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Fotos: Divulgação/ Reprodução

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Fellini e a reinvenção do neorrealismo

João Cabral flana por Sevilha

Foto: Antonio Scarpinetti

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Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 576 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Eneida Serrano

Água sem lei

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Pesquisa revelou a presença de interferentes endócrinos, substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais, em mananciais e na água que sai das torneiras de 20 capitais. Segundo o pesquisador Wilson Jardim, coordenador do levantamento, existem hoje cerca de 800 “contaminantes emergentes” detectados na água, mas que não são previstos em leis ou regulamentos. Jardim atribui a falta de monitoramento à portaria “estática” do Ministério da Saúde, que normatiza o controle da água potável. “As tecnologias não são adotadas por inércia e pelo respaldo que as concessionárias têm na legislação”.

O Guaíba e a região central de Porto Alegre ao fundo: entre as cidades pesquisadas, a capital gaúcha tem a maior concentração de cafeína encontrada na água servida à população

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Métodos gerenciam coleções de imagens Conflitos e interesses no novo Centro de SP

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Por que os xampus e o sol danificam os cabelos Sistema híbrido de energia é analisado

No ouvido de baleia, mercúrio e pesticidas Álcool é a pior das drogas, diz pesquisa Raiva vira rastilho em redes sociais TELESCÓPIO

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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Cera do ouvido de baleia registra poluição do mar

Nature debate estimativas para elevação do nível dos oceanos

A análise de um cilindro de cera de ouvido de 25 centímetros, retirado do corpo de uma baleia-azul morta em 2007, revelou a presença de contaminantes como pesticidas e mercúrio, provavelmente absorvidos da mãe durante a gestação e a lactação. A baleia-azul é o maior animal da Terra, e a espécie ainda é considerada ameaçada de extinção. O estudo que descreve a análise da cera de ouvido da baleia foi publicado pelo periódico PNAS. Os autores, de instituições norte-americanas, dividiram o cilindro de cerúmen em 24 lâminas, que foram estudadas de modo a determinar a exposição do animal a substâncias lipossolúveis, que se dissolvem em gordura. Além de revelar a presença de contaminantes, a análise mostrou também como os hormônios do corpo da baleia variaram durante sua vida. Os autores afirmam que seu estudo traz a primeira descrição da variação do cortisol, um hormônio ligado ao estresse, ao longo de toda a vida de uma baleia-azul. “O pico de cortisol se segue ao maior pico de testosterona”, escrevem os pesquisadores, o que parece indicar que o estresse máximo ocorreu num período de competição sexual. Quanto aos contaminantes de origem humana, as lâminas demonstram uma transferência “substancial” vinda da mãe, durante a gestação ou lactação. “A transferência materna (...) equivale a 20% da carga total ao longo da vida”, diz o artigo. O impacto desses contaminantes na saúde das baleias ainda é desconhecido.

Em sua edição de 19 de setembro, a revista Nature publica uma reportagem sobre como são calculadas as estimativas de elevação do nível dos oceanos, causada pelo aquecimento global. Com um novo relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) prestes a ser lançado, o periódico lembra que, quando a última avaliação foi divulgada, em 2007, muitos pesquisadores consideraram a previsão de uma elevação máxima de 59 centímetros, até 2100, excessivamente conservadora. O problema, explica a Nature, está no tipo de modelo usado para gerar as estimativas: modelos baseados em “processos” – que somam as contribuições individuais de cada processo conhecido envolvido na elevação dos mares – geram valores que vêm se mostrando muito baixos: quando usados para “retro-prever” a elevação do mar entre 1961 e 2003, por exemplo, o resultado foi um erro de 40% para menos. Já modelos “semiempíricos”, que se valem de correlações observadas no passado – por exemplo, entre a temperatura do ar e o nível do mar – são, por definição, corretos em relação ao passado, mas suas previsões só são válidas enquanto a correlação em que se baseiam for real. Uma aplicação obviamente errada desse tipo de modelo seria usar a correlação entre idade e altura de uma criança para calcular a altura de um homem de 50 anos, ignorando o fato de que os seres humanos param de crescer ao final da adolescência. De acordo com a Nature, os modelos baseados em processo agora preveem uma elevação máxima do nível do mar em 1 metro até 2100. Já para os modelos semiempíricos, essa elevação poderá chegar a 2 metros.

Raiva é a emoção que melhor se dissemina nas redes sociais Pesquisadores chineses analisaram mais de 70 milhões de mensagens despachadas pelo Weibo, um serviço chinês semelhante ao Twitter, durante seis meses do ano passado, e concluíram que a raiva é a emoção que se propaga com mais facilidade pela rede. Os estudiosos, liderados por Rui Fan, da Universidade Beihang, usaram conteúdo produzido por 200 mil usuários do Weibo, que atualmente conta com 5 milhões de cadastrados. Foram consideradas apenas interações – quando usuários trocam mensagens entre si e repassam mensagens uns dos outros – e não postagens “solteiras”. Usando os emoticons (desenhos que denotam emoções) que ilustram algumas mensagens para indexá-las em um de quatro estados – raiva, tristeza, alegria e nojo – os pesquisadores determinaram que tristeza e nojo praticamente não se propagam pela rede. Já a alegria se espalha com alguma facilidade mas, de acordo com os resultados do levantamento, nada é mais contagioso que a raiva. “Descobrimos que a correlação da raiva entre os usuários é significativamente maior que a da alegria, e que a raiva pode se espalhar de modo mais rápido e amplo pela rede”, escrevem os autores. “Além disso, há uma forte correlação de sentimentos entre pares de usuários que partilham muitas interações. E usuários com um grande número de amigos têm uma influência de sentimento maior sobre seus vizinhos”. O estudo, “Anger is More Influential Than Joy: Sentiment Correlation in Weibo” (“Raiva é mais Influente que Alegria: Correlação de Sentimentos no Weibo”) foi submetido a publicação e encontra-se disponível no repositório gratuito Arxiv.

Em nosso planeta, mais de 90% de todo o metano presente na atmosfera é gerado por atividade biológica. Como esse gás é muito facilmente destruído, sua presença, em grande quantidade e de modo contínuo, em Marte, poderia ser um indicador da existência de vida, possivelmente bactérias, no planeta. Os dados levantados pelo Curiosity, no entanto, indicam uma concentração de metano que corresponde a apenas cerca de 16% de outros valores obtidos recentemente. Os autores concluem o artigo afirmando que a origem e o destino do metano em Marte continuam a ser um mistério.

Racismo é ligado a depressão e ansiedade em crianças Levantamento feito por pesquisadores australianos, e que será publicado na edição de outubro do periódico Social Science & Medicine, analisou mais de 400 estudos publicados ligando racismo a problemas de saúde mental, depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes. Nota distribuída pela Universidade de Melbourne informa que a maioria dos estudos analisados tratava dos efeitos do racismo interpessoal, e não do chamado racismo estrutural ou institucional. Os resultados apontam, ainda, que mães que sofrem racismo durante a gestação têm mais dificuldades no parto.

“A revisão mostrou que há relações fortes e consistentes entre discriminação racial e uma série de dificuldades para a saúde, como baixa autoestima, resiliência reduzida, aumento nos distúrbios de comportamento e níveis reduzidos de bemestar”, diz a nota.

Álcool é a pior droga, diz levantamento britânico Pesquisa publicada pela revista médica Lancet mostra que, na opinião de especialistas do Reino Unido, o álcool é a droga que mais dano causa à sociedade, e a quarta que mais prejudica pessoalmente o usuário – ficando, nessa categoria, atrás de heroína, crack e metanfetamina. Para elaborar os rankings, especialistas foram convidados a dar notas para 20 drogas dentro de 16 critérios, sendo nove relacionados ao prejuízo da substância para o usuário e sete, para a sociedade em geral. Na lista das drogas que mais prejudicam diretamente quem as consome, as três mais perigosas são heroína, crack e metanfetamina. Na lista geral, que computou os dois tipos de dano, o álcool também aparece disparado em primeiro lugar, com 72 pontos – numa escala de zero a 100 – com a heroína, a segunda colocada, tendo marcado 55 pontos. Na lista geral, tabaco, anfetaminas e maconha ocupam, respectivamente, a sexta, sétima e oitava posições. Foto: Nasa/JPL-Caltech/Malin Space Science Systems

Rios no Saara podem ter ajudado expansão da espécie humana Três grandes rios cruzavam o deserto do Saara há cerca de 100 mil anos, abrindo caminho para que a espécie humana se dispersasse em direção às áreas férteis do Mediterrâneo, diz estudo realizado por pesquisadores britânicos e publicado no periódico online PLoS ONE. Os autores criaram simulações de computador do clima da Terra no período de 130 mil a 100 mil anos atrás, quando as chuvas de monção africanas caíam 700 km mais ao norte do que nos tempos atuais. Essas simulações indicam que três rios – cujos leitos devem estar soterrados pelas dunas do deserto nos dias atuais – podem ter funcionado como “corredores verdes”, permitindo o trânsito entre a África subsaariana e a costa do Mediterrâneo. Além dos rios, as simulações projetam a existência de grandes lagoas e pântanos no que hoje é o nordeste da Líbia.

Robô da Nasa encontra muito pouco metano em Marte Na edição de 20 de setembro da revista Science, pesquisadores ligados ao jipe-robô Curiosity, que se encontra na superfície do planeta Marte, anunciam que apenas quantidades mínimas de metano foram encontradas pelo equipamento na atmosfera marciana, contradizendo descobertas anteriores, feitas por satélites em órbita do planeta vermelho e por telescópios baseados na Terra.

Autorretrato do robô Curiosity, da Nasa, na superfície de Marte

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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

Água de 20 capitais tem ‘contaminantes emergentes’ Pesquisa detecta substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

esmo atendendo aos requisitos do Ministério da Saúde, a qualidade da água distribuída a 40 milhões brasileiros, moradores de 20 capitais, ainda precisa melhorar muito, revela pesquisa realizada em mananciais e na água que sai das torneiras pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. A principal preocupação, de acordo com o pesquisador Wilson Jardim, são os chamados interferentes endócrinos, substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais. De acordo com Jardim, hoje existem cerca de 800 substâncias do tipo que são consideradas “contaminantes emergentes” da água – isto é, que aparecem no líquido, mas não são controladas por leis ou regulamentos. “A portaria [2914, do Ministério da Saúde, que normatiza a qualidade da água potável] é muito estática, e a nossa vida é dinâmica, nossa sociedade é dinâmica”, disse Jardim, que é pesquisador do IQ e membro do INCTAA, ao Jornal da Unicamp. “A cada ano, são mais de mil novos compostos registrados. Trinta anos atrás, as pessoas usavam três produtos de higiene quando acordavam, antes de sair de casa. Hoje são dez, em média”. O pesquisador explica que muitas dessas substâncias acabam indo parar no esgoto, nos mananciais e – porque a legislação não diz nada sobre elas – são ignoradas nos procedimentos de limpeza da água aplicados antes que ela retorne ao consumo humano. E parte desse material é composta por interferentes endócrinos. A preocupação com contaminantes do meio ambiente que afetam o equilíbrio do sistema hormonal dos seres vivos é internacional. No ano passado, dois órgãos da ONU, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicaram um relatório conjunto, O Estado da Ciência dos Produtos Químicos Interferentes Endócrinos, alertando para os possíveis riscos dessas substâncias. “A saúde humana e animal depende da capacidade de reprodução e desenvolvimento normais, o que não é possível sem um sistema endócrino saudável”, diz o texto.

