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Campinas, 25 de fevereiro a 3 de março de 2013 - ANO XXVII - Nº 551 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
Reitoráveis expõem propostas DESAFIOS * ENSINO * PESQUISA * RELAÇÕES SOCIAIS Edgar Salvadori De Decca, José Cláudio Geromel, José Tadeu Jorge e Mario José Abdalla Saad, candidatos à sucessão do reitor Fernando Costa, expõem suas propostas para a área acadêmica. Ensino, pesquisa e relações sociais estão entre os temas debatidos nesta edição. A consulta, que terá votos de professores, alunos e funcionários da Unicamp, ocorre nos dias 6 e 7 de março. Caso nenhum dos quatro candidatos obtenha a maioria absoluta de votos, será realizado um segundo turno, nos dias 20 e 21 de março. Fotos: Antoninho Perri
EDGAR SALVADORI DE DECCA
JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL
JOSÉ TADEU JORGE
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD
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Campinas, 25 de fevereiro a 3 de março de 2013
TUDO SOBRE A CONSULTA A Consulta à Comunidade para Sucessão do Reitor acontecerá nos dias 6 e 7 de março próximo com a participação dos candidatos, pela ordem em que constarão na cédula de votação: José Cláudio Geromel, Mario José Abdalla Saad, Edgar Salvadori De Decca e José Tadeu Jorge. Haverá 26 urnas distribuídas em 5 locais de votação: 11 no Ginásio da FEF, 6 no Setor Hospitalar - Anfiteatro “Paulistão”, 3 na FOP e outras 3 no Campus I da FT e 3 no Campus II da FCA. Caso haja segundo turno, o mesmo ocorrerá nos dias 20 e 21 de março e os procedimentos serão igualmente divulgados. O resultado oficial da consulta à comunidade será encaminhado ao Conselho Universitário, Órgão de Deliberação Superior da Universidade, que por sua vez organizará, mediante votação em Sessão Extraordinária, a lista tríplice a ser encaminhada ao Governador do Estado.
FIQUE ATENTO Vote em apenas 1 candidato. Não é permitido o voto por procuração. Não será permitida a entrada nos locais de votação de material de propaganda dos candidatos para fixação ou distribuição. Não será permitida boca de urna dentro da área delimitada pela COC. Docentes que também são alunos votam como docentes. Servidores que também são alunos votam como servidores. Alunos de residência médica votam como alunos.
APURAÇÃO DOS VOTOS Os votos serão apurados no Ginásio da FEF, no dia 07.03.2013, somente após a chegada de todas as urnas. A apuração será feita por categoria, pelo conjunto das respectivas urnas, não havendo, portanto, identificação de resultados por urna ou por local de votação. Na Faculdade de Educação Física serão instalados três telões, sendo dois internos ao Ginásio e um externo, para divulgação dos resultados. A ponderação dos votos seguirá o estabelecido na Deliberação CONSU-A-16/12. O Colégio Eleitoral será composto do número de integrantes da respectiva listagem básica, acrescido do número de integrantes da listagem complementar correspondente, que tenham votado.
CONHEÇA OS CANDIDATOS Fotos: Antoninho Perri
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA OS DIAS DA CONSULTA Visando ao andamento regular dos trabalhos durante a votação, a Comissão Organizadora da Consulta expede as seguintes orientações: Os debates entre candidatos poderão ser realizados até 48 horas antes da data fixada para a realização da consulta. Nos dias determinados para a consulta estão proibidas as seguintes atividades: 1. transporte de eleitores em carros oficiais; 2. utilização de qualquer aparelhagem de som; 3. distribuição de qualquer material de propaganda nas áreas de votação determinadas pela COC; 4. uso de material de propaganda (roupas, bótons, adesivos etc.) nos recintos de votação por mesários, apuradores, pessoal de apoio e COC; 5. qualquer tipo de orientação a votantes, nos locais de votação, por fiscais de candidatos; 6. participação de mesários, apuradores, pessoal de apoio e COC em qualquer ato de propaganda ou convencimento nos locais de votação; 7. permanência dos fiscais junto às mesas de votação, urnas, cabinas e mesas apuradoras, além do limite estabelecido pela COC; 8. permanência de votantes e candidatos, nos locais de votação, após o voto; 9. permanência de fiscais nos locais de votação sem crachá de identificação; 10. manipulação de qualquer material referente à consulta por parte de fiscais.
EDGAR SALVADORI DE DECCA
QUEM PODE E QUEM NÃO PODE VOTAR DOCENTES Votam: os docentes das carreiras MS, MTS, MST, DEER, DEL e MA, vinculados até o dia 08.02.2013. Não votam: os aposentados, os professores e pesquisadores colaboradores e os admitidos em caráter emergencial. SERVIDORES Votam: os servidores com vínculo empregatício regular com a UNICAMP até o dia 08.02.2013, inclusive os pertencentes à Carreira PQ. Não votam: servidores aposentados, contratados por convênios, admitidos em caráter emergencial, estagiários, patrulheiros e bolsistas. ALUNOS Votam: todos os alunos de graduação, veteranos e ingressantes até a 3ª chamada do vestibular, pósgraduação (lato e stricto sensu), aprimorandos e residentes matriculados até o dia 27.02. 2013. Não votam os alunos dos colégios técnicos, exalunos da Universidade e alunos de extensão.
LOCAIS E HORÁRIOS DE VOTAÇÃO UNICAMP - ANFITEATRO “PAULISTÃO” 1 urna para docentes, 4 urnas para servidores e 1 urna para alunos. Das 9h às 20h30min* * no dia 06, apenas para servidores, a votação se iniciará às 6 horas da manhã.
VOTAM NO “PAULISTÃO”:
É pesquisador Nível 1B do CNPq, formou-se em História e concluiu o seu doutorado em História Social pela USP em 1979. Professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, ocupou o cargo de pró-reitor de Graduação no período de 2005-2009, tendo coordenado o projeto de criação e implantação do campus de Limeira. Atualmente é vice-reitor e coordenador-geral da Unicamp, além de ser o representante da Universidade junto ao Conselho Estadual de Educação e membro do Conselho Diretivo do Instituto de Estudos Brasil-Europa (IBE), consórcio de universidades brasileiras e europeias com financiamento da União Europeia. Foi também coordenador de graduação, de pós-graduação, chefe de departamento, diretor associado do IFCH e coordenador adjunto da Comvest. Foi presidente da Associação Nacional de História (ANPUH). Participou de projetos de pesquisa em colaboração, dentre eles o projeto da História da Industrialização de São Paulo, o projeto TPTI: Techniques, Patrimoines, Territoires de l’industrie: Histoire, Valorisation, Didactique, em parceria com a Universidade de Paris-Sorbonne, a Universidade Fudan de Xangai, a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), a Universidade de Pádua, Itália e a Unicamp, e o projeto temático Saberes Eruditos e Técnicos na Configuração e Reconfiguração do Espaço urbano – Estado de São Paulo, Séculos XIX e XX. Participou de atividades de pós-doutoramento na Universidade de Munique e na École de Haute Études en Sciences Sociales de Paris. Escreveu, entre vários livros, “1930 - O Silêncio dos Vencidos”, em 6º edição, “O Nascimento das Fábricas”, em 12º edição, e em coautoria, “Fábrica e Homens”, em 6º edição. Publicou artigos e capítulos de livros tanto no Brasil como no exterior, em países como Alemanha, Áustria, Argentina, França, Itália, Portugal e Estados Unidos.
JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL Formou-se engenheiro, concluiu o mestrado e a livre-docência na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp em 1975, 1976 e 1987, respectivamente. Entre os anos 1976 e 1979 trabalhou no LAAS / CNRS, Toulouse, França onde obteve o título de Docteur d’État ès Sciences. É professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, pesquisador 1-A do CNPq e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Trabalhou como professor convidado em diversas instituições científicas no Brasil e no exterior, destacando-se sua permanência, durante o ano de 1987, no Instituto Politécnico de Milão – Itália. Recebeu em 1994, o prêmio Zeferino Vaz e, em 2007, o prêmio Scopus concedido pela Elsevier e pela Capes. Durante o período 1998-2002 foi pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp. Em 1999 foi nomeado Chevalier dans l’Ordre des Palmes Academiques pelo Ministro da Educação Nacional da França. Em 2010 recebeu o título de Docteur Honoris Causa da Universidade Paul Sabatier, Toulouse, França, e foi nomeado membro da Ordem Nacional do Mérito Científico pelo Presidente da República do Brasil. Em 2011 foi nomeado Distinguished Lecturer pela IEEE Control Systems Society. Publicou vários livros, sendo o último deles Controle Linear de Sistemas Dinâmicos – Teoria, Ensaios Práticos e Exercícios (Edgar Blucher, 2011).
JOSÉ TADEU JORGE É professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Graduou-se em Engenharia de Alimentos na Unicamp (1975), onde também realizou mestrado em Tecnologia de Alimentos (1977) e doutorado em Ciências de Alimentos (1981), concentrando suas pesquisas na área de tecnologia pós-colheita, na qual estudou produtos minimamente processados, armazenamento de produtos agrícolas e propriedades físicas de materiais biológicos. Em 1992 titulou-se professor livre docente, professor adjunto em 1995 e professor titular em 1996. Foi diretor da Feagri de 1987 a 1991, diretor executivo da Funcamp de 1990 a 1992, chefe de gabinete da Reitoria de 1992 a 1994, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário de 1994 a 1998, novamente diretor da Feagri de 1999 a 2002, vice-reitor da Unicamp de 2002 a 2005 e reitor da Unicamp de 2005 a 2009. Exerceu o cargo de secretário municipal da Educação de Campinas de 2009 a 2011. Foi membro do Conselho Superior da Fapesp de 2006 a 2012. Participou de vários conselhos/comitês, destacando-se: Memorial da América Latina, TV Cultura – Fundação Padre Anchieta, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rede Universia Brasil, Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/SP. Presidiu a Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos. É membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp desde 2008.
Docentes da FCM e da Faculdade de Enfermagem, incluindo os da carreira DEER; Servidores da FCM, da Faculdade de Enfermagem, Cepre, Cecom, Gastrocentro, Hemocentro, HC, Caism, CEB, DEDIC; Alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, médicos residentes e aprimorandos.
UNICAMP – GINÁSIO DA FEF 2 urnas para docentes, 4 urnas para servidores e 5 urnas para alunos. Das 9h às 20h30min
VOTAM NO GINÁSIO: Docentes do Cotuca e das Faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA e Cotil), inclusive das carreiras DEL e MA. Servidores das Faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA, Cotil e Planta Física), de toda a Administração Central, Centros e Núcleos (inclusive CPQBA e exceto CEB), Cotuca e Escritório de São Paulo, além dos pertencentes à carreira PQ; Alunos das Faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT e FCA). Alunos do Cotuca não integram o colégio eleitoral da Consulta.
PIRACICABA – FACULDADE DE ODONTOLOGIA 1 urna para cada categoria (docente, servidor e aluno). Das 9h às 17h VOTAM NA FOP: Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FOP, inclusive integrantes de carreiras especiais.
LIMEIRA – CAMPUS I - FT 1 urna para cada categoria (docente, servidor e aluno). Das 10h às 20h30min
VOTAM NA FT Docentes e servidores do COTIL e FT Servidores da Planta Física Alunos de graduação e pós-graduação da FT. Alunos do COTIL não integram o colégio eleitoral da Consulta.
LIMEIRA – CAMPUS II - FCA 1 urna para cada categoria (docente, servidor e aluno). Das 10h às 20h30min
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD É diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, em segundo mandato, desde julho de 2010. É professor titular do Departamento de Clínica Médica da FCM, onde atua desde 1986. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Obesidade e Diabetes. Publicou cerca de 230 artigos em revistas internacionais, tendo sido citado mais de 6.900 vezes na literatura científica internacional. Já orientou 66 alunos de iniciação científica, 18 alunos de mestrado, 26 alunos de doutorado e supervisionou 10 pós-doutorados. Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (1979), fez residência, mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo, no campus de Ribeirão Preto. Realizou pós-doutoramento (1990-1992) na Harvard University, nos Estados Unidos. É coordenador adjunto da Área de Saúde da Fapesp desde 2005, e membro da Academia Brasileira de Ciências desde 2007. É pesquisador 1A do CNPq desde 1996. Foi coordenador do Comitê de Saúde do CNPq (2003 a 2005). Foi eleito como representante de São Paulo junto ao Conselho Federal de Medicina (1998 a 2004). Na Unicamp, foi coordenador da Subcomissão de Pós-Graduação em Clínica Médica (1994-1996) e coordenador da Comissão de Pós-Graduação da FCM (1996-1998). Foi Diretor da FCM (1998 a 2002), e representante docente no Conselho Universitário (2003 a 2005), eleito após expressiva votação. No período entre maio de 2009 e junho de 2010, foi diretor “pro-tempore” da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) em Limeira. Em 1992, recebeu o prêmio “New Investigator Award” da Sociedade Americana de Endocrinologia e obteve o reconhecimento acadêmico “Zeferino Vaz” da Unicamp por duas vezes, em 1997 e 2004. Em 2008, foi laureado Comendador da Ordem do Mérito Científico pela Presidência da República.
