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Unicamp leva Grande Prêmio Capes 12

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 587 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Ilustração: Chang Dai-chien/ Reprodução

A ‘ressurreição’ das florestas 3

Tese da bióloga Juliana Sampaio Farinaci revela que a cobertura florestal vem aumentando em São Paulo desde a década de 1990. A pesquisa ganhou o Prêmio Capes de melhor tese na área de Ciências Ambientais.

Foto: Antonio Scarpinetti

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Sujeito e discurso em Paul Henry

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‘Picasso da China’ – A trajetória de Chang Dai-chien, autor da obra acima.

Mídia amplifica efeitos do terrorismo

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Reduzindo a emissão de gases na pecuária

O Jornal da Unicamp volta a circular em fevereiro de 2014


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Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Ilustração: Nasa/Reprodução

Mídia potencializa trauma do terrorismo A explosão de duas bombas de fabricação caseira durante a Maratona de Boston deste ano, em 15 de abril, matou três pessoas, feriu mais de 200 e causou trauma emocional em milhares. Esses efeitos psicológicos do atentado, com estresse e trauma coletivo, foram amplificados pela intensa cobertura midiática, diz estudo publicado no periódico PNAS. O trabalho aponta que a exposição intensa à cobertura de um evento do tipo pode ser até mais estressante que a exposição direta às explosões. De acordo com o estudo, de autoria de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine, seis horas ou mais de exposição ao noticiário sobre o atentado, na semana seguinte às explosões, estiveram “mais fortemente associadas a estresse agudo” do que a presença física no local do ataque. O trabalho também mostrou que pessoas diretamente expostas a atos de violência anteriores – como os ataques de 11 de setembro de 2001, ou tiroteios em escolas – tiveram mais risco de sofrer estresse agudo causado pela cobertura dos eventos de Boston do que pessoas previamente expostas a desastres naturais. “A mídia de massa pode se tornar um condutor que espalha as consequências negativas de um trauma coletivo para além das comunidades diretamente afetadas”, concluem os autores.

Estresse prejudica tomada de decisão Em outro artigo da mesma edição da PNAS, cientistas da Universidade de Nova York, Universidade Rockfeller e Nathan Kline Institute afirmam que o estresse, medido pelo nível de hormônio cortisol na saliva, atrapalha o funcionamento do sistema mais sofisticado de tomada de decisões do cérebro, que antevê consequências e planeja ações futuras. Outro sistema, mais primitivo, que apenas estimula a repetição de comportamentos já adotados no passado, não é afetado. A capacidade do estresse em bloquear o uso dos modos mais sofisticados de tomada de decisão parece ligada à chamada “memória de trabalho” – a capacidade do cérebro humano de armazenar informações no curto prazo, para uso imediato. Quanto maior a memória de trabalho, menor o efeito deletério do estresse.

Antigo lago marciano pode ter abrigado vida Pesquisadores que trabalham com os dados que o robô Curiosity, da Nasa, vem enviando do planeta Marte, acreditam ter reunido evidências de que o planeta vermelho já abrigou pelo menos um lago de água doce, capaz de sustentar seres vivos. As conclusões aparecem em artigo publicado na revista Science. Análise de dados geológicos indicam que um sítio chamado Baía Yellowknife, no interior da Cratera Gale, conteve uma massa de água há 3,6 bilhões de anos. Os autores do artigo creem que o lago pode ter perdurado por dezenas ou centenas de milhares de anos, contendo água doce e elementos essenciais para a vida, como carbono, oxigênio e nitrogênio. Além disso, rochas sedimentares do tipo encontrado pelo Curiosity costumam se formar em águas tranquilas, o que reforça a possibilidade de a área ter mostrado condições favoráveis para a vida.

Concepção artística de missão com astronautas na superfície de Marte

Radiação perigosa na viagem a Marte

Matemáticos criam ‘epidemiologia bancária’

Dinheiro corrompe, tempo salva

Em outro artigo recente da Science sobre as descobertas feitas no planeta vermelho com dados do robô Curiosity, cientistas avaliaram a presença de radiação no ambiente marciano. De acordo com nota divulgada pelo Southwest Research Institute, responsável pelo instrumento de detecção de radiação a bordo do robô, o principal risco de contaminação radioativa de astronautas que viajem a Marte residirá no voo pelo espaço, e não na superfície do planeta: 60% da radiação de uma missão de 500 dias de exploração em solo marciano seria absorvida no trecho espacial da viagem – ida e na volta – e 40%, durante a atividade em Marte propriamente dita. A exposição total à radiação, da ordem de 1 sievert, está associada a um aumento de 5% na chance de surgimento de câncer fatal. A Nasa considera como limite aceitável um aumento de 3%, para missões na órbita terrestre, mas ainda não definiu parâmetros para missões a outros planetas.

Pesquisadores da Universidade Carlos III de Madri e do University College London realizaram uma simulação, baseada na teoria matemática das redes, sobre a estrutura do sistema bancário mundial, e concluíram que, além de regulamentar as instituições individualmente, as autoridades deveriam também prestar atenção nas relações entre elas. O trabalho foi publicado no periódico PLoS ONE. De acordo com um dos autores do trabalho, o pesquisador Anxo Sánchez, “um bom modo de aumentar a robusteza da rede, e assim evitar que uma falha ou choque se espalhe por todo o sistema, pode ser modificar os elos entre as entidades”. As declarações de Sánchez aparecem em nota distribuída pela instituição espanhola. “Alguns empréstimos interbancários poderiam ser reestruturados, reorganizando a rede em subgrupos”, sugeriu ele, porque exigir dos bancos um aumento de reservas talvez não baste para garantir a segurança do sistema.

Pensar em dinheiro aumenta a tendência das pessoas a se comportar de modo desonesto, mas pensar em tempo tem o efeito oposto, diz artigo publicado no periódico Psychological Science. Os autores submeteram centenas de voluntários a quatro experimentos envolvendo tarefas – como resolver enigmas de palavras com letras misturadas – criadas para induzi-los a pensar em “tempo” ou “dinheiro”, ou em nada em particular. Ao final das tarefas, os voluntários tinham de declarar quantos problemas haviam sido capazes de resolver. Resultado: os participantes que tinham sido levados a pensar em dinheiro mentiram, citando um número maior de soluções que o real, muito mais do que os que haviam sido induzidos a pensar em tempo, e que os que tinham realizado as tarefas neutras. Já pensar em tempo fez com que as pessoas trapaceassem menos que os colegas que tinham pensado em dinheiro e, até, que os haviam recebido os problemas neutros. Os autores do estudo – de Harvard e da Universidade da Pensilvânia – concluíram que pensar no conceito de tempo leva o indivíduo a refletir sobre sua vida, seu caráter e a imagem que tem de si mesmo, o que põe as questões éticas em perspectiva.

Levantamento revela machismo na ciência

HIV retorna após transplantes de medula Dois pacientes de HIV que pareceram livres do vírus durante meses, depois de se submeterem a transplantes de medula, voltaram a apresentar sinais da infecção, disseram pesquisadores num congresso científico realizado nos EUA. A notícia foi divulgada pelo site da revista Nature. O tratamento dos dois pacientes foi semelhante ao aplicado a Timothy Ray Brown, declarado curado da infecção em 2009, depois de receber um transplante de medula com células resistentes ao HIV. Os pacientes que sofreram com o retorno da doença haviam recebido um transplante de células comuns, para combater linfomas. Ambos continuaram a se tratar com drogas antirretrovirais, mas depois de oito meses, o vírus havia desaparecido de seus exames de sangue, e os dois optaram por suspender o tratamento. Em julho, seus médicos anunciaram que eles “possivelmente” tinham sido curados, mas essa esperança não se confirmou. Os dois pacientes passam bem, mas voltaram a tomar antirretrovirais.

