo recente mas muito promissor do cocompartilhando a ideia de que as economias sendo exógenas às instituições. É como se nhecimento em economia, com objetivo de têm estruturas institucionais e trajetórias os agentes formassem suas preferências inestabelecer a conexão entre o papel das instieconômicas diferentes. No entanto, em mi- dependentemente do contexto institucional, tuições e a dinâmica econômica. Já temos um nha opinião, ela padece de alguns vícios que em função dos seus desejos. Tal pressuposto Nobel, o professor Douglass North, e outros limitam a compreensão do que é o fenômeno significa limitar enormemente o papel que as economistas que produziram trabalhos reledo desenvolvimento econômico, como por instituições podem exercer sobre o comporvantes para este debate”, diz Cláudio Amiexemplo, de se nutrir fundamentalmente do tamento dos agentes. Para um papel proemitrano, que atualmente é diretor-adjunto de conhecimento ortodoxo em economia.” nente das instituições, as preferências dos inEstudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea divíduos precisam ser endógenas. Esta é uma (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). crítica veemente que faço à abordagem.” AS CRÍTICAS Na tese, o autor também explica que a A primeira crítica é que a abordagem de abordagem de VoC é frontalmente contráNA MACROECONOMIA VoC estabelece uma dualidade entre econoria a interpretações disseminadas a partir do Quando trata do impacto das instituições mias: aquela que Soskice e Hall chamam de Consenso de Washington, como a de que economia liberal de mercado (ELM), caractesobre a macroeconomia, o autor da tese toma em algum momento chegaremos a um único rizada pelo modelo americano, e outra, a ecoo exemplo da interação entre barganha salatipo de política econômica para todos os panomia de mercado controlada (EMC), reprerial e banco central. “Este tema é muito caro íses; e que suas estruturas institucionais em sentada pelo modelo alemão; em cada uma nas economias europeias, que possuem sistermos de regulação do trabalho, dos sistedelas, as instituições são diferentes em vários temas de barganha salarial bastante efetivos mas financeiros e de governança corporativa, domínios da vida social e econômica. “Vou e bancos centrais igualmente muito ativos. assim como os modelos de treinamento, o dar o exemplo do mercado de trabalho. Na Temos então uma interação entre duas inssistema educacional e a dinâmica de incentiAlemanha, esse mercado é bastante regulado tituições que é muito importante na detervo às inovações convergiriam para um único e as centrais sindicais têm grande protagonis- minação da inflação e do nível de emprego”, padrão. Esta convergência, segundo aquela mo na determinação dos salários e das con- avalia. “Um elemento central da VoC é que visão, seria decorrência dos mecanismos em dições de trabalho, influenciando inclusive os diversos domínios institucionais – as insoperação nos mercados financeiros e de bens na política econômica. Já na economia ameri- tituições que regulam o mercado de trabae serviços internacionais. cana, os sindicatos são bastante frágeis, com lho, a concorrência entre empresas, a política “Soskice e Hall atentam que, contrarianpouca capacidade de influir nessas decisões.” econômica – são vistas como dotadas de uma do o que advoga boa parte do saber econômiNa hipótese defendida por Soskice e Hall, forte complementaridade. E esta complemenco convencional, existem diversos modelos comenta o autor da tese, as diferenças entre taridade é que caracterizaria cada um dos mode desenvolvimento econômico (as varieo caso alemão e o caso americano se man- delos de capitalismo”. dades de capitalismo); e que as instituições terão no tempo, em função de uma série de são diferentes para cada tipo de modelo, faCláudio Amitrano considera que a bargaaspectos, como a dependência da trajetória nha salarial alemã, no caso, não é importante zendo com que as trajetórias das economias, institucional. “Ocorre que, embora os autores por si só, mas também por estar conectada a ao longo do tempo, sejam variadas”, observa não acreditem que as economias do mundo uma estrutura de concorrência bastante cenCláudio Amitrano, que se refere a instituiconvergirão para um único modelo, defen- tralizada e que opera de forma muito especíções como as normas escritas, formais ou indem que algumas caminharão para algo pró- fica e articulada com a dinâmica econômica. formais, de caráter regulatório. “No primeiro ximo do alemão e, outras, para algo próximo “Outra instituição relevante seria o sistema capítulo procuro mostrar a tese central desta abordagem, que vem conquistando mentes do americano. Não haveria meio termo. As de inovações, que na Alemanha está voltae corações na economia (sobretudo no caso economias de meio termo, dizem, seriam ca- do ao desenvolvimento de tecnologias ou europeu) e também na sociologia e ciência racterizadas como instáveis – e, como a insta- processos produtivos mais maduros. Existe, política (curiosamente, no caso americano). bilidade é insustentável no longo prazo, tam- portanto, uma série de complementaridades Soskice é um economista da Duke Universibém estas acabariam convergindo para um ou entre os diversos domínios institucionais que ty, e Peter Hall, um sociólogo de Harvard.” outro modelo.” caracterizariam essas variedades de capitalisO mérito maior da tese de Amitrano está Amitrano questiona outro pressuposto da mo. E é exatamente essa complementaridade nas críticas que faz à abordagem de Variedaabordagem, referente ao impacto das insti- que criaria alguma rigidez do ponto de vista des de Capitalismo, apontando suas incontuições sobre o comportamento dos agentes. institucional, o que leva os criadores da VoC a sistências e culminando com a proposição de “Soskice e Hall afirmam que as instituições apostarem na pouca probabilidade de que as uma abordagem específica para caracterizar a são muito importantes para entender o com- instituições mudem para convergir ao modeperformance das economias. “Em meu trabaportamento dos agentes, mas por outro lado lo, por exemplo, liberal de capitalismo.”
O pesquisador leva esta aposta em consideração, mas ressalva que o desenvolvimento econômico é um fenômeno que se caracteriza pela mudança – e pela mudança institucional. “Por isso, vejo certa tensão entre caracterizar economias com complementaridade e rigidez institucional de um lado, e de outro, tentar analisar a trajetória dessas sociedades que contemplam a mudança institucional o tempo todo, ao menos no longo prazo. Como compatibilizar esses dois aspectos controversos? Esta é uma limitação da abordagem, que eu procurei não só explicitar, mas também propor uma solução para isso.”
MODIFICAÇÕES
Amitrano propõe modificações sob outra perspectiva teórica, em que utiliza um conceito de instituição e de racionalidade diferente, as instituições são apresentadas como recursos, as institucionais informais têm papel significativo e os agentes são movidos pelo auto-interesse e por certa noção de reciprocidade. “Isso vai permitir que determinadas instituições exerçam um papel fundamental sobre as preferências dos agentes, ou seja, elas vão ser endógenas e não exógenas. Com isso, apesar de termos um número limitado de variedades de capitalismo, eles não convergirão necessariamente para dois. E, até por conta desta conclusão, modelos que não se enquadrem no modelo liberal nem no modelo coordenado, poderão ser estáveis ao longo do tempo.” Na última parte da tese, o autor apresenta sua abordagem específica para caracterizar a performance das economias, procurando mostrar que é possível, a partir de uma teoria alternativa, derivar modelos diferentes de desenvolvimento. “Utilizei um instrumental pós-keynesiano para tratar de dois fenômenos vinculados ao desempenho das economias, que são a inflação e o crescimento. Criei primeiro um modelo de inflação e conflito distributivo, mostrando os possíveis impactos de instituições como o banco central e a barganha salarial na determinação da taxa de inflação. A partir desse modelo é possível derivar modelos de capitalismo diferentes do caso alemão e do caso americano e, ainda, que essas outras variedades sejam estáveis.” Para avaliar o crescimento, o segundo elemento de desempenho econômico, Cláudio Amitrano desenvolveu um modelo também pós-keynesiano, com três elementos centrais: nele, é a demanda que comanda o crescimento (e não a oferta, como nos modelos ortodoxos); a distribuição funcional da renda (entre salários, lucros e juros) tem papel central na dinâmica do crescimento; e a inovação também exerce influência importante. “O último capítulo conecta bem a ideia de desempenho econômico com modalidades diferentes de instituições e, portanto, de capitalismo. Cheguei a um modelo cujas soluções, dependendo dos parâmetros e equações, podem gerar modelos tanto instáveis como estáveis de capitalismo, e em número maior que dois.”
Publicação Tese: “Instituições e desenvolvimento: críticas e alternativas à abordagem de Variedades de Capitalismo” Autor: Cláudio Roberto Amitrano Orientador: Unidade: Instituto de Economia (IE)
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
Estuda aponta peso de variações genéticas no melanoma cutâneo Portadores de formas específicas de genes têm até três vezes mais chances de desenvolver a doença Foto: Antoninho Perri
EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU
corpo humano possui 350 bilhões de células que se dividem normalmente todos os dias. Os mecanismos de reparo do DNA e de morte celular são responsáveis pela manutenção saudável das células. Entretanto, basta uma escapada dos controles de crescimento e diferenciação para dar origem a uma célula anormal que pode levar ao câncer. O câncer é a segunda principal causa de morte em todo o mundo, representando cerca de 17% dos óbitos de causa conhecida, segundo dados de 2011 do Ministério da Saúde. O câncer de pele é o tipo mais comum. O melanoma cutâneo é um tumor de pele com baixa incidência – representa 5% dos tumores de pele –, mas de alta letalidade. A bióloga e doutoranda Cristiane de Oliveira debruçou-se sobre este assunto desde o seu projeto de iniciação científica. Em julho de 2012, defendeu o mestrado no qual apresentou a influência dos polimorfismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-938)A e BAX G(-248)A relacionados com a morte celular na susceptibilidade herdada ao melanoma cutâneo. O estudo avaliou a influência dos polimorfismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-948)A e BAX G(-248)A no risco do melanoma cutâneo. Polimorfismos gênicos são variações genéticas. Segundo dados da pesquisa, portadores das formas específicas dos genes têm até três vezes mais chances de desenvolver o melanoma cutâneo do que os demais. A pesquisa, orientada pela médica Carmen Silvia Passos Lima, da Disciplina de Oncologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp foi realizada com pacientes do Hospital de Clínicas (HC) e doadores de sangue do Hemocentro da Unicamp e ganhou o prêmio de melhor trabalho apresentado na Jornada de Patologia do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo, em agosto deste ano. “Foram identificados, no estudo, indivíduos de nossa população com maior predisposição herdada para desenvolver melanoma cutâneo. Esses indivíduos receberam de seus ancestrais genes menos ativos no reparo de lesões cutâneas causadas por raios ultravioleta da luz solar ou na morte de células lesadas”, disse a médica Carmen Silvia Passos Lima.
MELANOMA
O melanoma cutâneo acomete predominantemente indivíduos com pele, cabelos e olhos claros, com dificuldades de bronzeamento e propensão a queimaduras solares. A incidência do melanoma cutâneo aumenta com a idade, sendo que média de idade dos pacientes com diagnóstico é de cerca de 50 anos. Os homens são mais acometidos pelo tumor do que as mulheres. Usualmente, o melanoma cutâneo se apresenta como uma lesão de pele com algumas das seguintes características: assimetria, bordas irregulares, variações de cor e aumento ou regressão em seu tamanho ao longo do tempo. Em homens de pela clara, os locais mais frequentes da doença são o dorso e os membros superiores; em mulheres também de pele clara, o dorso e os membros inferiores são os locais mais acometidos. Em negros e asiáticos, as regiões palmo plantar, o leito ungueal e as mucosas são mais afetadas. Estima-se que até 65% dos casos de melanoma cutâneo estão relacionados à exposição solar. A exposição crônica à radiação solar ultravioleta (UV) A e B, particularmente na infância, causa danos ao DNA de células da epiderme. Para a pesquisa, a bióloga avaliou 150 pacientes com melanoma cutâneo atendidos nos ambulatórios de Oncologia Clínica e de Dermatologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, no período de abril de 2007 até julho de 2011. Os pacientes apresentaram ida-
A orientadora, professora Carmen Silvia Passos Lima (esq.), e a bióloga Cristiane de Oliveira, autora da dissertação Foto: Antonio Scarpinetti
sitam confirmação em indivíduos de outras regiões do país, para que possamos, de fato, definir os papéis desses polimorfismos gênicos na ocorrência do melanoma cutâneo em nossa população”, disse Cristiane.
