Recomposição com qualidade Foto: Antoninho Perri
Novos docentes são recepcionados no Conselho Universitário: 365 contratações
Novas sistemáticas adotadas pela Unicamp, ao longo do último quadriênio, resultaram em avanço significativo na recomposição de vagas docentes. Foram registradas 247 aposentadorias e efetuadas 365 contratações, o que representa um saldo positivo de 118 professores, situação jamais verificada anteriormente. e
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Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju
Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 548 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
Saberes dos sabores A historiadora Leila Mezan Algranti e o sociólogo Carlos Alberto Dória, ambos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), falam sobre a importância da alimentação nos âmbitos cultural, histórico, comportamental e da construção de uma identidade nacional.
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Foto: Marc Ferrez/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
Vendedoras no mercado, no Rio, em foto de 1875
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Yoga reduz dor na coluna de gestantes
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Quais são os desafios da PCT no Brasil?
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A licenciatura e a formação integrada
30/11/2012 16:55:10
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Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
Universidade promove reposição recorde de docentes no quadriênio Política de recomposição experimenta avanço significativo na atual gestão Fotos: Antoninho Perri
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
política de recomposição de vagas docentes adotada pela Unicamp experimentou um avanço significativo nos últimos quatro anos. No período, foram registradas 247 aposentadorias e efetuadas 365 contratações, o que representa um saldo positivo de 118 professores, situação jamais verificada anteriormente. Tal resultado foi alcançado graças à adoção de novas sistemáticas por parte da Universidade, mas também ao bom desempenho da economia brasileira, que proporcionou uma ampliação na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), tributo responsável pela definição do orçamento da instituição. “Ao longo do tempo, todas as gestões da Unicamp fizeram grandes esforços para recompor as vagas docentes. Penso que a atual gestão conseguiu dar uma importante contribuição nesse sentido”, avalia o coordenador geral da Universidade, professor Edgar Salvadori De Decca. De acordo com ele, as ações adotadas pela Administração Central no quadriênio estão em sintonia com os princípios que nortearam a criação da Unicamp. Ele lembra que o fundador da Universidade, Zeferino Vaz, estabeleceu como um dos pilares da nova instituição a contratação dos melhores professores em cada área do conhecimento, sendo que alguns deles foram recrutados no exterior. “Os recursos humanos foram e continuam sendo um dos pontos decisivos do sucesso do projeto acadêmico da Unicamp. Sem sombra de dúvida, a Universidade conta com um dos melhores corpos docentes da América Latina”, afirma o coordenador geral. Um ponto decisivo para a Unicamp, bem como para as duas outras universidades estaduais paulistas (USP e Unesp), considera De Decca, foi o advento da autonomia universitária, em 1989. Com ela, as três instituições de ensino assumiram a administração de seus orçamentos. Nesse novo contexto, as aposentadorias de funcionários e docentes passaram a incidir sobre as folhas salariais. “O impacto desse modelo ocorreu em período recente, visto que boa parte dos recursos disponíveis ficou comprometida com o pagamento de salários. É nesse cenário que a Unicamp teve que desenvolver ao longo dos anos a sua política de recomposição de vagas docentes”, explica o coordenador geral. Nos últimos dez anos, prossegue De Decca, a Unicamp sofreu de maneira mais marcante o problema do aumento do número de aposentadorias, sejam as espontâneas, sejam as compulsórias, estas concretizadas quando o servidor público completa 70 anos de idade. “Quando a atual gestão tomou posse, já existiam estudos voltados ao enfrentamento desse problema. Na ocasião, a Reitoria assumiu o compromisso de empreender esforços para corrigir as eventuais perdas de professores. Assim, nosso empenho foi no sentido de recompor as vagas abertas pelas aposentadorias e, na medida do possível, ampliar em algum grau o quadro docente”, conta o coordenador geral. Se tomados os anos de 2008 e 2012 como referências, destaca o dirigente, é possível verificar que a grande maioria das faculdades e institutos registrou um aumento no número de professores (veja quadro e gráfico na página 3). Uma importante sistemática adotada nesse período foi a reposição automática das vagas abertas com as aposentadorias compulsórias. “Nós conseguimos manter, no decorrer do quadriênio, 50 novas contratações-ano para as unidades de ensino e pesquisa, repondo dentro dessas novas contratações todas as
O professor Edgar De Decca, coordenador geral da Unicamp: “Os recursos humanos foram e continuam sendo um dos pontos decisivos do sucesso do projeto acadêmico da Universidade”
O pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Aloise Pilli: “Temos conseguido atrair e selecionar docentes jovens e motivados”
O pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto: institucionalização dos mecanismos de atribuição de vagas
aposentadorias compulsórias. Neste ano de 2012, conseguimos um avanço ainda maior no que diz respeito à recomposição do nosso quadro docente. Ampliamos para 75 o número de novas contratações, sendo que, desse total, reservamos 25 vagas para as aposentadorias compulsórias e outras 50 vagas para a recomposição do quadro docente. Ademais, com a inauguração dos cursos da Faculdade de Ciências Aplicadas [com campus em Limeira-SP], contratamos outros 80 docentes, sendo 77 no nível MS-3.1 e outros três para concurso de professor titular pleno”, detalha De Decca. Apesar dos significativos avanços registrados, o coordenador geral da Unicamp reconhece que algumas poucas faculdades e institutos ainda apresentam déficit de professores. “Mesmo tendo recebido um número expressivo de docentes, essas unidades ainda têm um saldo ligeiramente negativo. Isso acontece porque a velocidade das aposentadorias no período 2008-2012, em algumas unidades, foi maior que a das reposições. Esta dinâmica é natural e provoca algumas perdas. Ou seja, a Universidade promove a recomposição, mas no decorrer do ano outros professores se aposentam, o que faz com que o déficit retorne temporariamente”, pondera o dirigente universitário. Nesse ponto, De Deca faz uma observação que considera indispensável. De acordo com ele, muitos dos docentes que se aposentam continuam trabalhando na Unicamp como
voluntários. Nessa condição, eles seguem orientando teses e coordenando pesquisas. “Esses professores continuam dando uma contribuição fundamental ao nosso projeto acadêmico. Sem eles, certamente teríamos mais dificuldades para promover a recomposição de vagas”, aponta o coordenador geral. Ainda em relação a essa política de reposição, o dirigente observa que ela está relacionada exclusivamente às vagas geradas pelas aposentadorias. Os postos abertos por demissões ou falecimentos, por exemplo, são automaticamente preenchidos.
QUALIDADE COMO VALOR
O sistema de contratação de docentes adotado pela Unicamp, observa De Decca, tem na qualidade o seu principal valor. O objetivo da Universidade é sempre o de selecionar o melhor profissional para a vaga disponível. É por isso que, antes de abrir as chamadas para contratação, a Comissão de Vagas Docentes (CVD) pede às unidades de ensino e pesquisa informações que contribuam para qualificar as suas demandas. Nesse sentido, são considerados dados como a composição da carga docente, novos projetos em andamento, áreas prioritárias de investigação e programas de incentivo à docência na graduação, entre outros. “Essas informações são fundamentais para que a CVD faça uma análise detalhada das necessidades de cada unidade. Após considerar esses e outros aspectos, a Comissão oferece
uma proposta de distribuição de vagas”, esclarece o dirigente. Conforme De Decca, existem fatores relacionados à carreira dos novos docentes que precisam ser levados em conta no contexto da política de reposição de vagas adotada pela Unicamp. Um deles diz respeito à promoção dos professores. De acordo com a nova carreira, aprovada recentemente, eles podem obter promoções horizontais. Em outras palavras, a progressão não se dá somente através de concursos de livre docência ou titulação. “Esse mecanismo é interessante porque permite que o nosso quadro possa ser qualificado contínua e progressivamente”. Além desse benefício, os professores da Universidade contam com outros incentivos, como enfatiza o dirigente. Eles desfrutam, por exemplo, de uma infraestrutura de ensino e pesquisa comparável à oferecida por algumas das melhores universidades do mundo. Ademais, podem participar de inúmeros programas colaborativos com instituições reconhecidas internacionalmente. “Iniciativas como essas são importantes, pois estão voltadas à qualificação de uma nova geração de docentes. O que estamos vivenciando agora é a chegada da terceira geração de professores da Unicamp. São eles que terão a responsabilidade de conduzir os destinos da instituição no futuro”, assinala De Decca. O pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Aloise Pilli, lembra que a atual Administração da Unicamp também se preocupou em ampliar o quadro de candidatos inscritos em seus concursos de ingresso na carreira docente. Isso se deu por meio da ampla divulgação das oportunidades, atraindo dessa forma concorrentes com experiência de ensino e pesquisa no exterior, e pela possibilidade de os estrangeiros inscritos realizarem as provas em língua inglesa. “Em muitas unidades de ensino e pesquisa, nota-se neste período um considerável aumento no número de inscritos. Muitos são jovens pesquisadores com contribuições científicas já reconhecidas em suas áreas de atuação. Como resultado, temos conseguido atrair e selecionar docentes jovens e motivados, prontos para aceitar o desafio de implantar novas linhas de pesquisa, a pensar ‘fora da caixa’, resgatando a ousadia acadêmica que marca a história da Unicamp. Aos nossos jovens docentes, ampliamos significativamente o apoio para instalação de seus grupos de pesquisa e renovação das instalações de pesquisa, bem como oferecemos inúmeras oportunidades de mobilidade internacional e de inserção em programas de pósgraduação consolidados”, enfatiza Pilli. O pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto, reforça que o desempenho da economia paulista, aferida pela arrecadação de ICMS, permitiu que a atual administração Unicamp conseguisse realizar um de seus pontos programáticos fundamentais e também uma das tarefas mais importantes de qualquer gestão Universitária, qual seja, a de fazer reposição e mesmo expansão do seu quadro docente. Ele ressalta ainda que os mecanismos de atribuição de vagas docentes, sejam de reposição, sejam de expansão, estão completamente institucionalizados no âmbito da Unicamp. A CVD com suas subcomissões e o Consu, lembra, são os momentos em que a comunidade participa decisivamente do processo de atribuição de vagas, levando em conta a visão e propostas da Administração da Universidade. As diversas áreas da Unicamp, contextualiza o dirigente, têm necessidades distintas para realizarem com qualidade o mandato de ensino, pesquisa e extensão. Continua na página 3
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali
Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
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Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
Foto: Antoninho Perri
Cerimônia de recepção a novos docentes: nos últimos quatro anos, a Universidade registrou 247 aposentadorias e 365 contratações, o que representa um saldo positivo de 118 professores no período
Áreas distintas - Humanas, Biomédicas, Exatas e Tecnológicas - têm urgências distintas. Em algumas, a reposição e aumento do quadro docente são o elemento básico para aprimoramento de duas atividades. Em outras áreas, além da necessidade de quadros docentes qualificados, é necessária a oferta de uma infraestrutura de pesquisa, sem a qual a obtenção da excelência nas atividades afins ficaria comprometida. “A atual administração foi capaz, em minha opinião, de atingir um equilíbrio em que suporte de recursos humanos, exemplificado nas contratações docentes, e suporte de infraestrutura, materializado em diversas obras de infraestrutura para pesquisa, foram combinados para viabilizar avanços nas diversas áreas de Universidade, levando em conta sua diversidade”, afirma Mesquita Neto. Um aspecto importante na discussão sobre
contratação docente, acrescenta o pró-reitor de Pós-Graduação, diz respeito à qualidade dos docentes contratados e a serem contratados. “Seguramente, o futuro da Unicamp está ligado à qualidade acadêmica dos novos docentes. A Unicamp possui, senão o melhor, um dos melhores quadros docentes entre as boas universidades brasileiras. Em algumas áreas, seus concursos docentes são disputadíssimos. Em outras áreas, nas quais existe forte concorrência do mercado, a concorrência tende a ser menor e é necessário fazer esforços para ampliar o número e qualificação dos candidatos”. É dentro desta lógica, completa o dirigente, que a Reitoria criou o através da Resolução GR 44/2012 o Programa de Apoio ao Aumento do Número e Qualificação de Candidatos a Docentes da Unicamp (PACD). A finalidade do programa é fornecer instrumentos àquelas
Segundo ele, além das 365 contratações efetuadas em 2012, a Unicamp também aprovou a admissão de mais dez docentes para atuarem no Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que conta com a participação das três universidades estaduais paulistas, e de outros oito para o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), voltado aos egressos das escolas públicas de ensino médio de Campinas. Adicionalmente ao esforço para recompor e ampliar as vagas docentes, a Unicamp também tem feito um empenho adicional para aumentar o seu quadro de pesquisadores, como enfatiza o dirigente universitário. Em 2012, foram aprovadas mais seis vagas para esta função, dentro de um quadro geral formado por cerca de 80 profissionais.
unidades que assim o desejarem, para organizar atividades que objetivam contribuir para a manutenção da excelência dos futuros quadros docentes da Unicamp. “É mais uma demonstração do compromisso da atual gestão com o futuro da excelência acadêmica da nossa Universidade”, pontua. Conforme o coordenador geral da Unicamp, a Universidade terá importantes demandas a enfrentar nos próximos anos, muitas delas apresentadas pela sociedade. “Nós temos contribuído decisivamente para a formação de recursos humanos qualificados e para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Entretanto, os cidadãos brasileiros esperam que as universidades, principalmente as públicas, respondam às suas outras expectativas. Temos que estar preparados para encarar esse desafio”, considera De Decca.
