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Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 572 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Fotos: Antoninho Perri

Fábrica de

peças humanas 6e 7

Pesquisadores da Unicamp, ligados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biofabricação (Biofabris), começaram a testar em humanos um novo tipo de prótese customizada para pacientes com deformidades craniofaciais. Dois pacientes já foram operados nos últimos onze meses, no Hospital de Clínicas (HC), e relatam ao Jornal da Unicamp o que já mudou na vida deles. As peças são projetadas com o auxílio de computador, “impressas” em modelos tridimensionais e “esculpidas” com laser em um pó de liga à base de titânio.

Raios laser (abaixo), no Biofabris, “esculpem” prótese de liga de titânio; acima, moldes reais e virtuais usados no planejamento das peças

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A Coroa, as colônias e o jogo de interesses A internacionalização de empresas de emergentes

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Os frutos da cooperação entre Brasil e Cabo Verde A alegoria medieval do ‘Peregrino da América’

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TELESCÓPIO

‘Guerra às drogas’ afeta pesquisas Aquecimento deixa maçã Fuji mais doce Facebook torna jovens infelizes


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Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

‘Guerra às drogas’ prejudica avanço da ciência e da medicina, diz artigo

Facebook torna os jovens infelizes

A política internacional de “guerra às drogas” prejudica, quando não impede, o estudo das propriedades medicinais das substâncias banidas, e a proibição de muitas dessas substâncias carece de base científica, diz um artigo de opinião publicado na edição de agosto do periódico Nature Reviews Neuroscience. Usando como base a lista de substâncias controladas definida pela ONU, os autores argumentam que a relação foi elaborada com critérios “pouco claros e inconsistentes”, que podem ter sido “políticos, e não relacionados à saúde”. O artigo menciona que algumas drogas psicoativas, incluindo anfetaminas e derivados do ópio, têm uso médico autorizado, enquanto outras, como maconha, ecstasy e LSD são duramente controladas. “Essa distinção não é baseada no risco relativo das drogas”, afirmam os autores, mas “é um mero acidente histórico”, causado pelo fato de a medicina ter adotado as drogas mais antigas antes que as leis “draconianas” da atual era de guerra às drogas fossem adotadas. O texto traz uma lista de drogas altamente controladas que despertam interesse em pesquisas de neurociência e psiquiatria – entre elas, derivados da maconha, LSD e ecstasy. “As leis (...) têm tido um impacto negativo no progresso da pesquisa em neurociência e no desenvolvimento de tratamentos. O potencial terapêutico dessas drogas é claro, mas a investigação é prejudicada pelos obstáculos e custos que a regulamentação impõe”. Os autores mencionam que a produção legal, para fins científicos, de um grama de psilocibina – a droga presente nos cogumelos alucinógenos – chega a custar US$ 12 mil, nos Estados Unidos. O texto é assinado por David J. Nutt e Leslie A. King, do Reino Unido, e David E. Nichols, dos Estados Unidos. Nutt é um psiquiatra e psicofarmacologista especializado no estudo dos efeitos de drogas no cérebro humano. Nichols é um especialista em farmacologia, que trabalha com drogas psicoativas desde a década de 60.

Quanto mais tempo um jovem passa no Facebook, menos satisfeito ele se sente com a vida, diz estudo publicado no periódico online PLoS ONE e realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan. Para chegar a essa conclusão, os autores enviaram a 82 jovens voluntários – a idade média foi de 19 anos e meio – mensagens de texto cinco vezes ao dia, por duas semanas, com questões como: “Como você está se sentindo?”, “Você está preocupado?”, “Você se sente solitário?” e “Quanto você usou o Facebook, desde a última vez em que perguntamos?”. Pesquisas anteriores já haviam relacionado o uso do Facebook à infelicidade, mas não tinham permitido estabelecer a natureza da relação entre os fatores: se são as pessoas infelizes que buscam mais a rede social, ou se é a rede que as torna infelizes. Este novo trabalho, argumentam os autores, estabelece que é o Facebook que causa insatisfação: “Quanto mais as pessoas usavam o Facebook num momento, pior elas se sentiam quando mandávamos a mensagem de texto seguinte; quanto mais usaram o Facebook nas duas semanas, mais sua satisfação com a vida declinou com o tempo”. Um artigo anterior, publicado por pesquisadores peruanos também na PLoS ONE, havia associado o uso do Facebook à perda de qualidade de sono. Comentando o resultado do estudo de Michigan, a revista The Economist cita um trabalho realizado por pesquisadores alemães, envolvendo 584 usuários da rede social, todos na faixa dos 20 anos. Esse estudo europeu mostra que a emoção mais produzida pelo Facebook, nessa população, é a inveja. O que talvez explique o mal-estar associado à rede.

Mudança climática deixa maçã Fuji menos ácida e mais doce Quem aprecia o sabor peculiar e a textura das maçãs Fuji, geralmente mais rígidas, menos doces e mais ácidas que as demais variedades, tem um motivo a mais para se preocupar com as concentrações de CO2 na atmosfera, que alimentam a mudança climática causada pela atividade humana. Um levantamento realizado no Japão e descrito no periódico online Scientific Reports, do grupo Nature, mostra que, nas últimas décadas, essas frutas têm chegado ao período de colheita cada vez mais doces, menos ácidas e menos firmes, numa progressão relacionada ao aquecimento global. “Essas mudanças nos atributos qualitativos são provavelmente causadas pelo florescimento prematuro e pelas temperaturas mais elevadas no período de maturação”, escrevem os autores. “Os resultados sugerem que os atributos de sabor e textura das maçãs no mercado estão passando por uma transformação na perspectiva de longo prazo”. Os sinais dessa transformação tendem a se tornar mais evidentes “se o aquecimento global prosseguir”.

Maioria dos homens gostaria que a namorada dividisse a conta O estudo foi realizado nos Estados Unidos, mas o resultado talvez não fosse muito diferente se a amostra tivesse sido composta por brasileiros: de acordo com pesquisa apresentada na reunião anual da Associação Americana de Sociologia, 64% dos homens gostariam que suas namoradas se oferecessem para dividir a conta num jantar. Das mulheres, 57% disseram que se oferecem para pagar, mas dessas, 39% fazem a oferta esperando que o homem vá recusá-la.

Os autores, David Frederick, da Universidade Chapman, Janet Lever, da Universidade Estadual da Califórnia, e Rosanna Hertz, do Wellesley College, conduziram a pesquisa entre 17 mil respondentes. Outros dados levantados mostram que 44% dos homens deixariam de namorar uma mulher que nuca se oferece para dividir a conta, embora 76% dissessem se sentir culpados em aceitar dinheiro da namorada. No geral, a disposição das mulheres em compartilhar despesas aumenta com o tempo de relacionamento: apenas 40% das pessoas entrevistadas disseram que as contas de jantar eram divididas no primeiro mês, mas 74% dos homens e 83% das mulheres disseram dividir os gastos depois de seis meses.

Até a qualidade da música é julgada com os olhos O pesquisador Chia-Jung Tsi, do University College London, pediu a voluntários – incluindo músicos experientes e iniciantes – que avaliassem as performances dos finalistas de dez importantes concursos internacionais de música erudita, e tentassem adivinhar quais tinham sido os ganhadores. Para tanto, foram apresentados ou clipes de vídeo contendo trechos de som e áudio de cada performance, ou apenas o áudio, sem imagens, ou apenas o vídeo, sem a trilha sonora. Todos os participantes declararam que o som seria a parte mais importante da avaliação, mas no fim, a maior proporção de palpites corretos veio, tanto no caso dos especialistas quando dos iniciantes, das pessoas que assistiram apenas ao vídeo mudo – sem áudio. “Este conjunto (...) de experimentos sugere que o juízo dos novatos espelha o dos profissionais; tanto novatos quanto especialistas julgam a performance musical de modo rápido e automático, com base em informação visual”, escreve o autor, em artigo publicado no periódico PNAS. Ele acrescenta que o resultado tem “significado prático estatístico”, apontando para uma primazia das preferências visuais “mesmo nos níveis mais elevados de perícia musical”. Chia-Jung especula que a primazia do visual pode ter surgido na evolução da espécie por boas razões, mas que “quando essas decisões envolvem outras informações com mais poder de prever desempenho, seja na contratação de funcionários, em

consultas médicas ou na escolha de líderes políticos, temos de tomar cuidado com nossa tendência de confiar na informação visual, com o sacrifício outros conteúdos mais relevantes”.

Mais antigos artefatos de ferro nasceram no espaço Nove pequenos cilindros de ferro, usados como joias no antigo Egito há mais de 5 mil anos – cerca de 2 milênios antes que a tecnologia para fundir o metal fosse desenvolvida – tiveram origem no espaço: foram feitos de material que chegou à Terra em meteoritos. Atualmente em exibição no Museu Petrie, do University College London (UCL), os cilindros foram produzidos da seguinte forma: fragmentos de metal foram martelados até se reduzirem a folhas delgadas, que então foram enroladas para dar forma às contas que, depois, acabaram usadas como parte de um colar que apresentava também pedaços de ouro e pedras preciosas. A origem meteorítica das contas de ferro, descobertas numa escavação em 1911, foi determinada por uma equipe liderada pelo arqueólogo Thilo Rehren, do UCL Qatar, um campus avançado da instituição britânica no Oriente Médio, e apresentada em artigo publicado no periódico Journal of Archaeological Science. As joias estavam numa tumba de 5.200 anos atrás. Em nota distribuída pela universidade, Rehren diz que o resultado mostra que os metalurgistas da época já sabiam como trabalhar o ferro meteorítico, composto de uma liga de ferro e níquel muito mais dura que o cobre, o metal mais comum da época. Isso sugere que, quando o ferro finalmente passou a ser fundido, milênios depois, já havia uma boa experiência acumulada sobre como lidar com o metal. A equipe de Rehren usou feixes de raios-X, nêutrons e raios gama para analisar em detalhe os cilindros, e determinou que eles continham, além de ferro e níquel, altas concentrações de cobalto, fósforo e germânio, em quantidades características do ferro vindo de meteoritos. Essa mesma análise permitiu que os pesquisadores vissem a estrutura interna dos cilindros, descobrindo que haviam sido produzidos a partir de folhas de ferro enroladas. Foto: UCL Petrie Museum/Rob Eagle/Divulgação

Alguns dos cilindros de ferro meteorítico, cercados por outras contas do colar em que estavam

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Um intrincado jogo de interesses Dissertação do IFCH revela como a história militar colonial foi marcada pela troca de favores MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

troca de interesses marcou a relação entre a Coroa Portuguesa e os moradores das colônias, o Brasil inclusive. Uma das maneiras encontradas pelos colonos para servir aos monarcas portugueses era pegar em armas e lutar contra os inimigos do Império, notadamente invasores estrangeiros e índios e escravos revoltosos. Pela tarefa, os integrantes dessas milícias eram posterior e eventualmente recompensados com remunerações em dinheiro, cargos militares ou títulos honoríficos. Esses e outros aspectos da história militar colonial foram detalhados na dissertação de mestrado da historiadora Laura Peraza Mendes, defendida recentemente no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sob a orientação da professora Silvia Hunold Lara. Para revelar detalhes de como esse serviço de armas funcionava, Laura usou como pano de fundo as expedições enviadas pela Coroa para combater os mocambos de Palmares, entre os anos de 1676 e 1679, na então Capitania de Pernambuco. De acordo com a pesquisadora, o uso de tropas foi a forma que os monarcas encontraram para estabelecer um tipo de organização militar na colônia, com o objetivo de preservar seus interesses. O modelo se diferenciava do serviço militar convencional, que só viria a ser implantado no Brasil no século 19, por dois motivos principalmente: não ter caráter profissional e ser recompensado posteriormente, ainda assim depois de uma ampla avaliação. A historiadora explica que as tropas eram formadas por diferentes moradores da colônia. Assim, havia as que eram constituídas por brancos, as que eram integradas por pardos e mulatos e as que eram compostas por índios. Essas tropas atuavam de forma isolada ou em conjunto, dependendo da empreitada. “Nas expedições contra Palmares, por exemplo, as tropas eram mistas. Ao contrário dos integrantes das tropas regulares, que recebiam soldos, os milicianos não contavam com esse tipo de remuneração. Normalmente, eles recebiam alimentos e alguma ajuda de custo para realizarem as expedições. Somente depois da missão executada é que eles recorriam à Coroa em busca de compensações”, detalha Laura. As recompensas, continua a historiadora, poderiam ser concretizadas de diferentes maneiras. Uma delas era por meio da concessão das chamadas mercês. Muitos colonos pleiteavam, por exemplo, o hábito da Ordem de Cristo, uma organização religiosa e militar que teve origem com as Cruzadas. “O uso da insígnia dessa ordem conferia honra e status. Além disso, o seu portador tinha direito à tença, um pagamento anual feito pela Coroa”, conta Laura. Conforme a autora da dissertação, outra forma de ressarcir os integrantes das tropas era conceder-lhes postos militares e cargos de ofício. Ocorre, porém, que as recompensas não eram obtidas de forma automática, como esclarece Laura. Segundo ela, antes de receber o hábito da Ordem de Cristo, o pleiteante tinha a sua vida criteriosamente avaliada pela Mesa de Consciência e Ordens. Tal instância da Coroa levava em consideração uma série de critérios, entre eles a origem social e religiosa do colono. Pessoas que faziam trabalhos manuais, por exemplo, eram impedidas de receber o hábito, pois a atividade era um sintoma de que não levavam uma vida nobre, ou seja, não eram dignas de se tornarem cavaleiros da Ordem. O mesmo ocorria com aqueles que tivessem na família cativos ou cristãos novos. Em outras palavras, houve diversos casos de homens que lutaram em nome da Coroa, mas que não obtiveram mercês porque não se enquadravam nos demais critérios estabelecidos pelos monarcas portugueses. “Um dado interessante relacionado a essas

recompensas é que os serviços eram patrimonializáveis. Alguns colonos acumulavam feitos, que deixavam como herança para seus filhos, como forma de lhes garantir uma vida melhor. Há casos em que o pai deixava esse patrimônio para a filha, mas em nome de um genro que sequer existia ainda. Por se tratar de uma sociedade patriarcal, era esse genro quem reivindicaria a mercê a que o sogro julgava ter direito”, relata Laura. Alguns historiadores, destaca a pesquisadora, têm apontado mais recentemente que, por meio desse tipo de relacionamento, a Coroa Portuguesa acabou por transferir para os colonos o ônus da conquista e da colonização. “Essa análise está baseada na constatação de que as câmaras e os moradores das capitanias foram transformados nos principais financiadores das expedições. Segundo a legislação do Império português, no caso do combate contra Palmares, a Fazenda Real de Pernambuco é que deveria fornecer as condições necessárias à execução das missões. Entretanto, ela alegava não ter recursos. O ônus, então, era repassado à Câmara e aos moradores, que custeavam alimentação, armas e munições. Algumas fintas (cobranças temporárias) chegaram a ser criadas para bancar essa estrutura e logística”, diz a autora da dissertação.