PREVENÇÃO
De acordo com estudos, 65% dos casos de melanoma cutâneo estão relacionados à exposição solar
de entre 20 e 89 anos. A média de idade foi de 59 anos. Um grupo controle, constituído por 150 doadores de sangue do Hemocentro da Unicamp, também foi avaliado. Todas as análises moleculares foram realizadas em DNA de amostras de sangue periférico de pacientes e controles. Dados relativos à identificação, à idade, ao sexo, ao histórico pessoal ou familial de melanoma cutâneo hereditário, queimaduras solares, incapacidade de bronzear, hábito de fumar, à cor de pele, olhos e cabelos e localização do tumor, foram considerados na pesquisa. A exposição solar a que pacientes foram submetidos foi determinada por meio da observação de elastose solar no local da lesão cutânea. Elastose é um indicador histológico de comprometimento cutâneo pelo sol. O diagnóstico de melanoma cutâneo foi realizado por exame histopatológico realizado em cortes de fragmentos do tumor. De acordo com a pesquisa, os resultados da combinação dos polimorfismos dos genes P53, MDM2, BCL2 e BAX sugerem que eles possam atuar de forma sinérgica no mecanismo de apoptose (morte celular) no melanoma cutâneo. O BAX é um gene associado à morte celular. Ele é responsável pela “limpeza” do organismo. Se uma célula é anormal, ele é en-
carregado de eliminá-la. O gene BCL2 tem a função contrária: evitar a morte da célula. Já o gene P53 interrompe o ciclo celular para que a lesão seja reparada mas, se isso não for possível, também induz a morte da célula. O seu opositor é o gene MDM2, que inibe a função do P53. “Se temos uma célula danificada pelo sol, o P53 reconhece esse dano e vai tentar fazer com que proteínas do DNA reparem esse dano. Se não por possível, ele vai ativar outros genes envolvidos com a morte celular – BCL2 ou BAX – para que a célula seja removida. Ele tenta consertar a lesão, se não for possível, outros genes são recrutados para induzir a morte celular, chamada de apoptose” explicou Cristiane. Segundo a pesquisadora, há evidências de que a proteína p53 reduz a expressão de genes antiapoptóticos como o BCL2 e aumenta a expressão de genes pró-apoptóticos como BAX. Além disso, alteração no balanço existente entre as proteínas antiapoptóticas e pró-apoptóticas pode resultar na resistência à morte celular, com consequente formação de um tumor. “Os resultados do nosso estudo sugerem que os polimorfismos P53 Arg72Pro, BCL2 C(-948)A e BAX G(-248)A, particularmente associados, alteram o risco de ocorrência do melanoma cutâneo. Estes resultados neces-
A melhor maneira de evitar o melanoma cutâneo é a prevenção. O teste, chamado genotipagem, pode identificar indivíduos com maior predisposição herdada para a ocorrência do tumor, que mereçam receber recomendações adicionais para evitar a exposição da pele aos efeitos nocivos do sol. É realizado em células da mucosa bucal ou do sangue periférico. No Brasil, o exame não é oferecido na rede pública de saúde, apenas por falta de recursos financeiros. Segundo Cristiane, o custo o exame custa cerca de dez reais, valor considerado irrisório perto do necessário para o tratamento de paciente portador do câncer de pele. Assim, como não é possível identificar do ponto de vista genético grupos de alto risco para a ocorrência do melanoma cutâneo, a pesquisadora sugere que se adotem medidas bastante conhecidas para a prevenção do tumor na população em geral: evitar a exposição ao sol nos horários de pico – entre 10 e 16 horas –, e usar óculos de sol, chapéu ou boné, protetor solar ou blusas de manga comprida, quando a exposição ao sol é inevitável. E, ao perceber lesões cutâneas assimétricas, de várias cores, ou com aumento ou regressão em seu tamanho ao longo do tempo, em qualquer região do corpo, um dermatologista deve ser consultado. “O nosso futuro pode ser determinado no berço. Cabe a nós saber o que fazer para prevenir tumores para os quais nascemos predispostos, como nos proteger dos efeitos insalubres da luz solar para evitar o melanoma cutâneo”, disse a especialista.
Publicação Dissertação: “Influência dos polimorfismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-938)A e BAX G(-248)A, relacionados com apoptose celular, na susceptibilidade ao melanoma cutâneo” Autora: Cristiane de Oliveira Orientadora: Carmen Silvia Passos Lima Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012 MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
geólogo Cleyton de Carvalho Carneiro, pesquisador colaborador do Departamento de Geologia e Recursos Naturais (DGRN) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, aplicou pela primeira vez no Brasil a técnica denominada Self-Organizing Maps (SOM) para gerar mapas geológicos mais detalhados e precisos do que os elaborados por métodos convencionais. Carneiro validou a ferramenta em estudo desenvolvido na Província Aurífera do Tapajós, localizada nos estados do Pará e Amazonas. “Os resultados do trabalho reforçam o entendimento de que a técnica SOM é um recurso acessível e adequado para aperfeiçoar a rotina de elaboração de mapas geológicos”, afirma o autor da pesquisa. Desenvolvida originalmente pelo engenheiro finlandês Teuvo Kohonen, em 1982, a técnica SOM levou alguns anos até ser difundida em termos de aplicações. Há algum tempo a técnica tem despertado o interesse de cientistas, nos diversos campos das engenharias, das geociências ou até mesmo na medicina. As amplas aplicações possibilitam, por exemplo, desde o refinamento de buscas em sites na internet, até complexas análises de neuroimagens. Por meio da ferramenta é possível, por exemplo, promover a diferenciação de tecidos em função de suas constituições, o que auxilia os médicos a identificarem eventuais tumores. A partir das possibilidades proporcionadas pela técnica, Carneiro decidiu utilizá-la para gerar mapas geológicos, tendo por base dados aerogeofísicos. O pesquisador do IG começou a tomar contato com o tema por ocasião do seu doutorado, sob a orientação do professor Alvaro Penteado Crósta. Parte dos estudos foi realizada no Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO), na Austrália, sob a supervisão do pesquisador Stephen Fraser, que desenvolveu, a partir dos conceitos propostos por Kohonen, um software para ser aplicado na área da geologia. Também atuaram como co-orientadores de Carneiro no doutorado os professores Adalene Silva (UnB) e Eduardo Barros (UFPR). Na ocasião, a equipe escolheu uma área próxima ao município de Anapu (PA) para promover as análises por imagens e a coleta de informações de campo. O trabalho deu origem a um artigo científico publicado na revista Geophysics, uma das mais respeitadas do segmento, que comprovou que a técnica SOM poderia aperfeiçoar a elaboração de mapas geológicos. “A escolha das variáveis, bem como o estudo estatístico dos resultados produzidos, permitiu classificar as rochas conforme suas características composicionais”, explica Carneiro. As pesquisas estão tendo prosseguimento no pós-doutorado do geólogo, desenvolvido no Instituto de Geociências (IG) da USP, sob supervisão do professor Caetano Juliani, em parceria com o IG-Unicamp. Desta feita, a área escolhida para validar a ferramenta computacional foi a Província Aurífera do Tapajós, que detém uma das maiores reservas de ouro do Brasil. “O nosso objetivo, além de gerar novos conhecimentos nessa região, é prover dados que possam identificar áreas que possuam reservas minerais de interesse comercial”, diz o professor Alvaro Crósta. Ele assinala que o Brasil ainda conhece pouco sobre a geologia da Amazônia, por causa principalmente das características da região. O docente lembra que, no mapeamento geológico convencional, o geólogo vai ao campo, coleta as amostras de rochas e as leva para o laboratório para análise. “Na Amazônia, esse trabalho é difícil de ser realizado. Primeiro, porque há uma extensa cobertura vegetal. Além disso, não há afloramentos em todos os locais, o que significa que muitas vezes as rochas ficam escondidas sob o solo”. Essas peculiaridades, continua o docente do IG, interferem também no sensoriamento remoto. “Quando se passa com o sensor convencional sobre a Amazônia, a bordo de um avião ou satélite, o que se vê são as árvores”, esclarece. Por isso, Alvaro Crósta considera que a técnica SOM, aplicada a dados geofísicos tomados por avião, é especialmente indicada para o mapeamento de áreas com
Técnica gera
mapas geológicos mais precisos
Ferramenta foi testada pela primeira vez no Brasil por pesquisador do Instituto de Geociências Foto: Antoninho Perri
Alvaro Crósta (em pé) e Cleyton Carneiro: ferramenta é recurso acessível e adequado para aperfeiçoar a rotina de elaboração de mapas geológicos
essas características, por apresentar uma série de vantagens sobre os métodos usuais. “E se funciona bem na Amazônia, funcionará ainda melhor em outras regiões”, destaca. Mas, afinal, que atributos diferenciam a técnica SOM do mapeamento geológico convencional?
