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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013 - ANO XXVII - Nº 578 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Imagem: Fábio Gatti/ Divulgação

Questão de

imagem 6e7

Pesquisadores do Instituto de Computação (IC) desenvolveram quatro técnicas que permitem detectar a falsificação e manipulação de fotografias e documentos digitais. Liderado pelo professor Anderson Rocha, o grupo de computação forense usa métodos baseados em inteligência artificial e visão computacional. O artista visual Fábio Gatti reuniu teoria e diferentes técnicas artísticas para fundamentar sua tese de doutorado “A fotografia em quatro atos: narrativas improváveis sobre a imagem e sua feitura”. As obras feitas para a pesquisa, que foi orientada pelo professor Fernando de Tacca, foram expostas na Galeria de Arte da Unicamp.

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Estudo sobre plantas ajuda a preservar Mata Atlântica Manejo de uva rende vinho com buquê mais acentuado Uma das fotografias de Fábio Gatti: mergulho no improvável e no experimentalismo

A ‘ecologia dos saberes’ e o terceiro grau indígena

4 5 9 Sonda Cassini detecta presença de plástico na atmosfera de Titã Ação de molécula em insetos abre caminho para repelentes

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Literatura de qualidade afia os sentidos, aponta pesquisa Cientistas identificam erupção misteriosa da Idade Média

TELESCÓPIO


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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Literatura ajuda a entender os outros Cientistas chamam de “teoria da mente” a capacidade que a maioria das pessoas tem de interpretar corretamente as emoções e intenções dos outros. Pesquisadores reconhecem duas modalidades da “teoria” – a afetiva, que permite reconhecer e entender estados emocionais, e a cognitiva, que permite deduzir crenças e intenções. De acordo com estudo publicado no Science Express, o serviço de divulgação online da revista Science, em 3 de outubro, a leitura de textos de ficção temporariamente aumenta a eficácia dessas perícias em adultos, um efeito que trabalhos de não ficção parecem não ter. Ainda de acordo com o estudo, nem todos os textos ficcionais funcionam da mesma forma: um conto do clássico russo Anton Tchekhov é muito mais eficaz, por exemplo, que um trabalho da autora de best-sellers Danielle Steel. Os autores da pesquisa, David Comer Kidd e Emanuele Castan, da New School for Social Research de Nova York, especulam, citando pensadores como Roland Barthes e Mikhail Bakhtin, que as melhores obras da ficção mais “literária” – definida em oposição à produção dita “popular” – exigem uma participação maior do leitor na construção do significado e requerem um esforço de percepção do texto sob diferentes pontos de vista, o que simula o uso da teoria da mente. Já a ficção popular “tende a retratar o mundo e os personagens como consistentes e previsíveis. Portanto, pode reafirmar as expectativas do leitor e, assim, não promove a teoria da mente”, diz o artigo. O trabalho reconhece a dificuldade de traçar uma linha clara entre o “literário” e o “popular”, problema que os autores tentaram contornar apelando para os resultados de importantes prêmios literários, para selecionar textos “de literatura”, e as listas de mais vendidos do site Amazon.com, para escolher obras “populares”.

Mais uma nave privada aporta na Estação Espacial A cápsula de carga Cygnus, produzida pela empresa americana Orbital Sciences Corporation, completou uma manobra bemsucedida de ligação com a Estação Espacial Internacional (ISS) em 29 de setembro. A primeira tentativa de atracagem, no dia 22, teve de ser interrompida. Com a chegada da Cygnus à ISS, agora são duas as empresas privadas com capacidade demonstrada de realizar o transporte de carga à Estação: a Orbital Sciences e a SpaceX, cuja cápsula Dragon foi o primeiro veículo particular a conduzir uma missão no posto orbital. O uso de naves privadas se insere na estratégia do presidente dos EUA, Barack Obama, de terceirizar o acesso à órbita terrestre, liberando recursos da Nasa para programas científicos e de exploração mais ambiciosos.

Agora, um grupo internacional de pesquisadores, incluindo franceses, suíços e indonésios, acredita ter encontrado o vulcão responsável: o Samalas, localizado na Ilha de Lombok, Indonésia. Uma das evidências reunidas pela equipe é o registro histórico, redigido em javanês antigo sobre folhas de palmeira, descrevendo a erupção e suas conseqüências catastróficas, incluindo a morte de milhares de pessoas. De acordo com o texto antigo, o evento ocorreu numa época da cronologia indonésia que corresponde, no calendário europeu, a um período anterior ao fim do século 13. Os autores do novo estudo, publicado no periódico PNAS, usam o texto indonésio, dados levantados por pesquisas geológicas e datação de carbono 14 para ligar a erupção de Samalas ao “ano sem verão” europeu e ao pico de enxofre nos registros do gelo ártico.

PLoS Biology comemora 10 anos Agora em outubro o periódico de livre acesso PLoS Biology completa uma década de publicação. Quando surgiu, em 2003, a revista online buscava firmar um modelo de divulgação aberta de artigos científicos com revisão pelos pares, no qual o pesquisador – e não o leitor – arca com os custos. Na nota em que celebra seus dez anos, a publicação reconhece que, na época, havia a preocupação de que o projeto “seria marcado pelo estigma de uma ‘editora de vaidade’, e que o modelo viria a se mostrar incompatível com integridade científica, rigor editorial e excelência”, temores que, os editores acreditam, mostraram-se infundados. O modelo adotado pela PLoS se tornou um dos padrões no debate sobre a democratização do acesso à ciência e nas críticas aos altos preços de assinatura cobrados, de indivíduos e bibliotecas, por algumas das principais editoras especializadas em produzir periódicos científicos. Para celebrar sua década de existência, o periódico publicará uma edição especial com uma seleção dos melhores artigos do período, além de uma história do projeto Public Library of Science (de onde vem a sigla “PLoS”).

O segredo dos repelentes de insetos Desenvolvido no fim da segunda guerra mundial, o DEET ainda é o principal repelente de insetos em uso no mundo. Em artigo publicado na edição de 4 de outubro da revista Nature, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside afirmam ter descoberto exatamente como a molécula age no inseto, o que abre caminho para a busca por outras substâncias menos agressivas para o ser humano, e mais baratas, que o DEET, mas tão eficazes quanto ele para afastar mosquitos e carrapatos. Os cientistas usaram moscas Drosophila melanogaster geneticamente modificadas para que as células afetadas pelo repelente brilhassem na cor verde quando atingidas pela substância. Expostas ao DEET, essas moscas revelaram atividade em neurônios localizados no interior de uma estrutura da antena dos insetos. Usando uma simulação de computador, o grupo testou cerca de meio milhão de outras moléculas para descobrir algumas que ativassem os mesmos neurônios das moscas, chegando finalmente a quatro possíveis substitutos do DEET – sendo que três deles são considerados comestíveis por seres humanos.

Estudo francês rejeita ligação entre depressão e câncer A ideia de que estados de espírito podem influenciar a saúde de modo decisivo é antiga, e algumas associações, principalmente entre estados emocionais negativos e o adoecimento do corpo, muitas vezes são aceitas como fatos pelo senso-comum. No entanto, um levantamento realizado por Cédric Lemogne, da Universidade de Versailles Saint-Quentin, não encontrou nenhuma ligação significativa entre depressão e a incidência de câncer. Lemogne acompanhou a evolução da saúde de mais de 14 mil pessoas entre 1994 e 2009, das quais 1.119 desenvolveram câncer. Resultados de avaliações psicológicas, bem como atestados médicos de depressão, foram levantados, sem que nenhuma associação entre o câncer e o problema emocional aparecesse. O trabalho foi publicado em The American Journal of Epidemiology. “Desde os

primórdios da medicina, a presença de ‘bile negra’, que deu origem ao termo melancolia, fez as pessoas associarem a condição ao desenvolvimento de tumores malignos”, disse Lemogne, citado em nota distribuída pelo Inserm, o Instituto Nacional de Pesquisas Médicas da França. “Mas nenhuma metanálise jamais obteve sucesso em confirmar ou rejeitar a hipótese”. Metanálises são procedimentos estatísticos que agregam os dados de diversos estudos sobre um mesmo tema, na busca de uma conclusão geral. No entanto, embora o estudo francês não tenha encontrado sinais de que a depressão causa câncer, o Inserm alerta, na mesma nota, que a depressão, uma vez instalada num paciente com câncer, pode aumentar o risco de vida, já que a pessoa deprimida pode se sentir tentada a negligenciar o tratamento.

Plástico na atmosfera de Titã Instrumentos a bordo da sonda Cassini, que vem pesquisando o sistema formado por Saturno e seus satélites desde 2004, detectaram a presença de propileno na atmosfera de Titã, a maior das luas do planeta. Na Terra, o propileno, usado como matéria-prima na indústria petroquímica, é a base do plástico polipropileno. Titã é a única lua do Sistema Solar a contar com uma atmosfera densa, formada principalmente de metano e nitrogênio. As moléculas desses gases são constantemente desfeitas pela radiação que vem do Sol e pelos efeitos do campo magnético de Saturno, e se recombinam em diversos tipos de compostos orgânicos, que ou se mantêm em suspensão na atmosfera ou “chovem” sobre a superfície, criando mares e lagos de hidrocarbonetos. De acordo com o artigo que descreve a descoberta do propileno, publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters, a despeito da abundância de hidrocarbonetos na lua, esta é a primeira vez que essa molécula específica é detectada ali.

Telescópio sai de férias A coluna entra em férias, e retorna na edição de 18 de novembro do Jornal da Unicamp. Foto: Divulgação

Identificada misteriosa erupção vulcânica da Idade Média Vestígios preservados no gelo do Ártico vinham indicando, há décadas, a ocorrência de uma gigantesca erupção vulcânica em algum momento entre 1257 e 1258. A origem dessa erupção, que injetou mais enxofre na atmosfera terrestre que eventos vulcânicos famosos, como a explosão de Krakatoa, em 1883, era desconhecida, embora seus efeitos estejam registrados: a crônica histórica europeia descreve, no período, um verão extremamente frio – a época às vezes é chamada de “o ano sem verão” –, com chuvas incessantes, colheitas ruins e inundações.

Ilustração da cápsula Cygnus aproximando-se da Estação Espacial Internacional

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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Barreiras travam geração renovável e eficiência energética em edifícios LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

s edificações são responsáveis por 44,7% do consumo total de eletricidade no Brasil, sendo que esta participação está dividida em fatias de 22,1% para os edifícios residenciais, 15% para os comerciais e 7,6% para os prédios públicos. Ainda que a crise energética de 2001 tenha induzido a uma redução do consumo nos edifícios brasileiros, essa tendência foi revertida nos anos subsequentes. A demanda por eletricidade vem apresentando aumento superior ao do PIB e é alta a estimativa de crescimento do consumo nos edifícios, considerando a estabilidade econômica aliada a uma política de melhor distribuição de renda no país. A avaliação de que esses dados, por outro lado, apontam o setor de construções como de grande potencial para conservação de energia e mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE), justifica a escolha do tema de mestrado da economista Aline Ferreira Tripodi Causo: “Mecanismos políticos para promoção da eficiência energética e geração renovável em edificações: um estudo de caso da Alemanha e aplicações para o Brasil” é o título da dissertação orientada pelo professor Gilberto de Martino Jannuzzi e apresentada na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. “A principal conclusão da pesquisa é que o quadro regulatório no Brasil ainda precisa ser aprimorado, para que medidas de eficiência energética e geração renovável se tornem mandatórias para as edificações”, afirma Aline Tripodi. “Esse contexto mostra a relevância do conceito de Planejamento Integrado de Recursos (PIR), que representa uma visão alternativa ao planejamento feito, por exemplo, antes do choque do petróleo, quando a preocupação era em expandir a oferta, considerando apenas o custo econômico.” Segundo a autora da dissertação, o PIR leva em conta não apenas critérios econômicos na definição de estratégias para o setor, mas também aspectos ambientais e sociais, bem como a gestão da demanda. “Esse modelo prima pela avaliação tanto de opções de expansão da oferta quanto de opções para reduzir a demanda e postergar a necessidade de investimentos na geração de mais energia. No trabalho também analiso as maiores barreiras para a promoção de eficiência energética e da geração alternativa, que são econômicas, regulatórias, tecnológicas e relacionadas à falta de informação sobre opções de tecnologias e potenciais de conservação de energia.”

CASO DA ALEMANHA

Aline Tripodi elegeu para estudo de caso a Alemanha, país reconhecido mundialmente pelo fomento às energias renováveis e eficiência energética, tendo se tornado um dos líderes nessas tecnologias e, inclusive, optado por fechar as usinas nucleares depois do acidente em Fukushima. “Fiz uma revisão bibliográfica sobre a política lá implementada e entrevistei três especialistas: Johann Christian-Pielow e Hermann-Josef Wagner, da Universidade Ruhr-Bochum, e Annegret Groebel, da agência reguladora do setor elétrico alemão. Eles vieram à Unicamp para um workshop em que foram comparadas as políticas públicas e experiências da Alemanha e do Brasil”.

