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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 546 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: scx.hu
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Os fatores que impedem a ascensão social da baixa classe média
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Enzima turbina propriedades funcionais do suco de laranja Guia define parâmetros para validade de produtos químicos Excesso de gordura na gestação provoca disfunções metabólicas Processos de avaliação apontam demandas e delineiam o futuro Placas fixadas com adesivo deixam avião mais leve e seguro
O documentário segundo Bill Nichols
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Para Bill Nichols (foto), professor da San Francisco State University e considerado um dos maiores especialistas em cinema nos EUA, um documentário sempre é revelador de uma perspectiva, mostrando como a verdade é vista pelo seu diretor. “É o modo como ele tem de dividir conosco a sua visão de mundo. O que a maioria das pessoas aceita como verdade fica aberto ao debate, o tempo todo”.
Foto: Antoninho Perri
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
ARTIGO
por: Renato Dagnino
Neodesenvolvimentistas x ‘solidaristas’:
um debate necessário agenda das políticas públicas que envolvem a produção de bens e serviços vem recolocando em cena o debate sobre a relação entre crescimento econômico e desenvolvimento. O primeiro entendido como aumento do PIB per capita e o segundo como o processo de elevação do bem-estar do conjunto da sociedade. De um lado, encontra-se a proposição neodesenvolvimentista. Embora ela tenda a negar que o crescimento é uma condição suficiente para o desenvolvimento, afirma categoricamente que o crescimento é uma condição necessária para o desenvolvimento. E, para promover o crescimento, subsidia o aumento da produção de bens e serviços pelas empresas. Não me parece necessário detalhar essa proposição uma vez que é uma reedição – fragilizada pelos contextos tecnoprodutivos nacional e mundial e com bem menor probabilidade de êxito – daquela que orientou nossa política produtiva até o neoliberalismo. Ainda sem batizá-la, enuncio as noções em que fundamentam a outra proposição. A primeira, é a de que esses dois processos respondem a duas dinâmicas. A da produção e circulação de bens e serviços, ou do mercado (no capitalismo) responde pelo crescimento enquanto que o desenvolvimento é de responsabilidade do Estado mediante suas políticas sociais. O crescimento econômico é um resultado de atividades de iniciativa da classe proprietária. Ele não leva necessariamente (e a experiência dos países periféricos o evidencia) ao desenvolvimento. O desenvolvimento não pode prescindir de políticas sociais. Aquelas que a classe proprietária poderia chamar “antieconômicas” e que compensam a tendência concentradora da dinâmica do “mercado”. Incluindo aqui o seu componente gerado pelas políticas econômicas, que talvez devessem ser chamadas de “antissociais”, que são implementadas pelo Estado. As políticas sociais financiadas pelos recursos advindos da taxação dessas atividades, em adição ao que ganham os vendedores de força de trabalho, possibilitam a elevação do bem-estar do conjunto da sociedade; ou seja, o desenvolvimento. A segunda noção em que se fundamenta a posição crítica ao neodesenvolvimentismo é a de que embora o crescimento tenda a facilitar a ocorrência do desenvolvimento, ele não é uma condição necessária. O que ele faz é gerar um fluxo de renda que pode ser realocado na margem, mediante a ação do Estado, sem mexer no estoque de riqueza da classe proprietária; sem “cutucar a onça...”. A terceira noção, que centraliza o debate, se relaciona à maneira como as políticas sociais buscam promover o desenvolvimento atuando sobre a dinâmica do “mercado”. Na sua crítica ao neodesenvolvimentismo esta posição compara o sis-
Foto: Antonio Scarpinetti
Renato Dagnino é professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp
tema formado por essas duas dinâmicas com um conjunto de duas bombas que funcionam uma contra a outra. Altamente ineficiente, ele dissipa energia e aumenta a entropia do sistema social em que está inserido. A primeira bomba – dinâmica do “mercado” – atua em nosso tecido socioprodutivo, em que tem lugar a produção de bens e serviços a partir da propriedade concentrada dos meios de produção (dos empresários no capitalismo e da burocracia estatal, como aconteceu no socialismo real). O que conduz a um processo de produção sociotécnica e espacialmente concentrado; que por sua vez induz à concentração do excedente gerado e da renda, ao inchamento das cidades, à maximização do dano ambiental, ao aumento da dependência cultural, econômica e tecnocientífica, etc. Sua eficiência, avaliada como tende a ser por critérios internos às empresas, que por construção deixam de lado as externalidades “positivas” ou “negativas”, parece ser muito elevada. O fato de que numa economia que pratica durante tanto tempo uma elevadíssima taxas de juro ainda exista quem aloque recursos para a produção é uma evidência de que essa dinâmica proporciona às empresas uma das mais altas taxas de lucro do mundo. A segunda bomba atua através das políticas sociais do nosso Estado latino-americano que, depois de décadas dirigido por governos pouco preocupados com o desenvolvimento, vem tentando distribuir renda. Ação que tem esbarrado numa estrutura estatal conformada para atender às demandas da classe proprietária e numa correlação de forças políticas desfavorável, advinda de nossa ancestral e enorme concentração de poder econômico e político. Além de colocar continuamente ameaças à governabilidade, ela impossibilita
uma reforma tributária que seria condição para tirar da informalidade quase metade da nossa população que não possui o suficiente para viver dignamente. A eficiência dessa segunda bomba parece ser muito baixa. O fato de que nem mesmo a cobrança de impostos das empresas e a adoção de uma escala progressiva do imposto de renda, etc., têm sido logradas, dá uma ideia da pouca “eficiência” do nosso Estado para distribuir o excedente. Contrastes como o que existe entre o programa (redistributivo) Bolsa Família, que custa 0,4% do PIB e beneficia 13 milhões de famílias, e que convive com outro “programa” (concentrador) Serviço da Dívida Pública, que custa até 8% do PIB e beneficia 20 mil de famílias são evidências disso. A outra posição que participa do debate sobre a relação crescimento- desenvolvimento, ao contrário da proposição neodesenvolvimentista, que se baseia na noção de que a convivência dessas duas dinâmicas é, mais do que necessária, inarredável, defende que nossas vidas dependem da desconstrução desse sistema. E aponta que já está em construção outro sistema, o da Economia Solidária que, ao contrário do crescimento competidor (o que não quer dizer competitivo) que o neodesenvolvimentismo implica, propõe a solidariedade, razão pela qual eu a passo chamar de “solidarista”. Ela propõe o fortalecimento do um arranjo societário baseado na organização do movimento social que está emergindo da Economia Informal onde tendem a situar-se os quase 200 milhões de brasileiros “suplementares” aos cerca de 40 que possuem a carteira assinada que os qualifica como “incluídos” na Economia Formal.
Esse arranjo agrupa os empreendimentos solidários baseados, ao contrario das empresas privadas e estatais, na propriedade coletiva dos meios de produção, em que trabalhadores associados se dedicam à produção de bens e serviços de modo autogestionário e desconcentrado. Embora ainda submetidos à dinâmica do “mercado”, comprando ou vendendo para a Economia Formal, esses empreendimentos tenderão a formar cadeias produtivas cada vez mais densas, completas e entrelaçadas, e crescentemente a ela autônomas. Orientados para bens e serviços para consumo dos trabalhadores e de suas famílias, para a produção em outros empreendimentos solidários e, também, dos cidadãos em geral que os recebem via a intermediação do poder de compra do Estado, eles se consolidam como oportunidades de criação de trabalho e renda. Os “solidaristas” propõem um decidido apoio governamental aos empreendimentos solidários, coerente, pelo menos, ao seu papel de absorção daqueles milhões de brasileiros que numa “jobless and jobloss economy” dificilmente serão absorvidos pela Economia Formal. Na medida em que recebam do governo benefícios, qualitativamente semelhantes e quantitativamente proporcionais, aos que hoje recebem as empresas, inclusive os relacionados à capacitação naquelas habilidades e competências que efetivamente necessitam para se tornarem sustentáveis, eles poderão funcionar como “porta de saída” para os programas compensatórios. À medida que se consolidem, irão desenvolvendo, mediante a Adequação Sociotécnica da tecnociência convencional produzida para e pelas empresas, a Tecnologia Social que os tornará – econômica, social, cultural e ambientalmente – crescentemente sustentáveis. Embora necessitem, como o fazem as empresas, do apoio Estado, os empreendimentos solidários poderão, tendencial e parcialmente, dele prescindir. No limite, não mais serão necessários os recursos que ele retira mediante imposto da classe proprietária para compensar, com as políticas sociais, aquilo que a classe trabalhadora deixa de receber pelo trabalho (não pago) que realiza. Passará a ser desnecessária essa função que o Estado desempenha para garantir, pela via do gasto social, a exploração do trabalhador em sociedades em que a propriedade dos meios de produção e do conhecimento não é coletiva. Será consideravelmente diminuído o enorme custo – econômico, social, tecnocientífico e ambiental – associado à concentração que existe nos planos da produção e circulação de bens e serviços e aos mecanismos de subsídio, transporte, comércio, propaganda, regulação, taxação, garantia da propriedade, etc. que elas envolvem e que a sociedade, diretamente ou através do Estado, incorre. Também será desnecessária a sísifica tarefa dos que a partir do Estado e fora dele buscam impedir que o mercado destrua o planeta e malbarate ainda mais aquilo que de humano todavia possui a nossa Humanidade. O crescimento econômico resultante da produção aumentada dos empreendimentos solidários será, afinal, o próprio desenvolvimento que queremos.
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012 Fotos: Antonio Scarpinetti/Divulgação
Gargalos travam
ascensão social Entrada do “camelódromo”, na região central de Campinas: mesmo caindo, índice de informalidade continua alto
Dissertação analisa relação entre estrutura setorial, ocupacional e política econômica LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
dinâmica econômica brasileira promoveu um contingente considerável de trabalhadores “miseráveis” para a “baixa classe média”, mas pode, por outro lado, impedir que continuem escalando a pirâmide social: no mercado de trabalho atual, eles já teriam atingido o seu “cume”. Para assegurar um crescimento sustentável dos estratos superiores e a desejada melhoria de nível de vida é necessário reconstruir as estruturas ocupacionais, trazendo a indústria de transformação novamente como protagonista da economia. E uma indústria direcionada a atividades de maior intensidade tecnológica e diversificação, a fim de gerar mais demanda por serviços e empregos qualificados. Esta é a principal conclusão da pesquisa de mestrado de Leandro Horie, apresentada junto ao Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Waldir Quadros. “Como economista, tenho observado que desde 2004 houve um forte movimento de geração de postos de trabalho. O que me intrigava é que, apesar da melhoria de indicadores como do desemprego e da renda, o nível de precarização do mercado de trabalho ainda persiste, como a elevada taxa de rotatividade e da informalidade, ainda que esta última tenha caído. Além disso, a geração de emprego se concentrou em ocupações com rendimentos de até dois salários mínimos. Então, meu objetivo na dissertação foi tentar entender este movimento através das inter-relações entre estrutura setorial, ocupacional e política econômica no período”. No propósito de analisar a estratificação social no Brasil, Leandro Horie baseou-se na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) nos anos de 1981 (que refletia o cenário econômico do período de 1930 a 1980, de grande crescimento, mas também de exclusão social); 1995 (de abertura econômica aliada ao primeiro ano do Plano Real, que significou o fim da aceleração da inflação); 2004 (de retomada do cres-
cimento mais constante); e 2009, quando foi feito o último levantamento. Em relação à dinâmica ocupacional, o autor da dissertação optou por utilizar a estratificação por classes proposta pelo seu orientador Waldir Quadros: alta classe média, média classe média, baixa classe média, massa trabalhadora e miseráveis. “Cada estrato social deve necessariamente conter determinados tipos de ocupação, como por exemplo, de engenheiros, professores universitários e profissionais autônomos (médicos, dentistas, advogados) na alta classe média; e, na base, os trabalhadores não remunerados entre os miseráveis. Como existem muitas ocupações, este foi um método de agrupá-las”, justifica.