VOTAM NA FCA: Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FCA
DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO Todos os votantes deverão ter em mãos um dos seguintes documentos: Docentes e servidores: carteira de identidade funcional ou documento oficial com foto Alunos: carteira estudantil ou documento oficial com foto
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali
Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Felipe Barreto e Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
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Os candidatos têm a palavra Nesta e nas próximas oito páginas, os quatros reitoráveis expõem os principais pontos de seus programas nas áreas do ensino, da pesquisa e das relações sociais, a partir de perguntas formuladas pelo Jornal da Unicamp
DESAFIOS
Em sua opinião, quais os principais desafios que serão enfrentados pela Unicamp nos próximos anos? Como superá-los? JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – Estamos perdendo o fôlego e o ímpeto do passado. Em consequência, entre outras tantas dificuldades, para além dos assuntos acadêmicos e científicos, todos são obrigados hoje a suplantar dificuldades decorrentes de uma burocracia pesada. O número de alunos aumenta, o de docentes diminui em muitas unidades. Propomos: a) Implantar uma gestão que imponha total transparência em todos os seus atos. A transparência deve compreender a parte financeira e ir além dela, expondo com clareza todos os atos de gestão; b) Elaborar um plano diretor para estabelecer os usos e a ocupação dos espaços físicos da Universidade. Isto exige a instalação de uma Agência de Urbanismo e Meio Ambiente que tratará também da poluição, da coleta do lixo, dos resíduos sólidos e tóxicos, da reciclagem e do equilíbrio do ecossistema; c) Colocar a administração a serviço de todos, com o objetivo de dar maior autonomia às unidades, simplificando ao máximo os procedimentos administrativos, abolindo os vícios burocráticos. d) Estabelecer parcerias equilibradas com outras universidades e centros de pesquisa nacionais e internacionais; e) Adotar a isonomia de vencimentos globais entre os servidores das três universidades públicas paulistas, olhando o orçamento de forma responsável; e f) Dialogar constantemente com todas as unidades de ensino e pesquisa da Universidade de maneira a apoiar aquelas que já apresentam resultados de alta qualidade e estimular a melhoria daquelas que não tenham ainda respondido aos critérios reconhecidos de excelência. Projetos de natureza interdisciplinar serão incentivados. Estas propostas envolvem grandes mudanças em paradigmas que exigem urgente enfrentamento. Com novos paradigmas, metas factíveis serão estabelecidas e verificadas no decorrer do tempo. Com eles, emergirá uma nova forma de gestão na qual suas atividades-fim caibam de forma orgânica num modelo claro da Universidade que queremos: humanista, acadêmica, democrática e com real protagonismo na vida científica, intelectual e cultural do país. JOSÉ TADEU JORGE – A Unicamp tem uma história que a coloca entre as melhores universidades do Brasil e da América Latina, e que a projeta no cenário internacional da produção de conhecimento. Um novo passo nessa história vai depender de decisões a serem tomadas agora e que mostrem que a Unicamp pode expandir sua capacidade de formar profissionais e pesqui-
sadores para atuar como cidadãos responsáveis e conscientes, e de gerar conhecimento novo nos diversos domínios da ciência, da filosofia e das artes. E isso só pode ser feito se a Universidade enfrentar os desafios de hoje no âmbito do ensino de graduação e pós-graduação, no campo da pesquisa e na ampliação de suas relações com a sociedade, articulando-os com as projeções sociais e políticas da vida brasileira atual. O sucesso desse projeto garantirá seu lugar no futuro das relações multilaterais da política científica internacional. Nos itens que se seguem, apresentamos algumas das nossas propostas para enfrentar esses desafios.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Destacamos quatro desafios: apoio à graduação; programas de inclusão social; desburocratização; e recursos humanos. Quanto ao primeiro, além da melhoria da infraestrutura em todos os campi e substituição de docentes devido à aposentadoria, pensamos em uma série de ações no sentido de valorizar o ensino de graduação. Em nosso programa podem ser identificadas mais de 30 propostas para a graduação. Para nós, é muito claro que o ensino de graduação é a base de todas as ações da vida universitária. Em relação ao segundo ponto, vamos aprimorar e ampliar dois programas de sucesso: o PAAIS e o ProFIS. Nosso desafio imediato será encaminhar a discussão sobre os programas de inclusão com mérito no âmbito da Unicamp e posteriormente implantar o que a Universidade decidir. Com relação ao terceiro ponto, estamos convencidos de que precisamos fazer uma profunda análise dos procedimentos administrativos, com vistas a melhorar a organização de trabalho e aperfeiçoar o fluxo de qualquer tipo de processo, diminuindo as instâncias com manifestação obrigatória. É necessário ainda fornecer apoio significativo para os procedimentos administrativos importantes, criando escritórios de suporte nas Unidades, para que os docentes possam se dedicar efetivamente às suas atividades-fim. É importante destacar ainda que precisaremos realizar diversas ações no que diz respeito à política de recursos humanos: rever as carreiras dos funcionários, os processos de avaliação, trabalhar no sentido de ter um regime único (Esunicamp), bem como buscar a isonomia salarial com a USP. A Unicamp é o que é graças às pessoas que aqui trabalham e estudam, e, portanto, a sua qualificação, a sua satisfação profissional e o seu bem-estar devem estar entre as prioridades da administração.
Fotos: Antoninho Perri
EDGAR SALVADORI DE DECCA – Nós, da chapa “Unicamp: compartilhe!”, propomos a toda a comunidade universitária um programa de gestão alicerçado em compromissos fundamentais para os próximos anos: 1) Redirecionar a atuação da Unicamp como instituição protagonista no cenário local, nacional e internacional. Devemos ultrapassar o atual quadro de conhecimentos fragmentários em prol de temas amplos de relevância contemporânea; 2) Sem prejuízo dos convênios vigentes, em particular com a Europa e América do Norte, propomos uma internacionalização soberana e independente, que seja pró-ativa em relação a parcerias em projetos de desenvolvimento com justiça social, na Ásia, África e América Latina, valendo-se de acordos e cooperações já vigentes, mas criando novos eixos em parceria com o Estado brasileiro e com instituições internacionais; 3) Inclusão social e étnica com qualidade, eis nosso desafio e compromisso, através de uma intervenção pró-ativa da Unicamp no ensino público fundamental e médio de toda a região de seus campi; 4) Revalorizar nossos recursos humanos, docentes, discentes e técnico-administrativos com respeito e diálogo será nossa tarefa permanente. Para os professores, entre outros aspectos, a Unicamp deve rever em profundidade o modelo atual de avaliação docente. Convidamos os servidores para um tempo de respeito e diálogo – e para isso propomos uma mesa permanente de diálogo e análise sobre disfunções internas e externas da carreira, e os meios viáveis de sua solução. Para os estudantes, temos como meta a ampliação de vagas na graduação, além de uma revisão da política da moradia estudantil; 5) A Unicamp deve voltar a liderar as inovações no ensino superior. Valorizar e viabilizar a criação de novos cursos multi-intertransdisciplinares de graduação e pós-graduação. Atuar nas agências de fomento para ajustá-las a esta pauta, e não o contrário, este deve ser nosso propósito como Universidade de excelência; 6) Revitalização da convivência cultural e didática no período noturno, do Ciclo Básico às bibliotecas e outros equipamentos. Vamos atuar junto ao poder público municipal e estadual para estabelecer novos meios transporte, inclusive o projeto de um trem urbano, entre a região ampliada do distrito de Barão Geraldo e o campus; e 7) Esses compromissos somente poderão ser efetivados se os campi se converterem em espaços públicos de cultura, arte, conhecimento e vida.
Vista área do campus da Unicamp no distrito de Barão Geraldo: candidatos apontam os principais desafios da Universidade
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ENSINO Qual o seu projeto para o ensino de graduação?
EDGAR SALVADORI DE DECCA – Queremos que a Unicamp volte a liderar as inovações no ensino superior. Priorizar valores, princípios e conteúdos da formação geral para entender que “os tempos estão mudando” rapidamente, exigindo novos profissionais-cidadãos com visão ampla e integrada dos problemas humanos, e preparados para encarar os desafios deste novo século. Partindo de um modelo mais atualizado, vamos restaurar a proposta de formação multidisciplinar que está em nossas origens, quando a Unicamp surpreendeu a cultura acadêmica nacional. Será nesse mesmo espírito que planejamos um núcleo educacional na Estação Guanabara. A graduação implica em milhares de estudantes com demandas muito específicas, pois apenas ela mantém cursos noturnos. Está no nosso programa a ideia de um completo reordenamento das condições deste período letivo, com a reunião de todos os cursos no prédio do Básico, independentemente de Unidade. Será uma Cidadela Universitária do Noturno, com uma biblioteca básica, atividades artísticas, cantina, etc., dando àqueles que estudam e trabalham à noite condições adequadas de sociabilidade. Vivemos um período com possibilidades inéditas para que os alunos façam estágios em universidades no exterior, com resultados excelentes em termos de alargamentos dos horizontes culturais. Este é um caminho a ser explorado ao máximo. A questão das cotas trará um novo desafio para a Universidade, pois recairá sobre ela, ao lado da sua atividade fundamental de ensino, pesquisa e serviço, a função de indenizar milhares de jovens dos efeitos da brutal desigualdade social brasileira. A universidade recebeu a função de solucionar os problemas de ineficiência do ensino fundamental e médio, que não foram resolvidos quando e onde deveriam tê-lo sido. Haverá um impacto sobre o trabalho acadêmico ainda por ser devidamente avaliado. Vamos enfrentar esses desafios de braços abertos, elaborando uma estratégia de maior inserção social através da graduação, incluindo uma ampliação do programa de moradia, dada a elevada participação de jovens pertencentes a famílias de menor renda. Inclusão social e étnica com qualidade, eis um desafio e compromisso que não poderá, entretanto, ser definido por entidades externas à Unicamp, governamentais ou não, para suprir interesses eleitorais ou outros. O Conselho Universitário é nossa instância soberana máxima para definir a estratégia para chegarmos a 50% de nossas vagas de graduação preenchidas por alunos oriundos da escola pública. Sem essa ação transformadora toda inclusão será apenas panaceia de efeito fugaz. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – É na graduação que se deve começar a construir uma sólida formação técnica e humanística dos nossos alunos, que farão a diferença na condução do futuro do país. É nela que se formarão os mais importantes pesquisadores. Eis o que propomos: a) Aumentar progressivamente o número de vagas docentes para que o ensino possa recuperar qualidade e dinamismo. As unidades de ensino e pesquisa, em conjunto com a Comissão de Vagas Docentes, definirão um projeto de expansão da Universidade com a adoção de critérios transparentes a serem discutidos nas suas instâncias competentes; b) Melhorar as condições de vida dos alunos, particularmente dos de menor poder aquisitivo de maneira a que tenham garantidas condições de moradia, transporte, alimentação e cultura. Uma estratégia de ampliação do número de bolsas para a graduação se impõe; c) Melhorar a infraestrutura das salas de aula pela proposição de um projeto básico a ser implementado em todas as unidades de ensino, com o objetivo de aumentar o conforto e qualidade de trabalho para alunos e professores; e d) Dinamizar a compra de livros. Melhorar os ambientes comuns e de estudo de nossas bibliotecas. Aportar recursos para que as unidades de ensino aprimorem seus laboratórios. Entendemos que o papel da Reitoria no que diz respeito ao ensino é de oferecer total apoio às decisões emanadas das unidades da Universidade. Um cronograma de atendimento dos seus pleitos será estabelecido com seus diretores. Neste sentido, o apoio às atividades de ensino de graduação será tratado com prioridade orçamentária e de gestão. O foco central será de articular conhecimento e inovação. JOSÉ TADEU JORGE – O projeto para a graduação envolve um conjunto
de ações que começam no ingresso na Universidade e passam pelo aumento de vagas, qualidade do ensino, relações entre ensino e pesquisa e a permanência do aluno na Universidade. A Unicamp deve contribuir de modo decisivo no debate nacional sobre as formas de acesso à Universidade. Isso deve ser feito de maneira a não só encontrar o seu modo de tratar a questão, mas também de traçar o melhor caminho para abrir a Universidade cada vez mais. É necessário buscar novos modos de acesso, sempre mantendo a qualidade da formação. Para isso contamos com a experiência bastante consolidada da Comvest e com os resultados já obtidos com o PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social) e o ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar), que muito podem contribuir nesse debate. Vamos manter o PAAIS, abrindo uma discussão sobre como adequálo às novas condições da sociedade e buscando relacioná-lo com a nova política de inclusão social do Pimesp (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista). Queremos promover amplo debate sobre o Pimesp na Unicamp. Faremos uma avaliação dos resultados do ProFIS para definir ações mais efetivas de acesso à Universidade. Nos últimos quatro anos a Unicamp, diferentemente do que vinha fazendo em períodos anteriores, deixou de investir no aumento de vagas no vestibular. É necessário retomar as ações para aumentar as vagas nos cursos de graduação, articulando estas ações ao compromisso do aumento de número de docentes, sem o que a qualidade estará comprometida. Nosso projeto prevê ainda ações de revisão das atuais estruturas curriculares, visando maior flexibilização e a interdisciplinaridade, assim como incentivo às atividades de ensino à distância, e de mudanças na avaliação dos alunos e dos docentes na graduação. Finalmente, propomos a ampliação das ações de apoio e de bolsas destinadas aos estudantes oriundos de famílias com menor nível de renda.
