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Fotos: Divulgação

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Cepetro-Petrobras, uma parceria que deu certo

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

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Tese avalia viabilidade da ‘rodovia do hidrogênio’

www.unicamp.br/ju

Campinas, 3 a 9 de junho de 2013 - ANO XXVII - Nº 563 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornal daUnicamp

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IMPRESSO ESPECIAL

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Precarização permeia condição de motoboys

O TEATRO SEGUNDO JOÃO APOLINÁRIO

A poesia em movimento Arte: Luis Paulo Silva Imagens: sxc.hu

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Em pleno regime militar, o jornalista e poeta português João Apolinário (foto acima, à esquerda) testemunhou, de 1964 a 1974, o engajamento do teatro nacional nos problemas políticos e sociais, em uma de suas fases mais brilhantes, e registrou por meio de críticas publicadas no jornal Última Hora, informações que irão ajudar pesquisadores a investigarem sobre a história política e cultural do país. O acervo de Apolinário, para quem o teatro era “a poesia em movimento”, foi doado ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp. A massa documental reúne catálogos de peças e textos, entre os quais artigos sobre a conjuntura teatral da época, além de fotos de espetáculos, como as que integram o mosaico de imagens desta página.


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Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

Pesquisa esmiúça universo dos motoboys de Campinas Precarização do trabalho marca atividades da categoria, formada em sua maioria por jovens SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

les têm pressa e, muitas vezes, não pedem passagem. Somam cerca de 900 mil só no Estado de São Paulo. Personagens polêmicos no cenário urbano brasileiro, os motoboys, termo vulgarizado para a profissão de motofretistas, foram o objeto de estudo da economista Stela Cristina de Godoi. Em seu doutorado defendido na Unicamp, ela desvendou a formação, o processo de exploração desta força de trabalho e a identidade da categoria em Campinas, constituída majoritariamente por homens jovens. A investigação situa-se num momento importante em que novas regras para o setor acabam de ser aprovadas, com a entrada em vigor, no começo deste ano, da lei federal nº 12.009 de 2009. O objetivo seria regulamentar o exercício das atividades, estabelecendo princípios de segurança para estes profissionais. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revelam que, de cada dez acidentes no trânsito, sete envolvem motocicletas. O impacto para a saúde pública é considerável. Conforme estatísticas divulgadas em 2011 pelo Ministério da Saúde, 48% das internações por acidentes no país foram de motociclistas. Em média, são gastos R$ 200 milhões por ano com o total dos acidentados. “A pesquisa ajuda a pensar a questão da recente regulamentação, que é insuficiente para trazer mais segurança, tanto para a sociedade como para a própria categoria. Apenas exigir itens de segurança e cursos de pilotagem defensiva é muito pouco para resolver esta situação. Seriam necessárias mudanças mais estruturais na forma de contratação e no ritmo que se exige desta atividade produtiva”, expõe Stela de Godoi. A sua pesquisa, conduzida junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), foi orientada pelo docente Ricardo Luiz Coltro Antunes. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) concedeu bolsa à pesquisadora da Unicamp. O estudo foi aprovado pela comissão julgadora em setembro do ano passado. Diversos motofretistas de Campinas foram ouvidos com base na técnica de história oral, metodologia sustentada pela coleta de entrevistas e fontes primárias de dados. Pela análise das entrevistas, o estudo permitiu identificar, conforme Stela de Godoi, três fenômenos importantes para entender a formação e o modo de ser deste grupo profissional: os fluxos migratórios; o domínio de mercado das indústrias automotivas; e o processo de precarização do trabalho.

importante na formação e trajetória destes profissionais, conforme retratam as suas histórias de vida”, aponta Stela de Godoi.

MERCADO DE AUTOMÓVEIS Outro fenômeno importante para o entendimento da realidade dos motofretistas é a força de mercado conquistada pela indústria automotiva no país. “Iniciou-se no governo de Juscelino Kubitschek, que atraiu boa parte dos fabricantes internacionais para o Brasil. Essas indústrias tinham interesses em fazer a transnacionalização do seu parque produtivo. Desde então, a indústria automotiva foi ganhando uma força de mercado muito grande dentro do país”, contextualiza a economista. Conforme Stela de Godoi, o poder de mercado dessas corporações definiu os rumos do desenvolvimento urbano, impondo, consequentemente, um meio de transporte mais ágil que permitisse a rápida circulação de mercadorias. “Os motofretistas permitem que o sistema produtivo continue funcionando mesmo nesse contexto de caos do trânsito urbano. Por isso, geralmente os profissionais que fazem este serviço são vistos pela sociedade como um ‘mal necessário’, ora um ‘exército da salvação’, ora ‘visitantes indesejados’”, analisa.

PRECARIZAÇÃO Para a economista, o processo de precarização do trabalho ajuda a compreender diversas características da identidade deste grupo de profissionais. Ela esclarece que a vulnerabilidade na atividade dos motofretistas é decorrente da reestruturação produtiva do capital e da flexibilização das regras trabalhistas. “A terceirização se fortaleceu no final da década de 1990, justamente num momento em que o capitalismo estava se reformulando para uma modalidade de acumulação que chamamos de flexível. Esta acumulação está caracterizada, principalmente,

por três fatores: aceleração do tempo e da necessidade de circulação de mercadorias; terceirização da força de trabalho; e pela lógica de tornar as indústrias enxutas, sem estoques”, explica. Estes três elementos podem ser transpostos para o caso dos motofretistas, sustenta Stela de Godoi. “Eles trabalham num ritmo acelerado e são majoritariamente terceirizados. Atuam num ambiente que antes era improdutivo para o capital, que é o espaço de circulação das cidades. Os galpões fabris aonde estes motofretistas atuam são justamente as ruas da cidade. Este é o espaço de trabalho dos motoqueiros”. Ela acrescenta que está imbricada nesta atividade profissional a própria negação do direito trabalhista. “Trata-se de traço bem marcante nos relatos de todos os motofretistas justamente por conta das diferentes formas de contratações precárias. Eles têm que trabalhar, de modo a garantir, por conta própria, todo o suporte que a legislação deveria lhes dar. Não há proteção social que assegure condições dignas de trabalho. A maioria trabalha sob pressão dos empregadores e com jornadas sobrepostas, que chegam até a 15 horas”, argumenta. Essas circunstâncias de trabalho se agravam ainda mais devido às condições desiguais entre patrões e empregados, afirma a pesquisadora da Unicamp. “Apesar do teto da categoria, cada patrão negocia individualmente com o seu trabalhador. Isso é complicado porque pressupõe uma relação de igualdade que não existe no sistema capitalista. Na verdade, a maior parte destes motoqueiros ganha por produção. Há uma variedade de formas de pagamento que dificulta qualquer acordo mais coletivo”, destaca. Além disso, a terceirização e precarização do trabalho produzem o que a especialista identificou e classificou como “roubos patronais”. “Eu usei esta expressão forte mesmo porque é isso que me foi contado. É muito comum os motoqueiros executa-

rem um trabalho e não receberem o valor no final do mês. Há casos de terceirizadas que devem de R$ 500,00 a R$ 5.000,00. A precarização, portanto, dá margem a este tipo de irregularidade”, revela.

VIRILIDADE O discurso da virilidade, compartilhado tanto por patrões como empregados, serve de instrumento para a dominação desta classe de trabalhadores, considera Stela de Godoi. Ela afirma que é possível associar, neste contexto, a articulação de dois sistemas: o capitalismo e o patriarcado. “Este grupo de trabalhadores é majoritariamente masculino. Este dado da virilidade, da ‘coragem’, serve muito aos interesses das empresas que usam o trabalho destes motoqueiros. Um trabalhador, bem jovem, falou assim: ‘a moto mexe com o psicológico da gente. Eu sinto vontade de provar que eu consigo correr mais’”, relata. Stela de Godoi assegura que os próprios empregadores também pressionam neste sentido. “Em uma entrevista com um patrão eu perguntei: ‘por que você não contrata mulheres?’ Ele me disse que não contratava porque as mulheres chorariam se ele falasse com elas da mesma forma que fala com os seus funcionários”, descreve.

Publicação Dissertação: “No tempo certo, sobre duas rodas: um estudo sobre a formação e a exploração dos (as) motofretistas de Campinas (SP)” Autora: Stela Cristina de Godoi Orientador: Ricardo Luiz Coltro Antunes Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Capes Foto: Antonio Scarpinetti

FLUXOS MIGRATÓRIOS A origem dos motofretistas de Campinas remete aos fluxos migratórios que contribuíram para a formação da Região Metropolitana de Campinas, sobretudo a partir da década de 1970. São imigrações, principalmente, do norte do Paraná, sul de Minas Gerais e também da região metropolitana de São Paulo, explica a pesquisadora e especialista em sociologia do trabalho. “Muitos vieram a Campinas por conta do processo de interiorização do parque industrial do Estado de São Paulo nas últimas décadas do século 20. Isso é um fato

Motofretista trafega em rua de Campinas: flexibilização das regras trabalhistas atinge profissionais

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Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

De São Paulo a Assunção,

movido a hidrogênio Bioquímico avalia a viabilidade da implantação de uma rota para uso do combustível Fotos: Divulgação

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

magine uma rodovia que ligue São Paulo a Assunção que esteja preparada para abastecer, com hidrogênio, toda a frota de transporte coletivo de passageiros que por ela circule. Mais do que pensar nessa hipótese, o bioquímico Gustavo Arturo Riveros Godoy desenvolveu um estudo técnico para a sua tese de doutorado, no qual analisa a viabilidade técnica, econômica e ambiental da implantação dessa rota, que tem um percurso de cerca de 1.350 km. Conforme o trabalho, que foi defendido na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, sob a orientação da professora Carla Kazue Nakao Cavaliero, já existe tecnologia com maturidade aceitável para a execução de um projeto de tal envergadura. Além disso, a substituição do diesel pelo hidrogênio possibilitaria uma redução na emissão de dióxido de carbono (CO2), gás causador do efeito estufa, da ordem de 2.098 toneladas ao ano. A principal questão a ser revolvida é o custo do aparato tecnológico, que faz com que a utilização do combustível alternativo custe duas vezes mais do que o de origem fóssil. De acordo com Godoy, a proposta do estudo focou-se no aproveitamento de uma infraestrutura rodoviária já disponível. O pesquisador percorreu a rota escolhida, denominada no trabalho de Rodovia do Hidrogênio Brasil-Paraguai, para identificar pontos chaves para a instalação das estações de abastecimento do combustível. “A ideia é usar as instalações dos postos de combustíveis existentes, de maneira a diminuir os investimentos exigidos. Nesse caso, o hidrogênio seria produzido no mesmo local, por meio da eletrólise da água”, explica o bioquímico. Na tese, ele dimensionou os equipamentos necessários a cada uma dessas bases, a saber: eletrolisador, compressor e sistemas de armazenamento e abastecimento. Godoy afirma que optou pela ligação Brasil/Paraguai por três motivos principalmente. O primeiro é o grande fluxo de passageiros existente entre os dois países, em torno de 46.000 pessoas por ano. O segundo foi o apoio institucional da Universidade Nacional de Assunção, somado ao aporte financeiro da Itaipu Binacional. Por último, também pesou o fato de o pesquisador ser paraguaio. Atualmente, ele trabalha no Parque Tecnológico Itaipu/Paraguai (PTI) e está envolvido num projeto de produção e utilização de uma mistura de hidrogênio e metano sintético, conhecida como hidrano, em parceria com a Universidade de Genova, na Itália, onde cumpre estágio. O autor da tese conta que iniciativas como a estrada sugerida em seu trabalho ainda são incipientes no mundo. Todavia, existem dois projetos do gênero, que estão em execução: Scandinavian Hydrogen Highway Partnership (SHHP) e California Hydrogen Highway Network (CHHN). O SHHP prevê a instalação de pelo menos 20 postos de abastecimento de hidrogênio ao longo de uma rede rodoviária formada por três países (Noruega, Suécia e Dinamarca) até 2015, com a entrada em operação de uma frota de 100 ônibus com células a combustível e 500 carros de passeio movidos a hidrogênio. Em 2009, foi inaugurado um percurso de 580 km, com a operação de quatro estações de abastecimento e 16 veículos. Já o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, é um dos pioneiros nesse tipo de iniciativa, e desde 1990 mantém um forte estímulo ao desenvolvimento de uma rede urbana de postos de abastecimento de hidrogênio. “Este caso é um tanto diferente da minha proposta, por se tratar do uso urbano e não rodoviário, mas é um exemplo de uma ação que busca a utilização veicular em larga escala”, esclarece Godoy. No caso da rodovia Brasil/Paraguai, prossegue o bioquímico, a sua tese propõe a instalação de sete estações de produção/abastecimento do combustível, sendo duas em território paraguaio. “Em termos técnicos, nosso estudo concluiu que a tecnologia disponível apresenta um grau de

Paraguai representaria um grande passo para o país em direção à estruturação de uma economia baseada no hidrogênio. “Já para o Paraguai, seria uma medida estratégica que o colocaria também no mapa mundial da tecnologia desse combustível, com as potenciais vantagens a ela atreladas, especialmente o desenvolvimento de pesquisas e a geração de novos investimentos. Em suma, esse empreendimento seria um catalizador para a nacionalização e regionalização da tecnologia do hidrogênio”, acredita o autor da tese, que contou ainda com a coorientação de Paulo Fabrício Palhavam Ferreira, da Hytron, empresa brasileira dedicada a esta tecnologia.

