Ju 555

Page 1

TADEU VENCE CONSULTA PARA REITOR Fotos: Antoninho Perri

O engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge venceu o segundo turno da consulta indicativa para a escolha do próximo reitor da Unicamp. Tadeu, que já ocupou o cargo de 2005 a 2009, obteve 53,32% dos votos válidos, enquanto o médico Mario José Abdalla Saad, 46,68%. O resultado será encaminhado ao Conselho Universitário, que vai se reunir em sessão extraordinária para aprovar a lista tríplice a ser entregue ao governador do Estado. Cabe a ele a escolha do novo reitor.

2

José Tadeu Jorge (à dir.) e Alvaro Crósta (à esq.) são cumprimentados após o final da apuração

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013 - ANO XXVII - Nº 555 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

NASCE O

TRANSISTOR

3

Pesquisadores da Unicamp desenvolveram um transistor 3D pela primeira vez no Brasil. O dispositivo proporciona maior capacidade de processamento e de memória para equipamentos eletrônicos, como tablets, notebooks, televisores etc. Segundo José Alexandre Diniz, professor da FEEC, essa tecnologia deixa os transistores menores, mais leves e mais eficientes. “Essas características, por sua vez, também tornarão os circuitos integrados que compõem os equipamentos eletrônicos mais eficientes”. Cientistas da USP também participaram do projeto.

4 Crajiru gera fitoterápico para cicatrização de lesões de pele 5 Pesquisador cria método de avaliação de curso a distância 6 A tradição iconográfica religiosa nas obras de Fulvio Penacchi 12 Mercado imobiliário vende o paraíso perdido em anúncios

O professor José Alexandre Diniz, um dos integrantes do grupo de cientistas, em laboratório do Centro de Componentes Semicondutores: circuitos integrados mais eficientes


2

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Tadeu vence consulta com 53% dos votos Consu se reunirá para aprovar a lista tríplice a ser encaminhada ao governador do Estado om 53,32% dos votos válidos, o engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge foi o vencedor no segundo turno da consulta indicativa para a escolha do próximo reitor da Unicamp. A apuração dos votos terminou por volta das 2h15 do dia 22, no Ginásio da Faculdade de Educação Física. O médico Mario José Abdalla Saad alcançou 46,68% dos votos. Tadeu tem o geólogo Alvaro Crósta como seu companheiro de chapa para o cargo de coordenador-geral da Unicamp. A votação foi realizada nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba. Dos 1.655 docentes que compareceram às urnas, 771 votaram em Tadeu e 839 em Saad. Já entre os 5.943 funcionários que participaram do pleito, 4.038 votaram em Tadeu, contra 1.592 em Saad. E dos 4.190 estudantes que participaram do segundo turno, 2.084 votaram em Tadeu enquanto 2.009 escolheram Saad. As abstenções atingiram 16,03% entre docentes; 21,52% entre funcionários; e 83,91% entre estudantes. Após a apuração, Tadeu foi recepcionado com festa pelos correligionários que acompanharam a contagem dos votos no Ginásio da FEF. “Recebo o resultado como um sinal de reconhecimento e aprovação da comunidade acadêmica à minha primeira gestão à frente da Reitoria”, disse Tadeu, que ocupou o cargo de reitor no período 2005-2009. “Além disso, as urnas também demonstraram a confiança dos eleitores nesse novo programa, da sua viabilidade e da sua sintonia com as necessidades da Unicamp”, completou.

O resultado da consulta será agora encaminhado ao Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, que se reúne em sessão extraordinária para aprovar a lista tríplice. A prerrogativa de escolher o próximo reitor é do governador do Estado, com base na lista tríplice elaborada pelo Consu. O novo reitor tomará posse em abril para um mandato de quatro anos à frente de uma das mais destacadas universidades da América Latina, responsável por 15% da pesquisa acadêmica no Brasil, líder em patentes no meio universitário nacional e situada entre as 50 melhores do mundo com menos de 50 anos, segundo ranking do Times Higher Education (THE). Tadeu é professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Graduou-se em Engenharia de Alimentos na Unicamp (1975), onde também realizou mestrado em Tecnologia de Alimentos (1977) e doutorado em Ciências de Alimentos (1981), concentrando suas pesquisas na área de tecnologia pós-colheita, na qual estudou produtos minimamente processados, armazenamento de produtos agrícolas e propriedades físicas de materiais biológicos. Em 1992 titulou-se professor livre docente, professor adjunto em 1995 e professor titular em 1996. Foi diretor da Feagri de 1987 a 1991, diretor executivo da Funcamp de 1990 a 1992, chefe de gabinete da Reitoria de 1992 a 1994, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário de 1994 a 1998, novamente diretor da Feagri de 1999 a 2002, coordenador geral da Unicamp de 2002 a 2005 e reitor da Unicamp de 2005 a 2009. Foto: Antoninho Perri

Conheça algumas das propostas de Tadeu Em suas duas últimas edições, o Jornal da Unicamp publicou entrevistas com os quatro candidatos a reitor, que puderam expor suas ideias para a próxima gestão. A seguir, trechos das propostas apresentadas por José Tadeu Jorge:

GRADUAÇÃO

“A Unicamp deve contribuir de modo decisivo no debate nacional sobre as formas de acesso à Universidade. Isso deve ser feito de maneira a não só encontrar o seu modo de tratar a questão, mas também de traçar o melhor caminho para abrir a Universidade cada vez mais. É necessário buscar novos modos de acesso, sempre mantendo a qualidade da formação. Para isso contamos com a experiência bastante consolidada da Comvest e com os resultados já obtidos com o PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social) e o ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar), que muito podem contribuir nesse debate”. “Vamos manter o PAAIS, abrindo uma discussão sobre como adequá-lo às novas condições da sociedade e buscando relacioná-lo com a nova política de inclusão social do Pimesp (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista). Queremos promover amplo debate sobre o Pimesp na Unicamp. Faremos uma avaliação dos resultados do ProFIS para definir ações mais efetivas de acesso à Universidade”.

PÓS-GRADUAÇÃO

“A Unicamp deve adotar procedimentos de acompanhamento dos cursos que permitam identificar dificuldades e auxiliar na busca de sua superação. Ao mesmo tempo, deve dar apoio específico para os cursos que ainda não alcançaram os indicadores de alto desempenho, alocando recursos humanos e materiais segundo prioridades definidas pelo planejamento estratégico. Queremos desenvolver valores e critérios próprios de análise dos programas de pós-graduação, complementando eventuais carências do sistema de avaliação da Capes, sempre respeitando a diversidade e as características intrínsecas das várias áreas do conhecimento”. “As possibilidades de expansão da pós-graduação na Unicamp encontram seus limites no arranjo disciplinar convencional. É necessário fomentar e valorizar a criação de programas interdisciplinares integrando as atividades das unidades de ensino e pesquisa com seu sistema de centros e núcleos multidisciplinares, buscando atender às demandas contemporâneas na formação de profissionais e pesquisadores”.

PESQUISA

“Dentre as ações específicas para o avanço da pesquisa, destacamos: criar mecanismos para dar agilidade à análise, aprovação e gestão de convênios, contratos e projetos de pesquisa, retirando da responsabilidade dos docentes uma série de etapas burocráticas que o desviam do objetivo principal; adotar uma política pró-ativa junto às agências de fomento com o objetivo de aumentar o volume de recursos captados; expandir o parque instrumental da Unicamp, contemplando a aquisição de equipamentos cuja obtenção junto aos órgãos de fomento nem sempre é possível; atuar junto aos órgãos responsáveis pela emissão ou liberação de licenças para pesquisa na área médica, importações de insumos biológicos e químicos e importação de equipamentos; dar apoio logístico a visitantes internacionais que vêm à Unicamp para estabelecer acordos de cooperação e projetos de pesquisa; dar apoio administrativo e contábil às unidades nas atividades de compra e de prestação de contas para execução de projetos de pesquisa; aumentar os recursos financeiros destinados ao apoio de docentes recém-contratados; lançar periodicamente editais internos de infraestrutura, com o objetivo de atualizar equipamentos e infraestrutura de pesquisa; estimular e dar suporte técnico/financeiro para a acreditação de laboratórios de pesquisa segundo normas ISO17025, ou Boas Práticas de Laboratório (BPL), garantindo aporte de recursos para contratação de técnicos, treinamento, adequação predial, manutenção de equipamentos, calibrações, compra de materiais certificados, estudos interlaboratoriais, auditorias e segurança ocupacional e ambiental”.

ÁREA DE SAÚDE

“Uma questão relevante é a urgente necessidade de implementação de um novo modelo de gestão administrativa, orçamentária e financeira para suas unidades, que proporcione maior flexibilidade de procedimentos administrativos e assegure a qualidade do ensino e dos serviços oferecidos. É preciso incluir na pauta de discussões com os governos federal e estadual, em ação conjunta com os demais hospitais universitários, a reivindicação de um modelo diferenciado de financiamento para os procedimentos médicos realizados por essas instituições. Nossas propostas para a área de Saúde incluem uma atuação mais incisiva na captação de recursos junto aos governos federal e estadual, assegurando, ao mesmo tempo, os níveis atuais de participação financeira no orçamento da Unicamp; investimentos na manutenção predial e na atualização tecnológica do parque de equipamentos; defesa do seu papel como complexo hospitalar terciário e quaternário, voltado aos procedimentos de alta complexidade; qualificação, capacitação e formação continuada dos profissionais que atuam na área da saúde; apoio aos programas de melhoria da qualidade de vida dos profissionais da assistência; estímulo aos trabalhadores do período noturno; implantação da jornada de 30 horas para os profissionais envolvidos nas atividades de assistência, sem redução salarial e com adequação do quadro existente para que não ocorram deficiências no atendimento”.

RECURSOS HUMANOS

“Prioridade absoluta para o restabelecimento, no prazo de dois anos, da igualdade dos salários da Unicamp com os da Universidade de São Paulo (USP), resolvendo o problema da quebra da isonomia, criado nos últimos dois anos”. “Destaque para algumas medidas importantes, como a viabilização do regime estatutário para quem quiser por ele optar, a transformação da AFPU em Escola de Educação Corporativa da Unicamp, o respeito aos salários mínimos profissionais e a completa revisão da resolução que trata do Estágio Probatório”. “Realizar ampla revisão da carreira Paepe, restabelecendo o conceito de identidade profissional, indispensável para elaborar políticas de recursos humanos que objetivem o desenvolvimento profissional dos funcionários e o reconhecimento institucional do trabalho realizado”. José Tadeu Jorge é cumprimentado após a apuração: engenheiro de alimentos já ocupou o cargo de reitor entre 2005 e 2009

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


3

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Grupo desenvolve o

1º- transistor 3D do país

Dispositivo concebido por pesquisadores da FEEC e da USP tem maior capacidade de processamento Foto: Antoninho Perri

O professor José Alexandre Diniz, da FEEC, fala a alunos: tecnologia tornará os transistores menores, mais leves e mais eficientes

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisadores da Unicamp desenvolveram pela primeira vez no Brasil, com apoio de colegas da USP, um Transistor FinFET, mais popularmente conhecido como 3D. O dispositivo, que ainda está em fase de protótipo, proporciona maior capacidade de processamento e de memória para equipamentos eletrônicos, como tablets, notebooks, televisores etc. “A diferença fundamental entre um transistor planar e um 3D é que no primeiro a corrente é transmitida através de um plano da superfície do silício somente, enquanto no segundo a corrente passa por três planos, um da superfície e dois das paredes verticais, aumentando o desempenho, em tese, em três vezes”, explica José Alexandre Diniz, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) e diretor do Centro de Componentes Semicondutores (CCS), ambos da Unicamp, um dos integrantes do grupo de cientistas. O conceito do Transistor 3D é simples. Tome-se por analogia uma rua com somente uma faixa de rolamento. Agora, imagine que essa mesma via foi reformulada e ganhou mais duas faixas. Nesse caso, ela passa a ter maior capacidade de tráfego de veículos. Com o disposto eletrônico acontece o mesmo. Obviamente, o fluxo em questão não é de carros, mas de sinais elétricos. “Com esse tipo de tecnologia, nós tornamos os transistores menores, mais leves e mais eficientes. Essas características, por sua vez, também tornarão os circuitos integrados [chips] que compõem os equipamentos eletrônicos mais eficientes”, detalha Diniz. De acordo com o docente, brevemente essa nova geração de transistores deverá estar incorporada aos equipamentos utilizados no dia a dia das pessoas. Ele chama a atenção, porém, para o fato de que, no Brasil, a tecnologia ainda é desenvolvida em escala laboratorial. Ela é similar à tecnologia usada para fabricar os transistores dos atuais processadores, como o Ivy Bridge, lançado em 2012 pela Intel. “A diferença entre um e outro está basicamente no tamanho. Aqui na Unicamp nós conseguimos produzir transistores nas dimensões de 50 e 100 nanômetros. O da Intel tem 22

nanômetros. Nosso objetivo é chegar, com o tempo, a um dispositivo com a dimensão de 10 nanômetros”, adianta.

paintbrush [programa usado para desenhar e editar imagens] para desenhar no computador”, compara Diniz.

A progressiva miniaturização dos transistores, conforme Diniz, traz vantagens e desvantagens. Entre os pontos positivos está o fato de que, ao se reduzir o tamanho dos dispositivos, diminui-se também a resistência e a capacitância deles. Assim, é possível usar tensões cada vez menores para alimentá-los. “Quando eu comecei a estudar, utilizava-se uma tensão de alimentação de 5 volts. Hoje, ela caiu para 1 volt”, diz. É por isso que a bateria de um ultrabook suporta, por exemplo, até nove horas de uso, pois gasta menos energia. Ocorre, no entanto, que os dispositivos estão chegando ao limite mínimo de tamanho. Se ficarem muito menores do que já estão, eles podem perder suas funções, o que não é interessante.

