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Campinas, 9 a 15 de dezembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 586 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
Fotos: Antoninho Perri/ Divulgação
POPULAÇÕES Atlas resgata dois séculos de imigração em SP
5 Imigrantes italianos antes de embarque para o Brasil, no século 19
Deslocamentos ‘estrangulam’ macrometrópole
6 e7 Passageiros em terminal metropolitano de ônibus, que circulam na região de Campinas
A realidade dos brasileiros que moram na França
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Editora vai lançar coleção de e-books
Artigo sobre transgênicos e câncer gera nova polêmica
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Lavagem de La Madeleine, festa que reúne milhares de pessoas em Paris
Processo acelera ação de enzimas
DNA humano de 400 mil anos é encontrado na Espanha
Trabalho aponta efeito de manada na ciência
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TELESCÓPIO
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Campinas, 9 a 15 de dezembro de 2013
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Foto: Quartl/Wikimedia Commons
Artigo que associa câncer a transgênicos causa nova polêmica O periódico científico Food and Chemical Toxicology anunciou que está se retratando de um artigo polêmico publicado em 2012, que buscava associar uma variedade de milho transgênico a uma maior incidência de câncer em animais de laboratório. Desde sua publicação, o trabalho, de autoria do francês Gilles-Éric Séralini, se viu sob ataque de outros cientistas, que apontaram diversos problemas metodológicos que tornavam o resultado inválido, incluindo o uso de um número muito pequeno de animais, e a escolha de uma variedade que já apresenta tendência natural para desenvolver tumores. Agora, numa medida controversa, o Food and Chemical Toxicology publicou carta em que anuncia que o trabalho será expurgado da literatura científica, algo que normalmente só acontece em caso de fraude comprovada, erro grosseiro ou de pedido expresso dos autores. No caso do estudo de Séralini, nenhuma das condições parece ter sido atendida: o consenso da comunidade científica é de que o trabalho foi conduzido de modo honesto – ainda que com qualidade sofrível – e o autor segue defendendo seus resultados. A retratação “forçada”, mesmo de um artigo que, segundo a maioria dos especialistas na área, jamais deveria ter sido publicado, é incomum. O trabalho de Séralini tornou-se uma importante peça de propaganda para os ativistas que se opõem aos produtos transgênicos, e a forma de sua retratação pode vir a inspirar novas teorias de conspiração nesse meio.
Efeito de manada na ciência
Coala macho: pesquisa publicada na revista Current Biology descobriu um novo órgão fonador nesses animais
De anchovas, porcos e homens
Encontrado DNA humano de 400 mil anos
A posição do ser humano na cadeia alimentar é comparável à dos porcos e anchovas, diz estudo publicado no periódico PNAS. Os autores, todos pesquisadores franceses, calcularam o nível trófico da espécie humana – sua posição na cadeia alimentar, definida por um número que vai de 1 (plantas, que consomem a energia do Sol) a 5 (carnívoros predadores, como ursos polares ou baleias assassinas). Usando dados da FAO e do Banco Mundial sobre o consumo global de alimentos, os autores concluíram que o nível trófico mediano da espécie humana é 2,21, próximo ao das anchovas peruanas e dos porcos, “desafiando a percepção de que os humanos são grandes predadores”, escrevem. O nível trófico da humanidade vem aumentando (elevação de 3% desde 1961), puxado principalmente por China e Índia.
Esqueletos de homininos – o grupo dos primatas cuja única espécie sobrevivente, hoje, é a Homo sapiens, os seres humanos – descobertos na Espanha permitiram que uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo alemães, chineses e espanhóis, reconstituísse o genoma mitocondrial de um possível ancestral humano de 400 mil anos. O trabalho está publicado na edição da última semana da revista Nature. O DNA mitocondrial, ou mtDNA, é encontrado na mitocôndria, estrutura que existe fora do núcleo da célula, e é transmitido pela linhagem materna. Os autores do estudo usaram o fêmur de um esqueleto descoberto, junto a pelo menos outros 27, no interior de uma caverna da Sierra de Atapuerca, no norte da Espanha, para obter o material, determinando que o indivíduo analisado tinha um ancestral comum com os denisovanos da Ásia, um grupo hominino ainda considerado “enigmático”, mas possivelmente ligado aos neandertais. Em nota, a Nature declara o resultado “importante” porque “estende nossa compreensão da genética da evolução humana em cerca de 200.000 anos”.
Descoberta adega de 3.500 anos em Israel Arqueólogos dos Estados Unidos e de Israel encontraram, nas ruínas da cidade caananita de Tal Kabri, no norte israelense, uma adega datada do ano 1.700 a.C., contendo quarenta jarros, cada um com capacidade para 50 litros de vinho. De acordo com os autores da descoberta, das universidades Haifa e George Washington, trata-se da maior adega antiga já encontrada. A análise química dos vestígios revelou que a bebida estocada era composta por uma mistura de vinho, menta, mel a algumas resinas psicotrópicas. A receita, dizem os descobridores, é parecida com a de uma antiga bebida medicinal egípcia. A adega foi encontrada ao lado do salão de banquetes do palácio.
estudos já realizados sobre o assunto, e que apontam para a tendência de peixes de espécies visadas para o consumo humano crescerem mais depressa e atingirem a maturidade sexual mais cedo. Também citam trabalhos que avaliaram características de larga escala, como a relação entre tamanho do animal, distribuição geográfica e abundância. “Em todos os oceanos do mundo, a coleta de peixes selecionados pelo tamanho tem sido uma força fundamental impulsionando mudanças” nos animais, diz o artigo. Os autores concluem dizendo que mais pesquisas poderão ajudar os pesqueiros comerciais a garantir o uso sustentável dos estoques, e também a sobrevivência dos ecossistemas de que os peixes dependem para viver.
Missões da China e da Índia no espaço Entre o fim de novembro e o início de dezembro, Índia e China realizaram importantes lançamentos espaciais. A Índia disparou uma missão rumo a Marte, e a China deu início à viagem da sonda Chang’e 3, que transporta um robô de seis rodas, chamado Yutu, programado para viajar na superfície do satélite. Se bem-sucedido em seu pouso, Yutu será o primeiro artefato humano a descer suavemente na Lua desde 1976. Já a missão indiana tem por objetivo pôr um satélite em órbita de Marte. Suas princi-
pais metas são de demonstração tecnológica; basicamente, provar que a agência espacial indiana, ISRO, é capaz de realizar todas as manobras necessárias para levar o equipamento a Marte e operá-lo a partir da Terra.
Como os coalas cantam em barítono O chamado de acasalamento dos coalas machos inclui um som extremamente grave – cerca de 20 vezes mais grave, na verdade, do que seria de se esperar de um animal de apenas 8 kg, e mais típico de criaturas como o elefante. A estrutura anatômica que permite que esses pequenos marsupiais cantem como barítonos era desconhecida, já que a laringe e as cordas vocais pareciam incapazes de gerar o som da frequência observada. Agora, na edição de 2 de dezembro do periódico Current Biology, um grupo de pesquisadores formado por um britânico, um australiano, um alemão e um austríaco mostra que os coalas têm um segundo grupo de cordas vocais, localizado não na garganta, mas no espaço atrás da boca, na ligação das cavidades oral e nasal. De acordo com Benjamin D. Charlton, principal autor do estudo, esta é a primeira vez que um órgão especializado em produzir som é encontrado fora da laringe de um mamífero terrestre.
Os efeitos da pesca na evolução dos peixes Um artigo de opinião publicado na revista Science chama atenção para os efeitos da pesca – mais especificamente, da preferência dos pescadores por peixes grandes – na ecologia marinha. Os autores, de instituições da Suécia e dos Estados Unidos, citam uma série de
Pesquisadores envolvidos na revisão de artigos científicos correm o risco de se deixar influenciar por pistas sobre a opinião dos colegas, gerando um “efeito de manada” que pode levar a literatura científica a convergir para uma conclusão errada, adverte trabalho publicado na revista Nature. O processo de revisão pelos pares, no qual especialistas independentes avaliam os resultados de pesquisas para determinar seus méritos, é vulnerável a “efeitos de manada” que podem fazer com que a comunidade científica não consiga detectar e corrigir seus erros, escrevem os autores, afiliados a instituições britânicas e coreanas. Modelos matemáticos sobre o processo de tomada de decisões de revisores de artigos científicos sugerem, de acordo com os autores, que uma maior subjetividade nas avaliações pode contrabalançar a tendência ao “efeito de manada”. “Um certo grau de subjetividade no processo de revisão pelos pares irá, na média, levar a menos erros de percepção, porque as decisões dos revisores (...) que vão contra a manada continuarão a revelar novas informações”, diz o artigo. “Além disso, o processo é dinâmico, e demonstramos que a autocorreção finalmente ocorre quando um grau de subjetividade é permitido”.
A matemática dos mortos-vivos Filmes em que os mortos saem dos túmulos e começam a devorar os vivos estão na moda, e já faz algum tempo que chamam a atenção de cientistas: em 2009, o matemático canadense Philip Muntz publicou um artigo intitulado “Modelo Matemático de uma Epidemia de Infecção Zumbi”. Em um trabalho mais recente, dois pesquisadores americanos disponibilizaram o Arxiv – um repositório público de artigos científicos – a peça “Bayesian Analysis of Epidemics: Zombies, Influenza, and other Diseases” (“Análise Bayesiana de Epidemias: Zumbis, Gripes e outras Epidemias”), que usa filmes recentes de mortos-vivos para testar métodos estatísticos que poderiam ser aplicados a epidemias reais. “Estudar diferentes tipos de dinâmica de zumbis, embora sejam obviamente ficcionais, é extremamente útil para construir modelos de doenças reais”, escrevem os autores. “Demonstramos que a mesma estrutura de modelo pode ser usada em ambos os casos, mas que os modelos zumbis têm o valor agregado de serem divertidos”.
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Em favor dos
Foto: Divulgação
múltiplos
usos da água MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
aso as projeções traçadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para os próximos 100 anos se confirmem e os níveis de produção de energia da Usina Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, não sofram alterações, o reservatório da unidade poderá sofrer um intenso esvaziamento, principalmente no período entre 2041 e 2070. O alerta consta da tese de doutorado do engenheiro hídrico Leopoldo Uberto Ribeiro Júnior, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. No trabalho, orientado pelo professor Antonio Carlos Zuffo, o pesquisador propõe um instrumento de gestão para mitigar os possíveis efeitos das mudanças climáticas sobre o reservatório, garantindo desse modo os múltiplos usos da água, com destaque para a geração de energia e a exploração do turismo. Embora o estudo tenha sido baseado nas condições da Hidrelétrica de Furnas, afirma o autor da tese, o modelo de gestão proposto por ele pode ser adaptado a outros reservatórios do gênero. “O fundamental é conhecer os problemas e as características de cada empreendimento, para poder propor uma gestão específica à realidade de cada um”, pontua Ribeiro Júnior. Antes de entrar nos detalhes da pesquisa, o engenheiro hídrico conta que seu interesse pelo tema surgiu ainda no mestrado. “Por causa da minha formação, sempre tive atento à questão dos múltiplos usos da água. Essa preocupação aumentou com as projeções feitas pelo IPCC. Assim, resolvi investigar como as mudanças climáticas poderiam interferir nesse aspecto, elegendo Furnas como meu estudo de caso”, explica. A hidrelétrica, conforme Ribeiro Júnior, começou a ser construída em 1958, época em que as autoridades e a sociedade em geral ainda não tinham preocupação com a preservação do ambiente. Assim, quando o lago foi formado, terras agriculturáveis foram inundadas, sem que tivesse sido feito um estudo prévio de impacto ambiental mais aprofundado. Isso também causou um impacto social significativo, pois as pessoas que viviam direta e indiretamente da agricultura tiveram que buscar uma atividade econômica alternativa. “A opção que se mostrou mais viável foi o turismo, que segue tendo grande importância para os municípios localizados no entorno do lago. Ou seja, na hipótese de ocorrer um esvaziamento do reservatório, tanto a geração de eletricidade quanto a exploração do turismo seriam drasticamente afetadas”, adverte o pesquisador.