VAGAS ATRIBUÍDAS X APOSENTADORIAS OCORRIDAS NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2008 A OUTUBRO DE 2012 85 80 75 70 65
Vagas efetivamente atribuídas
60
Aposentadorias ocorridas
55
Saldo
Vagas / Aposentadorias
50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 -5
FT
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FE
FEA
FEAGRI
FEC
FEEC
FEF
FEM
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IA
IB
IC
IE
IEL
IFCH
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IMECC
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-10 UNIDADES
UNIDADE Vagas FT 4
2008 Aposentadoria
Resultado Vagas
4
2009 Aposentadoria
1
FCA
38
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1
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2
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2
1
IMECC
2
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TOTAL
91
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2
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2010 Aposentadoria
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Resultado Vagas
2011 Aposentadoria
0
Resultado Vagas
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0
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2
Resultado Vagas
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7
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3
SALDO 4
0
19
19
23
23
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0
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80
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1
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3
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16
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0
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2
1
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Resultado Vagas
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18
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8
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20
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69
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80
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15
365
247
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OBS: Acrescido, no ano de 2011, vagas “cheias” de Professor Titular, concedidas pelo Consu (Deliberação 437/2011) como segue: 1 = FCM / 2 = IA / 1 = IB / 1 = IFGW / 3 = FCA totalizando 8 vagas. Aposentadorias até Outubro de 2012.
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Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
Yoga atenua dores de gestantes Mulheres submetidas a tratamento com a prática se sentiram mais confortáveis e confiantes Fotos: Antoninho Perri
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
er dores na coluna vertebral durante a gestação é um sintoma mais comum do que se pensa, mas não se trata de algo normal como julgam muitas grávidas. Foi o que mostrou a tese de doutorado da fisioterapeuta Roseny Flávia Martins – um estudo clínico –, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Em 80% da amostra estudada foram relatados episódios de dor em particular na região lombopélvica (situada no final da coluna vertebral). Como estratégia para combatê-la, a pesquisadora propôs o método Hatha Yoga (que usa uma metodologia baseada em posturas psicofísicas, exercícios respiratórios e relaxamento) que, no estudo, conseguiu reduzir as dores nessa região em 71,4% das 60 gestantes. Segundo relatos dessas mulheres, ao final do tratamento, elas se sentiram mais confortáveis para desenvolver as atividades diárias e laborais, com maior tranquilidade, menos estresse, melhora do autocontrole e da consciência corporal. O estudo foi dividido em duas partes: na primeira houve verificação da prevalência e fatores de risco para as algias lombopélvicas de 245 gestantes, que foram ouvidas na sala de espera de consulta do pré-natal; e na segunda foi feito o ensaio clínico com 60 grávidas, realizado em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade de Paulínia. Essas mulheres foram tratadas por dez semanas, seguidas com o Hatha Yoga. A tese de Roseny Flávia foi orientada pelo obstetra e docente da FCM João Luiz Carvalho Pinto e Silva, no período entre 2009 e 2011. Os motivos para esse tipo de dor avançar na gravidez, expõe a autora, estão associados a vários fatores de risco. Um deles, controverso, é que a dor aumenta com o avanço da idade gestacional e com o ganho de peso ao longo dos meses. Mas Roseny Flávia observou que muitos dos fatores de risco ainda provinham de dor anterior à gestação, paridade, tipo de atividade laboral, presença de traumas, situação emocional ou algum tipo de alteração postural prévia. “Verificamos que o período da noite, da tarde e a posição em pé também eram fatores preditivos para o aparecimento da dor”, revela.
CAMPO
No estudo de prevalência, a pesquisadora pedia às gestantes que assinalassem, em um desenho do corpo humano, na região da coluna vertebral, o local onde sentiam dor. Se assinalassem a região lombopélvica, eram convidadas para o ensaio clínico. As mulheres que aceitaram participar do estudo foram sorteadas aleatoriamente pela pesquisadora, para serem submetidas ao tratamento pelo método do Hatha Yoga, ou ainda receberam um folheto contendo orientações posturais (nas posições sentada, deitada e em pé) para serem feitos durante as atividades diárias. Nas sessões de Hatha Yoga, elas dimensionaram a dor em uma escala análogo-visual (EAV), cuja classificação foi de zero (ausência de dor) a dez (dor insuportável), para quantificar a grandeza de seu desconforto. Em todos os encontros, as mulheres marcaram o quanto tinham de dor antes e após as sessões. Um gráfico apontou que a dor foi diminuindo ao longo do tratamento. No início, ninguém tinha nota zero e, ao final, 71,4% referiram ausência de dor, e eram reavaliadas. O ideal, ressalta a pesquisadora, é que a grávida comece a prática do Hatha Yoga supervisionada por profissional capacitado por volta da 12ª semana (três meses), por um critério de segurança, não havendo inconvenientes que seja praticada até perto do desfecho – o parto. “Nada contraindica que a gestante faça exercícios respiratórios, relaxamento e meditação, orientada durante todo o ciclo gestatório.”
PUBLICAÇÕES
Os resultados da pesquisa redundaram em alguns artigos publicados em revistas científicas. Roseny Flávia já tinha apurado no seu mestrado, em 2002, que cerca de 80% das gestantes sofriam algias posturais,
Gestantes fazem exercícios de Hatha Yoga: mulheres marcaram o quanto tinham de dor antes e após as sessões
a maioria na região lombopélvica, e à época se beneficiaram com outro método, o Stretching Global Ativo. Esse método foi realizado também em grupos, o qual se mostrou mais eficiente do que as recomendações médicas convencionais, como o uso de analgésicos, anti-inflamatórios e repouso, entre outros. Agora no doutorado de novo, ao investigar também a prevalência dessas dores na coluna vertebral, notou o mesmo achado: por volta de 80%, sendo que 70% na região lombopélvica. Como a prevalência de dor foi alta, assinala Roseny Flávia, entendeu-se que o problema tem uma dimensão de saúde pública que merece uma maior atenção, já que, a cada dez gestantes, sete declararam ter dores justamente nessa região. Ela explica que a gravidez por si já exige alguns cuidados especiais, entre eles o fato de não ser conveniente a gestante ingerir medicação analgésica de rotina, para evitar prejuízos eventuais para o feto e o desenvolvimento seguro da gravidez. Outro fato é que a gestante muitas vezes requer um atendimento terapêutico mais ágil, lamentavelmente nem sempre presente na realidade dos serviços públicos brasileiros – e tampouco no privado. Apesar desses entraves, Roseny Flávia viu que, grande parte dos fatores de risco envolvidos na geração da dor, têm um potencial preventivo graças a uma melhor compreensão da gênese do problema e da rápida atuação profissional, que busca interferir nestes aspectos como por exemplo o posicionamento adotado pela gestante enquanto dorme ou quando executa seu trabalho diário. Os recursos ergonômicos, também efetivos no momento para a postura deitada, conta a autora, são os travesseiros para apoio (da cabeça, embaixo da barriga e entre as pernas, com a mulher ficando em decúbito lateral). Para que a gestante fique sentada de modo confortável, é necessário o apoio da região lombar e dos pés para melhorar o retorno venoso das pernas, bem como ter o apoio alternado de um dos pés durante sua permanência em pé, ao efetuar atividades domésticas ou laborais. No ensaio clínico, a pesquisadora comprovou que o Hatha Yoga é uma alternativa de tratamento de baixo custo, eficaz, pode ser praticada em grupo, em salões comunitários (próximos das UBS), e propicia um atendimento imediato às queixas da gestante. “Esse estudo foi o primeiro randomizado e controlado que conhecemos no mundo a descrever os benefícios do Hatha Yoga para a abordagem das dores lombares e pélvicas em gestantes”, comenta a autora. Como trabalho inédito, ela acabou comparando seus resultados com trabalho cujos
A fisioterapeuta Roseny Flávia Martins, autora do estudo: pesquisas resultaram em artigos científicos
sujeitos tinham lombalgias, porém não eram gestantes, por ainda não se dispor de parâmetros na literatura. A justificativa da fisioterapeuta para isso foi de que há apenas dez anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu quais são as terapias complementares disponíveis e que tem encontrado resultados consistentes para serem considerados úteis para pessoas com diferentes tipos de doenças e dificuldades. Assim, agora é que começaram a ser delineados os estudos aleatorizados para a caracterização de sua real utilidade. O conjunto destas terapias alternativas chama-se Complementary Alternative Medicine (CAM). No Brasil, é denominado Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, através da portaria do Ministério da Saúde nº 971/2006. Essa portaria reconhece como práticas a Medicina Tradicional Chinesa através da acupuntura, de práticas corporais como o tai chi chuan e o lian gong, da homeopatia e da fitoterapia, etc. O Yoga foi instituído no Sistema Único de Saúde (SUS) mediante a portaria nº 719/2011, que criou o Programa da Academia de Saúde. Essa iniciativa visa contribuir para a promoção da saúde a partir da implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e quadro de pessoal qualificado para orientar práticas corporais e atividade física e de lazer, além de modos de vida saudáveis.
AVANÇOS
A fisioterapeuta focalizou no mestrado o Stretching Global Ativo, uma derivação da Reeducação Postural Global (RPG). Não foi à toa que esse trabalho de Roseny Flávia é o mais acessado da FCM desde 2002, ano de sua conclusão. Foram mais de 34 mil acessos e cerca de sete mil downloads, o que significa o quanto o tema é emergente e o quanto as pessoas têm procurado conhecer sobre as algias posturais na gestação. Pelo que a sua autora percebeu, o Brasil é um país que está aberto para receber as práticas alternativas e complementares. No mundo, também há alguns estudos sobre a sua aceitação. Um estudo australiano indicou que as gestantes aceitariam se tratar com yoga e que o método foi o segundo mais lembrado pelos médicos de lá, atrás
somente da acupuntura. Ficou claro, enfatiza a fisioterapeuta, que a equipe de saúde o aceita bem, embora seja também consenso a necessidade de haver profissionais capacitados para fazerem esse trabalho com qualidade. A sua expectativa é de que, com esse primeiro estudo no mundo, surjam outros ensaios clínicos a fim de estabelecer comparações que se prestam a mostrar os métodos de maior aplicabilidade. Terá sido um grande avanço, acentua Roseny Flávia, uma vez que este é apenas um primeiro passo, ainda que o Hatha Yoga seja uma técnica milenar. O conselho da pesquisadora para as gestantes é que elas então não pensem que a dor nas costas é normal durante a gravidez e que recorram às diversas possibilidades de tratamento disponíveis. O Stretching Global Ativo e o Hatha Yoga, nos seus dois estudos, foram exitosos. Somado a isso, a autora salientou que as Orientações Posturais, mesmo não tendo diminuído efetivamente as dores nas gestantes, atuam como um importante coadjuvante para a gestante ter uma melhor qualidade de vida.