Mesmo reconhecendo que ainda não há evidência irrefutável de que esses contaminantes estejam afetando a saúde das pessoas, o relatório cita uma série de problemas – como o aumento no número de casos de certos tipos de câncer, ou a antecipação da idade da primeira menstruação das meninas, observada em vários países – que podem estar relacionados à presença desses interferentes no ambiente. Jardim lembra que há uma série de estudos ligando a presença dessas substâncias na água a alterações no desenvolvimento de animais, como peixes e sapos. Ele cita especificamente um trabalho publicado em 2007 no periódico PNAS, em que a contaminação de um lago canadense com uma concentração de 5 ng/l (nanogramas, ou bilionésimos de grama, por litro) de um hormônio usado em pílulas anticoncepcionais levou a população de peixes ao colapso, depois que os machos passaram a exibir características femininas, impedindo a reprodução. “Isso fez com que a União Europeia comece, hoje, a pensar em regulamentar o etnilestradiol [hormônio usado em anticoncepcionais] em 0,035 nanogramas por litro, nas águas”, disse Jardim. “Esses são valores que há 15, 20 anos, ninguém conseguia nem medir. Mas hoje se fala desses valores com sobriedade, e com muita propriedade”. O pesquisador disse ainda que há uma lacuna importante no conhecimento sobre os efeitos desses contaminantes na fauna latino-americana. “A América Latina hoje tem pouquíssimos dados sobre os efeitos adversos na biodiversidade. Dados de feminização de peixes, de desaparecimento de sapos, do impacto na biodiversidade”, declarou. “Não sei se é falta de dados ou de sistematização e de acesso à informação. E isso é muito importante. É um pé manco que temos hoje, nessa questão”. No levantamento realizado pelo INCTAA, foram coletadas amostras de água de mananciais e da água já tratada que chega à população em 19 capitais de Estados brasileiros e no Distrito Federal. O nível de cafeína na água foi usado como indicador da presença de contaminantes que têm ação estrógena, isto é, um efeito semelhante ao do hormônio feminino. “Há uma dificuldade química em achar, medir os compostos que têm atividade estrogênica”, disse Jardim. “Porque são vários hormônios, vários detergentes, pesticidas que têm essa atividade de confundir o nosso sistema hormonal”. O pesquisador também lembrou que essas substâncias podem interagir entre si, de modo que o efeito estrógeno seja uma propriedade da mistura. “A toxicologia clássica não lida bem com misturas”. No entanto, experimentos em laboratório mostraram que a presença de cafeína na água coletada tem uma boa correlação com a atividade estrógena, tal como detectada em experimentos. “A cafeína presente na água é quase toda excretada pela atividade humana”, acrescentou ele. “É uma droga muito consumida. A gente consome muita cafeína, seja junto a medicamentos, refrigerantes, energéticos”. Assim, a concentração de cafeína também permite determinar quanto de esgoto foi lançado na água. Foto: Antoninho Perri

O pesquisador Wilson Jardim: “As tecnologias não são adotadas por inércia e pelo respaldo que as concessionárias têm na portaria do Ministério da Saúde”

Foto: Antonio Scarpinetti

Pescadores na Represa Billings, que abastece São Paulo: no ranking dos mananciais, a região metropolitana da capital paulista aparece como a mais contaminada

Ranking

Capital

Cafeína média (ng/l)

Mínimo (ng/l)

Máximo (ng/l)

Pontos amostrais

Porto Alegre

2257

1342

2769

3

Campo Grande

900

6

1793

2

Cuiabá

222

9

629

3

4º 5º

Belo Horizonte Vitória

206 196

8 157

599 267

3 3

Teresina

188

180

196

2

Curitiba

116

25

167

3

São Paulo

107

38

198

3

Belém

82

51

133

3

10º

Goiânia

56

41

70

2

11º

Natal

53

8

98

2

12º

João Pessoa

40

5

74

2

13º

Rio de Janeiro

31

26

36

2

14º

Brasília

31

11

62

6

15º

Florianópolis

19

19

19

1

16º

Manaus

18

8

35

3

17º

Salvador

16

7

34

3

18º

São Luís

8

4

12

2

19º

Recife

4

<Id

8

4

20º

Fortaleza

2

<Id

5

4

“Grande parte dos estrógenos em zonas urbanas, onde não se usam pesticidas, vem do esgoto”, disse Jardim. “E como eu meço esgoto? Quando você capta água e passa na estação de tratamento, se você faz uma desinfecção muito boa, a impressão digital do esgoto desaparece. Então fomos buscar uma impressão digital química, que não seja destruída na cloração, que possa ser parcialmente removida na estação de tratamento da água, mas que ainda permaneça em quantidades mensuráveis. E a cafeína se mostrou um excelente indicador”. De acordo com ele, algumas estações de tratamento são capazes de remover até 99% da cafeína da água. “Então, mesmo quantidades muito pequenas podem indicar que o estresse do manancial por esgoto é alto”, disse. No ranking das cidades brasileiras elaborado pelo INCTAA, a maior concentração de cafeína na água servida à população foi encontrada em Porto Alegre, com uma média de 2.257 ng/l, seguida por Campo Grande (900 ng/l) e Cuiabá (222 ng/l). A capital onde a água é menos contaminada é Fortaleza, com 2 ng/l. “As cidades litorâneas costumam jogar seu esgoto no mar”, lembrou Jardim. “Isso tende a manter a contaminação do manancial baixa, embora talvez não seja uma boa ideia nadar por ali”. Manaus também tem uma concentração baixa para os padrões brasileiros, de 8 ng/l. “É difícil saturar o Rio Negro com esgoto”, ponderou o pesquisador. Já no ranking de mananciais, a região metropolitana de São Paulo aparece como a mais contaminada, com um nível médio de cafeína de 4.791 ng/l, sendo que a Represa Billings conta com 18,8 mil ng/l. Jardim disse que, em mananciais da Europa, é difícil encontrar níveis de cafeína acima de 20 ng/l. “Em termos de contaminantes

emergentes, no Brasil, bebemos água com qualidade comparável à da água não tratada lá de fora”, disse ele. O pesquisador lembrou que a qualidade da água nos mananciais se deteriorou muito nas últimas décadas, mas o processo de tratamento não foi atualizado de modo correspondente. “Existe a tecnologia para dar o chamado polimento na água”, removendo boa parte dos contaminantes emergentes, disse ele. Mas ela não é usada no Brasil porque a lei e os regulamentos sanitários não exigem. “As tecnologias não são adotadas por inércia e pelo respaldo que as concessionárias têm na portaria do Ministério da Saúde”. Em sua opinião, a visão de saneamento prevalente no Brasil ainda é a da contaminação com efeitos agudos e imediatos, como um surto de cólera, por exemplo. “Mas os interferentes endócrinos podem levar anos para mostrar seus efeitos, ou mesmo uma geração”. Ele cita o caso do DES, um hormônio artificial receitado para mulheres grávidas entre as décadas de 40 e 70, e que depois, descobriu-se, causava problemas reprodutivos para as filhas dessas mulheres, incluindo esterilidade. “Como se descobriu isso? Só anos depois, quando as filhas chegavam à idade fértil”, disse o pesquisador. Jardim afirmou que seria importante que as empresas de saneamento mantivessem, pelo menos, um controle do nível de cafeína em suas águas, para poder resgatar a história da contaminação, e que as pessoas passassem a pressionar por um tratamento mais completo da água que vão consumir. “O brasileiro se pergunta como ele pode purificar a água na sua casa”, disse. “Essa é a pergunta errada. A questão certa é: como posso pressionar a concessionária da minha cidade a me fornecer uma água melhor?”


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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

O cristal de tempo

de Fellini CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

anhador de cinco Oscars, criador de um estilo que mistura fábula, sonho e realidade que acabou definido por um adjetivo próprio, “felliniano”, Federico Fellini (1920-93) iniciou sua carreira cinematográfica entre os neorrealistas italianos, colaborando de perto com um dos maiores deles, Roberto Rossellini. As duas primeiras indicações de Fellini ao prêmio da Academia norte-americana vieram do trabalho como corroteirista nas obras-primas rossellinianas Roma, Cidade Aberta (1945) e Paisà (1946). Ao dirigir A Doce Vida (1960), Fellini parece romper definitivamente com o neorrealismo, o que, aparentemente, pode ter motivado Rossellini a criticar o filme. Tese de doutorado defendida no Instituto de Artes (IA) da Unicamp, intitulada “Cristais de Tempo: Fellini e o Neorrealismo Italiano”, argumenta, no entanto, que nesse filme Fellini não trai o neorrealismo, mas o aprofunda, transcende, reinventa. “À medida que seus primeiros filmes eram realizados, Fellini passou a ser acusado de trair o neorrealismo com escapismos fabulatórios, no caso de A Estrada da Vida, ou mundanos, no caso de A Doce Vida. Mas o que é preciso observar é que não houve ‘traição’, mas reinvenção do neorrealismo”, disse o autor do trabalho, Euclides Santos Mendes, em entrevista concedida via email ao Jornal da Unicamp. “Ao passo que, em 1945, o filme Roma, Cidade Aberta, de Rossellini, inaugurou o compromisso ético-estético neorrealista, A Doce Vida, filme de Fellini lançado em 1960, representou a transposição e a reinvenção da dinâmica ético-estética do novo realismo à italiana”, escreve Euclides na sua tese. Mais adiante, acrescenta: “Rossellini, o mestre, e Fellini, seu maior discípulo, são como guardiães das fronteiras do neorrealismo; talvez por isso seus filmes-chave [Roma, Cidade Aberta e A Doce Vida] sejam os dois mais célebres na história do cinema italiano”. Nascido durante a queda do fascismo na Itália e a expulsão final das tropas nazistas do país, entre 1943 e 1945, e em meio ao colapso da indústria cinematográfica que tinha se formado em torno de Mussolini, o cinema neorrealista italiano é marcado, entre outros aspectos, pelo foco em personagens humildes ou marginalizados, pela temática voltada para a situação social imediata da Itália, pelo uso de atores não profissionais em cena, pela preferência por locações em ambientes naturais. Um dos principais nomes do neorrealismo ao lado de Cesare Zavattini, Vittorio de Sica e Luchino Visconti, Rossellini estreou como cineasta trabalhando sob o regime do “Duce”, dirigindo três filmes, no começo dos anos 1940, coletivamente conhecidos como a “trilogia fascista”. Logo em seguida, em Roma, Cidade Aberta, ele ajudou a intensificar o estilo despojado e quase documental do neorrealismo, movimento que deu seus primeiros passos em filmes como “Obsessão” (1943), de Visconti. Federico Fellini começa no cinema como corroteirista, em 1939. Depois passa também a colaborar como assistente de direção sob a égide de Rossellini, e tem seu aprendizado da arte cinematográfica vinculado aos cânones do neorrealismo, também pela parceria com diretores como Alberto Lattuada e Pietro Germi.

Porém, à medida que dava os primeiros passos em sua carreira de diretor independente do mestre Rossellini, Fellini parecia, paulatinamente, descartar esses cânones: por exemplo, A Estrada da Vida (1954), embora ainda gire em torno de figuras marginalizadas – o bruto artista de rua Zanpanò (Anthony Quinn) e sua parceira, a ingênua e delicada Gelsomina (Giulietta Masina) –, é mais fábula humana que um filme sobre a realidade social imediata. “À época de seu lançamento, A Estrada da Vida despertou a desconfiança da crítica de esquerda em relação a Fellini, contrapondoo ao materialismo histórico de Luchino Visconti, que lançava, no mesmo período, o filme Senso (Sedução da Carne)”, aponta a tese. “Sem se valer da miséria e da crítica social para denunciar o fim de uma Itália, Fellini alça voo e, tal como um vidente, vislumbra a outra margem do neorrealismo”. Euclides vê o filme como parte da fase neorrealista da obra felliniana. “O mundo dos sonhos na obra cinematográfica de Fellini está verdadeiramente presente a partir de Oito e Meio (1963), filme que, podemos dizer, cunha o adjetivo ‘felliniano’”, afirma Euclides. “No que se refere aos filmes A Estrada da Vida e Noites de Cabíria (1957), obras-primas da primeira fase de Fellini no cinema, integram um processo que cobre toda essa fase, encerrandose com A Doce Vida. Considero neorrealista essa primeira fase de Fellini, pois ela se configura como um percurso de aplicação do ideário neorrealista”. Se A Estrada da Vida – que deu a Fellini seu primeiro Oscar, de melhor filme em língua estrangeira – já se afastava do formalismo neorrealista, A Doce Vida, filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes, vai ainda mais longe. “Em A Doce Vida, a pobreza e o misticismo, tão presentes em filmes anteriores de Fellini, cedem parcialmente lugar ao requinte frívolo e ao tédio existencial da vida de celebridades, artistas, aristocratas e jornalistas”, diz Euclides. A Doce Vida também é um filme que depende da reinvenção da realidade em estúdio, com a via Veneto recriada em Cinecittà. A tese de Euclides registra que Rossellini reagiu ao filme dizendo que Fellini mostrava-se “provinciano”. Se A Estrada da Vida causou desconfianças na esquerda, A Doce Vida irritou os conservadores. Lideranças católicas italianas tentaram impedir os fiéis de ver o filme, e petições foram enviadas ao Parlamento italiano para tentar proibi-lo.