Estudo propõe modelo para garantir que Furnas mantenha nível adequado à geração de energia e exploração do turismo Uma pequena mostra do que pode vir a ocorrer com o lago de Furnas por causa das mudanças climáticas, segundo Ribeiro Júnior, foi dada por ocasião do período do apagão, entre 1998 e 2000, quando os níveis do reservatório ficaram muito baixos por causa da estiagem prolongada. “Naquela ocasião, além da geração de energia ter sido prejudicada, os turistas também passaram a procurar outros locais para o seu lazer, visto que o acesso ao lago ficou prejudicado”. Para tentar evitar que esse problema volte a ocorrer, o engenheiro hídrico estabeleceu uma regra de operação para assegurar que as águas sejam mantidas em níveis que possibilitem os seus múltiplos usos. Para chegar a essa proposta, o autor da tese baseou-se inicialmente nos prognósticos do IPCC, que estabeleceu diferentes cenários para o clima até o ano de 2100. Os dados foram posteriormente transformados em modelo hidrológico, que por sua vez converte chuva em vazão. A conversão foi feita por uma ferramenta matemática desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Hidrológicas (IPH) do Rio Grande do Sul, batizado de MGB – Modelo de Grandes Bacias. “Ao cruzar esses dados, foi possível obter a vazão do reservatório de Furnas até 2100. A partir dessas informações, eu simulei vários cenários de operação da usina, para verificar como o reservatório poderia se comportar. O que pude concluir é que se a tendência projetada pelo IPCC for mantida e os níveis de produção de energia não forem alterados, o lago poderá sofrer um esvaziamento intenso – em torno de 20% abaixo da cota de 762 m –, principalmente no período entre 2041 e 2070”, revela. Diante dessa perspectiva, Ribeiro Júnior promoveu uma adaptação da ferramenta matemática e realizou novas simulações, desta vez para chegar a uma alternativa de operação que pudesse evitar a concretização de tal predição. “Cheguei a um modelo que estipula que o reservatório, que tem 768 metros de nível máximo de armazenamento, não pode Foto: Antoninho Perri
Leopoldo Ribeiro Júnior, autor da tese: “Se a tendência projetada pelo IPCC for mantida e os níveis de produção de energia não forem alterados, o lago poderá sofrer um esvaziamento de 20% abaixo da cota de 762 m, principalmente no período entre 2041 e 2070”
O reservatório de Furnas tem 1.440 km2 de área inundada, tamanho quatro vezes maior que o da Baía de Guanabara, banhando 34 municípios, que somam 850 mil habitantes
baixar, no período de cinco anos, da cota de 762 metros, durante 15 oportunidades, divididas em dois ciclos. Ou seja, nesses cinco anos, ele pode atingir, por hipótese, 762 metros ao longo de sete meses e depois por mais oito meses. Com isso, tanto a geração de energia quanto a exploração do turismo não seriam prejudicadas”, defende. Mas, como fazer para garantir que esses patamares indicados pelo modelo matemático sejam respeitados? De acordo com o pesquisador, a meta pode ser alcançada por meio do armazenamento de um percentual da vazão para ser usado no mês subsequente, sempre que as condições de frequência e duração não forem atingidas. “Isso fará com que o uso integrado da água seja mais eficiente”, diz. Uma condição para que essa regra de operação seja implantada, pontua Ribeiro Júnior, é a de conferir melhor estrutura aos comitês de bacias hidrográficas e incrementar a qualificação dos técnicos que trabalham na área. São procedimentos, de acordo com ele, indispensáveis para que sejam criadas condições para se lidar adequadamente com a possível ampliação dos conflitos pelo uso da água. “Esse problema já ocorre, em alguma medida, na Bacia do Piracicaba. Precisamos de recursos humanos capacitados que possam ajudar a decidir sobre a melhor forma de utilização desse recurso natural, que está se tornando cada vez mais escasso”, entende. Outra ação fundamental, acrescenta o autor da tese, é aperfeiçoar a infraestrutura de dados de monitoramento da água. O engenheiro hídrico observa que quando há a afirmação de que está chovendo mais ou menos num determinado período, é preciso relacionar esse dado com algum parâmetro do passado. Infelizmente, diz ele, o histórico brasileiro é pobre nesse sentido. A série de dados é pequena. “Além disso, nossa rede hidrométrica apresenta muitas falhas, o que torna alguns dados inconsistentes. Qualquer estudo que envolva planejamento e gestão necessita de informações efetivas. No Brasil, temos dados somente a partir de 1930. Os mais confiáveis datam de 1950 para cá. Ou seja, temos apenas 50 anos de informações para nos basearmos. No caso dos Estados Unidos e da China, por exemplo, existem séries com mais de 200 anos. Em outras palavras, fica difícil dizer com absoluta segurança que está chovendo mais agora, se não sabemos como era o comportamento da chuva, por exemplo, no final do século 19”, pondera. Ademais, complementa Ribeiro Júnior, outra medida importante para assegurar a manutenção do nível adequado do lago de Furnas é projetar o uso de fontes alternativas
de energia elétrica, como a eólica e a solar, para complementar a hidráulica. “Essas duas opções oferecem excelente complementariedade, pois as condições de sol e vento são mais favoráveis justamente no período de estiagem. Ou seja, elas apresentam melhor desempenho quando a disponibilidade da água é menor. Sem contar que ambas igualmente são renováveis”, analisa.
A USINA
A Hidrelétrica de Furnas foi a primeira usina construída pela empresa de mesmo nome. Está vinculada ao Ministério de Minas e Energia, sendo administrada pela Eletrobras, que por sua vez é controlado pelo governo federal. A construção do empreendimento começou em julho de 1958. A primeira unidade entrou em operação em setembro de 1963 e a sexta, última prevista no projeto original, em julho de 1965. No início da década de 70, foi iniciada a ampliação para instalação da sétima e oitava unidades, totalizando 1.216 MW de capacidade, o que colocou a obra entre as maiores da América Latina. O reservatório tem 1.440 km2 de área inundada, tamanho quatro vezes maior que o da Baía de Guanabara. Trata-se do maior lago artificial da América Latina, conhecido como o “Mar de Minas”. Possui perímetro de 3.500 km e banha 34 municípios, que somam uma população de aproximadamente 850.000 habitantes. O projeto de aproveitamento prevê uma variação de cota entre 768 m e 750 m (nível máximo e mínimo de operação). Dados relativos ao período de 1963 a 2011 apontam que o reservatório permaneceu 75% do tempo com uma cota igual ou superior a 762 m. Contudo, entre os anos de 1998 e 2000, época de maior crise do setor elétrico, esse nível foi mantido em apenas 30% do tempo, fato que acarretou diversos problemas para a operação do empreendimento.
Publicação Tese: “Aprimoramento de um instrumento de gestão para operação de reservatórios hidrelétricos com usos múltiplos sob condições de mudanças climáticas: estudo de caso UHE de Furnas” Autor: Leopoldo Uberto Ribeiro Júnior Orientador: Antonio Carlos Zuffo Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)
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Editora da Unicamp relança obras clássicas em e-books Além das reedições, outras duas coleções estão sendo preparadas para o ano que vem CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Editora da Unicamp entrará no ramo dos e-books a partir do ano que vem, lançando versões digitais dos livros de uma coleção de reedições de obras clássicas das Humanidades publicadas originalmente pela casa editorial da Universidade na década de 90. “Vamos começar a publicação dos e-books com esses clássicos, que são textos procurados universalmente”, disse ao Jornal da Unicamp o diretor-executivo da editora, Eduardo Guimarães. “Queremos começar por uma coisa altamente representativa e que vai servir muito a qualquer tipo de leitor que esteja interessado nesses aspectos do pensamento”. A coleção já conta com alguns títulos publicados neste ano, como o “Ensaio Sobre a Pintura”, do iluminista francês Denis Diderot. O formato a ser adotado pelos e-books da Unicamp ainda está em análise, mas segundo Guimarães a tendência é de que todos os principais formatos comerciais venham a ser contemplados, para garantir que os livros estejam presentes nas grandes livrarias virtuais e nas principais ferramentas de busca. “Porque as companhias que operam com e-books têm uma potência no mercado enorme”, explica o diretor, que assumiu, em maio deste ano, o comando da editora pela segunda vez. Sua passagem anterior se deu nos anos 80 e 90. “Não posso fazer uma seção de e-book aqui no meu servidor, não vai adiantar”, ponderou. “Tenho que fazer com empresas do ramo: porque, se a pessoa escreveu lá, ‘Morelly’, e esse livro estiver lá, ele vai aparecer”, disse, numa referência a outro título da coleção de clássicos, “Código da Natureza”, de Étienne-Gabriel Morelly. A linha de e-books não deverá se restringir à coleção de clássicos – “os contratos novos da editora já estão sendo feitos com a permissão da utilização em e-book”, explicou o diretor – e também abarcará a reedição, em formato digital, de obras de autores contemporâneos já publicadas anteriormente em papel pela Unicamp. “Vamos começar pelos clássicos porque acho que isso marca um gesto importante”, disse Guimarães. “Mas depois vamos começar a generalizar. E aí várias coisas são interessantes. Por exemplo, temos manuais das áreas de ciências exatas e de engenharia, que são livros extremamente bem vendidos em papel, e os alunos dessas áreas são muito afeitos ao manuseio desses formatos eletrônicos. A ideia, então, é levar os e-books mesmo aos livros atuais das áreas técnicas”. A questão do uso de recursos interativos nesse tipo de edição, por exemplo, para a correção automática de exercícios em livros-texto, está no horizonte, mas a adoção dessas formas mais sofisticadas de publicação digital não deve ocorrer no curto prazo. “Se a gente for trabalhar isso, uma coisa que teremos de fazer é voltar aos autores e conversar com eles”, explicou o diretor. “A ideia, se pensamos a médio e longo prazo, muito possivelmente será isso: todo livro que sair em papel deve ter uma versão em e-book. E ter um preço correspondente. Sem nenhuma mágica: se o papel custa X, a edição em e-book custa X-Y”, disse Guimarães. “E não é porque estamos dando desconto, é porque não tem o papel, não tem impressão, tem uma série de elementos da produção que, em princípio, vão fazer o livro mais barato”. A Editora da Unicamp também prepara uma estratégia de ação em redes sociais, e é parceira da Unesp na implementação de sua livraria virtual. “A internet não é o nosso canal principal de venda, mas estamos tentando aumentar isso. Temos um mecanismo de venda virtual, nosso, mas
estamos entrando junto com a Unesp num projeto de livraria online. E aí não é só uma livraria dos nossos livros, são os livros de todo mundo, como uma livraria comum”. Este novo meio de vendas pode estar online ainda neste ano.
AUTORES NACIONAIS A visão de Guimarães para a editora também contempla o que ele chama de construção de autorias nacionais na área de Humanas. “Nós temos, nas editoras privadas, grandes autores brasileiros, e temos isso também nas editoras universitárias, mas eu gostaria que a gente tivesse um peso maior nesse cotejo com as editoras privadas, nessa capacidade de trazer para cá esses autores”, disse ele. “Uma editora universitária precisa ficar na história dela mesma como uma editora que foi capaz de publicar não só os clássicos, no sentido daquilo que já está na história, mas de fazer com que, no momento presente, se produza um novo clássico”, afirmou. “Alguém que, daqui a algum tempo, vai ser lembrado como um clássico no
domínio dele. E que teve sua primeira edição pela Editora da Unicamp”. O diretor lembra que a Unicamp já publicou autores que ficaram como marcos em suas áreas. “Mas quero ver o aumento disso”, disse. “O que significa, às vezes, dar atenção a autores que a gente já publicou e que você precisa reiterar – ou seja, publicar outras coisas desse mesmo autor. Porque a construção do autor se faz pelo fato de que a obra dele vai se mantendo presente para todo mundo. Às vezes é importante insistir em publicar outras coisas de certos autores, para que o seu gesto de editor construa a história deles”. Ele disse que não tem um nome específico em mente. “Nós temos muitos desses autores que estão aí. Em muitas coleções nossas, há gente que já está sendo publicada. Então, temos que ir trabalhando essa questão, transformando isso e, ao mesmo tempo, tentando captar outros nomes que ainda não se apresentaram para a editora”. Ele acredita que as principais editoras universitárias brasileiras, entre as quais a Foto: Antoninho Perri
da Unicamp, têm de se lembrar de que algumas das mais importantes editoras do mundo são ligadas a universidades. “Entre as grandes do mundo estão editoras como a de Cambridge, a de Oxford, que são padrão de ação editorial. Claro, eles têm 400, 300 anos, nós só temos 30, 40 anos, mas é preciso pensar com essa perspectiva”. Guimarães vê ainda a necessidade de reforçar o catálogo da Editora da Unicamp em algumas áreas específicas das Humanidades, citando especialmente as de estudos da linguagem e antropologia, mas não contempla a possibilidade de publicar ficção nacional tão cedo, ao menos não fora do contexto paradidático. “Esse é um universo difícil”, disse. “Entrar na literatura de modo geral é complicado, porque isso exige uma estrutura muito diferenciada. Porque aí tem que jogar, fazer valer uma questão de volume, de quantidade. Você não pode publicar um autor sozinho, isso é o mesmo que matar o autor”. Ele lembra que, em sua passagem anterior pela Editora da Unicamp, chegou a publicar livros de poesia. “Publiquei uma coleção de poesia, de poetas brasileiros, inclusive a Editora da Unicamp foi a primeira a publicar o Zuca Sardan. Recentemente ele foi publicado e isso foi tratado pela mídia, por uma forma de esquecimento, como a primeira publicação dele”.
COLEÇÕES
Eduardo Guimarães, diretor-executivo da Editora da Unicamp: “A internet é um novo caminho, que se soma aos já existentes”
Além da coleção de reedições de clássicos das Humanidades, que já está sendo lançada e que, a partir do ano que vem, dará origem à primeira série de e-books da Editora da Unicamp, outras duas estão em preparação: uma de textos literários clássicos em edição bilíngue português/ espanhol, com trabalhos de autores como Machado de Assis e Cervantes, e a Biblioteca Latina, organizada por especialistas de seis universidades – além da Unicamp, há a participação de pesquisadores da USP, UFES, Unesp, UFMG e UFPR. Essa coleção apresentará, em volumes temáticos (19 já estão planejados) – alguns títulos previstos incluem Poesia Épica, Fábula, Tragédia – a literatura latina clássica. Os livros trarão antologias de textos clássicos, em edição bilíngue português/latim, além de um estudo do tema e comentários. O objetivo é que o conteúdo da coleção seja acessível ao estudante do ensino médio. “A divulgação científica nas humanidades é menos comum que em outras áreas, e a ideia é a gente trabalhar com isso”, disse Guimarães, sobre a Biblioteca Latina. “Trata-se de uma certa tradição clássica, muito importante, mas o conhecimento a respeito às vezes chega de uma maneira muito esparsa e pouco razoável para as pessoas. A ideia é fazer isso chegar de uma maneira mais trabalhada e mais razoável, ou seja, mais fidedigna, de um pensamento menos afetado por distorções e erros grosseiros”. O objetivo da iniciativa, segundo ele, é produzir obras que não apresentam um conhecimento novo, mas o conhecimento já estabelecido, só que com originalidade e de modo capaz de interessar o jovem. “Esperamos poder levar esse tipo de iniciativa para outras áreas. Mas aí vamos ver se a gente é capaz. Porque há o problema: seremos capazes de, além de fazer o livro, de fazê-lo circular?” A internet é uma aposta nesse sentido. “Na nova direção da editora, na questão de para onde ir agora, é preciso pensar nisso: em como está o mundo do livro hoje. A internet não é um adversário. Entrar nessa de que a internet é o adversário é uma bobagem. Aí é que você vai fechar a sua capacidade de trabalho. É o contrário: a internet é um novo caminho, que se soma aos já existentes”.
