Ju 558 virando paginas

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TADEU ASSUME A REITORIA PELA 2ª VEZ O engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge assinou o termo de posse como reitor da Unicamp na tarde de sexta-feira, em ato realizado na Reitoria e na presença de seu antecessor, Fernando Costa, e do novo coordenador geral, Alvaro Crósta. Tadeu ocupa o cargo pela segunda vez, fato inédito na história da Unicamp.

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Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 22 a 28 de abril de 2013 - ANO XXVII - Nº 558 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

A agropecuária ocupa novas áreas... Uma das consequências do avanço da fronteira agrícola no CentroOeste é o desflorestamento

Um estudo do Instituto de Economia (IE) aponta que o recente crescimento da produção agropecuária ocorreu por causa da ocupação de novas áreas, notadamente no Centro-Oeste, provocando a substituição de culturas mais tradicionais, a degradação de solo e o desflorestamento. Entretanto, outro estudo, este do Cepagri da Unicamp e da Embrapa, demonstra que a agropecuária pode deixar de ser vilã do efeito estufa e se tornar uma grande sequestradora de carbono, mediante a recuperação de pastagens degradadas no país.

Pesquisadores coletaram amostras de solo em 232 áreas de pastagens do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste

6 e7

...mas ela pode se tornar menos ‘vilã’

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Dois novos e promissores métodos contra queimaduras

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Economizando baterias de dispositivos móveis

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Um aparelho para estudar as explosões solares


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Campinas, 22 a 28 de abril de 2013

Biomédica testa novos métodos para tratamento de queimaduras Nanopartículas poliméricas e de prata apresentam bons resultados em testes in vitro e in vivo ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

m desafio das pesquisas na área de cicatrização de queimaduras é o desenvolvimento de materiais que apresentem as características adequadas ao tratamento e que sejam produzidos com matérias-primas de baixo custo e de fácil obtenção. A nanotecnologia tornou-se a palavra de ordem nos últimos anos, por conseguir levar a efeito estes dois parâmetros. A biomédica Larissa Barbosa de Paula enveredou seu estudo de mestrado, no Instituto de Biologia (IB), para essa direção, preparando nanopartículas de prata produzidas por método biotecnológico empregando o fungo Fusarium oxysporum, e nanopartículas poliméricas recobertas por quitosana e contendo S-Nitrosoglutationa (GSNO). A sua conclusão foi que tais tratamentos debelaram o processo inflamatório e possibilitaram o tratamento de lesões provocadas por queimadura. Em animais de laboratório, após 14 dias de tratamento com géis contendo nanopartículas, as poliméricas mostraram uma redução no diâmetro das feridas maior que as de prata (AgNP). Entretanto, após mais sete dias de tratamento (21 dias), este quadro se inverteu: o diâmetro das feridas tratadas com AgNP estava menor que o das nanopartículas poliméricas. “Mas as duas cicatrizaram muito bem”, conta a pesquisadora. Ao final dos 35 dias de tratamento, o grupo-controle (que recebeu como tratamento apenas o gel) ainda sinalizava feridas, enquanto que nos grupos tratados com os sistemas nanoparticulados, as feridas já tinham sido cicatrizadas e, em alguns animais, chegou-se a registrar o crescimento de folículos capilares (pelos). As nanopartículas de prata foram produzidas extracelularmente pelo Fusarium, que possui mecanismos (não totalmente elucidados) para reduzir íons de prata, quando exposto a uma solução contendo este metal. São nanopartículas esféricas altamente estáveis e com elevada atividade antimicrobiana, essencial no tratamento de queimaduras, uma vez que a infecção é uma das principais complicações clínicas deste tipo de lesão. De acordo com Larissa de Paula, os métodos adotados em seu estudo já existem. “Empregamos o método biotecnológico para a preparação das nanopartículas de prata e o método de dupla emulsão e evaporação do solvente para as nanopartículas poliméricas”, revela. “A inovação ficou por conta da sua aplicação em feridas provocadas por queimaduras.” Ao mesmo tempo, ela encapsulou um composto formado por glutationa e óxido nítrico (GSNO) em nanopartículas preparadas com um polímero biodegradável-biocompatível e recobertas por quitosana (que também possui elevada atividade antimicrobiana). Uma das maiores vantagens desse sistema é a de proteger o fármaco dentro do organismo e alcançar uma liberação sustentada, eliminando a necessidade de reaplicação e tornando-se uma alternativa às terapias de longo prazo. O GSNO, já testado em feridas crônicas como de pacientes diabéticos, também nunca fora testado em queimaduras e demonstrou grande potencial de cicatrização nos experimentos. O recobrimento com quitosana, segundo a mestranda, além de proporcionar atividade antimicrobiana, permite uma maior permanência das nanopartículas em superfícies mucosas, prolongando a liberação do princípio ativo encapsulado.

TRATAMENTO USUAL O tratamento mais usado nos hospitais é o creme à base de sulfadiazina de prata 1%. Entretanto, após sua aplicação, costuma-se ocluir a ferida com gaze. Por exigir trocas frequentes, este tipo de tratamento torna-se bastante incômodo e doloroso para o paciente. Alguns produtos, como loções oleosas à base de ácidos graxos essenciais, gazes impregnadas com Aloe vera e membranas de poliuretano, constituem opções menos doloridas, por não aderirem à ferida. Todavia, são em sua maioria importados, elevando os custos do uso em larga escala nos centros de terapia para queimados. Estima-se que o Sistema Único de Saúde (SUS) gaste por ano cerca de R$ 55 milhões com tratamentos para pacientes queimados. A biomédica explica que ambas as nanopartículas foram aplicadas nos animais duas vezes ao dia, sob a forma de gel posteriormente absorvido pelo organismo, assim como as nanopartículas poliméricas. “É um dos métodos mais empregados na indústria cosmética e farmacêutica para o preparo de pomadas e cremes, por ser inerte ao organismo. É usado como um veículo para as substâncias”, explica. A principal indicação dos géis contendo as nanopartículas desenvolvidas pela biomédica seria para o tratamento de queimaduras pouco graves e de pequena a média extensão. “Seria inviável para o tratamento de uma lesão que acometeu 80% do corpo, o que exigiria quantidades muito grandes do produto. Queimaduras muito graves e/ou extensas também po-

dem acometer pulmões e outros órgãos vitais, diminuindo ainda mais a expectativa de vida do paciente, sendo necessárias medidas mais rápidas”, reforça Larissa.

CAMINHO

LONGO

O trabalho da pesquisadora, orientado pela professora Patrícia da Silva Melo, foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua) da Unicamp e desenvolvido no laboratório do docente Nelson Durán, no Instituto de Química (IQ). Além disso, todos os compostos passaram por testes de citotoxicidade antes da aplicação nos animais, garantindo a não toxicidade da concentração aplicada. Os testes foram feitos na Faculdade Metrocamp, onde a biomédica concluiu a sua graduação e hoje ministra aulas para o curso de ciências biomédicas. Larissa de Paulo reconhece que o caminho para chegar à etapa dos ensaios clínicos será longo, pois o processo deve passar primeiramente por testes in vitro e em animais (que são divididos em três etapas). Somente depois desta bateria de testes, vêm os ensaios clínicos, para que alguma empresa se interesse pelos produtos e eles cheguem à comercialização.

DADOS

SOBRE QUEIMADOS

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as queimaduras constituem um dos maiores problemas de saúde pública. No Brasil, estima-se que aconteçam um milhão de acidentes com queimaduras térmicas por ano – há apenas 10% de hospitalização e cerca de 2,5 mil óbitos em

todas as faixas etárias, conforme informações da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). As queimaduras também estão entre as causas primárias externas de morte, atrás apenas de causas violentas, como acidentes de trânsito e homicídios. Além disso, queimaduras graves prejudicam a integridade da pele, levando à formação de cicatrizes hipertróficas e queloides. Juntamente com o trauma do acidente e os processos dolorosos de tratamento, as marcas deixadas pelas queimaduras acarretam baixa autoestima e ansiedade social aos pacientes, contribuindo para o desenvolvimento de doenças durante e após a reabilitação. A literatura aponta um número considerável de pacientes que apresentam doenças como depressão e transtorno de estresse póstraumático, que não voltam a trabalhar e que são passíveis de ressarcimento pelos sofrimentos psíquicos acarretados. No Estado de São Paulo, há poucos centros especializados no tratamento de queimados: os de Paulínia, Sorocaba e São Paulo são alguns deles.

Publicação Dissertação: “Nanopartículas poliméricas e de prata: avaliação da toxicidade in vitro e in vivo e do processo de cicatrização em animais submetidos à queimadura térmica” Autora: Larissa Barbosa de Paula Orientadora: Patrícia da Silva Melo Unidade: Instituto de Biologia (IB) Foto: Antoninho Perri

Fungo Fusarium oxyporum empregado no método biotecnológico

O gel aplicado nos animais, que contém nanopartículas de prata

A biomédica Larissa de Paula: métodos aplicados pela primeira vez em queimaduras

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 22 a 28 de abril de 2013

Tadeu assume como reitor

Engenheiro de alimentos chega ao cargo pela segunda vez, fato inédito na Unicamp Fotos: Antoninho Perri

Ato de posse do reitor José Tadeu Jorge e do coordenador geral Alvaro Crósta

engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge assinou o termo de posse por volta das 16h30 desta sexta-feira (19) em ato realizado na Reitoria da Unicamp. O nome do novo reitor havia sido confirmado na quinta-feira (18) pelo governador Geraldo Alckmin para o período 2013-2017. Tadeu Jorge teve como companheiro de chapa o geólogo Alvaro Crósta, que assumirá o cargo de coordenador geral da Universidade. A cerimônia solene de posse deverá ocorrer oportunamente, em data a ser definida pela nova gestão. Num breve pronunciamento, o novo reitor destacou o trabalho desenvolvido por seu antecessor, o hematologista Fernando Ferreira Costa, salientando que todos os

gestores da Universidade procuraram preservar o projeto original que definiu as diretrizes da Unicamp. “A gestão que se encerra manteve essa linha de conduta e deu a sua parcela de contribuição para elevar a Universidade a patamares ainda maiores”, disse Tadeu Jorge. “De nossa parte, nos esforçaremos para dar continuidade ao projeto que faz da Unicamp uma instituição de expressão nacional”, completou. O novo reitor também destacou que sua gestão se manterá fiel ao programa de gestão apresentado à comunidade acadêmica. Em suas palavras de despedida, Fernando Costa disse que foi um privilégio e uma honra atuar como reitor da Unicamp nos últimos quatro anos. “Tive a honra de participar da administração do professor Tadeu como

A UNICAMP QUE A NOVA GESTÁO VAI ENCONTRAR ATIVIDADES DE ENSINO

2000

2002

2004

2006

2008

2009

2010

2011

2012

Número de Cursos

50

54

57

58

58

66

66

66

67

Diurno

30

32

35

38

38

42

42

42

43

GRADUAÇÃO

Noturno Vagas na Graduação Vagas no Vestibular Vagas no PEFOPEX

(2)

Vagas no PROESF (3) Vagas do Vestibular no período noturno

20

22

22

20

20

24

24

24

24

2.355

2.895

3.255

2.830

2.830

3.310

3.320

3.320

3.320

2.355

2.450

2.810

2.830

2.830

3.310

3.320

3.320

3.320

-

45

45

-

-

-

-

-

400

400

-

-

-

-

120

120

825

885

935

890

890

1.130

1.140

1.140

1.140

2.484

3.151

3.805

3.508

3.605

4.104

3.985

4.123

4.013

Alunos Regulares Matriculados

10.510

12.523

15.164

16.049

15.360

15.588

16.059

16.682 17.097

Alunos Matriculados (inclui especiais)

11.623

13.690

16.313

17.275

16.422

16.777

17.083

17.650 18.026

1.450

1.598

2.089

2.688

2.662

2.276

2.269

2.284

2.524

Alunos Ingressantes Matriculados

Concluintes PÓS-GRADUAÇÃO Número de Cursos

121

130

136

137

139

138

144

142

142

Mestrado (4)

61

64

66

66

66

66

66

66

66

Doutorado

51

57

60

60

60

60

60

60

60

9

9

10

11

13

12

18

16

16

Alunos Matriculados

12.756

14.068

15.393

22.044

15.396

15.995

19.718

Mestrado

4.481

4.546

5.078

4.883

4.929

5.280

5.276

5.322

5.249

4.334

4.594

5.219

5.214

5.247

5.491

5.630

5.779

5.984

(6)

12.337(6)

8.281 3.310

Especialização

Doutorado Especialização

(5)

Especiais Concluintes

26.869 22.824

568

602

630

1.341

1.550

5.147(6)

3.373

4.326

4.466

4.376

3.879

3.674

3.665

3.431

7.571

1.697

2.182

2.207

7.129

2.292

2.750

2.358

2.671

Dissertações de Mestrado

909

1.194

1.200

1.150

1.141

1.221

1.245

1.354 1 232*

Teses de Doutorado

554

698

739

791

748

871

826

818

Especialização (5)

234

290

268

5.188 (6)

403

658

287

499

32

34

37

36

36

36

36

36

36

Vagas Oferecidas no Ano

1.100

1.375

1.400

1.380

1.380

1.380

1.380

1.395

1.395

Alunos Matriculados

3.957

4.216

4.096

3.687

4.016

4.165

3.985

4.037

3.891

851*

ENSINO TÉCNICO - MÉDIO Número de Cursos

Concluintes

987

1.120

1.174

1.082

1.099

1.119

1.196

1.073

1.064

Ensino Médio

510

565

573

498

469

521

545

501

470

Técnico

477

548

568

561

595

552

611

538

559

33

23

35

46

40

34

35

Especialização Técnica Fonte: DAC | * Dados provisórios (fevereiro de 2012)

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coordenador-geral e tenho certeza de que a Unicamp estará em ótimas mãos nos próximos anos. Desejo ao professor Tadeu e sua equipe toda felicidade em sua gestão”, disse. Fernando Costa agradeceu à sua equipe de gestão e fez questão de citar nominalmente os professores e funcionários que atuaram mais diretamente ao seu lado. “É importante ressaltar que eles, os melhores e mais brilhantes companheiros que poderia encontrar, foram os responsáveis por todos os sucessos e objetivos alcançados”, disse.