O professor da FEEC e diretor do CCS observa, no entanto, que o uso desse processo exige muito cuidado, pois, onde o feixe de íons atinge, ocorre a remoção de material. “Não podemos remover mais material do que o desejado. Temos que ser precisos, para não danificar a região por onde a corrente passará”, detalha. De acordo com ele, o dispositivo 3D foi desenvolvido no contexto de um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), coordenado pelo professor João Antônio Martino, da Escola Politécnica da USP, e também no âmbito das atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Sistemas Micro e Nanoeletrônicos (INCT-NAMITEC), coordenado pelo professor Jacobus W. Swart, da FEEC/ Unicamp. O INTC-NAMITEC é um dos 123 órgãos criados pelo Programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Uma das alternativas encontradas pelos cientistas para tornar os transistores mais eficientes, sem “encolhê-los” ainda mais, foi justamente aproveitar melhor a sua já diminuta superfície. Ao criar dois planos verticais de paredes laterais no dispositivo, eles conseguiram fazer com que a corrente passasse a transitar, como já mencionado, por três caminhos em vez de apenas um. Na indústria, informa Diniz, isso é feito através de um processo chamado litografia óptica. Este consiste na transferência de um padrão desenhado em uma máscara (espécie de matriz) para um material fotossensível, utilizando radiação ultravioleta. Dito de modo simplificado, é como “imprimir”, em alta escala, os componentes em 3D numa lâmina de silício. O CCS da Unicamp conta com esse tipo de equipamento, mas com resolução mínima de 350 nanômetros, cerca de pelo menos uma ordem de grandeza maior do que a necessária para produzir esses dispositivos nanométricos. Todavia, o Centro dispõe de uma máquina que atua com feixes de íons focalizados, que realiza trabalho semelhante, numa resolução de 30 nanômetros, que é superior aos 22 nanômetros alcançados pela indústria. “Esse feixe de íons tem energia suficiente para remover material da placa de silício. Assim, nós podemos desenhar a estrutura do transistor, fazendo com que ela deixe de ser plana e passe a apresentar relevos (paredes laterais). Assim, o dispositivo torna-se 3D. É como usar o

A cooperação entre os profissionais dessas instituições, prossegue Diniz, tem sido fundamental para o avanço das pesquisas. “Temos dialogado e trocado experiências cotidianamente, numa interação muito positiva”, considera. Na Unicamp especificamente, o docente lidera um grupo composto por dois alunos de doutorado e um de mestrado. Um dos doutorandos é Lucas Petersen Barbosa Lima, que está atualmente no Interuniversity Microelectronics Centre (IMEC), da Bélgica, onde realiza parte dos seus estudos, por meio de um programa de doutorado sanduíche. Além de trabalhar no desenvolvimento do primeiro Transistor 3D do Brasil, Lima também tem investigado o uso do nitreto de titânio, um material cerâmico, como eletrodo de porta que controla a passagem de corrente pelo canal do dispositivo 3D, de modo a reduzir a resistência do chaveamento [O transistor funciona como uma chave eletrônica em um processador. Quando a chave fecha, a corrente passa. Quando abre, a corrente é interrompida]. “Foi justamente este trabalho que chamou a atenção do IMEC, um instituto que produz transistores para toda a Europa. No segundo semestre, este aluno estará de volta. O conhecimento que ele trará do ex-

terior será importante para a continuidade das pesquisas”, avalia o docente da FEEC. Além de Lima, também integram o grupo liderado pelo professor Diniz a doutoranda Juliana Miyoshi e o mestrando Marcos Vinicius dos Santos. Desenvolvido o primeiro protótipo do Transistor 3D, o próximo passo dos pesquisadores será a construção de uma segunda versão, com o apoio das agências financiadoras ou com a parceria de empresas privadas. O objetivo, conforme adiantou o professor João Antonio Martino, é chegar a um dispositivo que possa ser transformado em produto comercial. No âmbito do NAMITEC, existe a proposta de aplicar o dispositivo em sensores de hidrogênio, que teriam a função de promover o monitoramento ambiental e de atividades industriais.

RECURSOS HUMANOS As pesquisas em torno do primeiro Transistor 3D do Brasil têm duas dimensões fundamentais, conforme descreve o docente da Unicamp. A primeira delas é a formação de recursos humanos qualificados para trabalhar numa área tão importante, e especialmente estratégica para o Brasil. A segunda diz respeito ao esforço para fazer com que o país deixe de ser tecnologicamente dependente de outras nações. “Quando desenvolvemos um protótipo, nosso objetivo é olhar para dentro dele e aprender todos os detalhes do seu funcionamento. É como se estivéssemos abrindo uma caixa-preta. O domínio desse conhecimento é o primeiro passo para nos tornarmos independentes. A meta é conseguirmos produzir nossos próprios componentes eletrônicos, sem ter a necessidade de recorrer à importação”, pondera. Embora não seja trivial, o cumprimento desse desafio traria inúmeras vantagens ao país. O fortalecimento da indústria eletroeletrônica nacional geraria novos postos de trabalho, incrementaria a renda e contribuiria para reduzir o déficit da balança comercial desse segmento. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o saldo entre a importação e exportação de componentes eletrônicos projetado para 2013 deverá gerar um déficit ao Brasil da ordem de US$ 35,5 bilhões, 9,2% acima do verificado no ano anterior (US$ 32,5 bilhões).


4

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Da selva de pedra ao paraíso perdido Tese investiga a construção de imagens da natureza nos anúncios publicitários do mercado imobiliário CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

elo menos desde os anos 1970 assiste-se à emergência de uma “onda verde”, expressa através da questão ambiental e da procura por uma “melhor qualidade de vida”. A contemporaneidade elege o “retorno à natureza” como um de seus axiomas, tendo a questão ecológica destaque especial no discurso de suas representações simbólicas, enfoque especialmente presente na publicidade e no turismo. Centrada no mercado imobiliário considerado de alto-padrão na cidade de São Paulo, uma tese desenvolvida no Instituto de Artes (IA) procura recortá-lo em duas diferentes temporalidades: as décadas de 1970 e 2000, interpretando e contrastando os anúncios e catálogos impressos desse mercado nesses dois períodos. O trabalho foi desenvolvido por Carlos Eduardo Paranhos Ferreira, bacharel em comunicação social, com especialidade em cinema, com orientação do professor Ivan Santo Barbosa. Com o recorte temporal, o autor procurou analisar as décadas de 1970 e 2000. Os anos 70 podem ser vistos como aqueles nos quais começa a se disseminar a ideia de “selva de pedra” e se distinguem pelo início do interesse pelas áreas verdes e pela qualidade de vida e marcam a emergência de uma onda verde que revela o desejo de retorno à natureza. Os níveis de poluição eram altíssimos, sem nenhum mecanismo de controle, tanto que indústrias e carros não utilizavam ainda catalizadores. Já a partir do primeiro decênio do novo milênio, o marketing do mercado imobiliário passa a enxergar o elemento verde como uma nova commodity na comercialização de imóveis de alto padrão, aparentemente pretendendo recuperar a ideia de paraíso perdido. Paulatinamente, esse imaginário se transfere para as demandas imobiliárias de outras classes sociais menos sofisticadas e de menores condições financeiras. Com o estudo, diz o autor, “pretendi registrar a cambiante representação de natureza no mercado imobiliário da cidade de São Paulo”. Ele explica que a tese teve como objetivo principal entender a construção de imagens da natureza nos anúncios publicitários desse mercado, que de certa forma traduzem o imaginário contemporâneo na busca de um paraíso perdido e de um axis mundi, um eixo do mundo, local onde se pode estar em equilíbrio e em comunhão com os deuses: “São elementos de apelo e de sedução constantes no marketing desses empreendimentos imobiliários”, constata. Movido por experiências adquiridas ao longo do mestrado, também realizado na Unicamp, o autor teve o interesse despertado por questões envolvendo a cidade de São Paulo. Chamou-lhe particularmente a atenção a representação recorrente da natureza nos anúncios do mercado imobiliário de alto padrão. Uma certa ideia de natureza evidenciava o imaginário contemporâneo na construção de paisagens idílicas e edênicas, ou seja, as imagens utilizadas remetem a temas bucólicos e pastoris e a uma espécie de retorno ao Éden, o paraíso perdido. Embora a pesquisa tenha sido feita com base na cidade de São Paulo, ele acredita que os seus resultados podem ser aplicados em todo o país, especialmente em locais de significativa presença da classe média: “Como estamos tratando de um desejo de natureza e do elemento verde, expressos nos anúncios publicitários, essa ideologia emocional aparece inclusive em cidades menores e em outras regiões do país”, afirma. Para o pesquisador, a crescente valorização da natureza, que se irradia para diferentes esferas da sociedade, proporciona a criação de uma série de produtos a partir dos quais se pretende legitimar um caráter de “natural” em sua composição, feitura e distribuição. Em consequência dissemina-se uma gama de bens e serviços constitutivos de uma “ideologia do verde”, presente nas mais diferentes indústrias: da alimentação, do vestuário, da higiene e dos cosméticos, dos esportes, do entretenimento, do lazer

e do turismo. As “mercadorias verdes” parecem atender a uma demanda por um espaço diferenciado do ponto de visto sócio ambiental e ecológico, garantindo, assim, o acesso ao mito da “qualidade de vida”. Dessa forma, segundo ele, dissemina-se o conceito de uma “economia verde”, que se manifesta também no mercado imobiliário. O trabalho também procura mostrar que está em curso um fenômeno que pode ser chamado de “rurbanização”, resultante do crescimento de extensas áreas que se urbanizam além dos limites urbanos e terminam por misturar-se aos espaços rurais, determinando grandes conurbações. Nesse processo, as atividades desenvolvidas nas áreas rurais se integram cada vez mais com os espaços urbanos criando uma simbiose entre campo e cidade. Este fenômeno não se restringe apenas às megalópoles e verifica-se em cidades menores. Essa integração de espaços urbanos e rurais promove novas atividades econômicas que se desenvolvem de forma interurbana nas fábricas deslocadas para os interstícios urbano-rurais, nos entrepostos comerciais, nos armazéns, nos centros comerciais, nos parques temáticos, nas atividades de lazer e de turismo. Resulta daí uma sinergia cada vez mais intensa entre esses espaços. Como exemplos o pesquisador cita originalmente o caso das cidades do ABCD e mais recentemente os espaços situados entre São Paulo e Atibaia, Bragança, Sorocaba, Itu, Jundiaí, Valinhos, Vinhedo, Campinas, Jaguariúna e ainda as cidades interligadas ao longo da Via Dutra.

DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS O pesquisador constatou que o apelo à natureza é comum aos anúncios das duas épocas confrontadas. Nos anos 70, a natureza está bastante ligada às ideias de contracultura do movimento hippie que preconiza a volta ao campo e a uma vida comunitária. Já nos anos 2000 o apelo ao verde está mais ligado à ideia de qualidade de vida que deve ser exercida em espaços exclusivos e autossegregados, como os condomínios de alto padrão. O escopo é o da constituição da metacidade, uma cidade dentro da cidade, que oferece serviços diversos ao morador, possibilitando-lhe autonomia nessas ilhas de excelência. Nos anúncios analisados, a “selva de pedra” dos anos 70 é retratada através da utilização de matizes de cinza em contraposição à policromia dos anos recentes. Esse, diz o pesquisador, parece ser um constructo do urbano contemporâneo da cidade de São Paulo, sugerindo um processo de intensa transformação. Com efeito, à medida que a maior preocupação com o meio ambiente resulta em uma ampliação e incorporação de novas áreas verdes reais ou imaginarias à cidade, esse cromatismo se reflete nos folders, que do cinza vão à policromia. O que antes era visto como o estereótipo de uma cidade sempre cinza e nublada ganha agora a conotação, não menos estereotipada, de uma cidade que vive em comunhão com seus parques, jardins e áreas verdes. Se nos anos 70 os empreendimentos privilegiavam a técnica e o material empregado, os do novo milênio destacam especialmente a “simbologia do verde”. Fotos: Reprodução

Embora o marketing de empreendimentos de padrão superior destaque a oferta de equipamentos e espaços para esporte, lazer, fitness, gastronomia, reforçando a oferta de uma ilha autossuficiente, esse somatório de disponibilidades oferecidas é sempre emoldurado por uma idealização de espaços verdes. A proximidade de outras áreas verdes é mais um entre vários elementos que pretendem valorizar o imóvel situado em áreas privilegiadas em que o verde está ao alcance de quem almeja a tão propalada qualidade de vida, longe de quaisquer tipos de poluição. O autor lembra ainda que a preocupação em destacar a centralidade do empreendimento, o acesso fácil, a proximidade do transporte, particularmente o metrô, leva à utilização nos impressos de mapas esquemáticos de localização, simplificados e com fotos ilustrativas que não correspondem às escalas reais. Na essência, a tese trabalha com o poder de sedução que os anúncios procuram expressar. Detém-se na falta e na distância da natureza que a publicidade constrói como mito e linguagem, que evidenciam essas carências e esse desejo de natureza. Diante da escassez do verde, a lógica publicitária propaga e publiciza uma ideologia emocional e de mercado em constante processo de expansão. “Quanto menos se tem dessa preciosa mercadoria tanto mais ela é apregoada, espelhada e espalhada e seus signos produzidos e consumidos, ao menos simbolicamente”, constata o autor.

MERCANTILIZAÇÃO Carlos Eduardo considera que a análise dos dados indica que a busca pelos ideais de uma centralidade, de um axis mundi, expressos também pelo caráter idílico e edênico das paisagens urbanas – intrínsecos à construção da imagem nos anúncios publicitários – se direciona ao que é relevante para o habitante da grande metrópole: estar próximo das grandes artérias, do lazer, dos parques, do comércio e do transporte diferenciado, preservando para si a individualidade de um espaço exclusivo e aprazível junto à natureza, em concordância com os conceitos globais que mercantilizam tudo e a todos. A valorização dessa centralidade é diretamente proporcional à contiguidade de áreas verdes e constitutivas de “paisagens de poder”. Estes espaços privilegiados de certos segmentos sociais, segregados e encastelados, delimitados muitas vezes pela criação de uma fronteira verde, configuram as metacidades. A paisagem é, antes, o produto de um imaginário construído segundo uma sacralidade ancestral perdida, desejosa de restabelecer-se através da manifestação do sagrado presente na ideia de Centro do Mundo, pois “viver perto de um Centro do Mundo equivale em suma a viver o mais próximo possível dos deuses”, diz ele citando Mircea Eliade. Na grande metrópole paulistana o centro do mundo está nas zonas nobres, preferencialmente junto aos grandes parques, como Ibirapuera, Villa-Lobos, Aclimação, Parque do Carmo, próximo aos serviços (shoppings), às grandes artérias e ao metrô. Ele acredita que o estudo possa contribuir para uma reflexão sobre as expectativas, soluções e encaminhamentos adotados pela sociedade contemporânea e pelo mercado imobiliário para atender a propósitos mercantis e, ainda, sobretudo, para as análises feitas à luz da antropologia visual e da semiótica. Espera, também, que as suas conclusões possam permear as discussões contemporâneas não apenas dos administradores públicos mas também particularmente da população, de forma a possibilitar-lhe o desenvolvimento de uma cidadania que reflita e influa nas políticas públicas e nas questões urbanas.

