Ju 626

Page 1

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015 - ANO XXIX - Nº 626 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Foto: Fundo Flávio de Carvalho/ Cedae/ Unicamp

FLÁVIO DE CARVALHO

Um multiartista

no front

De saia, Flávio de Carvalho, durante intervenção realizada em 1956 na região central de São Paulo: polêmico e provocador

Ferramentas mais velhas que o Homo Levedura converte açúcar em opioide

5 a7

A Editora da Unicamp está lançando dois livros representativos da produção do modernista Flávio de Carvalho, artista que atuou em diversas áreas, da literatura às artes plásticas, passando pelo teatro, moda, engenharia, arquitetura e jornalismo, entre outros campos. “Os Ossos do Mundo” traz relatos da viagem que o artista fez à Europa entre 1934 e 1935. Já o volume “Flávio de Carvalho”, da coleção Cadernos de Desenho, reúne ilustrações criadas pelo artista para a coluna “A Moda e o Novo Homem”, publicada em 1956 em um jornal paulistano. Documentos que integram o Fundo Flávio de Carvalho, do Cedae/Unicamp, enriqueceram as duas edições.

O batuque sincopado dos pardais de Java

TELESCÓPIO

3 4 8 12

2

Maracujá se adapta para atrair morcego Biomaterial acelera cicatrização de lesões O poder das redes sociais reais no mundo das vendas Mercado e experimentalismo na trajetória de Tom Zé


2

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Captando intenções no cérebro Pesquisadores ligados à Universidade do Sul da Califórnia e ao Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) descrevem, na revista Science, como um implante de eletrodos no cérebro de um paciente tetraplégico registrou as intenções de movimento do voluntário, e transferiu essa informação para um braço robótico. Como explica nota divulgada pelo Caltech, implantes testados anteriormente ligavam-se à região motora do cérebro, gerando movimentos abruptos e pouco graciosos do braço-robô. O novo implante, colocado numa área chamada córtex parietal posterior (PPC, na sigla em inglês), detecta a intenção de mover-se, não a ordem imediata para que o movimento aconteça, o que permite “movimentos mais fluidos e naturais”. “Registramos atividades da população neural com arranjos de microeletrodos implantados no PPC de um paciente tetraplégico”, diz o artigo na Science. “Foi possível decodificar imagens motoras dessas populações neurais, incluindo objetivos imaginados, trajetórias e tipos de movimento”. De acordo com a nota publicada pelo Caltech, o paciente que se submeteu ao implante foi capaz de usar um braço robótico num movimento “fluido” de aperto de mão e, também, de jogar joquempô.

Ferramentas antes dos humanos As ferramentas de pedra mais antigas já descobertas são anteriores ao surgimento do gênero Homo, ao qual pertence a espécie humana atual e espécies pré-históricas como o neandertal e o Homo habilis, diz artigo publicado na revista Nature. As ferramentas, descobertas no Quênia, datam de 3,3 milhões de anos atrás. Os mais antigos instrumentos de pedra associados ao gênero Homo são de 2,6 milhões de anos. Os autores do artigo, de uma equipe internacional, afirmam que a descoberta de ferramentas com mais de 3 milhões de anos “marca um novo início para o registro arqueológico conhecido”. Os autores especulam que o formato das ferramentas indica que elas estavam adaptadas para um tipo de movimento dos braços mais próximo ao dos modernos chimpanzés do que ao dos seres humanos.

Levedura de ópio A biotecnologia está mais próxima de produzir uma levedura capaz de transformar glicose, ou açúcar comum, em substâncias opioides, a família de drogas à qual pertencem ópio, morfina e heroína. Leveduras encontradas na natureza já são usadas para converter açúcar em álcool, numa etapa da produção de bebidas como vinho e cerveja. Na semana passada, pesquisadores ad Universidade da Califórnia em Berkeley anunciaram ter criado uma levedura capaz de executar os estágios iniciais da conversão de açúcar em ópio. Os estágios finais já haviam sido obtidos em pesquisas anteriores – o que fica faltando, então, é construir uma levedura geneticamente modificada capaz de executar o processo por inteiro. O trabalho mais recente é descrito no periódico Nature Chemical Biology. Tradicionalmente extraídos da papoula, opioides têm importância medicinal como analgésicos, mas também são traficados ilegalmente. A possibilidade de que essas substâncias possam vir a ser produzidas de modo tão simples e abundante quanto bebidas alcoólicas já causa preocupação, como mostra artigo publicado no serviço noticioso Science Insider, da revista Science, que lembra que há 16 milhões de usuários ilegais de opioides no mundo, com milhares de mortes por overdose registradas a cada ano. Ouvido pelo Insider, Kenneth Oye, especialista em política de biotecnologia do MIT, disse que “existe um verdadeiro potencial de as coisas darem muito errado” com essa tecnologia. “Se houver uma rota integrada, de um recipiente só, da glicose à morfina, isso será incontrolável quando vazar”.

Testosterona na Olimpíada Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, um debate delicado, mas pouco conhecido, volta a ganhar peso nos

meios esportivos: o que qualifica uma pessoa a competir como mulher? A questão surgiu décadas atrás, em meio a temores de que homens disfarçados poderiam tentar competir ilegalmente nas categorias esportivas femininas, desfrutando de vantagens indevidas em quesitos como força física e velocidade. Essa suspeita acabou levando à busca por um biomarcador exato e livre de ambiguidades, capaz de distinguir entre os sexos. Essa busca se mostrou infrutífera, por conta de casos de pseudo-hermafroditismo e de certas peculiaridades genéticas, o que levou ao reconhecimento de que “não há um critério científico capaz de distinguir todos os homens de todas as mulheres”. Por fim, as autoridades olímpicas adotaram um nível limite de testosterona, o chamado hormônio masculino, para que uma atleta possa competir nas categorias femininas. A justificativa é de que mulheres com “níveis masculinos” de testosterona levariam uma vantagem injusta sobre as demais competidoras. Artigo publicado na Science da última semana, no entanto, questiona a ideia de que é possível falar em níveis de testosterona “tipicamente masculinos” ou “tipicamente femininos”, ao menos no universo dos atletas de elite, afirmando que os dois únicos estudos de grande fôlego sobre o assunto chegaram a resultados contraditórios. Os autores sugerem que testes sexuais de base biológica deveriam ser abolidos de vez, e que se deveria adotar a política de que mulheres que foram criadas como meninas e se consideram do sexo feminino devem poder competir nos esportes femininos.

Viajante da Era do Bronze A chamada Garota de Egtved, sepultada num caixão de carvalho há mais de 3 mil anos na vila dinamarquesa de Egtved, viajou muito em seus últimos dois anos de vida. Análises dos cabelos, dentes e unhas do corpo de uma jovem da elite da Era do Bronze, morta com cerca de 17 anos de idade, revelaram detalhes sobre como devia ser a vida da “alta sociedade” da época. A investigação é descrita no periódico Scientific Reports, do grupo Nature. Foto: MPK-WTAP/Divulgação

Ferramenta de pedra de mais de 3 milhões de anos, anterior ao gênero Homo

Os níveis do elemento estrôncio nos dentes sugerem que a Garota nasceu fora da Dinamarca. Os isótopos atômicos da lã de suas roupas indicam que o tecido foi importado. Os autores do trabalho, encabeçado por Karin Frei, do Museu Nacional da Dinamarca, acreditam que a menina e seus trajes vieram do sul da Alemanha. Os elementos químicos presentes nos cabelos longos da Garota permitem reconstituir suas viagens nos últimos 23 meses de sua vida, de acordo com a Scientific Reports. Os elementos que aparecem nos segmentos de cabelo e de unhas que cresceram nos meses imediatamente anteriores à morte mostram que ela esteve em algum lugar distante de Egtved pouco antes de falecer. Os cabelos revelam, ainda, uma dieta variada, mas marcada por períodos de escassez de proteína.

Novas epidemias causadas por ratos Um trabalho de aprendizado de máquina, publicado no periódico PNAS, revelou mais de 50 espécies de roedores que são prováveis portadoras de doenças contagiosas para seres humanos. Os autores do estudo, vinculados a instituições dos Estados Unidos, usaram técnicas avançadas de computação para encontrar as características biológicas e ecológicas mais comuns das espécies de roedores que transportam doenças que podem ser transmitidas para pessoas e, aplicando o modelo produzido, foram capazes de identificar portadores conhecidos com 90% de precisão, além de encontrar mais de meia centena de espécies que ainda não são consideradas portadoras, mas que se encaixam no perfil e que, portanto, têm alta probabilidade de virem a causar contágio em populações humanas. Essas novas espécies são comuns em partes dos Estados Unidos e da Ásia Central, e os autores do trabalho sugerem que ele pode vir a gerar “um importante guia para a descoberta de reservatórios de doenças”.

Pássaros percussionistas O pardal de Java (Lonchura oryzivora) batuca enquanto canta, produzindo um acompanhamento de percussão para sua música, diz artigo publicado no periódico PLoS ONE. “Pardais de Java machos coordenam o clicar dos bicos com a sintaxe das sequências de notas de suas canções”, escrevem os autores, vinculados a instituições japonesas. “Análises demonstram que eles produzem os cliques frequentemente no início das canções, e antes ou depois de notas específicas”, prossegue o artigo. Os autores afirmam ainda que há semelhanças no estilo de percussão entre pássaros de um mesmo grupo social, o que sugere que o comportamento é, ao menos em parte, aprendido.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


3

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

Flor de maracujá ‘seduz’ morcego para polinização Foto: Antoninho Perri

Pesquisadores da Unicamp e da Universidade Hebraica de Jerusalém descrevem adaptação de espécie CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

periódico científico Plant Biology reservou a capa de sua edição de maio para um artigo de autoria de pesquisadores da Unicamp e da Universidade Hebraica de Jerusalém, sobre a adaptação da flor de uma espécie de maracujá, Passiflora mucronata L., à polinização por morcegos. O artigo compõe a primeira parte da tese de doutorado de Diego Rocha, defendida na Unicamp em março. Flores evoluem de modo a seduzir polinizadores: apresentando atrativos e oferecendo recompensas que levem animais a visitá-las e a carregar seu pólen para outras flores, garantindo assim a preservação da espécie. As estratégias de sedução variam de acordo com o público-alvo, e podem envolver características muito específicas, como a composição do néctar e o formato de estruturas internas da flor. Insetos e pássaros são os preferidos, mas há oito espécies conhecidas, das mais de 600 dentro do gênero passiflora – que inclui o maracujá comum – que são especializadas em atrair morcegos. A primeira passiflora polinizada por morcegos foi descrita na década de 70 pela pesquisadora da Unicamp Marlies Sazima. Atualmente, um grupo do Instituto de Biologia (IB), encabeçado por Marcelo Dornelas, orientador do doutorado de Rocha e um dos autores do artigo na Plant Biology, busca entender a causa dessa variedade: por que as passifloras não se “satisfazem” em ser polinizadas por insetos e beija-flores? “O maracujá comum, comercial, é polinizado por mamangava”, disse ele. “E a gente acredita que tanto o maracujá que é polinizado por morcego quanto o que é polinizado por beija-flor têm um ancestral comum que era polinizado por um inseto, próximo do maracujá comum que a gente está acostumada a ver”. “Os insetos apareceram, na evolução, antes de morcegos e beija-flores. O beija-flor apareceu com a elevação dos Andes: quando os Andes apareceram, os beija-flores apareceram mais ou menos na mesma época, e os morcegos que bebem néctar de flor apareceram um pouquinho antes disso. Mas inseto, sempre teve”, explicou Dornelas. “Todas as espécies que são parentes próximas do maracujá são polinizadas por insetos. Então, o que a gente quer entender, a longo prazo, é como são os passos evolutivos para sair de uma flor polinizada por insetos para dar esses formatos, essas cores e aromas e néctares diferentes”.