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Atlas retrata dois séculos de imigração em São Paulo Obra integra coleção que detalha as dinâmicas sociais e econômicas dos processos migratórios Foto: Antonio Scarpinetti
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Estado de São Paulo nunca deixou de receber contingentes de trabalhadores vindos de fora do país, mesmo nas décadas do século 20 em que tanto a população quanto a academia pareciam enxergar apenas a migração interna para o Estado, principalmente a originada no Nordeste, mostra o Atlas Temático do Observatório das Migrações em São Paulo, que está sendo lançado neste mês pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, em parceria com a Fapesp. Essa imigração internacional voltou a ter visibilidade a partir dos anos 90 do século passado, reavivando tensões e preconceitos. “O capital internacional precisa desses imigrantes, sejam eles qualificados ou não, mas a população não está preparada para enfrentar esses novos fluxos migratórios, particularmente porque são migrantes voltados para o mercado de trabalho”, disse a coordenadora do Atlas, Rosana Baeninger, socióloga e pesquisadora do Nepo, ao Jornal da Unicamp. Além do Atlas, que em mapas e gráficos cobre a entrada de estrangeiros – incluindo escravos – no território que hoje corresponde ao Estado de São Paulo de 1794 a 2010, também estão sendo lançados os oito volumes finais, de um total de 12, da coleção “Por Dentro do Estado de São Paulo”, também produzida pelo Nepo e pelo Observatório das Migrações. A coleção cobre, em detalhe, as dinâmicas sociais e econômicas dos processos migratórios. Alguns volumes da “Por Dentro do Estado de São Paulo” tratam de regiões específicas, como Campinas e Limeira, e outros debruçam-se sobre processos mais amplos, como as imigrações internacionais ocorridas após a Segunda Guerra Mundial e as migrações indígenas. Na produção do Atlas, foram consideradas imigrantes as pessoas nascidas fora do Brasil que se encontram no Estado – assim, por exemplo, as segundas e terceiras gerações de imigrantes, nascidas no Brasil, não são captadas pelos censos demográficos, pois se utiliza o quesito referente ao país de nascimento.
FLUXO INVISÍVEL
“Um ponto importante que um projeto dessa envergadura, com olhar para mais de 100 anos, ajuda a ver é que, embora a partir de 1927 tenha acabado o subsídio à imigração no Estado de São Paulo, nós continuamos recebendo os imigrantes internacionais”, disse a pesquisadora. “Ocorre que, como a migração interna passou a ser mais volumosa que a migração internacional, nós deixamos de estudar a migração internacional”. A imigração internacional para São Paulo só volta a ser “visível” na virada do século 20 para o 21, com a chegada dos bolivianos, chineses, coreanos e, depois, haitianos, e o risco de uma xenofobia renovada em parte da população. “Os fluxos de imigrantes para São Paulo nunca pararam, mas eram menos visíveis, porque os estrangeiros estavam chegando junto de levas de migrantes internos que também sofreram com o preconceito: os baianos, os paraibanos”, explicou Rosana. “Esse foi também um objetivo do projeto, mostrar como a migração contribuiu para a formação social paulista. A metrópole de São Paulo, hoje, ela se reinventa, se reconstrói, com a presença imigrante”. As organizadoras do Atlas – além de Rosana, participaram as pesquisadoras do Nepo Roberta Guimarães Peres e Natália Belmonte Demétrio – explicaram ainda que a imigração, nos séculos 20 e 21, nem sempre está relacionada a uma crise no país de origem. “O imigrante estrangeiro que vem ao Brasil não está necessariamente fugindo de uma crise econômica. Isso muda muito depois dos anos 2000, particularmente, porque o Brasil vai entrar na rota do capital internacional. E as indústrias têm um forte componente nessa mobilidade internacional, os grandes centros financeiros, também”, disse Rosana. “Os bolivianos, por exemplo, começam a entrar no Brasil da década perdida, quando nós aqui estávamos em crise. As explicações para as migrações não estão nos destinos migratórios, ou na origem. Estão muito vinculadas à dinâmica da circulação do capital, à necessidade de mão de obra para essa circulação de capital”.
Dados oficiais podem sugerir que o Brasil passa por um “boom” de atração de mão de obra estrangeira qualificada, mas Rosana lembra que o trabalhador pouco qualificado e sem documentação tem tido importante participação em diferentes nichos econômicos no país. Contudo, passam pelo Ministério do Trabalho e se regularizam empresários, engenheiros, executivos. “Essas grandes empresas se articulam à mobilidade do capital e da força de trabalho, sendo que diferentes contingentes imigrantes passam a compor uma mão de obra não qualificada, de baixo custo neste novo cenário brasileiro”, disse a pesquisadora. As questões étnica e social interferem na percepção do imigrante, e na xenofobia. “O boliviano que vem tem outra etnia, tem suas raízes indígenas. E nós ainda estamos muito presos na questão de que, para a nação, o imigrante é o europeu. Hoje nós temos muitos coreanos, chineses aqui, mas o japonês, quando chegou, enfrentou um preconceito muito grande, porque ele era uma outra raça”. Diferentemente da imigração do século 19, para as lavouras, a imigração atual é urbana, mostra o Atlas. “É nas cidades que as pessoas vão se defrontando, hoje, com a migração muito mais visível: ela é latino-americana, é chinesa, é coreana– então o estranhamento é muito mais frequente hoje, porque somos de segunda, de terceira geração dos imigrantes do século 19. O mito da miscigenação ficou lá atrás”. O combate ao preconceito, disse Rosana, requer políticas públicas para melhorar a qualidade de vida dos imigrantes pouco qualificados, que chegam como mão de obra barata. “Tem de haver políticas públicas pensadas para as imigrações internacionais, para que essas pessoas não Apresentação de dança típica boliviana em São Paulo: novos fluxos de imigrantes reavivaram preconceitos fiquem em condições de vida tão precárias que façam com que a população pense que Além disso, o trabalho constata um aumento da poa migração está trazendo problemas, quando é o contrápulação guarani no Brasil, saltando de 20 mil no período rio: ela está trazendo um excedente populacional que vai gerar riqueza naquele lugar. Riqueza para o capital, claro”. 1981-1985 e chegando a 51 mil em 2007-2008, de acordo com estimativas. “Para eles, toda essa área, Paraguai, Ela acredita que é preciso reconhecer que o Brasil encentro-sul do Brasil, é um território só”, explicou Rosatrou de vez na rota das migrações internacionais. “Não na. “O que mostra para nós, na questão dos povos indípodemos querer só o migrante qualificado, o português, genas, que não podemos delimitar os processos migratóo espanhol, o médico, o engenheiro que vem para cá e rios no território com o nosso olhar. Tem que ser com o vai ter todas as condições de permanecer no Brasil. Teolhar dos sujeitos, dos sujeitos migrantes. Eles nem se mos de ter políticas migratórias que contemplem a diconsideram migrantes”. versidade de situações que o país está vivenciando, gaA primeira fase do Observatório das Migrações em São rantindo a governança das migrações internacionais e os Paulo, que se fecha com a publicação dos oito volumes fidireitos humanos”. nais da coleção e do Atlas, envolveu 16 estudos temáticos, que além dos 16 pesquisadores responsáveis contaram GUARANIS com a participação de 36 estudantes de graduação e pós. Um dos livros da coleção “Por Dentro do Estado de São Além da Unicamp, estiveram envolvidas também Unesp, Paulo” trata das migrações de índios guaranis no EstaUFSCar, Unifesp e Faculdade Anhembi-Morumbi. O Obdo de São Paulo. O volume, intitulado “Povos Indígenas; servatório agora deve entrar numa segunda fase, mais mobilidade espacial”, organizado por Rosana Baeninger e voltada para as migrações contemporâneas no Estado. A pela ex-presidente da Funai Marta Maria do Amaral Azeprimeira fase deu origem a 192 trabalhos apresentados em vedo, descreve como, desde meados do século 19, índios congressos nacionais, 102 em congressos internacionais, a guarani vêm migrando da Argentina e do Paraguai para o 15 defesas de mestrado e a nove doutorados, envolvendo litoral paulista, em busca de uma “Terra Sem Males”. um total de 87 autores, e se estendeu de 2009 a 2013. Foto: Divulgação
Foto: Antoninho Perri
BRANCOS E QUALIFICADOS
O uso do imigrante europeu para “branquear” a raça brasileira pode não ser mais uma política governamental explícita, mas as organizadoras do Atlas relutam em afirmar que o problema racial vinculado à imigração ficou de vez no passado. “O próprio governo brasileiro hoje quer fazer políticas explícitas para atrair portugueses e espanhóis qualificados. Então, quem são os portugueses e espanhóis qualificados? Continuam sendo os brancos. Os europeus”, lembrou Rosana. “Na questão do haitiano, nós vamos precisar dar um visto humanitário. Então, assim, acho que essa questão ainda é muito presente, inclusive na visualização dos fluxos migratórios”.
Rosana Baeninger, coordenadora do Atlas: “Temos de ter políticas migratórias que contemplem a diversidade de situações que o país está vivenciando”
Capa do Atlas: fluxos de 1794 a 2010
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Campinas, 9 a 15 de
Intensificação de movim desarranjo espacial na
Pesquisa aponta que três milhões de pessoas se deslocam regularmen Fotos: Antoninho Perri
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
desarranjo entre os lugares de residência, as atividades de trabalho e de estudo tem determinado nos últimos anos um aumento expressivo no fenômeno denominado pelos demógrafos de mobilidade pendular. A auxiliar de limpeza Tatiane de Oliveira Mattos, 27 anos, e o profissional de tecnologia de informação (TI) Giovani Senno, 32 anos, integram este contingente, embora caminhem em sentidos opostos. Tatiane deixa os dois filhos com o marido e desloca-se, diariamente, de sua residência em Hortolândia, no interior de São Paulo, para a vizinha Campinas, onde conseguiu há quatro meses seu primeiro emprego numa empresa de prestação de serviços na área de limpeza e manutenção. São cerca de 30 quilômetros de viagem “tranquila, quando o trânsito ajuda”. Giovani faz o trajeto inverso. Ele atua numa multinacional instalada no parque industrial de Hortolândia, município de 200 mil habitantes da microrregião de Campinas. Assim como Tatiane, o profissional de TI já se habituou à viagem diária, feita “numa boa, com ônibus fretado cedido pela empresa”. A intensidade cada vez maior da mobilidade pendular no Estado de São Paulo é uma das principais revelações das investigações conduzidas por pesquisadores do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp. Estimativas dão conta de que três milhões de pessoas em idade ativa (acima dos 15 anos) movimentam-se regularmente para trabalhar e estudar entre os 173 municípios paulistas que compõem quatro regiões metropolitanas – Baixada Santista, Campinas, Litoral Norte, Vale do Paraíba e São Paulo. O número toma como referência o Censo Demográfico de 2010, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a média do crescimento populacional destas regiões, entre 2000 e 2010, manteve-se em torno de 1% ao ano, os movimentos pendulares subiram nove vezes além. O deslocamento de pessoas para trabalho ou estudo sofreu um incremento de 76% nos anos 2000, período de emergência das regiões metropolitanas. Para o demógrafo José Marcos Pinto da Cunha, pesquisador do Nepo e um dos autores do estudo, é cada vez mais comum este deslocamento das pessoas entre duas cidades que, não necessariamente, precisa ser diário, mas regular. “As experiências e histórias dos processos de ocupações das regiões metropolitanas mostram que não há muita preocupação no sentido de tornar mais eficaz a mobilidade da população. O grande desafio atual é reduzir essa mobilidade das pessoas e tentar fazer programas para aproximá-las das suas atividades, seja de trabalho ou estudo. E não é isso que temos visto infelizmente”, avalia. O demógrafo da Unicamp afirma que o fenômeno da pendularidade espelha processos de ocupações desiguais do espaço. Os lugares onde as pessoas moram dependem muito mais do nível aquisitivo e dos interesses do mercado imobiliário do que propriamente das ações governamentais, critica José Marcos da Cunha, que atua como docente do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. “A pendularidade reflete a expansão das atividades econômicas, envolvendo quem é capaz de desenvolver tais atividades. O Estado, em qualquer dos níveis de atuação, tem feito muito pouco no sentido de romper essa apropriação desigual do espaço urbano, que temos observado desde sempre. Tem um passivo muito grande. Ele pode ser solucionado, mas não é de fácil solução”, expõe.