Nos países que mais produzem ciência, os artigos científicos que têm mulheres como autores principais são menos citados que os assinados por homens. Essa disparidade é agravada pelo fato de que os trabalhos encabeçados por mulheres tendem a envolver menos colaboração internacional e, assim, obtêm menos citações fora do país de origem. Essa é uma das assimetrias levantadas por uma avaliação de mais de 5 milhões de artigos publicados entre 2008 e 2012, divulgada na revista Nature. Outros dados apurados mostram que, para cada artigo em que uma mulher aparece como pesquisador principal, dois outros trazem homens nessa posição. Menos de 6% dos países com trabalhos indexados na base de dados Web of Science chegam perto de atingir paridade de gênero nas publicações científicas. Os países mais desiguais são Arábia Saudita, Irã, Japão, Jordânia e Emirados Árabes Unidos. “Nenhum país pode se dar ao luxo de ignorar a contribuição intelectual de metade de sua população”, advertem os autores do levantamento, ao pedir políticas “realistas” para evitar a reprodução dos mecanismos que promovem a predominância masculina.

O lugar mais frio da Terra O ponto mais gelado do planeta fica num platô da Antártida, onde a temperatura pode cair a -92º C durante a noite no inverno, mostram dados levantados pelo satélite americano Landsat 8. A informação foi encontrada durante uma análise do mais detalhado mapa das temperaturas globais já feito, construído a partir das informações do satélite. O recorde anterior de frio, registrado na década de 80, também ficava na Antártida, mas em outra parte do continente, e a temperatura mínima obtida foi de “escaldantes” -89,2º C. O novo recorde foi captado pelo satélite em 2010. Já o local permanentemente habitado mais frio do mundo é o nordeste da Sibéria, onde a temperatura já foi vista caindo a -67,8º C pelo menos duas vezes.

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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013

Estudo revela aumento da

Foto: Divulgação

cobertura florestal em SP Trabalho ganhou prêmio da Capes de melhor tese na área de Ciências Ambientais CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

área coberta por florestas no Estado de São Paulo vem aumentando progressivamente desde a década de 90 do século passado, trazendo benefícios ecológicos e para a biodiversidade, mas também criando desafios econômicos e sociais. As causas do fenômeno são multifacetadas: envolvem desde um aumento da consciência ambiental, nos municípios afetados, à pressão internacional por produtos “ecologicamente corretos”, passando pelas crises econômicas dos anos 80 e 90 que levaram muitos produtores a abandonar suas terras, diz Juliana Sampaio Farinaci, autora da tese de doutorado “As novas matas do Estado de São Paulo: um estudo multiescalar sob a perspectiva da Teoria da Transição Florestal”. O estudo, defendido no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, no programa de doutorado interdisciplinar em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), foi orientado pelo professor Mateus Batistella e coorientado pela professora Cristiana Simão Seixas. O trabalho de Juliana, que é bióloga e pesquisadora do Nepam, já recebeu dois prêmios: o de melhor tese de doutorado em Ciências Ambientais, da Capes, e o da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (Anppas). O escopo do trabalho é ambicioso, envolvendo desde um levantamento dos dados de satélite sobre cobertura florestal no Estado, como um todo, a pesquisas mais focadas em seis municípios específicos e, por fim, entrevistas pessoais com proprietários de terra. “O esforço que fiz, e que talvez tenha sido disso que as pessoas gostaram na minha tese, é o trânsito entre o macro e micro”, disse a pesquisadora ao Jornal da Unicamp. “Não adianta dizer: ‘Olha está aumentando a floresta! Que maravilha’, mas perguntar, maravilha para quem? Quando você vai olhar na escala local, tem toda uma tragédia social envolvida, mas também tem os benefícios ambientais. É preciso ver como que a gente, como sociedade, pensa isso”. A constatação do avanço, ainda que modesto, da cobertura florestal se deu por meio da consolidação de dados de quatro diferentes fontes: o Instituto Florestal do Estado de São Paulo, o Censo Agropecuário do IBGE e o Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo apontam aumento na área coberta por florestas a partir de 1990-1995, enquanto que os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e SOS Mata Atlântica constatam uma queda acentuada no desmatamento no Estado, a partir de 2000. “Concluo que existe evidência, pelas próprias fontes de dados oficiais, que mais concordam do que discordam, de que se pode falar, sim, que está havendo um ganho líquido, ainda que discreto”, disse Juliana. E a virada – depois de décadas de devastação continuada – veio nos anos 90. “Isso é algo que, acredito, tem muito a ver com o contexto político-econômico do Brasil e do mundo, em resposta a coisas que aconteceram aqui nas décadas de 80 e 90”, explica a pesquisadora, citando, entre outros exemplos, a criação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), a disseminação da ideia de desenvolvimento sustentável entre empresas e governos e, também, a crise econômica brasileira da época. “Problemas de ordem política e econômica levaram a uma certa estagnação econômica do Brasil, o que pode ter favorecido um maior abandono de terras em algumas regiões”, disse.

Paisagem rural do município de São Luiz do Paraitinga, SP, mostra matas em recuperação, plantações de eucalipto e pastagens

“Quando a gente fala abandono, não é que os donos foram embora e largaram – isso às vezes até acontece –, mas na maior parte das vezes é: eu tenho 50 hectares, não tenho condição de manter isso tudo limpo, porque demanda uma mão de obra, é trabalhoso e custoso. Então, se eu não tenho condição de vender a minha produção, e gerar esse dinheiro, eu vou reduzir”, descreveu a autora, acrescentando que, pela legislação ambiental, a mata nativa, uma vez reconstituída nas áreas que deixaram de ser aproveitadas pela agricultura, não pode mais ser retirada – ou só pode ser tocada após a obtenção de licenças especiais. Juliana reconhece que a situação dá margem a um cenário de êxodo rural e precarização da vida nas cidades, mas se mostra otimista. “A gente tem de olhar do ponto de vista de desafios e oportunidades. Assim, isso traz uma oportunidade, também, que você pode enxergar sistemas de desenvolvimento local que favoreçam, por exemplo, o turismo de base comunitária”, sugere. “Hoje tem muita procura, tem várias alternativas que não precisam ser: ‘Ah, que ótimo, é bom mesmo que a gente modernizou o nosso país e vai todo mundo para a cidade’. Acho que essa é uma visão que não contribui para o desenvolvimento de nosso país”. Na elaboração da tese, a pesquisadora aplicou questionários a produtores rurais de seis municípios – Campinas, Jundiaí, Monteiro Lobato, São Luiz do Paraitinga, São José dos Campos e Ubatuba – e, depois, realizou entrevistas em São Luiz do Paraitinga. Ela acredita que o orgulho e autoestima das populações locais podem ser estimulados de forma a garantir a conservação ambiental. “Ali em São Luiz do Paraitinga tem um movimento, muito forte, de valorização da cultura caipira, e eu acho que isso pode ter um papel muito interessante, pode repercutir”, disse Juliana. “Hoje a gente entende que a nossa história foi sempre feita desses movimentos e reações – se por um lado existem

agentes poderosos entrando e detonando tudo, ou pensando só no capital, também há possibilidades de crescimento, ferramentas de comunicação a que todos têm acesso, então essas microtendências podem ir aflorando. Acho que essa questão cultural pode agir também como um fator de resistência”. Ela lembrou que aí existe uma oportunidade de aplicação do conceito de ecosystem stewardship (em tradução aproximada “gestão ambiental responsável”), que reconhece os ecossistemas como provedores de toda uma série de serviços, e não apenas de um ou outro produto, como madeira. O steward (“guardião”) seria o encarregado de cuidar do ambiente para que os serviços continuem a ser prestados. “A gente pode fomentar esses processos do cuidado em vários níveis, desde o habitante local”. A busca por capital e mercados, com os incentivos corretos, também pode ajudar na prestação de serviços ecossistêmicos, disse a pesquisadora. Um dos capítulos de sua tese, intitulado “Transição florestal e modernização ecológica: o caso das monoculturas de eucalipto para além do bem e do mal”, levanta a hipótese de que as grandes companhias (ou indústrias) que plantam eucalipto, constrangidas pela necessidade de certificação ambiental para obter acesso ao mercado exterior, acabam prestando serviços ecossistêmicos importantes. “É claro que o eucalipto não vai prover todos os serviços, não vai ter todas as funções ecossistêmicas de uma mata bem preservada, mas vai ser capaz de prover alguns. É melhor do que concreto, e às vezes é melhor do que uma pastagem degradada, pois é mais permeável ao trânsito das espécies biológicas”, disse a pesquisadora. Mesmo as áreas abandonadas pela agricultura, onde a mata nativa aos poucos se reconstitui, são, na verdade, híbridas, explica ela. “Serão uma mistura de pomar com outras espécies que são muito plantadas, como eucalipto, pinheiro, mas não é por isso que Foto: Antoninho Perri