Publicações

No alto, à esq., anúncios dos anos 70 e acima e à dir., peças publicitárias recentes: “retorno à natureza”

Tese: “Natureza e cidade: A conceituação e o tratamento do residencial na publicidade imobiliária – análise contrastiva, décadas de 1970 e 2000” Autor: Carlos Eduardo Paranhos Ferreira Orientador: Ivan Santo Barbosa Unidade: Instituto de Artes (IA)


Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

CPQBA testa fitoterápico para

5

cicatrização de lesões

Medicamento está sendo desenvolvido a partir da planta conhecida como crajiru

Fotos: Antoninho Perri

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

esquisadores da Unicamp estão perto de disponibilizar dados necessários à produção de um novo medicamento fitoterápico para cicatrização de lesões de pele e mucosa, a partir da Arrabidaea chica Verlot, planta conhecida popularmente como crajiru. Não se trata apenas de colocar mais um cicatrizante no mercado, como faz entender a professora Mary Ann Foglio, pesquisadora da Divisão de Fitoquímica do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp. “O produto tem um poder cicatrizante muito bom que poderá atender àqueles pacientes que desenvolvem ulcerações em consequência de diabetes ou ainda pacientes imunodeprimidos.” A professora orientou a dissertação de mestrado de Ilza Maria de Oliveira Sousa, que avaliou a estabilidade do extrato seco e criou formulações semissólidas com os extratos padronizados produzidos a partir das folhas de crajiru. Este trabalho já contribuiu para o depósito da segunda patente na Agência de Inovação Inova da Unicamp, no final do ano passado. A primeira patente é sobre processos para microencapsulação do extrato da planta (micro e nanopartículas), enquanto esta se refere às técnicas para produção de nanopartículas de longa duração. Há negociações em torno de ambas as patentes com uma empresa farmacêutica nacional. Mary Ann Foglio explica que as pesquisas envolvendo o crajiru estão sendo desenvolvidas dentro de programas de pósgraduação da Unicamp. A dissertação de Ilza se deu através do programa em Biociências e Tecnologias de Produtos Bioativos, do Instituto de Biologia (IB). “Outras teses sobre essa planta estão em andamento, focando a parte estritamente farmacológica, como o da aluna Michelle Jorge dentro do programa de clinica médica da FCM; o desenvolvimento de nanopartículas, por Leila Servat, e aplicações odontológicas, com Patrícia Zago, ambas no programa de odontologia da FOP. Todo trabalho tem sido financiado pela Fapesp. Tantas pesquisas mostram a quantidade de dados necessária para gerar um produto farmacêutico a partir de insumos vegetais. Segundo a docente, o crajiru vem exigindo trabalhos em sequência desde 2003, quando foram trazidas ao CPQBA as primeiras variedades provenientes de todas as regiões do país, a fim de se observar a variabilidade entre elas quando cultivadas nas mesmas condições. “O maior desafio para desenvolver um fitoterápico é que ele deve atender aos mesmos parâmetros de um medicamento alopático: precisamos garantir

A professora Mary Ann Foglio (à direita), coordenadora das pesquisas, e Ilza Maria de Oliveira Sousa, autora da dissertação: compostos sensíveis

que ele seja eficaz, seguro e, um dos maiores desafios, a sua reprodutibilidade. Foram cinco anos avaliando a matéria-prima, num controle mensal para compreender as variações da planta conforme as condições climáticas, bem como para verificar em que período do ano produzia maior efeito farmacológico, a fim de determinar os parâmetros importantes para monitorar os estudos e desenvolvimento do produto final.”

ESCALA SEMIPILOTO Ilza Maria, autora da dissertação, recorda que estudos desenvolvidos no CPQBA já comprovaram que o extrato bruto de crajiru induz a proliferação de fibroblastos (células que agem na cicatrização de ferimentos) e estimula a síntese de colágeno (proteína que confere elasticidade e firmeza à pele). Em seu trabalho, visando à produção de um medicamento, ela promoveu a transposição da escala laboratorial para uma escala semipiloto, determinando o processo de secagem, armazenamento e as embalagens mais adequadas ao produto. “Nossa pesquisa envolve compostos muito sensíveis, que se degradam facilmente nas condições atmosféricas normais de processamento”, afirma. A pesquisadora dispôs na bancada do laboratório amostras do composto na forma livre, extraída da planta com etanol, e outra exposta a 40ºC e com 75% de umidade, que tinha aparência petrificada e enegrecida feito pedacinhos de carvão.

“Por essa razão propusemos o encapsulamento, que é uma maneira de aumentar a vida útil do composto. Produzimos microcápsulas com três materiais diferentes: goma arábica, goma de cajueiro e uma mistura de goma arábica e maltodextrina. Essa última mistura não foi tão estável e o composto na forma de creme, depois de 30 dias de armazenamento, perdeu a coloração inicial e o teor de carajurina (que atribui cor avermelhada ao extrato). Já com outra matriz polimérica, a goma arábica, a coloração ficou preservada por 180 dias.” Depois de caracterizar a matéria-prima e as melhores matrizes poliméricas, Ilza Maria passou às formulações semissólidas para uso tópico, produzindo cremes e diferentes tipos de géis. Ela atestou que o gel de Carbopol, o gel de Natrosol e os cremes avaliados em modelos experimentais de cicatrização in vivo reduziram de 80% a 70% a área cutânea ulcerada, após 10 dias de tratamento, comparada ao grupo controle que demonstrou redução de 37%.

ESTUDOS CLÍNICOS A professora Mary Ann Foglio adianta que o desafio de Ilza Maria Sousa continua no doutorado, realizando pesquisas no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do IQ. “Seu objetivo agora é entender como o produto se comporta depois de aplicado – se penetra nas camadas de pele, se vai para a corrente sanguínea – e que ti-

pos de componentes metabólicos ele gera como resposta. Essa fase do trabalho está bem no início, mas podemos afirmar que já temos muitos dados que possibilitarão finalizar os estudos pré-clínicos”. De acordo com a docente, após estudos de toxicidade e testes mutagênicos será possível viabilizar parcerias com o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e Hemocentro para iniciar os estudos clínicos junto a pacientes, necessários antes de lançar o produto no mercado. “No CPQBA somos capazes de finalizar todos os estudos pré-clínicos. Em se tratando de estudos com plantas medicinais, muito é feito na academia para descobrir os componentes ativos, mas ainda são poucos os trabalhos que vão desde a triagem inicial de identificação de espécies de interesse farmacêutico até os estudos farmacológicos, químicos e farmacotécnicos para viabilizar um medicamento fitoterápico.”

Publicações Dissertação: “Avaliação da estabilidade do extrato seco e formulações de bases semi-sólidas, contendo Arrabidaea chica Verlot, para uso em cicatrização” Autora: Ilza Maria de Oliveira Sousa Orientação: Mary Ann Foglio Unidades: Instituto de Biologia (IB) e Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA)

Planta é mais comum na Amazônia Plantação de crajiru no CPQBA: usada pelos indígenas como corante

A espécie Arrebidaea chica Verlot, o crajiru, integra a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), que é constituída por plantas nativas ou exóticas adaptadas, amplamente utilizadas pela população brasileira e que apresentam evidência para indicação na atenção básica de saúde. Muitas dessas espécies, entretanto, necessitam de estudos que confirmem sua eficácia e segurança. Ao crajiru são atribuídas propriedades terapêuticas para enfermidades da pele. Apesar de ser encontrada em todo o país, a A.chica é mais comum na Amazônia, onde é utilizada principalmente pelos indígenas como corante para pintar o corpo e também para infecções fúngicas (microbianas). O Centro de Pesquisa Agroflorestal da Embrapa de Rondônia informa sobre outros usos medicinais, como em

infecções de origem uterina e males do fígado, estômago e intestino; informa ainda sobre sua serventia para diarreias, leucemia, conjuntivite aguda e para o ataque de insetos (na forma de pasta). A mesma página da Embrapa confirma que, após a fermentação, as folhas do crajiru fornecem uma matéria corante vermelho-escuro ou vermelho-tijolo, insolúvel na água e solúvel no álcool e no óleo, utilizada pelos índios para pintura do corpo e de utensílios. O crajiru também é utilizado como pigmento para algodão, tendo sido exportado em pequena escala no início do século, como corante vermelho-americano. A A.chica é descrita como planta arbustiva trepadeira, ganhando outros nomes populares como carajurú, capiranga, cipó cruz, grajirú, crajurú, guarajurupiranga, pariri e piranga.


6

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

O curso é a distância. E a avaliação, próxima Método fundamenta-se em dados relevantes extraídos dos suportes online

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

rente ao crescente aumento do ensino superior a distância no país, pesquisa da Unicamp revela importante fonte de informação para avaliar a qualidade dos cursos nesta área. Trata-se dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), suportes online para o gerenciamento de conteúdo dos cursos desta modalidade. O estudo demonstrou que os elementos contidos nos AVAs podem fornecer informações relevantes, seguras e precisas para auxiliar a avaliação. Estes dados são obtidos automaticamente, via ferramentas computacionais, graças a uma metodologia desenvolvida pelo pesquisador Ricardo Luís Lachi. O método é executado por meio de suporte computacional denominado pelo estudioso como Sistema de apoio à Avaliação de cursos do Ensino Superior a Distância (SAESD). Além dos dados coletados nos AVAs, também são utilizadas para a avaliação outras informações, obtidas a partir de questionários aplicados junto aos usuários dos cursos. Conforme o Censo da Educação Superior, divulgado em 2010 pelo Ministério da Educação (MEC), houve cerca de 1 milhão de matrículas em cursos de ensino superior a distância no Brasil. Embora relativamente defasado, o número representa quase 15% do total de matrículas de graduação no ensino superior do país, calcula Ricardo Lachi. A metodologia desenvolvida por ele integrou tese de doutorado defendida junto ao Instituto de Computação (IC) da Unicamp. A docente Heloisa Vieira da Rocha, do Departamento de Sistemas de Informação do IC, orientou o trabalho. A pesquisa contou com financiamento parcial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq). “No Brasil, a avaliação dos cursos a dis-

tância ainda é muito incipiente. Com este modelo são levantados aspectos positivos e pontos que podem ser melhorados no curso, nunca com o viés negativista”, avisa o pesquisador e cientista da computação, que é docente da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul desde 2005. Ainda de acordo com Ricardo Lachi, os modelos avaliatórios existentes não especificam, de forma clara e tipificada, quais são os dados e como eles devem ser obtidos. “Definimos para o contexto brasileiro um conjunto de indicadores que são utilizados e recomendados para uma avaliação eficiente em termos mundiais. Com base nisso, o SAESD já classifica, automaticamente, a situação do curso”, esclarece. O cientista da computação explica que os dados coletados estão registrados nestes ambientes virtuais de aprendizagem. São informações, entre outras, sobre os horários e a frequência de acesso ao ambiente e aos conteúdos; acerca das atividades realizadas; e a respeito das interações entre os participantes do curso. Uma informação relevante para a avaliação é saber, por exemplo, se aquele sistema virtual esteve disponível para o usuário em todos os momentos do curso. Isto atestaria a confiabilidade do curso quanto ao acesso a conteúdos e também sua disponibilidade para a interação dos participantes. Numa avaliação tradicional, estes tipos de elementos são coletados junto aos alunos e docentes, mas há o risco, conforme o pesquisador, de respostas imprecisas. “Se o usuário disser que o sistema estava indisponível, será que não foi só naquele momento em que ele tentou acessar? E se o ambiente estiver sobrecarregado ou houver uma interrupção de energia? Computacionalmente, o ambiente está lá. E é possível conseguir estes dados de registro e verificar, realmente, o que aconteceu durante todo o período em que o sistema estava funcionado. Verificar se ele caiu e qual foi a causa”, exemplifica o estudioso.

ESTUDO INTERNACIONAL Ricardo Lachi informa que elaborou ampla revisão bibliográfica, tanto nacional como internacional. De acordo com ele, o trabalho se baseou em diretrizes de uma pesquisa internacional sobre o tema, desenvolvida pelos estudiosos Ronald Phipps e Jamie Merisotis, do Institute for Higher Education Policy (IHEP), localizado nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada em 2000, é denominada “Quality on the line – benchmarks for success in Internet-based distance education”. “Pela sua aplicabilidade em termos mundiais, este estudo foi adotado na Universidade Aberta do Reino Unido, da Austrália e de Hong Kong. É uma referência mundial, considerado um benchmarking internacional na área. Só que ele é contextualizado em termos norte-americanos e tem necessidade de especificação”, observa o pesquisador.

INDICADORES O estudo internacional usado como base na investigação é representado por 24 indicadores de qualidade organizados em sete categorias: suporte institucional; desenvolvimento de uma disciplina; processo de ensino-aprendizagem; estrutura de uma disciplina; apoio ao discente; apoio ao docente e avaliação dos discentes e do curso. “A validade dessas informações especificadas foi comprovada estatisticamente. De fato, elas são relevantes no contexto de avaliação, que é uma atividade, muito vezes, subjetiva. Avaliamos estas informações por meio do uso de um coeficiente estatístico específico para essa finalidade, que é o Alfa de Cronbach. Ele permite validar um instrumento de pesquisa. Além disso, respaldamos a avaliação em instrumentos do Sinaes [Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior]”, embasa o cientista da computação. Fotos: Antoninho Perri

CONTEXTO NACIONAL O Sinaes é empregado pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar as instituições, cursos e o desempenho dos estudantes de ensino superior do país. O próprio MEC, conta o pesquisador, emprega diretrizes do IHEP, embora a avaliação das disciplinas a distância seja baseada nos cursos presenciais das mesmas instituições. “Acredito que o meu trabalho dá contribuição importante em muitos aspectos até porque tem questões que o MEC não contempla em sua avaliação, que pode ser aprimorada”, aponta Ricardo Lachi. “A educação é condição essencial para que a sociedade se desenvolva, evolua e cresça. E, hoje, numa sociedade agitada na qual as pessoas têm pouco tempo para suas atividades, os cursos a distância vêm ocupando espaço. Garantir, portanto, qualidade nesta área é fundamental”, finaliza.