Para economista, que escolheu a Alemanha como estudo de caso, Brasil precisa aprimorar quadro regulatório Os bons resultados obtidos pelos alemães, na opinião da pesquisadora, devem-se em grande medida à existência de um suporte político que vem possibilitando o desenvolvimento da eficiência energética e da geração alternativa nas últimas décadas. “Num estudo realizado pelo ACEEE [American Council for an Energy Efficient Economy], o país ficou em primeiro lugar na avaliação de políticas nacionais para fomentar a eficiência energética e obteve uma posição de destaque também em medidas específicas para as edificações. Minha primeira percepção é de que a Alemanha possui uma gama bem maior de instrumentos políticos que o Brasil”. A economista observa que os alemães já implantaram mecanismos-chave ainda inexistentes aqui (ou não na forma de lei), como os códigos e certificados de desempenho energético para edifícios com força regulatória; e as compras regulamentadas para o setor público que contemplem os critérios de eficiência energética. Os centros de informações locais são também uma importante iniciativa para superar a barreira da falta de informação, ainda não consolidada no Brasil. “Lá existe toda uma legislação definindo como as edificações devem ser construídas ou reformadas para diminuir o consumo de energia. Temos aqui uma norma da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] que trata do mínimo de iluminação e de ventilação, mas que não se equipara à legislação, pois não obriga o cumprimento das regras por todos os edifícios.” A autora da dissertação alerta, porém, que não podemos simplesmente importar as políticas da Alemanha. “O contexto é completamente diferente, devemos considerar a economia dos dois países, a sociedade e o clima: se o código de edificação alemão preza pela redução do consumo de energia para aquecimento, por exemplo, aqui seria para resfriamento. Uma vantagem nossa é que os edifícios brasileiros são mais novos, enquanto os alemães são em sua maioria antigos, sendo mais viável aplicar uma estrutura sustentável num edifício em construção do que reformar um edifício já existente.”

Com relação aos mecanismos econômicos, a pesquisadora diz que já existem no Brasil algumas linhas de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para geração renovável, mas que não são tão voltados às edificações como na Alemanha. “O governo alemão aplica subsídios e programas de financiamento atrelados à exigência de cumprimento dos códigos de desempenho energético nas construções. A sugestão no caso brasileiro é que os mecanismos financeiros também foquem mais as edificações, a fim de torná-las eficientes.” Foto: Divulgação

AÇÕES VOLUNTÁRIAS

De acordo com Aline Tripodi, muitas iniciativas brasileiras são ainda voluntárias, como é o caso dos certificados de desempenho e etiquetagem de edifícios. A informação que ela obteve para a dissertação dá conta de que, no Brasil, estuda-se a regulação da etiquetagem obrigatória inicialmente para prédios públicos. Ainda assim, alguns certificados voluntários têm sido bastante difundidos nas edificações brasileiras, a exemplo dos selos LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) e AQUA (Alta Qualidade Ambiental), reconhecidos internacionalmente. “O Brasil é o quarto país no mundo em número de edifícios com certificação LEED. Mas são as próprias construtoras que estão vendo esses selos como uma exigência de mercado no futuro. Sem uma legislação, não há certeza de que todos os edifícios vão seguir os requisitos e, pelo mercado, o processo talvez seja mais lento do que através de medidas regulatórias.”

Na Alemanha, segundo a autora da dissertação, o suporte político possibilita o desenvolvimento da eficiência energética e da geração alternativa em edificações nas últimas décadas

Publicação Dissertação: “Mecanismos políticos para promoção da eficiência energética e geração renovável em edificações: um estudo de caso da Alemanha e aplicações para o Brasil” Autora: Aline Ferreira Tripodi Causo Orientador: Gilberto de Martino Jannuzzi Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)

Foto: Antoninho Perri

Uma contradição na política

A economista Aline Tripodi Causo: “O Planejamento Integrado de Recursos representa uma visão alternativa”

Aline Tripodi aborda em sua dissertação, especificamente para incentivo às energias de fontes renováveis on site, os mecanismos adotados nos dois países. “Na Alemanha implantou-se a tarifa Feed-in, uma garantia de compra da energia renovável gerada por um prazo mínimo e por um preço estipulado. No Brasil, a resolução 482 da Aneel, de 2012, prevê outra compensação, o chamado net metering, como instrumento principal: quem instala na residência um sistema renovável ligado à rede, paga apenas a diferença entre o que produziu e o que consumiu; e, havendo excedente, fica com o crédito para os meses seguintes.” De acordo com a autora do estudo, um mecanismo de caráter mandatório já consolidado e que vem mostrando bons resultados no Brasil é o Programa Brasileiro de Etiquetagem, que atua em conjunto com o selo Procel – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, da Eletrobrás. “A etiquetagem é um aliado no cumprimento da lei que determina padrões mínimos de eficiência energética para equipamentos. As próprias campanhas de informação do Procel estão fazendo com que as pessoas se tornem mais atentas, conscientes de que o selo B pode representar certa economia na hora da compra, mas que um equipamento mais eficiente (selo A) proporciona esta economia no longo prazo, com a redução da conta de energia. A questão é que o Programa de Etiquetagem se aplica apenas a alguns equipamentos e não a todos – a proposta é que se amplie a abrangência de apare-

lhos, até porque em vários casos a etiqueta é adotada voluntariamente pelo fabricante.” No âmbito dos instrumentos fiscais, iniciativas têm sido tomadas nos dos países. No Brasil, há o ‘IPTU Verde’ em algumas cidades, mas ainda como uma iniciativa local, que deveria ser incentivada nacionalmente. Além disso, reduções fiscais para equipamentos mais eficientes (classificados com a etiqueta A do PBE) foram adotadas no Brasil. “No entanto, apesar destas iniciativas, percebi uma incongruência na política nacional: por um lado, equipamentos com selo A são contemplados com redução fiscal maior, o que é interessante; por outro lado, o governo promove a redução do preço da energia, o que é contraditório, por incentivar maior consumo. Isso pede uma revisão da política para que ela caminhe no mesmo sentido e não com objetivos aparentemente diferentes.” Uma última observação de Aline Tripodi é que embora seu estudo de caso tenha sido a Alemanha, devido ao seu destaque em eficiência energética e geração renovável, não é o único país com o qual aprender. “Outros países adotam políticas diferentes, que merecem estudos e podem contribuir para o modelo mais adequado a ser seguido pelo Brasil. Não há um único mecanismo para resolver a questão da energia, é necessário um portfólio abrangente de mecanismos, cada qual contribuindo para o melhor resultado do outro. E não podemos simplesmente aplicar a lei, sem deixar claro para as pessoas o que é esperado que façam”.


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CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

Serra do Mar, área inserida na Mata Atlântica, que se estende por uma faixa litorânea das regiões Sul e Sudeste do Brasil, constitui um dos centros de diversidade e endemismo para licófitas e samambaias. O conhecimento dos aspectos relacionados à taxonomia, ecologia e ecofisiologia destes dois grupos pode vir a contribuir para a preservação destas plantas e do conjunto de seres vivos que constituem o bioma Mata Atlântica, já bastante devastado. Estes fatores motivaram as pesquisas desenvolvidas pela bióloga Giseli Areias Nóbrega, que deram origem à tese apresentada ao Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, orientada por Marcos Pereira Marinho Aidar, titular do Instituto de Botânica de São Paulo e pesquisador credenciado pela Universidade. O trabalho fez parte de um estudo maior que constituiu o Projeto Temático Biota Gradiente Funcional “Composição florística, estrutura e funcionamento da Floresta Ombrófila Densa dos Núcleos Picinguaba e Santa Virgínia, do Parque Estadual da Serra do Mar, Estado de São Paulo, Brasil”, mantido pela Fapesp e coordenado pelo professor Carlos Alfredo Joly, do Departamento de Botânica do IB. A pesquisadora, que está assumindo a função de consultora botânica no Jardim Botânico do RJ, trabalhou durante cinco anos no projeto com vários pesquisadores que se dedicaram ao estudo de outras espécies de plantas de ocorrência na mesma área. O trabalho foi desenvolvido em áreas de Mata Atlântica, no Núcleo Picinguaba (Casa da Farinha e Praia da Fazenda), no Núcleo Santa Virgínia e na Fazenda do Capricórnio (área particular), todos situados no Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba, litoral Norte de SP, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro. O estudo abrangeu quatro vertentes. A primeira, de caráter taxonômico, efetua o levantamento da flora de licófitas e samambaias. A segunda mostra e analisa as variações na riqueza e abundância das espécies de samambaias ao longo de um gradiente de altitude, que se situa na faixa dos 10 até 1.000 metros, baseado no inventário das plantas. Objetivou determinar a preferência das diferentes espécies em relação à altitude, pois com ela varia composição do solo, temperatura, umidade. A terceira investiga os aspectos ecofisiológicos relacionados ao uso do nitrogênio e potencial fotossintético, buscando variações significativas no funcionamento dessas plantas nas diferentes altitudes, considerando as diversas formas de vida e os grupos taxonômicos. Finalmente, a quarta parte investiga as mudanças no estreito balanço entre os elementos nitrogênio e fósforo, altamente variáveis mediante alterações ambientais, como as encontradas em gradientes de altitude. Neste particular, a pesquisadora selecionou algumas espécies de cada área para determinar quais suas necessidades em relação ao consumo de nitrogênio e fósforo, dois elementos essenciais para o desenvolvimento de plantas.

HIPÓTESES E RESULTADOS

No estudo, com base em uma clássica bibliografia de apoio, a pesquisadora partiu de algumas hipóteses. Em linhas gerais, ela considerou previamente que a Floresta Atlântica brasileira se constitui em um centro de diversidade e endemismo para licófitas e samambaias e que o Parque Estadual da Serra do Mar apresentaria espécies desconhecidas, ofereceria novos registros para o bioma e revelaria ainda a presença de espécies ameaçadas de extinção. Mais ainda: a riqueza de espécies e a altitude envolveriam relações complexas que variariam conforme o grupo taxonômico e o gradiente de altitude considerado. E também a de que as espécies diferem quanto à habilidade de utilizar as fontes orgânicas e inorgânicas de nitrogênio, de forma a poderem ser agrupadas em tipos funcionais de acordo com as características foliares. Além de tudo, as concentrações de nitrogênio e fósforo estariam associadas a muitos fatores bióticos e abióticos. Com efeito, Giseli registrou nas áreas vasculhadas135 espécies, distribuídas por 19 famílias e 53 gêneros. Conforme os dados de riqueza e abundância das espécies – total de 89 espécies e 13.931 indivíduos amostrados – os dois extremos de altitude, Floresta de Restinga e Floresta Ombrófila Densa Montana, mostraram-se como efetivamente dois grupos ecossistêmicos bem definidos, enquanto as elevações intermediárias apresentaram uma tendência linear

Em plantas, a chave

da preservação

Conhecimento de comportamento de licófitas e samambaias pode ajudar na conservação da Mata Atlântica Foto: Antonio Scarpinetti

Riacho no Núcleo Picinguaba, em Ubatuba, São Paulo: plantas são influenciadas pelas diferentes altitudes

de riqueza. Os dados revelaram, também, que na Floresta de Restinga (10 m) as condições de deficiência de oxigênio, a denominada anóxia do solo, no verão, levam a uma menor disponibilidade de nitrogênio para as plantas, enquanto na Floresta Ombrófila Densa Montana (1.000 m) as baixas temperaturas do solo, no inverno, conduzem a uma redução na absorção de nutrientes. Análises entre os habitats e formas de vida revelaram um continuum de respostas quanto ao uso do nitrogênio, no sentido crescente, das plantas epífitas, hemiepífitas, rupícolas e terrestres, respectivamente. Mais ainda, os dados obtidos sugerem que espécies de Selaginella investigadas podem ser indicadoras da presença de nitrato no solo. Assim como ocorreu com o nitrogênio, os dados de fósforo também foram reduzidos nos dois extremos do gradiente, ou seja, na Floresta de Restinga e na Floresta Ombrófila Densa Montana. Conforme previsto na literatura, as plantas podem adotar várias formas para a aquisição de nutrientes. Com efeito, a pesquisadora observou um gradiente de funcionamento entre as variedades de espécies em relação à quantidade de nitrogênio e fósforo nas folhas. Em consequência dessas variações, ela conseguiu achar duas espécies que são potenciais indicadoras de nitratos no solo, e que portanto podem ser utilizadas para a determinação da quantidade desse nutriente importante para a agricultura. Ela explica: “Se essa planta está se desenvolvendo bem em certo local, basta determinar nela a quantidade da enzima nitrato redutase na raiz, que transforma nitratos em nitritos, para verificar a presença suficiente deste elemento no substrato para a planta se desenvolver. A análise da enzima nitrato redutase pode ser realizada em poucos minutos, o que é sumamente importante do ponto de vista prático, porque elimina a necessidade de realizar uma análise de nitrato no solo”. Para Giseli, “de modo geral, as comunidades de samambaias e licófitas encontradas nos Núcleos Picinguaba e Santa Virginia são influenciadas pelas diferentes altitudes e pela heterogeneidade ambiental (fitofisionomias), tanto com relação à estrutura (variação de riqueza, abundância e diversidade), quanto aos aspectos ecofisiológicos. O conjunto de resultados obtidos acrescenta conhecimento ao existente acerca dos aspec-

Foto: Divulgação

tos ecológicos das samambaias e licófitas, além de melhorar a compreensão dos mecanismos envolvidos no uso do nitrogênio e do fósforo em florestas tropicais.