LÁ E CÁ

Gustavo Arturo Riveros Godoy, autor da tese, em trabalho de campo, e falando sobre seu estudo: principal questão a ser resolvida para a implantação da rodovia é o custo do hidrogênio, que é duas vezes maior que o do diesel

maturidade aceitável para viabilizar o projeto e também se comprovou a possibilidade de aproveitar a estrutura física dos postos existentes [foi realizada uma visita e entrevistas com responsáveis dos potenciais locais de instalação]. Do ponto de vista da análise ambiental, teríamos a redução da emissão de 2.098 toneladas de CO2 ao ano, o que possibilitaria a comercialização de créditos de carbono, medida que geraria uma receita de cerca de US$ 65 mil anuais”, elenca. O pesquisador admite que esse tipo de ganho não é suficiente para conferir viabilidade econômica para a substituição do diesel pelo hidrogênio. “Os custos de produção do hidrogênio, nas condições atuais, sem qualquer incentivo governamental, são pelo menos duas vezes superiores aos do óleo diesel, tanto no Brasil quanto no Paraguai”, aponta. Godoy adverte, entretanto, que o uso do hidrogênio em larga escala traz outros ganhos, especialmente para a saúde da população e para o ambiente. “A utilização do hidrogênio pode ser uma eficiente estratégia para a redução da emissão de CO2, apontado como principal causador do efeito estufa, assim como de outros gases prejudiciais à saúde. Além disso, a tese demonstrou que, caso toda a frota que circula pela rota proposta passe a utilizar o combustível alternativo, o consumo de diesel seria reduzido em aproximadamente um milhão de litros ao ano”, compara. Mas, qual seria o montante necessário para financiar a execução de um projeto com tal amplitude? Essa estimativa foi igualmente projetada pelo pesquisador, que levou em conta dois cenários. No primeiro deles, Godoy considerou a introdução de somente um ônibus movido a hidrogênio. “Nesse caso, os custos de implantação alcançariam US$ 5 milhões, sendo que 30% seriam destinados à instalação de estações de produção e abastecimento no Paraguai e o restante no território brasileiro. Nesse caso, o custo operacional

anual seria de US$ 1 milhão. Quanto ao custo do veículo, ele variaria entre US$ 550 mil e US$ 1,6 milhão, tendo como base projeções para o período de 2012 a 2014”, informa. No segundo cenário, que considera a substituição de toda a frota, o custo de implementação da rota saltaria para US$ 17 milhões, sendo 25% para a instalação das estações de abastecimento no Paraguai e o restante em solo brasileiro. A estimativa de custo operacional anual, nesta hipótese, alcançou os US$ 5 milhões. “Portanto, estes valores configuram-se como o custo máximo de execução do projeto. Quanto ao custo de compra dos ônibus, este ficaria na faixa dos US$ 3,3 milhões a US$ 9,6 milhões”, acrescenta. Tais recursos, na opinião do pesquisador, poderiam ser levantados através do esforço conjunto dos setores público e privado, nos dois países. “Nesse modelo combinado, o principal papel dos governos é estabelecer regimes fiscais que sejam atraentes para o setor privado”, complementa. A instalação das bases de produção e abastecimento nos dois países, sustenta o bioquímico, não apresentam diferenças significativas, visto que todos os equipamentos necessários devem ser importados. “No entanto, é importante ressaltar o impacto que o custo da energia elétrica causa no preço final do hidrogênio. No Paraguai, onde o custo da energia elétrica é muito mais baixo que no Brasil, o custo de produção do hidrogênio é duas vezes menor”. A despeito desse tipo de disparidade, Godoy entende que Brasil e Paraguai constituem um exemplo de integração energética por meio da Usina Hidrelétrica de Itaipu, e podem repetir a mesma experiência em relação ao hidrogênio. O pesquisador avalia que, apesar de o Brasil ser um dos líderes em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica no tema, notadamente no âmbito do Cone Sul, a implantação da Rodovia do Hidrogênio Brasil-

No cenário internacional, o desenvolvimento de tecnologias para aplicação do hidrogênio em larga escala está em fase pré-comercial, como observa Godoy. Diversas empresas dos setores de gás, energia e veículos já possuem equipamentos tecnicamente adequados, embora arcando com altos custos. Companhias como Honda, General Motors, Ford e Toyota, entre outras, têm veículos que atendem às necessidades do mercado, que já foram demonstrados em diversos locais do mundo. Quanto ao Brasil, como já dito, o país exerce a liderança nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação na América do Sul. Aqui, um marco nos estudos envolvendo o uso do hidrogênio como combustível foi a entrada em operação, em 2009, do projeto Ônibus Brasileiro a Hidrogênio, o que fez com que o país passasse a figurar no grupo de nações fabricantes desse tipo de veículo, formado ainda por Estados Unidos, Alemanha, Japão e China. Este ônibus, aliás, foi utilizado nas estimativas presentes no estudo de Godoy. “Apesar disso, a maior parte da tecnologia desenvolvida no Brasil ainda se encontra em estágio laboratorial. Isso faz com que o país esteja defasado em vários anos quando comparado com outras nações que participam dessa ‘corrida do hidrogênio’”, avalia o pesquisador. Recentemente, observa Godoy, o governo brasileiro lançou o Plano Inova Energia, resultado de uma ação conjunta entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Uma das linhas do plano refere-se ao financiamento de Infraestrutura de Abastecimento Veicular. A medida contempla o desenvolvimento e implementação de projetos-piloto de sistemas de recarga/ abastecimento elétrico ou de hidrogênio para veículos automotores com tração elétrica. “Trata-se da primeira iniciativa do tipo no país. É um bom incentivo para as empresas e instituições que trabalham com o desenvolvimento da tecnologia do hidrogênio. Incentivos deste tipo podem fazer com que Brasil venha a ter uma rede de abastecimento do hidrogênio para uso veicular, tanto urbano quanto rodoviário”, analisa o bioquímico. O hidrogênio pode ser produzido a partir de diferentes fontes, como a reforma do gás natural ou de etanol; gaseificação de carvão ou biomassa; eletrólise da água; rotas fermentativas; e processos combinados, como energia solar associada à eletrólise. Quando obtido de fontes renováveis, ele causa reduzidos impactos ambientais, dado que as reações químicas necessárias para reconvertê-lo em energia produzem somente água como produto final, ou seja, não há emissão de gases causadores de efeito estufa.

Publicação Tese: “Rodovia do hidrogênio BrasilParaguai: estudo técnico, econômico e ambiental” Autor: Gustavo Arturo Riveros Godoy Orientadora: Carla Kazue Nakao Cavaliero Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)


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Técnica branqueia

Fotos: Divulgação

óleo de palma Engenheira de alimentos investiga, em tese, aperfeiçoamento do processo de refino físico CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

s óleos vegetais, extraídos de plantas ou de seus frutos, são empregados tanto no consumo doméstico como pelas indústrias de processamento de alimentos em produtos tais como pães, biscoitos, bolos, sorvetes, maioneses, margarinas etc, além de assumirem hoje importância na produção de biodiesel. Entre eles está o óleo de palma, fonte de vitaminas lipossolúveis, muito utilizado na culinária do Nordeste brasileiro, onde é conhecido como azeite de dendê. Entre os óleos vegetais, o de palma é atualmente o mais consumido no mundo, devido ao seu emprego nas mais diversas formulações de produtos alimentícios industrializados. Oriundo de regiões equatoriais, tem como seus maiores produtores Malásia, Indonésia e Colômbia. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), em 2009, o Brasil produziu 265 mil toneladas de óleo de palma, ocupando apenas a 10ª posição no ranking mundial, embora seja o país com maior potencial de aumento de sua produção. De fato, de acordo com dados da Embrapa, o Brasil possui aproximadamente 30 milhões de hectares disponíveis para o cultivo da palma, quantidade suficiente para triplicar a produção mundial, visto que esta utiliza atualmente 10 milhões de hectares. Esse quadro, e a substituição progressiva e contínua da gordura vegetal hidrogenada – rica na condenada gordura trans – pelo óleo de palma, justificam as pesquisas desenvolvidas na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, orientadas pelo professor Antônio José de Almeida Meirelles, que visam otimizar os processos envolvidos na purificação e refino desse óleo mundialmente utilizado. Esses foram os propósitos da engenheira de alimentos Simone Monteiro e Silva em trabalho desenvolvido em estágio realizado na empresa belga Desmet Ballestra, em Zaventem, supervisionado por Wim De Greyt, seu gerente de pesquisa e desenvolvimento. Viabilizou-a um programa de co-tutela resultante de um convênio estabelecido entre a Unicamp e a Universidade de Ghent, Bélgica, do que resultou a dupla orientação dos professores Antônio José de Almeida Meirelles e Christian Stevens, da Faculdade de Engenharia da Biociência/UGent. A tese apresentada na Unicamp contou com banca examinadora constituída por membros designados pelas duas universidades, o que garantiu dupla diplomação. Como a maioria dos óleos vegetais, o óleo de palma deve ser refinado antes do consumo com vistas à remoção de alguns compostos indesejáveis, destacando-se, no caso, os compostos que promovem a coloração avermelhada e o sabor característico do óleo. Esses compostos tornariam o óleo de palma pouco flexível para uso industrial, uma vez que o consumidor rejeitaria uma margarina que não fosse clara ou um sorvete de limão de coloração vermelha. Ademais, as demandas por produtos mais saudáveis e regulamentações ambientais cada vez mais rígidas têm levado ao aperfeiçoamento dos processos de refino. Nesse contexto se situa o trabalho de Simone, cujo objetivo foi investigar o refino físico do óleo de palma com ênfase no seu branqueamento.

IMPORTÂNCIA

Simone explica que os óleos vegetais são importantes componentes nutricionais da dieta humana como fonte de energia, ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. Contribuem ainda para as características de sabor, aroma e textura dos alimentos e promovem a sensação de saciedade.

Constituídos predominantemente por triacilgliceróis, apresentam em níveis menores muitos outros compostos como esteróis, tocoferóis, pigmentos, metais pesados. Parte destes componentes minoritários afeta a sua qualidade e deve ser removida durante as etapas de refino, que pode ser por via química, com a utilização de soda cáustica, ou por via física. As condições operacionais das etapas do processo de refino são decisivas na qualidade do produto (cor, odor, sabor), na sua funcionalidade (composição em ácidos graxos, vitaminas e antioxidantes) e custo final. O branqueamento constitui a primeira etapa do refino físico de óleos vegetais e tem o objetivo de reduzir o teor de fosfolipídios, evitando o escurecimento do óleo devido às altas temperaturas utilizadas em etapas posteriores; de compostos com cor; e de outros contaminantes. É a etapa mais cara do refino de óleos devido às grandes quantidades do adsorvente utilizado, a chamada terra clarificante, do que resulta um resíduo sólido muito difícil de tratar e sujeito a fortes regulamentações ambientais para a sua disposição. Depois do branqueamento, o óleo segue para a etapa de desacidificação por via física que envolve elevadas temperaturas, alto vácuo e injeção de vapor de arraste. A temperatura pode levar à formação de compostos indesejados, como os ácidos trans, e à degradação de carotenoides. A temperatura de desodorização, a intensidade do vácuo e a quantidade de vapor de arraste levam à perda de tocoferóis, compostos com atividade de vitamina E. Ou seja, as condições operacionais promovem também a remoção ou degradação de compostos desejáveis como tocoferóis e carotenos (provitamina A). Em consequência, impõe-se que os parâmetros dos processos de refino dos óleos vegetais devem ser ajustados de forma a manter a sua qualidade in natura. Assim, o trabalho de pesquisa que deu origem à tese investigou experimentalmente ou por simulação o aperfeiçoamento do processo de refino físico de óleos vegetais, inclusas as etapas de branqueamento e desacidificação física.