Publicações Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. Um Modelo para Avaliar Cursos Superiores Brasileiros via Internet. Revista Informática na Educação: teoria & prática. Porto Alegre, v.14, n. 1, janeiro/junho 2011b. ISSN digital: 19821654. ISSN impresso: 1516-084X. Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. SAESD – Sistema de Apoio para a Avaliação de cursos Superiores a Distância. VI Congresso Ibero-americano de Telemática (CITA 2011). Gramado, Rio Grande do Sul. 2011a. Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. Avaliação da qualidade no ensino superior à distância via Internet no Brasil. VII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância (ESUD 2010). Cuiabá, Mato Grosso. 2010. Lachi, Ricardo Luís; Oeiras, Janne Yukiko Yoshikawa; Rocha, Heloísa Vieira da. Avaliação de cursos a distância: uso de indicadores para assegurar qualidade. Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE 2006). Brasília, Distrito Federal. 2006. Tese: Avaliação da Qualidade de Cursos Superiores a Distância Autor: Ricardo Luís Lachi Orientadora: Heloisa Vieira da Rocha Unidade: Instituto de Computação (IC) Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq) A tese de do pesquisador Ricardo Luís Lachi demonstra que são seguros os dados obtidos por meio de ferramentas computacionais


7

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Obesidade pode aumentar risco de coagulação em pacientes com SOP Dissertação de mestrado aponta que é maior a chance de tromboembolismo venoso ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

distribuição da gordura, o avanço da idade, a resistência à insulina e a quantidade de testosterona na corrente sanguínea podem alterar alguns marcadores do sistema hemostático, sugerindo, em mulheres com síndrome de ovários policísticos (SOP), um risco mais elevado de tromboembolismo venoso (TEV) – que é a obstrução das veias por um coágulo de sangue. Foi o que concluiu pesquisa de mestrado da ginecologista Maria Raquel Marques Furtado de Mendonça-Louzeiro, apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM). No estudo, orientado pela ginecologista Cristina Laguna Benetti Pinto e coorientado pela hematologista Joyce Maria Annichino-Bizzacchi, ambas docentes da FCM, esses fatores sinalizaram maior probabilidade de alterações na coagulação. A SOP, define a autora, se caracteriza por ovários (dois órgãos que ficam cada qual em um lado do útero, responsáveis pela produção dos hormônios sexuais femininos e dos óvulos) – com vários pequenos cistos em mulheres com irregularidade menstrual e aumento de pelos ou acne. Em geral, a SOP tem início na puberdade e se estende até a menopausa. É uma doença ligada às alterações hormonais. Mendonça-Louzeiro realizou um estudo transversal em que foram comparadas 45 mulheres com SOP e outras 45 com função gonadal normal, atendidas no Ambulatório de Ginecologia Endócrina do Departamento de Tocoginecologia da FCM, onde é feito o tratamento e o acompanhamento às portadoras da síndrome. A investigação ocorreu entre 2010 e 2011. A autora abordou a associação de marcadores do sistema hemostático, que respondem pela coagulação, com parâmetros clínicos e laboratoriais. A SOP afeta hoje entre 5% e 10% das mulheres na menacme (período reprodutivo da primeira menstruação à menopausa). As pacientes avaliadas tinham a mesma idade e o mesmo índice de massa corporal. A ginecologista verificou a distribuição de gordura por meio de parâmetros clínicos como circunferência da cintura, circunferência do quadril e relação cintura-quadril; e distribuição dos pelos por meio de avaliação clínica (índice de Ferriman-Gallwey) e laboratorial (dosagens de testosteronas total e livre). Esses aspectos sugeriram que as mulheres com SOP mostram maior centralização da gordura na região da cintura do que no quadril e maior grau de hirsutismo (aumento de pelos pelo corpo) quando comparadas ao grupo-controle. Também foram feitos exames laboratoriais como glicemia e insulina de jejum, além das dosagens de testosterona total e livre. Com relação ao sistema hemostático, foram dosados marcadores como inibidor do ativador do plasminogênio do tipo 1, inibidor da fibrinólise ativado pela trombina, D-dímero e teste de geração de trombina.

DIAGNÓSTICO

Em 2003, um Consenso Internacional, em Rotterdam, Holanda, determinou que, para o diagnóstico de SOP, as pacientes deveriam exibir pelo menos duas das seguintes características: ciclos menstruais irregulares, sinais de hiperandrogenismo clínico (acne e pelos aumentados pelo corpo) e/ou bioquímicos (exames hormonais alterados), e ovários policísticos ao ultrassom (presença de 12 ou mais folículos em cada ovário e/ou aumento ovariano maior que 10 cm³). Para esse diagnóstico, é preciso excluir outras causas com um quadro clínico semelhante, explica a ginecologista, como hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Cushing e tumores secretores de andrógenos, além de endocrinopatias como hiperprolactinemia e hipotireoidismo. Essa tarefa, aconselha ela, requer uma completa avaliação para não correr o risco de dizer que se trata de SOP quando as mulheres não preenchem estes critérios ou quando o resultado baseia-se só no ultrassom. Mulheres com essa síndrome procuram, na maioria das vezes, os serviços médicos por causa da irregularidade menstrual; aumento de pelos pelo corpo; ou infertilidade, decorrente de ciclos anovulatórios. Embora mais evidentes tais manifestações, distúrbios metabólicos também são vistos em mulheres com SOP, envolvendo obesidade, hiperinsulinemia, resistência insu: Fotos

erri

inho P

Anton

línica (dificuldade que a insulina tem de retirar a glicose do sangue e levá-la às células), diabetes do tipo 2, dislipidemia (alteração dos níveis de colesterol total, suas frações e/ou de triglicerídeos) e síndrome metabólica, com repercussões clínicas desfavoráveis ao longo da vida. Atualmente, os profissionais da saúde buscam fazer uma abordagem multifatorial da paciente. O tratamento, no caso, consiste em regularizar os ciclos menstruais, controlar o hiperandrogenismo (com medidas clínicas e medicamentosas) e as comorbidades como obesidade, resistência insulínica, doença cardiovascular e dislipidemias. Quando se percebe infertilidade, uma das medidas implica estimular a ovulação. Segundo Mendonça-Louzeiro, recomenda-se o seguimento das pacientes com orientações sobre a mudança de hábitos de vida, com atividades para a redução do peso (dieta e atividade física) com vistas a diminuir o risco de doenças cardiovasculares e tromboembólicas, o que se tem mostrado exitoso.

CONTRACEPTIVOS

A baixa incidência de tromboembolismo na população contribui para o estudo de populações de risco, como a de mulheres obesas, diabéticas, com varizes, antecedentes familiares de tromboembolismo, tabagistas, mais idosas e até mesmo gestantes. “Nessas populações, muito se avaliam os componentes do sistema hemostático e como se comportam. Mas recentemente tem sido comentado o risco de tromboembolismo associado aos contraceptivos orais combinados (COC) contendo estrogênio. A sua associação com a obesidade nos fez decidir estudar tromboembolismo nas mulheres com SOP”, conta a pesquisadora. Por muitos anos, na SOP tratava-se e controlava-se a acne, o hirsutismo, a contracepção e a infertilidade. Hoje, têm sido valorizadas as alterações com maiores repercussões na idade adulta, na forma de diabetes mellitus, doença cardiovascular, obesidade e interferência na qualidade de vida. Por décadas, os COC têm sido a terapêutica mais usual no caso da SOP, a despeito dos seus componentes mostrarem pequenos efeitos adversos no metabolismo dos lípides (gorduras), aumentando o nível sérico de triglicerídeos e dos carboidratos, reduzindo a sensibilidade à insulina, a tolerância à glicose, e interferindo na hemostasia (processo fisiológico encarregado de parar o sangramento e iniciar o reparo tecidual). Mesmo não havendo evidência direta da elevação de risco de doença tromboembólica em pacientes com SOP, evidências indiretas poderiam indicar esta possibilidade, uma vez que mulheres com sinais clínicos de hiperandrogenismo apresentam angiogramas coronários anormais. Os distúrbios da hemostasia nesse caso ainda são pouco estudados e há relatos conflitantes na literatura. O desconhecimento do comportamento dos marcadores do sistema hemostático em mulheres com essa síndrome impede a prevenção de fenômenos tromboembólicos, fato que reduziria a incidência de doença coronariana e a morbidade por eventos da coagulação neste grupo. “Logo, desordens do sistema hemostático e alterações da coagulação podem contribuir para o aumento do risco de eventos cardiovasculares em mulheres com SOP”, constata a médica. Ainda que avançando o diagnóstico, tratamento e prevenção de TEV, há algumas dúvidas sem resposta, a priori ligadas à patogênese e aos fatores de risco. Fato é que a identificação de fatores predisponentes ao TEV reduziria os custos do seu tratamento e orientaria a escolha terapêutica na SOP. A ginecologista acredita que a avaliação de componentes do sistema hemostático, incluindo componentes da fibrinólise e o teste de geração de trombina em pacientes com SOP e sua correlação com parâmetros clínicos, hormonais e metabólicos, ajudará a identificar alterações predisponentes para doença cardiovascular e TEV, podendo redirecio-

nar a escolha do tratamento hormonal adequado, dose e via de administração.

INCIDÊNCIA

A incidência geral de TEV cresce exponencialmente com a idade, não sendo claro se por alterações dos mecanismos de coagulação ou pela presença de comorbidades trombogênicas. Entre 25 e 35 anos são cerca de 30 casos/100 mil pessoas ao ano, no mundo, elevando-se, entre 70 e 79 anos, para 300-500 casos/100 mil pessoas ao ano. Da mesma forma, a prevalência de embolia pulmonar aumenta com o avançar da idade, levando a uma taxa de 20 a 65 casos de tromboembolismo pulmonar por 100 mil habitantes. Quando ocorre de repente, a circulação é interrompida em uma parte do pulmão, aumentando a resistência à circulação do sangue e diminuindo o funcionamento do pulmão, sobrecarregando o coração. Conforme o quadro da pessoa que sofreu a embolia, pode passar despercebido ou provocar morte súbita. Nos EUA, esse distúrbio desencadeia de 300 mil a 600 mil hospitalizações anuais, com risco baixo (4,4 por 10 mil mulheres/ano) na população geral de mulheres, podendo aumentar em usuárias de pílula combinada e em gestantes. Agora, são desconhecidos dados de mulheres com SOP com fatores de risco como obesidade central. Também não há evidências indicando mudança na conduta frente ao diagnóstico da síndrome. O estudo da mestranda revelou que, dentre os marcadores hemostáticos, o tempo para o início da geração de trombina foi menor no grupo SOP. Isso significa que, nas mulheres desse grupo, ela acontece mais rapidamente, sugerindo maior risco de hipercoagulabilidade. A ginecologista deve estudar mais a composição corporal e a sua relação com tais parâmetros. “Pretendemos agregar informações e, no futuro, correlacioná-las com diferentes alternativas no tratamento da SOP”, relata. A pesquisa foi realizada no Brasil com financiamento da Fapesp. O estudo gerou um trabalho que acaba de ser aceito para publicação na revista Fertility and Sterility, um dos mais conceituados periódicos internacionais da área de Ginecologia, com alto fator de impacto. Mendonça-Louzeiro é graduada pela Universidade Federal de Uberlândia, tem Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Unesp e concluiu o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da Unicamp.

Publicações - Mendonça-Louzeiro, M.R.M.F.; Annichino-Bizzacchi, J.M.; Magna, L.A.; Quaino, S.K.P.; Benetti-Pinto, C.L. Faster thrombin generation in women with polycystic ovary syndrome compared to healthy controls matched for age and body mass index. Fertil. Steril. (com aceite). Elsevier reference: FNS 28007. Dissertação: “Marcadores do sistema hemostático e sua associação com parâmetros clínicos e laboratoriais em mulheres com síndrome dos ovários policísticos” Autora: Maria Raquel Marques Furtado de Mendonça Louzeiro Orientadora: Cristina Laguna Benetti Pinto Coorientadora: Joyce Maria Annichino-Bizzacchi Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp

A médica Cristina Laguna Benetti Pinto, orientadora da pesquisa, conversa com paciente: maior probabilidade de alterações na coagulação


8

Nas bancas

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Bióloga traça perfil clínico de portador de Doença de Chagas Pesquisa demonstra que maioria dos pacientes é hipertensa e usa vários medicamentos RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br

Pesquisa de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) revelou que os pacientes idosos atendidos pelo Grupo de Estudos em Doença de Chagas do Hospital de Clínicas da Unicamp estão, em sua maioria, na faixa etária entre 60 e 69 anos, são hipertensos e fazem uso de vários medicamentos para tratamentos de outras doenças. O estudo mostrou ainda que a forma cardíaca da doença é a mais prevalente entre os pacientes. “O perfil dos pacientes precisa ser conhecido para melhor entender como se desenvolve a doença e suas comorbidades e, assim, oferecer um serviço de qualidade para o doente. É o tipo de pesquisa que deve ser feito com frequência”, justifica a bióloga Mariane Barroso Pereira, cujo estudo foi orientado pelo professor Eros Antonio de Almeida. Ademais, continua Mariane, idosos portadores de doenças crônicas necessitam de um maior cuidado, pois existe a possibilidade de ocorrência de outros problemas advindos com o avançar da idade. A bióloga lembra que a enfermidade, descoberta em 1909, já teve a via vetorial como sua principal forma de transmissão. Com o controle por parte das autoridades, a incidência de novos casos diminuiu, propiciando uma mudança nas características da população infectada. Atualmente, a população chagásica no Brasil é constituída, so-

bretudo, por portadores da forma crônica da doença. “Estes indivíduos estão envelhecendo e necessitam de acompanhamento clínico adequado, ou seja, trata-se de mais um motivo para se conhecer o perfil”, esclarece. Para saber o histórico dos frequentadores do Grupo, a bióloga fez entrevistas com 85 pacientes e colheu depoimentos durante as consultas. Grande parte não se recordava de quando ou como teria sido picado pelo barbeiro ou triatomíneo, inseto transmissor do parasita, mas muitos possuíam antecedentes na família. Em geral, um parente de primeiro grau também tinha a doença, sendo que os entrevistados eram migrantes das regiões endêmicas do inseto. A prevalência da polifarmácia, segundo Mariane, foi alta. Em 34% dos idosos foi observado o uso de vários medicamentos. Em muitos casos, o paciente tomava cinco ou mais remédios para tratamento de outras doenças. Uma segunda etapa da pesquisa consistiu em exames moleculares realizados no Laboratório de Diagnóstico de Doenças Infecciosas por Técnicas de Biologia Molecular, sob a responsabilidade da professora Sandra Costa. O teste conseguiu detectar a existência do parasita em apenas 36% dos pacientes. A baixa positividade no teste pode revelar que há uma pequena quantidade de parasitas da doença na maioria dos voluntários. “Trata-se de um bom resultado, porém necessita de um aprofundamento”, explica a autora do

Foto: Antoninho Perri

A bióloga Mariane Barroso Pereira, autora do estudo: entrevistas com 85 pacientes

estudo. Este resultado só foi possível graças ao uso da biologia molecular para identificar a presença do DNA do Trypanossoma cruzi. Os portadores há muito tempo se encontravam na fase crônica da doença e conviviam com o mal há, pelo menos, cinquenta anos. Para os testes, foram colhidas amostras de sangue e, segundo Mariane, realizar o exame molecular nas amostras foi o grande diferencial da sua pesquisa. A técnica aplicada nesse perfil de portadores da Doença de Chagas é inédita. “A amostra de sangue foi submetida a uma extração de DNA e amplificação gênica da região nuclear do parasita. É um exame demorado e as técnicas são muito sensíveis.”, define. Ela esclarece

ainda, que este tipo de exame pode ser utilizado em conjunto com outros testes para auxiliar na detecção da doença.