Publicações - Martins RF, Pinto e Silva JL. Algias posturais na gestação: prevalência, aspectos biomecânicos e tratamento. Femina, 31(2):163-7, 2003. - Martins RF, Pinto e Silva JL. Back pain is a major problem for many pregnant women. Rev. Assoc. Med. Bras. 51(3):1447, 2005a. - Martins RF, Pinto e Silva JL. Tratamento da lombalgia e dor pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., 51(3):144-7, 2005b. Tese: “Algias posturais na gestação: prevalência, fatores de risco e tratamento das algias lombares e pélvicas pelo método do Hatha Yoga” (10/10/2012) Autora: Roseny Flávia Martins Orientador: João Luiz Carvalho Pinto e Silva Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
Avanços e desafios
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da PCT no país SIMONE PALLONE Especial para o JU
ara projetar os desafios da política científica e tecnológica (PCT) para daqui dez, 15 ou 25 anos, é preciso antes fazer um balanço sobre a evolução do tema desde que foi iniciado o processo de sua institucionalização, o que ocorreu na década de 80. Para fazer uma reflexão sobre o que representa a PCT nos dias de hoje e como chegamos ao presente quadro no Brasil, o Jornal da Unicamp entrevistou a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica (PGP-PCT) do Instituto de Geociências (IG), a economista Maria Beatriz Bonacelli, que destaca as peculiaridades do Brasil no enfrentamento dessas questões, sejam elas de caráter político, econômico, social ou jurídico. Com experiência na área de avaliação de políticas de C&T, a professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT-IG) aponta algumas fragilidades no sistema e os desafios para a área, mostrando como o programa tem lidado com o tema, de forma reflexiva e propositiva. Jornal da Unicamp – A política científica e tecnológica passou por um processo de institucionalização na década de 80, e em 1988 foi criado o Programa em Política Científica e Tecnológica. Os dois fatos são coincidentes ou realmente a intenção foi criar um espaço de debate e formação de competências para essa área? Maria Beatriz Bonacelli – Não deixam de ser coincidentes, mas temos também que considerar o fato da presença do professor Amilcar Herrera no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, o qual já tinha uma clareza da necessidade da formação de pessoas em nível de pós-graduação em temas relacionados à Política de C&T. Mas dois aspectos, fortemente interligados, devem ser considerados na história do PPG-PCT: o fato de o Programa se confundir com o próprio Departamento, criado em 1985, sendo um dos precursores e únicos dedicado totalmente à temática dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, o que oferece uma solidez institucional ao PPG-PCT e dificilmente encontrada em outros programas congêneres no país e mesmo no exterior, especialmente na área interdisciplinar da Capes, onde o Programa está abrigado. Relaciona-se a isso, o fato de que desde a sua constituição está alinhada à concepção interdisciplinar para os estudos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), orientação privilegiada pelo DPCT desde os primeiros estudos e análises realizados ainda no âmbito do NPCT (Núcleo de Política Científica e Tecnológica). Muitos desses estudos partiram da idealização do professor Amilcar Herrera, como dito acima. O programa contempla, assim, diversos enfoques disciplinares sobre geração, uso e apropriação econômica e social do conhecimento, sem desconsiderar o quadro de referências dado pela situação econômicosocial do país e da região latino-americana, e conjugando, de forma multidisciplinar, as temáticas construtivas destes enfoques. A orientação desde aquele momento era de que a política científica, tecnológica e de inovação (PCT&I) não deve ser entendida apenas em seu sentido estrito – de formulação e análise de policy – mas também como produção de uma base mais ampla de conhecimento sobre CT&I. JU – Mas o contexto de 25-30 anos atrás se transformou fortemente. Como foi a adaptação diante dos novos cenários? Maria Beatriz Bonacelli – Esta transformação nos colocou e coloca em constante alerta quanto à atualização dos temas de pesquisa, e também à própria forma de se ensinar e de se dedicar à reflexão de questões não
tão óbvias ao público em geral, e tampouco àquele pesquisador que, mesmo envolvido com parte dos assuntos tratados pelo DPCT, não se dá conta da complexidade dos mesmos. Na verdade, o Brasil impõe condições peculiares para o tratamento de muitos temas de PCT&I, como a fragilidade tecnológica do setor industrial, a menor competitividade do setor produtivo, a interação débil entre a pesquisa técnico-científica e as necessidades da sociedade, a complexa relação entre tecnologia social e os aparatos tecnológicos, a descontinuidade das políticas e dos instrumentos de financiamento da CT&I, e tantos outros. JU – Questões relacionadas à legislação também têm interferido nesses temas, não? Maria Beatriz Bonacelli – Sem dúvida. O quadro regulatório e legal voltado a essas atividades é frágil, apesar de ter sofrido avanços importantes nos últimos anos, lembrando da Lei de Inovação e a Lei de Propriedade Intelectual. Por outro lado, há inovações institucionais que ainda precisam estar mais bem consolidadas, como a subvenção econômica, e outras que parecem que não receberam a atenção devida quanto aos impactos que podem ocasionar nas atividades de P&D, como a revisão o marco regulatório na área do petróleo, justamente quando do início da movimentação e dos desafios em torno do pré-sal, o que causa instabilidade e coloca o país em desvantagem frente a outras nações. Mas há outros temas sobre os quais nos debruçamos e são tão importantes quanto os citados acima, como as especificidades da cooperação Norte-Sul e mesmo Sul-Sul em C&T e para a transferência do conhecimento, o impacto das novas tecnologias sobre o emprego, a organização do trabalho, as qualificações e formações acadêmicas, as questões de gênero e também sobre o meio ambiente, a avaliação de impactos de programas tecnológicos, a atração de investimentos de P&D no país por empresas multinacionais e o papel da universidade e institutos de pesquisa nesse processo, dentre outros elementos. JU – E como o Programa tem reagido a todas essas demandas e transformações? Maria Beatriz Bonacelli – Temos nos saído bem, até então, mas temos consciência da necessidade de rever as formas e conteúdos programáticos para um tratamento adequado das agendas que têm sido colocadas e que podemos colocar para o debate dessas questões, mantendo nossa posição de precursores de muitas das pautas estudadas no âmbito do país e mesmo da América Latina em PCT. JU – Como as mudanças têm impactado a formação dos alunos? E no perfil dos candidatos ao curso? Não só em relação a sua origem, mas também dos anseios em relação ao Programa. Maria Beatriz Bonacelli – Esse quadro tem forte reflexo na formação dos alunos do Programa, o qual já formou 290 pesquisadores desde 1990 com o mestrado e de 1998 com o doutorado, e o qual procura atender
Maria Beatriz Bonacelli: “A ideia é continuar contribuindo para dar conta de fenômenos complexos, não mais baseados em leis gerais e verdades absolutas e eternas, mas em sistemas, modelos, processos, em verdades provisórias”
tanto aqueles profissionais que buscam seguir carreira acadêmica em universidades e demais instituições de ensino e pesquisa, como aquele conjunto constituído por pesquisadores e administradores de instituições públicas de gestão e fomento em ciência e tecnologia do país e do exterior (notadamente de países latino-americanos), assim como de instituições públicas ou privadas que executam esforços de pesquisa e inovação, inclusive aquelas do terceiro setor. Aliás, analisando o perfil e a trajetória dos mestres e doutores do PPG-PCT, tem-se um quadro bastante interessante. A partir de um trabalho da professora Léa Velho e da ex-aluna do Programa e analista de C&T do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], Maria Lígia Moreira, o qual integra a publicação “Trajetória Institucional e Resumo das Dissertações e Teses do PPG-PCT/DPCT”, os 197 mestres titulados pelo programa em PCT vieram de mais de 15 diferentes carreiras de graduação, desde a física e as diferentes engenharias até as ciências sociais (especialmente as aplicadas), comunicação social e artes cênicas, e de mais de 50 instituições de ensino em que obtiveram o diploma de graduação – com destaque para a Unicamp, mas também para a Unesp, USP, UFSCar. De toda forma, a participação de graduados de outros estados é bastante significativa – 15% deles vieram de universidades federais de outros estados – e de graduados de outros países da América Latina, com destaque para o Uruguai, Cuba, Argentina, Venezuela e Colômbia. JU – O doutorado segue o mesmo padrão? Maria Beatriz Bonacelli – A maior parte dos mestres titulados no DPCT decidiu continuar a formação acadêmica rumo ao doutorado. Uma porção significativa destes no
Evento comemora 25 anos do Programa Em comemoração aos 25 anos que serão completados em 2013, o Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica (PPG-PCT), vinculado ao DPCT do Instituto de Geociências, está realizando um evento científico para dar início já neste ano a um processo de reflexão do que tem sido realizado e os elementos que devem ser considerados para uma trajetória ainda virtuosa nos próximos 25 anos.
O evento “Jornadas em Política e Gestão da Ciência, Tecnologia e Inovação – Ensino e Pesquisa em PGCTI: história e novos desafios” tem início no dia 5 de dezembro, com a homenagem à professora Sandra Brisola e o lançamento do livro de compilação das dissertações e teses do PPG-PCT/DPCT, e termina no dia 7 de dezembro. A programação completa encontra-se no site do Instituto de Geociências: www.ige.unicamp.br.
mesmo programa e outra para doutorados em engenharia, economia e ciências sociais. A grande maioria dos egressos está trabalhando em atividades relacionadas à docência (35%), pesquisa (17%) e gestão (13%, sendo 8% especificamente em gestão de C&T), que são as principais habilidades que o PPG-PCT procura desenvolver em seus alunos. Segundo Léa Velho e Maria Ligia Moreira, o crescimento da proporção daqueles que continuam o doutorado no Programa tem várias razões, mas, principalmente, porque o Programa consolidou sua reputação e a relevância da temática PCT passou a ser mais reconhecida. Atualmente, um título de doutor em PCT é bastante atraente. Com a constituição do Comitê Interdisciplinar da Capes e, sobretudo, pela inserção profissional dos egressos do Programa e o bom desempenho dos mesmos, o doutorado em PCT ficou cada vez mais competitivo. JU – E quanto aos egressos? Maria Beatriz Bonacelli – Dos 93 titulados, são diversificadas as áreas de formação na graduação, mas grande parte são bacharéis em economia e em administração; mas destacam-se, também, as engenharias e as ciências sociais, e entre as áreas científicas destacam-se as ciências biológicas. Instituições públicas do Estado de São Paulo – Unicamp, Unesp e UFSCar – formaram 44% dos doutores na graduação, mas uma porção significativa de doutores veio de universidades federais de outros estados, com destaque para a Universidade Federal do Paraná. Chama atenção que o doutorado em PCT continua a atrair graduados de outros países latino-americanos, ainda que nunca tenha existido apoio especial de agências nacionais ou internacionais para estudantes estrangeiros. A atuação profissional desses egressos corrobora resultados encontrados para outras áreas do conhecimento: a maioria dos doutores se dedica a atividades de docência e pesquisa e o faz em universidades públicas brasileiras. É significativa a proporção de egressos que trabalha em gestão em geral (10%) e particularmente na gestão de C&T (14%). JU – Quais seriam os desafios para os próximos 25 anos, em relação à PCT? Maria Beatriz Bonacelli – Da parte do PPG-PCT, o desafio de desenvolver reflexões, métodos, análises, instrumentos e argumentos a partir de uma base interdisciplinar, a qual evoca trabalhar nas fronteiras disciplinares, interconectando e religando saberes. A ideia é continuar contribuindo para dar conta de fenômenos complexos, não mais baseados em leis gerais e verdades absolutas e eternas, mas em sistemas, modelos, processos, em verdades provisórias, como bem evocado por Karl Popper. Que venham outros 25 anos!
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PAULO CESAR NASCIMENTO pcncom@hotmail.com
ela primeira vez o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp sediou um evento em que o tema alimentação foi discutido à luz da história, do gênero e da cultura material. No início de novembro, um seminário internacional voltado a alunos de graduação e pós-graduação reuniu, no auditório da instituição, representantes de centros de ensino e pesquisa brasileiros e de Portugal em torno de uma série de temas relacionados aos saberes (e aos sabores) das práticas culinárias em diferentes épocas, do Egito Antigo à São Paulo novecentista, contemplando ainda o Brasil colonial. Jornal da Unicamp – É possível, em um país com a história de colonização, a dimensão e as diferenças como as existentes no Brasil, estabelecer um símbolo culinário representativo de sua cultura gastronômica? Carlos Dória – De verdade, não vejo porque se deveria estabelecer símbolos culinários representativos de uma determinada gastronomia. O valor gastronômico na atualidade reside justamente na diversidade, nos múltiplos caminhos do comer. A sociedade de massas, especialmente na sua fase globalizada, é desenraizada. É isso, aliás, que o fast food nos apresenta como espetáculo: cozinha chinesa, japonesa, italiana, brasileira, árabe. Somos todos comedores mundializados no gosto. Leila Algranti – Durante a colonização, um dos grandes problemas a enfrentar na América portuguesa dizia respeito à alimentação enquanto necessidade básica para a sobrevivência. Isso é válido não só no dia-a-dia dos colonos, mas igualmente fundamental nas longas travessias marítimas e durante as expedições terrestres de reconhecimento do território. Sem víveres, seria impossível um empreendimento de tal porte. É por isso que os cronistas portugueses e demais observadores sempre descreveram com detalhes a natureza americana, a fim de informarem sobre a disponibilidade de alimentos que pudessem garantir e ao mesmo tempo incentivar a vinda dos colonos para esse lado do Atlântico. É certo que os problemas enfrentados diferiram de região para região, assim como o sucesso ou não da aclimatação de produtos apreciados pelos europeus, pois por mais que os reinóis tenham consumido alimentos locais, sempre preferiram aqueles com os quais estavam acostumados. Nesse sentido, não temos uma cozinha única no período colonial e sim cozinhas no plural, pois a culinária dependia do intercâmbio entre saberes europeus e aqueles relativos aos produtos americanos transmitidos pelos índios. Assim, se a mandioca foi durante muito tempo associada ao Nordeste, devido à sua abundância, e o milho ao Sudeste e aos bandeirantes, é preciso lembrar que durante os séculos XVII e XVIII a capitania de São Paulo, por exemplo, exportava trigo para as demais regiões. Ou seja, sempre houve um conjunto de produtos importantes na alimentação colonial. Desde essa época, portanto, é difícil falar em um símbolo culinário para o Brasil. Porém, a partir do século XVIII com a difusão do feijão ou dos feijões, talvez pudéssemos pensar em um produto que paulatinamente foi se tornando representativo de diversas regiões. Até porque são muitas as espécies de feijões e, segundo os especialistas, em cada região se consome hoje um feijão diferente considerado “típico”: feijão preto, roxinho, mulatinho, rajado, verde, etc. Com feijão se faz: feijão com arroz, feijão com farinha (de milho ou de mandioca) cujas combinações originam alguns pratos típicos, como o angu de feijão, o feijão tropeiro, o tutu de feijão, o acarajé, o baião de dois e por aí vai. JU – Quais são os alimentos ou pratos que melhor representariam a cozinha tipicamente brasileira? Quais são os critérios para essas escolhas? Carlos Dória – Eu não sei o que é cozinha “típica” brasileira. A não ser que recorramos aos níveis mitológicos da realidade. É preciso muita mediação histórica e política para se chegar a um conceito como esse. Tomemos Câmara Cascudo como exemplo: ele parte da noção préconcebida de que somos um mix de heranças indígenas, negras e portuguesas. Essa é uma ideia que os Modernistas da
Organizado pela historiadora e docente do IFCH Leila Mezan Algranti, o encontro expôs o interesse crescente das ciências humanas pela temática alimentar. Recentemente e de forma inédita em uma universidade pública paulista, o curso de graduação em História da Unicamp passou a oferecer uma disciplina intitulada História da Alimentação. A iniciativa teve como inspiração a disciplina de pós-graduação Sociologia e História da Alimentação, ministrada no IFCH por Leila e por Carlos Alberto Dória, sociólogo e pesquisador do Instituto, e que também integrou uma das mesas-redondas do seminário. Ambos participam da entrevista a seguir, em que o tema central é o debate sobre a construção de uma identidade nacional a partir do que sai das panelas para os pratos nas mesas brasileiras.