DECLÍNIO DA INDÚSTRIA
Leandro Horie explica que a indústria de transformação vem apresentando um declínio desde o início da década de 1980, quando faltou investimento dentro de um cenário de baixo crescimento econômico e forte expansão de novos paradigmas tecnológicos; e principalmente a partir dos anos de 1990, com a abertura econômica feita de forma abrupta, aliada à política de valorização cambial do Plano Real. “O emprego na indústria, após um período de retração na década de 1990, voltou a crescer, mas isto se deu em torno de setores de menor intensidade tecnológica e mais intensivos em trabalho, diretamente ligados à dinâmica econômica do período. São setores que pagam salários menores e que têm uma demanda por qualificação também menor.” Se antes a indústria apresentava uma estrutura hierarquizada do emprego, como lembra o pesquisador, a década de 1990 foi de terceirização das atividades. “Dos faxineiros aos diretores, eram todos empregados da mesma empresa. Hoje, na fabricação de carros, por exemplo, existe, além da montadora, outra empresa que faz as autopeças, outra de limpeza, outra de auditoria, tornando-se muito mais segmentada a estrutura hierárquica. Quem está na linha de produção tem atualmente muito mais dificuldades de chegar a funções de chefia, já que parte das estruturas hierárquicas (principalmente as intermediárias) foi extinta.” Os serviços “qualificados” (de maiores salários), por sua vez, tiveram um comportamento mais instável devido ao desempenho da indústria, da qual são dependentes, aponta o economista. “Os caminhos ocupacionais ficaram restritos internamente à indústria e a crise do setor provocou um deslocamento de parte de sua mão de obra (que voltou a crescer recentemente) para o comércio e serviços, que por natureza possuem mercados de trabalho muito mais segmenta-
Leandro Horie, autor da dissertação: “Será preciso ocorrer algo mais complexo na economia”
dos. Além disso, houve estruturação do emprego em ocupações que eram consideradas ‘porta de entrada’ do mercado de trabalho (notadamente no comércio e serviços), geralmente ocupadas por jovens em início de carreira profissional e agora exercidas por adultos, com caminhos ocupacionais restritos e de menores salários.” Leandro Horie observa que todos estes movimentos estão intrinsecamente ligados à política econômica do período, de baixo crescimento (pelo menos até 2004) e sobrevalorização cambial, prejudicando a indústria, principalmente a de maior densidade tecnológica, e favorecendo as atividades industriais de baixa intensidade tecnológica, o comércio e os serviços. “Mesmo o crescimento econômico recente não foi suficiente para modificar esta tendência, pois não houve modificação na condução da economia brasileira”. O autor da dissertação atenta que a importância da indústria está tanto no tipo de emprego que gera, como nos seus desdobramentos em outros setores. “É o único setor que pode crescer dentro dele mesmo, enquanto os de comércio e de serviços são dependentes desta dinâmica. E o Brasil passa por um grande problema: nos países desenvolvidos, a dinâmica foi de crescimento do comércio e serviços num contexto de maturação do setor industrial; aqui, a indústria está revertendo à tendência de crescimento sem ter atingido a sua maturação. Com isso, ela vai se concentrar em setores de menor intensidade tecnológica e impactar negativamente em outros setores, sobretudo nos serviços especializados, e em um segundo momento na demanda de outros setores da economia, já que a renda corrente vai ser menor”.
REARRANJO DO MERCADO
Na avaliação de Horie, os dados da PNAD de 1981 mostram que o emprego industrial era bastante relevante na alta e na média classe média, visto que envolve conhecimento tecnológico. “Hoje, por causa da queda do setor industrial, o setor público tornou-se opção para esses estratos e, se houve crescimento de assalariados entre esses estratos, o setor público responde por contingente importante, principalmente na alta classe média. A média classe média, cujo contingente na indústria de transformação também caiu, viu-se relativamente compensada com o aumento da prestação de serviços às empresas (derivados das terceirizações) e como empregadores do comércio”. Um detalhe importante é que mesmo diante do crescimento econômico recente, a proporção de alta e de média classe média em 2009 era de 12,9%, levemente
inferior a 1981 (13,0%), ano de recessão da economia e caracterizada por uma má distribuição de renda. Outro resultado apontado na pesquisa é que o estrato da baixa classe média, o mais dinâmico, teve seu crescimento baseado em atividades econômicas como construção, educação, saúde, comércio e alojamento e alimentação. Entretanto, a informalidade, por mais que o emprego assalariado tenha crescido nesse estrato, continua relativamente estável, oscilando entre 17% e 18% do total de ocupados. A massa trabalhadora, de acordo com Leandro Horie, cresceu no período de 2004 a 2009, graças à ascensão de boa parte dos ocupados “miseráveis”. “A expansão deste segmento se deveu tanto à política de valorização do salário mínimo, como ao crescimento do emprego assalariado no comércio, prestação de serviços e, em especial, nos serviços domésticos.” Já para os miseráveis, o pesquisador afirma que continuam restando as atividades ligadas à agropecuária e aos serviços domésticos, além das ocupações não remunerados, todas regidas por formas retrógradas de relação de trabalho ou mesmo de subsistência. “A política de valorização do salário mínimo permitiu que mais de 10 milhões de ocupados saíssem da situação de miseráveis, mas a participação do emprego assalariado nesse estrato tem caído vertiginosamente. O salário continua miserável, naquele nível do boia-fria, do trabalho por empreitada.”
CRIAÇÃO DE EMPREGOS
Insistindo na conclusão de que os trabalhadores da baixa classe média, na atual conjuntura, chegaram ao seu limite, Leandro Horie prevê que eles terão de buscar escolaridade e qualificação para almejar um lugar na média classe média e principalmente na alta classe média. Mas não se trata somente de aumentar sua escolaridade/qualificação. “Para que essas pessoas passem aos estratos superiores, será preciso ocorrer algo mais complexo na economia, que vai ter de criar esses empregos em maior número. Caso contrário, a pessoa terá um curso superior, mas na falta de novas vagas, continuará numa atividade que não demanda esta qualificação. E isso só pode ocorrer caso os pressupostos que colocaram a economia brasileira nesta situação sejam superados”.
Publicação Dissertação: “Política econômica, dinâmica setorial e a questão ocupacional no Brasil” Autor: Leandro Horie Orientador: Waldir José de Quadros Unidade: Instituto de Economia (IE)
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
Enzima potencializa propriedades anticancerígenas do suco de laranja CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
evido principalmente às suas comprovadas atividades antioxidantes, os polifenóis, ou compostos fenólicos, estão relacionados à prevenção do câncer e de doenças cardiovasculares. Sua reconhecida capacidade de combater radicais livres, comprovadamente responsáveis por processos de oxidação que conduzem a uma série de doenças degenerativas, determina o seu uso como substâncias bioativas, componentes dos chamados alimentos funcionais. A sua presença em amplas variedades de fontes vegetais, incluindo frutas, legumes e cereais, assim como em chás e sucos de frutas, fazem com que esses produtos sejam incluídos na composição de uma dieta sadia. Entretanto, os polifenóis naturais ocorrem frequentemente ligados quimicamente a moléculas de açúcares ou a outros conjugados que podem comprometer a sua biodisponibilidade e limitar os seus efeitos benéficos no organismo. Processos biotecnológicos que rompam essas ligações químicas, de forma a isolar a molécula do polifenol das que lhe estão associadas, podem ser chamados de biotransformação. A biotransformação das fontes vegetais dos polifenóis, ou dos produtos delas advindos, leva ao aumento da concentração de compostos fenólicos livres e melhora a atividade funcional desses antioxidantes. Os compostos antioxidantes assumiram particular importância quando se descobriu que as doenças crônico-degenerativas, diabetes, problemas coronários, cânceres, entre outros males que acompanham o envelhecimento, são antecedidos por processos oxidativos que ocorrem no organismo em níveis acima dos normais. Em decorrência da associação entre o consumo de alimentos e bebidas ricos nessas substâncias e a preservação de doenças, o interesse por polifenóis passou a ser crescente. Mas era necessário vencer as limitações impostas pelas estruturas desses compostos que afetam suas propriedades biológicas como biodisponibilidade, atividades antioxidantes e interações específicas com receptores celulares e enzimas. Uma das alternativas para se chegar a eles é a biotransformação de fontes vegetais e seus produtos, utilizando a fermentação ou a hidrólise enzimática. Esses recursos permitem aumentar a atividade funcional desses antioxidantes por meio do aumento da concentração de compostos fenólicos livres de glicosídeos ou conjugados. Na biotransformação através da hidrólise, várias enzimas podem ser utilizadas, entre elas a tanase, ainda pouco conhecida e estudada. Com o objetivo de estudar a ação enzimática do extrato semipurificado de tanase de Paecilomyces variotti frente a diferentes polifenóis purificados, e avaliar a atuação do extrato de tanase na matriz alimentar suco de laranja, a pesquisadora Lívia Rosas Ferreira desenvolveu pesquisas junto ao Departamento de Ciências de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O trabalho teve a orientação da professora Gabriela Alves Macedo e coorientação da professora Juliana Alves Macedo. A escolha do alimento se justifica pelo fato de o Brasil ser o maior produtor mundial de concentrado de suco de laranja, além de estudos mostrarem que essa bebida possui grande capacidade antioxidante, em parte relacionada à presença de polifenóis. A fim de lhes aumentar a atividade funcional, o extrato semipurificado de tanase obtido do microrganismo Paecilomyces variotti foi avaliado quanto à sua capacidade de biotransformar os polifenóis hesperidina e naningina predominantes no suco de laranja de padrões comerciais. Os resultados mostraram que o extrato semipurificado de tanase levou a um aumento de cerca de 17% do teor fenólico total e foi capaz de modificar o perfil polifenólico, convertendo os padrões hesperidina e naningina nas suas formas agliconas, que possuem maior atividade antioxidante do que as formas glicosiladas.
Biotransformação aumenta concentração de compostos fenólicos livres e melhora atividade funcional de antioxidantes Fotos: Antonio Scarpinetti
bre a ação da hesperitina sobre radicais livres, revelando uma ação muito maior que os compostos de partida. O desenvolvimento dos estudos gerou uma série de pesquisas. Gabriela ressalta que uma das próximas etapas, já em andamento, é o de passar da escala laboratorial, em que as quantidades utilizadas são reduzidas, para testes com volumes maiores, o que permitirá o desenvolvimento de pesquisas in vivo, com animais. Outra ideia é a de imobilizar a enzima em uma base gel que, disposta em uma coluna, permitirá que o suco circulante saia dela bioprocessado. Estaria viabilizada assim a produção de um alimento funcional, corriqueiramente consumido pela população brasileira. Mas, talvez, o projeto mais interessante seja a obtenção da tanase a partir do fungo Paecilomyces variotti, que cresce bem no bagaço de laranja dando origem à enzima tanase. Esta converte toda a hesperidina do bagaço – que a possui em muito maior concentração do que a presente no próprio suco – em hesperitina, processo que poderá vir a ser uma fonte comercial de produção de hesperitina, ainda não existente. Economicamente viabilizada sua produção, ela poderá vir a ser, por exemplo, disponibilizada para consumo em cápsulas de suplemento alimentar, com poder antioxidante enorme, ou mesmo acrescentada no próprio suco ou em outros alimentos de forma a transformá-los em funcionais. Atualmente esse polifenol é isolado de fontes em que aparece em concentrações muito pequenas, o que encarece sua separação e, por isso, restringe sobremaneira seu emprego.
CONTRIBUIÇÕES
As professoras Gabriela Alves Macedo e Juliana Alves Macedo: trabalho incansável; à direita, amostra de suco concentrado
Dependendo do método empregado, a atividade antioxidante do suco de laranja aumentou de 50% a 70%. Para a pesquisadora, os estudos da biotransformação enzimática de polifenóis em matrizes alimentares, que revelaram o aumento da atividade antioxidante, abrem caminho para a produção de alimentos de consumo corrente com maiores atividades funcionais. Pelo que tem conhecimento a autora, o trabalho mostrou pela primeira vez a capacidade do extrato semipurificado de tanase em atuar na hidrólise das flavanonas hesperidina e naringina, modificando o perfil polifenólico do suco de laranja de maneira a levar a um aumento da atividade antioxidante in vitro dessa matriz alimentar.