se tem menos valor para prover os serviços ecossistêmicos”, afirmou. “As florestas em recuperação ajudam a melhorar a conectividade entre fragmentos florestais. Você tem fragmentos ou remanescentes mais bem preservados, e se você tiver outros fragmentos, mesmo que não sejam tão bem preservados, podem servir como corredores, para animais e para plantas. Então, eles têm uma função de ajudar na conservação da biodiversidade”. Mesmo reconhecendo que os ganhos de área coberta por floresta merecem ser celebrados, a pesquisadora chama atenção para a necessidade de avaliar a qualidade da cobertura, e não apenas sua quantidade. No corpo da tese, ao avaliar duas microbacias de São Luiz do Paraitinga – do Ribeirão Cachoerinha e do Rio Turvinho – ela escreve: “embora no Turvinho tenha havido aumento e no Cachoeirinha tenha havido redução da área total de mata, a mata existente no Cachoeirinha provavelmente é qualitativamente superior”, por contar com maior presença de vegetação em estágios avançados de regeneração. No final da tese, Juliana apresenta um quadro – uma espécie de fluxograma – que busca integrar as várias influências que interagem, gerando como efeito a recuperação da área florestal no Estado de São Paulo. Trata-se de uma figura sem hierarquia clara de fatores, na qual elementos como a globalização interagem com a legislação ambiental, que por sua vez afeta – e é afetada – pelo perfil dos proprietários rurais. “Uma coisa de que eu, nessa trajetória do doutorado, meio que abri mão foi da luta para entender qual o ovo e qual a galinha: ver exatamente onde as coisas começam num ciclo”, disse a pesquisadora. “Eu achava que ia conseguir ranquear por ordem de importância, mas abri mão, assim, da ansiedade por saber o que vem antes, o ovo ou a galinha. Basta saber que o ovo e a galinha são ambos importantes para que se mantenha a espécie”. Incentivos econômicos, processos de conscientização, acesso a informação, pressões internacionais, legislação e fiscalização são todos importantes para a criação do cenário de conservação ambiental, afirmou ela. E são fatores que se afetam mutuamente. “Uma das coisas que vi foi que a própria legislação tem um potencial educativo. Porque as pessoas que estão morando numa área de fiscalização intensa querem saber: por que não posso desmatar? Por que ao longo do rio? Que negócio é esse de mata ciliar? Elas querem saber”.

Publicação

Juliana Sampaio Farinaci, autora da tese: “As florestas em recuperação ajudam a melhorar a conectividade entre fragmentos florestais”

Tese: “As novas matas do Estado de São Paulo: um estudo multiescalar sob a perspectiva da Teoria da Transição Florestal” Autora: Juliana Sampaio Farinaci Orientador: Mateus Batistella Coorientadora: Cristiana Simão Seixas Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)


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Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013

Medidas podem reduzir em 20% emissões de gases na pecuária Fotos: Divulgação

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

álculos elaborados pelo matemático da Unicamp Rafael de Oliveira Silva indicam que medidas simples e de baixo custo poderiam mitigar em cerca de 20% os gases de efeito estufa (GEEs) anuais emitidos pela pecuária brasileira. As estimativas tomam como referência a região do Cerrado, responsável por 35% da produção de carne bovina no país. O Inventário Nacional de Emissões de GEEs, elaborado pelo governo brasileiro, aponta que a criação de gado bovino para corte gera uma média anual de 15,4% de gases, superando até mesmo os combustíveis fósseis, estes com 15,1%. Conforme o matemático da Unicamp, surpreendentemente, é o aumento no consumo da carne – e não a redução – um dos principais fatores associados à diminuição das emissões. A revelação integra estudo conduzido por Rafael Silva junto ao Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Faculdade Rural da Escócia, vinculada à Universidade de Edimburgo, e o Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França (Inra). A pesquisa insere-se no âmbito do projeto internacional AnimalChange, cuja meta é estimular a pecuária sustentável, reduzindo as emissões de GEEs no setor. O AnimalChange é coordenado pelo Instituto de Pesquisa francês, com a participação de diversos países, entre os quais o Brasil, por meio da Embrapa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Unicamp. O governo brasileiro, lembra Rafael Silva, se comprometeu, durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), a reduzir, voluntariamente, as emissões de GEEs entre 36% e 39% até 2020. Especialistas do setor vêm apontando a atividade agropecuária como uma das principais responsáveis pelas emissões de poluentes que elevam a temperatura do planeta, sobretudo no Brasil, que possui o maior rebanho comercial do mundo com 212 milhões de cabeças. O processo de digestão do gado bovino libera o gás metano (CH4), cujo potencial para causar o efeito estufa é 25 vezes maior do que o CO2, por exemplo. Por isso, segundo o pesquisador, a expectativa era de que a diminuição do consumo da carne bovina poderia atenuar o impacto da atividade agropecuária sobre os GEEs. Mas um modelo matemático, elaborado por ele para avaliar as tecnologias para mitigação de gases de efeito estufa, demonstrou o contrário.

Gado no Cerrado, onde se concentra boa parte da produção de carne bovina no país

“Conforme nossos cálculos, um aumento de 30% na demanda pelo gado de corte reduzirá 4% do total das emissões de GEEs. E uma diminuição no consumo da carne na mesma proporção elevaria em 5% as emissões totais. Nossa avaliação reforça que a recuperação de pastagens é a maior oportunidade do país para retirar o carbono da atmosfera”, aponta o pesquisador. Rafael Silva esclarece que a redução no consumo da carne desencadearia um processo em série: haveria menos produção de gado de corte, levando os criadores a desintensificarem o sistema de pastagem, que por sua vez, deixaria de sequestrar carbono da atmosfera. No fim das contas, as emissões seriam maiores, fundamenta o matemático. “Essa variável do aumento no consumo da carne bovina foi uma surpresa, um resultado inesperado e muito bom. A chave para entendê-lo é o potencial da recuperação de pastagem como tecnologia para mitigação dos gases de efeito estufa. A recuperação de pastagem tem um custo negativo para o setor, e o potencial é 17 vezes maior do que o de todas as outras tecnologias avaliadas.” Ainda de acordo com o pesquisador, esta tecnologia apresenta uma potencialidade para mitigar 23,4 megatoneladas de CO2 por ano. O dado permite projetar que

em torno de 20% das emissões anuais de GEEs poderiam ser reduzidas no Cerrado brasileiro, a mais importante região para produção de carne bovina no país. “Esse abatimento é por conta do sequestro de carbono e também porque a recuperação da pastagem evita o desmatamento. Para atingir uma demanda cada vez mais crescente pelo consumo interno e pelas exportações de carne, há duas opções para os produtores: aumentar a área de pastagem, desmatando, ou intensificar a área existente, produzindo mais por hectare.” O matemático explica que o custo da tecnologia seria negativo porque a sua implementação se traduzira num caso de ganho versus ganho. A recuperação de pastagens degradadas retiraria, via fotossíntese, o carbono da atmosfera e, ao mesmo tempo, elevaria a lucratividade do setor. “Segundo nossos resultados, o fluxo de carbono do solo, pelo acúmulo de material orgânico das pastagens, pode contrabalancear as emissões diretas da produção de gado de corte. Além disso, as áreas de pastagens são muito extensas, portanto, há uma quantidade muito significativa de sequestro de carbono”, pontua. Os resultados apresentados pelo matemático compõem dissertação de mestrado defendida por ele em novembro último

Estimativa integra estudos de projeto internacional que avalia impactos da atividade no âmbito do efeito estufa junto ao Imecc. Na pesquisa, Rafael Silva desenvolveu um modelo para identificar e analisar as principais tecnologias capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na pecuária. O trabalho foi orientado pelo docente do Imecc Antônio Carlos Moretti, que também atua na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Houve ainda a colaboração do pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Luís Gustavo Barioni, como coorientador da dissertação. Pelo lado da Faculdade Rural da Escócia, o professor Dominic Moran participou das pesquisas.

AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS

A pecuária brasileira, responsável por 35% da produção total de carne bovina no país, está baseada na tríplice do gado nelore, do sistema de pastagem da brachiaria e da região do Cerrado, situa o pesquisador da Unicamp. O estudo, de acordo com ele, levou em conta estes fatores para analisar o custo efetivo das tecnologias existentes para a mitigação dos gases de efeito estufa. Entre as tecnologias avaliadas, além da recuperação de pastagens, estão o confinamento do animal a partir de determinado peso; as suplementações alimentares; e a aplicação de inibidores de nitrogênio na pastagem, outra fonte de emissão de GEEs. O modelo matemático avaliou o custo em reais por tonelada para a redução de gases e qual o potencial de cada uma das tecnologias. “O confinamento e as suplementações alimentares também apresentaram bons resultados, mas nada comparado à recuperação de pastagens degradadas. A aplicação de inibidores de nitrogênio possui um custo bastante elevado para o setor e potencial de mitigação muito baixo. O modelo identificou a existência de relações sinérgicas entre as tecnologias, apontando que a melhor alternativa seria associar algumas dessas técnicas, o que aumentaria ainda mais o potencial da recuperação de pastagens”, defende o pesquisador, que dará sequência aos estudos com um doutorado na Universidade de Edimburgo. A análise foi feita por meio da construção de um modelo de programação linear, que representa um sistema de produção de gado de corte a pasto, com e sem suplementação, e confinamento. Um segundo modelo foi desenvolvido para estimar os estoques de carbono no solo sob pastagens com diferentes níveis de produtividade. Neste modelo é simulado o efeito da degradação, manutenção, recuperação, e dinâmica de mudança de uso da terra nos estoques de carbono.

Publicação Dissertação: “Eaggle: um modelo de programação linear para otimização de estratégias de mitigação de gases de efeito estufa em sistemas de produção de gado de corte” Autor: Rafael de Oliveira Silva Orientador: Antônio Carlos Moretti Coorientador: Luís Gustavo Barioni Unidade: Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) Financiamento: Embrapa e Faculdade Rural da Escócia Rafael de Oliveira Silva, autor da dissertação: “A recuperação de pastagens é a maior oportunidade do país para retirar o carbono da atmosfera”


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Desempenho adequado com menor consumo

Foto: Antoninho Perri

Software desenvolvido no IC proporciona até 16% de economia de eletricidade por parte de Data Centers MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

oftware desenvolvido pelo engenheiro de computação Leonardo de Paula Rosa Piga, no contexto da sua tese de doutorado, defendida recentemente no Instituto de Computação (IC) da Unicamp, obteve resultados significativos na redução do consumo de energia elétrica por parte de Data Centers (Centros de Dados) que oferecem serviços web. De acordo com o autor, que foi orientado pelo professor Sandro Rigo, o programa proporcionou entre 5% e 16% de economia de eletricidade, dependendo da eficiência energética do sistema considerado. Pode parecer pouco, mas não é. Nos Estados Unidos, onde se concentram em maior número, os Centros de Dados representam 2% de todo o consumo de energia elétrica do país. Graças à importância do trabalho, Piga foi convidado inicialmente para cumprir estágio e agora para assumir o cargo de pesquisador na norte-americana AMD, uma das grandes fabricantes de processadores do mundo. Atualmente, o orientador e o autor do estudo estão iniciando conversações com a Agência de Inovação Inova Unicamp para analisar o registro intelectual de parte do software. O professor Rigo explica que o programa é composto por um conjunto de algoritmos. Alguns são conhecidos, mas não tinham sido arranjados da forma como Piga fez. “Além disso, há um método que ele desenvolveu, cuja técnica se baseia em ‘dizer ao computador’, por exemplo, para que ele permaneça num determinado estado de consumo, numa dada frequência e utilizando somente 70% da sua capacidade de processamento. Essa estratégia, que nos parece inovadora, talvez possa render um pedido de depósito de patente”, explica o docente. Inicialmente, a pesquisa de Piga havia sido formulada para o mestrado. Em razão da sua qualidade, porém, ela foi admitida diretamente no programa de doutorado do IC. Um dado curioso é que o trabalho transformou-se na tese de número 150 daquela unidade de ensino e pesquisa. O autor explica que o estudo nasceu com a preocupação de propor uma alternativa para reduzir o consumo de energia pelos Centros de Dados. Esse tema, conforme o professor Rigo, tem merecido bastante atenção por parte da ciência, dado que esses sistemas respondem por uma parcela importante da demanda por eletricidade. Os Data Centers, conforme o docente, estão diretamente ligados à nova onda da computação em nuvem. Por meio dessa tecnologia, o usuário não precisa mais armazenar dados, como fotos e textos, no HD do seu computador de mesa. Estes ficam guardados nos Centros de Dados dos provedores de serviços web, frequentemente em locais onde a maioria das pessoas sequer faz ideia de onde ficam. “Dois exemplos são o Facebook e o Gmail. Os provedores dos dois serviços é que cuidam de armazenar os dados pessoais, fotos e e-mails dos usuários”, acrescenta Rigo. Entretanto, para poder operar adequadamente os Data Centers, as empresas da área de tecnologia da informação (TI) precisam de uma infraestrutura bastante complexa, notadamente no que se refere ao abastecimento de energia. Além dos Centros consumirem muita eletricidade [alguns são compostos por milhares de computadores operando conjuntamente], também há o consumo por parte dos sistemas de climatização, que são necessariamente muito robustos. No Brasil, informa Piga, a presença desses serviços ainda não é tão significativa, mas ela vem crescendo numa média de 9,3% ao ano. “Como o consumo de energia acompanha esse crescimento, qualquer estratégia de economia de energia é muito bem-vinda”, avalia o autor da tese. Para explicar melhor como o software desenvolvido por seu aluno funciona, o professor Rigo faz uma analogia com um computador de mesa convencional. O equipamento, diz, tem diferentes modos de operação em relação ao consumo de energia. Há momentos em que está no pico de desempenho, mas há outros em que está num estágio intermediário ou mesmo em estado de espera. “Os computadores que compõem os Centros de Dados apresentam comportamento similar. O que o Leonardo Piga fez foi adaptar esses níveis de operação à tarefa que tem que ser cumprida”. Os Data Centers, prossegue o docente, são configurados para operar no pico da performance, mas a sua capacidade máxima é exigida em momentos específicos. “Às 20h, é provável que o sistema opere no pico. Às 3h da ma-

O professor Sandro Rigo (à dir.) e Leonardo Piga, autor da tese: registro da proteção intelectual de parte do programa está sendo analisado com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp

nhã, não. A nossa proposta foi fazer algo adaptativo. Ou seja, criamos um sistema para identificar a configuração ideal dos Centros de Dados para cada momento. A cada minuto ele se adapta ao volume de trabalho a ser feito naquele instante e aciona o número de computadores ou a capacidade de processamento necessária para executar a missão. Assim, o software aumenta ou diminui a curva de desempenho dos Centros de Dados de acordo com a carga de trabalho, proporcionando consequentemente economia de energia”, pormenoriza Rigo.

DO

COMPUTADOR AO CLUSTER

Para chegar a essa ferramenta computacional, o autor da tese primeiramente caracterizou um computador convencional de mesa. Ele mediu o consumo de potência e o desempenho da máquina e depois associou os dois fatores. Em seguida, fez uma simulação matemática, replicando os resultados para 4 mil micros, criando desse modo o que poderia ser considerado um cluster virtual. O passo seguinte foi utilizar os dados finais para desenvolver os algoritmos que controlariam o desempenho dos Centros de Dados. Em simulação no cluster virtual, o software desenvolvido por Piga obteve uma economia de energia de 16%. Cumpridas todas essas etapas, faltava ainda realizar a prova de conceito, ou seja, testar o programa em um sistema real. Isso foi feito em um cluster da AMD, nos Estados Unidos, onde Piga cumpriu período de estágio. O convite para realizar parte da formação na empresa foi feito depois que o autor da tese participou de um congresso nos Estados Unidos, onde apresentou alguns dos resultados da sua pesquisa. O pesquisador Mauricio Breternitz, que à época trabalhava na AMD, gostou do trabalho e o apresentou à companhia, que em seguida chamou o engenheiro de computação para estagiar lá. A experiência foi tão exitosa que Piga foi contratado como pesquisador pela fabricante de processadores. Ele deve assumir a função em janeiro de 2014. Retornando ao experimento, o autor da tese esclarece que, por ser de última geração, o cluster da AMD foi projetado para ser eficiente no que toca à economia de energia. Ainda assim, a ferramenta computacional concebida por ele conseguiu otimizar o desempenho do sistema, promovendo uma redução de mais 5% no consumo de