EQUILÍBRIO DELICADO A tese de Diego investigou ainda variedades híbridas entre passifloras polinizadas por beija-flor – cujas flores têm cor forte, néctar rico em açúcares e se abrem durante o dia – e por morcegos, com flores brancas, néctar com conteúdo importante de aminoácidos e que se abrem à noite. Esses híbridos foram produzidos pela Embrapa, que buscava uma forma de transferir características genéticas desejáveis do maracujá silvestre para a variedade comercial. “Fiquei sabendo desses híbridos justamente porque um pesquisador da Embrapa me disse: nós fizemos uns híbridos, você não quer dar uma olhada? Porque, aparentemente, está tudo bem, mas não dá fruto. Dê uma olhada nessas flores para ver se elas não têm algum defeito. Eu lem-

bro que vi que não tinha nada de errado com as flores. Perguntei: que espécie você cruzou? Ah, eu cruzei uma espécie, essa que é polinizada por beija-flor, e uma polinizada por morcego, e o hibrido a gente põe no campo e não dá fruto”, contou Dornelas. “E respondi: claro, porque não tem um bicho que seja o cruzamento de morcego com beija-flor! As flores do híbrido abrem de dia, mas têm características de odor, de cor, etc., que o beija-flor não gosta. Quando chega de noite, a flor já fechou. Então ela não é visitada nem por morcego, nem beija-flor. Se você for lá e polinizar com a mão, artificialmente, ela produz fruto”. Os híbridos da Embrapa demonstraram que algumas das características que tornam certas espécies de passiflora atraentes para morcegos são recessivas – isto é, atenuam-se ou mesmo desaparecem na miscigenação. “A curvatura do androginóforo nunca é herdada, se você cruzar essa flor com uma flor polinizada por beija-flor, que não é curva, o híbrido perde a curvatura”, exemplificou Dornelas. “Essa estrutura curva fica reta no híbrido. Isso talvez explique porque há tão poucas espécies de passiflora polinizaO biólogo Diego Rocha, um dos autores das por morcegos: porque todas do artigo, e as flores da espécie passiflora: as características são recessivas. destaque no periódico “Plant Biology” O fato de ser branca a flor é recessivo. O fato de o androginóforo ser curvo é recessivo. Então isso tudo “Normalmente, os morcegos localizam as se perde muito fácil, o que traz a pergunta flores por ecolocalização, pelo reflexo do de como essas caraterísticas são mantidas, som”, relatou. “Uma solução de porque o afinal”. androginóforo é curvo pode ser essa: vibra mais, então auxilia na ecolocalização. Mas O pesquisador acrescenta que o fato de isso é tema para outra tese”. só haver oito espécies de passiflora conheDornelas conta que a ideia de que o ancidas polinizadas por morcegos – ante uma droginóforo poderia estar sendo forçado a centena de espécies que usam beija-flores, curvar-se por conta da falta de espaço no e várias centenas polinizadas por insetos – interior do botão surgiu da lembrança de indica que deve haver poucos modos de se um episódio da série animada de televisão “construir” essa flor, agradável para os ma“Os Simpsons”. míferos voadores. “Tem um episódio em que um perso“Só tem oito, que a gente saiba, e todas nagem chamado Nelson, que está sempre chegaram à mesma solução: mesmo formacaçoando dos outros, resolve caçoar de um to, mesma cor, são muito parecidas. Todas cara que está dentro de um fusquinha, todo são brancas”. O fato de a flor ser branca é apertado. Ele aponta, rindo, para o sujeito. econômico para a planta, que deixa de proEntão o carro abre a porta, e na hora que duzir uma série de enzimas envolvidas na o motorista sai, é um sujeito enorme, que coloração. estava todo enrolado porque o carro era muito pequeno, e ele era bem alto”, disse. OS SIMPSONS “Então, falei para o Diego: acho que o O artigo publicado em Plant Biology exque faz o androginóforo encurvar é como plica a curvatura do androginóforo – uma o cara dentro do carrinho: ele é grandão, coluna que suporta as partes masculina e mas se encurva dentro carrinho para caber. feminina da flor – da planta polinizada por Então, se isso é verdade, se a gente abrir morcegos como resultante de uma dupla de como se fosse um teto solar no botão da fatores: a distribuição diferenciada de um flor, cortando a parte de cima do botão, ele hormônio que estimula o crescimento das vai crescer reto. Esse foi o primeiro expericélulas e o fato de o androginóforo crescer mento que o Diego fez, uma coisa inspiramais depressa que o botão que o envolve, o da pelos Simpsons e que funcionou: realque o força a dobrar-se. mente, o androginóforo só se curva porque está preso dentro do botão floral. Quando “O crescimento faz com que ele se dose abre a parte de cima do botão floral, ele bre, e o hormônio fixa essa curvatura, uma cresce reto”. vez que o botão se abre”, disse Dornelas. Sobre a importância da curvatura do anJá os colaboradores da Universidade Hedroginóforo na atração de morcegos, o braica de Jerusalém ajudaram no teste com pesquisador explicou que ainda não existe o hormônio que fixa a curvatura. “Se fosse um papel comprovadamente ligado à caracsó a questão do tamanho do botão, na hora terística, mas que há algumas hipóteses. que a flor abre, o androginóforo desentorta-

ria”, disse o pesquisador. “Mas não acontece. Existe alguma coisa, no nível celular, que faz com que isso se fixe de algum jeito”. Essa fixação ocorre por conta do crescimento diferencial das células, controlado por hormônios. A técnica de aplicação do hormônio usado no teste, por meio de injeção, foi sugerida pelos parceiros de Israel. “Tanto o maracujá comercial quanto este têm uma camada de cera, para evitar que a planta resseque no calor”, o que tornava a técnica de pulverização pouco eficaz. “Eles também são coautores porque sugeriram para a gente essa maneira de testar o hormônio em si, nesse sistema”.

ABELHAS As passifloras, assim como as espécies que as polinizam – as variedades específicas de mamangava, de beija-flor e de morcego – são nativos da América do Sul. “Inclusive, a espécie comercial que a gente usa no Brasil é nativa daqui”, disse Dornelas. “Hoje, planta-se no mundo inteiro. Em Israel, eles têm plantações comerciais de maracujá, mas adaptaram o cultivo. Estive lá e vi o maracujá sendo cultivado na areia do deserto, irrigado, e quem poliniza o maracujá comercial deles – lá não tem mamangava – é a Apis melífera, aquela abelha pequena de mel”. No Brasil, diz o pesquisador, as abelhas até visitam as flores de maracujá, mas não fazem o trabalho de polinizadoras. “Aqui, a abelha que faz mel só rouba néctar e pólen, mas não poliniza o maracujá. Então, esses estudos acabam ajudando a entender como adaptar melhor uma cultura a um polinizador”.


4

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

Liberação controlada de NO rende biomateriais poliméricos Filmes e hidrogéis recobrem dispositivos e atuam na vasodilatação da pele, na cicatrização de lesões e na prevenção de infecções Fotos: Antoninho Perri

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

óxido nítrico (NO) é uma molécula pequena que fascina os cientistas. Faz 20 anos que o professor Marcelo Ganzarolli de Oliveira voltou de seu estágio de pós-doutorado na Inglaterra, cumprido de 1993 a 1995, quando eram amplamente divulgadas as descobertas das propriedades bioquímicas do NO, que renderiam o Prêmio Nobel de Medicina de 1998 para Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad. “Aquelas descobertas chamaram muito minha atenção e, no retorno ao Brasil, iniciei pesquisas com moléculas capazes de liberar óxido nítrico, especialmente para incorporá-las em polímeros (foco de meu mestrado e doutorado). Tinha a perspectiva de promover uma liberação controlada de NO e obter propriedades fisiológicas e biológicas”, recorda o professor. “O óxido nítrico é uma das menores moléculas biologicamente ativas na natureza e uma espécie sinalizadora onipresente nos mamíferos, incluindo a nós, humanos”, escreve Ganzarolli no painel em que divulga as linhas de pesquisa de seu laboratório no Instituto de Química (IQ). “Sua aparente simplicidade química esconde uma sofisticada gama de ações fisiológicas e patofisiológicas, que vão da citoproteção à citotoxicidade e da vasodilatação à neurotransmissão.” Neste laboratório, o docente da Unicamp e seus alunos preparam biomateriais poliméricos doadores de NO na forma de hidrogéis e filmes, visando duas aplicações principais: o uso tópico para promover a vasodilatação da pele, a cicatrização de lesões

O professor Marcelo Ganzarolli de Oliveira, coordenador das pesquisas: “O óxido nítrico é uma das menores moléculas biologicamente ativas na natureza”

e a prevenção de infecções; e o recobrimento de dispositivos de implante, como stents intracoronários e cateteres endovenosos. “Além de desenvolvermos novos materiais para uso biomédico, também realizamos modificações na superfície de polímeros para torná-los mais biocompatíveis.” Marcelo Ganzarolli explica que, nas aplicações tópicas, são exploradas duas ações bioquímicas do óxido nítrico: a vasodilatação e a cicatrização. “Trabalhamos com filmes poliméricos e também hidrogéis que, aplicados no local, causam a vasodilatação dérmica, o que contribui no tratamento de doenças associadas a uma deficiência na

produção de NO pelo próprio organismo – esta deficiência pode levar a vasoconstrição e falta de irrigação da pele.” Os mesmos materiais doadores de NO, segundo o professor, podem ser aplicados para acelerar a cicatrização de lesões, em particular as crônicas como de diabetes, que são uma das principais causas da amputação de extremidades do corpo (pés e dedos). “Os filmes e hidrogéis também se mostraram eficientes para o tratamento de lesões crônicas de outras causas, a exemplo de pessoas que ficam acamadas por muito tempo e sofrem lesões de pressão (ulcerações).”

Uma membrana com alto poder de intumescimento As pesquisas realizadas no laboratório do professor Marcelo Ganzarolli de Oliveira vêm gerando depósitos de patentes, com várias concessões feitas no Brasil através do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) – muitos trabalhos envolvem colaborações com pesquisadores de outras unidades da Unicamp, USP, UERJ e UFC. “As principais plataformas demonstrando as propriedades dos materiais que desenvolvemos já estão protegidas, mas ainda temos uma grande parte de protótipos, cujas características precisam ser melhoradas até que se tornem um produto para uso clínico”, afirma o docente do Instituto de Química. Ganzarolli observa que os aperfeiçoamentos são contínuos na pesquisa científica e, em relação aos biomateriais doadores de óxido nítrico (NO), um dos focos está nas características mecânicas, como flexibilidade e intumescimento (capacidade de absorção de água que, dependendo da aplicação, precisa ser controlada para mais ou para menos). “A estabilidade dos materiais é outra característica importante, pois se estiver baixa, devemos criar mecanismos para aumentá-la, a fim de que o produto ganhe um tempo de prateleira aceitável para a indústria. Mais uma preocupação é a velocidade de liberação do fármaco, que deve ser lenta para cicatrização de lesões, ou rápida para obter uma ação bactericida eficaz.” Nesse sentido, a aluna Sarah De Marchi Lourenço acaba de apresentar dissertação de mestrado em que desenvolveu um biomaterial

A aluna Sarah De Marchi Lourenço: aumento do fluxo microcirculatório sanguíneo após a aplicação da membrana

com alta capacidade de intumescimento. “Preparei uma membrana porosa de poli(álcool vinílico), ou PVA, funcionalizada com ácidos carboxílicos, que tem esta propriedade de intumescimento. E incorporei o óxido nítrico, que possui ação vasodilatadora na pele. O PVA é um polímero biocompatível já utilizado para propósitos médicos e que permite modificações químicas através de reações com estes ácidos.” Em ensaios de quantificação e de vasodilatação, Sarah Lourenço detectou um aumento do fluxo microcirculatório sanguíneo após a aplicação

desta membrana na pele e graus de intumescimento até 600% maiores (em água) do que a massa do material. “Em termos de aplicação, é interessante que o material absorva grande quantidade de líquido. As feridas diabéticas, por exemplo, liberam uma quantidade anormal de exsudato – líquido biológico que contém proteínas que degradam a matriz extracelular – e por isso não cicatrizam. A remoção do excesso de exsudato facilita a proliferação celular e o fechamento da lesão.”

Ganzarolli esclarece que resultados relevantes de cicatrização em modelos animais foram descritos em vários artigos, com a colaboração da professora Andréa Monte Alto Costa, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). “Mostramos que esses materiais aceleram a cicatrização quando aplicados topicamente cobrindo as lesões, e que tanto os hidrogéis como os filmes poliméricos são capazes de liberar o NO de uma forma controlada. Demonstrada esta ação cicatrizante em animais, o potencial de uso para tratamento de lesões crônicas em humanos é bastante grande.” Já a vasodilatação dérmica, efeito importante para tratamento de algumas doenças, foi constatada no próprio laboratório mediante aplicações tópicas em voluntários, seguindo os protocolos aprovados pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. “Possuímos um instrumento chamado laser Doppler, com o qual medimos o fluxo sanguíneo na pele: aplicamos um polímero com a molécula doadora ao lado de outro que não a continha; retirando ambos ao mesmo tempo, observamos embaixo do polímero doador um avermelhado na pele, que indica aumento do fluxo sanguíneo.” Uma segunda linha de atuação do grupo de Ganzaroli é o desenvolvimento de polímeros quimicamente modificados para recobrir dispositivos como os stents intracoronários implantados para desobstrução de artérias. “Como os stents ficam retidos após o implante, há o risco de uma reoclusão do vaso; por isso, atualmente, eles são recobertos com polímero doador de um fármaco inibidor da reoclusão, sendo que o óxido nítrico possui esta capacidade.”

AÇÃO

BACTERICIDA

Segundo Marcelo Ganzarolli, mais uma ação importante de materiais doadores de NO, a bactericida, tem sido demonstrada em colaboração com o Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. “Verificamos que esses polímeros matam bactérias responsáveis por infecção hospitalar, como pseudômonas e estafilococos. A infecção é causa de complicações também em materiais de implantes: no cateter endovenoso, por exemplo, devido ao contato com o sangue, sua superfície está sujeita à formação de trombos, que depois se desprendem e levam problemas a outros órgãos como pulmões e cérebro.” Se a superfície do cateter tiver a propriedade de inibir a adesão de plaquetas, explica o docente do IQ, os trombos não vão se formar – e o NO possui também esta propriedade anti-trombogênica. “Descrevemos esta ação bactericida (ou microbicida) em trabalhos publicados sobre as moléculas que sintetizamos e que podem ser utilizadas em solução. Além do cateter propriamente, o próprio ponto onde ele está inserido pode ser uma porta de entrada de bactérias para o resto do organismo, o que também é evitado por nossos materiais.” Ganzarolli destaca outro estudo em colaboração, desta vez com a área de Ciências Biológicas da USP, mostrando o potencial destes biomateriais para tratamento da leishmaniose cutânea, uma doença negligenciada que ainda demanda novas formas de abordagem. “Já havíamos demonstrado, em culturas de microrganismos, que as moléculas de NO eliminam promastigotas da leishmania. E um trabalho mais recente, em camundongos infectados com este protozoário que receberam tratamento tópico, aponta não só a redução do número de parasitas, como a aceleração da cicatrização. Atualmente recorre-se a fármacos por via oral contra a leishmaniose cutânea, o que deve continuar sendo feito, mas oferecemos um tratamento coadjuvante que auxiliaria na recuperação das lesões.”