JUSTIFICATIVAS

Estudos divulgados revelam que há somente 7,9% da cobertura original da Floresta Atlântica e apenas uma pequena parcela desta está incluída em áreas de preservação, localizando-se a maioria destes remanescentes no Estado de São Paulo. Revelações como estas chamam a atenção para a emergência de conhecer melhor esta floresta para contribuir para o emprego de práticas para sua conservação. Os grupos-alvo selecionados para a investigação – licófitas e samambaias – apresentam características peculiares e interessantes com vistas a estudos ecofisiológicos, apresentando singularidade e importância biológica bem documentadas. A história filogenética destes grupos, com representantes bastante antigos e outros mais recentes provenientes de eras geológicas diversas, implica em importantes alterações nos processos ecofisiológicos relacionados à nutrição e fotossíntese. Segundo a autora, o conhecimento destas diferenças auxilia na compreensão da evolução destes processos ao longo da história das plantas. Não obstante, as diferentes guildas de formas de vida encontradas para os grupos também refletem mudanças nos mecanismos de aquisição, balanço e uso de nutrientes e fotossíntese, resultantes das diferentes respostas destas plantas ao ambiente em que se inserem. Por serem tão heterogêneas, tanto licófitas como samambaias são consideradas modelos para estudos dessa natureza.

MUITAS ESPÉCIES

Mesmo tratando-se de um centro de diversidade e endemismo para licófitas e samambaias, nas áreas analisadas pela pesquisadora não foram encontradas espécies desconhecidas ou novos registros para o bioma como era inicialmente esperado. Contudo, o número de espécies encontradas (150) pode ser considerado alto, pois no mesmo Estado apenas a Reserva Biológica de Paranapiacaba apresenta riqueza maior (214 espécies).

A bióloga Giseli Areias Nóbrega, autora da tese, em trabalho de campo: estudo abrangeu quatro vertentes

Aproximadamente 48,6% das espécies registradas enquadram-se na categoria de endêmicas da Mata Atlântica e cinco delas são consideradas vulneráveis, segundo a relação de flora ameaçada de extinção no Estado. A constatação ressalta a importância das áreas de preservação, como os Núcleos Picinguaba e Santa Virginia, do Parque Estadual da Serra do Mar, como refúgio para espécies mais sensíveis a alterações ambientais.

Publicação Tese: “Licófitas e samambaias em um gradiente altitudinal da Mata Atlântica, SP: diversidade, distribuição e aspectos ecofisiológicos” Autora: Giseli Areias Nóbrega Orientador: Marcos Pereira Marinho Aidar Unidade: Instituto de Biologia (IB)


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Fotos: Antonio Scarpinetti

Por um vinho mais frutado Técnicas de manejo de uvas acentuam buquê e diminuem compostos que depreciam a bebida

Uvas são testadas em laboratório da Faculdade de Engenharia de Alimentos: matéria-prima de qualidade faz toda diferença

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

m sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), a bióloga Daniele Rodrigues contribuiu com três técnicas de manejo de uvas – a de pulverização de nitrogênio, a de cobertura do vinhedo e a de dupla poda (ou inversão da colheita) – testadas em vinhedos do Estado de São Paulo e da França. As técnicas não só diminuíram a concentração de compostos off-flavours, que depreciam o vinho, ao conferir um sabor herbáceo de “pimentão verde”, como aumentaram a concentração de compostos aromáticos, bastante desejados para formar o buquê do vinho, ou seja, o aroma exalado da bebida. O estudo, feito entre 2009 e 2013 com financiamento da Capes, visou melhorar a qualidade das uvas porque, segundo a professora da FEA Helena Teixeira Godoy, orientadora da tese, não é possível produzir bons vinhos a partir de matérias-primas de baixa qualidade. Daniele procurou trazer novas opções aos produtores de uvas viníferas. Isso porque, informa ela, o Estado não tem uma participação expressiva na produção de vinhos finos, de modo que obter uvas de melhor qualidade colaboraria inclusive para a competição no mercado internacional. A tática foi essa. “O vinho nacional tem tudo para se tornar de excelente estirpe, com características diferentes de um vinho argentino, chileno, espanhol e italiano, mas com a cara brasileira”, expõe. As técnicas da cobertura do vinhedo e dupla poda foram aplicadas no Brasil para a redução dos compostos off-flavours e a técnica de pulverização de nitrogênio no solo, aprendida na França, para aumentar os compostos de aroma desejados, os frutados. A constatação foi que técnica da pulverização já está apta a ser repassada aos viticultores brasileiros. A pesquisadora, que desenvolveu doutorado-sanduíche pelo período de um ano no Instituto de Ciências da Uva e do Vinho, órgão ligado à Université Bordeaux-França, conta inclusive que se trata de um procedimento que pode ser realizado facilmente pelos produtores de uva. As técnicas mais usadas hoje são ainda muito dispendiosas, ao contrário da pulverização, realça a orientadora, que não deverá encarecer a produção da uva no Brasil, embora haja poucos estudos de viabilidade a esse respeito. Além do mais, pelo que se percebe, a influência do nitrogênio ainda é pouco estudada. A bióloga mostrou em seu trabalho que a adição de nitrogênio pode ter um efeito benéfico na produção do vinho final e que essa técnica pode ser combinada a outras de pulverização. O sal nitrogenado não é tóxico e, com ele, simplesmente se faz uma correção de sua quantidade no solo. Assim, é absorvido pela planta e passa para a uva. Quando a fruta estiver na etapa de fermentação, o nitrogênio absorvido do solo servirá como fonte de nutriente aos microrganismos responsáveis pelo processo fermentativo. O resultado é que a biomassa (quantidade de microrganismos) se multiplica e exerce uma maior atividade metabólica, produzindo compostos como os alcoóis e ésteres (substâncias responsáveis pelo aroma), fornecendo um vinho com aroma mais frutado. Um detalhe: falta estudar a quantidade de nitrogênio necessário para evitar malefícios à videira e atingir os patamares almejados. Conforme a professora Helena, existem outras formas de tornar o vinho melhor. Ela enumera as técnicas de fermentação, o emprego de microrganismos mais apropriados às uvas nacionais e o treinamento de pessoal para a fabricação do vinho. Em sua opinião, as pessoas ainda resistem muito à adoção de novas técnicas. Com isso, prevalece a produção de vinho artesanal, com informações de pai para filho. Já, em países

POSIÇÃO

A bióloga Daniele Rodrigues: “O vinho nacional tem tudo para se tornar de excelente estirpe”

desenvolvidos, os investidores tendem a buscar novos conhecimentos e trazê-los para as técnicas de produção. No Brasil, a pesquisadora trabalhou apenas com o vinho Cabernet Sauvignon, uma varietal de uva que origina um vinho mais seco e, na França, com o Cabernet Sauvignon, com o Merlot e com o Cabernet Franc, todas variedades Vitis viniferas para a produção de vinhos finos. O vinho Cabernet Sauvignon, em particular, lida muito com a presença de compostos off-flavours. “Nossa atitude consistiu em reduzir a concentração desses compostos”, expõe a autora do estudo. A investigação ajudou a combater o aroma herbáceo produzido por substâncias conhecidas como metoxipirazinas. O que acontece com os vinhos brasileiros é que a colheita de uva é feita em uma época de alta intensidade pluviométrica, obrigando os viticultores a colherem antes do tempo. Não havendo maturação completa, elas não alcançam um nível ideal de acidez e de açúcar. Logo, as metoxipirazinas acabam se sobressaindo e sendo repassadas ao vinho, pois não desaparecem na fermentação. Para diminuir a concentração desses compostos na uva e no vinho, Daniele então recorreu à técnica de cobertura do vinhedo com plástico transparente, que

A professora Helena Teixeira Godoy: produtores resistem à adoção de novas técnicas

demonstrou ter uma baixa complexidade, além de não demandar um alto investimento. O trabalho foi desenvolvido na cidade de Campos do Jordão. Cobrindo o vinhedo, explica a pesquisadora, cria-se um microclima embaixo da cobertura, formando um efeito estufa – que eleva a temperatura e propicia que a uva atinja sua maturação mais rapidamente. Desse modo, a colheita já não ocorrerá na época das chuvas e estará pronta um pouco mais cedo. Uma terceira técnica, a dupla poda, foi praticada em São Bento do Sapucaí, com o fim de retardar o amadurecimento da uva. Em vez de ficar pronta no verão, que geralmente é a época da colheita em todo o Brasil, a uva é colhida no inverno, num período de seca. Com o tempo mais seco, anula a interferência da chuva durante a colheita da uva. A água absorvida certamente passará para o vinho, tornando-o mais aguado e sem embocadura (não vai ficar encorpado). Um outro problema ocasionado pelas muitas chuvas de verão é que a uva normalmente absorve água e pode favorecer o crescimento de fungos, por ficar muito úmida.

OUTROS RESULTADOS

A doutoranda revela que na França a pulverização de nitrogênio acelerou a fermentação. Os vinhos ficaram prontos em menor tempo e isso significa que ele serviu como nutriente e aumentou a concentração dos microrganismos ali presentes durante a vinificação. Também os vinhos oriundos das videiras, que receberam as maiores concentrações de nitrogênio no solo, apresentaram aromas frutados mais pronunciados. No Brasil, a bióloga percebeu que as técnicas foram eficientes para reduzir os compostos off-flavours, porém a dupla poda – a técnica em que se inverteu a colheita do verão para o inverno – foi mais eficiente ainda, visto que, como no inverno há uma temperatura mais baixa, a uva demorou mais tempo para atingir sua maturação completa. Até que a uva atingisse os níveis ideais de açúcar e acidez, as metoxipirazinas foram usufruindo desse tempo para sofrerem degradação. Quando a uva completou sua maturação, os níveis de off-flavours eram mínimos e isso acabou não interferindo no buquê aromático do vinho final. “Tanto a técnica de cobertura do vinhedo quanto a de dupla poda se mostraram promissoras na redução dos off-flavours. Mas, para o produtor, a técnica mais exequível seria a da inversão ada poda”, salienta Daniele.

Entre as bebidas de projeção internacional produzidas internamente, o Brasil hoje já se situa entre os melhores espumantes do mundo, tendo esse reconhecimento internacional. A partir de 2004, saltou de uma produção anual de 6 milhões de litros para 15 milhões. Em termos de vinhos, sobretudo os tintos finos (não os de mesa), são produzidos com uvas viníferas, com as quais o Brasil não tem uma larga tradição. Apesar disso, o Estado do Rio Grande do Sul, pelas próprias características de vinhedos antigos que produz, está melhorando seus vinhos. Santa Catarina está investindo em vinhos tintos e de uvas viníferas brancas. Além do mais, no Nordeste, a área cultivada está se expandindo, o que também traz a necessidade de uma carga de matéria-prima à altura da produção de vinhos. Isso tem motivado o interesse de investidores na região. Uma falha no processo, explana a orientadora, é que o Brasil ainda não dispõe de um banco de dados confiável do quanto produz, do quanto está plantando de uvas viníferas e não viníferas, mas principalmente da produção de vinhos finos. Por outro lado, faltam políticas públicas de incentivo e de capacitação na área e, mesmo se propagando que o consumo moderado do vinho pode ser bom à saúde, ainda discute-se se os benefícios dos compostos justificariam o risco do consumo do álcool na bebida. Ainda não se estabeleceu um ideal de teor alcoólico: se um cálice de vinho por dia ou dois; ou se isso é meramente um mito. Fato é que, em regiões como a França, Itália, Espanha e Portugal, vinhos são mais consumidos do que sucos e refrigerantes. E, nesses locais, verifica-se um baixo índice de doenças cardiovasculares, aumento da expectativa de vida e menos problemas de saúde.

MERCADO

Em 2012, o Brasil exportou 5,77 milhões de litros de vinhos, enquanto importou 74,20 milhões de litros. Assim, o país apresentou um défice de quase 70 milhões de litros de vinho, o que representa um total de 276, 21 milhões de dólares. Foram consumidos 95,82 milhões de litros de vinhos finos, sendo que 77,45% dos vinhos comercializados no Brasil são importados. O vinho fino nacional, mesmo melhorando sua qualidade, conquistando reconhecimento no exterior e ganhando espaço na mídia, ainda não atingiu uma boa colocação no mercado mundial graças à alta qualidade dos importados. Para Daniele, a melhoria da qualidade dos vinhos de V. viniferas no país e a sua manutenção em safras sequenciais não apenas alavancarão novos mercados, mas também apurarão a presença dos vinhos finos no mercado interno, atraindo inclusive a confiabilidade dos consumidores.