Estudo desenvolvido no IA prega que cineasta italiano não traiu o neorrealismo, mas o reinventou

“O filme (...) ergue um panorama da vida italiana na passagem dos anos 1950 para os anos 1960, com contrastes reverberantes da vida social e econômica entre uma velha e uma nova Itália. Para isso, Fellini se vale da exuberância, beleza, fascínio e mistério de Roma, qualidades simbolizadas no seu sentido mais místico e feminino no banho de Anita Ekberg na Fontana de Trevi, mas também se vale da angústia e do pessimismo diante de um admirável e incompreensível mundo novo”, escreve Euclides. “Por mais mundano e metafísico que o filme possa ser, está ancorado num panorama da sociedade italiana do final dos anos 1950”, disse o autor, traçando o que vê como um dos aspectos da herança neorrealista nessa obra. “A aderência de A Doce Vida à atualidade de uma nova Itália certamente recorda, num ponto de vista menos catastrófico, a contemporaneidade de Roma, Cidade Aberta, de Rossellini, em relação à Segunda Guerra. Em ambos os filmes, há vestígios de um jovem Fellini, provinciano, neorrealista”. Ainda de acordo com Euclides, “a aparente violação dos preceitos neorrealistas em A Doce Vida é a tentativa felliniana de superação do neorrealismo tradicional (o da guerra e da realidade social) pelo neorrealismo dito ‘metafísico’. Na medida em que Fellini leva a cabo tal intenção, ele se destaca do neorrealismo ao ultrapassá-lo, indo além ao ajudar a forjar o chamado ‘cristal de tempo’”. O conceito de “cristal de tempo” vem do filósofo francês Gilles Deleuze, que vê o tempo como que se dividindo entre um passado que perdura e um presente em movimento. No cristal, criado pela “imagem-tempo” do cinema moderno, há a coexistência de uma imagem real, do presente, com uma imagem virtual, do passado. Em sua tese, Euclides expõe que “Fellini, por meio do neorrealismo, levou a imagem puramente ótica e sonora para além do neorrealismo, moldando-a, segundo o filósofo Gilles Deleuze, como um cristal de tempo”.

Publicação Tese: “Cristais de Tempo: Fellini e o Neorrealismo Italiano” Autor: Euclides Santos Mendes Orientador: Francisco Elinaldo Teixeira Unidade: Instituto de Artes (IA)

Cartaz e cenas de “A Doce Vida”, filme dirigido por Federico Fellini: obra foi criticada por Roberto Rossellini

O autor não vê na obra felliniana posterior ao filme A Doce Vida resquícios do neorrealismo. “Com A Doce Vida, Fellini fecha o ciclo do seu aprendizado e da sua experiência neorrealistas. Depois, com Oito e Meio, ele se descola definitivamente do movimento que tanto o impulsionou a se tornar um homem de cinema. Tal descolamento não é uma ‘traição’, como diriam os críticos, mas um ‘exame de maturidade’, em que Fellini atesta sua independência criativa e autoral”. Em 2013, completam-se 20 anos da morte de Fellini (em 31 de outubro) e meio século da estreia de Oito e Meio. O cineasta ainda causa impacto, tanto em cinéfilos quanto em outros realizadores – não é difícil encontrar sinais de sua influência no recente Para Roma, com Amor (2012), de Woody Allen, por exemplo. “Creio que a obra de Fellini ainda é um baú de tesouros”, disse Euclides. “Oito e Meio está fazendo 50 anos e mantém uma atualidade vibrante sobre a condição do artista como agente e refém do processo de criação. Outro dia, revi Noites de Cabíria, meu filme de Fellini favorito, e me impressiona nele o uso da iluminação e do plano sequência como recursos que realçam a sua beleza e a sua eficácia como obra neorrealista e, ao mesmo tempo, fabulatória”.

Fotos: Reprodução


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Dada uma imagem de consulta, o sistema CBIR busca imagens similares considerando propriedades visuais como a forma

Em busca da imagem perdida Analista de sistemas desenvolve métodos que ajudam a gerenciar grandes coleções LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

incomum a abordagem de uma pesquisa de doutorado destacando inicialmente os méritos do autor, mas Daniel Carlos Guimarães Pedronette acaba de conquistar a 3ª colocação no Concurso Nacional de Teses (CTD) promovido pela Sociedade Brasileira de Computação em 2013 e seu trabalho já rendeu 13 publicações em periódicos e conferências, nacionais e internacionais. A tese também foi considerada a melhor do Instituto de Computação (IC) em 2012 e ficou em 2º lugar na 25ª edição do SIBGRAPI, a principal conferência brasileira na área de computação gráfica, processamento de imagens e visão computacional. Na verdade, os elogios a Daniel Pedronette, cuja ligação com a Unicamp vem desde o curso técnico em informática no Colégio Técnico de Limeira (Cotil), são todos do professor Ricardo da Silva Torres, que orientou o aluno também no mestrado. “Trata-se de um doutorado bastante produtivo em termos de resultados, ainda mais se considerarmos que foi concluído em três anos; e em tempo parcial, já que o aluno seguiu trabalhando como analista de sistemas da Universidade”, observa o docente e atual diretor do IC. A contribuição mais importante da tese está no desenvolvimento de cinco novos métodos de reclassificação (re-ranking) e agregação de listas (rank aggregation) visando aumentar a eficácia de Sistemas de Recuperação de Imagens Baseados em Conteúdo (CBIR, na sigla em inglês). Como resultados adicionais, houve a utilização desses métodos para recuperação multimodal (considerando atributos visuais e textuais) e sua execução de forma eficiente a partir do uso de programação paralela e computação heterogênea. Trocando em miúdos, Ricardo Torres afirma que esta pesquisa contribui para amenizar um problema associado à criação e gerenciamento de grandes coleções de imagens, enfrentado nos últimos anos. “Todos têm hoje a possibilidade de tirar fotos com seus celulares e facilidade de compartilhar o material em redes sociais. Esse grande volume de imagens e de artefatos multimídia de modo geral, demandam, também, novos mecanismos para facilitar o processo de recuperação das imagens de interesse”. Portanto, ressalta o professor, a grande motivação do trabalho foi criar sistemas de busca mais eficazes. “São dois os norteadores da pesquisa: diante de uma imagem de consulta, o sistema deve devolver o conjunto de imagens mais relevantes em relação ao especificado; há também a questão da eficiência, com o conjunto sendo obtido o mais rapidamente possível. A estratégia escolhida pelo aluno é inovadora por recorrer a diferentes critérios para explorar a informação de ranqueamento – que chamamos de informação contextual.”

Fotos: Antonio Scarpinetti

tanto ao animal quanto ao dispositivo de computador, não sendo possível a diferenciação.” Segundo o autor da tese, sua pesquisa também focou a busca multimodal, que combina as abordagens visual e textual para tornar o resultado mais eficaz. “As imagens são classificadas por ordem decrescente de semelhança, de acordo com determinado descritor de imagem. Cada descritor é dotado de um algoritmo para extrair vetores que codificam as características visuais (cor, textura e forma). A similaridade entre duas imagens é calculada em função da distância desses vetores. Demonstramos na tese que os algoritmos propostos podem ser aplicados a qualquer uma das características básicas”.

RANK AGGREGATION

O professor Ricardo Torres ressalta que outra contribuição interessante da tese é a exploração da informação contextual não apenas para melhorar o desempenho do descritor, mas também os resultados da recuperação de imagens a partir da combinação de descritores. “As técnicas propostas permitem melhorar os rankings sobre cor, textura e forma individualmente, e depois combiná-los para gerar um ranking mais relevante em relação às primeiras posições – é o que denominamos agregação de listas (rank aggregation) na área de trabalho.” De acordo com Daniel Pedronette, outra preocupação na pesquisa, além de aumentar a eficácia de Sistemas de Recuperação de Imagens Baseados em Conteúdo, foi a obtenção de bons resultados em tempo hábil. “Hoje as máquinas tendem a migrar para a paralelização da computação. Parte do meu trabalho envolveu a paralelização dos algoritmos visando ao uso mais eficiente de placas gráficas (GPUs) para que os resultados de busca sejam obtidos o mais rápido possível.” O autor da tese informa que a avaliação experimental por ele conduzida considerou diferentes descritores e coleções de imagens. “Várias propostas têm sido propostas para CBIR, considerando aplicações em áreas diversas como de recuperação de imagem facial, sistemas de informação de biodiversidade, aplicações médicas e imagens de sensoriamento remoto. Os resultados dos experimentos demonstram a eficácia dos métodos que estamos propondo”. Ricardo Torres não vê restrições em termos de aplicações, como na implementação efetiva desses métodos no sistema de busca de uma biblioteca digital ou de imagens na web. “Eles servem para qualquer usuário, pois é um processo proposto para ser realizado off-line: usa os algoritmos, potencializa a melhora dos rankings e, havendo uma nova consulta, explora essa informação contextual e fornece resultados relevantes o mais rápido possível. Portanto, serve para qualquer público, dependendo apenas da aplicação implementada no sistema de busca.”

Publicação

Daniel Carlos Guimarães Pedronette, autor do estudo: “Os métodos servem para qualquer usuário”

Tese: “Exploiting Contextual Information for Image Re-Ranking and Rank Aggregation in Image Retrieval Tasks” Autor: Daniel Carlos Guimarães Pedronette Orientador: Ricardo da Silva Torres Unidade: Instituto de Computação (IC)

O RANQUEAMENTO

Para melhor esclarecer o conceito de ranqueamento, Daniel Pedronette explica que dado um padrão de consulta (a imagem de consulta), um sistema CBIR busca e recupera imagens similares de uma coleção considerando propriedades visuais como cor, textura e forma. “Entretanto, de forma geral, as abordagens de CBIR analisam apenas pares de imagens para a geração das listas de resultados, ignorando informações codificadas nos relacionamentos entre as imagens. Nosso objetivo foi melhorar a eficácia destes resultados fazendo com que cada imagem similar retornada seja tomada como outra consulta. Essa abordagem que explora a informação contextual ao analisar todas as consultas ao mesmo tempo, aproxima-se do comportamento humano que considera as buscas em um determinado contexto.” Pedronette acrescenta que além da imagem de consulta, outra abordagem comumente utilizada é de palavras-chaves, buscando um texto relacionado e capturando a imagem que está em determinada página. “Essa abordagem por meio de descrições textuais acerca do conteúdo da imagem vem se mostrando um sério desafio diante do crescimento e diversificação das coleções. Ela apresenta problemas de ambiguidade, como por exemplo, quanto à palavra ‘mouse’, que se refere

O professor Ricardo da Silva Torres, orientador: “Trata-se de um doutorado bastante produtivo em termos de resultados”


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Estudo do IG analisa proposta de intervenção urbana na região central de SP CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ão recorrentes os projetos de intervenção urbana em centros históricos deteriorados das metrópoles brasileiras. Em relação à cidade de São Paulo, a questão da revalorização da área central vem sendo discutida desde a década de 1990, embora as ações mais concretas tenham ocorrido nos últimos oito anos, durante as gestões dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab (2005/2012). As informações desse período sobre despejos de edifícios ocupados por movimentos de moradia, ações policiais envolvendo moradores de rua, trabalhadores informais e ambulantes, e as reações desses grupos, chamaram a atenção do então estudante do curso de geografia da Unicamp Eduardo Augusto Wellendorf Sombini. Ele procurava entender, além, dessas reações, as motivações do poder público, particularmente da Prefeitura e do Governo do Estado, e dos agentes que defendiam a “revitalização” do Centro antigo. Por ocasião do mestrado, o pesquisador propôs analisar as concepções e os instrumentos que moviam essa proposta, bem como os interesses e motivações dos agentes envolvidos. Estes elementos constituem o ponto central de sua dissertação de mestrado, orientada pela professora Adriana Maria Bernardes da Silva, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. No trabalho, o autor recorre à noção de “urbanização corporativa”, desenvolvida por Milton Santos, e aos debates internacionais sobre grandes projetos urbanos e gentrificação para tratar do contexto de revalorização do centro de São Paulo. A gentrificação pode ser entendida como a expulsão de populações com a chegada de grupos de renda mais alta. A pesquisa apresenta um retrato da configuração territorial da área central nos anos 2000, discute a utilização das “âncoras culturais” como tentativa de alavancar intervenções urbanas e expõe amplamente a trajetória do projeto Nova Luz, bem como a criação da Aliança pelo Centro Histórico, programa da Associação Viva o Centro inspirada no modelo internacional dos Business Improvement Districts. O pesquisador lembra que os projetos de refuncionalização e revalorização de áreas centrais se tornaram estratégias de intervenção urbana difundidas internacionalmente e passaram a ser implantados em metrópoles de países periféricos. Essas propostas buscam reverter a desvalorização imobiliária e a migração de atividades econômicas para outras áreas da cidade e atrair moradores, consumidores e usuários de maior poder aquisitivo. São Paulo é um caso exemplar de desdobramento da centralidade urbana, já que a partir das décadas de 1940 e 1950 houve a migração dos moradores de maior poder aquisitivo, do comércio de alta renda e das sedes e escritórios das grandes empresas, que se instalaram na região da Avenida Paulista e, mais tarde, no entorno das avenidas Luís Carlos Berrini e Faria Lima e da Marginal Pinheiros, constituindo o chamado “complexo corporativo metropolitano”. Esse movimento levou à obsolescência o meio construído do Centro e permitiu a ampliação dos usos populares. Isso não significa, contudo, que o Centro tenha perdido sua dinâmica, embora as atividades econômicas atuais sejam marcadas por menores remunerações em relação às outras áreas de centralidade de São Paulo. Principalmente durante os anos 2000, essa nova dinâmica foi potencializada pela instalação na área de grande parte das secretarias municipais e estaduais, empresas e órgãos públicos; pela abertura de campi de diversas faculdades privadas e pela ampliação do volume de empregos com a instalação de empresas do setor de call center. Lá permaneceram a Bolsa de Valores, agências bancárias e demais serviços financeiros. Em decorrência, como mostram os dados estatísticos referentes ao período de 2000 a 2010, o número de empregos aumentou significativamente no centro antigo, dinamizando o comércio mais popular. Nesse mesmo período ocorreu também um considerável aumento do número de moradores, que passaram a residir em apartamentos

Novo Centro, velhos interesses

Foto: Divulgação

Quarteirão demolido em 2008, no âmbito do projeto Nova Luz, nas confluências das ruas General Couto de Magalhães, dos Gusmões e Mauá, no Centro de SP: impasse Foto: Antonio Scarpinetti

antes desocupados, ou situados em prédios reformados e revendidos por incorporadoras, ou ainda em novas construções. Somem-se a isso as ocupações em construções abandonadas promovidas por movimentos de moradia. Com localização privilegiada, provida de sólida infraestrutura e muito bem servida do ponto de vista do transporte público, com destaque para o entroncamento das linhas do metrô paulistano, a área central acabou, no decorrer dos anos, despertando o interesse de políticos, empresários, comerciantes e segmentos da construção civil. Mas, embora tenha havido outras iniciativas anteriores, foi a partir da década de 1990 que surgiu efetivamente um projeto que buscava promover a revalorização da área. A partir desse projeto de revalorização, consolidam-se nessa década algumas ações políticas que tentaram reverter os processos de deterioração física e popularização dos usos do centro histórico.