Publicações

Dissertação: “Perfil clínico, laboratorial e epidemiológico de pacientes chagásicos idosos seguidos em um serviço de referência”Autora: Mariane Barroso Pereira Orientador: Eros Antonio de Almeida Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Faepex

Luci: 35 anos dedicados à Unicamp Secretária da Coordenadoria de Graduação da FT começou sua carreira em gráfica da antiga FEL Fotos: Antonio Scarpinetti

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

Luci Mary do Nascimento entende bem da arte de borrar esmaltes, ainda que seja nas mãos vaidosas de uma adolescente de 17 anos. Recorda-se bem de estênceis e mimeógrafos, aqueles usados tanto nos antigos desenhos do jardim da infância quanto nas avaliações mensais ou bimestrais. Lembra disso porque no final da década de 1970, na gráfica da antiga Faculdade de Engenharia de Limeira (FEL) e dos Cursos de Tecnologia, emprestou suas mãos para a formação de muitos engenheiros e tecnólogos. Alguns deles hoje atuam na Faculdade de Engenharia Civil (antiga FEL) e outros na Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, como o diretor da FT, José Geraldo, e o professor Fernando Mantelli. Aos 17 anos, conheceu a habilidade e a confiabilidade necessárias a um funcionário de uma gráfica universitária. Tudo passava por suas mãos, a ponto de fazer-lhe decorar nomes de apostilas, códigos de disciplinas e os docentes que as ministravam. Nada fugia de seus dedos, nem mesmo o cuidado com a formação dos filhos de pessoas as quais sequer conhecia. Luci também conheceu a força do trabalho aos 17 anos. “Tinha de operar um maquinário muito diferente dos atuais, pois não eram informatizados.” Achava um pouco pesado para sua idade, mas não abriria mão de qualquer oportunidade de trabalho. E seria ali, no primeiro campus de Limeira, onde quase toda a família fez história: a mãe, a irmã e a filha. Apesar dos desafios da vida e da história que segue em movimentos circulares, todos ajudaram a imprimir o livro de mais de 40 anos da Unicamp. Por exemplo, a mãe trabalhou e aposentou-se no Colégio Técnico (Cotil), e a irmã, Marli Nascimento, é assistente social no Hospital das Clínicas da Unicamp. Hoje, como secretária da Coordenadoria de Graduação da FT, Luci confessa que a grande realização para ela foi ver a filha Daniella Nascimento receber os cuidados da Unicamp assim como os alunos que pu-

A secretária Luci Mary do Nascimento, lotada hoje na FT: reconhecimento dos pares, dos alunos e dos docentes

deram contar com sua atenção. A jovem de 26 anos acaba de graduar-se pela Faculdade de Engenharia Agrícola [Feagri], no campus de Barão Geraldo. “Quando Daniella passou no Cotil [onde também foi aluna] e no vestibular, parecia que estava vivendo aquele momento. A emoção que senti ao ver minha filha tendo a mesma oportunidade dos alunos que ajudei a cuidar é indescritível. Tenho orgulho de minha filha”, alegra-se. Para Luci, hoje aos 52 anos de idade e 35 de serviços prestados à Unicamp, é como se a vida lhe recompensasse por ter sido a menina que operava a maquinaria da gráfica para que futuros engenheiros e tecnólogos fossem alavancar o desenvolvimento de seu país. Lembra até hoje da homenagem recebida na colação de grau da turma do Jorge Rossi, hoje professor do Cotil e dos convites sempre aceitos para as festas nas repúblicas. Mais que usuários de seus serviços gráficos, alguns alunos tornaram-se amigos para o resto da vida.

Em alguns minutos de conversa, mostra o quanto acompanhou a história da Unicamp em Limeira, desde a adolescência, quando algumas vezes visitou o espaço com a mãe. Quando Daniella nasceu, a Universidade já havia criado as creches e Daniella passou a ser também frequentadora assídua do campus até a faculdade mudar para Barão Geraldo. A notícia, dada em cima da hora, surpreendeu os funcionários, que passaram a ter de viajar para Campinas todos os dias. Como Daniella tinha apenas 4 anos, Luci voltou para Limeira como funcionária da Gráfica da Planta Física de Limeira. “Era inviável e sacrificado viajar e deixar minha filha na creche em Limeira”, relembra. De Barão Geraldo, ficaram as recordações de alguns amigos e também das festas de final de ano promovidas pela Reitoria da Universidade. “Lembro-me que a Unicamp fretava ônibus para as famílias poderem participar das festas, que, aliás, eram

muito bem-organizadas. Sinto falta desses momentos, porque minha mãe podia levar a família toda”. Da gráfica, migrou para a área administrativa do restaurante de Limeira, até que em 1998 recebeu convite de Gilberto de Almeida para secretariá-lo na Assistência Técnica do antigo Ceset. “Aceitei prontamente. Esta foi uma das melhores fases de minha vida na Unicamp. Eu e Gilberto trabalhávamos com muita sincronia, porque ele não era apenas o meu superior, mas um grande amigo. Muito do que aprendi no Ceset devo primeiramente a Deus e ao Gilberto, que me ensinou a elaborar todo tipo de documento e o trabalho em equipe.¨ De 2003 a 2007, Luci atendeu duas secretarias ao mesmo tempo. “Trabalhava na Diretoria, como secretária de assistente técnico de unidade (ATU), e à noite, na Coordenadoria de Graduação.” Permaneceu atendendo as duas secretarias até 2007. Se ela iniciou a carreira “cuidando” de alunos, tudo indica que irá aposentar oferecendo seus préstimos, porém, não mais entre as tintas azuis e as resmas de papel sulfite, mas na Secretaria de Graduação da FT, onde atua desde 2003. Lá, é reconhecida por alunos como Túlio Chagas, por auxiliar os coordenadores em assuntos de graduação: “Indicam a Luci para nos auxiliar em tudo o que queremos saber. Ela conhece a faculdade como ninguém”, declara Chagas. Assim é possível entender os comentários elogiosos do coordenador associado de Graduação, André Leon. “O trabalho da Luci é muito importante. Ela entende de tudo o que se passa na graduação.” Apesar de reconhecer que cumpriu sua missão na Unicamp “com amor e carinho”, como faz questão de enfatizar, Luci pensa na aposentadoria como uma consequência da vida e espera poder usufruí-la na terra ou no ar, viajando. A volta para a Faculdade de Direito também está em seus planos, mas antes disso, quer se sentir à vontade para o descanso e o lazer. “Combati o combate, acabei a carreira”, encerra, com uma passagem bíblica.


9

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Medida avalia autoaceitação de cego Desenvolvido na FEF, método inédito no país mensura aspectos positivos da imagem corporal Foto: Antoninho Perri

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ão havia no país uma medida específica que avaliasse de maneira sistemática aspectos positivos da imagem corporal como a autoaceitação de pessoas com cegueira congênita ou precoce, ou seja, aquelas que nasceram com a cegueira ou a manifestaram até os oito anos de idade. Mas a medida acaba de ser criada pela profissional de educação física Fabiane Frota da Rocha Morgado em seu estudo de doutorado, desenvolvido no Laboratório de Imagem Corporal da Faculdade de Educação Física (FEF) entre 2010 e 2012. O trabalho foi orientado pela docente Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes Tavares e financiado pela Fapesp. A pesquisadora idealizou uma ferramenta – a Escala de Autoaceitação (EAC) para pessoas com cegueira congênita ou precoce. A EAC é do tipo Likert (variando de 1=nunca até 5=sempre), composta por três fatores: aceitação corporal (expressão de amor e admiração pelo próprio corpo); proteção de estigmas sociais (estruturação de um filtro cognitivo de proteção em que a maior parte de informações negativas de estigmas sociais é ignorada, enquanto as positivas são internalizadas) e sentimentos e crenças de capacidade (reconhecimento e valorização das próprias capacidades e realizações). Para avaliar esses fatores, um conjunto de 33 itens foi gerado, porém a versão final da escala foi composta por 18 deles. Foram algumas das questões: você gosta de seu corpo como ele é?; você se incomoda com opiniões preconceituosas a respeito de sua cegueira?; e sua cegueira lhe atrapalha a fazer coisas que gosta? Para afirmar que o sujeito com deficiência visual apresenta autoaceitação por meio desse instrumento, ele deve apresentar altos escores nesses fatores. A autoaceitação, define Fabiane, é a aceitação de si mesmo da maneira que se é, por meio do reconhecimento tanto das características positivas quanto das negativas, mas da valorização daquelas características consideradas positivas. A nova medida apresentou adequadas qualidades psicométricas – validade e confiabilidade interna – para avaliar a autoaceitação de pessoas que não enxergam desde idades precoces. Esse resultado foi possível graças a uma ampla investigação realizada com 318 sujeitos com cegueira congênita ou precoce com idade entre 18 e 60 anos, que foram recrutados em cidades distintas das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste. Em cada uma das regiões, foram entrevistadas pessoas de diferentes centros de atendimento ao deficiente visual e de eventos culturais e científicos destacados que reúnem esse público, como o DOSVOX, no Rio de Janeiro, e o Blind Brasil, no Rio de Janeiro e Fortaleza. Em Campinas, Fabiane avaliou integrantes do Centro Cultural Louis Braille e do Instituto dos Cegos Trabalhadores. A importância de estudar a autoaceitação de pessoas que não enxergam, segundo a autora do estudo, é que um quadro de não autoaceitação pode lhes trazer inúmeros transtornos psicopatológicos, como depressão, angústia, baixa autoestima e ansiedade. “É uma relação negativa que pode levar a um quadro patológico passível de tratamento e terapia”, diz. Além disso, a não autoaceitação pode gerar transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia nervosa, entre outros

Fabiane Frota da Rocha Morgado, autora da tese: “A ideia é contar com profissionais mais preparados”

fatores. Com a disponibilidade de instrumentos válidos e confiáveis, é possível avaliar esses transtornos viabilizando terapias de intervenção. Em pessoas com deficiência, a autoaceitação estimula uma imagem corporal integrada positiva, que promove uma relação mais saudável com o próprio corpo e o mundo. Somada a essa questão, pessoas com deficiência com elevados níveis de autoaceitação experimentam inúmeros benefícios: têm altos níveis de valor pessoal, sentimentos e crenças nas próprias capacidades e realizações, facilidade para lidar com dificuldades cotidianas e atuar ativamente na sociedade, ocupando diversos postos profissionais.

RESULTADOS Algumas inferências emergiram ao ser criada a EAC. Notou-se uma relação entre a frequência semanal da prática de atividade física e a autoaceitação. Os participantes que relataram a prática regular de atividade física (por pelo menos três vezes por semana) tiveram maiores níveis de autoaceitação do que aqueles que praticavam a atividade física com menor frequência semanal. Esse resultado, constata Fabiane, ressalta o valor que a prática regular de atividade física possui no desenvolvimento e manutenção da autoaceitação em pessoas com cegueira. Em paralelo, a pesquisa trouxe outras inferências estatísticas que condizem com a realidade. Uma delas é que os participantes inseridos no mercado de trabalho têm maiores índices de autoaceitação do que os não inseridos. Essa informação traz argumentos para políticas públicas de inclusão no mercado de trabalho, realça a doutoranda, mas também contribui para que, nas associações e centros especializados para atendimento de pessoas com deficiência visual, sejam valorizados serviços específicos para preparar esses sujeitos para o trabalho, por meio de oficinas, cursos técnicos e estrutura funcional para encaminhá-los ao mercado. Outra questão é que os sujeitos que sentem mais preconceitos e estigmas sociais têm menores índices de autoaceitação, o que leva a concluir que a internalização dos estigmas, que comumente consideram o sujeito com deficiência como incapaz, é prejudicial à autoaceitação de pessoas que não enxergam desde idades precoces. Esse fato, analisa Fabiane, deve ser levado em conta por profissionais da saúde no

Bonecos usados nas pesquisas feitas na FEF: diferentes dimensões e formas corporais de mulheres

momento de propor estratégias que auxiliem seus alunos/pacientes com cegueira a filtrar informações negativas a seu respeito, considerando só aquelas que são positivas à estruturação da sua identidade. Ela desvendou ainda correlação significante e positiva entre a variável autoaceitação e satisfação corporal. Verificou também que o nível de escolaridade se correlaciona significante e positivamente com o fator sentimentos e crenças de capacidade. Esses achados foram essenciais para confirmar a validade convergente da nova escala. A principal funcionalidade do estudo foi propiciar aos profissionais da saúde um instrumento válido e preciso para conhecerem melhor a autoaceitação de pessoas que não enxergam desde idades precoces, para uma intervenção mais eficiente. “A ideia é contar com profissionais mais preparados. Conhecendo melhor os alunos/pacientes com cegueira, é possível um atendimento mais adequado”, realça Fabiane. “Esperamos contribuir para o avanço na avaliação da imagem corporal, permitindo a ampliação consistente do conhecimento na área e favorecendo a inclusão de pessoas com cegueira nesses estudos”.

