Fotos: Fábio Rodrigues Pozzebom / Marcelo Casal Jr. / ABr
O que dizem as ruas? 5 a8
Dez intelectuais analisam as manifestações de rua que abalaram o país nas últimas semanas.
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Campinas, 1º a 28 de julho de 2013 - ANO XXVII - Nº 567 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Jornal daUnicamp
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IMPRESSO ESPECIAL
Gustavo Zimmermann | José Arthur Giannotti| José Dari Krein | Luiz Werneck Vianna | Marcelo Ridenti | Rachel Meneguello | Ricardo Antunes| Roberto Romano | Ruy Braga | Walquiria Leão Rêgo
No calor das ‘revoltas’ 9
O professor de filosofia Marcos Nobre (IFCH-Unicamp), autor do ensaio (e-book) “Choque de Democracia”, escrito na esteira dos acontecimentos, afirma que as “revoltas de junho” significam, de fato, o fim do processo de redemocratização do país, que se arrasta desde os anos 80. Na foto maior, manifestantes no Congresso Nacional; policial atira durante protestos em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (à direita): um país convulsionado
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Campinas, 1º a 28 de julho de 2013
Kit detecta mutação genética em tipos de câncer pediátrico Foto: Antoninho Perri
Pesquisadores da Unicamp e do Centro Boldrini desenvolvem tecnologia para detecção automatizada ADRIANA ARRUDA VANESSA SENSATO Especial para o JU
m grupo que reúne pesquisadores da Unicamp e do Centro Infantil Boldrini desenvolveu um kit para detecção de mutação genética ligada ao aparecimento de diferentes tipos de câncer pediátricos, em especial ao tumor de córtex adrenal – que é a glândula localizada em cima dos rins – e ao carcinoma de plexo coroide, que ataca o sistema nervoso central. A tecnologia foi desenvolvida no âmbito do doutoramento de Isabel Pereira Caminha, que é aluna da Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob orientação de José Andrés Yunes, cientista do Boldrini e pesquisador colaborador voluntário da Unicamp, com a colaboração de Ana Luiza Seidinger, funcionária do Boldrini, e Carmen Sílvia Gabetta, responsável técnica do Programa de Triagem Neonatal do Centro Integrado de Pesquisas Oncohematológicas na Infância, da Faculdade de Ciências Médicas (Cipoi-FCM). Isabel conta que seu doutorado ainda está em desenvolvimento e que o objetivo central de seu projeto não era o desenvolvimento do kit, mas sim dimensionar a frequência da mutação R337H na região de Campinas. Segundo ela, esta mutação está relacionada a um aumento na incidência de câncer em crianças, principalmente o tumor de córtex adrenal, que, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, registra número de casos 15 vezes maior do que no resto do mundo. Um dos complicadores iniciais de sua pesquisa, entretanto, era a necessidade de realizar o teste para a detecção da mutação em aproximadamente 30 mil pessoas para que houvesse um resultado estatisticamente válido. “A técnica então disponível – conhecida como PCR-RFLP (Polymerase Chain Reaction – Restriction Fragment Lenght Polymorfism) convencional – exigia a realização de várias etapas de análise em cada amostra a ser testada, o que a tornava inviável para um projeto a ser desenvolvido em um curto espaço de tempo”, relata a aluna.
Isabel Pereira Caminha (à esq.) e Carmen Sílvia Gabetta, pesquisadoras envolvidas no projeto: pedido de patente já foi depositado
Foi necessária, então, a criação de uma nova técnica de PCR, que permitisse identificar a mutação R337H do gene TP53 em grande escala e de maneira mais ágil. Yunes explica que este é o principal diferencial da tecnologia desenvolvida. “O kit permite a detecção da mutação do gene TP53 de maneira mais rápida, uma vez que a técnica anterior requer várias etapas, sendo necessários dois dias para ser completa, enquanto a nova é feita automaticamente em uma etapa e leva apenas quatro horas para a obtenção do resultado”. Yunes ressalta que, além de mais rápida, a técnica desenvolvida é altamente sensível e confiável. “A utilizada anteriormente é mais artesanal, dependente da análise visual de operadores, enquanto a nova é automatizada, o que garante maior confiabilidade ao resultado”, explica o pesquisador. Isabel acrescenta que o fato de a nova técnica ser realizada em apenas uma etapa propicia também a economia de reagentes utilizados, o que implica na redução de custos envolvidos na análise.
Os pesquisadores explicam que, além dos benefícios técnicos imediatos inerentes ao desenvolvimento do kit, há também uma questão pública importante a ser destacada: a possibilidade de inclusão da detecção da mutação R337H entre os exames feitos por meio do teste do pezinho em recém-nascidos. “O kit permite detectar a mutação do gene TP53 usando pequenas amostras de sangue colhidas em papel filtro para o teste do pezinho. Esta possibilidade torna viável a realização do exame sem a necessidade de coletar novas amostras de sangue e propicia a inclusão da análise da mutação TP53 R337H no programa nacional de triagem neonatal”, coloca Isabel. Para Yunes, a realização do teste entre os recém-nascidos pode ser interessante e muito útil, principalmente em regiões de maior incidência da mutação 337H, como a Sul e Sudeste. “A detecção desta mutação pode auxiliar no diagnóstico precoce dos tumores citados, aumentando
Diagnóstico precoce é importante A bióloga e doutora em Genética e Biologia Molecular Ana Seidinger Conte foi uma das colaboradoras na pesquisa que levou ao desenvolvimento do kit. Sua pesquisa de doutorado mostrou que, além de ter ampla correlação com o tumor de córtex adrenal, a mutação TP53 R337H também está associada a outros tipos de câncer, como o de mama e o de ossos. “Estas doenças são potencialmente fatais. Estudo recente publicado na conceituada revista Journal of Clinical Oncology, por pesquisadores do Paraná, mostra que a detecção desta mutação permite o diagnóstico precoce dos tumores citados e aumenta as chances de sucesso no tratamento do câncer”, ressalta a pesquisadora. O tumor de córtex adrenal é uma doença com alta incidência nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e suas chances de cura diminuem
à medida que aumenta o tempo do diagnóstico. Estudos do Centro Infantil Boldrini demonstram que mais de 90% das crianças com TCA são portadoras da mutação R337H. Especificamente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, essa mutação tem uma frequência significativamente alta, acometendo aproximadamente 0,2% da população. A frequência da mutação R337H para o TCA é de 2,39%, ou seja, estas crianças portadoras da mutação irão desenvolver o TCA. Portanto, 0,0048% das crianças das regiões Sul e Sudeste do Brasil correm esse risco. “Para se ter uma ideia da importância da inclusão desta detecção no teste do pezinho, a fenilcetonúria, que já é obrigatoriamente incluída no exame, ocorre em frequência de 0,004 a 0,007%”, observa Yunes. O pesquisador destaca que, apesar da adoção da nova técnica representar um avanço signifi-
cativo, a tecnologia desenvolvida é uma das etapas que antecipam o eventual diagnóstico do câncer. “É preciso ainda estabelecer qual a melhor maneira de acompanhamento das crianças portadoras da mutação – se por exames de imagem ou testes laboratoriais, por exemplo, e com qual frequência. Será preciso avaliar também o impacto psicológico para as famílias portadoras. Mas acredito estarmos no caminho certo e com possibilidades reais de promover um grande avanço na detecção precoce do câncer”, finaliza Yunes. O Estado do Paraná saiu na frente: já tramita na Assembleia Legislativa o projeto de lei 268/2008 para tornar obrigatória a realização do exame de DNA para detecção da mutação R337H no gene TP53 em todos os recém-nascidos no Estado.
as chances de sucesso no tratamento do câncer. Hoje está provado que o acompanhamento das crianças positivas para esta mutação desde o nascimento permite o diagnóstico precoce do câncer, aumentando consideravelmente as chances de cura da doença. Portanto, a aplicação da técnica pelos laboratórios que realizam o teste do pezinho poderia beneficiar uma parte dos portadores da 337H que irá desenvolver o câncer”, prevê Yunes. Atualmente, o teste do pezinho é feito por laboratórios do serviço público e privado. O kit para detecção de mutações do câncer teve seu pedido de patente depositado em dezembro de 2012 junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com o auxílio direto da Agência de Inovação Inova Unicamp. “A Inova Unicamp foi fundamental para nos orientar a respeito do caminho a ser seguido na descrição da tecnologia. Algumas simples sugestões ajudaram a tornar a patente mais sólida e consistente. Ao mesmo tempo, nos ajudaram a torná-la mais abrangente a outros reagentes e materiais utilizados”, ressalta Yunes. A Agência também está tratando de buscar empresas parceiras para levar a tecnologia ao mercado. O contato para empresas interessadas na tecnologia é parceiras@inova.unicamp.br
Publicação Tese: “Espectro tumoral e alterações moleculares associadas à “tumorigênese em portadores da mutação TP53 R337H” Autora: Ana Luiza Ongaro Seidinger Conte Orientador: José Andrés Yunes Financiamento: CNPq (projeto de pesquisa), Fapesp (bolsa de estudos) e Capes (projeto Procad)
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner
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Quando o particular
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prevalece sobre o geral Estudo constata que políticas sobre mudanças climáticas privilegiam interesses nacionais Foto: Fernando Donasci/Folha Imagem
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
s acordos internacionais sobre mudanças climáticas não exercem grande influência na elaboração das políticas públicas nacionais voltadas ao tema. Com frequência, os países definem suas legislações e programas de modo a priorizar interesses próprios, o que cria uma falta de sintonia no plano global. A conclusão é do geógrafo Fabiano de Araújo Moreira, que analisou a questão em sua dissertação de mestrado, defendida recentemente no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. O trabalho, que teve orientação da professora Claudete de Castro Silva Vitte, comparou as políticas adotadas por Brasil e México como ponto de partida para uma reflexão mais geral sobre o assunto. Moreira, que fez graduação na própria Unicamp, conta que escolheu o México para confrontar com o Brasil por dois motivos principalmente. Primeiro, porque ele integra um grupo de pesquisa do IG que estuda a América Latina. Segundo, porque aquele país tem se posicionado na vanguarda das ações relacionadas às mudanças climáticas, tomando como referência as nações em desenvolvimento. “O México foi o segundo país no mundo e o primeiro entre as nações em desenvolvimento a definir uma política vinculada à Convenção das Mudanças Climáticas, definida durante a ECO-92 [Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro]”, informa o pesquisador. Esta iniciativa, conforme Moreira, é emblemática no que se refere à diferença de postura entre os dois países frente à temática das mudanças climáticas. O Brasil, por exemplo, optou por formular uma legislação que não mantivesse vínculo com os preceitos defendidos na Convenção das Mudanças Climáticas. “As autoridades brasileiras decidiram adotar essa estratégia para evitar que o país pudesse ser posteriormente cobrado pela comunidade internacional. Ou seja, estabelecendo metas próprias, desvinculadas do acordo internacional, o Brasil se liberou do compromisso de prestar contas sobre o cumprimento ou não dos objetivos estabelecidos”, explica. A legislação brasileira foi promulgada em 2009 e definiu como principal meta a redução das emissões de gases de efeito estufa a taxas que variam de 36,1% a 38,9%, tendo como horizonte o ano de 2020. “As autoridades optaram por fixar uma diretriz geral, dando pouca ênfase a setores como transporte, agricultura e indústria. Um aspecto importante sobre essa decisão é que ela foi baseada principalmente na redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado – setor com maiores índices de emissões de gases estufa no país –, processo que já vinha acontecendo. Na prática, o país somente fez constar na lei as ações que estavam sendo praticadas, sem assumir nenhum outro grande compromisso”, pontua o autor da dissertação. Moreira lembra que a lei brasileira nasceu num contexto específico. O país vivia o período anterior ao da campanha eleitoral para a Presidência da República. O tema do meio ambiente, que estava ausente dos discursos dos virtuais candidatos, somente foi colocado na agenda com o lançamento da candidatura de Marina Silva, então no Partido Verde (PV). “O assunto não integrava sequer a pauta do Ministério das Relações Exteriores. Com a entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, porém, os demais candidatos se sentiram obrigados a também falar sobre a questão ambiental, bem como o gover-
Área desmatada para o cultivo de soja, no município de Sinop, Mato Grosso
no federal se viu forçado a debater e a elaborar uma legislação específica para o setor”, relata. Um dado importante sobre a lei promulgada pelo Brasil, prossegue o geógrafo, é que ela levou em consideração o cenário denominado business as usual, que projetou uma taxa de crescimento para o país e associou a redução das emissões de gases de efeito estufa a esse índice. “Isso abre a possibilidade de o país rever as suas metas para baixo, por exemplo, dado que o crescimento previsto pode não se aproximar do crescimento real”, adverte Moreira. Na avaliação do pesquisador, até aqui a legislação nacional trouxe poucos benefícios efetivos à preservação do ambiente.
MÉXICO No México, observa o autor da dissertação, os debates que levaram à formulação da lei sobre mudanças climáticas ocorreram num contexto diferente do verificado no Brasil. Ele destaca que aquele país tem sofrido nos últimos anos com a repetição de eventos extremos, como secas, inundações e furacões, fenômenos relacionados pelos cientistas às alterações no clima. “Por sentirem esses problemas na pele, os mexicanos vêm debatendo e desenvolvendo políticas relativas ao tema há mais tempo. Isso fez com que o país
assumisse uma posição de vanguarda e formulasse uma lei bastante avançada”, considera o autor da dissertação. Segundo ele, o México entendeu inicialmente que não deveria definir metas, pois precisaria avaliar a situação do país, colher dados científicos, debater a questão com a sociedade e amadurecer as ideias. Superada essa primeira etapa, aí sim o país elaborou a lei, que não focou suas diretrizes num único ponto, como fez o Brasil. “As emissões de gases de efeito estufa por parte do México têm características semelhantes às das emissões das nações desenvolvidas. Isto é, a participação dos setores, como transporte, indústria, agricultura e desmatamento, é equivalente. Justamente por causa desse quadro é que o país decidiu estabelecer objetivos igualmente equivalentes para eles”, esclarece. De modo geral, o México decidiu que fará esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na ordem de 30% até 2030 e de 50% até 2050, tendo como referência o ano de 2000. “Vale destacar que as metas mexicanas foram vinculadas aos termos da Convenção das Mudanças Climáticas, o que significa que o país será acompanhado e poderá ser posteriormente cobrado pela comunidade internacional”, pontua Moreira. De acordo com ele, a lei mexicana é bem mais completa que a brasileira. O texto define, entre outros Foto: Antonio Scarpinetti
pontos, a criação de fundos para financiar os programas e a constituição de comitês para pesquisar, organizar e executar as ações. Ao ser questionado sobre o possível maior engajamento dos mexicanos nas ações de preservação do ambiente, o geógrafo pondera que esse talvez não seja o termo mais adequado para definir a postura daquela sociedade. “Eu participei de um intercâmbio e tive a oportunidade de passar dois meses na Universidade Nacional Autônoma do México, onde realizei parte da minha pesquisa. O que pude verificar é que aquela sociedade tem uma percepção mais apurada sobre como o país é afetado pelos eventos extremos, que costumam ser associados às mudanças climáticas. Lá, ocorre uma forte migração interna por causa dos repetidos episódios de secas e inundações”, exemplifica. Após confrontar os casos de Brasil e México e considerar as experiências de outros países, Moreira concluiu que os acordos internacionais não estão direcionando eficazmente as políticas dos países relativas às mudanças climáticas. “Os países defendem primeiramente os interesses nacionais. Alguns fazem mais e outros menos, mas todos querem fazer prevalecer a sua soberania. Evidentemente que isso traz consequências, pois as ações não são coordenadas e a soma das partes não resulta num todo coerente e eficaz”, analisa. Nas discussões que teve oportunidade de travar com pesquisadores do Brasil e do exterior, o autor da dissertação, que contou com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), diz ter identificado uma posição majoritária da comunidade científica de que seria necessário criar um órgão internacional que balizasse as políticas nacionais e estabelecesse sansões para aqueles que descumprissem os compromissos assumidos. Apesar disso, completa Moreira, esses mesmos pesquisadores reconhecem que a ideia de constituição desse órgão navega no mar da utopia. “Isso certamente mexeria com os interesses e a soberania dos países. Como sabemos, dificilmente eles estariam dispostos a abrir mão de pontos que consideram fundamentais”. Em sua dissertação, o geólogo aproveita para fazer uma reflexão sobre o discurso do desenvolvimento sustentável, que ganhou força notadamente a partir dos anos 1990. “Esse discurso promoveu a estratégia de naturalizar e ecologizar a exploração da natureza. Dito de outro modo, foram criadas justificativas para a exploração dos recursos naturais, sob a promessa de crescimento e da definição de mecanismos de ‘compensação’. O que precisamos discutir é se queremos esse tipo de desenvolvimento, que tem na sua base a destruição da natureza. Precisamos decidir se queremos crescer preservando de fato ou explorando o ambiente. Temos que pensar no limite da exploração da natureza e no legado que pretendemos deixar às futuras gerações”, defende Moreira.