Publicação Tese: “Influência de diferentes práticas viticulturais sobre a fermentação alcoólica e a formação de compostos de aroma em cultivares Vitis viniferas” Autora: Daniele Rodrigues Orientadora: Helena Teixeira Godoy Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: Capes


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Campinas, 7 a 13 d

Grupo concebe técnicas forense de fotografias e Fotos: Divulgação/ Reprodução

Inteligência artificial e visão computacional fundamentam métodos desenvolvidos no Instituto de Computação SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

o final de 2011, a multinacional italiana Benetton causou polêmica mundial ao divulgar uma campanha publicitária denominada “unhate”. O propósito era fazer uma espécie de desagravo contra a cultura do ódio e da homofobia. Nos outdoors exibidos pela marca de moda de Treviso, várias fotomontagens de líderes mundiais se beijando – entre eles, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com Hugo Chávez, da Venezuela; e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu. De tão bem produzidas, as imagens alertaram sobre outro aspecto para além da intolerância cultural. Autoridades, políticos, personalidades e cidadãos comuns são, cada vez mais, alvos de falsificações e montagens em fotografias e documentos digitais. A própria presidente brasileira Dilma Rousseff se viu constrangida em 2009, quando ainda era pré-candidata e ministra da Casa Civil do governo Luís Inácio Lula da Silva. Algum tempo depois ela conseguiu provar que era falsa uma ficha criminal relatando a sua participação no planejamento e execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-1985). O documento foi publicado um ano antes da eleição presidencial de 2010 pelo jornal Folha de São Paulo. Junto, uma reportagem tratando do suposto plano da organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), da qual Dilma teria feito parte, para sequestrar, em 1969, o então ministro da economia, Antônio Delfim Netto. Mais tarde o grupo Folha reconheceu o erro. Nos ano passado, outro político brasileiro, cujo nome não pode ser divulgado, foi acusado de pedofilia. A denúncia se baseava em imagens pornográficas divulgadas na internet. Para alívio do envolvido foi provado que as fotografias eram montagens bem elaboradas com recursos sofisticados nos editores de imagens. Nas duas situações descritas, a atuação do docente Anderson Rocha, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, foi imprescindível para evidenciar a falsificação das fotografias e documentos. “O caso da presidente Dilma foi um dos primeiros que analisei, junto com o meu colega, o professor Siome Klein Goldenstein. Mostramos que se tratava de um documento falso. Foi o caso da ficha do Dops [Departamento de Ordem Política e Social do governo militar]”, lembra o docente do IC. Diante das imagens da campanha da “unhate”, ele divulga o desenvolvimento de quatro técnicas inéditas para análise forense de imagens digitais. Os métodos, baseados em inteligência artificial e visão computacional, consistem em revelar incoerências nas fotografias e documentos falsificados, muitas vezes, impossíveis de serem detectadas pelo olho humano ou por meio de técnicas tradicionais. O grupo de computação forense liderado por Anderson Rocha no Laboratório de Inferência em Dados Complexos (Recod) do IC está entre poucos no mundo que pesquisa, na linha de frente, falsificações em documentos digitais. Com patentes neste campo e publicações de alto impacto em vários periódicos internacionais, a equipe possui parcerias com as universidades de Erlangen-Nuremberg, da Alemanha; Laval, no Canadá; e Dartmouth College, nos Estados Unidos. Há ainda colaborações da União Europeia, Polícia Federal (PF) e de companhias na área de tecnologia da informação, como Microsoft e Samsung. “Atualmente, as imagens e vídeos digitais se tornaram uma das principais ferramentas de comunicação entre os seres humanos. O baixo custo e a alta tecnologia dos dispositivos de captura, aliados ao aumento da interconectividade dos cidadãos, trazem muitos benefícios, mas também consequências negativas, como o aumento da circulação de documentos falsificados em nosso dia-a-dia. Ferramentas de manipulação poderosas têm permitido que usuários comuns tornem-se potenciais especialistas na manipulação da verdade”, alerta o docente.

Ficha criminal falsa de Dilma Rousseff, publicada em 2009: pesquisas do IC mostraram que documento havia sido forjado

Os estudos, de acordo com ele, inserem-se no âmbito de linhas de pesquisas conduzidas no Instituto de Computação da Unicamp sobre computação forense digital. “Propomos a investigação de possíveis soluções para problemas relacionados à coleta, organização, classificação e análise de evidências digitais. Temos analisado falsificações de imagens, vídeos, ataques em sistemas de biometria, roubos de impressão digital, técnicas de reconhecimento humano, desenvolvendo soluções nesta área. Também ministramos cursos e palestras, inclusive, para policiais federais e técnico-científicos”, revela.

TÉCNICAS Entre as novidades das técnicas está a automatização do processo. A detecção automática permite, em poucos segundos, que usuários sem conhecimentos específicos façam a verificação de inconsistências. Isso é possível em três métodos, conforme o professor da Unicamp. A quarta técnica exige do usuário um pouco mais de conhecimento sobre o processamento de imagens. Os trabalhos, informa, vêm sendo conduzidos pelo pesquisador Tiago José de Carvalho, sob sua orientação, e do professor Hélio Pedrini, também do Instituto de Computação. Tiago de Carvalho realizou parte dos seus estudos por meio de doutorado sanduíche no Dartmouth College, em Hanover, nos Estados Unidos. A expectativa é que a tese, financiada pela Unicamp e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), seja defendida em fevereiro de 2014. “Todos os processos são voltados à classificação de imagens envolvendo pessoas. A primeira técnica objetiva encontrar, de modo automatizado, inconsistências em fotografias utilizando a inteligência artificial e visão computacional. Ela analisa como a pele facial da pessoa fotografada responde às diferentes formas de iluminação”, detalha o cientista da computação Tiago de Carvalho.

Ele explica que cabe ao usuário selecionar no software desenvolvido as faces dos indivíduos numa determinada imagem. A partir disso, um conjunto de algoritmos fornece a resposta, ou seja, se aquela imagem é verdadeira ou falsa. O método é capaz de detectar corretamente, e de modo automatizado, mais de 85% dos casos. Para as demais situações em que não é possível a identificação automática, outras técnicas forenses podem ser associadas. “Imaginemos duas pessoas numa montagem: uma delas está num dia ensolarado. A outra, num local com sombra. Suponha ainda que elas estavam em fotografias diferentes. A iluminação no dia ensolarado incidiu na pele da pessoa e levou a uma resposta específica. E a iluminação no dia com sombra incidiu na pele da outra pessoa levando a outra resposta. Quando um indivíduo foi num editor de imagem e combinou estas duas fotografias, há uma grande inconsistência nas respostas do mesmo material [pele] às diferentes formas de iluminação”, complementa o orientador Anderson Rocha. A iluminação neste caso teria que ser única, mas ela não é, acrescenta o docente. O algoritmo desenvolvido calcula justamente esta inconsistência. Depois de analisar a imagem, o software fornece duas assinaturas: pristine, verdadeiro; ou fake, falso. O que o programa faz é verificar incoerências de textura, ou seja, como um pixel, o menor ponto que forma uma imagem digital, varia em relação aos pixels vizinhos. “Há situações em que a iluminação é bastante complexa. Num ambiente externo, ela é mais simples, pois existe uma fonte dominante que é o sol. Todavia, no plano interno, há tantas iluminações artificiais quanto se queira. Há ambientes com 50 iluminações diferentes, por exemplo. E o olho humano não consegue apontar todas essas inconsistências exatamente por conta disso. É aí que entra o nosso método baseado em inteligência artificial”, ilustra. O pesquisador Anderson Rocha esclarece que não pretende submeter um pedido de patente para esta técnica. “Vamos disponibilizar em forma de software gratuitamente para o público baixar, após a conclusão do doutorado. Neste caso, imaginamos que haverá um grande interesse de organizações, principalmente públicas, como a própria polícia”, ressalva. O trabalho contou com a colaboração de estudiosos da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha. Além de possibilitar aos cidadãos que façam a própria análise de inconsistências em falsificações, a automatização vai permitir que peritos realizem maiores quantidades de investigações. “Nas redes sociais, por exemplo, tem muita gente fazendo ‘impersonation’, tentando denegrir as imagens dos outros. O perito pode colocar um filtro e o software vai lhe enviar somente aquelas imagens marcadas com maior probabilidade como sendo falsificadas. Adicionalmente, mais análises podem ser consideradas, embasando, ainda mais, a investigação”, prevê o pesquisador.

REFLEXÃO

DOS OLHOS

Outra técnica avalia a iluminação e reflexão da luz por meio do brilho dos olhos das pessoas. Quando uma fotografia é tirada, o olho humano exibe uma espécie de brilho conhecido como reflexo especular, permitindo o cálculo da posição em que o fotógrafo estava quando clicou a câmera e, também, da direção da luz incidente no indivíduo da foto. “Suponhamos que uma montagem tenha duas pessoas. Um determinado fotógrafo tirou uma foto no dia X em um ângulo A. O outro, fotografou no dia Y em um ângulo B. Se alguém combinou essa imagem, nós teremos dois tipos diferentes de reflexos especulares nos olhos, de dois fotógrafos e duas posições de iluminação diferentes.


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de outubro de 2013

inéditas para análise de documentos digitais Quantos fotógrafos podem ter para uma foto?”, exemplifica o coordenador dos trabalhos. Esta técnica é uma continuação de estudos realizados pelos cientistas Hany Farid, do Dartmouth College; e Micah Kimo Johnson, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). As investigações contaram com a colaboração da pesquisadora do IC Priscila Corrêa Saboia.

DIREÇÃO

DA LUZ

O terceiro método, ainda em andamento, objetiva descobrir incoerências entre as imagens por meio das direções de luz. Trata-se de uma colaboração com a área de realidade virtual da Universidade Laval, em Quebec, no Canadá. Tiago de Carvalho explica que, dadas às devidas restrições e simplificações, é possível descobrir em uma fotografia a luz predominante que incide na cena e de onde ela vem, por meio do cálculo da sua angulação. “Vamos considerar que em uma imagem falsificada, existam duas pessoas combinadas. Não tem como, por exemplo, o sol estar em uma posição para uma pessoa e em outra posição para outro indivíduo. Este método vai estimar a posição da luz dominante e, se houver inconsistência, ele vai apontar a falsificação”, demonstra. O último trabalho, também em desenvolvimento, exige um pouco mais de conhecimento do usuário. A técnica trabalha com a questão da dimensão que se perde na fotografia. “É uma parceria com o Dartmouth College. Estamos tentando incluir as análises por terceiras dimensões”, resume Anderson Rocha.

WTC, FILOGENIA

E O QUE NÃO SE VÊ

No dia 11 de setembro de 2001, data que abalou o mundo com os atentados terroristas aos Estados Unidos, Anderson Rocha era ainda estudante do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal de Lavras. De lá para cá, ele fez mestrado, doutorado e pós-doutorado na Unicamp, sempre atuando na área de inteligência artificial, visão computacional e computação forense. Obteve distinções importantes, entre as quais o prêmio Capes de melhor tese de doutorado e o reconhecimento da Microsoft, que o nomeou, em 2011, como o primeiro ‘faculty fellow’ latino-americano da Microsoft Research.

Um dos métodos utilizados pelos pesquisadores para detectar a manipulação de imagens: parceria com universidades do Exterior

“Interessei-me pela computação forense quando aconteceu o atentado terrorista ao World Trade Center. Na época, havia informações correntes na mídia de que o ataque teria sido coordenado por mensagens ‘escondidas’ em fotografias. Nunca se provou nada em relação a isso, mas também não há evidências em contrário. O fato é que fiquei interessado em saber como uma fotografia poderia trazer uma mensagem subliminar”, lembra. Para o professor da Unicamp, tão importante quanto revelar a autenticidade de imagens é descobrir a fonte geradora da falsificação, algo conhecido como filogenia multimídia. “O indivíduo cria uma falsificação de uma pessoa Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Anderson Rocha (dir.), coordenador das pesquisas, e o pesquisador Tiago José de Carvalho: muitas fraudes não são detectadas pelo olho humano

importante por motivos diversos, divulga na mídia e aquilo torna-se ‘viral’. Como você prova que isso é verdadeiro ou falso? E mais: como se descobre quem colocou aquela imagem na rede?”, indaga. O processo envolve, de acordo com ele, a análise do documento em si: descobrir se ele é modificado ou não. “Constatado que houve alteração, é preciso desvendar de onde veio. É o que nós chamamos de fazer o ‘trace back’, ou seja, rastrear aquela fotografia. Nesse sentido, identificamos como que este documento se relaciona com outros que são muito parecidos, chegando, deste modo, ao documento originador [raiz] do conjunto. Isso é filogenia multimídia. Ao associarmos esta informação a informações extras de provedores, por exemplo, podemos identificar fisicamente os indivíduos divulgando tais dados”, explica. As investigações na área de filogenia forense vêm sendo desenvolvidas pelo doutorando Filipe de Oliveira Costa e o mestrando Alberto Arruda de Oliveira, sob orientação de Anderson Rocha. Além deles, participam do trabalho a pesquisadora Marina Atsumi Oikawa e os docentes Siome Goldenstein e Zanoni Dias, todos do IC. As pesquisas realizadas pelo professor Anderson Rocha contam com financiamento da União Europeia, Microsoft, Samsung Eletrônica da Amazônia, Capes, CNPq e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Nós também ministramos aqui no IC uma disciplina de pós-graduação eletiva sobre análise forense de documentos. É aberta aos alunos de graduação em estágio mais avançado do curso e aos demais interessados, que podem se inscrever como alunos especiais. A disciplina é regularmente oferecida no segundo semestre de cada ano”, divulga.