LISTA TRÍPLICE

A lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário (Consu) da Universidade e enviada ao governador Geraldo Alckmin relacionava o nome de Tadeu Jorge em primeiro lugar. Compunham ainda a lista o médico Mário Saad, que ficou em segundo lugar, e o engenheiro eletricista, José Claudio Geromel, em terceiro. A lista refletiu o resultado da consulta feita junto à comunidade universitária para a escolha do novo reitor. No primeiro turno da consulta, que contou com a participação de quatro candidatos, Tadeu Jorge obteve 48,3% dos votos, seguido por Saad (40,08%), Geromel (6,7%) e Edgar Salvadori De Decca (4,93%). Os dois primeiros colocados disputaram o segundo turno, ocasião em que Tadeu Jorge recebeu 53,32% dos votos e Saad, 46,68%. Tadeu Jorge assume a reitoria pela segunda vez, depois de ter dirigido a Unicamp no período 2005-2009. O fato é inédito na história da instituição. Ele conduzirá um mandato de quatro anos à frente de uma das mais destacadas universidades da América Latina, responsável por 15% da pesquisa acadêmica no Brasil, líder em patentes no meio universitário nacional e situada entre as 50 melhores do mundo com menos de 50 anos, segundo ranking do Times Higher Education (THE). O novo reitor é o 11º na linha de sucessão de Zeferino Vaz (1966-1978). Antes dele vieram o microbiologista Plínio Alves de Moraes (1978-1982), o ginecologista José Aristodemo Pinotti (19821986), o economista Paulo Renato Souza (1986-1990), o linguista Carlos Vogt (1990-1994), o pediatra José Martins Filho (1994-1998), o engenheiro de eletrônica Hermano Tavares (1998-2002), o físico e engenheiro de eletrônica Carlos Henrique de Brito Cruz (2002-2005), o engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge (2005-2009) e o médico hematologista Fernando Ferreira Costa (2009-2013). Tadeu Jorge é professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Graduou-se em Engenharia de Alimentos na Unicamp (1975), onde também realizou mestrado em Tecnologia de Alimentos (1977) e doutorado em Ciências de Alimentos (1981), concentrando suas pesquisas na área de tecnologia pós-

colheita, na qual estudou produtos minimamente processados, armazenamento de produtos agrícolas e propriedades físicas de materiais biológicos. Em 1992 titulou-se professor livre docente, professor adjunto em 1995 e professor titular em 1996. Foi diretor da Feagri de 1987 a 1991, diretor executivo da Funcamp de 1990 a 1992, chefe de gabinete da Reitoria de 1992 a 1994, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário de 1994 a 1998, novamente diretor da Feagri de 1999 a 2002, vice-reitor da Unicamp de 2002 a 2005 e reitor da Unicamp de 2005 a 2009. Exerceu o cargo de secretário municipal da Educação de Campinas de 2009 a 2011. Foi membro do Conselho Superior da Fapesp de 2006 a 2012. Participou de vários conselhos/comitês, destacando-se: Memorial da América Latina, TV Cultura – Fundação Padre Anchieta, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rede Universia Brasil, Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/SP. Presidiu a Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos. É membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp desde 2008. Álvaro Crosta, que ocupará o cargo de coordenador geral da Universidade, é professor titular (2005) no Instituto de Geociências, onde é docente desde 1984. Graduou-se em Geologia na USP (1977), fez mestrado em Sensoriamento Remoto no INPE (1982) e doutorado no Imperial College, Londres (1990). Realizou pós-doutoramento nas universidades de Nevada, EUA (1995), Humboldt, Alemanha (2010), e Viena, Austria (2010). No IG/UNICAMP exerceu as funções de chefe de departamento, coordenador de pós-graduação e diretor (2005-2009). Na reitoria da Unicamp foi chefe de gabinete adjunto (2000-2001) e pró-reitor de Desenvolvimento Universitário (2001-2002). Crosta também foi diretor financeiro da Funcamp (2010-2012) e representante docente eleito junto ao Conselho Universitário por vários mandatos. Suas áreas de atuação acadêmica são sensoriamento remoto, exploração mineral e geologia planetária. É coordenador da Área de Geociências da Capes (2011-2013) e foi coordenador-adjunto (2008-2010). Recebeu o prêmio “Regional Vice President Lecturership” da Society of Economic Geologists (SEG) em 2010. É editor-associado do Geological Society of America Bulletin (2010-2012), membro do Distinguished Lecturer Committee da Society of Economic Geologists (2011-2013) e do Barringer Medal and Award Selection Committee da Meteoritical Society (20122015). Em 1994, recebeu da Unicamp o prêmio Zeferino Vaz e, em 2010, o Diploma de Mérito do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo. É pesquisador 1B do CNPq.


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Campinas, 22 a 28 de abril de 2013

Menos recarga,

mais vida útil

Tecnologia desenvolvida na FT permite economia de 20%no consumo das baterias de dispositivos móveis Fotos: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

tualmente, a estimativa é de que existam 6 bilhões de aparelhos móveis no planeta, conforme pesquisa da multinacional do setor Cisco Systems. Segundo projeções futuras, o número de dispositivos deve ultrapassar a quantidade de habitantes no mundo, calculada em 7 bilhões de pessoas. A inovação desenvolvida na Unicamp poderá se implementada por meio de um programa que deve ser integrado ao software embarcado (sistema embutido) do aparelho. Para que chegue ao mercado é necessário que fabricantes do setor tenham interesse em aproveitar a tecnologia. O pedido de patente já foi depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O desenvolvimento do sistema foi coordenado pelo físico Varese Salvador Timóteo, docente do Departamento de Informática da FT. Ele informa que o método é voltado aos dispositivos móveis que utilizam a rede de dados de terceira geração (3G). As redes 3G, como são conhecidas, foram projetadas para prover tráfego de dados em banda larga. Elas substituem os padrões de segunda geração (2G), desenvolvidos para o tráfego de voz. “Quando a 3G foi implementada no Brasil percebemos que a duração da bateria era muito precária em comparação com os sistemas antigos. Num sistema de segunda geração, por exemplo, o telefone ficaria uma semana inteira sem precisar de recarga. E num smartphone 3G, com a rede de dados ativa, a bateria dura algumas horas. Isso é muito nítido, o tempo inteiro você precisa ficar plugado, recarregando”, enfatiza o professor da Unicamp. Varese Timóteo explica que o padrão 3G possibilitou a implementação da banda larga nos dispositivos móveis, com canais dedicados à transmissão de dados em alta velocidade. Mas esta modernização trouxe alto consumo de energia. Além disso, a cada dia são ampliadas as funcionalidades e os aplicativos dos aparelhos, que estão menores fisicamente. Isto também diminui a capacidade de armazenamento de carga da bateria. “Já existem fabricantes desenvolvendo pesquisas no sentido de que as baterias dos seus aparelhos móveis durem mais. Mas não podemos esquecer que existe um lado comercial para esta questão. Quanto mais é recarregada, mais a bateria vai perdendo sua capacidade de armazenar carga. E chega um momento em que o usuário tem que comprar outra ou trocar o aparelho”, expõe. A bateria dos dispositivos móveis também passou por aprimoramentos nos últimos anos, reconhece o pesquisador da Unicamp. O objetivo foi justamente aumentar a capacidade de armazenamento em espaços físicos cada vez menores. As principais melhorias levaram em conta o material utilizado. Na década de 1980 começaram a ser empregadas as baterias de níquel cádmio (NiCd) e de hidreto metálico de níquel (NiMH), bastante volumosas em relação às atuais. A partir de 1990 foram introduzidas as de íons de lítio (Li-ion), mais duráveis e menores. Atualmente, as baterias de polímero de lítio (Li-Poly) prometem alta capacidade em espaços físicos ainda mais reduzidos. Varese Timóteo considera, no entanto, que nenhuma delas possui capacidade suficiente para manter o aparelho ligado por vários dias, principalmente quando o dispositivo está utilizando a rede de dados em banda larga.

LINHA DE PESQUISA A pesquisa que culminou na tecnologia que reduz o consumo das baterias integrou mestrado defendido no final de 2011 pelo tecnólogo em telecomunicações e informática Tito Ricardo Bianchin Oliveira. A investigação, apresentada junto ao programa de mestrado da FT, foi orientada pelo professor Varese Timóteo. O trabalho também contou com a participação do docente Edson Luiz Ursini, como coorientador.

O professor Varese Salvador Timóteo, orientador da pesquisa: “Quanto mais é recarregada, mais a bateria vai perdendo sua capacidade de armazenar carga”

A tecnologia insere-se no âmbito de linha de pesquisa da FT que visa propor soluções para redes de telecomunicações, comunicações móveis e tráfego multimídia. O sistema desenvolvido deve ter desdobramentos em pesquisas futuras, indica o físico da Unicamp. “Implementar o sistema nos aparelhos por meio de parcerias com fabricantes do setor é um dos desdobramentos. O outro seria adaptar a tecnologia para funcionar também em dispositivos móveis 4G [quarta geração], que deverá ser implementada nos próximos anos. Também iremos participar do Desafio Unicamp, uma competição de inovação tecnológica realizada pela Universidade”, revela.

PROBLEMA E SOLUÇÃO O orientador do estudo esclarece a origem do alto consumo de energia na rede 3G. Ela está relacionada ao tempo em que os aparelhos ficam com os canais de tráfego ativados. “Ao transferir uma foto, por exemplo, o seu dispositivo recebe pacotes de dados que contém a informação correspondente àquela foto. Só que o aparelho recebe também outros pacotes, que chamamos de pacotes indesejados. Eles não têm serventia, mas também são responsáveis pela ativação dos canais de dados”, especifica.

Ao receber estes pacotes, o dispositivo móvel verifica e descarta aqueles indesejados. “Mas isso requer o processamento, o que consome energia. Portanto, mesmo quando você recebe informação que não é relevante, nem útil, o seu dispositivo vai ativar o canal de dados e consumir mais energia”, exemplifica. Para solucionar o problema, é preciso prever o melhor momento de ativar e desativar os canais de dados. “Para tanto é necessário ‘conhecer’ o tráfego”, aponta o físico da FT. A partir deste ‘conhecimento’ é possível propor uma transição mais eficiente entre os diferentes canais utilizados pelos dispositivos. As operadoras estipularam um valor fixo para o temporizador responsável pelo controle destas transições, que variam conforme o tráfego da rede. O objetivo seria otimizar o consumo de energia. Mas por ser estático – cada operadora determinou um valor fixo – o sistema não é tão eficiente, pois o valor do temporizador não vai ser adequado em qualquer condição de tráfego. “O que nós fizemos foi uma sofisticação no comportamento do telefone. Ao invés do dispositivo usar este valor fixo estabelecido pela operadora, ele passa a fazer a transição com base em um modelo de predição, acoplado ao software que processa os dados no telefone. Este modelo prevê, com base na observação do tráfego de pacotes, qual é o melhor valor para o temporizador”, indica Varese Timóteo. Deste modo, a solução funciona dinamicamente em tempo real conforme o tráfego da rede. Isso porque o aparelho já não depende mais dos valores fixos estipulados pela operadora da rede. Com o sistema, não é necessário alterações no padrão da rede, nem no hardware do aparelho.

FILTRO DE KALMAN Os pesquisadores utilizaram no método de previsão o modelo matemático criado por Rudolf Kalman, conhecido como filtro de Kalman. O filtro permite prever o fluxo de pacotes recebidos pelo dispositivo móvel. A transição entre os canais pode ser controlada por um temporizador cujo valor é determinado levando-se em conta o tráfego conhecido através do filtro de Kalman. “Os modelos de predição possuem diversas aplicações. Eles podem ser empregados, por exemplo, em módulos de injeção eletrônica de automóveis. Poderiam ser utilizados outros modelos, mas optamos pelo filtro de Kalman devido a sua excelente adequação para previsões em tempo real e utilização em previsões de tráfego em redes de comunicação”, justifica o orientador. Ainda de acordo com ele, os modelos de simulação foram validados usando dados reais das redes móveis 3G. “Simulamos o comportamento do dispositivo usando o valor fixo da operadora e, depois, com o nosso sistema, que é dinâmico. A estimativa é de uma economia de 20% de energia, um valor bastante considerável”, conclui.