A PESQUISA

Em uma primeira etapa, a pesquisadora desenvolveu e validou uma nova metodologia para quantificar simultaneamente, e não mais separadamente, carotenos e tocoferóis, dois dos componentes do óleo de palma com valor de vitamina. Essa análise quantitativa deve ser feita tanto no óleo que chega para o processamento, pois as quantidades dessas substâncias variam em função da sua região de origem e espécie de palmeira, como após o refino, que altera essas composições. Os carotenoides, responsáveis pela cor, são removidos para garantir a flexibilidade de uso do produto, embora o betacaroteno apresente a desejável atividade de vitamina A. Os tocoferóis, que constituem a vitamina E, não precisam ser removidos, mas muitas vezes o são com vistas à produção de concentrados destinados ao enriquecimento de alimentos ou produção de cápsulas vitamínicas. Em todos esses casos, a quantificação é importante. Em uma segunda etapa, a pesquisadora estudou a remoção de fosfolipídios – que o aquecimento pode levar à fixação da cor característica de óleo queimado, comprometendo o amarelo translúcido desejado – e os carotenos – responsáveis pela coloração vermelha –, o que torna o produto versátil para qualquer uso. Com o estudo, Simone visou unificar e padronizar as etapas de refino do óleo de palma com a utilização de um procedimento padrão, em uma planta industrial destinada a seu branqueamento com desenho único, independentemente da origem do óleo. Os estudos desenvolvidos pela pesquisadora procuraram revelar os mecanismos envolvidos nas várias etapas do proFotos: Antonio Scarpinetti

A palmeira, o fruto e o óleo: Brasil é o décimo produtor mundial

cesso de branqueamento do óleo de palma, como esclarece o professor Antônio José: “Embora se tratem de processos muito conhecidos, funcionam sem que se saiba muitas vezes porque, e resultaram de tentativas de acertos e erros. Em razão disso, o conhecimento dos mecanismos envolvidos é fundamental para determinar as condições ótimas de operação”. O docente explica que, a cada nova planta industrial construída, há necessidade de estudo do óleo a ser utilizado para a definição do adsorvente mais adequado e das etapas que devem ser seguidas no branqueamento, daí a importância prática de unificação de processos. Os estudos sobre as etapas de branqueamento do óleo de palma desenvolvidos por Simone permitiram entender que a adsorção de carotenos e fosfolipídios pela terra clarificante acidamente ativada ocorre endotermicamente, por via química. Concluiu também que a utilização de novos procedimentos de branqueamento pode levar a obtenção de um óleo mais claro. A investigação ainda levou à sugestão de uma hipótese para explicar como o tipo de terra clarificante pode interferir na coloração do óleo de palma após todas as etapas de refino. Em outra etapa do trabalho, ela também se dedicou a estudar a desacifidificação do óleo por via física por meio de simulação computacional, com a utilização de dados experimentais disponíveis na literatura. Nesta fase, deu continuidade aos estudos desenvolvidos anteriormente por sua coorientadora, professora Roberta Ceriani, do Departamento de Desenvolvimento de Processos e Produtos, da FEA.

PARCERIAS

O professor Antônio José considera a co-tutela uma tendência que deve orientar as pesquisas na Unicamp e enfatiza a importância desse programa no processo de internacionalização desencadeado pela Universidade. Para ele, esse tipo de iniciativa permite estreitar os laços dos cientistas brasileiros com o mundo e, facilitando a troca de informações, gera um significativo impacto no desenvolvimento das ciências e tecnologias no Brasil. Entende, ainda, que existe um descompasso entre a qualidade das pesquisas realizadas em universidades de ponta do país e o seu reconhecimento no mundo. “Esse tipo de intercâmbio possibilita o reconhecimento da qualidade da nossa pesquisa no exterior e abre canais para o que se faz aqui, sem o que não se estabelecem entre o nosso país e o mundo os necessários caminhos de duas vias. Estamos muito fechados em nós mesmos e, em decorrência, o impacto do que fazemos não corresponde à qualidade do nosso trabalho”. Ele constata que os alunos da FEA que têm ido para o exterior causam muita boa impressão pela formação, empenho, iniciativa e criatividade, qualidades algumas vezes particularmente desenvolvidas por alunos brasileiros acostumados a trabalhar em condições menos sofisticadas.

Publicação

O professor Antônio José de Almeida Meirelles: “É fundamental conhecer os mecanismos”

Simone Monteiro e Silva, autora da tese: desenvolvendo e validando uma nova metodologia

Tese: “Investigação sobre o refino físico de óleos vegetais para obtenção de produtos de alta qualidade” Autora: Simone Monteiro e Silva Orientador: Antônio José de Almeida Meirelles Coorientadora: Roberta Ceriani Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)


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Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

Estudo investiga uso de

células-tronco na terapia de lesão na medula cervical

Foto: Antoninho Perri

Modelo, que transplantou células mesenquimais humanas em ratos, obteve resultados promissores MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

o Brasil, parte das vítimas que sobrevivem a acidentes com motocicletas apresenta graves lesões, várias delas incapacitantes. Entre os traumas mais importantes está a avulsão de plexo braquial, resultante de amplo afastamento do pescoço e ombro, situação que provoca o rompimento de raízes nervosas da medula cervical e, consequentemente, paralisia e perda de sensibilidade do membro superior do lado lesionado. Até aqui, não há tratamento que faça com que o paciente recupere, de forma ampla, as funções perdidas. Uma esperança de tratamento para pessoas com esse quadro é a terapia celular, cujos estudos ainda estão em fase inicial em todo o mundo. Um deles, que gerou resultados promissores, foi desenvolvido pelo biólogo Thiago Borsoi Ribeiro para a sua tese de doutorado, defendida recentemente na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Ele transplantou células-tronco mesenquimais humanas em ratos, e constatou que estas têm a capacidade de promover o resgate dos neurônios que sofreram a lesão. A pesquisa de Ribeiro foi orientada pela professora Sara Teresinha Olalla Saad, que responde também pela coordenação do Hemocentro, e contou com o apoio do professor Alexandre Leite Rodrigues de Oliveira, que comanda o Laboratório de Regeneração Nervosa do Instituto de Biologia (IB). O autor do trabalho utilizou um modelo experimental no qual é simulada a avulsão de plexo branquial em ratos. Os animais receberam, posteriormente à injúria, células-tronco mesenquimais humanas, obtidas de tecido adiposo, que foram doados por pacientes submetidos a lipoaspiração no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Esse tipo de transplante entre espécies diferentes é denominado de xenotransplate. Conforme o autor da tese, as célulastronco mesenquimais têm a capacidade de se diferenciar em algumas linhagens celulares e de liberar fatores que atuam tanto nas células adjacentes quanto naquelas localizadas um pouco mais distantes. “A célula mesenquimal tem a propriedade de atuar no microambiente da injúria. Ela migra para a área da lesão e ajuda a proteger os neurônios”, explica o biólogo. Ao implantar as células humanas em ratos, Ribeiro constatou, ao final de duas semanas, que a sobrevida neuronal foi de 70%. “A nossa preocupação era exatamente verificar se as células iriam sobreviver por um tempo adequado. Dito de outra maneira, nós queríamos saber se elas conseguiriam ‘driblar’ o sistema imune dos animais. O fato de terem sobrevivido duas semanas após o transplante, numa boa proporção, constitui um resultado muito positivo”, avalia o professor Oliveira. De acordo com ele, transcorridos 14 dias, as células mesenquimais foram en-

O professor Alexandre Oliveira (à dir.) e o doutorando Thiago Ribeiro: estudo abre perspectivas para que, no futuro, a terapia celular possa ser usada no tratamento de pessoas que sofreram avulsão de plexo braquial

contradas no ponto da aplicação, nas proximidades dos neurônios e mais profundamente na medula. “Embora o estudo represente um primeiro passo nesse tipo de abordagem, ele abre perspectivas para que, no futuro, a terapia celular possa ser empregada no tratamento de pessoas que sofreram avulsão de plexo braquial. Evidentemente, ainda vai demorar algum tempo até que as pesquisas avancem e cheguem à fase clínica”, pondera o docente do IB. De todo modo, acrescenta o autor da tese, investigações como esta são fundamentais para entender como proceder e como garantir segurança no caso de uma possível aplicação da terapia celular em seres humanos. Em relação ao trauma analisado, o professor Oliveira destaca que ele ocorre próximo do sistema nervoso central, o que causa degeneração ampla principalmente dos neurônios motores, mas também dos sensitivos. “Desse modo, as estratégias de reparo ficam prejudicadas. Mesmo que se consiga fazer a reconexão dos nervos rompidos, muitos neurônios acabam morrendo. Nesse quadro, o ganho de função do paciente é muito pequeno. Uma alternativa de abordagem é a terapia celular. A estratégia, assim, é evitar a morte neuronal num período crítico após a lesão, de modo a melhorar as condições para uma cirurgia de reparo das raízes”, detalha. O trabalho de Ribeiro não contemplou a questão da reparação. Como dito, ele avaliou somente a sobrevivência neuronal. Entretanto, o laboratório coordenado pelo professor Oliveira tem desenvolvido outros estudos relacionados à regeneração nervosa. Em um deles, uma orientanda do docente, a doutoranda Roberta Barbizan, promoveu, também em modelo animal, o reimplante das raízes motoras, usando para isso uma cola de fibrina, que deriva do veneno da cascavel. Após o procedimento, os ratos apresentaram importante melhora na função motora. “Embora diferentes, os dois estudos se complementam. Por meio deles, demonstramos que é possível ampliar a sobrevivência neuronal e reimplantar as raízes. São passos ini-

ciais, mas importantes nessa área do conhecimento”, pondera.

GANHO

LIMITADO

Atualmente, destaca o docente do IB, pacientes submetidos a cirurgias de reparo de plexo levam entre um ano e meio e dois anos para apresentar algum ganho funcional, mesmo assim de forma muito limitada. “Claro que, nessa situação, qualquer ganho é positivo para a pessoa. Entretanto, esse avanço se restringe normalmente a bíceps e tríceps. Nada que atinja significativamente antebraço e mão. Boa parte das funções do membro continua comprometida”, pormenoriza. A perspectiva que começa a se abrir para superar esses entraves, reforça o autor da tese, é o emprego da terapia celular. “Uma rota a ser seguida, por exemplo, é fazer uma manipulação genética para superexpressar uma molécula de interesse, e assim melhorar ainda mais o efeito neuroprotetor das células-tronco”, cogita Ribeiro. O biólogo afirma que, até onde tem conhecimento, há pouquíssima literatura disponível sobre pesquisas envolvendo terapia celular e avulsão de plexo braquial. “Os grupos que investigam a possibilidade de reparo medular também são reduzidos. Isso ocorre por alguns fatores, entre eles a dificuldade de se fazer a reparação, que envolve microcirurgia. No contexto da terapia celular para lesões, a maioria dos pesquisadores concentra esforços em traumas amplos, como o esmagamento da medula. No modelo específico que nós investigamos, os estudos ainda são bem iniciais. O nosso deve ser o quarto ou quinto trabalho publicado com esse tipo de modelo”, relata o autor da tese. Tanto orientador quanto orientado concordam que uma pesquisa como a desenvolvida por Ribeiro dificilmente poderia ser executada sem que se tivesse uma abordagem multidisciplinar. “A soma de conhecimentos e competências é fundamental para que uma empreitada com essas características gere resultados. Nós

unimos a expertise do Thiago na área de extração, purificação e caracterização de células-tronco humanas com a experiência do nosso laboratório em estratégias de reparo em modelo animal. Além disso, a pesquisa também contou com a orientação fundamental da professora Sara e com o apoio da área de cirurgia plástica do HC e da professora Ângela Luzo [responsável técnica pelo Banco de Sangue de Cordão Umbilical do Hemocentro]. Sem esse tipo de colaboração, nada do que fizemos teria sido possível”, entende o professor Oliveira. Por fim, lembra o docente do IB, trabalhos como o realizado por Ribeiro fazem parte de dissertações e teses, que não somente contribuem para ampliar o conhecimento científico, mas também para formar recursos humanos altamente qualificados. “A Unicamp sempre teve a preocupação de formar profissionais em áreas de ponta. Quando saem daqui, eles vão trabalhar em destacadas empresas e universidades espalhadas pelo Brasil. Eu mesmo tenho ex-alunos que hoje são professores em diferentes instituições, onde também estão nucleando novos pesquisadores”, registra. A pesquisa desenvolvida por Ribeiro contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Publicação Tese: “Transplante xenográfico de células mesenquimais de tecido adiposo humano em modelo de lesão da raiz ventral da medula espinhal de rato” Autor: Thiago Ribeiro Orientadora: Sara Teresinha Olalla Saad Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp e CNPq