Publicação
Fabiano de Araújo Moreira, autor da dissertação: “Alguns países fazem mais e outros menos, mas todos querem fazer prevalecer a sua soberania”
Dissertação: “Brasil e México no regime ambiental internacional sobre mudanças climáticas: avanços e desafios em suas políticas nacionais e o discurso do desenvolvimento sustentável” Autor: Fabiano de Araújo Moreira Orientadora: Claudete de Castro Silva Vitte Unidade: Instituto de Geociências (IG) Financiamento: CNPq
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Livro questiona ‘atraso’ da sociedade imperial LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
Jornal da Unicamp – O que motivou essa reunião de artigos sobre “monarquia, liberalismo e negócios no Brasil” e por que o período demarcado, de 1780 a 1860? Izabel Marson – Foi o propósito de divulgar pesquisas, realizadas nos Programas de Pós-Graduação em História da Unicamp e da USP, que reinterpretaram configurações cristalizadas sobre a sociedade imperial, acompanhando a revisão historiográfica realizada em universidades estrangeiras e brasileiras desde a década de 1980, a qual alargou sobremaneira o entendimento do político e de suas manifestações no século XIX. Dessa forma, os trabalhos reunidos na coletânea demonstram os sensíveis vínculos entre os princípios e práticas do regime monárquico constitucional aqui vivenciado com o liberalismo, com os interesses dos mercados locais e internacional e com a escravidão em diferentes circunstâncias do movimento histórico que constituiu o estado nacional no Brasil. Foram preparados, em sua maioria, por exalunos dos referidos programas, e originalmente integraram teses que tiveram respaldo financeiro de agências públicas (CNPq, Capes e Fapesp) e se destacaram por sua contribuição para a história política do Império. A periodização diz respeito à especialidade dos estudos das organizadoras, e reverbera marcos das pesquisas que têm orientado. Enquanto a professora Cecília de Salles Oliveira [docente do Museu Paulista e do Departamento de História da USP] especializou-se em temas relacionados às conjunturas que precederam e consolidaram a independência (17801831), venho investigando as práticas liberais de diverso teor vivenciadas no Império, e figuras políticas de projeção no período de afirmação da Monarquia no Brasil (1840-1860). JU – Na apresentação são destacadas três assertivas da tradição historiográfica sobre o Império: a herança colonial que impossibilitou por muito tempo o desenvolvimento de uma efetiva comunidade de cidadãos, a importação artificial de ideias e práticas europeias, e a concepção do Império como um período desprovido de perfil próprio. Gostaria de um comentário a respeito e, também, sobre as novas leituras surgidas a partir dos anos 80. Em que medida elas se contrapõem à historiografia tradicional? Izabel Marson – Fundamentadas em exaustiva exploração de fontes primárias e orientações teóricas que se constituíram na segunda metade do século XX na esteira da crise dos paradigmas liberais e dos marxismos, dentre outros, Edward P. Thompson, Hannah Arendt, Claude Lefort, Pierre Rosanvallon, Quentin Skinner, estudos realizados no Brasil e em outros países (re)avaliaram o império do “econômico” sobre as práticas e escolhas políticas e a cesura entre as ideias, os imaginários e as realizações sociais, referências que problematizaram uma leitura da história fundada em esquemas explicativos binários – dominantes versus dominados – e reconheceram a importância da cultura e das iniciativas dos homens e de variados grupos no percurso das sociedades modernas. No que diz respeito à história política do Império, ela foi (re)avaliada do ponto de vista de sua cultura, da formação da opinião pública, da constituição de projetos políticos, da atuação dos estadistas e dos grupos sociais e das relações da sociedade imperial com a escravidão. A iniciativa questionou referências consagradas – sobretudo a ideia de reiteração de uma herança colonial impeditiva de mudanças, a importação artificial de ideias e práticas políticas europeias e a concepção de que o Império constituiu tão somente um período sem perfil próprio, referências assentadas no paradigma “Antigo Regime, feudalismo, latifúndio, servidão, escravidão”, que perdurou por décadas. Problematizou-se particularmente o descompasso temporal entre as vivências americanas e europeias, bem como o comportamento “imitativo” e desvinculado da realidade brasileira praticado por políticos e intelectuais que dominavam a política imperial. Foi reavaliada, também, a incompatibilidade entre liberalismo e escravidão, investigando-se em maior profundidade a vivência do cativeiro e o desempenho dos homens livres de posses medianas na sustentação da monarquia. Em suma, os textos desta coletânea interrogam a tese do “atraso” da sociedade imperial; o inacabamento e intangibilidade da nação brasileira no século XIX; assim como sua incapacidade para a realização de pacto monárquico representativo da vontade e objetivos, materiais e políticos, não raro divergentes, Foto: Divulgação
Izabel Andrade Marson (à esq.) e Cecília Helena Salles de Oliveira, organizadoras do livro: releitura crítica
Monarquia, Liberalismo e Negócios no Brasil: 1780-1860” é um livro que questiona a tese do “atraso” da sociedade imperial devido a uma herança colonial retrógrada que impossibilitou por muito tempo o desenvolvimento de uma efetiva comunidade de cidadãos; da importação artificial de ideias e práticas europeias; e da concepção do Império como um período desprovido de perfil próprio. Trata-se de uma coletânea de artigos organizada pelas professoras Izabel Andrade Marson, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, e Cecília Helena Salles de Oliveira, do Museu Paulista e do Departamento de História da USP. O lançamento é da Edusp. Izabel Marson, nesta entrevista concedida por e-mail, oferece uma boa noção sobre o conteúdo do livro. Foto: Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Vendedoras em rua do centro do Rio de Janeiro, em foto feita em 1875: obra reavalia incompatibilidade entre liberalismo e escravidão
de cidadãos de diverso perfil que, acompanhando congêneres norte-americanos e europeus, disputaram a primazia de gerenciar seus interesses no âmbito da sociedade e do Estado. JU – Pode discorrer um pouco sobre a presença da política nas práticas mercantis e em outras atividades cotidianas daquele período? Izabel Marson – Tendo por premissa que princípios liberais orientaram e estruturaram as relações vigentes na sociedade imperial desde o contexto da independência, nela exteriorizando-se de múltiplas formas – constituindo ali, portanto, estreito vínculo entre propriedade, mercado, monarquia constitucional e cidadania – os textos do livro flagram os laços originários entre política e negócios em variadas circunstâncias, e em desempenhos individuais, tanto em ambientes públicos quanto privados, desde a crise do Antigo Regime até a década de 1860. Estão organizados em duas partes. A primeira diz respeito ao período entre 1780 e 1830, e acompanha mudanças nos comportamentos e nas práticas políticas que viabilizaram a Independência e problematizaram o primeiro Reinado. Ana Paula Medicci revela como o trato das arrematações dos impostos reais em São Paulo no final do século XVIII consolidava a parceria entre os “principais da terra” e os administradores coloniais no apoio ao império português, e quais os ganhos dos súditos paulistas com a fixação da Corte no Brasil. Emílio Lopez esclarece como os preparativos e festejos públicos da aclamação de D. João VI (re)afirmaram os contatos entre os comerciantes da Corte e o soberano, e fortaleceram a fundação do império português na América. Cecília de Salles Oliveira expõe a movimentação dos vários grupos políticos no sangrento confronto entre as tropas reais e representantes da sociedade do Rio de Janeiro ocorrido em 21 de abril de 1821 na “Praça do Comércio”, lugar emblemático do mercado (e de agilização da propriedade – alicerce da cidadania) que, sintomaticamente, abrigou a primeira Assembleia de cidadãos da Corte para decidir, à revelia do governo joanino, sobre o retorno do rei a Portugal, a adesão à Constituição portuguesa e a escolha da Representação provincial às Cortes de Lisboa. Vera Bittencourt aborda as articulações de bastidores de grandes proprietários, negociantes de grosso trato, membros da alta burocracia e militares, visando organizar nas províncias do Rio de Janeiro, Minas e S. Paulo uma teia de sustentação política, econômica, militar e territorial, à permanência de D. Pedro no Brasil e à Independência. João Eduardo Scanavini analisa argumentos e manobras políticas ocorridas nos debates da Câmara de 1827 que, simultaneamente, problematizaram a ratificação do tratado de 1826 firmado por Pedro I com a Inglaterra, no qual se estipulou um prazo para extinção do tráfico de cativos; questionaram os modos de governo do Imperador e pretenderam garantir interesses de membros da casa envolvidos direta ou indiretamente com o comércio de africanos para o Brasil.
JU – E quais são os temas que compõem a segunda parte do livro? Izabel Marson – Ela foca circunstâncias e procedimentos que, de uma forma ou de outra, colaboraram com a (re)afirmação da monarquia no Brasil. Analisando a fala de políticos de destaque – Feijó, Vasconcelos, Justiniano José da Rocha, João Francisco Lisboa, dentre outros – Erik Hörner avalia o quanto os princípios do liberalismo e do mercado, em especial o individualismo, a livre competição e os interesses imediatos, reverberaram nos acertos políticos informais e articulações partidárias dos grupos políticos – restauradores, exaltados moderados e regressistas – nas décadas de 1830 e 1840. Buscando entender as razões da Revolução Praieira, demonstro como a competição pelos cargos de poder e pelas compensadoras contratações oferecidos pela Repartição de Obras Públicas de Pernambuco e outros órgãos do governo – disputadas por grandes negociantes e cidadãos de posses medianas – dividiu a província em dois grandes blocos partidários, levando-os à dolorosa guerra civil de 1848 que, vencida pelos conservadores, firmou o partido no governo por 14 anos. No campo das biografias políticas, Maria Cristina Nunes Ferreira Neto analisa a trajetória pessoal e pública de Teófilo Ottoni, líder da revolução liberal de 1842 em Minas e figura destacada no mundo dos negócios provinciais e da Corte, para explicar como, apesar de excluído do Parlamento, o líder liberal usufruiu da política de Conciliação estabelecida pelo conservador marquês de Paraná, e implementou a Companhia do Mucuri, projeto voltado para a agricultura comercial, vias de comunicação terrestres e fluviais e a fixação de colonos estrangeiros no nordeste de Minas Gerais. Por fim, Eide de Azevedo Abreu investiga algumas razões do fracasso da Liga Progressista desvendando compromissos políticos e empresariais de Aureliano Cândido Tavares Bastos, particularmente seu envolvimento com uma proposta de subvenção a uma companhia de navegação norte-americana que estabeleceria uma linha com barcos a vapor entre o Rio de Janeiro e Nova York, visando incentivar a vinda de imigrantes americanos.