INSTRUMENTALIZAÇÃO De acordo com a autora, até hoje os estudos sobre imagem corporal de pessoas com deficiência visual são muito escassos e uma das prováveis razões é a ausência de instrumentos válidos e precisos para essa avaliação. De fato, a preocupação da pesquisadora em criar instrumentalização apropriada para investigações sistemáticas da imagem corporal de pessoas com cegueira tem sido recorrente desde 2008, quando iniciou o mestrado. A pesquisadora criou e conferiu as qualidades psicométricas de uma Escala de Silhuetas Tridimensionais (EST). A EST é composta de 18 bonecos tridimensionais, confeccionados em gesso, com diferentes dimensões e formas corporais, que oscilam do mais magro ao mais obeso. São nove modelos femininos e nove masculinos, todos numerados de 1 (mais magro) a 9 (mais obeso). Essa escala visa observar a insatisfação corporal de pessoas com cegueira congênita. O sujeito escolhe um boneco que melhor representa o corpo que considera real e outro que representa o corpo ideal. Quanto maior a discrepância entre o número do boneco selecionado como real e ideal, maior é a medida de insatisfação corporal.

No caso, a pesquisadora teve uma preocupação de criar um instrumento que valorizasse um dos principais modos da pessoa com cegueira obter informações sobre o meio que a cerca. “Gostaríamos de lhe oferecer a chance de participar de estudos com um instrumento que correspondesse à sua forma de se relacionar com o mundo: o instrumento tátil, que, naquela época, pensávamos que poderia ser apropriado, e depois confirmamos que realmente era, sobretudo para as mulheres”. Os bonecos da escala feminina tiveram bons indícios de validade e confiabilidade interna, enquanto que os modelos masculinos não. Fabiane arrisca algumas hipóteses porque esse modelo não teve a mesma qualidade psicométrica do feminino. Uma das especulações é que o ideal de corpo belo na literatura, para homens, é o corpo musculoso, e não o corpo magro, como comumente apontado para mulheres. A EST varia em dimensão de gordura. Por conseguinte, o que se pretende, no futuro, é testar formas de escala de silhueta para homens com cegueira que possam variar em dimensão de musculatura corporal. Há ainda outras especulações como a forma artesanal com que esses bonecos foram confeccionados, o que pode ter interferido na qualidade dos modelos para homens. Por outro lado, a escala também não foi criada a partir de medidas antropométricas reais de corpos humanos e sim fundadas na avaliação subjetiva da artista plástica. Mesmo assim, a doutoranda admite que tanto a EST quanto a EAC foram um avanço para analisar traços da imagem corporal da pessoa com cegueira. E poderão colaborar para ampliar o conhecimento sobre a imagem corporal de pessoas que não enxergam desde idades precoces. Como? Tornando viáveis investigações sistemáticas que possibilitem o entendimento mais aprofundado sobre os fatores potenciais do desenvolvimento e manutenção da insatisfação (EST) e autoaceitação (EAC) na população com cegueira. Tal conhecimento poderia ser utilizado por diferentes profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e, em especial, de educação física, no momento de propor estratégias de intervenção adequadas e consistentes. Conforme Fabiane, as duas escalas permitem que esses profissionais acompanhem o impacto da sua intervenção, ajustando-as mediante a necessidade de cada aluno com cegueira congênita ou precoce. “Para o profissional de educação física, esse acompanhamento é inestimável, pois há indícios na literatura de que a atividade física, com enfoque no bem-estar, é uma precursora fundamental de maiores níveis de autoaceitação e menores níveis de insatisfação corporal.” Ademais, a atividade física é um valioso elemento terapêutico e de manutenção da autoaceitação e de satisfação corporal para pessoas com deficiência, principalmente por lhes possibilitar uma agradável relação com o próprio corpo, colaborando para o desenvolvimento integrado, saudável e positivo de sua imagem corporal.

Publicações Tese:“Caracterização bioquímica e compostos bioativos de macaúba (acrocomia aculeata (jacq.) lodd. ex mart.)” Autora: Priscila Becker Siqueira Orientação: Gabriela Alves Macedo Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)


10

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

aa c dêi ma c

Painel da semana  Minicurso e palestra com Pablo Piccato - Debate sobre educação comparada – No dia 25 de março, às 14 horas, a Faculdade de Educação (FE) da Unicamp recebe os professores Robert Cowen, da Universidade de Londres, e Andreas Kazamias, da Universidade de Wisconsin. Eles participam de uma sessão de diálogos sobre Educação Comparada e Formação de Professores. O evento acontece no Salão Nobre da FE. Na oportunidade, os convidados debaterão o livro “Educação Comparada: panorama internacional e perspectivas”, organizada por eles. Também participarão do diálogo as professoras da FE Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (Gepes), e Débora Jeffrey, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (Gepeja). O evento é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Educação e da Secretaria de Pesquisa da FE em parceria com o Instituto de Educação da Universidade de Londres. A Unesco e a Capes são apoiadores.  Diálogos em Linguística Aplicada – O encontro Produção de Textos faz parte do II Ciclo de Diálogos em Linguística Aplicada e acontece no dia 27 de março, às 9h30, no anfiteatro do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). No evento, a professora Elisabeth Marcushi (Universidade Federal de Pernambuco) aborda “Variações em torno de um mesmo gênero: o caso das memórias literárias”. Em outra palestra, a professora Delaine Cafiero Bicalho (Universidade Federal de Minas Gerais) discute “Ensinar a produzir textos: uma experiência com sequência didática”. O Ciclo Diálogos em Linguística Aplicada é organizado pelos professores Petrilson Alan Pinheiro da Silva e Márcia Rodrigues de Souza Mendonça. Mais informações no site do evento: http://www.iel.unicamp.br/destaques/ nota312.php ou telefone 19-3521-1520  A Paixão de Cristo no CIS-Guanabara – O espetáculo Paixão de Cristo será apresentado no CIS-Guanabara (Rua Mário Siqueira, 829, Botafogo) nos dias 28 e 29 de março, a partir das 20h30. A entrada é franca, com estacionamento no local. A encenação tem como principal objetivo proporcionar à população de Campinas um espetáculo de alto nível, que reúne cerca de 300 integrantes, entre atores profissionais e amadores, contando a mais bela história da humanidade. O trabalho busca ainda desenvolver um programa integrado que permite relacionar o cotidiano da população com

representação ativa, por meio do teatro, para o público e para os participantes como figurantes e atores, contribuindo para a ampliação do horizonte cultural por meio do contato com a dramaturgia. Mais informações pelo telefone (19) 3233-7801. Conheça o site do CIS (http://www.cisguanabara.unicamp.br/).  Processo seletivo para diretor do Museu – O Museu Exploratório de Ciências da Unicamp abre processo seletivo para a escolha do seu novo diretor. Podem concorrer ao cargo docentes e pesquisadores em exercício. O mandato será de três anos. Essa escolha será feita pelo reitor da Universidade a partir de lista tríplice elaborada pelo Conselho Superior do Museu. A importância da função é reconhecida pela Universidade através de gratificação compatível (GR 06). Para os interessados, será feita uma apresentação no próprio Museu. Duas datas estão pré-agendadas: sexta-feira (29 de março) e terça-feira (2 de abril). É necessário confirmar presença com o assistente técnico do Museu, Elias Paulino, através do e-mail elias@ reitoria.unicamp.br. Mais informações pelo telefone (19) 3521-1810.  Revista Rua recebe trabalhos até 31 – A Revista Rua está selecionando trabalhos a serem publicados nas edições 19(1) ou 19(II). O prazo para o envio termina em 31 de março. Rua é uma publicação multidisciplinar e seu tema principal é a cidade. A publicação está sob a responsabilidade do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) do Núcleo de Estudos da Criatividade (Nudecri). A revista foi lançada em 1995 e possui 13 números publicados com periodicidade anual. A partir de 2008, com a sua migração para formato eletrônico, passou a ser uma publicação semestral. O objetivo principal de Rua é abrir espaço para abordagens de diferentes áreas do conhecimento, que tomem o espaço urbano como objeto de estudo. A publicação é dividida em seções: Estudos, com artigos acadêmicos; Artes, com manifestações artísticas de diversas naturezas; Notícias e Resenhas, com as notícias das atividades desenvolvidas e resenha de obras interessantes para as diversas áreas do conhecimento. As normas de publicação encontram-se no link http://www.labeurb.unicamp.br/rua.

ABRIL  Processo seletivo para bolsas de iniciação científica – De 1 a 14 de abril, serão efetuadas as inscrições para o processo seletivo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic)/CNPq, Pibic-AF, Pibiti e SAE/Unicamp exclusivamente através da página da Pró-Reitoria de Pesquisa.  TEDxUnicampChange debaterá Rompimento Positivo – No dia 3 de abril, às 14 horas, a Unicamp sediará mais uma conferência da TEDxUnicampChange. Organizado pelo NICS (Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora), o evento reunirá palestrantes para discutir o Rompimento Positivo. A mesma temática será debatida simultaneamente em vários países, nos moldes do TED. Para mais informações consulte o site do evento, ou entre em contato pelo telefone 3521-7923 ou e-mail beth@nics.unicamp.br.  Fórum de Ensino Superior - O Fórum Permanente de Ensino Superior “Seminário de metodologias ativas” ocorre no dia 4 de abril, às 9 horas, na Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp em Limeira-SP. A organização é do professor Jaime Portugheis (FT). Inscrições e outras informações no link ou telefone (19) 3521-4759. Prêmio Nobel de Medicina visita FCM – Louis Joseph Ignarro, farmacologista norte-americano e prêmio Nobel de Medicina de 1998, ministra palestra no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp no dia 4 de abril, às 15h30, sobre “O caminho para Copenhage”. O evento faz parte das comemorações dos 50 anos da Faculdade. Ignarro foi contemplado com o prêmio pela descoberta que levou ao desenvolvimento de medicamentos que atuam na dilatação dos vasos sanguíneos, dentre eles o Viagra, que tem o óxido nítrico como peça-chave. A palestra tem entrada franca. Mais informações pelo telefone (19) 3521-8968 ou pelo e-mail divulga@fcm.unicamp.br.  Fronteiras do planejamento em C&Ti – O Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia “Fronteiras do planejamento em ciência, tecnologia e inovação” acontece no dia 5 de abril, às 9 horas, na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA). A organização é da professora Adriana Bin. Mais detalhes pelo telefone (19) 3521-4759.

Teses da semana  Educação Física - “Análise do desempenho muscular do quadríceps e dos isquiotibiais em função da série temporal e da amplitude de movimento de atletas amadoras de futsal feminino” (mestrado). Candidata: Ana Carolina de Mello Alves Junior. Orientador: professor Sergio Augusto Cunha. Dia 27 de março de 2013, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Projeto e análise de desempenho de simulador para canais de desvanecimento Nakagami-m” (mestrado). Candidato: Bernardo Vieira Teixeira. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 2 de abril de 2013, às 14 horas, na sala PE 12 do prédio da CPG da FEEC. “Propostas para modelagem computacional de séries temporais e de sistemas multivariáveis variantes no tempo no espaço de estado” (mestrado). Candidata: Johanna Belen Tobar Quevedo. Orientador: professor Celso Pascoli Bottura. Dia 4 de abril de 2013, às 14 horas, na sala PE-12 do prédio da CPG da FEEC. “Priorização de tarefas e otimização do diagrama de arranjo de antenas em radares cognitivos multifuncionais” (mestrado). Candidato: Bruno Suarez Pompeo. Orientador: professor Rafael Santos Mendes. Dia 5 de abril de 2013, às 9 horas, na sala de teses do prédio da CPG da FEEC.

Sergio Roberto Peres Line. Dia 28 de março de 2013, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP.  Biologia - “Caracterização dos efeitos locais e sistémicos da metaloprotease BtaHF purificada a partir do veneno total de Bothriopsis taeniata” (doutorado). Candidato: Frank Denis Torres Huaco. Orientador: professor Sergio Marangoni. Dia 25 de março de 2013, às 14 horas, na sala de defesa de teses do Prédio da CPG do IB.  Computação - “Semi-automatic classification of remote sensing images” (doutorado). Candidato: Jefersson Alex dos Santos. Orientador: professor Ricardo da Silva Torres. Dia 25 de março de 2013, às 11 horas, no auditório IC.  Estudos da Linguagem - “Um estudo sobre a fonologia da língua mastanawa (pano)” (mestrado). Candidato: Eclenir da Silva. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 26 de março de 2013, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “’Em briga de marido e mulher ninguém mete... o garfo’: estudo discursivo da produção de parafasias literais e semânticas” (mestrado). Candidata: Thalita Cristina Souza Cruz. Orientadora: professora Rosana do Carmo Novaes Pinto. Dia 27 de março de 2013, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “O vazio como método” (doutorado). Candidato: Marco Aurélio Pinotti Catalão. Orientadora: professora Miriam Viviana Gárate. Dia 28 de março de 2013, às 15 horas, na sala de defesa de teses do IEL.

“Relaxação via barreira logarítmica modificada aplicada ao problema de fluxo de potência ótimo CC com sobrecargas” (doutorado). Candidato: Mayk Vieira Coelho. Orientador: professor Anésio dos Santos Júnior. Dia 5 de abril de 2013, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC.

 Filosofia e Ciências Humanas - “O cultivo dos comuns: Parentesco e práticas sociais em Milot, Haiti” (mestrado). Candidato: Rodrigo Charafeddine Bulamah. Orientador: professor Omar Ribeiro Thomaz. Dia 26 de março de 2013, às 14 horas, na sala de teses do prédio da Pós-graduação do IFCH.

 Engenharia de Alimentos - “Aplicação de espectroscopia no infravermelho e análise multivariada para previsão de parâmetros de qualidade em soja e quinoa” (doutorado). Candidata: Daniela Souza Ferreira. Orientadora: professora Juliana Azevedo Lima Pallone. Dia 27 de março de 2013, às 9 horas, no salão nobre da FEA.

“Plano de ação para a valorização do patrimônio cultural do município de Jacareí” (doutorado). Candidata: Dilene Zaparoli. Orientador: professor Pedro Paulo Abreu Funari. Dia 27 de março de 2013, às 15 horas, no IFCH.