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Campinas, 3 a 9 d

O crítico que avisava to Unicamp recebe doação de acervo do poeta e jornalista português João Apolinário, que se estabeleceu em São Paulo e acompanhou importante fase do teatro brasileiro nos anos 60 e 70 ALESSANDRO SILVA

alessandro.silva@reitoria.unicamp.br urante quase seis anos, a professora de história Maria Luiza Teixeira Vasconcelos leu, em primeira mão, a crítica teatral do jornalista João Apolinário (1924-1988), no apartamento onde moravam na rua Capote Valente, zona oeste de São Paulo. De sua mesa, rodeado por livros e uma janela com vista para árvores, que o aproximavam de Portugal, o crítico gostava de ouvir o texto na voz da esposa antes de sair para o trabalho no jornal Última Hora. Passadas mais de quatro décadas do início dessa história, os olhos dela ainda brilham quando reconstrói de memória a cena vivida pelo casal. Agora, o costume que os unia levará a obra de Apolinário para quem quiser conhecer e estudar mais sobre o crítico. Maria Luiza acaba de publicar dois livros contendo textos do jornalista (de 1964 a 1974), e de doar o acervo dele para o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), que preserva registros dos mais diversos movimentos sociais ocorridos no Brasil. No contexto do regime militar, o jornalista e poeta português João Apolinário escreveu sobre um teatro brasileiro que buscava construir uma identidade nacional e conviveu com uma reconhecida geração de diretores, dramaturgos e atores, entre os quais Oduvaldo Viana Filho, Ademar Guerra, Antonio Abujamra, Gianfrancesco Guarnieri, Jô Soares, José Celso Martinez, José Renato Pécora, Augusto Boal, Plínio Marcos, Eva Wilma e Raul Cortez. O crítico acompanhou e escreveu sobre o trabalho dos principais grupos da história teatral brasileira, como o Teatro Brasileiro de Comédia, o Teatro de Arena e o Teatro Oficina. “Foi o período de maior intervenção do teatro na sociedade, repercutindo no palco as inquietações coletivas”, afirma o jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes, em texto publicado no livro sobre Apolinário, seu amigo. “Suas críticas [...] nunca esconderam a opção política e ideológica por um teatro engajado nas lutas dos homens do seu tempo.” O acervo doado à Unicamp reúne mais de 500 críticas teatrais publicadas no jornal Última Hora, em São Paulo, de maio de 1964 a março de 1974. A primeira delas foi escrita sobre a peça “Toda a donzela tem um pai que é uma fera”, de Gláucio Gil, dirigida por Benedito Corsi no Teatro Oficina. O número de textos do arquivo deve aumentar, porque a pesquisadora ainda completará o trabalho de coleta até o final de 1974. O AEL da Unicamp recebeu ainda mais de 1.200 fotografias e 250 programas de espetáculos. Com a derrubada do salazarismo (Revolução dos Cravos) e depois de 12 anos exilado no Brasil, João Apolinário retornou a Portugal em 1975, acompanhado da esposa, e encerrou a carreira de crítico do teatro brasileiro. “Os textos que ele escreveu nos permitem ter ideia do cenário político e cultural daquele período”, afirma a diretora adjunta do AEL, Lucilene Reginaldo, ao avaliar o material recebido pela Unicamp. “Impressiona a profundidade e a qualidade da crítica que ele escrevia.” Segundo ela, o acervo deve abrir novos campos e cenários de investigação sobre a

história política e cultural brasileira. Além disso, permitirá a complementação e o cruzamento com os acervos já existentes no AEL, como o do Teatro Oficina e o de Vanda Lacerda, que guardam fontes importantes sobre a história social, cultural e política do teatro brasileiro. Todo o material entregue à Unicamp foi reunido ao longo de cinco anos pela viúva de João Apolinário, a partir de pesquisas na coleção pessoal de recortes de jornais da época do próprio jornalista, em fotos que ele guardava e em coleções do jornal Última Hora doadas ao Arquivo Público do Estado de São Paulo. “O papel do crítico, para ele, era formar um público atento, esclarecido sobre o espetáculo e com espírito crítico”, define Maria Luiza Vasconcelos. No futuro, a família também enviará os livros da biblioteca do jornalista que se autoimpôs uma missão de vida, traduzida em um de seus poemas: “É preciso avisar toda a gente”, de 1955, que virou música em Portugal, na voz de vários cantores, e no Brasil, nas mãos do filho dele, João Ricardo, no grupo “Secos & Molhados”.

MÉTODO

O teatro épico e engajado de Bertolt Brecht é uma presença comum nas críticas de João Apolinário, assim como a preocupação de ambos (influência do primeiro) com o nível de consciência e participação crítica do espectador em relação à peça. Apenas no primeiro volume, de cada dez críticas, Brecht é mencionado explicitamente em pelo menos uma delas. O texto do crítico português é claro, simples, didático e carregado de conteúdo. Para ele, o teatro era “a poesia em movimento”. Pelo jornal, em público, Apolinário discutiu o papel da crítica e do crítico, como demonstrado no artigo “Introdução ao método” , publicado em julho de 1968. “O público e os criticados esperam dele [crítico] a tese (movimento criador das ideias ou uma teoria do conhecimento), a antítese (ação interpretativa, material, objetiva, dos elementos analisados) e, por fim, a síntese hegeliana que a obra de arte oferece. Este é a mais simples das soluções, hoje em dia adotada por muitos comentaristas”, escreveu, explicando aos leitores seu método de trabalho para analisar o teatro paulista. Para manter-se com liberdade, o jornalista não recebia pelas críticas. Sobrevivia com o salário de redator, mais tarde editor de Variedades, no jornal Última Hora, o mesmo para o qual produzia os textos sobre teatro. Certa vez, um diretor do periódico mudou algo em uma crítica de Apolinário, conta Maria Luiza. De imediato, o jornalista foi até o andar do setor de pessoal para resgatar o contrato que assinara, confirmando que nada receberia pelo trabalho desde que nada fosse mudado. “Isso nunca mais voltou a acontecer”, diz a professora de história. O turno no jornal começava à tarde. Os textos das críticas eram produzidos pela manhã, enquanto a esposa estava fora, em sala de aula com alunos. A organizadora do acervo descreve essas manhãs, repetidas por anos, como um período de intensa ebulição criativa diante do teatro brasileiro, dos acontecimentos e das transformações políticas e sociais que marcaram esse período na história do país. Por coincidência, o jornalista refugiou-se no Brasil para escapar das perseguições do regime português e, três meses depois de sua chegada (março de 1964), viu acontecer o golpe de Estado que só terminaria em 1985. Segundo a organizadora, Apolinário era entusiasta do teatro predominantemente brasileiro, como o realizado pelo Teatro de Arena, mas mantinha certo distanciamento profissional para preservar a natureza e a essência de sua crítica teatral. Mas isso não o impediu de participar de certas articulações, algumas para a criação de entidades de classe, como a Associação Paulista dos

Fotos: Antonio Scarpinetti/ Divulgação

A professora Maria Luiza Teixeira Vasconcelos: arquivo rende mais dois volumes

Críticos de Arte (APCA), e de reuniões com grandes nomes do teatro paulista, realizadas na redação do jornal Última Hora, na Alameda Barão de Limeira, em São Paulo.

LIVRO

A pesquisa realizada para a montagem do acervo de João Apolinário resultou na publicação de dois livros, com cerca de 1.200 páginas, contendo 329 imagens históricas do teatro nacional e mais de 300 textos (críticas e artigos) produzidos pelo crítico no Brasil. Além do trabalho de resgate da obra do jornalista, Maria Luiza recuperou imagens da época, organizadas de forma cronológica nos dois livros, vinculadas a cada texto das críticas que Apolinário escreveu, de forma que é possível ler e “construir” na mente as principais cenas do teatro paulista. As imagens são do arquivo pessoal do crítico e do acervo jornal Última Hora (periódico carioca que chegou a ter uma edição em São Paulo, fundado nos anos 50 pelo jornalista Samuel Wainer/1912-1980), cedidas pelo jornal Folha de S.Paulo. “A Crítica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971”, volume I e II, publicada pela Imagens, com o apoio da Petrobras, foi lançado em São Paulo, no dia 15 de maio. Apesar do espaço temporal delimitado no título da publicação, os principais artigos e críticas do jornalista de 1972 a 1974 foram integradas ao segundo volume, como um apêndice especial. Apenas com os textos posteriores a 1972, a organizadora estima que será possível publicar mais dois volumes para completar a obra do crítico teatral. No livro, Maria Luiza escreve sobre a obra do marido. Ela também convidou amigos de Apolinário, todos ligados ao teatro, para falar sobre o legado deixado por ele. Mas as intervenções da organizadora param por aí. Essa é outra marca daquele período em que a professora de história lia as críticas recém-acabadas para o marido. “Jamais houve a pergunta: gosta ou não gosta [da crítica]. Jamais a faria. Ele gostava de ouvir e eu adorava sair das minhas aulas e ler. E ele gostava de me ouvir ler a crítica que ele escrevia”, recorda Maria Luiza. De volta a Portugal, Apolinário publicou cinco livros de poesia e deixou inéditos os “Sonetos Populares Incompletos”. Morreu de câncer, aos 64 anos, em 1988.

Tarcísio Meira, Ítala Nandi, Eugênio Kusnet em cena de “Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera” (Teatro Oficina)

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1967 Elenco de “Roda Viva”, de Chico Buarque de Hollanda, dirigido por José Celso Martinez Corrêa (Teatro Galpão)

Elenco da peça “O Caso Oppenheimer”, no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo

Stênio Garcia e elenco da peça “Oh! Que Delícia de Guerra” (Teatro Bela Vista)

Armando Bogus e elenco do espetáculo “Marat/Sade” (Teatro Bela Vista)


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de junho de 2013

oda a gente :: FOTOS DA CAPA :: 1

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Drama superou a comédia

Fotos: Divulgação

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1) Juca de Oliveira e Eva Wilma contracenam em “Corpo a Corpo” (1971); 2) Paulo César Pereio e Francisco Cuoco, em “O Assalto” (1969); 3) Renato Borghi e atriz, “Na selva das cidades” (1969); 4) Maria Della Costa, Jardel Filho e Cecil Thirré, em “Falando das rosas” (1969); 5) Jairo Arco e Flecha e Rodrigo Santiago em cena de “Cada um de nós” (1965); 6) Maria Cristina, em “Hair” (1969); 7) Armando Bogus e Eva Wilma, “A megera domada” (1965); 8) Maria Bethânia, João do Vale e Zé Kéti em “Opinião” (1965); 9) Clauce Rocha (segunda, à esquerda) e elenco, em “Electra” (1965); 10) Lima Duarte, Dina Sfat (à direita) e atores de “Arena conta Zumbi” (1965).

Nos cinco primeiros anos do regime militar, a comédia perdeu espaço no teatro paulista para o gênero drama. A observação, feita em 1970 por João Apolinário, está no artigo “Senhores do teatro paulista, vamos dar uma olhada no passado”, que integra uma série de textos nos quais o crítico avalia o teatro paulista. Para classificar o gênero do espetáculo, o jornalista explicou ter se utilizado do propósito do encenador, sem ficar preso ao estilo original da peça. O artigo citado não analisa o motivo de o gênero tragédia ter saltado da faixa de 30% do total de peças encenadas em São Paulo, em 1965, para quase 60% no período de 1967 a 1969, enquanto a comédia manteve-se abaixo de 30%. Nesse período, o Brasil mergulhou nos “anos de chumbo”, com a edição do Ato Institucional nº 5 (1968) e o agravamento da repressão e da luta armada. Para a diretora adjunta do AEL, Lucilene Reginaldo, a evidência do gênero drama revela o “clima tenso em relação às liberdades e à expressão” vigente naquele período. Entre 1970 e 1971, Apolinário contabilizou números do teatro paulista, as estreias, os espetáculos, classificou as peças por gênero, por nacionalidade dos autores (a produção dos brasileiros ultrapassa a dos estrangeiros nos cinco anos analisados) e as classificou em categorias: 1) teatro realizado em 1970 de acordo com o nosso subdesenvolvimento (“produzidas dentro das condições mínimas de consumo”); 2) teatro realizado de acordo com a nossa vanguarda (“espetáculos experimentais que consideramos mais representativos da nossa capacidade criadora”); 3) teatro inferior ao nosso subdesenvolvimento (“’Quadrados’ ou acadêmicos, velhos em vários aspectos da sua produção”); 4) teatro acadêmico de acordo com o nosso subdesenvolvimento (encenações tão contraditórias quanto as anteriormente classificadas”); e 5) teatro importado inferior à nossa vanguarda. A lista completa das peças, segundo essas categorias, está no livro (volume II, páginas 375 a 377). Nessa série de textos, o jornalista defendeu a criação de uma “política cultural” para São Paulo. “A nossa preocupação, com efeito, tem sido achar os motivos da crise teatral que em 1970 assumiu uma contradição gravíssima: ao mesmo tempo em que se fomentou uma produção de espetáculos nunca antes vista, batendo todos os recordes de investimentos, alcançando as mais variadas experiências e realizações, a ausência de público, a indiferença do espectador tradicional e ou o desencanto da crítica, vieram provar que alguma coisa está errada, algo muito grave está levando o teatro para um beco sem saída, beco onde se aglomeram, hoje, perplexos ou desiludidos, os nossos mais responsáveis artistas: dramaturgos, atores, diretores etc”, escreveu em 1971 (“A quem interessa uma ‘política cultural’?”). O crítico analisou ainda o público do teatro paulista (“Qual é, afinal, essa minoria para quem se produz teatro?”, 1971), avaliou a quantidade de espectadores, o valor dos ingressos, a política de incentivos do governo e o formato de “oferta-procura” adotado na época para a seleção de peças que seriam encenadas. “Estamos na estaca zero. As classes populares estão para o teatro como os analfabetos estão para a escola. Há que alfabetizar uns e outros. Isto se, verdadeiramente, o Estado está interessado em popularizar o teatro, como parece, subvencionando as companhias teatrais de quem tem exigido, como único reembolso, as chamadas ‘temporadas populares’”, escreveu em março de 1971 (“Sugestões simples e urgentes à Comissão Estadual de Teatro”). Nos anos 70, Apolinário trabalhou para a unificação de todos os críticos de arte sob uma mesma entidade, uma forma de contrapor-se à censura da época, como escreveu o jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes, que o acompanhou nessa empreitada. Assim, nasceu a Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), criada a partir da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT). “A militância de João Apolinário no teatro paulista se deu também em outras frentes. Ele se juntou a Eva Wilma, John Herbert, Raul Cortez e Antunes Filho – ainda lembro encontros na redação do jornal Última Hora – para criar uma entidade que defendesse os artistas-produtores, em tempos sem patrocínios de leis de incentivo e sem políticas públicas. Assim nasceu a Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp), para propor estratégias comuns de produção, divulgação e proteção do seu trabalho”, afirma Mendes. Fotos: Antonio Scarpinetti