Publicações

Mosaico com fotos de governantes se beijando, em campanha da Benetton: montagens e manipulações de imagens na berlinda

CARVALHO, TIAGO JOSE DE ; RIESS, CHRISTIAN ; ANGELOPOULOU, ELLI ; PEDRINI, HELIO ; ROCHA, ANDERSON. Exposing Digital Image Forgeries by Illumination Color Classification. IEEE Transactions on Information Forensics and Security, v. 8, p. 11821194, 2013. SABOIA, P. ; CARVALHO, T. J. ; ROCHA, A.; Eye Specular Highlights Telltales for Digital Forensics: A Machine Learning Approach. In: IEEE Intl. Conference on Image Processing (ICIP), 2011, Bruxelas. IEEE Intl. Conference on Image Processing (ICIP), 2011. CARVALHO, Tiago ; PINTO, A. ; SILVA, E. ; COSTA, F. O. ; PINHEIRO, G. R. ; ROCHA, A.; Crime Scene Investigation (CSI): da Ficção à Realidade. In: ERI-MG. (Org.). Anais da VII Escola Regional de Informática de Minas Gerais. 1ed. Juiz de Fora: , 2012, v. , p. 1-23 CARVALHO, T. ; SILVA, E. ; COSTA, F. O. ; FERREIRA, A. ; ROCHA, A.; Além do óbvio: a análise forense de imagens e a investigação do conteúdo implícito e explícito de fotografias digitais. In: Workshop de Forense Computacional - Simpósio Brasileiro de Segurança da Informação e de Sistemas Computacionais (SBSeg 2012), 2012, Curitiba.


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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013 MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

A desculpa do fiel torcedor é estar com o clube do coração na vitória ou na derrota. Sofrer é o verbo quando a admiração, em fase próspera, torna-se amor eterno e, depois de algumas décadas, o time se equilibra na corda bamba. É este o verbo aplicado pelo fisioterapeuta Fábio Martins, do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) da Unicamp, quando declara seu amor pela Ponte Preta. – Hoje eu sofro. Dérbi, então, não consigo assistir. Nasci em 13 de outubro, dia do fisioterapeuta. Dia também em que a Ponte Preta perdeu a final para o Corinthians, em 1977. Sempre há uma explicação para a paixão futebolística, e a de Fábio começou em tempos áureos da alvinegra, na classificação para a final do Paulistão contra o Corinthians, em 1977. Tempos áureos, porém, com resultado triste, facilitado, dizem, pelo centroavante Ruy Rei, da Ponte, naquele 13 de outubro, que foi expulso no início da partida vencida pelo time paulistano. Também, o pai, José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp, tinha de escolher justamente a “porta” do estádio para fixar residência, em 1967, ao ser aprovado no concurso para a Faculdade de Medicina de Campinas? – Rua José Marchetti. Nasci na rua do estádio, em 1968. Fábio cresceu de olhos bem abertos para a movimentação da torcida e da vizinhança que, se não falha a memória, era quase 100% “Ponte Preta sempre, sempre, na derrota ou na vitória”. O jeito era vestir a camisa e convencer o pai, chegado de Santos, litoral paulista, torcedor da Portuguesa Santista, a levá-lo ao jogo da final. Seria somente uma partida de futebol, mas se tornou uma data inesquecível. – Era meu aniversário de 9 anos, então pedi de presente que me levasse à partida em que a Ponte poderia ser campeã. “Não pude comparecer, ainda bem.” Aprendi ali que seria difícil, porém, para sempre. Depois desse indesejado resultado, Ruy Rei seguiu em frente, e Dulcídio Wanderley Boschilla, o juiz que o expulsou, passou a ser o terror do torcedor pontepretano. A cada atuação sua em torno na “Nega Veia”, como ainda chamam alguns torcedores, o clima era de apreensão. Da Ponte Preta, ele lembra de tudo, inclusive de usar as cores do time na decoração da casa. Paredes e objetos denunciam a adoração, mas quem quer esconder mesmo? Tanto não esconde, que já aceitou ser fonte para matérias jornalísticas em momentos importantes do time. E pontepretano declarado não pode atuar no campo como fisioterapeuta, na opinião de Fábio. – Até pode, mas se conseguir evitar envolvimento emocional quando, por exemplo, tiver de dizer ao atleta que ele vai demorar a jogar novamente.

CUIDANDO DE ATLETAS

E Fábio conhece de perto essa experiência, pois, além de fazer parte do conselho administrativo do clube durante um período, atuou como fisioterapeuta, tratando

Fábio,

Torcedor fanático, fisioterapeuta foi um dos criadores de programa para funcionários

da Ponte Preta ao Mexa-se inclusive vários atletas em sua clínica, na maioria das vezes sem receber nada por isso. Viu de perto o melhor em campo ter de ser substituído em partida importante. Mas, para os veneradores, o nome da Macaca será “uma glória, sempre, sempre, na derrota ou na vitória”. Venerar é pouco. No espaço gourmet de sua casa, onde costuma elaborar e experimentar cardápios variados para receber família e amigos, a TV transmite apenas dois canais de esporte. Um deles, claro, especial para a Macaca. – Nem adianta alguém querer assistir outra coisa, não conseguirá. É meu momento. Até porque o esporte foi introduzido em sua vida na infância. Ou melhor, na primeira infância. – Há foto de meu pai comigo, ainda bebê em 1968, no terreno onde hoje é a Faculdade de Educação Física (FEF), onde começou minha paixão pela educação física. Meu pai sempre nos incentivou a buscar qualidade de vida e atividades físicas, e trago isso para a vida de meus filhos desde pequenos. Tive uma infância que as crianças de hoje não têm, de fazer o próprio brinquedo, brincar na rua, subir em árvores, comer produtos naturais, nadar sem aula. O hábito acabou virando compromisso. Fábio foi treinar futebol ainda criança. Adivinhem onde? – Comecei brincando. Quando vi, estava conquistando campeonato paulista de futebol de salão pelo Tênis Clube, inclusive fui convocado para a seleção. Depois atuei na equipe de juniores da Ponte Preta. Mas também joguei pelo Guarani, na equipe profissional. Mais tarde, fui para Portugal e acabei voltando para o futebol de campo lá. Com pai e tio a incentivar, que menino fugiria do destino? Fábio nunca teve tempo de questionar se era bom ou ruim. Único homenzinho na família, era levado também pelo tio, diretor da Portuguesa Santista por muito tempo. Sem filhos, fez questão de ensinar ao sobrinho como é dominar aquele objeto tão cobiçado pela maioria dos garotos. Mas a prática de esportes tinha de ser aliada à dedicação aos cadernos e aos livros, o que para Fábio não era problema. A irmã acaba de ser campeã de hipismo em Denver.

– Quando queria brincar, meu pai autorizava, mas deixava claro: “Na quinta-feira, vou perguntar o que entenderam do livro”. Kri, Chokito, Prestígio e outros chocolates à mesa, e o pai perguntava: – Querem comer isto? Mas antes tem esse prato de legumes para consumir. Estes recados nunca abandonaram a vida de Fábio, que relembra com carinho as cenas. – Agradeço muito. Sempre li muito e, quando quis estudar fisioterapia, passei com tranquilidade no vestibular. Da história do pediatra e da psicóloga, ele não perde nem o silêncio da pausa. – Minha mãe é do Recife, estudou psicologia. Meu pai nasceu em Santos. Casaramse em 30 de dezembro de 1967 e, logo em seguida, ele soube que teria uma Faculdade de Medicina em Campinas e prestou concurso. Foi morar justamente naquela casa, na frente do Moisés Lucarelli. Mas os militares chegaram ao poder, e tivemos de mudar para a Europa. Passamos dois anos fora. Assim que voltamos, comecei a frequentar o estádio. Apaixonou-se pela fisioterapia ortopédica ao observar o profissional que lhe oferecia tratamento para uma lesão no joelho. Depois, decidiu fazer educação física, com foco em medicina esportiva, e especializouse em reeducação postural global (RPG) no método original francês, com o criador Phillippe Souchard. Hoje, além da dedicação aos pacientes da Unicamp, para não se distanciar da paixão esportiva, forma fisioterapeutas e educadores físicos em uma universidade. O acúmulo de atividades não incomoda, pelo contrário, Fábio quer contagiar as pessoas a sua volta, principalmente para participar do projeto “Mexa-se”, de que faz parte ao lado de muitos profissionais da Universidade. O prazer de ver a paciente, que chega quase descrente, dar seus primeiros e tímidos passos e ficar na ponta do pé é indescritível, segundo o fisioterapeuta. Algumas pessoas devem se lembrar do período de reabilitação de uma funcionária que vinha para a Universidade com o auxílio de um andador. Hoje, ao vê-la caminhando sem ajuda, saibam: Fábio fazia parte da equipe. Foto: Antonio Scarpinetti

O fisioterapeuta Fábio Martins, do Cecom: “Quanto mais a empresa economiza em programas de qualidade de vida, mais gasta para remediar”

– Sou um dos “fundadores” do Mexase. Tentamos introduzir atividade física para servidores, docentes e alunos. Eles são multiplicadores. Começamos com grupos terapêuticos. Percebi que as pessoas vinham do mesmo lugar, se queixando das mesmas dores, então, não percebemos que o problema eram as pessoas, mas sim o lugar. Então, a equipe começou a atuar na área de ergonomia, fazendo trabalho de profilaxia e ginástica laboral. Isso evita muitos males, inclusive a necessidade de cirurgia. Na Unicamp desde 1997, Fábio sente-se honrado por trabalhar em uma instituição (e uma equipe) que se preocupa com a saúde de seus colaboradores. E facilita o acesso à qualidade de vida. – Todo mundo pode fazer. Não existe roupa especial, cobrança. Oferecemos alongamento, dança de salão, passeio ciclístico, grupos de hipertensão e obesidade, com equipe multidisciplinar. Ser fisioterapeuta também tem as gratificações, segundo Fábio. – É o profissional que mais recebe ovo de páscoa. O contato com o paciente é quase diário, semanal, enquanto em outras áreas, o retorno demora de 30 a 90 dias. Isso propicia a amizade entre os profissionais e os pacientes. Fui a casamento de pacientes. Sou padrinho de filha de paciente. Essa gratidão deles não tem preço. E não é somente de sua crescente rede de amigos que Fábio se orgulha: – Quando fazemos laboral não estamos somente realizando trabalho de promoção à saúde, mas oferecendo uma atividade social. Bastam algumas aulas para que eles comessem a convidar um ao outro para festas e alguns eventos. E sempre mostro isso como exemplo no ambiente de trabalho. Sempre pergunto às pessoas se elas se relacionam fora daqui, ou se conhecem a família do outro, a data de aniversário da esposa do outro. O trabalho do fisioterapeuta acaba sendo abrangente e a fisioterapia ortopédica me proporciona retorno rápido também. Ao ver o índice de tabagismo e alcoolismo despencar na Unicamp, Fábio comemora o sucesso do Programa Viva Mais. – Vejo diminuir o tabagismo. Diminuir o sedentarismo. E constato que depois de dez anos a saúde do colaborador está melhor. Nossa, fiquei chocado ao ver como as pessoas engordaram com a introdução da informática na Universidade. Esses programas têm sido muito benéficos para as pessoas. E quanto mais a empresa economiza em programas de qualidade de vida, mais gasta para remediar. Posso mensurar pelo menos 500 pessoas que evitaram cirurgias e ainda colocaram a família para andar. E acentua: – Hoje, é possível fazer exercício sem gastar dinheiro e sem precisar de uma terceira coisa. Pode fazer de forma natural. E sem sofrer. Até porque sofrer com prazer só mesmo pelo estandarte preto e branco, o qual o filho mais novo, de 9 anos, Felipe, já aprendeu a admirar, apesar de Fábio ter se esforçado desde o encontro na maternidade para ter dois “pontepretaninhos” em casa. – Fiz a carteirinha de sócio-torcedor deles antes de fazer a certidão de nascimento. É brincadeira, mas só não fiz porque precisava da certidão – brinca, assim como faz com cada paciente que entra na sala para se despedir. Afinal, participa da vida dos pacientes também em momentos bem distintos: na derrota (quando chegam) e na vitória (quando saem curados).