INICIATIVAS Buscou-se, então, com base nos pressupostos da gestão empresarial de cidades, promover a revalorização da área central como parte de um programa urbano cujo objetivo principal é criar condições para o aumento da competitividade e reposicionar São Paulo nas hierarquias urbanas mundiais. Nos anos 90, pretendia-se inserir a metrópole no rol das “cidades globais” e a “revitalização” do centro era colocada como condição essencial nesse esforço, já que se acreditava que o centro poderia “oferecer distinção e identidade à cidade na competição por investimentos com outras metrópoles do mundo”, afirma o pesquisador. Na liderança das ações necessárias à consecução desses objetivos ele destaca a forte influência da Associação Viva o Centro, fundada em 1991 e que representa os interesses privados do centro. A Associação Viva o Centro defendeu ao longo do tempo várias propostas de revalorização. Uma dessas iniciativas, encampada pelo Governo do Estado, baseava-se na instalação, reforma ou ampliação de grandes equipamentos culturais como museus, salas de concerto e centros culturais que deveriam atrair a classe média alta. A presença desse público na região deveria provocar mudanças no perfil do entorno, que poderia vir a receber torres de escritórios, hotéis, apartamentos destinados ao público de maior renda, além de bares, restaurantes, lojas, atividades de lazer, segundo um modelo tradicional de transformação de áreas urbanas realizado em outros países. O pressuposto era o de que os investimentos privados somente seriam levados a essas áreas deterioradas se houvesse políticas públicas que funcionassem como “âncoras” dessas transformações. Essa concepção deu origem à implantação de vários projetos no bairro da Luz, como a readaptação da Es-

Eduardo Wellendorf Sombini, autor da dissertação: pessoas não estabelecem conexões com o entorno

tação da Luz; da Estação Júlio Prestes, onde está instalada a Sala São Paulo; a reforma da Pinacoteca do Estado e do Jardim da Luz, além de outras intervenções no entorno do Vale do Anhangabaú. Segundo Eduardo, atribui-se o fracasso da tentativa à tradição de segregação das pessoas de maior poder aquisitivo, acostumadas a isolar-se em condomínios fechados, a frequentar shoppings, a trabalhar em complexos corporativos seguros e a evitar o contato com pessoas de grupos diferentes, além das diferenças do espaço público em relação ao de outros países. “Aqui, essas pessoas vão de carro, usam o estacionamento fechado, assistem ao concerto, visitam o museu e vão embora sem estabelecer conexões com o entorno”, constata o autor. No mesmo período, foi criada a Operação Urbana Centro, que prevê uma série de benefícios para reformas e novas construções com o intuito de dinamizar o mercado imobiliário da área.

NOVA LUZ

O fracasso dessa iniciativa levou, durante as gestões Serra e Kassab, à ideia de uma ampla renovação urbana, que previu a demolição e a reconstrução de aproximadamente 45 quadras do bairro de Santa Ifigênia. Denominado Nova Luz, o projeto se baseou no estabelecimento de uma parceria público-privada (PPP), que permitiria que a Prefeitura repassasse a um consórcio de empresas a responsabilidade de realizar as obras previstas. Por esse instrumento, de concessão urbanística, o poder público também repassava para a iniciativa privada o direito de realizar desapropriações de imóveis.

Foi imediata a resistência de moradores e comerciantes e até de associações de moradores de outros bairros, temerosos de que esse modelo pudesse vir a ser estendido para outras áreas da cidade. Houve uma batalha judicial intensa, manifestações na Câmara dos Vereadores e nas audiências públicas do projeto, que inviabilizaram sua implementação com o fim da última gestão municipal. O estudo procura, mais especificamente, identificar quais as motivações e os interesses dos agentes que defendiam o Projeto Nova Luz, que enxergavam o potencial de valorização da área, e as razões da resistência de ocupantes da área como moradores de baixa renda, grupos marginalizados que sofriam pressões constantes e pequenos comerciantes. “Embora não implementado, o Nova Luz sinalizou a realização de um grande projeto urbano no centro de São Paulo e trouxe perspectivas de expulsão da área dos moradores e usuários de baixa renda. Esse fatores motivaram os conflitos e as resistências na discussão do projeto”, diz o autor. A pesquisa enfatiza a multiplicidade de agentes e posições políticas envolvidos no contexto de revalorização da área central de São Paulo que inclui, entre outros, promotores imobiliários, empresários, comerciantes, associações de moradores e movimentos sociais. Para o pesquisador, embora as intervenções urbanas não tenham sido realizadas na escala anunciada e a revalorização tenha ficado restrita a pontos específicos, é bastante claro que existem movimentos do mercado que podem inviabilizar ainda mais a permanência dos grupos populares no Centro. Segundo ele, a região historicamente foi marcada pela diversidade de usos e convivência de diferentes classes sociais e é necessário que as intervenções na área garantam os direitos dos trabalhadores, moradores e usuários de baixa renda, além do comércio popular e dos grupos marginalizados, que garantiram a vitalidade da área nas últimas décadas. Esse deveria ser, em sua opinião, o compromisso do poder público na implementação de uma política urbana para a área.

Publicação Dissertação: “A revalorização contemporânea do Centro de São Paulo: agentes, concepções e instrumentos da urbanização corporativa (2005/2012)” Autor: Eduardo Augusto Wellendorf Sombini Orientadora: Adriana Maria Bernardes da Silva Unidade: Instituto de Geociências (IG)


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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

Estudo sobre doença genética põe em xeque restrição calórica Tese mostra que dieta pode fazer com que portador de hipercolesterolemia familiar desenvolva aterosclerose ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

restrição calórica foi colocada sob suspeita em tese de doutorado defendida no Instituto de Biologia (IB). Pelo menos em portadores da hipercolesterolemia familiar, uma deficiência genética na qual as pessoas apresentam elevados níveis de colesterol. Experimentos desenvolvidos em animais, submetidos a uma dieta restritiva, apontaram que a saúde deles piorou. Eles engordaram e ficaram com os níveis de colesterol elevados, correndo o risco de desenvolver a aterosclerose, uma doença cardiovascular caracterizada pela formação de ateromas dentro dos vasos sanguíneos. “Até hoje, essa restrição não tinha contraindicações, pois como era possível comer 20% a menos e ainda engordar?”, questiona Gabriel de Gabriel Taffarello Dorighello, biólogo e autor da tese. O estudo, orientado pela docente do instituto Helena Coutinho Franco de Oliveira, foi realizado entre 2009 e 2011. Conforme o pesquisador, é preciso muita cautela na hora de prescrever uma dieta baseada em um protocolo alimentar radical, como a da restrição calórica. Ela até pode fazer bem a maioria das pessoas, mas não necessariamente aos hipercolesterolêmicos. A hipercolesterolemia familiar é uma doença grave, cuja frequência é muito alta na população mundial: de 1 em 500. A maioria dos portadores de hipercolesterolemia familiar apresenta mutação no gene do receptor de LDL. Essa deficiência tem repercussões em todo corpo, uma vez que todas as células do organismo necessitam de colesterol. Logo, a falta do receptor de LDL, ou a diminuição da sua função, acaba ocasionando um aumento do colesterol plasmático (sanguíneo). Dessa maneira, o modelo animal utilizado no estudo era deficiente do receptor de LDL. Assim, o tecido não conseguia absorver o LDL tão bem e o colesterol se acumulava no sangue. Os camundongos deficientes do receptor de LDL, além de apresentarem dislipidemia (aumento de colesterol e de triglicérides), exibiam também estresse oxidativo tecidual (formação excessiva de radicais livres) e intolerância à glicose. O biólogo pretendia corrigir tais distúrbios nos animais com a restrição calórica, um método muito praticado no âmbito científico, em que a quantidade de calorias na dieta é reduzida. Na restrição calórica para humanos, a pessoa deve comer uma quantidade menor do que normalmente a saciaria. Essa restrição vem sendo estudada atualmente com o intuito de prevenir ou tratar distúrbios metabólicos. Pesquisas já demonstraram que a restrição calórica promove o emagrecimento, a redução do colesterol LDL e o aumento da tolerância à glicose.

camundongo comeria. Nesse quadro, eles se acostumam com a restrição e ingerem todo alimento rapidamente, ficando em jejum até o dia seguinte. “É difícil conseguir fazer uma restrição calórica sem que o camundongo fique em jejum. Isso acontece mesmo com humanos, que, ao fazerem uma alimentação intermitente, um protocolo alternativo de restrição calórica, comem apenas uma vez ao dia”, compara o autor. Gabriel procurou medir o consumo alimentar e notou que os animais não fizeram compensação no dia em que a dieta era livre. Não comeram o dobro, mas comeram mais, isso por conta da restrição, revela. Alguns animais fazem esse tipo de compensação, comenta ele, mesmo ficando o dia inteiro em jejum: no dia com ração livre, os animais comem um volume alimentar correspondente a dois dias. Para surpresa do pesquisador, que esperava emagrecimento, a restrição calórica deixou os animais obesos, com depósitos adiposos viscerais e subcutâneos elevados. Eles também ficaram mais intolerantes à glicose e resistentes à insulina, o que caracterizou um quadro de diabetes, pois a glicemia estava de fato elevada. Não foi somente isso. O colesterol plasmático aumentou quase 40%. No entanto, o estresse oxidativo estava reduzindo, de modo que os animais produziram menos radicais livres. Em consequência destes distúrbios metabólicos, a aterosclerose estava quase três vezes aumentada. Ao analisar essa situação, o pesquisador concluiu que o jejum prolongado poderia de alguma forma estar afetando o metabolismo dos camundongos, uma vez que eles comem uma grande quantidade de ração em um curto período de tempo. Assim, após a alimentação são sintetizados muitos lipídios, entre eles colesterol, ácidos graxos, triglicérides. A gordura acaba ficando armazenada no tecido adiposo, no fígado e no músculo. “Os camundongos sem o receptor de LDL, em restrição calórica, no dia com ração livre, comeram uma maior quantidade de ração e, assim, produziram mais colesterol. Isso explicaria o aumento de colesterol plas-

mático, que não é captado em função da falta de receptores. Além disso, a restrição calórica promoveu aumento na síntese e na secreção de triglicérides nos dias com ração livre, que a posteriori foi absorvida pelos tecidos adiposos, o que então explicaria a obesidade”, resume o biólogo. Até o momento, menciona o pesquisador, não existiam estudos de restrição calórica em animais com deficiência do receptor de LDL (com colesterol alto). “É importante ressaltar que essa deficiência é assintomática, e, às vezes, alguns indivíduos somente descobrem a doença após serem surpreendidos pelo primeiro infarto.” Devido à falta de estudos, não havia contra-indicações ao uso da restrição calórica, podendo então incorrer-se no erro de indicá-la a alguém com hipercolesterolemia familiar, agravando o quadro fisiológico desta pessoa. “Isso ocorreu num modelo animal e também pode ocorrer em humanos”, afirma. O biólogo acredita que, se o hipercolesterolêmico fizer restrição calórica, após longos períodos em jejum, irá ingerir quantidades maiores de alimentos, causando um aumento da síntese de lipídios e, provavelmente, gerando os mesmos distúrbios metabólicos observados nos camundongos. A tese de Gabriel abre um leque para estudar os efeitos da restrição calórica em indivíduos não saudáveis. A expectativa do pesquisador é que novas investigações avaliem se os distúrbios causados pela restrição calórica aconteceriam em humanos hipercolesterolêmicos.