ANÁLISE VISUAL
Quem responde é Carneiro. De acordo com ele, a maior parte dos mapas geológicos usuais é produzida a partir da análise visual de uma imagem colorida, na qual são utilizadas somente três variáveis, como potássio, urânio e tório, elementos detectados pelos aerolevantamentos geofísicos, que configuram, por assim dizer, a assinatura de determinadas rochas. Estas, por sua vez, podem estar relacionadas à presença em determinado local de minerais de grande valor comercial, como o ouro. Assim, com base nessa composição ternária, os geólogos desenham o contorno das unidades de rochas, baseados na interpretação visual das diferentes tonalidades de cores observadas. Ou seja, além de demandar maior tempo e ser menos precisa, esse tipo de técnica está sujeita a avaliações permeadas pela subjetividade. “Quando dois geólogos produzem mapas a partir desses dados de maneira independente, muito provavelmente cada um fará uma interpretação diferente dele”, assinala Carneiro. Entretanto, quando a classificação deixa o domínio do espaço geográfico e passa para o das variáveis, tudo muda de figura, sem trocadilhos. “O espaço das variáveis é o que classificamos como n-dimensional. Ou seja, em termos matemáticos, nós podemos trabalhar com um número infinito de parâmetros, o que refina o mapeamento e faz com que cheguemos mais próximo da realidade”, pontua Alvaro Crósta. Para esclarecer como se dá esse refinamento, Carneiro usa como analogia uma fotografia, composta
por pixels. “A aerogeofísica funciona como uma fotografia na qual se pode enxergar a abundância de um determinado elemento constituinte das rochas. Dessa maneira, se tomarmos uma mesma área geográfica como referência, cada fotografia de um dado elemento consistiria em uma variável”, afirma Carneiro. Conforme o geólogo, na técnica SOM cada pixel da imagem é plotado em função do valor correspondente à concentração dos elementos que constituem as rochas. Desse modo, em vez de relacionar os pixels ao espaço geográfico, a ferramenta os associa ao domínio das variáveis. “Tomemos como exemplos o granito e o granodiorito, que são rochas muito próximas. No modelo convencional, eu poderia ter dificuldade de diferenciá-las a partir da análise visual, feita no domínio do espaço geográfico. No entanto, quando consigo relacionar os parâmetros de constituição dessas rochas ao domínio exclusivo das variáveis, eu obtenho uma classificação muito mais detalhada e precisa do que no domínio do espaço. Ou seja, eu abandono a generalização e passo a ser muito mais específico”. O professor Alvaro Crósta observa que essa classificação é denominada de “não-supervisionada”, pois sofre interferência mínima do usuário. “A única ingerência, nesse caso, está relacionada à escolha das variáveis a serem consideradas para alimentar o programa. Entretanto, o usuário não tem como conferir pesos diferentes a elas. Com isso, temos um grau de subjetividade muito menor envolvido nessa tarefa”, reforça Carneiro. Os dois cientistas assinalam que, depois de feita a classificação, é possível voltar ao domínio geográfico para aplicar os resultados, o que permite enfim gerar o mapa geológico. “Vale lembrar que esse tipo de técnica não elimina o trabalho de campo feito pelo geólogo. Ele ainda precisa continuar indo a campo para coletar amostras para análises, que serão confrontadas com as informações cartográficas. Mas, o
trabalho de mapeamento poderá ser feito de maneira muito mais eficiente e em prazo consideravelmente menor”, diz o autor do trabalho de pósdoutorado. Ao promover a comparação dos mapas geológicos gerados pelo método usual e pela técnica SOM é possível identificar facilmente o nível de detalhamento proporcionado pelo segundo. Nele, os grupamentos que representam os diferentes tipos de rocha surgem de maneira pormenorizada. Os limites entre as unidades de rochas são identificados com maior precisão. Carneiro comenta, porém, que a ferramenta validada por ele tem limitações. Segundo o pesquisador do IG, às vezes uma unidade classificada tem a mesma constituição geofísica de outra dentro do mapa, mas isso não significa que ambas pertençam à mesma formação rochosa. “Com frequência, as rochas podem ter uma composição mineralógica similar, mas apresentarem idades diferentes. Uma pode ter, por hipótese, alguns milhões de anos a mais do que a outra. A identificação da idade e de outros parâmetros só pode ser feita a partir do trabalho do geólogo, que precisa ir a campo”, reafirma. Segundo o professor Alvaro Crósta, a ferramenta computacional já está disponível para ser utilizada na elaboração de mapas geológicos mais precisos. A licença do programa SiroSOM, utilizado nas análises, pertence à instituição australiana CSIRO. O próximo passo do trabalho cooperativo entre a Unicamp e a USP é testar a técnica SOM em mapas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). “Nossa intenção é estabelecer uma rotina que proporcione a geração de mapas geológicos que sirvam de modelo inclusive para outros países. Atualmente, não tenho conhecimento de outro país que utilize a técnica SOM para essa finalidade”, conclui Carneiro, que conta com bolsa de estudos concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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Campinas, 5 a 11 de
O professor Paulo Franchetti, diretor da Editora da Unicamp: “O diferencial da editora universitária de primeira linha é não buscar a inserção in
No top edição univ
ÁLVARO K kassab@reitoria
professor, ensaísta e escritor Paulo Franchetti analisa, na entrevista que segue, o faz um balanço das ações que colocaram, em sua gestão, a Editora da Unicamp n trabalho criterioso do conselho editorial e da equipe da Editora, que não só produz
Livros do catálogo de literatura: heterogeneidade
Seminário reúne editores na USP A Edusp promove, de 5 a 8 de novembro, o Seminário Internacional Livros e Universidades. O evento, gratuito, ocorrerá no auditório da Biblioteca Mindlin, na Universidade de São Paulo (USP). Reunirá editores, formadores e pesquisadores do livro. O seminário integra o quadro de celebrações dos 50 Anos da Edusp. Segundo a professora Marisa Midori Deaecto, curadora do Seminário, o evento “tem por objeto a edição universitária no Brasil e no Mundo, ou seja, apresentase como um Fórum de debates e trocas de experiências entre profissionais do livro, em particular editores universitários das principais instituições internacionais e brasileiras”. Está confirmada a presença de editores das universidades de Cambridge, Oxford, Harvard, Yale, Chicago e Califórnia, e das universidades brasileiras USP, Unicamp, UERJ, UFMG, UFSC e UFPA. Presidentes das associações de imprensas universitárias do Brasil, dos Estados Unidos, da Europa, da América Latina e do Caribe também estarão presentes. A programação completa pode ser conferida em www.edusp.com.br.
Jornal da Unicamp – Que análise o sr. faz do papel das editoras universitárias no mercado nacional? Paulo Franchetti – Creio que as editoras universitárias de primeira linha têm ocupado um lugar importante no mercado editorial. Têm posto em circulação obras de grande relevância acadêmica e promovido a difusão do livro de uma forma que as demais editoras não fazem sistemática ou prioritariamente. Basta ver, nesse sentido, as políticas de desconto que editoras como as da USP, da UFMG e da Unicamp mantêm para professores de todos os graus de ensino, bem como as feiras que promovem nos seus campi. O mais importante, no que diz respeito à relação entre editoras universitárias e mercado, dessa forma, não é o lugar que ocupam nele, e sim o lugar que elas ocupam e o mercado não ocupa: o de formar catálogos especializados, de retorno financeiro baixo ou de longo prazo, mas de relevante impacto científico e educacional. JU – Observa-se no país a proliferação de pequenas editoras e, na outra ponta, a maior parte do mercado nas mãos de grandes conglomerados detentores da produção e, em última instância, também da distribuição. O que as editoras universitárias devem fazer para enfrentar essa realidade? Paulo Franchetti – As editoras universitárias não são um conjunto homogêneo. Há vários tipos, com objetivos e funções diferentes. Há, em primeiro lugar, as editoras pertencentes às grandes universidades públicas. Essas têm um trunfo inestimável, que é a aferição rigorosa da qualidade do que publicam. Num mundo de produtos abundantes, de crescimento enorme na oferta de títulos, essas editoras funcionam como filtros: como têm, as melhores, conselhos editoriais deliberativos compostos por especialistas, que se apoiam, por sua vez, em pareceres de mérito emitidos pelos melhores especialistas, tudo o que publicam e chega às prateleiras das livrarias vêm com a marca da excelência acadêmica. É fácil hoje, com verbas de origem vária, pagar a publicação de uma tese ou de uma coletânea de artigos numa editora qualquer. E algumas editoras de fato se especializaram em recolher essas verbas, publicando livros que não circulam e não passaram ou não passariam pelo crivo de especialistas. Mas numa editora como as que referi, o fato de o autor possuir recursos para publicar um livro não quer dizer nada: o decisivo é a avaliação criteriosa pelos pares. Há, porém, vários outros tipos de editoras universitárias (isto é, ligadas a universidades), que têm objetivos mais modestos, tais como dar vazão à produção local, que não encontraria guarida fora do seu âmbito, ou mesmo servir de ferramenta de divulgação e propaganda da marca, como é o caso de algumas editoras ligadas a universidades privadas. De modo que não creio ser possível falar em editoras universitárias como um conjunto. Foi essa constatação, aliás, que originou a criação de uma nova associação de editoras, a LEU (Liga de Editoras Universitárias), como alternativa à já existente ABEU (Associação Brasileira de Editoras Universitárias). No caso da ABEU, para ser associado basta ser editora e estar
vinculada, de alguma forma, a uma universidade. É indiferente que a editora ou a universidade sejam públicas ou privadas, bem como são indiferentes a importância do catálogo e as políticas de difusão do livro. A LEU, por sua vez, só admite editoras mantidas pelo poder público, possuidoras de catálogo relevante e que implementem políticas definidas de incentivo à circulação, produção e difusão do livro universitário. A LEU, eu creio, mostra o caminho de afirmação da singularidade e da relevância das editoras universitárias públicas: sua participação em feiras nacionais e internacionais não visa à venda de livros. Visa à divulgação do que é produzido no Brasil e, sobretudo, à divulgação da cultura brasileira, levando para os eventos, além dos livros, autores, professores e profissionais do livro, que realizam palestras, minicursos e debates. Ou seja, o diferencial da editora universitária de primeira linha é não buscar a inserção indiferenciada no mercado, mas sim pautar discussões e desenvolver ações que só a universidade pode conduzir. Por isso, os movimentos puramente corporativos e comerciais não ocupam lugar muito relevante nas minhas preocupações como editor. JU – Dá para afirmar que houve uma guinada na produção de livros no segmento? Paulo Franchetti – Depende do arco temporal. Há grandes momentos na história da edição universitária no Brasil. Posso referir um deles, que me é especialmente caro, pois inspirou o meu próprio trabalho ao longo destes 10 anos: aquele em que a Editora da Universidade de São Paulo deixou de ser apenas coeditora, isto é, financiadora de publicações de interesse da universidade, e passou a ser propriamente editora, criando não apenas uma nova política de difusão do livro universitário, mas ainda um elevado padrão editorial. Se eu tivesse de destacar um momento central na história da edição universitária no Brasil seria esse: o projeto editorial implementado por Plínio Martins Filho, sob a presidência de João Alexandre Barbosa, a partir de 1989. JU – O Brasil vem experimentando um crescimento nos indicadores de produção científica, em nível internacional. Esse círculo virtuoso do ensino e da pesquisa vem se refletindo nas publicações das editoras universitárias? Paulo Franchetti – Creio que sim, mas não há uma relação direta. A maior parte da produção científica brasileira avaliada internacionalmente não tem, como canal de difusão, o livro. Sua forma de publicação preferencial (ou exclusiva) é a revista especializada, normalmente escrita em inglês. Essa produção tem um ciclo de vida muito rápido: o artigo inovador de hoje é a base do artigo inovador de amanhã. Por isso, raramente se originam livros que registram o real movimento do progresso do conhecimento no campo da tecnologia e das ciências da natureza. Nesse domínio, o livro tem quase sempre escopo didático ou de divulgação científica. E tanto para o primeiro, quanto para o segundo tipo, as grandes editoras especializadas em geral oferecem melhores condições para os autores, tanto no que se refere à remu-
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e novembro de 2012 Fotos: Antoninho Perri
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ndiferenciada no mercado, mas sim pautar discussões e desenvolver ações que só a universidade pode conduzir”
po da versitária
KASSAB a.unicamp.br
o papel da edição universitária, mensura o impacto das novas mídias no segmento e no seleto grupo das melhores do país. “Acho que o reconhecimento é consequência do z livros de alta qualidade editorial, mas ainda os difunde e distribui de modo eficaz.” neração, quanto à promoção. Do ponto de vista do incremento das publicações das editoras universitárias, o diferencial é a multiplicação dos cursos de pósgraduação – especialmente no campo das humanidades. JU – A Editora da Unicamp já vem, há algum tempo, apostando em coleções temáticas e/ou por áreas do conhecimento. O sr. poderia detalhar as razões dessa opção? Paulo Franchetti – Quando assumi a direção da Editora, em 2002, ela não possuía um regimento interno. Ao redigi-lo, pareceu interessante incluir um artigo que desse respaldo à ampliação do número de pesquisadores envolvidos na tarefa de construção de um catálogo de ponta. Esse dispositivo permitiu a criação de comissões especiais, integradas por especialistas da Unicamp e de fora dela, às quais o conselho editorial delega a escolha de livros numa determinada linha de pesquisa ou interesse, com vistas à publicação de textos de referência nas várias áreas do conhecimento. Isso propiciou (sem prejuízo da qualidade, nem concessões a interesses individuais) não apenas maior agilidade, pois a escolha e contratação de um livro relevante não precisa aguardar a pauta das reuniões do conselho, mas também grande envolvimento dos integrantes dessas comissões. Afinal, não se tratava mais de sugerir a um autor que procurasse a editora ou ao conselho que publicasse um determinado livro: tratava-se de poder escolher e implementar. Está claro que é ao conselho que cabe não só aprovar os projetos de coleções temáticas, mas ainda verificar os passos de seleção dos livros no interior delas. Mas a ideia é simples: quem sabe quais as deficiências da bibliografia de uma determinada área são os que nela trabalham e se destacam. Os resultados foram muito bons, do ponto de vista acadêmico, e as coleções temáticas são hoje parte importante do catálogo. E, algumas delas, sucesso de vendas. JU – Ao mesmo tempo, percebe-se que, em algumas áreas, como é o caso da literatura, a Editora da Unicamp aposta no heterogêneo. Como tem sido a resposta? Paulo Franchetti – O princípio básico que define o catálogo da Editora da Unicamp é: nós publicamos livros que são referência em seu campo de conhecimento e livros que são usados em sala de aula. Ou seja, livros clássicos tanto no sentido da permanência ao longo do tempo quanto no sentido do seu uso em classe. No domínio da literatura, por exemplo, o conselho aprovou a coedição de uma coleção de clássicos traduzidos. Nela têm sido publicados textos de fato variados, mas todos importantes para os cursos de graduação e pós-graduação. E, quando possível, busca-se acrescentar um diferencial em relação às edições correntes, como foi o caso da recém-lançada edição de A Divina Comédia, com desenhos de Botticelli. Publicamos também muitas traduções de poesia, destacando-se, nesse particular, os textos clássicos gregos e latinos.