Ponto de ônibus que circulam entre cidades da região de Campinas: deslocamentos aumentaram nove vezes mais do que o crescimento populacional
Hortolândia, situada às margens da Rodovia Anhanguera (SP 330), é um exemplo para a compreensão da intensidade do fenômeno, que envolve, no plano externo, as regiões metropolitanas e, no plano interno, as cidades de referência dos territórios metropolitanos. Cerca de 40% da população do munícipio é pendular, de acordo com o pesquisador da Unicamp. “Essa mobilidade é muito mais intensa no nível interno das regiões metropolitanas. Hortolândia tem um cruzamento ‘interessante’ com Campinas. Enquanto os profissionais mais qualificados que moram em Campinas, Vinhedo ou Valinhos estão indo para estas grandes empresas
instaladas em Hortolândia, a população de baixa renda de lá está vindo para Campinas trabalhar na cidade”, exemplifica. Dos três milhões de pessoas que se deslocaram em 2010, cerca de 80% o fizeram nas cidades pertencentes às mesmas regiões metropolitanas, ou seja, no nível interno. Em 2000, este índice era ainda maior, chegando a 85,5% do total de deslocamentos. Mesmo sendo em volume inferior, a pendularidade no nível externo, entre cidades de diferentes regiões metropolitanas, apresentou crescimento de mais de 131%, entre 2000 e 2010, passando de 323 mil pessoas para 539 mil. Foto: Antonio Scarpinetti
O professor e demógrafo José Marcos Pinto da Cunha: “O Estado, em qualquer dos níveis de atuação, tem feito muito pouco no sentido de romper essa apropriação desigual do espaço urbano”
O CASO DO “TREME-TREME”
O pesquisador do Nepo aponta que o desafio está no sentido de o poder público não somente regular a ocupação do espaço urbano, mas intervir na forma de ocupação. “Por que surge Hortolândia, Monte Mor e Sumaré? Porque Campinas não tem, há muito tempo, uma política de loteamentos populares. Podem dizer que isso existe na região do Campo Grande, mas boa parte são ocupações. Não é para menos que o município de Campinas é um dos campeões de ocupações no Brasil. Se o poder público não dá direito à cidade, as pessoas ocupam”, considera. José Marcos da Cunha lembra o caso dos edifícios São Vito e Mercúrio, residenciais de grande porte instalados no centro da capital paulista. Nos últimos anos os prédios foram desapropriados e demolidos pela Prefeitura de São Paulo. Localizados na Avenida do Estado, eles possuíam 27 andares cada um e, segundo o docente, uma potencialidade enorme para a moradia popular. O São Vito, conhecido como “Treme-Treme”, foi um dos edifícios mais suntuosos da cidade na década de 1950. “Estes residenciais estavam localizados em frente ao Mercado Municipal de São Paulo. Havia um plano de ocupá-los com a população de baixa renda, ou seja, um plano ideal, porque a localização é excelente para as pessoas que trabalham na região. Imagina o que significaria aquilo para população de baixa renda que sai das áreas da periferia e leva mais de duas horas de ônibus e metrô para chegar ao trabalho? Seria um pingo no oceano, mas já era uma alternativa. Viabilizar a ocupação de áreas centrais para os mais pobres é um grande passo. O poder público tem condições de fazer isso”, sustenta o estudioso.
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e dezembro de 2013
mento pendular agrava macrometrópole de SP
nte para trabalhar e estudar em quatro regiões metropolitanas paulistas O Estatuto da Cidade (lei 10.257), em sua opinião, está entre os instrumentos de regulação e intervenção do espaço urbano mais modernos do mundo. “Este instrumento permite que o poder público desaproprie e declare áreas de interesses sociais. O problema é que, no legislativo e no executivo, os interesses imobiliários são fortíssimos. O poder público poderia, portanto, usar estes prédios, mas eles podem virar um shopping ou um estacionamento. O interesse imobiliário prevaleceu”, lamenta.
MACROMETRÓPOLE
O pesquisador do Nepo informa que o objetivo do estudo desenvolvido na Unicamp é diagnosticar as tendências e características da mobilidade pendular nas quatro regiões metropolitanas de São Paulo. Foram utilizadas informações disponíveis nos Censos de 2000 a 2010 produzidos pelo IBGE. As pesquisas são resultados de uma parceria com a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA (Emplasa), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano do Estado de São Paulo. Também participaram do trabalho, além de José Marcos, o economista e pesquisador do Nepo Sergio Stoco; o geógrafo Ednelson Mariano Dota, docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas e doutorando da Unicamp; e as gestoras Rovena Negreiros e Zoraide Amarante Itapura de Miranda, da Emplasa. “O diagnóstico certamente contribuirá para avaliar o processo de interação e complementariedade socioespacial que se desenvolvem entre as aglomerações urbanas. O estudo desse fenômeno pode contribuir para o diagnóstico do processo de estruturação desses espaços e, sobretudo, para mitigar deficiências existentes em termos de política habitacional, de transportes, de saúde, educação”, justifica o docente da Unicamp. Ele acrescenta que a partir do processo de integração e complementaridade destas regiões metropolitanas, a Emplasa passou a trabalhar com uma nova categoria espacial, denominada pelo órgão como macrometrópole paulista. Formada por estas quatro regiões metropolitanas (Baixada Santista, Campinas, Litoral Norte, Vale do Paraíba e São Paulo), a macrometrópole constitui-se numa das maiores aglomerações urbanas do país. A emergência e o reconhecimento desta nova categoria espacial é relevante para a compreensão de novas tendências que possuem implicações socioespaciais e demográficas importantes, avalia José Marcos da Cunha. “Apesar de não perderem suas características, funções e especificidades, as regiões metropolitanas estão cada vez mais integradas, dependentes e complementares em suas funções, inclusive do ponto de vista demográfico. Todos estes aspectos repercutem também numa mobilidade da população, seja residencial, de caráter definitivo, ou pendular”, confirma. Ainda de acordo com o demógrafo, a intensidade dos deslocamentos regulares nesta macrometrópole transformou as grandes autoestradas da região – como as rodovias dos Bandeirantes (SP 348), Ayrton Senna (SP 70), Castelo Branco (SP 280), dos Imigrantes (SP 160) e Dom Pedro I (SP 65) – em verdadeiras ‘avenidas’, em razão do grande fluxo de pessoas, bens e serviços. “Quando a Castelo Branco foi inaugurada, era uma autopista fantástica. E o Alphaville de São Paulo estava na sua margem. Agora, a Castelo Branco é uma grande avenida, você não consegue andar em determinados horários. E o Alphaville já começa a trazer escritórios para perto dele; e muita gente já vive de helicóptero para cima e para baixo”, especifica. A articulação e integração são tão intensas entre as cidades da macrometrópole paulista que seus principais problemas só podem ser resolvidos de maneira integrada, sugere o pesquisador do Nepo. “O
Roseane da Silva (à esq.), que mora em Sumaré, e Karina de Oliveira Souza, residente em Campinas, embarcam em ônibus fretado: deslocamentos regulares
metropolitano não existe como nível de organização e de execução. As regiões metropolitanas ficam meio ‘capengas’ neste sentido. Portanto, a Emplasa tem um papel interessante no sentido de mostrar que o recorte metropolitano é importante para cada um dos municípios. Os prefeitos tendem a se concentrar muito nas questões administrativas, esquecendo que os problemas dos seus municípios também estão relacionados à região como um todo.” Conforme dados do IBGE de 2009 e 2010, vivem na macrometrópole paulista mais de 30 milhões de pessoas, o equivalente a 70% da população do Estado de São Paulo. A região é responsável por mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista e 28% do PIB brasileiro. A disparidade também é acentuada: quase três milhões de pessoas residem em condições precárias de moradia, como favelas, ocupações e áreas de risco. Este grande território urbano ocupa 20% da superfície do Estado de São Paulo, concentrando municípios situados em um raio aproximado de 200 quilômetros a partir da capital. Uma condicionante para a sua formação está na desconcentração industrial da região metropolitana de São Paulo, o principal polo industrial do país. Este processo iniciou-se a partir da década de 1970. Conforme os estudos do Nepo, o fenômeno se dá também pela reestruturação produtiva pós 1990, que substitui a concentração dos empregos industriais pela maior participação do setor de serviços.
FUTURO
As investigações sobre a pendularidade na macrometrópole paulista serão incrementadas, no futuro, com resultados de outro estudo em andamento produzido pelo Nepo. Trata-se de uma análise sociodemográfica a fim de mapear o perfil da população que está inserida neste fenômeno. Não é difícil encontrar pessoas que passam boa parte do seu dia a dia em deslocamentos de casa para o trabalho ou estudo. Os relatos da auxiliar de limpeza Tatiane Mattos e do profissional de TI Giovani Senno, demonstram que o fenômeno, cada vez mais intenso na atualidade, é, de certo modo, aceito como uma condição natural pela população. “Eu moro em Hortolândia há seis anos. Antes, estava em Sumaré, mas aí meus pais se mudaram, eu me casei e fui para Hortolândia também. Para vir ao trabalho, levo uns 35 minutos, para voltar demoro mais, uns 50 minutos. A viagem não é cansativa,
de, no Jardim Bassoli, para frente do Campo Grande. Se tivesse um emprego mais perto de casa seria melhor para poder ficar mais tempo com meus filhos. Demoro uma hora para voltar para casa, mas não acho ruim não”, conforma-se a jovem que atua na empresa prestadora de serviços no distrito de Barão Geraldo, região norte de Campinas.
SUBSTITUIÇÃO DE GERAÇÕES
A auxiliar de limpeza Tatiane de Oliveira Mattos, que trabalha em Campinas e mora em Hortolândia, cidade em que 40% da população é pendular
já me acostumei. Meus filhos, um de oito anos e outro de um ano e oito meses, ficam com o meu esposo”, descreve Tatiane. Giovani Senno conta que morava com os pais no bairro Jardim Nova Europa, na região sul de Campinas. “Acabei me mudando recentemente para a região do Swift. Comprei um apartamento há três anos e, quando terminei de mobiliá-lo, me transferi para lá. A companhia fornece transporte fretado para toda a região e em muitos horários, então, isso facilita bastante”, justifica. Colega de Tatiane, a auxiliar de limpeza Roseane da Silva, 37 anos, também não se incomoda com o percurso diário de Sumaré a Campinas. “Não é tão complicado vir para Campinas, têm o fretado e um ônibus circular direto, apesar de ser de hora em hora. Acaba sendo ruim por causa disso, mas não me incomoda não. Eu sempre trabalhei em Campinas, sempre busquei as oportunidades aqui”, revela. Karina de Oliveira Souza, 27 anos, mora e trabalha na mesma cidade, em Campinas. Ela, porém, leva mais tempo para voltar para a sua residência do que as colegas Tatiane e Roseane. “Eu moro do outro lado da cida-
Uma das explicações para a explosão dos movimentos pendulares, apesar do baixo índice de crescimento populacional, é o que o demógrafo José Marcos da Cunha chama de substituição de gerações. Além disso, o fenômeno adquire autonomia em relação ao crescimento demográfico em razão de mudanças nas formas de uso e ocupação do solo urbano, seja em termos demográficos ou mesmo econômico. “A questão da substituição de gerações é interessante para entender a intensidade dos movimentos pendulares. O exemplo é uma família formada pelo marido, a mulher e dois filhos de 15 e 16 anos. Esses filhos vão ter que buscar algum lugar para morar em breve. Mesmo que a população não cresça tanto em intensidade, eles vão sair das casas dos pais. Ao deixarem as casas dos pais, eles dificilmente vão ter condições de ficar no mesmo lugar, no mesmo bairro, a não ser que sejam muito ricos. Portanto, este processo de substituição de gerações acaba modificando a cidade”, ilustra. Há também que se considerar o fator da urbanização dispersa, conforme explica o estudioso. “A urbanização dispersa tem impacto decisivo sobre essa mobilidade. Há uma tendência dos condomínios fechados para a população de alta renda. Alguns estudiosos chamam isso de ‘novas periferias’. É o caso de Vinhedo, que está numa posição privilegiada por estar perto de Campinas e de São Paulo. Muita gente escolhe morar ali, eles têm essa possibilidade... Há um conjunto de elementos que influenciam novas tendências de urbanização, como custo de vida, segurança, qualidade de vida, entre outros.”
Publicação CUNHA, J.M.P.; STOCO, S.; DOTA, E.M.; NEGREIROS, R.M.C.; MIRANDA, Z.A.I. A mobilidade pendular na macrometrópole paulista: diferenciação e complementariedade socioespacial. Cadernos Metrópole, 15 (30):, 2013.
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Campinas, 9 a 15 de dezembro de 2013 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
alas e documentos na mão. Hospedagem. Dinheiro depositado na conta. Segurosaúde e todas as condições para morar na França. Não é todo migrante que deseja estabelecer residência no país que consegue preencher todos esses requisitos necessários. Nem essa história ideal pode ser compartilhada por todos os brasileiros que pretendem morar lá. Um físico brasileiro que sai do Brasil para fazer um pós-doutorado em Paris vive uma experiência completamente diferenciada de um mestre de capoeira que vai para Marselha para trabalhar nessa atividade. Analisar um fluxo exige olhar para a diversidade dos projetos migratórios, porque os processos sociais que viabilizam as migrações não são os mesmos. “Vivemos atualmente numa época em que a mobilidade humana aumentou e ficou mais complexa, um contexto no qual surgem ‘novos migrantes’ e ‘novas lógicas migratórias”, ressaltou Gisele Maria Ribeiro de Almeida em sua tese de doutorado em Sociologia defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Segundo a autora do estudo, graduada em Economia pela Unicamp e que “migrou” para a Sociologia, um estudante, um trabalhador de baixa qualificação e um executivo não chegam à França pelo mesmo caminho e nem debaixo das mesmas condições, por isso “as modalidades migratórias são importantes, porque revelam os diferentes processos que viabilizam essas migrações”. A tese, de mais de 400 páginas, mostrou que muitos brasileiros não saíram do Brasil com a ideia de ir exatamente para a França. Mudaram seus planos na medida em que não conseguiram entrar no país desejado. “Há casos em que o objetivo era ir para o Reino Unido mas, em razão das barreiras da imigração britânica, acabaram ficando na França”, lembrou. O principal obstáculo ao deixar o país, segundo a autora da tese, é jurídico, pois os países adotam restrições à imigração. Mesmo no caso dos estudantes que são a princípio bem-vindos pela política migratória francesa, é preciso preencher uma série de exigências para conseguir vistos de permanência. E quem vai trabalhar também necessita de visto. Os profissionais altamente qualificados geralmente são disputados por políticas migratórias seletivas, ao passo que trabalhadores com pouca ou baixa qualificação tendem a viver na França sem documentos. Entre os trabalhadores de pouca ou baixa qualificação, a maioria dos homens trabalha na construção civil enquanto as mulheres exercem, na maioria dos casos, atividades ligadas à economia do cuidado, atuando na faxina, como manicures, baby-sitters, etc.