O crítico João Apolinário: analisando um teatro que buscava uma identidade

Rofran Fernandes e Lúcia Buono em “O Balcão”, de Jean Genet, no Teatro Ruth Escobar, no Rio de Janeiro

Walmor Chagas e Cacilda Becker em “Esperando Godot”, no Teatro Cacilda Becker

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Doação enriquece acervo do AEL

Quase 100 mil imagens digitalizadas, 27 mil fotografias, 4,3 mil títulos de jornais e 20 mil livros para pesquisas, entre outros números, ajudam a compreender a importância do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp para recontar a história dos principais movimentos sociais e políticos no Brasil. Em relação ao teatro brasileiro, estão disponíveis o acervo do teatro Oficina, um dos mais importantes movimentos culturais de vanguarda da década de 60 no país; Elaine Zanatta, do AEL: encontrando catálogo intacto da atriz Vanda Lacerda (1923-2001), expoente do teatro nacional; e do produtor do gênero revista Zilco Ribeiro (1921-1993), com mais de 1.300 fotografias sobre o teatro de revista, esquetes, figurinos, cenários e vedetes. Logo na abertura das caixas do acervo de João Apolinário, a diretora técnica do AEL, Elaine Marques Zanatta, encontrou um catálogo da peça “Rei da Vela” (de Oswald de Andrade), do Teatro Oficina, em excelente estado de conservação, guardado há mais de 40 anos pelo jornalista e, depois de sua morte, pela família dele. A descoberta exemplifica o potencial de cruzamentos e de complementação entre os arquivos já existentes na Unicamp. O acervo do Teatro Oficina, de 1958 a 1986, já está no Arquivo Edgard Leuenroth. A peça “Rei da Vela” (de Oswald de Andrade), como curiosidade sobre o potencial do arquivo doado ao AEL, foi considerada por Apolinário uma “encenação-manifesto”. 1971 “É um espetáculo destinado a fazer história”, escreveu em 1967, sobre o espetáculo dirigido por José Celso Martinez Corrêa. Walderez de Barros e Tony Ramos em “Quando as Máquinas Param”, de Plínio Marcos, no teatro dos Têxteis do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de São Paulo

SERVIÇO Obra: “A Crítica de João Apolinário: memória do teatro paulista de 1964 a 1971” Autor: Maria Luiza Teixeira Vasconcelos (org.) Editora: Imagens Páginas: (Volume 1, 552 páginas; Volume 2, 640 páginas) Preço: R$ 52,90 (V. I) e R$ 59,90 (V. II)


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Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

Reciclar, a missão

Fotos: Antoninho Perri

de José Maria Sustentabilidade e preservação ambiental movem ideais de supervisor de seção da Feagri MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

Os lixos gerados por nós impactam fauna, flora e espaços de lazer. A falta de educação propiciada pelos adultos é observada pelas novas gerações. Tenho receio dessa prática da cultura do mau exemplo.” Tal preocupação fez de José Maria da Silva, técnico em mecânica geral e pósgraduando em Sistema de Gestão Integrada (SGI) uma das pessoas mais procuradas na região de Campinas principalmente na Semana do Meio Ambiente, a qual abriga o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Mas a agenda e os telefonemas que interrompem a entrevista concedida ao Jornal da Unicamp mostram que o Projeto Recicle, idealizado por ele, tem sido procurado em qualquer momento do ano, o que dá a esperança de que o Brasil, daqui a algum tempo, não precise da Semana do Meio Ambiente para pensar em preservação ambiental. Depois de sair do ambiente da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) para mostrar ao Brasil as pequenas iniciativas que podem se transformar em ganhos para o ambiente, o supervisor da Seção de Máquinas Agrícolas da Feagri se desdobra entre os eventos programados por escolas, entidades e empresas. Também atende, com satisfação, os pedidos da imprensa para reportagens sobre o tema, já que a proposta do Recicle é levar conhecimento. Sem qualquer retorno financeiro, orgulha-se ao ver garotos como Felipe, estudante do nono ano do Colégio Rio Branco, inspirado no Recicle, tornar-se líder de projeto ambiental em seu ambiente escolar. Por ter como base a devolução de copos plásticos descartáveis para a sociedade em forma de material escolar (canetas e réguas), vasos, baldes e sacolas, o projeto fez as pessoas perceberem que não precisam ir até o Amazonas para se sentir preservador do meio ambiente. Tudo pode começar em seu espaço de atuação, ao lado de pessoas com as quais se convive diariamente, administrando os resíduos em sua área de trabalho. E foi assim que José Maria foi conquistando adeptos. “É preciso procurar, o tempo todo, reduzir e reaproveitar o que chamamos de resíduo”, salienta. Mas José adverte para a realidade. Mesmo com a dedicação de pessoas como ele, a população ainda descarta muitos resíduos

de maneira incorreta. “Setenta por cento de tudo que vai para o aterro sanitário poderia ser reaproveitado”, lamenta. José conta que somente na Feagri, em três anos, conseguiu recolher cerca de 360 quilos de polipropileno e poliestireno, base dos copos descartáveis de café e água utilizados nas repartições pela praticidade e para atender questões sanitárias. Esta é sua matéria-prima, mas, na verdade, o consumo de plástico é muito maior se as pessoas pensarem que ele é utilizado para embalar os produtos dispostos no carrinho de supermercado. “Imagine quanto de plástico se carrega num carrinho de supermercado e que será descartado tão logo a compra for guardada no armário? E quanto plástico tem na estrutura dos eletrodomésticos e eletroeletrônicos? As pessoas precisam se preocupar com o que fazer ao final da vida útil desses produtos. Esta é essa minha missão ao ser chamado para um evento ou palestra”, reforça. Em 2004, enquanto cumpria sua função de desenvolver máquinas para pesquisas para atender alunos, Silva pensava em algo que pudesse também satisfazer sua causa, que é garantir um ambiente propício à qualidade de vida. Para presentear funcionários e professores em um evento, na época, ele e outros profissionais resgataram um mascote não oficial da Feagri (o desenho de uma minhoca) e imprimiram num pires, mas mais que depressa, José Maria propôs um suporte tripé produzido a partir de copos plásticos reaproveitados no próprio ambiente da Feagri para sustentar o objeto. A iniciativa, acredita, instigou alguns colegas a enxergarem a possibilidade de irem adiante na busca de um ambiente preservado. Começou, então, com a ajuda de amigos da área de limpeza e administrativa a coletar os resíduos em plástico gerados na unidade. Em outra ocasião, em 2006, propôs ao diretor que o brinde de fim de ano fosse um vaso de material reciclado produzido a partir de 16 quilos de copos descartáveis coletados apenas no mês de novembro na faculdade. “Estamos numa universidade ranqueada entre as melhores do mundo, sonhada por todo adolescente que pensa em se qualificar, então é preciso falar em gestão dos resíduos e sustentabilidade”, acentua José, que não perde tempo em lembrar dados como expansão demográfica, acesso a bens de consumo e a

José Maria durante palestra: pregando que a mudança de atitude precisa ser trabalhada todos os dias

O técnico José Maria da Silva: “É preciso falar em gestão dos resíduos e sustentabilidade”

consequente geração de resíduos. As questões da degradação ambiental nas últimas décadas, segundo ele, deixam evidente a falta de domínio da situação. José Maria enfatiza que, apesar de vários convites para palestras, o objetivo do Recicle é a educação ambiental e, desta forma, procura negociar a implantação de um projeto de reciclagem nas empresas. Diante disso, sempre propõe que as empresas envolvam seus colaboradores nestas ações, para que passem a visualizar o resíduo gerado no ambiente, doméstico ou não, como algo com valor econômico. O intuito, segundo José Maria, é a diminuição dos resíduos desprezados. Para revirar a cabeça das pessoas e instigá-las, ele criou um módulo demonstrando todos os processos pelos quais o material passa até chegar ao produto final. “É uma forma de oferecer às pessoas algo para fazê-las entender que fazem parte desse mundo e, por isso, todos nos temos os mesmos direitos ao ar limpo, à qualidade da água, à qualidade ambiental e mais. Esses são aspectos importantes para sermos felizes e vivermos mais”, salienta. A renda obtida com a venda de produtos em eventos e feiras é revertida ao próprio projeto para garantir sua mobilidade e atendimento às comunidades carentes e escolas públicas. Além do reaproveitamento, o Recicle permite a muitas crianças e adultos desenvolverem suas habilidades artesanais, pintando os vasos, as sacolas e os baldes produzidos. Segundo o supervisor, foi preciso criar uma ferramenta que descobrisse dons e talentos e mexesse com a autoestima das pessoas. José enfatiza que os órgãos públicos têm de priorizar a aquisição de produtos reciclados ou a ser reciclados, a fim de promover o fomento do processo e a geração de empregos na cadeia da reciclagem, como, por exemplo, o desenvolvimento de cooperativas. Projetos assim, além da redução dos impactos ambientais, podem gerar economia, emprego e renda, segundo José Maria. Para José Maria, a mudança de atitude precisa ser trabalhada todos os dias, pois nos afazeres diários as pessoas esquecem seu compromisso com a natureza a as gerações futuras. O mais difícil, em sua opinião, é tirar as pessoas de seu cotidiano, de sua zona de conforto. O próprio Recicle deixou de existir em 2006, mas foi retomado em um minicurso oferecido por ele no Simtec, em 2008, em que chamou a atenção do público para as facilidades de reaproveitar e as dificuldades de conscientizar. Mostrou que é preciso ter a preocupação em descartar os resíduos

recicláveis no local correto, exigir do poder público ou privado a estrutura adequada para exercer sua cidadania. Para algumas pessoas que conheceram o projeto, é comum a sensação de que o copo gruda na mão até encontrar um recipiente adequado para descarte. “O indivíduo passa a pensar no efeito de sua ação. Isso é mudança de atitude.” A participação no Simtec lhe rendeu o Prêmio Destaque da edição. Ao final daquele evento, não havia sequer um copo descartado ao chão, o que chamou a atenção do público e dos organizadores. Em 2012, ele também foi vencedor do Prêmio Paepe na Feagri. Sua maneira de ver a relação entre o usuário e o copo plástico é sempre explanada em suas conversas. “A pessoa para em algum ponto, vai à cantina, onde a grande maioria dos proprietários serve no copo plástico, utiliza-o e em seguida joga fora. Pense bem: era uma gota de petróleo que estava lá debaixo do solo há milhões de anos e alguém foi lá, explorou, retirou, produziu a nafta, transportou até a petroquímica, que, por sua vez, transformou em polímeros e mandou para a empresa que faz copos plásticos, em seguida passou pelas distribuidoras até chegar ao consumidor, que em um minuto joga o copo fora e, dependendo do local, ficará por centenas de anos. Quanto consumo de energia e gases de efeito estufa foi gerado. É preciso alterar esta trajetória e reaproveitar a matéria-prima para dar uma nova vida útil” esquematiza. Em Jaguariúna, José Maria trabalhou em parceria com uma ONG, medindo a quantidade de resíduos gerados por dez empresas instaladas na cidade. A iniciativa rendeu segundo lugar nacional no Prêmio Eco-Cidade 2009. Na cidade de Pedreira, onde reside, o trabalho acontece desde 2010 com professores e alunos da rede municipal. A quantidade separada e medida gerada nas escolas daria para produzir todo material escolar, como canetas, réguas e pranchetas, segundo o supervisor. Em 2012, foi convidado a apresentar o Recicle e fazer exposição na Semana do Meio Ambiente na Câmara dos Deputados, em Brasília. Lá, onde a Lei de Resíduos começou a ser discutida no final de 1989, antes mesmo da Eco 92. Em 2010, a lei foi sancionada pelo presidente Lula, determinando que até agosto de 2014 os municípios apresentem projeto de gestão de resíduos. “O que isso significa? A partir de então, os lixões terão de ser erradicados. A Lei de resíduos sólidos determina que serão destinados aos aterros sanitários apenas os resíduos que não são passíveis de reaproveitamento, mas isso só se consegue com conscientização das pessoas. Estou fazendo minha parte”, remata.


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Dissertação destaca o papel do Cepetro na indústria do petróleo Estudo considera “positiva e desmistificadora” parceria entre Centro da Unicamp e Petrobras Fotos: Antonio Scarpinetti

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

Cepetro (Centro de Estudos do Petróleo) da Unicamp foi criado em 1987, com o objetivo de capacitar recursos humanos com conhecimentos específicos para atuar na indústria de petróleo nacional. O Centro nasceu de um convênio entre a Petrobras e a Unicamp e, desde sua fundação, mantém uma parceria considerada “positiva e desmistificadora”, na opinião de Giovanna Guimarães Gielfi, autora da dissertação “O papel da universidade no sistema setorial de inovação da indústria do petróleo: o caso do Cepetro”. O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG). “O caso do Cepetro pode ser visto de forma positiva, ajudando a desmistificar a relação universidade-empresa. Ensino e pesquisa não são excludentes, mas se retroalimentam”, afirma a autora. Giovanna pesquisou a história do Cepetro e da Petrobras, e também aprofundou seus conhecimentos sobre o papel da universidade e dos sistemas de inovação, além do setor do petróleo desde a década de 1930, bem antes da criação da Petrobras no segundo governo de Getúlio Vargas.