A resposta é muito boa, em todos os níveis. A publicação dessa edição da Comédia, por exemplo, além de ser um relevante serviço acadêmico, pois foi a primeira vez que os desenhos foram reunidos segundo o projeto gráfico do artista, foi um sucesso de vendas, gerando recursos para a publicação de várias outras obras relevantes e sem o mesmo apelo de público. JU – Nesse contexto, a Editora da Unicamp vem amealhando prêmios importantes, entre os quais o Jabuti. A que o sr. atribui esse reconhecimento? Paulo Franchetti – Acho que o reconhecimento é consequência do trabalho criterioso do conselho editorial e da equipe da Editora, que não só produz livros de alta qualidade editorial, mas ainda os difunde e distribui de modo eficaz. JU – Em sua opinião, qual é o impacto das novas mídias, especialmente as eletrônicas com seus hiperlinks e conteúdos interativos, no mercado editorial e no universo acadêmico? Paulo Franchetti – Ainda é difícil avaliar. Penso que há dois aspectos que merecem consideração, no que diz respeito às novas mídias e, especialmente, o livro eletrônico. O primeiro é que a oferta tende a aumentar exponencialmente, dado o baixo custo da publicação. Nesse caso, à editora universitária caberá um papel relevante: de filtro, de afirmação e garantia de qualidade. O segundo é que o livro universitário exige cuidados de produção que um best-seller não exige: tradução por especialista – se for o caso –, revisão técnica, produção criteriosa. Ora, isso tem um custo alto. Por outro lado, o livro universitário não vende como um romance. Assim, a relação entre custo/retorno, no caso do livro eletrônico, será muito diferente no caso de uma editora universitária e de uma editora de livros de tiragem ampla. Mas, como disse, ainda é difícil avaliar. A Editora da Unicamp tem estudado com cuidado e prudência essa questão para não dar um passo no escuro, pois, embora a pressão para colocarmos nossos livros on-line seja grande, não queremos tomar nenhuma atitude sem a segurança de que compreendemos minimamente as implicações de médio prazo. JU – O livro tradicional, em papel, sobreviverá? Paulo Franchetti – Creio que sim. É a forma mais confiável de preservação da informação e a que tem maior portabilidade. Mas, sobretudo, a que tem mais prestígio, já que implica inversão maior de recursos. No campo específico da literatura – mas não só –, a ideia de que uma obra só terá existência em forma eletrônica é apavorante: a falência de uma editora ou um portal significaria o apagamento do texto, enquanto que milhares de obras do passado, publicadas em pergaminho, papiro ou papel, continuam disponíveis em sebos e bibliotecas e museus. Isso para não falar, como tanto se falava nos anos da Guerra Fria, na possibilidade de uma hecatombe nuclear que eliminasse a sede do Google ou o iCloud ou tornasse inacessível a internet...
Este ano, as principais editoras universitárias públicas do Estado de São Paulo estão comemorando datas importantes e mostrando a que vieram (Edusp, 50 anos; Editora da Unicamp, 30 anos; e Editora Unesp, 25 anos). Sob a direção do professor, crítico e poeta Paulo Franchetti, a Editora da Unicamp firmou-se como um instrumento fundamental para a efetivação dos valores acadêmicos, promovendo e difundindo o trabalho de seus pesquisadores, sem jamais cair na tentação fácil do mercado. Franchetti sabe que o trabalho de uma editora universitária é a continuação daquilo a que a Universidade normalmente se dedica; assim, o juízo favorável ou desfavorável sobre um título ou uma coleção recai principalmente sobre a instituição que a editora representa. Portanto, dedicar-se apenas à edição de livros de apelo comercial não é uma solução válida para uma editora pública. As condições de mercado não podem determinar as atividades de uma editora universitária. E é esse o caminho que a Editora da Unicamp vem trilhando nos últimos anos.
Plinio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp
A Editora da Unicamp é hoje uma das mais importantes editoras do país, em razão do alto nível do seu catálogo, da criteriosa escolha de títulos, do apuro gráfico e do empenho de toda sua equipe. Nos últimos anos, Paulo Franchetti conjugou de maneira muito especial contemporaneidade e tradição, o que resultou em publicações que são referência em diversas áreas de conhecimento.
Wander Melo Miranda, diretor da Editora UFMG
Livros da coleção “Meio de Cultura”: sucesso de vendas
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
a fabricação de sabão, poucas crianças conhecem. E tampouco da pecuária. A não ser que se infiltrem por curiosidade ou visita escolar. No caso de José Roberto dos Santos, o Zé, essa coisa de fazer sabão é parte da cultura familiar. Dos braços laboriosos da avó, que se movimentavam pacientemente em círculos sob o vapor que se erguia do tacho, se obtinha o produto para lavar roupa, fazer a limpeza da casa e eliminar dos pratos o restinho de gordura da carne. E a matéria-prima para o sabão? Vinha da carne, ou mais especificamente, do excesso de óleo dela. Mas de onde vinha a carne, então? Da criação de porcos dos avós, numa chácara localizada no tradicional bairro Bonfim, em Campinas. Esta cena, numa Campinas onde rural e urbano ainda se mesclavam, na década de 1970, contribuiu para que Zé nunca mandasse o óleo para o ralo e, por consequência, à rede de esgoto. A vivência também serviu para que se tornasse um açougueiro, um técnico em química, um tecnólogo em alimentos de nível superior e transformasse óleo em sabão. Tanta gordura para descartar, mas onde? Por que não reaproveitar? Assim começou a “fábrica de sabão” do Zé, no Laboratório de Carnes e Processos da Faculdade de Engenharia de Alimentos. Inconformado com o que sobrava de gordura depois das aulas e das pesquisas nas quais auxilia como tecnólogo, viu a oportunidade de se guiar no exemplo da avó, mas sem movimentar tanto os braços e sem tanto calor. O tacho da avó foi substituído pela tecnologia de um homogeneizador a frio (semelhante a uma batedeira de bolo), e o calor do fogo foi trocado por hidróxido de sódio comercial (conhecido como soda cáustica), que, agitado, também se aquece. Depois é esperar virar pedra e, se desejar, transformar a pedra em pó. Tudo manuseado com muito cuidado, pois a soda, assim como os resíduos de ácido usados para reduzir o pH, é nociva. O pH deve ser reduzido para evitar danos à pele e a tecidos. A iniciativa tão tímida quanto seu autor, realizada em vagas de tempo entre uma aula e outra, uma pesquisa e outra, com fins ambientais, acabou indo parar nos ouvidos de alguns colegas e, para alegria do tecnólogo, sempre pronto a ajudar, a “fábrica de sabão” passou a ter novos beneficiários: o pessoal da manutenção da FEA. Para manter o maquinário funcionando, esses funcionários terminam o dia com mãos e braços cobertos de graxa e, para eliminá-la com eficácia, encontraram um forte e indispensável aliado: o sabão do Zé. “Eles saem com as mãos e os braços limpinhos”, contenta-se. Suas atitudes ganharam os ouvidos e a atenção de amigos, como a bióloga Alessandra Silva Coelho. “Achei de uma grandeza incrível da parte dele e me senti uma ‘formiguinha’ diante da sua visão de cima. Talvez as pessoas não enxerguem, mas existem nos bastidores excelentes funcionários, dotados de uma grande capacidade de convencimento do que é ser realmente proativo”, diz a bióloga. Mesmo dedicando-se à confecção de sabões apenas nos raros momentos de calmaria entre uma aula e outra, Zé consegue atender um amigo ou outro que precise de sabão em pedra ou pó. Um disseminador de ideias, Zé sonha em ver os problemas do descarte do óleo na pia da cozinha solucionados também pelas pessoas que cuidam de suas casas. Muitas delas acumulam o que sobra de frituras para despejar de uma só vez no ralo. “Não têm noção do mal que causam a si próprias”, argumenta. O tecnólogo nunca esteve alheio à necessidade de reflexões diante de cenários que o convidavam a uma observação aprofundada. Inquieto diante de qualquer necessidade de mudança, sempre, apesar da timidez, pro-
Zé e suas ‘fábricas’
de sabão e de sonhos
José Roberto dos Santos reaproveita resíduos na Faculdade de Engenharia de Alimentos
José Roberto dos Santos opera equipamento que faz sabão no Laboratório de Carnes e Processos: aprendendo com a avó
Receita básica de sabão Ingredientes 613 ml Óleo 125g Soda cáustica = Hidróxido de sódio 200ml Água 10g Sabão em pó (opcional) 10g Açúcar 20ml Cândida 13ml Vinagre 6ml Aroma (opcional) 3ml Corante (opcional) Passo a passo 1 -Filtrar o óleo em papel toalha 2 - Dilua a cândida em 20ml de água 3 - Dilua o sabão em 10ml de água 4 - Dilua o açúcar em 10ml de água 5 - Dilua a soda cáustica aos poucos, cuidadosamente, em local aberto em 160ml de água 6 - Despeje a mistura cândida + água no óleo e agite por 2 minutos na batedeira de bolo 7 - Despeje a solução de soda cáustica aos poucos, cuidadosamente no óleo com a cândida e água e continue agitando 8 - Com agitação constante misture o restante dos ingredientes na seguinte ordem: vinagre, açúcar, sabão em pó, aroma e o corante. 9 - Continue agitando por uns 20 minutos ou até formar uma pasta 10 - Despeje a pasta em formas abertas e deixe descansar por 24 horas 11 - Cortar os pedaços e deixar maturar por, no mínimo, uma semana Rende aproximadamente 4 pedras de sabão de ± 250g
curou sacudir a imaginação e a inventividade das pessoas. Ainda no ensino técnico, formou um grupo de estudos para se prepararem para o vestibular, já que não tinham condições de frequentar curso pré-vestibular. Um olhar sempre circular para a sociedade o fez enxergar que outros jovens poderiam ter a mesma oportunidade. E lá foi Zé realizar palestras em escolas públicas sobre a importância de uma formação técnica. Em sua opinião, muitas vezes é do salário ganho no trabalho que o técnico consegue manter um curso universitário. “É uma oportunidade de emprego, além de ser fonte de conhecimento”, avalia Zé, que acrescenta: “Infelizmente, na minha época os cursos técnicos não eram muito difundidos pelos professores nas escolas públicas. Decidimos então fazer isso por conta própria.” Zé foi aprovado no vestibular da Unicamp para o curso de química, mas queria se graduar em tecnologia de alimentos, indo pleitear uma vaga na Universidade de Araras, Uniararas. O bom desempenho no vestibular lhe garantiu bolsa integral em sua formação. Mas, mais uma vez, desejou ver outros jovens recebendo a mesma oportunidade e, como Foto: Antonio Scarpinetti amigo Luis Romão, da Faculdade de Educação da Unicamp, montou uma espécie de curso pré-vestibular para jovens sem condições de pagar pela preparação para os exames. As aulas eram ministradas em uma biblioteca montada na casa de Romão. A empreitada durou quatro anos e inseriu alguns alunos em cursos de graduação de Campinas e outras cidades do Estado de São Paulo. “Nosso desejo era ampliar o número de jovens de escola pública na universidade”. A experiência pessoal ajudou Roberto na preparação de vestibulandos no Afrodata, um projeto destinado a jovens afrodescendentes e carentes, responsável pela inserção de muitos alunos em universidades de iniciativa privada e pública. “Queria que esses jovens tivessem a mesma oportunidade que tive”, declara. Na casa de Romão, eles contavam com a ajuda de muitos alunos da Unicamp, empenhados em transmitir conhecimentos de física, química e outras áreas aos vestibulandos. Durante os encontros, os alunos mostravam provas de vestibulares da Unicamp, de anos anteriores, para mostrar que a Universidade não era um sonho impossível. “Para mim, foi uma satisfação pessoal ajudar esses jovens.” No dia a dia, como tecnólogo, Roberto auxilia alunos de graduação e pós em aulas e pesquisas. O comprometimento dele com esses futuros e atuais profissionais da área começa com o roteiro de aulas e na preparação do laboratório. O envolvimento com pesquisas desde sua entrada na Universidade, em 1991, rendeu publicação de trabalho em veículo especializado em coautoria com professores e alunos da FEA. Seria melhor respeitar o silêncio de Zé sobre seus feitos e deixá-los adormecidos lá no laboratório. Como a maioria dos “perfilados”, antecipa-se e pede para ser conduzido durante a conversa. Não pelo sorriso que se sobressai aos olhos, quase sempre baixos, mas pela falta de necessidade de mostrar o que fez e ainda tenta fazer pelas pessoas, pelo ambiente, pela sociedade, enfim. Mas a decisão da amiga Alessandra de denunciar sua obra fez com que o próprio Zé percebesse a importância de compartilhar tamanho conhecimento e de propagar em alto som muitas coisas ainda a ser vistas (ou revistas) pela sociedade. Em gestos silenciosos e despretensiosos, ao lado do amigo Luiz Romão, consegue incluir na lista de 1% dos privilegiados pela graduação jovens que talvez nem tivessem sua mesma perspectiva. E ainda inicia entre colegas e donas de casa, sem querer, um movimento para que o planeta respire um pouquinho melhor a partir de uma iniciativa simples, apreendida com a observação do vaivém dos braços insistentes da avó: sua “fábrica de sabão”. Aliás, um excelente sabão.