HISTÓRIA
A tese de Gisele buscou analisar a imigração brasileira na França após 1980, em função de ter sido a partir daí que o país registrou fluxos de emigração decorrente dos efeitos da crise econômica que nessa década assolou o Brasil. No início, os países que mais receberam brasileiros foram principalmente os Estados Unidos, Japão e Portugal. No entanto, a formação do espaço de livre circulação europeu, a não exigência de visto para brasileiros que viajavam na condição de turistas, o aumento dos obstáculos à imigração nos Estados Unidos após o “11 de setembro” foram aspectos que implicaram em novas oportunidades e constrangimentos para os emigrantes brasileiros.
Novos processos, novos migrantes Tese de economista analisa a imigração brasileira na França após 1980 Fotos: Divulgação
Baianas na cerimônia de lavagem da Madeleine (à esq.) e loja de produtos brasileiros em Paris: novas configurações demográficas
De acordo com a estudiosa, no que diz respeito à França, o tipo histórico da imigração brasileira no país até 1980 era dada pela mobilidade estudantil. O fluxo começou depois da Independência do Brasil (1822), quando brasileiros, financiados pelo recémformado Estado, receberam bolsas para estudar lá a fim de voltar e formar quadros para atuar em organismos públicos. Surgiu aí uma raiz que alimentou fortes vínculos acadêmicos, intelectuais e científicos. Tanto que até hoje há um número significativo de estudantes brasileiros na França. Conforme dados da Capes e do CNPq, para a primeira década do século 21, a França está entre os três países que mais recebem bolsistas brasileiros no exterior. No entanto, a pesquisa encontrou perfis diferenciados de brasileiros que vivem na França. De acordo com Gisele, o fluxo BrasilFrança após 1980 é uma evidência de como o tipo “migração internacional” vem sendo composto por um mosaico de modalidades migratórias, dada à presença da de trabalhadores altamente qualificados, de trabalhadores manuais, da circulação estudantil, dos deslocamentos motivados pela afetividade, dos fluxos de refugiados, entre outros. Este cenário trouxe à tona a questão das diferentes “faces do fenômeno migratório” e dos ganhos analíticos obtidos com a incorporação das modalidades migratórias, um referencial teórico que vem sendo trabalhado também pela pesquisadora Rosana Baeninger, orientadora da pesquisa. A doutoranda teve financiamento da Fapesp e sua pesquisa estava ligada ao projeto temático “Observatório das Migrações em São Paulo”, coordenado por Rosana Baeninger. Gisele também obteve uma Bolsa de Estágio e Pesquisa no Exterior (Bepe) da Fapesp. Foi para a Université Aix-Marseille 3 em 2012 e permaneceu seis meses na França para fazer sua pesquisa de campo. Foto: Antonio Scarpinetti
Gisele Maria Ribeiro de Almeida, autora da tese: “São muitos aspectos em jogo, além do financeiro”
ACHADOS
A tese reforçou a questão da complexidade em torno das chamadas “migrações internacionais contemporâneas” e demonstrou que o uso analítico das modalidades migratórias é uma forma de permitir o reconhecimento do caráter multifacetado desses processos atuais. A partir de uma leitura sociológica, a tese apontou para a importância de se combinar os condicionantes macroestruturais que impelem e viabilizam as migrações com os interesses e as estratégias dos agentes que migram para o entendimento dos deslocamentos. Se existem diversos perfis de brasileiros, porque são agentes que ocupam diferentes posições no espaço social, eles não vão conceber projetos migratórios da mesma forma. “Esses projetos vão reverberar e assumir caráter de modalidades migratórias específicas, como as dos estudantes e dos trabalhadores, que no estudo foram classificados na modalidade estudantil e na modalidade laboral respectivamente”, explicou. Gisele chegou a esses dados realizando um estudo com 102 brasileiros. Destes, 86 foram entrevistados enquanto ela estava na França e 16 foram entrevistados no Brasil. Destes, 14 eram os “retornados” porque viveram na França e voltaram ao Brasil, mas houve dois casos nos quais os entrevistados viveram na França e estavam morando em um terceiro país quando foram entrevistados. Ao focar os projetos migratórios, o estudo procurou apontar como os variados perfis de migrantes elaboram seus planos de emigração em razão da diversidade de situações, a depender da posição social do potencial migrante, e os diferentes níveis de autonomia e constrangimento que se colocam. A saída do país e a instalação na sociedade receptora, averiguou, também assume especificidades, dependendo do perfil do migrante. Para isso, Gisele construiu cinco modalidades migratórias: migração de profissionais altamente qualificados, migração estudantil, migração laboral, migração afetiva e migração “cosmopolita”. Os profissionais altamente qualificados foram subdivididos em executivos vinculados às empresas multinacionais e cientistas. No caso de estudantes, ela considerou aqueles que vão à França a princípio para estudar. Na migração laboral foram considerados trabalhadores de pouca ou baixa qualificação que foram para a França em busca de uma vida melhor. Gisele apurou que no momento a maior necessidade de mão de obra feminina está concentrada nas atividades de cuidados: setores de limpeza, cuidados com crianças e idosos, manicures. Do ponto de vista de atividades artísticas, destacou a atividade de bailarina entre as mulheres e professores de capoeira e músicos entre os homens. Também verificou um fluxo antigo de transexuais que trabalham no mercado de sexo.
De acordo com Gisele, foram incluídos na modalidade migração afetiva, os deslocamentos motivados “por amor”: brasileiras que foram acompanhando seus cônjuges brasileiros transferidos para a França e também brasileiros(as) que se casaram com franceses e por causa disso migraram para a França. Por último, a migração “cosmopolita” envolveu pessoas que migraram pelo desejo de conhecer uma nova cultura. A maioria tinha cidadania europeia por origem familiar. Então não sofreram as restrições das políticas migratórias. Ao ser indagada se é um bom negócio viver na França, Gisele responde que, se o objetivo é ganhar dinheiro, os entrevistados disseram que o país não é este lugar. A vida pode ser até um pouco mais difícil e levar a uma perda de status. Ela conversou com uma jornalista que trabalhava em uma revista no Brasil e que na França foi garçonete e babá. E também com uma economista que era professora universitária no Brasil e que estava fazendo faxina na França para se manter enquanto fazia o doutorado, pois não tinha bolsa de estudos. “Então têm muitos aspectos em jogo, além do financeiro”, garantiu.
Publicações Artigos ALMEIDA, G.M.R. “Os brasileiros na França”. Revista Ideias, nº 2, 2011, p. 43-57, IFCH-UNICAMP, Campinas. Disponível em: http:// www.ifch.unicamp.br/ojs/index. php/ideias/article/view/463 ALMEIDA, G. M. R. de. “Circulação estudantil e imigração brasileira na França”. In: BAENINGER, Rosana (org) Migração internacional. Campinas: Nepo/Unicamp, 2013. p. 205-221 Disponível em: http:// www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/livros/colecaosp/VOLUME_09.pdf ALMEIDA, G. M. R. de. “A integração dos imigrantes brasileiros na França”. Revista Travessia, nº 72. São Paulo: CEM, janeiro-junho 2013. p.19-30
Tese: “Au revoir, Brésil: um estudo sobre a imigração brasileira na França após 1980” Autora: Gisele Maria Ribeiro de Almeida Orientadora: Rosana Baeninger Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Fapesp
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Tecnologia acelera atividade de
enzimas na produção de alimentos Foto: Antonio Scarpinetti
Alline Artigiani Lima Tribst, autora da tese, e seu orientador, professor Marcelo Cristianini: nova frente de pesquisa
Pesquisa desenvolvida na FEA ganhou Prêmio Capes de Teses 2013 em sua área PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
m estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp mostrou que o processo de homogeneização à alta pressão (HAP) é capaz de acelerar a ação de enzimas usadas na produção de alimentos e bebidas como leite sem lactose, cerveja, xarope de milho e pão. A pesquisa, tese de doutorado da engenheira de alimentos Alline Artigiani Lima Tribst, com orientação do docente Marcelo Cristianini, foi vencedora do Prêmio Capes de Tese 2013, na área de Ciência de Alimentos. Não havia, até então, um processo eficiente e viável para a indústria, na área de alimentos, capaz de ativar essas enzimas. “As enzimas são proteínas com função biológica de acelerar as reações bioquímicas vitais. São utilizadas nas indústrias de alimentos, farmacêutica, para a produção de rações, couro, tecidos, papel e tratamento de resíduos, entre outras aplicações” esclareceu Alline. Presentes naturalmente em todos os seres vivos, as enzimas, especificamente na área de alimentos, auxiliam, por exemplo, no amadurecimento de frutas, amaciamento de carne após o abate de um animal ou na germinação de sementes. Hoje, a maioria dos processos que utilizam enzimas na indústria de alimentos também pode ser feita quimicamente. Mas, apesar de mais baratos, os processos químicos geram resíduos indesejáveis e consomem muita energia. Seria preferível usar as enzimas, não fosse o alto custo que torna a aplicação comercial proibitiva, quando comparada aos processos químicos.
O processo de homogeneização é bastante comum na engenharia de alimentos. No leite, por exemplo, é usado para quebrar a gordura em partículas menores, fazendo com que ela não se separe em porções, como acontece com o leite cru quando fervido. A HAP utiliza pressões entre 10 e 15 vezes maiores que o processo tradicional. Segundo o orientador da tese, Marcelo Cristianini, o equipamento tem custo viável para a indústria de enzimas. A tecnologia foi desenvolvida como um processo alternativo para garantir que o alimento não estrague pela ação de microrganismos, antes de vencer o prazo de validade, de maneira semelhante à pasteurização térmica, ou seja, já eram bem conhecidos os efeitos em microrganismos. “A partir daí, os pesquisadores começaram a pensar o que o processo faria com outras substâncias que existem nos alimentos, como as enzimas”, disse Alline. De acordo com a autora da tese, as primeiras tentativas foram de tentar inativar enzimas que causam escurecimento de frutas ou separação de fase em sucos. Mas os estudos demonstraram que, em vez disso, o processo era capaz de ativar as enzimas. Alline e seu orientador decidiram então testar o processo com as enzimas que melhoram os alimentos, especialmente sobre o ponto de vista da indústria. Foram testadas na pesquisa cinco enzimas de aplicação comercial: alfa amilase e amiloglicosidase (usadas na produção de xarope de milho, pão, e cerveja); beta galactosidase (para produzir leite sem lactose); glicose oxidase (que ajuda a manter a qualidade de alimentos embalados); e protease (usada para maturação de queijos e amaciamento de carnes). “Fiz soluções de enzimas em sistema tampão, para manter o pH controlado e as submeti ao processo utilizando pressões de até 200 MPa. Depois do armazenamento fizemos várias análises, para avaliar a atividade em diferentes temperaturas e pH, e também estimar se a enzima voltava à configuração original ou não. Os testes foram realizados numa faixa ampla que poderia servir pra diversos usos industriais”, comentou a pesquisadora.
CHAVE-FECHADURA Para que uma enzima esteja ativa, é necessário que se encaixe com o substrato, que é a molécula que vai ser modificada por ela. Este mecanismo é popularmente conhecido como chave-fechadura, e, para que ele ocorra, substrato e enzima precisam ter um encaixe perfeito. Dependendo das condições do meio, especialmente de pH e temperatura, ocorre a modificação da configuração tridimensional deste “sítio ativo”, que é a parte da enzima responsável pelo encaixe com substrato, fazendo com que a enzima perca a sua atividade. “As condições ideais de ação da enzima, consideradas ótimas, são aquelas que mantêm a estrutura 3D da enzima com encaixe perfeito no substrato. Muitas vezes, entretanto, seria necessário que a enzima tivesse ação em condições diferentes das ótimas para melhor desempenho industrial”, ressaltou Alline. Os resultados dos testes mostraram que não seria possível estabelecer um comportamento genérico das enzimas frente ao processo de homogeneização à alta pressão, o que era esperado já que cada enzima terá uma estrutura diferente. “A estrutura da enzima pode ser mantida por interações fortes ou fracas, ou seja, há enzimas que são modificadas pela energia fornecida pelo processo de homogeneização mais facilmente que outras”. De forma geral, Alline observou que enzimas que possuem estruturas quaternárias, mantidas por interações fracas, foram as mais suscetíveis às modificações. Neste caso houve ganhos na atividade e estabilidade para algumas enzimas como a glicose oxidase, protease e amiloglicosidase. “Os ganhos foram principalmente observados em condições de pH e temperatura diferentes daquelas estabelecidas como ótimas. Isso possivelmente tem relação com uma maior habilidade da enzima processada em manter sua conformação em condições adversas de pH e temperatura”, informou a autora. Para a indústria de alimentos, os resultados são importantes porque, após a modificação da enzima pelo processo de HAP, elas se tornaram ativas em condições de processo anteriormente impraticáveis.