Fotos: Antoninho Perri
Sala de aula (acima) e estudantes (abaixo) no Ciclo Básico, e candidatos em prova do vestibular da Unicamp (na parte inferior da página)
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Graduação é o principal foco de nosso programa. A expansão de vagas, o compromisso científico, cultural e social com as propostas de educação inclusiva, a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, e o aprimoramento contínuo dos cursos de graduação são imprescindíveis para oferecer uma formação arrojada, dinâmica, inovadora e socialmente responsável. A valorização da graduação passa também pelo estabelecimento de uma política consistente de abertura de concursos para a substituição de docentes aposentados e pelo oferecimento de apoio técnico-pedagógico para unidades e cursos que desejem promover reestruturações curriculares e qualificação continuada. É igualmente importante apoiar ideias e projetos educacionais que tenham impactos significativos na aprendizagem, consolidando instrumentos de avaliação que forneçam dados e inspirem a reflexão permanente sobre os rumos da graduação, bem como dar especial atenção aos cursos de licenciatura destinados à formação de professores da educação básica, apoiando diversas ações que potencializem a relação Universidade-escola. Nossa gestão trabalhará sempre pela melhoria da infraestrutura, garantindo recursos financeiros para que os cursos de graduação, diurnos e noturnos, disponham das condições necessárias, em consonância com seu crescimento e modernização. Coerentemente com nossos princípios gerais, a valorização do docente deve ocupar lugar de destaque na prática e na avaliação de atividades. Docentes motivados, cursos com infraestrutura adequada, propostas curriculares inseridas nas necessidades do mundo contemporâneo, formação cultural e científica ampla e estudantes identificados com seus cursos são condições para a excelência dos cursos de graduação Foto: Antonio Scarpinetti
Campinas, 25 de fevereiro a 3 de março de 2013
Foto: Antonio Scarpinetti
Frequentemente, se diz que as atividades de ensino deveriam ser mais valorizadas. Qual é sua opinião sobre isso e o que pretende fazer a respeito? EDGAR SALVADORI DE DECCA – O ponto de partida deve ser o redirecionamento da atuação da Unicamp como instituição protagonista no cenário local, regional, nacional e internacional. Devemos ultrapassar o atual quadro de conhecimentos especializados, mas fragmentários, em prol de temas gerais de relevância contemporânea, entre os quais a questão do desenvolvimento sustentável, a inclusão social e étnica com alta qualidade cultural e científica, a produção de conhecimento para a vida, a questão dos direitos humanos no Brasil e no mundo, a crise ambiental, as crises de representação política e os novos desafios da construção democrática, os impasses globais do capitalismo financeiro, relações multilaterais Sul-Sul, a arte e a cultura como processos críticos num mundo globalizado. O que queremos dizer é que a valorização da atividade de ensino só se realizará se conseguirmos ativar um cotidiano da comunidade baseado em uma dinâmica de conhecimento, de cultura e política ativa e coletiva. Isto é, se rompermos com a atual dinâmica dominada pelo produtivismo fundado num crescente individualismo, tanto no ensino como na pesquisa. Uma boa formação não se resume na obtenção de rendimento elevado nas avaliações nacionais e nos processo de seleção nas empresas: ela exige capacidade de conhecimento multidisciplinar e autonomia e, considerandose a natureza pública da Unicamp, identificação com a agenda nacional de prioridades sociais. A valorização do ensino somente ocorrerá quando coletivamente a comunidade tiver claro porquê e para quê estuda e pesquisa. No passado, a Unicamp teve um projeto multidisciplinar de ensino que lhe deu, em uma década de vida, rápido protagonismo científico e político, no plano nacional e internacional. Perdemos esse reconhecimento. Somente com sua reconquista poderemos valorizar o ensino de graduação, processo que não depende da criação de prêmios ou de retribuições monetárias adicionais, mas de uma identidade coletiva que não mais temos. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – Sim, devem ser, e conosco serão, mais valorizadas. Nenhuma universidade de excelência abre mão de bem formar os seus alunos. Este é, por sinal, um modo de devolver à sociedade o apoio recebido pelos recursos financeiros. Para tanto é necessário: a) Estabelecer no âmbito da Cadi um modelo de avaliação, em conjunto com as unidades acadêmicas, que leve em conta o ensino de graduação. Isto proporcionará uma efetiva influência de tais atividades sobre a carreira do professor. Os aluFoto: Antonio Scarpinetti
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Estudantes caminham no Ciclo Básico; abaixo, aula no Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes nos serão chamados a participar de forma responsável e ativa desse esforço de avaliação; b) Conceder aos professores dos cursos noturnos um adicional compatível com a importância dessa atividade. Os novos valores serão estudados com transparência, prioridade e responsabilidade orçamentária no âmbito do Consu; e c) igualar o recém-criado prêmio pela excelência das atividades de ensino de graduação, em todos os aspectos, ao prêmio “Zeferino Vaz”. A existência de diferenças como ocorre atualmente confere, de forma indevida, menor importância à atividade docente. O equilíbrio entre ensino, pesquisa e extensão deve ser reconhecido na sua plenitude ao valorizar as atividades de ensino exatamente como as demais. A Unicamp deve isso aos seus docentes e, por conseguinte, priorizará todo o esforço para estabelecer um modelo que permita levar esse aspecto em máxima consideração. Por outro lado, prêmios associados ao desempenho acadêmico dos alunos serão criados.
JOSÉ TADEU JORGE – O principal papel da Universidade é o de formar profissionais e pesquisadores altamente qualificados. Para desempenhálo, a Unicamp deve articular de maneira equilibrada suas atividades-fim: ensino em seus diversos níveis, geração de conhecimento novo por meio da pesquisa e as relações com a sociedade nas suas atividades extensionais e assistenciais. Na Unicamp, nos momentos de escolha dos dirigentes, é fato notório que o ensino costuma ocupar posição de grande destaque. Contudo, nem sempre a prática corresponde às intenções. A história recente da Unicamp é um exemplo, com uma valorização crescente da pesquisa em relação ao ensino e também à extensão/assistência. No último quadriênio, a Unicamp expandiu em apenas 0,3% suas vagas no vestibular, invertendo uma tendência de crescimento adotada pela Universidade desde o início da década passada e caminhando na contramão das outras universidades públicas brasileiras, inclusive as paulistas.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Sim, as atividades de ensino de graduação e de pós-graduação devem ser mais valorizadas. De modo objetivo, no Relatório de Atividades, tem que se valorizar de modo equânime as atividades de formação de recursos humanos, de produção de conhecimento e de interação com a sociedade. Embora a atividade de pesquisa constitua um dos eixos principais das atividades dos docentes, é preciso considerar de modo não absoluto o seu peso na avaliação, atendendo às especificidades das áreas de atuação e às inclinações pessoais. Assim, os que têm o ensino como área preferencial devem poder demonstrar que estão fazendo ensino de qualidade e relevância, com atualização e inovação de conteúdos, técnicas e processos; os que atuam preferencialmente na pesquisa devem apresentar os resultados, destacando a qualidade, a divulgação e o impacto do conhecimento produzido; e os docentes que atuam preferencialmente em extensão devem ter a oportunidade de deixar claro que suas atividades favorecem o avanço do conhecimento acadêmico ou são essenciais para a formação do profissional da área em que atuam. Com isto, o Relatório de Atividades deve ser um documento que reflita o desempenho global do período avaliado, permitindo ao docente valorizar a área em que mais atuou (ensino, pesquisa ou extensão), justificando sua dedicação e ressaltando seus resultados. No que se refere ao ensino, cremos ainda que é importante valorizar, no relatório, as inovações curriculares que buscam qualificar a formação acadêmica da graduação e pós-graduação. Do ponto de vista da administração, a valorização do ensino implica, entre outras medidas de caráter geral, o oferecimento de condições ótimas para o desenvolvimento das atividades, provendo uma infraestrutura adequada de salas de aula, bibliotecas e laboratórios, bem como a consolidação o Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem, que realizará oficinas e auxiliará no desenvolvimento de ações consequentes para a melhoria do ensino e da aprendizagem. Foto: Antoninho Perri
Além disso, deixou-se de implantar cursos novos de graduação já aprovados pelo Conselho Universitário. Outro exemplo da falta de valorização do ensino de graduação foi o valor atribuído ao recém-criado “Prêmio de Reconhecimento Docente Pela Dedicação ao Ensino de Graduação”, inferior ao tradicional “Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz”, que se destina principalmente aos docentes que se destacam na pesquisa. Em consequência dessa falta de valorização do ensino constata-se o decréscimo no número de concluintes dos cursos de graduação desde 2007.
Alunos da graduação durante atividade na Faculdade de Ciências Aplicadas, em Limeira
Uma primeira ação no sentido de valorizar o ensino é buscar, de fato, maior equilíbrio no tripé das atividades-fim, concentrando esforços e recursos em atividades de ensino, nas suas mais diversas formas. De modo direto, apenas para citar alguns exemplos, é necessário voltar a discutir a expansão da graduação e da pós-graduação em áreas do conhecimento ainda não cobertas, e que têm forte impacto para o desenvolvimento sócio-econômico do país; valorizar ainda mais o desempenho docente no ensino da graduação, atribuindo-se a importância devida e merecida às atividades de avaliação docente e institucional; equiparando o valor dos Prêmios já citados; incentivando as unidades a constituir núcleos docentes estruturantes para assessorar as comissões de graduação. Foto: Antoninho Perri
Aspecto da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (à esquerda) e, à direita, candidata durante prova de aptidão
Foto: Antonio Scarpinetti
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A pós-graduação da Unicamp é reconhecida com uma das melhores do Brasil. Qual será sua política para a pós? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Como já dissemos antes sobre a graduação, a Unicamp deve voltar a liderar as inovações no ensino também na de pós-graduação. Atualmente, a Unicamp possui um sistema de pósgraduação de qualidade, mas pautado pelas orientações das instituições de fomento de ciência e tecnologia. Atuar nas agências de fomento para ajustálas à nossa pauta, e não o contrário, este deve ser nosso propósito como universidade de excelência. Em suma, nossa pós-graduação perdeu personalidade e capacidade de diferenciação em relação aos programas de outras universidades. Além disso, possuímos um sistema fragmentado, onde os desafios institucionais foram transferidos para as unidades, cabendo à Pró-Reitoria a função burocrática de acompanhamento dos programas e orientação das tarefas institucionais que cada um deve cumprir. É fundamental que o quadro atual seja transformado e que o sistema de pós-graduação responda às exigências externas considerando os objetivos estratégicos de ensino e pesquisa institucionalmente relevantes. A superação da fragmentação institucional dos programas por outra de natureza articulada e multidisciplinar deve ser o norte de um sistema de pós-graduação com sinergias internas, e consistente com os objetivos da Unicamp. Priorizar valores, princípios e conteúdos da formação geral para atender a necessidade crescente de profissionais-cidadãos, com visão ampla e integrada dos problemas humanos, sejam os sanitários, sociais, econômicos, políticos, artísticos, culturais, científicos, tecnológicos e ambientais, preparados para encarar os desafios deste século XXI tão mutante. Neste sentido, encaminhamos a necessidade de uma vida mais ativa dos estudantes de pós-graduação seja na pesquisa como de suas relações nas unidades e com a própria Universidade, através de uma maior flexibilidade e multidisciplinaridade dos currículos, de uma maior vinculação dos estudantes com projetos institucionais de pesquisa e de uma ampliação de sua vida cultural e política na Universidade. Devemos agir em prol de novas redes para novas questões nas fronteiras do conhecimento universalizante, digno de nossa massa crítica e da sociedade que nos patrocina. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – A pós-graduação da Unicamp é a melhor do Brasil. Isso ocorre desde que a Capes implantou o modelo de avaliação há mais de uma década, até os dias atuais. Nossa política para a pós-graduação tem os seguintes eixos: a) Incentivar a elaboração de projetos interdisciplinares entre diferentes unidades acadêmicas. Incentivar a cooperação nacional e internacional da Unicamp com outras universidades públicas brasileiras e universidades estrangeiras de renome; b) Incentivar a criação de novos cursos e de cursos inovadores, subordinado a uma política mais abrangente de expansão da universidade; c) Melhorar a infraestrutura dos ambientes de ensino e pesquisa; e D) Conferir especial atenção aos programas com notas 4 e 5, pensando, com eles, as estratégias de aprimoramento. Estimularemos o estabelecimento e o fortalecimento de parcerias de nossos docentes com colegas de outras universidades por meio de programas de visitas estabelecidos por ambas as partes para participação em projetos específicos. JOSÉ TADEU JORGE – O sucesso da pós-graduação da Unicamp é resultado não somente dos esforços institucionais, mas fundamentalmente, do trabalho dos docentes e discentes que sempre se pautaram pela qualidade. É com base nessas constatações que propomos um programa de ações para a pós-graduação capaz de orientar esforços de gestão para ampliar o perfil de qualidade já estabelecido e definir novos cursos a serem criados. Queremos promover uma discussão sobre os caminhos da pós-graduação no Brasil por meio da participação ativa e construtiva junto a todos os níveis do Estado Brasileiro. A Unicamp deve adotar procedimentos de acompanhamento dos cursos que permitam identificar dificuldades e auxiliar na busca de sua superação. Ao mesmo tempo, deve dar apoio específico para os cursos que ainda não alcançaram os indicadores de alto desempenho, alocando recursos humanos e materiais segundo prioridades definidas pelo planejamento estratégico. Queremos desenvolver valores e critérios próprios de análise dos programas de pós-graduação, complementando eventuais carências do sistema de avaliação da Capes, sempre respeitando a diversidade e as características intrínsecas das várias áreas do conhecimento.