Nas bancas
Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
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Nanopartículas incorporam fármaco Pesquisador consegue carreamento conjunto do gene e do medicamento Fotos: Antoninho Perri
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
câncer converteu-se em um problema de saúde pública mundial. É a doença genética responsável pelo maior número de mortes em países desenvolvidos e a segunda maior causa mortis em países em desenvolvimento. Dentre os diversos tipos de câncezr, o de mama e o de próstata se destacam por serem dos mais incidentes na população mundial. Novas terapias vêm sendo desenvolvidas, entre elas a terapia gênica, que corresponde a entregar o material genético necessário nas células doentes, e o carreamento de fármacos, que corresponde à entrega direta do fármaco ao seu alvo, evitando possíveis efeitos colaterais. Para viabilizar o transporte do material genético e dos fármacos nessas terapias, podemse utilizar os chamados Carreadores Lipídicos Nanoestruturados (CLN) e as Nanopartículas Lipídicas Sólidas (NLS), nanopartículas formadas por lipídios, desenvolvidas para função de carregar moléculas com atividade biológica, como material genético, fármacos e proteínas às células alvo de forma efetiva e segura. Em trabalho desenvolvido no Laboratório de Biomembranas, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, o biotecnólogo Allan Radaic, orientado pela professora Eneida de Paula, realizou pesquisas com os objetivos de desenvolver e aperfeiçoar um novo método de produção de CLN e de NLS, chamado de extrusão de microemulsão, e de produzir partículas capazes de carrear de forma conjunta genes e fármacos. Nos casos estudados por ele, envolvendo cânceres de próstata e mama, foram considerados o denominado gene codificante para PTEN e o fármaco mitoxantrona. Os resultados experimentais mostraram que essas nanopartículas foram capazes de incorporar o fármaco mitoxantrona de forma eficiente e de interagir com o material genético portador do gene codificante para PTEN, protegendo-o da ação de enzimas degradadoras de DNA. O pesquisador constatou também que o carreamento concomitante do fármaco mitoxantrona e do gene da PTEN diminui a viabilidade celular em linhagens de câncer de mama (MCF-7) e de próstata (PC-3), sem que ocorram efeitos na viabilidade de linhagem celular não cancerígena (3T3).
O biotecnólogo Allan Radaic, autor da pesquisa: método inova na produção laboratorial
O método utilizado por Allan inova na produção laboratorial, isto é, em pequena escala, das partículas carreadoras, o que viabiliza economicamente as pesquisas. Mas a diferenciação maior do trabalho está no fato de ter conseguido o carreamento conjunto do gene e do fármaco, que foi crucial ao vencer a resistência ao fármaco nas células do câncer da mama. Esta simultaneidade não encontra paralelo na literatura. A propósito dos resultados, ele esclarece que a eficiência do método é evidenciada pela baixa viabilidade das células de câncer após o tratamento in vitro, conseguindo resultados promissores em comparação com os da literatura. O objetivo do estudo foi o de contribuir para o desenvolvimento dessas novas terapias que precisam ainda vencer uma série de barreiras para que se tornem viáveis.
ORIGEM
As células do corpo humano se multiplicam normalmente segundo determinada taxa de crescimento. O câncer ocorre quando há multiplicação exagerada das células, em decorrência da falta ou excesso de determinados proteínas. A terapia gênica se baseia em levar o gene faltante ou barrar as proteínas que se formam em excesso nas células doentes. Os cânceres da
próstata e da mama podem se manifestar por deficiência de certas proteínas, dentre as quais, a proteína PTEN se destaca por ter a função de controlar a multiplicação das células. Com a deleção do gene codificante para PTEN do genoma, as células podem se multiplicar sem restrição e, então, originar o câncer. Neste caso, o tratamento pode ocorrer pela reposição do gene deletado, o que leva à recomposição da proteína em falta, decorrendo do processo a morte induzida da célula cancerígena, denominada apoptose.
ETAPAS O gene para proteína PTEN se liga à superfície das partículas lipídicas enquanto que o fármaco selecionado (mitoxantrona) fica retido no seu interior, podendo ambos serem conduzidos especificamente às células cancerígenas. Essas partículas são constituídas por lipídios e um detergente, que podem estar em proporções variadas, segundo formulações adequadas, o que lhes confere características bioquímicas e biológicas diferentes. O primeiro passo do pesquisador foi dedicar-se ao desenvolvimento de um método para produção dessas partículas em escala reduzida,
denominada extrusão de microemulsão. O processo viabiliza a produção em pequenas quantidades de partículas com características diversas, permitindo testar a eficiência de várias formulações diferentes. No decorrer do desenvolvimento do método de fabricação, a pesquisa concentrou-se em duas formulações de nanopartículas lipídicas (NLS e CLN) que se revelaram de maior eficiência carreadora. “Meu trabalho centrou-se principalmente nisso”, diz ele. Allan explica que muitas das nanopartículas lipídicas já desenvolvidas e descritas na literatura não conseguem, ainda, realizar a sua função de forma eficiente, o que determina a necessidade de testar novas formulações. Esses testes se viabilizam com a produção de pequenas quantidades, caso do método desenvolvido, devido à diminuição dos custos de produção de cada formulação. Nessa procura, o pesquisador foi levado a descobrir que uma das partículas produzidas poderia carrear um gene e um fármaco simultaneamente e que essa tripla combinação (nanopartícula, gene e fármaco) permite vencer a resistencia da célula à ação do fármaco. Uma das limitações da quimioterapia é a de que, depois de varias aplicações, pode se desenvolver um câncer resistente aos fármacos utilizados e os resultados mostraram que a administração simultânea do gene e do fármaco leva à quebra dessa resistência. Ao final do estudo in vitro ele pôde concluir que é possível diminuir a viabilidade das células de câncer da próstata apenas carreando o gene na NLS. No caso do câncer da mama resistente ao fármaco mitoxantrona, há necessidade de carrear simultaneamente gene e fármaco, daí a importância do desenvolvimento de uma partícula que consiga simultaneamente unir-se aos dois. E foi exatamente este achado que ele considerou inovador.
Publicação Dissertação: “Desenvolvimento de nanopartículas lipídicas para carreamento conjunto do gene para pten e mitoxantrona em células de câncer de mama e de próstata” Autor: Allan Radaic Orientadora: Eneida de Paula Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Resíduo é usado em tratamento de esgoto SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
Um resíduo descartado pelas indústrias de transformação mineral foi empregado com êxito durante experimento para tratamento natural de esgoto na Unicamp. No estudo conduzido pelo agrônomo Delci Magalhães Poli, os resíduos da bauxita serviram como suporte para que vegetais cultivados em tanques aquáticos atuassem na remoção de impurezas do esgoto doméstico. O sistema, eficiente e de baixo custo, foi desenvolvido pelo agrônomo como parte de seu mestrado defendido junto ao Instituto de Geociências (IG). A bauxita é uma das principais matériasprimas para a fabricação de alumínio, abrasivos em geral, cimento, produtos quimicos e metalúrgicos. No Brasil, país que possui as maiores reservas mundiais deste material, os resíduos ou crostas da bauxita ainda são descartados de maneira inadequada por muitas indústrias, revela o pesquisador Delci Poli. “Nós utilizamos a crosta da bauxita como um substrato para fixação das raízes dos vegetais que vão atuar no tratamento do esgoto”, explica. De acordo com ele, seu estudo simulou o tratamento de esgoto em tanques aquáticos, comumente conhecidos como “leitos cultivados construídos” ou “wetlands”, do termo em inglês cuja tradução livre é “terra úmida”. “Este tipo de tratamento de esgoto pode utilizar diferentes meios de fixação, como areia, bambus, plásticos ou pedra brita. Empregamos o resíduo da bauxita porque é um material que até então não foi especificamente retirado da natureza para este objetivo, ao contrário da brita, por exemplo. Ademais, este resíduo ainda não tem uma destinação correta”, justifica o estudioso.
O agrônomo Delci Magalhães Poli: estudo simulou o tratamento de esgoto em tanques aquáticos
REMOÇÃO DE NUTRIENTES
Além da fixação das raízes dos vegetais, o substrato utilizado no estudo se mostrou eficiente para a retirada satisfatória de nutrientes presentes no esgoto. “A remoção de nutrientes é importante para evitar a multiplicação de algas, bactérias e vegetais aquáticos, que poderiam causar poluição no ambiente”, informa Delci Poli. “Em diversas situações do tratamento de esgoto convencional acontece de haver redução de matéria orgânica, mas ela não é acompanhada, muitas vezes, pela redução de nutrientes, como o fósforo e nitrogênio. E uma vez que são lançados estes nutrientes, há incentivo de todo um aumento de massa aquática vegetal, causando poluição”, detalha. Ao contrário de alguns sistemas convencionais, o ‘wetland’ promove a retirada de matéria orgânica, mas também está focado na redução de nutrientes. Deste modo, evita-se, por exemplo, o processo de eutrofização nos cursos d’água, fenômeno caracterizado pelo aumento de nutrientes que favorecem o desenvolvimento de
organismos poluidores no ambiente aquático.