5

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

FLÁVIO DE CARVALHO

No contrafluxo do estabelecido

Dois livros trazem à tona diferentes facetas do modernista Flávio de Carvalho, cujo acervo está sob a guarda da Unicamp Foto: Cedae/Unicamp

MARTA AVANCINI Especial para o JU

Domingo, às 15 horas, quando desfilava pelas ruas do centro da cidade, a procissão de Corpus Christi, um rapaz muito bem posto que se achava na esquina da rua Direita e praça do Patriarca não se descobriu, conservando ostensivamente seu chapéu na cabeça. Os crentes, que acompanhavam o cortejo, revoltaram-se com essa atitude e exigiram em altos brados que ele se descobrisse. Ele, no entanto, sorrindo para a turba não tirou o chapéu, embora o clamor da multidão já tivesse se transformado em ameaça. Foi então que inúmeros populares tentaram linchá-lo, investindo contra ele.” O trecho, extraído de uma matéria publicada em 9 de junho de 1931 no jornal O Estado de S.Paulo, relata uma das ousadas e polêmicas intervenções de Flávio de Carvalho (1899-1973). Denominada Experiência n.º 2, a intervenção foi concebida com o objetivo de colher evidências para um estudo de psicologia das multidões que vinha desenvolvendo, posteriormente publicado num livro. A Experiência consistiu em atravessar uma procissão em sentido contrário usando um boné na cabeça e flertando com as moças, o que acabou despertando a fúria dos fiéis. Formado em engenharia civil no Armstrong College da Universidade de Durham e em artes na King Edward the Seventh School of Fine Arts, ambas em Newcastle upon Tyne na Inglaterra, Flávio de Carvalho entrou para a história com a marca da ousadia em todas as frentes em que atuou: foi engenheiro, arquiteto, pintor, desenhista, escritor, jornalista, teatrólogo, decorador, destacando-se como um dos nomes fundamentais do Modernismo brasileiro. À Experiência n.º 2 soma-se um significativo conjunto de obras, invariavelmente criativas e provocadoras. Em 1927, atraiu a atenção em sua primeira aparição pública no concurso de arquitetura para o Palácio do Governo do Estado de São Paulo. Ele apresentou um projeto de um prédio que se assemelhava a um bunker, com holofotes para iluminar aviões num eventual ataque à sede do governo paulista, ao mesmo tempo em que incluía um salão de dança, com decoração tropical, para mil pessoas. Na década seguinte, Flávio de Carvalho passa a ter evidência na cena artística. Além da Experiência n.º 2, fundou o Clube dos Artistas Modernos (CAM) em 1932, com Antonio Gomide, Di Cavalcanti e Carlos Prado. Um ano mais tarde, criou o Teatro da Experiência e encenou O Bailado do Deus Morto – espetáculo de dança e teatro, protagonizado predominantemente por atores negros. Em 1934, sua primeira exposição individual de pinturas se transformou em caso de polícia: a mostra foi fechada sob alegação de atentado ao pudor e teve cinco quadros apreendidos. O artista conseguiu na Justiça o direito de reabri-la. Na segunda metade da década, foi um dos organizadores, juntamente com Quirino da Silva e Geraldo Ferraz, do Salão de Maio, que teve edições em 1937, 1938 e 1939, em São Paulo. Os Salões foram mostras coletivas, concebidas para criar um espaço para a arte moderna nacional e promover o intercâmbio com a produção internacional. Fortemente influenciado pelo Expressionismo, Surrealismo e Dadaísmo, Flávio de Carvalho produziu uma obra que mantém uma intensa interação com a vanguarda europeia. Na sua obra como artista visual, sobressaem os retratos e nus femininos.

OBRA REVISITADA

Dois lançamentos recentes da Editora da Unicamp trazem ao público contemporâneo o universo vivaz e polêmico de Flávio de Carvalho. O primeiro é o livro Os Ossos do Mundo, resultado de uma viagem de seis meses à Europa que o artista fez entre 1934 e 1935. Publicado originalmente em 1936 numa edição independente e de baixa tiragem, a obra agora ganhou uma reedição revista e ampliada, organizada pelo arquiteto Rui Moreira Leite – um dos principais pesquisadores sobre Flávio de Carvalho –, e Flávia Carneiro Leão, diretora do Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.

Flávio de Carvalho durante a “Experiência Nº 3”, intervenção realizada pelo artista em 1956, na região central de São Paulo: em defesa do “New Look”, traje masculino de verão concebido pelo artista

SERVIÇO Título: Cadernos de Desenho Flávio de Carvalho Organização: Lygia Eluf Textos: Flávia Carneiro Leão e Mônica Junqueira de Camargo Páginas: 232 Coleção Cadernos de Desenho Área de interesse: Artes plásticas Preço: R$ 60,00 Editora da Unicamp Coedição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Croqui do “New Look”: reflexão sobre os costumes e convenções sociais e libelo contra as indumentárias herdadas dos colonizadores

O segundo lançamento é o volume Flávio de Carvalho, da coleção Cadernos de Desenho, coordenada por Lygia Eluf, professora de desenho do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. A obra reúne ilustrações criadas pelo artista para a coluna A Moda e o Novo Homem, publicada em 1956 no Diário de S.Paulo. A coluna enfocava a história da moda, analisada a partir dos estudos etnográficos e psicológicos realizados pelo artista. E é considerada uma espécie de preparação para a Experiência n.º 3 - um desfile pelas ruas do centro de São Paulo, no qual Flávio de Carvalho apresentou o New Look, traje masculino de verão. Composto por blusa de mangas curtas, saia à altura dos joelhos e sandálias, o traje remete uma reflexão sobre os costumes e convenções sociais: por que num país tropical como o Brasil, os homens usam uma indumentária herdada dos colonizadores e pouco afeita ao nosso clima, como o terno e a gravata?

As duas edições foram produzidas a partir de documentos que integram o Fundo Flávio de Carvalho do Cedae/Unicamp. (Leia mais sobre os livros e o acervo nas páginas 6 e 7). Aparentemente conturbador, provocador e, até, inconsequente, Flávio de Carvalho foi um artista e intelectual com sólida formação, profundamente imerso em sua época. “Criou-se um senso comum de que Flávio de Carvalho foi um homem à frente de seu tempo. Tal afirmação não faz sentido, ninguém pode ser à frente do seu tempo”, afirma Rui Moreira Leite. “As referências teóricas de Flávio de Carvalho eram aquelas de seu tempo: nos campos do evolucionismo (Charles Darwin), da filosofia (Friedrich Nietzsche), da psicanálise (Sigmund Freud) e da etnografia (James Frazer)”, complementa. “Alguns consideram Flávio de Carvalho uma figura marginal e excêntrica. Discordo dessa leitura. Ele formou-se na Europa, teve

Título: Os ossos do mundo Autor: Flávio de Carvalho Organização: Rui Moreira Leite e Flávia Carneiro Leão Páginas: 176 Área de interesse: Artes plásticas, biografias Preço: R$ 40,00 Editora da Unicamp

contato com o que havia de mais moderno nas artes, na cultura e no pensamento do seu tempo. Atuou em vários campos, e foi reconhecido ainda em vida por suas atuações”, analisa Flávia Carneiro Leão, diretora do Cedae. Esse mergulho no pensamento, na arte e na cultura do início do século XX é o que teria conferido a Flávio de Carvalho um senso estético e uma abordagem peculiares, bem como uma amplitude de interesses, que marcaram sua obra nos diversos campos em que atuou. “Flávio de Carvalho é um clássico. A solidez de sua formação permitiu que ele atuasse com qualidade em todos os campos em que se envolveu”, analisa a professora Lygia Eluf. “Mesmo com a multiplicidade de interesses que o caracteriza, seu trabalho não perde força e qualidade. Isso é raro”, conclui.

Continua nas páginas 6 e 7


6

Campinas, 25 de maio

FLÁVIO DE CARVALHO

No traço, drama, humor e ironia Fotos: Cedae/Unicamp

MARTA AVANCINI Especial para o JU

Nas coisa uma visão

Continuação da página 5 ntre março e outubro de 1956, Flávio de Carvalho publicou a coluna A Moda e o Novo Homem no Diário de S.Paulo. Semanalmente, ele escrevia um artigo comentando algum aspecto relacionado à moda, baseando-se em estudos que realizava nas suas diversas áreas de interesse – principalmente arte, cultura, etnografia, filosofia e psicologia. Ao todo, foram 39 artigos, acompanhados por 105 ilustrações, compostas por desenhos feitos pelo próprio Flávio e legendas explicativas, que fazem parte do Fundo Flávio de Carvalho do Cedae/Unicamp. (Leia texto nesta página) Essas ilustrações foram reunidas num volume da coleção Cadernos de Desenho, da Editora da Unicamp em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. A série é organizada por Lygia Eluf, professora de desenho do Instituto de Artes da Unicamp. “A ideia da coleção é revelar, ao público em geral, um tipo de desenho que normalmente fica escondido no ateliê do artista, que raramente seria exposto”, explica. O volume sobre Flávio de Carvalho é o oitavo da série, que recebeu um prêmio Jabuti em 2009, ano em que foi lançada. Neste caso específico, os desenhos não são inéditos, pois já haviam sido publicados na coluna de jornal. No entanto, afirma a organizadora, a reunião das ilustrações num único livro atende a outro objetivo da série: trazer a público a maneira como se desenvolve, por meio do desenho, o modo de pensar do artista. Lygia caracteriza as ilustrações de Flávio de Carvalho como o resultado de uma pesquisa artística de primeira qualidade. “São desenhos muito sintéticos, que traduzem de uma maneira clara e simples a construção de um pensamento visual”, afirma a professora da Unicamp. Nesse sentido, a diretora do Cedae, Flávia Carneiro Leão, enfatiza que muitas das referências usadas pelo artista nas ilustrações podem ser identificadas nos livros de sua biblioteca. “É perfeitamente possível traçar o caminho de volta das ilustrações aos volumes da biblioteca de Flávio, o que indica o esforço do artista em integrar a criação artística e a investigação científica em um trabalho fundamentado em pesquisas e estudos”.

1 3

2

Desenhos do livro, com as associações feitas por Carvalho: 1) “antes da Tomada da Bastilha, a moda procurava amparar, quase esconder, a mulher prestes a ser decapitada. Mas não conseguiu”; 2) dos trajes usados por homens e mulheres na antiga civilização sumeriana como um “objetivo psicológico de igualar o homem à mulher”; e 3) supondo que a cauda do vestido usado por Josefina, mulher de Napoleão Bonaparte, seria um contrabalanço à insegurança sexual do imperador

Textos da coluna publicada no “Diário de S.Paulo”: estudos em diversas áreas Foto: Antoninho Perri

POR DENTRO DA HISTÓRIA De fato, uma única ilustração podia reunir referências das mais diversas origens e contextos, permeadas de análises de cunho psicanalítico e de hipóteses, muitas vezes irônicas, sobre a história da humanidade e os costumes sociais. Flávio identificava no vestuário, essencialmente dois tipos de formas, afirma o crítico de arte Rui Moreira Leite: as “curvilíneas fecundantes”, associadas a períodos de prazer e alegria, e as “retas paralelas anti-fecundantes”, marcadas pelo luto e a tristeza. Nos artigos, as vestimentas são associadas a mudanças na história e a comportamentos. Numa ilustração, Flávio relaciona os vestidos usados pelas mulheres francesas na segunda metade do século 18, com um desejo de segurança: “A mulher cinco anos antes da Tomada da Bastilha; o corpo quase todo envolto em largos panos que ofereciam inúmeros pontos de apoio e segurança. A moda procurava amparar, quase esconder, a mulher prestes a ser decapitada. Mas não conseguiu”. Em outra, analisa a semelhança dos trajes usados por homens e mulheres na antiga civilização Sumeriana como um “objetivo psicológico de igualar o homem à mulher”. Numa terceira, levanta a hipótese de que a longa cauda do vestido usado por Josefina, esposa de Napoleão Bonaparte, seria um contrabalanço à insegurança sexual do imperador.