“O PETRÓLEO É NOSSO”

Em 1953, o país alimentava um “sonho de soberania”. A história da Petrobras, contada por ela própria em seu site, dá conta que, neste ano, a produção era de apenas 2.700 barris/dia. Pouco mais de 1% do petróleo consumido no Brasil era oriundo da produção própria. O óleo e seus derivados eram responsáveis por mais da metade do consumo de energia em todo o território nacional. A partir de 1961 a empresa começou a procurar petróleo no mar. A criação do primeiro centro de pesquisas da estatal data de 1968, mas foi em 1986, um ano antes da criação do Cepetro, que a Petrobras lançou o Procap – Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (400 metros na época). A Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, já estava em atividade e, nesse período, o Brasil já produzia a metade do petróleo consumido. Entre uma fase e outra houve, no entanto, uma imensa crise.

CHOQUES DO PETRÓLEO

Os antecedentes da cooperação entre Unicamp e Petrobras remetem à década de 1970, quando o Brasil, como o restante do mundo, enfrentou duas crises do petróleo. O país importava quase que a totalidade do óleo cru consumido e, com a alta nos preços imposta pelos países da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), a Petrobras, que atuava principalmente no refino, avançou na direção da pesquisa, visando a exploração e produção de petróleo no país. “A pouca quantidade do petróleo encontrada no Brasil estava em terra e era de uma viscosidade que não interessava ao mercado de combustível. Até que, com a descoberta a Bacia de Campos, em 1974, abriu-se uma nova fronteira para as atividades de exploração e produção de petróleo, e uma alternativa à dependência do petróleo estrangeiro. Foi quando a Petrobras intensificou seu esforço de capacitação de recursos humanos em nível de pós-graduação e os contratos de pesquisa com as universidades brasileiras”, ressalta a autora. Giovanna salienta que não havia tecnologia para a exploração do petróleo em águas profundas em nenhum outro país. “O Procap representa um marco, tamanho o esforço e a quantidade de recursos que a Petrobras investiu buscando a cooperação com outras empresas, fornecedores e universidades”. A inflexão na estratégia da Petrobras que se volta para a exploração e produção exige logo de imediato que se formem mestres em engenharia de petróleo. E não havia nenhum curso em toda a América Latina.

Laboratório do Cepetro, cuja implantação deu-se em 1987 a partir de convênio com a Petrobras: inovação e capacitação de mão de obra especializada

VISÃO ESTRATÉGICA

O projeto do Cepetro previa a criação do curso de pós-graduação no nível de mestrado em Engenharia de Petróleo, apoiado pela estatal e sob responsabilidade da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). Até então, os recursos humanos empregados pela estatal eram formados fora do país, especialmente nos Estados Unidos. Mas não havia docentes que trabalhassem com o tema na Universidade. A Petrobras atraiu professores de universidades estrangeiras para o Centro e enviou docentes da Unicamp para formação no exterior. Este intercâmbio de profissionais e a troca de conhecimentos foram essenciais para a autonomia do Centro. “A ideia do convênio era que a Unicamp ‘tomasse para si’ o curso depois de um período seis anos, embora no início a maior parte das vagas tenha sido destinada aos funcionários da Petrobras”, assinala a autora. Os anos que se seguiram foram de desenvolvimento do Cepetro junto ao setor. Em 1997 houve a quebra do monopólio da Petrobras e a abertura da exploração para outras empresas. Dois novos instrumentos de financiamento da pesquisa foram criados: o Fundo Setorial do Petróleo e a Cláusula do 1%, da Agência Nacional de Petróleo (ANP). “Essas medidas proporcionaram um novo ambiente para as universidades realizarem pesquisa com muito mais recursos disponíveis”, assegura. O Fundo Setorial destina uma parcela dos royalties para o investimento em Ciência e Tecnologia, sempre em cooperação entre as universidades e institutos de pesquisas. A Cláusula, por sua vez, estabelece a obrigatoriedade do concessionário investir o valor correspondente a 1% da receita bruta de um determinado campo na realização de pesquisa e desenvolvimento, além da aplicação de metade deste valor na contratação de instituições credenciadas pela ANP. Em razão dos novos instrumentos de financiamento, a partir dos anos 2000 o Cepetro se engajou com maior vigor nas atividades de pesquisa. O número de publicações e convênios aumentou, houve melhoria dos laboratórios e atração de recursos humanos. “A dedicação a uma pesquisa ‘voltada para uma empresa’ poderia significar uma perda da função da Universidade, ou que a Unicamp estivesse deixando de pensar no avanço do conhecimento, mas não. Em vez de prejudicar as atividades acadêmicas, o relacionamento com o setor produtivo permitiu à Universidade ampliar sua participação na execução de pesquisas, melhorar sua infraestrutura laboratorial e assim atrair mais recursos humanos”, observa.

culação à demanda tecnológica e de formação de recursos humanos específicos ao setor de petróleo.

CONQUISTAS

Giovanna Guimarães Gielfi, autora do trabalho: “Ensino e pesquisa não são excludentes”

O Cepetro também teve participação importante na discussão de como formatar a regulação institucional do setor para a ANP. Fez inclusive a transferência dos dados que eram da Petrobras, mas que voltariam para o poder da união para as rodadas de licitação da Agência. “Foi um projeto imenso e superestratégico, com o processamento de dados sobre várias óticas: geológica, geofísica, da engenharia e econômica”, detalha. De acordo com a dissertação, a maior parte das pesquisas do Cepetro hoje tem financiamento de fontes externas, sendo a Cláusula da ANP responsável pelo maior montante. “Entre 2006 a 2012, a Unicamp recebeu R$ 83,8 milhões provenientes da Cláusula. Parte dos recursos foi usada para a construção de laboratórios”. Também em 2012, o Cepetro foi a unidade da Unicamp que mais arrecadou dinheiro para pesquisa de fontes externas em números absolutos. Giovanna enfatiza que os resultados são consequência ainda do modelo de gestão institucional do centro, uma competência importante que foi desenvolvida. “O Cepetro consegue gerir os contratos de forma rápida e lidando com a burocracia. É um ponto facilitador da relação dos pesquisadores com as empresas”, diz. O Centro tornou-se reconhecido nacional e internacionalmente por sua atuação em pesquisa, apoio ao ensino, e por sua vin-

Em 2006, o Brasil tornou-se auto-suficiente na produção de petróleo e gás com a produção de 1,9 milhão de barris/dia. As exportações superaram as importações e desde 2007 um novo cenário se projeta para o setor com a descoberta do pré-sal, a sete mil metros de profundidade. Até 2017 a expectativa é produzir um milhão de barris/dia. A participação do Cepetro continua decisiva. “A Unicamp participa das pesquisas. Um exemplo é a Rocha de Travertino, que foi enviada ao Centro e que simula as condições geológicas do pré-sal para estudos aqui em Campinas”, ressalta Giovanna. Um diferencial da dissertação é que muitos estudos da relação universidade-empresa normalmente se voltam para as patentes licenciadas. “Eu preferi não utilizar este parâmetro porque, no Brasil, a normatização da propriedade intelectual nas universidades é muito recente, começa em 2004 com a Lei da Inovação e, na Unicamp. com a criação da Inova (Agência de Inovação Inova Unicamp). A relação da Unicamp com a Petrobras antecede este período e transcende a forma de interação por patentes. Há outras formas que incluem as formas de ciência aberta, que são importantes para a transferência de conhecimento”, afirma. Giovanna cita o impacto bastante expressivo no meio científico das publicações do centro. Ela acrescenta que as publicações foram citadas em um grande número de patentes que nem mesmo são da Petrobras, fazendo “circular” o conhecimento. “A postura da Unicamp desde o princípio, o respaldo da Petrobras e o próprio arranjo institucional do centro, que permite contornar uma rigidez junto com os mecanismos de financiamento, criaram um ambiente propício para a Universidade atuar na pesquisa em petróleo. Trata-se de um caso muito positivo, que pode servir como exemplo para outras interações”.

Publicação Tese: “O papel da universidade no sistema setorial de inovação da indústria do petróleo: o caso do Cepetro” Autora: Giovanna Guimarães Gielfi Orientador: Newton Muller Pereira Unidade: Instituto de Geociências (IG)


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Vida a ca dêi ma c Painel da semana

Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

Eventos futuros  Fórum de Arte, Cultura e Educação - Museu e escola: atravessando fronteiras. Tema estará em debate no dia 11 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Será durante a realização do Fórum de Arte, Cultura e Educação. Programação, inscrições e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/ foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/arte51.html  TEDxUnicampLive - O Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics) organiza o evento TEDxUnicampLive 2013, dia 12 de junho, às 10 horas, na sala PDG da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Mais informações no site http:// www.nics.unicamp.br/tedxunicamp/  Fórum de Esporte e Saúde - O seminário internacional “Crise financeira mundial e saúde: os desafios dos sistemas públicos de saúde no mundo” é o tema que será discutido no Fórum Permanente de Esporte e Saúde, dia 13 de junho, às 12 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O evento será transmitido pela RTV-Unicamp e é direcionado aos professores, alunos, pesquisadores de saúde coletiva, trabalhadores do SUS e representantes de Conselhos de Saúde. O Fórum é apoiado pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (Fapemat) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em parceria com a Escola de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso – ESPMT. Interessados em participar do evento podem se inscrever no endereço eletrônico http://foruns.bc.unicamp.br/

Painel da semana

Teses da semana

 Palestra da Cori - A Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) organiza no dia 3 de junho, às 12 horas, no auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL), uma palestra sobre a École Nationale Supérieure des Mines de St-Étienne (França) com Florence Granger (relações internacionais da Mines) e Kátia Leclere (representante da Mines no Brasil). No evento serão apresentadas informações sobre a École e os programas de intercâmbio disponíveis na área de Engenharia. Alunos, professores e interessados no assunto são o público-alvo. Mais informações: 19-3521-7145.  Hitchcock - O Centro Cultural do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) exibe, às terças e quintas-feiras, a partir de 4 de junho, sempre às 17h30, um ciclo de filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock. O primeiro filme a ser exibido será “Um Corpo que cai”. A organização é do professor Paulo Vasconcellos. Entrada livre. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail odoricano@ig.com.br  Arqueologia Subaquática - O Laboratório de Arqueologia Pública “Paulo Duarte” (LAP) do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) é um dos organizadores da VIII Semana Temática de Oceanografia (STO). Nos dias 6 e 7 de junho, o LAP oferecerá, no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP), o curso “Introdução à Arqueologia Subaquática”. Ele será ministrado por Luciana Bozzo Alves. Interessados em fazer inscrição devem acessar o link http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2013/05/21/ sto.io.usp.br/precursos  Linguística Aplicada - O II Ciclo de Diálogos em Linguística Aplicada acontece no dia 6 de junho, às 9h30, no auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). No evento, a professora Angela Kleiman (Unicamp) aborda o tema “Metas, políticas e planejamentos nacionais de educação linguística: impactos da/na pesquisa linguística aplicada”. Já o professor Luiz Paulo da Moita Lopes (UFRJ) fala sobre “Pesquisa em linguística aplicada: Entre lugares/margens, discursos emergentes e política”. O tema “(Quem) precisa de (Que) método para pesquisa (interpretativa) em linguística aplicada?” será apresentado pelo professor Pedro Moraes Garcez (UFRS). O Ciclo é organizado pelos professores Márcia Mendonça e Petrilson Alan Pinheiro da Silva. Mais informações: 19-3521-1518.

 Computação - “Sobre a caracterização de grafos de visibilidade” (mestrado). Candidato: André Carvalho Silva. Orientador: professor Pedro Jussieu de Rezende. Dia 5 de junho, às 10 horas, na sala 53 do IC2.  Educação Física - “Corpos na escola: (des)compassos entre educação física e religião” (doutorado). Candidata: Ana Carolina Capellini Rigoni. Orientador: professor Jocimar Daolio. Dia 7 de junho, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Análise da capacidade de carga de estaca escavada instrumentada de pequeno diâmetro por meio de métodos semi-empíricos” (mestrado). Candidata: Tami Schulze. Orientador: professor Paulo José Rocha de Albuquerque. Dia 3 de junho, às 14 horas, na sala de defesa da teses da CPG da FEC. “Contribuição da absorção de água, emissividade e refletância solar para o desempenho térmico de telhas de fibrocimento” (doutorado). Candidata: Carla Fernanda Barbosa Teixeira. Orientadora: professora Lucila Chebel Labaki. Dia 5 de junho, às 10 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Ambiente virtual de simulação e visualização do comportamento de risers” (mestrado). Candidato: Rafael Guimarães Ramos. Orientador: professor José Mario De Martino. Dia 5 de junho, às 10 horas, no prédio da CPG da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Estudo e adaptação de um método de gestão de desempenho de modelos de negócios em uma empresa nascente de base tecnológica (Startup)” (mestrado). Candidato: Vinicius Luiz Ferraz Minatogawa. Orientador: professor Antonio Batocchio. Dia 4 de junho, às 14 horas, no auditório do DEF/FEM.  Engenharia Química - “Desenvolvimento de biodesemulsificantes para a quebra de emulsão água em óleo” (doutorado). Candidata: Jacqueline Rêgo da Silva Rodrigues. Orientador: professor Elias Basile Tambourgi. Dia 3 de junho, às 10 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ.