SERVIÇO
Obra: Monarquia, Liberalismo e Negócios no Brasil: 1780-1860 Autoras: Izabel Andrade Marson & Cecília Helena Salles de Oliveira Número de páginas: 348 Editora: Edusp
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Campinas, 1º a 28 de julho de 2013
#ogiganteacordou? ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br
m menos de 20 dias, eles se multiplicaram nas ruas. Passaram de cerca de 2 mil pessoas, em um protesto isolado em São Paulo (06/06), pela redução do preço da passagem do transporte público, para mais de um milhão de brasileiros espalhados, ao mesmo tempo, em quase 400 cidades do país e com uma pauta variada de pedidos (20/06), na maior “onda” de manifestações já vista no Brasil. Em três semanas, conseguiram modificar a agenda de trabalho e influenciar decisões dos governos federal, estaduais e municipais. Caíram reajustes aplicados ao transporte coletivo, em uma reação em cadeia que atingiu diversas cidades, incluindo grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro. Outros aumentos, como o do preço dos pedágios paulistas (6,5 %) e da conta de energia elétrica no Paraná (14,6%), foram suspensos na sequência. Partidos políticos e setores da imprensa nacional, nesse período, saíram das críticas para o reconhecimento da importância dos atos. No ápice da ocupação das ruas, em meio a uma série de protestos pacíficos e outros violentos, a presidente Dilma Rousseff foi à TV, em rede nacional (21/06), tentar acalmar os brasileiros e, logo depois, anunciou um novo pacto político “em favor do Brasil” (24/06), baseado em cinco propostas: realizar um plebiscito para uma constituinte exclusiva sobre a reforma política e criar novas leis contra a corrupção; estabelecer um pacto pela responsabilidade fiscal; acelerar investimentos em saúde e contratar médicos estrangeiros para hospitais públicos; ampliar a desoneração de impostos no setor de transportes; e destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação. No momento em que este texto é escrito, o país está em ebulição, um importante capítulo da história está sendo produzido, como resultado do alinhamento de diversas situações, desejos e inquietações populares. O mundo, e o próprio Brasil, tentam compreender melhor o que despertou o “gigante” – uma expressão incorporada pelos manifestantes, por meio das redes sociais, a partir de um comercial de bebida que mostra um ser de pedra enorme erguendo-se do morro do Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, até então, uma alusão ao momento de recuperação da imagem e da economia do país no cenário mundial. Diante de tantas perguntas, o Jornal da Unicamp lançou um desafio a onze renomados intelectuais brasileiros, de diferentes áreas e perspectivas do conhecimento, para responder a três questões fundamentais: o que eles, estudiosos, estão “vendo” de fato nas ruas, como chegamos a esta situação e qual futuro nos aguarda? As respostas possíveis, diante da sucessão dinâmica dos fatos que todos os dias tomam o noticiário, estão nas páginas seguintes (de 6 a 9), divididas exatamente por essas questões mencionadas. “Os partidos, hoje, O brasileiro que foi às ruas, no dia com maior concentração de manifestantes (20/06) no país, entre 14 e 29 não são expressão de anos (63%), estudou até o segundo grau ou a faculdade (92%), trabalha (76%) e estuda (52%) e tem renda parte da sociedade, “O Movimento familiar de dois a dez salários mínimos (56%), segundo pesquisa realizada pelo Ibope em oito camas conglomerações Passe Livre pitais do país. A maioria protesta contra o transporte público, mas também contra o ambiente fortemente voltadas exerceu um papel político e a saúde, em um rol que reúne dez variados temas principais, citados por eles simulpara viabilizar seus catalisador das taneamente. Nesta manifestação, realizada 14 dias depois da primeira, 46% dos participantes projetos de poder.” insatisfações da estavam nas ruas pela primeira vez, o que demonstra o potencial de crescimento do moviJosé Dari Krein, pesquisasociedade.” dor de relações do trabalho mento. A maioria (91%) soube dos protestos pela internet, particularmente pelo Facebook Rachel Meneguello, e sindicalismo, Unicamp cientista política, Unicamp (77%) e convocou (75%) outros amigos a engrossarem as manifestações nas oito capitais pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador e Brasília). As depredações são condenadas “Essa política do chamado (66%) e as manifestações devem promover as mudanças espe‘presidencialismo de radas, segundo 94% dos entrevistados. Dos “A política coalizão’, na forma degradada que estão nas ruas, 89% dizem ter brasileira entra como nós o praticamos, interesse por política (muito em uma nova aviltou os partidos.” ou médio interesse), mas conjuntura, em Luiz Werneck Vianna, cientista político, PUC-RJ “Esses movimentos uma nova etapa.” eles não se sentem redemonstram uma Ruy Braga, sociólogo, USP presentados por nenhum insatisfação generalizada político (83%) ou partido em vários setores da (89%). Também não são fipopulação, sinalizando “A questão do transporte liados a partidos (96%) ou que a fase de letargia urbano colocada nas “A miséria, como a sindicatos/entidades de começa a fazer ruas é uma questão diria um grande classe (86%). parte do passado.” eminentemente brasileira.” pensador, não é Ricardo Antunes, sociólogo, Unicamp Gustavo Zimmermann, a escola da razão. economista, Unicamp Quando as pessoas melhoram um pouquinho de renda “O que chama a atenção “É primeira vez que vejo suas expectativas [...] é o surgimento na cena uma movimentação tão “As pessoas não estão se aumentam política de uma nova grande de massa sem uma sentindo representadas Walquiria Gertrudes Domingues juventude escolarizada.” Leão Rêgo, socióloga, Unicamp direção direta de partidos Marcelo Ridenti, sociólogo, Unicamp e saem às ruas.” políticos ou da igreja.” José Arthur Giannotti, Roberto Romano, filósofo, Unicamp
Fotos: Antoninho Perri, Antonio Scarpinetti / Divulgação
professor de filosofia, USP
QUEM SÃO E O QUE DIZEM OS INTELECTUAIS
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Campinas, 1º a 28 de julho de 2013
O que vemos nas ruas? ue há insatisfação, isso é evidente. As agendas múltiplas captadas nas ruas podem ser agrupadas em críticas aos serviços públicos e à questão da representatividade política. Não há partidos ou a igreja por trás dos manifestantes, fato intrigante e novo no Brasil. Mas por que as ruas “explodiram” agora? “Você conhece em química o processo de saturação?”, responde com outra pergunta o professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP), José Arthur Giannotti. Em um copo de água, você adiciona seguidas doses de açúcar, que vai sendo diluído até o ponto de saturação, quando então esse material sólido começa a se depositar no fundo. “No caso da insatisfação política, ninguém consegue determinar o momento em que satura”, explica, ao lembrar que a questão do transporte e a polêmica em torno de um novo modelo de cobrança na tarifa já tinham derrubado um dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo, nas eleições do ano passado. “Os brasileiros enriqueceram e não mais aguentam os serviços de péssima qualidade que são oferecidos a eles.” Docentes ouvidos utilizaram a palavra “inferno” para descrever a vida de quem, para trabalhar e estudar, precisa do transporte público – o estopim da crise. “A vida cotidiana é infernal. Quatro horas para uma pessoa que mora na periferia de São Paulo, pega trem, metro, um ônibus, ou mais, para ir e voltar, é tratado como gado. O transporte público brasileiro, relativamente, é um dos mais caros do mundo e, efetivamente, um dos mais precários”, afirma o sociólogo Ricardo Antunes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, ao comparar a estrutura disponível na capital paulista e o serviço oferecido em outras capitais tão populosas quanto, como Londres e México, por exemplo. E não é de hoje que o transporte público leva pessoas às ruas. No Rio de Janeiro, cerca de 5 mil pessoas, em uma cidade com então 192 mil habitantes, saíram de casa para protestar em 1879, contra o aumento de um vintém no valor da passagem. Na época, o bonde era um transporte de massa, que atendia cerca de 20 milhões de passageiro por ano. E essa nova taxa, segundo livros de história, era um recurso do Estado para socorrer a economia. “Ou seja, a história do transporte público em São Paulo, mas no Brasil de um modo geral, sempre foi caótica. Os governos, de um modo quase geral, nunca investiram corretamente, quando necessário, na melhoria da mobilidade urbana. Sempre disseram que não há recursos e investiram no transporte individual, isto é, dos ricos. A ideia de serviço público que o Estado deve aos cidadãos no Brasil não pega. Basta olhar a história do país e fazer um inventário destas explosões de protesto poderá perceber que a indignação contra a péssima qualidade do transporte público lidera de longe esse tipo de manifestação”, explica a socióloga Walquiria Gertrudes Domingues Leão Rêgo, professora do IFCH da Unicamp. Em São Paulo, o epicentro da onda de protestos liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), que desde 2004 atua em diversas regiões do país sob a bandeira da redução de aumentos e da gratuidade das tarifas, uma pesquisa do Datafolha (18/06) mostrou que o 67% dos paulistanos, de maneira espontânea, reconheciam que os protestos estavam associados ao preço das passagens, mas para 38% deles, as marchas também protestavam contra a corrupção e contra os políticos (35%). As entrevistas, realizadas um dia depois do primeiro recorde de público na cidade, quando 65 mil pessoas saíram às ruas, mostraram ainda que a falta de prestígio dos três poderes da República era a maior em dez anos entre os paulistanos. No “ país do futebol”, 70% deles disseram ter interesse pelas manifestações e apenas 18%, pela Copa das Confederações. “O que me chama a atenção é que, pela primeira vez, desde o final da ditadura, vejo populares na rua cobrando dos poderes estabelecidos, sobretudo do Executivo e do Legislativo, um maior respeito pelo bem público. É a primeira vez que vejo uma movimentação tão grande de massa sem uma direção direta de partidos políticos ou da igreja”, afirma o filósofo Roberto Romano, professor do IFCH da Unicamp, que analisa a questão dos protestos a partir de um recorte histórico brasileiro. “Tudo é feito no Brasil para valorizar os operadores do Estado, e essa é uma característica do absolutismo. Quem opera o Estado é superior ao cidadão comum. Quando você entra em qualquer prefeitura, você vê aquele cartaz grande dizendo: ‘desrespeito ao funcionário, tantos anos de cadeia’, mas não há nada do lado dizendo que desrespeito ao cidadão também pode dar cadeia.” E a multiplicidade de pautas e demandas é uma característica dos movimentos de rua, e não uma anomalia excepcional no cenário brasileiro. “As mobilizações amplas de rua fazem isso. Elas levam as pessoas, mobilizam, fazem as pessoas prestarem mais atenção a determinados assuntos, mas a pauta fica desorganizada, porque não há um elemento político unificador. Partidos políticos fazem esse papel de articulação; no entanto, o descolamento das manifestações com relação aos partidos deve-se à percepção de que a ação política partidária é ineficaz, deficitária, descolada da agenda popular”, avalia a cientista política Rachel Meneguello,
Foto: Marcelo Camargo/ ABr
Brasil, 20 de junho, dia em que mais de um milhão de pessoas saíram às ruas; na foto acima, avenida Paulista, em São Paulo
professora do IFCH e diretora do Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) da Unicamp. Para ela, o Movimento Passe Livre exerceu um papel de agente catalisador das insatisfações acumuladas, que possibilitou a operacionalização da mobilização dos mais diversos tipos de movimentos, e o aproveitamento da repercussão dos protestos pela redução do preço da passagem do transporte na cidade de São Paulo. Para o cientista político Luiz Werneck Vianna, pesquisador na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, o Brasil está diante de um movimento apartidário, mas que não é apolítico. “Boa parte dessas lideranças já identificadas está vinculada a universidades de elite, a setores da classe média, boa parte da classe média-alta. Este não é um movimento ‘espontâneo’, desinformado, ingênuo, do ponto de vista dos protagonistas que andaram tecendo esse processo”, analisa. Todas as pesquisas realizadas até agora mostram que a maioria dos participantes não tem partido. Militantes de esquerda, com bandeiras, chegaram a ser hostilizados e expulsos de protestos realizados nas ruas do país. Ao comparar a juventude escolarizada que partiu para as ruas do Brasil, com outros movimentos recentes como o “Occupy” (EUA), que protesta contra a desigualdade econômica e social, e os “Indignados” (Espanha), todos com forte articulação pelas redes sociais, o sociólogo Marcelo Ridenti, professor do IFCH da Unicamp, destaca uma diferença essencial, o
7 de junho (2º Protesto) Cerca de 5 mil manifestantes ocupam a marginal Pinheiros e a avenida Paulista, em SP, conforme estimativa da PM CONTEXTO INICIAL – Em janeiro, a pedido do governo federal, a Prefeitura de São Paulo adiou o reajuste das tarifas do transporte coletivo, em uma estratégia para não impactar a inflação; em maio, mesmo com a suspensão de dois impostos, pelo governo federal, que incidem sobre as tarifas de transporte coletivo urbano, a Prefeitura e o Governo de São Paulo anunciaram reajuste de R$ 0,20 para ônibus, trem e metrô (de R$ 3,00 para R$ 3,20).
... JUNHO 2013
6 6 de junho (1º Protesto) Ato contra o aumento das tarifas reúne cerca de 2 mil pessoas na avenida Paulista, em São Paulo, segundo estimativa da Polícia Militar.
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fato de os jovens brasileiros terem emprego. “No Brasil, é uma juventude de estudantes, muitos dos quais trabalham, e recém-formados que não encontram no trabalho a possibilidade de manter o padrão de vida familiar (no caso das classes médias estabelecidas), nem vislumbram a realização das promessas de ascensão social pelo estudo, no caso dos jovens com menos recursos”, afirma o pesquisador. “A juventude atual assumiu o mesmo matiz da que lutou contra a ditadura: a esperança de mudanças”, avalia o economista Gustavo Zimmermann, professor do Instituto de Economia da Unicamp. “No entanto, diferentemente da geração anterior, a atual expressa profunda decepção com os partidos políticos e com os legislativos e executivos dos três níveis de governo, incapazes de dar respostas minimamente satisfatórias aos anseios da classe média. Esperanças e frustrações formaram o substrato das atuais manifestações”, avalia o docente. A internet é tida hoje como um grande “motor” das manifestações, no passado organizadas de forma “artesanal” e trabalhosa. Tanto que 91% dos entrevistados em uma pesquisa realizada pelo Ibope, em oito capitais do país, disseram ter tomado conhecimento pela internet sobre as manifestações das quais participaram. “As formas tradicionais de manifestação estão sendo substituídas e a rede adquiriu uma dimensão, uma velocidade de propagação dos fatos, que funciona para a juventude e que surpreende”,
13 de junho (4º Protesto) A manifestação, que chegou a reunir 5 mil pessoas (segundo a PM) termina em confronto com a tropa de choque, 105 manifestantes acabam feridos
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11 de junho (3º Protesto) Mais 5 mil manifestantes tomam ruas no centro de São Paulo (estimativa da PM), há confrontos e feridos;
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19 de junho A Prefeitura e o Gove suspenderam o reaju urbano. Outras cidad manifestações persi com a política e atos
17 17 de junho (5º Protesto) Segundo o Datafolha, mais de 65 mil pessoas toma as ruas da cidade na maior manifestação realizada até então. Os protestos se espalham para outras cidades, expandem para as periferias;
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18 de junho (6º Protesto) 50 mil pessoas (Datafolha) de manifestação na praça d Paulo. O prédio da Prefeitur Paulo é depredado e lojas s
eacordou?