Quando morreu em 1973, Flávio de Carvalho deixou u puava, em Valinhos (SP). Cerca de uma década mais tard Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae), ligado “Era o que havia restado da biblioteca de Flávio de Car humanas, em especial em Letras, a Unicamp resolveu ne relembra Flávia Carneiro Leão, diretora do Cedae. A comp Anos mais tarde, somou-se a essa documentação, out valho e estava sob os cuidados do jornalista J. Toledo, am Os dois lotes de documentos compõem o Fundo Flávio critos, desenhos originais, livros, fotografias, recortes de mm, álbum de autógrafos e objetos pessoais, entre outro “Tem muita coisa importante no acervo, inclusive os r Flávia. “Em fundos, geralmente os manuscritos e os proj material deixado por Flávio de Carvalho, os recortes são d Em primeiro lugar, porque, ao longo da vida, Flávio de C cialmente no Diário de S.Paulo. Os recortes também incluem matérias e notas jornalís tinha o hábito de montar álbuns de recortes. Ele recortava em geral. Exposições, concertos”, relata a supervisora do ma da vida cultura e artística da época. “Em meio à aparente loucura, Flávio tinha uma disc álbuns”. Além dos recortes propriamente ditos, as marc revelando suas percepções e visões de mundo e agregan

O artista em sua casa, concebida por ele conforme mostra o croqui (no alto), e em diferentes momentos de sua vida, em fotos do Fundo Flávio de Carvalho: Cedae é depositário de massa documental Nas figuras 17 e 18 da ilustração (no alto), desenhos baseados em fotos de tribos africanas feitas por Michel Hust (acima): pesquisa e história

A professora Lygia Eluf: “São desenhos muito sintéticos, que traduzem de uma maneira clara e simples a construção de um pensamento visual”

Como tinha uma tese a defender nos artigos, Flávio de Carvalho foi extremamente cuidadoso na construção dessas imagens, de modo que cada uma delas representasse exatamente a ideia que tinha em mente. “Os desenhos foram feitos a lápis e, depois, contornados com uma pena de nanquim. Então, ele fez essas imagens com um cuidado absoluto, o que é bastante especial”, explica Lygia. “Ele não precisaria usar esse recurso, ele tinha muita habilidade para desenhar. Se não precisasse evidenciar os detalhes que demonstravam sua intenção inicial e a intensa investigação realizada, ele faria um desenho mais rápido, um esboço mais “livre”. Lygia Eluf enfatiza a especificidade dessas ilustrações no sentido de demonstrar um tipo de “leitura” diferente da que propõe em sua produção artística, permeada pelas propostas surrealistas e expressionistas, baseada no que ele próprio chamou de linhas de força psicológicas. Basta lembrar, por exemplo, da Série Trágica, de 1947, na qual Flávio registra, em nove desenhos, os momentos finais da agonia de sua mãe, ou

ainda as pinturas nas quais o nu feminino revela uma forte sensação erótica. “Dez anos antes da coluna sobre a moda, ele consegue representar a dramaticidade da tragédia que é a mãe morrendo. De repente, ele constrói essas imagens irônicas, cheias de senso de humor, dotadas de leveza, com uma linguagem gráfica que é uma síntese clara e quase objetiva: um casamento perfeito entre sensibilidade e racionalidade que é surpreendente”, aprofunda a professora da Unicamp. “Essa característica de Flávio, sua ação provocativa e sua intenção de não fragmentar o conhecimento se expressa no desenho,– do dramático e trágico à essa dimensão tão bem humorada - é uma das coisas que mais me encantam”. Outro aspecto enfatizado pela organizadora da coleção Caderno de Desenhos é o intenso diálogo dos desenhos com a cultura e a sociedade daquela época. “As ilustrações parecem ser um projeto para ele chegar à Experiência n.º 3”, analisa Lygia. (Leia na página 5).


7

o a 7 de junho de 2015

Diário rastreia os ‘ossos do mundo’ Fotos: Cedae/Unicamp

as miúdas, o do todo

um grande acervo de livros em sua casa, na fazenda Cade, o material foi recolhido, em regime de comodato, pelo o ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp. rvalho. Em função do seu valor para pesquisas na área de egociar a compra do acervo com os herdeiros do artista”, pra foi efetivada em 1998. tro lote de materiais que havia pertencido a Flávio de Carmigo pessoal do artista, adquirido pela Unicamp em 2009. de Carvalho, constituído de documentos originais manusjornais, catálogos, periódicos, fitas em VHS, películas 16 os documentos. recortes de jornal, que são de uma riqueza ímpar”, afirma jetos tenderiam a ser mais valorizados, mas no caso do de grande interesse e relevância”. Carvalho escreveu e publicou em vários periódicos, espe-

Exemplar de “Os Ossos do Mundo” que pertenceu a Flávio de Carvalho: obra foi cotejada, pelos organizadores da atual edição, com trechos manuscritos depositados no Cedae

Ficha de inscrição de um dos congressos em Praga e visto fornecido pelo então governo checo: périplo de seis meses depois dos eventos Foto: Antonio Scarpinetti

Flávia Carneiro Leão, diretora do Cedae: “Todas as alterações e adendos foram incorporados à edição que organizamos”

Folhetos de propaganda de “Os Ossos do Mundo”: livro foi rejeitado pela Editora Nacional

sticas sobre arte, cultura e eventos nessas áreas. “Flávio a publicações dele e tudo o que fosse relacionado às artes o Cedae. Esses recortes, enfatiza ela, montam um panora-

ciplina, claramente perceptível na cronologia miúda dos cações e as observações feitas por ele são importantes, ndo, assim, elementos à compreensão de sua obra. (Marta Avancini) Fotos: Cedae/Unicamp

m setembro de 1934, Flávio de Carvalho partiu para a Europa. Seu objetivo era participar de dois eventos em Praga, capital da então Checoslováquia. Além das apresentações que faria nos congressos de Filosofia e Psicotécnica, ele levava na bagagem uma incumbência: escrever um relato sobre a viagem a ser publicado num livro encomendado pela editora Nacional. Após participar dos eventos, Flávio percorreu, durante seis meses, pelo menos oito países – Inglaterra, França, Bélgica, Itália, Checoslováquia, Polônia, Hungria e Áustria, além de uma breve passagem por Portugal. Foi a museus (especialmente os de etnografia), visitou monumentos históricos, vagou pelas ruas, frequentou bares e restaurantes, conheceu pessoas. Suas impressões e reflexões resultaram no livro Os Ossos do Mundo, cuja reedição foi lançada recentemente pela Editora da Unicamp, com organização de Rui Moreira Leite e Flávia Carneiro Leão. Ao voltar para casa, o projeto do livro tomou um rumo inesperado. “Quando chegou ao Brasil e apresentou o livro à Editora Nacional, o volume teve sua publicação recusada”, conta o arquiteto, crítico de arte e pesquisador Moreira Leite, um dos maiores estudiosos da obra de Flávio de Carvalho. O livro acabou sendo lançado, mas numa tiragem independente com cerca de mil exemplares, sem grande repercussão. A recusa da editora provavelmente ocorreu em função do caráter atípico do relato feito pelo artista. “A expectativa era que ele trouxesse um relato de viagem convencional para integrar uma série da editora, com descrições de locais para visitar e algumas impressões. Algo muito diferente da obra que Flávio escreveu”, complementa Moreira Leite.

MERGULHO NA ALMA HUMANA Ao invés de falar sobre museus e atrações turísticas, Flávio de Carvalho dedicou-se a análises e reflexões sobre a formação psicológica e cultural da Europa, dos povos e, até, da humanidade. “É um livro de psicologia num livro de viagens”, define Moreira Leite. Ou como atesta o próprio Flávio de Carvalho no capítulo As Ruínas do Mundo: “este livro não é um simples livro de viagens e sim um livro de meditações livres sobre viagens, (...) não é um livro para o grande jardim da infância constituído pelas massas; quando muito pode atuar como um estimulante para o cérebro seguindo apenas o tumulto dos acontecimentos pessoais do autor”.

Desse modo, nesta obra – assim como em praticamente tudo o que produziu, nos mais diversos campos em que atuou – o artista foge do lugar comum. A começar pelo sentido que atribuiu à expressão que dá título à obra. Os “ossos do mundo”, define o autor, são objetos que as civilizações deixam como rastro ao longo da história. São “resíduos ancestrais que funcionam como condutores de verdade”, capazes de oferecer “um poder terapêutico pouco compreendido hoje [década de 1930] devido ao infeliz e tacanho espírito científico do século”. Os “ossos” teriam, segundo ele, o poder de despertar uma nova sensibilidade no homem que olha para o passado através dos objetos, tornando-se uma “fonte de recordação das dúvidas e do drama da vida”. Olhar para o passado, resgatar os “ossos do mundo” é, então, para Carvalho, uma experiência de reconstrução da origem, saber de onde saímos, para calcular para onde vamos. Isto porque as “recordações” geradas pelos objetos, os resíduos do passado, criam uma espécie de ressonância com o inconsciente e com a verdade sobre a humanidade que os objetos carregam neles próprios. A partir desse pano de fundo conceitual, Flávio de Carvalho estabelece associações entre costumes dos povos, comportamento, história da arte e da civilização. Por exemplo, em determinado trecho ele relaciona a qualidade do papel higiênico com o nível de vida dos povos; em outro, vincula a arte realista do século 17 com a degradação da sensibilidade humana.

PROJETO INACABADO Embora Os Ossos do Mundo tenha tido pouca repercussão na época, existem indícios que Flávio de Carvalho tinha a intenção de fazer uma segunda edição revista da obra, explica a arquivista Flávia Carneiro Leão, diretora do Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) da Unicamp, que abriga o espólio documental do artista e arquiteto. No conjunto de documentos que integram a coleção do Cedae, há um exemplar do livro que pertenceu a Flávio com anotações, correções e acréscimos feitos por ele próprio. “Quando acervo chegou e comecei a trabalhar com o material, encontrei um exemplar com trechos de textos pregados e correções em várias páginas. Ficou claro que ele estava preparando uma segunda edição”, relata Flávia. Um segundo exemplar, também com inserções e comentários do autor, estava nas mãos de Rui Moreira Leite, que o ganhou de

presente de um amigo. O exemplar, conta Rui, foi comprado em um sebo no Rio de Janeiro e havia pertencido a Flávio de Carvalho. Esses dois exemplares, juntamente com os registros de seu caderno de anotações de viagem, deram origem à atual edição lançada pela Editora da Unicamp. “Havia anotações diferentes nos dois livros. Todas as alterações e adendos foram incorporados à edição que organizamos”, diz a diretora do Cedae. Mais do que material para uma segunda edição revista e ampliada, o caderno de anotações de viagem contém várias informações não contempladas no livro, como a identificação dos museus etnográficos que visitou – em Florença, Roma, Paris, além do Museu do Congo, em Bruxelas –, bem como desenhos de objetos que despertaram seu interesse (como instrumentos musicais do Victoria and Albert Museum, em Londres), e a lista de endereço das personalidades que pretendia visitar. A lista inclui desde artistas abstracionistas e construtivos, como Mondrian, Ben Nicholson, László Moholy-Nagy, até o filósofo Gaston Bachelard e o psicanalista Freud. “Alguns contatos e entrevistas, como Freud, sequer foram feitos, mas muitas entrevistas foram realizadas e chegaram a ser publicadas em jornais brasileiros”, afirma Flávia.

REPERCUSSÕES

E DESDOBRAMENTOS

Assim, enquanto esteve na Europa, paralelamente ao livro, o artista fez várias entrevistas com personalidades dos congressos que frequentou, dos artistas e escritores que conheceu enquanto se deslocava percorrendo países e principalmente museus – como registra seu caderno de anotações. Em Paris, encontrou-se com André Breton, Tristan Tzara, além de Raymond Queneau, Man Ray e, conforme indica o acervo do Cedae, parece ter se aproximado dos ingleses, liderados por Roland Penrose. Entre os abstracionistas, um nome chave foi Jean Hélion, embora tenha contatado também Ben Nicholson. Quando regressou ao Brasil deu início à publicação das entrevistas e também à apresentação de suas ideias sobre pintura, renovadas pelos contatos mantidos com artistas em palestras (como “A Pintura do Som e a Música do Espaço”) ou em artigos, como “Novas Tendências da Pintura Contemporânea”. (Marta Avancini)


8

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

Pesquisadores da FEM caracterizam resíduos pouco aproveitados na agricultura

Grupo avalia potencial energético de biomassas Fotos: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

ma série de pesquisas coordenadas pelo professor Waldir Antônio Bizzo, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, vêm caracterizando resíduos pouco aproveitados na agricultura para a conversão futura em eletricidade e biocombustíveis. Estes resíduos, também denominados biomassa, seriam transformados em energia a partir do processo de combustão, bastante empregado nas termelétricas das usinas de produção de etanol. O docente da Unicamp informa que as pesquisas estão bastante avançadas com relação à caracterização da palha da cana-de-açúcar. Esta biomassa mostrou, conforme os estudos, ser um resíduo viável para a geração de energia. Waldir Bizzo calcula que a palha da cana poderia suprir de 6% a 8% da demanda de energia elétrica no Brasil, se metade da safra canavieira fosse utilizada para gerar energia com esta biomassa em sistemas tecnologicamente adequados. Ainda conforme o coordenador das pesquisas, a média nacional atual de geração de eletricidade excedente no setor de cana-de-açúcar varia entre 15 e 29 quilowatts-hora (kWh) por tonelada de cana moída. “Com algumas melhorias no processo industrial e no processo termoelétrico, e utilizando 50% da palha de cana como combustível, este índice sobe para 200 kWh de eletricidade por tonelada de cana moída. Isso representa um aumento de 7 a 13 vezes. Como exemplo, uma usina de médio porte, que mói 500 toneladas por hora de cana, pode ter uma termoelétrica com potência da ordem de 100 mega watts”, exemplifica o docente. Waldir Bizzo acrescenta que um grupo de pesquisadores de mestrado e doutorado vem estudando, desde 2011, as possibilidades de conversão de energia a partir de resíduos da agricultura, como a palha. Os objetivos das pesquisas são investigar química e fisicamente essas biomassas a fim de aumentar o potencial e a oferta de energia para o país. De acordo com o docente, são resíduos que eram totalmente desprezados há um tempo e que hoje têm chamado atenção para a possibilidade de geração de eletricidade e biocombustíveis. “Da cana-de-açúcar, por exemplo, podem sair três produtos: o etanol, o bagaço e a palha. A palha é deixada no campo ou é queimada antes da colheita. No Estado de São Paulo praticamente não se queima mais a palha devido, sobretudo, à mecanização das lavouras. Nossos estudos demonstram que, com poucas adaptações de equipamentos e determinados controles de operação, é possível e viável a utilização de parte da palha para a geração de eletricidade, isso sem comprometer o solo”, afirma o professor. Ele coordena, na Unicamp, linha de pesquisa sobre o tema. Além da palha da cana-de-açúcar, estudos iniciais vêm sendo conduzidos para a caracterização e possível geração de eletricidade e biocombustíveis a partir do caule e galhos da planta de mandioca e da lignina, um resíduo obtido a partir da produção do etanol de segunda geração. A lignina é uma espécie de borra residual do bagaço da cana, biomassa empregada para a produção do etanol de segunda geração. Entre os pesquisadores que desenvolveram estudos recentes sobre o tema, estão o engenheiro mecânico e doutorando Danilo José Carvalho; o engenheiro mecânico Diego Luis Franco Jácome, que acabou de defender mestrado sobre o tema; e Handel Andrés Martínez Sarache, que também defendeu mestrado recente sobre o assunto. Danilo Carvalho está analisando o potencial de geração de energia elétrica em sistemas de cogeração com ciclos térmicos de alto rendimento, considerando o aproveitamento da palha da cana-de-açúcar. Ele também vem pesquisando o potencial do sorgo melhorado geneticamente, conhecido como sorgo biomassa. A cultura, que tem índice menor de sacarose e melhoramento genético para a utilização como combustível, supriria o período da entressafra da cana-de-açúcar. Com relação à palha da cana, o coordenador dos trabalhos explica que as investigações seguem duas frentes: “A primeira é como