 Engenharia Química - “Encapsulação, estabilidade e absorção intestinal ex vivo do mitotano eacêmico em nanopartículas lipídicas sólidas” (mestrado). Candidata: Carolina Ribeiro Camerin. Orientadora: professora Maria Helena Andrade Santana. Dia 26 de março de 2013, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Polimerização em massa para a síntese de nanocompósitos poliméricos usando hidroxissais lamelares (HSLs)” (mestrado). Candidata: Samara Boaventura de Moraes. Orientadora: professora Liliane Maria Ferrareso Lona. Dia 27 de março de 2013, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.

“Da vida santificada: A moralidade do caminho estreito” (doutorado). Candidato: Delcides Marques. Orientador: professor Ronaldo Rômulo Machado de Almeida. Dia 4 de abril de 2013, às 14 horas, no IFCH.  Física - “Plataforma fotônica integrada e suas aplicações em estudos de quantum dotz e processos biológicos” (doutorado). Candidato: André Alexandre de Thomaz Moreira. Orientador: professor Carlos Lenz Cesar. Dia 27 de março de 2013, às 13h30, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Enviroment-induced anisotropy and the sensitivity of the radical pair mechanism in the avian compass” (mestrado). Candidato: Alejandro Carrillo Lozada. Orientador: professor Marcos Cesar de Oliveira. Dia 4 de abril de 2013, às 10 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.

 Odontologia - “Avaliação clínica do tratamento cirúrgico e não cirúrgico de pacientes com periodontite agressiva” (mestrado). Candidata: Camila Camarinha da Silva Cirino. Orientador: professor Antonio Wilson Sallum. Dia 25 de março de 2013, às 8h30, na sala da Congregação da FOP.

“Discos relativísticos auto-gravitantes: aspectos de estabilidade e integrabilidade” (mestrado). Candidata: Vanessa Pacheco de Freitas. Orientador: professor Alberto Vazquez Saa. Dia 5 de abril de 2013, às 9 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.

“Análise dos efeitos da terapia fotodinâmica, da clorexidina e do iodo povidine na periodontite induzida em ratos: estudos histológico e microbiológico” (mestrado). Candidata: Vivene Santana Barbosa. Orientador: professor Antonio Wilson Sallum. Dia 27 de março de 2013, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP.

 Geociências - “Reconstruindo as florestas tropicais úmidas do eocenooligoceno do sudeste do Brasil (bacias de Fonseca e Gandarela, Minas Gerais) com folhas de fabaceae, myrtaceae e outras angiospermas: origens da mata atlântica” (doutorado). Candidato: Jean Carlo Mari Fanton. Orientadora: professora Frésia Soledad Ricardi Torres Branco. Dia 27 de março de 2013, às 14 horas, no auditório do IG.

“Avaliação in vitro da produção de colágeno tipo І por odontoblastos MDPC-23 e fibroblastos 3t3 após contato direto e indireto com bactérias relacionadas à cárie dental e infecções endodônticas” (mestrado). Candidata: Claudia Leal Sampaio Suzuki. Orientador: professor Alexandre Augusto Zaia. Dia 27 de março de 2013, às 13h30, no anfiteatro 3 da FOP. “Retalho posicionado coronariamente associado ou não a matriz de colágeno (Mucograft®) no tratamento de retrações gengivais classe I e II de Miller: um estudo clínico controlado randomizado” (mestrado). Candidata: Ana Regina Oliveira Moreira. Orientador: professor Enilson Antonio Sallum. Dia 27 de março de 2013, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Parâmetros bioinformáticos do contexto genômico como preditores do efeito funcional de substituições pontuais na sequência 5’ utr em genes humanos” (mestrado). Candidato: Eduardo Aracanjo Urioste. Orientador: professor

 Matemática, Estatística e Computação Científica - “Métodos de otimização de terceira ordem” (mestrado). Candidata: Daiane Gonçalves Ferreira. Orientadora: professora Margarida Pinheiro Mello. Dia 27 de março de 2013, às 14 horas, na sala 253 do IMECC. “Super álgebras de funções” (mestrado). Candidato: Lucas Henrique de Calixto. Orientador: professor Adriano Adrega de Moura. Dia 5 de abril de 2013, às 10 horas, na sala 253 do IMECC.  Química - “Papel mineral (i-papel) como substrato para a produção de nanocompósitos funcionais organo-inorgânicos” (doutorado). Candidata: Rafaella Oliveira do Nascimento. Orientador: professor Oswaldo Luiz Alves. Dia 3 de abril de 2013, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

Destaque do Portal

Procedimentos do Faepex agora são informatizados MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp acaba de informatizar os procedimentos relativos ao Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e Extensão (Faepex). Batizada de Faepex-On line, a plataforma já está em operação. De acordo Ronaldo Aloise Pilli, pró-reitor de Pesquisa, a migração do sistema convencional, em papel, para o eletrônico será feita em etapas. “Inicialmente, apenas os pedidos nas modalidades Auxílio à Pesquisa e Auxílio à Viagem, que estão inseridos na ‘Linha Pesquisa’ e que atualmente perfazem aproximadamente 75% do total de submissões, poderão ser feitos pelo Faepex-On line. Em breve, porém, todas as demandas destinadas ao Fundo serão registradas eletronicamente”, informa. Entre 2009 e 2012, o Faepex registrou um aumento de 40% no número de solicitações, que passaram de 950 para cerca de 1.350. Momentaneamente, conforme Pilli, as solicitações de Auxílio à Pesquisa e Auxílio à Viagem continuarão sendo aceitas também em papel. “O procedimento deve prevalecer durante um dado período, para que os usuários possam se familiarizar com o Faepex-On line. Entretanto, nós queremos encorajar os solicitantes a já utilizarem a nova plataforma, pois dentro de algum tempo ela será a única ferramenta disponível para essa finalidade”, afirma. O pró-reitor de Pesquisa explica que a informatização dos pedidos de financiamento trará diversas vantagens. A primeira delas é tornar mais ágil o trâmite das submissões. Pilli explica que o sistema impede o registro da solicitação caso o prazo tenha expirado ou falte alguma informação. “No

sistema convencional, nós só tínhamos condição de constatar a falta de um documento, por exemplo, no momento da análise. Isso nos obrigava a devolver o processo ao solicitante, para que ele atendesse à exigência. Com a informatização, esse problema não ocorrerá mais”. Outro ponto positivo é que a informatização deverá tornar a tomada de decisão mais qualificada. “Como o prazo de tramitação deverá ser reduzido, nós poderemos pedir o parecer de mais de um assessor acerca de uma determinada solicitação. Além disso, esses pareceristas terão como acessar as submissões e registrar suas decisões através da própria plataforma eletrônica, independentemente de onde estejam. No sistema em papel, caso estivessem em viagem, eles não teriam como fazer esse trabalho”, detalha o pró-reitor de Pesquisa. De acordo com o assessor da PRP, professor Eduardo Miranda, que coordenou a implantação do Faepex-On line, o solicitante terá acesso à plataforma através do mesmo nome de usuário e senha utilizados para entrar no sistema de Controle Acadêmico da Universidade, que é utilizado para registrar notas e frequências nas disciplinas. Miranda explica que os trabalhos com vistas à informatização dos procedimentos relativos ao Faepex tiveram início em 2011. Uma empresa foi contratada para construir a plataforma eletrônica, com a orientação de uma equipe da PRP. No final de 2012, o sistema, que tem alto grau de complexidade, ficou pronto. No começo deste ano, foram feitos os primeiros testes. “Assim que o Faepex-On line demonstrou um bom desempenho, decidimos colocá-lo no ar. Fizemos um exaustivo esforço para corrigir as falhas que surgiram.

Entretanto, se os usuários identificarem algum problema, basta que nos comuniquem, para que possamos corrigi-lo”, informa. O contato pode ser feito por este e-mail: prpfaepex@reitoria.unicamp.br. Conforme o assessor da PRP, ainda não há prazos para que as demais modalidades sejam inseridas no Faepex-On line, mas a próxima provavelmente será a Auxílio-Ponte. Miranda revelou que em apenas um dia de operação a plataforma registrou a primeira solicitação, enquanto outras três estavam em andamento. “Isso é um bom sinal, pois incida que o sistema está sendo considerado inteligível pelos usuários”. O docente destacou outros pontos que considera positivos acerca da informatização. De acordo com ele, existe um elevado grau de segurança do sistema, que se vale das mesmas certificações do Controle Acadêmico da Universidade. Ademais, continua Miranda, o FaepexOn line também facilitará a elaboração de relatórios por parte da PRP, visto que quaisquer dados poderão ser acessados por meio de poucos clicks. “Isso sem falar na facilidade para armazenar as informações. Atualmente, os processos ficam guardados em pastas. Agora, eles passarão a ser gravados em discos eletrônicos”, pondera. Na opinião do pró-reitor de Pesquisa, em função das facilidades criadas, o Faepex-Online poderá servir de modelo para outras áreas da administração da Universidade.

O QUE É O Faepex tem por finalidade prover recursos para o incentivo e o apoio de projetos e atividades de ensino, pesquisa e extensão que contribuam para o enriquecimento da vida acadêmica. O Fundo, que está estru-

Foto: Antoninho Perri

O pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Aloise Pilli: informatização vai trazer vantagens

turado em quatro áreas (Tecnológicas, Biomédicas, Exatas e Humanas), é coordenado pelo Conselho de Orientação. Este apresenta ao Conselho Universitário (Consu) um relatório das atividades desenvolvidas no ano anterior. A Comissão Executiva é constituída pelos pró-reitores de Pesquisa, Extensão e Assuntos Comunitários e Graduação, além de oito docentes, sendo dois representantes e um suplente para cada uma das áreas. Eles são responsáveis por deliberar pela aprovação dos projetos submetidos ao Faepex, baseados em pareceres fornecidos por assessores Ad hoc. O Faepex possui três grandes linhas de concessões. São elas: Linha Pesquisa, Linha Ensino e Linha Extensão. A Linha Ensino dá suporte às atividades de Apoio Didático e Projetos de Aprimoramento de Atividades de Ensino. A Linha Pesquisa, por sua vez, contempla Auxílios à Pesquisa, Auxílios a Viagens, bolsa Auxílio-Ponte, Programa Ciência e Arte nas Férias e Auxílios à Pesquisa para Docentes em Início de Carreira (PAPDIC). A Linha Extensão contempla auxílios a Projetos de Pesquisa Comunitária, Auxílio à Promoção de Reuniões Científicas, Auxílio à vinda de Professores Visitantes, entre outros.


11

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Game é utilizado em atividades de crianças com paralisia cerebral Fisioterapeuta investiga resultados decorrentes do uso de jogos na função motora Fotos: Antonio Scarpinetti

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

desenvolvimento tecnológico tem permitido a utilização cada vez maior de sistemas de jogos de realidade virtual especificamente concebidos para a instrumentação e complementação de processos empregados nas terapias destinadas ao desenvolvimento ou recuperação de habilidades motoras. Estudos têm comprovado que esses equipamentos auxiliam no desenvolvimento de novos programas motores no cérebro, que permitem que o indivíduo com algum comprometimento cerebral consiga aprender e desenvolver determinados movimentos funcionais. A constatação desses benefícios tem levado fisioterapeutas a adotar jogos virtuais de uso convencional para o desenvolvimento de programas motores cerebrais que, aplicados ao longo do tempo, possam permitir aprendizados motores nas pessoas com paralisias cerebrais.

CONCLUSÕES No período máximo de três meses, em 20 sessões, em que as crianças foram submetidas à Wiiterapia notou-se melhora na função motora grossa envolvendo movimentos realizados no dia a dia, porém estes resultados não foram estatisticamente significantes. No teste em que se pretendeu verificar quanto a criança oscila para os lados e para frente e para trás na postura em pé, constatou-se que no grupo de fisioterapia ocorreu um aumento dessa oscilação enquanto o grupo do Wii conseguiu apresentar melhora, ou seja, redução da oscilação corporal. Constatou-se ainda que nesse período nenhum dos grupos apresentou melhora no alinhamento postural e nem alteração na distribuição da carga corporal nos pés, pois em geral essas crianças apresentam uma carga maior na parte anterior dos pés, além de maior concentração de peso em um deles.

Resultados promissores têm motivado pesquisadores a analisarem o uso do videogame Nintendo Wii em terapia sensóriomotora em vista de seu pioneirismo na nova geração de games a utilizar sistema de realidade virtual para promover movimentos corporais. Apesar de amplamente utilizado no Brasil em clínicas e ambulatórios de fisioterapia de diversas áreas, particularmente a neurológica, verifica-se a escassez de estudos que comprovem os efeitos desse tipo de intervenção na população com paralisia cerebral (PC). Estas constatações levaram a fisioterapeuta Poliana Chiemi Yamagute Costa a se propor a estudar os resultados decorrentes do uso do Nintendo Wii como atividade motora complementar nos portadores de Paralisia Cerebral Espástica Diparética. Para estes casos ela entende que esta abordagem, conhecida como Wiireabilitação, só pode ser considerada método terapêutico eficaz se baseado em evidências que revelem seus reais efeitos. Em vista disso, o seu trabalho teve como objetivo analisar as mudanças que o uso do sistema de realidade virtual Nintendo Wii pode provocar, quando associado à fisioterapia convencional, na função motora grossa, mais especificamente, no alinhamento postural e nos equilíbrios estático e dinâmico de crianças e adolescentes com PC diparética com marcha independente, ou seja, capazes de caminhar sem suporte externo. Inserido dentro de uma linha de pesquisa desenvolvida no Laboratório de Atividade Motora Adaptada (LAMA), em conjunto com o antigo Laboratório de Avaliação Postural e Eletromiografia, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, o trabalho experimental foi realizado, durante três meses, junto a doze crianças de oito a quinze anos de ambos os sexos que vinham sendo submetidas à terapia convencional no Ambulatório de Fisioterapia em Neurologia Infantil do Hospital de Clínicas da Unicamp. Embora essa ferramenta seja bastante utilizada, o estudo orientado pelo professor Edison Duarte, segundo a pesquisadora, é o primeiro realizado sobre o tema no Brasil. A Paralisia Cerebral (PC) acomete pessoas que sofreram algum tipo de lesão cerebral que desencadeia problemas motores que podem atingir diferentes e várias partes do corpo. Constitui a desordem de maior prevalência que acomete a função motora de crianças e interfere em suas atividades diárias, o que a torna foco de pesquisas na área de reabilitação neuromotora. No caso estudado, a PC espástica, as crianças apresentam aumento do tônus muscular, fraqueza muscular e comprometimento do controle motor seletivo, gerando alteração de movimento e deformidades articulares como, por exemplo, rigidez nos pés. A forma diparética atinge mais o tronco e os membros inferiores, mas seus portadores conseguem desempenhar movimentos mais complexos, embora não disponham de força muscular suficiente para um controle adequado, o que acarreta déficit de equilíbrio e controle postural.

aspectos influiria na mudança da função motora grossa, porque melhoras na postura e no equilíbrio não necessariamente determinam mudanças nas diversas habilidades da função motora grossa. O desalinhamento postural se manifesta pelo andar mais agachado ou em ponta de pé e pela inclinação maior do corpo para um dos lados, o que gera desequilíbrio”.