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Por uma relação Tese desenvolvida no IG relata exemplo de interação entre lideranças indígenas e a universidade PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

s professores indígenas que atuam nas aldeias do país devem ser qualificados em nível superior. Mais que uma obrigação legal, este foi um direito garantido pela Constituição de 1988. A escola indígena tem reconhecidamente características que a diferenciam. Mas, apesar da criação do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind), em 2005, há, até hoje, apenas três experiências formais de terceiro grau indígena no Brasil. O trabalho pioneiro, realizado desde 2001, na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), é objeto de tese de doutorado defendida pela pesquisadora Iraci Aguiar Medeiros no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. As outras duas experiências foram realizadas nas Universidades Federais de Roraima e Minas Gerais. “O objetivo da pesquisa foi analisar uma experiência de articulação entre a universidade e o movimento indígena. Verifiquei qual a relação do conhecimento tradicional indígena que os professores trazem para a universidade com o conhecimento científico, e como se dá a relação desses diversos saberes”, explica a pesquisadora. Ecologia dos saberes é o termo utilizado pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos, para designar o conhecimento produzido na universidade a partir da interação com outros saberes. O tema é relativamente recente e suscita ainda muitos debates. Entretanto, a pesquisadora parte da afirmação de que, no caso da experiência da Unemat, que envolve uma relação intercultural, houve de fato a ecologia dos saberes, foco da tese. Os professores indígenas que fazem graduação na universidade mato-grossense são provenientes de vários povos e etnias. O terceiro grau tem servido para resgatar tradições que estavam se perdendo nas aldeias. “Eles não vêm para a universidade só para aprender as ‘coisas de branco’ mas, a partir do envolvimento nos cursos, conseguem trazer de volta as tradições culturais da aldeia, músicas e rituais que voltam a realizar.” A troca de conhecimentos e o uso de metodologia científica para o resgate de suas próprias vivências caracterizam, segundo Iraci, a relação intercultural. “Os indígenas fazem muita pesquisa com os idosos das aldeias. Eles conseguem, de fato, recuperar tradições que são registradas e podem compor material didático, passando a adotar aquela prática do conhecimento tradicional.” A autora da tese ressalta o caráter coletivo de todas as decisões tomadas pelos povos originários. A decisão de enviar um professor da aldeia para a universidade parte de todos. “O interesse é coletivo, a aldeia é quem decide quem vem e a própria comunidade faz o acompanhamento do trabalho do professor. Ele repassa tudo o que aprendeu e tem um papel fundamental, porque é visto como um enviado que tem a oportunidade de estudar e assim ajudar seu povo”, afirma. Iraci complementa que o professor passa a ser uma liderança importantíssima na aldeia e, em alguns casos, torna-se cacique.

uma relação mais simétrica com a comunidade não indígena. O ponto central para os povos indígenas é conseguir reivindicar seus direitos por meio das ferramentas que eles passam a dominar. “A manutenção da terra é fundamental para eles, é uma questão de sobrevivência”, salienta a pesquisadora. De acordo com a autora da tese, no caso da Unemat todos os indígenas que frequentam a universidade moram nas aldeias, a maioria no Parque Indígena do Xingu. “Grande parte já está em terras reconhecidas ou em aldeias estruturadas. Mas há ainda os povos em conflito como os Xavantes, por exemplo.” Muitas lideranças dos movimentos que reivindicam a manutenção da terra foram alunos da Unemat. Os professores e os líderes das aldeias reconhecem, portanto, a importância do saber ler e escrever português como ferramenta de interlocução com a sociedade não indígena.

Cerimônia de formatura, crianças e professor em escola indígena: vários povos e etnias

MOVIMENTO INDÍGENA

Antes de abordar a ecologia de saberes, a tese de Iraci se constitui em uma discussão sobre a trajetória do movimento indígena no Brasil desde a década de 1970 até os direitos conquistados na Constituição de 1988. A partir de 1990, a proposta do estudo é debater o protagonismo dos povos indígenas a partir da atuação dos professores na conquista das legislações e de uma série de direitos, entre os quais a manutenção da terra de origem. A educação escolar indígena diferenciada surge a partir da década de 1990. A princípio sob a tutela da Fundação Nacional do Índio (Funai), a educação dos povos nativos passou para a esfera do Ministério da Educação (MEC), em 1990. “Houve uma série de conquistas formalizadas pela lei federal como, por exemplo, a lei que estabelece escola indígena diferenciada nas aldeias com professores indígenas, além da necessidade de formação do professor”. Toda a articulação do movimento indígena é recuperada na tese. A mudança de paradigmas na oferta de educação escolar às comunidades indígenas foi gradativa, mas por muitos anos esteve pautada pela catequização, civilização e integração forçada dos índios à sociedade nacional. “Ou seja, servindo de instrumento de imposição de valores alheios e negação de identidades e culturas diferenciadas” salienta Iraci. No modelo de escola do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), que precedeu a Funai, predominava a formação de trabalhadores rurais voltados para o mercado regional. “Desde 1991 está em tramitação no Congresso Nacional um novo Estatuto dos Povos Indígenas, que envolve reivindicações e foi objeto de várias reformulações”, comenta Iraci, hoje coordenadora de projetos e programas na pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Unemat. Na época de elaboração do primeiro curso de licenciatura, ela já estava na universidade e acompanhou todo o processo. Ela conta que participaram da criação dos cursos docentes de universidades paulistas como a Unicamp, USP e a Unesp, que já trabalhavam com o tema. Eles ajudaram a formar os professores que passaram a dar aulas para os indígenas.

Em 2001, ingressaram 200 professores. Na segunda turma foram 300, representando 44 etnias. Em 2006 formaram-se 186 indígenas. São cursos de Licenciatura em Ciências Sociais, Ciências Matemáticas e da Natureza, Línguas, Artes e Literatura e o mais novo deles, Pedagogia Intercultural. As aulas ocorrem no período de férias escolares nas aldeias, no campus da Unemat, em Barra do Bugres. Os cursos são realizados em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação (MEC), Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Secretaria deEstado de Educação de Mato Grosso (Seduc/MT), Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Secitec) e Prefeitura Municipal de Barra do Bugres. A convivência das várias etnias indígenas com os professores dos cursos de licenciatura da Unemat também trouxe para a prática docente muitas mudanças. Iraci avalia que os docentes não índios passaram a perceber outras lógicas, “além do enfoque monocultural da ciência eurocêntrica”. A articulação entre os conhecimentos foi estabelecida. Um exemplo é a física, tão presente nas maneiras de medição do tempo entre os povos originários. “Da parte dos índios, eles conseguem explicar, através da matemática e da geometria, a razão para os desenhos nas peneiras ou as pinturas que utilizam no corpo e que têm um significado ritual. Também identificam as formas do triângulo e do círculo e percebem a geometria na construção das casas.” Várias monografias dos cursos de licenciatura associam o conhecimento indígena ao não indígena. Uma experiência que também se transformou em material didático foi a elaboração

de um dicionário eletrônico, constituído de palavras que não existiam na língua indígena. No dicionário estará o nome da palavra e a referência da etnia de onde vem, o que significa em português e o desenho que mostra do que se trata. Interessante como foram feitas as adaptações da língua portuguesa para a língua indígena de palavras que nos tempos ancestrais não existiam como “avião”, “internet” ou “computador”. Avião na língua tapirapé passou a ser “xixinyara”, – uma variação da palavra libélula.

METODOLOGIA

A pesquisadora entrevistou 48 professores indígenas e realizou três etnografias que geraram relatórios para a tese. No campus de Barra do Bugres, ela observou como eram as aulas de arqueologia, antropologia e informática, além de conhecer melhor a documentação do projeto. Na aldeia Umutina, município de Barra do Bugres, acompanhou a rotina dos professores e alunos na escola, e também o envolvimento da comunidade. “Precisava conhecer a proposta pedagógica da escola, a relação dos conteúdos com o aprendizado na universidade, e as contribuições desse processo para o fortalecimento da cultura e da identidade Umutina”. A última etnografia foi relacionada ao processo de realização da I Conferência Regional de Educação Escolar Indígena, no Parque Indígena do Xingu.“As etnografias nos permitiram não só percorrer a trajetória da elaboração de um currículo multicultural no contexto da educação escolar indígena, como também mergulhar em suas práticas. No curso de formação de professores e em uma escola de aldeia, foi possível analisar e discutir o espaço/tempo da sala de aula e a relação entre o cotidiano e as perguntas colocadas pela pesquisa”, complementa. Se a ecologia dos saberes é uma espécie de extensão ao contrário, como coloca o sociólogo criador do termo, na experiência estudada por Iraci os povos indígenas puderam até hoje se organizar e fortalecer suas tradições para poder lidar com os não indígenas. Para a universidade, ressalta a pesquisadora, o ganho maior foi a incorporação de uma nova visão de mundo que agrega à sua forma de produzir conhecimento, outros conhecimentos de outras culturas e línguas.

Publicação

NA LUTA PELA TERRA

O papel de liderança do professor indígena tem mais um sentido de ser. Ele funciona como o elo na relação da aldeia com a comunidade não indígena. Os professores que passam pelo terceiro grau aprendem a escrever, a usar computadores e toda tecnologia a que têm acesso com o objetivo de estabelecer

Fotos: Divulgação

mais simétrica

Iraci Aguiar Medeiros, autora da tese, e Leda Maria Caira Gitahy, orientadora: ecologia dos saberes em pauta

Tese: “Ecologia de saberes? Estudo de uma experiência de interação da universidade com movimento indígena” Autora: Iraci Aguiar Medeiros Orientadora: Leda Maria Caira Gitahy Unidade: Instituto de Geociências (IG)


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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013

aa c dêi m ca

Painel da semana  Palestra do SAE - O Setor de Orientação Educacional do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) organiza no dia 7 de outubro, às 12h30, na sala CB02 do Ciclo Básico I, a palestra “Falar em público? Yes, we can!”. Será proferida pelo professor Mauro José Andrade Tereso, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). Mais informações: 19- 3521-6539.  Feira das Atividades Extracurriculares - Evento mostrará o potencial das equipes de competição da Unicamp e de como os alunos são capazes de projetar e construir carros, aviões e robôs de alto desempenho, acontece no dia 7 de outubro, às 14 horas, em uma tenda montada no estacionamento da BAE da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). A Feira contará com exposição de bajas, de aerodesign, robôs, etc. Mais detalhes podem ser obtidos com Silvana pelo telefone 19-3521-3213 ou e-mail silvana@fem.unicamp.br  Encontro da Apenge - O X Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege) acontece no dia 7 de outubro, às 8h30, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é do Programa de Pós-Graduação em Geografia/Anpege. Site do evento: www.enanpege.ggf.br. Mais informações: telefone 3521-4553 ou e-mail lindon@ige.unicamp.br  Fórum de Extensão Universitária - Próxima edição acontece no dia 9 de outubro, às 9 horas, no CIS – Guanabara (rua Mário Siqueira 829), no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Tratará do tema “Arquitetura, cidade e patrimônio: caminhos para a qualidade de vida no mundo contemporâneo”. O evento será transmitido (ao vivo) pela TV Unicamp Inscrições, programação e outras informações, no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/eventoext42.html  Genética e melhoramento - O 30° encontro sobre temas de genética e melhoramento será realizado nos dias 9 e 10 de outubro, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba. O evento terá como tema “Evolução, sistemática e biologia de populações de Orquídeas” e reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros. As inscrições podem ser feitas no local. Após a última palestra de cada dia, os inscritos poderão visitar o Orquidário “Paulo Sodero Martins”, que tem es-

tado fechado para visitas há vários meses. Mais detalhes no site http://www.genetica.esalq.usp.br/30temas/.  Diferença ou desigualdade? As muitas faces da inclusão - Palestra será proferida por Ivone Martins Oliveira, graduada em Pedagogia e mestre e doutora em Educação pela FE-Unicamp, dia 9 de outubro, às 8 horas e às 13h30, na Sala Prata do Leon Park Hotel e Convenções (Av. Francisco Glicério 641), no centro de Campinas. Interessados em participar podem se inscrever no link marketing@papirus.com.br. Todos os inscritos receberão um exemplar do livro “Educação para todos: As muitas faces da inclusão escolar”. A palestrante é professora associada III do Departamento de Teorias do Ensino e Práticas Educacionais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e integra a linha de pesquisa “Diversidade e Práticas Educacionais Inclusivas”, do Programa de Pós-graduação em Educação do Centro de Educação da UFES. Desenvolve pesquisas na área de desenvolvimento humano, práticas educativas em espaços escolares e educação especial, com ênfase em educação infantil. É autora do livro “Preconceito e autoconceito: identidade e interação na sala de aula”, publicado pela Papirus). Mais informações: 19-3272-4500.  Unicamp Ventures - Próximo encontro será realizado no dia 9 de outubro, às 13 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O Unicamp Ventures é um evento anual cuja primeira edição ocorreu em 2006. Conta com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, órgão da Reitoria responsável pela proteção e transferência da tecnologia gerada na Unicamp e pelos projetos de cooperação entre a Universidade e empresas. Inscrições e outras informações no link http://unicampventures. com.br/eventos/encontro-anual/  Trabalhadores rurais - O Laboratório Terramãe, o Projeto Casadinho (Feagri/Uniara) e o Programa de Doutorado em Ciências Sociais (Ceres) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp organizam nos dias 10, 11 e 13 de outubro, das 9 às 17 horas, na Sala da Congregação do IFCH, seminário que objetiva tratar as questões emergentes e urgentes sobre os trabalhadores rurais e tradicionais através da apresentação de vídeos brasileiros. No dia 13, o encontro ocorre somente no período da manhã, no Sindicato dos Empregados Rurais de Cosmópolis e Região. O seminário contará com a presença de diretores e autores dos vídeos, representantes de movimentos sociais, de sindicatos e de pesquisadores e estudiosos das temáticas abordadas. Mais detalhes na página eletrônica http:// www.feagri.unicamp.br/eventos/portal/cinedoc ou e-mail kellen@ feagri.unicamp.br  Exposições no Cis-Guanabara - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara) sedia, de 10 a 30 de outubro, as exposições “Ruas e Campos”, de Antoninho Perri; “Brasil, mostra a sua cara”, de Manoel Marques; “Recortes do Cerrado”, de Antônio Scarpinetti; “Rainha do Mar”, de Ricardo Lima; “Vida Ribeira”, de Dário Mendes Crispim, e “Moonlight”, de Tiago Novas. A abertura oficial ocorre no dia 10 de outubro, às 19 horas, na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas. Visitação: de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, a partir de 11 de outubro. Entrada livre. Mais informações: 19-3233-7801.  Mestrado e doutorado em Odontologia - A Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) receberá, até 11 de outubro, inscrições de interessados em cursar mestrado e doutorado em Odontologia. São 30 vagas. Consulte o edital no link http://www.fop.unicamp.br/cpg/. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail elisa@fop.unicamp.br ou telefone 19-2106-5308.  Prevenção à obesidade - O Grupo Multidisciplinar de Preparo para Cirurgia Bariátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp realiza no dia 13 de outubro de 2013 (domingo), no portão 1 da Lagoa do Taquaral, em Campinas, a partir das 8 horas, a VI Caminhada de Prevenção à Obesidade. A coordenação da caminhada é do médico gastrocirurgião Elinton Adami Chaim. Além da caminhada, a população de Campinas e região pode realizar inscrição para o programa da cirurgia bariátrica do HC da Unicamp; orientação nutricional; cálculo de índice de massa corpórea (IMC); teste de glicemia para verificação de diabetes e medida de pressão arterial.