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Na gênese das manifestações As causas dos movimentos de rua são variadas, segundo professores ouvidos pelo Jornal da Unicamp R ICARDO A NTUNES (SOCIOLOGIA, UNICAMP) – “O que vemos nas ruas, hoje, é um movimento amplo, de massa, polissêmico e multiforme, diferente de outros. As manifestações fizeram ruir o mito do país da classe média, do Brasil onde tudo dá certo e onde o povo está feliz. Isso ocorreu pela confluência de alguns elementos importantes, como o esgotamento interno do nosso modo de vida vigente desde os anos 90. Além disso, há um descontentamento com as instituições de representação política. Nenhum órgão no Brasil, hoje, certamente, é tão impopular como o parlamento. Por quê? Porque há um fosso enorme entre o sentimento nas ruas e os procedimentos parlamentares. Em meio às manifestações, o parlamento aprovou, pela sua Comissão de Direitos Humanos, o projeto que ficou conhecido grotescamente como “cura gay”. Enquanto amplos setores mais esclarecidos sabem que a opção sexual não é doença, o parlamento toma essa medida.” WALKIRIA LEÃO R ÊGO (SOCIOLOGIA, UNICAMP) – “Quando as pessoas melhoram um pouquinho de renda, suas expectativas e demandas por cidadania e bem-estar também aumentam. É um sinal muito positivo, saudável. A miséria, como diria um grande pensador, não é a escola da razão. Por isto e muito mais as pessoas não aceitam continuar sendo insultadas, vilipendiadas, desrespeitadas cotidianamente. A explosão disto provém de um longo processo de frustrações e decepções que na explosão, como estamos vendo, mostram pautas muito heterogêneas. O precaríssimo e absurdo estado dos transportes públicos há tempos exige investimentos. Idosos, deficientes físicos, permanecem em pé sem ter lugar garantido para se sentarem dignamente. Imagine isso, anos a fio, diariamente. Agora, a solução não está na rejeição de partidos e muito menos da política, que são essenciais à democracia. Colocam a democracia brasileira em sério risco. Lutamos muito por ela. Temos mesmo que lutar por mudanças. Contudo, não sejamos ingênuos. Forças conservadoras e até fascitoides estão também metidas nesta explosão, querendo se apropriar dela para destruir a democracia.” JOSÉ A RTHUR GIANNOTTI (FILOSOFIA, USP) – “Nós tivemos um ciclo importante que vem desde Fernando Henrique, passando por Lula, que trouxe certo bem-estar para uma população carente. Tivemos a inclusão, e isso é um mérito do Lula extraordinário, de quase 40 milhões de pessoas que vieram para o mercado e para a cena política. Mas ao chegarem, perceberam a insuficiência dos passos à frente. Em particular a violência do transporte público no país. As pessoas são “chicoteadas” para entrar no metrô. Ao mesmo tempo, o governo imagina que sairá do atoleiro econômico, no qual estamos metidos, aumentando o consumo, deixando o país se desindustrializar com crescimento da inflação. A cidade se tornou a evidência da má administração: incentivase a produção de carros que não podem andar nas ruas. ”
avalia o professor do Instituto de Economia da Unicamp, José Dari Krein, pesquisador de relações do trabalho e sindicalismo. “Do ponto de vista das formas de organização na base, o movimento atual é superior ao da minha época [‘Caras-Pintadas’]. Eles são muito mais democráticos. Na verdade, percebo na juventude que se apropria das informações por meio das redes sociais uma forte pulsão politizante. Em 1992, quando organizamos o movimento ‘Fora Collor’ existia uma pauta única, que era derrubar o presidente. Apesar das demandas comuns por transporte, educação e saúde, hoje em dia essa pauta se fragmentou. Isso tornou o movimentou atual mais imprevisível”, avalia o sociólogo Ruy Braga, que em 1992 durante o movimento “Fora Collor” na época era dirigente estudantil (DCA Unicamp) e, hoje, é professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “A Política do Precariado - do populismo à hegemonia Lulista”. “A política brasileira entra em uma nova conjuntura. Aquela etapa marcada pela aposta do governo federal, enfim, das forças sociais e políticas que se aglutinaram em torno daquilo que genericamente podemos chamar de “lulismo”, e apostaram na desmobilização e na pacificação dos conflitos na sociedade brasileira nos últimos dez anos, essa aposta foi fundamentalmente perdida. O que está havendo hoje no país é uma retomada de uma tradição de mobilização e de luta, pela efetivação e pela ampliação dos direitos sociais.” (Alessandro Silva)
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participam da Sé, em São ra de São são saqueadas
LUIZ WERNECK VIANNA (CIÊNCIA POLÍTICA, PUC-RJ) – “A política dos últimos anos é largamente responsável por essa situação. A política do chamado ‘presidencialismo de coalizão’, na forma degrada como o praticamos, aviltou os partidos, aviltou a representação, nesse tomalá-dá- cá infernal. Isso extraiu a legitimidade, a aura dos partidos. Os movimentos sociais foram inteiramente cooptados e estão ausentes das ruas. A representação [no caso, os partidos] tentou chegar depois, com o movimento na rua. Este é um movimento de jovens, grande parte deles universitários, mas cadê a UNE [União Nacional dos Estudantes]? De um lado, a representação política foi degradada por esse
M ARCELO R IDENTI (SOCIOLOGIA , UNICAMP) – “Vejo uma juventude nova, escolarizada, que é resultado de anos de investimento social. No entanto, pelas estatísticas, 70% dos jovens de 18 a 24 anos não estão nas escolas. Os que estão nas ruas são, sobretudo, os 30% da juventude que estão na universidade, no ensino médio, ou recémformados, a maioria dos quais trabalha. Bem ou mal, com todos os problemas, tem havido uma escolarização muito rápida. Hoje, existem quase 7 milhões de pessoas nas faculdades. Os antecedentes dessa situação estão relacionados com o aumento da escolarização, que, em termos percentuais, ainda é baixo, mas em números absolutos é alto. As manifestações revelam uma certa descrença nas instituições e a incapacidade dos mecanismos tradicionais para expressar essa nova juventude.” RUY BRAGA (SOCIOLOGIA, USP) – “Temos um modelo de desenvolvimento que entrega para a juventude empregos formais, mas que paga pouco. Que garante muito gasto social, mas que, ao mesmo tempo, diminui investimentos em saúde e educação, que sucateia os serviços públicos. Um modelo que não distribui renda entre aqueles que vivem como trabalhadores assalariados. Percebe-se um relativo progresso, mas que se esgotou. Por outro lado, tenho um emprego, ele é formal, mas, ao mesmo tempo, paga mal e as condições de trabalho são péssimas; estou frequentemente assediado pela polícia nos bairros periféricos onde moro; esses bairros, por sua vez, são bairros horríveis; o transporte público é péssimo e caro; e efetivamente não tenho saúde e educação. Existem muitas razões para as mobilizações.” GUSTAVO ZIMMERMANN (ECONOMIA, UNICAMP) – “Há uma crise do modelo de governança no Brasil, do modo de governar. Foi essa crise que levou ao apartidarismo prevalecente nas passeatas [identificado nas ruas, segundo pesquisas]. Precisamos reconhecer que os partidos foram incapazes de produzir respostas esperadas, mas o apolitismo é muito perigoso. As manifestações atingiram os níveis atuais por juntarem as insatisfações com os serviços públicos urbanos, com a desilusão com os representantes políticos, as ameaças à estabilidade monetária e as incertezas do momento econômico. A gota d’água foi a correção das tarifas dos transportes urbanos. Ademais, há a revolta com os custos da Copa do Mundo. Não se tem transporte urbano decente, mas o teremos para os estádios. Isso ofende o cidadão: ‘para fazer futebol aparece dinheiro, mas para atender o dia a dia, não’.” JOSÉ DARI K REIN (ECONOMIA, UNICAMP) – “Houve uma perda de representatividade das instituições políticas e novas demandas de participação estão sendo colocadas. As manifestações expressam diferentes e até contraditórias aspirações de segmentos sociais que buscam protagonismo político, especialmente da juventude. As tensões sociais de diferentes ordens, que passam fundamentalmente pela qualidade de vida, dos serviços públicos e da inquietação da forma como ocorre o jogo político no país. Infelizmente, os partidos não conseguem conectar-se com amplos segmentos sociais e não expressam as tensões sociais, constituindo-se fundamentalmente em conglomerações voltadas para viabilizar seus projetos eleitorais. Em substituição as formas tradicionais, há novos instrumentos de manifestação das insatisfações, tais como nas redes sociais.” R ACHEL MENEGUELLO (CIÊNCIA POLÍTICA, UNICAMP) – “A não ser o Movimento Passe Livre, que coloca uma pauta muito clara e específica, é um movimento de múltiplos interesses. Não se observa nas ruas uma pauta unitária, uma agenda unificadora. Há uma insatisfação generalizada com questões da vida urbana e com o sistema representativo. Não entendo que esse movimento tenha uma pauta contrária à democracia. A questão do apartidarismo [defendida pela maioria dos participantes das manifestações] pode prejudicar a sequência da mobilização. Historicamente, grandes mobilizações de massa têm sequência em suas reivindicações porque partidos transformam isso em agenda a ser colocada ao poder público, de maneira organizada. Hoje, as coisas estão colocadas para o poder público de maneira fragmentada e direta, provavelmente traduzindo a natureza das atuais mobilizações.” (Alessandro Silva)
21 e 24 de junho A presidente Dilma Rousseff fala em rede nacional e anuncia (24/06) um pacto político “em favor do Brasil”, baseado em cinco propostas: realizar um plebiscito para uma constituinte exclusiva sobre a reforma política e criar novas leis contra a corrupção; estabelecer um pacto pela responsabilidade fiscal; acelerar investimentos em saúde e a contratar médicos estrangeiros para hospitais públicos; ampliar a desoneração de impostos no setor de transportes; e destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação.
erno de São Paulo uste da tarifa do transporte des fazem o mesmo. As stem e ocorrem confrontos s de vandalismo
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ROBERTO ROMANO (FILOSOFIA, UNICAMP) – “Historicamente, no Brasil, a propaganda tem sido utilizada para reduzir a participação das massas. Ela afasta os problemas reais da ordem social, econômica e tecnológica. No primeiro governo Lula, prometeu-se que 4% do PIB [Produto Interno Bruto] seria empregado em ciência e tecnologia, mas isso não se concretizou. Toda a propaganda é feita para criar uma ilusão e um medo perene. E a propaganda, é bom lembrar, é uma forma de intimidação: ‘se você não votar em mim, esse paraíso irá desaparecer.’ E por que os manifestantes perderam o medo? Pela realidade. Você é bombardeado pela propaganda desde 88. Olha atrás de um ônibus e vê: ‘dever do Estado e direito do cidadão’. Entra nele e tem três vezes mais do que a capacidade; você é empurrado, humilhado; paga uma tarifa muito cara; não tem o ônibus no horário. Depois de um tempo, você está extremamente cansado da realidade e a propaganda não dá conta disso.”
toma-lá-dá-cá; de outro, a cooptação dos movimentos sociais fez com que essa juventude não encontrasse canais de expressão e ficasse processando a sua insatisfação em um lugar novo, nas redes sociais.”
20 20 de junho Ao todo, 388 cidades tiveram manifestações, incluindo 22 capitais e pequenos municípios, no dia com maior adesão: mais de um milhão de participantes em todo o país, segundo o jornal Folha de S.Paulo
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25 de junho Após reunião com a OAB e com o presidente do STF, a Presidência volta atrás quanto à constituinte exclusiva, mas mantém a proposta de realização de plebiscito sobre a reforma política. Numa mesma noite, a Câmara derrubou a PEC 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público (um dos pedidos das ruas) e aprovou a aplicação de recursos dos royalties do petróleo (75% para a educação e 25% para a saúde); realizar um plebiscito para uma constituinte exclusiva sobre a reforma política e criar novas leis contra a corrupção; estabelecer um pacto pela responsabilidade fiscal; acelerar investimentos em saúde e a contratar médicos estrangeiros para hospitais públicos; ampliar a desoneração de impostos no setor de transportes; e destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação. Arte: Luis Paulo Silva Fotos: Agência Brasil / Reprodução
CONTEXTO ATUAL – É discutida a realização de um plebiscito sobre a reforma política no país (a proposta inicial de realização de uma assembleia constituinte exclusiva foi descartada); diversos aumentos de preços foram cancelados, como no caso das 15 rodovias federais pedagiadas e de todas as estradas estaduais de São Paulo; 14 capitais, entre outros municípios, concederam redução do preço da passagem do transporte público; o reajuste do preço das passagens de ônibus interestaduais e internacionais foi adiado; o Senado aprovou mudança no Código Penal para que os crimes de corrupção e concussão sejam considerados hediondos; pela primeira vez desde o final do regime militar, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão de um deputado federal.
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O que o futuro nos reserva? ma rápida pesquisa na internet revela que uma frase da história do país “ressuscitou” a partir de 17 de junho, quando houve o primeiro recorde simultâneo de manifestantes nas ruas. “A única coisa que mete medo em político é o povo na rua”, dizia o político Ulysses Guimarães (1916-1992), presidente da Assembleia Constituinte de 1987-1988. Dita no contexto daquele período, a frase tem sido usada por todo tipo de usuário na rede mundial de computadores. De fato, a última semana de acontecimentos no país demonstra bem os motivos da redescoberta dessa máxima que pareceu “dormir” por décadas. Ouvidos pelo Jornal da Unicamp no decorrer dos desdobramentos recentes, professores das áreas de sociologia, ciências sociais, filosofia e economia, traçaram caminhos possíveis para as manifestações de rua: a força dos protestos poderia acabar e resultar em desarticulação; ou a agenda, de alguma forma, poderia ser absorvida pelo país. Até o momento, este último parece ser o rumo tomado, para o futuro, pelas manifestações que ocuparam ruas do Brasil. “Nenhum político sabe hoje o que vai acontecer com ele amanhã”, afirmou o sociólogo Ricardo Antunes, professor da Unicamp. “Nada sabemos sobre o futuro desses movimentos, pois estamos no calor dos acontecimentos, mas, quaisquer que sejam suas consequências, o país não será mais o mesmo. Saímos do cenário letárgico que nos encontrávamos. Os movimentos existentes no mundo, todos eles, da Tunísia à Turquia, da Espanha aos EUA, passando pela Grécia, Itália, Portugal, Reino Unido, demonstram que começam a florescer e exercitar manifestações mais suscetíveis às ações de massa, de grande envergadura, nas praças e ruas públicas; mais plebiscitárias e menos institucionalmente representativas. Embora elas tenham uma conformação frequentemente policlassista, seu centro, seu eixo mais acentuado, se encontra nas forças populares. E, em grande medida, expressam um profundo descontentamento com o modo de vida destrutivo que hoje domina, no qual quase tudo se tornou mercadoria, da saúde à educação, da política ou transporte.” Para entender o que já mudou, basta observar o noticiário dos dez dias posteriores a 19 de junho, quando a Prefeitura e o Governo de São Paulo reduziram o preço das passagens do transporte urbano, atendendo à reivindicação que serviu como estopim para os protestos, sob a bandeira do Movimento Passe Livre (catalisador das mobilizações que levaram milhares de brasileiros às ruas). Desse anúncio em diante, 14 capitais no total reduziram tarifas; o aumento do pedágio em 15 rodovias federais foi suspenso, situação igual à das estradas estaduais de São Paulo; e o preço da energia elétrica não subiu no Paraná, entre outras novidades, para falar apenas das ações sob a competência do poder Executivo. No dia 26 de junho, a Prefeitura de São Paulo cancelou uma licitação de ônibus estimada em R$ 46 bilhões em 15 anos. “Num quadro otimista, podemos pensar que os governos irão encampar demandas de melhorias substanciais na saúde, na educação, no transporte, no gasto público, com demandas que revertem efetivamente para a maior parte da população”, disse o sociólogo Marcelo Ridenti, da Unicamp, ouvido logo após a decisão sobre a passagem em São Paulo, e antes dos demais desdobramentos citados, antevendo o que ocorreria, de fato, no país. No dia 24 de junho, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de medidas, que chamou de “pactos em favor do Brasil”, propondo um plebiscito (primeiro, sobre uma assembleia constituinte exclusiva; depois, apenas sobre a reforma política), transformar a corrupção em crime hediondo, investir mais na mobilidade urbana e na saúde (incluindo a contratação de médicos estrangeiros), desonerar impostos do setor de
Fotos: Tomaz Silva / ABr
Manifestantes tomam o centro do Rio de Janeiro: intelectuais projetam cenários depois dos protestos que ocorreram em todo o país
transportes públicos e destinar 100% dos royalties do petróleo do présal para a educação. O pacote incendiou o debate político. “A questão da mobilidade urbana entrou na agenda política como uma importante questão de política pública”, avaliou o economista Gustavo Zimmermann, da Unicamp. “A partir dessa nova agenda que na realidade é mais ampla e inclui a implantação de um verdadeiro ‘Estado do Bem Estar’, a profundidade das ações nestas áreas dependerá de um longo aprendizado dos setores até hoje marginalizados e dos operadores do Estado que muito raramente enfrentaram as questões de qualidade.” Na esfera do Legislativo, questões que se arrastavam há anos foram resolvidas em dias. A proposta de emenda constitucional número 37, apresentada em 2011 e que limitaria o poder de investigação do Ministério Público, caso fosse aprovada, foi derrubada em 25 de junho pelo placar de 430 (dos 513 deputados federais) a 9 – e dois destes disseram que erraram ao votar. Quando ela chegou ao Congresso, no calor dos acontecimentos do “Mensalão” e de outras investigações, a proposta recebeu 207 assinaturas favoráveis e dependia de 308 votos para ser aprovada. A bandeira da PEC-37 surgiu nas ruas, entre as diferentes pautas lançadas. “Passamos por uma situação desfavorável de opressão e pressão. Só que um vento divino mudou tudo. Na undécima hora, quando tudo parecia perdido, o povo foi às ruas. Precisamos agradecer a população”, disse o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Alexandre Camanho, em entrevista ao jornal O Globo. Ao ser questionado sobre o futuro do país depois das manifestações de junho, o cientista político Luiz Werneck Vianna, da PUC-RJ, disse que a mobilização popular deveria ser absorvida, assimilada, e não poderia ser negada. “Tem que ser como na luta do judô, quando se usa a força do adversário contra ele. É uma metáfora um pouco ruim, porque não é para virar contra ele, mas para virar em favor de uma solução que traga toda essa energia que as ruas manifestaram para o reforço da vida institucional.” Outro projeto aprovado a reboque dos acontecimentos, após dois anos de tramitação, muda o Código Penal e transforma em crime hediondo os delitos de corrupção (ativa e passiva) e de concussão. Votado no Senado, a alteração seguiu para votação na Câmara. Outra novidade, foi a aprovação da aplicação de royalties do petróleo para a educação (75%) e saúde (25%), além da desoneração de tributos incidentes sobre o transporte público municipal.