A fisioterapeuta Poliana Chiemi Yamagute Costa durante teste em laboratório da FEF: analisando os efeitos da Wiireabilitação

EXPLICAÇÕES As lesões cerebrais que afetam as crianças e geram PC são basicamente de três tipos: a pré-natal, que ocorre durante a gravidez e pode ser decorrente de problemas orgânicos da gestante ou de fatores externos como infecções; a perinatal, devido a intercorrências durante o parto; e a pós-natal, que pode se manifestar até dois anos após o parto, e devida a algum acidente com a criança que gere falta de oxigenação do cérebro. A lesão do cérebro gera comprometimentos neuromusculares e musculoesqueléticos. O comprometimento neuromuscular ocorre pelo fato de o comando do cérebro não ativar adequadamente os músculos provocando em decorrência, com o tempo, modificações nas fibras musculares que desencadeiam comprometimentos musculoesqueléticos. Constituem exemplos as crianças que exibem deformidades, que se manifestam em geral primeiramente nos pés, o que as leva a andar na ponta deles ou em agachamento, ou seja, com os pés fletidos. Em vista desse mecanismo, o controle postural torna-se deficitário e altera o desempenho de habilidades motoras, como controle do equilíbrio, por exemplo, explica a autora. São essas duas necessidades que a terapia procura suprir.

A utilização de sistemas de realidade virtual especificamente desenvolvidos tem servido mais para uso em pesquisas de laboratório para trabalhar problemas específicos como, por exemplo, o controle motor seletivo. Eles são utilizados para treino de movimentos funcionais como pegar um determinado objeto. Para o desenvolvimento desses tipos de funções, os sistemas virtuais desenvolvidos são mais complexos e sofisticados que os utilizados em videogames. Os exercícios que eles propõem geram mudanças no cérebro que permitem o aprendizado de determinadas tarefas. A conjunção de movimentos propostos pelos jogos virtuais com a visualização simultânea destes movimentos ativa o sistema de neurônios-espelho no cérebro, facilitando a construção de programas motores, ou seja, o aprendizado de novos movimentos. Em vista disso, a fisioterapia busca utilizar os métodos mais adequados para o enfrentamento dos déficits apresentados pelos pacientes.

A PESQUISA Para efeito comparativo, Poliana distribuiu as doze crianças em grupos de seis, submetendo um deles a apenas a terapia convencional e o outro a fisioterapia e à Wiireabilitação. Ela comparou então o desenvolvimento da função motora grossa nesses dois grupos, que é muito trabalhada na fisioterapia convencional. A função motora grossa envolve o dia a dia funcional de uma criança: descer e subir escadas, levantar e sentar, equilibrar-se em pé e em um só pé, por exemplo. A pesquisadora explica seu foco: “Nos dois grupos procurei avaliar o alinhamento postural e o equilíbrio e se a melhora nesses dois

A ideia inicial da pesquisa de Poliana era o de obter resultados que corroborassem a eficácia do emprego do Wiireabilitação como ferramenta de apoio na fisioterapia de crianças com PC Espástica Diparética. Surpreendeu-a o fato de que, embora o método seja muito utilizado no Brasil e no mundo, não existam evidências que justifiquem o seu emprego para os objetivos a que se propõe. Pelo menos quanto à sua utilização pelo período de dois a três meses, com o emprego de duas sessões semanais. Talvez, ressalva ela, o método possa proporcionar mais benefícios se aplicado durante mais vezes por semana ou por período maior. E enfatiza: “Isso precisaria ser avaliado por outras pesquisas. Os meus resultados me permitem afirmar que as mudanças observadas foram a melhora significativa do equilíbrio estático e a melhora da função motora grossa. Se o objetivo da terapia é o de melhorar esse equilíbrio e a função motora grossa, a ferramenta é indicada, mas para modificar o alinhamento postural e o equilíbrio dinâmico recomenda-se a utilização de outros métodos. É sabido, entretanto, que o processo traz benefícios para diversos tipos de disfunções motoras”. A hipótese inicial do estudo era a de que trabalhando simultaneamente com a terapia convencional e a Wiireabilitação ocorresse melhora maior tanto de equilíbrio estático e dinâmico, quanto de alinhamento postural, quanto de função motora grossa em relação ao grupo que só fizesse terapia convencional. Na verdade verificou-se a melhora do equilíbrio estático e da função motora grossa. Entretanto, ela sugere que “esta intervenção seja utilizada como adjunto terapêutico, notando-se a necessidade de associá-la com treinamento de alinhamento postural e fortalecimento muscular isolados, fatores fundamentais para otimizar o controle postural e permitir estratégias de movimento adequadas”.

Publicações Dissertação: “Avaliação e intervenção: análise dos efeitos da Wiireabilitação em crianças e adolescentes com Paralisia Cerebral Espástica Diparética” Autora: Poliana Chiemi Yamagute Costa Orientador: Edison Duarte Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)


12

Campinas, 25 de março a 7 de abril de 2013

Entre o sacro e o pictórico ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ão seria um exagero dizer que o artista plástico Fulvio Pennacchi (1905-1992) era um italiano de alma brasileira. Nasceu naquele país, formou-se no Curso Superior de Belas Artes, em Lucca, mas veio ao Brasil em 1929, onde passou o resto de seus dias. Escolheu viver na cidade de São Paulo. Sua infância na “terra do Renascimento” foi marcada por sólida educação religiosa católica. Na dissertação de mestrado da museóloga Maria Marta van Langendonck Teixeira de Freitas, apresentada ao Instituto de Artes (IA) sob orientação do professor Jens Michael Baumgarten, essa influência não passou despercebida. A autora concluiu que, ao não abdicar de sua linguagem artística, Pennacchi aliou a tradição iconográfica religiosa à linguagem de sua época, sem, no entanto, perder de vista o fim que uma obra religiosa deve ter para a doutrina católica. “A sua arte esteve a serviço da transposição da história bíblica ou dos santos para o espaço pictórico e da transmissão de sua mensagem intrínseca – moral e religiosa –, tornando possível o moderno e o religioso numa mesma instância”, revela. Prova disso são os seus afrescos (pintura executada sobre uma base de gesso ou nata de cal ainda úmida na qual o artista aplica pigmentos puros diluídos somente em água), que hoje estão dispostos em várias partes da capital paulista: na parede do altar da capela do HC de São Paulo, na Igreja e no Convento de Nossa Senhora da Paz, na Capela da Vila São Francisco, na Igreja do Orfanato Cristóvão Colombo, na Liga das Senhoras Católicas e na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, entre outros. O artista manteve-se fiel ao figurativismo, que representa com realismo a natureza, a forma humana e os objetos criados pelo homem. Suas contribuições foram inestimáveis para a arte de São Paulo e participou do Grupo Santa Helena, da década de 30, uma reunião de amigos que auxiliava os artistas na questão financeira da divisão de custos, câmbio de experiências e inserção na sociedade paulistana.

ARTE RELIGIOSA Na sua dissertação, denominada “A pintura religiosa de Fulvio Pennacchi (1930-1945)”, Maria Marta abordou somente as pinturas do artista que traziam uma mensagem de cunho religioso, não as paisagens e os retratos. No período avaliado, observaram-se, por exemplo, pinturas que continham uma linguagem artística ligada ao Novecento, período que fez parte de um movimento maior na Europa denominado Retorno à Ordem. O que foi isso? Foi um fenômeno artístico que ocorreu entre as duas grandes guerras na Itália e que primava por resgatar os valores tradicionais, clássicos e nacionais da arte – um retorno à tradição clássica italiana dos séculos XIV e XV, em oposição aos questionamentos de ordem estética e artística das vanguardas históricas. A museóloga analisou as obras religiosas de Pennacchi e como se deu no artista a construção do espaço, o uso da cor e da luz, e a concepção do desenho. Também analisou o contexto dessas obras dentro do pensamento da época e do contexto histórico, social e artístico de São Paulo. À Maria Marta não escapou um olhar crítico. Ao estudar os temas Anunciação, Fuga para o Egito, Madona com o menino e os santos São Francisco de Assis e Santo Antônio de Pádua em sua produção artística, para a

museóloga ficou claro que Pennacchi retratou uma dimensão espiritual no espaço pictórico com recorrência, envolvendo as histórias bíblicas ou os santos, tidas como exemplos e virtudes, ao mesmo tempo que refletiu sua vida e personalidade. “A dedicação às pinturas religiosas, de certa forma, produziam-lhe sossego e descanso, diante dos próprios obstáculos de adaptação à realidade paulistana: para encontrar trabalho, dificuldades de ordem financeira e como imigrante, além da solidão”, verifica a pesquisadora. Outra observação feita por ela foi que a apropriação da tradição iconográfica e da técnica usada pelos artistas toscanos do século XIV e XV ficou evidente na criação do desenho, na construção do espaço, no uso das cores e da luz nas pinturas de Pennacchi. Isso apareceu nas composições marcadas por um desenho preciso, linhas e contornos que definem a forma, uso de um colorido sóbrio (com predominância do ocre) e quase ausência de contrastes. Os gestos das figuras eram codificados e as posições definidas consoante à tradição iconográfica italiana. “São obras com ausência de detalhes para além do necessário à caracterização do episódio, o tratamento atemporal da história e o aspecto idealizante das figuras”, descreve Maria Marta. O uso da tradição iconográfica [formas de representação do tema que, continuamente reiteradas, se fazem conhecidas do grande público] foi a solução que o artista achou para transpor tal história. “Mas isso não diminui a sua obra nem o seu papel de artista”, garante a autora do estudo. A consequência é uma arte despojada de virtuosismo e da pessoa do artista em favor da obra de arte que realizou e da mensagem moral e religiosa que pretendia passar. “Pennacchi trabalhava com a arte no limite entre uma arte de cunho pessoal e confessional, e uma arte de cunho informativo e até mesmo doutrinário.” A pesquisadora explica que a vida e a personalidade de Pennacchi em sua arte nem sempre era perceptível ao observador que desconhecia o fato. “Ocorre a transposição de uma história bíblica ou da vida de santos que trazem intrinsecamente uma mensagem moral e religiosa, por vezes doutrinária, passível de compreensão do público, em razão do uso (pelo artista) da iconografia tradicional italiana”, esclarece. Outra tarefa feita por Maria Marta foi inserir as obras de temática religiosa de Pennacchi nas décadas de sua produção. No início do século XX, alguns artistas se preocupavam com questionamentos de ordem formal e outros defendiam a espiritualidade como condição imprescindível na constituição de uma obra de arte. Para esses últimos, a arte era colocada como meio pelo qual a verdade se revelava. Dentro desse pensamento, Pennacchi buscava na religião institucional – mais precisamente na Católica – a inspiração para a temática de suas obras. O italiano cria que a religião não denotava uma força reacionária que impunha restrições. Era, antes, uma fonte de inspiração para uma dimensão narrativa, simbólica, com uma mensagem mais profunda à qual ele se conectava.

PANORAMA O contexto histórico, social e artístico de São Paulo, nos anos de 1930 a 1940, foi de grandes momentos políticos e econômicos, de mudanças na sociedade paulistana e de questionamentos sobre o ser humano. Diante desse panorama e da crise econômica do período, os artistas (e em especial os imigrantes) passaram a exercer

Fotos: Divulgação

A museóloga Maria Marta van Langendonck Teixeira de Freitas: “A arte de Pennacchi esteve a serviço da transposição da história bíblica ou dos santos para o espaço pictórico”

funções paralelas, notou Maria Marta, de modo a garantir o próprio sustento, passando a se unir, o que acabou os auxiliando na promoção da arte da época, na troca de conhecimentos e no desenvolvimento artístico. Estilisticamente, alguns artistas buscaram no Retorno à Ordem, e em particular no Novecento, uma nova linguagem. Tematicamente, se voltaram a questões do cotidiano, da vida e do homem como reflexo do seu entorno, e da realidade nesta época. Pennacchi se voltou ao religioso, uma vez que a sociedade paulistana era católica quase em sua totalidade, com participação ativa na vida das pessoas. A sua produção religiosa encontrou então recepção na capital, fato notado em razão das encomendas que passou a receber. A museóloga analisou a pintura de Pennacchi fazendo uma incursão aos recintos religiosos. Examinou os textos papais que expunham as ideias que a Igreja Católica tinha no século XX sobre a arte que poderia constar dentro das igrejas e capelas, e como se refletiu o pensamento do Vaticano no seio da comunidade eclesiástica brasileira. A intenção da Igreja, averigua a pesquisadora, era aliar o sacro com os pressupostos modernos de arte, mas sem que esta arte sacra moderna perdesse a sua funcionalidade de encaminhar os corações humanos a Deus. Foi esse intento que Pennacchi conseguiu realizar em 1938 – o projeto arquitetônico, os afrescos e o desenho dos vitrais da capela da Fazenda do Comendador Agostinho Prada em Santa Rita do Passa Quatro, no interior São Paulo, e o projeto arquitetônico e os afrescos da Igreja Nossa Senhora da Paz em São Paulo. Essas são obras em que Pennacchi mantém sua linguagem artística ligada ao Trecento e ao Quattrocento italianos e, ao mesmo tempo, não desvirtua o ambiente de oração, alcançando a função que, segundo a Igreja, a arte sacra deve ter: a de elevação espiritual.

Publicação Dissertação: “A pintura religiosa de Fulvio Pennacchi (1930-1945)” Autora: Maria Marta van Langendonck Teixeira de Freitas Orientador: Jens Michael Baumgarten Unidade: Instituto de Artes (IA)

Obras do artista plástico italiano Fulvio Pennacchi: aliando a tradição iconográfica religiosa à linguagem de sua época


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.