eletricidade. Diante dos resultados positivos alcançados com o programa, tanto Piga quanto Rigo afirmam enxergar boas perspectivas para transformá-lo em um produto comercial. Antes disso, no entanto, outros testes terão que ser feitos. “Ainda precisamos testar o software em um Centro de Dados real, visto que fizemos isso em um cluster, que tem menor capacidade de processamento. Também temos que validá-lo em outros tipos de aplicação além da web. Em resumo, ainda temos alguns problemas práticos a superar antes de transformá-lo num produto”, considera o autor da pesquisa. Na avaliação do professor Rigo, o trabalho realizado pelo seu orientado trouxe importantes contribuições para a sua linha de pesquisa, que está relacionada com a área de arquitetura de computadores. Nesse contexto, afirma o docente, o tema da economia de energia vem ganhando cada vez mais espaço. “Eu nunca tinha feito nenhum estudo anterior ligado a Centro de Dados. Achei a experiência muito interessante. Sem contar que ela abriu espaço para a atuação de novos estudantes nesse segmento. Eu já estou iniciando alguns trabalhos com outros pósgraduandos, que darão seguimento à pesquisa feita pelo Leonardo Piga”, informa. Ainda segundo o professor Rigo, estudos como este são fundamentais para que a Unicamp cumpra a sua principal função, que é formar recursos humanos qualificados. “O Leonardo Piga aprendeu muito ao longo da sua tese. Esse é o tipo de experiência que não é possível vivenciar somente em sala de aula. Através dela, o estudante se envolve com problemas reais e de grandes dimensões. Em termos de complemento da formação, essa vivência é valiosíssima”, entende o docente do IC.

Publicação Tese: “Modelagem, caracterização e otimização de poder de servidores de internet em data centers” Autor: Leonardo de Paula Rosa Piga Orientador: Sandro Rigo Unidade: Instituto de Computação (IC)


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Campinas, 16 a 31 de

GUILHERME GORGULHO Especial para o JU

ssim como grande parte do Ocidente, o Brasil ainda não abriu os olhos para a riqueza da arte chinesa. Essa é a opinião do historiador de arte José Roberto Teixeira Leite, professor aposentado do Instituto de Artes da Unicamp e estudioso da cultura da China. Um dos maiores exemplos disso reside na pouco conhecida experiência brasileira do artista Chang Dai-chien (Zhang Daqian), considerado por muitos como o maior pintor chinês do século 20. “O que nos falta é mais familiaridade com a cultura chinesa”, afirma Teixeira Leite, autor do livro A China no Brasil, publicado em 1999, pela Editora da Unicamp, e que conta com um capítulo inteiro dedicado ao célebre artista chinês. Chang Dai-chien (1899-1983) vive um momento de grande destaque no mercado artístico internacional três décadas após sua morte. Em 2011, o valor de suas obras negociadas em leilões fez dele o artista mais valorizado do mundo, vendendo mais de meio bilhão de dólares, à frente de nomes como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o norte-americano Andy Warhol (1928-1987). Atualmente, a cineasta sino-americana Weimin Zhang, professora assistente de Cinema na Universidade Estadual de São Francisco, está dirigindo um documentário sobre o mestre chinês e pretende vir ao Brasil conhecer os detalhes das quase duas décadas em que ele viveu na Região Metropolitana de São Paulo, no município de Mogi das Cruzes. “Chang tem várias facetas. A mais importante é que ele era o mais antigo pintor tradicionalista chinês que estava ainda vivo há pouco tempo. Ele pintava como se pintava no século 15, no século 13 – e, cá entre nós, também falsificou muita coisa dessa gente, mas muita coisa“, explica Teixeira Leite. Mesmo sendo reconhecido como um expoente das tintas na China do século 20, Chang ficou famoso por ludibriar renomados especialistas com as obras que forjava, emulando as técnicas e as características de lendas da pintura tradicional chinesa. “Nunca se sabe, na verdade, se são dele ou se são do camarada, tem essa nuvem escura sobre ele. Inclusive houve um caso recente no Metropolitan, de Nova York, que foi um escândalo. Uma das peças mais famosas, do século 10 [“Riverbank”, supostamente atribuída ao pintor Dong Yuan], na verdade, era do Chang Dai-chien, pintada em Mogi”. A professora chinesa radicada nos Estados Unidos afirma que sempre quis assistir uma produção audiovisual que abordasse essa parte da vida dele e discorresse sobre a “busca artística” do pintor. “Como cineasta, eu acho que a experiência de vida dele no Brasil é extremamente importante, porque foi a que fez dele um mestre mundial, que conseguiu conectar o Oriente ao Ocidente. E esse período foi, certamente, o ponto alto de sua vida”, afirma Weimin. Foi na fase brasileira, a partir da década de 1960, que Chang adotou um novo estilo de pintura, que o aproximou da arte ocidental e, de certa forma, significou uma ruptura com a pintura tradicionalista que o tornou renomado. “O valor dele talvez esteja nesse último momento, em que ele, com a visão já afetada, começou a pintar em névoas, em neblinas e coisas assim enevoadas, o que se aproxima – e certamente não era intenção dele – do abstracionismo expressionista”, opina Teixeira Leite. “Naquela fase final, ele lança as tintas sobre o pergaminho, sobre o rolo, e de repente aquelas tintas sugerem formas, e aí ele aprimora uma forma. Isso é algo que ele criou. Nesse momento ele deixa de ser aquele pintor tradicionalista, do século 11, e tenta uma aproximação com o século 20, ainda que, na minha opinião, inconsciente. Foi uma faceta nova na arte dele.” Muito da incompreensão sobre a arte chinesa, segundo Teixeira Leite, pode ser atribuída a uma “falha da academia brasileira”, por não se interessar no estudo da arte oriental. O crítico de arte tentou, quando ainda lecionava na Unicamp, criar um núcleo de estudos chineses na Universidade, em meados da década de 1990, mas não obteve sucesso. Atualmente, Teixeira Leite tem um novo livro pronto, chamado “Por Trás da Grande Muralha”, que deve ser lançado em 2014. A obra apresenta um enfoque muito amplo sobre tudo o que se pensou e se viu sobre a China e os chineses no mundo ocidental, de acordo com o autor. A experiência de Teixeira Leite revela que, mesmo atualmente, fora dos círculos artísticos, Chang não é amplamente reconhecido. “Eu estive na China agora e falei algumas vezes sobre o Chang Dai-chien, mas eles não conhecem ou fingem que não conhecem. Como ele foi para o outro lado, foi para a ‘geladeira’”, ressalta o professor

O Brasil na vida d

Chang Dai-chien morou por quase duas décadas no Estado d Fotos: Divulgação/Reprodução

da Unicamp, recordando que o pintor era contrário ao comunismo. Apesar de não ter conhecido Chang pessoalmente, Teixeira Leite conheceu muitas das histórias da vida de Chang por meio do artista Sun Chia Chin (1930-2010), um dos principais discípulos do mestre chinês e que foi professor da Universidade de São Paulo (USP).