CURIOSIDADE Gabriel descobriu que tinha hipercolesterolemia familiar aos 17 anos, ao saber que alguns primos eram portadores dessa doença. Utiliza o medicamento estatina até os dias atuais, a fim de manter seu colesterol em níveis adequados. Ele conta que começou a pesquisar doenças cardiovasculares na iniciação científica, no curso de Biologia da Unicamp. Desde 2002, atua no Laboratório de Metabolismo de Lípides, na área de Fisiologia.

A aterosclerose É uma doença crônico-degenerativa caracterizada pela obstrução de vasos sanguíneos que forma ateromas, placas compostas especialmente por lipídeos que se acumulam na parede dos vasos, diminuindo o seu diâmetro. Esses lipídeos podem ser desenvolvidos pelo organismo ou obtidos da alimentação. Em casos extremos, pode ocorrer a obstrução de vasos vitais como os do coração e do cérebro. Os sintomas dessa doença apenas aparecem quando os vasos sanguíneos estão prestes a ficar completamente obstruídos. Essa obstrução pode impedir a circulação de sangue para diferentes órgãos. São consequências da obstrução: artérias que irrigam o cérebro (acidente vascular cerebral); artérias coronárias que irrigam o coração (dor no peito ou infarto) e artérias que irrigam as pernas (dor ao caminhar, gangrena). As pessoas com risco aumentado para a doença são as que apresentam pressão alta, obesidade, diabetes, estresse, tabagismo, alteração no colesterol e triglicérides, e vida sedentária. A obstrução dos vasos sanguíneos e artérias inicia na infância e se manifesta em grande medida na fase adulta.

Publicação Tese: “Efeitos da restrição calórica e do 2,4 dinitrofenol sobre o metabolismo e desenvolvimento da aterosclerose em camundongos hipercolesterolêmicos” Autor: Gabriel de Gabriel Taffarello Dorighello Orientadora: Helena Coutinho Franco de Oliveira Unidade: Instituto de Biologia (IB) Foto: Antonio Scarpinetti

MODELOS Gabriel analisou vários protocolos e usou um em que a ração era disponibilizada para os animais dia sim, dia não. No dia com ração livre, eles podiam comer à vontade e, na restrição, ficar em jejum o dia todo. Apesar deste jejum prolongado ser criticado, em outros protocolos de restrição calórica os roedores também permaneciam longos períodos em jejum, ressalta o biólogo. Exemplo disso é o protocolo de restrição calórica diária, no qual é disponibilizada uma quantidade menor de ração do que habitualmente o

O biólogo Gabriel Taffarello Dorighello, autor da tese: é preciso muita cautela na hora de prescrever uma dieta radical


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Salete prefere celebrar a vida Secretária da Faculdade de Ciências Médicas enfrentou linfoma com a ajuda de amigos e parentes Fotos: Antoninho Perri/ Divulgação

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

ntão, a irmã ofereceu-lhe um chapéu branco, para que ficasse ainda mais bela e protegesse dos raios solares, e a acompanhou num passeio ao shopping. Apostou na maquiagem, a qual sempre realçou sua beleza, e foi. Comprou uma calça mais justa, pois as suas estavam com folga – mulher nenhuma pode perder o charme. Aprendeu isso com outra paciente, que tinha o dobro da idade, e sempre comparecia, religiosamente, às sessões de quimioterapia toda produzida. “Observei-a. E vi que eu poderia aprimorar meu emocional.” Salete Gobi Chiulle Dias aprendeu a contar os dias no momento do diagnóstico e no início do tratamento contra um linfoma não-hodgkins, mas logo aprendeu a vivêlos com aquele presente grande e branco, aquela roupa mais ajustada, aquela senhora cheia de vida, mas principalmente com o amor da família e da amiga de quimioterapia Solange, que a acompanhava quando Renata, sua irmã, não podia. Percebeu, numa trajetória dolorosa, que os momentos de alegria existem também para amenizar sofrimento. Aprendeu que nem sempre a linha reta leva ao ponto certo, mas os fios tortos podem oferecer resultados bem-sucedidos. “Tudo na minha vida foi assim. E aquela fase evidenciou isso. Sempre planejo minha vida, mas ela nem sempre segue por onde desejo e, mesmo assim, se converte para um bom resultado.” Meados de 2012. O olhar protetor e vigilante de Victor Matheus, 16 anos, tenta convencer a mãe a não sair de casa, mas Salete tem um dos compromissos mais importantes daquele momento: fazer artesanato com patchwork, “ver as meninas” da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, rir bastante, sentir-se mais útil que doente, expor a contragosto, mas vender todos os guardanapos na Feira das Mães da FCM. Estava em casa, de licença, mas precisava rever a Unicamp e fazer tudo o que significasse vida. Cumpriu até o fim as atividades da oficina do projeto “Fazeres Espelhados”, vencedor local do Prêmio Paepe na FCM, dedicado a funcionários da Unicamp. “Fui fazer patchwork e meus encontros com as meninas ajudaram na recuperação do emocional. Descobri que não só o físico precisa ser curado”. Quem ajudou nos arremates foi a mãe, Neusa Niero, aposentada da Unicamp. Entre a quimioterapia e as privações, algumas alegres reuniões de família elevaram de forma surpreendente uma taxa de imunidade, a ponto de fazer o médico se render. “Certa vez, fizeram a festa de meu cunhado em casa porque eu não podia sair. Quando voltei ao consultório, o médico disse que era bom ver que uma reunião de família ajudava nisso”, lembra, sorrindo. Quando descobriu que havia espaço para felicidade e esperança, Salete acelerou os resultados positivos do tratamento. Hoje, potencializada, fala sem preconceito da doença que a assustou no momento do diagnóstico. Sempre preocupada com agenda profissional e pessoal – que não é só sua, mas também de Victor Mateus (16), Arthur Henrique (14), Júlio César (9) e Wagner, o marido –, viu que, ao final, todos estão bem e assistidos pelo marido, pelas tias, pelas avós. O trabalho a recebeu de portas abertas, e a vida, essa continua, para sua felicidade e de todos impossibilitados de esquecer o sorriso de Salete. Renata – que lhe deu o chapéu branco – não saía de sua casa. E as outras duas, Andréia e Veridiana, também estavam sempre presentes, como sempre foram vistas desde que Salete entrou na Universidade, em 1986, aos 14 anos. Como foi a última a entrar, Renata e Andréia davam pequena parte do salário em troca de alguns préstimos. “Avisaram minha mãe, funcionária do Cecom na epóca, que a Unicamp havia aberto processo seletivo para adolescentes. E adolescente era o que ela mais tinha em casa”, brinca. Desde que chegou, todos podem conviver com as filhas de dona Neusa. Salete ficou mais conhecida por lidar com saúde, mais precisamente com a liberação de guias de atendimento exigidas pela Unimed na época.

Salete Gobi Chiulle Dias, funcionária da Unicamp desde 1986, hoje, (foto maior), e quando fazia tratamento, (fotos menores): história de superação

A união da família foi importante em outro momento em que os fios tortos decidiram delinear a história. A dor que levou Salete ao pronto-socorro antes de o linfoma ser diagnosticado voltou a incomodar, e a família teve de assinar um termo de compromisso para que pudesse fazer cirurgia da vesícula. Isso mesmo, apesar de ter motivado a descoberta do linfoma, a dor nada tinha a ver com isso, e sim com uma infecção na vesícula, que já migrava para o pâncreas. “Voltamos várias vezes ao hospital, e eu com imunidade baixa, sem poder ir para a mesa de cirurgia. O médico dizia que, se me submetesse à cirurgia, eu morreria. Essa foi mais uma mostra de que o controverso pode levar ao ponto certo. Se não fosse essa dor, não teriam visto o linfoma, que só pode ser diagnosticado em estado avançado.” Então, perdoemos os erros? De certa forma, sim, Salete só quer celebrar a vida. Até porque mais uma vez, as linhas tortas “brincaram” de fazer direito na vida de Salete. Após a cirurgia, ainda sonada, ouvia uma voz gentil a lhe oferecer comida: – Precisa se alimentar. Está tão magrinha. Era o enfermeiro. Esta frase foi ouvida muitas vezes, até que ela resolve atender ao pedido do profissional. “Comi tudo o que estava na bandeja”. Mas eis que o enfermeiro aparece na porta do quarto, mais embranquecido que a Lua, e pergunta: – A senhora comeu tudo? A que responde, Salete: – Sim. Por quê? Não era para comer? E ele, atônito, replica: – A senhora estava de dieta de 24 horas. Naquele primeiro dia sem dor, diante do resultado bem-sucedido da cirurgia, Salete, generosamente, olhou para o enfermeiro e disse: – Você fez com boa intenção. Então, vamos confiar. Não vai acontecer nada. A família, já acostumada a sentir as dores com a secretária, surpreendeu-se ao encontrar, no dia seguinte, com uma mulher restabelecida, em condições de retomar o tratamento com um pouco mais de qualidade de vida. Mais uma vez, a imunidade se elevava de uma forma inesperada pelos médicos. O fato de “tirarem” dela o que de fato a afligia fez com que as ações da química fossem menos agressivas. “Pedi para o médico adiar a sessão seguinte de quimioterapia, e o organismo reagiu muito bem.”

LEMBRANÇAS

Quando se quebra o preconceito com a própria doença, na opinião de Salete, a luta,

que envolve toda a família, torna-se menos penosa. Sem ser estimulada ou forçada a falar sobre isso, naturalmente começa a relembrar, até pela importância de informar as pessoas sobre a doença. Naqueles dias de espera, chegou cedo ao trabalho e agiu como se tudo estivesse bem. Tentava entender por que o fato de estar ali, já que nenhuma dor intensa mais a incomodava, causava espanto em alguns médicos do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Nova na secretaria desta área, sob a expectativa de não ter mais dias dolorosos, desejava trabalhar, como sempre fez desde que ingressou na Universidade, ainda adolescente. Permaneceria ali nos próximos meses, mas um dos médicos do departamento, sabendo da linfonodomegalia, decidiu abreviar o tempo de entrega dos resultados de exames realizados no hospital particular e ofereceu-se para encaminhá-la a especialistas da própria Unicamp. Foram eles, os especialistas tão próximos dela, que diagnosticaram o linfoma não-hodgkins. Com certas dificuldades, no início, para aceitar o diagnóstico, Salete direcionou sua atenção ao tratamento da doença. Aprendeu que é natural a mudança de comportamento entre a fase de diagnóstico e início de tratamento, mas, mesmo assim, lutou também para que o emocional interferisse de forma positiva, e não negativa, na recuperação. No início da série de indisposições, durante um Encontro de Secretárias da Unicamp em setembro de 2011, reencontrou uma das amigas que a acolheram no prédio do Centro de Saúde da Comunidade, em 1986. As conversas com Isaura Maria Nogueira Soave tornaram-se mais frequentes, e Salete estava feliz com a proximidade. “Refleti muito sobre nossa conversa, a doença dela e, em abril, internei, pois decidi que faria um escândalo no hospital se fosse necessário. Cheguei tirando roupas, sapatos, de tanta dor que sentia. Fiquei nove dias internada, e eles me tratando com morfina. Eu e meu marido não tínhamos ideia do que poderia ser linfonodomegalia principalmente porque pode ser benigna. Voltei a trabalhar porque não imaginava que fosse maligno, mas as pessoas estranharam.” E se não sabia por que foi parar no Departamento de Patologia, depois de 12 anos na Faculdade de Ciências Médicas, a teimosia das linhas a explicaram. “Se tivesse em meu setor anterior, não teria como me afastar com tranquilidade para realizar o tratamento. Aqui, quando me afastei, foi mais

tranquilo”. Ao voltar, o medo de ser poupada foi rapidamente sanado pelo carinho dos colegas de trabalho, os mesmos que durante o afastamento ligavam em sua casa para saber como estava passando. “Silvia e Paulinho foram muito amigos, muito carinhosos. Foi ela que me incentivou a voltar à Faculdade para concluir o curso de administração, trancado durante o tratamento. Até porque eu já havia abandonado um curso de graduação em Farmácia, aos 18 anos, por falta de condições econômicas.” Meses depois de sua volta, outra resposta inesperada às inquietações de quem retorna ao ambiente de trabalho: seria convidada a administrar a área de Patrimônio da Faculdade de Ciências Médicas. Foi lá, nesse ambiente novo de trabalho, que recebeu a equipe de reportagem, falou sobre as realizações dos filhos, a felicidade da família, a nota máxima no trabalho de conclusão do curso de administração, meses depois da recuperação e da remissão do linfoma. “Tudo aconteceu num momento em que o Victor não passou no vestibulinho para o Cotil, mas veja, como meu marido se organizaria sozinho com dois filhos estudando em Campinas e outro em Limeira? Descobrimos o mesmo curso em uma escola particular. E ele está muito feliz. Como eu disse, tudo, ao final, convergiu para um resultado feliz.” Assim como as três irmãs, os três irmãos (Victor, Arthur e Júlio) foram chegando aos poucos à Unicamp, pelas portas do berçário do Centro de Convivência Infantil (Ceci), hoje Dedic. “O Ceci foi tudo em minha vida. Aprendi até a cozinhar, a dar sabor à papinha dos meus filhos. Os caras não comiam em casa, somente no Ceci. A Lucila me ensinou muito a lidar com meus filhos.” A experiência de vida na Unicamp foi importantíssima. “Os jovens não tinham muita opção na nossa época. Quem viveu há 40 anos, viveu vida com menos fartura. A vida era mais vulnerável. Foi um presente para mim e minhas irmãs. Queríamos trabalhar, precisávamos também”. A vida no trabalho foi dividida com o desfile de roupas pretas pela cidade. “Éramos dark. Andávamos de preto. Como você lembrou? Era tudo difícil, mas era tão bom. O trabalho foi muito importante para meu crescimento pessoal. Sabíamos que teríamos um retorno. Só lembro de coisas boas na Unicamp. Tenho de agradecer a muitas pessoas. Hoje agradeço muito pela vida.” E a Unicamp ao chapéu branco, responsável pelos primeiros passos alinhavados por Salete em direção à nova vida e em direção ao campus, de volta, em missão ainda mais importante: testemunhar a vida.