“O nível de mobilização, hoje, é excepcional. No entanto, ele será, num futuro próximo, muito superior ao dos últimos dez anos. Pode ser que haja uma acomodação, mas ela ocorrerá num patamar muito superior ao que era”, avaliou o sociólogo Ruy Braga, da USP. Segundo o professor, as redes sociais, em particular o Facebook, tornaram-se um meio para expressar o aprendizado político dos setores mais jovens. Coincidência ou não, na esfera do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou (26/06) à prisão imediata o deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO) por desvios de recursos na Assembleia Legislativa de Rondônia nos anos 90, na primeira decisão desse tipo desde o final do regime militar. O parlamentar estava condenado desde 2010, pelo próprio STF, e vinha recorrendo da decisão. Ele foi preso no dia 28 de junho. Ao falar sobre o futuro do país, o professor do Instituto de Economia da Unicamp José Dari Krein elencou três questões que merecerão atenção do setor público: melhorar os serviços públicos, realizar uma reforma política para incorporar outras formas de organização e democratizar a comunicação no país. “Somente 40% da população brasileira está conectada na internet, o que também expressa, até o momento, um perfil dos que estão nas ruas. A democratização da mídia e do acesso na internet ainda não é uma realidade no país.” No contexto atual, o pior cenário imaginado pelo professor de filosofia José Arthur Giannotti, da USP, seria o aparecimento de um “salvador da pátria”. “Vivi a época de Jânio Quadros, a época Collor, estava sentindo que estamos entrando em um impasse no qual aparece um ‘salvador da pátria’, o que seria a pior solução possível”, disse. “Ao invés desse desastre, creio que a melhor solução seria criar uma frente parlamentar interpartidária com uma agenda precisa de reformas, sempre com apelo popular.” Diante de acontecimentos tão inusitados e novos na cena política brasileira, e nas ruas, o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, propõe uma nova visão de pesquisa para entender a mobilização. “Todos os conceitos que nós temos em termos sociológicos, históricos, por exemplo, deveriam ser suspensos para que pudéssemos realizar uma fenomenologia do que está acontecendo, uma descrição, a mais exata possível, de todas as tendências, de todas as reinvindicações, de todas as iniciativas que estão aparecendo, para que possamos, daqui um tempo, ter condições de entender razoavelmente o que está acontecendo”, afirmou. (Alessandro Silva)
Protestos na parte externa do Congresso Nacional, em Brasília
#ogiganteacordou?
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‘Revoltas’ decretam o fim do ciclo de redemocratização, diz docente Quando manifestações começaram, no início de junho, professor de filosofia terminava livro sobre a história política do Brasil e utilizou esforço para decifrar a voz das ruas Foto: Divulgação
ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br
“O país já mudou”, afirma Marcos Nobre, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, autor de livro (e-book) que acaba de ser lançado sobre a onda de protestos que tomou conta do país nas últimas semanas. “As pessoas perguntam: aonde vai dar esse movimento? Já deu em algum lugar. A cabeça das pessoas mudou, a cultura do país mudou. Sobretudo, mostrou que a cultura política que está na sociedade, essa cultura democrática, está muito mais avançada que a do sistema político brasileiro”, explica.
O professor Marcos Nobre: “A cultura democrática está muito mais avançada que a do sistema político brasileiro”
Jornal da Unicamp – Por que o senhor deu ao livro o nome “Choque de Democracia”? MARCOS NOBRE – Há um discurso no Brasil, durante décadas, desde 1989, no qual essa palavra “choque” vem sendo usada. Houve o “choque de capitalismo”, o “choque de gestão” e, durante as manifestações, houve a “tropa de choque”. A palavra é usada sempre num sentido que não inclui a democracia, essas forças vivas da sociedade, como se fosse necessário ao sistema político ter um choque para se organizar. JU – E agora ocorreu um choque no sentido contrário? NOBRE – Exatamente isso. Queria usar essa ideia. Esse choque veio de onde não esperavam. Trata-se, justamente, de um choque de democracia. Não é um choque de gestão, não é um choque de capitalismo nem tropa de choque. Tínhamos um travamento do sistema político que foi rompido com esse choque. JU – E por que as manifestações foram chamadas de “Revoltas de Junho”? Que elementos essas mobilizações possuem para serem consideradas revoltas? NOBRE – Existem canais que são de protesto. Protestos são coisas que ocorrem normalmente em uma democracia. Então, a expressão mais óbvia seria: “protestos de junho”. Mas, na verdade, é um pouco mais que isso. É o fato de que a sociedade não estava encontrando caminhos para expressar o seu protesto, a sua insatisfação, da maneira como o sistema político estava operando, e se revolta também contra essa falta de canais de expressão. Quando aconteceu a repressão policial, as pessoas se disseram: ‘não conseguimos mais influenciar esse retorno político, de maneira alguma; ele se fecha nele mesmo, funciona segundo suas próprias regras e não presta conta à sociedade; e quando tentamos, o sistema quer, ainda por cima, soltar a polícia’. É uma revolta pelo direito de se manifestar, pela abertura de canais entre a sociedade e o sistema político. Por isso, é mais do que um protesto. Coloquei no plural [revoltas] e isso é muito importante, porque não há uma unidade de reivindicações, de foco, a organização é diferente. As pessoas estão expressando insatisfações de muitos tipos, de muitos níveis, como posso encontrar uma unidade e um traço de união? O que encontrei foi essa revolta contra o sistema, tal como ele está operando, com essa blindagem contra a influência da sociedade. JU – Em quanto tempo o senhor produziu o livro e como trabalhou nele?
“Choque de Democracia – Razões da Revolta” foi escrito em dez dias, no calor dos acontecimentos, mas como desdobramento de um trabalho maior que Nobre realiza sobre a história política do Brasil, analisando o período entre 1979 e a eleição da presidente Dilma Rousseff, em 2010, e que resultará em um livro a ser lançado no segundo semestre. Segundo o professor, os acontecimentos de hoje marcam o final da fase que ficou conhecida como “redemocratização”. Leia a entrevista: NOBRE – Faz seis anos que estou produzindo um livro da história política do Brasil, de 1979 até a eleição da Dilma Rousseff (2010). Quando estava nos últimos ajustes, eclodiram as revoltas. Houve uma coincidência muito impressionante. No livro, tentava mostrar como e por que, de que maneira, esse sistema foi se fechando nele mesmo, foi se blindando contra as ruas. No final, eu dizia que isso não ficaria assim. Não é possível que fique assim, porque numa democracia você precisa ter canais abertos para mudar e alterar o sistema político. É como se as ruas tivessem atropelado os últimos parágrafos do meu livro. Deixei de lado o livro, que deve sair no segundo semestre, e passei a usar as análises que fiz durante os seis anos para entender esses protestos. Foi como se tivesse construído certa sistematização teórica na qual achava possível compreender o que estava ocorrendo. Por isso, foi possível fazer o trabalho em dez dias. JU – É isso, essa blindagem, que o livro destaca como sendo “peemedebismo”? NOBRE – “Peemedibismo” é o nome que dou para essa blindagem do sistema contra a sociedade. JU – Como poderíamos definir o “peemedebismo”? NOBRE – O impeachment do presidente Fernando Collor é um marco muito importante [1992] no processo de redemocratização do país. Por um lado, esse processo mostrou que as ruas queriam retomar o poder que achavam ter sido usurpado, mal utilizado. De outro lado, pelo sistema político, houve certo pânico. Lembrando que tivemos uma transição ‘morna’ para a democracia, pactuada pelas elites. No momento do impeachment, essas elites, que pactuaram a transição, ‘disseram’: “como faremos para nos proteger contra isso, porque não é possível que toda a hora que um presidente for mal, as pessoas irão às ruas e retiram o mandato”. Foi uma estratégia defensiva. JU – E como foi construída essa blindagem? NOBRE – De forma progressiva. Boa parte da opinião pública aceitou a versão de que o presidente caiu porque não tinha base parlamentar suficiente. Daí nasceu o mito das “supermaiorias”, de que é necessário, para qualquer governo se manter e não sofrer impeachment, construir não só a maioria, mas a supermaioria, alguma coisa que atinja para além dos três quintos de votos necessários para fazer reformas constitucionais. Assim, o sistema político podia continuar operando como sempre e, ao mesmo tempo, com o fato de que os governos eleitos estariam presos a essa supermaioria, todo presidente teria a obrigação de fazer um pacto Foto: Sérgio Kremer / 4Friends
com esse sistema político. JU – E por que o senhor chama isso de “peemedebismo”? NOBRE – Porque o PMDB foi quem primeiro, na década de 80, inventou essa “tecnologia”. Se olhar o resultado da eleição de 1986, verá que o PMDB elegeu a maioria esmagadora na Assembleia Nacional Constituinte, em aliança com o PFL, que tinha feito a Aliança Democrática para eleger Tancredo Neves. Ali se criou na Constituinte uma coisa chamada “Centrão”, que era justamente uma maneira de neutralizar ao máximo as reinvindicações populares. Esse sistema elitista queria dar um jeito de impedir que essas forças de transformação se unificassem. O “peemedebismo” nasce um pouco daí. Na verdade, essa ‘tecnologia’ começa no MDB, durante a ditadura, que obrigou todo mundo a ficar num único partido de oposição. Forças completamente heterogêneas e incompatíveis tinham que se entender dentro do mesmo partido. JU – Isso tudo resulta nessa crise de representatividade que vive o país? NOBRE – Há uma crise de representação, com certeza, mas você não pode ter a concepção de uma representação clássica. A sociedade contemporânea, do final do século XX e início do século XXI, inventou formas de representação e participação que não se restringem ao legislativo e à eleição de cargos no executivo. Com certeza, o que está se dizendo [nas ruas] é que as diferentes formas de participação, não só do legislativo e do executivo, não estão funcionando. JU – É como se a representação estivesse sofrendo uma “mutação”? NOBRE – Ela está se transformando há algum tempo. O que acontece nas revoltas, é que elas dizem que não está funcionando em nenhum nível. Nem no conselho de segurança do bairro, nem no conselho de saúde da cidade. O horizonte se abriu com as manifestações. Se olharmos a proposta do governo, essa coisa que era constituinte e agora é um plebiscito, está sendo moldada e discutida conforme é encaminhada. Não é uma ideia fechada. Está ocorrendo uma disputa política de como podem ser encaminhados os problemas levantados pela sociedade. A sociedade disse: se vocês quiserem continuar sendo o sistema política brasileiro, vão ter que mudar. JU – Inicialmente, vários setores da sociedade, como a imprensa, partidos políticos, os próprios políticos e o governo, não compreenderam bem o que estava se passando, alguns chegaram a criticar as mobilizações... NOBRE – O sistema político, como um todo, ficou atônito e não conseguiu entender as manifestações. Por que isso aconteceu? Vamos voltar ao impeachment do Collor e para as “Diretas Já”. O que temos nas “Diretas Já”? Uma frente contra a ditadura. Você tem uma espécie de unidade forçada, na qual as pessoas deixam as diferenças de lado para um objetivo comum. No impeachment é a mesma coisa. É isso que chamo de “unidade progressista”. As pessoas deixam de lado as suas diferenças políticas, as razões pelas quais foram às ruas, em razão do impeachment. Se olharmos para as revoltas de junho, não há unidade. Não é organizada por nenhum partido, movimento social de massa, por sindicato, por ninguém. Não há palanque. Pela primeira vez temos um protesto que não tem essa unidade forçada, que caracterizou esse processo de redemocratização brasileiro. Não falo em unidade, falo em traço de união das diversas revoltas porque elas têm isso em comum: ser um processo contra um sistema enquanto tal como ele está funcionando, ou seja, contra o “peemedebismo”. Não tem mais unidade e isso significa que acabou nosso processo de redemocratização. Isso é bom. As forças políticas estão juntas na rua, mas são, às vezes, incompatíveis, e estão ali também para disputar o sentido desse movimento.