Artífices da cidadania

Livro

da semana

Mutualismo, educação e trabalho no Recife oitocentista Sinopse: O leitor tem em mãos um livro que analisa a luta de muitos mestres de ofício pela conquista de sua cidadania. Homens livres descendentes de africanos, os trabalhadores que povoam esta obra viveram no Recife, entre 1836 e 1880, quando ainda vigia o escravismo. Eles organizaram uma associação de auxílio mútuo para combater dois estigmas que rondavam suas vidas cotidianas: o da escravidão e o do “defeito mecânico”. A nova entidade estava alicerçada na cultura corporativa e seus objetivos eram a promoção de aulas noturnas, a prestação de socorros financeiros e a conquista de serviços para seus sócios. Entre outros feitos do grupo, a criação do Liceu de Artes e Ofícios foi um dos mais destacados. Paulo Leminski Autor: Marcelo Mac Cord é doutor em história social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor adjunto de história da educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicou O rosário de D. Antônio: Irmandades negras, alianças e conflitos na história social do Recife, 1848-1872 (Editora Universitária da UFPE/Fapesp, 2005). Ficha técnica: 1a edição, 2012; 440 páginas Formato: 14 x 21 cm ISBN: 978-85-268-0987-1 Área de interesse: História Coleção Várias Histórias Preço: R$ 42,00

 Geociências - “Planejamento e gestão territorial visando usos múltiplos da água no entorno do reservatório de Santo Grande (SP) com o uso de geoprocessamento” (doutorado). Candidato: Marcelo Fernando Fonseca. Orientador: professor Lindon Fonseca Matias. Dia 7 de junho, às 14 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “Por um Inglês Menor: a desterritorialização da grande língua” (doutorado). Candidata: Junia Claudia Santana de Mattos Zaidan. Orientador: professor Kanavillil Rajagopalan . Dia 3 de junho, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Ensino infantil da língua inglesa no Brasil: uma análise discursiva da evidência do ‘quanto mais cedo melhor’” (mestrado). Candidato: Alan

Febraio Parma. Orientadora: professora Claudia Regina Castellanos Pfeiffer. Dia 4 de junho, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A ideia de literatura nos romances do novo jornalismo” (doutorado). Candidata: Cyntia Belgini Andretta. Orientador: professor Antonio Alcir Bernárdez Pécora. Dia 4 de junho, às 14 horas, no anfiteatro do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “A teoria do índice de Conley discreta para conjuntos básicos zerodimensionais” (doutorado). Candidata: Mariana Gesualdi Villapouca. Orientadora: professora Ketty Abaroa de Rezende. Dia 7 de junho, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.

Destaque do Portal

Pianistas do IA tornam-se mestres e doutores nos EUA s pianistas Maíra Cabral e Henrique Borges conheceram-se e estudaram juntos no Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, durante a graduação, mas terão de se separar no mestrado, por um bom motivo, dentro de um mesmo país: Estados Unidos. Maíra será aluna do programa de mestrado da Ohio University, e Henrique, da Temple University. Mas o tempo passa rápido e quem sabe, em breve, sejam professores e pianistas ainda mais qualificados numa mesma cidade, aqui ou acolá. Maíra e Borges repetem a história de muitos músicos graduados em música pela Unicamp. Dez desses músicos foram alunos de piano de Mauricy Martin, professor de piano no curso de graduação em música erudita da Unicamp, que também teve sua formação, da graduação ao doutorado, em universidades norte-americanas. Em breve, eles irão confirmar as histórias contadas por Gabriel Rebolla e Guilherme Godoi, por exemplo, que passam férias em Campinas e apoiam os amigos nesta nova etapa da formação. “A diferença entre a Unicamp e Ohio é que o programa deles é voltado ao fazer artístico, ao conhecimento da área específica, no caso o piano. É preciso ser paciente para se acostumar com algumas diferenças, como a cultura, a maneira de se relacionar. Têm de se acostumar a chegar na hora e fazer tudo o que solicitam.” De acordo com Mauricy, apesar da bagagem garantida na graduação, a seleção é feita a partir da performance de cada instrumentista, gravada e enviada à comissão julgadora das universidades.

A aprovação, segundo Godoi, também depende de um recital, no qual a prática, aperfeiçoada durante o mestrado, é avaliada. Além do recital, os candidatos ao título de mestre ou doutorado são avaliados, em provas finais, pelos principais professores do curso, com questões relacionadas às principais disciplinas. De acordo com Godoi, na Ohio University, as matérias são voltadas àquilo que o aluno pretende fazer como músico. “As matérias foram todas relacionadas com o que quero para o futuro. Quero ser professor, então fiz curso de pedagogia de piano, foi bem legal para expandir as ideias”, acrescenta Godoi. Segundo o pianista, a universidade exige maior nível de resultado e rapidez no retorno aos trabalhos solicitados. “Se você não entregar significa que está no lugar errado.” É em busca desta exigência que Maíra cruzará as Américas para complementar sua formação. O encontro com músicos de nível mais elevado também está no conjunto de expectativas da pianista, que espera ampliar sua visão sobre o fazer artístico. A convivência com instrumentistas de diferentes lugares do mundo está entre os benefícios que uma pós-graduação nos Estados Unidos tem garantido a profissionais que já passaram pela experiência. A internacionalização em cursos de música norte-americanos é muito forte, segundo o professor. “Lá, terão de interagir com russos, chineses, alemães e certamente essa convivência os enriquecerá culturalmente. Também recebemos alunos de outros países.” Esta troca faz com que os pianistas tenham noção melhor em relação ao que fazem e como devem se colocar no mercado de trabalho, na opinião de Mauricy, que acredita que a educação, em grande parte, tem de preparar para mercado de trabalho.

Para Borges, é muito importante a postura das universidades norte-americanas de colocar a performance ao lado da pedagogia pianística. Segundo Martin, no Brasil, a pedagogia específica, focada em cada instrumento, ainda é incipiente, mas nos Estados Unidos existe há mais de 60 anos e forma instrumentistas e professores especialistas em garantir o aprendizado de piano a crianças e adultos. Ele alerta sobre a confusão entre pedagogia e licenciatura. “Uma é para garantir o ensino de música em escolas públicas, a outra (pedagogia) é para intensificar o ensino em determinado instrumento.” De acordo com Mauricy, a maioria dos profissionais que voltam do exterior com-

põe o quadro docente em cursos de graduação de universidades brasileiras. É o caso de Claudia Deltregia, hoje professora na Universidade de Santa Maria. Maíra e Godoi tiveram contato com a música ainda na infância, o que os levou a buscar preparação para o vestibular da Unicamp. Já Borges, começou piano somente aos 14 anos, mas, por incentivo de seu professor, também foi aprovado no vestibular, mas revela: “Optei pela Unicamp por ter escolhido, o Mauricy, antes da inscrição, por indicação de meu professor no Guarujá. Todas as disciplinas são ricas, mas a relação com o professor de instrumento é muito importante”, arremata Borges. (Maria Alice da Cruz) Foto: Antoninho Perri

O professor Mauricy Martin ao lado dos alunos selecionados: seleção rigorosa


Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

Como contemplar

a biodiversidade na era digital?

Tese ressalta a importância de políticas públicas no contexto dos sistemas de informação CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ma sociedade sustentável pressupõe o acesso à informação qualificada não apenas dos envolvidos na sua produção, mas também dos vários segmentos responsáveis pela formulação de políticas públicas. Este constitui o principal escopo da tese desenvolvida pela pesquisadora Dora Ann Lange Canhos, ao analisar os “Sistemas de informação em biodiversidade e a formulação de políticas públicas na era digital”, em estudo centrado no Brasil, considerado um país biodiverso. O trabalho adota como tema a influência das tecnologias da informação e comunicação na circulação do conhecimento técnico-científico e o seu efeito na elaboração de políticas públicas em biodiversidade. Considera que o avanço dessas tecnologias afeta a forma como o conhecimento é produzido e como os resultados são difundidos. Constata que são elas que possibilitam o envolvimento de mais atores na gênese do conhecimento, oriundos de diferentes disciplinas, especialidades, instituições, localidades, países, culturas e realidades sociais. O estudo rompe com o paradigma tradicional de compartilhamento de dados e resultados científicos por meio apenas de publicações em livros e revistas especializados, não mais suficientes para atender à demanda contemporânea, que necessita não só de dados, não raro de forma instantânea, mas de conhecimentos de processos e análises que permitam maior transparência e reprodutividade dos resultados. O trabalho leva em conta ainda que não basta a disponibilização dos dados on-line, mas que estes precisam estar organizados de forma padronizada em formatos úteis e utilizáveis, acessíveis, tanto por interfaces humanas como também via serviços web. Além do papel da tecnologia e da necessidade científica de compartilhar dados, métodos e análises em diferentes escalas e disciplinas, a autora considera a importância do acesso e uso dos dados e aplicativos para os processos de tomada de decisão em escalas local e global. Entende que isto é particularmente verdadeiro quando o tema é meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Na tese, a pesquisadora defende que a política para dados sobre diversidade deve promover o seu acesso livre e aberto, sem geração de custos para o usuário, e que as exceções sejam, essas sim, objeto de tratamento diferencial. A autora destaca a importância de implantação de políticas públicas de longo prazo em relação ao desenvolvimento e manutenção contínua de infraestruturas de dados para armazenar, organizar, preservar, recuperar e disseminar on-line dados e informações sobre biodiversidade. Enfatiza a necessidade das agências e do poder público se capacitarem para se apropriarem desses dados e informações disponibilizadas nas e-infraestruturas, assim chamados os ambientes que também provêm ferramentas e serviços para colaboração e compartilhamento de recursos em pesquisas científicas. A pesquisa assume características particulares, dado que Dora Canhos trabalha há 12 anos no Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), associação civil, sem fins lucrativos, que tem por objetivo disseminar o conhecimento científico e tecnológico, visando a conservação e a utilização sustentável de recursos naturais. A meta e estratégia do Centro são a disseminação de informação eletrônica como ferramenta na organização da comunidade científica e técnica do Brasil, especificamente na área biológica, com vistas à utilização racional da biodiversidade. A pesquisadora considera que a sua inserção na vida acadêmica, mais especificamente no Programa de Pós-Graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), do Instituto de Geociência (IG) da Unicamp, contribuiu sobremaneira para a sua compreensão do que seja política científica e tecnológica, ampliando sua capacidade de atuação profissional. “Além disso, participei de um grupo que goza de grande respeito e influência no Brasil e que formou muita gente que atualmente milita na vida pública”, destaca ela. Em relação à sua orientanda, a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli destaca a feliz associação dos conhecimentos sobre o tema trazidos por Dora Canhos com o olhar e o rigor acadêmicos. A docente lembra que o Programa de Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica, classificado com conceito seis pela Capes, está completando 25 anos, tempo em que formou 300 mestres e doutores, e que experiências como a da pesquisadora têm um profundo impacto na incorporação de novos conhecimentos na pós-graduação.

Na tese, a autora procura mostrar a oportunidade, a viabilidade e a importância de usar infraestruturas eletrônicas ou digitais (as e-infraestruturas) em biodiversidade para ampliar o acesso e a usabilidade dos dados no desenvolvimento científico e também para a elaboração e avaliação de políticas públicas, contribuindo inclusive para melhorar a qualidade, confiabilidade e completude dos dados e informações. Ela defende uma política de sistemas livres e abertos, de longo prazo, enfatiza a necessidade da valorização de todos os segmentos que participam na base do trabalho de construção de infraestruturas de dados, porque considera que nos meios acadêmicos e nos institutos se valorizam as pesquisas e se ignoram as importantes contribuições de taxonomistas e outros especialistas envolvidos, os quais garantem a qualidade, organização e disseminação de dados e mesmo a implantação do sistema.

ETAPAS

A revolução das tecnologias de informação e comunicação é considerada hoje como um acontecimento histórico da mesma dimensão da Revolução Industrial (século XVIII). Esse é o lugar também ocupado pela internet e da chamada big data e mesmo da eScience. Ao procurar compreender a influência e o impacto das tecnologias da informação na circulação do conhecimento científico e avaliar o seu efeito na elaboração de políticas públicas em biodiversidade, a autora da tese distingue alguns elementos e privilegia o estudo de três casos. Primeiramente, apresenta uma breve análise da evolução da comunicação científica, detendo-se nas civilizações antigas, na cultura clássica (600 AC a 500 DC), na Idade Média (500 a 1450), na Revolução Científica (1450 a 1700), nos séculos XVIII a XXI. Essa abordagem procura mostrar a importância da informação eletrônica hoje em relação às comunicações em épocas que a precederam e fatores que determinaram suas evoluções. Em seguida, ao relacionar comunicação científica e meio ambiente, a abordagem apresenta os fundamentos teóricos da dinâmica da ciência e da tecnologia na atualidade. Conceitua o que deve ser entendido como dados, informação, conhecimento, sabedoria, gênese do conhecimento e comunicação científica, ciência aberta, bancos de informações, infraestrutura de dados e questão ambiental. Na terceira parte do trabalho, ao tratar de e-infraestruturas sobre a biodiversidade, a autora analisa três delas: a rede global “GBIF” (Global Biodiversity Information Facility), a rede mexicana “Conabio” (Comisión Nacional para el Conoscimiento y Uso de la Biodiversidad) e a rede brasileira “speciesLink”. Discute suas principais características e aponta seus aspectos positivos e fragilidades.