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Foram avaliados descoloramento de cabelos tingidos e degradação provocada por tensoativos ALESSANDRO SILVA alessandro.silva74@gmail.com

ma nova ferramenta ajudará a indústria a escolher melhor as substâncias tensoativas dos xampus, que limpam mais e degradam menos os fios. Cabelos descoloridos, e depois tingidos, perdem a cor com maior rapidez do que aqueles que apenas receberam tintas, conforme testes realizados em laboratório. Os dois resultados são de pesquisas de mestrado realizadas pelo Grupo de Pesquisa em Físico-Química Aplicada, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, no âmbito de projeto que desenvolve métodos de avaliação das propriedades físicas e químicas da fibra do cabelo, o que envolve análises estudos sobre cor, propriedades mecânicas perda proteica em tratamentos físicos, químicos ou por ação do meio ambiente. Na primeira pesquisa, o químico Rafael Pires de Oliveira desenvolveu uma nova metodologia para avaliar os danos causados ao cabelo por substâncias (tensoativas) da fórmula de xampus e que são responsáveis pela limpeza dos fios. Com uso, elas também provocam a perda de proteínas e de melanina, ou seja, de partes da composição da estrutura dos fios, em um processo de degradação das fibras. “O método ajudará a indústria a escolher os produtos menos danosos”, explica o autor da dissertação de mestrado “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS”, orientado pela professora Inés Joekes. O cabelo é uma fibra natural formada por quatro camadas principais: a cutícula (constituída por material proteico, é parte mais externa do fio, responsável pela proteção das células corticais), o córtex (que reúne macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio), a medula e o complexo da membrana celular. Distribuídos no córtex estão grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo. Ou seja, as substâncias utilizadas para limpeza e o tratamento de tingimento, alvo dos estudos, provocam danos nessas estruturas dos cabelos. Na pesquisa, Oliveira analisou 16 substâncias tensoativas, uma delas presente na maioria dos xampus no mercado. Os xampus são um “coquetel” de produtos químicos, cada um com uma função específica – no caso, as substâncias avaliadas cuidam da limpeza dos fios. “Todos os tensoativos degradam o cabelo, mas alguns mais e outros menos”, explica o químico, por isso a importância da metodologia que facilitará o desenvolvimento de novos produtos pela indústria. Os efeitos foram analisados em cabelo castanho escuro. Em laboratório, Oliveira colocou mechas de cabelo escuro em frascos contendo uma solução com diferentes tensoativos analisados na pesquisa, durante 96 horas, tempo bastante superior aos poucos minutos de quem utiliza xampus no banho. A cor desse líquido, no qual os cabelos ficaram imersos, muda conforme a perda de elementos do cabelo, no caso proteína e melanina. Na sequência, as amostras foram analisadas em um equipamento chamado “espectrofotômetro”, que revelou ao pesquisador a quantidade material do cabelo retirado pela substância durante a limpeza. Nesse exame, uma luz é aplicada sobre a amostra e o equipamento mede a quantidade absorvida e espalhada pela substância e a que a atravessa chegando ao detector. Oliveira desenvolveu uma escala para a avaliação dos resultados, o que permite a comparação entre diferentes tipos de substâncias tensoativas: quanto mais escura a solução desprendida do cabelo, mais danos causados; quanto mais clara, menor a degradação provocada pelo produto avaliado em laboratório. Segundo o autor, trata-se de um método mais simplificado e que permite a análise e comparação de diferentes tensoativos. Hoje, muitas substâncias presentes em xampus são utilizadas sem que

Pesquisas investigam danos ao cabelo causados por xampus e radiação solar Fotos: Antoninho Perri

haja estudos científicos para a substituição por melhores ativos, explica o pesquisador. A metodologia abre novas possibilidades para a descoberta de novas substâncias tensoativas que podem ter melhores resultados e provocar danos menores.

CABELOS

O químico Rafael Pires de Oliveira: “Método ajudará a indústria a escolher os produtos menos danosos”

TINGIDOS

O segundo estudo partiu de uma antiga reclamação de quem pinta o cabelo: os fios “desbotam” com o passar do tempo, algumas vezes mais rapidamente do que em outras situações. A química Scheila Daiana Fausto Alves analisou dois dos principais fatores que interagem nesse processo de degradação: o efeito dos tensoativos dos xampus e da radiação ultravioleta, proveniente do sol. E conseguiu decifrar o que acelera esse processo. “Todos os tensoativos fazem com que haja perda de cor do cabelo tingido, uns mais do que outros, mas, além disso, perde cor mais rapidamente o fio descolorido e que recebeu a tintura depois, se comparado àquele que apenas recebeu a tinta”, avalia a autora da pesquisa, também orientada pela professora Inés Joekes, do IQ. A retirada da cor original do cabelo, com a aplicação de produtos químicos, é usada quando se pretende aplicar cor mais clara. No estudo, mechas de cabelo foram tingidos e submetidos a 30 ciclos de lavagem, o equivalente a lavá-los, todos os dias, durante um mês. Em alguns dos casos, os fios foram descoloridos antes de serem pintados (condição para quando se busca clareá-los) e outros apenas tingidos com tintura permanente. Além disso, os fios foram expostos a doses iguais de radiação ultravioleta, por meio da utilização de lâmpadas especiais. O líquido coletado nas lavagens foi submetido à análise em um espectrofotômetro para verificação da saída do pigmento da fibra. Dessa forma, a pesquisadora avaliou o impacto de sucessivas lavagens do cabelo também exposto a doses diárias de radiação solar, a exemplo do que ocorreria no dia a dia de uma pessoa comum. A partir dos resultados obtidos em laboratório, a pesquisadora compreendeu o ciclo de degradação do cabelo tingido. Há duas dicas que podem ser úteis para quem pretende “esticar” o tempo de vida dos cabelos pintados: é recomendável lavá-los com xampus para bebês, porque eles são fabricados com substâncias que degradam menos os fios; e, de preferência, não se deve descolorir o cabelo para pintá-los, porque isso acelerará a perda da cor depois do tingimento.

Publicação

A química Scheila Fausto Alves: “Todos os tensoativos fazem com que haja perda de cor do cabelo tingido”

Dissertação: “Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS” Autor: Rafael Pires de Oliveira Dissertação: “Efeito de tensoativos e radiação ultravioleta na solidez da cor de cabelos tingidos” Autora: Scheila Daiana Fausto Alves Orientadora: Inés Joekes Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: Capes


10 Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

aa c dêi m ca

Painel da semana  Inovações curriculares - A Unicamp sedia nos dias 21 e 22 de outubro, no Centro de Convenções da Unicamp, o IV Seminário Inovações Curriculares, evento gratuito que busca possibilitar a discussão, a exposição e a troca, entre acadêmicos, sobre as questões teóricas e práticas (experiências desenvolvidas e em desenvolvimento) de interdisciplinaridade nas universidades públicas paulistas. A participação no evento é livre mas apenas poderão submeter trabalhos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação das universidades públicas paulistas (Unicamp, Unesp, USP, UFSCar, Unifesp, UFABC e Centro Paula Souza). Os trabalhos devem ser relativos a experiências interdisciplinares curriculares inovadoras desenvolvidas em suas instituições. Mais informações na página eletrônica http://www2.ea2.unicamp.br/ea2/inovacoes/  Investigação em câncer - O Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp promove nos dias 24 e 25 de setembro, no Centro de Convenções da Universidade, o I Simpósio Ibero-Americano de Investigação em Câncer. O objetivo do evento é fomentar a discussão acerca da pesquisa e do desenvolvimento de novos fármacos anticâncer. Um dos palestrantes convidados é o cientista David Newman, chefe da área de Produtos Naturais do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos. Além dele, também participarão conferencistas da Espanha, Costa Rica, Panamá, Guatemala, Equador e Brasil. Outros detalhes no link http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/07/30/simposiodebatera-pesquisa-de-farmacos-anticancer  Publicações científicas internacionais - Espaço da Escrita organiza workshop no dia 24 de setembro, às 8 horas, no auditório do Instituto de Economia (IE). Saiba mais acessando o

link http://www.cgu.unicamp.br/espaco_da_escrita/pdf/ws_publicacao_cientifica_130827.pdf  Seminário da RBMA - O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp, juntamente com Grupo de Estudos Sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (GEOPI), do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) e a Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/Unicamp campus de Limeira), e a Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA) promovem, entre os dias 25 e 27 de setembro, o V Seminário de Monitoramento e Avaliação que tem como tema “Experiências em Monitoramento e Avaliação: retrato da última década”. O encontro, este ano, ocorre no campus da Unicamp. A programação do V Seminário inclui seis minicursos e workshops, palestras, mesas redondas e 10 sessões temáticas, nos quais serão apresentadas 34 experiências (nacionais e internacionais), selecionadas por um comitê científico. Participarão especialistas, acadêmicos e gestores do Brasil e de diferentes países. Mais informações podem se obtidas no site http://www.rbma.net.br.  A simbologia do curinga - O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) organizam, até 25 de outubro, a exposição “A simbologia do curinga”, da artista Maria Antonia. Com curadoria de Sandra Caro Flório, a mostra pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, na rua Vital Brasil 150, no campus da Unicamp. Entrada franca. Mais informações: 19-3531-9002.  Uso de substâncias psicoativas no ambiente universitário - Tema será debatido no Fórum de Esporte e Saúde, dia 26 de setembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Inscrições, programação e outras informações na página eletrônica do evento http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude68.html  Culturas infantis - O Colóquio “Culturas Infantis: relações étnico-raciais e infância” acontece no dia 26 de setembro, às 9 horas, na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. O objetivo do evento é promover um espaço de divulgação, reflexão e debates em torno de pesquisas, práticas pedagógicas e políticas acerca do impacto das relações étnico-raciais sobre a construção das culturas infantis, bem como promover um debate em torno dos avanços proporcionados pela Lei 10639/04 para a educação da infância em geral e da educação infantil. Público-alvo: docentes das redes públicas de ensino básico e das universidades, pesquisadores, discentes de graduação e de pós em educação e demais interessados no em estudos sobre a infância. A organização é do Grupo de Pesquisas de Culturas Infantis da FE. Mais detalhes pelo e-mail pedagogiasdescolonizadoras@gmail.com  Mostra de trabalhos do Cotuca - Evento acontece no dia 26 de setembro, das 9 às 20 horas, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp. O público-alvo são estudantes de ensino médio e técnico bem como profissionais de áreas correlatas. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-9906 ou e-mail alan@cotuca.unicamp.br  Explosão populacional - No dia 27 de setembro, às 9 horas, no Auditório do Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia. O evento terá como tema central “Explosão populacional no Brasil e no mundo: mito ou realidade?”. A organização é do professor Alberto Augusto Eichman Jakob, coordenador-associado do Núcleo de Estudos de População (Nepo). Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno64.html ou telefone 19-3521-5039.