Serviço
Manifestantes protestam em frente ao Congresso, em Brasília, em 20 de junho
E-Book: Choque de Democracia – Razões da Revolta Preço: R$ 4,99
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Painel da semana Fala Outra Escola - O Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (Gepec) e a Faculdade de Educação (FE) realizam o VI Seminário Fala Outra Escola, de 3 a 6 de julho, no Centro de Convenções da Unicamp. Neste ano, a temática do encontro é “Diálogo e conflito: por uma escuta alteritária”. O seminário terá como eixos cultura, arte e educação; linguagem, alfabetização e conhecimento; formação, cotidiano e saberes profissionais; práticas de memória e educação das sensibilidades; afetividade, cognição e desenvolvimento; ética e política na escola; pedagogias étnicas. Mais informações no site http://www.fe.unicamp.br/falaoutraescola ou telefone (19) 9615-0458. Férias no Museu - O Museu Exploratório de Ciências da Unicamp recebe, até 5 de julho, no link https://docs.google.com/spreadsheet/viewf orm?formkey=dDdmZTk2cjFxUTNWREptMGxBeXJsSUE6MA#gid=0, as inscrições para a 10ª edição do Férias no Museu. Podem se inscrever crianças a partir de oito anos de idade, filhos de alunos, funcionários e professores da Unicamp. O evento ocorre de 15 a 26 de julho, das 9 às 17h30, com a Oficina Desafio, a sessão Nano Aventura, visitas à Praça Tempo Espaço e a realização de atividades lúdico-pedagógicas que exploram, de forma criativa e prazerosa, temas referentes à ciência, tecnologia, cultura, qualidade de vida, meio ambiente e responsabilidade social. Vagas limitadas. O Férias no Museu é apoiado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS). Inscrições e outras informações pelo telefone 19-3521 1729 ou site www.mc.unicamp.br/ Domingo no Lago - O Espaço Cultural Casa do Lago, órgão ligado a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp, organiza no dia 7 de julho, às 10h30, na Rua Érico Veríssimo 1011, mais uma edição do Domingo no Lago, evento artístico-cultural realizado sempre na primeira semana de cada mês. Todas as atrações são gratuitas e abertas ao público em geral. Para a primeira apresentação, às 10h30, na Sala Multiuso, a Casa reservou a peça teatral “As aventuras de um pequeno príncipe”, baseada na obra de Antoine de Saint-Exupéry. Nela, o Grupo Arte & Manhas conta a história de um pequeno príncipe, que viaja por vários planetas. Outro destaque são os livros da Coleção “Espelho D’Água”, a serem apresentados por sua autora, Eliana Lisboa. Após um bate-papo de quinze minutos com a escritora, o Grupo Mágicas Pirilampos fará uma apresentação baseada nas histórias dos livros de Lisboa. O evento é dirigido às crianças de 4 a 12 anos. O Domingo no Lago será encerrado com um concerto do Coral Canarinhos da Terra com os grupos Korallito, Alegretto e os Meninos Cantores, às 11h30, também na Sala Multiuso. Mais informações sobre os eventos do Espaço Cultural podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-1708 ou e-mail casadolago@reitoria.unicamp.br Prêmio Margherita von Brentano - A Freie Universität Berlin acaba de outorgar o prêmio Margherita von Brentano 2013 ao projeto Miseal (Medidas para a Inclusão Social e Equidade em Instituições de Ensino Superior na América Latina), financiado pela União Europeia e que tem participação da Unicamp. O reitor da Freie Universität Berlin, Peter-André Alt, fará a entrega do prêmio no dia 10 de julho, às 18 horas, na sede dessa universidade. O prêmio é concedido bianualmente desde 1995, por proposta do Conselho Universitário da Mulher, um dos mais reconhecidos na promoção das trajetórias de mulheres dentro da universidade na República Federal da Alemanha. A distinção redunda do “constante e amplo compromisso do projeto com os estudos da mulher e de gênero, bem como com a política de educação superior e transferência de conhecimento”. Leia mais
no link http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/06/21/projeto-misealrecebe-o-premio-margherita-von-brentano-2013 Educação medicalizada - O III Seminário internacional Educação medicalizada: reconhecer e acolher as diferenças terá como pano de fundo as discussões sobre a educação medicalizada. O evento ocorre de 10 a 13 de julho, no campus Paraíso da Unip, em São Paulo (Rua Apeninos, 267, na Aclimação). A organização é do Departamento de Pediatria e do Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) da FCM da Unicamp. Programação e mais informações no link http://seminario.medicalizacao. org.br/index.php/programacao/completa Investigações de/em aulas de matemática - O IV Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática (SHIAM) será realizado na Faculdade de Educação (FE) e no Centro de Concenções da Unicamp, de 10 a 12 de julho. Abertura oficial do evento: 10 horas, no Centro de Convenções. As inscrições podem ser feitas no site http://www.fe.unicamp.br/shiam/. A organização é do Grupo de Sábado (GdS). Outras informações: 19-3254 9482. Higgs brilhante? - O Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia (DRCC) do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) organiza, dia 13 de julho, às 11 horas, no auditório Meson Pi, um seminário para discutir a existência da partícula Higgs brilhante. O evento é organizado pela professora Arlene Cristina Aguilar. Mais informações no site http://portal.ifi. unicamp.br/br/drcc/seminarios-do-drcc ou telefone 19-3521-5275. Concurso universitário de fotografia - Até 15 de julho estarão abertas as inscrições para o 6º concurso universitário de fotografia “Meu olhar sobre o Brasil”, iniciativa da Revista Fotografe Melhor com patrocínio da Canon. Estudantes universitários interessados em participar podem se inscrever no site http://www.concursouniversitario.com.br Estagiário em Jornalismo ou Midialogia - O Colégio Técnico de Campinas, o Cotuca da Unicamp, recebe, até 19 de julho, as inscrições ao processo seletivo para preenchimento de uma vaga de estagiário em Comunicação Social (Jornalismo ou Midialogia). A vaga é destinada aos estudantes que estejam devidamente matriculados em instituições de Ensino Oficial ou reconhecidas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), e que no 2º semestre de 2013 estejam cursando o 4º semestre (segundo ano) de um dos cursos referidos. O requerimento de inscrição deve ser protocolado de segunda a sexta-feira, das 9 às 12 e das 14 às 17 horas, na Seção de Expediente do Colégio. O selecionado deverá cumprir jornada de 15 horas semanais, de segunda a quinta-feira, das 8 às 12 horas. O Cotuca fica na rua Culto à Ciência 177, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Consulte o Edital no link http://www.dgrh.unicamp.br/portal_processosseletivosestagios/111-2013/abertura/arquivo. Dúvidas referentes ao Processo Seletivo podem ser esclarecidas pelo email vania@cotuca.unicamp.br ou telefone 19-3521-9912. Avaliação da Graduação - O Programa de Avaliação da Graduação (PAG) do primeiro semestre está aberto à participação de docentes e estudantes até o dia 20 de julho. O processo é on line, anônimo e voluntário e trata-se de um instrumento de consulta e avaliação das condições de oferecimento de disciplinas e cursos, permitindo também acompanhar o perfil da comunidade acadêmica dos semestres anteriores. A avaliação é organizada pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)², que disponibiliza os dados gerais para toda comunidade e oferece apoio às coordenadorias de curso para o reconhecimento dos aspectos apontados por professores e alunos. Um dos objetivos da quinta versão do PAG, segundo o (EA)², é consolidar os dados dos últimos seis semestres relacionados ao ensino de graduação e facilitar a inserção e consulta dos mesmos. “Para o planejamento do futuro da graduação e para que a Unicamp se conheça e se aprimore é importante o envolvimento da comunidade e a produção de dados sólidos sobre o ensino que está sendo oferecido”, afirma o professor Sérgio Antonio da Silva Leite, coordenador do (EA)². O link para o preenchimento da avaliação e consulta de dados pode ser acessado na página eletrônica http://www. ea2.unicamp.br/avaliacao/. Mais informações: 19-3521-7991 Ciência e Tecnologia de Alimentos - A Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) recebe, até 28 de julho, as inscrições para o curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, na modalidade extensão. O curso visa fornecer aos profissionais de nível superior a atualização e o aprofundamento de conhecimentos técnicos e científicos na área de processamento de alimentos. Seu início está previsto para o dia 3 de agosto. As aulas acontecem aos sábados, das 8 às 16 horas, na FEA. Inscrições e outras informações no link https://www.extecamp.unicamp.br/dados.asp?sigla=FEA0250&of=009, telefone 19-3521 4094 ou e-mail joyced@fea.unicamp.br
Teses da semana Artes - “Percepção musical e a escola tradicional no Brasil: reflexões sobre o ensino e propostas para melhoria no contexto universitário” (doutorado). Candidata: Cristiane Hatsue Vital Otutumi. Orientador: professor Ricardo Goldemberg. Dia 5 de julho, às 14h15, na sala 3 da Pós-graduação do IA. “Klangfarbenmelodie: orquestração do timbre” (mestrado). Candidato: Igor Leão Maia. Orientador: professor Silvio Ferraz Mello Filho. Dia 10 de julho, às 10 horas, no Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics). “O espaço e o tempo do ator: uma proposta de treinamento entre a teatralidade e a performatividade” (mestrado). Candidato: Daniel Alberti Perez. Ori-
entadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 16 de julho, às 14 horas, no IA. Computação - “Análise de desgaste de técnicas de correção de erros em phase-change memories” (mestrado). Candidato: Caio Hoffman. Orientador: professor Guido Costa Souza de Araújo. Dia 1 de julho, às 10 horas, no auditório do IC 2. Economia - “As ideias sobre o cooperativismo na sua origem, o século XIX” (mestrado). Candidata: Joana Sofia Barros do Casal Bom. Orientador: professor Geraldo Di Giovanni. Dia 3 de julho, às 10 horas, na sala 23 do Pavilhão da Pós-graduação do IE. “Dependência e superexploração: os limites das reflexões de Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini sobre a problemática do desenvolvimento dependente” (doutorado). Candidato: João Paulo de Toledo Camargo Hadler. Orientador: professor Plínio Soares de Arruda Sampaio Júnior. Dia 18 de julho, às 14 horas, na sala 23 do Pavilhão da Pós-graduação do IE. “Autogestão dos trabalhadores como alternativa para recuperação de empresas falidas ou em processo falimentar” (mestrado). Candidato: Thiago Figueiredo Fonseca Ribeiro. Orientador: professor Rodrigo Lanna Franco da Silveira. Dia 19 de julho, às 14h30, na sala 23 do Pavilhão da Pós-graduação do IE. Educação física - “Comparação da associação de diferentes programas de atividade física aplicados no local de trabalho sobre o nível de atividade física e qualidade de vida de trabalhadores do setor administrativo de comunidade universitária” (doutorado). Candidata: Cynara Cristina Domingues Alves Pereira. Orientador: professor Roberto Vilarta. Dia 27 de julho, às 9 horas, no auditório da FEF. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Degradação de Flumequina por processos oxidativos avançados” (doutorado). Candidato: Caio Alexandre Augusto Rodrigues da Silva. Orientador: professor José Roberto Guimarães. Dia 11 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEEC. “Do projeto à fabricação: um estudo de aplicação da fabricação digital no processo de produção arquitetônica” (mestrado). Candidato: Wilson Barbosa Neto. Orientadora: professora Maria Gabriela Caffarena Celani. Dia 26 de julho, às 14h30, no auditório da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Estratégia de modulação PWM aplicada em conversores multinível tipo cascata simétrica para o balanceamento das tensões nos barramentos CC e minimização das comutações” (doutorado). Candidato: Marcos Balduino de Alvarenga. Orientador: professor José Antenor Pomilio. Dia 5 de julho, às 9 horas, na sala PE-12 da FEEC. “Painel braille interativo” (mestrado). Candidato: Sérgio Valle dos Reis. Orientador: professor José Antônio Siqueira Dias. Dia 11 de julho, às 9 horas, na sala PE 12 da Pós-graduação da FEEC. “Estimação de estado regularizada para sistemas de energia elétrica” (mestrado). Candidato: Fabiano Schmidt. Orientador: professor Madson Cortes de Almeida. Dia 12 de julho, às 9 horas, na sala PE 11 da FEEC. “Estudo comparativo de métodos de localização para robôs móveis baseados em mapa” (mestrado). Candidato: Diego Pereira Rodrigues. Orientador: professor Eleri Cardozo. Dia 12 de julho, às 14 horas, na FEEC. “Mini-CCNx: uma plataforma de prototipagem rápida para redes orientadas a conteúdo” (mestrado). Candidato: Carlos Manuel Silvestre Cabral. Orientador: professor Christian Rodolfo Esteve Rothenberg. Dia 16 de julho, às 14 horas, na sala PE 12 da FEEC. Engenharia Mecânica - “Simulação magnetostática 3D por dipolos magnéticos equivalentes” (mestrado). Candidato: Henrique Fagundes Gasparoto. Orientador: professor Luiz Otávio Saraiva Ferreira. Dia 2 de julho, às 14 horas, no auditório KD da FEM. “Preparação e caracterização de nanofibras da blenda PLLA/PCL obtidas pelos processos de eletrofiação e rotofiação” (mestrado). Candidata: Talita Almeida Vida de Brito. Orientador: professor Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia. Dia 5 de julho, às 9 horas, no auditório KD da FEM. “Estudo numérico da solidificação do PCM ao redor de tubos curvos com o efeito da convecção natural” (doutorado). Candidato: Lourival Matos de Sousa Filho. Orientador: professor Kamal Abdel Radi Ismail. Dia 10 de julho, às 9 horas, no auditório do DETF/FEM. “Análise comparativa de meios de preparação do substrato para ferramentas de torneamento revestidas pelo processo PVD” (mestrado). Candidata: Marta Regina Delle Donne Carvalho. Orientador: professor Anselmo Eduardo Diniz. Dia 12 de julho, às 10 horas, no auditório do DEF/FEM. “Simulação física do processo de soldagem por atrito com pino não consumível do aço inoxidável duplex UNS S32205” (mestrado). Candidato: Eduardo Bertoni da Fonseca. Orientador: professor Antonio José Ramírez Londono. Dia 25 de julho, às 9 horas, no auditório KD da FEM. “Análise numérica da dissipação de calor em cilindros horizontais isotérmicos isolados excentricamente por convecção natural e radiação” (mestrado). Candidato: Ezequiel Costa Malateaux da Silva. Orientador: professor Luiz Fernando Milanez. Dia 25 de julho, às 14 horas, no auditório KD da FEM. “Análise energética do projeto de um sistema híbrido eólico-fotovoltaico com armazenamento de energia elétrica através do hidrogênio e banco de baterias”(doutorado). Candidata: Maiana Brito de Matos. Orientador: professor Ennio Peres da Silva. Dia 26 de julho, às 9 horas, no auditório KD da FEM. Engenharia Química - “Biodegradação e bioconversão do D-limoneno por bactérias isoladas de esgoto doméstico” (mestrado). Candidata:
Sheila de Oliveira. Orientador: professor Everson Alves Miranda. Dia 2 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. “Otimização de sistemas de microalgas para mitigação de CO2 e produção de biodiesel” (doutorado). Candidata: Lucy Mara Cacia Ferreira Lacerda. Orientadora: professora Telma Teixeira Franco. Dia 10 de julho, às 9h30, na sala de defesa de teses da FEQ. “Extração de compostos antioxidantes da folha de mangueira (Mangifera indica L.) utilizando o CO2 supercrítico, água e etanol” (mestrado). Candidato: Wilson Junior dos Santos. Orientador: professor Osvaldir Pereira Taranto. Dia 10 de julho, às 14 horas, na sala de aula PG05 da FEQ. “Transferência via etanólise do óleo de levedura para a produção do biodiesel” (mestrado). Candidata: Érika Marques Reis. Orientadora: professora Telma Teixeira Franco. Dia 10 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. “Previsão tecnológica de médio e longo prazo: bombas de calor e sinergia com energias renováveis” (mestrado). Candidato: Antonio Carlos Ventili Marques. Orientador: professor Wagner dos Santos Oliveira. Dia 12 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. “Comparativo das propriedades de transporte de umidade, capilaridade, permeabilidade ao vapor e permeabilidade ao ar em tecidos planos de poliéster” (doutorado). Candidata: Camilla Borelli Silva. Orientador: professor Edison Bittencourt. Dia 26 de julho, às 9 horas, na sala de aula PG05 da FEQ. “Desenvolvimento de um método experimental de baixo custo para a determinação do diâmetro máximo de câmara de secagem para spray dryer com bocal rotativo” (doutorado). Candidato: Edinaldo Pereira da Silva. Orientador: professor Elias Basile Tambourgi. Dia 26 de julho, às 10 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. “Produção de ácidos húmicos por fermentação de resíduos do processamento de óleo de palma utilizando Cepas Trichoderma” (doutorado). Candidata: Fernanda Lopes Motta. Orientador: professora Maria Helena Andrade Santana. Dia 26 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. Geociências - “Metodologia para mapeamento de fragilidade ambiental por meio de análise espacial: um exemplo da alta bacia dos rios Piracicaba e Sapucaí-Mirim - Apa Fernão Dias - MG” (mestrado). Candidato: Danilo Francisco Trovó Garófalo. Orientador: professor Marcos César Ferreira. Dia 2 de julho, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem - “Hagiografia e literatura: um estudo da Legenda Maior Sancti Francisci, de Boaventura de Bagnoregio” (mestrado). Candidato: Thiago Maerki de Oliveira. Orientador: professor Alexandre Soares Carneiro. Dia 5 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Narrando o exame Celpe-Bras e o convênio PEC-G: a construção de territorialidades em tempos de internacionalização” (doutorado). Candidata: Ana Cecilia Cossi Bizon. Orientadora: professora Marilda do Couto Cavalcanti. Dia 11 de julho, às 13 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “O futuro da terra: discursos inconvenientes” (doutorado). Candidata: Ana Paula Freire Artaxo Netto. Orientador: professor Sirio Possenti. Dia 17 de julho, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Estudo e análise de sistemas lineares gerados nos problemas de contorno com fronteira descontinua a partir de métodos espectrais/hp” (mestrado). Candidato: Juan Carlos Rodríguez Miranda. Orientador: professor Petronio Pulino. Dia 1 de julho, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Modelo matemático para classificação multitemporal de culturas no Mato Grosso: com utilização do NDVI” (mestrado). Candidata: Kelly Marques de Oliveira Lopes. Orientador: professor Laércio Luis Vendite. Dia 2 de julho, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Sobre corpos de funções algébricas e suas relações com a criptografia” (doutorado). Candidato: Jamil Ferreira. Orientadora: professora Sueli Irene Rodrigues Costa. Dia 2 de julho, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Estrutura lagrangiana para fluidos compressíveis não barotrópicos em dimensão dois” (doutorado). Candidato: Pedro Nel Maluendas Pardo. Orientador: professor Marcelo Martins dos Santos. Dia 19 de julho, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Química - “Desenvolvimento e aplicação de métodos quânticos compostos baseados na teoria G3 para o estudo de propriedades atômicas, moleculares e mecanismo reacional de nitração do fenol” (mestrado). Candidato: Carlos Murilo Romero Rocha. Orientador: professor Rogério Custodio. Dia 10 de julho, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Desenvolvimento e validação de métodos para a determinação de aminoglicosídeos em fármacos veterinários” (mestrado). Candidata: Mónica Johanna Martínez Mejia. Orientadora: professora Susanne Rath. Dia 17 de julho, às 15 horas, na sala IQ-14. “Spot Test para chumbo em solos” (doutorado). Candidata: Patrícia de Pádua Castro. Orientadora: professora Adriana Vitorino Rossi. Dia 25 de julho, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Desracemização de alcoóis secundários por um único microrganismo” (mestrado). Candidato: Fábio Domingues Nasário. Orientador: professor José Augusto Rosário Rodrigues. Dia 26 de julho, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Síntese de compostos biologicamente ativos contendo o núcleo diarilmetano via reação de Heck-Matsuda” (mestrado). Candidato: Allan Ribeiro da Silva. Orientador: professor Carlos Raque Duarte Correia. Dia 26 de julho, às 9 horas, na sala IQ-14 do IQ.