MEMÓRIA QUE SE APAGA

Um sentido de urgência guia esse projeto de Weimin, já que a maior parte das pessoas que conviveram com o pintor já morreu ou está com idade avançada, como o filho mais velho dele, Paulo Chang, de 86 anos, que mora no Canadá. Ela trabalha no filme há cerca de um ano e meio, mas já há um trailer disponível no site da produção (geniusofchangdaichien.com). A princípio, o filme havia sido batizado provisoriamente como Genius of Chang Dai-chien (O gênio de Chang Dai-chien, em tradução livre), mas o novo título provável será Searching the Picasso of the East (Em busca do Picasso do Oriente, em tradução livre). Chang recebeu no Ocidente a alcunha de “Picasso oriental” ou “Picasso da China” por ser o primeiro pintor chinês a conquistar fama ao expor em grandes museus europeus e norte-americanos e pela maestria com que revitalizou sua tradição artística. Nascido na Província de Sichuan, no sudoeste da China, no final do século 19, Chang percorreu o mundo apresentando suas obras e colecionando trabalhos de grandes nomes das artes plásticas chinesas. Em sua coleção, reuniu os expoentes de quase mil anos da pintura tradicional da China, que serviriam de inspiração para suas obras. Weimin já realizou entrevistas com Paulo Chang, outros familiares e amigos e também com pesquisadores de arte em Taiwan e nos Estados Unidos, mas ela ainda espera obter mais recursos financeiros para poder dar continuidade ao projeto, o que inclui a vinda ao Brasil. “A principal parte que falta é a do Brasil”, ressalta Weimin. Sua expectativa é de concluir o documentário em 2014, mas isso ainda dependerá das verbas disponíveis. Apesar disso, ela dispõe de um valioso acervo de 45 minutos de filmes feitos sobre Chang durante sua estada em Carmel, na Califórnia, no começo da década de 1970. Esse material inédito pertence à Universidade Estadual de São Francisco e mostra Chang pintando e caminhando pelas belas paisagens do Estado norte-americano. “Essas filmagens são muito preciosas, são um tesouro para nós.” A professora da Universidade Estadual de São Francisco também estudou Artes, tanto na China quanto nos Estados Unidos, o que oferece uma perspectiva diferenciada sobre a jornada de Chang e seu legado artístico. “Atualmente, suas pinturas valem dezenas de milhões de dólares. Certamente ele é um artista

Obras de Chang Dai-chien, considerado por muitos críticos como o maior pintor chinês do século 20 Foto: Antoninho Perri

O professor José Roberto Teixeira Leite, especialista em cultura chinesa: “Eu estive na China agora e falei algumas vezes sobre o Chang Dai-chien, mas eles não conhecem ou fingem que não conhecem”

Museu do RS é um dos únicos a ter obra do artista no Brasil A Pinacoteca Ruben Berta, em Porto Alegre (RS), é um dos únicos museus brasileiros que contam com uma obra de Chang Dai-chien em seu acervo. Apesar de ter sido extremamente profícuo em seus 84 anos de vida, o mestre chinês ainda encontra pouco espaço nas galerias e coleções do Brasil. A obra Passeio ao Longo do Rio Apreciando as Flores das Ameixas havia sido adquirida, em 1966, pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, e doada ao Museu de Porto Alegre. No entanto, por décadas a valiosa pintura permaneceu incógnita no acervo técnico, já que as referências ao título correto e ao autor se perderam com o tempo. Flávio Krawczyk, diretor do Acervo Artístico da Pinacoteca Ruben Berta, explica que a identificação da autoria somente ocorreu depois que uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, de outubro de 2003, alertou o museu sobre a doação citando notícias publicadas na década de 1960. “Então, nós chamamos um tradutor de chinês que olhou algumas inscrições que havia na obra e, a partir dessa tradução, concluímos que era a obra referida.”

Em julho deste ano, Passeio ao Longo do Rio Apreciando as Flores das Ameixas foi destaque na exposição Expresso do Oriente, realizada pela Prefeitura de Porto Alegre no Paço dos Açorianos, no centro da capital, juntamente com quadros de artistas como Tomie Ohtake e Manabu Mabe, entre outros. Krawczyk destaca que a obra de Chang já integrou outras exposições na cidade nos últimos dez anos. “Não sei se existe algum outro museu público que tenha uma obra de Chang no Brasil. Eu desconheço. E nós ficamos muito honrados com isso”, declarou o diretor da pinacoteca gaúcha. A capital paulista também pôde apreciar neste ano algumas das obras do “Picasso chinês”. Entre maio e agosto, a exposição Seis Séculos de Pintura Chinesa, com parte da coleção do Museu Cernuschi, de Paris, trouxe para a Pinacoteca do Estado de São Paulo dez obras de Chang feitas entre as décadas de 1940 e 1950. Segundo o museu paulista, a exposição foi uma das mais vistas dos últimos anos, com cerca de cem mil visitantes. Esse volume é comparável ao público registrado em mostras de artistas como Tarsila do Amaral (1886-1973) e Alberto Giacometti (1901-1966). Tarsila Viajante, em

2008, totalizou 108 mil visitantes, enquanto a retrospectiva do pintor suíço atraiu, em 2012, 130 mil pessoas à Pinacoteca. A Pinacoteca, entretanto, perdeu a oportunidade de oferecer, aos visitantes de Seis Séculos de Pintura Chinesa, mais informações sobre a relação de Chang Dai-chien com o Brasil. Como não havia um catálogo impresso à venda – o museu optou por disponibilizar apenas o catálogo digital, no site da instituição –, não era possível para o visitante saber que grande parte da produção artística do célebre artista oriental havia sido produzida a menos de cem quilômetros da capital paulista, entre as décadas de 1950 e 1970. Apenas aqueles que tiveram contato com o catálogo eletrônico puderam saber dessa pouco conhecida história. Chang expôs em vários museus e galerias brasileiros no período em que morou aqui, como na 6ª Bienal Internacional de Artes em São Paulo (1961), no Museu de Arte de São Paulo (1966), no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (1966) e em galerias paulistanas como Atrium (1968), Chelsea (1971) e A Galeria (1973).


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e dezembro de 2013

do ‘Picasso da China’

de São Paulo na fase mais importante de sua carreira internacional muito reconhecido dentro e fora da China por seus trabalhos, mas ninguém parece se importar muito sobre sua vida, sobre como ele percorreu esse caminho ao longo de sua vida. É por isso que acredito que seja importante fazer um documentário, para permitir que as gerações futuras compreendam isso.” Segundo Weimin, o momento para esse resgate é oportuno, pois “a singularidade de seu trabalho está definitivamente se tornando mais reconhecida no mundo”. A pesquisa compreende também uma extensa pesquisa bibliográfica sobre Chang, incluindo suas biografias publicadas na China e nos Estados Unidos. O único documentário produzido sobre Chang no Ocidente foi o filme norte-americano Morada da Ilusão (Abode of Illusion), de Carma Hinton e Richard Gordon, lançado em 1993 e exibido pela primeira vez para a audiência brasileira na TV Cultura em maio de 2011. Para Weimin, a produção dedicou espaço demasiado para a controvérsia que envolve Chang como um falsificador de pinturas clássicas chinesas, algo que ele fez com maestria, mas que, na opinião dela, representa apenas uma faceta do rico personagem. Paulo Chang, filho que mais tempo conviveu com o artista, também considerou Morada da Ilusão, em entrevista ao autor desta reportagem, em 1999, como sendo “mal filmado” e “mal documentado”. A cópia de obras clássicas é um dos métodos mais comuns na China para se aprender a arte da pintura. E esse processo de aprendizagem é totalmente diferente da experimentada na tradição europeia. “Na arte chinesa, não é bem falsificação. Não há uma intenção dolosa, e sim de honrar o passado, de emular. Ao contrário do ocidental, o que o artista chinês menos quer é inovar, ele quer igualar ao passado, e isso não é falsificação”, aponta Teixeira Leite. Na sociedade chinesa, tradicionalmente não se aprende teoria e prática com um professor, em um modelo de escola de arte, mas sim por meio da relação entre mestre e aprendiz, que se dedica a reproduzir as técnicas do artista. “Quando Chang pintava essas coisas – e ele pintava e dizia a satisfação que tinha com isso –, não era para ganhar dinheiro. Era para se dizer ‘eu sou tão bom quanto esse camarada’, e, às vezes, dizer ‘eu sou melhor que esse camarada’. Ele era meio cabotino.”