Semana de Arte de 1922 propagandeavam. Isso foi há um século e é muito difícil amarrarmos nosso burro numa coisa tão distante. Nestes 90 anos decorridos, o modo brasileiro de comer mudou imensamente! Leila Algranti – Além dos pratos feitos com feijão, temos muitos outros pratos considerados típicos: a moqueca, o vatapá, o caruru, a tapioca, o acarajé, o barreado, o frango ao molho pardo, o virado a paulista, o cuscuz, a maniçoba, e ainda numerosos doces feitos com frutos tropicais e açúcar, para citar apenas alguns. Todos esses pratos representam a nossa cozinha muito bem. Porém, para falar de critérios de escolha ou como cada um foi alçado ao papel de prato típico é preciso estudar suas origens e sua história. Há trabalhos já desenvolvidos nesse sentido e há muito ainda por fazer. Mas é preciso também não esquecer que assim como o nacionalismo, as identidades culinárias e ou gastronômicas resultam de longos processos de construção, nos quais múltiplos aspectos e interesses políticos entram em jogo. JU – Como é possível pensar sobre a possível construção de identidade nacional baseada em hábitos alimentares, visto que a culinária brasileira reflete a influência de um mosaico sociocultural formado por processos migratórios e pela apropriação de elementos de outras culturas? Carlos Dória – De onde vem a ideia de que identidade é refratária a trocas culturais com outros povos? Por acaso os imigrantes conspurcaram um corpo nacional “puro” que não existe mais? De modo algum! Somos o que somos justamente porque estamos “no mundo”, não como uma definição prévia, fora do tempo. Somente no período de formação da nação, entre 1822 e mais ou menos 1890 esse tipo de postura, de fechamento da nação sobre si mesma, fazia sentido. Afinal, os intelectuais se perguntavam: uma nação ex-colônia está condenada a repetir a história da sua antiga metrópole? Esse é o drama de Euclides da Cunha, Silvio Romero e tantos outros. No plano da culinária, surgiu nos anos 1870 o Cozinheiro Nacional, livro que basicamente se perguntava se seria possível fazer uma cozinha nacional equivalente à francesa pela simples substituição dos ingredientes importados por ingredientes brasileiros como, por exemplo, trocar a alcachofra pela taioba. Em síntese, a identidade se faz e refaz constantemente, e para ser fértil, conectar o país com a civilização mundial, não pode se atrelar à tradição imutável. Leila Algranti – Como já explicitado na pergunta, trata-se da construção de uma identidade e, para isso, antes de mais nada, é preciso haver um país independente e uma nação, algo que no caso do Brasil, só aconteceu no século XIX. Antes disso não temos um país chamado Brasil e tampouco uma cozinha ou cozinhas ditas nacionais. A história da edição dos livros de cozinha no Brasil talvez ajude a entender o papel da culinária na construção da identidade nacional e pode ser apenas um entre outros elementos utilizados para esse fim, tais como a existência de uma história oficial ou memória dos feitos da nação. No caso da culinária, o primeiro livro considerado “brasileiro” publicado no Brasil intitula-se Cozinheiro Imperial; é uma obra anônima da década de 1840. Trata-se de uma compilação de receitas de dois livros portugueses dos séculos XVII e XVIII, embora no prefácio o autor enfatize a necessidade de uma publicação com características da culinária local. Contudo, só uma entre as dezenas de receitas de doces disponíveis nesse livro foi proposta com um fruto tropical. As demais
evocam produtos europeus. O segundo livro “brasileiro” de cozinha, no entanto, chama-se Cozinheiro Nacional e foi editado às vésperas da proclamação da República (estima-se entre 1874/1888). Essa obra traz várias receitas com produtos tropicais ou locais, e essas possuem títulos alusivos ao Brasil. Um caso semelhante e já estudado aconteceu com a Bélgica. Nos anos 1900-1940, para reforçar sua identidade nacional, os restaurantes e menus passaram a nomear pratos antes fortemente marcados por uma influência francesa com novos nomes, todos eles referentes a cidades, regiões ou especialidade belgas, como por exemplo, “frango assado de Bruxelas”, “arroz de carneiro à nossa moda” ou “frango a Rubens”. Assim, influência portuguesa, italiana e alemã no caso da culinária no Brasil, ou francesa no caso da Bélgica, leva-nos a perguntar: seria possível uma cultura que não tivesse se apropriado de elementos de alguma outra? JU – Sabendo que a alimentação é determinada a partir de condições sociais, geográficas e econômicas, é correto dizer que o Brasil não tem uma identidade nacional por causa da existência de várias cozinhas regionais (como a gaúcha, a amazonense e a baiana, por exemplo), cada uma com suas particularidades e identificadas com as especificidades de suas regiões e de seus grupos populacionais, e que acabam constituindo identidades alimentares regionais distintas? Carlos Dória – Mesmo num país como a França, com uma centralização política forte e precoce, os regionalismos culinários permanecem e, inclusive, são hoje revalorizados dentro de uma perspectiva conservadora, como testemunhos da “velha França rural”. Mas há também uma leitura moderna, uma nouvelle cuisine de terroir, que valoriza de um modo diferente o passado. Quero dizer com isso que sem diversidade não é possível estabelecer a dinâmica moderna da nação, que é um processo incessante de resignificação do que existe. Procurei mostrar num artigo recente (“Beyond rice neutrality: beans as Patria, Locus and Domus in the Brazilian Culinary system”, in Richard Wilk & Livia Barbosa (orgs.), Rice and Beans. A unique dish in a hundred places, NY, Berg, 2012), como um produto tão simples como o feijão, em sua diversidade biológica e de modos de fazer, permite que os cidadãos se situem na pátria, na região ou no lar. Vários produtos nos permitem esses trânsitos, mostrando que não há qualquer contradição entre identidade e diversidade. Leila Algranti – Os autores que se dedicaram ao estudo dessa questão consideram que o nacional engloba o regional. Dito de outra maneira, a identidade regional estaria contida na identidade nacional. Para os adeptos do Manifesto Regionalista de 1926 a questão que se colocava, e poderíamos dizer que ainda hoje suscita debates, é: a afirmação de uma identidade nacional passa primeiro pela construção de uma identidade regional? Partindo-se dessa premissa, no caso da culinária, a paçoca confeccionada com farinha e carne pilada, hoje considerada um prato típico nordestino, não deixaria de ser um “prato brasileiro” ou representativo da culinária do Brasil, mesmo que
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preparado e consumido primordialmente no Nordeste.
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Fotos: Antoninho Perri
JU – A historiografia da alimentação no Brasil e os novos estudos sobre as práticas alimentares têm permitido contestar o discurso construído pelo movimento modernista da década de 1920 de que a culinária brasileira descendeu da mistura harmônica de hábitos de índios, negros e brancos. Como então se delineou historicamente a gastronomia brasileira? Carlos Dória – Gastronomia, é bom que se diga, é a busca incessante do prazer ao comer. Uma diretriz hedonista que tem muito de subjetivo e do espírito de uma época. Ela muda sempre e, mais importante, não tem uma dinâmica determinada claramente pela política, pelo nacionalismo. Há momentos nacionalistas, é certo, mas eles não conseguem perdurar por muito tempo. A ideia modernista era generosa, sobretudo em relação aos negros. Dizia-nos que os negros também pertenciam à nação. Daí a ênfase na “contribuição” negra à culinária, o que é um exagero, pois escravos não eram senhores do próprio nariz, comiam o que lhes era oferecido numa espécie de ração animal. Como então influenciariam o mundo do colonizador? De verdade, a própria culinária do Recôncavo Baiano, que nasce nos terreiros, só aparece organizada em sistema no final do século XIX, após a Abolição e com a unificação dos cultos religiosos. Os índios? Bem, estes já haviam sido dizimados há séculos... Leila Algranti – Essa é uma questão bem interessante. Certamente vamos encontrar na culinária brasileira elementos das práticas alimentares indígenas, africanas e portuguesas, mas também de outros povos e culturas. Dizer que a nossa comida é uma mistura das três raças ou que esta foi a base da nossa alimentação é simplificar um processo bem mais complexo de trocas e de relações culturais que ocorreram ao longo da colonização entre conquistadores e conquistados. Além do fato de ignorar conflitos e tensões. Essa ideia de que uma “pitada” de cada uma das três raças é que teria resultado em uma cozinha híbrida ou mestiça, não satisfaz totalmente. Vamos encontrar na culinária colonial, substituições de alguns produtos e incorporações de outros, mas também transformações na forma de processar os alimentos. Então não basta apenas captar o produto final desse intercâmbio, até porque não houve ao longo da colonização um sistema único alimentar, mas sim convivência e justaposição de regimes alimentares distintos. Se ocorreram substituições, como no caso da mandioca pelo pão de trigo, sinal de incorporação de hábitos e técnicas, também houve resistências. Ao invés de atentar apenas aos resultados desse intercâmbio, a historiografia sobre a alimentação tem destacado a necessidade de se compreender o processo de constituição do que chamaríamos de culinária brasileira, e mesmo assim só a partir de finais do século XIX. JU – O conhecimento dos hábitos alimentares na sociedade colonial brasileira está contribuindo para a definição de uma identidade nacional? O que já foi possível se trazer à tona acerca da constituição da cozinha brasileira, sobretudo em relação à incorporação dos hábitos alimentares europeus no Brasil e à adoção de alimentos originários daqui pelos portugueses? Carlos Dória – Não creio que o conhecimento do passado alimente a culinária. Essa é uma perspectiva duvidosa, pois a cozinha é algo vivo, algo que se pratica, não o que se rememora. A idéia de “resgate”, defendida por uma historiografia e uma antropologia muito pobres teoricamente, só encontra eco no Estado, isto é, naqueles setores da sociedade sempre prontos para “monumentalizar” a vida. Quanto aos ingredientes, é claro que os portugueses foram o povo que mais difundiu espécies pelo mundo, através do “comércio de leva e traz”. Isso aconteceu
desde o século XVI. Garcia d´Orta, um cristão novo estabelecido em Goa, formou um pomar de onde se difundiu pelo mundo português dezenas de espécies. Inversamente, as “drogas do sertão” brasileiro se espalharam pelo mundo. As coisas se difundiam por serem úteis para todos. Dessa perspectiva é dificil estabelecer fronteiras. Por mais que nos identifiquemos com a manga, a jaca, ou a carambola, elas são frutas asiáticas. Em relação aos pratos propriamente ditos, me chama a atenção a proximidade técnica entre a antiga cozinha portuguesa de origem rural e a cozinha indígena. Ambas eram fartas em caldos, cozidos, o que deve ter facilitado muito o diálogo. Depois vieram outros povos, cuja culinária ficou confinada em guetos e demorou décadas para ser assimilada, como é o caso dos japoneses, que chegaram no final do século XIX e só impuseram sua culinária na capital paulista por volta dos anos 1970. Leila Algranti – Tenho estudado as práticas alimentares no período colonial – as quais, sempre é bom lembrar, não se resumem à comida, pois alimentação é bem mais do que comida – a fim de melhor compreender a colonização portuguesa na América. Interessam-me a sociedade e a cultura desse período, e a alimentação se apresenta como uma chave, uma categoria explicativa que ajuda na aproximação com os agentes históricos. Os historiadores começaram a explorar a temática bem mais recentemente do que outros cientistas sociais. Os antropólogos, por exemplo, desde o surgimento da Antropologia como disciplina, prestam muita atenção aos hábitos alimentares das comunidades que estudam. Por outro lado, nas áreas biológica e tecnológica a produção de conhecimento sobre a alimentação é também anterior. Não tenho me detido na questão da culinária como construção da identidade nacional, nem na questão dos saberes culinários em termos de patrimônio imaterial. De qualquer forma, são temas recorrentes na historiografia. Trabalhei mais de perto com a doçaria colonial e não creio hoje que tenha ocorrido uma simples substituição de produtos aliada às técnicas portuguesas. Surgiram novos doces, houve criação e transformação, além de incorporações, o que seria inevitável. Em termos dos temperos (especiarias, ervas secas ou naturais), por sua vez, os portugueses incorporaram vários produtos americanos tanto na culinária como na botica para fins medicinais. Este é um segmento da alimentação colonial (os temperos) que estou estudando no momento. Apresentei no Colóquio da Unicamp alguns resultados dessa pesquisa. JU – O Brasil é um país privilegiado em manifestações culinárias e gastronômicas. Entretanto, a gastronomia aparentemente não recebe a devida importância nas estratégias de promoção turística dos destinos brasileiros. Não haveria aí um paradoxo no aproveitamento dessa riqueza turística? Por que isso ocorre? Como mudar essa situação? Carlos Dória – É verdade. O Estado brasileiro está de costas para a culinária. Se olharmos o Plano Nacional de Turismo só encontraremos lá uma única menção a comida. Mas não só o turismo. Os organismos de financiamento a pesquisas ainda acham que o tema é uma “frescura”, isto é, não pertence ao campo do que é culturalmente relevante. É que as elites brasileiras sempre comeram olhando as mesas européias, parisienses, e olhar para dentro é mesmo uma heresia desse ponto de vista. É uma tradição distinta daquela das elites mexicanas ou peruanas. O México, graças à revolução de 1910, levou as elites a sentirem um certo “orgulho” da cultura pré-colombiana. Isso não houve no Brasil. Por outro lado, o modelo turístico brasileiro tem sido nocivo à vida comunitária. Onde chegam os grandes pólos, como resorts, o que se vê é só desolação: especulação imobiliária, proletarização, falta de infraestrutura urbana, prostituição infantil, criminalidade. Há muitos estudos que demonstram isso. Então o paradoxo é mais profundo: se destrói quando se pensa “valorizar”. Leila Algranti – Tendo a discordar dessa posição. Cada vez mais a gastronomia é um aspecto de interesse, haja vista o espaço que conquistou na mídia com programas na TV e canais especializados,