Destaque do Portal
Fusão de dois laboratórios do IQ faz surgir o Nanobioss s professores Oswaldo Luiz Alves e Nelson Durán, do Instituto de Química, anunciam a fusão do Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES) e do Laboratório de Química Biológica (LQB), coordenados por eles, para a criação do NanoBioss – Laboratório de Síntese de Nanoestruturas e Interação com Biossistemas. Tendo Alves como coordenador e Durán como vice-coordenador, o NanoBioss surge como um laboratório-associado de referência do Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNano), contando com financiamento direto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Havia uma percepção em Brasília de que a questão da nanotecnologia deveria ser tratada de uma forma mais ampla. Foram tomadas duas atitudes extremamente interessantes, com a criação do SisNano – cuja função é credenciar laboratórios que já atingiram um nível elevado na área – e do Comitê Interministerial de Nanotecnologia (CIN) que tem sido chamado de “governança da nanotecnologia”, concentrando as demandas canalizadas por nove ministérios”, explica Oswaldo Alves. “Foi aberto um edital para laboratórios nacionais, como o LNNano [Laboratório Nacional de Nanotecnologia] e o CBPF [Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas], e para laboratórios associados, categoria na qual participamos”. De acordo com o regulamento do SisNano, laboratórios associados como o NanoBioss deverão dedicar 15% do seu tempo disponível ao relacionamento com o setor produtivo, na forma de atividades em P&D e serviços técnicotecnológicos de alta complexidade, utilizando
não só as expertises de sua equipe e as facilidades laboratoriais e instrumentais existentes, mas também as que serão criadas com o novo financiamento. Para os laboratórios nacionais, a disponibilidade precisa ser de 50%. “Não vou dizer que já temos uma política de estado, mas há uma tendência de que a nanotecnologia, devido à sua importância econômica e estratégica, seja tratada em conjunto por todos os ministérios”, acrescenta Oswaldo Alves. “Esta política andou e recuou sucessivas vezes, mas nesse momento estamos muito otimistas, por conta dessas duas medidas estruturais. E também temos o funcionamento pleno do LNNano, coordenado pelo professor Fernando Galembeck [aposentado pela Unicamp], que rompeu com certos paradigmas da área, promovendo, por exemplo, um relacionamento fortíssimo com o setor produtivo.” Trabalhando há muitos anos em colaboração, LQES e LQB, agora fundidos, somam mais de 60 patentes, com transferência de tecnologia e produtos já comercializados – é um índice que pouquíssimos laboratórios sustentam e realçado pelo professor Nelson Durán. “A nanotecnologia não pode estar dissociada do setor empresarial. Esse envolvimento é o ponto mais importante. Antigamente fazíamos ciência e publicávamos artigos em revistas internacionais, mas isso já não basta. Nosso grupo produz muitas patentes, o que significa que a invenção e a inovação estão inseridas em nossas pesquisas”. Oswaldo Alves lembra que o início das atividades do NanoBioss foi marcado pela realização do “Workshop on Nanobiotechnology”, em 27 de março, no Instituto de Quími-
Foto: Antoninho Perri
Os professores Oswaldo Luiz Alves (à dir.) e Nelson Durán
ca. O evento atraiu cerca de 35 participantes entre professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação, e teve apoio do INCT-Inomat, Fapesp e CNPq. “Foi muito proveitoso, principalmente porque os nossos trabalhos foram apresentados pelos estudantes, que puderam interagir com pesquisadores mais experientes da Índia, Argentina e Chile.”
RISCOS DA NANO
De acordo com Alves, tanto o seu grupo de pesquisadores como o de Durán vêm trabalhando em diferentes aspectos das nanotecnologias, sobretudo os relacionados com os riscos que ela pode oferecer. “Decidimos fundir os dois laboratórios tendo como proposta de trabalho, basicamente, a síntese avançada de nanoestruturas e a interação destas com sistemas biológicos. Isso para gerar um conjunto importante de dados que eventualmente possa ser utilizado para subsidiar o marco regulatório da nanotecnologia – processo que se tor-
nou bem mais intenso com a entrada muito forte da Anvisa no sistema.” Nelson Durán, que também coordena a Rede Brasileira de Nanotoxicologia (Cigenanotox), observa que depois de desenvolver, caracterizar e verificar as aplicações de um produto, é necessário atentar para o que acontece em termos de toxidade na sua interação com o meio ambiente. “A Cigenanotox está dedicada a resolver esse tipo de problema, ainda pouco estudado no Brasil e um pouco mais na Europa. Temos certo pioneirismo nas pesquisas sobre essa interação entre nanotecnologia e sistemas biológicos. Tanto que estamos lançando pela Editora Springer o livro Nanotoxicology: Materials, Methodologies and Assessments, organizado por mim, Oswaldo Alves e Silvia Guterrez.” Durán acrescenta que os estudos do seu grupo incluem aspectos nanotecnológicos relacionados a doenças negligenciadas, como tuberculose, leishmaniose e malária. “A nanotecnologia é um bom caminho para o desenvolvimento de produtos, isso com a ajuda do governo, pois as multinacionais não o farão. Estamos avançando bem principalmente com as nossas nanopartículas de prata, que estudamos há muito tempo e com resultados expressivos, inclusive, em câncer de bexiga. Na opinião de Oswaldo Alves, o atendimento da proposta apresentada ao SisNano colocará o NanoBioss em posição de destaque, pois foram solicitadas máquinas praticamente inexistentes no país. “O foco do laboratório é a produção de amostras de alta qualidade que possam servir de substratos para ensaios biológicos complexos. Vamos continuar fazendo pesquisa básica e um dos pontos que queremos atingir futuramente é o nosso credenciamento na FDA [Food and Drug Administration] americana, ingressando no processo interlaboratorial mundial. A nanotecnologia passa por um grande momento e deve contar com uma regulação equilibrada para evitar preocupações em termos de opinião pública ou descontinuidade de recursos financeiros. Precisamos dar uma resposta positiva em relação à segurança dos produtos com nanotecnologias embarcadas.” (Luiz Sugimoto)
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Os ritmos do paladar Pesquisa constata que gêneros musicais contribuem para ampliar ou reduzir a aceitação dos alimentos MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
senso comum aceita sem maiores dificuldades a ideia de que a música tem a capacidade de acalmar ou excitar as pessoas. Não por outra razão, os casais costumam escolher canções de amor e não rock pesado para embalar um jantar romântico. O que pouca gente ainda concebe é que a música também pode influenciar nas respostas dos consumidores frente a produtos alimentícios. Pesquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado de David Wesley Silva, defendida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, constatou que músicas romântica e clássica podem contribuir para ampliar o grau de aceitação de um alimento, enquanto o rock e o chorinho podem exercer efeito contrário. O trabalho, inédito na FEA, foi orientado pela professora Helena Maria André Bolini. O estudo desenvolvido por Silva, que é graduado em Música [Composição] pela Universidade de São Paulo (USP), foi dividido em duas partes. Na primeira, ele superou um desafio tecnológico que consistiu no desenvolvimento de um minibolo com características especiais. O pesquisador extraiu da receita tradicional a farinha de trigo, o açúcar, o ovo e o leite, de modo que o alimento pudesse ser consumido por celíacos, diabéticos e vegetarianos, além de pessoas preocupadas em manter uma dieta mais saudável. No lugar desses ingredientes, ele adicionou milho, biomassa (polpa de banana verde), edulcorantes (adoçantes: sucralose e estévia), amêndoa e coco. Ao todo, Silva elaborou seis variações da receita, alternando trigo, milho e biomassa, sacarose (açúcar) e edulcorantes. “As receitas com farinha de trigo e sacarose serviram de controle, para que pudéssemos estabelecer a comparação dos resultados dos testes sensoriais”, explica. A segunda etapa consistiu em oferecer as combinações à avaliação de um grupo formado por 120 provadores, que foram submetidos à audição de quatro gêneros musicais (rock, chorinho, música clássica e música românica). Os avaliadores também degustaram os minibolos sem ouvir músicas, mais uma vez para estabelecer um controle que permitisse comparação. Do ponto de vista tecnológico, afirma o autor da dissertação, as receitas formuladas com ingredientes mais saudáveis agradaram muito os participantes dos testes sensoriais. “A versão mais aceita de todas foi a preparada com milho, biomassa, sacarose, amêndoa e coco. A preferência pelo bolo com açúcar se explica por causa do padrão da dieta do brasileiro, há séculos acostumado ao consumo desse produto como agente adoçante, além de conferir outras características tecnológicas, como agente de corpo. Entretanto, nós também
AUDIÇÕES
Após superar o desafio tecnológico, o autor da dissertação partiu, então, para investigar a eventual influência da música sobre a preferência dos provadores. Como dito anteriormente, ele optou por submeter esses degustadores à audição de quatro diferentes gêneros instrumentais (rock, chorinho, música clássica e música romântica). Os participantes dos testes sensoriais também consumiram os minibolos em ausência de música. Segundo Silva, os estilos rock e chorinho provocaram notas de menor aceitação em determinados atributos dos alimentos por parte dos provadores, e esse impacto variou entre as 6 formulações do minibolo. “No caso do chorinho, nossa hipótese é de que ele exerce esse tipo de influência por ser agitado e ao mesmo tempo nostálgico. No caso do rock, há também a questão da agitação. Em comum, os dois gêneros apresentam padrões rítmicos enfatizados sobre os outros elementos musicais [melodia, harmonia, etc], o que pode desviar a atenção do provador. Relacionamos também estudos que apontam para uma atuação fisiológica no sistema nervoso, o que pode influenciar a resposta sensorial.”, arrisca o autor da dissertação. Já a música romântica instrumental e a música clássica, continua Silva, colaboraram para a maior aceitação dos minibolos. “Esses gêneros tendem a acalmar as pessoas. Tal relaxamento provavelmente cause maior disponibilidade nas pessoas para aceitar o alimento. Outros estudos apontam para associação da música clássica a conceitos de status social, autoestima e sofisticação. Sabemos que a música produz variados efeitos físicos, psicológicos e emocionais, mesmo cognitivos. De outro lado, as pessoas têm as suas preferências, associadas à cultura e histórico de vida. Obviamente, tudo isso tem que ser estudado com mais profundidade, para
A professora Helena Maria André Bolini: pesquisa tem a mesma qualidade das desenvolvidas em grandes centros David Wesley Silva, autor da dissertação: música pode contribuir para aumentar ou reduzir o grau de aceitação de um alimento
Fotos: Divulgação
constatamos uma ótima aceitação em relação ao minibolo adoçado com a sucralose e também com a combinação de sucralose e estévia como substitutos da sacarose”, relata Silva. Conforme o pesquisador, o minibolo feito com ingredientes mais saudáveis se assemelha em aspecto, textura e sabor à tradicional sobremesa brasileira conhecida como queijadinha. “Nutricionalmente, ele oferece diversas vantagens ao consumidor em comparação com as versões comerciais. Enquanto a nossa receita apresenta um teor de sódio de apenas 6 mg por unidade, os produtos encontrados no mercado têm cerca de 20 a 30 vezes mais sódio. Além disso, o nosso minibolo também dispõe de muito mais fibras, é isento de colesterol e proporciona um melhor balanceamento dos ácidos graxos, com a característica adicional de ser menos calórico”, elenca Silva.