Publicação Dissertação: Otimização do consumo de energia em terminais móveis 3G Autor: Tito Ricardo Bianchin Oliveira Orientador: Varese Salvador Timóteo Coorientador: Edson Luiz Ursini Unidade: Faculdade de Tecnologia (FT)


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O patrimônio rural como fator de desenvolvimento

Pesquisa mostrando como se formou Jaguariúna pode contribuir com o poder público Fotos: Casa da Memória de Jaguariúna e Acervo DPHJ

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Terraço restaurado da casa sede da fazenda da Barra e, no detalhe, a fachada antiga

m várias regiões do país, a gestão inteligente dos recursos patrimoniais tem sido fator-chave para promover o desenvolvimento local a partir de empreendimentos sustentáveis, dinamizando a economia, criando postos de trabalho e elevando a autoestima da comunidade. É este o mote das pesquisas em “planejamento, patrimônio e paisagem” realizadas há quase 20 anos pelo Laboratório de Empreendimentos (Labore) da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). A proposta é valorizar o patrimônio rural (a comunidade, a cultura e o território) e assim atrair investimentos em planejamento regional. Foi pelo Labore que o arquiteto Roberto José D’Alessandro apresentou dissertação de mestrado mostrando o processo de conformação do território de Jaguariúna (SP), sob a orientação do professor André Munhoz de Argollo Ferrão, que coordena este grupo de pesquisa. É um trabalho de fôlego que pode contribuir com o poder público municipal na preservação do patrimônio histórico e dos recursos ambientais, e mais ainda diante da importância turística da cidade: considerada portal do chamado Circuito das Águas Paulistas, ela antecede as estâncias hidrominerais de Pedreira, Amparo, Serra Negra, Monte Alegre do Sul, Lindóia e Socorro. “O território de Jaguariúna já abrigava alguns assentamentos humanos desde 9000 a.C., conforme registros arqueológicos, e depois vieram os registros do século 18 sobre os bandeirantes colonizadores”, afirma Roberto D’Alessandro. “Esta ocupação desde os primórdios, passando pelos índios e colonos até os dias de hoje, deu-se naturalmente por que Jaguariúna fica na confluência de dois rios importantes; as pessoas sempre buscaram água e solo fértil para se assentar”, complementa André Ferrão. De acordo com o autor da tese, daquilo que antes era uma enorme sesmaria originaram-se fazendas situadas às margens dos rios Jaguari e Camanducaia, que produziram cana-de-açúcar e depois café entre o século 19 e início do século 20. “Tão importante quanto os rios e as fazendas como vetores de ordenação territorial de Jaguariúna foi a ferrovia. Por isso, minha dissertação abrange o período que vai da instalação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 1875 – com um ramal saindo de Campinas e chegando à estação de Jaguari – até a instalação da iluminação elétrica em 1913.” As quatro principais fazendas levantadas por D’Alessandro foram a de Jaguari (hoje Santa Úrsula), da Barra, Santa Francisca do Camanducaia e Serrinha. Como objeto de estudo foi escolhida a fazenda da Barra, entendida como uma unidade agrícola fabril voltada à agricultura, com edificações e obras civis para abrigar e desenvolver as etapas de produção e manutenção de seu complexo. “Parte dela foi adquirida pelo município de Jaguariúna em 2008, com a casa sede, as instalações fabris, o aqueduto e 16 alqueires de entorno. A propriedade produziu até a década de 1990, embora já não fosse a mesma, pois começou a ser dividida a partir de 1932”. A fazenda estudada fica bem próxima ao rio Camanducaia, havendo uma interação que é evidente também nas demais, o que

Roberto D’Alessandro participou do restauro da fazenda da Barra como arquiteto residente na obra e integrante da equipe técnica do Departamento de Patrimônio Histórico de Jaguariúna, dirigido pela arquiteta Rosana Tavares. Ele fez o levantamento in loco (medições do complexo) que serviu de base para o projeto de restauro. “É uma cidade pequena, com recursos reduzidos, mas que conseguiu movimentar um departamento específico visando este projeto. Apesar da carência também de recursos humanos, nos empenhamos para realizar ao menos o inventário básico das edificações nas áreas rurais”. O autor da tese participou ainda da recuperação da estação de Guedes, construída dentro da fazenda da Barra e que agora foi transformada em centro cultural, oferecendo cursos e várias outras atividades. “Na verdade, existem duas estações, a primeira do final do século 19, que virou um sítio

Foto: Acervo DPHJ

Foto: Antoninho Perri

Aqueduto que trazia a água do ribeirão Camanducaia Mirim

André Ferrão e Roberto D’Alessandro: valorizando o patrimônio rural para atrair investimentos em planejamento regional

é ressaltado pelo arquiteto. “Esse tipo de construção não funcionaria sem o rio. Na fazenda da Barra, uma peculiaridade é que o fluxo de água está atualmente cortado, mas se o fornecimento fosse restabelecido, a área de produção do café voltaria a funcionar em 80%, graças ao sistema de canalização. E teríamos ali uma bela aula sobre a água como força motriz daquela indústria agrícola.” O professor André Ferrão explica que a água era captada no ribeirão Camanducaia Mirim (afluente do rio Camanducaia) e transportada até um aqueduto, descendo por canais e canaletas para irrigar os terreiros e movimentar máquinas de transporte de grãos. “Tudo isso por gravidade, o que é bonito do ponto de vista da engenharia. Toda essa estrutura de produção vem sendo restaurada, bem como a casa sede, numa iniciativa interessante do município para devolver este patrimônio à população.”

ATUAÇÃO IN LOCO

dos proprietários, e a segunda, que nesta gestão de Rosana Tavares foi restaurada integralmente. Resgatou-se um edifício relevante não apenas para a cultura do café, mas para a população de um bairro que surgiu em função da fazenda e da ferrovia.” Para André Ferrão, a nova estação de Guedes ajudou a reintegrar à cidade um bairro antigo que estava esquecido e começava a ficar carente de serviços e lazer. “Este trabalho é uma demonstração que o tipo de pesquisa feito pelo grupo do Labore acaba tendo uma aplicação muito prática em termos de desenvolvimento local, da sustentabilidade e da questão ambiental. É um método que continuamos levando a outras regiões, aonde vem ganhando importância para a área de planejamento.” Roberto D’Alessandro esclarece que a abordagem consiste na análise dos processos produtivos e culturais a partir de um

mapeamento em quatro níveis: do território do município, da área da fazenda, da sede e das edificações voltadas à produção. “É possível observar como a comunidade recorre a determinada tecnologia em um período específico e como esta população vai se modificar e se organizar para produzir os seus bens utilizando os recursos naturais. O mapeamento chega ao nível das matas, hortas e nascentes, o que é fundamental para o planejamento de uma cidade inserida no circuito turístico. Talvez seja este o aspecto mais relevante da dissertação.”

A origem de Jaguariúna Constituída como município em 1953, Jaguariúna possui hoje 44 mil habitantes e um território de 142 quilômetros quadrados. A presença em perímetro relativamente pequeno de dois rios importantes, que vão formar o rio Piracicaba e contribuir para o abastecimento do sistema Cantareira, torna a cidade privilegiada em termos de recursos hídricos. Na opinião de Roberto D’Alessandro, isso justifica a realização da sua pesquisa no âmbito do Departamento de Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais da FEC. O pesquisador conta que a origem de Jaguariúna é a Vila Bueno, núcleo surgido em 1895. Mais atrás no tempo está a fazenda Santa Francisca do Camanducaia, com registro de construção em 1830, em terras separadas da vizinha Santa Úrsula pelo rio Jaguari. A Santa Francisca foi desmembrada e coube a um dos herdeiros, o coronel Amâncio Bueno, a gleba batizada de fazenda Florianópolis e rebatizada de Serrinha. “Foi em 1895 que o coronel Bueno procurou o engenheiro William Giesbrecht, responsável pela instalação da Companhia Mogiana na região, pedindo uma planta para o loteamento da herança”, recorda D’Alessandro. “É interessante notar o misto de áreas urbanas e outras ainda rurais, sendo que o núcleo de Vila Bueno, cujo marco é a Igreja de Santa Maria, continua perfeitamente identificável. Atualmente a fazenda é um condomínio, assim como a matriz Santa Francisca. Recentemente, soubemos que a Santa Úrsula foi vendida e provavelmente terá o mesmo destino.” O professor André Ferrão, orientador da dissertação, afirma que os condomínios são uma grande preocupação da comunidade de Jaguariúna. “Esta

preocupação chegava ao Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo], onde eu representei a Unicamp até o final do ano passado. Os empreendimentos são criados sem a preservação do patrimônio e, por vezes, também da paisagem. No período da pesquisa foi criado em Jaguariúna um conselho municipal de defesa do patrimônio histórico. A sociedade passou a ampliar sua luta pela defesa dos valores locais, tanto culturais como ambientais.”

MORADORES ILUSTRES A fazenda da Barra, que foi em parte adquirida e restaurada pelo município de Jaguariúna, pertenceu a Bernardo Guedes Barreto, filho de Barreto Leme (fundador de Campinas). José Guedes de Sousa, Barão de Pirapitingui (bisneto de Barreto Leme), herdou a propriedade e ali residiu até 1897, quando mudou para um palacete construído por Ramos de Azevedo em São Paulo. E para a fazenda mudou seu filho, o coronel José Alves Guedes. Entre os filhos do Barão Pirapitingui é importante salientar a figura de dona Olívia Guedes Penteado, incentivadora do modernismo e amiga de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Heitor Villa-Lobos. Ela era tia de Yolanda Penteado, mecenas que idealizou a 1ª Bienal de Artes Plásticas em São Paulo ao lado do marido Francisco Matarazzo Sobrinho (Ciccillo). Dona Olívia contribuiu para a Revolução de 32 e também ajudou a fazer da médica Carlota Pereira Queirós a primeira mulher a votar e a ser eleita deputada federal em 1934.


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Soja, cana e pecuária

avançam sobre o Centro-Oeste MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

crescimento da produção de soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina no Centro-Oeste do Brasil, registrado em anos recentes, se deu principalmente por causa da ocupação de novas áreas. Como consequência do avanço da fronteira agrícola, a região tem registrado a substituição de culturas, a degradação de solo e o desflorestamento. As constatações fazem parte da tese de doutorado de Vivian Helena Capacle Correa, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Walter Belik. A autora contou com bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação, e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento. De acordo com Vivian, embora o rendimento das três atividades tenha aumentado, em razão da adoção de manejos adequados e de tecnologias avançadas, como o uso de novos cultivares, é a ocupação de novas áreas que tem impulsionado o crescimento da produção no Centro-Oeste. O avanço em direção à região, conforme a pesquisadora, tem sido estimulado por diversos fatores. Entre eles está a disponibilidade de terras. “São Paulo continua sendo o maior produtor de cana-de-açúcar do país, mas o Estado já está saturado. Assim, a alternativa encontrada pelas usinas para atender à crescente demanda por etanol, por exemplo, é levar a cultura para outras áreas, notadamente os estados do Centro-Oeste”, explica. Outro aspecto que tem atraído o interesse dos produtores pela região é a disposição das prefeituras em oferecer incentivos como a anistia de impostos ou a doação de terras. Durante o trabalho de campo que realizou para a pesquisa do seu doutorado, Vivian teve a oportunidade de entrevistar inúmeros atores envolvidos com o tema, entre eles prefeitos. “No contato que tive com eles, alguns admitiram que os municípios ofereciam esses estímulos porque a chegada dos empreendimentos agropecuários traziam vantagens como a geração de emprego e o fortalecimento da economia local”, relata a pesquisadora. É o que teria ocorrido na cidade de Quirinópolis, em Goiás, com a chegada da Usina Boa Vista, do Grupo São Martinho, um dos maiores do Brasil no segmento sucroalcooleiro. A usina pretende moer oito milhões de toneladas de cana por safra, estabelecendo-se como a maior unidade processadora em atividade no Brasil. “Na entrevista, o prefeito me disse que o município cedeu a área da unidade industrial da usina e os programas de redução de impostos atraíram a empresa para a sua cidade. Ainda segundo ele, com a chegada da Boa Vista e a expansão da cana-de-açúcar houve a geração de novos postos de trabalho e o

Tese de doutorado do Instituto de Economia aponta que produtividade das atividades cresceu na região por causa da ocupação de novas áreas Foto: Antoninho Perri

Vivian Capacle Correa, autora da tese: o avanço da fronteira agrícola sobre a região tem causado substituição de culturas, degradação de solo e desflorestamento

aumento da arrecadação de impostos. Graças a isso, ele disse ter conseguido ampliar a oferta de serviços à população, através da construção de postos de saúde e creches”, informa Vivian.