Sob esse modelo tradicional de ensino foi formado o pintor chinês Sun Chia Chin, um dos principais aprendizes de Chang. Sun veio ao Brasil no começo dos anos 1960 com o objetivo exclusivo de conviver com o mestre e extrair o máximo de ensinamentos que pudesse ao praticar a arte dos pincéis e das tintas. Em entrevista ao autor desta reportagem em 2003, Sun afirmou que morou durante três anos na casa do pintor e que foi integrado à família como se fosse um filho. “Eu vivia com ele, que me mostrava sua coleção e dizia como era uma pintura boa. Ele me explicava como apreciar a obra antiga e como saber separar as dinastias, um estudo em profundidade”, lembrou Sun na época, se referindo à importante coleção que Chang amealhou. O “Picasso chinês” deixou a China continental em 1948, pouco antes da Revolução Comunista, tendo vivido em Hong Kong e na Argentina. No final de 1953, Chang veio para o Brasil a convite de um amigo e acabou se fixando, com mulher e sete filhos, em Mogi das Cruzes, atraído pela beleza natural da Mata Atlântica. Inicialmente, morou em uma casa próxima ao centro de Mogi – ainda existente, apesar de modificada – enquanto construía uma grande propriedade na zona rural do município. Só deixou o país em 1970, quando soube que o sítio de seis alqueires que com tanta dedicação modificara seria inundado por uma represa. Depois de um período vivendo nos Estados Unidos, em 1976 mudaria definitivamente para Taiwan, onde ficaria até o fim de seus dias. Depois que deixou o território brasileiro, manteve poucos vínculos aqui, mas ao menos dois de seus filhos e alguns netos permaneceram morando no Estado de São Paulo nas décadas seguintes. Chang Dai-chien teve uma fecunda produção artística, cujo volume é estimado por seu filho Paulo Chang em mais de 30 mil obras. No final dos anos 1950, quando já era famoso na Europa e premiado na América do Norte, o mestre expressou sua visão sobre o ofício da pintura e o papel do artista da seguinte maneira: “O pintor é a divindade de seu próprio mundo, investido com a prerrogativa de criar qualquer coisa que ele tenha vontade. Em suas pinturas, ele pode representar o papel do Criador e fazer chover ou fazer o sol brilhar sem receber ordens de qualquer outra força existente.”

Telas alcançaram preço recorde em 2011 As obras de Chang Dai-chien vendidas em leilões em 2011 somaram US$ 550 milhões, fazendo do mestre chinês o artista mais valorizado daquele ano. O renomado pintor asiático, que viveu o auge da carreira no Brasil, conseguiu bater nesse ranking seu amigo Pablo Picasso, que havia ocupado o primeiro posto por 13 vezes nos últimos 14 anos, segundo a consultoria Artprice. Os quadros do espanhol, que conheceu Chang em 1956, numa visita do chinês ao sul da França, totalizaram US$ 315 milhões, o que o deixou atrás também de outro chinês, Qi Baishi (US$ 510 milhões), e de Andy Warhol (US$ 325 milhões). A valorização ocorrida nas obras de Chang na última década está diretamente relacionada ao crescimento exponencial do mercado de artes na China nos últimos anos. No ano passado, a China respondeu por 40% do mercado mundial de artes. Praticamente todo catálogo de leilões de arte chinesa atualmente contam com pelo menos uma obra de Chang. Em 2011, a obra Lotus and Mandarin Ducks, de 1947, bateu recorde ao atingir um preço final mais de dez vezes acima do preço mínimo, sendo vendido na Sotheby’s de Hong Kong por US$ 24,5 milhões. Naquele ano, dos mais de 1.300 lotes com obras de Chang oferecidos em leilões pelo mundo, somente seis ocorreram fora da China, sendo quatro em Nova York e dois em Paris, segundo a Artprice. Em 2012, Chang não obteve tanto sucesso, mas mesmo assim vendeu US$ 287,2 milhões, o que o deixou em 2º lugar do ranking, atrás somente

O artista e professor Sun Chia Chin (à direita), discípulo de Chang Dai-chien (primeiro plano): morando três anos com o mestre em Mogi das Cruzes

Chang Dai-chien em diferentes momentos em sua casa em Mogi das Cruzes: fase brasileira foi uma das mais produtivas do artista

A cineasta sino-americana Weimin Zhang, que está dirigindo um documentário sobre Chang Dai-chien: “A experiência de vida dele no Brasil é extremamente importante”

Chang Dai-chien com Pablo Picasso: obras do chinês bateram as do espanhol em leilões

de Warhol, que somou US$ 329,9 milhões. Picasso, que se tornou amigo de Chang na década de 1950 e inclusive o presenteou com uma obra que adornava a residência do chinês em Mogi das Cruzes, ficou na terceira posição, depois de vender US$ 286 milhões.


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Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013 Foto: Antonio Scarpinetti

Lauro dos Santos: “Adorava trabalhar na floricultura, mas foi na Unicamp que aprendi muito sobre esta área”

De Jardim Alegre à flora do campus A trajetória do funcionário que ingressou na Universidade como jardineiro e hoje é tecnólogo em gestão ambiental MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

uase todo mundo, cristão ou não, espera um “agrado” ao se aproximarem os últimos dias do ano. Abraços se prolongam, sorrisos se escancaram. Todos querem abrir seu pacote simbólico, espiritual, físico, virtual, em espécie, em recibo de depósito. O moço nascido em Jardim Alegre precisava somente do sorriso escancarado de uma das flores mais importantes de sua vida, mas enquanto este presente não chega, ele se dedica a tratar, desde a muda, as flores da cobertura vegetal do campus de Barão Geraldo. Já que as mudas florescem sem que Lauro tenha de implorar muito, dedica-se a elas com alegria e muita gratidão, pois a dinâmica desses seres vivos na natureza lhe ofereceu entusiasmo para retomar os estudos, já na fase adulta, até se graduar em gestão ambiental. Os sorrisos escancarados para Lauro dos Santos vêm da inflorescência, da sombra, da fauna que brinca o dia todo entre as copas que ele acompanhou desde que eram mudas, quando chegou à Unicamp para ocupar o cargo de jardineiro do Parque Ecológico - este é o nome carinhoso que a “velha guarda” da Unicamp ainda dá à Divisão de Meio Ambiente. Trabalhar no campo, e agora com fundamento teórico, observando a dinâmica da natureza é um presente da vida para quem chegou à Universidade em 1985 para ser jardineiro, de acordo com o tecnólogo em gestão ambiental. – Conhecer a parte científica agregou muito em minha vida. Quando obtive conhecimento da área, comecei a ser mais feliz do que já era com a jardinagem. Acredito que o profissional para ser feliz tem de gostar do que faz e estar com quem gosta. Isso é importante para o ser humano. Passamos um terço de nossa vida no trabalho e, se a pessoa não é feliz com o que executa, acaba prejudicada. Não tenho o que falar dessa área de cobertura vegetal. Não é simplesmente plantar, porque somos estimulados a pensar na beleza estética do campus, analisar a adequação das plantas para determinado local. E ainda buscar o olhar de quem gosta de admirar a natureza. Somos induzidos, por meio da paisagem, a pensar em deixar as pessoas mais felizes. Não sei o que seria de minha vida fora da Unicamp; ela foi importante tanto para meu desenvolvimento profissional quanto pessoal. Sou feliz e pretendo aposentar aqui, se Deus me der vida até lá. Faltam menos de dez anos. Quando deixou Jardim Alegre, no norte do Paraná, aos 11 anos de idade, Lauro não sabia bem o que encontraria no interior paulista. Com a educação formal interrompida na metade do ensino fundamental, foi trabalhar como jar-