Significa que o número de aplicações reais da enzima pode aumentar consideravelmente. Especificamente em relação à protease, a HAP tornou a aplicação da enzima mais viável economicamente. “Não é necessário submeter o produto ao aquecimento prévio antes da ação da enzima, representando uma significativa redução no consumo de energia”. O orientador da tese, Marcelo Cristianini, complementou que “os resultados mostram que é possível ter melhorias interessantes, permitindo aumentar o número de aplicações de enzimas”. O docente disse ainda que a área de tecnologias emergentes no processamento de alimentos é a mais nova no Departamento de Tecnologia de Alimentos. “Trabalhamos com tecnologias de ponta e constituímos um dos poucos laboratórios do Brasil com equipamentos e equipe capacitados para desenvolver trabalhos de pesquisa nesta área”. A tese acrescentou muito à literatura da área, salientou a autora. Havia poucos trabalhos até então que avaliaram o efeito da HAP sobre as enzimas e, naqueles até então publicados, o efeito havia sido estudado apenas na presença do substrato e com enzimas indesejáveis. Alline acredita ainda que um dos fatores que impulsionaram a escolha do prêmio Capes, foi o fato de a tese ter sido publicada também na forma de seis artigos em revistas internacionais, sendo cinco deles em revistas classificadas com A2 pela Qualis da Capes, o que significa que são publicações de alto fator de impacto. Os resultados abriram uma nova linha de pesquisa dentro da área de Ciência de Alimentos.
Publicação Tese: “Efeito da homogeneização à alta pressão na atividade e estabilidade de enzimas comerciais” Autora: Alline Artigiani Lima Tribst Orientador: Marcelo Cristianini Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
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aa c dêi m ca
Painel da semana Reator Multipropósito Brasileiro - Simpósio na Unicamp no dia 10 de dezembro vai discutir a importância do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) para a sociedade brasileira. Deverá reunir especialistas para esclarecer a comunidade sobre os principais pontos envolvendo o RMB. O evento será no auditório do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) e a abertura acontecerá às 9 horas. Orçado em US$ 500 milhões, o reator deve ficar pronto no prazo de cinco anos em uma área de dois milhões de metros quadrados ao lado do Centro Experimental de Aramar (CEA), da Marinha do Brasil, na região de Sorocaba. Estabelecido como meta do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o RMB está sendo desenvolvido em parceria com a Argentina e terá um índice de nacionalização de cerca de 70%. Leia mais: http://www.unicamp.br/ unicamp/eventos/2013/11/29/simposio-no-ifgw-da-unicamp-discuteimportancia-para-o-pais-do-reator Oficina - O Núcleo de Estudos de População (Nepo) e o Centro de Estudos da Metróple (CEM) organizam, dias 9 e 10 de dezembro, a oficina “Mobilidade populacional e segregação socioespacial na América Latina e Brasil: avanços, lacunas e nexos”. A oficina acontece às 9 horas, no auditório I do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e contará com a participação de pesquisadores do Nepo e de renomados especialistas do Brasil e da América Latina. Inscrições gratuitas podem ser feitas pelo e-mail myrcia@nepo.unicamp.br. Consulte o programa completo no link http://www.nepo.unicamp.br/eventos/2013/programa_ mobilidade_populacional.pdf Prêmio Capes de Tese - A Unicamp foi reconhecida no Prêmio Capes de Tese 2013, com a seleção de oito teses de doutorado e outras nove menções honrosas. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) outorga o prêmio às melhores teses de doutorado selecionadas em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes nos cursos de pós-graduação regulares e reconhecidos no Sistema Nacional de Pós-Graduação. A premiação é constituída pelo Prêmio Capes de Tese e também o Grande Prêmio Capes de Tese, em parceria com a Fundação Conrado Wessel. A cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerá na sede da Capes, em Brasília, no dia 10 de dezembro. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/10/07/pos-graduacao-tem-oito-teses-selecionadas-no-premio-capes Diálogos cultura africana e afro-brasileira - A Unicamp sedia o evento “Diálogos cultura africana e afro-brasileira - Lei 10.639/2003: os desafios da educação”. Será no dia 12 de dezembro (nova data), às 10 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O objetivo do evento é promover um fórum de discussões sobre o combate ao racismo no país e debater a Lei n. 10.639/2003, que, entre outras providências, instituiu a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino. O debate é apoiado pela Faculdade de Educação (FE-Unicamp) com promoção do Movimento Negro de Campinas. Programação e inscrições gratuitas no link www.fe.unicamp.br. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br Elsevier Author Workshop - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), organiza, em parceria com a editora Elsevier, o evento “Elsevier Author Workshop”. Será no dia 12 de dezembro, das 14 às 15h30, no auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O evento é direcionado aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp, que pretendem submeter artigos a periódicos internacionais de alto impacto.
Serão expostas técnicas para submissão de artigos, formatação, elaboração de cover letter, apreciação de pareceres de revisores e seleção de periódicos. Também haverá uma discussão sobre os direitos dos autores e ética de publicação. O evento será ministrado em inglês pela Dr. Angela Welch, PhD, publisher da Elsevier. Mais informações: telefone 19-35216649 ou e-mail workshops.escrita@reitoria.unicamp.br Avaliação da Graduação - O Programa de Avaliação da Graduação (PAG) do segundo semestre está aberto à participação de docentes e estudantes até o dia 20 de dezembro. O processo é online, anônimo e voluntário e trata-se de um instrumento de consulta e avaliação das condições de oferecimento de disciplinas e cursos, permitindo também acompanhar o perfil da comunidade acadêmica dos semestres anteriores. A avaliação é organizada pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)², que disponibiliza os dados gerais para toda comunidade e oferece apoio às coordenadorias de curso para o reconhecimento dos aspectos apontados por professores e alunos. O link para o preenchimento da avaliação e consulta de dados pode ser acessado na página eletrônica http://www.ea2.unicamp.br/. Mais informações: 19-3521-7991.
Teses da semana Alimentos - “Estudo da resistência à corrosão de ligas de alumínio para embalagem de bebidas carbonatadas” (doutorado). Candidata: Beatriz Maria Curtio Soares. Orientador: professor Carlos Alberto Rodrigues Anjos. Dia 10 de dezembro, às 14 horas no Auditório II da DTA. Artes - “Violão expandido: panorama, conceito e estudos de caso nas obras de Edino Krieger, Arthur Kampela e Chico Mello” (doutorado). Candidato: Mário da Silva Junior. Orientadora: professora Denise Hortência Lopes Garcia. Dia 9 de novembro, às 9 horas, na sala 3 da CPG do IA. “O paraíso aos mineiros: proposições acerca de um discurso poético de Manoel da Costa Ataíde” (mestrado). Candidato: Marco Aurélio Figueiroa Careta. Orientador: professor Mauricius Martins Farina. Dia 11 de dezembro, às 14h30, na sala 3 da CPG do IA. “Cor e Infográfico – O Design da Informação na imprensa e no livro didático” (mestrado). Candidata: Milena Quattrer. Orientador: professora Anna Paula Silva Gouveia. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, no IA sala 3 da pós-graduação. “O estúdio não é o fundo de quintal: convergências na produção musical em meio às dicotomias do movimento do pagode nas décadas de 1980 e 1990” (doutorado). Candidato: Waldir de Amorim Pinto. Orientador: professor José Eduardo Ribeiro de Paiva. Dia 12 de dezembro, às 14h30, no IA sala 2 da Pós-graduação. “Música e invencão: conceitos, técnicas e poéticas” (doutorado). Candidato: José Henrique Padovani Velloso. Orientador: professor Silvio Ferraz Mello Filho. Dia 13 de dezembro, às 9 horas, na Pós-graduação do IA. “Entre rastros, laços e traços - o corpo, suas memórias e um processo criativo em dança” (mestrado). Candidata: Natália Vasconcellos Alleoni. Orientadora: professora Elisabeth Bauch Zimmermann. Dia 13 de dezembro, às 18 horas, no auditório do IA. Computação - “Interaction Design in the Pragmatic Web – Reducing Semiotic Barriers to Web-mediated Collaboration”(doutorado). Candidato: Heiko Horst Hornung. Orientador: professora Maria Cecília Calani Baranauskas. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC. “Evolução e recuperação de arquiteturas de software baseadas em componentes” (mestrado). Candidato: Andre Petris Esteve. Orientador: professora Cecília Mary Fischer Rubira. Dia 13 de dezembro, às 10 horas, no auditório do IC. “Jogos com propósito e construção de conhecimento em Design” (doutorado). Candidato: Roberto Romani. Orientador: professora Maria Cecília Calani Baranauskas. Dia 13 de dezembro, às 14 horas no Auditório do IC. Economia - “O mercado financeiro e a sustentabilidade: o papel das bolsas de valores” (mestrado). Candidata: Paula Ingegneri Attie. Orientador: professor Bastiaan Philip Reydon. Dia 10 de dezembro, às 9h30, no Pavilhão da Pós-graduação. Educação Física - “Avaliação do conteúdo de treinamento e sua relação com biomarcadores imunológicos, dano muscular e desempenho físico em jogadores de futebol júnior” (mestrado). Candidato: Eduardo Henrique Frazilli Pascoal. Orientador: professor João Paulo Borin. Dia: 12 de dezembro, às 14 horas, no auditório da FEF. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Desenvolvimento de indicadores de desempenho técnico-funcional, ambiental e econômico de sistemas estruturais em concreto” (doutorado). Candidata: Flávia Ruschi Mendes de Oliveira. Orientadora: professora Vanessa Gomes da Silva. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC. “Mutação urbana em Campinas: sua forma e paisagem” (mestrado). Candidato: Daniel Teixeira Turczyn. Orientador: professor Evandro Ziggiatti Monteiro. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, na sala CA-22 da FEC. “Análise de estruturas em cascas de formas livres sob ação do vento” (doutorado). Candidato: Antônio Mário Ferreira. Orientador: professor Isaias Vizotto. Dia 13 de dezembro, às 8 horas, na sala de defesa de teses da FEC. “Caracterização de solo utilizado no sistema de barreira impermeabilizante de base de uma célula experimental de resíduos sólidos urbanos”
(mestrado). Candidata: Mariane Alves de Godoy Leme. Orientadora: professora Miriam Gonçalves Miguel. Dia 13 de dezembro, às 9 horas, na sala CA22 da FEC. Engenharia Química - “Avaliação da eficiência energética renovável de matérias-primas alternativas para geração de bioenergia” (doutorado). Candidato: Vadson Bastos do Carmo. Orientadora: professora Kátia Tannous. Dia 9 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Determinação de diagramas de fases e do segundo coeficiente virial osmótico B22 na cristalização de proteínas com sal volátil carbamato de amônio” (doutorado). Candidata: Gisele Atsuko Medeiros Hirata. Orientador: professor Everson Alves Miranda. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, na sala de aula PG-05 do bloco D da FEQ. “Modelagem matemática para a otimização e scale up da polimerização radicalar controlada do estireno” (mestrado). Candidato: Roniérik Pioli Vieira. Orientadora: professora Liliane Maria Ferrareso Lona. Dia 10 de dezembro, às 9 horas, no auditório da FEQ. “Obtenção e caracterização de hidrogéis de glucomanana para aplicação como biomaterial” (mestrado). Candidata: Giovana Maria Genevro. Orientadora: professora Marisa Masumi Beppu. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Desenvolvimento de um processo de separação da lignina de biomassa lignocelulósica, avaliando estratégias antirrecalcitração” (mestrado). Candidato: Ricardo Assis dos Santos. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala de aula PG-05 do Bloco D da FEQ. “Estudo da adsorção das enzimas do complexo celulolítico em bagaço de cana-de-açúcar submetido a diferentes pré-tratamentos e avicel” (mestrado). Candidata: Daniele Longo Machado. Orientadora: professora Aline Carvalho da Costa. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Física - “Influência do Ambiente Químico na Fotoluminescência de Oxi-Nitreto de Titânio Dopado com Érbio” (mestrado). Candidato: Diego Leonardo Silva Scoca. Orientador: professor Fernando Alvarez. Dia 10 de dezembro, às 10 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Estudo dos Espectros Atômicos e Moleculares de Plasmas DBD Atmosféricos” (mestrado). Candidato: João Júlio Mendes Aguera. Orientador: professor Munemasa Machida. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Estação Experimental para Imagens de Raios-X com Contraste de Fase por Propagação” (mestrado). Candidato: Rafael Ferreira da Costa Vescovi. Orientador: professor Carlos Manuel Giles Antunez de Mayolo. Dia 12 de dezembro, às 10 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Sintetização e caracterização de vidros Teluritos dopados com Cloreto de Césio com perspectivas para aplicações ópticas” (mestrado). Candidato: Julio Alberto Peres Ferencz Junior. Orientador: professor Luiz Carlos Barbosa. Dia 13 de dezembro, às 10 horas, na sala de seminários do DEQ/IFGW. Linguagem - “A escola atual à luz da neurolinguística discursiva” (doutorado). Candidata: Maria Judith Ismael Righi Gomes. Orientadora: professora Maria Irma Hadler Coudry. Dia 10 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Sanapaná uma língua Maskoy: aspectos gramaticais” (doutorado). Candidato: Antonio Almir Silva Gomes. Orientadora: professora Lucy Seki. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Odontologia - “Análise fotoelástica da distribuição de tensões geradas por carregamento em coroas unitárias suportadas por implantes curto e longo” (doutorado). Candidato: Breno Carnevalli Franco de Carvalho.Orientador: professor Rafael Leonardo Xediek Consani. Dia 9 de dezembro, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. “Análise fotoelástica da influência de dois desenhos de osteotomia sagital do ramo mandibular fixados com miniplacas e parafusos de titânio para diferentes avanços mandibulares” (doutorado). Candidato: Valdir Cabral Andrade. Orientador: professor José Ricardo de Albergaria Barbosa. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Análise metalográfica, de gases e espectroscopia por energia dispersiva de raios - x de placas e parafusos para osteossíntese e de implantes dentários removidos de pacientes com indicação clínica” (mestrado). Candidata: Clarice Maia Soares de Alcantara Pinto. Orientador: professor Marcio de Moraes. Dia 12 de dezembro, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. “Avaliação dos padrões antropométricos nutricionais e das características do sistema mastigatório: morfologia oclusal e craniofacial, disfunção temporomandibular, força de mordida e biomarcadores salivares” (doutorado). Candidata: Bárbara de Lima Lucas. Orientador: professora Maria Beatriz Duarte Gavião. Dia 12 de dezembro, às 13 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Avaliação de propriedades físico-químicas do esmalte após utilização de diferentes tipos de agentes clareadores” (doutorado). Candidato: Carlos Eduardo dos Santos Bertoldo. Orientador: professor José Roberto Lovadino. Dia 13 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro 1 da FOP. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Monadas sobre espaços projetivos” (doutorado). Candidato: Vitor Moretto Fernandes da Silva. Orientador: professor Marcos Benevenuto Jardim. Dia 9 de dezembro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.