além de cadernos semanais em periódicos importantes. As pessoas têm interesse e curiosidade em experimentar pratos típicos, mesmo sem viajar. Na chamada alta gastronomia os produtos nacionais estão cada vez mais em destaque. O problema, me parece, não é com a gastronomia, mas com o turismo como um todo no país, onde é difícil e muito caro viajar. As facilidades de transporte dos produtos, as mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros e a velocidade nos meios de comunicação permitem um intercâmbio de conhecimentos até pouco tempo impensável. Porém, viajar para vivenciar essas experiências é certamente outra coisa. JU – A valorização da gastronomia nacional não passa necessariamente pelo seu reconhecimento como bem patrimonial que merece ser protegido como expressão da cultura nacional? Por que isso não acontece? A falta de políticas públicas para o setor também ajuda a explicar porque a culinária brasileira ainda não tem o devido reconhecimento como bem cultural? Carlos Dória – A valorização da culinária brasileira passa pela reforma do seu marco institucional. A legislação sanitária, por exemplo, é toda feita segundo o figurino da grande indústria. O artesanato não tem vez, pois não consegue atender às exigências descabidas no Estado no plano sanitário. É o caso do queijo Canastra, em Minas Gerais. Então, proteger significa, em primeiro lugar, elaborar um estatuto próprio de funcionamento dessa economia baseada na pequena agricultura, que aproxime produtor e consumidor sem a mediação dos processos industriais. Esse quadro de exclusão está em contradição com os esforços internacionais por preservar modos de fazer, ingredientes e produtos ligados à pequena propriedade agrícola. A Unesco tem promovido esforços nesse sentido, visando à preservação cultural da diversidade. O mesmo em relação ao slow food. São pressões sobre o Estado e a sociedade e acabarão por produzir resultados, mas isso demorará. Leila Algranti – Não penso que devamos ir transformando saberes culinários e alimentos em bens culturais ou patrimônios nacionais velozmente. Há excelentes estudos e especialistas que advertem sobre essa tendência patrimonializadora. Tivemos uma mesa-redonda no evento sobre História da Alimentação, na Unicamp, dedicada a essa questão do patrimônio. O tema é polêmico e foi defendida a posição de que um saber culinário deve ser entendido para além de seu valor identitário. Muitas vezes esses saberes são formas de sobrevivência para muitas famílias e é isso que deve ser estimulado: a vivência, a dinamização de uma região, a tradição do modo de fazer e a sobrevivência desse envolvimento humano com a natureza e com a terra. Tendo a concordar com tal posição no momento e penso que é mesmo importante perguntarmos: o que desejamos preservar? O que se teme perder? JU – Associada à imagem de charme e glamour, a gastronomia transformou-se em um fenômeno de massa no Brasil atualmente. A culinária ocupa espaços em dezenas de programas de televisão, cresce o número de cursos superiores na área e chefes de cozinha são elevados ao patamar de celebridades. A que atribuir esse aumento de interesse do brasileiro pelo assunto? Em que medida isso contribuiu (ou não) para a melhor percepção do valor cultural da alimentação na vida cotidiana? Carlos Dória – É verdade. Nunca se falou tanto em comida no mundo. Talvez porque nunca, como agora, as pessoas estiveram tão desenraizadas de um conhecimento sobre alimentação e nutrição. Nos EUA, uma família só se reúne em torno da mesa umas 4 horas por semana. O resto do tempo é cada um por si. O Brasil segue esse caminho, e nos estratos superiores de renda, 50% dos gastos com alimentação já são efetuados fora de casa. Quem ensina essa gente a comer? Ainda não é a escola. Então, surge a grande oportunidade para os meios de comunicação, para a glamourização dos chefs como a personificação de cozinhas sem cara e assim por diante. É um fenômeno mundial, com seus reflexos no Brasil. Mas falar sobre comida é um traço cultural melhor do que não falar sobre comida. Estamos nesse caminho, e podemos nutrir esperanças de que formaremos gerações culinariamente mais cultas do que somos.
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Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
O técnico, os rótulos da RDA, a recuperação de tubos de laser e os vídeos com experimentos Foto: Antonio Scarpinetti
Funcionário do IFGW, João Pereira de Góes Filho mantém site e produz filmes para estudantes MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
uando João Pereira de Góes Filho esteve na Alemanha, em 1988, nem se cogitava a queda do Muro de Berlim. Mas, perspicaz, Góes registrou aquela fase que precedeu a divisão e publicou, muitos anos depois, as fotos em seu site, Praia do Góes. Entre os registros, destaca-se uma coleção de rótulos de produtos da então Alemanha Oriental (RDA), comunista. O colorido da página interna não pretende ser mais uma expressão artística-visual, mas revela uma faceta do governo da época ao mostrar a impressão de preços nos rótulos dos produtos. Em alguns utensílios como garfos, facas, canetas os preços eram fundidos. “De quase tudo o que comprava, eu tirava o rótulo das embalagens e levava comigo. Para mim, era novidade, pois no Brasil não havia esse controle”, explica. A paisagem homogênea destacada pelo tom cinza das fachadas tornava ainda maior a distância entre ele e sua esposa, Jemima, em seu primeiro ano de casamento. As imagens também revelam a ausência de veículos nas ruas. Em 1996, quando voltou à Alemanha para um breve estágio no Laboratório de Óptica da Universidade de Osnabrück, foi até o antigo lado oriental e encontrou as ruas coloridas. As imagens registradas por ele representam uma paisagem urbana propiciada por um muro que durante muito tempo acirrou as diferenças entre alemães ocidentais e orientais, que com a abertura passaram a escolher suas próprias cores. “VEB – Empresa de Propriedade do Povo”. Essas inscrições em alemão, também impressas nos rótulos, chamaram a atenção do técnico. A publicação dos rótulos em sua página eletrônica chamou a atenção de amigos e até mesmo de desconhecidos da Alemanha. “Uma senhora mandou um e-mail dizendo que apreciar as fotos é como me ver contando a história. Isso me deixou muito contente.” Técnico no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, Góes foi encaminhado à Alemanha para realizar um estágio dentro do Acordo do Café, um programa de cooperação entre os governos brasileiro e alemão oriental. O convite foi feito pelo professor Geraldo Mendes, na época um dos pesquisadores do Grupo de Óptica do IFGW, já que o funcionário se dedicava ao aprendizado da língua alemã. Foram sete meses de saudades por não aproveitar o primeiro ano de casado, mas, por outro lado, foi uma experiência importante e rara para um funcionário que já havia iniciado os estudos da língua alemã. Na volta, seu sacrifício foi reconhecido pelo IFGW, com direito a nova classificação na carreira de funcionários. Quando estava na Alemanha, em 1988, recebeu uma carta do professor Artêmio Scalabrin para fazer um está-
O funcionário João Pereira de Góes Filho: aparelhos custavam milhares de dólares
gio na área de limpeza e manutenção de bomba de vácuo turbomolecular na empresa Balzers, no Principado de Lichtenstein, já que se encontrava na Europa. Na época, Góes trabalhava no Laboratório de Recuperação de Lasers do IFGW com mais dois técnicos. O laboratório tinha sido fundado pelo professor Carlos Argüello no final da década de 1970 e o trabalho era de manutenção e recuperação dos tubos de laser utilizados por pesquisadores do IFGW. “Jamais se saberá a quantia economizada nos cofres públicos por meio de nosso serviço de recuperação de tubos de laser ao longo de toda a existência do LRL, afinal, estou falando de aparelhos que custavam milhares de dólares”, enfatiza Góes. Durante 20 anos de existência do LRL/IFGW, os técnicos se ocuparam com a manutenção da parte elétrica da fonte de alimentação e alinhamento do sistema óptico dos lasers, além da recuperação dos tubos de gás. Somente a limpeza e o alinhamento óptico custariam US$ 100 por hora caso entregues a um representante no Brasil das empresas norte-americanas fabricantes. “A recuperação dos tubos de gás dos lasers foi, sem dúvida, um dos serviços mais interessantes que esta Universidade já teve e um grande privilégio do IFGW. Imagine você pegar um tubo de laser velho considerado já totalmente inútil – morto, como era o termo que usávamos – e colocá-lo para funcionar novamente em um trabalho de pesquisa científica no IFGW”. Outro grande benefício mais difícil ainda de se avaliar, resultado da eficiência no suporte à pesquisa, foi a continuidade do trabalho do pesquisador, já que não precisavam esperar a visita de técnicos das empresas e tinham os aparelhos imediatamente substituídos por outros recuperados pelos profissionais do LRL.
Até hoje Góes lembra um episódio em que a professora Vólia Lemos precisava substituir um laser que teria parado de funcionar em seu laboratório. Góes respondeu que acabava de recuperar um, mas estava em observação. Diante da resposta, Vólia pediu: “Pois eu sou uma ótima observadora. Por favor, instale-o em meu laboratório no lugar daquele que não está funcionando.” E assim era o dia a dia, além dos fins de semana dedicados ao acompanhamento dos tubos que ficavam no sistema de vácuo, os quais não raramente acabavam com uma boa prosa e um ótimo café feito pelo professor Helion Vargas que também aparecia em seu laboratório em fins de semana. Quando Góes foi transferido do Instituto de Química para o Grupo de Lasers do IFGW, a grande maioria dos lasers era de argônio, havia diversos pequenos de hélio-neônio e apenas um de criptônio. Ele explica que uma espera por liberação na alfândega naquela época seria o suficiente para alterar a pressão, já que os tubos de gás variavam a pressão interna por diversos motivos e, por causa dessa variação de pressão, eles alteravam a potência de saída da luz laser ou simplesmente não emitiam luz. Havia, portanto, sentido em manter toda uma infraestrutura para otimizar a pressão do gás dos lasers. Já para a recuperação tinham de desmontar totalmente o tubo para poder limpar e descontaminar. “Usávamos emissor de radiofrequência e alta corrente nos catodos para liberar os contaminantes, enquanto as bombas de vácuo puxavam o gás contaminado. Depois de limpar, inclusive as janelas em ângulo de Brewster que tirávamos e colávamos novamente, colocávamos o gás novo e fazíamos a otimização da pressão”. O trabalho era empírico e culminava na ampliação do tempo de vida útil, pois lasers que durariam cinco anos chega-
vam a durar dez. Um deles, de argônio, da empresa Spectra-Physics, chegou a durar 15 anos. A potência deles não ficava como a original de fábrica, mas eram muito úteis para pesquisadores que precisavam exatamente da potência do laser recuperado. Quase dez anos depois da experiência na Alemanha, o laboratório foi extinto, pois o IFGW já contava com equipamentos modernos e a velha geração de tubos já não tinha mais condições de recuperação. Assim, os préstimos do Góes, pelo menos naquele lugar, não tinham mais razão de ser. Com uma dose de nostalgia, teve de se transferir para outra área, o Laboratório de Ensino de Física, na qual também busca motivos que tornem os dias de trabalho mais prazerosos. Um deles é a produção de vídeos com conteúdo de experimentos a ser abordados em aulas. “Tenho um filho jovem e percebo que para os estudantes de hoje, em determinadas situações, o vídeo é mais atrativo que um calhamaço de coisas para se ler”, explica. A ideia surgiu quando precisou desenvolver um site de divulgação científica para seu trabalho de conclusão de curso para a especialização em jornalismo científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. O que seria apenas um trabalho de conclusão acabou tendo continuidade, diante da aceitação de docentes dos cursos que passam pelo laboratório. “O tema ‘Ciência, Tecnologia e Sociedade’ me fascina. Pensei em fazer algo que despertasse nos estudantes o desejo de conhecer um pouco a história da ciência e que ao mesmo tempo pudesse servir de material de apoio nas disciplinas, o mais próximo possível da realidade do dia a dia deles”. O endereço do Praia do Góes é (http:// sites.ifi.unicamp.br/goes).