O financiamento das expedições contra os mocambos de Palmares, observa Laura, recaiu sobre os moradores. Obviamente, estes tinham interesse em arcar com esses custos, por diversas razões. Os senhores de engenho, por exemplo, queriam resgatar os escravos fugidos, além de impedir que outros escapassem. Já os integrantes das tropas objetivavam vantagens financeiras, visto que os palmarinos aprisionados poderiam ser vendidos como escravos. “Esse era mais um argumento usado pelos governadores para incentivar os colonos a lutarem em nome da Coroa. Os lucros advindos dos conflitos poderiam ficar com eles”.

ESCRAVISMO

Um aspecto que diferencia as expedições organizadas para combater Palmares das demais, no entender de Laura, é justamente a questão do escravismo. A historiadora assinala que a sociedade de então era escravista, o que fazia com que as ações de combate aos amocambados fossem distintas daquelas organizadas para enfrentar os inimigos holandeses. “Vale reafirmar que as guerras contra os palmarinos abriam a possibilidade de os integrantes da tropa lucrarem. Eles tanto podiam recapturar escravos fugitivos quanto

Reprodução de edital feito pelo governador de Pernambuco Aires de Sousa de Castro para a realização de expedição contra Palmares em 1679

Consulta do Conselho Ultramarino que avalia o pedido do capitão Fernão Carrilho por mercês, em 1680 Fonte: AHU_ACL_CU, Consultas de Mercês, Cód. 85, fl. 285v-286v (Arquivo Histórico Ultramarino, Códices do Conselho Ultramarino). Foto: Divulgação

fazer novos escravos, o que era compensador em termos financeiros. É o tipo de ganho que eles não podiam alcançar, por exemplo, na guerra contra os holandeses. Nesse contexto, muitos senhores de engenho também bancavam expedições particulares com o propósito de ampliar suas rendas, pois a maioria dos capturados em Palmares era vendida para fora de Pernambuco, para evitar que retornassem aos mocambos”, diz. As guerras contra os palmarinos, prossegue a autora da dissertação, eram sempre muito complicadas. Além de exigir uma estrutura complexa, as batalhas não se davam em campos abertos, mas sim em matas e, frequentemente, na forma de emboscadas. Ademais, pela própria natureza, os mocambos eram difíceis de serem encontrados, pois mudavam frequentemente de lugar. “Às vezes as tropas eram obrigadas a retornar antes mesmo de o conflito acontecer porque a comida acabava. Em outras ocasiões, as milícias conseguiam chegar ao local dos mocambos, mas encontravam somente resquícios de ocupação, uma vez que os palmarinos já haviam levantado acampamento”. Todas essas dificuldades eram destacadas pelos colonos no momento do pedido de mercês. No entanto, os feitos relacionados a Palmares não eram tão valorizados pela Coroa, segundo conta Laura. Os monarcas portugueses davam muito mais importância, por exemplo, à expulsão dos holandeses no momento de conceder recompensas. “A historiografia tradicional acreditou que a Coroa queria destruir Palmares a todo custo. Entretanto, os fatos não confirmam essa versão. Afinal, a Coroa não enviou tropas portuguesas para cumprir essa missão e nem recompensou tanto os feitos das tropas que combateram os amocambados”, argumenta a pesquisadora. Em seu trabalho, Laura analisou três expedições empreendidas contra Palmares, entre os anos de 1676 e 1679. Nenhuma delas, conforme a historiadora, destruiu a comunidade por completo. “A expedição que gerou maiores resultados para as tropas foi a de 1677, liderada pelo capitão Fernando Carrilho. Embora os números não sejam precisos, ele registra no pedido de mercês enviado à Coroa que a ação culminou com a prisão de 200 amocambados, entre eles a rainha e filhos do rei. Ele também fala de mortos, mas não apresenta dados, visto que esta questão não era tida como relevante. Além disso, Carrilho informa que o conflito gerou 541 mil réis à Coroa, valor equivalente à quinta parte dos lucros aferidos com a venda das presas, à qual os monarcas tinham direito por lei”. Palmares só viria a ser de fato aniquilado a partir de 1694. Para dar conta de desenvolver sua pesquisa, Laura recorreu a diversas fontes documentais. Ela buscou cobrir todas as etapas da relação entre a Coroa e os colonos. Assim, a historiadora consultou documentos relacionados aos pedidos de mercês, às análises desses pleitos e às concessões ou negativas das recompensas, entre outros. “Consultei vários arquivos, que continham documentações de diferentes naturezas. Procurei fazer um jogo de escalas, de modo a entender tanto as posturas e decisões locais, quanto da Coroa”, afirma a autora da dissertação, que contou com bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Publicação

Segundo Laura Mendes, autora da dissertação, a Coroa Portuguesa transferiu para os colonos o ônus da conquista e da colonização

Dissertação: “Guerras contra Palmares: um estudo das expedições realizadas entre 1654 e 1695” Autora: Laura Peraza Mendes Orientadora: Silvia Hunold Lara Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: CNPq e Fapesp


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Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

Técnica usa energia elétrica para tratamento de efluentes Fotos: Antoninho Perri

Docente da FEQ adota a eletroflotação e obtém redução drástica de sólidos suspensos CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

m dos grandes problemas ambientais enfrentados em todo o mundo é o da poluição dos cursos d’água decorrente da atividade industrial. Em consequência, é cada vez maior e mais rigoroso o controle público sobre essas atividades, mesmo em países periféricos. Considere-se, ainda, que a crescente expansão das indústrias aumenta a demanda de água utilizada por elas em processos, situação agravada em regiões de oferta escassa. Estes fatos impõem cuidados na coleta em rios, lagoas, poços artesianos, com a otimização de uso e preocupação com o retorno da água pós-utilizada (efluentes), particularmente para os rios. O problema é enfrentado submetendo a tratamento adequado as águas dos efluentes industriais para que cheguem aos rios sem os poluentes. Costumeiramente, uma estação de tratamento de efluente (ETE) envolve várias etapas. Em uma delas, em que ocorre o denominado tratamento primário, utilizamse tradicionalmente produtos químicos para remoção de sólidos suspensos, promovendo a floculação que dá origem a sobrenadantes e precipitados. Nas ETEs industriais, a maioria de grande porte, o tempo gasto para o tratamento completo é de 7 a 10 dias, em média. Desde o início dos anos 2000, o professor João Sinézio de C. Campos, do Departamento de Engenharia de Materiais e de Bioprocessos, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, vem se dedicando a pesquisas que visam contribuir com técnicas para tratamento de efluentes, utilizando somente corrente elétrica, conhecida por eletroflotação. Ao empregar essa técnica já conhecida, chamou a atenção do pesquisador os resultados obtidos ao utilizá-la em tratamentos de efluentes de refinaria de petróleo, indústria têxtil e de papel. Surpreendeu-se com os resultados, que mostraram drástica redução de sólidos suspensos, com consequente clarificação da fase líquida em curto tempo de tratamento em relação às técnicas tradicionais. Ele constatou que, enquanto nos métodos tradicionais o tempo de tratamento se estende por 10 a 15 dias, dependendo dos tipos de contaminantes envolvidos, os resultados decorrentes do emprego da eletroflotação são conseguidos com a mesma eficiência em uma hora ou menos. Com a vantagem de não envolverem a utilização de produtos químicos. Segundo o pesquisador, os resultados obtidos com o tratamento impressionaram sobremaneira os diretores das empresas envolvidas nas pesquisas.

Amostras usadas nas pesquisas: bons resultados

Rio com refinaria ao fundo: tratamento de efluentes é desafio para o setor

Com formação em física, o professor foi convidado, em 1995, a participar do então Departamento de Tecnologia de Polímeros da FEQ/Unicamp, colaborando no desenvolvimento de polímeros condutores de eletricidade, dedicando-se posteriormente a outras áreas de pesquisa como as de síntese e caracterização de polímeros, modificação de superfícies poliméricas, aplicações de ultravioleta, descarga corona, ultrassom, entre outras. Mesmo antes de chegar à Unicamp, movido pelo interesse nas transformações eletrolíticas, se deu conta de que a água turva da chuva clareava quando submetida à eletrólise. Foi quando constatou que o uso da eletricidade no tratamento de efluentes, embora conhecido, era muito pouco utilizado, mesmo em países de tecnologia avançada. Acabou se envolvendo pela primeira vez com essa tecnologia quando, por acaso, foi solicitado a resolver um problema enfrentado por uma entidade religiosa que tinha o cultivo de flores comprometido pela água proveniente de um rio contaminado pelo chorume oriundo de uma fábrica de balas. Nessa oportuni-

dade, colaborou na construção de um reator composto de placas paralelas (tipo colmeia), utilizando material inoxidável, uma fonte de tensão e uma cuba com capacidade para 50 litros. Uma vez montadas as placas no interior da cuba, conectada a fonte de tensão e preenchida a cuba com o efluente, a corrente elétrica é então aplicada. No decorrer do processo, por ação da corrente elétrica, ocorrem transformações nos componentes do efluente que levam à flotação, com formação de sobrenadante e precipitação, do que resulta remoção dos sólidos suspensos e consequente clarificação do efluente. Esse método, que leva ao clareamento progressivo da água pela remoção de uma série de partículas indesejáveis, revelouse extremamente eficiente, o que é comprovado por uma série de medidas específicas.

TESTES

Já na Unicamp, o docente recebeu um aluno de pós-graduação, técnico da Replan, que o procurou para trabalhar com polímeros condutores. Surgiu então a ideia de utilizá-los para o tratamento de efluentes. Confessa que inicialmente se assustou com o tamanho do efluente da refinaria, que libera 500 metros cúbicos de água por hora. Os testes de bancada realizados com um reator de 50 litros levaram a resultados considerados excelentes, principalmente se considerado que em laboratório muitos pesquisadores se utilizam de pequenos volumes, em geral abaixo de um litro. Nos estudos que realizou na sequência, o pesquisador testou reatores fabricados com alumínio, ferro, aço inoxidável, cobre, além de polímeros condutores, de forma a selecionar o material mais adequado a cada tipo de efluente. Em 2008, ao participar no Chile de um conO professor João Sinézio de C. Campos, coordenador das pesquisas: gresso internacional organizado sistema pode ser extrapolado para escalas maiores

pela indústria têxtil, uma das que convivem com grandes problemas de poluição, ganhou o primeiro prêmio apresentando resultados de tratamento de efluente têxtil em um reator com placas paralelas e colmeia de alumínio. Foi convidado para o congresso seguinte, a ser realizado no Peru dois anos depois, para apresentar um reator de cobre, de particular interesse para países como Chile e Peru, que detêm grandes jazidas do metal. Razões de saúde o impediram de comparecer. Posteriormente projetou um reator de cobre, construído por um dos seus alunos de pós-graduação, que o testou e utilizou com sucesso em sua empresa têxtil. Neste caso, informa ele, cerca de 70% da água tratada por eletroflotação pode ser retornada ao processo e a parte restante utilizada para lavagem de chão e banheiros, fatos que por si comprovam a eficiência da técnica. Embora os resultados conseguidos pelo professor Sinézio, com base no emprego do sistema se relevem muito promissores, ele não tem conhecimento de grandes empreendimentos no mundo envolvendo essa técnica. Por essa razão acha fundamental ampliar o trabalho com estudos de viabilidade, realizando o levantamento dos custos dos reatores, que devem ser calculados com dimensões adequadas a cada caso, do desgaste das placas, dos consumos de energia, de forma a poder comparar os resultados com os processos convencionais, que utilizam produtos químicos. “Não temos condições ainda de projetar um reator de grande porte. Estamos ainda na fase de reunião de dados que permitirão fazê-lo ou não no futuro. Faz-se necessário montar um reator em escala piloto, com capacidade de um a dois mil litros e repetir os testes. Sei vagamente de algumas experiências de grande porte realizadas e que talvez possam a vir a contribuir com subsídios. Volto a frisar que não inventei o sistema, apenas o estou resgatando e tentando colaborar para o estudo de sua viabilidade, quer empregado isoladamente ou em conjunto com outras técnicas”, esclarece ele.

ALCANCE

Na escala que adotou em seu reator (50 L), ele tem constatado que um tratamento que demanda hoje uma ou duas semanas passa a ser realizado em 20 minutos. Julga que os resultados de que dispõe o credenciam afirmar que o sistema pode ser extrapolado para escalas bem maiores. Um projeto envolvendo mil litros que seria desenvolvido com a REPLAN acabou truncado com a transferência da chefia. Tratava-se de um tratamento contínuo e o cálculo era de que entre a entrada da água bruta e a saída da água tratada devia transcorrer uma hora e vinte minutos. Para o professor Sinézio, “o principal enfoque da pesquisa é o da investigação de uma técnica que possa vir a servir de opção em processos de tratamento de efluentes. Uma técnica única bem provavelmente não será suficiente para abarcar uma ampla gama de contaminantes”. A proposito da variedade de soluções e alternativas, ele menciona um projeto em que utiliza tanques acoplados de modo que no primeiro se retire inicialmente e mais rapidamente a parte espessa de sólidos dispersos para, na sequência, processar-se o clareamento definitivo. Esse sistema permitiria a utilização de potências adequadas a cada estágio e para vários volumes. A preocupação do pesquisador também é a de procurar localizar a existência de um sistema de simulação computacional que pudesse vir a ser utilizado no estudo da viabilidade desses tipos de processos, o que viria a facilitar sobremaneira o estudo, pois já dispõe de muitos dados que podem nortear projetos futuros. Ele faz questão de enfatizar que tem desenvolvido seus trabalhos construindo os equipamentos e adaptando componentes de forma a realizar uma pesquisa básica a custos muito baixos: “Os trabalhos que orientamos desenvolveram-se praticamente a custo zero. A fonte de tensão, por exemplo, resulta do aproveitamento de fontes descartadas de computadores, nas quais são feitas modificações para obter correntes elétricas elevadas, maiores que 20 ampères para tensão de 15 volts”, conclui.


Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

5 Foto: Divulgação

Dissertação revela como o Brasil contribuiu para a construção do sistema de ensino superior de Cabo Verde MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Brasil é o país que mais cooperou para a implantação do sistema de ensino superior de Cabo Verde, país africano que obteve a independência de Portugal em 1975. Essa contribuição se deu tanto na constituição da estrutura educacional propriamente dita, quanto na abertura de oportunidades para que estudantes cabo-verdianos pudessem vir fazer graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras, para depois voltar ao país e atuar na formação de novos quadros. A conclusão faz parte da dissertação de mestrado do teólogo Oziel Duarte Morais, defendida recentemente na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, sob a orientação da professora Debora Cristina Jeffrey. De acordo com Morais, que é natural de Cabo Verde, embora alguns trabalhos tenham feito referência à participação brasileira na construção do sistema de ensino superior de seu país, nenhum deles se dedicou exclusivamente ao tema. “Na pesquisa que fiz, tanto aqui quanto em Cabo Verde, encontrei poucas menções ao assunto. Ou seja, sempre houve o entendimento de que a colaboração brasileira foi importante, mas não se tinha a real dimensão dela. O que posso afirmar, com base nos documentos e depoimentos que colhi, é que a contribuição do Brasil na área da educação é a maior que Cabo Verde recebeu nos últimos 30 anos”, afirma. As relações bilaterais entre os dois países, lembra Morais, remontam ao período imediatamente posterior à independência de Cabo Verde. Na ocasião, o país não dispunha de estrutura social, inclusive na área da educação. “Toda a estrutura existente era voltada aos filhos dos portugueses. Os cabo-verdianos praticamente não tinham acesso à escola. Desse modo, foi preciso definir uma estratégia para implementar o ensino no país. Cabo Verde decidiu, então, priorizar o ensino básico nos primeiros dez anos de independência. Na década posterior, o foco foi o ensino secundário. Nos últimos dez anos foi a vez de o país trabalhar na implantação do sistema de ensino superior”, relata. Conforme o autor da dissertação, o Brasil participou das duas primeiras fases, mas o forte da cooperação com Cabo Verde ocorreu a partir do início da instalação do sistema de ensino superior naquele país. “Essa contribuição ocorreu de diversas maneiras. Uma delas foi a oferta de vagas para que os estudantes cabo-verdianos pudessem vir fazer a graduação no Brasil, num momento em que o país ainda não contava com um sistema de ensino superior”, assinala. Um dos marcos dessa colaboração, acrescenta a professora Debora Jeffrey, foi o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação [PEC-G], que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. “Através do PEC-G, e depois do PEC-PG [Programa Estudantes-Convênio de Pós-Graduação], muitos cabo-verdianos puderam se formar, retornar para casa e ajudar na construção da estrutura social de Cabo Verde”, conta a docente. A maior parte desses jovens foi acolhida por universidades públicas federais e estaduais, entre elas a Unicamp. Ainda em vigor, os dois programas continuam sendo muito aproveitados pelos jovens cabo-verdianos. Das 55 nações que participam do acordo com o Brasil, o país africano é o que mais envia estudantes para cá, de acordo com dados obtidos junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Além disso, mais da metade dos alunos africanos que vêm fazer graduação e pós-graduação em instituições brasileiras é originária de Cabo Verde. “De 2000 a 2013, meu país enviou para cá 2.657 alunos de graduação e 125 de pós-graduação”, aponta o autor da dissertação.

A professora Debora Jeffrey, orientadora do trabalho: “O estudo contribui para entender a relevância da parceria”

Comunidade em uma das ilhas montanhosas de Cabo Verde: país tem o desafio de levar o ensino superior para o interior

Uma longa história

de cooperação Fotos: Antoninho Perri

Oziel Morais, autor do trabalho: “O que posso afirmar, com base nos documentos e depoimentos que colhi, é que a contribuição do Brasil na área da educação é a maior que Cabo Verde recebeu nos últimos 30 anos”

HISTÓRIA ORAL

Em relação aos números envolvidos nos acordos bilaterais, a orientadora do trabalho faz uma observação importante. De acordo com ela, não existiam documentos ou estatísticas em nenhum dos dois países sobre a abrangência do acordo de cooperação anterior ao ano 2000. “Para ajudar a reconstituir essa história da cooperação entre os dois países, Morais precisou utilizar a metodologia da história oral. Ele entrevistou pessoas dos dois países que participaram ativamente do processo, como ex-alunos, técnicos, pesquisadores, governantes e o ministro do Ensino Superior de Cabo Verde, para resgatar elementos que ajudassem a contar como Cabo Verde foi constituindo o seu sistema educacional”, esclarece. Além dos programas mencionados, acrescenta Morais, o Brasil contribuiu com outras iniciativas para a constituição do ensino superior cabo-verdiano. Nos últimos quatro anos, por exemplo, Cabo Verde tem enviado anualmente 30 alunos para participar de cursos e atividades de iniciação científica em instituições brasileiras. Professores do país africano também têm aportado por aqui periodicamente para cumprir cursos de capacitação, notadamente os relacionados às práticas de ensino de matemática e português. “O Brasil também colaborou para a criação da primeira e até hoje única universidade pública de Cabo Verde. Mais recentemente, os dois países firmaram novo convênio com o objetivo de criar um sistema de avaliação do ensino superior, para verificar como está a qualidade do ensino oferecido no país”, relaciona Morais. Na prática, continua o autor da dissertação, um novo acordo de cooperação tem sido assinado pelas duas nações ao longo dos últimos dez anos. Graças a essa parceira, e obviamente ao esforço nacional, Cabo Verde conseguiu promover uma mudança expressiva no perfil de seus graduados. “Dez anos atrás, a maioria dos nossos estudantes fazia graduação no exterior. Atualmente, a maioria estuda no próprio país. Hoje, temos aproximadamente 12 mil jovens matriculados no sistema de ensino superior cabo-verdiano”, destaca Morais.

Um dos desafios ainda a serem superados pelo país, aponta o pesquisador, é a interiorização do sistema. As instituições de ensino superior de Cabo Verde estão todas localizadas em duas ilhas, Santiago e São Vicente. “É preciso levar o ensino para as demais ilhas, para onde o aluno está. Nem todas as famílias têm condições de manter um filho por vários anos em outra cidade”, pondera Morais. Questionado sobre os resultados práticos desse acordo para desenvolvimento de Cabo Verde, o autor da dissertação diz que esta pergunta deverá ser respondida durante a sua pesquisa de doutorado, que deseja realizar na própria FE. Ele esclarece que o projeto inicial do mestrado tinha como foco essa questão. “Entretanto, discutindo com minha orientadora, concluímos que antes de buscar essa resposta seria necessário primeiramente contar a história de como foi firmado e conservado o acordo de cooperação educacional entre o Brasil e Cabo Verde, e como isso contribuiu para a construção de um sistema de ensino superior no país, aspecto que ainda não havia sido contemplado pela literatura. No doutorado, meu objetivo é recorrer aos documentos oficiais e a entrevistas com diversos atores para descobrir quem são e onde estão as pessoas que se beneficiaram desses acordos bilaterais e de que forma elas contribuíram para o avanço de Cabo Verde”, adianta. Morais tem algumas pistas sobre o destino de algumas dessas personagens. Afinal, vários jovens que viajaram ao exterior para buscar a formação que não podiam encontrar na própria nação se transformaram em quadros importantes da política, do segmento empresarial, da academia e de tantos outros setores. “O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Pereira Neves, por exemplo, é um ex-aluno da Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde estudou Administração Pública graças aos acordos bilaterais com o Brasil”, aponta Morais, ele também um beneficiado pelo PEC-PG. O pesquisador revela que também pretende voltar ao país de origem depois de concluir o doutoramento. “É meu projeto de vida retornar a Cabo Verde e contribuir para a continuidade da construção do país”, revela. Para a professora Débora Jeffrey, a cooperação entre Brasil e Cabo Verde não resultou em benefícios somente para o país africano. Segundo ela, um dos aspectos levantados pela banca examinadora da dissertação foi justamente a relevância dos acordos para as duas partes, visto que eles permitem uma troca cultural extremamente rica e relevante. “Nessa história contada por Morais, não é somente o Brasil que proporciona o apoio. Ele também recebe, principalmente por ter tido a oportunidade de ter acesso a outras perspectivas de educação. O estudo contribui para entender a relevância dessa parceria. Ajuda a compreender, ainda, que os resultados relacionados à educação não são imediatos. Depois de 30 anos, no caso de Cabo Verde, é que se está conseguindo consolidar a formação de quadros. Agora os resultados podem ser avaliados, de modo a oferecer elementos para, quem sabe, promover a constituição de um sistema de ensino genuinamente caboverdiano”, infere.

Publicação Dissertação: “Cooperação bilateral entre Brasil e Cabo Verde: uma análise a partir dos convênios de ensino superior” Autor: Oziel Duarte Morais Orientadora: Debora Cristina Jeffrey Unidade: Faculdade de Educação (FE)


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Campinas, 26 de agosto a

Laboratório testa próteses ‘b ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br

ocê sobreviveu a um grave acidente, mas se olha no espelho, todos os dias, e depara-se com as marcas da tragédia: a ausência de uma parte do osso da cabeça. Ou você teve alguma doença que deixou sequelas semelhantes. Usa boné, deixa o cabelo crescer (se ainda o possui), para esconder essas marcas. Se, de apenas imaginar, a situação o incomoda, pense agora que esta é a realidade diária de quem passa por essas situações e aguarda uma prótese. Do ponto de vista médico, a questão é maior: elas estão mais vulneráveis com a deformidade no crânio, que antes protegia o cérebro, e isso representa um risco para a vida e exige cuidados especiais. Dez pacientes terão o problema resolvido até o final deste ano, segundo previsão dos pesquisadores da Unicamp que trabalham em um projeto único de fabricação desse tipo de “peças de titânio” para humanos no país, no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Biofabricação (Biofabris), na Unicamp. Quatro já estão prontos para a cirurgia, que será realizada no Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP). O grupo foi selecionado para a etapa de estudos clínicos do projeto, o último estágio da pesquisa e um dos mais importantes por envolver a aplicação e avaliação das próteses em seres humanos. Em comum, todos passaram por uma ou duas cirurgias de reparação, mas sem sucesso, por diversos complicadores típicos desse tipo de situação. A maioria é homem, apresenta sequelas decorrentes de traumas de acidentes e têm entre 20 e 60 anos. “Na área médica, é preciso submeter todo material novo a uma bateria de testes e existem passos a serem seguidos. O último deles é o estudo clínico”, explica o médico Paulo Kharmandayan, professor e coordenador da área de Cirurgia Plástica do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, integrante da equipe de pesquisa do Biofabris. O conceito de “biofabricação” consiste em utilizar técnicas de engenharia e biomateriais para a construção de estruturas tridimensionais, fabricação e confecção de substitutos biológicos que atuarão no tratamento, restauração e estruturação de órgãos e tecidos humanos. O laboratório, que é ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), reúne pesquisadores de quatro unidades da Unicamp (FEQ, FEM, FCM e o Instituto de Física) e de outras universidades e institutos de pesquisa do país, de diferentes áreas, que trabalham de forma integrada e multidisciplinar nos vários projetos, incluindo o das próteses. No total, quinze pacientes foram pré-escolhidos para essa etapa de estudos clínicos, aprovada pelo Comitê de Ética da FCM, mas existem outros selecionados e que podem ser incluídos. A primeira cirurgia foi realizada no ano passado. O segundo paciente operado recupera-se de um procedimento realizado há dois meses. Ambos vivem com novas próteses feitas de titânio para a correção de deformidades cranianas. Assim como os outros que ainda serão operados no decorrer dos próximos meses, todos ajudarão os pesquisadores a avaliar a adaptação do corpo às peças produzidas sob medida. “Todas as etapas são importantes, mas esta é imperativa para que tenhamos uma avaliação do que foi feito, desde a escolha do material até as técnicas de fabricação e cirurgia”, explica o coordenador do Biofabris, Rubens Maciel Filho, professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. As próteses desenvolvidas são usadas em cirurgias plásticas (craniofaciais) para a reparação de deformidades causadas por má formação ou por sequelas de traumas, como acidentes, ou doenças. No Brasil, de cada dez vítimas de acidentes de trânsito, quase seis (57,6%) apresentam traumas faciais e um (10%) tem lesões no crânio. “Infelizmente, vivemos em uma sociedade que valoriza muito a estética”, afirma Marcelo Magno, 28, o segundo paciente a receber o implante na Unicamp. “Agora, há momentos que até esqueço que uso a prótese.”

Pesquisadores do Biofabris, na Unicamp, iniciam testes de Fotos: Antoninho Perri/ Antonio Scarpinetti

Além disso, as pesquisas realizadas no Biofabris podem resultar na descoberta de novos biomateriais (de origem natural ou sintética, usado para a substituição, por qualquer período de tempo, de tecido, órgão ou função do corpo), novas próteses e implantes, assim como no desenvolvimento de máquinas para a produção das peças, entre outras inovações.

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Imagens de tomografia são usadas para montar o modelo do crânio necessários para o planejamento da próteses sob medida

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Com o apoio de computador, a prótese a ser produzida é projetada para respeitar a estética do paciente e protegê-lo

3 Em uma impressora 3D, o modelo do crânio e da prótese, a equipe de pesquisa analisa os ajustes necessários

PESQUISA

De modo resumido, a etapa de estudos clínicos servirá para que a equipe de pesquisa avalie todo o processo, desde a fabricação da peça até a fase pós-cirúrgica, verificando, por exemplo, a biocompatibilidade do material escolhido, o titânio – se não há processo de rejeição e outros complicadores eventuais nesse tipo de reconstrução. Os pacientes serão acompanhados por, no mínimo, um ano a partir da realização da cirurgia, mas o prazo pode ser ampliado de acordo com as necessidades da pesquisa. Atualmente, próteses sob medida, do tipo pesquisado pelo laboratório, são produzidas apenas no exterior e com alto custo. Outras, construídas com diferentes materiais (metacrilato, cerâmica, por exemplo), no Brasil, podem custar mais de R$ 100 mil. Para pacientes ouvidos pelo Jornal da Unicamp, o trabalho representa “esperança”, porque nem sempre é possível recolocar o “pedaço” de crânio retirado quando da ocorrência de um trauma cerebral. “A nossa ideia é desenvolver um produto para ser utilizado no SUS [Sistema Único de Saúde]”, afirma a professora Cecília Zavaglia, do Departamento de Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), vice-coordenadora do Biofabris. A técnica desenvolvida para a produção das próteses craniofaciais poderá ser replicada para qualquer osso do corpo humano.