IMPACTO AMBIENTAL

Se o segmento econômico experimentou avanços em alguns municípios do CentroOeste a partir desse movimento, o mesmo não se pode dizer do meio ambiente, conforme constatou a investigação promovida por Vivian. A autora da tese afirma que a expansão das três atividades analisadas no seu trabalho, notadamente a plantação de cana, tem provocado mudanças na região. Uma delas diz respeito à substituição de culturas. O arroz e o feijão, que foram importantes para a região, perderam espaço para os canaviais. Além disso, a própria pecuária extensiva, que também sempre se destacou naquele pedaço do país, tem sido gradativamente substituída pela cana. Vivian explica que a cana chegou ao Centro-Oeste no momento em que a pecuária começava a apresentar declínio. “Por causa disso, muitos pecuaristas decidiram vender ou arrendar as suas terras para o plantio de cana. Alguns desses produtores passaram a viver de renda e foram morar nas cidades. Outros, porém, transferiram a produção para áreas mais distantes. Embora uma corrente diga que eles se instalaram na própria região, há registros de que muitos deles estão migrando em direção ao Norte, inclusive para o Pará, sob o bioma Amazônia, onde estão implantando novas pastagens, algumas em terras ocupadas ori-

ginalmente por florestas. “O resultado dessa migração é perceptível. Em Goiás, eu visitei um frigorífico dotado de equipamentos moderníssimos, mas que está desativado. A explicação é a de que já não há mais nas imediações produtores que forneçam animais para o abate”, aponta a autora da tese. Nas entrevistas que fez com políticos e gestores públicos, Vivam diz ter apurado dois pontos fundamentais em relação à questão da degradação do meio ambiente. Um deles é o fato de não haver uma consciência ambiental difundida entre as sociedades locais. “O prefeito de Quirinópolis, por exemplo, reforçou que ele quer mais é que a cana tome mesmo conta das áreas agrícolas do município. A preocupação mais imediata é com o crescimento econômico e a geração de empregos”, conta. O outro ponto refere-se à inexistência de políticas de zoneamento econômico e ecológico no Centro-Oeste como um todo. Com exceção de Mato Grosso do Sul, que conta com zoneamento próprio, os outros dois estados, Mato Grosso e Goiás, não dispõem de legislação nesse sentido. Vivian explica que esse tipo de instrumento legal é indispensável porque ajuda a orientar as atividades produtivas. “O zoneamento não tem a finalidade de proibir que se produza isso ou aquilo neste ou naquele ponto. Entretanto, ele aponta quais são as áreas mais sensíveis e que, portanto, não são adequadas para receber determinados empreendimentos agrícolas. Isso é importante porque a inobservância ao zoneamento faz com que uma usina, por hipótese, não receba financiamento do BNDES [BanFoto: Divulgação

Com as terras paulistas já saturadas com o cultivo de cana, as usinas buscam novas áreas, notadamente no Centro-Oeste

co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para a construção da sua planta industrial”, exemplifica a pesquisadora. Em Goiás, conforme a autora da tese, a questão do zoneamento econômico e ecológico somente agora está sendo discutida. Em Mato Grosso, a legislação chegou a ser criada, mas ela foi posteriormente embargada a pedido do Ministério Público, que identificou falhas na sua formulação. “Vale reforçar que o zoneamento é importante para identificar as áreas sensíveis e as que podem ser exploradas. Existe uma legislação federal relacionada ao tema e um decreto federal que determina critérios para que os estados estabeleçam os parâmetros para essa distinção”, informa. Em seu trabalho, Vivian também analisou o papel desempenhado pelos conselhos municipais de Meio Ambiente, previstos na legislação. De acordo com a pesquisadora, nem todas as cidades contam com esse tipo de órgão. “Os que existem não têm competência para tratar de assuntos relevantes como a expansão da cana-de-açúcar, por exemplo. Normalmente, eles deliberam sobre questões menores como a exploração de areia ou a implantação de uma pequena planta industrial. Entretanto, não exercem qualquer influência quando o assunto é a instalação de uma grande usina na cidade”, assinala.

ESTRATÉGIA DE MERCADO

No contato que manteve com produtores do Centro-Oeste, Vivian diz ter identificado, ainda, dois outros aspectos. De acordo com o depoimento dos pecuaristas, o confinamento do rebanho não é uma alternativa para conter a expansão de áreas para a criação de pastagens. “O que eles informaram é que esse modelo de produção é somente uma estratégia de mercado. Ele é usado para engordar o gado em menor período, principalmente na época da entressafra”. Alguns pecuaristas também revelaram à pesquisadora que o sistema produtivo que integra lavoura e pecuária, apontado como uma medida que contribui para preservar a terra, ainda é pouco difundido . A característica predominante na região é a adoção de grandes áreas para a produção pecuária e o plantio de monoculturas. “Além disso, somente os pecuaristas bem capitalizados é que conseguem adotar alternativas como o pasto rotacionado, técnicas de manejo adequadas e produção intensiva”. A metodologia empregada por Vivian em sua tese considerou, entre outros aspectos, a revisão bibliográfica sobre a expansão da agropecuária no Centro-Oeste e entrevistas com prefeitos, técnicos, produtores e gestores públicos. A fim de aperfeiçoar a constatação da redução de áreas de pastagens e de matas na região, bem como visualizar a alteração total da área agricultável utilizada por uma determinada atividade, a pesquisadora utilizou o modelo Efeito Escala (EE) e Efeito-Substituição (ES), a partir de dados de área plantada fornecidos pelos censos agropecuários de 1995 e 2006. Conforme a autora do trabalho, trata-se de um método indicativo – não determinístico –, que supõe que todos os produtos que tiveram expansão de área substituíram proporcionalmente aqueles que os precederam. Também foi utilizado o modelo de Contribuição de Área e Contribuição de Rendimento para a análise sobre o padrão de crescimento das produções de soja e cana-de-açúcar na região.

Publicação Tese: “O Desenvolvimento e a Expansão Recente da Produção Agropecuária no Centro-Oeste” Autora: Vivian Helena Capacle Correa Orientador: Walter Belik Unidade: Instituto de Economia (IE) Financiamento: Capes e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento


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A agropecuária, de vilã do efeito estufa a sequestradora de carbono

Fotos: Divulgação/ Cepagri

Cepagri e Embrapa indicam que a recuperação de 19 milhões de hectares de pastagens degradadas diminuiria a emissão de 132 milhões de tCO2eq LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

cusada de ser uma das vilãs do aquecimento global, a agropecuária pode reverter totalmente esse papel e se tornar uma grande sequestradora de carbono da atmosfera, contribuindo de maneira significativa para que o Brasil cumpra a proposta que apresentou na 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em Copenhagen: a de reduzir, voluntariamente, a emissão de gases de efeito estufa (GEE) entre 36% e 39% até 2020 – índices que representam algo em torno de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2eq). A simples recuperação de 19 milhões de hectares de pastagens degradadas diminuiria a emissão de carbono em 132 milhões de tCO2eq até o final desta década, ou 13% do total prometido na COP 15. A previsão vem de um estudo pioneiro iniciado em 2010 e que está sendo desenvolvido pelo Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp, com a coordenação do professor Hilton Silveira Pinto; pela Embrapa Informática Agropecuária, onde a coordenação é do pesquisador Eduardo Assad; e com a cooperação da Embrapa Cerrados. O projeto denominado “Mitigando emissões de gases na agricultura: bases para o monitoramento do Programa ABC” é financiado pela Embaixada Britânica e envolve mais de 60 pesquisadores e técnicos dos três centros de pesquisa. O primeiro relatório foi encaminhado em 1º de março aos ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O professor Hilton Silveira Pinto, diretor associado do Cepagri e coordenador do projeto, explica que o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) foi instituído por lei federal de 29 de dezembro de 2009, pregando a adoção de boas práticas agrícolas para diminuir a emissão de GEE. As ações de mitigação previstas na lei são o plantio direto sobre a palha; a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF); a substituição de fertilizantes nitrogenados pela fixação biológica do nitrogênio em culturas como de soja, cana-de-açúcar, milho e feijão; e o reflorestamento. “O plantio direto faz com que o solo absorva 500 quilos de carbono por hecta-

re ao ano. E com as bactérias nitrogenadas, ao invés da utilização do adubo com nitrogênio, eliminamos a emissão de óxido nitroso, que é 300 vezes pior que o carbono na atmosfera”, exemplifica Silveira Pinto. “Por outro lado, temos hoje 50 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil: não é um pasto cultivado, o gado é simplesmente levado para outro lugar quando acaba a grama natural. Recuperando essas áreas teremos o sequestro de meio quilo de carbono por quilo de grama alta.” Outro aspecto realçado pelo diretor do Cepagri é que o país possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, com 205 milhões de animais ocupando 20% da área continental. Segundo ele, as tecnologias já conhecidas de fertilização, plantio de espécies adequadas e manejo de solo e de pastoreio podem promover a elevação da produtividade vegetal e animal. “Atualmente, na maioria das pastagens, a relação é de 0,4 cabeças por hectare. Com a recuperação, o propósito é chegar a 1,4 cabeças por hectare, utilizando a mesma área e sem interferir no meio ambiente.” Hilton Silveira Pinto lembra que o Brasil aumentou a produção de alimentos em 154% nos últimos 20 anos, enquanto a área expandida foi de apenas 25%, mostrando um avanço tecnológico sem precedentes no mundo. É um fato que credencia o país a utilizar esse conhecimento para diminuir as emissões de GEE. “No momento, nós do Cepagri e da Embrapa estamos indo a campo para colher os resultados da implantação das tecnologias propostas pelo ABC. Pegamos o trado, perfuramos o solo e trazemos as amostras para o laboratório – são de pastagens degradadas, de pastagens já recuperadas e de integração pecuária-lavoura-floresta. O monitoramento será repetido a cada cinco anos.” Nesta primeira fase do projeto, as equipes percorreram as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, entre novembro de 2011 e dezembro de 2012. Coletaram 4 mil amostras de 232 áreas de pastagens mapeadas por imagens de satélite, a fim de quantificar seus estoques de carbono no solo e calcular a capacidade de sequestro do gás em pastagens produtivas. Uma das estimativas é de que o manejo adequado e a adubação em 15 milhões de hectares degradados corresponderão à redução de emissões de 83 a 104 milhões de tCO2eq até 2020 – um ganho adicional viria de 4 milhões de hectares da ILPF, com a recomposição de áreas de preservação permanente e implantação de agricultura orgânica e florestas comerciais.

A integração lavoura-pecuária em Bagé (RS): arroz no verão, gramínea e animais no inverno

Outro exemplo de ILP em Iporã (RS): meio quilo de carbono sequestrado por quilo de grama alta

AMAZÔNIA Silveira Pinto afirma que no relatório entregue à Embaixada Britânica e ao governo federal ainda não consta a Amazônia, onde o trabalho de campo será iniciado agora em maio, com financiamento da CLUA (Climate and Land Use Alliance). “Em estudos anteriores do nosso grupo, restringimos as informações sobre a Amazônia por conta da polêmica de que a pecuária está invadindo a região e abrindo caminho para a soja – não realizamos o zoneamento agrícola, por exemplo, para não facilitar esta invasão. No caso dos gases de efeito estufa, a demora é por que se trata de um trabalho muito difícil, envolvendo veículos para transporte de toneladas de amostras de solo a serem trazidas para Campinas. Mas já temos uma equipe montada no Acre e depois estaremos em Roraima, Rondônia e faixa norte do Pará.” De acordo com o coordenador, este projeto é contínuo, seguindo as metas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e, determinada a emissão de gases de efeito estufa pela agricultura regionalmente, a meta é levar esse controle ao nível das propriedades. “Queremos chegar à

fazenda para observar a quantidade de tratores, caminhões, combustível consumido e também de adubos, num controle local que chamamos de nível três, ou Tier 3, de acordo com o IPCC. Há uma finalidade principal: o agricultor que se dedicar à produção com baixa emissão, usando novas tecnologias, poderá vir a ter acesso ao crédito de carbono, cujo valor é bastante razoável.” Hilton Silveira Pinto admite que um grande problema para a aceitação das medidas de mitigação pelos produtores é o custo da recuperação da pastagem. “Já propusemos ao governo um financiamento inicial de 8 bilhões de reais para essa finalidade, mas houve pouca procura. Os grandes produtores se interessam mais em comprar gado, já que possuem áreas imensas. Por isso, estamos direcionando o programa para os pequenos produtores, que hoje fornecem entre 60% e 70% da alimentação básica do brasileiro e para os quais o crédito de carbono seria uma ótima fonte de renda alternativa. A ideia é introduzir novas tecnologias em quase 5 milhões de unidades de agricultura familiar, visando dobrar sua produtividade e diminuir a emissão de gases. Com isso, não teremos problemas com alimentos básicos no horizonte de 30 ou 40 anos.”