Campinas, 3 a 9 de dezembro de 2012
9 Fotos: Antonio Scarpinetti
Torcidas organizadas do São Paulo e do Palmeiras são separadas por policiais e por vazio nas arquibancadas do estádio do Morumbi: para autor do estudo, falta de política de massa legitima agremiações como espaço de convivência
O historiador Vitor dos Santos Canale: “Não existe canal institucional para debate, conversa e reflexão”
Estudo isenta torcidas organizadas por violência nos estádios Trabalhos de Norbert Elias e Pierre Bourdieu, entre outros intelectuais, fundamentaram dissertação SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
ma tragédia ocorrida em 1995 no estádio do Pacaembu, em São Paulo, foi o desfecho para a investigação sobre violência no futebol conduzida pelo historiador da Unicamp Vitor dos Santos Canale. O episódio ficou marcado pelo confronto entre as torcidas do São Paulo, Palmeiras e policiais militares. Transmitida ao vivo pela televisão, a violência na final da 2ª Supercopa São Paulo de Futebol Júnior deixou mais de cem feridos e um adolescente de 17 anos morto. O estudioso da Unicamp lembra que, sobretudo a partir daquela data, as torcidas organizadas passaram a ser condenadas de modo recorrente pela mídia e pelo poder público como responsáveis pela violência nos estádios. “O objetivo da minha pesquisa é refutar isso. A violência no futebol não é uma criação das torcidas organizadas. Muito antes dos movimentos das torcidas organizadas, já eram registrados eventos violentos. E no Estado de São Paulo não é diferente”, contrapõe Vitor Canale. O seu estudo analisou as formações coletivas de torcedores no Brasil desde o início do século 20 até 1995. A investigação integra mestrado defendido junto ao programa de pós-graduação da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. “Podemos atribuir vários fatores para a violência que aconteceu no Pacaembu naquele ano. O estádio passava por reformas, e havia uma pequena força policial despreparada para conter a rivalidade entre as torcidas, que se aproveitaram dos restos de construção do estádio. O torcedor, portanto, não é o único culpado pelas situações de violência. E a torcida organizada, muito menos”, argumenta. A partir daquele momento, recorda o pesquisador, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Paulista de Futebol (FPF) “culparam as torcidas organizadas, fazendo uma caça às bruxas geral”. O interesse, de acordo com ele, foi transmitir ao país uma imagem que, com o fechamento das torcidas
organizadas, seria também o fim da violência. A dissertação foi orientada pela docente Heloisa Helena Baldy dos Reis, do Departamento de Estudos do Lazer da FEF. Heloisa Reis também integra o Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp e coordena o Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol (GIEF), da FEF. A professora Carmen Lúcia Soares, do Departamento de Educação Física e Humanidades da mesma unidade, coorientou o trabalho. A pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “O desenvolvimento de estudos e projetos, ainda na minha iniciação científica como membro do GIEF desde 2008, foi um dos estímulos para refletir sobre os assuntos do futebol e seus possíveis enfoques. Outra motivação foi analisar o torcedor organizado, que tem sido marginalizado e associado a termos como violência, alienação e vagabundagem”, conta Vitor Canale, sobre a escolha da temática.
POR QUE OS TORCEDORES BRIGAM?
A questão “Por que os torcedores brigam?” deve ser respondida, de acordo com o historiador, a partir de uma série de aspectos presentes na sociedade. Ele cita, por exemplo, a relação do torcedor com o clube e os conceitos de prazer e masculinidade. “O clubismo é um dos elementos que a pesquisa identificou como gerador da violência. A masculinidade é outro, mas é uma chave para a violência de um modo geral porque o indivíduo passa a querer mostrar valentia e status. Há também a questão da emoção prazerosa que leva torcedores a praticarem violência simbólica, como jocosidades, xingamentos, gritos de guerra, gerando até mesmo enfrentamentos físicos”, revela.
CLUBISMO
O clubismo não implica, necessariamente, que o indivíduo faça parte de alguma torcida organizada, esclarece Vitor Canale. “Qualquer pessoa pode ‘integrar’ o clubismo por determinados signos e princípios. Por esta lógica, os corintianos torcem tanto pela vitória do Corinthians como pela derrota do Palmeiras. Os corintianos jamais elogiam o time do São Paulo publicamente. É um
sistema de pertencimento e significados que leva, inclusive, muitas crianças a serem constrangidas no seu ambiente doméstico. Desde pequenas elas são ‘educadas’ ao modo ‘correto’ de torcer pelo seu time”, ironiza. Com a formação das torcidas organizadas, o clubismo se acentua, sendo ainda mais determinante para as rivalidades e conflitos entre torcedores, acrescenta o investigador. “Se já havia uma rivalidade antes das torcidas organizadas, a partir do clubismo isso vai crescer bastante. Portanto, o clubismo somado a uma identidade dentro das torcidas organizadas é extremamente importante para compreender a violência, que também vai crescer processualmente”, associa o historiador. Ainda de acordo com ele, esta relação do torcedor com o clube está cada vez mais arraigada no cotidiano da sociedade, em especial nos países que têm o futebol como primeiro esporte. “A adesão ao clube está muito presente, principalmente, num momento histórico em que as adesões dos jovens, de modo geral, estão cada vez menores. Depois da redemocratização não existe algo a que se aderir, não há um projeto político de massa. Portanto, a torcida vai se tornar um meio de sociabilidade entre as pessoas, em que elas se conhecem e formam um grupo coeso, vindo substituir, por exemplo, as comunidades eclesiásticas de base, partidos e clubes esportivos”.
POLÍTICA DE PROIBIÇÕES
Vitor Canale desenvolveu sua pesquisa a partir de revisão bibliográfica da produção sobre violência no esporte, tendo como referência, principalmente, os trabalhos dos teóricos Norbert Elias, Benedict Anderson, Pierre Bourdieu e Éric Dunning, além da vasta produção brasileira sobre torcidas organizadas. “Pretendo mostrar que a violência no futebol não pode ser analisada pura e simplesmente dentro do esporte, mas no âmbito da sociedade, que é o que dizia Pierre Bourdieu com o seu conceito de campo. O torcedor é um pai de família, é também trabalhador…”, exemplifica. Também foram realizadas entrevistas com os dirigentes das torcidas Gaviões da Fiel e sua dissidência, o Movimento Rua São Jorge (MRSJ). As organizadas foram acompanhadas, inclusive, em
observações de campo durante jogos e eventos entre 2011 e 2012. A partir destas investigações e depoimentos, o pesquisador constatou que a política de proibição pode gerar mais violência. Ele explica que, no Estado de São Paulo, a entrada nos estádios com instrumentos de percussão e bandeiras vem sendo proibida, principalmente depois da tragédia no Pacaembu. “Durante a pesquisa de campo e em entrevistas com torcedores mais velhos, como Vila Maria e Alex Minduin, ouvi que a violência aumentou. Eles argumentam que os torcedores chegavam antes dos jogos e ajudavam a picar papel, participavam dos ensaios da bateria ou ajudavam a fazer a bandeira. Agora, estes torcedores não têm nada para fazer e vão se juntar à galera da ‘porrada’. A galera da ‘porrada’ sempre existiu, mas agora ela vem crescendo”, deduz. A falta de liberdade nos estádios vem transformando o torcedor num agente passivo, expõe Canale. “O Estado de São Paulo foi constrangendo este torcedor a ser cada vez mais passivo. O torcedor hoje, visto como positivo, é aquele que vai ao estádio, senta na sua cadeira e assiste ao jogo, como quem está assistindo na televisão. Não se pode fazer festa. Os torcedores enfrentam vários problemas para assegurar a sua legitimidade como atores do futebol. Enquanto o ministério público e demais órgãos tratarem eles como atores não legítimos, a resposta será a violência porque não existe canal institucional para debate, conversa e reflexão”, lamenta.
Publicação Dissertação: “Torcidas organizadas e seus jovens torcedores: diversidades e normativas do torcer” Autor: Vitor dos Santos Canale Orientadora: Heloisa Helena Baldy dos Reis Coorientadora: Carmen Lúcia Soares Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) Financiamento: Capes
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Campinas, 3 a 8 de dezembro de 2012
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Unicamp leva dez dos 44 Prêmios Capes de Tese ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
A Unicamp ganhou dez dos 44 prêmios das melhores teses de doutorado do Prêmio Capes de Tese – Edição 2012, além de sete menções honrosas. O anúncio foi feito através do Diário Oficial da União. Foram selecionadas as melhores teses de doutorado defendidas em 2011, dentre as 47 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). “Com o resultado, conseguimos chegar a um quarto das teses concorrentes (23%). É a primeira vez que ficamos na frente em número de teses premiadas, mas é importante enfatizar que sempre ficamos entre as melhores colocações”, afirmou o pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp, Euclides de Mesquita Neto. O pró-reitor vibrou com a notícia e tão logo soube do resultado fez questão de enviar uma carta parabenizando os diretores e coordenadores de pós-graduação da Universidade. Para ele, esta distinção reflete em grande medida um trabalho que vem sendo feito pela comunidade da Unicamp que
Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
a ca dêi ma c
Painel da semana Música no Campus - Evento de encerramento de 2012 do Projeto Música no Campus acontece dia 1 de dezembro, às 17 horas, no Gramado do Instituto de Biologia (IB). As atrações serão os grupos de samba “Choro pro santo” e “Lá se vão meus anéis”. Mais detalhes: 19-3521-2146. No Ar lado A - Quartanistas do Curso de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA) apresentam o espetáculo “No ar – lado A”, na Sala AC 04 do Departamento de Artes Cênicas/Paviartes, dias 1 e 2 de dezembro, às 20 horas, e no dia 3, às 12h30. A história acontece em um pensionato do fim da década de 40, local onde a vida, os sonhos e amores de sete mulheres e um rádio se cruzam. Este é apenas o lado A do disco, a criação continuará, para o grande lançamento em 2013. Duração: 40 minutos. Público esperado: 60 pessoas. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. No elenco: Andressa Nishiyama, Cristiane Taguchi, Gabriela Presti, Gabriella Aly, Gabriella Spaciari, Isabelle Soares e Maíra Niaradi. A orientação e da professora Sara Lopes (IA). Mais detalhes: 19-3521-2444. Domingo no Lago – A próxima edição do Projeto será realizada em 2 de dezembro, às 10h30, na Rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Do especial de natal participam os Corais Zíper na Boca, Canarinhos da Terra, entre outras atrações. Mais informações: 19-3521-7017. Estudos de cinema e fotografia - O Programa de Pós-graduação em Multimeios do Instituto de Artes (IA) realiza, dia 3 de dezembro, no IA, das 9 às 18 horas, a III Jornada de Estudos de Cinema
atua na área de pesquisa e de pósgraduação. Ao ler a Portaria nº 160, de 20 de novembro do corrente, o próreitor verificou que quatro prê-
mios foram concedidos à área de Humanas, Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), três à área médica, Biolo-
gia e FOP e três às áreas de Exatas e Engenharia. A área de Humanas ganhou mais prêmios: o IE, o IEL e o IFCH. “O fato de as Humanas se destacarem neste ano mostra
a ótima qualidade dos cursos de pós-graduação nessa área”, constatou o professor Euclides. No dia 13 de dezembro haverá a outorga do Grande Prêmio Capes de Tese aos vencedores, ainda a serem divulgados. No ano passado, a Unicamp recebeu dois deles. A cerimônia de entrega dos prêmios aos autores e da distinção aos respectivos orientadores e programas de pós-graduação ocorrerá no edifício-sede da Capes, em Brasília-DF. O Grande Prêmio seleciona, dentre as ganhadoras do Prêmio Capes de Tese, a melhor em cada um dos três grupos de grandes áreas. Cada um dos grupos homenageia um renomado cientista brasileiro que tenha desenvolvido trabalhos importantes em uma dessas áreas. Nesta edição, serão homenageados Carlos Ribeiro Diniz, para a grande área de Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias; Milton Santos, para a grande área de Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar (Materiais e Biotecnologia); e Carolina Martuscelli Bori, para a grande área de Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes, Ciências Sociais Aplicadas e Multidisciplinar (Ensino).
e Fotografia. Podem participar os alunos regulares (mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos) do PPG em Multimeios. Ex-alunos, que defenderam suas dissertações e teses em 2011 e 2012, também podem se inscrever. A ficha de inscrição e as normas para o envio de trabalhos podem ser acessadas no site http://3jornadamultimeios.wordpress.com/. Mais detalhes: 19-3521-7196.
acadêmico. Os debates serão transmitidos pelo Youtube (Google+ Hangout), em português. Perguntas poderão ser enviadas diretamente aos participantes, ao vivo. O link para os webcasts serão anunciados na página eletrônica https://www.facebook.com/ieee.cis. unicamp. A organização é do Capítulo Estudantil da Computational Intelligence Society na Unicamp. Mais informações no site do evento https://www.facebook. com/ieee.cis.unicamp ou telefone 19-8140-3798.
sociais” (mestrado). Candidato: Rogério Gomes Neto. Orientadora: professora Roberta Gurgel Azzi. Dia 7 de dezembro, às 10 horas, na FE.
sala de defesa de teses do IEL. - “Martins Pena, o comediógrafo do teatro de São Pedro de Alcântara: uma leitura de O Judas em Sábado de Aleluia, os Irmãos das Almas e O Noviço” (mestrado). Candidata: Bruna Grasiela da Silva Rondinelli. Orientadora: professora Orna Messer Levin. Dia 4 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de Teses do IEL. - “Ser ou não ser: eis a questão - construções ‘existenciais’ com o verbo ser no português brasileiro contemporâneo” (doutorado). Candidata: Elisângela Gonçalves da Silva. Orientador: professor Juanito Ornelas de Avelar. Dia 7 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.