Acima, defesa de tese e, na parte inferior da página, pesquisadoras em laboratórios da Universidade A administração central irá estabelecer, junto com as unidades e as coordenações de cursos, as condições de formação e aperfeiçoamento permanentes para os funcionários que atuam no apoio à pós-graduação. A atuação da administração central da Universidade deve se pautar pelo diálogo produtivo com as unidades e os programas de pós-graduação, que precisam ter autonomia na formulação de políticas e na definição de ações, sempre com o objetivo de alcançar o alto desempenho. Ela se pautará pelo absoluto respeito às diferenças ligadas às características, procedimentos e políticas de cada Unidade e de cada programa de pós-graduação. As possibilidades de expansão da pós-graduação na Unicamp encontram seus limites no arranjo disciplinar convencional. É necessário fomentar e valorizar a criação de programas interdisciplinares integrando as atividades das unidades de ensino e pesquisa com seu sistema de centros e núcleos multidisciplinares, buscando atender às demandas contemporâneas na formação de profissionais e pesquisadores.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Ao mesmo tempo em que os diversos indicadores quantitativos, tais como a quantidade de alunos ingressantes e o número de defesas, dentre outros, indicam que a pós-graduação da Unicamp já alcançou há vários anos um regime de equilíbrio, os avanços em termos Foto: Antonio Scarpinetti
qualitativos da nossa produção artística, literária ou científica, sempre fortemente atrelada à sólida formação de nossos pós-graduandos, são claramente visíveis. E é precisamente nos avanços qualitativos que residem os principais desafios para o futuro da pós-graduação da Unicamp. Alguns pontos específicos do nosso programa são: estudar a criação de cursos e/ou atividades de pós-graduação, via parcerias, visando incrementar a atuação da Unicamp na inovação tecnológica, bem como a formação de recursos humanos altamente qualificados em áreas de alta demanda, como as de energia, biotecnologia, nanotecnologia, tecnologia de informática entre outras; estimular os programas de pós-graduação a adotar iniciativas relacionadas à internacionalização; auxiliar programas de pós-graduação com conceitos abaixo de 5 na Capes, bem como aqueles recém-criados, para que possam melhorar a sua avaliação; criar incentivos aos programas para promoverem ações de cooperação internacional, com aumento da mobilidade estudantil para estágios no exterior e acolhimento de estudantes e pesquisadores do exterior; ampliar o Programa de Estágio Docente (PED) a fim de qualificar nossos pós-graduandos para atuar no sistema nacional superior de ensino e pesquisa. No âmbito de infraestrutura, vamos elaborar um Plano de Auxílio à Gestão das Comissões de Pós-Graduação que permitirá o funcionamento mais rápido e uniforme em todos os cursos da Unicamp.
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Fotos: Antoninho Perri
Encontro de alunos estrangeiros (acima) e estudantes da Unicamp que participaram de intercâmbio em Londres (abaixo) Foto: Divulgação
Embora não seja o único, a mobilidade de estudantes e professores é um dos principais aspectos no processo de internacionalização das universidades. Quais os seus planos para ampliar a experiência internacional de estudantes e professores da Unicamp, bem como para receber professores e estudantes do exterior? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Acreditamos que deve ser a partir de um patamar de exigência interno à comunidade, e não ditado por agências ou instituições externas, que devemos redefinir nossa política acadêmica de internacionalização, atualmente à mercê de ações pontuais e dispersas, caudatárias de mentalidade ainda subalterna, para não dizer colonizada. Participar mais ativa e criativamente do programa Ciência Sem Fronteiras deve ser um alvo complementar. Sem prejuízo de todos os convênios vigentes e efetivos, em particular com a Europa e América do Norte, propomos uma internacionalização soberana e independente, que seja proativa em relação a parcerias em projetos de desenvolvimento com justiça social, na Ásia, África e América Latina, valendo-se de acordos e cooperações já vigentes, mas criando novos eixos, em parceria com o Estado brasileiro, mediante as agências nacionais de fomento e os ministérios pertinentes, além de instituições internacionais. A ideia básica é propor em breve tempo ao Consu a abertura de campi avançados da Unicamp em áreas estratégicas no exterior, com a participação efetiva de nossos docentes, funcionários e estudantes. A mobilidade de professores e estudantes é parte indissociável do desenvolvimento da Universidade, mas para que ocorra e fortaleça o processo de internacionalização, ela necessita ter suporte um institucional amplo. Temos ampliado a mobilidade de estudantes para fora, mas ainda é restrito o números de estudantes recebidos pela Unicamp. Quanto aos professores,
a mobilidade tem crescido, mas é pequena a parcela dos professores mais jovens com realização de pós-doutorado no exterior e a chegada de estrangeiros para realização de estágio na Unicamp. O intercâmbio, em especial de professores, é extremamente importante para a consolidação de uma base de acordos associados a projetos de cooperação internacional. Somente com a realização destes pontos se efetivará uma internacionalização robusta da Universidade. Visando ampliar a mobilidade, propomos a reorganização da Cori estabelecendo duas subcoordenadorias: uma, orientada para o encaminhamento dos processos administrativos de intercâmbio, tarefa que atualmente domina as atividades da instância; e outra, com foco no desenvolvimento das relações institucionais para a realização e suporte dos acordos internacionais e de atividades conjuntas entre Universidades conveniadas.
JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – De fato, o trabalho realizado no exterior oferece ao docente e ao aluno uma percepção mais ampla de como se ensina, se aprende e se faz ciência fora dos nossos muros. Nos dias atuais, ter uma visão global dessas atividades e de suas implicações é essencial para a formação e consolidação de lideranças científicas. Nesse sentido, é preciso dar prioridade a essa atividade que consideramos estratégica. Propomos as seguintes ações: a) Expandir as atividades do Centro de Ensino de Línguas com a contratação de mais professores. Priorizar esforços para desenvolver uma estrutura moderna e eficiente que promova o ensino a distância de línguas inclusive para os estrangeiros que aqui chegam para trabalhar e estudar; b) Desenvolver dentro da Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais uma estrutura eficaz dedicada a dar suporte para os alunos e professores, brasileiros ou estrangeiros, que vise facilitar o início da estadia seja no Brasil, seja no exterior; c) Estabelecer um programa eficaz para a realização de eventos internacionais na Universidade bem como para a visita de professores estrangeiros com inquestionável liderança científica nas suas áreas de atuação; e d) Facilitar a equivalência de disciplinas cursadas no âmbito de convênios de intercâmbio estudantil. Nosso objetivo é prover condições para que todos os participantes de intercâmbios se dediquem e se integrem o mais rapidamente possível às atividades acadêmicas e científicas que devem desenvolver e se insiram, de fato, na nossa cultura e costumes. JOSÉ TADEU JORGE – Apesar de ser uma das mais importantes universidades do mundo, a Unicamp não tem uma estratégia clara de atuação na esfera internacional. É preciso construir uma estratégia audaciosa e compatível com a importância da Unicamp. Por meio da internacionalização, desejamos criar alunos com comportamento participante, visão diferenciada e crítica, capazes de ponderar valores e de exercer suas atividades e influências como cidadãos do Brasil e do mundo. Queremos ampliar a prática do intercâmbio internacional de forma a que todos os que têm interesse em usufruir dessa oportunidade, façam parte da formação no exterior, orientada para temas e instituições que compartilhem da nossa estratégia de internacionalização. Promoveremos discussões permanentes sobre os destinos mais adequados para nossos alunos, de acordo com as características de cada área.
Pretendemos ainda estender a possibilidade de estágio no exterior para o aprimoramento de funcionários de apoio técnico e administrativo. Para tanto, é necessário um grande programa de línguas que envolva o ensino das línguas estrangeiras aos nossos alunos e o ensino de português para estrangeiros. Há que se dar apoio continuado aos pós-graduandos vindos do exterior para que possam aprender e dominar nossa língua e cultura, de forma a atuarem como embaixadores do Brasil quando do seu regresso ao país de origem. A pertinência deve também estar presente nas relações de pesquisa com instituições no exterior. Nesse sentido, há que se dar mais autonomia às unidades para que elas mesmas construam e formalizem suas colaborações, apoiando a contratação de profissionais capazes de auxiliar os docentes nos contatos e trâmites internacionais. A Unicamp não deve se limitar a promover as relações acadêmicas com universidades estrangeiras mais destacadas do que ela própria. Muitas universidades com menos recursos nos veem com admiração, mas recebem relativamente pouca atenção. Propomos que a Unicamp tenha uma postura internacional pró-ativa, construindo relações sólidas com universidades de todos os tipos e em várias regiões do mundo.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – A internacionalização é condição essencial para que uma Universidade tenha, de fato, expressão mundial. Assim, incentivaremos de todas as formas a assinatura de acordos entre as unidades da Unicamp e instituições de ensino e fomento à pesquisa de vários países, para desenvolver ações que contribuam para a formação internacional dos seus alunos e para o avanço da pesquisa. Com relação especificamente à pós-graduação, nossa proposta é selecionar, no exterior, instituições e/ ou programas mais adequados à cooperação com a Unicamp e estimular a intensificação da cooperação, por meio da dupla titulação e cotutela, bem como da criação de Overlapping Programs, nos quais parte dos créditos pode ser obtida nas instituições parceiras. Para gerir os assuntos relativos à internacionalização da Unicamp, vamos consolidar o Comitê Assessor de Internacionalização. E para melhor atender às demandas dos brasileiros que viajam para o exterior e dos estrangeiros que pretendem vir ou já estão no Brasil, é urgente reformular a estrutura administrativa da Cori, tornando-a mais ágil e eficaz. Entendemos também que é necessário desenvolver ferramentas computacionais que permitam matrícula antecipada e gerenciamento de vagas para estrangeiros nas turmas de disciplinas, bem como, complementarmente, ampliar a oferta de cursos de idiomas aos alunos, funcionários e professores da Unicamp, para estimular e facilitar a interação da comunidade com os visitantes. Um ponto que merece atenção é a recepção e apoio aos estrangeiros, seja para orientá-los quanto à sua instalação no país, seja para propiciar a sua integração, por meio do aprendizado da língua e do conhecimento da nossa cultura. Para oferecer apoio a todo esse leque de atividades, criaremos uma linha específica de financiamento a ações que visem à internacionalização, como realização de workshops e a missões de docentes para estabelecimento de programas de cooperação de interesse das unidades e da Universidade.
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A Unicamp responde por parcela significativa da pesquisa acadêmica no Brasil. A pesquisa na Unicamp pode ser melhorada? Em que direção?