Plano Setorial ABC O Plano Setorial ABC, idealizado pela Embrapa, surgiu a partir do inventário de gases de efeito estufa feito em 1996 e 2006 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que evidenciaram que uma parcela importante das emissões vinha das atividades da agropecuária. Neste inventário são computadas emissões em diversos setores da agricultura, notadamente de gases por fermentação entérica dos bovinos; de metano pelo cultivo de arroz irrigado; de variados gases pela queima da cana; de dióxido de carbono e de óxido nitroso (CO2 e N2O) pelos solos agrícolas a partir da aplicação de fertilizantes sintéticos e de resíduos agrícolas, etc. Estava bem sinalizado que, diante dos métodos de inventário determinados pelo IPCC (2006), as emissões da agricultura brasileira eram significativas. Entre as ações já adotadas, destaca-se a criação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Programa ABC e sua inclusão no Plano Agrícola e Pecuário 20102011. O objetivo é financiar os agricultores que adotem práticas adequadas e tecnologias e sistemas produtivos eficientes que contribuam para a mitigação dos gases de efeito estufa. O valor disponibilizado para 2010-2011 foi de R$ 2 bilhões de reais; para 2011-2012 chegouse a R$ 3,15 bilhões; e para 2012-2013, R$ 3,4 bilhões. O Programa ABC financia a recuperação de áreas e de pastagens degradadas; implantação e ampliação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; correção e adubação de solos; implantação de práticas conservacionistas de solos; implantação e manutenção de florestas comerciais; implantação de agricultura orgânica; e recomposição de áreas de preservação permanente ou de reserva legal, dentre outras práticas que envolvam uma produção sustentável. Hilton Silveira Pinto, coordenador do projeto: “Temos 50 milhões de hectares de pastagens degradadas”


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Nas bancas

Campinas, 22 a 28 de abril de 2013

Atendimento a feridos nas rodovias pelas concessionárias é eficiente Enfermeira detalha a logística de socorro pré-hospitalar oferecida por cada empresa da RMC RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br

Vinte e quatro horas por dia. Todos os dias da semana. É um contingente grande de médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares e resgatistas de prontidão para o socorro imediato às vitimas de acidentes nas rodovias da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Eles formam um esquadrão que, com o auxílio de equipamentos de última geração e ambulâncias modernas, consegue prestar não só o socorro no local, como também providenciar o encaminhamento dos feridos para os hospitais mais próximos. “O atendimento é muito rápido, uma vez que se exige em contrato que eles deixem a base em até um minuto e removam os feridos da estrada em até 15 minutos. Com isso, o funcionamento do serviço médico móvel nas estradas pode ser considerado seguro, sincronizado e eficiente”, atesta a enfermeira Cleuza Aparecida Vedovato. Ela apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) com uma descrição detalhada da logística do atendimento préhospitalar oferecido pelas quatro concessionárias de rodovias que atendem a RMC. Em sua atuação como professora no Serviço de Emergência e Urgência do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, Cleuza Vedovato percebeu a importância de deixar registrado o funcionamento desta área, visto que detalhes que acontecem no atendimento inicial às vítimas são fundamentais para direcionar as ações no hospital. “Os impressos de registros dos atendimentos realizados pelas equipes, por exemplo, indicam a terapêutica a ser adotada. Além disso, esses mesmos impressos oferecem o respaldo legal para os envolvidos e para um estudo retrospectivo do acidente”, explica. A lei que regulamenta o serviço de emergência no país, a de número 2.048, é recente. Ela data de dezembro de 2002 e dispõe

sobre as exigências para o serviço público e privado. Segundo a enfermeira, são várias as pesquisas que se incumbem de mostrar o funcionamento do atendimento público, em geral, realizado na esfera municipal. Mas, com relação às características do serviço privado, que são realizados especificamente em rodovias, não existia nenhum tipo de registro. “A grata surpresa foi observar que as concessionárias cumprem os dispositivos previstos em lei”, afirma. Cleuza Vedovato fez visitas a todas as concessionárias da RMC para traçar uma radiografia do serviço oferecido. Entrevistou os coordenadores, verificou os materiais e equipamentos presentes nas viaturas e teve acesso a documentos. Também apurou como é realizada a comunicação do atendimento préhospitalar com o local do encaminhamento. Tudo está relatado e são informações úteis para quem trabalha em urgência e emergência em hospitais e em pronto-atendimento. A pesquisa mostrou que a frota de veículos em cada concessionária, em média, é de nove viaturas para atendimento básico e uma para o suporte avançado. O número de profissionais contratados pelas concessionárias é significativo. Cada empresa possui em média dez médicos, sete enfermeiros, 38 técnicos e 40 resgatistas. Em sua maioria, são homens, com média de idade de 34 anos. As solicitações podem ser acionadas pelo SOS Usuário, nos telefones de emergência instalados a cada quilômetro da estrada ou por ligação gratuita. Os centros de controle operacional, instalados na sede de cada concessionária, recebem as chamadas e o médico de plantão, que faz a regulação, “dispara” o atendimento com a ambulância básica e, se houver necessidade, médico e enfermeiro de plantão também se dirigem até o local do acidente. O médico e o enfermeiro permanecem na base do centro operacional 24 horas, enquanto os demais membros da equipe do atendi-

A enfermeira Cleuza Vedovato: “O serviço médico móvel é seguro, sincronizado e eficiente”

Fotos: Antoninho Perri / Antoninho Scarpinetti

Rodovia D. Pedro I: logística inclui ambulâncias ao longo do trajeto para diminuir tempo de resposta

mento de emergência ficam distribuídos em bases operacionais nas ambulâncias básicas, ao longo da malha viária da concessão. “A descentralização tem como finalidade diminuir o tempo de resposta, pois as viaturas e suas equipes atendem em uma região pré-determinada”, explica a autora da dissertação. Após a avaliação do grau de complexidade dos ferimentos, as vítimas são removidas para hospitais e pronto-atendimentos previamente visitados, avaliados e classificados pelos coordenadores médicos. É interessante observar, destaca Cleuza Vedovato, que o médico ou enfermeiro de plantão realiza contato diário com os hospitais e pronto-atendimento de cada cidade para verificar a disponibilidade de acolhimento, bem como os recursos materiais e equipamentos disponíveis para aquelas 24 horas. “Quando há um aparelho quebrado ou falta de equipamentos fundamentais para o diagnóstico e manutenção da vida, a informação é repassada para o coordenador para que seja feita a regulação respeitando o déficit daquele serviço, sem prejuízo às vítimas atendidas”, esclarece. As equipes

são capacitadas constantemente durante o horário de trabalho e de maneira informal. Elas recebem apostilas, manuais, vídeos e aulas a serem estudados e, na sequência, passam por testes de múltipla escolha ou por perguntas sobre o assunto. O que ficou evidente, segundo a enfermeira, foi a diversificação na forma de gerir tais processos nas empresas concessionárias. Há aquelas que terceirizam o trabalho e apenas o coordenador é contratado, bem como outras em que todos os profissionais são contratados. Uma delas contrata o pessoal por horas trabalhadas.

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Dissertação: “Logística do atendimento do serviço pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias” Autora: Cleuza Aparecida Vedovato Orientadora: Maria Inês Monteiro Coorientadora: Ana Paula Boaventura Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Nutricionista entrevista 200 pessoas por causa do baixo consumo de peixe Seja em casa ou no restaurante, o consumidor brasileiro não tem o hábito de comer peixe. Diversas pesquisas já realizadas apontam que o consumo está abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde, ainda que seja de conhecimento geral que o alimento é uma ótima fonte de ácido graxo ômega 3 e traga dezenas de benefícios para o organismo humano. O que influencia o baixo consumo deste alimento? Foi em busca de respostas que a nutricionista Izabella Tesoto Loscalzo realizou entrevistas com 199 pessoas, procurando saber quais atributos de qualidade são levados em consideração para a ingestão do peixe pelo consumidor campineiro. Uma resposta obtida é que os voluntários levam em consideração o sabor, o aroma, a textura e a aparência do peixe na hora de consumir. “Afora o período em que os cristãos celebram a Semana Santa, o peixe não costuma estar presente na mesa do consumidor. É comum imaginarmos que a procedência poderia ser um aspecto relevante, por se tratar de um alimento perecível e de fácil contaminação. Mas fato é que o consumidor leva em conta muito mais os quesitos sensoriais, como aparência, sabor e aroma do que aqueles relacionados com a origem do pescado”, destaca a nutricionista. Apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), a pesquisa de mestrado teve orientação da professora Elisabete Salay. Para Izabella, os resultados podem servir de referência para que os restaurantes e a indústria de alimentos proponham alternativas atrativas ao consumidor e, assim, conseguir uma maior aceitação do peixe. “Um exemplo seria o de sugerir receitas saborosas e criativas. O restaurante também pode informar o

39% dos que frequentam restaurantes e 32% dos que fazem refeições em casa nunca ou raramente comem este alimento Foto: Antoninho Perri

A nutricionista Izabella Loscalzo: “O consumidor leva mais em conta a aparência, aroma e sabor do que a procedência do peixe”

cliente sobre os cuidados higiênicos tomados durante o preparo, por meio de selos de qualidade. Talvez essas informações pudessem despertar o interesse e estimular o consumo”, sugere a nutricionista. Entretanto, a responsabilidade pela baixa aceitação deste alimento não pesa apenas sobre os restaurantes. Na opinião de Izabella Loscalzo, o setor público poderia programar campanhas visando ensinar o brasileiro a identificar um bom peixe, bem como outras maneiras de preparo. “Seria interessante destacar a qualidade nutricional, mas também esclarecer as particularidades quanto a conta-

minantes, de modo que auxilie no aumento do consumo saudável do produto”, defende. Segundo a pesquisadora, o peixe assado foi a forma de consumo mais indicada nas entrevistas. Mas, de maneira geral, a frequência de consumo tanto em casa como no restaurante se manteve muito baixa, confirmando resultados de outros estudos: apenas 7% dos indivíduos comem peixe duas ou mais vezes por semana em casa e 4% em restaurantes. Os índices de quem nunca ou raramente consome peixe são ainda mais preocupantes: 39,7% dos frequentadores de restaurantes e 32,6% dos que fazem as refeições em casa.

O estudo também apontou que as mulheres dão mais atenção à qualidade do peixe, em comparação aos homens. Outro dado é que quanto maior a faixa etária, maior relevância é dada ao seu valor nutricional. Segundo a nutricionista, esses dados mostram que a percepção da qualidade pode variar conforme as características socioeconômicas e demográficas dos indivíduos. Isso foi possível perceber pelo fato de a pesquisa ter sido realizada aos funcionários de uma empresa, com diversos perfis, desde trabalhadores da produção até aqueles em cargo de diretoria. Izabella Loscalzo faz questão de lembrar os benefícios que os peixes oferecem para a saúde humana, por conterem um conjunto de minerais e vitaminas essenciais, proteínas de melhor digestibilidade e baixo teor de gordura e colesterol, além de apresentarem uma composição graxa beneficiada, graças à presença de ácidos graxos essenciais polinsaturados. “Por estes e por muitos outros motivos, o consumo deve ser incentivado na população brasileira”, conclui. (RCS)

Publicação

Dissertação: “Percepção dos consumidores referente a atributos da qualidade de peixe” Autora: Izabella Tesoto Loscalzo Orientadora: Elisabete Salay Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)


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Um árbitro em posição legal MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

s regras do jogo de futebol são conhecidas, mas daí a interpretá-las e aplicá-las corretamente tem uma longa distância. Quantas pessoas já sonharam estar com o apito à mão para garantir a vitória de seu time? Desde o início dos anos 1900, quem, na sua agonia ou em seu estado de felicidade, diante do rádio, não quis interpretar as regras de uma decisão? Como era torcer sem ver e mesmo assim acusar o juiz? Mesmo já na era da televisão, a curiosidade em saber como aquela pessoa indicada para decidir um jogo se comporta em posse das regras levou Marcelo Luís da Silva a frequentar um curso de arbitragem oferecido pela Liga Campineira de Futebol. Uma nota publicada no jornal Correio de Popular de Campinas, em 1994, teria chamado a atenção do jovem funcionário da Unicamp, que não hesitou em se inscrever. Hoje figura entre os árbitros assistentes da categoria 1 da Federação Paulista de Futebol. Marcelo já se antecipa e acentua que, como em qualquer área, a prática acaba sendo bem diferente da teoria. Atento aos ensinamentos do juiz Silvio Cesar Talarico, o secretário de Graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos tornou-se formador de árbitros pela Liga Campineira de Futebol, ao término do curso, em 1995. “Foram mais de dez turmas”, recorda. Ao mesmo tempo, atuava na categoria de base, somando mais de mil jogos como árbitro ou árbitro assistente. Capivariano x Noroeste de Bauru, na divisão Sub15/Sub17, em 1999, foi a primeira partida da Federação Paulista onde Marcelo atuou. Hoje, sente-se realizado por pertencer ao “time” da FPF, participar de mais de 500 jogos em todas as categorias, desde a Sub 15 até os tensos, mas prazerosos clássicos paulistas. Que tinha pelo futebol certo afeito, desde a infância, não duvidava, mas jogava por jogar, por brincadeira, chamava-lhe a atenção a atuação do juiz, que hoje, para ele, entre todos os personagens importantes em campo, é a figura que irá influenciar no resultado da partida, ou quiçá, do campeonato todo. Nas décadas de 1970 e 1980, os “duelos” entre Guarani e Ponte Preta agitavam, assim como a toda a cidade, os moradores do Jardim São Vicente, bairro onde nasceu, e Marcelo não poderia ficar imune, nem mesmo aos clássicos na TV ou no rádio e tampouco às peladas entre amigos. Mas se escolheu o time nessa efervescência toda, se bobear não conta nem para si mesmo neste momento. Juiz não tem time. Para todos os efeitos. Se tinha, ficou na infância, lá nos campos de terra, e fora de campo. Nem mesmo as camisas oferecidas por clubes ou jogadores após as partidas, autografadas, são exibidas por Marcelo. “Melhor não”, diz, enquanto sorri ao pensar no que já colecionou, mas não abre. Prefere zelar pela integridade com a declaração de que a situação do árbitro é delicada, pois, ao entrar em campo, vai lidar não somente com 22 jovens em busca de uma vitória, mas com a comoção de um estádio todo. E para exagerar: quase duas cidades entram em campo, presencialmente, virtualmente, ou pela TV. Então, onde fica o Marcelo pai de uma filha de 4 anos, Giulia, casado com uma torcedora, filho, irmão, primo de outros tantos torcedores? Lá na mesa do jantar, no churrasco de domingo. Em campo, entra somente o árbitro auxiliar da Federação Paulista, que há 14 anos podia até tremer diante de alguns ídolos, do estádio de seus sonhos, da torcida mais bonita, mais afinada, mas hoje é concentração, calma e o que não pode faltar: honestidade. Bola na rede altera o placar, jogador impedido, não. “Nos dérbis, minha

Fora da Unicamp, o servidor tem atuado em jogos importantes, como no clássico Ponte Preta x Guarani

Marcelo Luís da Silva, funcionário da FEA, é integrante do quadro da Federação Paulista de Futebol família se reúne, bugrinos e pontepretanos de camisetas, em harmonia. Depois vão todos ao campo. Ninguém me questiona em nenhum momento. Nunca recebi cobrança na família antes ou depois de atuar.”