Bienal da Sociedade Brasileira de Matemática - O Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) sedia, de 3 a 7 de dezembro, a VI Bienal da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A abertura oficial do evento ocorre às 9 horas, no auditório do Imecc. O prazo final para a submissão de trabalhos é 31 de julho. Do Imecc participam os professores Djairo Guedes de Figueiredo, José Mario Martínez e Nancy Lopes Garcia. A Bienal é realizada desde 2002 com envolvimento expressivo da comunidade matemática, entre alunos, professores e pesquisadores de todo o território nacional. As atividades desta edição se agruparão nos seguintes eixos temáticos: Belos problemas e belas soluções; História da Matemática; Informática na Matemática; Laboratórios de Ensino de Matemática; Temas Interdisciplinares e Tópicos Especiais em Matemática. As atividades planejadas são conferências a convite, comunicações orais, minicursos, oficinas, pôsteres digitais, filmes, exposições, painéis e mesas redondas. Os objetivos e formatos específicos de cada atividade, bem como as instruções para o encaminhamento de propostas estão no site http://bienalmatematica.galoa. com.br. Mais informações: 6bienal@ime.unicamp.br ou Fax: 55-19-3521-6094. Inauguração - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) inaugura no dia 3 de dezembro, às 15 horas, o seu Centro Cultural. A organização é da Diretoria da unidade. Outras informações: 19-35211520 ou e-mail seee@iel.unicamp Inteligência artificial e computacional - Oito dos principais pesquisadores em Inteligência Artificial e Inteligência Computacional do Estado de São Paulo discutirão o futuro das suas disciplinas e o impacto das mesmas no Brasil e no mundo, dia 4 de dezembro, às 10 horas, na sala PE11 da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Além deste debate sobre aspectos práticos da Inteligência Artificial, haverá outro evento no dia 11/12 e que abordará aspectos filosóficos da área. Os pesquisadores convidados para os eventos têm se dedicado ativamente a diferentes subáreas, incluindo: processamento de linguagem natural, redes neurais biologicamente plausíveis, sistemas de controle e robótica, recuperação da informação, raciocínio sob incerteza, computação natural, meta-heurísticas, análise de dados, ontologias e revisões de crenças, arquiteturas cognitivas, vida artificial, dentre outras. O objetivo dos eventos é apontar e discutir os futuros direcionamentos e impactos daqueles campos do conhecimento nos ambientes industrial, empreendedor e
Teses da semana Alimentos - “Percepção dos consumidores referente a atributos da qualidade de peixe” (mestrado). Candidata: Izabella Tesoto Loscalzo. Orientadora: professora Elisabete Salay. Dia 6 de dezembro, às 10 horas, no Anfiteatro do DEPAN. Artes - “Dança e arte marcial em diálogo: um estudo teórico-prático sobre o sistema de gongfu louva-a-deus e o ensino de improvisação em dança” (doutorado). Candidata: Mariana Baruco Machado Andraus. Orientadora: professora Inaicyra Falcão dos Santos. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, no IA. Biologia - “Expressão gênica durante o desenvolvimento embrionário zigótico e somático em Passiflora edulis” (doutorado). Candidata: Juliana Lacorte Cazoto. Orientador: professor Marcelo Carnier Dornelas. Dia 3 de dezembro, às 8 horas, na sala de defesa de teses da Pós-graduação do IB. - “Potencial de fixação de nitrogênio por leguminosas e cianobactérias em Floresta Ombrófila Densa Atlântica no litoral norte de São Paulo, Brasil” (mestrado). Candidato: Ewerton Caltran Manarin. Orientador: professor Marcos Pereira Marinho Aidar. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da Pós-graduação do IB. - “Estrutura e dinâmica populacional de Eschweilera ovata (Cambess.) Miers (Lecythidaceae) em fragmentos de Mata Atlântica” (doutorado). Candidato: Airton de Deus Cysneiros Cavalcanti. Orientador: professor Flavio Antonio Maës dos Santos. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da Pós-graduação do IB. Computação - “Metodologia de testes de segurança para análise de robustez de Web services pela injeção de ataques” (mestrado). Candidato: Marcelo Invert Palma Salas. Orientadora: professora Eliane Martins. Dia 7 de dezembro, às 10 horas, no auditório IC 2 (sala 85). Economia - “Capitalismo e sociedade de consumo: uma análise introdutória sobre o consumo e modo de vida na sociedade contemporânea” (mestrado). Candidato: Valter Palmieri Júnior. Orientadora: professora Milena Fernandes de Oliveira. Dia 4 de dezembro, às 10 horas, na sala 23 do IE. Educação - “As relações sociais entre os jovens no ensino médio: um olhar através das habilidades
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Padrões em projetos arquitetônicos de bibliotecas públicas” (mestrado). Candidata: Marcela Noronha Pinto de Oliveira e Sousa. Orientador: professor Daniel de Carvalho Moreira. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa da teses da CPG/FEC. Engenharia Elétrica e de Computação “Rápida predição da direção do bloco para aplicações com transformadas direcionais” (mestrado). Candidato: Gabriel Tedgue Beltrão. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 5 de dezembro, às 10 horas, na FEEC. - “Otimização do fluxo do tráfego urbano modelado em redes de petri utilizando algoritmo genético” (doutorado). Candidato: Henrique Dezani. Orientador: Furio Damiani. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. - “Aspectos tecno-econômico de soluções GPON e EPON em redes ópticas de acesso” (mestrado). Candidato: Odair dos Santos Mesquita. Orientador: professor Edson Moschim. Dia 6 dezembro, às 14 horas, na sala PE12, prédio da CPG/FEEC. Engenharia Mecânica - “Método para identificação e análise de fatores críticos de sucesso no gerenciamento de projetos em uma instituição de ensino superior” (mestrado). Candidato: William Douglas Paes Coelho. Orientador: professor Olívio Novaski. Dia 3 de dezembro, às 9 horas, no auditório do DEF/FEM. Geociências - “A implantação da ciência de base tecnológica: um estudo do desenvolvimento da física experimental com aceleradores de partículas na Universidade de São Paulo (1934-1982)” (doutorado). Candidata: Tharsila Reis de Medeiros. Orientadora: professora Léa Maria Leme Strini Velho. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, no Auditório do IG. - “Análise cientométrica das práticas científicas na área de solos” (doutorado). Candidato: Ricardo Arcanjo de Lima. Orientadora: professora Léa Maria Leme Strine Velho. Dia 4 de dezembro de 2012, às 14 horas, no auditório do IG. Humanas – “Campinas e os desafios da participação: um estudo sobre as relações entre OP, SUS, SUAS, Meio Ambiente e Plano Diretor Participativo” (mestrado). Candidato: José Reinaldo Braga. Orientadora: professora Evelina Dagnino. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, no IFCH. Linguagem - “Machado de Assis na Rússia: estudos de recepção literária (1960-2010)” (doutorado). Candidata: Andréa de Barros. Orientador: professor Francisco Foot Hardman. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Antigone de Vittorio Alfieri: uma tradução” (mestrado). Candidata: Nádia Jorge Berriel. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 4 de dezembro, às 10h30, na
Medicina - “Gênero, promoção da saúde e capacidade para o trabalho de mulheres trabalhadoras de uma central de abastecimento” (doutorado). Candidata: Tatiana Giovanelli Vedovato. Orientadora: professora Maria Inês Monteiro. Dia 4 de dezembro, às 9 horas, no Anfiteatro do Departamento de Enfermagem da FCM. - “Avaliação tardia da técnica da sutura circular contínua para mamoplastia e mastopexia” (doutorado). Candidato: Marco Antonio de Camargo Bueno. Orientadora: professora Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin. Dia 4 de dezembro, às 9 horas, no Anfiteatro do Gastrocentro. - “Promoção à saúde entre jovens trabalhadores de micro e pequenas empresas da Central de Abastecimento de Campinas, SP” (doutorado). Candidata: Valéria Aparecida Masson. Orientadora: professora Maria Inês Monteiro. Dia 4 de dezembro, às 14 horas, no Anfiteatro do Departamento de Enfermagem da FCM. - “A inserção de enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família (ESF) na investigação da acuidade visual em alunos” (mestrado profissional). Candidata: Mayara Larissa Nilsen. Orientadora: professora Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto. Dia 5 de dezembro, às 9 horas, no Anfiteatro da CPG/FCM. Odontologia - “Análise clínica e radiográfica das sequelas de dentes luxados e reimplantados: estudo retrospectivo” (mestrado). Candidato Thiago Farias Rocha Lima. Orientadora: professora Adriana de Jesus Soares. Dia 4 de dezembro, às 9 horas, na Congregação da FOP. - “Efeito do intervalo de tempo entre as exposições à sacarose na desmineralização do esmalte e na composição do biofilme dental” (mestrado). Candidata: Lívia Helena Terra e Souza. Orientador: professor Jaime Aparecido Cury. Dia 5 de dezembro, às 8h30, no Anfiteatro 01 da FOP. - “Efeito do tipo de pino, altura do remanescente coronário e carregamento na distribuição de tensões em prótese fixa de três elementos” (doutorado). Candidata: Gisele Rodrigues da Silva. Orientador: professor Luis Roberto Marcondes Martins. Dia 7 de dezembro, às 8h30, na Congregação da FOP. - “Avaliação mecânica e fotoelástica do uso de placas 2,0mm com sistema de travamento na reconstrução de defeitos mandibulares pós-ressecção” (doutorado). Candidato: Patricio José de Oliveira Neto. Orientadora: professora Luciana Asprino. Dia 7 de dezembro, às 8h30 no Anfiteatro 01 da FOP.
Campinas, 3 a 8 de dezembro de 2012
11 Foto: Antonio Scarpinetti
Licenciatura com contextualização
Encontro do PIBID, realizado em maio de 2012, no Centro de Convenções: subprojetos são feitos em conjunto e em parceria com as escolas públicas
CRISTIANE KÄMPF Especial para o JU
ormar educadores para atuar na educação básica com sólida fundamentação em conhecimentos acadêmicos que possibilitem a construção de um olhar contextualizado sobre a escola, o sistema educacional e a realidade social mais ampla da qual fazem parte. Este é um dos grandes desafios dos cursos de formação de professores na Unicamp. O número de estudantes matriculados nos cursos de licenciatura da universidade é de aproximadamente 3.400 alunos, o que representa 20% do total de 17 mil estudantes de graduação da universidade. Eliana Ayoub, presidente da Subcomissão Permanente de Formação de Professores (SPFP), ligada à Comissão Central de Graduação da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), lembra que, em 2002, o Conselho Nacional de Educação publicou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, as quais prevêem que todos os cursos de licenciatura tenham um projeto pedagógico próprio. “Isso implica a necessidade de mostrar que, para que o aluno se forme, por exemplo, professor de biologia ou biólogo, ele deve percorrer projetos curriculares distintos – ainda que concomitantes e que dialoguem entre si”. Tomando como referência as orientações dadas pelas Diretrizes, os cursos de formação de professores da Unicamp iniciaram um importante processo de reformulação de suas proposições curriculares, que foi coordenado pela SPFP, instituída em dezembro de 2003 e com a finalidade de prover a universidade de subsídios no que diz respeito à sua Política de Formação de Professores. Segundo Guilherme do Val Toledo Prado, vice-presidente da SPFP, tem sido comum que bacharéis que haviam se formado nos cursos de graduação voltem à universidade para fazer a licenciatura e poder atuar profissionalmente na docência. Entretanto, eles apontam que somente cursar as disciplinas necessárias para obter a licenciatura não é suficiente para que consigam a formação teórico-prática necessária para serem melhores professores. “Eles notam claramente que tinham de entender e aprender, anteriormente, nas suas disciplinas de base, qual era o vínculo com a docência. Os próprios reingressantes sinalizam para nós – que trabalhamos, refletimos, pesquisamos e produzimos conhecimento na área de educação – que somente cursar as disciplinas pedagógicas não é suficiente, não adianta. É preciso uma formação integrada e íntegra, que faça a correlação das disciplinas com a atividade docente e aponte a profissão de professor como uma outra possibilidade profissional”, diz Prado. Nessa mesma linha de raciocínio, Ayoub afirma que compreender a formação de professores como um percurso específico, no âmbito de uma graduação profissional, é uma
cultura que vem se construindo nestes últimos anos e consolidando-se aos poucos. “Precisamos, para isso, que professores, gestores, estudantes e a sociedade como um todo, compreendam que um curso de formação de professores se dá desde a primeira até a última disciplina na universidade”, pondera. Em 2010, a PRG criou um grupo de trabalho, o GT das Licenciaturas, um espaço de interlocução com os diretores das unidades de ensino que abrigam cursos de formação de professores. Esse GT, no qual a SPFP assumiu um papel central, concluiu seus trabalhos no primeiro semestre de 2012, sinalizando para a comissão de vagas docentes da universidade a necessidade de contratação de docentes nas diversas unidades que oferecerem cursos de licenciatura e enfatizando a importância de aprofundar o processo de avaliação dos respectivos projetos pedagógicos, objetivando indicar as dificuldades encontradas e as ações necessárias para o aperfeiçoamento dos mesmos. A subcomissão assumiu, portanto, o compromisso de deflagrar esse processo mais amplo de avaliação, assim como o de sistematizar o conjunto de ações que a universidade realiza no âmbito da formação de professores. O objetivo é consolidar a Política de Formação de Professores da Unicamp em consonância com os objetivos de excelência da graduação na universidade e com as proposições mais gerais da Política Nacional de Formação de Professores. Ela também tem sido responsável por coordenar ações junto a órgãos internos da PRG, como SAE e EA2, promovendo, por exemplo, a normatização dos estágios obrigatórios que devem ser cumpridos pelos estudantes dos cursos de formação de professores. Tais estágios têm hoje um termo de compromisso e seguro de vida para os estagiários, ou seja, funciona como qualquer outro estágio de um aluno da Unicamp. Em agosto de 2012, também foi aprovado o “Programa de Auxílio Transporte para Licenciaturas” que tem por objetivo contribuir para a locomoção dos alunos até o local de estágio. “Acontecia, muitas vezes, uma concentração dos estágios no entorno da Universidade, pois todo mundo ia para as mesmas escolas. Com esse programa, as escolas que estão distantes da Unicamp ou na periferia da cidade também poderão ser atendidas”, comemora Ayoub.