Canavial na região de Ribeirão Preto: estudos comprovam que a palha é viável para a geração de energia

Publicações

Resíduos testados nos experimentos: estudos tiverem início em 2011

Dissertação: “Caracterização físico-química das cinzas de palha de cana-de-açúcar através de análises térmicas simultâneas (STA)” Autor: Diego Luis Franco Jácome Orientador: Waldir Bizzo Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)

Dissertação: “Avaliação físico-química das cinzas dos resíduos da cultura da mandioca durante a formação de aglomerações com material inerte” Autor: Handel Andrés Martínez Sarache Orientador: Waldir Bizzo Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)

O professor Waldir Antônio Bizzo (à esq.), orientador das pesquisas, e os alunos Danilo Carvalho e Diego Luis Franco Jácome

aproveitar a palha no sistema atual. A segunda é como que o sistema atual pode melhorar sua eficiência utilizando esta biomassa. Aliás, descobrimos que o sistema atual pode melhorar bastante sem um custo muito alto. Os sistemas de geração de energia elétrica por bagaço de cana, que são as termelétricas das usinas de etanol, têm tecnologia bastante arcaica. É possível, portanto, avançar nesta tecnologia, sem um aumento exorbitante de custo. Outro ponto é a tecnologia existente. Seria necessário apenas adaptá-la à característica da biomassa”, avalia Waldir Bizzo. Neste ponto, Danilo Carvalho pondera que implicações do uso da palha tiveram que ser estudadas, como as cinzas derivadas do processo de combustão. “As cinzas podem acarretar uma aceleração do processo de desgaste dos equipamentos. Já temos mapeado todas as características da palha. Quando comecei a trabalhar no mestrado não havia na literatura científica uma caracterização completa da palha da cana. Estamos concluindo uma avaliação do sistema, da energia que a palha pode gerar e quais seriam as melhores condições. Estamos trabalhando também numa frente para determinar qual seria a rota de recuperação deste resíduo, ou seja, como pegar a palha

e levar na caldeira. Hoje não está ainda definida esta rota, de trazer a palha do campo para o parque industrial”, explica o doutorando. O engenheiro mecânico Diego Luis Franco Jácome fez uma caracterização físico-química das cinzas de palha da cana-de-açúcar por meio de análises térmicas simultâneas. O estudioso ressalta que a palha, apesar de ter um potencial energético muito parecido ao bagaço, tem desafios de pesquisa relacionados à sua composição. “Particularmente com a composição das cinzas e o teor de cloro. Em sistemas de combustão de alta temperatura, a composição das cinzas pode produzir componentes de baixa temperatura de fusão. Isso quer dizer que as cinzas vão virar gotas líquidas que são arrastadas pelos gases e podem incrustar em diferentes partes das caldeiras. Estas crostas se acumulam e podem danificar os equipamentos. O meu estudo realizou uma caracterização avançada da composição elementar da cinza.” Ainda de acordo com ele, um dos objetivos da sua dissertação foi aferir a temperatura ideal para se queimar a palha de modo que a cinza não se incrustasse no equipa-

Bizzo, W.A., Lenço, P.C., Carvalho, D.J. e Veiga, J.P.S. The generation of residual biomass during the production of bio-ethanol from sugarcane, its characterization and its use in energy production. Renewable & Sustainable Energy Reviews, vol. 29, 2014, pgs. 589-603.

mento. O pesquisador promoveu uma separação da composição palha, em folhas secas, folhas verdes e pontas. “Avaliamos cada uma separadamente e também a mistura. Há um aumento no teor de cinza na palha misturada, aquela retirada diretamente do solo, sem qualquer pré-tratamento. Essa palha contém partículas do solo, que é um material não energético e que, obviamente, reduz o seu potencial energético. Individualmente o melhor componente da palha foi a folha seca porque ela apresenta baixa possibilidade de fusão das cinzas, ou seja, as cinzas não viram crosta.” Handel Sarache realizou, por sua vez, uma avaliação físico-química das cinzas dos resíduos da cultura da mandioca, também visando a melhor adequação desta biomassa para geração de energia. Os trabalhos foram financiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Houve colaboração do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).


9 Ilustração: Fábio Reis

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

O poder do boca a boca Tese confirma a influência das redes sociais reais na escolha do consumidor e na forma como as empresas disputam o mercado MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

tire a primeira pedra quem nunca recorreu a um familiar ou amigo para pedir indicações sobre a qualidade de um bem ou serviço antes de adquiri-lo. A consulta boca a boca, estabelece o senso comum, ajuda o consumidor a decidir por este ou aquele fornecedor. Pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento do economista Marcelo de Carvalho Pereira, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, não somente ratifica esse entendimento, como revela que as redes sociais reais influenciam até mesmo na maneira como as empresas concorrem entre si. O trabalho foi orientado pelo professor David Dequech Filho. De acordo com Pereira, o foco específico do estudo foi o mercado brasileiro de serviço de acesso à internet, no período 1996 a 2014. O economista explica que optou pelo segmento porque ele faz parte do que os especialistas classificam de bens e serviços complexos. Dito de modo simplificado, eles são complexos porque exigem do consumidor conhecimentos específicos, muitas vezes de ordem técnica, essenciais para orientar a compra. “Ademais, existem informações que nem sempre podem ser conhecidas a priori. No caso da contratação de um serviço, por exemplo, a pessoa só terá condição de avaliá-lo adequadamente depois de algum tempo de uso. Nesse caso, a consulta às redes sociais reais antes da contratação se torna importante, pois as indicações servem de referência para a escolha do fornecedor”, explica. O economista observa que, quando os bens e serviços não são tão sofisticados, as pessoas tendem a privilegiar outras fontes, como internet e redes sociais virtuais, para obter informações. Isso ocorre porque os produtos são conhecidos e há somente a necessidade de qualificá-los. “Entretanto, quando se trata de produtos novos ou complexos, geralmente de valores mais elevados, o consumidor recorre com mais frequência à sua rede social real. Ou seja, ele tem maior confiança na

experiência das pessoas mais próximas, porque não se trata somente de obter informação objetiva, mas de aprendizado sobre o próprio produto. Confiança, nesse momento, é importante”. Isso pode ser mais bem compreendido, conforme o autor da tese, quando tomamos como exemplo o comportamento dos adolescentes. Basta que alguns integrantes do grupo comecem a utilizar um determinado produto, para que os demais também passem a adotá-lo. No caso dos consumidores, a mecânica é parecida, embora os motivos obviamente sejam diferentes. “As pessoas tendem a imitar umas às outras. O princípio é o seguinte: se meus amigos e familiares usam e aprovam, é sinal de que tem qualidade e utilidade. Os mecanismos que orientam a escolha, portanto, nem sempre são conscientes. Pesquisas genéricas apontam que 40% dos brasileiros se deixam influenciar pelas redes sociais reais no momento da compra de um produto, mais do que norte-americanos e chineses”, pontua o pesquisador. Essa forma de organização social, continua Pereira, não interfere somente na

decisão dos consumidores. Ela também tem capacidade de influenciar na maneira como as empresas disputam o mercado. “O fato de as pessoas agirem dessa forma, baseando suas escolhas nas dos conhecidos, aumenta a probabilidade de um determinado segmento do mercado ficar mais concentrado. O setor de acesso de banda larga à internet no Brasil, fixa ou móvel, é um exemplo dessa concentração. Embora ele conte com mais de 2 mil provedores em atividade, 95% do mercado é controlado por apenas quatro grupos. As demais empresas têm atuação muito restrita, normalmente no âmbito municipal ou regional”, informa. Pereira afirma ter confirmado a influência das redes sociais na maneira como as firmas concorrem entre si por meio de uma ferramenta de simulação computacional. Alimentado com dados hipotéticos, o programa forneceu um cenário de como seria o comportamento do mercado caso os consumidores não recorressem a seus pares para se orientar sobre a aquisição de bens e serviços complexos. “Embora este não seja o único fator a ser conFoto: Divulgação

Publicação Tese: “Competição schumpeteriana e consumidores organizados em rede: uma análise do mercado brasileiro de acesso à internet” Autor: Marcelo de Carvalho Pereira Orientador: David Dequech Filho Unidade: Instituto de Economia (IE)

O economista Marcelo de Carvalho Pereira, autor da tese: “A consulta às redes sociais reais antes da aquisição de um bem ou serviço se torna importante, pois as indicações servem de referência para a escolha do fornecedor”

siderado, a simulação não deixou dúvida quanto à importância da influência social. Sem ela, o fenômeno da concentração seria significativamente menor, pelo menos potencialmente”. Para melhor entendimento, Pereira exemplifica com um índice que mede a concentração de mercado (Herfindahl-Hirschman), cuja escala vai de 0 a 1. Quanto mais perto de 0, menos concentrado é um determinado setor da economia e vice-versa. “Normalmente, o índice de 0,2 é considerado um limite normal. Nesse caso, as agências que acompanham a concorrência não costumam se preocupar. Acima desse patamar, porém, um sinal de alerta é aceso. No Brasil, o índice de concentração no mercado de acesso à internet gira em torno de 0,25, ou seja, é elevado. Entretanto, no âmbito estadual, que é o que mais interessa ao consumidor, ele é ainda maior, em média 0,35. Em alguns Estados, ele pode atingir entre 0,6 a 0,9!”. Parte dessa concentração, reforça o autor da tese de doutorado, pode ser creditada à influência das redes sociais. “A rede social pode promover o que chamamos de realimentação positiva. As pessoas costumam usar o que a maioria dos seus conhecidos já usa, ainda que o bem ou serviço não seja necessariamente o que apresente maior qualidade ou menor preço. Nesse cenário, a empresa mais popular tende a ficar ainda mais popular. A lógica da rede social é conservadora, visto que os consumidores têm acesso a um número limitado de pessoas e preferem não correr riscos. O resultado desse tipo de comportamento é que o grande acaba sendo favorecido e o pequeno, desestimulado de crescer”. Em situações assim, acrescenta o economista, a atuação do Estado se torna importante. “É preciso que haja regulação, para impedir que o setor fique excessivamente concentrado e que ocorram comportamentos predatórios. No caso do serviço de acesso à internet no Brasil, a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] precisa levar essas questões em consideração no momento de estabelecer as regras que orientam a atuação dos provedores no país”, pondera Pereira. Na opinião do economista, a intervenção das agências reguladoras, no que toca aos serviços de acesso à internet, precisa ser equilibrada. “Penso que esse tipo de mercado requer uma atenção diferenciada. Não é o caso de exercer uma regulação tão rigorosa quanto no segmento da telefonia, mas também não é recomendável deixar que o mercado resolva tudo por si mesmo. É preciso definir um modelo adequado, de modo que os serviços remunerem as empresas, mas também mantenham espaço para a concorrência e cumpram sua função social”, considera.