Um laser aplicado em pó de uma liga de titânio dá a forma definitiva à prótese sob medida fabricada pelo Biofabris

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Uma prótese de titânio pronta, acoplada em um modelo de crânio

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SOB

MEDIDA

A matéria-prima das peças cranianas é uma liga à base de titânio, um elemento metálico leve e resistente, muito empregado em próteses ortopédicas e odontológicas. “Decidimos desenvolver uma prótese customizada, ou seja, com as dimensões precisas, fiéis à falha existente no paciente, e com um material leve e resistente o suficiente para preencher uma falha óssea de larga escala”, explica André Jardini, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), pesquisador sênior do Biofabris. Os primeiros anos da pesquisa foram dedicados à construção da prótese customizada, projetada para adaptar-se à deformidade existente, garantindo, ao mesmo tempo, a recuperação da aparência estética e a funcionalidade perdida – a proteção do cérebro. “A preocupação do Biofabris não foi simplesmente construir algo, de metal, que se encaixe aqui [mostrando modelo de um crânio humano], mas verificar o que pode ser melhorado na integração, que seja compatível e que favoreça o crescimento celular. Além disso, a escolha do titânio não foi aleatória, porque o material já vem sendo usado há certo tempo na área médica”, afirma o médico Paulo Kharmandayan, representante da FCM no projeto. O processo de fabricação começa com a realização de exames em um tomógrafo (foto 1), capaz de construir, de forma não invasiva, em imagens (2D), a área do crânio a ser reparada, por meio de milhares de fatias captadas a cada milímetro “fotografado”. Essas informações são inseridas no programa “InVesalius”, desenvolvido pelo CTI Renato Archer, centro de pesquisa parceiro do Biofabris, que ajuda a reconstruir em “3D” o crânio do paciente (foto 2) – praticamente uma escultura digital. Nessa etapa, comparando o lado sadio com a parte afetada, os pesquisadores conseguem criar uma prótese com dimensão e formato mais adequados, preservando a aparência e recuperando a função original de proteção ao cérebro. A partir desse modelo virtual da “cabeça” do paciente, são feitos um crânio-modelo (foto 3) e uma prótese, em polímero, com o apoio de uma impressora “3D” (prototipagem rápida), um equipamento capaz de produzir um modelo tridimensional por meio de sucessivas camadas de material. Esses dois moldes são usados pela equipe médica para avaliação da peça e para o planejamento do procedimento operatório, o que ajuda a reduzir o tempo da operação e evitar eventuais complicadores, como potenciais dificuldades para a fixação da peça. Como comparação, a técnica convencional, e mais barata, de reparação de deformidades cranianas exige que a prótese seja modelada à mão pelo médico, durante a cirurgia, sem o mesmo suporte tecnológico e a precisão possibilitada pelo computador. Os dois resultados finais são diferentes. A prótese do Biofabris respeita a anatomia do crânio, o mais perto possível das dimensões e formatos da parte óssea perdida. Um dos pacientes já operados na Unicamp, por exemplo, apresentava ausência de uma área de 15 por 12 centímetros, área equivalente à de dois celulares posicionados um ao lado do outro. Não é uma tarefa simples produzir a prótese. Isso porque o crânio não é simétrico. Os lados parecem iguais, mas não são e isso exige que os projetistas realizem uma série de ajustes para o encaixe perfeito. “Não é somente um problema de estética, mas também de segurança para o paciente”, destaca a professora Cecília Zavaglia. Ao ser implantada, a peça fica apoiada nas bordas de osso da deformidade craniana. Aprovado o protótipo pelos engenheiros e médicos da equipe, começa a produção em um equipamento denominado “Sinterização Direta de Metais por Laser” (foto 4). A Unicamp foi a primeira instituição de ensino e pesquisa do hemisfério sul a receber uma máquina desse tipo. Na prática, permite “esculpir a prótese com titânio em pó”, ou melhor, camada por camada, irradiada por laser, surge o modelo definitivo da prótese craniada, construído com o metal fundido. Após essa etapa, a prótese de titânio (foto 5) passa por um pós-tratamento da superfície, limpeza e esterilização no Laboratório de Tratamento e Funcionalização de Superfície Instituto de Física (IFGW) da Unicamp, coordenado pelo físico Carlos Sales Lambert. O último passo é a cirurgia para implantar a prótese. “A avaliação clínica é importante porque ajudará a avaliar o que foi feito até o momento, como atendemos as necessidades do cirurgião, se a escolha do material foi a mais adequada, o que precisamos fazer para que ocorra uma melhor osteointegração [entre o osso e a peça de metal] e se a técnica de produção foi a mais adequada”, avalia Rubens Maciel Filho.


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a 1º de setembro de 2013

‘biofabricadas’ em humanos peças customizadas, último estágio de estudo que começou há quatro anos

Cirurgia encerra ciclo de limitações, dores e isolamento para pacientes “Não vejo a hora de ficar livre deste boné”, explica Marcelo Magno, 28, técnico em prótese dentária. Há mais de dois anos, essa peça o ajuda a esconder uma sequela deixada por um grave acidente com moto ocorrido em Natal (RN), em 2011. Era uma tarde de sábado. Num momento, estava com amigos, no outro, internado em estado grave. Há dois meses, ele convive com uma nova prótese de titânio implantada do lado direito da cabeça, fabricada sob medida pelo Laboratório Biofabris, e espera o cabelo crescer um pouco mais, o suficiente para esconder completamente a cicatriz, para recomeçar de vez outra etapa de vida. A emoção é visível em seu rosto enquanto reconta a trajetória de incertezas e fala das dores que sentia, ao final do dia, resultado de ações simples do dia a dia como falar. “Agora, é como se tivesse o crânio de volta. Há momentos que esqueço que uso [a próteses]”, explica, ao responder o que mudou em sua vida depois da cirurgia. Foram três cirurgias até aqui: uma, logo após o acidente, que resultou na abertura da caixa craniana para salvar sua vida; outra, para colocar uma prótese comum (que não se adaptou bem ao tamanho da deformidade); e a última realizada há dois meses na Unicamp. A família já estava vendendo a casa para buscar uma alternativa capaz de ajudá-lo a recuperar-se de vez do acidente, quando ele, em pesquisa na internet, descobriu a pesquisa que estava sendo realizada no Biofabris. “Eu estava focando no meu tratamento. Se existisse como fazêlo, eu faria”, recorda. “Quando estava me recuperando da última cirurgia, dois dias depois, minha tia estava me ajudando a tirar as faixas, ainda estava careca, mas vi a circunferência da cabeça e tive inúmeras ideias, de passear, sair de casa”, afirma, aliviado, ao falar do isolamento vivido desde o acidente. O boné, agora, deve ser guardado para dias de sol. Essa sensação de alívio é a mesma de outro paciente já operado, Leandro Margoto de Oliveira, 22, inspetor de alunos em Vargem Grande do Sul (SP). Aos 15 anos, ele sofreu um grave acidente de bicicleta, ficou internado em coma, quase sem esperanças de sobreviver. “Ele saiu da minha cidade praticamente sem vida”, recorda a mãe dele, Maria Auxiliadora Margoto.

O médico Paulo Kharmandayan, da FCM e integrante do Biofabris:“O último passo é o estudo clínico”

Marcelo Magno, técnico em prótese dentária: prestes a ficar livre do boné

O inspetor de alunos Leandro Margoto de Oliveira: sensação de alívio

Foram três diferentes cirurgias ao longo de sete anos antes de receber a prótese de titânio. Os médicos tentaram preservar a placa de osso retirada do crânio, mas não houve sucesso no procedimento – o material, colocado no abdômen dele, deteriorou-se e não pôde ser aproveitado. Outra placa produzida em um tipo de polímero também não conseguiu reparar a região. “Agora, quando falo do acidente, dizem que não saberiam dele se não tivesse falado”, explica, ao lembrar-se que precisava responder, diariamente, a inúmeras perguntas sobre sua aparência. De um garoto esportista e dedicado aos estudos, Margoto tornou-se um jovem em reabilitação, para re-

cuperar os movimentos, a capacidade de memória, a aparência e a vida. Com o apoio da família, continuou estudando, faz faculdade de direito e, no mês que vem, completará um ano depois da cirurgia que reparou a deformidade craniana. O cabelo cresceu e, de fato, não se percebe a prótese. Os movimentos e a memória já voltaram. Como resultado da cirurgia, retomou a natação e descreve com alegria a possibilidade de nadar e mergulhar sem sentir as dores que antes o incomodavam por causa de deformidade. “A autoestima é tudo. Ele está muito feliz agora”, afirma a mãe dele.

O coordenador do Biofabris, Rubens Maciel Filho: “Esta etapa é imperativa para que tenhamos uma avaliação”

Cecília Zavaglia, da FEM: “A nossa ideia é desenvolver um produto para ser utilizado no SUS”

Pesquisa pode ajudar indústria e facilitar o acesso a próteses Quem desenvolve, não ensina, vende. Essa é tônica do mercado mundial quando se trata de alta tecnologia. Em Campinas, pesquisadores do Biofabris encontraram investimento para a aquisição de equipamentos de última geração, mas tiveram de percorrer todo o processo para projetar, construir e implantar próteses cranianas. O que isso representa para o país? Algo imensurável, porque esse conhecimento, o domínio e o registro científico de todo o processo, irá facilitar a obtenção de licenças obrigatórias para a comercialização desse tipo de produto, como a emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e favorecer o surgimento de uma indústria nacional capaz de suprir a demanda de pacientes no país. A avaliação é dos pesquisadores que trabalham com o projeto. “O objetivo do instituto [Biofabris] é potencializar o desenvolvimento de tecnologia e conhecimento, além de difundir no meio brasileiro o conhecimento e as condições de fabricação”, afirma o médico Paulo Kharmandayan, representante da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp no projeto. Ou seja, toda a tecnologia e conhecimento agregada pelo estudo será brasileira.

“Para cada dificuldade encontrada, e o instituto já tem quase cinco anos, desenvolvemos soluções brasileiras, para todas as etapas do processo. Eventualmente, no futuro, poderemos até construir máquinas, desenvolver novos materiais, dar início a um novo segmento industrial”, avalia Rubens Maciel Filho, coordenador do Biofabris. Graças ao caráter multidisciplinar e à participação de várias instituições de pesquisa do país, o Biofabris é um grande laboratório para múltiplas pesquisas, de doutorado e mestrado, que ajudam a aprimorar os projetos em andamento. Novos biomateriais, técnicas e empregos têm sido desenvolvidos na sede da unidade, no campus da Unicamp, em Campinas. Apenas em relação a próteses, para se ter uma ideia do potencial a ser incentivado nessa área, existem hoje no Brasil menos de mil empresas que produzem órteses e próteses, segundo a Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (Abotec), para um contingente de 25 milhões de brasileiros que precisam delas. Na Alemanha existem três vezes mais empresas.

André Jardini, pesquisador sênior do Biofabris: “Decidimos desenvolver uma prótese customizada”

Fique por dentro Biofabris É um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biofabricação, de caráter multidisciplinar, que tem como objetivo a integração de ferramentas computacionais, síntese e desenvolvimento de novos biomateriais, e aplicação de técnicas de engenharia para obtenção de dispositivos biomédicos (próteses e órteses) e de substitutos biológicos para tecidos vivos ou órgãos humanos defeituosos ou faltantes.

Parceiros na pesquisa

Unicamp (FEQ, FCM, FEM e IF); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen); Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI); Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Instituto Nacional de Tecnologia (INT); Instituto Federal de Ensino, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES); Instituto Militar de Engenharia (IME); Universidade Federal do Pará (UFPA); Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp)

Saiba mais

http://www.biofabris.com.br/index.php


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Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

Doutora em engenharia agrícola, funcionária da Feagri aprendeu ainda criança a lidar com a terra

Rosa sempre

gostou de canteiros Fotos: Antoninho Perri

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

Sempre há alguém falando da vida” no canto do Laboratório de PósColheita onde a pesquisadora Rosa Helena Aguiar dá assistência aos trabalhos de alunos e a seus próprios projetos de pesquisa. Doutora em engenharia agrícola, a funcionária da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) orgulha-se quando alguém pede alguns minutos de atenção para falar das coisas da vida. Até porque foi o alicerce de sua edificação humana que lhe trouxe o diploma de engenheira civil e, mais tarde, os títulos de mestre e doutora em engenharia agrícola. Aprendeu a lidar com a terra, com as plantas desde a infância e, quando migrou do Laboratório de Análises Patológicas do Hospital de Clínicas para a Feagri, jamais imaginou que faria seus experimentos com girassóis numa área que a acompanha desde sempre. “É a voz do sangue. Até para ser doutora peguei na enxada, e me orgulho disso. Não foi nenhuma transição, sempre fui da roça”, declara, enquanto lembra as cavalgadas em busca de bois ao lado do pai. Na Feagri, quando todos os amigos ou alunos estavam muito ocupados e não podiam ajudá-la, ela nem esperava ajuda, ia a campo sozinha, na companhia de uma enxada, e adiantava seus experimentos. “Se meu pai não tivesse me ensinado a segurar uma enxada, não teria feito esse doutorado, não”, declara. Preparar o solo, cobrir a semente e cuidar da irrigação dos girassóis estudados na tese defendida em 19 de julho não foi tarefa difícil. Para Rosa Helena, o trabalho torna-se muito mais verdadeiro ao envolver a própria história. A ajuda dos técnicos e dos alunos sempre foi bem-aceita. Na cidade de Elias Fausto, interior de São Paulo, todos os amigos gostavam de atuar na roça e este convívio aumentava o gosto de Rosa Helena por esta atividade. Muitas vezes, ao tomar algumas decisões, lhe vinha aquela frase que quase todas as pessoas gostam de dizer: “Meu pai fazia assim. Aprendi desse jeito. Se aqui meu pai estivesse, apoiaria este jeito que fiz.” A casa de 16 cômodos na propriedade do pai, criador de bois e em alguns momentos produtor de milho, algodão e tomate, abrigava nas férias os primos da extensa família, que não se importavam de “brincar de trabalhar”. Nada de pegar pratos e ir para frente da TV na hora de jantar. Além de ensinar a lidar com o campo, seu Suzano sempre tinha uma história para atrair a atenção da família ao redor da mesa, inclusive sobre as brincadeiras que fazia com os amigos. Suas memórias acabam oferecendo enriquecimento cultural aos filhos e aos sobrinhos. “Acho que ele fazia por conhecimento. Estudou até o terceiro ano de escola, mas gostava muito de ler. Ele não tinha diploma, mas tinha conhecimento muito maior que o diploma. Até brinco com alunos, falando que não é o diploma que dá conhecimento para alguém. Conheço muita gente que tem diploma e não tem o conhecimento que ele tinha.” O pai até chegou a pensar um dia que mulher não precisava de diploma, mas quando Rosa Helena decidiu deixar Elias Fausto para fazer o curso técnico em química no antigo Colégio Técnico Conselheiro Antônio Prado (hoje Etecap), não hesitou em dar apoio. Ela, que se tornou uma boa leitora por influência da mãe, que foi professora do Senai quando solteira, abraçou a oportunidade e passou a viajar diariamente para Campinas. No segundo ano, já com 18 anos e selado algumas boas amizades, veio morar em Campinas. Emociona-se ao lembrar dos tios carinhosos que a acolheram na cidade que mais tarde adotaria para trabalhar e estudar na Unicamp. Por começar a estudar mais tarde, era sempre a mais velha da turma e o instinto de ajudar inegavelmente lhe acompanhava.