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Nessa abordagem, procurou delinear o que seria mais indicado para a formulação de uma política de informação brasileira voltada à biodiversidade. Por fim, ao relacionar einfraestruturas e políticas públicas, a pesquisadora discute, a partir da rede brasileira “speciesLink” , a possibilidade de definir estratégias públicas brasileiras em biodiversidade, objetivo central da tese.

CONTEXTO Os dados sobre a biodiversidade referem-se à ocorrência, na natureza, de plantas, animais, microrganismos e provêm de pesquisas realizadas em universidades e institutos de pesquisa. As amostras recolhidas são depositadas em coleções científicas e os dados divulgados por meio de redes digitais. A rede “speciesLink”, desenvolvida pelo Cria, sistema com o qual a pesquisadora trabalha, integra on-line os dados dos acervos de cerca de 300 coleções biológicas. Para garantir a universalidade do acesso, a informação precisa ser estruturada segundo padrões e protocolos internacionais. O processo demanda a captação, classificação das informações e sua organização para posterior disponibilização. A tese se propõe a mostrar o que o Brasil vem fazendo nessa área. A organização eletrônica das coleções de informações dá origem às e-infraestruturas. As coleções de todo o mundo podem estar disponíveis de maneira mais ampla em um ambiente de e-science. A professora M. Beatriz Bonacelli lembra que a disponibilidade dessas informações para uso na ciência e na orientação das políticas públicas constitui um fato relativamente novo no Brasil e no mundo, e que demanda avanços. Esse trabalho revela-se enorme. Há inicialmente necessidade de documentação e manutenção das coleções, com a participação de especialistas, taxonomistas e curadores. Não basta a disponibilização isolada dos dados on-line. Eles necessariamente precisam ser integrados e para tanto há necessidade de montagem de infraestrutura técnica especializada que garanta o recebimento dos dados sem que os responsáveis por estes percam o controle e o domínio sobre eles. No Brasil, o Cria realiza esse trabalho colocando os dados textuais e imagens das cerca de 300 coleções em um banco de dados único, como uma espécie de biblioteca, gerando a partir deles mapas, gráficos e análises disponibilizadas on-line, com vistas a facilitar o trabalho de pesquisadores e formuladores de políticas públicas. Dora Canhos acrescenta que o sistema on-line possibilitou o trabalho com equipes multidisciplinares, multiculturais de diferentes instituições e países, o que muda a forma, a gênese do conhecimento, fundamental para a questão do meio ambiente. Hoje, além do trabalho do taxonomista na determinação da espécie há necessidade do ecólogo que determina a sua função e de como ela afeta os serviços ambientais; de pessoas que atuem em comunidades locais de forma a integrá-las na preservação dos espaços etc.. A complexidade da tarefa se reduz com a utilização da informação eletrônica, que alimenta o sistema de informação e lhe serve de apoio. Ela diz que o desenvolvimento das e-infraestruturas é recente e os serviços científicos prestados por curadores e taxonomistas, ao disponibilizarem dados de qualidade on-line, precisam ser valorizados pelo poder público, assim como são valorizados as publicações, livros, aulas etc. E conclui: “Estamos vivenciando um momento de inflexão da comunicação científica, no qual a disseminação de dados on-line ganha importância, com consequências importantes para o desenvolvimento de estratégias e políticas públicas para Ciência, Tecnologia e Inovação”.

Publicação Tese: “Sistemas de informação em biodiversidade e a formulação de políticas públicas na era digital” Autora: Dora Ann Lange Canhos Orientadora: Maria Beatriz Machado Bonacelli Unidade: Instituto de Geociências (IG) Foto: Antoninho Perri

A professora Maria Beatriz (à dir.), orientadora, e Dora Ann Lange Canhos, autora da tese: acesso à informação qualificada é fundamental


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Campinas, 3 a 9 de junho de 2013

Fechando o gol ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

om o auxílio de um modelo matemático, o professor da Faculdade de Educação Física (FEF) Sérgio Augusto Cunha criou uma análise de visualização que possibilita enxergar facilmente a evolução do salto dos goleiros de futebol com o uso de uma plataforma de força e do computador. Segundo o docente, no futebol, o goleiro lida com características muito específicas para o seu preparo físico, técnico e tático. E a movimentação, para executar a defesa, passa pelas fases de expectativa, primeiro passo e salto. O seu projeto conseguiu otimizar e proporcionar desempenho máximo no salto. O trabalho é fruto do seu estudo de pós-doutorado, realizado na Universidade de Calgary, Canadá, que possui um dos melhores laboratórios de biomecânica do mundo. Esse conhecimento já está disponível para ser praticado na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, ambas no Brasil. Os testes já começam ser feitos no Laboratório de Instrumentação Biomecânica da Unicamp, e Sérgio Cunha aguarda a manifestação de times ou seleções interessados em avançar nas estratégias de defesa. Os experimentos foram feitos com seis voluntários amadores (quatro goleiros e dois não goleiros), cada qual executando nove saltos. Foram avaliados ao todo 54. Ele revela que o foco de seu trabalho foi unicamente a potência do salto, visto se tratar de uma variável de relevância para os jogadores de futebol e de outras modalidades. “O próximo passo será verificar a atuação dos goleiros profissionais”, avisa Sérgio Cunha, que pertence ao Departamento de Ciências do Esporte. Resultados preliminares apontaram que os goleiros têm um aproveitamento muito maior de energia na hora do contato com o solo do que os não goleiros. Quando fazem o impulso, por exemplo, freiam muito menos o movimento, graças à técnica.

MATEMÁTICA O modelo matemático usado pelo professor da FEF, que criou gosto pelas ciências exatas no curso de Engenharia de Alimentos, envolve uma rotina descrita no Matlab, um software que faz cálculos com matrizes e relaciona conceitos básicos como determinar valor de máximo da curva e de área sobre a curva. No caso avaliado, estudaram-se o impulso e a força-pico, particularidades do salto do goleiro, procurando aumentálos para melhorar esse movimento. Isso

se correlaciona com a potência do corpo do goleiro que, ao ter sua força aferida, fornece uma ideia do que está acontecendo com a potência. Na prática, alguns marcadores passivos são fixados nos goleiros para calcular os ângulos do quadril, joelho e tornozelo. Uma vez eles determinados, os participantes fazem o salto saindo da posição de expectativa e executando o primeiro passo. A intenção é alcançar uma bola lançada para o lado direito do mesmo modo que eles têm de fazer um salto com a máxima potência e aterrissar em um colchão. A princípio, o pesquisador planejava analisar a potência dos membros inferiores e descobrir as potências articulares, projeto que de fato está em andamento. “Descobrimos uma forma mais simples e objetiva de verificar esses dados usando a plataforma de força, que inclusive já existe comercialmente.” Uma vantagem da plataforma, onde ocorrem os saltos, é que ela poderá ser levada ao campo de treinamento para que o técnico e os atletas confiram o desempenho em termos da análise da curva de força no tempo e da área sobre essa curva. De acordo com o docente, poucos times de futebol no Brasil dispõem de uma. Mediante análise exploratória, o professor notou que essas variáveis exemplificam bem a situação pretendida e otimizam o processo buscado em termos de potência, mesmo analisando só a curva de força. Sérgio Cunha conta que, quando firmado o projeto com a Universidade de Calgary, em particular com o renomado biomecânico Walter Herzog, a ideia era ajudar algum goleiro de uma seleção ou de um grande clube a fazer uma defesa espetacular – numa cobrança de pênalti ou de falta – pela otimização dessa potência.

CABECEIO No dia a dia, fica inviável levar os goleiros ao laboratório, constata o docente, porque lá eles são colocados em marcadores que requerem constante reposicionamento, além de os testes serem bastante demorados. O Laboratório de Instrumentação Biomecânica, que em abril completou 25 anos, comenta o pesquisador, sempre procurou conduzir o projeto para uma experiência no mundo real. Eis a razão de querer introduzir a plataforma nos jogos e treinos. “Faremos agora análises de saltos utilizando goleiros brasileiros”, comenta o responsável pelo estudo, que desta vez trabalhará com goleiros profissionais. Em breve, um novo estudo deve abordar o cabeceio no futebol, feito por um orientando do docente, a fim de entender como treinar a melhora da potência dos membros inferiores. Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Sérgio Augusto Cunha: “O próximo passo será verificar a atuação dos goleiros profissionais”

Foto: Ari Ferreira

Casillas, goleiro da seleção espanhola, em ação

Na Copa de 70, no gol contra a Inglaterra, relembra o docente, Pelé subiu mais que o zagueiro, que era muito mais alto. “Essa é uma vantagem no desempenho do atleta e, em muitos casos, ajuda a evitar lesões na cabeça, visto que, se ele subir mais que o oponente, nunca acertará cabeça com cabeça.” O desenvolvimento da potência do salto para o cabeceio têm sido de suma importância no jogo, podendo ser fatores até de desestabilização do adversário. O Bayern de Munique, um dos times mais festejados desta época, usa muito o cabeceio, que tem sido um fundamento decisivo no futebol. No futebol feminino então, exige-se uma demanda maior pela potência de salto, pois a estatura das jogadoras é menor. Esse trabalho também virá nessa direção, “sempre no sentido de ajudar técnicos, preparadores físicos e atletas na melhora das condições de preparo”, expõe o professor. Por enquanto, os pesquisas no Brasil analisam a força de reação do solo e, em Calgary, a determinação das potências em cada uma das articulações, empregando softwares de simulação. Sérgio Cunha ainda está aprimorando com o professor Ricardo Torres, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, a quantificação dos padrões das curvas e planeja retornar ao Canadá em 2015, onde deve acompanhar o campeonato mundial feminino de futebol e a Olimpíada de Toronto.

ROBÔ Na mesma linha de treinamento para goleiros, dois alunos de Sérgio Cunha o procuraram demonstrando interesse em desenvolver um robô que chuta a bola para o goleiro e que faz as vezes de um cobrador de faltas. A iniciativa será desenvolvida em parceria com o professor Paulo Roberto Pereira Santiago, da USP-Ribeirão Preto, seu ex-aluno de doutorado. Esse robô será similar ao que tem sido adotado nas aulas de tênis, porém para o treino do goleiro. Atua como um lançador de bolas capaz de repetir os lances com a mesma precisão, velocidade e direção. Tanto a plataforma de força como o robô são ferramentais que auxiliam grandemente o salto dos atletas, um trunfo para os brasileiros que se dedicam à evolução do esporte no país. O incremento será fundamental para os goleiros, pois o treinador profissional não consegue chutar a bola exatamente no mesmo lugar. “Assim, conseguiremos formar um padrão, do ponto de vista científico, para analisar essas curvas, uma vez que a precisão do posicionamento da bola e a velocidade são imprescindíveis”, assinala o estudioso.

PRÉ-REQUISITOS Sob o aspecto biomecânico, ensina Sérgio Cunha, é aconselhável que os goleiros atuais sejam mais altos. Ele fez um levantamento na última Copa do Mundo, constatando que os goleiros não chegavam à média de 1,90 metro. O ideal seria ter algo próximo disso. Por outro lado, mais importante que a altura, considera, é que os goleiros tenham uma boa potência dos membros inferiores, por causa dos saltos, nas situações em que devem alcançar a bola. Afinal, o gol é muito grande: mede 7,32 m x 2,44 m. Por isso, o goleiro é o jogador que mais treina na equipe, e treina também sozinho. “Então é preciso alcançar a bola e ainda atentar para o jogador de linha, que está sempre tentando chutar a bola distante do goleiro e com a máxima velocidade”, descreve ele. São vários os tipos de saltos. Pode-se pensá-los a partir de uma cobrança de pênalti ou de uma cobrança de falta onde normalmente, após a bola ter sua trajetória definida, ele tem que iniciar esse salto, que demanda um longo alcance. Então a potência de membros inferiores é inestimável. O docente aponta como goleiros modelares Leão, Taffarel, Zetti e Carlos (aposentados), Dida (Grêmio), Rogério Ceni (São Paulo), Marcos (ex-Palmeiras), Cássio (Corinthians) e Júlio César (Seleção). Taffarel foi, recorda ele, o primeiro goleiro da seleção brasileira a jogar na Europa, abrindo um mercado atraente e reconhecido para outros que vieram a seguir. Recentemente, passou a comandar o time do Galatasaray, Turquia. Apesar de Rogério Ceni e Marcos não serem tão altos, isso não se constituiu para eles um empecilho, acredita o docente, “posto que o posicionamento desses jogadores foi peça-chave para desenvolver uma liderança dentro de campo; por isso ambos entraram para a história”, opina.

Publicação Pós-doutorado: “Mathematical model to optimize ‘goalkeepers’ jumping” Autor: Sérgio Augusto Cunha Financiamento: Fapesp


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