PRÓ-LETRAMENTO E LICENCIATURAS
O Pró-Letramento é um programa de formação continuada de professores do ensino fundamental para melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura, escrita e matemática, realizado pelo MEC em parceria com as universidades. A Unicamp participa do Pró-Letramento desde 2005 e, em 2011, a SPFP tornou-se responsável pelas atividades do
programa, cuja vigência vai até setembro de 2013. Em suas diferentes etapas nestes dois últimos anos, o Pró-Letramento contou com a participação de 100 tutores e 2443 cursistas, oriundos de 45 cidades do Estado de São Paulo. A subcomissão coordena ainda o Programa das Licenciaturas Internacionais (PLI) que é uma iniciativa da Capes e da Universidade de Coimbra-Portugal. Esse programa visa à elevação da qualidade da graduação, tendo como prioridade a melhoria do ensino nos cursos de licenciatura. Atualmente, a Unicamp tem sete estudantes de licenciatura na Universidade de Coimbra (nas áreas de biologia, educação física e matemática), que lá estão desde setembro de 2011, com previsão de retorno ao Brasil em julho de 2013. Trata-se de uma graduação sanduíche com dupla diplomação.
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), da Capes, também é uma atividade assumida pela subcomissão e que, de acordo com Ayoub, fomenta novos questionamentos e problematizações sobre a valorização da formação de professores. A Unicamp participou de todos os editais do PIBID abertos para universidades estaduais até o momento, em 2009, 2011 e 2012. Atualmente há 17 subprojetos do PIBID em andamento na Universidade, os quais foram propostos por docentes envolvidos com os cursos de formação de professores em diferentes unidades da Unicamp: Artes Visuais, Ciências Biológicas, Dança, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Integrada QuímicaFísica, Letras, Música, Pedagogia, Química e Sociologia. Tais subprojetos foram encaminhados à SPFP, que os avaliou, elaborou os projetos institucionais e coordenou todo o processo de implementação. Ayoub esclarece que “os subprojetos são feitos com as escolas e não para as escolas. Eles são pensados em conjunto com o professor da universidade e com o supervisor da escola. Há uma bolsa para o professor da universidade, uma bolsa para o aluno da Unicamp e uma bolsa para o supervisor da escola. Essa grande equipe é que define os objetivos das ações de iniciação à docência.” Conforme Prado, essas ações didáticas mostram para o licenciando que a docência é uma atividade circunscrita num contexto social específico e que o local da profissão não é somente a sala de aula – mas sim uma sala de aula que está dentro de uma escola, a qual tem um projeto pedagógico e atende certa comunidade. “O futuro professor tem de refletir sobre o seu exercício profissional levando em conta todas essas esferas
sociais. O PIBID, portanto, evidencia uma problematização da formação do sujeito, do aluno da Unicamp que cursa uma graduação de formação de professores. O estudante pode perceber, por exemplo, o que precisa ser integrado à formação que está recebendo na universidade e que possa ajudá-lo a enfrentar questões que se colocam no dia-a-dia da escola e da prática da docência”, afirma o professor. O PIBID diferencia-se dos estágios obrigatórios curriculares que o aluno de licenciatura tem de realizar, pois além de não ficar circunscrito à semestralidade das disciplinas da universidade, pressupõe o envolvimento contínuo e sistemático do estudante bolsista com as ações de iniciação à docência propostas nos subprojetos, bem como o planejamento conjunto das mesmas. O programa conta com uma equipe composta por 24 docentes, 33 supervisores e 330 bolsistas, distribuídos em 23 escolas públicas. Entre bolsistas e ex-bolsistas do PIBIDUnicamp, soma-se um total de 655 estudantes. Atualmente, a SPFP está elaborando o regimento do programa na Unicamp, que deve estar pronto até meados de julho de 2013, período em que há previsão para que o programa transforme-se em uma demanda de fluxo contínuo nas universidades. Prado e Ayoub consideram que a participação da Unicamp no PIBID pode criar uma cultura nova universitária de valorização da formação docente, assim como ocorre com o PIBIC em relação à iniciação científica. Destacam, ainda, o entendimento de que a formação de professores é também uma formação científica e que o PIBID vem reforçando essa concepção, ao propiciar um conjunto significativo de experiências de iniciação à docência entrelaçadas aos processos formativos acadêmico-científicos.
Fotos: Antoninho Perri
A professora Eliana Ayoub, presidente da SPFP: “Hoje, as escolas que estão na periferia da cidade também podem ser atendidas”
O professor Guilherme Prado: “É preciso uma formação integrada e íntegra, que faça a correlação das disciplinas com a atividade docente”
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Campinas, 3 a 8 de dezembro de 2012
Para além da
partitura MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
eninos e meninas socialmente invisíveis, sem sentimento de posse por deixar na porta de entrada todos os seus pertences (roupas, sapatos e todo o pouco que tinham), vendo-se como ninguém em seus próprios discursos. Diante desta realidade, observada em 1997, quando desenvolveu trabalho de canto coral dentro do Projeto Guri, em uma unidade da Febem, em São Paulo, o músico José Fortunato Fernandes se deu conta de que o profissional precisaria de conhecimentos extramusicais relacionados à sociologia e à psicologia para obter um resultado bem-sucedido com adolescentes em medida socioeducativa. “Lá, eles vivem uniformizados, usam roupa igual e chinelos. Falta essa coisa de sentimento de posse, evidente na criança, que não gosta de emprestar”, exemplifica. Ao voltar à unidade correcional em 2010 para um estudo de campo para sua tese de doutorado, Fernandes certificou-se de que esses fatores socioculturais inerentes aos adolescentes devem ser de conhecimento do educador musical para que o processo de ensino e aprendizagem seja eficaz. Além do estudo de caso, que trouxe resultados importantes para a atuação de quem pretende dedicar-se à educação musical, foi fundamentada em pesquisa bibliográfica. “Eles não têm nada que os diferencie dos outros. Há uma uniformidade. A questão da música começa a dar identidade porque começam a se posicionar em relação à pasta de música, colocam nome nas partituras, preocupam-se com os exercícios para dicção, com a ressonância e se sentem importantes quando percebem que a voz está mais bonita”, testemunha Fernandes. Ao fazer entrevistas com os alunos, o educador percebeu que se apropriam de termos como agudos e graves (específicos de música). Ao ser convocados para apresentação, perguntam ao educador se ele arrumaria camisa melhor, preocupados com a maneira como apareceriam diante dos outros. Os mais variados aspectos, tanto de comportamento quanto de aprendizado da música, que devem ser levados em conta neste tipo de atividade passaram a ser identificados somente quando Fernandes começou a ler autores da área de sociologia. “Por entrar sem preparo, em 1997, tive problemas com indisciplina, falta de motivação, pois não sabia como lidar com adolescentes, escolher conteúdo adequado. Isso falta na formação. Ao mesmo tempo, queria proporcionar algo diferente àqueles adolescentes”. Ele explica que a licenciatura aborda apenas as fases de desenvolvimento psicológico do aluno, não enfocando problemas de indisciplina ou motivação, que, em sua opinião, são pontos básicos. A dinâmica do canto coral naturalmente contribui para desenvolver a socialização, a sensibilidade, a troca, o respeito pelo outro, mas para que isso aconteça, o maestro ou educador musical precisa de um tempo maior com seus educandos e condições de trabalho favoráveis, além de uma formação plena. Mas, como não foi possível conciliar os horários do músico com os da instituição, os encontros foram restritos a uma vez por semana. Durante sua estada na unidade, Fernandes percebeu que a credibilidade com os adolescentes somente seria conseguida por meio de uma relação dialógica e com o estabelecimento de um vínculo afetivo, porém, o pouco tempo de convívio entre educador e educandos impediu também que isso acontecesse. A falta de vínculo afetivo, por sua vez, impediu a tentativa de usar a música como formação de bom caráter, ainda que Fernandes tentasse estabelecer uma relação de conquista por meio de um repertório adequado à realidade dos alunos. “Busquei abordar um repertório eclético que favorecesse o crescimento musical com letras capazes de formar bom caráter, mas o pouco tempo não favoreceu o vínculo afetivo”, explica. Apesar da facilidade em apreender ritmos, os adolescentes, principalmente os meninos, tinham dificuldade com o canto, segundo o autor. Além disso, o maestro tem de levar em conta a fase de mudança de voz para os garotos. “O educador ainda precisa ter conhecimento eclético em música. Não tinha ninguém para me auxiliar na Fundação Casa, nem mesmo a figura do pianista. Assim, a estrutura
O músico José Fortunato Fernandes, autor do trabalho: relação dialógica e estabelecimento de vínculo afetivo com os adolescentes
Publicação Tese: “Educação musical de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa através do canto coral” Autor: José Fortunato Fernandes Orientação: Aci Taveira Meyer Coorientação: José Roberto Zan Unidade: Instituto de Artes (IA)
acaba sendo mais bem-cuidada.” Outra orientação válida a quem pretende trabalhar com esses adolescentes é a preocupação com o grau de dificuldade. “Temos de colocar objetivos fáceis; não podemos ter objetivos artísticos muito altos, senão eles se assustam”. Em 1997, quando ainda era Febem, apesar de fazer arranjos para funk e rap, refinou o repertório aos poucos, com peças de Antonio Carlos Jobim, Marisa Monti, Antonio Calado, Taiguara. “Terminamos com músicas de Chiquinha Gonzaga”, relembra. Segundo Fernandes, muito de sua formação pedagógica foi obtida na experiência dentro do Projeto Guri, pois quando se formou, seu foco era o bacharelado em piano, apesar de a Universidade do Rio de Janeiro (Unirio) oferecer o curso de licenciatura. O projeto, em sua opinião, oferece excelente capacitação, mas faltava a teoria da universidade. Durante as atividades, começou a analisar atitudes que fazem parte do cotidiano dos alunos. Professor também em outros polos do Projeto Guri, Fernandes acrescenta que os problemas são muito parecidos, como situação de risco, desestruturação da família, mas o desenrolar é que faz a diferença. Em outras unidades, o tempo com as crianças também é maior. A maior razão de um menino cumprir medida socioeducativa é a desestruturação da família. O musicista afirma que, se de um lado o educador chega com o desejo de levantar a autoestima dos adolescentes para que façam na vida algo melhor que ser um criminoso, por outro, vê sua energia esfriada pela falta de apoio e investimento de órgãos competentes. Se em 1997 o apoio político possibilitava levar os adolescentes para fazer a abertura do Festival de Inverno de Campos do Jordão, na pesquisa de campo, em 2010, a falta desse mesmo apoio minou a expectativa do grupo de fazer até mesmo uma apresentação interna para pais e funcionários, pois não havia servidores para acompanhar os adolescentes. A camisa melhor foi deixada de lado, a vontade de se apresentar para a família com uma roupa diferente e um sorriso no rosto e todo o projeto de meses, intenso, a duras penas, ficou contido na frustração dos alunos e do educador. Na avaliação de Fernandes, a figura do professor de música é muito importante na vida de uma criança e, mesmo com as dificuldades colocadas em sua trajetória com os adolescentes de instituição corretiva, vez e outra ele recebe uma grata surpresa. Uma delas foi o encontro com um ex-interno que, assim que deixou a Fundação Casa, procurou imediatamente o coro de sua cidade, no interior de São Paulo. “Fiquei muito contente por saber que, apesar do pouco tempo que tínhamos juntos, o estimulei a fazer algo melhor que viver na criminalidade. Às vezes o encontro já na fase adulta, casado e com filhos.” “Oi, prô”, disse-lhe certa vez uma menina, efusiva. Tentando recordar aquele rosto, logo concluiu que seria uma das meninas com as quais trabalhou num polo da capital paulista. “Deve ter tido uma experiência positiva comigo e é importante saber que deixamos alguma marca boa nas pessoas”, contenta-se Fernandes. Em suas considerações finais, Fernandes reflete sobre a falta de textos para educadores musicais. “A musicoterapia difunde para capacitar educadores que trabalham com pessoas com deficiência física e mental, mas não ter material escrito para esses profissionais que trabalham com deficientes sociais”, pondera. A profissão do educador é malvista, pois muitos acreditam que a escolha pela educação é feita pelo fato de o profissional não ter conseguido ser grande instrumentista, na opinião de Fernandes. “Mas para ser bom professor, tem de ser bom músico. Senão, como identificará as necessidades do aluno?” “O que a música pode fazer? Percebemos a carência desses adolescentes, e a música lida com afetividade, trabalhando a sensibilidade. Ela pode provocar sentimentos nobres no adolescente que pode estar mais endurecido com sua realidade. O educador tem de ter essa perspectiva de educação mais humana. Não é só habilidade motora.” Hoje, Fernandes é professor universitário, mas confessa vislumbrar a possibilidade de trabalhar com coro infantil em comunidade carente. “A música tem de ser um meio de conquistar, mostrar que são capazes de cantar e tocar e que as habilidades deles vão além daquele mundinho que frequentam”, reforça.