10

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

Painel da semana  Semana de Meio Ambiente da Unicamp - Evento acontece de 26 a 29 de maio com o tema Construindo uma trajetória sustentável. Este ano, a Semana integra ações de várias áreas da Universidade. A abertura oficial será realizada na Praça da Paz, às 9h30, após uma atividade física com um grupo do Programa Mexa-se. Às 10 horas, a professora Rachel Stefanuto coordena um Café Mundial. Durante o evento, a comunidade é chamada a participar de atividades relacionadas à questão ambiental, como palestra sobre soluções hídricas, ação contra o desperdício de alimentos e a diminuição do uso de copos descartáveis na Universidade, trote cidadania – com foco em coleta seletiva, experiência na preservação e proteção de animais selvagens e domésticos; recuperação, implantação e preservação de áreas verdes, prevenção de doenças como a dengue, e busca de alternativas para geração de energia. Entre as atividades, está programado um Rolê Ambiental pela Universidade. Interessados em participar devem se inscrever até 25 de maio pelo endereço secret@unicamp.br. Trata-se de um convite para conhecer as atividades realizadas na rotina da Divisão de Meio Ambiente pelas áreas verdes, limpeza urbana, monitoramento de animais e educação socioambiental, segundo os organizadores. As vagas são limitadas. A organização do evento está a cargo do Coletivo do Meio Ambiente, do qual fazem parte a Coordenadoria Geral da Universidade (CGU); o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom); a Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH); o Grupo Gestor Universidade Sustentável (GGUS); o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS); a Prefeitura Universitária; a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac); a Divisão de Educação Infantil e Complementar (Dedic); a Casa do Lago; a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa); o Trote Cidadania; e o Instituto de Geociências (IG). Para mais detalhes sobre a programação acesse o site http://www.cgu.unicamp.br/ggus.  Como escrever artigos para revistas internacionais - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), e o Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) da Unicamp, promovem no dia 26 de maio, das 9 às 13 horas, no auditório “Inés Joekes” do Instituto de Química (IQ), o workshop “Como escrever artigos para revistas internacionais – Workshop para autores”. Ele será ministrado por James Sullivan, Senior Journals Manager para periódicos nas áreas de Ciência da Computação, Telecomunicações, Tecnologia da Informação e Engenharia Mecânica, e por Patrícia Garcez, professora adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas na UFRJ, ambos da Editora Wiley. O workshop será ministrado em inglês e em português, e é direcionado aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp. Mais detalhes pelo telefone 19-35216649 ou email workshops.escrita@reitoria.unicamp.br  Políticas de procura e de concurso público para inovação - Workshop acontece de 27 a 29 de maio, no Auditório da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU). O encontro tem dois propósitos: o primeiro é definir a natureza multifacetada das políticas “demand-side” e sua presença nos sistemas de inovação. O segundo é aprofundar as discussões acerca das encomendas públicas para inovação. O Workshop contará com a presença de renomados palestrantes dos EUA, Reino Unido, Espanha, Grécia, Suécia, China, Coréia do Sul, além de convidados brasileiros. A organização é do Projeto InSysPo - Innovation System and Policy do Programa SPEC (São Paulo Excellence Chair) da Fapesp, sediado no Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. As inscrições são gratuitas e limitadas. Programação,

inscrições e outras informações, na página eletrônica http://www.ige. unicamp.br/spec/workshop/. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-5124 ou e-mail paulafdc@gmail.com  Boas-vindas aos Pós-graduandos estrangeiros - A Pró-Reitoria de Pós-graduação (PRPG) organiza no dia 27 de maio, às 14 horas, no Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), o Encontro de recepção e integração de pós-graduandos estrangeiros de 2015. O evento é aberto aos estudantes (estrangeiros ou brasileiros), docentes, funcionários e interessados. No encontro, Omar Ribeiro Thomaz, da Universidade de Barcelona, profere a palestra “Diversidade não como concessão, mas como condição da existência na universidade”. A recepção aos estudantes contará com a participação das professoras Rachel Meneguello, Pró-reitora de Pós-Graduação; Altair Cury, assessora da PRPG, e Eleonora Albano, assessora da Vice-reitoria de Relações Internacionais (Vreri) da Unicamp. Outras informações pelo e-mail eleonora.albano@reitoria.unicamp.br  Concertos da OSU - A Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU) realiza dois concertos. O primeiro acontece no dia 27 de maio, às 19 horas, na Paróquia Santa Isabel, em Barão Geraldo. O segundo, dia 28, às 19 horas, na Casa do Lago. Entre as obras a serem executadas está a obra Música para o funeral da rainha Mary.  Crise hídrica e descarte de lixo eletrônico - A água é essencial para a vida humana. Estamos no período de estiagem e este debate tem permeado os principais eventos na Universidade, sociedade, governos e a imprensa em geral. Pela importância do tema, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (Cipa-Unicamp) convidou o professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da FEC, para falar sobre os efeitos da crise hídrica, em sua reunião mensal. O evento dá sequência à campanha “Eu e a água” lançada no mês de março, na Unicamp. Outro assunto de grande interesse é sobre o descarte do “Lixo Eletrônico”. Para abordar o tema, a Cipa receberá a professora Flávia Luciane Consoni, do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG), que está com projeto de pesquisa em andamento. As palestras são abertas ao público em geral e ocorrem no dia 28 de maio, às 14 horas, no auditório II da Diretoria Geral da Administração (DGA), durante a realização da Semana do Meio Ambiente na Universidade. Mais detalhes pelo e-mail cipa@unicamp.br  TEDxUnicampWomen - O Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) organiza a próxima edição do TEDxUnicampWomen, dia 28 de maio, às 10 horas, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL) da Unicamp. No evento serão apresentados temas de interesse geral da comunidade sobre a temática feminina. No mesmo dia, às 14 horas, na sala de treinamentos, localizada no primeiro andar da BCCL, serão apresentadas algumas sessões do TEDWomen 2015, evento a ser realizado simultaneamente, em Monterey, Califórnia. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7923 ou e-mail beth@ nics.unicamp.br  Exposição - A mostra ‘Tessituras’, de Tetê Pacetta, pode ser visitada até o dia 28 de maio e faz parte da programação do CIS Guanabara, órgão ligado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. Mais detalhes no link http://agenciasn.com.br/arquivos/3347  New Trends in Chemistry - No dia 29 de maio, às 9 horas, no auditório “Inés Joekes” do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, será realizado o workshop “New Trends in Chemistry” com uma breve apresentação do ACS Brazilian Chapter, seguida de várias discussões sobre assuntos atuais tendências da pesquisa em Química nomeadamente nas áreas de Sustainable Chemistry, Emerging Affordable Energy Sources e Innovative Materials for Biomedical Applications. O evento contará com a participação do professor Thomas Barton, que foi presidente da ACS em 2014. A organização é da professora Catia Ornelas. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-3119 ou e-mail comunicacao@iqm.unicamp.br  Indicadores de desempenho: a quem interessa medir o quê? O desafio da medição como ferramenta de gestão - Fórum Permanente de Sociedade e Desenvolvimento tratará dos desafios de se institucionalizar uma política universitária de sustentabilidade e da implementação de programas e projetos sustentáveis nos campi universitários da Unicamp. O evento está marcado para o dia 29 de maio, das 14 às 21 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira-SP. A organização é do professor Edmundo Inácio Junior. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/soc_e_desenv08.html  Oficineiros e palestrantes para o Programa UniversIDADE - A organização do Programa UniversIDADE receberá, até 29 de maio, inscrições de interessados em ministrar oficinas e palestras no 2º semestre de 2015. Elas devem ser feitas mediante preenchimento de formulário eletrônico no link http://www.programauniversidade.unicamp.br/intranet/index.php/responsavel/cadastro. Podem se inscrever pessoas que possuam vínculo com a Universidade e que assumam o compromisso de desenvolver a atividade como voluntário. O Programa UniversIDADE é um curso gratuito, que vincula a educação acadêmica à educação popular, voltado para pessoas da meia idade e da terceira idade. As propostas recebidas serão analisa-

Destaque correu no último dia 15 a oitava edição do Prêmio Inventores, iniciativa criada pela Agência de Inovação Inova Unicamp como forma de homenagear professores, pesquisadores e ex-alunos por seu empenho em atividades de proteção à propriedade intelectual e transferência de tecnologias e que ocorre anualmente. Esta edição do prêmio, que também considerou professores e profissionais de outras instituições de pesquisa, homenageou um total de 77 profissionais, sendo 32 professores, 13 pesquisadores, 25 ex-alunos, 5 membros de outras instituições e 2 alunos da Unicamp – estes receberam menção honrosa -, nas categorias: patentes concedidas, tecnologias licenciadas, tecnologia absorvida pelo mercado e unidade de destaque na proteção à Propriedade Intelectual.

Teses da semana  Biologia - “Prospecção de substâncias bioativas em Guatteria australis e Guatteria friesiana (ANNONACEAE) e avaliação do efeito biológico fotoinduzido para aplicação em terapia fotodinâmica antimicrobiana”(doutorado). Candidato: Carlos Alberto Theodoro Siqueira. Orientador: professor Marcos José Salvador. Dia 25 de maio de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco O do IB.  Ciências Médicas - “Atividade epileptiforme interictal no AVC isquêmico: prevalência, valor prognóstico e padrões de efeito BOLD” (doutorado). Candidato: Fabricio Oliveira Lima. Orientador: professor Li Li Min. Dia 29 de maio de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Panorama do câncer em crianças e adolescentes sob a perspectiva da saúde coletiva” (doutorado). Candidata: Jane Kelly Oliveira Friestino. Orientador: professor Djalma de Carvalho Moreira Filho. Dia 29 de maio 2015, às 14 horas, no auditório da CPG da FCM. “Estudo da drenagem linfática manual na mobilização hidroeletrolítica, na taxa lipolítica e na variabilidade da frequência cardíaca em homens e mulheres” (mestrado). Candidata: Érica Aparecida Mariano Camargo. Orientadora: professora Maria Cristina Cintra Gomes-Marcondes. Dia 6 de março de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do 1o. andar do prédio da CPG do IB.  Computação - “Agregação dinâmica de tráfego com especificações de tempo e roteamento multicaminho em redes ópticas WDM” (doutorado). Candidata: Juliana de Santi. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 25 de maio de 2015, às 13 horas, no auditório do IC. “Desenvolvimento e avaliação de uma técnica eficiente para estimativa de potência dinâmica em circuitos digitais gate-level” (mestrado). Candidato: Daniel Vidal. Orientador: professor Mário Lúcio Côrtes. Dia 29 de maio de 2015, às 14 horas, no auditório do IC. “Uma arquitetura Peer-to-Peer IPTV com serviços de troca rápida de canais e incentivos à cooperação” (doutorado). Candidato: Daniel Antonio Garcia Manzato. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 1 de junho de 2015, às 13 horas, no auditório do IC. “Encontrando caminhos com múltiplas cores em grafos: NP-dificuldade e algoritmos” (mestrado). Candidato: Rafael Fonseca dos Santos. Orientador: professor Eduardo Cândido Xavier. Dia 3 de junho de 2015, às 14 horas, no auditório do IC.  Economia - “Desenvolvimento econômico, mercado de trabalho e desigualdade na Espanha desde a entrada em a União Econômica e Monetária” (mestrado). Candidata: Anna Lópes Riveros. Orientador: professor Denis Maracci Gimenez. Dia: 1 de junho de 2015, às 14h30, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.

 Educação Física - “Treinamento combinado em adolescentes com excesso de peso: sobre a composição corporal, resistência à insulina e inflamação sistêmica” (doutorado). Candidato: Wendell Arthur Lopes. Orientadora: professora Cláudia Regina Cavaglieri. Dia 25 de maio de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Análise experimental e numérica de radiers estaqueados executados em solo da região de Campinas/SP” (doutorado). Candidato: Jean Rodrigo Garcia. Orientador: professor Paulo José Rocha de Albuquerque. Dia 25 de maio de 2015, às 12 horas, na sala de defesa 1 da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Implementação em VHDL de uma arquitetura paralela de um código corretor de erros Reed-Solomon aplicado a redes OTN” (mestrado). Candidato: Arley Henrique Salvador. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 28 de maio de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Modelo de programação da operação de sistemas hidrelétricos com restrição de segurança” (doutorado). Candidata: Elma Pereira Santos. Orientador: professor Takaaki Ohishi. Dia 29 de maio de 2015, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Mecânica - “Desenvolvimento, caracterização e avaliação in vitro de nanocompósitos de poli (L-Ácido Lático) e nanotubos de carbono de paredes múltiplas purificados” (doutorado). Candidata: Claudenete Vieira Leal. Orientadora: professora Eliana Aparecida de Rezende Duek. Dia 28 de maio de 2015, às 9 horas, no auditório KD da FEM.  Engenharia Química - “Uso de indicadores chave de desempenho (KPI’s) na avaliação de sistemas de controle plantwide aplicados na produção de biodiesel” (mestrado). Candidato: Bruno Firmino da Silva. Orientador: professor Flavio Vasconcelos da Silva. Dia 2 de junho de 2015, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEC.  Física - “As representações de HOM(2) e SIM(2) no contexto da Very Special Relativity” (mestrado). Candidato: Gustavo Salinas de Souza. Orientador: professor Dharam Vir Ahluwalia. Dia 1 de junho de 2015, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Geociências - “Modelagem gravimétrica 3D da estrutura do Cerro do Jarau (RS)” (mestrado). Candidato: Bruno Bronzati Giacomini. Orientador: professor Emilson Pereira Leite. Dia 29 de maio de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “Discurso, sujeito e relações de trabalho: a posição discursiva da Petrobras” (doutorado). Candidata: Luciana Nogueira. Orientadora: professora Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi. Dia 25 de maio de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Pronomes pessoais e marcadores de pessoa nas línguas ameríndias” (mestrado). Candidato: Eduardo Vidal Viola. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 29 de maio de 2015, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A prática reflexiva do professor de português - língua estrangeira” (mestrado). Candidata: Dayse Farias da Fonseca. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 1 de junho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A redação no ENEM e a redação no 3º ano do Ensino Médio: efeitos retroativos nas práticas de ensino da escrita” (mestrado). Candidata: Monica Panigassi Vicentini. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 3 de junho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Dinâmica de semimartingales com saltos: decomposição e retardo” (doutorado). Candidato: Leandro Batista Morgado. Orientador: professor Paulo Regis Caron Ruffino. Dia 25 de maio de 2015, às 10 horas, na sala 321 do Imecc. “Sobre simetrias e a teoria de leis de conservação de Ibragimov” (doutorado). Candidato: Júlio César Santos Sampaio. Orientador: professor Igor Leite Freire. Dia 25 de maio de 2015, às 14 horas, na sala 321 do Imecc. “Planejamento logístico do transporte escolar na cidade de Coxim-MS: uma aplicação de problemas de roteamento de veículos” (mestrado profissional). Candidato: Fernando Silveira Alves. Orientador: professor Cristiano Torezzan. Dia 28 de maio de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Estudo dos efeitos da fase óptica na propagação de feixes de laser gaussianos em meios dielétricos estratificados” (mestrado). Candidata: Marina Lima Morais. Orientador: professor Stefano de Leo. Dia 28 de maio de 2015, às 11 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Expressão de il-6, tnf-a e mcp-1 por fibroblastos (3t3) e odontoblastos (mdpc-23) após exposição a diferentes bactérias” (doutorado). Candidata: Carolina Carvalho De Oliveira Santos. Orientador: professor Alexandre Augusto Zaia. Dia 28 de maio de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. “Efeitos das informações pré-operatórias, técnico e sensorial, na percepção e comportamento de dor em pacientes submetidos à exodontia de terceiro molar” (doutorado). Candidata: Maylu Botta Hafner Cirne. Orientadora: professora Maria da Luz Rosario de Sousa. Dia 28 de maio de 2015, às 9 horas, no salão nobre da FOP.