A engenheira Rosa Helena Aguiar na parte externa e em sua sala na Feagri: gosto pelo trabalho de campo e “palpiteira” em projetos de alunos

Aos 17, era a conselheira da turma de 15. E hoje, é a “palpiteira” no projeto dos alunos, dos quais tem grande respeito. O trabalho com estudantes mais jovens é uma realização. “Não conseguiria ficar uma vida toda realizando trabalho administrativo, apesar de valorizar muito”, pontua. Não pensa em ser professora, mas acredita que faz esse papel no dia a dia ao auxiliá-los, ainda que não seja no púlpito de uma sala de aula. Com eles, ela participa de congressos de sua área. “Mas me envolvo. Cresci fazendo isso. Tanto aqui, quanto em casa ou até mesmo na igreja”, brinca. Por mais que os rostos e as energias mudem a cada ano, Rosa Helena empresta o vigor de quem está chegando e segue em frente. Aposentada desde o ano passado, enfatiza: “Não preciso parar porque gosto do que faço.” No dia a dia como pesquisadora, ela pode ver sempre algo diferente acontecendo, pois os resultados de seu trabalho aparecem a cada dia, por conta da diversidade de questões tratadas pelos alunos. Para ela, é uma forma de viver aprendendo. “Trabalhamos com grão, armazenamento, frutas e hortaliças. Todo dia oferece algo diferente, um dia mexo com uva, outro com feijão. Nuca chega a ser chato, pois nunca sei exatamente o que vou fazer em determinado dia. E os alunos são ótimos. Tanto de iniciação quanto os de mestrado e doutorado. Dei a sorte de trabalhar com aquilo que queria. Muitas pessoas da Unicamp não conseguem se inserir na área de formação.”

A mulher admitida no HC como técnica em química, em 1985, não esboça qualquer expressão de descontentamento com sua trajetória profissional e pessoal. Dificuldades sempre existem – principalmente quando o vestibular da Fuvest, a graduação, o trabalho e a maternidade acontecem junto –, mas os “anjos” também aparecem nesse momento. Mesmo sem criar expectativa, Rosa Helena foi aprovada no vestibular para cursar engenharia civil no campus de Limeira (Ceset), quando a FEC ainda funcionava lá. Neste momento, contou com a dedicação da babá e do então marido, que apesar de não estarem mais juntos, ela faz questão de reconhecer que “o marido santo ficava ajudando”. Como na época ele comandava a cantina da Feagri com o irmão de Rosa Helena, buscava as filhas na creche da Unicamp e depois levava para a casa. “Na hora de ir embora, era ele que ficava cuidando das meninas. Foi mãezona porque sempre foi muito companheiro. Sem ele eu não teria prosseguido. Ele que dava banho, alimentava, colocava para dormir, e eu ia estudar. Foi sacrificante para elas e para mim. O curso que fiz não foi fácil. Passei muitas madrugadas em cima de prancheta. Agora tudo está informatizado. Apanho no computador. O duro é acompanhar. Ainda tenho as canetas”, brinca. Todos contribuíram para a realização do sonho de se graduar na Unicamp. “Não fui a primeira colocada, mas venci e estou aqui até hoje.”

O doutorado na linha de reuso de esgoto, para tratar da cultura de girassol, foi iniciado 20 anos depois da graduação, pois Rosa julgou importante para seu trabalho. Dessa vez, os alunos ajudaram com muitos palpites. A experiência a tornou especialista em sementes e hoje é assistente em disciplinas da área. Como engenharia civil, afirma: “Fiz minha casa e de um casal de sobrinhos, como presente de casamento.” A administração de tarefas diárias se torna mais complexa com as pesquisas, que, muitas vezes, avançam a noite. “Tem de ser boa funcionária e boa estudante. Mas como meus projetos estavam relacionados à área dos alunos levamos com tranquilidade. Fiz o doutorado sem pressa, em quatro anos.” Neste momento, as pequenas da época da graduação já estavam graduadas, uma em nutrição e outra em biologia. As duas também estudaram no Etecap. Pelos colegas, Rosa Helena é lembrada por gerenciar várias coisas ao mesmo tempo. “Gosto muito de ler e isso ajuda a ser dinâmica em minhas atividades. E sou muito curiosa. Ajuda ser enxerida.” Quando estudante, adorava ter de pesquisar na biblioteca e um de seus principais investimentos foi uma enciclopédia Barsa. “Hoje os jovens não querem ler, gostam de assistir. Pesquisam rapidamente, não debruçam sobre o que leem. Aprendem menos. A vontade de folhear quando íamos buscar um texto referente a determinado assunto nos fazia aprender mais”, recorda. Foi entre as folhas de papel e as folhas dos canteiros que Rosa escreveu uma história repleta de sonhos que, nas mãos de outras pessoas, talvez não tivessem sido realizados. No caderno de escola, registrou as evidências científicas, que lhe deram bagagem profissional. Do caderno da vida, colhe a sabedoria dos mestres. Esta é só sua. Ninguém interfere. Está na alma. Na “voz do sangue”, que só pode ser ouvida por quem dá valor.


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Dissertação avalia impacto da internacionalização de empresas ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br

As políticas públicas de apoio à internacionalização empresarial são ainda incipientes no Brasil, apesar do aumento da preocupação com o tema por parte do governo nos últimos anos.” A afirmação faz parte da dissertação de mestrado apresentada no programa de pós-graduação do Instituto de Economia da Unicamp pelo economista Newton Kenji Hamatsu, que analisou esse fenômeno atual da economia a partir das experiências de Brasil, China e Índia. Ainda não sabe o que é internacionalização? Lembra que as empresas dos países desenvolvidos, no passado, expandiam filiais de multinacionais para o resto do mundo, principalmente para as nações [então] subdesenvolvidas? Pois nas últimas décadas, países em desenvolvimento, como o Brasil, começaram a levar suas empresas, em dois sentidos, para o exterior: rumo a países desenvolvidos e para outros também em desenvolvimento. “Cada vez mais a economia não se baseia em países, mas em grandes corporações, empresas. Então se você não fortalecer suas empresas, você não será competitivo globalmente”, afirma o autor do trabalho, realizado sob a orientação do professor Célio Hiratuka, do Instituto de Economia (IE). “A internacionalização é importante e tem que ser apoiada pelo governo, não só com financiamento direto”, explica Hamatsu. Conforme o trabalho, o estoque de investimento direto externo realizado pelo Brasil saltou de US$ 52 bilhões em 2000 para US$ 181 bilhões em 2010. No mesmo período, na China, esse montante saltou de US$ 28 bilhões para US$ 298 bilhões. Na Índia, saiu de US$ 1,7 bilhão para US$ 92 bilhões. “Uma característica marcante do movimento recente de internacionalização tem sido o aumento da participação dos países em desenvolvimento como origem dos investimentos”, afirma o autor na dissertação. Na década de 70, esses países foram responsáveis, em média, por 1% dos fluxos de investimentos diretos externos realizados. Na década de 80, esse número saltou para 6%, chegou a 12%, nos anos 90, e a 17% nos anos 2000. “Em 2009, essa participação foi de 27%, ao passo que em 2010 atingiu 29% [quando atingiu a cifra recorde de US$ 388 bilhões em investimentos].” Brasil, China e Índia foram escolhidos para o estudo, de acordo com o autor, em razão da crescente internacionalização de suas empresas e das perspectivas políticas e econômicas no cenário mundial. Em comum, os três países integram o grupo de cinco nações que fazem parte dos “BRICS”, ao lado de Rússia e África do Sul. Como “internacionalização”, a pesquisa realizada na Unicamp considerou como sendo “os investimentos realizados em outros países em que haja interesse duradouro em uma ou mais empresas e/ou projetos, e em cuja gestão se deseja influir de modo efetivo”. Não estão incluídas nessa definição as exportações realizadas pelas empresas. Na análise, o autor buscou traçar um panorama geral do processo de internacionalização nos três países, identificar pontos em comum e as principais diferenças nos inves-

No início do século, países em desenvolvimento começaram uma expansão inédita de suas empresas para o Exterior Foto: Moacyr Lopes Junior/ Folha Imagem

CONCLUSÕES

Plataforma da Petrobras: Política de Desenvolvimento Produtivo, lançada em 2007 pelo governo federal, destacou a necessidade de se expandir a liderança internacional em setores da economia, entre os quais o petrolífero

timentos realizados. “Desde o início da década de 1980, os fluxos de investimento direto externo cresceram a taxas muito superiores às do produto global”, afirma o economista. Mas que vantagens a internacionalização traz para um país? Segundo o autor do estudo, em médio prazo, as empresas transnacionais começam a gerar dividendos como se estivessem exportando mercadorias, por exemplo. Além disso, nas sedes, ou seja, nos países de origem, estão os melhores empregos oferecidos, os mais bem remunerados e qualificados, mas também as pesquisas e o desenvolvimento de novas tecnologias. Todos esses fatores servem para gerar renda, empregos e aquecer a economia. Foto: João Luiz Ribeiro

Newton Kenji Hamatsu, autor do estudo: “A internacionalização é importante e tem que ser apoiada pelo governo”

e Estados Unidos”, afirma Hamatsu. Como exemplo, menciona o caso da fabricante de celulares Nokia, que centraliza em sua sede, na Finlândia, grande parte das pesquisas realizadas e dos melhores empregos oferecidos. No caso brasileiro, a pesquisa apontou os seguintes fatores como determinantes para o processo de internacionalização: a melhoria dos preços relativos das commodities (que possibilitou maior lucratividade das empresas nacionais); o elevado grau de maturidade das empresas nacionais; a valorização do Real (que permitiu que ativos localizados no exterior se tornassem mais atrativos); a estabilidade macroeconômica (que facilitou o planejamento de médio e longo prazo das empresas); além do fortalecimento do mercado de capitais e da conjuntura internacional de excesso de liquidez que reduziu o custo de capital. “Os investimentos chineses e indianos, por sua vez, tiveram como elemento comum o aumento das reservas internacionais. Na China, esse fator aliado à maior liberalização financeira do país e às crescentes necessidades de recursos naturais fizeram com o que o governo, por meio da política ‘China Going Global’, passasse a apoiar fortemente este processo de internacionalização, conduzido principalmente pelas estatais. Já na Índia, as melhores condições macroeconômicas fizeram com que o governo passasse de uma posição de restrição aos investimentos para outra de apoio. A grande disponibilidade de mão de obra barata e de qualidade e a proteção ao mercado interno (que propiciou o desenvolvimento de grande número de empresas locais) foram também preponderantes nesse processo”, escreveu o economista na conclusão da dissertação de mestrado.

ANÁLISE “A ideia [do estudo] era entender melhor a situação do Brasil, por isso a comparação com outros países que, além de integrarem os BRICS e registrarem crescimento, viveram o mesmo fenômeno no mesmo período, nos anos 2000”, explica Hamatsu, ao justificar as economias selecionadas para a pesquisa de mestrado. Segundo o economista, no Brasil, a internacionalização tornou-se uma política explícita do governo federal com o lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) em 2007, que destacou a necessidade de se expandir a liderança internacional em setores como os de mineração, petróleo e petroquímica, celulose e papel, e carnes. Na época, as empresas com potencial de “internacionalização” ganharam o apelido de “campeãs nacionais”. Em 1990, como exemplo do crescimento da participação dos países em desenvolvimento no mercado global, 19 das 500 maiores do mundo eram originárias dessas nações em expansão. Em 20 anos, esse número saltou para 95 (número cinco vezes maior), com destaque para países como Coreia do Sul e Taiwan, com 18 empresas no total, mas que começaram antes esse processo de internacionaliza, segundo a revista Fortune. Nesse mesmo ranking (2010), 7 empresas eram brasileiras, 46 chinesas e 8 indianas – em comum, essas três nações começaram a participar mais tarde desse processo de expansão internacional. No contexto das empresas transnacionais, conforme o estudo, a ajuda dos governos tem sido fundamental. “Todos os grandes países, hoje, ainda ajudam suas grandes empresas ou as ajudaram num passado recente, como no caso da Alemanha, Coreia do Sul, Japão

Uma das principais diferenças entre os processos de internacionalização dos três países, de acordo com o autor, foi o diferente nível de apoio governamental. Segundo ele, no Brasil, o apoio governamental baseou-se basicamente em financiamentos liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Na China, a participação foi mais direta, já que além de conduzir o processo diretamente por meio de suas estatais, o governo concedeu empréstimos subsidiados, contribuição direta de capital e subsídios associados com os programas de apoio oficiais. Já na Índia, o principal papel do Estado foi facilitar os procedimentos para a internacionalização das empresas do país, como resposta a um cenário externo mais positivo, e o consequente aumento das reservas.” Em abril deste ano, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ao jornal O Estado de S.Paulo, que a “promoção de competitividade de grandes empresas de expressão internacional é uma agenda que foi concluída”, que a política tinha “méritos” e chegou “até onde podia ir”, em razão do número de setores com potencial para projetar empresas líderes, mencionando segmentos como os de petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, suco de laranja e cimento. “Não enxergo outros com o mesmo potencial”, disse à época. Ao longo de seis anos de uma política de incentivo às “campeãs nacionais”, empresas que receberam incentivos para expandir pelo mundo, o BNDES investiu mais de R$ 18 bilhões, mas algumas delas, hoje, passam por situação financeira delicada.

Publicação Dissertação: “O processo de internacionalização das empresas de Brasil, China e Índia no período recente” Autor: Newton Kenji Hamatsu Orientador: Célio Hiratuka Unidade: Instituto de Economia (IE)


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Destaque do Portal LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Unicamp abriu no último dia 19 as inscrições para o Vestibular Nacional 2014, que poderão ser feitas até o dia 13 de setembro, exclusivamente pela internet, na página da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest): www.comvest.unicamp.br. Ao dar início à entrevista coletiva para explicar as mudanças promovidas este ano, o professor Edmundo Capelas de Oliveira, coordenador da Comvest, informou que já havia 225 candidatos inscritos, apenas uma hora depois da disponibilização do formulário eletrônico. Uma das novidades destacadas pelo professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade, refere-se ao Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS), que dobrou de 30 para 60 pontos a bonificação na nota final dos candidatos que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas; e os autodeclarados pretos, pardos e indígenas, que antes recebiam 10 pontos adicionais, agora terão 20, totalizando 80 pontos. “A Unicamp foi pioneira em relação a um programa que não é baseado em cotas, e que vem fazendo sucesso com resultados importantes desde 2004. Com essa modificação, esperamos promover maior inclusão social, em sintonia com as diretrizes dos governos estadual e federal.” Segundo o pró-reitor de Graduação, professor Luís Alberto Magna, a estimativa é de que, dobrando a bonificação do PAAIS, a Unicamp passe a contar com 34% dos ingressantes oriundos exclusivamente de escolas públicas, contra 25% em 2013, representando um aumento de nove pontos percentuais. “Por meio de outras ações em estudo, temos a meta de até 2017 chegar a 50% dos alunos da graduação vindos da rede pública; e, desses, pelo menos 35% de autodeclarados pretos, pardos e indígenas.”

Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

a ca dêi m ca

Painel da semana  Bioenergia - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) organiza no dia 26 de agosto, às 8h30, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), um workshop para discutir Bioenergia. As inscrições estão abertas e podem ser feitas no endereço eletrônico http://www.prp.unicamp.br/ bioenergia/index.php/en/. Os participantes inscritos receberão certificados. Consulte a programação completa em http://www.prp.unicamp.br/ bioenergia/index.php/en/programa. Outras informações: 19-3521-2113.  Biomassa - A Faculdade de Engenharia Química (FEQ) em parceria com a Universidade Tecnológica de Delft (Holanda) ministram, de 26 de agosto a 5 de novembro, das 8 às 18 horas, no auditório da FEQ, a disciplina “Economia baseada em produtos derivados de biomassa”. O evento terá a participação de professores da Unicamp, de docentes da Universidade Delft e de profissionais da indústria. A disciplina é voltada aos alunos de pós-graduação e será em inglês. Mais detalhes: 19-3521-1718.  A convivência na escola - Seminário internacional busca chamar a atenção da sociedade em geral para o aumento da incidência de conflitos na convivência escolar. O evento acontece entre 26 e 27 de agosto, no Centro de Convenções da Unicamp. A abertura oficial será às 9 horas. O simpósio conta com a presença de docentes da Universidade de Valladolid (Espanha) e é viabilizado pelo Laboratório de Psicologia Genética (LPG) e pelos Grupos de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (Gepec) e em Educação Moral (Gepem). Mais informações podem ser obtidas no site www.fe.unicamp.br/servicos/eventos/2013/ sem-conv-escola-LPG.html ou telefone 19- 3521-5565.  Educação 3.0 - O Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) promove nos dias 26 e 27 de agosto, o II Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação. Intitulado “Projetando a Educação 3.0”, o evento objetiva discutir e apresentar soluções de inovação tecnológica visando aplicações na área educacional. A apresentação do seminário está contextualizada em quatro eixos temáticos: Infra-estrutura e conectividade, Ambiente seguro, Ensino e Aprendizagem 3.0 e Pesquisa e Inovação. O evento é direcionado aos gestores, diretores, coordenadores da rede de ensino, bem como pesquisadores e profissionais que trabalham com tecnologias digitais aplicadas na Educação. O evento será realizado no Salão Nobre da FE, a partir das 9 horas. Mais detalhes no link http://lantec2.fae.unicamp. br/inova2013/inicio.html. Outras informações: 19-3521-5678.  A América Latina por si mesma - Diários de motocicleta, Machuca, Batismo de sangue, Um conto chinês e Memórias do saque. Os filmes da mostra “A América Latina por si mesma” serão exibidos de 26 a 30 de agosto, no Espaço Cultural Casa do Lago. As apresentações marcam uma década de existência do Centro de Estudos e Pesquisas em Relações Internacionais da Facamp. As sessões acontecem entre 16 e 19 horas. No local, professores da instituição debaterão com o público, as temáticas abordadas nas obras filmográficas. A Casa do Lago fica na rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Mais informações: 19-3521-7017.  Programa de Capacitação do Nepo - No dia 27 de agosto, às 9 horas, no auditório do Núcleo de Estudos da População (Nepo), acontece a abertura do IV Programa de Capacitação: População, Cidades e Políticas, coordenado pela professora Rosana Baeninger. Após a abertura oficial haverá a palestra “A importância de informações e indicadores sociais para o planejamento”, a ser proferida pela professora Maria Helena Guimarães de Castro, diretora executiva da Fundação Seade. No evento serão lançados livros da Coleção Por Dentro do Estado de São Paulo com doze volumes e um Atlas Temático do Projeto. Mais informações: telefone 19-3521 5913 ou e-mail ivonete@nepo.unicamp.br  Celpe-Bras - As inscrições ao exame para a obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (CelpeBras) devem ser feitas até 27 de agosto, no endereço eletrônico http:// celpebras.inep.gov.br/inscricaoCelpeBras/. Na Unicamp, a coordenadora de aplicações é a professora Matilde Virgínia Scaramucci, do Instituto de Estudos da Linguagem IEL. Outras informações: 19-3521-1520.  Seminário com Raghu Vemuganti - No dia 27 de agosto, às 14 horas, o Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) recebe, para um seminário, o professor Raghu Vemuganti, da Universidade de Wisconsin (USA). Ele aborda o tema “All’s Well That Transcribes Well: microRNAs and Post-Stroke Brain Damage”. Mais informações: 19-3521-9132.

Vestibular Unicamp muda para reforçar inclusão social O coordenador-geral Alvaro Crósta aproveitou a ocasião para anunciar que a Universidade, em decisão aprovada pelo Conselho Universitário, vai autorizar a contratação de 140 a 150 docentes para o próximo ano. “É um número expressivo de contratações, o maior já feito em um só ano. O diagnóstico é que nosso corpo docente está menor do que há vinte anos, devido às aposentadorias e dificuldades de reposição trazidas pelas limitações orçamentárias. Vemos esta medida como necessária para manter o alto nível dos nossos cursos.”

OUTRAS MUDANÇAS

Edmundo de Oliveira lembrou outras mudanças para o Vestibular 2014, entre elas a de que o site da Comvest passa a ser o único local onde o candidato deve buscar informações, não havendo mais material impresso. “Também estamos oferecendo dois novos cursos de graduação: Administração (com 180 vagas, período noturno) e Administração Pública (60 vagas, noturno), ambos na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira; deixam de existir os cursos de Gestão de Agronegócio, Gestão de Comércio Internacional, Gestão de Empresas e Gestão de Políticas Públicas.” O coordenador da Comvest informou ainda que a Unicamp deixará de aplicar provas em Fortaleza e Salvador. Elas

 Educação inclusiva - Tema será debatido durante a realização do Fórum Permanente de Desafios do Magistério. O evento ocorre no dia 28 de agosto, às 9 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. Será transmitido (ao vivo) pela RTV-Unicamp. A organização é da Faculdade de Educação (FE-Unicamp), Associação de Leitura do Brasil (ALB) e Rede Anhanguera de Comunicação (RAC). Apoio: Associação Mais Diferenças. Inscrições e outras informações no hotsite http://foruns.bc.unicamp. br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/magis43.html  Cidades criativas - III Congresso Internacional será realizado de 28 a 30 de agosto, na Unicamp. O objetivo é debater o papel da juventude, das políticas públicas sociais como educação e a cultura, práticas para a solução dos problemas urbanos e excelência para as cidades de modo inovador e criativo. As edições anteriores ocorreram na Espanha, com três linhas principais de trabalho, que se repetem este ano: mesas de discussão, apresentações de trabalho de pesquisadores e fórum de cidades nacionais e internacionais. A organização é da Universidade Complutense de Madri, Associação Científica ICONO14 (Espanha) e do Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Mais detalhes no site www. ciudadescreativas.es/  Leitor estratégico - Oferecida pelo Setor de Orientação Educacional do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), a palestra “Ser ou não ser, eis a questão: Como se tornar um leitor estratégico e potencializar sua aprendizagem” acontece no dia 28 de agosto, às 12h30, na sala PB014 do Pavilhão do Básico. As inscrições podem ser feitas no site http://www.sae.unicamp.br/portal/index.php?option=com_wrapper&view =wrapper&Itemid=180. Mais informações: 19-3521-6539.  Lançamento - O Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) e o Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da Universidade de São Paulo (USP) lançam, dia 28 de agosto, às 19 horas, na Livraria Cultura, em São Paulo, o livro A Desconfiança Política e os seus Impactos na Qualidade da Democracia. A publicação é organizada pelos professores José Álvaro Moisés e Rachel Meneguello, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e conta com a contribuição de vários pesquisadores. O livro apresenta os resultados da pesquisa A Desconfiança dos Cidadãos das Instituições Democráticas, realizada com o apoio da Fapesp e do CNPq e complementa o quadro analítico introduzido pelo primeiro volume com resultados da pesquisa Democracia e Confiança - porque os Cidadãos Desconfiam das Instituições Públicas, lançado pela Edusp, em 2010. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-7093.  Segurança alimentar e nutricional - No dia 29 de agosto, às 8h30, na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira-SP, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. “Segurança alimentar e nutricional: da biodiversidade às políticas públicas” é o tema a ser tratado na sala UL 12 da FAC. O evento será transmitido pela RTV-Unicamp. Informações adicionais podem ser obtidas no site do evento http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/ forum/htmls_descricoes_eventos/saude66.html  Prêmio Jovem Cientista - As inscrições para o XXVII Prêmio Jovem Cientista estarão abertas até 30 de agosto. Estudantes do ensino médio, do ensino superior, mestres e doutores de todo o país podem concorrer. Alunos do ensino médio têm também a opção de enviar suas pesquisas pelos Correios. O Jovem Cientista aborda em 2013 o tema “Água: desafios da sociedade”. Mais detalhes no site http://www.jovemcientista.cnpq.br/  Povos indígenas - O artista plástico Elvis da Silva expõe, até 30 de agosto, no Espaço das Artes da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), quadros sobre a cultura indígena. A exposição, denominada “Diversidades”, celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas, proclamado no dia 9 de agosto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/08/09/exposicao-nafcm-celebra-o-dia-internacional-dos-povos-indigenas  Livros com desconto - Até 30 de agosto, a Livraria da Editora da Unicamp, localizada no Instituto de Estudos de Linguagem (IEL), promove a venda de livros da Companhia das Letras com 25% de desconto e da Jorge Zahar com 20% de desconto. Já nos livros publicados pela Editora da Unicamp, docentes tem 40% de desconto, alunos 30% e funcionários 20%. A Livraria da Editora da Unicamp no IEL fica na rua Sergio Buarque de Holanda 571, no campus Unicamp. Funcionamento: de segunda à sexta, das 9 às 18 horas. Mais informações: 19-3521-4041.  Processamento de imagens - A Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC), por meio da Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp) recebe, até 31 de agosto, no link http://www.extecamp. unicamp.br/dados.asp?sigla=FEE-0146&of=001, as inscrições para o curso gratuito “Laboratório de Introdução ao Processamento de Imagens e Reconhecimento de Padrões utilizando a Linguagem Python e Biblioteca Numpy”. O curso, oferecido pela primeira vez totalmente a distância, é aberto para qualquer usuário. Tem por objetivo principal introduzir conceitos práticos de processamento de imagens e reconhecimento de padrões e aprimorar as habilidades de programação utilizando modelo matricial, evitando o uso de comandos explícitos de laços. Os objetivos secundários são o de difundir o uso da linguagem Python e seu pacote numérico Numpy e propiciar um ambiente moderno de aprendizagem teórico-prática de programação utilizando-se a plataforma colaborativa Adessowiki.  UPA - O evento Unicamp de Portas Abertas (UPA) acontece no dia 31 de agosto e contará com uma programação (http://www.upa.unicamp. br/programacao-de-atividade-upa-2013) ampliada em relação aos anteriores. O objetivo é oferecer ao público [são esperados cerca de 40 mil estudantes de ensino médio de todo o país] um painel abrangente das ações desenvolvidas pela Universidade nas áreas de ensino, pesquisa e extensão e também no âmbito da cultura e das artes. Além da oportunidade de conhecer os laboratórios das faculdades e institutos, os visitantes também poderão participar de atividades que estarão concentradas no Centro de Convenções e no espaço do estacionamento situado ao lado. Leia mais no site http://www.upa.unicamp.br/  Domingo no Lago - O Espaço Cultural Casa do Lago, órgão ligado a Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp, organiza no dia 1 de setembro, às 10h30, na Rua Érico Veríssimo 1011, mais uma edição do Domingo no Lago, evento artístico-cultural realizado sempre na primeira semana de cada mês. Todas as atrações são gratuitas e abertas ao público em geral. Para a primeira apresentação, às 10h30, na Sala de Cinema, a Casa reservou a apresentação da peça de Teatro “Nossa Querida Campinas” com o Grupo de Teatro Mundi. Outra peça teatral, “João e Maria: Perdidos na Floresta”, será encenada pelo

acontecerão em duas capitais, Belo Horizonte e Brasília, e em 16 cidades do Estado de São Paulo: Bauru, Campinas, Jundiaí, Limeira, Mogi Guaçu, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba e Sumaré. Estão sendo oferecidas 3.460 vagas distribuídas em 69 cursos da Unicamp e dois cursos da Famerp – Faculdade Pública de Medicina e Enfermagem de São José do Rio Preto, que aumentou de 64 para 80 o número de vagas. Mais uma mudança diz respeito aos cursos de Música, que terão as provas de Habilidades Específicas aplicadas antes da primeira fase, no período de 3 a 7 de outubro de 2013. A primeira fase será realizada em 10 de novembro de 2013 e a segunda fase nos dias 12, 13 e 14 de janeiro de 2014. A taxa de inscrição é de R$ 140 e, para 2014, a Comvest isentou 4.002 candidatos deste pagamento. Das 9 horas do dia 20 até 17 horas do dia 23 de agosto, os interessados poderão solicitar a redução de 50% na taxa de inscrição. O kit do vestibulando (Manual do Candidato e Revista do Vestibulando) é gratuito e está disponível para consulta e impressão na página eletrônica da Comvest.

grupo Arte & Manhas, na Sala Multiuso. Para o encerramento do Domingo no Lago haverá um concerto da Orquestra de Flautas da Unicamp, às 11h30, também na Multiuso. Mais informações sobre os eventos do Espaço Cultural podem ser obtidos pelo telefone 19-3521-1708.  Ciência & Arte nas Férias - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) recebe, até 13 de setembro, as inscrições para a edição de 2014 do Programa Ciência & Arte nas Férias. O Programa visa proporcionar aos alunos do ensino médio da rede pública, a oportunidade de participarem no desenvolvimento de projetos de pesquisa em laboratórios da Unicamp, durante o período de férias escolares. O Ciência & Arte ocorrerá de 8 de janeiro a 7 de fevereiro de 2014, sob a supervisão de professores e pesquisadores da Unicamp. Docentes ou pesquisadores da Unicamp devem encaminhar um único projeto à Pró-Reitoria de Pesquisa, através de preenchimento do formulário eletrônico http://www.prp.gr.unicamp.br/ faepex/pesquisa/auxCAF/loginFSP_CAF.php. Uma versão impressa (e assinada) também deve ser entregue ao Faepex, até 13 de setembro. O projeto envolve (no mínimo) dois bolsistas e só poderá ser submetido por docentes ou pesquisadores da Universidade. Eventualmente e mediante justificativa à coordenação do Programa, um laboratório poderá acolher até quatro alunos. No entanto, o montante de recursos destinado será o mesmo. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones 19-35212973, 3521-4614 ou e-mail ciencianasferias@unicamp.br