 Teatro - No âmbito do Festival Brasileiro de Teatro (FTB), acontecerá um bate-papo entre alunos da Unicamp e integrantes da companhia Tato Criação Cênica, que se apresentará com o espetáculo “Tropeço” em Paulínia (dia 27, às 20h, no Teatro Ceart) e em Campinas (dia 28, às 20h, no Barracão Teatro). O bate-papo, que ocorre no dia 26 de setembro, a partir das 18 horas, na sala 01 do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp, é aberto a todos os interessados. O FTB é um projeto de intercâmbio estadual, único no país, que seleciona espetáculos teatrais de um determinado Estado e os apresenta em outras unidades da Federação. A programação completa do festival pode ser conferida no endereço www.festivaldeteatrobrasileiro.com.br.  Cotuca Aberto ao Público - O Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) organiza no dia 28 de setembro, mais uma edição do Colégio Aberto ao Público. Trata-se de uma oportunidade para os candidatos conhecerem a escola e os cursos oferecidos pela unidade. Neste dia, os laboratórios ficarão abertos à visitação para que os alunos, sob supervisão de professores, apresentem as atividades desenvolvidas nos cursos do Cotuca. No evento, os visitantes poderão esclarecer dúvidas com alunos e professores. O Colégio Aberto ao Público funcionará das 9 às 17 horas, na rua Culto à Ciência 177, no bairro do Botafogo, em Campinas. A organização é do professor Alan Ikuo Yamamoto, diretor-associado do Cotuca. Mais detalhes no site http://www.cotuca.unicamp.br/ ou telefone 19-3521-9906.

Eventos futuros  Semana de Educação - De 30 de setembro a 5 de outubro, a Faculdade de Educação oferece aos interessados a ‘VII Semana de Educação’ e o ‘IX Seminário de testes, dissertações e trabalhos de conclusão de cursos em andamento’. Programação, inscrições e outras informações no site http://www.semanadeeducacao.com/  Vitivinicultura - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), através de sua Secretaria de Extensão, organiza, a partir de 30 de setembro , às 8h30, em seu anfiteatro, o seminário “Inovações sustentáveis no condicionamento de produtos agroindustriais: Vitivinicultura de precisão”. Ele será ministrado pelo professor Fábio Mencarelli, docente e pesquisador italiano do Dipartimento per la Innovazione nei Sistemi Biologici Agroalimentari e Forestalli. A organização é dos professores Bárbara Janet Teruel Mederos e Claudio Messias. Outras informações pelo telefone 19-35211088 ou e-mail extensao@feagri.unicamp.br  Inflamação e câncer - A Faculdade de Ciências Médicas (FCM), através de sua Comissão de Pós-graduação em Clínica Médica, organiza no dia 30 de setembro, às 10 horas, no Anfiteatro José Martins Filho, no Ciped (prédio ao lado da Pós-graduação da FCM), a palestra “Inflamação e Câncer”. Ela será proferida por Sergei Grivennikov, professor assistente do Programa de Prevenção e Controle do Câncer do Fox Chase Cancer Center da Philadelphia (EUA). A linha de pesquisa de Sergei Grivennikov tem como objetivo conectar as diversas vias de sinalização do sistema imune com a patogênese dos cânceres associados à inflamação, incluindo o câncer de cólon. O palestrante é mestre em biologia/bioquímica pela Moscow State University e doutor em biologia molecular e imunologia pelo Engelhardt Institute of Molecular Biology, Moscow. Desenvolveu o pós-doutorado no National Cancer Institute, NIH e no Departamento de Farmacologia da Universidade de San Diego, Califórnia, sob a supervisão de Michael Karin. Mais informações: 19-3521-8968.

Teses da semana  Computação - “O problema do recorte com custo nas conversões” (mestrado). Candidato: Igor Ribeiro de Assis. Orientador: professor Cid Carvalho de Souza. Dia 24 de setembro, às 11 horas, no auditório do IC.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Vazios urbanos no contexto do ambiente urbano promotor de saúde, e o foco no planejamento por microbacias hidrográficas urbanas de cidades com clima tropical: proposta de roteiro de análise e classificação a partir de métodos criteriais” (doutorado). Candidata: Maria da Purificação Teixeira. Orientador: professor Antonio Carlos Zuffo. Dia 24 de setembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses da FEC. “Viabilidade de aproveitamento de resíduos de tratamento de esgotos na construção civil” (doutorado). Candidato: José Carlos Gasparim. Orientador: professor Vladimir Antonio Paulon. Dia 25 de setembro, às 15 horas, na sala de defesa de teses da FEC.  Física - “Estudo de nanoestruturas de carbono em múltiplas escalas” (doutorado). Candidato: Leonardo Dantas Machado. Orientador: professor Douglas Soares Galvão. Dia 24 de setembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação IFGW.  Humanas - “Metafísica e misticismo no Tractatus de Wittgenstein” (mestrado). Candidato: Francisco Renato Tavares. Orientador: professor Arley Ramos Moreno. Dia 25 de setembro, às 9 horas, na sala de multiuso do IFCH. “Gottlob Frege: da noção de conteúdo à distinção entre sentido e referência” (mestrado). Candidato: Antonio Marcos Francisco. Orientador: professor Arley Ramos Moreno. Dia 25 de setembro, às 14 horas na sala multiuso do IFCH. “A concepção de Freud sobre ciência (1873-1900)” (mestrado). Candidato: Vitor Orquiza de Carvalho. Orientador: professor Luiz Roberto Monzani. Dia 25 de setembro, às 15 horas, na sala de defesa de teses do IFCH. “O fundamento antropológico da vontade geral em Rousseau” (doutorado). Candidata: Marisa Alves Vento. Orientador: professor José Oscar de Almeida Marques. Dia 26 de setembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH.  Linguagem - “Paulo Leminski e uma poética da distração” (mestrado). Candidato: Ricardo Gessner. Orientador: professor Marcos Aparecido Lopes. Dia 26 de setembro, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL.  Odontologia - “Interferência de fatores socioeconômicos, populacionais e do modelo de atenção em indicadores de saúde no Estado de São Paulo de 1998 a 2008: uma análise retrospectiva” (doutorado). Candidato: Eloisio do Carmo Lourenço. Orientador: professor Antonio Carlos Pereira. Dia 26 de setembro, às 9 horas, na sala da Congregação da FOP. “Desenvolvimento de biofilmes de candida albicans na superfície de poli (metil metacrilato) na presença de fluconazol: efeitos na matriz extracelular” (doutorado). Candidata: Letícia Machado Gonçalves. Orientador: professor Wander José da Silva. Dia 27 de setembro, às 8h30, na sala da Congregação da FOP.  Química - “Novas metodologias para a análise de dados em ciências ômicas e para o controle de qualidade de amostras de biodiesel-diesel” (doutorado). Candidato: Samuel Anderson Alves de Sousa. Orientadora: professora Márcia Miguel da Castro Ferreira. Dia 25 de setembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Efeito do substrato/espessura na indução de alterações conformacionais em poli(fluorenos)” (doutorado). Candidata: Raquel Aparecida Domingues. Orientadora: professora Teresa Dib Zambon Atvars. Dia 26 de setembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

Destaque do Portal

Unicamp recebe cerca de

R$ 7 milhões da Finep coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Penteado Crósta, anunciou no último dia 11 o investimento de cerca de R$ 7 milhões para a ampliação da infraestrutura de pesquisa da Universidade. Os recursos, destinados para a compra de equipamentos de grande porte, foram obtidos junto ao Proinfra, programa de infraestrutura da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência brasileira de fomento vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A contrapartida da Unicamp para o montante aprovado será de R$ 5,5 milhões, destinado ao pagamento de despesas com recursos humanos – pesquisadores e funcionários da Universidade. “A expectativa é que a receita seja empenhada até o final deste ano. É um investimento muito importante, pois beneficiará várias unidades com um aporte adicional”, antecipou Alvaro Crósta. Ele revelou que três projetos, importantes do ponto de vista estratégico para a pesquisa e ensino na Unicamp, foram aprovados. Um deles aportará recursos adicionais para o Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho em Ciências da Vida (LacTAD). O valor é de aproximadamente R$ 4,5 milhões. O outro projeto, cujo montante está estimado em R$ 1,5 milhão, auxiliará a aquisição de equipamentos para o Laboratório de Nanofabricação, vinculado ao Centro de Componentes Semicondutores (CCS). A terceira proposta, da ordem de R$ 800 mil, contempla o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Trata-se de iniciativa para constituir uma rede de cooperação interinstitucional e de aquisição e organização de acervos documentais sobre experiências e modos de atuação dos trabalhadores ao longo da história do Brasil.

Foto: Antoninho Perri

“Vamos mudar isso. A Finep continuará pagando parcelado, mas a Unicamp colocará de uma só vez a contrapartida. E se for necessário licitar a obra toda para garantir os recursos, nós faremos. Deste modo, tentaremos evitar atrasos em obras na Universidade”, sustenta Crósta.

PROJETOS

O coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Penteado Crósta: liberação ocorrerá em três parcelas anuais

O coordenador-geral adiantou que a Universidade deverá adotar uma ação importante para os futuros editais de apoio à infraestrutura da Finep, principalmente àqueles relacionados a obras. O objetivo é impedir atrasos nos cronogramas e consequente expiração dos prazos dos convênios. “A Finep libera os recursos mediante uma contrapartida da Unicamp. Essa liberação acontece em três parcelas anuais. E a contrapartida da Unicamp também estava sendo liberada para as unidades em parcelas, o que impedia, muitas vezes, que a obra fosse licitada integralmente. Isso acarretava um atraso de todo o cronograma e consequente expiração do prazo do convênio, que é de cinco anos”, reconheceu.

As três propostas contempladas envolvem laboratórios e projetos multidisciplinares e multiusuários. O LacTAD, que já está em funcionamento, oferece aos pesquisadores da Unicamp e de outras universidades serviços nas áreas de genômica, proteômica, biologia celular e bioinformática. A pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore, presidente do conselho do laboratório de alto desempenho, considera que os investimentos adicionais serão fundamentais para a consolidação das ações do complexo da Unicamp. “Como é um laboratório de alta performance, necessita-se de equipamentos de ponta, em geral, com valores muito altos. São equipamentos que tornam possível a consecução de objetivos dentro desta linha de pesquisa da genômica, proteômica e bioinformática, três áreas nas quais a Unicamp vai se destacar cada vez mais”, prevê. Também do conselho administrativo do LacTAD, o professor Paulo Arruda, do Instituto de Biologia (IB), lembrou que o laboratório obteve em 2012 um apoio considerável da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “A Fapesp, com R$ 5 milhões, possibilitou que comprássemos equipamentos como sequenciadores de DNA de última geração e instrumentos de biologia celu-

lar. Mas nós precisávamos de uma complementação, que vem agora com este edital da Finep”, situou. Também interdisciplinar e multiusuário, o Centro de Componentes Semicondutores atua nas áreas de nanoeletrônica, microeletrônica e nanofotônica. Os recursos da Financiadora de Projetos permitirão ao CCS dar sequencia ao projeto de um laboratório interdisciplinar de nanofabricação. “O CSS dá acesso a pesquisadores da Universidade para estas novas técnicas de micro e nanofabricação. O investimento, muito importante, permitirá a aquisição de dois equipamentos: um espectrômetro e um perfilômetro óptico 3D”, especificou Stanislav Moshkalev, diretor-associado do órgão. Na área de humanas, a proposta aprovada beneficiará o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), centro de pesquisa e documentação social vinculado ao IFCH. Os recursos permitirão a compra de equipamentos como scanners automatizados para digitalização de documentos. O objetivo é constituir uma rede de cooperação interinstitucional e de aquisição e organização de acervos documentais sobre experiências e modos de atuação dos trabalhadores ao longo da história do Brasil. O projeto busca consolidar uma tradição de trocas acadêmicas entre os historiadores e cientistas sociais. A ideia é fortalecer a política de formação de recursos humanos baseada na interdisciplinaridade, resgatando a vocação original do AEL de constituir-se como polo aglutinador e difusor de investigações científicas sobre a história dos trabalhadores. (Silvio Anunciação)


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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

Pesquisa analisa sistema híbrido de energia elétrica Tese da FEM determina quantidade gerada e compara tipos de armazenamento Fotos: Divulgação

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

radicionalmente, a geração de energia elétrica em pequenas comunidades isoladas no Brasil é feita a partir de conjuntos motores geradores, que exigem uma manutenção rotineira especializada (praticamente inexistente nesses lugares), além de suprimento constante do óleo diesel encarecido pelas longas distâncias para transporte e que emite gases de efeito estufa (GEE). Já existem localidades isoladas das redes de distribuição de eletricidade que são assistidas pela energia solar fotovoltaica e/ou eólica, com armazenamento em baterias. E, atualmente, o desenvolvimento da tecnologia de células a combustível (CaC) permite que as baterias sejam substituídas pelo vetor energético hidrogênio. Maiana Brito de Matos é autora de uma pesquisa de doutorado cuja originalidade está em determinar a quantidade de energia elétrica gerada por um sistema híbrido eólico-fotovoltaico de pequeno porte em Fortaleza (CE) e comparar os dois tipos de armazenamento, por baterias e por hidrogênio; ela também estimou as emissões de GEE que foram evitadas com a utilização do sistema proposto. A tese de doutorado foi orientada pelo professor Ennio Peres da Silva e apresentada na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). “O aproveitamento em pequena escala da energia elétrica produzida por geradores que operam a partir de fontes intermitentes (sol e vento) implica no uso de bancos de baterias para armazenamento, a fim de ajustar geração e demanda”, explica Maiana Matos. “Por outro lado, hoje também é possível gerar hidrogênio através da eletrólise [quebra de moléculas] da água, nos períodos em que há excedente de energia, para reconverter esse hidrogênio em eletricidade, utilizando CaC, quando a demanda ultrapassa a produção. É um sistema autônomo completo.” A pesquisadora recorda que a tese teve sua origem em um projeto de P&D elaborado pelo Laboratório de Hidrogênio (LH2) da Unicamp, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), aprovado pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “O projeto prevê a instalação de um sistema

OS “SEM

O projeto que prevê a instalação de um sistema híbrido eólico-fotovoltaico isolado está suspenso por entraves burocráticos

híbrido eólico-fotovoltaico isolado, ou seja, não conectado à rede da cidade de Fortaleza, mas sua execução está suspensa por entraves burocráticos que têm caracterizado as iniciativas de interação universidade-empresa no país.”