PASSIVO
O trabalho foi orientado pelo engenheiro José Teixeira Filho, docente convidado do IG e diretor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. “A pesquisa de Delci vem na perspectiva de buscar alternativas para um dos principais problemas sociais do país, que é o tratamento de esgoto. Hoje o Brasil tem muita uma dificuldade em enfrentar isso; e o passivo é impressionante”, situa o orientador, que coordena na Unicamp a linha de pesquisa Recursos Hídricos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) publicada ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que pouco mais da metade dos domicílios do país - 54,9% - são beneficiados com a coleta de esgoto. Neste contexto, o sistema proposto poderia ser empregado, principalmente, como alternativa viável para o tratamento de pequenos volumes de efluentes gerados em comunidades isoladas, condomínios, atividades
no meio rural, escolas e indústrias. “Conseguimos chegar a situações de tratamento de esgoto tão boas quanto o de outros processos. A vantagem é que este sistema não exige mão de obra especializada, apresenta baixo valor de implantação, operação e manutenção, e utiliza como substrato um material de custo muito baixo”, confirma Teixeira Filho.
EMPECILHO
Por outro lado, pondera o orientador, o principal empecilho no país para a implementação de sistemas como estes, utilizando o modelo de leitos cultivados, ainda é a falta de critérios, que determinariam, por exemplo, os parâmetros e as configurações de projetos. “Há dificuldade em aceitar os ‘wetlands’ porque o país não dispõe de critérios para projetos. Existem experimentos eficientes e viáveis em todo o mundo utilizando estes sistemas”, aponta. “Neste estudo nós estamos preocupados, também, com a questão social, ou seja, em como a sociedade pode incorporar este conhecimento, adquirido a partir da compreensão da ciência básica. O próximo passo será buscar critérios de projetos por meio do desenvolvimento de ciência aplicada para implementação de plantas de tratamento de esgotos na área de engenharia”, propõe.
Publicação Dissertação: “Leitos cultivados utilizando crostas de eletrofusão da bauxita” Autor: Delci Magalhães Poli Orientador: José Teixeira Filho Unidade: Instituto de Geociências (IG)
10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
Painel da semana Espaço de Arte da FCA - No dia 5 de novembro, às 12h30, a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) inaugura o Espaço de Arte da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira. Instalado na Área de Convivência do Restaurante Universitário, o Espaço iniciará as atividades com a exposição de aquarelas “Impressionando o olhar de quem o alcança”, de Bernardo Caro (in memoriam). A curadoria é de Fábio Cerqueira. No evento de inauguração haverá uma apresentação musical com o violonista Denis Sartorato. Ele fará a estreia do Projeto Moldura Musical, organizado pela CDC e apoiado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS). Da solenidade devem participar o professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Margareth do Carmo Junqueira, da CDC, e servidores e alunos da FCA. Comau - De 5 a 7 de novembro acontece, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o XXI Congresso Médico Acadêmico da Unicamp (Comau). O evento científico é organizado e promovido totalmente por alunos. No dia 5 haverá apenas a apresentação dos trabalhos (à noite). Nos dias 6 e 7 ocorrem palestras e mesas-redondas com a temática “Terminalidade e Geriatria”, além da premiação dos melhores trabalhos inscritos. A abertura do Comau será no dia 6, às 18 horas, no Auditório da FCM. O Pré-congresso será transformado em Pós-congresso, com a temática “Esporte e Saúde”, a ser realizado no dia 10 de novembro. O local de realização do Comau é o conjunto de salas de aula e o Auditório da FCM. Colóquio Brasil/Espanha - O Laboratório
de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) organiza no dia 6 de novembro, o I Colóquio de cooperação internacional Brasil/Espanha. Será às 9 horas, no Salão Nobre da FE. Mais detalhes: 19-3521-5678. IV Simtec - O Simpósio de Profissionais da Unicamp (Simtec) ocorre nos dias 6 e 7 de outubro, no Centro de Convenções. Abertura: 9 horas. O evento tem como tema central “Conhecimento e experiência: reconhecendo fronteiras e construindo pontes”. Inscrições e outras informações podem ser obtidas na página eletrônica http://sistemas.rei.unicamp.br/ ggbs/simtec/. O Simtec é um evento organizado por funcionários da Unicamp, integrantes das diversas carreiras, cujo objetivo é expor trabalhos e ações institucionais, desenvolvidas em suas atividades diárias na universidade. Pintura em caixa de madeira - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CISGuanabara) oferece a oficina de artesanato “Pintura em caixa de madeira”. Parte do Projeto “Trocando Idéias e Experiências”, ela é realizada em parceria com o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) e tem como público-alvo funcionários (inclusive aposentados). A oficina acontece no dia 6 e também no dia 8 de novembro, às 18 horas, na sede do CISGuanabara (rua Mário Siqueira 829), no bairro do Botafogo, em Campinas. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no link www.cisguanabara.unicamp.br. Mais informações: 19-3233-7801. Bazar beneficente - A SOS Ação Mulher e Família, entidade conveniada à Fundação FEAC, promove no dia 7 de novembro, um bazar com o objetivo de angariar recursos em prol da instituição. O evento será no Terminal de Barão Geraldo (Rua Luiz Vicentin, s/nº – Distrito de Barão Geraldo, Campinas/SP), das 8h às 17 horas. Para realizar o bazar, a entidade está arrecadando diversos artigos como roupas, sapatos, bolsas, livros, CDs, eletroeletrônicos e roupa de cama, mesa e banho. Os interessados em fazer doações devem entregar os itens usados – em bom estado – até o dia 6 de novembro, das 8h30 às 17h, na sede da entidade, localizada à Rua Dr. Quirino 1856 - 1º andar – Centro, Campinas/SP. Observatório da Educação - O Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) organiza no dia 7 de novembro, às 9 horas, no Salão Nobre da FE, evento sobre o Projeto Observatório da Educação. O projeto tem como objetivo estabelecer o design de um ambiente educacional, que utilizando das linguagens proporcionadas pelas tecnologias da informação e comunicação, ofereça o desenvolvimento de um programa de capacitação de professores para o ensino fundamental. O encontro é parte integrante do projeto “M-learning: uma implantação inovadora” financiado pela Capes. Mais
informações: 19-3521-5678.
html. Outras informações: 19-3521-4171.
Biocombustíveis sólidos de 2ª geração – Workshop sobre o assunto acontece no dia 7 de novembro, às 9h30, no Departamento de Física Aplicada do IFGW. A introdução será feita pelo professor Carlos A. Luengo (IFGW). O primeiro tema, “Tecnologias de compactação. Ensaios, Estado da arte. Trabalhos desenvolvidos no GCA na ultima década” será abordado por Felix Fonseca Felfli. O segundo, “Problemas logísticos associados à produção de biocombustíveis a partir de resíduos agroindustriais”, por Walfrido Alonso Pippo. Mais informações: pippo@ifi.unicamp.br
Inovação Tecnológica na Educação – Simpósio objetiva promover discussão, disseminação, troca de informações e a apresentação de soluções de inovação tecnológica visando aplicações na área da Educação. Será realizado no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Educação (FE). Organização: Lantec. Mais informações: http://lantec.fae.unicamp. br/inova2012 ou telefone 19-3521-5678. E-mail do evento: amaral@unicamp.br
Aulas Magistrais - A Pró-Reitoria de Graduação (PRG) recebe, dia 7 de novembro, no próximo “Aulas Magistrais”, o professor e ex-reitor da Unicamp, José Martins Filho. Na Sala CB-05, às 12h30, no Ciclo Básico I, ele fala sobre as relações familiares no mundo contemporâneo e a infância. Mais detalhes no link http://www.prg.unicamp.br/ aulas/index.php/aulas Mostra Holográfica - O tradicional evento sobre Holografia tem mais uma edição no dia 7 de novembro, das 15 às 17h30, no Planetário Municipal de Campinas. É aberto para escolas públicas e ao público em geral. Consta de palestra audiovisual 3D e uma série de experimentos sobre óptica de imagens. Interessados podem se inscrever no site www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/expo.htm. A mostra é organizada pelo professor José Joaquín Lunazzi, do Instituto de Física (IFGW) da Unicamp. O Planetário está localizado no Parque Portugal, em Campinas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-2451 ou e-mail lunazzi@ifi.unicamp.br Vestibulinho do Cotil - O Colégio Técnico de Limeira prorrogou a data de inscrições para o Exame de Seleção 2013. Elas podem ser feitas até 8 de novembro, no site www.cotil.unicamp.br. O exame será realizado no dia 25, às 14 horas. Mais informações: 19-2113-3378, 2113-3303 ou e-mail cotil@cotil.unicamp.br Fórum de Esporte e Saúde - Com o tema “Modelos de Assistência Nutricional Hospitalar no Século XXI”, no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. O evento é organizado por Harumi Kinchoku e Salete Brito. Programação, inscrições e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ saude56.html ou telefone 19-3521-4759. A experiência dos BRICS - O Centro de Estudos Avançados (CEAv) organiza no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA), o debate “Ensino superior e desenvolvimento: a experiência dos BRICS”. Site do evento: http://www.gr.unicamp.br/ceav/brics/index.
Fórum de Ciência e Tecnologia - Próxima edição será realizada no dia 9 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Terá como tema “Tecnologias na Educação: transformações na escola e na universidade”. Inscrições, programação e outras informações no link http:// foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/tecno59.html ou telefone 19-3521-4759. Fóruns Permanentes 2013 - A Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) recebe, até o dia 9 de novembro, propostas de fóruns para o calendário de 2013. Os docentes interessados devem preencher formulário eletrônico no link http://www. unicamp.br/unicamp/sites/default/files/field/arquivo/ propostadeforumpara2013.doc e encaminhá-lo para o e-mail forunspermanentes.cgu@reitoria.unicamp. br. Os contemplados serão notificados por e-mail. São 48 datas reservadas no CDC. A seleção levará em consideração a possibilidade de espaço e a diversidade de temáticas. Se houver necessidade, alguns proponentes poderão ser chamados para uma reunião. O resultado final deverá ser divulgado até o dia 29 de novembro. Vestibular - A Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) realiza no dia 11 de novembro, as provas de Redação e de Conhecimentos Gerais do Vestibular Nacional. Horário limite para acesso aos locais de provas: 13 horas. A Comvest recomenda que os candidatos cheguem com uma hora de antecedência. O tempo máximo de prova é de cinco horas. Tempo mínimo em sala: três horas e trinta minutos. Os candidatos não poderão entrar na sala de provas com celulares. Os que forem pegos (com o aparelho celular desligado, com ou sem bateria), serão eliminados do Vestibular.