CAMINHOS Juliana lembra que se busca com o uso de alimentos funcionais antes de tudo o seu caráter antioxidativo, ou seja, o retardamento das ações de oxidação no corpo. Existem vários mecanismos de ação dos antioxidantes, entre os quais o de sequestro de radicais livres, resultantes do próprio metabolismo do organismo. Partindo do conhecimento de que a enzima tanase podia quebrar moléculas maiores de polifenóis transformando-as em moléculas menores, mais facilmente absorvidas pelas células em que permanecem por mais tempo e por isso mais ativas, Gabriela orientou primeiramente uma pesquisa de doutorado estudando a produção e ação da tanase sobre os polifenóis presentes no chá verde e no chá mate, que ganhou o Prêmio Capes de teses, em 2009. Como a literatura dizia que a tanase atuava em galatos taninos, encontrados principalmente no chá verde, ela resolveu comprovar
isso em células e também em outros fenólicos. Coorientada por Juliana, Lívia testou, então, a ação dessa enzima em várias classes dos polifenóis prevalecentes na uva, no vinho, no café, na soja, no chá verde, no chá preto, na laranja. Os testes biológicos revelaram um fato totalmente desconhecido: a biotransformação dos dois polifenóis preponderantes na laranja, a hesperidina e a naningerina, típicos dos cítricos. Esse efeito não era mencionado na literatura, embora constasse a informação de que a eliminação dos açúcares tornassem as moléculas mais biodisponíveis. A hidrólise da hesperidina provocada pela tanase que leva à formação da hesperitina, a forma fenólica mais ativa, e a liberação da rutinose, um açúcar. As professoras lembram que os trabalhos mais recentes, não incluídos na tese citada, dão conta de que a hesperitina tem efeito antiproliferativo de células cancerígenas extraordinário, o que as levou a solicitar patente de processo para sua obtenção. Para referendar este fato, com o apoio da divisão de Farmacologia e Toxicologia do CPQBA, Juliana partiu de um painel de diferentes células tumorais humanas, constituído de nove linhagens de tumores como os de intestino, rim, ovário, pulmão, fígado, etc, submetendo-as separadamente a um anticancerígeno farmacológico padrão, à hesperidina e à hesperitina, de modo a poder comparar os efeitos sobre a morte das células doentes. Os resultados mostraram que com a hesperitina a inibição do crescimento celular se aproximou à do fármaco, o que pode ser considerado altamente positivo por ser difícil achar um composto natural com essa atividade. Os resultados estão sendo publicados em revista de impacto da área de alimentos. As pesquisas se estenderam também so-
A fala entusiasmada dessas duas pesquisadoras irmãs, docentes da FEA – Gabriela, há 10 anos no Departamento de Ciência de Alimentos, e Juliana, recentemente admitida no Departamento de Alimentos e Nutrição – sugere a pergunta: como se sentem desenvolvendo pesquisas que podem trazer significativas contribuições para o ser humano? “Estudamos bastante e por muitos anos com financiamento do governo do Estado de São Paulo para chegarmos onde estamos. Hoje, funcionárias desse mesmo Estado, independentemente do reconhecimento acadêmico ou financeiro que possamos receber, temos que retornar para a sociedade o que estiver ao nosso alcance, porque para isso nos formamos”, afirma Juliana. Gabriela completa: “Os resultados a que podemos chegar é que nos movem vir aqui todos os dias, embora nem sempre consigamos sensibilizar, durante as atividades docentes, o número de alunos que desejaríamos para o alcance do trabalho realizado em nossa Faculdade”. Além de procurarem aumentar a escala de produção da hesperitina para viabilizar testes in vivo, elas trabalham para produzir a substância por processo fermentativo a partir do bagaço de laranja e realizar ensaios para descobrir quais são realmente os benefícios que o produto possa trazer para o organismo. Juliana pretende montar na FEA um laboratório de células humanas para em futuro próximo estudar a influência da tanase sobre obesidade, diabetes, etc. As pesquisadores têm pensado também em seu uso em cosméticos, para proteção da pele. Em relação aos polifenóis estão entrando ainda na área de óleos especiais e inclusive no estudo do azeite de oliva que começa a ser produzido no Brasil.
Publicação Tese: “Estudo da especificidade da tanase de Paecilomyces variotii e sua aplicação na biotransformação dos polifenóis do suco de laranja” Autora: Lívia Rosas Ferreira Orientadora: Gabriela Alves Macedo Coorientadora: Juliana Alves Macedo Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
Foto: Antoninho Perri
Bill Nichols, docente da San Francisco State University: “A internet não serve apenas para mostrar os filmes. Serve também para fazer filmes de novas formas, o que está relacionado com a interatividade com o espectador”
Um diálogo com
Bill Nichols
Um dos principais estudiosos de cinema nos EUA, o pesquisador ministrou duas conferências na Unicamp MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
No final de outubro, Bill Nichols, professor da San Francisco State University, considerado um dos principais pensadores em estudos de cinema nos Estados Unidos, ministrou duas palestras na Unicamp. Em ambas as oportunidades, o auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA) ficou lotado. O público, formado em sua maioria por estudantes de graduação e pós-graduação, ouviu atentamente as explanações do convidado sobre aspectos relacionados aos documentários. Descontraído, Nichols falou, por exemplo, sobre a presença da ironia nas produções e acerca da importância da voz como elemento fundamental para conferir sentido às obras e estabelecer diálogos com os espectadores. Jornal da Unicamp – Poderia citar alguma produção documentária contemporânea que o tenha impressionado? Bill Nichols – O filme que eu acho mais impressionante, quase dez anos depois de lançado, é Grizzly Man [Homem Urso, no título em português, filme dirigido por Werner Herzog]. Eu considero este um trabalho marcante, pois ele usa um filme feito por outra pessoa [Timothy Treadwell, ecologista e especialista em ursos, que foi devorado por um desses animais] sobre a vida dos ursos no Alasca. JU – O sr. conhece a produção atual do Brasil nessa área? Bill Nichols – Eu tenho uma pilha de documentários do Brasil em casa para assistir. Toda vez que eu acho que terminei, tenho mais filmes para ver. Eu não posso dizer muito sobre os filmes brasileiros, mas sei que a produção de documentários aqui está bastante viva no momento. Há muitos filmes interessantes. Alguns deles eu mostrei durante as minhas conferências aqui na Unicamp. Penso que preciso ver mais filmes antes que eu possa dizer mais. Entretanto, aqueles que eu exibi aqui, inclusive o do Eduardo Coutinho [O Fim e o Princípio], são muito interessantes. JU – O que o sr. poderia dizer sobre a tendência atual na produção de documentários? Bill Nichols – Eu acho que essa produção é muito fluida. Os enfoques particulares são dominantes. Você tem os filmes observacionais em largo grau. Produções
Tão importante quanto a presença, foi a interação do público com o docente norte-americano. Ao final das conferências, nas quais exibiu trechos de diversos documentários, alguns deles brasileiros, Nichols foi questionado pelos presentes sobre diferentes pontos, atitude que o agradou bastante. “O público realmente tinha muitas questões. Isso me faz sentir que o interesse pelo documentário aqui é maior que nos Estados Unidos. Fiquei impressionado. Acho que isso mostra como existe um grande interesse por filmes no Brasil neste momento, particularmente por documentários”, considerou. Na entrevista que segue, Nichols fala ao Jornal da Unicamp a respeito de alguns assuntos relacionados à produção documentária atual.
como Jesus Camp e 12th and Dalaware, por exemplo, observam como as pessoas lidam com diferentes temas. Eles são similares a Don´t look back e, em alto grau, e muito diferentes de Green Wave e outros filmes. Eu acho que os documentários são muito abertos e fluidos. Alguns são muito politizados e abordam temas sobre justiça social.
pessoas têm usado esse recurso muito bem. A internet não serve apenas para mostrar os filmes. Serve também para fazer filmes de novas formas, o que está relacionado com a interatividade com o espectador. Não tenho visto muito filmes com esse perfil, mas é claro que é bem diferente e envolve o espectador de novas formas.
JU – No Brasil, a produção de documentários é vigorosa, mas há problemas para distribuir e exibir os filmes. Nos Estados Unidos existe a mesma dificuldade? Bill Nichols – Não sei como está a situação neste ano em particular, mas nos últimos 10 ou 15 anos tem havido mais documentários em salas de cinema, como nunca antes. Esses filmes movimentaram milhões dólares. Muitos documentários nos Estados Unidos e em outros países são financiados com a ideia de que serão mostrados na televisão. Assim, muitos são financiados pela HBO e outras emissoras. Alguns são produções de alta qualidade. Então, um dos melhores modos de exibir um filme é através da televisão. Mas, também existem as alternativas das salas de cinema, do DVD ou da Internet.
JU – O sr. diz que o documentário não é uma reprodução, mas sim uma representação da realidade. Poderia explicar melhor essa diferença? Bill Nichols – O principal ponto é que um documentário sempre representa uma perspectiva, um ponto de vista. Mostra como a verdade é vista pelo seu diretor. É o modo como o diretor tem de dividir conosco a sua visão de mundo. O que a maioria das pessoas aceita como verdade fica aberto ao debate, o tempo todo. A ideia de que os documentários retratam a verdade é bem enganosa. Pensar assim é assumir que existe uma verdade objetiva. Entretanto, o que é considerado verdade normalmente mostra apenas certos níveis dos fatos. Por exemplo, esta mesa está aqui ou não? Nós podemos concordar que ela está aqui. Entretanto, eu gosto desta mesa? Eu a acho bonita? Seria melhor termos um sofá no lugar dela? Cabe ao diretor nos mostrar algo sobre esta sala e nos questionar sobre os nossos valores, credos, orientações. Esta é a verdade do diretor, é o que ele vê. Entretanto, isso pode não coincidir com o que pensamos.
JU – Por falar em internet, como o sr. vê o uso de tecnologias como o telefone celular e a internet como recursos para se registrar e veicular um documentário, respectivamente? Bill Nichols – O telefone celular agora é uma ferramenta para fazer filmes, assim como a câmera. E você pode ver como as
JU – Em uma das suas conferências, o sr. falou sobre a importância da voz no cinema. A voz a que o senhor se refere, porém, é mais do que a presença de diálogos num filme, não? Bill Nichols – O que eu estava tentando deixar claro é que a voz, o modo como estamos usando a palavra, não se refere apenas à palavra falada. A voz também está presente na forma como a câmera é utilizada, na edição, nas tomadas realizadas. Quando o diretor mostra pés andando ao redor de uma máquina, é como se ele dissesse “olhe, é assim que são os pés de milhares de pessoas, todos do mesmo jeito”. Ora, ele não disse realmente isso, ele mostrou. Então, a voz depende de como o diretor usa a técnica para expressar um ponto de vista particular. Assim, ele pode usar um discurso, uma imagem, uma música etc. A voz, portanto, não é só a palavra. JU – Suas duas conferências na Unicamp contaram com bom público, que se mostrou bastante interativo. Como avaliou a experiência? Bill Nichols – De fato, o público tinha muitas questões. Isso me fez sentir que o interesse pelo documentário aqui é maior que nos Estados Unidos. Fiquei impressionado. Acho que isso mostra como existe um grande interesse por filmes no Brasil neste momento, particularmente por documentários. Eu gostei de ter vindo, foi um grande prazer. Colaboraram Gabriela Villen e Everaldo Silva
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012 Foto: Antoninho Perri
Luciana Rodrigues Oriqui, autora do estudo, e o professor Milton Mori, orientador: indústria química passa por readequação
Guia propõe parâmetros para validade de produtos químicos Depois de vencido o prazo, descarte é feito muitas vezes de forma inadequada CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
o estampar o prazo de validade em embalagens de alimentos, medicamentos e cosméticos, o fabricante garante que até a data especificada o produto mantém as características e propriedades que se esperam dele, desde que respeitadas as condições adequadas de armazenamento. Da mesma forma, todos os produtos químicos utilizados como insumos por quaisquer tipos de indústrias vêm acompanhados das especificações de suas características físicas e químicas, garantidas pelo fabricante por prazo determinado, desde que convenientemente armazenados. Se em relação aos medicamentos e cosméticos existe um guia da Anvisa que define os parâmetros a serem utilizados para a determinação dos prazos de validade desses tipos de produtos, o mesmo não ocorre em relação aos produtos químicos. Diante disso, e para não correrem riscos, elas atribuem prazos que garantam as características físicas e químicas dos seus produtos baseando-se nos parâmetros de estudos de estabilidade da indústria farmacêutica, que os tem já mundialmente consagrados. Em consequência, a indústria que utiliza insumos químicos se desfaz deles esgotados os prazos de validade, mesmo ciente de que em boa parte dos casos o produto comportaria uma validade adicional. Esse descarte desnecessário tem implicações ambientais muito sérias e causa prejuízo que refletem no preço do produto que chega ao consumidor. Esses problemas poderiam ser contornados ou minimizados com o estabelecimento de um guia específico para determinar a validade real de produtos químicos, que servisse de orientação às empresas produtoras. Nele, estariam especificados os parâmetros a serem utilizados na determinação correta de prazos de validade, possibilitando ainda uma uniformização de critérios. E mais, os parâmetros adotados deveriam possibilitar a realização de análises periódicas que possam garantir a definição de um prazo de validade adicional ao do vencimento, chamado comumente de prazo de reteste, que permitiria estender a utilização do produto quando possível. À elaboração desse guia se propôs a engenheira de alimentos, com mestrado e doutorado em engenharia química, Luciana Rodrigues Oriqui, que foi orientada pelo professor Milton Mori, no programa de doutorado do Departamento de Engenharia de Processos (Depro) da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp.