Livro
da semana
Universos da arte Sinopse: Neste livro Fayga Ostrower analisa obras de arte usando os princípios da linguagem visual e mostra como todo artista é fruto das influências que busca, bem como de seu tempo histórico. O livro tem mais de 300 ilustrações, sendo 118 esquemas que exemplificam os conceitos de composição e 188 reproduções de obras datadas desde a pré-história até os dias de hoje. Quem teve o privilégio de assistir às aulas de Fayga reconhece aqui sua forma de falar: a linguagem simples para explicar problemas complexos e a profunda crença de que arte e experiência de vida se misturam.
Autora: Fayga Ostrower Ficha técnica: 1a edição Ed. Unicamp, 2013; 512 páginas; formato: 16 x 23 cm ISBN: 978-85-268-1018-1 Áreas de interesse: Arte, Educação, História da arte Preço: R$ 96,00
“Sobre novos resultados na Teoria das Partições” (doutorado). Candidata: Cecília Pereira de Andrade. Orientador: professor José Plínio de Oliveira Santos. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Medicina - “Triagem auditiva neonatal em Unidade de Terapia Intensiva: comparação de dois protocolos” (mestrado). Candidata: Izabella dos Santos. Orientador: professora Maria Francisca Colella dos Santos. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, no auditório do Ciped. “Expressão dos Fatores LIF (Fator Inibitório de Leucemia), IL-6 (Interleucina-6), STAT-3 (Ativado de Transcrição-3) e Telomerase em Coriocarcinomas” (doutorado). Candidata: Luciana Pietro. Orientador: professora Liliana Aparecida Lucci De Angelo Andrade. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, no Departamento de Anatomia Patológica. Química - “Eletrodos de materiais inorgânicos modificados para células solares híbridas” (doutorado). Candidato: Flávio Santos Freitas. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 11 de dezembro, às 8h30, no miniauditório do IQ. “Espectroscopia raman amplificada por superfície em aplicações analíticas assistidas por ferramentas quimiométricas” (doutorado). Candidata: Mónica Benicia Mamián López. Orientador: professor Ronei Jesus Poppi. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na Sala 5 no IQ. “Desenvolvimento e validação de método analítico para determinação de Multirresíduos de Agrotóxicos em Morango por LC-MS/MS e Comparação com UHPLC” (doutorado). Candidata: Daniele Oshita. Orientador: professora Cristina Sales Fontes Jardim. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Reologia de organogéis baseados em glicosídeos aromáticos” (doutorado). Candidato: Thiago Augusto Simões. Orientador: professor Edvaldo Sabadini. Dia 13 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Aplicação de técnicas de espalhamento de raios X na caracterização estrutural de proteínas e modelagem computacional utilizando vínculos experimentais obtidos por SAXS” (doutorado). Candidato: Marcelo Augusto dos Reis. Orientador: professor Ricardo Aparicio. Dia 13 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal
Hemocentro soma 1 milhão de bolsas de sangue coletadas Hemocentro da Unicamp comemorou no último dia 29 a marca de 1 milhão de bolsas de sangue coletadas em seus 28 anos de atividades. Uma placa onde está inscrito o número de doações foi descerrada durante cerimônia que contou com a participação de dirigentes, funcionários, doadores e pacientes. “Nossas atividades começaram em 1985, num espaço improvisado do Hospital de Clínicas. Atualmente, nós somos responsáveis pelos serviços de referência terciário e quaternário nas áreas de Hematologia, Hemoterapia Clínica e de suporte técnico referencial para 127 municípios, que respondem por cerca de 20% da população de São Paulo (8,5 milhões de habitantes)”, afirmou Marcelo Addas Carvalho, diretor da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro. Conforme Carvalho, o Centro coleta aproximadamente 8 mil bolsas de sangue por mês e conta com 500 funcionários. “Atingimos o patamar atual graças ao apoio da Reitoria e ao comprometimento dos nossos colaboradores. Aqui nós costumamos brincar que todos dão suor e sangue em favor do Hemocentro”, disse. No
caso de Silvio Quitério dos Santos, a afirmação bate 100% com a realidade. Funcionário há 25 anos do Hemocentro, ele é um dos maiores doadores de sangue da unidade. “Eu doo de sangue há 20 anos. Até hoje, já somei 73 doações”, calculou. Conforme Addas, o exemplo de Silvio precisa ser seguido por mais pessoas, visto que o sangue doado salva inúmeras vidas. “A sociedade atual vive uma fase de intenso individualismo e isolamento. Isso precisa ser superado. Precisamos ser mais solidários. A população está envelhecendo, o que amplia a complexidade do atendimento na área da saúde e a consequente necessidade de sangue”, observou. Ainda segundo o diretor da Divisão de Hemoterapia, os resultados da campanha de coleta durante a Semana Nacional do Doador de Sangue, encerrada no último dia 29, ficaram 30% abaixo do esperado. “Isso nos traz preocupação, pois esse sangue serve de estoque para uso durante o período de festas que se aproxima. Precisamos que a população nos procure para fazer mais doações”, convocou. (Manuel Alves Filho)
Foto: Antoninho Perri
Silvio Quitério dos Santos (à esq.), funcionário, e Marcelo Addas Carvalho, diretor da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro, descerram placa com o número de doações
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O poeta com olhar
de fotógrafo Funcionário da área de informática da FEF sempre atuou em várias frentes MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
Beeroth de Souza: “Não conseguimos traçar o destino, mas temos de nos posicionar diante dele”
As palavras, além do apoio em informática, também são responsáveis pela coleção de troféus, medalhas, placas, homenagem em formaturas, monografias, teses, dissertações ofertados por alunos e pesquisadores. E foram os ouvidos atenciosos às palavras que incentivaram Beeroth a driblar tudo aquilo que chamavam de realidade para os pobres. A realidade, a exemplo do poeta, pode ser melhorada. – Não podemos chegar a um lugar e querer transformar, mas temos de nos colocar como alternativa para uma mudança. Mostrar o que podemos oferecer.
SOBREVIVÊNCIA Para começo de história, a família mudou-se para São Paulo, por sugestão sua, quando, aos 11 anos de idade, decidiu combater a violência doméstica contra sua irmã. – Era o irmão mais velho e, por isso, teria de protegêla de seu marido. Chega hora na vida que a pessoa tem de decidir como será sua atuação na sociedade. Se tentará agir de maneira a mudar a sociedade, ou ficará se fazendo de coitado, sem causa. Não conseguimos traçar o destino, mas temos de nos posicionar diante dele. Foi este o sentido que Beeroth encontrou na palavra servidor público. – Servidor público é servir as pessoas, independentemente de ter alta escolaridade. Como bom poeta, sabe, porém, que a oportunidade não existe para todos. – Assim que cheguei a São Paulo, naquele ambiente, já percebi que quem não tem poder satisfatório de sobrevivência está fora do processo. Eu, por exemplo, adorava estudar, mas sempre tínhamos de tentar a vida em outra região porque o proprietário pedia a casa. Senti o choque ao desembarcar numa favela de São Paulo. Até pai de família era visto como ladrão. Hoje mudou. Há um projeto lá. Conheci jogador profissional que havia ido parar naquele lugar. Profissional da área de cultura que abandonou a carreira por causa de mulher. Era outro universo, outra lei, outra constituição, mas não me rendi. Mas todo choque de realidade deve servir para caminhar, jamais para retrair. Beeroth driblou o que diziam ser convencional. Já queria ser um homem “rico”. – Um dos divisores de água é aquela constatação do que você precisará fazer para ser igual aos outros, mesmo sendo diferente. Precisava de amor como todos, sentir que estava me relacionando. Quando nos viam abrindo a calça jeans com outro tecido para ficar boca de sino, alguns jovens nos diziam que era somente descer e tirar “daqueles que estavam com o que era nosso”. Ideia absurda. Éramos incentivados a fazer o mesmo. Em minha vida, nunca primei por ter algo que não fosse meu. Vi muitos amigos serem mortos com 11, 12 anos porque desciam a roubar e eram mortos. Nessas horas, pesa o que pai e mãe ensinaram desde o nascimento: “É melhor ter um caroço de abacate que seja seu a ter um sítio que não lhe pertença”. Ao relembrar toda a trajetória, em sua opinião, com muita glória, constata que apenas um fato dói até hoje. – Num episódio triste, tentaram me armar para fazer justiça com as próprias mãos. Com o passar do tempo, trouxemos o restante da família a São Paulo, mas ela não foi bem aceita por ser crente. Colocaram fogo na casa e morreram dois sobrinhos. Esta dor me incentiva até hoje a lutar para tentar fazer com que o ser humano aprenda a respeitar o que é dos outros. Essa experiência, Beeroth usa para ilustrar aos jovens a importância de ser espelho o tempo todo. – Tem momento na vida que você vai decidir não somente seu destino, mas o de outras pessoas a sua volta. Imagino onde estaria se seguisse aquele apelo para fazer justiça com as próprias mãos. Quando chamo os alunos de professores, logo que chegam à FEF, ficam bravos e dizem que me estou subvalorizando, mas o que quero dizer é que, na vida, todos nós estamos o tempo todo ensinando algo a outrem e precisamos ter consciência disso. Digo também que um erro nosso serve de escola a outra pessoa. Diz a palavra que “o ser humano deve ser o sal da terra”. É pretensão, mas o ser humano tem de buscar isso.
Foto: Antonio Scarpinetti
eeroth de Souza sequer gravou o contorno de suas mãos na massa de cimento, como fazem as estrelas, mas sabe – e isso sim importa – da presença delas em cada barra de cimento da Atrefe, hoje institucionalizada Faculdade de Educação Física (FEF). Em meio à massa crítica, destacase por ter a genialidade dos gênios. Redundância? Não, se pensar que muitos nascem num ambiente propício para se sentir e se tornar gênio, ao passo que Beeroth foi um “gênio”em ambientes previamente julgados propícios a não formarem ninguém. Ao chegar de Minas Gerais a São Paulo, Beeroth só encontrou morada num lugar onde “a lei chegava tratando todos como bandidos”. Se foi assim “na periferia da periferia” daquela cidade grande, na Unicamp foi bem diferente. Ao chegar, em 1987, foi parar num lugar onde encantou quase todos com a sabedoria emanada da experiência de vida e seu vocabulário irretocável, adquirido, inicialmente, em pedaços de livros e gibis descartados nas ruas de São Paulo, onde começou a sobreviver da venda de papéis que juntava. Nos versos que escreve, soam amores perdidos, mas nas histórias que conta, ressoam versos da lida. E esses, caros amigos, quem não tem demora a aprender a lidar com versos. – Doutores, professores você encontra por trás de picaretas (ferramenta); e debaixo de capacetes há gênios notáveis. Conheço muitos que produzem maravilhas em sua casa que, se fossem comercializadas, eles ficariam ricos, mas preferem fazem para distribuir em sua comunidade. E quando os alunos da FEF dizem que é inteligente, o funcionário da área de informática explica: – Aí é que está a diferença do ser humano. Tem o inteligente e o sábio. Aquele realmente útil à sociedade é sábio. O cara que é somente inteligente vai descobrir a fusão termonuclear e usar este conhecimento para fazer uma bomba capaz de destruir um país; já o sábio vai usá-lo para inibir uma célula que pode estar maltratando a pessoa. Prefiro ser sábio. Prefiro saber como adubar a parreira para que se torne um cacho de uva que discorrer sobre grandes teorias. O funcionário poeta tornou-se, pela presteza, inteligência e talento, um verdadeiro presente para a Faculdade de Educação Física, a bancada de servidores do Conselho Universitário, o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade, o Núcleo de Funcionários Fotógrafos da Unicamp. Atua em várias frentes enquanto apoia os futuros profissionais da educação física na área de Informática da FEF, sua principal atividade no momento. Não há evento da faculdade que passe despercebido aos olhos eletrônicos de sua câmera. Atualmente, de tanto fotografar exposições, ajuda a equipe da Galeria de Arte a registrar seus eventos em momentos de respiro. Brincadeira de menino que virou hábito, mania e ainda servirá de memória. O reconhecimento dos alunos, professores e pesquisadores, principalmente daqueles que escrevem de outras partes do mundo, enchem o coração de Beeroth de certeza de que faz sua parte na sociedade. – Quando um pesquisador como o técnico de futebol Alessandro Schoenmaker escreve e-mail da Holanda para contar que foi campeão, por exemplo, sinto que, em algum momento, marquei a vida de alguém. A riqueza de um homem não se compra pela grana, pelo carro que tem, mas, se um dia ele sentir dor e tiver uma pessoa para encostar a cabeça no ombro dela, saberá que é um homem rico. Difícil dizer o que faz de Beeroth uma das enciclopédias humanas da Unicamp. Se são os olhos do menino obrigado a analisar cada segundo de sua existência para não cair em armadilhas, se seria o olhar do fotógrafo, ou a cabeça de poeta. Mas pode apostar: se encontrá-lo, vai sair com uma resposta e uma pergunta na cabeça. Isso quando ele não vem com uma pergunta para adicionar a resposta em seu repertório. Às vezes, a sugestão de pauta parte dele. Como, por exemplo, a proposta de nomear o jardim da Secretaria Geral de Praça Milton Santos [geógrafo brasileiro] por saber da existência de um baobá [árvore símbolo da resistência do povo negro] no local. Desde que essa “perspicácia em ser” chegou a Campinas, já produziu dezenas de livros de poesia. A impressão, a cada entrevista, é que tem parte com os dicionaristas. Ou foi obrigado por alguma mestra em sua pouca participação em sala de aula a engolir um dicionário.