Teses da semana Alimentos - “Caracterização bioquímica e compostos bioativos de Macaúba (acrocomia aculeata (jacq.) lodd. ex mart.)” (doutorado). Candidata: Priscila Becker Siqueira. Orientadora: professora GabrielaAlves Macedo. Dia 6 de novembro, às 14 horas, na FEA. Biologia - “Modificações químicas e caracterização
farmacológica das Miotoxinas PhTX-I e PhTX-II isoladas do veneno de Porthidium hyoprora” (doutorado). Candidato: Salomón Huancahuire Vega. Orientador: professor Sérgio Marangoni. Dia 7 de novembro, às 9 horas, na sala defesa de teses da CPG/IB. Computação - “Métodos de visão computacional aplicados à ciência forense” (doutorado). Candidata: Fernanda Alcântara Andaló. Orientadora: professora Siome Klein Goldenstein. Dia 9 de novembro, às 14 horas, no auditório IC 2, Sala 85 do IC. Educação Física - “Torcidas organizadas e seus jovens torcedores: diversidades e normativas do torcer” (mestrado). Candidato: Vitor dos Santos Canale. Orientadora: professora Heloisa Helena Baldy dos Reis. Dia 8 de novembro, às 14h30, no Auditório da FEF. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “O resíduo sólido urbano como fonte renovável para geração de energia elétrica: aspectos econômicos e sócio-ambientais” (doutorado). Candidato: SérgioAugusto Lucke. Orientador: professor Carlos Alberto Mariotoni. Dia 6 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC. - “Sistematização do processamento de dados gravimétricos aplicados à engenharia” (doutorado). Candidato: Rogério RodriguesAmarante. Orientador: professor Jorge Luiz Alves Trabanco. Dia 9 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC. Física - “Efeitos dinâmicos no transporte eletrônico em sistemas moleculares baseados em DNA” (doutorado). Candidato: Carlos José Paez Gonzalez. Orientador: professor Peter Alexander Bleinroth Schulz. Dia 6 de novembro, às 10 horas, na sala de seminários do DFMC/ IFGW. Linguagem - “De romance imoral a obra-prima: trajetórias de Madame Bovary” (doutorado). Candidata: Andréa Correa Paraiso Müller. Orientadora: professora Márcia Azevedo de Abreu. Dia 7 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Sociossemiótica da produção audiovisual: uma proposta metodológica para análise multimodal da comunicação em vídeo” (doutorado). Candidato: Rodrigo Esteves de Lima Lopes. Orientadora: professora Denise Bértoli Braga. Dia 9 de novembro, às 13 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Odontologia - “Estratégia alternativa de otimização em duas camadas de uma Unidade de Craqueamento Catalítico-FCC: implementação de algoritmos genéticos e metodologia híbrida de otimização” (doutorado). Candidato: José Fernando Cuadros Bohórquez. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 5 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FOP. Química – “Caracterização de óleos essenciais com atividade antifúngica por Cromatografia Gasosa Bidimensional Abrangente GC×GC” (mestrado). Candidata: Karina Fukuda. Orientador: professor FabioAugusto. Dia 5 de novembro, às 14 horas na sala E-312 do IQ.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Artigo avalia os impactos da Copa do Mundo ao país As projeções sobre os impactos econômicos proporcionados pela realização da Copa do Mundo costumam ser superestimadas. Estas, dificilmente se concretizam, pois são formuladas levando em conta a conjunção de inúmeros fatores, sempre no cenário mais favorável possível. O alerta, com referência ao Mundial de 2014, que terá o Brasil como anfitrião, está em artigo assinado pelo professor Marcelo Weishaupt Proni, diretor associado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, em parceria com o economista Leonardo Oliveira da Silva. Disponibilizado na página do IE, na seção “Textos para Discussão” (www.eco.unicamp.br/index.php/textos), o texto faz uma análise crítica acerca das contribuições que o evento pode trazer ao país. De acordo com Proni, as previsões otimistas sobre os possíveis impactos e legados que um megaevento como a Copa pode trazer servem principalmente para justificar os altíssimos investimentos que o paíssede tem que fazer para organizá-lo. “No artigo, nós procuramos mostrar que o potencial de impacto é maior para um país em desenvolvimento do que para um país rico. No caso da África do Sul, foram registrados impactos positivos, mas eles não alcançaram a população como um todo. Alguns grupos e setores ganharam, mas estudos demonstraram que a maioria dos sul-africanos não
Foto: Antoninho Perri
Marcelo Weishaupt Proni: arenas esportivas tenderão a se transformar em “elefantes brancos”
obteve ganhos significativos com o Mundial”, afirma. No Brasil, conforme Proni, existem centros nos quais a modernização dos estádios pode ajudar a impulsionar o futebol e alavancar negócios. Em outros, isso não deverá acontecer, e as arenas esportivas tenderão a se transformar em “elefantes brancos”. “Mesmo havendo a possibilidade de usar esses espaços
para outras atividades, como a realização de shows musicais, o investimento dificilmente será recuperado em relação a alguns deles. Por outro lado, a Copa pode deixar um legado em termos de infraestrutura urbana, mas essas obras que teriam que ser feitas de qualquer maneira. O Mundial está somente ajudando a estabelecer um cronograma para elas”, acredita.
O diretor associado do IE observa que estudos demonstram que quanto maior é a participação do setor privado nos empreendimentos relacionados ao Mundial, melhor é o aproveitamento dos mesmos. “Quando se tem uma dependência muito grande de recursos públicos, como é o caso brasileiro, a situação não é tão favorável. Como o país não dispõe de recursos abundantes, o dinheiro
destinado às obras da Copa deixa de ser aplicado em outras áreas, como saúde, educação e moradia”, lembra. Ainda em relação ao caso do Brasil, Proni considera que a Copa dificilmente trará impactos significativos no que se refere à arrecadação de tributos ou geração e empregos, para citar dois segmentos. “Quando o governo brasileiro decidiu organizar a Copa, ele enxergou nisso uma oportunidade estratégica para fortalecer a imagem do país no cenário internacional. O objetivo é dizer: ‘olha, nós somos capazes de organizar um evento desse porte’. Esta é a mensagem. Quando a discussão fica restrita aos impactos econômicos, essa dimensão mais ampla fica relegada a segundo plano”, observa o economista. Ainda segundo ele, no momento em que o Brasil está pretendendo se modernizar, a Copa pode vir a ser um bom catalisador de iniciativas nesse sentido. “Isso não significa que as promessas contidas nas projeções vão se concretizar. Um legado importante que o Mundial pode trazer diz respeito ao desenvolvimento de mecanismos de fiscalização sobre os gastos públicos relativos ao evento. Tanto a Caixa [Econômica Federal] quanto o BNNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] têm sido muito criteriosos na liberação de recursos, para evitar eventuais superfaturamentos. Essa postura é muito positiva”, avalia. (Manuel Alves Filho)
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Em sintonia com as
11 Fotos: Antonio Scarpinetti
mudanças conjunturais
Universidade reestrutura unidade em Limeira e investe na criação de novos cursos PAULO CESAR NASCIMENTO pcncom@bol.com.br
graduação na Unicamp expandiu-se e fortaleceu-se ainda mais a partir de 2009 com a adoção de importantes medidas estratégicas, como a transformação do Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset) de Limeira na Faculdade de Tecnologia (FT) e, mais recentemente, com a criação de quatro novos cursos. Três deles passarão a integrar as opções da FT: Engenharia de Telecomunicações (50 vagas, período integral), Sistemas de Informação (45 vagas, integral), Engenharia Ambiental (60 vagas, período noturno). O quarto curso aprovado pelo Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, na sessão do dia 7 de agosto último, foi Engenharia Física (15 vagas, período integral), no campus de Barão Geraldo, sob a responsabilidade do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e com a participação de diversas outras unidades. Essas iniciativas respondem a demandas do Brasil por profissionais cada vez mais bem qualificados e com sólida formação em áreas fundamentais ao desenvolvimento do país, e colaboram para referendar a excelência da graduação da Unicamp. De acordo com o professor José Geraldo Pena de Andrade, diretor da FT, a criação dos três cursos de graduação vem fechar um histórico ciclo de reestruturação da unidade de Limeira com o propósito de adequá-la cada vez mais ao perfil das demais faculdades e institutos dedicados ao ensino, à pesquisa e à extensão, sediados no campus de Barão Geraldo. Ele lembra que esse processo começou há cerca de oito anos, com a contratação de professores-pesquisadores para o então Ceset. O incentivo às atividades de pesquisa criou o terreno propício à implantação do primeiro programa de pós-graduação na instituição (o mestrado stricto sensu com área de concentração em Tecnologia e Inovação) e à transformação do Ceset na atual Faculdade de Tecnologia (FT), ambas em 2009. Andrade esclarece que os novos cursos foram definidos segundo critérios que contemplaram necessidades de mercado, o anseio de alunos do ensino médio e a infraestrutura já disponível para o ensino e a pesquisa em áreas nas quais a FT possui forte tradição. “Pretendemos, com os novos cursos, atrair alunos com perfis diferenciados, que se integrarão aos bons alunos que já fazem parte do nosso destacado corpo discente de tecnologia, sobretudo porque as novas opções e os cursos previamente existentes estão, de certo modo, inter-relacionados. Outro ponto importante é que os novos cursos contribuirão para aprofundar as atividades de pesquisa na FT”, destaca Andrade. Segundo ele, a proposta da criação começou a ser discutida com a Pró-Reitoria de Graduação em 2011. A grande receptividade da comunidade universitária e o amplo respaldo da administração da Unicamp e das unidades afins aos
cursos foram responsáveis pelo êxito da aprovação da iniciativa ao longo do trâmite pelas instâncias formais da Universidade e, finalmente, no Consu, enfatiza o diretor. Ele observa ainda que a implantação dos três cursos não implica em alteração no número de vagas oferecidas atualmente pelo Vestibular da Unicamp, mas sim em um reaproveitamento de vagas ociosas, e também não exigirá mudanças estruturais significativas, salvo pequenas adequações de infraestrutura laboratorial. Os cursos de Engenharia de Telecomunicações e de Sistemas de Informação absorverão, respectivamente, as vagas oferecidas pelos cursos de Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (integral), que serão extintos. Já as vagas a serem oferecidas pelo curso de Engenharia Ambiental serão provenientes dos cursos de Tecnologia em Construção de Edifícios (30 vagas) e Tecnologia em Controle Ambiental (30 vagas). Estes dois últimos serão mantidos, agora com 50 vagas cada um.
ENGENHARIA MULTIDISCIPLINAR Ampliar o leque de opções de carreira ao aluno ingressante e elevar a concorrência candidato-vaga de forma a poder selecionar alunos cada vez mais bem preparados estão entre as motivações da criação do curso de Engenharia Física, explica o seu coordenador, o professor Pascoal Pagliuso, do IFGW. Segundo ele, dentre as possibilidades de novas carreiras, a Engenharia Física se evidenciou, principalmente por se constituir em uma área já consolidada em excelentes universidades ao redor do mundo. No Brasil, é uma carreira emergente que vem ao encontro de uma demanda crescente desse tipo de profissional multiespecialista que possa atuar na fronteira entre a pesquisa e a indústria, em áreas estratégicas do desenvolvimento sustentável do país, salienta o docente. De acordo com Pagliuso, o novo curso de graduação em Engenharia da Unicamp objetiva a formação de um profissional generalista, com sólida base científica e tecnológica, principalmente nas áreas relacionadas com as ciências exatas, preparado para aplicar na investigação de problemas tecnológicos os conhecimentos básicos adquiridos. Por sua formação multidisciplinar, o engenheiro egresso possuirá ambas as visões: a do cientista e a do engenheiro, estando, desse modo, apto à pesquisa, ao desenvolvimento e ao apoio tecnológico. Com esse arcabouço, deverá ser capaz de
Laboratório na Faculdade de Tecnologia, em Limeira: unidade vai receber três dos quatro novos cursos
introduzir e desenvolver, em um contexto empresarial, novos processos e produtos de alto valor agregado, argumenta o coordenador. Além da relevância do curso tanto no cenário internacional quanto para as necessidades internas do país, iniciativas bem sucedidas adotadas nesse campo por outras instituições brasileiras – como a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), que oferece graduação em Engenharia Física desde 2000 – ajudaram a consolidar o projeto dentro do IFGW e a sua adesão por parte das demais unidades participantes. Além do IFGW, o curso de Engenharia Física da Unicamp conta com a participação da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC), do Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica (IMECC), do Instituto de Biologia (IB), do Instituto de Economia (IE) e do Instituto de Química (IQ). O aluno terá, portanto, disciplinas oferecidas nessas diferentes unidades da Universidade, todas de excelência reconhecida, tendo a oportunidade de interagir com docentes e discentes de todas elas. O catálogo de disciplinas da Engenharia Física foi elaborado de forma a oferecer essa formação generalista, mas mantendo o foco do curso,
Foto: Antoninho Perri
O professor José Geraldo Pena de Andrade, diretor da FT: fechando um ciclo histórico de reestruturação
O professor Pascoal Pagliuso, coordenador do curso de Engenharia Física: carreira emergente no país
de modo que todas as disciplinas necessárias para a formação completa de um engenheiro foram mantidas, enfatiza Jun Takahashi, coordenador de graduação do IFGW.