Princípios gerais da ciência histórica

Livro

da semana

Exposição dos elementos básicos para uma nova visão sobre todos os tipos de saberes Sinopse: Princípios gerais da ciência histórica é uma obra seminal da historiografia alemã e também uma leitura obrigatória para os estudiosos da teoria da história. Verdadeiro tratado para a ciência histórica moderna, ela oferece a seus leitores temas fundamentais para a reflexão, discutindo questões que ainda hoje se colocam no centro dos debates historiográficos. O que é um evento? O que são circunstâncias? Qual a relação entre probabilidade e certeza na história? Que tipo de testemunhos e divulgações é digno de crédito? O que é uma história? O que é uma narrativa? As coisas futuras devem ser objeto da inves-tigação histórica? Com análises claras e pontuais, Chladenius nos introduz nas searas da crítica dos testemunhos, demonstrando a importância do ponto de vista para o estudo do passado, indicando procedimentos analíticos e hermenêuticos para se perscrutar as intenções e os sentidos das ações humanas. A Allgemeine Geschichtswissenschaft não tinha até agora nenhuma edição publicada fora da Alemanha. Autor: Johann Martin Chladenius Tradução: Sara Baldus Ficha técnica: 1a edição, 2013; 320 páginas; formato: 16 x 23 cm ISBN: 978-85-268-1016-7 Área de interesse: História Preço: R$ 54,00

Teses da semana  Engenharia Elétrica e de Computação - “Estudo de variantes da Particle Swarm Optimization aplicadas ao planejamento da expansão de sistemas de transmissão” (mestrado). Candidato: Wilmer Edilberto Barreto Alferez. Orientador: professor Carlos Alberto de Castro Júnior. Dia 11 de outubro, às 14 horas, na sala PE-12, prédio da CPG/FEEC.  Engenharia Mecânica - “Controle ativo de vibrações usando redes neurais artificiais” (mestrado). Candidato: William Camilo Ariza Zambrano. Orientador: professor Alberto Luiz Serpa. Dia 10 de outubro, às10 horas, na sala JE-2 da FEM.  Física - “Dinâmica molecular e peridynamics aplicadas a nanotecnologia. Um estudo sobre filmes finos e nanofios metálicos” (doutorado). Candidato: Zenner Silva Pereira. Orientador: professor Edison Zacarias da Silva. Dia 11 de outubro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.

 Linguagem - “O major esquecido: Histórias de Alexandre, de Graciliano Ramos” (mestrado). Candidato: Edmar Monteiro Filho. Orientador: professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel. Dia 9 de outubro, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Um estudo do intertexto virgiliano no Culex” (mestrado). Candidata: Bárbara Elisa Polastri. Orientadora: professora Patrícia Prata. Dia 10 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Métodos de pontos interiores como alternativa para estimar os parâmetros de uma gramática probabilística livre do contexto” (mestrado). Candidata: Esther Sofía Mamián López. Orientador: professor Aurelio Ribeiro Leite de Oliveira. Dia 7 de outubro, às 14 horas, no auditório do Imecc. “Aproximação de funções irregularmente amostradas com bases hierárquicas adaptativas de elementos tensoriais compactos” (doutorado). Candidata: Gilcélia Regiane de Souza. Orientador: professor Jorge Stolfi. Dia 11 de outubro, às 14 horas, no auditório do IC.

Destaque do Portal

Nepp promove reflexão sobre educação infantil educação infantil é uma etapa tão importante para a formação do cidadão quanto as outras que a sucedem. É nela que são fundadas as bases para a construção da sociedade que almejamos. As considerações são de Roberta Rocha Borges, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp. Roberta coordena o Programa de Estudos em Educação Infantil do Nepp, que tem promovido reflexões e ações voltadas à melhoria desse nível de ensino. Um dos próximos projetos a serem executados por ela, no contexto do seu trabalho de pós-doutorado, é a formulação de um documento que reflita o pensamento da comunidade interna sobre que tipo de educação infantil ela deseja para as escolas mantidas pela Universidade. Conforme Roberta, a ideia é convidar representantes das diversas faculdades, institutos e órgãos para uma reflexão ampla sobre a educação infantil oferecida pela Unicamp. “Vamos promover oficinas e dialogar com especialistas de fora da Universidade, inclusive do exterior. Em seguida, vamos elaborar um documento que contemple o pensamento da comunidade sobre que educação infantil ela deseja. Por fim, vamos realizar um seminário para divulgar os resultados obtidos tanto para o público interno quanto externo”, adianta. Paralelamente a essa iniciativa, explica Roberta, o programa coordenado por ela dará continuidade ao trabalho que já realiza junto a prefeituras. Segundo ela, essa ação está baseada principalmente no diálogo. “Em outros tempos, a academia ia até os municípios e dizia o que deveria ser feito, o que era certo. Atualmente, nós partimos de outro conceito. Nós consideramos que a construção de uma educação infantil de qualidade deve partir de uma iniciativa coletiva. Por isso é importante ouvir todos os atores envolvidos, como professores, diretores, pais e as próprias crianças”, diz.

Foto: Antoninho Perri

Roberta também destaca a relevância da junção entre teoria e prática no processo de aprendizagem das crianças. Segundo ela, os pequenos aprendem fazendo e também observando a ação dos adultos. “O que eu falo deve ser o que eu faço”, pontua. Como exemplo de envolvimento da comunidade com os temas da escola infantil, a pesquisadora cita uma experiência realizada na Itália. Lá, educadores, pais, alunos e outros membros da comunidade se envolveram na construção de um portão, cada um oferecendo parte do seu tempo e do seu conhecimento. Assim, alguns fizeram trabalhos de marcenaria, outros de pintura e assim por diante. Quem não trabalhou diretamente na construção ajudou organizando a festa de inauguração, que contou com a particiA pesquisadora Roberta Rocha Borges: ampla reflexão sobre a educação infantil oferecida pela Universidade pação do prefeito. “Um grupo de mães fez o bolo e alguns pais tocaram instrumentos musicais para animar a festa. Além de inSEMINÁRIO tegrar a escola à comunidade, o projeto deixou como legado Entre os dias 17 e 19 de outubro, a Prefeitura de São um patrimônio material para a cidade e um exemplo a ser Paulo promoverá, em colaboração com a Unicamp e outras considerado por outras escolas e comunidades”, considera. instituições, o I Seminário sobre Direitos à Infância e PoA pesquisadora do Nepp reconhece que esse não é um líticas Culturais paras as Crianças. O evento, que terá Roobjetivo fácil de ser atingido, mas destaca que ele é possíberta Borges e a professora Magali Reis (PUC-Minas) como vel. “A educação contribui para estruturar a sociedade. Se curadoras, será realizado na Biblioteca Mário de Andrade, na nós quisermos formar adultos criativos, éticos e fraternos, Capital. Entre as atividades programadas estão palestras e temos que trabalhar a base, que é a educação infantil. Vale mesas-redondas que tratarão de temas como direito à infâninsistir que esta tem de ser democrática, e para isso é precicia, políticas culturais paras as crianças, culturas digitais e so que ela seja construída coletivamente”, defende Roberta. games para crianças, entre outros. (Manuel Alves Filho)


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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013

Um modelo para empreendedores Pesquisador adapta dois métodos com diferentes funções para a gestão de empresas Foto: Antoninho Perri

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

onforme pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), publicada recentemente no Brasil pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a taxa de empreendedorismo da população adulta brasileira atualmente é de 40%, contra 20% há uma década, o que mostra uma mudança da cultura de busca por emprego para busca de negócio próprio. Atualmente, 70% dos empreendimentos no Brasil são criados por oportunidade, não mais por necessidade. Logo, o empreendedorismo brasileiro vive uma fase aquecida, com jovens que surgem com ideias inovadoras e que almejam ter seu próprio negócio. Ao mesmo tempo apenas ideias inovadoras e vontade não são o suficiente. As estatísticas são desalentadoras para quem planeja o ingresso no mercado competitivo. Segundo o Sebrae, mais de 50% das empresas de pequeno porte fracassam no primeiro ano, 73% fecham em menos de três anos e 95% não superam os cinco anos. Projetar o modelo de negócio da empresa pode ser uma saída, pois ajuda a compreender o business que se deseja iniciar, especialmente quando se tratam de negócios inovadores. Ocorre que ele ainda está muito sujeito a abstrações. Faltam ferramentas que permitam verificar se o modelo projetado tem um desempenho válido na prática. Pensando nisso, o pesquisador Vinicius Minatogawa criou um modelo híbrido, adaptando dois métodos com diferentes funções para a gestão de empresas. Esse modelo é mostrado em sua dissertação de mestrado. O estudo foi apresentado à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e orientado pelo docente Antonio Batocchio. Com o Modelo de Negócios Canvas (em inglês Business Model Canvas), ele produziu uma representação do modelo de negócios e com o Balanced Scorecard (BSC) mediu o desempenho de uma empresa que gerencia vídeos on-line no Rio de Janeiro. O resultado foi positivo: a empresa deve incorporar esse

Vinicius Minatogawa, autor da dissertação: ferramenta pode ser repassada a startups e a pequenas e médias empresas

modelo de negócios ao seu modus operandi. “Este será um modo de validar o método e difundi-lo”, conta Vinicius, que está disposto a repassar essa ferramenta às empresas de base tecnológica (startups) e às pequenas e médias empresas. O Modelo Canvas é um instrumento de gerenciamento que se materializa por meio de um mapa visual, no qual se esboçam, em blocos, os pontos-chaves de um modelo de negócio, que delineia o caminhar de uma empresa. O autor da dissertação acrescenta que é possível usar o modelo de maneira complementar ao tradicional plano de negócios (composto por quatro tipos de planos: operacional, marketing, financeiro e estratégico), pelo fato deles terem funções diferentes. Na opinião de Vinicius, toda empresa possui um modelo de negócios, mesmo que não saiba representá-lo e que o seu modelo seja até intuitivo. Isso porque toda empresa precisa criar valor para alguém, saber quem é o segmento de cliente para quem se está atribuindo valor e achar uma maneira de capturar valor, gerando capital.

Ele comenta que todos os aspectos posicionados nesse modelo vão para uma única tela ou folha de papel no método Business Model Canvas. São nove os blocos do “esquema”: atividades principais, recursos principais, parcerias principais, estrutura de custos, segmento de clientes, relacionamento com clientes, canais, fluxo de receitas e proposição de valor. Esse modelo foi criado pelos estudiosos Alexander Osterwalder e Yves Pigneur na Universidade de Lausanne, Suíça. No Canvas, a parte esquerda é mais ligada à operação do negócio e a direita ao cliente – o valor que está sendo criado pela empresa, como será entregue, para quem está sendo entregue e, depois, qual o ganho e os custos que acarretarão.

Então ele partiu para o método Balanced Scorecard, desenvolvido pelo professor Robert Kaplan, da Harvard Business School. A opção pela metodologia baseou-se na propriedade do BSC, que faz tanto a medição como gerencia a performance da empresa. “Casamos o método Business Model Canvas com o Balanced Scorecard”, informa. O BSC contempla os objetivos do negócio, os indicadores de desempenho e as iniciativas para alcançar as metas propostas. No Canvas, para cada um dos blocos na representação, há escolhas a fazer. “Com a junção dos métodos, se a empresa atingir as metas de sua escolha, valida-se o modelo de negócios. Caso contrário, o modelo é revisto, por não ter alcançado as metas esperadas. Mudam as iniciativas para atingir as metas, ou muda-se a escolha e altera-se o modelo de negócios”, frisa o mestrando. O modelo de negócios de uma empresa é aprimorado durante o gerenciamento de desempenho. Se esse desempenho não está sendo favorável, precisa de intervenção. “É como dirigir um avião sem ter indicadores que mostrem que o combustível está acabando. As informações são fundamentais para conduzir o avião. Nosso modelo pode ter relevância, já que também permite explorar a inovação de modelos de negócios”, pontua ele. Para o professor Batocchio, o trabalho de seu aluno é relevante e inovador. O tema tem aplicabilidade crescente e poderá ajudar muitas empresas nascentes. No doutorado, Vinicius pretende testar esse modelo em pelo menos cinco pequenas empresas.