Segundo Maiana Matos, foi realizado um estudo de caso para um sistema de potência fotovoltaica instalada de 5 kWp (quilowatt-pico), potência eólica de 6 kW e CaC de 5 kW; a estimativa de energia elétrica média diária armazenada por ban-

Medidas que asseguram o acesso à eletricidade

Maiana Brito de Matos, a autora do estudo: “Pesquisas e o incentivo do governo podem confluir para baratear a tecnologia”

co de baterias foi de 36,41 kWh e, para o sistema de hidrogênio, de 22,71 kWh. “Avaliamos que 17 famílias poderiam ser atendidas pelo armazenamento por banco de baterias e 11 famílias pelo sistema de hidrogênio. Também calculamos que a substituição dos motores geradores pelo sistema eólico-fotovoltaico poderia evitar a emissão de até 18,7 toneladas anuais de gás carbônico com o armazenamento por bancos de baterias, e de 12,1 toneladas com a produção de hidrogênio para sua reconversão em energia elétrica.” A autora da tese afirma que em todos os dias do ano ocorrem o armazenamento de energia excedente e a utilização da energia armazenada, mesmo em outubro, que é o mês no qual os painéis fotovoltaicos e o aerogerador mais produzem energia elétrica – o pior mês de geração híbrida é abril. “A realização de mais pesquisas nesta área e o próprio incentivo do governo podem confluir para baratear a tecnologia. Vemos uma expansão de parques de energia eólica e também da instalação de painéis fotovoltaicos. E o Brasil também possui o Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Economia do Hidrogênio (ProH2) para a utilização do hidrogênio como vetor energético.”

Em sua tese de doutorado, a autora Maiana Matos relembra as várias medidas tomadas pelo governo federal visando levar energia elétrica para toda a população brasileira. A começar pelo Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios (Prodeem), criado em 1994 com a finalidade de permitir acesso à eletricidade pelas comunidades isoladas contemplando bombeamento de água e iluminação pública. A maioria dos sistemas do Prodeem foi instalada em escolas rurais; e a quase totalidade desses sistemas era fotovoltaico, apesar da concepção original de diferentes tipos de fontes renováveis. O Programa Nacional de Eletrificação Rural (Pner), também conhecido como Luz no Campo, surgiu durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso com objetivo similar ao do Prodeem. Em novembro de 2003, o governo lançou o programa Luz para Todos (LPT), ao qual foi incorporado o Luz no Campo, com a meta de fornecer acesso à energia elétrica para mais de 10 milhões de pessoas no meio rural até 2008.

O LPT foi estendido até 2014 através de decreto, ao se perceber que o universo de excluídos era maior do que se pensava. O programa já atendeu cerca de 3,3 milhões de famílias (aproximadamente 15 milhões de pessoas) e pretende contemplar mais 715 mil famílias de 2011 a 2014. No caso do Ceará, em cuja capital a autora da tese realizou o estudo de caso, o Luz para Todos beneficiou 172 mil famílias (862 mil pessoas) no período de 2004 a 2012. Foi em 2004 que a Aneel publicou resolução regulamentando os procedimentos e as condições de fornecimento através dos Sistemas Individuais de Geração de Energia com Fontes Alternativas (SIGFI’s) – sistemas que podem ser utilizados como alternativa para universalização dos serviços de eletricidade. Em 2012, outra resolução normativa da Aneel estabeleceu os procedimentos e as condições de fornecimento por meio de Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de Energia Elétrica (MIGDI).

LUZ”

Maiana Matos buscou dados na literatura demonstrando que ainda é significativo o número de pessoas sem acesso a energia elétrica no mundo. De acordo com a International Energy Agency (IEA), este número em 2010 superava 1,3 bilhão de habitantes, o correspondente a aproximadamente 20% da população mundial, sendo a maior parte vivendo em países em desenvolvimento. A estimativa da IEA para 2030 é que 1 bilhão de pessoas ainda estarão sem eletricidade, 650 milhões na Ásia; pela projeção, a América Latina já terá acesso universal, enquanto que na África o número de pessoas sem luz elétrica tende a aumentar. Em relação ao Brasil, a pesquisadora levantou que o serviço ainda não contempla toda a população, devido principalmente à sua extensão de 851 milhões de hectares e à própria forma de ocupação do território ao longo do tempo. As famílias excluídas encontram-se majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 80% delas estão no meio rural e 90% têm renda inferior a três salários mínimos, segundo os dados do programa Luz para Todos (LPT) referentes a 2010. A autora da tese observa que, além disso, as residências do LPT normalmente ficam em lugares de difícil acesso, o que impacta no valor da tarifa de energia elétrica. Para minimizar os custos, o LPT é financiado pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), pela Reserva Global de Reversão (RGR) e pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) – a última com o objetivo de ressarcir parte do custo total de geração de energia elétrica em sistemas isolados. A CCC é proveniente de cotas arrecadadas por empresas distribuidoras, permissionárias e transmissoras a partir de valores pré-determinados pela Aneel.

Publicação Tese: “Análise energética do projeto de um sistema híbrido eólicofotovoltaico com armazenamento de energia elétrica através do hidrogênio e banco de baterias” Autora: Maiana Brito de Matos Orientador: Ennio Peres da Silva Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)


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Campinas, 23 a 29 de setembro de 2013

Flanando por Sevilha Foto: Divulgação

ALESSANDRO SILVA alessandro.silva74@gmail.com

livro não nasceu ao acaso. Desde “Paisagens com Figuras” (1955), os poemas escritos por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) revelam a influência de Sevilha, na Espanha, na obra do poeta que viveu na cidade em duas oportunidades (de 1956 a 1958; e de 1962 a 1964) exercendo sua carreira de diplomata. Quase 33 anos depois de sua primeira estada em Sevilha, João Cabral publicou “Sevilha Andando” – dividido em duas partes “Sevilha andando” e “Andando Sevilha” –, último livro do poeta em homenagem à cidade, lançado em 1989, ponto de partida para uma pesquisa de mestrado apresentada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp, de autoria de Gislaine Goulart dos Santos, orientada pelo professor Marcos Aparecido Lopes. Ela refez o percurso dessa história e defende que o livro se diferencia do projeto poético do autor de livros anteriores e que vinha sendo ensaiado em livros como “Agrestes” e “Crime na calle Relator”. Depois de sua primeira estada em solo espanhol na cidade de Barcelona em 1946, onde estudou a literatura espanhola do “Século de Ouro”, os “romanceros” e teve contato com importantes figuras artísticas como Joan Miró e poetas da “Geração de 27”, João Cabral foi transferido para Sevilha em 1956, com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, e depois em 1962. Nos dois períodos, o poeta, em suas caminhadas pela cidade, “buscou desvendar os segredos e os encantamentos sevilhanos com seu olhar microscópico e não mais perseguiu o convívio com o mundo intelectual da cidade, como fez em Barcelona, mas caminhou pela cidade sevilhana como um flâneur, desvendando as ruas, a cultura, o povo, os toureiros, as dançarinas”, explica. Quarta maior cidade espanhola, Sevilha é a capital da Andaluzia, na região sul da Espanha, e tanto impressionou o poeta brasileiro que o levou a declarar que é preciso “Sevilhizar o mundo”, título do poema no qual sugere transformar o planeta, para tornar-se mais civilizado, em uma enorme Sevilha. Para Gislaine, “Sevilha andando” e “Andando Sevilha”, se diferenciam do projeto poético da obra deixada por ele, porque na primeira parte, o poeta traz a figura da mulher em seus versos. “João Cabral é conhecido pela crítica como um poeta engenheiro, antilírico e a figura da mulher é considerada um tema da poesia romântica, da qual ele era avesso”. Na segunda parte do livro, “os temas sevilhanos se referem às questões sociais, arquitetônicas e culturais da cidade de Sevilha”. Ainda segundo a autora da pesquisa, João Cabral, nos poemas do livro “Sevilha andando”, “cria um protótipo utópico da mulher e da cidade, ambas satisfazem o amante e o habitante, trata-se de um modelo de poesia criado para expressar a realidade social sevilhana. Neste sentido, João Cabral cria um espaço de dependência poética e ética, ou seja, entre poesia e conhecimento social, como uma maneira de debater as questões sociais sem deixar de passar pelo crivo poético, por este motivo, produz imagens em que a mulher é a cidade e vice-versa”, explica. Como material de pesquisa, Gislaine recorreu a diferentes versões do livro “Sevilha andando” que chegou a ser publicado separando as duas partes em livros diferentes

O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto: desvendando os segredos sevilhanos

Foto: Antonio Scarpinetti

Gislaine Goulart dos Santos, autora da dissertação: “Sevilha Andando” foi o ponto de partida de estudo do mestrado

nas edições da obra completa da poesia do poeta de 1994 e de 1997, organizadas pela segunda esposa dele, a poeta Marly de Oliveira, além de críticas, entrevistas e análises dos poemas. No primeiro capítulo da dissertação, Gislaine recupera o contato do poeta brasileiro com a Espanha e, particularmente, com Sevilha. Também discute as diferentes edições, desde a original, que trouxe as duas partes unidas, defendendo a manutenção do trabalho original de João Cabral de “dar a ver” Sevilha e a mulher em dois movimentos: “mulher-Sevilha” e “Sevilha-mulher”, o que corresponde às partes do livro “Sevilha Andando” e “Andando Sevilha”.

A autora também analisou o léxico dos poemas sevilhanos desde o livro “Paisagens com figuras” até “Sevilha andando”, concluindo que as expressões e as palavras em espanhol compõem um dicionário intraduzível para o português por caracterizarem a cultura e o povo de Sevilha. E também avaliou os traços da cultura popular nos poemas de “Andando Sevilha” presentes nas festas tradicionais da cidade e nos monumentos, retratados a partir da observação profunda do poeta. “Mas não é do ponto de vista de um turista que olha e fotografa a cidade nem de um morador, porque João Cabral conhece muito mais sobre a cidade, ele repara em

detalhes aquilo que para outros cidadãos passa despercebido”. “O livro tem um projeto humanístico, ao eleger uma cidade e uma mulher ideais para o amante e para o habitante”, destaca Gislaine. “O poeta também aborda a questão religiosa nos poemas de ‘Andando Sevilha’, tema incontornável da cultura ibérica por estar presente na história, na cultura, nas tradições, nos costumes e nos monumentos sevilhanos, tema de interesse da análise realizada para o trabalho de mestrado, porque João Cabral se mostrava avesso às questões religiosas e espirituais.” “No poema “Semana Santa”, a religião é vista como uma manifestação cultural popular que reativa os laços sociais; já nos poemas “O asilo dos velhos sacerdotes” e “Padres sem paróquia”, as atitudes do clero sevilhano são indiferentes às manifestações populares, por isso elas são criticadas nestes poemas por serem irrelevantes à ordem social e coletiva. João Cabral é a favor da religião enquanto manifestação cultural, não como doutrina religiosa”. Segundo a pesquisadora, Sevilha marcou o poeta pela semelhança com o nordeste por meio das festas populares. O poeta esteve na cidade pela última vez, em 1992, representando o presidente da República nas comemorações de 7 de setembro na Exposição do IV Centenário de Descoberta da América. Apesar de ter retornado à Espanha dois anos mais tarde, não quis voltar à cidade que o inspirou porque, segundo a autora, ele temia que a cidade tivesse sido dilacerada pelo progresso.

Publicação Dissertação: “Sevilha na poesia de João Cabral de Melo Neto” Autora: Gislaine Goulart dos Santos Orientador: Marcos Aparecido Lopes Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Financiamento: CNPq


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