do Portal

Prêmio Inventores 2015 contempla 77 profissionais Foto: Antonio Scarpinetti

CATEGORIAS PREMIADAS

O Instituto de Química (IQ) recebeu o prêmio na categoria “Unidade de destaque na proteção à Propriedade Intelectual”, uma vez que a unidade teve 15 pedidos de patentes no ano passado e o cálculo leva em consideração o número de pedidos de patentes depositados divididos pelo número de professores e pesquisadores do instituto. O prêmio foi recebido pelo professor Lauro Tatsuo Kubota, diretor do IQ. Na categoria “Tecnologia absorvida pelo mercado” foram premiados os professores Célio Pasquini, Jarbas José Rodrigues Rohwedder e Ivo Milton Raimundo Júnior, além do ex-aluno Doutor Ismael Pereira Chagas, que recebeu menção honrosa. O grupo foi agraciado pela Tecnologia “Dispositivo espectrofotométrico, seu sistema de celas e método para monitorar a qualidade de combustíveis automotivos”, que, a partir do licenciamento para a empresa TechChrom - já está disponível no mercado.

das pela coordenação do Programa, que informará, via e-mail, sobre a sua aprovação (ou não). Algumas atividades devem ocorrer dentro do próprio semestre. Outras, em um momento futuro oportuno. Como infraestrutura, o Programa oferecerá material de divulgação, espaço físico, equipamentos multimídia, sala de computadores e outros materiais. Além disso, ao final da etapa, os participantes receberão certificados. Carteirinhas da 1ª turma - No dia 14 de maio, às 14h30 no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a organização do Programa entregará carteirinhas aos participantes da primeira turma. O auditório da FCM fica à rua Tessália Vieira de Camargo, 126, no campus universitário. Saiba mais sobre o Programa no link http://www. programa-universidade.unicamp.br/  Água, fonte de vida, recurso inesgotável? - Exposição da Área de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BCCL) pode ser visitada até o final do mês de maio, no 3° piso da BCCL. A mostra é composta por 20 livros que abordam a temática água, em sua maioria obras iconográficas com belas imagens das águas brasileiras, relatórios sobre a seca, viagens pelos rios, celebrações religiosas, etc. Mais informações: telefone 19-3521-6468 ou e-mail bibcen@unicamp.br  Conferência com Robert Whitaker - No dia 2 de junho, às 10h30, na Sala da Congregação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o jornalista Robert Whitaker ministra a conferência “Anatomia de uma epidemia: história, ciência e os efeitos a longo prazo. O evento, que será transmitido ao vivo pelo link http://www.fcm. unicamp.br/videoconferencia/streaming/, é organizado pelo professor Mario Eduardo Costa Pereira (LaPSuS). O palestrante é jornalista e escritor especializado em medicina, ciências e história, internacionalmente reconhecido. Em 2011, seu livro Anatomy of an epidemics: Magic Bullets, Psychiatric Drugs, and the Astonishing Rise of Mental Illness in America recebeu o titulo de “Melhor livro de jornalismo Investigativo do Ano” pela Investigative Reporters and Editors, Inc. (IRE). No mesmo ano, o trabalho foi objeto de um extenso debate lançado por Marcia Angell, editora do New England Journal of Medecine, na New York Review of Books e conferencista da Harvard Medical School. Mais informações: telefone 19- 3521-8819 ou e-mail auxi@fcm.unicamp.br

Mesa de autoridades: reconhecimento a desenvolvedores de tecnologias que beneficiam a população

Já nas categorias “Patentes Concedidas” e “Tecnologias Licenciadas”, foram premiados, respectivamente, 12 e 8 grupos de pesquisa da Universidade. O professor Marcos Nogueira Eberlin, do Instituto de Química, premiado na categoria Patentes Concedidas, diz que é um privilégio poder estar entre os premiados. “Esta é a segunda vez que recebo o prêmio. O Prêmio Inventores faz com que a gente queira fazer sempre o melhor para a Universidade, para o país e para a população que paga nossos salários”, afirma.

PRESENÇA DE AUTORIDADES

A mesa de autoridades da cerimônia foi composta pelos professores José Tadeu Jorge,

reitor da Unicamp; Milton Mori, diretor-executivo da Inova; Alvaro Crósta, coordenador geral da Unicamp; Maria Teresa Dib Zambon Atvars, pró-reitora de desenvolvimento universitário da Unicamp. O diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e reitor da Unicamp na gestão 2002-2005, o professor Carlos Henrique Britto Cruz, e a pró-reitora de pesquisa da Unicamp, professora Gláucia Maria Pastores, além comporem a mesa de autoridades, também foram agraciados com o prêmio na Categoria “Patentes Concedidas”. “A produção científica da Unicamp ressarce os recursos que são investidos na Universidade. O Prêmio Inventores mostra isso, a partir da geração de tecnologias que beneficiam a população e a sociedade”, aponta Jorge. Ele ressalta ainda que, em 2016, a Unicamp deverá alcançar números ainda mais expressivos com relação ao número de patentes em vigência. “Atualmente, temos 935 patentes vigentes e 60 patentes licenciadas em vigência. No próximo ano, justamente quando a Unicamp completa 50 anos, devemos chegar a mil patentes vigentes e esse número não é banal”, defende. O professor Carlos Henrique Brito Cruz, diz que é uma grande honra receber o Prêmio Inventores: “é uma grande satisfação estar aqui. Agradeço ao prêmio, como professor. Como diretor da Fapesp, parabenizo a Uni-

camp por organizar este prêmio, onde há o reconhecimento explícito por nossas atuações”, afirma o diretor da Fapesp. Para a professora Gláucia Maria Pastore, é necessário ressaltar a atuação da equipe da Agência de Inovação Inova Unicamp. Ela comenta que o Prêmio Inventores é uma iniciativa que mostra a importância das pesquisas realizadas nos laboratórios da Unicamp. “É emocionante porque temos parte da consagração das tecnologias desenvolvidas na Unicamp. Isso mostra a vitalidade das pesquisas desenvolvidas aqui. Destaco ainda a atuação dos integrantes da equipe da Inova, sempre muito atenciosos, solícitos e prontos a nos ajudar”, completa. O diretor-executivo da Inova, além de parabenizar a todos os presentes pela premiação e contribuição para o desenvolvimento científico do país, abordou outras iniciativas das quais a Inova é responsável, tais como o Desafio Unicamp, a Software Experience, o Inova Jovem e o Prêmio Inova de Iniciação à Inovação, que merecem destaque por estimularem a inovação tecnológica e o empreendedorismo dentro da universidade. “Gostaria de parabenizar cada um de vocês. Agora, é importante lutarmos para licenciar estas patentes concedidas e as colocarmos no mercado”, complementa Mori. Confira a lista completa de premiados, no site do Prêmio Inventores. (Carolina Octaviano)


11

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015

Para que a memória não se Fotos: Antonio Scarpinetti

Documentos do acervo do Arquivo Edgard Leuenroth, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp

Pesquisador desenvolve proposta de modelo conceitual para a preservação de documentos digitais CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

gestão e a preservação inadequada dos documentos arquivísticos digitais - em geral sob responsabilidade dos administradores e profissionais das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) sem a participação dos profissionais de arquivo colocam em risco esses documentos e, consequentemente, a memória social de parte da história da humanidade. Partindo desse pressuposto, o pesquisador Humberto Celeste Innarelli desenvolveu tese em que propõe um modelo conceitual de gestão da preservação desses documentos, aplicável a qualquer instituição, independentemente do seu porte e do volume de recursos disponíveis. Embora a tese tenha sido apresentada na USP, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), e orientada pela professora Johanna Wilhelmina Smit, parte do tema desenvolvido baseou-se em um projeto estrangeiro – que aborda a preservação digital em seus mais variados aspectos – chamado InterPares, do qual a Unicamp participou ativamente sob a coordenação do Arquivo Nacional (AN) e do Sistema de Arquivos da Unicamp (Siarq). O trabalho busca analisar a problemática da preservação de documentos arquivísticos digitais, face às teorias e práticas correlatas e às TICs, para identificar as variáveis que impactam diretamente as políticas de preservação desses documentos. Pretende ainda apoiar as bases conceituais da preservação digital no Brasil e instrumentalizar as instituições com vistas à implementação da preservação digital de seus documentos arquivísticos. Entende-se por documento arquivístico toda a informação registrada, independentemente da forma ou do suporte, produzida ou recebida no decorrer da atividade de uma pessoa ou instituição e que possui conteúdo, contexto e estrutura suficientes para servir de testemunho dessa atividade. O documento arquivístico digital tem, por sua vez, como base o hardware, o software e o suporte, mídia digital onde a informação está registrada na forma de dígitos binários. Innarelli é diretor técnico do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL-IFCH-Unicamp), que é um Centro de Pesquisa e Documentação Social que, desde 1974, atende à demanda acadêmica e preserva registros históricos na Universidade. Esse órgão, que pertencente ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, preserva documentos

históricos - nos mais variados suportes e formatos - como livros, folhetos, manuscritos, revistas, jornais, registros fotográficos, postais, cartazes, áudios, vídeos, etc.. O pesquisador também é professor do curso de Segurança da Informação na Faculdade de Tecnologia de Americana, do Centro Paula Souza (Fatec-AM/CEETEPS). Constituíram embrião da tese dois livros e diversos artigos publicados pelo pesquisador. O primeiro livro, “Arquivística: temas contemporâneos”, foi produzido em coautoria com Vanderlei Batista dos Santos e Renato Tarciso Barbosa de Souza. A obra, lançada em 2007 pela Editora Senac e em vias da quarta edição, pretende, através de uma linguagem acessível, suscitar reflexões e debates entre os profissionais das áreas de documentação, da informação e do conhecimento. Nela são abordados três temas específicos cabendo a Innarelli o capítulo que trata da “Preservação digital e seus fundamentos”, em que ele alinhava o que considera os dez mandamentos que devem orientar a elaboração de uma política de preservação digital. O segundo livro, publicado, em 2012, pela Associação de Arquivistas de São Paulo e por ela comercializado, tem caráter mais técnico e se assenta em textos elaborados em 2005/2006 voltados para as práticas arquivísticas. Nele é abordada a forma de preservar documentos digitais, são apresentadas as variáveis que os afetam e mostradas as formas de preservá-los. O percurso profissional de Humberto Innarelli revela empenho e dedicação. Aos 17 anos ele chegou ao Centro para Manutenção de Equipamentos (Cemeq-Unicamp) como estagiário e lá permaneceu como técnico. Concluído o curso em tecnologia em processamento de dados ingressou no Arquivo Central do Sistema de Arquivos da Unicamp (AC/Siarq), em 1999, quando começou a atuar na área de documentação de arquivos propriamente ditos como analista de sistemas. Em 2009 foi para o AEL onde atuou como profissional de tecnologia de informação e comunicação. Logo em seguida assumiu a seção de processos técnicos e atendimento de onde foi guindado a diretor técnico. Durante esse tempo fez mestrado, com foco na pre-

Humberto Celeste Innarelli, autor da tese: livros e artigos fundamentaram a pesquisa

servação digital, na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, concluído em 2006, estudando a confiabilidade das mídias de CDs e DVDs.