DÉRBI CAMPINEIRO Marcelo foi o primeiro árbitro campineiro a atuar no duelo Guarani x Ponte Preta. O empate em 2 a 2 consagrou mais esta realização, em 5 de fevereiro de 2006, no estádio Moisés Lucarelli. “O dérbi é uma festa para a cidade de Campinas, envolve muitas pessoas, famílias. É uma pena que estejamos nos distanciando disso. É considerado um clássico no meio futebolístico”, sustenta. Falta mal marcada reduz chances, cartão abala razão e emoção. Mas Marcelo, conhecedor e intérprete das regras do futebol, assinala: “O árbitro tem de provar o tempo todo que é honesto. Por isso tem de estar emocionalmente e psicologicamente equilibrado”. Os xingamentos são diversos e vêm de todos os segmentos. Todos querem julgar um lance duvidoso e, se não concordam com a marcação, disparam sua ira em forma de palavras. Para isso, há um especialista também para os árbitros. Em alguns espetáculos, segundo Marcelo, o psicólogo acompanha antes, durante e depois. Pela dedicação e pelo compromisso em formar pessoas sérias em sua categoria,

tornou-se um conhecedor pleno não somente das regras, mas de todo o ambiente da modalidade. Fala com eloquência e sensatez sobre todo e qualquer aspecto que envolva o mundo do futebol. E, mais interessante, sem escusas para a possibilidade de erros por parte do “dono” do campo. “Juiz erra? Erra, mas tem de se empenhar em não cometer falhas.” Responsável, Marcelo prefere evitar erros, mas, se isso acontecer, prefere não recorrer à compensação, já que um erro pode atrair outro. E um clássico pode perder o brilho por conta de uma avalanche de erros, além das penalizações. “Não pode se arriscar a cometer uma sucessão de erros. Tem de assumir, caso seja chamado a isso e seguir sendo justo em outros lances”, opina. A imaginação da torcida se agiganta em jogos das categorias nas quais se concentram atletas menores de idade, até porque o público é formado, em sua maioria, pelos pais. A interferência pode ser pior para a criança, segundo Marcelo, pois os pais projetam um retorno bem-sucedido ao nível de Pelé, mas é difícil saber quem chegará ao estrelato, se o garoto será um atleta de ponta ou mediano, se irá jogar no Barcelona, como sonha a maioria dos parentes. “Isso depende muito de oportunidade, de agradar ao técnico. Também depende, muitas vezes, de estar no lugar certo, na hora certa e com o empresário certo”, acentua. Foto: Antoninho Perri

SONHO MAIOR Mas como todo menino jogador, árbitros adultos também têm seu maior sonho, assume Marcelo: “Apitar um jogo na Copa do Mundo”. O que também não é para todos. Precisa conquistar a liga de sua cidade, a federação de seu estado e depois estar iluminado para ser observado por um representante da CBF e em seguida da Fifa. Ah, há a figura do observador (olheiro) também entre eles. Não vacila, que a chance diminui. Faz direitinho que tua chance aumenta. As notas aferidas levam de estagiário a assistente ou árbitro principal. Para chegar ao objetivo, leva anos. Mas Marcelo se diz realizado na FPF. “Para mim, é uma conquista”, declara, citando o amigo Antônio Rogério, também funcionário da Unicamp, que atua desde 1995 na FPF como árbitro principal. A oportunidade de atuar ao lado de árbitros como José Henrique de Carvalho (ex-aspirante da Fifa) e Walter José do Reis (ex-Fifa), por exemplo, garante experiência e maturidade. Nesses momentos, Marcelo procura aproveitar o máximo da companhia de seus parceiros, cujas longas conversas servem de ensinamento para tomadas de decisão. “As decisões são rápidas e eles sempre ensinaram a lidar com isso. O jogo está acontecendo e o árbitro tem de fazer julgamentos rápidos, sem tira-teima. Este vem depois, na avalanche de análises e críticas, dependendo da decisão”, assinala. Marcelo prefere ver futebol sem violência para que a torcida possa voltar ao campo com suas bandeiras, pois elas deixam o estádio mais bonito, com cara de futebol. “Sem torcida, não tem festa. O que precisa ter é política rígida e envolvimento da sociedade, como aconteceu na Inglaterra. Quer exemplo melhor que o da Inglaterra? Hoje os rivais torcem juntos. Existe estádio sem alambrado”, exemplifica. Para ele, o que o Brasil precisa é separar o joio do trigo, mas sem torcida o espetáculo é incompleto.

ACREDITANDO SEMPRE

Marcelo Luís da Silva, diante da FEA: “O árbitro tem de provar o tempo todo que é honesto. Por isso tem de estar emocionalmente e psicologicamente equilibrado”

Para a sorte de Marcelo, as atividades do Campeonato Paulista acontecem aos finais de semana ou à noite em dias úteis, o que permite trabalhar na Unicamp sem abrir mão do apito. Ingressou na Universidade ainda jovem, aos 15 anos, em 1987, por um processo seletivo para mensageiros. Começou na Assessoria de Imprensa, para substituir o jornalista, na época mensageiro, Hélio Costa Júnior, que se afastava para servir ao Exército. Em seguida, o desejo de trabalhar na Universidade Aberta ao Público (UAP), hoje UPA, o levou ao Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), onde permaneceu até ser convidado para trabalhar na área de informática da Escola de Extensão (Extecamp), depois de concluir o curso técnico no Colégio Pio XII, em Campinas. Ao graduar-se em administração, trabalhou no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) e hoje atua na Secretaria de Graduação da FEA. Mas não é só em campo que Marcelo prima pela legitimação de uma disputa. A seu modo, que a muitos parecia silencioso, sempre tentou conscientizar o cidadão a seu redor sobre a importância do voto e a posterior vigilância às práticas de candidatos eleitos para cargos públicos municipais, estaduais ou federais. “É preciso escolher um representante e, se um dia descobrirmos que ele não nos representa, temos de ter uma postura crítica e também de autocrítica para continuarmos tentando melhorar nossa nação. Esperança é sonho. O dia que o homem perde seu sonho ele não tem mais nada. Temos de acreditar sempre”, alerta.


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Destaque do Portal

Lançado o belo livro com as ‘Aves do Campus da Unicamp’ Aves do Campus da Unicamp e Arredores é um belo livro lançado no último dia 16 de abril, que traz para estudantes, ornitólogos e admiradores leigos as imagens, textos e cantos de espécies registradas tanto nas áreas abertas como arborizadas da Universidade. A obra publicada pela Avisbrasilis possui 320 páginas e é assinado por seis pesquisadores do Instituto de Biologia (IB): Milena Corbo, Arthur Macarrão, Giulia B. D’Angelo, Carlos Henrique Almeida, Wesley Rodrigues Silva e Ivan Sazima. O projeto foi financiado pela Reitoria da Unicamp. A primeira parte do livro contém pranchas com fotos das aves e informações como nome popular e nome científico, tamanho, dicas para identificação, dimorfismo sexual (diferenças entre macho e fêmea), habitats (aquático, matas, áreas abertas) e alimentação. A segunda parte é de história natural, o maior diferencial em relação às publicações similares. Além disso, vem acompanhado de um CD com cerca de 80 sons e chamados produzidos pelas aves e obtidos junto a autores, colaboradores e Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard. “Esta obra certamente será apreciada pelo ornitólogo experiente, pelo observador de aves dos fins de semana, pelos amantes da natureza e por alunos de graduação e pós-graduação da Unicamp e de fora dela”, afirmou o professor Wesley Rodrigues Silva, um dos autores. “Queria destacar a sua qualidade editorial, unindo um guia de identificação de campo com um breve compêndio de história natural das espécies retratadas. As imagens são resultado de uma técnica fotográfica ou de desenho bastante apurada, aliada a uma dose feliz de oportunismo, ilustrando cenas raramente presenciadas na vida real ou disponível em outras mídias”, acrescentou. Segundo o docente do IB, o livro traz 170 espécies de aves registradas no cam-

Vida a ca dêi ma c Painel da semana

Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

Painel da semana  Vestibular – A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) abre, dia 22 de abril, as inscrições para o pedido de isenção da taxa de inscrição do Vestibular Unicamp 2014. Elas devem ser feitas até 28 de maio, exclusivamente pela internet. Para finalizar o processo de inscrição, o candidato deve enviar a documentação necessária (descrita no Edital), pelo correio, para a Comvest, até o dia 28 de maio. A falta de qualquer documento ou o envio após o prazo exclui o candidato do processo. A Comvest disponibilizará em seu prédio computadores com acesso à internet para que os candidatos efetuem a inscrição. Leia mais http://www.comvest. unicamp.br/vest2014/isencao/isencao_inicio.html.  Sintática e estrutura informacional – No dia 22 de abril, às 14 horas, na sala CL13 do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), o professor Roland Hinterhölzl, da Università Ca’Ffoscari (Veneza), fala sobre mudança sintática e estrutura informacional. A palestra (em inglês) é aberta ao público e ocorre no âmbito do curso de Pós-graduação “Tópicos em Linguística Histórica”. No dia 29, no mesmo local, Hinterhölzl volta a falar sobre o mesmo tema. Mais informações: 19-3521-1520.  Prêmio Péter Murányi 2013 – A Unicamp recebe no dia 23 de abril o Prêmio Péter Murányi 2013. A distinção é um reconhecimento ao Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), implementado em 2011 na Universidade. Concedido anualmente pela Fundação Péter Murányi, o prêmio distingui projetos inovadores com foco na melhoria da qualidade de vida das populações em desenvolvimento. O tema deste ano foi educação. Considerado pela fundação como a melhor experiência em educação do ano no Brasil, o ProFIS tem sido apontado por especialistas como “um novo caminho para o ensino superior”. O Programa da Unicamp permite que os melhores estudantes do ensino médio público de Campinas tenham acesso aos cursos de graduação, sem a necessidade de prestar vestibular. São oferecidas vagas aos jovens que obtêm as melhores notas no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/04/10/ unicamp-recebera-no-dia-23de-abril-premio-peter-muranyi  Palestra com José Asenjo – O Programa de Pós-graduação em Teoria

Foto: Antonio Scarpinetti

Pesquisadores do IB assinam o livro e, no destaque, a coruja-buraqueira que ilustra a capa

pus e arredores, o que representa aproximadamente 1,5% das aves do mundo, 5% das espécies da América do Sul e 9% das espécies brasileiras. “Dentre elas, quase 5% estão em alguma categoria da lista de espécies ameaçadas do Estado de São Paulo. Também é preciso lembrar a pessoa do saudoso professor Jacques Vielliard, a quem esta obra é dedicada – e quem dedicou boa parte de sua vida ao estudo das aves brasileiras, notadamente na área de bioacústica. Das 85 faixas sonoras que

acompanham o livro, 14 foram gravadas na natureza por ele.” Prestigiando a cerimônia de lançamento, o reitor Fernando Costa observou que este livro completa uma trilogia importante, juntando-se a mais duas obras organizadas por professores, alunos e funcionários da Unicamp: sobre as árvores do campus e também sobre as obras de arte encontradas no interior das unidades e órgãos, bem como nas áreas externas. “Minha relação com as aves vem da infância, nasci em San-

e História Literária e o Centro de Pesquisa em Estudos Hispano-Americanos (CEHISP) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) organizam, dia 23 de abril, às 19 horas, no Auditório do IEL, uma palestra com o professor José Enrique Serrano Asenjo, da Universidad de Zaragoza (Espanha). O evento é aberto aos alunos e interessados nos Estudos Hispano-americanos e nas relações entre Hispano-América e Brasil. Mais informações: 19-3521-1520.  Língua e cultura portuguesa – O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (Cis-Guanabara), orgão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), é um dos organizadores do I Colóquio internacional “Trajetórias da língua e cultura portuguesa na identidade brasileira”. O evento ocorre no dia 25 de abril, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Colóquio aborda a importância de Portugal na formação da Identidade Brasileira e a crescente valorização da língua portuguesa no mundo, principalmente em função do crescimento econômico do Brasil no cenário internacional. Também participam da organização a Unisal, a Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal). Mais detalhes no site do evento http://www.cisguanabara.unicamp.br/coloquio.htm ou telefone 19-3233-7801.  Palestra com Robson Cesila – O Centro de Estudos Clássicos do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) oganiza no dia 25 de abril, uma palestra com o professor Robson Tadeu Cesila (USP). Às 10 horas, no IEL, ele aborda o tema “A confecção do livro entre os antigos romanos retratada na poesia de Marcial”. A palestra é aberta aos alunos de graduação e interessados no assunto. Mais detalhes: 19-3521-1520.  Governança democrática na Educação: Sistema, Rede e Escola – O IX Simpósio do Laboratório de Gestão Educacional acontece nos dias 26 e 27 de abril, no Centro de Convenções da Unicamp e no Ciclo Básico I. Organizado pelo Laboratório de Gestão Educacional (Lage) da Faculdade de Educação (FE), o evento objetiva analisar as políticas educacionais propostas pela União, estados e municípios e criar espaços para relatos de pesquisas e práticas na política e administração da Educação. Conferências, comunicações, minicursos e lançamentos de livros estão no programa do simpósio. A abertura ocorre às 8h30. Inscrições e mais informações no site http://www.fe.unicamp.br/simplage/index.html, telefone 19-3521-5556 ou pelo e-mail lage@unicamp.br  A era do Big Data: promessas e desafios – Tema será debatido no dia 26 de abril, às 14h30, no Auditório do Instituto de Geociências (IG), por Ana Maria Carneiro, coordenadora do Geopi e Fábio Campos, aluno de mestrado do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/ IG). Bibliografia completmentar e outras informações no link http://www. ige.unicamp.br/geopi ou telefone 19-3521-5124.  Holografia – As inscrições para a exposição didática de holografia organizada pelo professor José Lunazzi, do Laboratório de Óptica do Instituto de Física (IFGW) foram reabertas. A exposição contempla aula sobre óptica de imagens, experimentos, demonstrações de hologramas e palestra audiovisual. Desde o primeiro semestre de 2003 o evento recebe escolas públicas e o público em geral. A próxima atividade está marcada pra o dia 26 de abril, às 15 horas e 17h30, no Planetário Municipal de Campinas. Mais detalhes no site do evento http://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/expo.htm, telefone 19-3521-2451 ou e-mail lunazzi@ifi.unicamp.br