JUNÇÃO

Vinicius se debruçou sobre o assunto ao notar que o Modelo Canvas também poderia ser muito abstrato para o empreendedor se não tivesse a devida mensuração do desempenho do modelo de negócio. Visualizar não bastava.

Publicação Dissertação: “Estudo e adaptação de um método de gestão de desempenho de modelos de negócios em uma empresa nascente de base tecnológica (startup)” Autor: Vinicius Luiz Ferraz Minatogawa Orientador: Antonio Batocchio Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: Capes

Fibra de papel melhora condições do solo ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

om vistas à redução do descarte, o reúso dos sacos de cimento, a partir de fibras de papel Kraft como estabilizantes, melhorou as características e as propriedades do solo em uma pesquisa de mestrado da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), de autoria da engenheira civil Daphne Rossana León Mogrovejo. Os ensaios ocorreram em Campinas e Paulínia. “A transformação do papel Kraft em polpa de celulose consome pouca energia, sendo necessária apenas água para a reciclagem. Mas a adição de fibras deve ser feita em pequena quantidade para melhorar o processo”, salienta a engenheira. A resistência do solo de Campinas melhorou muito quando misturado a 5% dessas fibras. A pesquisadora conseguiu diminuir o impacto dos sacos, muito em voga na construção civil, que são lançados no meio sem um destino economicamente viável. Só em 2011 o Brasil produziu o equivalente a 65 milhões de sacos de cimento, sendo que 68% deles foram realmente ensacados e o restante distribuído a granel. Todo esse contingente pode ter sido desprezado na natureza, observa ela.

Além das análises de resistência, foram feitas análises da água percolada, pois a mistura do solo com fibras poderia levar à sua contaminação ou à contaminação do lençol freático. Isso porque essas fibras se originam da celulose, matéria orgânica que se decompõe com o tempo. Com as chuvas, a mistura se infiltra pelo solo, afetando inclusive as águas subterrâneas. Daphne usou três porcentagens de fibras (5%, 10% e 15%) e averiguou que, nos ensaios das águas percoladas, quando aumentava a quantidade de fibra, os parâmetros também aumentavam, mas sem ultrapassar os limites. No caso da potabilidade da água – parâmetro que consiste em analisá-la para saber se o seu consumo é seguro, para evitar riscos à saúde –, o pH deveria estar entre 6 e 9. E assim se manteve, informa ela. Segundo Daphne, o que faz com que o papel Kraft seja muito usado para ensaque é que o cimento adquire temperaturas tão altas que, mesmo após resfriamento e estocagem, acaba sendo expedido com temperaturas de até 60º C. Essa importante característica, de não alterar suas propriedades, colabora para que esse papel não seja apenas escolhido para ensacar o cimento. Também o arroz e o açúcar, entre outros produtos. Esses sacos, diz a mestranda, demonstram resistência ao rasgo e ao estouro, servindo para embalar produtos de grande porte, que acomodam cerca de 50 kg. Além de resultar de uma fibra longa de celulose, também podem ser confeccionados a partir de bambu e de madeiras como eucalipto e pinus.

Foto: Antonio Scarpinetti

PROCESSO

A engenheira civil Daphne Rossana León Mogrovejo: pouca energia e apenas água para a reciclagem

Durante a reciclagem, Daphne tentou retroceder à etapa de quando os sacos eram fibras. Baseou-se num trabalho de 2009, do arquiteto Márcio Albuquerque Buson. Um problema identificado em trabalhos ainda anteriores, de acordo com ela, tem a ver com a permanência do cimento no saco. Se ele tiver contato com a água, fica hidratado e empedra, mantendo-se grudado na embalagem. Ao sair, leva consigo fragmentos do saco, impedindo reaproveitamento. Como a proposta da engenheira foi o reúso dos sacos, ela experimentou a estabilização e a melhoria na resistência do solo, empregando areia e argila. A estabilização de um solo consiste em dotá-lo de condições que resistam às ações climáticas e aos esforços e desgastes induzidos pelo tráfego, sob as condições mais adversas. “A argila do solo de Campinas surtiu bons resultados: em torno de 50%, ao passo que a areia permaneceu como es-

tava. Isso demonstrou que a fibra melhora as propriedades geotécnicas”, relata. Buson tinha sugerido um roteiro para reciclagem produzindo uma mistura para tijolos e paredes. Daphne fez modificações no processo para aplicar em estabilização, seguindo sugestão do orientador da sua dissertação, o professor Paulo José Rocha de Albuquerque, docente da FEC. Montou corpos de prova para fazer ensaios de resistência. A engenheira utilizou fibra, solo (argila ou areia) e água, que foram aplicados diretamente para a obtenção dos corpos de prova. Conforme Buson, os solos apropriados deveriam ter por volta de 30% de argila. O solo de Campinas possuía 37% de argila e o de Paulínia 33%, mas este último tinha 50% de areia. O elevado teor de areia impediu que a argila agisse. A mestranda percebeu que o grande desafio era lidar com a sobra de resíduos nos sacos, visto que as empresas de reciclagem não os aproveitam por causa do cimento que fica nas dobras. Elas preferem não interferir no processo por conta da contaminação, já que fica difícil limpar esses resíduos, expõe. A contaminação ocorreria mais pelo cimento, por ele ser composto por produtos químicos que infiltram nos solos. Logo, acaba ocasionando impactos à saúde humana, desde a extração de matéria-prima, que gera degradação e contaminação da água e do solo, passando pela emissão de material particulado, causador de problemas respiratórios. Daphne constata que ainda hoje há muita sobra de cimento na construção civil e que muitos trabalhadores conscientes tentam usar a grande maioria do material, sem deixar o excedente de resíduos. Entretanto, há trabalhadores que jogam o cimento e nem se importam com a sobra nos sacos.

Publicação Dissertação: “Avaliação das propriedades geotécnicas de um solo argiloso e outro arenoso com adição de fibras de papel Kraft” Autora: Daphne Rossana León Mogrovejo Orientador: Paulo José Rocha de Albuquerque Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Financiamento: CNPq


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Campinas, 7 a 13 de outubro de 2013

Manufatura do improvável Fotos: Antonio Scarpinetti

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

avcar diz: “No mundo moderno, a fotografia é por demais definida pela sua técnica e muito pouco pelo seu pensamento”. Ao que Tisseron complementa: “A fotografia se constrói em um vaivém permanente entre realidade e ficção ou, se preferirmos, entre a realidade objetiva e essa outra forma de realidade que são as imagens interiores do fotógrafo. É esse vaivém que lhe confere um estatuto original desde o começo”. Gatti então comenta: “Isto que Sontag estava dizendo, Tisseron. À potencialidade de anotação do mundo descrita por você, Sontag, como registro do visível, opõem-se as fotografias apagadas que querem um mundo invisível”. Sontag é a escritora norte-americana Susan Sontag, autora, entre outros, do livro Contra a Interpretação, bastante citado na conversa que inicia este texto e que também envolve o fotógrafo cego Evgen Bavcar, além de Serge Tisseron, José Saramago, Vilém Flusser, Paul Graham, Samuel Beckett, Calderón De La Barca, Umberto Eco. Entre uma colocação e outra, os personagens do diálogo constituem o primeiro capítulo da tese de doutorado “A fotografia em quatro atos: narrativas improváveis sobre a imagem e sua feitura” defendida no programa de Artes Visuais do Instituto de Artes da Unicamp, e que se insere na linha de pesquisa de processos criativos. O autor é o artista visual Fábio Gatti, que “costura” a conversa com seus interlocutores, boa parte constituída de teóricos da fotografia. Nesse caso, Gatti reflete sobre a série de sua autoria “Fotografias Apagadas”. O trabalho começou quando a câmera que utilizava apresentou um defeito de fotometria que provocava a superexposição à luz. No resultado, o pesquisador identificou que havia algo a ser explorado. “Fotografo de uma maneira que fique quase tudo branco. Você pode encontrar no meio do caminho algumas coisas interessantes que aparecem mais. Mas minha ideia é que não houvesse um referente. Você não sabe se o barco fotografado está mesmo na água, na terra, ou no conserto, não se sabe a localização das coisas e nem de que evento se trata. E isso é o contrário do que a fotografia propõe muitas vezes, que é revelar esses dados”. Os capítulos restantes também são relacionados a séries que o artista já havia iniciado sempre com o objetivo de pensar a fotografia e o modo como as imagens podem ser manipuladas. Além da tese escrita, como parte do doutorado, Gatti realizou uma exposição dos trabalhos na Unicamp.

Obras de Gatti expostas na Galeria da Unicamp: a fotografia em quatro atos

LINHA E AGULHA Filho de artesã, Fábio Gatti se acostumou a observar a vida entre os recortes de tecido. Percebia que a mãe utilizava entretelas, para deixar partes das peças mais encorpadas. Decidiu que tentaria costurar suas fotografias e criou dentro de uma segunda série apresentada na tese, várias outras, que constituem o segundo capítulo. “Há imagens que chamo de ‘paisagens apocalípticas’ que são fotos de paisagens sempre com água e que tem trechos do livro bíblico costurados, criando pequenas janelas”. Outra série denominada ‘cicatriz’ “são fotos de corpos com cicatrizes criadas com os pontos da máquina de costura”, emenda. Os grandes pintores da história da arte surgem em reproduções, misturadas às fotografias do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A construção da narrativa vale-se de uma criação mitológica: cinco semideuses participam da execução das fotografias costuradas: a máquina de costura, a linha, a agulha, o texto e as fotografias. “Criei uma história de como eles nasceram, qual a virtude e a fraqueza de cada um”. Novamente um diálogo se estabelece sobre a realização do trabalho, tendo como sexto personagem uma

“voz” que se encarrega principalmente das referências bibliográficas. “A tese não seguiu padrão acadêmico, eu crio um texto ‘ensaístico acadêmico’, como se o próprio texto também fosse obra. Cada capítulo tem uma escrita diferente”, ressalva Gatti. Alinhavados à máquina de costura estão convites vencidos, folders de eventos que já passaram ou até mesmo um papel de bala, além de fotos que foram testes de cor ou de ampliação, revelações duplicadas e que não foram jogadas no lixo, também por ser um material bastante poluente. “Aproprio-me de tudo o que tenho nas mãos, tenho necessidade de colecionar o que recebo e acabo utilizando o material nessas manipulações”. A reflexão sobre o processo de criação do artista prossegue com a série “Fotografias gravadas”. São imagens que Gatti faz com pontas secas sobre películas de negativos ou de positivos (velados), de médio formato. Os desenhos retiram uma camada da película formando uma gravura. “Procurei me aproximar de uma discussão com base no realismo fantástico e, em Jorge Luis Borges, na obra O Livro dos Seres Imaginários”.

O capítulo começa da seguinte maneira: “Estas fotografias são assim denominadas porque há nelas uma ideia de gravura (...)”. E termina assim: “(...) e, estas fotografias são assim denominadas porque há nelas uma ideia de gravura.” O autor esclarece que “a estrutura do capítulo foi feita pensando na figura do ‘uróboro’, como uma serpente que abocanha o próprio rabo. A primeira frase do capítulo é igual à última, e a escrita é de um parágrafo só, como se fosse um bloco”. A última série de fotografias manipuladas foi reunida em uma espécie de caderno de artista. Mais uma vez a narrativa improvável, como diz o título da tese. “Crio um personagem que dialoga sobre a realização do trabalho.” Da contemplação da obra de arte à interpretação, o doutorando apoia sua pesquisa na teoria da formatividade, do filósofo italiano Luigi Pareyson. “O que vinha antes dele era um pensamento mais da contemplação, do sentir e Pareyson propõe uma nova análise estética para a obra de arte que tem relação com o fazer e com a interpretação. E cada sujeito terá um embate diferente com a obra”, afirma. Outra questão, segundo Gatti, é que o filósofo propõe a leitura da arte através do fazer. “É o ‘fazer fazendo’, agir por tentativas e a própria obra direciona o artista porque há nela uma legalidade interna, uma lei que opera enquanto você produz”. O autor da tese afirma que a decisão para desenvolver a tese de uma maneira nada convencional, surgiu logo quando entrou no doutorado e passou a se questionar, como a maioria dos artistas que está na universidade, diz ele, sobre como tratar processos criativos e refletir sobre esse trabalho. “Ou seja, como eu consigo produzir alguma coisa na academia que tenha relações com o meu trabalho e que não seja de uma rigidez de normas, mas que eu produza algo poético sem perder de vista a questão do academicismo”. O doutorando estabeleceu, portanto, a interlocução entre texto e obra. “São narrativas improváveis porque elas aconteceram junto com o trabalho. Trata-se de um acontecimento com o qual, e não a partir do qual, as coisas fluem”. Gatti finaliza relembrando que finalmente, seu trabalho é a busca de um diálogo que, nesse caso, foi travado com a imagem fotográfica, com diversos autores e com o processo de criação.

Publicação Tese: “A fotografia em quatro atos: narrativas improváveis sobre a imagem e sua feitura” Autor: Fábio Luiz de Oliveira Gatti Orientador: Fernando Cury de Tacca Unidade: Instituto de Artes (IA) Financiamento: Fapesp O artista visual Fábio Gatti, autor da tese: “costurando” a conversa com seus interlocutores


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