Teses da semana  Artes - “As bienais nacionais de São Paulo: 1970 - 76” (doutorado). Candidata: Renata Cristina de Oliveira Maia Zago. Orientador: professor Maria de Fátima Morethy Couto. Dia 26 de agosto, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IA. “A crônica do olhar: o desafio narrativo em O Escafandro e a Borboleta” (mestrado). Candidata: Beatriz D’ Angelo Braz. Orientador: professor Fernão Vítor Pessoa Ramos. Dia 27 de agosto, às 14h30, no IA. “A fotografia em quatro atos: narrativas improváveis sobre a imagem e sua feitura” (doutorado). Candidato: Fábio Gatti. Orientador: professor Fernando Cury de Tacca. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na Galeria de Arte. “O desenvolvimento técnico-artístico do pianista colaborador através do repertório de Lied” (mestrado). Candidata: Nathália Yuri Kato da Silva. Orientador: professor Mauricy Matos Martin. Dia 30 de agosto, às 14h30, na sala 2 da CPG/IA.  Computação - “Learning person-specific face representations” (doutorado). Candidato: Giovani Chiachia. Orientador: professor Alexandre Xavier Falcão. Dia 27 de agosto, às 14 horas, no auditório do IC 2. “Combinatorial algorithms and linear programming for inference in natural language processing” (doutorado). Candidato: Alexandre Tachard Passos. Orientador: professor Jacques Wainer. Dia 28 de agosto, às 11 horas, no IC-2.  Educação - “As práticas de formação no estágio curricular supervisionado na licenciatura em matemática: o que revelam as pesquisas acadêmicas brasileiras na década 2001-2010” (doutorado). Candidata: Marisol Vieira Melo. Orientador: professor Dario Fiorentini. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FE.  Educação Física - “Análise biomecânica da postura durante a ortostase e a locomoção” (doutorado). Candidato: Marcelo Costa de Paula. Orientador: professor René Brenzikofer. Dia 26 de agosto, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Desenho universal e a NBR9050/2004: contribuições para projetos de arquitetura” (mestrado). Candidata: Cláudia Maria Martin. Orientadora: professora Núbia Bernardi. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala CA-37 da FEC. “A arquitetura da eletricidade: o surgimento das pequenas centrais hidrelétricas e o processo de urbanização das cidades do interior de São Paulo - 1890-1930” (doutorado). Candidata: Débora Marques de Almeida Nogueira Mortati. Orientador: professor André Munhoz de Argollo Ferrão. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEC. “Avaliação da mistura solo - fibras dispersas de papel Kraft nas propriedades geotécnicas” (mestrado). Candidata: Daphne Rossana León Mogrovejo. Orientador: professor Paulo José Rocha de Albuquerque. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala CA-22 da FEC. “Estudo de via férrea lastreada sobre placa de concreto de cimento Portland” (mestrado). Candidata: Juliana Silva Watanabe. Orientador: professor Cassio Eduardo Lima de Paiva. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala da congregação da FEC. “Conforto térmico e consumo de energia em ambiente de um supermercado de médio porte” (mestrado). Candidata: Elisabeti de Fátima Teixeira Barbosa. Orientadora: professora Lucila Chebela Labaki. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala CA 22 da FEC. “Construção e validação de um espectrômetro de impedância” (mestrado). Candidato: Rodolfo Thomazelli. Orientadora: professora Stelamaris Rolla Bertoli. Dia 29 de agosto, às 10 horas, na sala CA 22 da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Análise das características de propagação em rádio enlaces de canais banda larga na faixa de UHF” (mestrado). Candidato: Ralph Robert Heinrich. Orientador: professor Michel Daoud Yacoub. Dia 27 de agosto, às 14 horas, na sala P37 do prédio da CPG da FEEC. “Implementação em FPGA de algoritmos de sincronismo para OFDM” (mestrado). Candidato: Diego Orlando Barragán Guerrero. Orientador: professor Luís Geraldo Pedroso Meloni. Dia 28 de agosto, às 9 horas, na sala PE 12 (prédio da CPG) da FEEC. “Análise da vazão espacial em redes de interferência” (doutorado). Candidato: Pedro Henrique Juliano Nardelli. Orientador: professor Paulo Cardieri. Dia 29 de agosto, às 9 horas, na sala de videoconferência da FEEC. “Separação cega de fontes no contexto de misturas polinomiais” (mestrado). Candidato: Rafael Assato Ando. Orientador: professor Romis Attux. Dia 30 de agosto, às 9 horas, na sala PE12 da CPG/FEEC.  Engenharia Mecânica - “Potencial de repotenciação de usinas hidrelétricas no Brasil e sua viabilização” (mestrado). Candidata: Elisa de Podestá Gomes. Orientador: professor Sergio Valdir Bajay. Dia 26 de agosto, às 14 horas, no auditório KD da FEM.

“Análise cinemática, dinâmica e termodinâmica de um motor de combustão interna com pistão impulsionado por engrenagens” (mestrado). Candidato: André Luiz Aparecido Bosso. Orientador: professor Janito Vaqueiro Ferreira. Dia 26 de agosto, às 14h30, no auditório KD da FEM. “Manufatura aditiva da liga Ti-6Al-4V aplicada em uma Biela automotiva” (mestrado). Candidato: Wiliam Tean Su. Orientadora: professora Cecília Amélia de Carvalho Zavaglia. Dia 30 de agosto, às 9 horas, no auditório KD da FEM.  Engenharia Química - “Bioadsorção de cromo na alga Sargassum Filipendula e seus derivados” (doutorado). Candidata: Caroline Bertagnolli. Orientadora: professora Meuris Gurgel Carlos da Silva. Dia 30 de agosto, às 9 horas, na FEQ.  Geociências - “Parceria na pesquisa e construção de conhecimento na agricultura” (doutorado). Candidato: Vicente Galileu Ferreira Guedes. Orientadora: professora Lea Maria Leme Strini Velho. Dia 26 de agosto, às 9 horas, no auditório do IG. “Aprendizado do etanol celulósico no Brasil: o caso do projeto dedini hidrólise rápida (DHR)” (mestrado). Candidata: Gabriela da Silva. Orientador: professor André Tosi Furtado. Dia 26 de agosto, às 9h30, no DGRN do IG. “A política de ciência, tecnologia e inovação no Brasil e o sistema nacional de inovação” (mestrado). Candidata: Beatriz Helena Sbrissa Lucafó. Orientadora: professora Solange Maria Corder. Dia 26 de agosto, às 10 horas, no DGRN do IG. “Esforço das concessionárias de energia elétrica para o desenvolvimento de tecnologias de fontes alternativas de energia - o caso das empresas Eletrobras” (mestrado). Candidata: Manuella Pereira da Silva. Orientador: professor Ruy de Quadros Carvalho. Dia 27 de agosto, às 9h30 no auditório do IG. “Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs) - um estudo sobre a produção e reprodução do espaço no norte da Antioquia - Colômbia” (mestrado). Candidato: John Dairo Zapata Ochoa. Orientadora: professora Arlete Moysés Rodrigues. Dia 27 de agosto, às 13h30, no auditório do IG. “Contribuições das práticas de campo como metodologia de ensino em geociências e educação ambiental” (mestrado). Candidato: Edson Munhoz. Orientadora: professora Rosely Aparecida Liguori Imbernon. Dia 27 de agosto, às 14 horas, no DGRN do IG.  Linguagem - “A mobilidade nas calçadas de Campinas em sua constituição discursiva entre o público e o privado” (mestrado). Candidata: Maria Gracinda Salvador Ferreira. Orientadora: professora Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo. Dia 26 de agosto, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Itália e italianos por olhares brasileiros: reflexões sobre crenças no ensino de italiano como língua estrangeira” (mestrado). Candidata: Ilária Bisanti dos Reis. Orientadora: professora Maria Rita Salzano Moraes. Dia 26 de agosto, às 10 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Multiletramentos: uma análise dos cadernos do professor de língua portuguesa do ensino fundamental II da Secretaria de Educação do estado de São Paulo” (mestrado). Candidata: Francine Eloisa dos Santos. Orientadora: professora Roxane Helena Rodrigues Rojo. Dia 26 de agosto, às 13h30, no anfiteatro do IEL. “Estratégias de categorização em contextos patológicos e não patológicos: construções referenciais através da hiperonímia” (mestrado). Candidata: Janaína Olsen Rodrigues. Orientadora: professora Edwiges Maria Morato. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala coletiva I do IEL. “Literatura naturalista, moralidade e natureza” (doutorado). Candidato: Leandro Thomaz de Almeida. Orientadora: professora Márcia Azevedo de Abreu. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala do colegiados do IEL. “A música do diabo: aspectos musicais no Fausto de Thomas Mann” (doutorado). Candidato: Alexandre Mauro Bragion. Orientador: professor Mário Luiz Frungillo. Dia 26 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Lina e o poder do erro: ensinamentos de uma personagem de João Guimarães Rosa” (mestrado). Candidato: Rodrigo do Prado Bittencourt. Orientador: professor Mário Luiz Frungillo. Dia 28 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Um escritor em déficit: cinismo, linguagem e afeto em João Gilberto Noll” (mestrado). Candidato: Rafael Martins da Costa. Orientadora: professora Maria Eugênia da Gama Alves Boaventura Dias. Dia 28 de agosto, às 15 horas, no anfiteatro do IEL. “‘Aqui é o lugar do surdo. E põe essa imagem mais pra lá’: línguas, representações e territórios em práticas de letramento de uma comunidade surda em contexto religioso ouvinte” (doutorado). Candidata: Elaine Botelho Corte Fernandes. Orientadora: professora Marilda do Couto Cavalcanti. Dia 29 de agosto, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. “O gênero resumo na universidade: dialogismo e responsividade em resumos de alunos ingressantes” (mestrado). Candidata: Cristina Fontes de Paula Costa. Orientadora: professora Raquel Salek Fiad. Dia 29 de agosto, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “A Biblioteca de Apolodoro e o Estatuto da Mitografia” (doutorado). Candidato: Luiz Alberto Machado Cabral. Orientador: professor Flávio Ribeiro de Oliveira. Dia 29 de agosto, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Ciclos mitológicos nas fábulas de Higino: tradução e análise” (mestrado). Candidato: Diogo Martins Alves. Orientadora: professora Isabella Tardin Cardoso. Dia 30 de agosto, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Sevilha na poesia de João Cabral de Melo Neto” (mestrado). Candidata: Gislaine Goulart dos Santos. Orientador: professor Marcos Aparecido Lopes. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Percepções de alunos e professores de ILE sobre aprendizagem de vocabulário: um estudo Q” (doutorado). Candidata: Alessandra Sartori Nogueira. Orientadora: professora Linda Gentry El Dash. Dia 30 de agosto, às 14 horas, no anfiteatro do IEL.  Odontologia - “Reabilitação com implantes osseointegráveis com plataformas e conexões protéticas distintas em pacientes com histórico de periodontite crônica: avaliação clínica e radiográfica dos tecidos marginais peri-implantares” (mestrado). Candidato: Tiago Tarbes Vianna. Orientador: professor Marcio Zaffalon Casati. Dia 28 de agosto, às 9 horas, no anfiteatro 4 da FOP. “A influência do material e conexão de pilares na distribuição de tensões em coroas anteriores sobre implantes: um estudo pelo método dos elementos finitos” (mestrado). Candidato: Marco Aurélio de Carvalho. Orientador: professor Guilherme Elias Pessanha Henriques. Dia 30 de agosto, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.


Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

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Tese sugere modelos gerenciais

para institutos de pesquisa ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br

s institutos públicos de pesquisa precisam de um modelo jurídico que considere as especificidades da área de ciência, tecnologia e inovação, e que permita flexibilidade, de acordo com as tendências internacionais e nacionais para estas organizações, como: vender produtos e serviços e estabelecer contratos; definir e determinar a questão dos recursos humanos com base em seus projetos e missão; e a legislação de compras. Essas são as principais questões a serem consideradas em um modelo jurídico mais adequado para essas entidades, segundo tese de doutorado apresentada no Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, pela administradora de empresas Valéria Cristina dos Santos Ribeiro. A tese teve como objetivo analisar modelos gerenciais de dois institutos de pesquisa públicos brasileiros – o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, sujeitos ao regime jurídico chamado de “administração direta federal”, o mais rígido existente no país, segundo a autora –, para discutir os limites e as potencialidades da atuação gerencial frente aos limites impostos pela legislação vigente. Os dois institutos pertencem ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “De todos os modelos existentes, hoje, no Brasil, o da administração direta é o mais restritivo, porque cria entraves, de alguma forma, para os institutos. Como exemplo [de entraves], podemos destacar os aspectos de contratação de pessoal, captação de recursos, celebração de contratos ou ainda venda de produtos e serviços”, avalia a autora do trabalho. “Entretanto, há algumas possibilidades de decisões gerenciais internas que podem minimizar essas restrições.” O Inpe é o principal órgão civil responsável pelo desenvolvimento das atividades espaciais no país e tem como missão produzir ciência e tecnologia nas áreas espacial e do ambiente terrestre, além de oferecer produtos e serviços nesse setor. O instituto atua nas áreas de meteorologia e mudanças climáticas, observação da Terra, ciências espaciais e atmosféricas e engenharia espaciais. Hoje, presta serviços de previsão do tempo e clima, monitora o desmatamento na Amazônia Legal, rastreia e controla satélites, entre outros. O CTI Renato Archer atua na pesquisa e no desenvolvimento em tecnologia da informação, mantendo interações com os setores acadêmico, por meio de parcerias em pesquisas, e industrial, com projetos de cooperação e prestação de serviços tecnológicos. Tem como principais focos de atuação a área de componentes eletrônicos, mostradores de informação, microeletrônica, sistemas, software e aplicações de tecnologia da informação, como robótica e tecnologias 3D para indústria e medicina, entre outros. Valéria analisou modelos de gestão de institutos de pesquisa dos Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e Coréia. “O modelo jurídico e o modelo gerencial estão fortemente interligados na constituição do que pode ser compreendido como modelo institucional, havendo entre eles uma relação de mútua determinação, o que pode possibilitar a aplicação de diferentes modelos gerenciais sob um mesmo modelo jurídico”, escreveu.