Dia 22 de abril, às 9 horas, no auditório do DPM. “Otimização topológica evolucionária aplicada a sistemas fluido-estrutura” (doutorado). Candidato: William Martins Vicente. Orientador: professor Renato Pavanello. Dia 23 de abril, às 10 horas, no auditório KE da FEM. “Estudo da viabilidade da aplicação do processo de soldagem MAG com controle de corrente mecanizada sobre tubulação em operação” (mestrado). Candidato: Mauro dos Santos Alcatrão. Orientador: professor João Batista Fogagnolo. Dia 24 de abril, às 14 horas, no auditório KD da FEM.  Geociências – “Análise de modelos gerenciais para institutos públicos de pesquisa e desenvolvimento” (doutorado). Candidata: Valéria Cristina dos Santos Ribeiro. Orientador: professor Sérgio Luiz Monteiro Salles Filho. Dia 22 de abril, às 9 horas, no auditório do IG.  Estudos da Linguagem – Concordância com sintagmas não argumentais no português brasileiro” (mestrado). Candidato: Harley Fabiano das Neves Toniette. Orientador: professor Juanito Ornelas de Avelar. Dia 24 de abril, às 13 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Emblemas do cristal em Borges e Ramón, sobre historia universal de La Infamia e Doña Juana la Loca, Superhistoria” (doutorado). Candidata: Livia Fernanda de Paula Grotto. Orientadora: professora Miriam Viviana Gárate. Dia 26 de abril, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica – “Análise matemática de um modelo de campo de fase para um processo de solidificação de uma liga binária” (mestrado). Candidato: André Ferreira e Pereira. Orientadora: professora Gabriela Del Valle Planas. Dia 24 de abril, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Ciências Médicas – “Regulação diferencial da Deubiquitinase A20 em tecido adiposo de obesos - potencial envolvimento na regulação da PGC1alpha” (mestrado). Candidata: Bruna Bombassaro. Orientador: professor Lício Augusto Velloso. Dia 22 de abril, às 9 horas, no Anfiteatro do Gastrocentro. “Biomarcadores inflamatórios sobre a rigidez vascular em hipertensos resistentes” (mestrado). Candidata: Natália Ruggeri Barbaro. Orientador: professor Heitor Moreno Junior. Dia 23 de abril, às 10 horas, no Anfiteatro do Departamento de Farmacologia da FCM. “Braquiterapia com alta taxa de dose e cisplatina concomitante no tratamento do carcinoma espinocelular do cólo do útero estadio IIIB: comparação histórica e ensaio clínico aleatorizado” (doutorado). Candidato: Antonio Carlos Zuliani de Oliveira. Orientador: professor Luis Otavio Zanatta Sarian. Dia 24 de abril, às 9 horas, no Anfiteatro do CAISM. “Sintomas climatéricos e fatores associados em mulheres HIV soropositivas” (mestrado). Candidato: Jeffrey Frederico Lui Filho. Orientadora: professora Lucia Helena Simões da Costa Paiva. Dia 26 de abril, às 9 horas, no Anfiteatro do CAISM.  Odontologia – “Análise das células dendríticas na língua, linfonodos cervicais e tonsilas palatinas de pacientes autopsiados com síndrome da imunodeficiência adquirida” (doutorado). Candidato: Rogério de Oliveira Gondak. Orientador: professor Pablo Agustin Vargas. Dia 23 de abril, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Células Hodgkin/Reed-Sternberg-like em linfoma difuso de grandes células b de boca: estudo histopatológico, imunohistoquímico e de hibridização in situ “(doutorado). Candidato: Victor Hugo Toral Rizo. Orientador: professor Oslei Paes de Almeida. Dia 26 de abril de 2013, às 13h30, no anfiteatro 4 da FOP. “Influência de diferentes protocolos de fotoativação nas propriedades de um cimento resinoso dual utilizado para a fixação de pinos de fibra de vidro” (mestrado). Candidata: Maria do Carmo Aguiar Jordão Mainardi. Orientador: professor Flávio Henrique Baggio Aguiar. Dia 26 de abril, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.  Engenharia Química –“Arilação direta de compostos heteroaromáticos com sais de artenodiazônio” (doutorado). Candidato: André Francisco Pivato Biajoli. Orientador: professor Carlos Raque Duarte Correia. Dia 24 de abril, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Síntese e avaliação da atividade antiproliferativa de análogos da goniotalamina, aza-goniotalamina e piplartina” (doutorado). Candidata: Rosimeire Coura Barcelos. Orientador: professor Ronaldo Aloise Pilli. Dia 26 de abril, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

Teses da semana  Engenharia de Alimentos – “Café: compostos bioativos e capacidade desativadora de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio in vitro” (doutorado). Candidata: Naira Poerner Rodrigues. Orientadora: professora Neura Bragagnolo. Dia 26 de abril, às 14 horas, no salão nobre da FEA.  Biologia – “Caracterização estrutural e funcional das chaperonas Hsp100 eHsp90 de Saccharum spp. (cana-de-açúcar)” (doutorado). Candidata: Viviane Cristina Heinzen da Silva. Orientador: professor Carlos Henrique Inácio Ramos. Dia 25 de abril, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IB.  Engenharia Mecânica – “Determinação do carregamento dinâmico em mancais de esferas de contato angular” (mestrado). Candidato: Gustavo Zarpelon Radaelli. Orientadora: professora Katia Lucchesi Cavalca Dedini.

ta Rita do Passa Quatro, cidade pequena e, na época, eminentemente rural. Sempre tive o maior interesse em identificar espécies e cantos. Espero que a quantidade de pássaros no campus aumente, por que nesse período de quatro anos plantamos numerosas árvores, muitas que nem existiam, como a pindaíba, e mais de uma centena de jabuticabeiras.” O livro Aves do Campus da Unicamp e Arredores pode ser solicitado pelo e-mail: avesunicamp@gmail.com

Livro

O retrato da semana na pintura italiana do Renascimento Sinopse:O historiador suíço Jacob Burckhardt inaugurou o campo dos estudos modernos sobre a civilização italiana do Renascimento. Nas últimas décadas de sua vida, Burckhardt dedicou-se a uma longa pesquisa sobre a arte italiana do Renascimento, compondo uma série de escritos sobre o tema, a maior parte editada apenas postumamente. A presente edição consiste na organização, na tradução para o português e na apresentação dos textos do autor sobre a retratística pictórica renascentista. O retrato na pintura italiana do Renascimento compõe-se do texto que intitula o volume, redigido entre 1893 e 1895, além do Apêndice formado por outros três escritos do autor: “Rafael retratista” (1882), “As origens da retratística moderna” (1885) e “Michelangelo furioso” (1895). Autor: Jacob Burckhardt Organização, tradução e apresentação: Cássio Fernandes Ficha técnica: 1ª edição, 2012; 216 páginas; formato: 18 x 27 cm; peso: 0,460 ISBN: 978-85-268-0992-5 Coedição: Editora Fap-Unifesp- Coleção Palavra da Arte Área de interesse: História da arte Preço: R$ 46,00


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Desvendando a radiação do Sol

Protótipo construído na Unicamp será usado para medir emissões solares na frequência dos tera-hertz Fotos: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado do engenheiro eletricista Luis Olavo de Toledo Fernandes, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, proporcionou subsídios para a construção de um protótipo para detecção de radiação na faixa de frequência dos tera-hertz (1 trilhão de Hertz), situada entre o limite superior do rádio (micro-ondas) e o limite inferior da luz visível (infravermelho). A tecnologia serviu de base para a concepção de um experimento espacial, construído posteriormente, que será embarcado em balões estratosféricos que sobrevoarão a Antártica e o território da Rússia. O objetivo do projeto, batizado de Solar-T, é promover medições da radiação solar na faixa dos tera-hertz. Os parâmetros que dimensionaram o conceito de concentração de radiação presente no aparato foram objeto de pedido de depósito de patente por parte da Unicamp. Os estudos e experimentos que deram origem ao protótipo caracterizado por Fernandes foram realizados no contexto de uma parceria entre o Centro de Componentes Semicondutores (CCS) e o Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). O orientador acadêmico do trabalho foi o professor Jacobus Swart, enquanto a coorientação científica coube ao professor Pierre Kaufmann, que é docente da UPM e pesquisador sênior do CCS. Kaufmann explica que a dissertação foi desenvolvida como parte de uma linha de pesquisa que já soma dez anos e que tem sido financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “O objetivo dessa linha de pesquisa é desenvolver sensores, detectores e filtros que possam detectar radiações na frequência dos tera-hertz, faixa esta muito pouco explorada pela ciência. A motivação científica para atuar nessa área é a observação de explosões solares. Resultados obtidos pelo nosso grupo de pesquisa, e também por outros colegas, indicam que existe uma emissão importante nessa faixa. Ao estudarmos mais detalhadamente esse fenômeno, nos capacitamos para desenvolver novas tecnologias que podem ser aplicadas em diferentes áreas, como civis, militares, aeroespaciais e médicas”, detalha Kaufmann. Um exemplo de aplicação desse conhecimento, conforme o docente, está na eventual concepção de técnicas de diagnóstico por imagem para uso na medicina. Na área militar, é possível desenvolver detectores para identificar remotamente o transporte de materiais perigosos, como explosivos e armas químicas. “Atualmente, o CCS está na fronteira do conhecimento nessa área. Estamos pesquisando em pé de igualdade com os nossos colegas estrangeiros”, garante Kaufmann. De acordo com ele, a versão de voo do detector foi construída na Rússia e integrada no Brasil, a partir dos parâmetros estabelecidos nos laboratórios do Centro, caracterizados pelo seu orientado. Até chegar ao modelo que serviu de base para o equipamento que será embarcado nos balões estratosféricos, o autor da dissertação teve que resolver diversos problemas. Ademais, ele participou da construção de algumas versões preliminares do protótipo do aparelho. “Nós tivemos que desenvolver e

Luis Olavo de Toledo Fernandes, autor da dissertação: “Nós tivemos que desenvolver e caracterizar alguns materiais, bem como os filtros e sensores que são utilizados no detector Foto: Divulgação

Protótipo construído na Unicamp: modelo de voo será embarcado em balões estratosféricos para medir a radiação solar

caracterizar alguns materiais, bem como os filtros e sensores que são utilizados no detector. Os filtros de frequência tera-hertz foram inteiramente desenvolvidos e fabricados pelo CCS. Durante os ensaios que realizamos em laboratório, o equipamento demonstrou grande sensibilidade. Conseguimos registrar a variação de 1 Kelvin [unidade que mede a grandeza da temperatura termodinâmica], o que é muito bom. Isso representa uma sensibilidade cerca de 100 vezes maior que a dos detectores conhecidos”, compara Fernandes.

VOOS ESTRATOSFÉRICOS O trabalho realizado pelo estudante de pós-graduação motivou participações em congressos internacionais e artigos científi-

O professor Pierre Kaufmann: “A motivação científica para atuar nessa área é a observação de explosões solares”

cos que foram publicados em revistas de alto impacto. A divulgação chamou a atenção da comunidade científica. Graças a essa repercussão, os pesquisadores brasileiros receberam propostas de colaboração de seus pares em outros países. Duas dessas ofertas, que foram aceitas, referiam-se ao acoplamento do detector em balões estratosféricos, que alcançarão a altitude de 40 quilômetros acima da superfície terrestre. Em outros termos, o equipamento pegará carona nesses veículos, para poder promover a medição da radiação solar na faixa dos tera-hertz. Para isso, o modelo final de voo foi construído por uma empresa russa para suportar as condições desfavoráveis durante a subida do balão, entre elas o frio intenso, que pode atingir 60 graus negativos. “Todo o aparato de voo foi integrado e testado por uma empresa brasileira. Ele está pronto, à espera dos voos. Um deles deverá durar entre sete e dez dias e percorrerá o território da Rússia de leste a oeste. Nesse caso, vamos contar com a colaboração do Instituto de Física Lebedev, de Moscou, e da Universidade da Califórnia, de Santa Barbara. O outro voo será sobre a Antártica e deverá durar duas semanas. Neste experimento, teremos a colaboração da Universidade da Califórnia, de Berkeley”, informa Kaufmann. As partidas devem ocorrer entre o ano que vem e 2015. O docente esclarece que a experiência tem que ser realizada no plano estratosférico porque a atmosfera terrestre é “opaca”, bloqueando quase toda radiação tera-hertz recebida na superfície do planeta. A uma altitude de 40 quilômetros, esse tipo de absorção não ocorre. Segundo Fernandes, autor da dissertação, o modelo de voo do detector foi dotado de novos dispositivos, de

modo a possibilitar a captura, armazenamento, tratamento e envio dos dados. Conta, por exemplo, com um sistema de telemetria, que será responsável pela transmissão à base terrestre, via satélite, das informações colhidas. São esses dados, esperam os pesquisadores da Unicamp e do Mackenzie, que possivelmente jogarão novas luzes, sem trocadilho, sobre os fenômenos envolvidos na emissão de radiação na faixa dos tera-hertz. O tema das explosões solares, observa Kaufmann, permaneceu “fora de moda” por muito tempo, por razões inexplicáveis. O assunto voltou a merecer atenção da comunidade científica em tempos recentes, em razão do trabalho realizado por pesquisadores brasileiros no Complexo Astronômico de El Leoncito, instalado nos Andes Argentinos. Lá, os cientistas associaram pela primeira vez as explosões solares às emissões em tera-hertz.