PESQUISA Fotos: Antoninho Perri
EDGAR SALVADORI DE DECCA – A produção científica da Unicamp é volumosa e crescente, porém realizada de modo fragmentado e individualizado, mesmo quando seus resultados são assinados por diversos autores. Ela está desvinculada de uma agenda institucional e de uma dinâmica coletiva orientada por objetivos comuns. Em geral, pesquisadores que atuam em salas ou laboratórios vizinhos desconhecem os trabalhos uns dos outros. Propomos trabalhar para modificar esta situação, seja em razão de não mais sabermos o porquê e para quê socialmente esta produção científica está sendo realizada. Lançamos a proposta de uma agenda do conhecimento a ser construída em um diálogo multidisciplinar, com a participação das comunidades interna e externa da Unicamp. A agenda deverá mapear temas relevantes no campo científico, cultural e político, orientando as iniciativas da Universidade, seja em termos de financiamento como de investimento das atividades de pesquisa e, também, de ensino. Ela não competirá com as iniciativas individuais de cada professor, mas virá com o objetivo de complementá-la e apoiá-la no seu desenvolvimento, porém com a postura crítica que caracteriza a construção do conhecimento. Em suma, propomos que se estabeleça uma maior organicidade e inserção política da pesquisa na Unicamp, buscando criar sinergias e ampliar os resultados em termos coletivos dos esforços individualmente realizados. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – Justamente por ser responsável por parcela significativa de tudo o que é realizado em pesquisa no nosso país (mais de 15%) que a Unicamp deve se aprimorar e inovar. É importante que a interdisciplinaridade ocorra não apenas na pesquisa, mas também no ensino. Deste modo, pesquisas envolvendo conjuntamente as áreas tecnológicas, exatas e biológicas estão entre aquelas que devem ser desenvolvidas e apoiadas com vigor. A preocupação com patentes deve atingir as ciências básicas. O estabelecimento de convênios com o objetivo de transferir conhecimento para o setor produtivo da sociedade será incentivado e os procedimentos administrativos serão simplificados de forma a manter, no máximo possível, as decisões no âmbito das unidades de ensino e pesquisa. Da mesma forma, cursos interdisciplinares e inovadores de graduação e de pós-graduação nos moldes da modalidade Física-Médica darão grande visibilidade à Universidade e constituirão novos polos de atração de alunos para os seus quadros. JOSÉ TADEU JORGE – No campo da pesquisa científica, é preciso avançar sempre, principalmente no tocante aos temas de maior impacto, tanto de interesse nacional quanto internacional. É preciso criar condições institucionais para estimular os pesquisadores a saírem da solidão de suas salas, escritórios e laboratórios e a se dedicarem a discutir e participar de grandes temáticas da pesquisa contemporânea. Dessa forma será possível aumentar ainda mais o impacto da pesquisa aqui realizada. Dentre as ações específicas para o avanço da pesquisa, destacamos: criar mecanismos para dar agilidade à análise, aprovação e gestão de convênios, contratos e projetos de pesquisa, retirando da responsabilidade dos docentes uma série de etapas burocráticas que o desviam do objetivo principal; adotar uma política pró-ativa junto às agências de fomento com o objetivo de aumentar o volume de recursos captados; expandir o parque instrumental da Unicamp, contemplando a aquisição de equipamentos cuja obtenção junto aos órgãos de fomento nem sempre é possível; atuar junto aos órgãos responsáveis pela emissão ou liberação de licenças para pesquisa na área médica, importações de insumos biológicos e químicos e importação de equipamentos; dar apoio logístico a visitantes internacionais que vêm à Unicamp para estabelecer acordos de cooperação e projetos de pesquisa; dar apoio administrativo e contábil às unidades nas atividades de compra e de prestação de contas para execução de projetos de pesquisa; aumentar os recursos financeiros destinados ao apoio de docentes recémcontratados; lançar periodicamente editais internos de infraestrutura, com o objetivo de atualizar equipamentos e infraestrutura de pesquisa; estimular e dar suporte técnico/financeiro para a acreditação de laboratórios de pesquisa segundo normas ISO17025, ou Boas Práticas de Laboratório (BPL), garantindo aporte de recursos para contratação de técnicos, treinamento, adequação predial, manutenção de equipamentos, calibrações, compra de materiais certificados, estudos interlaboratoriais, auditorias e segurança ocupacional e ambiental. MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – A pesquisa científica na Unicamp é muito dinâmica e exige ações perenes por parte da administração superior, que possibilitem obter avanços significativos quanto à escala e à qualidade da nossa pesquisa. Tais ações envolvem a criação de infraestrutura adequada e a garantia de apoio administrativo, de gestão e técnico, à pesquisa, permitindo que o pesquisador possa concentrar melhor seus esforços nas atividades-fim. Por exemplo, é vital manter os investimentos por meio dos Editais Anuais de Infraestrutura, que serão incorporados ao orçamento geral da Universidade. Como também é vital, para as áreas das Humanidades, desenvolver uma política consistente de priorização dos investimentos em bibliotecas e arquivos. Com a aceleração da produção do conhecimento, é também de primeira importância promover debates institucionais sobre diretrizes de ética e integridade acadêmica, bem como criar mecanismos para defender a propriedade intelectual de resultados de pesquisa, sem prejuízo de acesso aberto às publicações dos resultados das pesquisas desenvolvidas na Unicamp, majoritariamente financiadas com verba pública. E para garantir a continuidade do trabalho, é de extrema importância ampliar o apoio aos docentes e pesquisadores em início de carreira, de tal forma que eles possam ter plena condição de se instalar em um bom laboratório ou sala de trabalho, dispor de equipamentos, bases de dados e demais acervos bibliográficos, e contar com recursos necessários ao melhor desempenho na sua pesquisa. Também nos propomos a criar escritórios de pesquisa nas Unidades e Centros e Núcleos, para que os pesquisadores possam ter apoio adequado. Por fim, entre outras medidas pontuais que se podem ler no nosso programa, há uma da maior relevância, que é aumentar significativamente os recursos do Faepex.
Nesta e na próxima página, pesquisadores em laboratórios de diferentes unidades da Unicamp
A interação entre ensino e pesquisa sempre foi um dos pilares da Unicamp. Em sua opinião, essa interação já está consolidada? Se não, onde é preciso ser melhorada? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Apesar de ser uma característica da história da Unicamp, a integração entre pesquisa e ensino conhece um processo de deterioração bastante longo. Este vínculo na graduação é tênue, sendo que a iniciação científica tem servido, muitas vezes, para que o estudante realize tarefas que a pesquisa de seu orientador requer, muitas vezes desenvolvidas sem conhecimento devido da razão e do objetivo que elas carregam. Na pós-graduação, mesmo que mais presente, a relação entre ensino e pesquisa encontra uma situação complicada, pois dissertações e teses podem ter vínculo com a área de pesquisa do orientador, mas não fazem parte de uma dinâmica coletiva e crítica de pesquisa. Cada vez mais, pressionase pela redução dos prazos de elaboração de dissertações e teses e pela produção de ensaios, levando que a trajetória de pesquisa do estudante seja abandonada quando a formação é concluída, em especial nas áreas com maior probabilidade de inserção no mercado de trabalho. Se os resultados da relação ensino e pesquisa são visíveis do ponto de vista quantitativo, pouco ou nada sabemos em termos qualitativos e de continuidade da atividade de pesquisa pelos egressos da graduação e pós-graduação. É por esta razão que defendemos a elaboração de uma agenda do conhecimento e uma racionalização dos currículos com fortalecimento das atividades extraclasse e da formação multidisciplinar, visando a conformação de um espaço crítico e de diálogo, e natureza coletiva e permanente na Unicamp. Também, acreditamos que o vínculo entre pesquisa e ensino será qualitativamente fortalecido com uma vida coletiva e ativa cultural e política nos campi. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – A interação intensa entre ensino e pesquisa foi, de fato, um dos pilares não só da Unicamp, mas de todas as grandes universidades de pesquisa, ou seja, aquelas em que a preocupação maior ultrapassa a formação profissional. Tal interação proporciona aos alunos o que há de mais atual e relevante para a sua formação. Entretanto, na contramão desse importante preceito, a Unicamp recentemente decidiu implantar nas suas unidades acadêmicas a carreira de pesquisador, sem nenhuma atribuição de atividades de ensino. Pretendemos discutir a reversão dessa decisão e, por conseguinte, ganhar mais espaço para expandir o quadro docente na Universidade. JOSÉ TADEU JORGE – A pesquisa compõe, juntamente com o ensino e a extensão, a base em que se assentam as atividades da Unicamp, contribuindo de forma intensiva no fortalecimento do ensino e na transferência do conhecimento novo gerado na Universidade para a sociedade. O papel destacado que tem a pesquisa na Unicamp é expresso por seus indicadores nessa área, que incluem a responsabilidade por 12% da produção científica do país, o maior número de artigos publicados em relação ao corpo docente, e um dos mais elevados percentuais de pesquisadores com bolsa de produtividade científica do CNPq em todas as áreas de conhecimento. O ensino, quando ministrado em um ambiente rico em pesquisa, tende a ser mais moderno e a transferir mais rapidamente para as disciplinas ministradas os aspectos mais recentes de determinada área de conhecimento, favorecendo a formação acadêmica e profissional sólida e diversificada. Um grande volume de recursos é injetado na Universidade pela pesquisa. Esses recursos são captados por iniciativa de docentes e pesquisadores e beneficiam de maneira muito expressiva as atividades de ensino. Uma ação destacada em nosso programa que trará impacto significativo para o fortalecimento da interação entre ensino e pesquisa é a otimização do processo de análise e aprovação de contratos e convênios. Propomos a criação de uma
Foto: Antonio Scarpinetti
câmara que atuará após a aprovação nas unidades de origem. Essa câmara terá poder de decisão e será composta por um secretário executivo e por representantes de todas as instâncias da administração central envolvidas. Isso eliminará a necessidade de várias passagens de um mesmo processo por essas instâncias, diminuindo significativamente o tempo de tramitação. O Faepex é um mecanismo com grande potencial de articulação entre o ensino e a pesquisa, e deverá ser repensado para articular mais solidamente essas duas atividades fundamentais. Além disso, serão mantidos e fortalecidos os programas tradicionais da Unicamp que integram o círculo virtuoso entre pesquisa e ensino em seus vários níveis, tais como o PIBIC, PIBIC/AF, PIBITI, PICJr, “Ciência e Arte nas Férias”, bolsas PAD e PED, entre outros.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – A relação ensino-pesquisa na ciência atual requer que sejam contempladas a modernização do ensino, a internacionalização e a interdisciplinaridade. A pesquisa está intimamente relacionada à pós-graduação, e a pós-graduação também possui um forte relacionamento com a graduação, pois quase 1.500 PEDs atuam anualmente em atividades de suporte ao ensino de graduação. Uma iniciativa que merece atenção, por promover continuidade entre graduação e pós-graduação, é o Programa Integrado de Formação (PIF). Vamos estimular o PIF, promovendo ações conjuntas entre as Coordenações de Graduação e de Pós-Graduação para viabilizá-lo para os programas que dele desejarem participar. Outro ponto importante do nosso programa é a proposta de aproximar os colégios técnicos da Universidade. Tal aproximação se fará não apenas investindo muito na sua infraestrutura, mas principalmente por meio de uma política de incentivo para que os seus docentes deem prosseguimento à sua carreira acadêmica, possam obter financiamento em linhas específicas do Faepex e se integrem de modo mais efetivo nas várias atividades da Universidade. Também nos propomos a estimular a celebração de acordos de parceria entre os colégios, e dos colégios com faculdades e institutos, de modo que os alunos do ensino médio tenham acesso aos laboratórios e às pesquisas desenvolvidas na Universidade. Na área de formação de professores, essa interação também precisa ser consolidada por meio de diversos programas e ações que nos propomos a realizar.
Campinas, 25 de fevereiro a 3 de março de 2013
A pesquisa interdisciplinar constitui um fator cada vez mais valorizado no meio científico. O seu programa de gestão contempla alguma linha de ação para avançar nesse aspecto? EDGAR SALVADORI DE DECCA –Apesar de veiculada à importância da pesquisa multidisciplinar, são frágeis as ações e as políticas institucionais da Unicamp visando sua real efetivação. A fragmentação e a especialização é a característica principal da produção acadêmica, inclusive estimulada pelos órgãos de fomento de ciência e tecnologia. Esta situação é estranha à origem da Unicamp, mostrando como a Universidade se adequou às determinações externas, abafando sua própria voz. É por esta razão que nosso programa está organizado em dois eixos, com destaque para uma agenda estratégica do conhecimento. Perspectiva ausente nas demais proposições, que se concentram nos temas que tratamos no eixo estrutural e que o fazem em uma perspectiva fragmentada. Nossa posição defende interdisciplinaridade, mas sob uma ótica de formação e da pesquisa multidisciplinar. Não basta relacionar conhecimentos diversos, é necessário que haja uma integração entre eles através de esforços coletivos. Neste sentido, é fundamental que uma perspectiva estratégica guie a próxima gestão, a qual, a nosso ver, passa pela elaboração da agenda do conhecimento, da racionalização dos currículos existentes e da criação de novas formações baseadas na articulação e integração do conhecimento. Ademais, acreditamos que este esforço deve ser validado socialmente, razão pela qual propomos um amplo conjunto de iniciativas visando ativar as relações internas à Unicamp, e desta com as cidades de seus campi e com a sociedade brasileira. Somente uma multidisciplinaridade efetiva pode dar a razão pela qual formamos e pesquisamos. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – Já ressaltamos muito que a pesquisa interdisciplinar é um fator importante no atual cenário científico nacional e internacional. Mais ainda, é a pesquisa interdisciplinar que agrega inovação, novas tecnologias e novos procedimentos. Além dos acadêmicos e científicos, os aspectos administrativos devem ser considerados. A Unicamp não dispõe, no momento, de uma estrutura administrativa simples e eficiente que permita gerenciar adequadamente esforços científicos interdisciplinares. Uma estrutura que venha sanar essa necessidade será adotada no mais breve intervalo de tempo. JOSÉ TADEU JORGE – A Unicamp foi pioneira na constituição de uma estrutura interdisciplinar de pesquisa com a criação, há quase quatro décadas, de seu primeiro centro interdisciplinar. Foi dado início assim, de forma inovadora e criativa, à estruturação do conjunto de Centros e Núcleos Interdisciplinares, atualmente contando com 21 deles. Sob coordenação da Cocen, eles constituem um sistema dinâmico e produtivo com estrutura e papel acadêmico-institucionais bem definidos. Atuam nesses órgãos pesquisadores e docentes de distintas vinculações disciplinares que, articulados em temas e objetos complexos e próprios da interdisciplinaridade, desenvolvem pesquisa de forma complementar às unidades de ensino e pesquisa. No tocante às atividades de ensino, os centros e núcleos têm colaborado ativamente com a pós-graduação e a graduação, salientando-se também sua contribuição em atividades e projetos de extensão, e sua prestação de serviços até mesmo para a própria universidade. Nos últimos anos, esse sistema tem aportado à Unicamp um volume significativo de recursos extra-orçamentários para a pesquisa. Por outro lado, é fato que há ainda, na prática da pesquisa interdisciplinar, um potencial a ser explorado, com benefícios para o ensino. Propomos que essa grande experiência na pesquisa interdisciplinar acumulada pela Unicamp seja aproveitada de maneira mais ampla no ensino de graduação e de pósgraduação. Na graduação, o programa de revisão das estruturas curriculares que faz parte de nossa proposta deverá ter como um dos seus eixos a interdisciplinaridade, assim como as propostas de cursos novos. Na pós-graduação, vamos fomentar e valorizar a criação de programas de cunho interdisciplinar, que busquem superar as barreiras naturalmente impostas pelos arranjos disciplinares convencionais. Na pesquisa, os temas interdisciplinares possuem grande impacto e oferecem respostas às grandes inquietações da sociedade, devendo assim ser estimulados. Já a extensão tem uma vocação naturalmente inter e multidisciplinar, a qual deve ser apoiada em prol do fortalecimento das relações entre Universidade e sociedade.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Não isoladamente, pois a interdisciplina-
ridade deve permear todas as atividades da Universidade, pois é benéfica a todas elas. Logo, ela aparece em vários momentos e em praticamente todas as propostas referentes à pesquisa, ao ensino e à extensão. No ensino, por exemplo, um dos pontos de nosso programa é oferecer apoio técnico-pedagógico para as unidades e os cursos que desejem promover reestruturação curricular; outro é manter e ampliar o ProFIS, que tem por base dotar os alunos da rede pública de formação geral e visão crítica, em parte gerada pelo conhecimento interdisciplinar. O ProFIS tem o mérito de promover a inclusão social pela via da formação geral, inovação no ensino que terá impactos importantes no futuro da pesquisa e da extensão, assim como as diversas iniciativas da mesma natureza que incrementaremos em nossa gestão. Na pesquisa, trataremos de valorizar, por meio de editais específicos, as atividades de natureza inter-, multi- e transdisciplinar desenvolvidas nas unidades e nos centros e núcleos. Também consolidaremos as ações de diversos Centros e Núcleos, assim como do Centro de Estudos Avançados, que têm como prática atuar sem fronteiras disciplinares. Assim, em todos os níveis, ensino, pesquisa e extensão, a interdisciplinaridade tem sido reveladora de um importante potencial de sinergia entre diferentes áreas do conhecimento. Não falamos apenas da dissolução de fronteiras de áreas com afinidades epistemológicas: na FCA, por exemplo, os diálogos entre as Ciências Humanas e outras áreas do conhecimento tradicionalmente delas isoladas devem ser incrementados, pois as incipientes atividades interdisciplinares naquela unidade da Unicamp têm trazido benefícios em todos os níveis da atividade acadêmica.