ANÁLISE A autora iniciou o trabalho a partir de um modelo existente na literatura e que apontava as influências políticas e o marco regulatório como agentes que interferem na autonomia e flexibilidade de um instituto público de pesquisa. No estudo, além da análise de regimes de outros países, ela também aplicou um extenso questionário aos dois institutos brasileiros analisados e

São analisados espaços de autonomia e flexibilidade permitidos pelo modelo jurídico vigente no país Foto: Antoninho Perri

Valéria Cristina dos Santos Ribeiro, autora da tese: “Um grande entrave para os institutos é não ter uma área jurídica própria”

comparou as respostas apresentadas com o texto da legislação vigente sobre cada um dos temas considerados para a pesquisa, no caso, a atuação deles nas áreas de governança institucional, planejamento estratégico e avaliação, gestão financeira, de pessoas e de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Ao término do doutorado, ela inclui mais dois fatores, além daqueles inicialmente apontados, capazes de influenciar a autonomia e a flexibilidade para a implementação de mudanças gerenciais em institutos públicos de pesquisa: influência do órgão superior (que no caso da tese é o MCTI) e perfil da liderança da instituição. “Tecnologicamente, os institutos apresentam respostas, desenvolvem pesquisa e desenvolvimento, porém a gestão, por muitos anos, foi deixada de lado, não era tão importante. Hoje, é necessária uma gestão mais profissional, usando novas técnicas gerenciais, para que os institutos públicos de pesquisa possam cumprir melhor sua missão, com ganhos maiores de efetividade e eficiência, além dos que já conquistaram”, avalia a autora. Segundo Valéria, nos últimos 30 anos, esses institutos vêm “enfrentando desafios relativos à busca por recursos financeiros competitivos, crescente competição por mão de obra qualificada, surgimento de novos campos do conhecimento, alterações nas políticas que definem o papel do Estado, riscos e oportunidades decorrentes de uma maior abertura para o ambiente externo, entre outros aspectos”. “Para melhor inserção nesse novo contexto, os institutos têm adotado diversas estratégias, tais como mudanças em seu formato jurídico, modificações em seus organogramas, implantação de políticas ativas de relacionamento com o meio e sofisticação de seus modelos gerenciais”, escreveu, na conclusão da pesquisa. Da análise dos casos internacionais escolhidos para a pesquisa, a autora constatou que ocorreram mudanças principalmente em aspectos gerenciais relacionados a recursos humanos, propriedade intelectual, pesquisa colaborativa, financiamento, relacionamento com

empresas, planejamento estratégico, modelo jurídico e avaliação de resultados e impactos. “Muitos institutos passaram a trabalhar por demanda, porque é necessário apresentar resultados à sociedade, ou a trabalhar com empresas, porque com a crise fiscal nos anos 80, os Estados reduziram a capacidade de investimento em ciência tecnologia e inovação e os institutos tiveram de buscar outras maneiras para se sustentar, por isso passaram a realizar algumas pesquisas sob demanda”, explica. Ou seja, pesquisas mais longas e complexas, segundo ela, continuaram a ser financiadas pelo Estado, mas outras mais aplicadas foram viabilizadas por meio da busca de parceiros e da construção de uma rede de colaboradores. Na questão do financiamento, o Inpe e o CTI Renato Archer têm procurado alternativas. No primeiro, a União é responsável por 77% dos recursos orçamentários aplicados, mas 9% dos investimentos já são realizados por meio de cooperações nacionais e internacionais, além da venda de produtos e serviços. No caso do CTI, 56% dos recursos são oriundos do tesouro federal, e 21% decorrem de parcerias (nacionais e internacionais) e da comercialização de produtos e serviços (apoiado na Lei de Informática). Entre essa e outras constatações, a partir de saídas encontradas pelos dois institutos para contornar a rigidez do regime jurídico, a autora conclui que, de fato, existe uma margem para contornar as limitações aparentes. E o que é decisivo para que essas possibilidades sejam exploradas? Para Valéria, liderança. “O estudo de casos indica que há uma margem razoável para implantação de modelos gerenciais sob um mesmo regime jurídico e que a decisão de implantação destes cabe especialmente à direção da instituição. Ademais, cabe enfatizar que a perspectiva de uso sistemático de alguns destes mecanismos e instrumentos gerenciais pode certamente levar o instituto a cumprir sua missão com maior eficiência, eficácia e efetividade”, conclui a administradora de empresas.

Além disso, os modelos usados precisam ser aprimorados. “Hoje, um grande entrave para os institutos é não ter uma área jurídica própria”, avalia. A discussão é oportuna, pois tramita no Congresso, em Brasília, projeto para a criação de um Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, um conjunto legal de normas que pode aprimorar o trabalho dos institutos de pesquisa no país. A proposta da própria comunidade científica, por meio do Fórum de Secretários de Ciência e Tecnologia, de fóruns de fundações de apoio à pesquisa, com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências, segundo texto divulgado na página do Senado na internet. A proposta foi transformada em dois projetos de lei: no Senado, o PLS 619/11; na Câmara, o PL 2.177/11. A pesquisadora ressalta a necessidade de estudos sobre modelo jurídico que atenda as peculiaridades de ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Entretanto, segundo a autora, as instituições podem criar modelos gerenciais dinâmicos que permitirão realizar suas atividades, além de poderem avançar e adaptar-se às mudanças na área de ciência, tecnologia e inovação, apesar das restrições do modelo jurídico, “evitando seguirem para um caminho de dependência científica e/ou tecnológica ou de rigidez institucional”.

Publicação Tese: “Análise de modelos gerenciais para institutos públicos de pesquisa e desenvolvimento” Autora: Valéria Cristina dos Santos Ribeiro Orientador: Sergio Luiz Monteiro Salles Filho Coorientadora: Adriana Bin Unidade: Instituto de Geociências (IG)


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Campinas, 26 de agosto a 1º de setembro de 2013

‘Peregrino da América’

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

“Compêndio Narrativo do Peregrino da América”, publicado originalmente em 1728, põe a estética literária a serviço da doutrina católica da Contrarreforma, ao descrever uma peregrinação fictícia, marcada por alegorias de fundo religioso, entre a Bahia e as minas de ouro de Minas Gerais. Um grande sucesso na época de seu lançamento, passando por quatro reedições entre 1731 e 1765, a obra caiu rapidamente no esquecimento, até ser relançada, com uma segunda parte inédita, já no século 20. Tratado por muitos críticos, desde então, como obra “intragável”, cujo valor para o público moderno estaria restrito ao caráter histórico da descrição da vida brasileira durante o ciclo do ouro, o livro voltou, recentemente, a despertar interesse como peça de literatura “que pertence à tradição das narrativas alegóricas medievais e dos desenvolvimentos que elas conheceram”, explica José Adriano Filho, autor da tese de doutorado “Combate ao Mundo e Conquista do Paraíso: Ficção e Alegoria no Compêndio Narrativo do Peregrino da América”, defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp sob orientação do professor Alcir Pécora. Em entrevista concedida via e-mail ao Jornal da Unicamp, Adriano diz que essa interpretação do livro, visto no contexto de sua época, oferece “outra perspectiva, ao demonstrar que a presença do alegórico tem um papel fundamental no desenvolvimento do Peregrino da América, na medida em que estabelece a ligação entre doutrina e estética”. Muito pouco é conhecido sobre o autor da obra, Nuno Marques Pereira – nem mesmo se era brasileiro ou português, mas apenas que, se não nasceu no Brasil, aqui passou parte da infância. Não era sacerdote, mas seu trabalho indica influência da Companhia de Jesus: é um texto de exortação religiosa, às vezes comparado aos sermões do Padre Vieira. “Há, sim, certa aproximação entre a obra de Nuno Marques e a do Padre Vieira, principalmente em termos de estilo”, explicou Adriano. “No Sermão da Sexagésima, pregado em Lisboa em 1655, Vieira atacava o ‘estilo tão dificultoso, e tão afetado’. Este seria um ponto de aproximação entre as obras de Vieira e de Nuno Marques Pereira”, disse. “Nuno Marques e o Padre Vieira estavam preocupados com a falta de decoro nas artes”. Em sua tese, Adriano afirma que o “tema da peregrinação teve grande desenvolvimento na literatura dos séculos16-18, sendo que várias obras produzidas neste período deram continuidade ao modelo aberto pela tradição medieval que valorizava a viagem, especialmente o caminho percorrido em busca da salvação”. O livro se apoia na ideia de que todos os homens são peregrinos na Terra, e que a verdadeira pátria do ser humano é o céu. A viagem do narrador no livro de Marques Pereira, chamado apenas de Peregrino, é marcada por uma série de encontros em que ele tem a oportunidade de expor e defender os princípios da fé católica, tal como se plasmava no período da Contrarreforma, após o Concílio de Trento (concluído em 1563). Em sua análise da obra, Adriano se vale do conceito de psicomaquia – “batalha espiritual” entre as forças do pecado e da virtude – para tratar dos desafios que surgem no caminho do Peregrino. “O Peregrino combina o desejo de narrar com o de ensinar e despertar os seus leitores para seu ensino ao narrar sua longa peregrinação literária por terras brasileiras. Em grande luta contra as tentações do mundo, ele segue inabalável o seu caminho guiado pela fé e pela graça de Deus,

transformando-se num símbolo de persistência e de vitória da vontade sobre as forças do mal. Nesse sentido, o Peregrino é uma figura que realiza a própria psicomaquia. Mas ele é também um agente, um instrutor, que atua nas psicomaquias particulares das pessoas que encontra”, disse Adriano, explicando ainda que, na narrativa das andanças do Peregrino, “a presença e o proceder do demônio são sutis”. “Os representantes do Mal são figuras ambíguas e estranhas. A soberba e a grande ambição provocam grandes estragos no Brasil. O Peregrino avisa que o ser humano deve sempre lembrar-se da própria morte, que é um dos melhores remédios para livrar os homens de ofender a Deus, de onde deriva a orientação para enfrentar a passagem por esta vida: fugir dos três inimigos da alma, que são o mundo, o diabo e a carne”. A questão da alegoria, como ferramenta retórica e literária, é central na análise empreendida pela tese de Adriano. “A presença do alegórico tem um papel fundamental no desenvolvimento da obra, na medida em que estabelece a ligação entre doutrina e estética, além de indicar a existência de uma tradição literária que difundia os preceitos básicos do catolicismo desde a Idade Média”, escreve o autor. “Entre as heranças culturais que a sociedade colonial luso-brasileira recebeu da Idade Média, o patrimônio religioso constitui um componente significativo. Aliás, foi a partir desses elementos da tradição cristã que se estruturou a própria ordem social no território da colônia”, explica. A viagem do Peregrino opera como pretexto para a exposição moralista e doutrinária do autor. Adriano aponta a utilização da alegoria da viagem como significativa, ao sintonizar a literatura brasileira com o tema do homo viator (“homem viajante”) como representação da existência humana como uma peregrinação que tem o paraíso como destino. A visão do Brasil que aparece na obra é ambígua: a paisagem natural é tratada como paradisíaca, numa linguagem que às vezes se aproxima da encontrada em textos como a carta de Caminha, mas a paisagem humana aparece degenerada, onde “os homens estão doentes de avareza e cobiça”. De acordo com Adriano, “aparece um Brasil resplandecente em sua natureza, que se opõe a uma sociedade humana corrompida e pecadora; por um lado, uma descrição deslumbrada da natureza e, por outro, a descrição da dissolução dos costumes, presente na exposição da doutrina e moralização que apresenta.” Outra dualidade presente na obra opõe Portugal, fonte dos princípios civilizadores, e Brasil, onde esses princípios são corrompidos.

DUALIDADES Em sua tese, Adriano escreve que, “nesta imagem construída por dualidades e contradições, destaca-se o tratamento de grupos da sociedade mais ou menos marginais que é feito pelo Peregrino: há uma atitude benevolente para com o negro, apesar de não compactuar com algumas de suas práticas, e um tratamento menos favorável do índio e do judeu”. A atitude para com o negro é de proteção e denúncia dos maus-tratos, mas em nenhum momento o Peregrino defende a abolição da escravatura ou a liberdade dos escravos. Os índios, por sua vez, são tidos como “desconfiados, traiçoeiros e vingativos, sem caridade, primor ou cortesia, mal agradecidos, prezando pouco a honra, mais se inclinam para o mal, do que para o bem”, embora passíveis de conversão ao catolicismo. Por fim os judeus são vistos com desprezo e tachados de heréticos. “O motivo essencial para essa repulsa é a culpa que lhes é atribuída de causadores da morte de Cristo”, escreve Adriano.

Reprodução: archive.org/stream/compendionarrati01pere#page/n0/mode/2up

leva alegoria medieval ao Brasil do século 18

Folha de rosto e páginas de “Compêndio Narrativo do Peregrino da América”, em edição de 1760: paralelos com os sermões de Padre Vieira

A conclusão da tese destaca o fato de que o livro foi produzido num contexto histórico e social caracterizado por rupturas. “A obra elege a figura do Peregrino como protótipo do perfeito católico que se debate com um mundo labiríntico, contaminado pelos vícios e pelo pecado, em especial, a cobiça provocada pela descoberta das minas de ouro”, escreve o autor. Sendo um livro de exortação e instrução religiosa, o “Peregrino da América” manteria algum paralelo com os best-sellers de fundo religioso publicados nos dias atuais? “O ‘Peregrino da América’ é fruto de uma época que favoreceu a produção de uma literatura voltada para a espiritualidade e para a moral, bem como à difusão e a aceitação das normas e dos princípios que serviam de fundamento à renovação da religião, da espiritualidade e da própria conduta do indivíduo”, explica Adriano. “Além disso, neste contexto a atividade artística revestia-se de intenções pedagógico-didáticas fundadas na crença de que a arte poderia constituir um instrumento eficaz de reconversão dos fiéis e de doutrinamento nos valores da fé católica”. Já os best-sellers de exortação religiosa produzidos atualmente estão relacionados, de acordo com o estudioso, às diversas formas pelas quais os indivíduos e os grupos sociais exercitam, experimentam e expres-

sam sua religiosidade “num contexto de mercado religioso”, que seria “a tendência das pessoas em moldar a sua própria religião apropriando-se de fragmentos e de elementos de diversos e diferentes sistemas religiosos”. Uma questão que permanece em aberto é a causa da enorme popularidade do livro, que teve cinco edições ainda no século 18, e sua obscuridade subsequente – ele só voltaria a ser publicado, após a edição da década de 1760, pela Academia Brasileira de Letras, em 1939. A segunda parte, também escrita no século 18 por Marques Pereira, só viu o prelo nessa edição brasileira. O problema faz parte de uma pesquisa que Adriano ainda pretende realizar.

Publicação Tese: “Combate ao Mundo e Conquista do Paraíso: Ficção e Alegoria no Compêndio Narrativo do Peregrino da América” Autor: José Adriano Filho Orientador: Alcir Pécora Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)


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