DIFERENCIAL
O docente chama a atenção também para o que considera um importante diferencial do novo curso: a Engenharia Física será incorporada ao chamado Cursão, que já conta com os cursos de Física, Matemática e Matemática Aplicada e Computacional. As 155 vagas serão mantidas, sendo que 15 estarão reservadas à nova carreira. A entrada será comum e a escolha pelas carreiras ocorrerá em etapa posterior, variando conforme a opção. Para cursar Engenharia Física na Unicamp, os candidatos devem optar no momento da inscrição no Vestibular Nacional Unicamp pelo curso de ingresso comum para: Engenharia Física, Física, Matemática e Matemática Aplicada e Computacional. No terceiro semestre é que esses alunos devem escolher entre um dos cursos citados acima. Das 15 vagas oferecidas pela Engenharia Física, cinco são para a ênfase em Optoeletrônica e dez vagas para a ênfase em Produção Tecnológica. “Ao ingressarem na universidade, muitos estudantes não têm um projeto pessoal ainda definido. Faltalhes conhecimento suficiente sobre a carreira escolhida e idealizam de forma irreal o curso e a instituição de ensino. O objetivo do Cursão é permitir maior flexibilidade de escolha aos alunos e proporcionar uma alternativa de entrada na Unicamp que não implique uma decisão prematura”, observa Takahashi. A Engenharia Física substitui com vantagens o extinto curso de Física Aplicada, tradicionalmente oferecido havia mais de uma década pelo IFGW.
O professor Jun Takahashi, coordenador de graduação do IFGW: maior flexibilidade de escolha
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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
o ano em que se comemoram os cem anos de nascimento de Nelson Rodrigues (1912-1980), o programa Fantástico, da Rede Globo, volta a exibir a série A Vida Como Ela É, inspirada em obra de mesmo nome escrita ao longo da década de 1950 pelo jornalista, escritor e dramaturgo. A adaptação para TV de 40 contos de tão grande valor cultural publicados no jornal Última Hora, por encomenda do editor Samuel Wainer (1910-1980), na época dono do vespertino, chamou a atenção da midiáloga formada pela Unicamp Stefanie Alves, que decidiu dedicar sua dissertação de mestrado à análise da linguagem rodriguiana na produção televisiva. “Tive interesse em estudar a série pelo diferencial que representava na literatura brasileira e por trazer a literatura do Nelson, que é um autor bastante cultuado no Brasil, e investigar como esse texto mais curto é transformado em produto de televisão. GeralFotos: Antoninho Perri mente vemos romances transformados em minisséries e telenovelas”. De acordo com Stefanie, quando começou a pesquisa, de fato ela viu que o material de Nelson Rodrigues é muito rico com relação ao uso da linguagem que faz. O tipo de discurso que constrói se torna material muito rico para O professor o audiovisual, Gilberto Alexandre tanto para cinema quanto para teSobrinho (acima), levisão. A pesquisa, segundo ela, orientador, e se fundamentou em descobrir de Stefanie Alves, que maneira o universo de Nelson autora da é construído por meio da linguadissertação gem audiovisual, dentro de uma análise na qual observou tipo de iluminação, música, aspectos formais da série e como foi inserida na televisão na década de 1990, que era um momento no qual a TV tentava se adequar a mudanças socioeconômicas do país, como a abertura do mercado. Um quadro dentro do programa Fantástico, exibido no final dos domingos da família brasileira, dirigido por Daniel Filho, com roteiro de Euclydes Marinho e um elenco escolhido a dedo, em 1996, precisaria de uma investigação sobre a TV brasileira no final da década de 1990. Naquele momento, a TV paga aumentava suas adesões entre as classes A e B, e as classes C e D passavam a frequentar mais a televisão, de acordo com análise de Stefanie e seu orientador, professor Gilberto Sobrinho. Para compreender o fenômeno, as-
sim como o investimento da Rede Globo, eles recorreram a pesquisas em arquivos como o do Ibope do Estado de São Paulo. “Existia uma necessidade de a televisão contrabalançar essas duas audiências”, afirma Stefanie. “Percebemos que A Vida Como Ela É entra nesse papel estratégico de, com a temática provocativa e cotidiana do trabalho e da família, conquistar o público mais popular e, ao mesmo tempo, pelo tratamento diferenciado – com a filmagem em película, a estrutura de produção cinematográfica e um texto de um autor cultuado como Nelson – cativa os espectadores mais intelectuais, que vêm da classe A e B e estavam nessa transição de procurar uma qualidade artística na televisão a cabo”, reflete Stefanie. A estreia da série no Fantástico na época coincidiu com a estreia do programa Sai de Baixo, que retoma na TV brasileira o modelo do sitcom, realizado em teatro. “Percebemos que, se há uma mudança nos perfis de público, há uma mudança também na programação. A ficção no Brasil é estratégica na programação. Há uma ficção seriada com qualidade artística e, por outro lado, o Sai de Baixo não deixa de ser uma inovação por trazer o sitcom. Falamos de produtores que olham estrategicamente a ficção que é um lugar privilegiado na grade de programação. No Brasil, tem lugar consagrado à telenovela, o grande produto nacional”, acrescenta Sobrinho. Ele destaca a característica da Rede Globo de apostar em novos formatos de ficção. Uma mostra disso, para Stefanie, foi a exibição de A Vida Como Ela É também como série independente, depois da temporada no Fantástico e o lançamento em dois DVDs com os 40 episódios exibidos no Fantástico. “E agora a volta no centenário de Nelson”, enfatiza Stefanie. Os dados de audiência mostram a aceitação do público pela linguagem de cinema. Stefanie lembra que a televisão começou com película e, durante toda sua história, são encontradas produções – novelas e minisséries – com cenas em película, pois ela sempre foi um indicador de qualidade artística. “A película sempre teve papel diferenciado. Em A Vida Como Ela É, Daniel Filho, quando propôs a série, sugeriu a película como estratégia para chamar a atenção do público que estava assistindo a um programa de variedades, mais solto, com grande troca de assuntos”, pontua Stefanie. Como numa estrutura da produção de cinema, segundo a midiáloga, Daniel Filho reuniu todos os atores, dividiu cenas por locação, como se faz em cinema. “Isso, na década de 1990, talvez não fosse percebido com tanta diferenciação porque as qualidades dos televisores não abraçavam o que era a película. A principal diferenciação entre a película e o vídeo está na diferenciação de imagem e cor. Conseguir esse tipo de efeito com vídeo na série seria bem mais difícil. Isso chama a atenção porque não acontece tão frequentemente com outras produções”, pondera Stefanie. De acordo com a pesquisadora, Daniel e Marinho preservaram o texto de Nelson Rodrigues em sua maioria e, a partir dele, construíram os elementos do quadro para o Fantástico. Stefanie ocupou-se de analisar minuciosamente, decupando os episódios, a construção do texto, dos personagens, figurinos e até mesmo posicionamento de câmera. Para ela, o estilo de escrita de Nelson favorece a produção de roteiro, principalmente pela estrutura dialogada, o que facilita a cadência de corte de plano. Até porque na TV é menos comum trabalhar com monólogos, segundo a pesquisadora. A utilização de diálogos curtos oferece dinâmica inte-
Ilustração: Félix
O Nelson da TV
ressante, na opinião da autora, pois as conversas parecem informais, com suas gírias e expressões comuns mantidas na adaptação. Sobrinho explica que a teledramaturgia acontece na figura do personagem, pois é ele que conduz a trama e o texto dialogado é mais familiar com a linguagem televisiva. Além disso, a Vida como Ela É retrata o subúrbio carioca, a família, o adultério, paixões, desejos, segredos. Uma observação interessante feita por Stefanie é a narração pelo olhar da câmera, em que o narrador silencioso consegue dar clareza ao texto nas entrelinhas, captando olhares e expressões dos personagens, que, neste caso, devem ser representados por atores altamente qualificados. Mas ela destaca também a importância da figura do narrador “voz over”, além do “narrador-câmera”. “Em A Vida Como Ela É, ele foi extremamente aproveitado e é figura importantíssima, pois por intermédio dele, são feitos os julgamentos, em que se entra num íntimo das personagens. Em algumas adaptações, o narrador é excluído, é um processo diferenciado, mas nesta série, ele dá o direcionamento de algumas situações para o espectador”, explica Stefanie. O encontro da “voz over” com o narrador-câmera foi destaque da série por poder, por meio desses dois elementos do discurso audiovisual, conseguir extrapolar a interpretação de Nelson Rodrigues, de acordo com Stefanie. “É possível mergulhar no texto. O resultado foi muito bom porque, de fato, o espectador espera que a câmera mostre alguma coisa e ela realmente o satisfaz ao mostrar alguns pontos de vista diferenciados. Mostra para aguçar a curiosidade do telespectador mesmo”, acentua. A Vida Como Ela É é a produção de Nelson Rodrigues menos analisada na academia, segundo a autora. Há uma infinidade de trabalhos sobre suas obras teatrais. Para fazer a leitura dos 40 contos que compõem a obra, ela recorreu às
análises de Sábato Magaldi, principalmente. “Buscamos os aspectos destacados por Magaldi e os identificamos no material que assistimos da série. Encontramos, de fato, o diálogo curto, a família, o adultério, entre outros elementos já citados”. De acordo com Stefanie, a televisão geralmente é abordada na academia pela vertente da sociologia, o que é muito importante, em sua opinião, mas os estudos sobre a literatura e a televisão são importantes para conhecer profundamente a linguagem televisiva, já que a literatura entra em quadros de programas de variedades como o Fantástico. Stefanie enfatiza que o estudo é essencial para profissionais e graduandos em midialogia porque, de tempos em tempos, a TV lança programa novo, mistura os gêneros e é importante saber pensar a produção audiovisual de maneira geral, porque hoje vê que produtos migram do cinema para a internet, para a televisão, formam rede de mídias e na graduação. “Para produzir algo de qualidade, precisa saber pensar esse formato. A análise do que já existe é importante para construir nova linguagem e pensar no que será daqui para frente. Cada vez mais tende a aumentar a mistura de linguagens audiovisuais. A ideia de estudar formatos específicos da televisão aumenta a bagagem para saber pensar e fazer produto de qualidade que não sejam restritos a canais pagos, mas que possam contribuir para a sociedade como um todo”, reforça Stefanie.
Publicação Dissertação: “A vida como ela é: Nelson Rodrigues no palimpsesto televisivo” Autoria: Stefanie Alves Orientação: Gilberto Alexandre Sobrinho Unidade: Instituto de Artes (IA)