Os indicadores internos de inovação apresentam crescimento constante, o que coloca a Unicamp no ranking das universidades que mais depositam patentes no Brasil. Qual sua política para esse setor? EDGAR SALVADORI DE DECCA –Este é um tema que exige um debate mais amplo na comunidade, pois valoriza somente a inovação que resulta na produção de patentes. Apesar da sua inegável importância, ela não expressa a complexidade da capacidade real e potência de inovação que a Unicamp possui. Cabe fortalecer a inovação que resulta em patentes, mas é preciso ao mesmo tempo estabelecer uma política mais ampla, que identifique as contribuições que a Universidade transfere para a sociedade, buscando inclusive estimulá-las ao dar a elas maior visibilidade. Um das áreas de inovação que consideramos relevante, sem demérito das demais, volta-se para o desenvolvimento da educação básica no país. A Unicamp tem uma ampla capacidade para produzir materiais didáticos e paradidáticos nas diversas formas de mídia, inclusive na modalidade de ensino a distância. Propomos um projeto estratégico nesta área, tão carente no desenvolvimento social brasileiro. Pode-se ainda apontar a importância de a Universidade fortalecer inovações no atendimento à saúde, na segurança alimentar, do desenho e gestão de políticas públicas e sociais, de energia, dentre outras. É preciso, portanto, estabelecer uma nova política institucional de fomento à inovação que, de modo suficientemente, seja capaz de abranger a complexa capacidade que a Universidade possui de produzir conhecimento, tanto em termos econômicos como socialmente válidos. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – A Unicamp tem um desempenho singular nesse setor. Ele surgiu com a criação da Inova. É um esforço que deve ter continuidade, mas com o reestabelecimento das atribuições originais dessa agência: as de um órgão responsável em prestar apoio técnico às decisões que envolvam patentes e inovações. A Inova deve estar a serviço das unidades para oferecer assessoria técnica aos convênios que tenham essas características. Não deve atuar como instância responsável por emitir pareceres nos mais diversos convênios e contratos, mas sim atuar segundo as demandas solicitadas pela nossa comunidade acadêmica. Desejamos manter e expandir de forma qualificada a preocupação com patentes e inovação não apenas no chamado setor produtivo, mas também no de pesquisa básica. JOSÉ TADEU JORGE – A Unicamp, com base em sua qualidade acadêmica e científica, deve estimular ações que façam com que o conhecimento e a tecnologia gerados cheguem até a sociedade e contribuam para o desenvolvimento do país. O compartilhamento do conhecimento como base para a inovação tem sido uma tendência mundial contemporânea, com a universidade agindo como catalisadora do processo de inovação. Nela, os resultados de algumas pesquisas podem ser protegidos por meio de pedido de patente, gerando assim uma invenção protegida. A invenção em si não gera automaticamente a inovação. Para que isso ocorra é necessário que empresas, em parcerias com as universidades, transformem o conhecimento e a tecnologia – protegida ou não - em inovações para a sociedade. Assim, a universidade assume o papel de parceira e não apenas fornecedora das instituições participantes das atividades de inovação. Nas áreas não tecnológicas, as parcerias para a inovação podem se dar com órgãos públicos para levar a essas esferas o conhecimento gerado com grandes benefícios sociais e de cidadania. As patentes não devem ser consideradas como o único indicador de inovação, pois o número de patentes depositadas mostra apenas que a universidade tem potencial inventivo, não assegurando a contribuição efetiva para gerar inovação. É importante também que a Universidade amplie seus indicadores de inovação, permitindo aferir não só o desempenho acadêmico, mas também os benefícios e impactos econômico, social, ambiental, resultantes dos projetos e das parcerias – tecnológicas ou não – que a Universidade desenvolveu. Propomos uma política de fortalecimento e incentivo à participação da Unicamp no processo de inovação com ações que incluem o aprimoramento da metodologia de identificação de projetos inovadores nas unidades/órgãos,
9 Fotos: Antoninho Perri
Alunos conferem trabalhos expostos no Congresso de Iniciação Científica Foto: Antonio Scarpinetti
incremento da interação com instituições diversas, melhoria e inserção da atividade de incubação na política de inovação, estímulo ao empreendedorismo dos alunos, adequação da infraestrutura e serviços de apoio necessários e qualificação e capacitação da organização e sua gestão.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – A Inova talvez seja o exemplo mais evidente de como a Unicamp se destaca no panorama nacional e latino-americano de inovação tecnológica. A Inova foi criada há menos de 10 anos e, graças em grande parte ao seu trabalho, a Unicamp consolidou o seu protagonismo no estímulo à inovação e empreendedorismo no ambiente universitário, preservando os princípios acadêmicos. Com a experiência adquirida, pretendemos dar um novo salto, aperfeiçoando as ações já implantadas e ampliando a sua abrangência, através do ensino de graduação e pós-graduação, para que nossos alunos se tornem criativamente independentes e contribuam como agentes de transformação do seu entorno. Especial atenção deve ser dada à educação empreendedora e para a inovação, por meio do apoio a iniciativas já existentes e da ampliação da oferta de disciplinas curriculares pelos institutos e faculdades da Unicamp, com a mobilização de competências complementares por meio da ativa participação da Inova. Precisamos ainda consolidar o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, aumentando a interação da Universidade com empresas públicas e privadas, e projetar a criação de um parque tecnológico, envolvendo Inova e Secretarias Municipais e Estaduais nos campi de Limeira, com apoio e financiamento de órgãos federais, estaduais e municipais. Queremos também promover o crescimento significativo do número de empresas start-up nas novas instalações da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, fortalecendo o ecossistema de inovação. Pretendemos ainda criar uma linha no Faepex dedicada a aumentar a atratividade dos resultados de nossas pesquisas para parceiros, visando ao seu desenvolvimento e disponibilização na Sociedade. A Política Institucional de Propriedade Intelectual também será aprimorada, visando atender melhor aos interesses institucionais e também favorecer o estabelecimento de parcerias estratégicas em pesquisa e desenvolvimento.
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RELAÇÕES SOCIAIS Fotos: Antoninho Perri
Profissionais da área de Saúde durante atividades e atendimentos no Hospital de Clínicas, no Hospital Estadual de Sumaré, na Faculdade de Odontologia de Piracicaba e no Caism: referência
O exemplo mais visível da interação da Unicamp com a sociedade é sem dúvida a área hospitalar, referência para o sistema público de saúde da região. A qualidade de seus serviços, porém, não impede que haja problemas de financiamento e de saturação em sua capacidade de atendimento. Como espera solucionar essas questões? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Precisamos urgentemente de uma reordenação da relação da Unicamp com a sociedade. Na área da saúde está sendo encaminhado um novo modo de gestão, que merece atenção, em especial no que diz respeito ao futuro dos recursos humanos do segmento incorporados pela Unicamp. A autarquização do HC foi recentemente aprovada pelo Consu, mas em nossa opinião deveriam existir outras alternativas de gestão da área da saúde. Considerando que o HC é hospital escola poderíamos negociar com a Secretaria de Saúde do Estado, a gestão compartilhada do HC, ficando para a Unicamp a aplicação de recursos para manutenção das atividades de ensino e para a Secretaria da Saúde as despesas de infraestrutura e de custeio para o atendimento dos pacientes. A preocupação com essa parceria deve ser ampla, pois a universidade deve estimular suas relações com a sociedade em todos os campos. Não devemos, portanto, pensar numa única solução, como se a autarquia do HC fosse a solução ideal para resolvermos a relação da Universidade com o atendimento à saúde da população da região metropolitana de Campinas. Acima de tudo, temos que deixar claro para os agentes do executivo estadual a dupla função preenchida pela Universidade na aplicação de seu orçamento anual. Devemos repactuar com o Executivo Estadual um acordo em que as partes envolvidas possam definir as suas atividades fins: no caso da Unicamp, ter o hospital como complemento da formação profissional e, por parte do Estado, o encargo da parcela de custos relativos ao atendimento da saúde da população, além de atender aos investimentos de infraestrutura, de renovação de equipamentos e parte da contratação de funcionários. JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – A área hospitalar da Unicamp é notável por sua atuação em favor de todos os cidadãos, em particular dos mais pobres, através do SUS. Além disso, a área hospitalar está associada a uma unidade de excelência acadêmica e científica que é a Faculdade de Ciências Médicas e, agora, contará com a participação de uma nova unidade que é a Faculdade
de Enfermagem, recentemente criada. Tem feito inúmeras contribuições no gerenciamento profissional de hospitais da região metropolitana de Campinas e através dos serviços de saúde disponibilizados pelo Cecom e pelo Caism. Não obstante, devido ao seu tamanho, a área hospitalar deixou de ser um hospital-escola com objetivos circunscritos ao ensino e à pesquisa. Deste modo, é preciso que outros atores sejam chamados para sanar os problemas de financiamento e de saturação de sua capacidade de atendimento. É preciso adotar todo o empenho para que a Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo seja um participante central e efetivo desse esforço.
JOSÉ TADEU JORGE – Área de grande visibilidade junto à população, a área de Saúde da Unicamp vem cumprindo com destaque suas atribuições acadêmicas e sociais há várias décadas. Além de suas funções de ensino, de pesquisa e assistenciais, tem atuado de forma exemplar apoiando a implementação e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao mesmo tempo, a área de Saúde tem convivido com problemas decorrentes da saturação crônica de sua capacidade de atendimento, da incorporação de custos devido à aquisição de novas tecnologias, e das dificuldades de financiamento. Uma questão relevante é a urgente necessidade de implementação de um novo modelo de gestão administrativa, orçamentária e financeira para suas unidades, que proporcione maior flexibilidade de procedimentos administrativos e assegure a qualidade do ensino e dos serviços oferecidos. É preciso incluir na pauta de discussões com os governos federal e estadual, em ação conjunta com os demais hospitais universitários, a reivindicação de um modelo diferenciado de financiamento para os procedimentos médicos realizados por essas instituições. Nossas propostas para a área de Saúde incluem uma atuação mais incisiva na captação de recursos junto aos governos federal e estadual, assegurando, ao mesmo tempo, os níveis atuais de participação financeira no orçamento da Unicamp; investimentos na manutenção predial e na atualização tecnológica do parque de equipamentos; defesa do seu papel como complexo hospitalar terciário e quaternário, voltado aos procedimentos de alta complexidade;
qualificação, capacitação e formação continuada dos profissionais que atuam na área da saúde; apoio aos programas de melhoria da qualidade de vida dos profissionais da assistência; estímulo aos trabalhadores do período noturno; implantação da jornada de 30 horas para os profissionais envolvidos nas atividades de assistência, sem redução salarial e com adequação do quadro existente para que não ocorram deficiências no atendimento.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – A Unicamp responde por 2/3 do financiamento do HC e do Caism, e a Secretaria Estadual de Saúde (SES), através do SUS, financia o 1/3 restante. A parcela da Unicamp significa aproximadamente 20% de seu orçamento. Não é possível e nem seria justo que a Unicamp aumentasse o financiamento para essa área, drenando recursos de outras áreas. O crescimento precisa ser financiado pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Para isso, o Consu aprovou recentemente a autarquização da área da saúde. Uma autarquia é uma entidade autônoma, auxiliar e descentralizada da administração pública, sujeita à fiscalização e à tutela do Estado, e cujo fim é executar serviços de caráter estatal ou interessantes à coletividade. A Unicamp, por exemplo, é uma autarquia. Promover a autarquização da área da saúde significa conseguir maior facilidade para obter financiamento para seu crescimento e reposição de quadro de pessoal, mantendo o atendimento 100% subsidiado pelo SUS. Em longo prazo, a autarquização permitirá que a Universidade se desincumba de novas contratações e substituições devido a aposentadorias, que serão custeadas pela SES. Essa economia terá enorme reflexo no orçamento da Unicamp, pois liberará recursos para melhorar salários e investir em infraestrutura. No futuro, a autarquização permitirá que se transforme todo o complexo hospitalar (incluindo Hospital Estadual Sumaré e Ambulatório Médico de Especialidades) num bloco integrado, hierarquizando de maneira adequada o atendimento médico da região, inteiramente financiado pela SES. Recomendamos fortemente que os interessados nesta questão, como também sobre a criação de uma fundação para a área da saúde, leiam nossa proposta completa no programa de gestão.