MOTIVAÇÕES E OBJETIVOS

O pesquisador conta que no Siarq foi levado a perceber que o Sistema de Arquivos da Unicamp, além da documentação em papel, lidava também com documentos digitalizados e digitais, o que o fez pensar na gestão e preservação desses documentos. A propósito lembra: “Foi quando comecei a entender a problemática da documentação digital. Nessa época, no Rio de Janeiro, a Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos, vinculado ao Arquivo Nacional, passava por uma reformulação e realizava uma série de eventos ligados à documentação digital no Brasil. Comecei a participar desses eventos e me interessei particularmente pela preservação digital, mesmo porque, um dos grandes desafios apresentados era a preservação desses documentos ao longo do tempo. A partir daí me envolvi nesse trabalho no Siarq, o que me motivou ao mestrado”. Ele considera fundamental em seu percurso a experiência prática, adquirida desde 1999, e os estudos realizados, amadurecimento que o levou aos livros publicados, aos artigos e à tese. Ao fundamentar a parte teórica deste estudo, envolvendo a problemática, a arquivística e a gestão da preservação de documentos arquivísticos digitais, o autor considera os problemas suscitados pela tecnologia referentes à documentação arquivística digital, abordando, principalmente, a obsolescência tecnológica, a fragilidade das mídias digitais, o lixo digital. Atém-se, também, na análise da organização dessa documentação nas instituições, no papel dos técnicos em TICs e dos arquivistas e discute a necessidade de políticas de preservação digital dentro das instituições. No estudo ele se apoiou no projeto InterPares - Pesquisa Internacional sobre Documentos Arquivísticos Autênticos Permanentes em Sistemas Eletrônicos, desenvolvido na Universidade de British Columbia, do Canadá, considerado um dos principais projetos internacionais re-

perca

lativos à preservação digital. Utilizou-o para fundamentar e comparar o desenvolvimento e a análise do modelo conceitual que propõe. Para o pesquisador, esses tipos de projetos são muito complexos, extensos e de difícil assimilação, o que os torna de uso inviável por parte das pessoas restritas a determinadas áreas ou mesmo a pequenos grupos, pois exigem estruturas e equipes muito grandes. Esta constatação o levou à criação de um modelo que um grupo de pessoas, não tão especialistas, consiga desenvolver nas instituições com vistas à implementação de uma política de preservação digital que ele denomina de gestão da preservação. Uma das principais motivações do estudo está relacionada a baixa produção, em língua portuguesa, de publicações que abordem a preservação da documentação digital. Para o autor, “o trabalho permite que os interessados possam a partir dele desenvolver políticas de preservação de documentos digitais. Uma de suas principais vantagens é a de poder atender às necessidades de instituições pequenas ou grandes, mesmo que disponham de poucos recursos. Ele abarca ainda questões pertinentes aos vários segmentos envolvidos nesses processos como profissionais de arquivo, profissionais da TICs, gestores e de todos que no dia-a-dia trabalham com a produção e uso de documentação”.

DESTAQUES

O trabalho se preocupa em entender as problemáticas da preservação dos documentos digitais que ao longo do tempo estão sendo perdidos por falta de uma política nas instituições que garanta sua preservação ao longo do tempo. A ausência dessas políticas e o fato desses documentos ficarem sob a responsabilidade de profissionais de TICs e dos próprios administradores e não dos arquivistas colocam em risco esse tipo de documentação. O que se defende hoje, diz o pesquisador, “é que os profissionais da área de arquivologia em conjunto com os administradores, gestores e com os profissionais de TICs aprendam a fazer e a criarem políticas de preservação digital para que os documentos não se percam e mantenham seu contexto e significado”. Mas como a tecnologia se torna obsoleta rapidamente, a grande questão é a atualização tecnológica desses documentos para que eles não sejam colocados em situação de risco. O modelo conceitual desenvolvido na tese tem como foco exatamente isso: como lidar com o avanço tecnológico e com obsolescência tecnologia para manter esses documentos atualizados? Como migrar esses documentos de uma tecnologia para outra, quando necessário, de forma que esses documentos não se percam ao longo do tempo? O cerne do estudo é exatamente este: a proposta de um modelo conceitual que visa preservar os documentos digitais desde sua produção pelo tempo necessário, de forma organizada, de maneira a garantir sua migração de uma tecnologia para outra. Para Innarelli, constitui um diferencial do modelo conceitual apresentado a proposta de que o documento arquivístico deve ser preservado desde a produção e durante todo o seu ciclo de vida. “A decisão sobre a sua preservação não pode ser decidida a posteriori, o que leva ao risco de perda de muitos deles. Por isso, é fundamental que a instituição estabeleça uma política de preservação que garanta esse processo”, afirma. Em decorrência de todos esses fatores, o modelo criado fundamenta-se em migrações de uma tecnologia para outra, prevendo como levar o documento arquivístico digital sem perdas ao longo do tempo, e independentemente de quanto longo seja ele.

Publicação Tese: “Gestão da preservação de documentos arquivísticos digitais: proposta de um modelo conceitual” Autor: Humberto Celeste Innarelli Orientadora: Johanna Wilhelmina Smit Unidade: Escola de Comunicações e Artes (ECA), USP


12

Campinas, 25 de maio a 7 de junho de 2015 Fotos: Reprodução/Divulgação

Integrado, ma non troppo

O compositor baiano Tom Zé: de maldito à consagração depois de reconhecimento internacional

Foto: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

trajetória artística do músico e compositor Tom Zé se estabeleceu sob uma relação tensa entre o projeto estético experimental do artista e a indústria fonográfica brasileira. Ao mesmo tempo em que rompeu programaticamente com padrões de linguagem e conduta estabelecidos pelo mercado fonográfico do país, Tom Zé foi, contraditoriamente, integrado ao mesmo. Essas considerações fazem parte da dissertação “Vanguarda, experimentalismo e mercado na trajetória artística de Tom Zé”, defendida recentemente pelo pesquisador Guilherme Araújo Freire no Instituto de Artes (IA) da Unicamp. “Trata-se de um estudo que problematizou as relações entre a carreira artística de Tom Zé e a indústria cultural. O projeto estético do Tom Zé é programático, ele intencionalmente transgride certos padrões de beleza musical da MPB [Música Popular Brasileira], consolidados pelo mercado na indústria fonográfica. Em sua obra satiriza, inclusive, os padrões estéticos formados. Esse foi um dos fatores que certamente contribuiu para que o músico tenha sido logrado ao ostracismo entre 1973 e 1990. Por outro lado, foi também devido às práticas experimentais que Tom Zé acabou se consagrando no mercado internacional, algo que contribuiu decisivamente para que ele voltasse a ser valorizado no mercado nacional”, explica o estudioso.

Guilherme Araújo Freire, autor da pesquisa: privilegiando o contexto histórico

O mestrado de Guilherme Araújo Freire foi conduzido junto ao Programa de PósGraduação em Música do IA. A pesquisa foi orientada pelo professor José Roberto Zan, que atua no Departamento de Música da Unidade. Guilherme Freire, que é graduado em Música pela Unicamp, obteve financiamento, na forma de bolsa de pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele informa que o seu estudo abordou as diferentes fases da carreira de Tom Zé, situadas entre o lançamento do seu primeiro LP (Grande Liquidação – Rozenblit), em 1968, e o final da década de 1990, quando o músico

Capas de “Grande Liquidação” (1968), “Todos os Olhos” (1973), “Estudando o Samba” (1976) e “Com Defeito de Fabricação” (1998), obras analisadas para fundamentar a dissertação

é consagrado no mercado internacional. Esta consagração aconteceu, conforme Guilherme Freire, após o lançamento, em 1998, nos Estados Unidos, do disco Com Defeito de Fabricação (LuakaBop/WEA). “Na década de 1980, Tom Zé ainda estava atuando nas margens do mercado. Contudo ele acabou sendo ‘descoberto’ pelo David Byrne, produtor escocês radicado nos Estados Unidos, fundador e ex-integrante do grupo Talking Heads. Byrne apoiou Tom Zé, lançando pela sua gravadora uma coletânea com as músicas dele no mercado internacional. Este disco, Brazil Classics, Vol. 4: The Best of Tom Zé – Massive Hits, fez considerável sucesso e acabou conferindo ao artista visibilidade no mercado internacional. Isso, por sua vez, fez com que ele voltasse a ser valorizado também no mercado nacional.” Naquele período a coletânea vendeu cerca de 40 mil cópias no exterior e apenas 1.700 no Brasil, lembra o pesquisador do IA. Guilherme Freire acrescenta que o disco Com Defeito de Fabricação, lançado oito anos depois, foi listado entre os dez melhores por dois críticos de jazz e música pop do jornal The New York Times. Obteve, além disso, classificação quatro estrelas da revista Rolling Stone e críticas favoráveis das publicações Spin, Village Voice e Billboard, fatos que indicam o grau de consagração que Tom Zé conquistou no mercado internacional. “Talvez houvesse uma demanda maior pela imperfeição, por ruídos, por procedimentos vanguardistas nos Estados Unidos e na Europa do que no Brasil”, pontua o pesquisador. Em seu entendimento, muitas matérias publicadas em periódicos naquele período atribuem a ajuda de David Byrne como a principal razão do sucesso de Tom Zé no mercado internacional. “No meu trabalho, eu aponto outra maneira de interpretar este fenômeno. É preciso entender, por exemplo, as novas configurações da indústria fonográfica no final da década de 1980 e início de 1990 oriundas do impacto dos processos de globalização”, pondera. Ainda segundo Guilherme Freire, houve, como contribuição à consagração de Tom Zé no mercado internacional, o surgimento do segmento da World Music no mercado, como forma de valorização da diversidade. O pesquisador do IA sustenta que, caso não houvesse a presença de discursos de valori-

zação da diversidade cultural ou mesmo uma tendência de busca e apropriação de símbolos locais por selos e gravadoras atuantes no segmento de World Music, David Byrne provavelmente não teria produzido discos de músicas regionais estrangeiras para o selo LuakaBop. Tal tendência, exemplifica o estudioso, contribuiu para que o fundador do Talking Heads lançasse coletâneas com músicas de Tom Zé ou de compositores cubanos, dirigisse documentários ou mesmo buscasse gêneros e artistas em diversos continentes para lançar no mercado internacional. “E Tom Zé se beneficiou dessa mudança de contexto. Pelo fato de haver discursos de valorização da diversidade, o seu projeto estético experimental, considerado, na década de 1970, hermético e equivocado, se tornou ‘singular’, em um mercado globalizado, em que a universalização das técnicas e a consagração mundial de fórmulas padronizadas atuavam na direção de certa homogeneização dos produtos”, acrescenta. Ainda de acordo com Guilherme Freire, mesmo atuando no mercado fonográfico global, caracterizado pelo monopólio de poucas gravadoras e grupos empresariais, Tom Zé se consagra, contraditoriamente, através de sua criatividade e singularidade musical. “Concebido em contraposição às tendências homogeneizantes do mercado internacional e, ao mesmo tempo, realizando uma crítica aberta ao capitalismo global, o disco Com Defeito de Fabricação condensa as ideias artísticas de Tom Zé e consolida o seu projeto estético, desenvolvido e amadurecido no seu período de marginalidade”, fundamenta. Para entender essa postura de choque de Tom Zé com a indústria fonográfica é relevante compreender a formação universitária do artista, salienta Guilherme Freire. Realizada na Universidade Federal da Bahia, entre 1962 e 1967, a formação musical acadêmica de Tom Zé teve uma característica peculiar por conta do quadro de professores daquele período. “Professores como Lina Bo Bardi, Pierre Verger, Walter Smetak, Yanka Rudzka, Agostinho da Silva, entre outros, tinham formação consistente nas vanguardas europeias e passavam isso nos cursos. E o Tom Zé se formou neste ambiente universitário efervescente, frequentando cursos extracurriculares de harmonia, contraponto, estruturação, composição e aprendendo técnicas do dodecafonismo, do serialismo, além de ter contato com obras de John Cage, Arnold Schoenberg e Pierre Boulez, entre outros. A partir desta formação, Tom Zé parece ter incorporado certa lógica de ruptura, ao empregar, por exemplo, procedimentos musicais vanguardistas do pós-guerra, comprometidos com a abolição do sistema tonal, a construção de novas sonoridades e um novo discurso musical.” Em seu estudo, o pesquisador do IA analisou quatro discos da carreira do músico: Grande Liquidação, de 1968 (Rozenblit); Todos os Olhos, 1973 (Continental); Estudando o Samba, 1976 (Continental) e Com Defeito de Fabricação, de 1998 (LuakaBop/WEA). Além da análise dos discos, Guilherme Freire realizou uma busca de material primário, coletando e analisando cerca de 100 matérias de periódicos publicadas sobre Tom Zé. “O objetivo foi situar os discursos e quatro discos de Tom Zé nos respectivos contextos históricos e configurações da indústria fonográfica, buscando compreender melhor as especificidades de sua inserção no mercado de música popular, suas estratégias de atuação, o sentido de suas opções estéticas, bem como investigar as permanências e transformações ocorridas no seu projeto estético ao longo de sua trajetória.”

Publicações FREIRE, G. A. . Experimentalismo, sátiras e metrópole nas doze canções do disco ‘Grande Liquidação’ de Tom Zé. Opus (Belo Horizonte. Online), v. 20, p. 207-232, 2014. FREIRE, G. A. . Tom Zé e o elogio à imperfeição: Uma breve análise do disco ‘Com defeito de Fabricação’. Revista Brasileira de Estudos da Canção, v. 3, p. 24-37, 2013

Dissertação: “Vanguarda, experimentalismo e mercado na trajetória artística de Tom Zé” Autor: Guilherme Araújo Freire Orientador: José Roberto Zan Unidade: Instituto de Artes (IA) Financiamento: Fapesp


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.