A pesquisa foi proposta ao orientador do trabalho pelo doutor em engenharia química Pedro Wongtschowski, CEO do Grupo Ultra, que atuou como coorientador e cosupervisor do trabalho, que teve a ajuda financeira da Oxiteno S.A. O professor Mori considera que a experiência de Luciana, que atuou no mercado industrial por cerca de 15 anos, foi fundamental para o desenvolvimento do estudo. Em relação à motivação do trabalho, a pesquisadora diz que o tema tomou maior vulto quando pesquisas de campo revelaram demanda acentuada por estudos de estabilidade específicos para o segmento de produtos químicos. Esta constatação era corroborada por outra: a indústria química vem passando no mundo todo por um período bastante particular de readequação em função da implementação do regulamento europeu Registration, Evaluation, Authorization and Restriction of Chemicals (REACH), que pretende uma abordagem integrada a respeito do controle de fabricação, importação e uso de substâncias químicas na Europa. No Brasil, além da necessidade de se adequar à extensa quantidade de informações solicitadas pelo REACH, a indústria química se ressente da falta de um guia de estabilidade específico em que se possa orientar. As exigências da globalização atendem assim inclusive uma demanda nacional.
O GUIA
Com o objetivo de elaborar esse guia específico que permita a definição de prazo de validade, o denominado shelf life para a indústria química, a pesquisadora visitou empresas brasileiras dos segmentos químico, alimentício, cosmético e farmacêutico, com vistas à compreensão de como são realizados por elas os estudos de estabilidade de seus produtos, porque a partir deles é que são definidos os prazos de validade. Ela chegou então à conclusão de que a indústria farmacêutica deveria servir de base para a elaboração do guia pretendido, por possuir em geral métodos mais bem definidos relacionados à estabilidade e que mostram como a qualidade de um produto se altera com o tempo sob influência de fatores como temperatura, umidade e luz. As visitas de campo levaram a pesquisadora a detectar que atualmente ocorre a tendência de a indústria química adotar nesses estudos os Guias de Boas Práticas do International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for Registration ofe Pharmaceuticals for Human Use, o ICH, apesar deles se destinarem especificamente aos
produtos farmacêuticos. Segundo ela, aparentemente há uma correlação deste com o Sistema REACH, que procura reunir informações sobre segurança. Entre as exigências, o REACH obriga a apresentação de classificação e de rotulagem, orientação de uso seguro e relatório de segurança química, sendo várias das informações solicitadas oriundas da realização de estudos de estabilidade. Diante desse quadro e a partir da utilização como referência dos guias ICH, específicos para indústrias farmacêuticas, Luciana propõe a elaboração de um Guia de Estabilidade para Produtos Químicos em que são apresentados metodologias e parâmetros para a definição de prazo de validade e de definição de prazo de validade adicional, ou prazo de reteste, desde que o produto ainda atenda a pré-requisitos mínimos estipulados. Para ela, “a possibilidade do estabelecimento de um prazo de validade adicional representa uma redução do impacto ambiental causado pelo descarte de produtos químicos com prazo de validade teoricamente vencidos, mas que ainda atendam as especificações mínimas de qualidade e aplicabilidade”.
ETAPAS
Na tese, Luciana apresenta as etapas a serem seguidas, ou seja, os tipos de testes que devem ser realizados nos estudos de estabilidade, que por sua vez definirão prazos de validade de produtos químicos. No pós-doutorado, já iniciado, ela está realizando os testes de laboratório em quatro produtos químicos voltados para distintos segmentos industriais, de forma que as conclusões possam ser transpostas para outras substâncias com que guardem determinadas semelhanças. A tese deve resultar em livro, em trabalhos práticos e na publicação de um guia para utilização pelas indústrias químicas. Segundo a proposta, os prazos de validade em questão estariam amparados em adequações dos estudos de estabilidade já adotados para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos brasileiras, formulados em função das características específicas da zona climática em que se encontra o Brasil. A utilização de parâmetros da indústria farmacêutica também se justifica pelo fato de seus estudos de estabilidade se situarem entre os mais rigorosos e bem regulados do mercado. A autora entende que, com um guia de estabilidade específico para o setor – que apresente uma metodologia capaz de prorrogar o prazo de validade para produtos que mantiverem as especificações mínimas exigidas após o prazo inicialmente proposto –, a indústria química poderá evitar o atual desperdício que
impacta o mercado e as empresas. Os estudos de estabilidade propostos no guia também deverão tornar-se fonte de referências e informações sobre a segurança dos produtos químicos, constituindo suporte para as indústrias químicas brasileiras no atendimento das exigências do REACH, garantindo-lhes mercados exportadores. Na perspectiva da autora, para fins de estudos de estabilidade e proposição de prazos de reteste, a indústria química poder ser subdividida em quatro categorias, cujo critério de agrupamento seria o segmento de mercado atendido: farmacêutica, cosméticos, alimentos e de outros segmentos como, por exemplo, o do petrolífero, de couro, de tintas, de defensivos agrícolas. Deste modo, diz ela, as indicações poderiam atender especificidades características de cada um destes grupos. Com efeito, a partir das diretrizes mencionadas no trabalho, ela já iniciou uma nova etapa que consiste na aplicação prática dos conceitos e parâmetros indicados com vistas à obtenção de uma base de dados representativa de cada um dos segmentos mencionados. O propósito é o de estabelecer novos limites de extrapolações específicos para cada um dos segmentos ou até, se for o caso, definir parâmetros específicos para subdivisões que possam vir a ser sugeridas em cada uma das quatro categorias mencionadas. Luciana enfatiza que “os dados da pesquisa apontam para a relevância do desenvolvimento de um manual sobre estudos de estabilidade voltados para a indústria química que aborde, de forma prática, a partir de dados laboratoriais, para cada categoria, as diversas etapas dos estudos, tais como, critérios de seleção de lotes, estudos de foto estabilidade, análise de impurezas, testes de embalagens e de transporte, análises estatísticas e aplicação de prazos de retestes, entre outros”. A pesquisadora entende que, para maior objetividade e aplicabilidade, o manual em desenvolvimento deve contemplar estudos de caso através dos quais sejam detalhadas todas as etapas a serem seguidas.
Publicação Tese: “Definição de prazo de validade e proposição de prazo de reteste” Autora: Luciana Rodrigues Oriqui Orientador: Milton Mori Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)
Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
issertação de mestrado do biólogo Luiz Fernando Possignolo, desenvolvida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), mostrou que a dieta materna hiperlipídica (rica em gorduras) para roedores, durante períodos críticos do desenvolvimento da prole, levou os filhotes a terem alterações metabólicas na vida adulta. Eles apresentaram resistência à insulina, hipertensão e alterações na expressão de proteínas ligadas ao transporte de colesterol e à via inflamatória. Apesar dos experimentos serem feitos com animais, existem estudos na literatura avaliando mulheres com alterações de dieta que já demonstram doenças metabólicas e que poderão levar efeitos sobre os filhos. Foi o que sugeriu essa pesquisa ainda preliminar que teve a orientação do docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) José Antonio Rocha Gontijo e coorientação da pesquisadora Adrianne Palanch. Esse período crítico ocorre na gestação pelo fato de o feto se desenvolver pelos estímulos da mãe, “que lhe dá uma ideia prévia do ambiente lá de fora para, quando nascer, estar preparado para essa vida. A isso chamamos programação fetal”, define Possignolo, o que criaria no feto condições metabólicas, funcionais e morfológicas diferentes dos filhotes cujas mães tiveram uma dieta saudável. O biólogo avaliou, entre 2010 e 2012, o efeito da dieta hiperlipídica materna durante a gestação. A sua pergunta de pesquisa era se essa dieta poderia gerar disfunções no transporte do colesterol da prole em diferentes idades. Nos experimentos, as mães receberam essa dieta crônica contendo 60% de calorias provindas de lipídios (sobretudo gordura saturada) a partir da terceira até a oitava semana de vida. Depois acasalaram e continuaram a ingestão no período gestacional e na lactação. É como se tivessem uma alimentação desequilibrada da adolescência ao desmame dos filhotes. Elas foram divididas em dois grupos: um grupo controle, que recebeu uma dieta saudável, e o grupo de estudo, submetido a uma dieta hiperlipídica. O pesquisador fez uma avaliação em vários períodos de desenvolvimento da prole: antes do nascimento (com 17 dias gestacionais) e depois do nascimento com 12 dias, 8 e 16 semanas de vida. O objetivo de Luiz era desvendar os receptores SR-BI e ABCA1, relacionados com o transporte de colesterol em vários órgãos, como placenta, intestino delgado, fígado e rins. No estudo, essas proteínas, encarregadas da captação de colesterol, estavam aumentadas nos rins, o órgão que exibiu os resultados mais expressivos. Enquanto a função da SR-BI é a de captar o colesterol para dentro das células renais, a ABCA1 exporta-o para fora. Essa alteração sugere então que as células renais possivelmente captam mais colesterol nos animais programados. Luiz estima que isso se deveu a um aumento da ABCA1 para não permitir o acúmulo de colesterol, já que a mãe consumia uma dieta rica em lipídios, como resultado da programação fetal. Deste modo, esses animais já estavam “programados” a ter uma maior expressão dessa proteína. Embora esses animais não se diferenciassem em termos de níveis plasmáticos de colesterol, os triglicérides aumentaram quando estavam com 16 semanas de vida [um rato é considerado adulto a partir da 10ª semana], havendo maior resistência à insulina. Além disso, outro achado interessante revelado no estudo foi que tanto os filhotes de mães que receberam a dieta saudável quanto a dieta hiperlipídica apresentaram uma queda na expressão dos receptores ABCA1 (responsável pela produção da HDL – colesterol bom) e SR-BI (que capta o excesso de colesterol do sangue) no fígado. “Descobrimos essa diminuição à medida que os animais envelheciam. Pode ser que a idade seja um fator relevante para esses receptores, que terão menor expressão, podendo contribuir para um acúmulo de colesterol nos tecidos periféricos com o passar da idade”, enfatiza Luiz. Esses experimentos foram conduzidos no Laboratório de Metabolismo Hidrossalino, que investiga o efeito das dietas materna sobre a programação fetal, principalmente associado às doenças metabólicas e renais.
PROGRAMAÇÃO FETAL
A biomédica Flávia Mesquita, do mesmo laboratório de Luiz, conta que a programação
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Dieta rica em gorduras na gestação desencadeia disfunções metabólicas Testes feitos em laboratório da FCM mostram a importância da programação fetal Fotos: Antoninho Perri
O biólogo Luiz Fernando Possignolo, autor da dissertação: feto se desenvolve pelos estímulos da mãe; no destaque, a equipe que atua na mesma linha de pesquisa
fetal é um termo muito difundido para evidenciar alterações nos fetos em consequência do ambiente intrauterino inapropriado. Mundialmente, este tema é debatido em congressos da Sociedade Internacional DOHaD (Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença). Flávia salienta que essa programação não é exclusiva, como consequência de uma dieta inadequada, mas também pode ser por estresse materno, depressão e exposição à poluição. Animais nascidos de uma mãe que recebeu dieta hipoproteica, por exemplo, possuem baixo peso ao nascimento, no entanto rapidamente seu peso se iguala ao de outros animais cuja mãe recebeu uma dieta equilibrada, por tender a estocar tudo aquilo de que foi privado, diz ela. A hipótese da programação fetal partiu de uma análise epidemiológica do cardiologista inglês David Barker, ao verificar que os filhos de mulheres que vivenciaram a Segunda Guerra mundial eram mais frequentes no seu consultório. Por esse motivo, o médico fez uma coorte para saber a relação da doença cardiovascular com a vivência da mãe na gestação. Realizou algumas associações com as vítimas da guerra, que passaram fome e ficaram desnutridas, gerando filhos com tendência a alterações cardiovasculares. Algumas mulheres já estavam grávidas e outras passaram por privação no pós-guerra. Esse estudo abriu um leque para outras investigações. O mestrando Daniel Bueno Block, relata Adrianne, vem trabalhando com tabagismo. Ele coloca a rata prenha em uma câmara, em contato com a fumaça do cigarro, para avaliar os efeitos sobre a prole. A ideia é investigar a pressão arterial, a função renal e dados morfológicos, mormente pelo fato do cigarro causar hipóxia nos fetos. Outro estudo do laboratório aponta que os efeitos para as doenças cardiovascular e renal são mais perceptíveis no adulto. A alteração
na organogênese é a causa dessas doenças tardias, posto que os rins têm uma menor funcionalidade. “Esse órgão tem um desenvolvimento embrionário complexo e requer uma regulação fina. E, provavelmente, o ambiente intrauterino pode afetá-lo em particular”, expõe a coorientadora. O próximo passo envolverá ‘escanear’ os rins, analisando a fisiologia, bioquímica e morfologia, para ver alterações mais específicas. Um outro estudo ainda dessa linha de pesquisa é o da bióloga Noemi Angélica Vieira Roza, que avaliou a via do fator nuclear kappa B (NF-kB) – um complexo proteico que desempenha funções como fator de transcrição (ligando e desligando interruptores gênicos). Algumas proteínas dessa via, quando ativadas, vão para o núcleo e regulam uma série de genes associados à via inflamatória. Além desses estudos sobre a ocorrência e o aumento (ou não) dessas proteínas da via da inflamação, Noemi também investigou se os animais estavam retendo mais sódio e água (que pode contribuir para a elevação da pressão arterial). A pesquisa comprovou elevação da glicemia e concluiu que a dieta hiperlipídica colabora para a elevação da pressão arterial dos ratos na vida adulta e para o aumento da inflamação dos rins (pelo menos da via do NF-kB).