Campinas, 25 de fevereiro a 3 de março de 2013
A Unicamp deve ter uma política cultural ou a produção cultural na Universidade deve ser o resultado da livre manifestação de suas diversas instâncias? Que linhas de ação o seu programa de trabalho contempla nessa área? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Este é o tema que nos diferencia totalmente das demais candidaturas, pois consideramos fundamental articular conhecimento, cultura, arte, política e vida em projetos que valorizem as relações coletivas e com a sociedade brasileira. Propomos três ordens de atuação: a primeira, orientada para a comunidade da Universidade, através da criação de uma agenda cultural permanente nos campi, de uma agenda estratégica do conhecimento e o fortalecimento da inscrição da formação multidisciplinar nos currículos. A segunda se refere a uma inserção ativa da Unicamp na cidade de Campinas, processo que deverá ter também congêneres para Limeira e Piracicaba. Propomos a transformação da Estação Guanabara em um centro de cultura e formação para inserção social, que atenda jovens e a terceira idade e que seja um espaço cultural aberta para a sociedade de Campinas. Finalmente, encaminhamos a sugestão de um projeto de cultura, arte e política para produção de material científico didático e paradidático nas diversas modalidades de mídia, com atenção especial com as necessidades do ensino público básico. Não acreditamos que em uma universidade que segmente ciência, cultura e política, pois entendemos são dimensões indissociáveis e que justificam socialmente a existência da própria Unicamp.
Precisamos lembrar que a formação do estudante não se dá apenas na sala de aula, mas também nos ambientes acadêmicos extraclasse. Nas condições atuais, nossos alunos padecem de escassas possibilidades culturais e vitais. Nós não temos uma Moradia Estudantil, temos um “Dormitório” Estudantil. Já no primeiro dia de nossa gestão iniciaremos um entendimento com as representações estudantis para a criação da Casa do Estudante da Unicamp, um centro cultural anexo à Moradia com gestão estatutária, onde, de forma livre, eles possam praticar uma vida cultural essencial, trazendo pensadores sociais, artistas e quem mais tenha coisas importantes para dizer e dialogar. Vamos criar de uma sala de cinema coligada à Cinemateca Brasileira – o que terá um impacto extremamente positivo sobre a vida universitária.
JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – As duas coisas. Nas diferentes unidades, é necessário estimular propostas específicas de ações culturais, garantindo agilidade administrativa e meios financeiros. Por sua vez, cabe à Reitoria ativar instrumentos essenciais, negligenciados até agora: TV – instrumento atualmente subaproveitado em qualidade e capacidade de divulgação; criação da rádio Unicamp, com programas de alto nível, nos quais todas as unidades devem participar; desenvolvimento do Portal Internet, para torná-lo vivo, expressivo, abrigando filmagem de aulas e conferências de alta qualidade, além de registros de atividades artísticas (Orquestra Sinfônica, teatro, cinema, exposições artísticas, científicas e tecnológicas). Propomos também a criação de um Centro de Cultura, que deverá produzir atividades diversas e integradoras dos diferentes setores do conhecimento. A Estação Guanabara, hoje tão descuidada, deverá ser reativada de maneira enérgica, como uma antena cultural da Unicamp, digna e expressiva, na cidade de Campinas. Nossa intenção é investir fortemente na cultura, como fundamental para a formação de nossos alunos, e como afirmação de nossa identidade acadêmica. JOSÉ TADEU JORGE – A Unicamp deve traçar sua própria política cultural e, ao mesmo tempo, estimular a livre manifestação cultural nas suas diversas instâncias, pois se trata de iniciativas complementares e mutuamente benéficas. É função da administração superior atuar de forma a integrar essas várias ações de forma harmoniosa. A Universidade precisa expandir seus instrumentos de ação cultural. De um lado, é preciso aumentar os órgãos e aparatos específicos dessa área capazes de dar condições para a produção de espetáculos de arte significativos, assim como de exposições e outros tipos de ações culturais, a exemplo do Museu Exploratório de Ciências.
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Nesse particular, é fundamental que a Universidade implante definitivamente seu Museu de Arte e crie outras instituições que se ocupem de bens culturais relevantes existentes em diversas unidades de ensino e pesquisa, centros e núcleos, assim como no seu Sistema de Bibliotecas e Sistema de Arquivos. Por outro lado, é necessário sustentar e ampliar programas de ação cultural de impacto na vida da Universidade, a exemplo do programa do Artista Residente, dando mais consistência e apoio à agenda cultural básica da Universidade – nesse caso, criando, através dessa agenda, procedimentos para o aporte qualificado de recursos para tais ações. Propomos ainda a criação de um Escritório de Produção de Gestão Cultural destinado a captar recursos junto a programas do Ministério da Cultura, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e de outras agências de fomento de atividades artísticas e culturais de extensão comunitária. Caberá também a esse órgão dar apoio logístico à aplicação dos recursos, à produção dos eventos e à prestação de contas.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Desenvolver uma política cultural não impede a livre manifestação. Pelo contrário, visa a promover condições para que possa haver muitas manifestações e realizações culturais na Universidade. Os investimentos necessários na área da cultura são muito vultosos. Sem prédios adequados, sem acervos, sem pessoal qualificado para apoio a atividades, sem equipamentos de conservação de obras de arte, de iluminação, de som, de gravação etc. não se pode fazer muito e nada de duradouro. Em nosso programa propomos a criação de uma comissão de alto nível, que possa coordenar ações e medidas que visem à criação e ampliação dos equipamentos culturais da Unicamp, bem como uma agenda efetiva de atividades de difusão científica e cultural. Há muito que fazer: é preciso investir em espaço de cinema, sala de espetáculos bem equipada e para grandes audiências, e ampliar escopo e atividades de espaços como o CIS-Guanabara e Casa do Lago. Precisamos investir na RTV, para que ela possa ser um poderoso veículo de criação e difusão cultural; retomar esforços para criação de rádio aberta, com programação de relevância cultural e científica. Definidas uma política e uma instância de coordenação das atividades, outros órgãos da Unicamp poderiam, de imediato, dar relevante contribuição à vida cultural de alunos, professores e funcionários. Em nosso programa temos propostas de ações concretas voltadas para o Espaço da Escrita, Programa do Artista Residente, Editora, Museu Exploratório de Ciências, para o recém-criado Museu de Artes Visuais, Bibliotecas e Acervos, e para os Programas Aluno Artista e Artista Residente, entre outras. É tão grande a importância da cultura para nós, que propomos no programa estudar a criação de uma pró-reitoria específica para implantar ações como as que acabamos de referir. Foto: Isaías Teixeira
Apresentação da Orquestra Sinfônica da Unicamp na Casa do Lago
Ao longo da sua história, a Unicamp sempre se destacou por estabelecer importantes parcerias em diferentes áreas. Qual será sua política no campo das parcerias estratégicas com os setores público e privado? EDGAR SALVADORI DE DECCA – Acreditamos que a Unicamp aproveita
limitadamente as possíveis parcerias com instituições públicas e empresas. A razão desta situação se deve ao fato de as parcerias serem principalmente iniciativas individuais dos professores ou das próprias instituições ou empresas. As últimas gestões acreditam que o nome Unicamp é tão valorizado, que não justifica ações concretas visando a criação de parceria e o acesso a recursos externos. Pensamos que a política atual é um equívoco completo, pois vemos outras universidades atuarem com decisão e terem parcerias e acesso a recursos relativamente mais expressivos que os conseguidos pela Unicamp. Neste sentido, entendemos que o reitor, coordenador-geral e os pró-reitores devem continuamente manter contatos com instituições públicas e empresas, sendo porta-vozes junto a elas através do encaminhamento de projetos institucionais da Unicamp e que podem resultar em parceira ou acesso a recursos. Ao fazer isso, a Reitoria estará mostrando que a Universidade possui uma agenda de projetos que podem interessar às instituições públicas e às empresas, e que tem reconhecimento e importância social. As ações junto ao poder público municipal e estadual são essenciais para enfrentar problemas das mais variadas ordens dentro da Unicamp. Um deles é a questão do transporte e da circulação de veículos dentro do campus. Consideramos essencial o estabelecimento de novos meios de transporte, inclusive o projeto de um trem urbano (VLT) entre a região ampliada do distrito de Barão Geraldo e o campus. Este problema, já grave e que tende a crescer, só poderá ser resolvido em comum acordo com o poder público. Ao invés de aumentar indefinidamente estacionamentos restritivos para veículos automotores, devemos estimular a diminuição de sua circulação pelos campi.
JOSÉ CLÁUDIO GEROMEL – A Unicamp sempre soube estabelecer parcerias estratégicas, mas, sobretudo, com o setor público. Necessita adquirir maior desenvoltura para atuar junto ao setor privado. A transferência de conhecimento científico e cultural à sociedade é fundamental para o desenvolvimento do país. E, portanto, ao gerar riqueza graças à Universidade, é muito justo que parte dessa riqueza deva a ela retornar. Vamos transferir para as unidades de ensino e pesquisa a decisão e a responsabilidade de esta-
belecer vários convênios, contratos e acordos de cooperação. Os entraves burocráticos serão eliminados. É só assim que poderemos pôr, no centro das decisões, os reais interesses da nossa Universidade. E, justamente, ao mencionar os reais interesses da Unicamp, queremos assinalar que recusamos a impressão de nosso programa de gestão, tal como nos faculta a Comissão Organizadora da Consulta. Com efeito, tratase de 10.000 exemplares, de até 80 páginas (para cada candidato!), com custo alto e com incidência sobre o meio ambiente. Preferimos a divulgação via meios eletrônicos exclusivamente. Acreditamos que este é um detalhe expressivo de nossa preocupação com os reais interesses da Unicamp.
JOSÉ TADEU JORGE – Graças à sua posição de grande destaque no cenário acadêmico, a Unicamp tem plenas condições de expandir de modo significativo suas parcerias estratégicas com os setores público e privado, ampliando assim a sua interação com a sociedade. Por meio delas, a Unicamp pode colocar o seu enorme acervo de conhecimentos voltado para pensar, refletir e procurar respostas e soluções para os problemas cruciais da sociedade tais como: desenvolvimento com redistribuição de renda, geração de energia, sustentabilidade e meio-ambiente, qualidade de vida da população – saúde, educação, segurança, lazer – transferência de conhecimentos e tecnologias à sociedade, entre muitos outros. Todas elas são questões fundamentais e profundamente importantes em uma sociedade em desenvolvimento e com alto grau de desigualdade social, como a brasileira. Cabe à Unicamp, fundamentada no seu vasto acervo de conhecimentos e de saberes, e por meio dessas parcerias estratégicas, empenhar-se no debate dessas questões, buscando caminhos que possam levar o Brasil a superar problemas que se devem fortemente à falta, em larga escala, de formação qualificada. Essas ações envolvem, necessariamente, o diálogo com todas as instâncias do Estado brasileiro e com outras instituições acadêmicas do país. Propomos ainda o estabelecimento do Fórum “Pensamento Estratégico”, como forma de contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do país, propiciando maior produção de riqueza e, principalmente, a sua distribuição em benefício da qualidade de vida de toda a
população. O Fórum será o lugar de reunião de professores, pesquisadores, dirigentes públicos e privados, do terceiro setor, das pessoas interessadas em ações transformadoras para a sociedade. Na pauta, os grandes temas nacionais e internacionais, tendo a Universidade no centro das reflexões inovadoras. A Unicamp irá ainda manter um relacionamento pró-ativo com os municípios onde atua, oferendo contribuições efetivas em áreas como educação, meio ambiente, lazer, cultura e artes, entre outros, como já vem fazendo com competência na área de saúde.
MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD – Continuaremos apoiando o que está dando certo e criaremos estratégias para atração de novas parcerias, públicas e privadas. Para isso, vamos estimular a participação crescente da Unicamp no ecossistema de inovação, em nível local, estadual e nacional, por meio de projetos colaborativos de P&D com organizações e empresas dos setores público e privado. Um bom impulso para isto virá do Parque Científico e Tecnológico de Campinas e, como pretendemos, da criação do Parque Científico e Tecnológico de Limeira. Trataremos de fortalecer a Unidade de Apoio ao Pesquisador para que possamos atrair maiores recursos, utilizando agências de fomento e os incentivos dados pelas leis do petróleo, eficiência energética, informática e Rouanet. Daremos especial atenção ao estabelecimento de convênios com a Secretaria de Estado da Educação, com as Prefeituras Municipais e com o Governo Federal objetivando a formação de professores da educação básica. Será também importante o estabelecimento de convênios com os órgãos públicos visando o desenvolvimento da área da cultura. Na área da saúde, pretendemos estabelecer um convênio a Prefeitura Municipal de Campinas, assumindo um novo pronto-socorro na cidade, bem como Unidades Básicas de Saúde em algumas regiões, com financiamento compartilhado da Prefeitura e do Ministério da Saúde. É importante e estratégico ampliar a inserção da Unicamp na gestão de novos hospitais e Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) na região, em conjunto com o Secretaria de Estado da Saúde. Simultaneamente a todas essas ações, trataremos de rever a política institucional de propriedade intelectual, para proteger os interesses da Universidade e favorecer o estabelecimento de parcerias estratégicas em P&D.
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Tudo pronto para a consulta
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os dias 6 e 7 de março, professores, alunos e funcionários da Unicamp participarão do primeiro turno da consulta para a escolha do novo reitor, que terá a missão de administrar a Universidade pelos próximos quatro anos. Caso nenhum dos quatro candidatos obtenha a maioria absoluta de votos, será realizado um segundo turno, nos dias 20 e 21 de março. O processo é coordenado pela Comissão Organizadora da Consulta para Sucessão do Reitor (COC), nomeada pelo Conselho Universitário (Consu) e constituída por representantes de todos os segmentos da instituição e um representante da comunidade externa. Tal instância tem diversas atribuições, que vão desde a homologação das candidaturas até o estabelecimento de normas para a votação, passando pela escolha e inspeção dos locais onde ficarão as urnas e ocorrerá a apuração. Na entrevista que segue, a presidente da COC, professora Silvia Figueirôa, que também é diretora do Instituto de Geociências (IG), fala sobre o trabalho da Comissão. Segundo ela, tudo está sendo feito para que o processo transcorra de forma serena e para que os votantes possam fazer a sua escolha de maneira madura e consciente. Foto: Antoninho Perri
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
Jornal da Unicamp – Quais as atribuições e como é constituída a COC? Silvia Figuerôa – A missão da Comissão é coordenar o processo de consulta à comunidade para a escolha do novo reitor. Trata-se de um processo que existe na Universidade há várias décadas. Essa Comissão é composta por membros do Consu [Conselho Universitário], a saber: diretores de unidades de ensino e pesquisa, além de representantes dos corpos docente, discente e de funcionários. Conta, ainda, com a participação de um representante da comunidade externa. A COC é, portanto, uma Comissão do Consu, mas de caráter temporário. Por tradição, a presidência cabe ao diretor de unidade que está há mais tempo no exercício do mandato. Ocorre, porém, que esse mandato precisa estar em vigor até o final do processo. Quem está há mais tempo na função de diretor é o professor Hans Kurt Edmund Liesenberg, do IC [Instituto de Computação]. Entretanto, como o mandato dele vai expirar em março, ele ficou impedido de presidir a Comissão. Assim, o próximo da lista é o diretor do IG [Instituto de Geociências], no caso eu. JU – Que procedimentos a COC tem que adotar ao longo do processo de consulta? Silvia Figuerôa –São vários procedimentos, a começar por averiguar e homologar as candidaturas apresentadas. Também é nossa tarefa informar os candidatos sobre a aceitação das candidaturas e comunicá-los sobre as questões relacionadas aos auxílios às campanhas. A Comissão também estabelece o que pode e o que não pode ser feito durante o processo da consulta. Por exemplo, determinar em que distância do local de votação podem ocorrer ações de propaganda das candidaturas. Também fica sob a responsabilidade da COC definir as normas para a apuração, julgar os recursos relativos às listagens dos votantes, escolher os locais de votação e apuração etc. Vale lembrar que, para realizar todo esse trabalho, nós contamos com o apoio integral da Secretaria Geral. JU – Desta vez, haverá mudança em um dos locais de votação, não? Silvia Figuerôa – Sim, este ano tivemos que promover uma mudança nesse sentido, visto que o Ginásio Multidisciplinar está em reforma. Tradicionalmente, é o local que sempre concentra o maior número de urnas. Desta vez, vamos usar excepcionalmente o Ginásio da FEF [Faculdade de Educação Física] como local de votação e também de apuração. Como é um espaço “novo”, tivemos que verificar várias questões, tais como onde as urnas poderiam ser guardadas em segurança e que salas poderiam ser utilizadas. JU – Quais serão os outros locais de votação? Silvia Figuerôa – O pessoal da área da saúde – alunos, docentes e servidores – votará no Auditório da FCM [Faculdade de Ciências Médicas], conhecido como Paulistão. Ele foi reformado e está em ótimas condições. Em Limeira, teremos dois pontos: campi da FCA e da FT. E outro ponto na FOP [Faculdade de Odontologia de Piracicaba]. São cinco locais ao todo. JU – Quanto às datas e horários? Silvia Figuerôa – Para o primeiro turno, as datas de votação serão 6 e 7 de março. Na FOP, o horário de votação se estenderá das 9h às 17h nos dois dias. No Paulistão e no Ginasinho da FEF, será das 9h às 20h30. No Paulistão, excepcionalmente no dia 6, a votação terá início às 6h, exclusivamente para os funcionários da área da saúde, por causa dos turnos de trabalho. Em Limeira, nos dois locais, a votação começará às 10h e se encerrará às 20h30. JU – E em relação a um possível segundo turno? Silvia Figuerôa – Em termos de planejamento, a COC sempre trabalha com a ideia de que possa haver segundo turno. A deliberação do Consu já estabeleceu datas para o segundo turno, que ocorrerá, se necessário, nos dias 20 e 21 de março. Nesse caso, repete-se todo o processo, com os mesmos locais de votação e apuração e as mesmas normas. A única alteração é que nas cédulas constarão apenas dois candidatos. JU – Tradicionalmente, a consulta para a escolha do novo reitor transcorre em clima de tranquilidade, não? Silvia Figuerôa – Sim, de muita tranquilidade. Nesse sentido, a COC tem pensado nos procedimentos sempre do ponto de vista mais da prevenção do que com base na ocorrência de problemas recorrentes. Por exemplo, nós já enviamos ofício ao Cecom [Centro de Saúde da Comunidade] para pedir que haja disponibilidade de atendimento médico caso alguém passe mal durante a votação ou apuração. Também visitamos o Ginásio da FEF junto com o pessoal da segurança, para uma inspeção. Nesse caso, avaliamos o local não somente do ponto de vista da vigilância, mas também da segurança do trabalho. Isso é importante para definir limites para o número de pessoas, por exemplo. O mesmo foi feito em Limeira e Piracicaba.
A professora Silvia Figuerôa, presidente da COC: “Tudo está sendo feito para que o processo transcorra de forma serena e para que os votantes possam fazer a sua escolha de maneira madura e consciente” JU – O sistema de votação será convencional ou eletrônico? Silvia Figuerôa – Infelizmente, ainda não será possível utilizar a urna eletrônica. Nós cogitamos lançar mão dessa ferramenta, mas os testes para a adoção de um sistema eletrônico de votação ainda estão em andamento. Assim, a Reitoria entendeu – e a COC se convenceu disso – que seria muito arriscado introduzir o sistema na consulta para a escolha de reitor. A ferramenta será provavelmente utilizada na escolha para a representação docente no Consu, que ocorrerá poucas semanas depois. A partir daí, o sistema deverá ser utilizado pela Universidade para todas as suas consultas e eleições. JU – Em termos de procedimentos, o processo de consulta atual sofreu alguma mudança importante em comparação à última experiência? Silvia Figuerôa – Tradicionalmente, a Universidade patrocina a impressão dos programas dos candidatos. Desta vez, a COC manifestou o desejo de que o material fosse produzido somente em versão eletrônica, de modo a economizar papel e recursos financeiros. Esta postura foi apoiada pelos candidatos. No entanto, houve o entendimento geral de que se a medida fosse adotada com essa amplitude, isso provocaria uma mudança muito brusca em relação às ultimas consultas. Então, a COC decidiu fazer uma sinalização na direção da eliminação do papel. Na prática, ficou decidido que a Universidade patrocinaria a impressão da metade do número de páginas e a metade do número de exemplares dos programas normalmente produzidos. A proposta foi aceita pelos candidatos, e isso já representará uma economia importante de papel e recursos. Na próxima consulta, a tendência é que só haja a versão eletrônica do documento. JU – A senhora falou sobre proibições. O que os candidatos e eleitores não podem fazer durante a campanha e nos dias de votação? Silvia Figuerôa – Não serão permitidas faixas e nem outdoors dos candidatos dentro dos campi. Fora deles, a COC não tem como legislar. Os eleitores poderão votar com camiseta, faixa ou bottom do seu candidato. Ficou acordado com os candidatos – e eles sequer tinham cogitado agir de forma diferente – que eles não distribuiriam brindes aos eleitores, como chaveiros, canetas etc. Mesários, membros da COC e pessoal de apoio não poderão usar roupas ou objetos que manifestem preferência por qualquer candidato. O pessoal que fará a boca de urna terá que ficar a pelo menos 15 metros dos locais de votação. Queremos que a consulta seja orientada pelo debate de ideias. JU – A COC também é responsável pela organização dos debates entre os reitoráveis? Esses encontros já estão agendados? Silvia Figuerôa – Sim, a COC cuida da organização desses debates. Teremos três encontros do gênero. O primeiro será no dia 26 de fevereiro, às 18h, no Centro de Convenções. Coincide com o primeiro dia de aulas. Ou seja, os alunos ingressantes já poderão participar. Esse debate será transmitido pela RTV Unicamp não somente pela internet, mas também pelo Ca-
nal Universitário, via NET. Providenciaremos também a tradução em Libras [Língua Brasileira de Sinais]. No dia 27, às 12h, o debate será na FOP. E no dia 28, às 18h, o encontro será em Limeira, no Auditório da FT, o maior disponível na cidade. O da FOP e o de Limeira terão transmissão pela Câmera Web. Além disso, as entidades representativas de docentes, funcionários e estudantes também estão organizando debates. Entretanto, como elas são autônomas, a COC não participa dessa organização. A Comissão cuida apenas das questões institucionais. JU – Quantas pessoas devem trabalhar durante o período de votação? Silvia Figuerôa – Acredito que entre 100 e 150 pessoas. Vale lembrar que cada candidatura pode indicar dez fiscais para acompanhar o processo. JU – Apurado o resultado das urnas, o que acontece a seguir? Silvia Figuerôa – O resultado da consulta vai ao Consu, que elabora uma lista tríplice, que por sua vez será submetida à apreciação do governador do Estado. É ele quem indica o reitor. Por tradição, porém, o governador costuma respeitar o desejo da comunidade. JU – Com a indicação do novo reitor, termina o trabalho da COC? Silvia Figuerôa – Ainda não. A ideia da Comissão é produzir um relatório com sugestões para aprimorar ainda mais o processo de consulta. A intenção é que esse documento seja encaminhado o mais rápido possível ao Conselho Universitário, para que seus membros possam refletir sobre as questões e deliberarem sobre elas. Assim, as eventuais mudanças poderão ser definidas bem antes da próxima consulta, o que dará tempo para que todos se adaptem a elas. JU – A mudança do calendário da consulta é uma dessas questões? Silvia Figuerôa – A questão do calendário é importante. Como a campanha e a consulta ocorrem no começo do ano, muitas pessoas estão em férias e os alunos ingressantes ainda não tiveram tempo de se informar sobre muitas questões relativas à Universidade. A mudança no calendário seria benéfica nesse sentido, pois favoreceria uma maior participação por parte da comunidade no processo de escolha do reitor. Penso que é um ponto a ser discutido. Uma possibilidade é manter a posse em abril, mas antecipar a consulta para o final do ano, por exemplo. Todavia, a decisão sobre essa ou outra alteração caberá ao Consu, que tem total condição de deliberar sobre o tema. JU – Que mensagem a COC deixaria para a comunidade universitária? Silvia Figuerôa – Queremos desejar uma boa consulta a todos. Uma consulta que ocorra com serenidade e com consciência. Os programas dos candidatos já estão no portal da Unicamp [www.unicamp.br]. O ícone permanecerá no ar até o final do processo. Sugerimos que a comunidade leia cada um deles, que envie mensagens aos candidatos e que participe dos debates. O que está em jogo são os próximos quatro anos da instituição, mas não apenas. Muitas questões se prolongam por outras gestões.