Fotos: Antonio Scarpinetti
Voluntários ouvem música durante degustação de bolo (destaque) realizada em laboratório da FEA: foram elaboradas seis variações da receita
que compreendamos melhor a composição interna dessa associação de efeitos de influência musical sobre a decisão do consumidor”, pondera o pesquisador. Ainda segundo ele, em relação a algumas amostras provadas, a música influenciou em até 14,4% nas médias de aceitação em comparação com as médias obtidas sem a música. “Esse dado sinaliza que a música pode potencializar a aceitação de um determinado alimento, principalmente no momento em que o consumidor está elaborando a sua avaliação. Por hipótese, a música pode vir a ser utilizada como uma forte aliada por parte de restaurantes e outros locais em que sejam servidos alimentos para consumo, até mesmo com finalidade terapêutica e/ou dietética”, acrescenta a professora Helena. “Atualmente, nós sabemos que elementos bioquímicos como aminoácidos, minerais, etc. podem trazer benefícios ao organismo. Entretanto, ainda desconhecemos que efeitos específicos os elementos musicais podem causar no nosso corpo. Os músicos têm alguma noção sobre isso, mas esse conhecimento precisa ser aprofundado e sistematizado”, reforça o autor da dissertação. Tanto orientadora quanto orientado assinalam que as pesquisas nesta área ainda estão em fase inicial em todo o mundo. “A música é pura sensorialidade, arte e ciência. Entretanto, as pesquisas associando esta arte à percepção dos alimentos são muito recentes. Anteriormente, as pesquisas se concentravam sobre a influência de sons ambientes e ruídos sobre o consumo de alimentos. Quando a música era utilizada, o foco era a quantificação do consumo. Por exemplo, um desses trabalhos constatou que não ouvir o som ‘croc’ no momento em que a pessoa morde uma batata frita pode levá-la a pensar que a batata não está crocante o suficiente, ainda que tenha sido preparada do mesmo modo e apresente a mesma textura de sempre”, informa Silva. Ele menciona outra pesquisa na qual voluntários degustaram um sorvete de bacon e ovos. Durante a degustação, os cientistas colocaram sons de pintinhos no quintal, o que fez com que o alimento fosse percebido tendo mais gosto de ovo. Quando trocaram para som de fritura, os provadores relacionavam mais o sabor de bacon no sorvete, demonstrando que o som pode influenciar o paladar. “A minha entrada no mestrado coincidiu com o início das pesquisas associando a música à percepção dos alimentos. Há três anos, o Laboratório de Pesquisa Crossmodal da Universidade de Oxford [Inglaterra] vem investigando o som de instrumentos musicais relacionados aos sabores. No estudo mais recente (2012), foram compostas duas trilhas sonoras diferentes: uma com ‘elementos musicais doces’ e outra com ‘elementos musicais amargos’. Assim, quando voluntários provavam o cinder toffe [espécie de doce de café e caramelo], uma tradicional sobremesa inglesa, ouvindo os ‘sons doces’, eles assinalaram que a sobremesa era doce. Quando ouviam o ‘som amargo’, diziam que tinham comido algo amargo”, relata o autor da dissertação.
Na mesma linha, a professora Helena conta que participou de um evento científico em Nova York no ano passado, oportunidade em que pôde travar contato com alguns estudos na área. “A ciência sensorial ainda é pouco conhecida. A única forma de medirmos se as pessoas gostam ou não de um determinado alimento ou qual é a intensidade dos sabores é através da aplicação da mesma. Nossas abordagens estão apoiadas em diversas áreas do conhecimento, como fisiologia, anatomia, bioquímica de alimentos, economia, estatística, sociologia, psicologia etc. Nosso laboratório aqui na FEA é atualmente uma referência mundial nesse segmento. Nós estamos desenvolvendo estudos com a mesma qualidade dos grandes centros”, enfatiza a docente. Mas, afinal, o que levou um maestro a se dedicar à ciência dos alimentos? O próprio Silva responde: “Eu sempre me preocupei com a questão da alimentação saudável e com a qualidade de vida. Há algum tempo me tornei naturalista. Por exercer liderança junto à minha comunidade, decidi compartilhar parte das minhas experiências com as pessoas mais próximas. Com fomentação de palestras e cursos de culinária saudável, os resultados foram incríveis, inclusive com a reversão de várias doenças crônicas, como obesidade, anemia perniciosa, artrite reumatoide, etc. Foi quando percebi que precisava recorrer à academia para aprofundar o conhecimento sobre algo que vivíamos na prática”, esclarece. Certo dia, quando visitou a FEA para assistir à defesa da tese de uma amiga, violinista da sua orquestra, Silva conversou com o orientador dela, demonstrando seu grande interesse em ser aluno especial e cursar algumas disciplinas. “Após um ano e meio me aprofundando em nutrição e bioquímica, gostei tanto, que ele me encorajou a prestar o exame para ingressar no mestrado. Decidi encarar o desafio, estudei bastante e fui aprovado. Depois, por estímulo da minha orientadora, resolvemos incluir a música no escopo do meu trabalho. Anteriormente, eu pensava que a música era a rainha das artes. Hoje, sei que a alimentação, o alicerce de nossas vidas, pode ser associada e influenciada pela música, e ambas podem ser maravilhosamente arte e ciência juntas, sendo o preparo e formulação dos alimentos a base da vida”, finaliza.
Publicação Dissertação: “Minibolo de milho: desenvolvimento de produto alimentício para público celíaco, com ingredientes funcionais, redutores calóricos e avaliação de características sensoriais percebidas no produto submetidas a estímulos musicais” Autor: David Wesley Silva Orientadora: Helena Maria André Bolini Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
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Denso e Maldito LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
História, política e alegoria na prosa ficcional de Dyonelio Machado”: assim se intitula a tese de doutorado de Fernando Simplício dos Santos, que tem o mérito de resgatar a esquecida produção literária do romancista, médico e político gaúcho, considerado por muitos estudiosos um “escritor maldito”, devido à perseguição político-ditatorial (e a recusa editorial) por ele sofrida durante a sua trajetória. A tese foi defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, com a orientação do professor Francisco Foot Hardman. “O estudo da alegoria permitiu identificar uma expressiva relação entre o pensamento artístico e o pensamento ideológico de Dyonelio Machado. Isso me levou a destacar, a partir de uma análise de cunho sociológico da literatura, inúmeras críticas ao Estado Novo, à ditadura militar e à Igreja Católica”, afirma Fernando dos Santos. “Por exemplo: mesmo que os romances ‘Deuses econômicos’, ‘Sol subterrâneo’ e ‘Prodígios’ representem o Império Romano, a análise alegórica permite detectar, neles, o questionamento de certas circunstâncias do contexto em que foram compostos.” Francisco Foot Hardman, que orientou a pesquisa, lembra que mestres como Alfredo Bosi, Antonio Candido e Davi Arrigucci Jr. colocam Dyonelio Machado (1895-1985) entre os maiores escritores da moderna literatura brasileira. “Infelizmente, a sua produção não foi devidamente valorizada. Além de obras-primas como ‘Os ratos’ e ‘O louco do Cati’, ele escreveu ‘romances históricos’ ambientados na Antiguidade Romana, mas que na verdade são alegorias sobre as ditaduras Vargas e a militar de 64. Aspectos bem analisados na tese e que, até aqui, permaneciam virgens devido às dificuldades retóricas desses romances alegóricos, como por exemplo, ‘Os deuses econômicos’.” Segundo o docente do IEL, como homem público, Dyonelio Machado foi militante comunista e um dos líderes da Intentona Comunista de 1935, no Rio Grande do Sul, tendo sido preso e torturado no Rio de Janeiro, ao lado de companheiros com Graciliano Ramos. “A pesquisa de Fernando dos Santos levantou pela primeira vez o prontuário do escritor no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Outra faceta importante da vida-obra de Dyonelio é o fato de ele ter sido médico psiquiatra e pioneiro da psiquiatria no Rio Grande Sul e, por que não dizer, no Brasil.” O autor da tese de doutorado explica que seu objetivo foi analisar a relação entre história, política e alegoria na tetralogia romanesca composta por “O louco do Cati” (1942), “Desolação” (1944), “Passos perdidos” (1946) e “Nuanças” (1981), e principalmente na trilogia constituída por “Deuses econômicos” (1966), “Sol subterrâneo” (1981) e “Prodígios” (1980). “Valendo-me da alegoria como método analítico, por um lado, pude avaliar que a tetralogia representa uma crítica sutil ou implícita, especialmente contra a Era Vargas e o sistema econômico capitalista; e, por outro, como essa característica tende a se tornar paulatinamente mais explícita, sobretudo em ‘Nuanças’, a última narrativa.” Em relação à trilogia, Fernando dos Santos quis verificar de que modo esses romances ampliam e reforçam o questionamento à violência tirânica e ditatorial, acentuando as origens de suas mais remotas contradições sociais, políticas, econômicas e religiosas. “Num primeiro nível, constatamos uma indagação direta ao despotismo do imperador Nero. E, averiguando em profundidade, vemos um tácito julgamento direcionado não somente à Era Vargas, mas também à ditadura militar e ao imperialismo moderno. Além disso, sublinhamos uma crítica a certas questões político-religiosas que vigoravam no Estado gaúcho na época dessas publicações, atinentes aos embates entre membros do Integralismo e representantes da Aliança Nacional Libertadora (ANL), bem como entre comunistas e capitalistas.”
QUALIDADES ESTÉTICAS
Foi em 2003 que o pesquisador encontrou na livraria “Os ratos” e também “Um pobre homem” (1927) – livro de contos que marca a estreia de Dyonelio Machado na literatura. “Dois contos me interessaram muito, um que dá título ao livro e outro chamado ‘Melancolia’. Depois dessas primeiras leituras, fui pesquisar quem era esse escritor, o que me levou a ‘Cheiro de coisa viva’, onde ele conta como foi sua trajetória e a experiência no cárcere. No mestrado fiz uma análise comparativa entre aqueles dois contos e duas novelas de Menotti Del Picchia. E li a principal tese sobre Dyonelio, de Maria Zenilda Grawunder, que organizou todo o seu acervo e teve acesso a cartas, artigos de jornais e, inDyonelio é fichado pela polícia em uma das vezes em que foi preso: obras com forte carga ideológica clusive, a romances não publicados por vários motivos.” Entre as qualidades que elegem Dyonelio Machado enpou o mandato por muito pouco tempo, renunciado detre os grandes escritores nacionais, o autor da tese observa vido a inúmeras divergências com os componentes do que “Os ratos”, sua obra-prima, possui uma estética inoPC e adeptos de outros partidos. Depois disso, nunca vadora para a nossa literatura. “É uma narrativa condenmais atuaria como político. De qualquer maneira, se na sada e densa, trabalhando o psicológico dos personagens, política não conseguiu expor completamente seus ideo que levou vários críticos a compararem principalmente ais, não deixou de representá-los com veemência em alesta obra com ‘Angústia’ de Graciliano Ramos; para Arrigumas de suas obras.” gucci Jr., por conta da carga psicológica, ‘Os ratos’ se comO doutor pela Unicamp coletou para sua tese o trecho para a ‘Crime e castigo’ de Dostoievski. ‘O louco do Cati’, de uma entrevista concedida por Dyonelio Machado em por sua vez, pode ser interpretado como uma abordagem 1980, que reflete o seu engajamento: “Eu saí da cadeia, da ditadura moderna e, ao mesmo tempo, da angústia do dois anos depois, sem culpa formada. A prisão dá material para homem em conflito consigo mesmo.” muitas coisas. Uns fazem memórias – são célebres as de Sílvio Fernando dos Santos salienta que a psicanálise permeia Pelico –, mas eu achei melhor utilizar minhas vivências em lia produção de Dyonelio desde os primeiros contos de 1927 vros de ficção. Era um crime ter esse material e não utilizá-lo”. e que na própria tese de doutorado em medicina que ele defendeu, intitulada “Uma definição biológica do crime” e pu“Fica claro que sua obra pode ser dividida em duas blicada em 1933, procura analisar como funciona a mente de fases: antes e depois da prisão. A trajetória de alguns um criminoso. “Questões psicológicas aparentemente simdos personagens mais importantes poderia represenples vão ganhando uma densidade imensa, como na relação tar peculiarmente signos do próprio percurso político e do homem com a máquina que vai triturando sua psique até intelectual do autor”, observa Fernando Simplício dos dominá-lo e mudar sua personalidade. Essas questões são Santos. “Em ‘O louco do Cati’, ‘Desolação’, ‘Passos permais bem aprofundadas em seus romances: em ‘Os ratos’, didos’ e ‘Nuanças’, percebemos a representação do caNaziazeno tem 24 horas para pagar o leiteiro e a tensão vai minho que os presos políticos percorriam até chegar à aumentando até o personagem conseguir o dinheiro com um prisão no Rio de Janeiro. Sob tal enfoque, a arte de Dyoagiota; a narrativa é cíclica e, no dia seguinte, Naziazeno teria nelio também pode ser considerada um ‘testemunho lique arrumar o dinheiro para quitar o penhor.” terário’, bem como uma denúncia das contradições da Em sua pesquisa, o autor da tese constata ainda uma sua sociedade”. interligação das obras de Dyonelio com o expressionismo – “sobretudo o expressionismo abstrato” – e uma tentativa do escritor de colocar nelas uma temática. “Ele mostra uma preocupação com o elemento estético. EmPublicação bora dissesse que podemos ler cada obra de maneira esDissertação: “História, política e alegoria na prosa parsa, elas seguem uma linha temática que talvez seja influenciada pela ‘Comédia humana’ de Balzac. Por ouficcional de Dyonelio Machado” tro lado, algumas narrativas representam a vertente dos Autor: Fernando Simplício dos Santos romances dos anos 1930, em que a perspectiva literária Orientador: Francisco Foot Hardman passa por um questionamento social, político e econômico. No contexto de censura, várias editoras recusaram Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) suas obras devido ao cunho político e historiográfico.”
POÉTICA
DO CÁRCERE
Dyonelio Machado dividia-se entre a política, a psiquiatria e a literatura. A filiação ao Partido Republicano, ainda na década de 1920, teria sido um dos motivos da perseguição política que sofreu principalmente em 1935, pelo então governador Flores da Cunha, que queria cooptá-lo para seu partido. Fernando dos Santos aponta, entretanto, o aspecto crítico já presente em “Um pobre homem” de 1927. “Não por acaso, devido à republicação do conto ‘Noite no acampamento’, em 1942, pela Revista do Globo, o Exército reconheceu um questionamento, chamando Dyonelio mais uma vez para dar explicações. Esse tipo de perseguição demarcou intensamente sua trajetória como escritor de ficção.” A prisão em 1935, na vigência do Estado Novo e quando o escritor era presidente da Aliança Nacional Libertadora no Rio Grande do Sul, deveu-se às relações estreitas que mantinha com Luiz Carlos Prestes, Roberto Sisson, Caio Prado Júnior e várias outras figuras expressivas (e subversivas) do cenário político. “Dyonelio ficou um ano preso na praia de Belas, em Porto Alegre, e depois foi transferido de navio para o Rio de Janeiro, juntando-se a Graciliano Ramos. Foi torturado, escondia os óculos para não se machucar ainda mais.” Ao deixar o cárcere, Dyonelio Machado aderiu ao Partido Comunista, pelo qual se elegeu deputado estadual constituinte em 1946, mas sem chegar a votar o novo texto constitucional. “Ele ocuAlém de escritor, Dyonelio foi um dos pioneiros da psiquiatria no país
Fernando Simplício dos Santos, autor da dissertação: vasculhando arquivos
Fotos: Reprodução/Divulgação