LINHA DE PESQUISA
Adrianne comenta que os experimentos nesse laboratório baseiam-se no estudo de dietas alteradas e na observação do que acontece com a prole quando as dietas são aplicadas na mãe. Contudo, qual é o início do processo nos animais, quando as mães são submetidas a tal dieta? Tanto este estudo quanto o realizado com dieta hipoproteica mostraram que as dietas levam a alterações renais decorrentes de um processo inflamatório e com efeito sobre a pressão arterial.
Essa linha de pesquisa traz reflexões que procuram extrapolar o conhecimento também para o ser humano e prevenir alterações. Ainda que isso não seja possível, pelo fato do grupo atuar só com animais e ter controle total sobre sua alimentação, alguns trabalhos já estudam mulheres obesas com alteração de dieta, com doenças metabólicas, e seus efeitos nos filhos. “O tema é apropriado, pois a população mundial vem registrando um aumento de doenças metabólicas e de obesidade, o que vem preocupando muito, pela mudança de comportamento alimentar e desequilíbrio metabólico grave”, avisa Adrianne. Até a década de 1980, a preocupação era com a desnutrição. Agora, mais que a obesidade ou a desnutrição, o que gera a programação fetal é o desequilíbrio da nutrição. Para os seres humanos, o ideal é uma dieta equilibrada, em especial durante a gestação, valendo a célebre frase: “você é o que você come, mais o que a sua mãe comeu”, cunhada pelo pesquisador australiano James Armitage, que há pouco visitou o Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental da Unicamp, onde se localiza o Laboratório de Metabolismo Hidrossalino.
Publicação Dissertação: “Efeito da ingestão crônica de dieta hiperlipídica no metabolismo de ratas, e sobre a expressão de SR-BI e ABCA1 na placenta, intestino delgado, fígado e rins da prole destes animais” Autor: Luiz Fernando Possignolo Orientador: José Antonio Rocha Gontijo Coorientadora: Adrianne C. Palanch Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
Clóvis Tristão, o funcionário-atleta
Técnico da área de informática da Feagri muda hábitos depois de cirurgia Fotos: Divulgação/Antoninho Perri
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
az ao menos sete anos que Clóvis Tristão não perde o fôlego ao encarar os dois lances de escada que o levam à área de informática da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), seu local de trabalho desde seu ingresso na Unicamp, em 1986. Depois de uma cirurgia do refluxo gastroesofágico, em 2006, ele subtraiu para sempre 30 dos 90 quilos que chegou a pesar na época. Também deixou para trás o quadro de hipertensão, a probabilidade de desenvolver diabetes e de ter uma vida curta como a da mãe, vítima fatal de infarto aos 60 anos. Apesar de os 30 quilos terem sido eliminados por causa de um acidente cirúrgico que causou o estreitamento do canal que conduz alimento para o aparelho digestivo, Clóvis decidiu se manter sempre próximo dos atuais 62 quilos para sempre, se possível. “Diante de tudo o que me aconteceu, quando me vi magro, decidi manter o peso e me garantir uma vida mais saudável.” Clóvis aproveitou a nova forma física para se tornar um atleta amador e, nessa empreitada, foram muitas voltas caminhando pela Lagoa do Taquaral, em Campinas. Ao ver tanta gente passar por ele numa velocidade muito maior, pensou: “Por que eu também não posso correr?” E, sob cuidados médicos, se aventurou a correr. Correu tanto na pista de lazer que acabou em circuitos de provas. Numa dessas voltas, conheceu um atleta do Laboratório de Fisiologia do Exercício (Labex), que o estimulou a procurar a coordenadora Denise Vaz de Macedo. Com essa história cheia de vontade e superação, Clóvis foi aceito e tornou-se mais um funcionário-atleta da Unicamp. Apesar de não apresentar o mesmo tempo de todos eles, recebeu com alegria e dedicação as orientações do treinador Lucas Tessutti, doutor pela Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. Hoje, é treinado por Carlos Eduardo da Silva. Diz o atleta que, com orientações, o tempo melhorou de 2007 até agora. Ao ser aceito no Labex, que tem parceria com o Grupo Gestor de Benefícios (GGBS) da Unicamp, Clóvis ampliou seu time de “cuidadores”, acrescentando às orientações de seu cardiologista um treinador, um fisiologista, uma nutricionista, que lhe dão toda a estrutura necessária para aprimorar seu rendimento. São esses especialistas que provêm a todos os funcionários-atletas orientações sobre alimentação, tipo de tênis ideal, postura correta, exame de sangue, planilha de treino, entre outros cuidados.
DISPOSIÇÃO
Essa oportunidade foi observada somente depois dos infortúnios. Não que lhe faltassem convites, mas o sedentarismo o impedia. Praticar atividade física e abrir mão da dieta costumeira não lhe passava pela cabeça. Hoje, ao dialogar com outro Clóvis, o que substituiu as medicações pela prática de esporte, ele não passa um dia sem treinar. A rotina mudou sua vida e ele espera que mude também a vida de muitas pessoas que tiverem contato com sua história. Um dia de trabalho é bem menos árduo que antes, pois as atividades mudam o humor e dão disposição para encarar a jornada. A qual, aliás, inicia na Unicamp às 8h30 e termina quase no dia seguinte, em outra faculdade, na qual é professor universitário. Nada de dieta rígida, o atleta sabe que precisa de todos os nutrientes para uma boa performance. Em 2011, foi submetido a uma segunda cirurgia para corrigir o estreitamento e passou a co-
Clóvis Tristão na época em que era mensageiro, participando de corrida na Unicamp e nos dias de hoje
mer de tudo, mas sem exagero e com orientação. “Nada que seja severo. Nada que fuja do dia a dia de uma alimentação normal. Muitas vezes as pessoas gastam fortunas, por conta, em dietas que não sabem se vão dar certo. Ou podem até emagrecer, mas causam efeito sanfona. Volta tudo”, argumenta. A vida moderna, em sua opinião, faz com que as pessoas não percam tempo preparando o próprio alimento e muito menos arranjem tempo para cuidar da saúde. O gosto pelo esporte não eliminou apenas alguns quilos da vida de Tristão, mas baniu de seu cérebro uma fobia da infância: a natação. “Tinha pavor de pensar em nadar”. Hoje, por incentivo da filha, já pode se render ao convite do mar. Antes, na praia, a imensidão azul seria somente para contemplação. A professora Maria Lúcia (Marilu), de 62 anos, também tem seu mérito a ser citado. “Eu não chegava ao centro da piscina, mas ela me acompanhava com muita paciência e dedicação. Hoje não fico sem praticar natação”. Apesar de Marilu ter dado “alta” do medo pelo fato de o aluno ter apreendido tudo o quanto precisava, Clóvis faz questão de continuar sendo aluno para aprimorar os estilos. Mais que prazer, a natação é importante aliada nas corridas, pois aprimora o aparelho respiratório, a resistência, além de relaxar a musculatura, segundo o atleta. Uma mostra de que para ser um corredor não basta calçar tênis e sair acelerado pela pista. Precisa de disciplina, dedicação, condicionamento, além daquele oferecido pelo laboratório. Na pista, mesmo em busca de uma medalha e de melhorar seu tempo em dez quilômetros de circuito, Clóvis sabe que sua condecoração é a vida saudável, que lhe dá a possibilidade de desfrutar por muito mais anos do amor da filha, Rebeca Zavan Tristão, e da mulher, Deise Zavan
Tristão, que conheceu na Unicamp.
INFORMÁTICA Em seus quase 30 anos na Unicamp, Clóvis aprendeu a aprender. Na adolescência, mesmo não sabendo ao certo de que serviriam os estudos, ouviu atentamente os conselhos do professor Paulo Martins Leal, até hoje seu incentivador nas atividades administrativas, acadêmicas e na docência. Com ele, Clóvis assina alguns projetos e já tem outros em vista. “Não sei onde estaria hoje, se não estivesse na Unicamp. Minha ambição era concluir o colégio e conseguir um emprego apenas, mas a Unicamp aponta não para um leque de oportunidades, mas para o horizonte. Fui incentivado por funcionários mais experientes e professores a estudar. Um deles foi o professor Leal”, declara Clóvis, que veio parar na Universidade por acaso. Em 1986, ao acompanhar um amigo na fila de inscrições para vagas de mensageiro, foi estimulado pela atendente a se inscrever também. Mesmo com resistência da mãe, que acreditava ser cedo para trabalhar, ele fez a inscrição, depois de convencê-la. Clóvis trabalha na área de administração de redes e, ao perceber o interesse do funcionário por informática, Leal fez questão de lhe mostrar que tinha potencial para realizar muito mais atribuições além das suas. Diante disso, quando Clóvis concluiu o ensino médio, Leal pagou a primeira mensalidade do funcionário num curso pré-vestibular. “Ele foi comigo até a porta, pois eu dizia que não iria fazer faculdade”, brinca Clóvis. Com o apoio do professor, Clóvis ingressou no curso de matemática da PUC-Campinas, mas interrompeu para esperar o crescimento de Rebeca. Depois de um tempo, retomou os estudos
na área de ciência da computação na Unisal, em Campinas. Mais tarde, teve a oportunidade de frequentar um curso de especialização em redes na Unicamp. “A área de administração de redes abriu portas para eu realizar projetos de informática aplicada à agricultura”, relata. A insistência e a curiosidade de menino fizeram de Clóvis um professor de informática. Ao chegar para trabalhar como patrulheiro mirim na Feagri, em 1987, ficava menos em seu departamento por ter sido atraído pelo Laboratório de Informática (Labin). “Eu vivia importunando o analista de sistemas Rogério Psciotto, com perguntas e dúvidas. Por indicação dele, pegava livros na biblioteca e estudava em casa”, recorda. A sequência de fugas desagradou às secretárias da faculdade, que precisavam do funcionário para outras atividades. A vontade era aprender cada vez mais, e Leal, na época um dos chefes do departamento, ofereceu-lhe cursos de informática. Com os cursos, mostrou às secretárias o quanto tinha condições de ajudá-las ainda mais no dia a dia. Em pouco tempo, tornou-se responsável pela manutenção e, em seguida, foi convidado pela direção da Feagri para atuar ao lado dos técnicos do Labin. “Aprendi muito nessa época. Além disso, a carreira de informática era diferenciada da administrativa e o salário era de 30% a 40% mais valorizado que o do mercado. Dentro do laboratório, tive contato com diversas tecnologias e literalmente vi a Internet nascer dentro da Unicamp”, disse. Hoje, orgulha-se de ser profissional de uma área tão promissora como a de tecnologia e poder transmitir isso a seus alunos, mas, apesar da fascinante “facilidade” promovida pelo avanço tecnológico, ele pondera: “A base de tudo está nos livros. Não abro mão da leitura de publicações impressas”, declara.
Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
9 Fotos: Antonio Scarpinetti
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
m instrumento indispensável a qualquer instituição que queira identificar os seus pontos positivos e negativos é a avaliação. Por meio do diagnóstico das atividades executadas, é possível promover reflexões acerca dos resultados e propor ações voltadas ao aprimoramento dos aspectos tidos como mais frágeis. A Unicamp como um todo, e a graduação em particular, tem se submetido continuamente a processos de avaliação interna e externa, com o objetivo de conhecer melhor o seu presente e preparar de forma mais qualificada o seu futuro. No âmbito interno, foi instituído no final de 2010 o Programa de Avaliação da Graduação (PAG). Inicialmente, o PAG foi implantado de forma piloto na Faculdade de Tecnologia (FT) e na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), ambas instaladas em Limeira (SP). O instrumento foi desenvolvido a partir de um Grupo de Trabalho interdisciplinar criado em junho do ano anterior, como explica o professor José Alves de Freitas Neto, coordenador do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem [EA]2, órgão que responde atualmente pelo processo de avaliação. “Após essa primeira experiência, e a partir das considerações dos envolvidos, estendemos o processo para a Faculdade de Educação Física (FEF), também em caráter piloto, no segundo semestre de 2010. A partir do primeiro semestre de 2011, o PAG foi universalizado para toda a Unicamp”, relata. De acordo com o docente, a Universidade sempre dispôs de vários instrumentos de avaliação, mas não havia necessariamente um diálogo entre eles. Com o advento do PAG, diz, foram estabelecidos referenciais comuns para toda a instituição. “Desse modo, os cursos podem olhar para si mesmos não para dizer qual é melhor ou pior, mas para que possam planejar o seu futuro, a partir do conhecimento das suas eventuais virtudes e deficiências”, pondera José Alves, acrescentando que a aplicação do instrumento ocorre a cada seis meses. A participação no PAG, prossegue o coordenador do [EA]2, é voluntária, anônima e aberta a todos os alunos e professores dos cursos e disciplinas de graduação. A adesão tem girado em torno de 20% entre os dois universos. “Nosso objetivo é ampliar esse índice para 30% entre os dois grupos, de modo a conferir ainda mais a confiabilidade estatística ao processo”, afirma o professor José Alves. Ele reforça que os dados gerados pela avaliação devem ser interpretados não somente a partir da sua representação quantitativa, mas principalmente como elementos orientadores de reflexões voltadas à qualificação do ensino e da aprendizagem. O docente lembra, ainda, que o PAG não substitui a avaliação feita pelos cursos, que têm autonomia para promover possíveis mudanças. O programa, reforça, é um recurso a mais para subsidiar o planejamento de ações e projetos. O instrumento, conforme o professor José Alves, é constituído por um questionário que deve ser respondido online. As questões colocadas aos participantes estão relacionadas a variados temas. “Nós procuramos identificar, através das respostas fornecidas, se as condições de oferecimento dos cursos são adequadas, qual o envolvimento dos professores, se há iniciativas inovadoras, se as bibliotecas são adequadas e se os alunos trabalham, têm religião e desempenham atividade política, entre outros pontos”, elenca José Alves. A partir das informações apuradas, informa o coordenador do [EA]2, já tem sido possível identificar alguns pontos que merecem atenção por parte da instituição. “Uma questão importante diz respeito à prova como instrumento de avaliação do conhecimento. Os alunos nem sempre têm clareza sobre os critérios adotados. Alguns professores também manifes-
Processos mapeiam o presente e projetam o futuro
Alunos no Ciclo Básico 1: dados de processos avaliatórios podem subsidiar o planejamento das atividades da graduação
taram a mesma dúvida. O diálogo em torno desse tema já está sendo feito por áreas, e é possível que tenhamos propostas de mudanças. Outra questão interessante gira em torno do uso de recursos tecnológicos em sala de aula. Parece claro que eles contribuem, mas ainda é preciso saber de que maneira. Isso também tem sido alvo de discussões, inclusive com a realização de workshops. Vale ressaltar, mais uma vez, que esses dados sevem para subsidiar o planejamento das atividades, que são da alçada dos cursos e das unidades de ensino e pesquisa. De forma alguma nós pretendemos direcionar eventuais iniciativas”. Os resultados das avaliações são públicos e podem ser conferidos na página do [EA]2 - http:// www.ea2.unicamp.br.
OBSERVAÇÃO
EXTERNA
A graduação na Unicamp não tem se submetido somente a avaliações internas. A observação externa sobre as atividades desempenhadas nesse nível de ensino também tem sido importante para orientar o planejamento das ações. Assim, em 2010 a Universidade participou voluntariamente do projeto Supporting Quality Teaching in Higher Education (Apoiando a Qualidade do Ensino na Educação Superior), concebido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O objetivo da iniciativa é contribuir para que instituições de ensino superior possam elevar a sua qualidade por meio da autoavaliação. De acordo com a professora Gabriela Celani, assessora da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), a Unicamp foi a única universidade sul-americana a se submeter à avaliação da OCDE. Ela conta que dois delegados da organização visitaram a instituição, para conhecer a sua realidade. Na oportunidade, eles percorreram diversas instalações, visitaram laboratórios e salas de aula e conversaram com professores, alunos e funcionários, com o intuito de identificar virtudes e falhas. “Eu cheguei a acompanhá-los ao Ciclo Básico, onde eles assistiram a uma aula de Física. Ao final, os delegados entrevistaram diversos alunos para saber a impressão deles sobre a aula”, conta a docente. Com base no trabalho realizado, os delegados elaboraram um relatório com suas conclusões, que foi disponibilizado para toda a comunidade universitária. Na opinião de Gabriela Celani, os representantes da OCDE fizeram críticas pertinentes a alguns aspectos relacionados ao ensino de graduação oferecido pela Unicamp. Um deles diz respeito à forte carga de aula dos estudantes, notadamente os das engenharias, fato que os impede de participar de atividades so-
ciais e culturais proporcionadas pela instituição. “Os delegados da OCDE consideram, e a Unicamp concorda com isso, que as atividades sociais e culturais são tão importantes para a formação do aluno quanto as tarefas desempenhadas em sala de aula e nos laboratórios”, afirma. Outra recomendação feita pelos avaliadores externos é que a Unicamp lance mão de indicadores internacionais que possam aferir com maior precisão a qualidade do seu ensino. Ou seja, o objetivo é ir além de uma avaliação baseada na satisfação de alunos e docentes. “Isso já está sendo providenciado pela Universidade. O envio de professores para visitas a cursos de graduação de excelência internacional no exterior faz parte desse contexto”, diz.
SINAES-ENADE Também em 2010, a Unicamp aderiu a outro modelo de avaliação externa. A Universidade decidiu participar pela primeira vez do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), sistema instituído em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC) para aferir a qualidade das instituições de ensino superior e seus cursos de graduação, incluindo o desempenho acadêmico dos estudantes. Já na sua estreia, a instituição foi apontada como a melhor universidade pública do país. De acordo com o Índice Geral de Cursos (IGC) gerado pelo processo avaliatório, a instituição obteve conceito 4,69, dentro de uma escala que varia de zero a cinco. As notas de três a cinco significam desempenho satisfatório e as de um a dois, insatisfatório. Este índice colocou a Unicamp em primeiro lugar entre as universidades já no seu primeiro ano de participação. Para formular o ICG, o MEC leva em consideração as condições de ensino, em especial as relativas ao corpo docente, às instalações físicas, ao projeto pedagógico e às notas dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). No primeiro ano de adesão ao Sinaes, foram avaliados os cursos da área de saúde. No segundo (2011), predominaram os cursos de engenharia, as licenciaturas e alguns cursos tecnológicos. Em 2012, a Universidade participará pelo terceiro ano consecutivo das provas. Serão analisados os cursos de Gestão de Agronegócio, Comércio Exterior, Empresas e Políticas Públicas, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), instalada em Limeira (SP) e o curso de Economia. Com isso, a Unicamp completará seu primeiro ciclo trienal de avaliação dentro do Sinaes. Assessora da PRG, a professora Eliana Amaral assinala que a Univer-
sidade não participou inicialmente do processo avaliatório porque não tinha obrigação legal e também porque considerava que algumas questões não estavam bem resolvidas. A partir de 2009, porém, os debates em torno da eventual participação da instituição no Sianes foram retomados. Um Grupo de Trabalho (GT) foi criado para promover uma série de reflexões. O GT elaborou um relatório, que foi posteriormente discutido nas unidades de ensino e pesquisa e nos órgãos colegiados. “Ao final dos debates, prevaleceu o entendimento de que seria importante a Unicamp se submeter à avaliação, inclusive para poder contribuir de maneira mais efetiva para o aperfeiçoamento do processo”, explica a docente. Eliana Amaral lembra que a adesão ao Sinaes gerou uma natural resistência por parte dos alunos, que entenderam que a avaliação da Universidade seria feita somente com base no desempenho deles na prova, o que não procede. “Com isso, houve um boicote por parte dos estudantes de alguns cursos, que compareceram aos locais de prova, mas não fizeram o exame”, esclarece. Tal postura gerou um debate interno muito positivo sobre a validade desse tipo de avaliação. Representantes da PRG participaram de diversos debates e mesas-redondas sobre o tema, que fizeram emergir reflexões interessantes. Conforme a assessora, a PRG considera importante que a Universidade participe do Sinaes, pois ele se configura como mais um instrumento de autoconhecimento capaz de fornecer subsídios para ações de melhoria do ensino.
O professor José Alves de Freitas Neto, coordenador do [EA]2: PAG estabelece referenciais comuns para toda a Unicamp
A professora Eliana Amaral, assessora da PRG: Sinaes pode nortear ações de melhoria do ensino
10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
aa c dêi ma c
Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
Painel da semana Seminário de teses em andamento - A Associação de Pós-graduandos da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp organiza, de 12 a 14 de novembro, o Seminário de Teses e Dissertações em Andamento. Mais detalhes no blog do evento http:// www.viiiseminarioteses.blogspot.com.br/ Fórum do Programa de Doutorado em Ciências Sociais – Com o tema “Transversando nas Ciências Sociais”, o evento será realizado entre os dias 12 e 14 de novembro de 2012, no Auditório II do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Abertura: 9 horas. O Fórum foi criado ara promover o encontro, o debate, a divulgação e a interlocução entre doutorandos, docentes e a comunidade acadêmica do Curso de Doutorado em Ciências Sociais. Busca promover a interdisciplinaridade proposta pelo programa, por meio da socialização do conhecimento desenvolvido, visando também ao seu fortalecimento. Mais informações no link http:// transversandonascienciassociais.blogspot.com.br/ Fórum de Arte e Cultura e Educação – Próxima edição do evento tratará do tema “Patrimônio Material e Imaterial e Divulgação Científica”. Será no dia 13 de novembro, às 9 horas, no Auditório do Centro de Convenções. A organização é das professoras Aline de Carvalho e Vera Toledo. Inscrições, programação e outras informações, no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/ forum/htmls_descricoes_eventos/arte49.html ou telefone 19-3521-4759. Estude na Coréia do Sul - A Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) e a equipe do Programa Ciência sem Fronteiras (CSF) organizam, dia 13 de novembro, a palestra “Estude na Coréia do Sul”. O evento tem como público-alvo