E assim, Beeroth tentou se fazer sal na vida de um grupo de garotos e garotas do condomínio onde residia na Moradia de Funcionários da Unicamp. – Ao ver tanta criança sem ocupação nas horas vagas, eu, pai de dois filhos, decidi agir e chamei outros amigos para treinar futebol com as crianças. Naquele grupo ninguém se perdeu. Inclusive, uma das meninas hoje faz parte da equipe Tecnol. Não sou empresário, mas percebi que se posso mudar a qualidade de vida e o que há na cabeça do cidadão, a prática de esporte é um bom instrumento. O esporte condiciona você a ser uma pessoa que cumpre as regras. Além disso, a brincadeira de menino mais uma vez tornou-se coisa séria e proporcionou algumas emoções aos adolescentes e seus treinadores. Disputaram campeonatos no Sesi e tiveram a oportunidade de conhecer jogadores, jogar na Associação Atlética Banco do Brasil. – Quis mostrar a eles que para ser alguém temos de tentar conquistar aquilo que é para nós, e não o que é para os outros. Certo o poeta. E que suas palavras direcionem outras pessoas. Assim como ele foi direcionado a organizar seu primeiro varal de poesias e concretizar o sonho de ser um escritor. – Trabalhava na construção do Museu Dinâmico de Campinas. Eu descartava a primeira e a terceira folhas de papel do saco de cimento e usava a segunda para escrever meus poemas. João Euler e Cecília Copo Ribeiro descobriram e promoveram o primeiro varal de poesia de minha vida. O primeiro livro de poesias de Beeroth é intitulado Rascunho de minh’alma e foi publicado pela editora Palavra Muda, de Mauro Cesar Romeira e Orlando Rodrigues. Em seguida, na década de 1980, na companhia do professor Jocimar Daólio e outros funcionários da Unicamp, lançou o livro Poesias à luz do tempo. – Senti o saborzinho de ser escritor, mas tem outras produções prontas, esperando editora. O estudo é importante, mas temos de lapidar algumas coisas dentro de nós senão acabamos somente inteligentes. Somos sábios somente quando juntamos o estudo que recebemos com a vivência do dia a dia. E essa vivência que me moldou. Orgulho é coisa para ficar debaixo da mesa, na opinião de Beeroth. – Hoje estou na área de informática, mas sei da massa que preparei. Tem muita gota de suor minha misturada neste cimento e nesse concreto. Quanto à poesia, quero que as pessoas esqueçam um pouco a angústia e fazer com que se sintam melhor pela minha arte. Além disso, sou feliz com a família que tenho. Sou um ser humano em processo de construção. Seu mais recente livro lançado em Porto, Portugal, intitulado Âmago (sílabas iniciais de Ana Maria de Godinho, sua primeira mestra), contém um poema que ilustra sua opinião sobre ser poeta: Ser um poeta é sorrir chorando/como se a dor que a gente sente/assim fosse abstratamente concreta/fosse concreta-mente inexistente/E estar no olho do furacão/Ver o futuro pelo prisma dos sonhos/E ser guerreiro, contra a mesmice do talvez/E ser menino a um passo de ser Deus/E ser flor, cutelinho e aroma/E ser pássaro/do amor de ilusão vestido/E ter sempre aos lábios um canto de fé e esperança/E ser terra, mar e céus/E ter a pureza de gentil criança/E recriar a gênesis em fria folha de papel.
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Campinas, 9 a 15 de dezembro de 2013
Um olhar sobre a arquitetura escolar Foto: Extraída do livro “Arquitetura escolar paulista – estruturas pré-fabricadas” (FDE, 2006)
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
s gerações mais antigas se lembram de que os prédios que alojavam as escolas públicas de São Paulo se distinguiam em todo o Estado pela solidez e pela arquitetura que, além de tudo, abrigava um ensino considerado de qualidade. Talvez o exemplo mais emblemático seja o da Escola Caetano de Campos, na cidade de São Paulo. Era uma época de poucas escolas, que atendiam um público restrito. Com a democratização e a obrigatoriedade do ensino público, as urgências das construções escolares levaram à sua padronização, agravada pela escassez de recursos. Estudos têm mostrado que esses edifícios nem sempre apresentam desempenho satisfatório para abrigarem as atividades de ensino, conforme recomendado na literatura especializada. A professora Doris C.C.K. Kowaltowski, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp mantém linha de pesquisa que procura oferecer subsídios para a resolução do problema. O interesse da professora pela arquitetura escolar remonta à sua graduação, na Austrália, quando abordou o tema em seu trabalho de conclusão de curso. É pois recorrente, em sua trajetória, a dedicação ao estudo da arquitetura escolar no Brasil e no mundo. Entre as várias razões que justificam esse interesse, ela destaca a necessidade de construções que atendam cada vez mais às dinâmicas que ocorrem na educação em face das novas tecnologias, das mudanças de conteúdos, das alterações pedagógicas e sociais, e realistas em relação às possibilidades econômicas do país. Para atender a esses requisitos e às sucessivas gerações de professores e alunos, a escola precisa dispor de uma estrutura física sustentável e pedagógica. No Brasil, a escola pública ostenta uma arquitetura bastante padronizada, até muito simples, desprovida, em muitos casos, de encantamento, diferente do que se esperaria oferecer às crianças e aos jovens. De certa forma, esta situação decorre do célere crescimento e atendimento da demanda e à limitação de recursos. Os trabalhos orientados pela professora Doris têm procurado contribuir mais especificamente para a melhora da arquitetura escolar no Estado de São Paulo, em que os projetos de edificações escolares são gerenciados pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), responsável por mais de cinco mil prédios escolares do Estado. Em mestrado por ela orientado, que se deteve em caracterizar o processo de projeto de edifícios escolares entrevistando 44 arquitetos, ficou demonstrado que havia necessidade de apoiar esses profissionais, fornecendo um método que ampliasse os repertórios de análise e estimulasse reflexões sobre projetos em andamento. Essas constatações, corroboradas por dados da literatura, mostravam que a Fundação apresenta um processo de projeto linear e com poucas fases de análise. Além disso, resultados de avaliações pós-ocupação permitem constatar que os prédios escolares apresentam desempenho em geral insatisfatório, principalmente em relação às questões de conforto ambiental (térmico, acústico e luminoso). Com base nesses elementos, a arquiteta Paula Roberta Pizarro Pereira se propôs a criar uma metodologia que pudesse servir de apoio ao desenvolvimento de projetos de edificações escolares da FDE, dentro da sua pesquisa de doutorado no novo programa de pós-graduação da FEC denominado Arquitetura, Tecnologia e Cidade (ATC). Ela partiu da hipótese de que, por meio do conhecimento adquirido sobre a morfologia de métodos de avaliação e análise de projetos disponíveis na literatura, é possível desenvolver um método que seja compatível com o contexto da FDE e também com as necessidades específicas evidenciadas pelos arquitetos. A partir de um levantamento foram selecionados três métodos para análise que serviram de suporte para o desenvolvimento do método destinado a FDE.
Solução de fachada de escola da FDE analisada no parâmetro “volume e composição” do método de análise de precedentes proposto pela pesquisa
Foto: Antoninho Perri
A orientadora, professora Doris C.C.K. Kowaltowski (à esq.), e a autora da tese, Paula Roberta Pizarro Pereira: ambiente escolar mais rico
Paula considera que o processo a partir daí desenvolvido constitui um instrumento favorável para sistematizar a tomada de decisão e escolher melhores soluções para determinados aspectos de projetos escolares da FDE. Com base em estudos futuros, ela prevê a inserção do método em um sistema de banco de dados para projetos de edificações escolares que, além de tudo, venha a ser constantemente realimentado com o emprego da metodologia.
PARTIDA E CHEGADA
Com base nas solicitações da Secretaria da Educação do Estado, que define previamente os parâmetros básicos a serem observados na elaboração de cada projeto escolar – com áreas e ambientes pré-determinados, como local, tamanho e forma do terreno, pátios e áreas para esporte, salas de aulas e de suporte, entre outros –, a FDE elabora edital convidando arquitetos interessados no desenvolvimento do projeto do prédio a ser construído. Os projetos apresentados são então examinados pelos analistas da Fundação para a escolha do mais adequado. Com a metodologia criada, Paula espera oferecer subsídios alicerçados em bases científicas para que essas análises possam ser realizadas com mais acuidade. Pretende, também, que ela possibilite aos projetistas o enfrentamento dos desafios decorrentes das condições impostas e possibilite a criação de projetos mais consistentes. Comumente, o profissional selecionado se defronta com a rigidez das imposições e exíguo prazo de execução, o que faz a professora Doris constatar que “mesmo profissionais experientes e qualificados necessitam de um método que otimize suas tarefas, estimule a reflexão e permita uma pesquisa com base em um repertório mais amplo. As nossas pesquisas mostram que esses profissionais precisam dessas ferramentas e estão abertos a elas”.
Nessa perspectiva, a docente propôs à sua orientanda o desenvolvimento de um trabalho que de alguma maneira torne o processo dos projetistas mais ricos e que lhes ofereça a oportunidade de refletir sobre questões da arquitetura escolar. “O que a Paula fez foi desenvolver um método que possibilitasse análise e reflexão de projetos. Enquanto o projetista está procurando uma solução, ele deveria fazer pausas de reflexão sobre o que está propondo. O método desenvolvido por ela serve para que essa reflexão tenha mais consistência”, diz ela. Para a execução do trabalho, foi feita uma varredura nos métodos e ferramentas de análise e avaliação existentes na literatura, selecionados três aplicados em projetos da FDE e em precedentes com vistas a investigar a morfologia desses métodos e extrair deles o que fosse de interesse no desenvolvimento de sua proposta. Os três métodos escolhidos foram: Design Quality Indicator (DQI for Schools), a Metodologia de avaliação de conforto ambiental de projetos escolares – otimização multicritério, e o Comparative Floorplan-Analysis (CFA). Com efeito, o inglês DQI traz uma matriz conceitual de requisitos e de seus conteúdos especificados para a área da arquitetura escolar, que foi analisado pela autora. Ela selecionou os mais adequados à realidade brasileira. Já na metodologia de otimização de multicritérios – também desenvolvida por uma aluna da professora – a pesquisadora observou como um arquiteto corrige um projeto durante sua elaboração, fazendo uso de elementos gráficos de variações de tipologia, combinadas com índices. Doris esclarece que ele permite a otimização da questão de conforto através dos parâmetros térmico, acústico e luminoso e de funcionalidade. Aplicável desde os primeiros esboços do projetista, apresenta tabelas em que esses indicadores de conforto possam ser considerados em conjunto e corrigidos ainda nas primeiras etapas de projeto.
O CFA, desenvolvido na Holanda, propõe que o profissional decida sobre a melhor solução comparando soluções de mesma natureza de um conjunto de plantas. Como mesmo os arquitetos mais experientes, ao iniciarem um projeto, partem de várias soluções, o método oferece possibilidades de reflexão sobre a escolha da melhor decisão. Valendo-se dos elementos que lhe pareceram úteis nesses três métodos e de outras propostas encontradas na literatura, Paula elaborou um método, constituído de requisitos funcionais, estrutura e procedimentos para análise de soluções, que pudesse ser utilizado pela FDE. Aplicou o método em 17 projetos elaborados pela Fundação e em 17 projetos precedentes. Para ela, o método permite uma análise conjunta de uma série de elementos que participam de um projeto. Paula explicita: “Analiso basicamente cinco parâmetros: acessos e facilidades – que envolvem entradas principais estacionamentos e facilidades encontradas na implantação do projeto; tipologia – que no caso das escolas apresenta características específicas em que se destacam salas e corredores; setorização – determinada pela localização dos vários ambientes específicos; volume e composição – que se atém aos elementos das fachadas, número de pavimentos, materiais usados, tipos de proteção solar; e ambientes e componentes – que envolvem a resolução dos limites dos vários ambientes dentro do edifício e o mobiliário. Esse quadro de análises me permite, a partir soluções encontradas, buscar as mais adequadas ao projeto”. O método de análise de projetos escolares desenvolvido por Paula é uma contribuição importante para o desenvolvimento do conhecimento em metodologia de projeto. Desta maneira, a professora Doris considera que de alguma forma seu grupo de pesquisa tem estimulado a discussão da arquitetura escolar, questionando e demonstrando que existem novos caminhos a serem trilhados. “Existe muita gente no Brasil que começa a se interessar pelo assunto e é bastante gratificante saber que os trabalhos dos meus alunos e alunas estão produzindo resultados e os questionamentos por eles levantados estão muito presentes nas discussões atuais. Não aceitamos mais a arquitetura escolar fora do seu contexto local e temporal. Queremos demonstrar que, mesmo com poucos recursos, é possível oferecer um ambiente escolar mais rico e aberto a novas demandas sociais e pedagogias”, conclui a docente.
Publicação Tese: “Métodos de análise de precedentes para apoio ao projeto da arquitetura escolar pública do Estado de São Paulo” Autora: Paula Roberta Pizarro Pereira Orientadora: Doris C.C.K. Kowaltowski Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)