MECANISMOS MISTERIOSOS

O coorientador científico da dissertação esclarece que os mecanismos físicos de produção de energia solar continuam tão misteriosos como quando foram descobertos há 70 anos. “Nós conseguimos observar e diagnosticar muito bem os subprodutos das explosões solares, como a geração de partículas ou a produção de raios X e gama. Entretanto, o mecanismo que gera a energia permanece desconhecido. As pesquisas têm demonstrado que na região entre o rádio e o visível existe uma emissão de radiação. Isso nos fornece indícios da produção de partículas com energias extremamente elevadas, que até há pouco tempo eram insuspeitadas. Ou seja, há muito mais energia nesse acelerador de partículas que está no Sol. Atualmente, o diagnóstico se apresenta como muito mais importante do que a modelagem. Ocorre que, para fazermos o diagnóstico, nós precisamos de sensores e detectores nessa faixa de terahertz”, pormenoriza Kaufmann. O docente do Mackenzie e pesquisador da Unicamp assinala, ainda, que esse tipo de pesquisa se reveste de dois aspectos fundamentais. Um deles é colocar a ciência a serviço da inovação tecnológica, de modo a fazer com que o Brasil não se torne dependente de outros países. O outro é a formação de recursos humanos qualificados para trabalhar tanto na academia quanto no setor produtivo. Kaufmann lamenta, porém, que por estas plagas não tenha ocorrido o mesmo que aconteceu na Coreia do Sul, onde o crescimento da produção científica foi acompanhado pela ampliação do número de patentes. “Aqui, nós temos publicado bastante e com qualidade, mas nossa capacidade de transformar o conhecimento em produtos e processos ainda não foi suficientemente maximizada”, considera.


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As variadas dimensões dos

Jogos dos Povos Indígenas ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

s Jogos dos Povos Indígenas (JPIs), como diz o nome, são eventos que se prestam à prática de jogos e à divulgação de manifestações esportivas e culturais. Em sua concepção, os objetivos para os quais foram criados não eram muito claros e nem os irmãos Terena – Mariano e Carlos – imaginavam o impacto que isso produziria na sociedade, nem como idealizadores que foram do projeto, em parceria com o Ministério do Esporte. Neste ano, em agosto, deve ocorrer a sua 12ª edição, em Cuiabá (MT), quando são esperados perto de 1.600 indígenas brasileiros de 40 etnias e dois representantes de 16 países. Um estudo de doutorado da Faculdade de Educação Física (FEF) sobre esses Jogos, feito pesquisador Deoclecio Rocco Gruppi, conclui que, além de promoverem o encontro entre os povos indígenas e ‘brancos’, eles hoje atuam como uma celebração e reconhecimento de alteridade. É inclusive um momento de discussão dos problemas surgidos na aldeia. Também o reconhecimento dos Jogos já estava presente no artigo 217 da Constituição Brasileira de 1988, ao delinear que “é um dever do Estado proteger, resgatar, registrar e divulgar as manifestações culturais de caráter esportivo que se vinculem às raízes étnico-históricas”. Carlos Terena, em entrevista a Deoclecio, apresentou-lhe o processo pelo qual a atividade passou até chegar à sua instituição. Segundo ele, há uma estreita relação entre as comunidades indígenas com o esporte e a realização de um sonho, bem como um espírito de lideranças que perpassou quase duas décadas expondo como é “mover as coisas para frente”. A criação de uma equipe de futebol, formada por estudantes indígenas, foi um marco para começarem a discutir outras questões políticas e a se politizarem, garante o líder indígena. Foram oportunidades de dar visibilidade a esse esporte perante as comunidades não indígenas e criar inter-relações com dirigentes políticos do Ministério do então Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte (Indesp). A primeira edição dos JPIs tornou-se realidade em 1996. Algumas das modalidades esportivas tradicionais da competição envolvem Jikunahati (futebol de cabeça), Kopü-Kopü (jogo de peteca), Rokrá ou Rõkrã (semelhante ao jogo de taco) e Tihimore (semelhante ao boliche), entre outras. Ao falar dos significados dos Jogos, Carlos Terena afirma que hoje se percebem as novas relações que os indígenas podem ter com a sua sociedade e com as não indígenas. “Com isso, houve um fortalecimento da cultura dos povos indígenas.” Os JPIs acontecem em âmbito nacional e já foram sediados em Goiânia (GO) em 1996, em Guaíra (PR) em 1999, em Marabá (PA) em 2000, em Campo Grande (MS) em 2001, em Marapanim (PA) em 2002, em Palmas (TO) em 2003, em Porto Seguro (BA) em 2004, em Fortaleza (CE) em 2005, em Recife/Olinda (PE) em 2007, em Paragominas (PA) em 2009 e em Porto Nacional (TO) em 2011.

Fotos: Roberta Tojal / Fernando Amazonia

Estudo da FEF conclui que os JPIs contemplam questões esportivas, culturais, sociais e políticas Não obstante serem organizados Jogos Regionais como os Jogos Interculturais de Campos Novos do Pareci (MT), Jogos Indígenas do Pará e Festa do Índio em Bertioga (SP), também os Jogos Culturais Indígenas de Rio das Cobras (PR) e a Semana Cultural Indígena da Terra Indígena de Marrecas – (PR) são outros exemplos dessas práticas corporais no país. Nesse aspecto, Deoclecio apurou ser possível levar em conta as estruturas sociais no processo pelas quais passaram a ser relacionadas aos Jogos dos Povos Indígenas, que têm como característica a celebração, o encontro, o conhecimento de outros povos e o reencontro com outros, fazendo com que sejam reconhecidos por suas diversidades culturais. Agora, tal reconhecimento pela comunidade não indígena, salienta o pesquisador, traz novas maneiras de relação, e questões como saúde, demarcação de terra e alimentação começam a ter outras dimensões nos debates. As suas condições de vida já são discutidas por lideranças indígenas e não indígenas, pelas novas configurações sociais, o que traz uma melhor interlocução para manifestações culturais amparadas pela Constituição. “Esses Jogos refletem a diversidade de povos e de línguas faladas no país, demonstrando que não somos um povo uno e não temos só uma língua falada por este povo plural”, realça o doutorando. Atualmente, são catalogadas 305 etnias indígenas e 274 línguas diferentes no país. A língua ainda com a qual se comunica majoritariamente é a portuguesa.

HISTÓRIA

A pesquisa de Deoclecio aconteceu no período de 1996 a 2011 das edições dos JPIs, ao passo que o trabalho de campo desenvolveu-se em Porto Nacional em 2011. Mas as primeiras aproximações do autor com a temática foram em sua carreira como professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste, em Guarapuava-PR. Em 2007, ele participou de um projeto de extensão das Universidades Públicas do Paraná, dentro do projeto Universidade sem Fronteiras, intitulado “Integração, educação e ensino superior: educação para a saúde”. A iniciativa, financiada pela Fundação Araucária, buscou a ressignificação dos Jogos ‘Tradicionais’ da etnia Kaingang. Era um grupo interdisciplinar. Nele, Deoclecio ficou responsável pela área de Educação Física. Os trabalhos foram feitos na Escola da Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, a cerca de 100 km de Guarapuava. O contato com as lideranças indígenas de Rio das Cobras, o conhecimento da cosmologia Kaingang, seus rituais e os jogos ‘tradicionais’ inspirou o pesquisador a estudar mais aquela etnia, cuja população chega a 34 mil pessoas (um dos cinco povos mais numerosos do Brasil). Em 2009, o projeto finalizou e Deoclecio foi aprovado no doutorado da FEF da Unicamp, com orientação da professora Maria Beatriz Rocha Ferreira. “A intenção era voltar-me às práticas corporais dos Kaingang”, relata. Em 2010 foi convidado para

Modalidades praticadas nos JPIs: evento promove, entre outras questões, a aproximação com os “brancos”

um projeto de pesquisa selecionado pelo Ministério do Esporte – “Jogo, celebração, memória e identidade: reconstrução da trajetória de criação, implementação e difusão dos jogos dos povos indígenas”. Nesse ano, dedicou-se à temática dos Jogos dos Povos Indígenas e suas práticas corporais. O projeto era coordenado por Maria Beatriz (do Laboratório de Antropologia Biocultural – Labantropo da FEF) e pelas professoras Olga von Simson (do Centro de Memória Unicamp) e Vera Regina Toledo Camargo (do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo). De outra ponta, tinha como coordenadores indígenas os irmãos Terena (do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena). Foi então que conseguiu criar um acervo de memória dos JPIs, o qual chamou Banco de Dados e Imagens dos Jogos dos Povos Indígenas (www.labjor.unicamp.br/ indio/galeria), que reúne material sobre o seu processo de constituição. São cerca de quatro mil fotografias, recortes de jornais de época sobre os Jogos, transcrições de entrevistas feitas pelo Labantropo, Labjor e TV Unicamp com os dirigentes indígenas e não indígenas durante os Jogos Interculturais de Campo Novo dos Pareci-MT e os Jogos dos Povos Indígenas de Recife. O intuito era estudar as figurações e relações de poder. Esse projeto incluiu a concepção de um site (www.labjor. unicamp.br/indio) com as edições dos JPIs, as práticas corporais nos Jogos, as etnias participantes, o grupo de trabalho, a indicação de sites sobre os JPIs e uma bibliografia das pesquisas. O grupo ainda organizou um Fórum Permanente na Unicamp e publicou o livro Jogo, Celebração, Memória e Identidade: Reconstrução da Trajetória de Criação, Implementação e Difusão dos Jogos dos Povos Indígenas (1996-2009). A coordenadora do Labantropo elaborou em 2011 um projeto de pesquisa de campo para os XI Jogos dos Povos Indígenas de Porto Nacional, quando foram atualizadas informações do banco de dados e imagens, que pode ser acessado por pesquisadores com senha de acesso cadastrada previamente. Foto: Arquivo pessoal

Deoclecio Rocco Gruppi, autor da tese de doutorado: “Os Jogos refletem a diversidade de povos e de línguas faladas no país, demonstrando que não somos um povo uno”

CENSO

Conforme Deoclecio, os Jogos dos Povos Indígenas ainda são pouco difundidos. O que há são mais relatos antigos abordando “práticas corporais” na aldeia, tidas como ‘tradicionais’ (lutas, danças e jogos) – os Jogos Indígenas. Já os Jogos dos Povos Indígenas iniciaram com as primeiras publicações pela mídia em 1996. As pesquisas acadêmicas começaram em 2001, com a professora Maria Beatriz. E o que tem publicado parte do seu grupo de pesquisa. Há, porém, alguns trabalhos isolados produzidos na UnB, UEMT, Ufam, Ufes e Uepa. O Censo Demográfico de 2010, no que tange ao indígena, aborda o quesito cor ou raça. Então foi possível comparar e analisar três referências censitárias: 1991, 2000 e 2010. Os primeiros resultados do último Censo revelaram que 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas e que o crescimento no período 2000 a 2010 – 84 mil indígenas, representando 11,4% – não foi tão expressivo quanto o verificado entre 1991 e 2000, que foi de 440 mil indígenas (150%). Para o doutorando, isso denota a falta de comprometimento do Estado com as questões indígenas. Ainda não há informações sistematizadas sobre o indígena brasileiro, como a diversidade de povos, as línguas faladas e a cultura. “Essa ausência também pode ser notada na educação escolar”, garante ele. O seu estudo situa-se em um processo interdisciplinar ligando as áreas de Antropologia, História, Sociologia e Educação Física. A investigação levou em consideração a população atendida a partir de critérios como idade, sexo, número de participantes, modalidades estabelecidas, tanto nos Jogos Escolares Brasileiros quanto nos Jogos dos Povos Indígenas, além de várias outras questões.

Publicações

Tese: “Jogos dos povos indígenas: trajetória e interlocuções” Autor: Deoclecio Rocco Gruppi Orientadora: Maria Beatriz Rocha Ferreira Unidade: Faculdade de Educação Física Financiamento: Capes Livro: Jogo, Celebração, Memória e Identidade: Reconstrução da Trajetória de Criação, Implementação e Difusão dos Jogos dos Povos Indígenas (1996 – 2009) Autores: Rocha Ferreira, M. B.; Camargo, V.R.T; Sinsom, O. R. Von. (orgs.) Editora: Curt Nimuendajú, 2011


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