alunos de Graduação e de Pós-graduação. Na palestra serão abordadas informações gerais sobre a University of Science & Technology: acomodação, processo de aceite dos alunos dentre outras informações. O evento acontece às 16 horas, na sala CB08 do Ciclo Básico I. Encantos de cordel - O Projeto Canarinhos da Terra Unicamp lança em Campinas e leva para Salvador, de 15 a 20 de novembro, seu novo musical: Encantos de Cordel. O show é protagonizado pelos alunos do Projeto Canarinhos patrocinado pela Petrobras (Replan) e aborda a vida e obra do maestro Lindemberue Cardoso. O evento e realizado em parceria com o Memorial Lindembergue Cardoso, da Escola de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFBA). Em campinas, dia 15, o lançamento acontece no Colégio Culto à Ciência. Às 15 horas o evento é destinado às escolas e projetos sociais. Às 20 horas é aberto ao público em geral. Mais informações: 19-3249-0583. Cursos de fevereiro do Lume - Até 19 de novembro. Este é o prazo para quem deseja fazer inscrições para os cursos de fevereiro de 2013, do Ponto de Cultura Lume Teatro. São 10 oficinas intensivas, que serão ministradas por atores do Lume e pelos professores convidados – Yael Karavan (Israel/UK) e Dorothy Max Prior (UK). As inscrições devem ser feitas no site www.lumeteatro.com.br, Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail fevereiro@lumeteatro.com Ocupação Artístico-cultural: inscrições abertas - As inscrições são gratuitas e abertas à comunidade da Unicamp, podendo participar alunos da graduação e pós-graduação, docentes e funcionários. A comunidade externa à Unicamp, de qualquer região ou nacionalidade, também pode se inscrever, desde que o currículo do proponente seja compatível com a proposta artístico-cultural. Serão quatro trabalhos contemplados com R$ 5.000,00 para a execução, sendo dois da comunidade da Unicamp e dois da comunidade externa. Os projetos devem ser entregues pessoalmente ou via postal, impreterivelmente até o dia 19 de novembro, com aviso de recebimento (A.R.) ou SEDEX com A.R. para o Serviço de Apoio ao Estudante – SAE, Caixa Postal 6137, Cidade Universitária, Campinas – SP, Brasil. CEP 13089-970. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas “Zeferino Vaz”. Mais informações: http:// www.unicamp.br/unicamp/eventos/2012/10/29/ unicamp-prorroga-prazo-para-inscricoes-doedital-ocupacao-artistico-cultural Medicalização da vida de crianças e adolescentes - Na próxima edição será abordado o tema “Medicalização da vida de crianças e adolescentes: o mito da Ciência”. O evento ocorre no dia 21 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções. A organização é da professora Aparecida Moysés. Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/ foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_even-
tos/saude58.html ou telefone 19-3521-4759. Brasil-China em um mundo em transição - A 4ª Conferência Internacional “Brasil-China em um Mundo em Transição”, organizada pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), acontece no dia 21 de novembro, das 9 às 18h30, no Hotel Renaissance, Alameda Santos, 2233, São Paulo. Para participar é necessário fazer a inscrição no site www.cebc.org.br/brasilchinaemtransicao. Mais detalhes pelo e-mail conferencia@cebc.org.br ou telefone (21) 3212-4350. Visite também a página do CEBC, www.cebc.org.br Infâncias e pós-colonialismo - O “I seminário internacional sobre infâncias e póscolonialismo: pesquisas em busca de pedagogias descolonizadoras” será realizado no dia 22 de novembro, às 9 horas, na Faculdade de Educação (FE). Abertura do evento: 9 horas. A organização é do Gepedisc-culturas infantis. Site do evento https:// sites.google.com/site/infanciaposcolonialismo/. Mais informações: flavio.fravinho@gmail.com Manejo da infecção fúngica em pacientes com Aids - “Novas abordagens diagnósticas no manejo da infecção fúngica em pacientes com Aids e outras condições imunodepressoras”. Tema será debatido no encontro, dias 22 e 23 de novembro, às 9 horas, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A organização é da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da FCM e da Seção de Epidemiologia Hospitalar do Hospital de Clínicas (HC). Programação, inscrições e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp. br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude57.html 30 anos do CEB - O Centro de Engenharia Biomédica (CEB) comemora 30 anos de atividades, dia 23 de novembro. A solenidade de abertura do evento acontece às 9 horas, no Auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Programação e outras informações: telefone 19-3521 9278 ou e-mail nirlei@ceb.unicamp.br Controle glicêmico - O II Workshop “Controle glicêmico: participação do Pâncreas Endócrino” ocorre no dia 24 de novembro, às 8h30, no Instituto de Biologia (IB). Inscrições e outras informações pelo e-mail controleglicemicoworkshop@gmail.com Feira cultural - Organizada pelo Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (Cis-Guanabara), a próxima edição do evento ocorre no dia 24 de novembro, a partir das 14 horas, na Rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas. Atrações: apresentações musicais ao vivo, oficinas de artesanato, banca de troca de livros gratuitos, mostras de fotografia, pinturas e esculturas, performances de dança e outras, conversas com autores de livros e poesias, contação de histórias e atividades para crianças. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3233-7801 ou site www. cisguanabara.unicamp.br
Teses da semana Artes - “O regente orquestral contemporâneo por uma visão contextualizada” (doutorado). Candidato: Hermes Coelho Gomes. Orientador: Eduardo Augusto Östergren. Dia 12 de novembro, às 10 horas, no IA. Biologia - “Mecanismos funcionais e moleculares envolvidos no desenvolvimento de resistência a insulina em camundongos desnutridos submetidos à obesidade experimental” (doutorado). Candidato: Thiago Martins Batista. Orientador: professor Everardo Magalhães Carneiro. Dia 21 de novembro, às 9 horas, na sala defesa de tese da CPG do IB. Computação - “Variabilidade em tratamento de exceções em linhas de produtos de software” (mestrado). Candidato: Bruno de Abreu Iizuka. Orientadora: professora Cecília Mary Fischer Rubira. Dia 22 de novembro, às 10 horas, no auditório do IC 2, sala 53. Educação - “A formação universitária e o exercício profissional: a avaliação de médicos e pedagogos egressos da Unicamp” (mestrado). Candidata: Mírian Lúcia Gonçalves. Orientadora: professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira. Dia 13 de novembro, às 8h30, na FE. - “A atuação da Fundação Pitágoras na educação pública de Alecrim/SP: análise sobre as implicações para organização do trabalho na escola” (mestrado). Candidata: Inajara Iana da Silva. Orientadora: professora Theresa Maria de Freitas Adrião. Dia 21 de novembro, às 14 horas, na FE. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Aspectos da secagem de madeira para uso estrutural: histórico e evolução dos equipamentos” (mestrado). Candidata: Sonia Rose Costa Araujo dos Santos. Orientador: professor Mauro Augusto Demarzo. Dia 23 de novembro, às 13h30, na sala CA-22 da CPG/FEC. Engenharia Elétrica e de Computação “Estudo da aplicação de ondas sonoras na árvore pulmonar de roedores” (doutorado). Candidata: Márcia Zotti Justo Ferreira. Orientador: professor Hugo Enrique Hernández Figueroa. Dia 13 de novembro, às 9 horas, na sala PE-12, prédio da CPG/FEEC. - “Um modelo de sistema de gestão da segurança da informação baseado nas normas ABNT NBR ISO/IEC 27001:2006, 27002:2005 e 27005:2008” (mestrado). Candidato: Valdeci Otacilio dos Santos. Orientador: professor Renato Baldini Filho. Dia 13 de novembro, às 10 horas, na sala PE-11, prédio da CPG/FEEC. - “Contribuições computacionais para melhoria do método de mínimos quadrados multivariáveis recursivos” (mestrado). Candidato: Manuel Trespalacios Perez. Orientador: professor Gilmar Barreto. Dia 22 de novembro, às 9 horas, na sala PE12, prédio da CPG/FEEC. - “Otimização global determinística no espaço-imagem: problemas multiplicativos e fracionários” (doutorado). Candidato: Alireza Mohebi Ashtiani. Orientador: professor Paulo Augusto Valente Ferreira. Dia 23 de novembro, às 9 horas, na sala PE12, prédio da CPG/FEEC. Engenharia Química - “Produção e caracterização de membranas de quitosana associada com outros biopolímeros para liberação controlada de anti-inflamatórios” (doutorado). Candidata: Itiara Gonçalves Veiga. Orientadora: professora Ângela Maria Moraes. Dia 14 de novembro,
às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. - “Secagem de phb – polímero biodegradável obtido da cana-de-açúcar – em leito fluidizado pulsado rotativo com aplicação de micro-ondas” (doutorado). Candidata: Gabriela Silveira da Rosa. Orientadora: professora Sandra Cristina dos Santos Rocha. Dia 23 de novembro às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. - “Aplicação do processo de cromatografia contínua Varicol® na separação dos enantiômeros do mitotano utilizando a fase estacionária quiral tris(3,5-dimetilfenilcarbamato) de amilose” (doutorado). Candidato: Absolon Carvalho da Silva Junior. Orientador: professor Cesar Costapinto Santana. Dia 23 de novembro, às 14 horas, sala de aula PG 05 da FEQ. Geociências - “Dimensão factal, dinâmica espacial e padrões de fragmentação urbana de cidades médias do Estado de São Paulo” (doutorado). Candidata: Gracieli Trentin. Orientador: professor Marcos César Ferreira. Dia 21 de novembro, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem - “Estudo fonológico da língua baniwakuripako” (mestrado). Candidato: Erick Marcelo Lima de Souza. Orientador: professor Wilmar da Rocha D’angelis. Dia 12 de novembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Memórias associativas morfológicas em infsemirreticulados completos” (mestrado). Candidato: Carlos Renato Medeiros. Orientador: professor Peter Sussner. Dia 12 de novembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. - “Redes de filas com escolha de servidor” (doutorado). Candidata: Heloisa Maria de Oliveira. Orientadora: professora Marina Vachkovskaia. Dia 23 de novembro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. Medicina - “Efeito da reposição de insulina nas alterações funcionais e morfológicas do corpo cavernoso induzidas por estreptozotocina em camundongos” (doutorado). Candidata: Fernanda Del Grossi Ferraz Carvalho. Orientador: professor Gilberto de Nucci. Dia 13 de novembro, às 9 horas, no Anfiteatro do Departamento de Farmacologia da FCM. Odontologia - “Comparação da longevidade de sistemas rotatórios de níquel-titânio com uma nova plataforma de análise matemática (m.a.p.e.r.)” (doutorado). Candidato: Nilton Vivacqua Gomes. Orientador: professor Francisco José de Souza Filho. Dia 12 de novembro, às 9 horas, na Congregação da FOP. - “Estudo da diversidade bacteriana de canais radiculares infectados em casos de abscesso perapical agudo por cultura, clonagem e sequenciamento do gene 16s rrna” (doutorado). Candidata: Letícia Maria Menezes Nóbrega. Orientadora: professora Brenda Paula Figueiredo A. Gomes. Dia 23 de novembro, às 8h30, na Congregação da FOP. - “Posição do osso hioide e sua relação com a atividade eletromiográfica dos músculos supra-hioideos e infra-hioideos” (mestrado). Candidato: Carlos Alberto Carranza López. Orientador: professor Fausto Berzin. Dia 23 de novembro, às 14 horas, no Anfiteatro 01 da FOP. Química - “Espectropolarimetria e polarimetria baseadas em cristais birrefringentes para as regiões espectrais do visível e infravermelho próximo” (doutorado). Candidata: Lívia Paulia Dias Ribeiro. Orientador: professor Celio Pasquini. Dia 23 de novembro, às 9 horas, no Miniauditório do IQ.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
O bom balanço da campanha contra o câncer de intestino A Unicamp está fechando o balanço do primeiro ano de uma iniciativa inédita no país: a campanha de prevenção do câncer de intestino grosso (cólon e reto) com a oferta do Teste de Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes para todas as pessoas da comunidade com 50 anos ou mais de idade – um universo de 4 mil funcionários docentes e não docentes, de 79 órgãos e unidades. “Todos receberam kits para coleta de amostra de fezes e o retorno foi de 50%, adesão muito boa para uma primeira campanha”, informa o professor Roberto Teixeira Mendes, coordenador do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom). O câncer de intestino tem a característica de se desenvolver a partir de lesões benignas, os pólipos, cuja remoção, por meio da colonoscopia, implica em efetiva prevenção contra o aparecimento da doença. “Foram realizadas 2.037 leituras de exames, com 409 resultados positivos para sangue oculto (20%). Essas pessoas foram encaminhadas para a colonoscopia, registrando-se 70% de casos positivos, a grande maioria de pólipos e quatro de câncer. Portanto, tivemos perto de 280 funcionários apresentando pólipos que poderiam evoluir para o câncer e que foram beneficiados por este diagnóstico preventivo. Isso comprova a relevância desta campanha”, observa Teixeira Mendes. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) de 2012, o câncer de intestino grosso passou de 3º para 2º em incidência na região de Campinas, tanto em homens como em mulheres, sendo o 5º que mais leva a óbito. O professor Cláudio Coy, idealizador da
Foto: Antoninho Perri
CECOM NAS UNIDADES
Teixeira Mendes e Lila Cruvinel: campanha volta em fevereiro
campanha e coordenador do Gastrocentro da Unicamp (unidade que disponibiliza as colonoscopias), explica que o tempo médio para o pólipo tornar-se câncer varia de cinco a dez anos. “Como o crescimento é lento os sintomas são percebidos tardiamente, pegando de surpresa as pessoas que não estão informadas.” O objetivo é tornar esta campanha da Unicamp perene e ela será repetida a partir de fevereiro de 2013, com o apelo de que mesmo quem apresentou resultado negativo faça o exame anualmente, assegurando a eficácia da estratégia de prevenção. “Cumprimos a meta de atingir entre 40% e 50% da população alvo e agora estamos fazendo um balanço tanto dos dados como da estratégia para ampliar ainda mais a adesão. O quadro da Unicamp
Coloproctologia, o que aumenta sua visibilidade e a possibilidade de servir de modelo para serviços públicos de saúde. “Não há projeto igual no país, nem em municípios, nem em empresas, embora não estejamos criando nada de novo: o exame já existe, é simples, barato (o kit custa cinco reais) e poderia entrar facilmente na linha de um laboratório municipal, mas as pessoas não o fazem porque falta uma ação integrada para mobilizá-las. O exemplo da Unicamp tem o mérito de ajudar a criar a cultura dos exames de rotina. Para o próximo ano estamos pensando em uma estratégia também para o câncer de próstata, que é o mais prevalente em homens”, revela o coordenador.
está envelhecendo e no ano que vem teremos mais pessoas entrando nesta faixa etária – mas um número menor delas com problemas, já que identificamos muitos casos este ano. Os recursos para o kits estão garantidos e agora vamos procurar aprimorar a operacionalização”, adianta o coordenador do Cecom. Lila Cruvinel, assessora responsável pelos programas do Cecom junto às unidades, admite que em locais com maior concentração de funcionários, como o Caism e o Hospital de Clínicas, surgiram gargalos que obrigaram ao aumento das horas dedicadas pelos médicos à colonoscopia. “Solucionado o gargalo, voltavase para a agenda rotineira.” Fato é que a campanha da Unicamp já mereceu prêmio no último Congresso Nacional de
Na opinião de Roberto Teixeira Mendes, esta campanha de diagnóstico precoce de câncer colo-retal é simbólica da mudança no modo de atuação do Cecom. “Nosso serviço de saúde sempre atendeu a demandas individuais da comunidade. Mas acreditamos que a função mais nobre do Cecom é a de promover a saúde e viabilizar diagnósticos precoces e tratamento de doenças crônicas. Uma das estratégias é o Programa de Saúde do Cecom nas Unidades. Contando com a parceria das unidades para identificar os problemas prevalentes em cada uma delas e com a colaboração da DSSO [Divisão de Segurança e Saúde Ocupacional] traçando um perfil de problemas identificados no periódico, levamos atividades customizadas, por exemplo, a hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, orientação alimentar, atividade física, tabagismo e alcoolismo. ” (Luiz Sugimoto)
Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
11 Fotos: Antonio Scarpinetti
Os professores da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Adil Muhib Samara (à esquerda) e Aníbal Faúndes, que foram homenageados no último dia 1º: reconhecimento
Da docência na FCM para a galeria de Professores Eméritos Honraria máxima da Universidade foi conferida a Adil Samara e Aníbal Faúndes LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
oi em cerimônia marcada pela emoção que Adil Muhib Samara e Aníbal Faúndes receberam, no último dia 1º, o título de “Professor Emérito da Unicamp”, a máxima honraria conferida pela Universidade aos docentes que se distinguiram no exercício da atividade acadêmica e por relevantes serviços à ciência e ao país. A Assembleia Universitária Extraordinária foi presidida pelo reitor Fernando Ferreira Costa, na manhã de quinta-feira, no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). “É um momento de não mais falar sobre o que eu fiz e deixei de fazer, mas de agradecer a tudo que me foi contemplado durante todos esses anos de vida acadêmica e societária. Pensando por onde passei desde a infância, sinto-me com uma dívida de gratidão com todas as minhas lembranças. Sinto meus pais distantes, mas a eles quero dedicar minhas palavras”, disse Adil Samara, dando o tom da solenidade. Em seu discurso, Samara lembrou os momentos que fizeram com que desejasse ser médico, começando por Araçatuba, onde nasceu e onde seus pais
iniciaram uma nova vida no Brasil, em 1920, depois de deixarem um Líbano dizimado pela fome e a miséria no final da Primeira Guerra Mundial. “O desejo do meu pai era ser médico. Foi nesse clima de sonhos acalentados não resolvidos que ele jurava consigo mesmo que seus filhos haveriam de ser médicos.” O segundo momento, continuou o professor emérito, foi a leitura de A Cidadela, de Archibald Cronin, que escreveu sobre a aventura de um jovem médico, Andrew Manson, com trabalhadores de minas de carvão no País de Gales. “As observações deste personagem foram tão importantes e contundentes do ponto de vista ético, moral e de justiça social, que serviram à implantação de um novo modelo social de assistência à saúde na Inglaterra. Sua leitura foi uma grande lição e estímulo para mim.” Adil Samara contou que a melhor lembrança é do dia em que seu irmão José, também médico, o levou para a Faculdade Nacional de Medicina, a pedido do pai, quando ainda não havia completado 17 anos. Concluído o curso, recusou o convite de lá permanecer como docente. “Apesar de bem adaptado ao Rio de Janeiro, eu tinha uma dívida maior, com meu pai, que tudo fez para que nós estudássemos medicina. Assim, vim embora no dia 3 de outubro de
1960. A cidade de Campinas tinha 220 mil habitantes e a classe médica daquela época era totalmente descrente da reumatologia. Era o primeiro reumatologista que pisava neste solo.”
MOTIVO DE VIVER “É um momento de gratidão. Para mim, a Unicamp tem sido o motivo de viver”, confessou Aníbal Faúndes ao abrir sua fala. “Minha carreira foi cortada no golpe de Pinochet e tive a sorte de são ser preso no primeiro dia após o golpe, porque havia saído do Chile para uma reunião científica no exterior. A lista de ‘médicos perigosos’, que viriam a ser todos presos, apareceu no dia seguinte da minha saída. Não voltei mais. Já era professor titular e tinha grande interesse na docência e pesquisa, carreira que ficou frustrada.” Faúndes seguiu então para a República Dominicana, atuando como assessor do Programa de Saúde Materna e Planejamento Familiar daquele país. “Foi a Unicamp que me ofereceu a possibilidade de voltar ao que é a minha vida: ensinar e fazer pesquisa. É uma enorme dívida e me parece, agora com esse título, que consegui de certa forma pagar. Para mim, esse título é um indicador de tudo o que obtive na Universidade e de
que pude consegui contribuir o suficiente, retribuindo ao menos parcialmente.” O professor Mario Saad, diretor da FCM, ressaltou a visão humanista que marca a trajetória de Aníbal Faúndes e de Adil Samara, e também o fato do primeiro ser imigrante e o segundo, filho de imigrantes. “Eles vieram para construir a universidade do Brasil. A história da nossa universidade é recente, mas onde ela é bem feita, é feita por imigrantes, que valorizam e prezam o conhecimento. E isso foi relevante para a constituição da Unicamp.” O reitor Fernando Costa, lembrou que a concessão do título de “Professor Emérito” exige a aprovação por dois terços dos membros do Conselho Universitário, sendo que Samara e Faúndes tiveram unanimidade. “Como professor da FCM, participei de numerosas atividades com eles e é uma sorte estar presidindo esta solenidade na condição de reitor. Tive Samara como um conselheiro quando assumi a direção da Faculdade e sua atuação foi fundamental para moldar a unidade em muitos dos seus aspectos. Faúndes é um exemplo da contribuição enorme de professores que vieram de países vizinhos devido a posições políticas. Seu departamento é talvez o mais importante do país em ginecologia e obstetrícia.”
Quem são Adil Samara É formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (hoje Federal do Rio de Janeiro). Foi fundador e chefe das disciplinas de Reumatologia da Unicamp, da PUC de Campinas e da Universidade de São Francisco. É autor de livros e de trabalhos premiados, com mais de 400 artigos científicos publicados em peri-
Aníbal Faúndes ódicos nacionais e internacionais indexados. Consultor do CNPq, Fapesp e Capes, atualmente preside a Sociedade Brasileira de Reumatologia. Em agosto, foi nomeado Master do Colégio Americano de Reumatologia, título outorgado pela primeira vez a um brasileiro em 75 anos de história desta sociedade médica.
Formou-se na Universidade do Chile em 1955 e, em 1970, já atingiu o nível de professor titular de obstetrícia. Coordenou o Programa de Saúde da Mulher no primeiro ano do governo de Salvador Allende. Impedido de permanecer no país com o golpe de Pinochet em 73, seguiu para a República Dominicana. Contratado pela Unicamp em 76, no ano seguinte, juntamente com José Aristodemo Pinotti, criou o Centro de Pes-
quisa em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp). Coordena o Grupo de Trabalho sobre Prevenção do Aborto Inseguro da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo) e também os Fóruns Interprofissionais de Violência Sexual. Seu livro O drama do aborto: em busca de um consenso, em coautoria com José Barzelatto, tornou-se referência não apenas na área médica, mas em todas envolvidas com o tema.
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Campinas, 12 a 25 de novembro de 2012
Aviões mais leves e seguros SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m estudo conduzido na Unicamp apontou a viabilidade de reforço estrutural que permitirá a redução de peso e maior resistência às aeronaves. A aplicação de placas coladas por adesivos poderá, no futuro, fortalecer a estrutura de aviões civis ou de caças, revelou pesquisa da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). Denominadas tecnicamente de doublers, estas chapas ou juntas são empregadas sobrepostas em partes das aeronaves que sofrem altas tensões. A diferença é que, ao contrário de serem rebitadas ou soldadas como acontece convencionalmente, elas seriam coladas por adesivos. As principais vantagens demonstradas pela pesquisa são a redução do peso da aeronave, o aumento da resistência e a diminuição de custos, com a economia de materiais e combustível. A investigação, desenvolvida em parceria com a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A (Embraer), integrou mestrado de Fabrício Fanton, defendido em julho último junto ao programa de pós-graduação da FEM. O trabalho foi orientado pelo professor Paulo Sollero, do Departamento de Mecânica Computacional da unidade. “Para a maioria dos casos, existe uma resistência maior em uma junta colada quando comparada a uma placa rebitada. Isso porque a fixação de uma chapa rebitada requer furos em diferentes pontos da aeronave. Tais furos podem originar falhas na estrutura do avião. Colados, estes doublers distribuem o esforço em uma superfície de maior extensão, redu-
zindo o nível de tensões. A resistência estrutural, portanto, passa a ser maior”, garante o orientador Paulo Sollero. Ainda de acordo com ele, o estudo inserese na perspectiva de trazer mais segurança e competitividade para o setor aeronáutico do país. “Este projeto poderá, futuramente, ser aplicado na produção de aeronaves pela Embraer. Para a sociedade, o estudo é importante porque significa, no futuro, a possibilidade de um custo mais baixo para se deslocar com maior segurança”, destaca. O engenheiro e autor da pesquisa Fabrício Fanton informa que as placas coladas poderiam ser aplicadas em pontos de descontinuidade da estrutura das aeronaves, como portas, janelas e na fixação das asas. Neste caso, estas juntas funcionariam como uma sustentação, impedindo ou retardando, por exemplo, a propagação de trincas. “Propusemos os doublers colados em algumas áreas restritas da estrutura dos aviões, regiões com tensões altas em que se faz necessário um reforço maior. Esta estrutura substituiria as placas rebitadas ou placas que passam por um processo de usinagem química. Tal processo gera muito desperdício de material e também traz impactos ambientais”, revela o pesquisador. Além da redução do impacto ambiental, o doubler proposto é cerca de 50% menor do que os convencionais. Deste modo, o uso de estruturas coladas poderá permitir uma diminuição de aproximadamente 10% de peso, dependendo da aeronave, afirma Paulo Sollero. Neste ponto, o estudioso Fabrício Fanton acrescenta que a redução de peso é possível tanto pela utilização do adesivo, como pela geometria do doubler colado, que ficou menor que os utilizados atualmente.
Foto: Antonio Scarpinetti
O pesquisador Fabrício Fanton: juntas coladas funcionariam como sustentação para estrutura da aeronave
“Nossos testes demonstraram que é possível chegar ao mesmo nível de resistência dos projetos convencionais com menos material aplicado. Ademais, mostramos que os painéis colados possuem maior resistência à fadiga do que os convencionais”, confirma o pesquisador.
CASO ALOHA AIRLINES
Em relação à resistência dos aviões convencionais, o engenheiro mecânico Paulo Sollero explica que pequenas trincas podem se juntar e determinar uma falha em parte da estrutura da aeronave. Ele cita o exemplo do voo Aloha Airlines 243, cujo Boeing que servia a linha sofreu um dano na sua estrutura superior. O fato aconteceu em 1988 em uma linha
aérea doméstica entre as cidades de Hilo e Honolulu, no Havaí. Embora o piloto tenha conseguido pousar o avião no aeroporto de Kahului, na ilha de Maui, uma aeromoça foi arremessada para fora da aeronave. Os outros 65 passageiros e tripulantes conseguiram se salvar. Aplicações envolvendo juntas estruturais coladas ainda são incipientes na indústria aeronáutica mundial. O engenheiro Paulo Sollero prevê, no entanto, que “necessariamente daqui a uns 20 anos estaremos voando em aeronaves com estruturas coladas”. De acordo com ele, há uma ‘corrida’ nesta área, principalmente entre os maiores fabricantes mundiais de aeronaves. O objetivo destas companhias é reduzir o peso e aumentar a resistência estrutural dos aviões. “O combustível representa uma parcela de custo muito alto para as empresas do setor. E o peso interfere diretamente nisso. A sua redução afeta também as manobrabilidade da aeronave, que é a capacidade de executar manobras. Um avião tem que efetuar manobras para subir, descer e aterrissar com facilidade. Diminuindo o peso, as aeronaves podem ser operadas em pistas menores”, esclarece. No estudo, o pesquisador Fabrício Fanton analisou os doublers colados por meio de modelos analíticos, numéricos e experimentais, com ênfase na observação da tensão do adesivo. Além disso, de acordo com ele, foi criado um software com interface amigável, para o projeto de doublers colados. O objetivo foi reunir os modelos analíticos e numéricos e compará-los com os modelos experimentais.
Publicação Dissertação: “Análise de estruturas aeronáuticas reforçadas por doublers colados” Autor: Fabrício Fanton Orientador: Paulo Sollero Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: Embraer