dineiro na Floricultura Campineira, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. Em 1985, prestou concurso para o cargo de jardineiro na Unicamp e foi direto para um viveiro de produção de mudas. Ali, já começava, sem perceber, a ampliar seus conhecimentos sobre o comportamento daqueles seres inicialmente tão indefesos que um dia se agigantariam para dar sombra, flores e qualidade de vida as pessoas que circulam pelo campus. – Já adorava o nome de minha cidade, Jardim Alegre, mas não imaginava que um dia fosse aprofundar conhecimentos no desenvolvimento das plantas. Jardim tem de ser alegre, não é? Tem de promover a sensação de bemestar às pessoas. Viemos de lá em busca de melhoria de vida. Não ficou nenhum parente. Também adorava trabalhar na floricultura, mas foi na Unicamp que aprendi muito sobre esta área. Aprendia enquanto trabalhava, ao observar as conversas e o trabalho de outros pesquisadores, como o biólogo Adriano Grandinette Amarante, o saudoso professor Hermógenes de Freitas Leitão (fundador do Parque Ecológico), a engenheira agrônoma Sandra Erbolato e outros profissionais. Assim foi instigado a saber mais e, por consequência, induzido a buscar tal aprofundamento teórico e técnico para seu dia a dia. A sala de aula, abandonada no meio do ensino fundamental na adolescência, foi retomada então com esse propósito de ampliação de conhecimentos, em uma turma de supletivo, por incentivo de pesquisadores e amigos da Divisão de Meio Ambiente. Um deles, segundo Lauro, foi Osvaldo Pereira, funcionário do antigo Parque Ecológico que sempre incentivou os colegas a buscarem mais conhecimento. E Lauro sabia que para falar sobre as plantas com mais propriedade, como aquelas pessoas todas que admirava, teria de começar de onde parou. E sem parar. – Na Divisão, trabalhamos sempre para que as pessoas não caiam no esquecimento. Osvaldo foi um espelho para eu voltar a estudar. Chegou a passar na primeira fase do vestibular. Foi um dos guerreiros na busca de conhecimento. Foi uma das pessoas nas quais me espelhei. Uma pessoa que faz falta. Ele queria estudar, mas não queria largar o campo. Palavras que Lauro jamais esqueceu e levou a sério. – Quando prestei concurso, não foi exigido aprofundamento na área em que iria atuar, mas acabei me apaixonando por ela, além de sentir de perto o quanto a natureza é importante na vida das pessoas. Percebi que para conhecer mais, teria de voltar para a escola. Não consegui mais parar. Nessa fase, já não me interessava somente reconhecimento financeiro, mas a ampliação de conhecimentos sobre aquelas espécies que me encantavam cada vez mais. Voltei para concluir o ensino médio e depois decidi pelo curso superior em gestão ambiental. Foi o melhor que fiz. Sim. Foi. E as áreas ajardinadas comuns do campus sorriem, pois no momento, Lauro é responsável por elas. Aqueles enfileiramentos de árvores e, eventualmente, de flores em avenidas assim estão porque têm o olhar do tecnólogo e de seu coordenador sobre eles. – Hoje, a implantação e a manutenção são feitas por uma empresa terceirizada de jardinagem, e eu tenho de acompanhar cada vez que eles vêm.

ANÁLISES

E ORIENTAÇÃO

Ao lado do biólogo Grandinette, Lauro também presta orientação técnica em projetos submetidos à análise da Divisão de Meio Ambiente por várias unidades e órgãos da Universidade. – Não temos condições de atender projetos muito arrojados, mas sentamos juntos para dar orientação sobre as plantas adequadas e que combinem com o local. Isso nas áreas que não são comuns. Os projetos para as áreas comuns são feitos aqui pela equipe, que, aliás, tem um vasto conhecimento nesta área. Também orientamos as equipes da Divisão na área de manutenção e formação de árvores. O livro de professor Jorge Tamashiro, “As árvores do campus”, lançado pela Editora da Unicamp, chegou a emocionar o tecnólogo, que mais uma vez pode ver registrado o resultado de seu trabalho e dos amigos da Divisão de Meio Ambiente. – Meu grande orgulho ao ver o livro do professor Jorge é saber que a maioria das sementes passou pela Divisão de Meio Ambiente. Foram coletadas, semeadas, formadas e depois saíram para o plantio no campus. Cerca de 70% das árvores existentes no campus saíram desta divisão. Isso é gratificante. Os projetos da Divisão de Meio Ambiente, que visam multiplicação de espécies, tendem a diversificar para que a paisagem não se repita na vastidão do campus. E melhor ainda, Lauro e seus colegas procuram implementar de forma a garantir a sustentabilidade também da flora e da fauna. – Quer trabalho mais bonito? Uma troca, pode-se dizer. Enquanto se doa à natureza, o homem recebe os recursos que precisa para sobreviver. No ambiente mais restrito de trabalho, no antigo Parque Ecológico, Lauro é presenteado com a rota da fauna da Mata Santa Genebra. Querer mais o que para o dia a dia, Lauro? Até a gravação da entrevista tem música de fundo, afinal, a conversa acontece debaixo da rota das aves. Cheiro e som de infância, quando Campinas era muito mais verde. Os visitantes mais ilustres formam um casal de tucanos. – Faz dez ou 15 anos que eles aparecem por aqui. Se a ideia de Hermógenes ao instalar o Parque Ecológico bem próximo da rota foi estratégica não dá para saber, pois o idealizador faleceu em 1994, mas, como diz Lauro: “Se encaixou perfeitamente, pois agora podemos contemplar essas maravilhas”. Durante muito tempo, o Parque Ecológico foi o “xodó” da Universidade, onde funcionários antigos como Benedito de Paula, Mercedes Bueno Costa Leite, Alcinda Valok, Sofia Helena, Wilma Rodrigues e muitos outros iam buscar mudas de plantas. Talvez Lauro nem saiba identificar os servidores pelo nome porque o interesse da comunidade universitária pelas mudas de plantas do viveiro era grande. As crianças (escolares) também sempre foram contempladas com o projeto de trilha ecológica, que Lauro deseja ver retomado em breve. – Temos de trabalhar para trazer este público de volta.

RESÍDUOS Interessam a Lauro, porém, não somente as mudas que crescem, mas também os resíduos que caem ao chão. Parece que eles cumpriram a missão no mundo, mas podem servir nutrientes a plantas novas. Um projeto interrompido por questões de espaço, do qual é um dos autores, prevê o reaproveitamento de resíduos vegetais gerados no campus. Segundo Lauro, hoje, em torno de 7 mil metros cúbicos do material são gerados no serviço de manutenção, que compreende cortes de grama e podas de árvores. Os galhos das podas são triturados por um equipamento, e o volume é reduzido. Em seguida, o material chega à degradação e vira adubo orgânico. Antes de devolver ao campo como adubo, os técnicos enriquecem com alguns insumos. – Precisamos melhorar, mas o processo já oferece nutrientes para que as plantas se desenvolvam melhor. Queremos dar continuidade e completar este projeto. Tudo que recolhemos de resíduos vegetais volta para o campus em forma de adubo e, com isso, reduziríamos o impacto nos aterros sanitários. Além disso, o reaproveitamento minimiza custos relacionados à compra de adubos no mercado e reduz o impacto no meio ambiente. Temos o produto aqui. Esse adubo vegetal oferece todos os nutrientes para a planta se desenvolver. Pediram o espaço, mas estamos reivindicando nova área. Outra troca importante no dia a dia dos profissionais da área é o convite para participar de eventos em unidades e órgãos da Unicamp. Um que chamou a atenção de Lauro foi o dedicado à Semana do Idoso, organizado pelo Hospital de Clínicas da Unicamp, onde foi plantada uma muda de ipê-amarelo. – Um dos mais lindos e que mais me emocionaram. Foi muito gratificante. As plantas ensinam o amor, a felicidade. Difícil conhecer uma mulher que não gosta de uma flor, não é? Elas trazem muita inspiração. Tudo é comemorado com flores: a atuação do cantor, da bailarina, as decorações de festas e de Natal... Fico triste ao encontrar alguém que diz não gostar de plantas. Elas estão presentes na vida e na pós-vida. Depois desse brinde, fica o desejo da coluna “Perfil” para que, além da esposa e da filha mais nova, Lauro receba um sorriso da flor que falta para que sua casa seja, ainda mais, um Jardim Alegre. O nome da flor ficará em segredo no coração de Lauro.


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‘O discurso não funciona de modo isolado’

Foto: Antonio Scarpinetti

JOSÉ HORTA NUNES Especial para o JU

aul Henry, linguista e pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, Paris/França), esteve na Unicamp para participar, nos dias 26 e 27 de novembro, da I Jornada Internacional de Análise sentido”, organizada pelo Labode Discurso e Psicanálise “A-versão do sentido” ratório de Estudos Urbanos (Labeurb/Nudecri/Unicamp) e pela Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), com a colaboração do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/ Unicamp) e apoio da Capes e da Fapesp. Paul Henry é autor do livro A Ferramenta Imperfeita: língua, sujeito e discurso, cuja segunda edição acaba de ser lançada pela Editora da Unicamp. Trata-se de um dos pesquisadores fundamentais na história do estabelecimento da Análise de Discurso na França, em colaboração com Michel Pêcheux, e em seus desdobramentos no Brasil. Nesta entrevista, ele fala dos inícios da Análise de Discurso, da elaboração do conceito de “pré-construído”, do qual é autor, e da relação entre linguística, psicanálise e teoria do discurso, tendo a noção de “sujeito” como lugar de articulação. Fala também do modo como vê a realização de trabalhos que envolvem diferentes domínios teóricos. Jornal da Unicamp – O seu livro A Ferramenta Imperfeita (Le Mauvais Outil), publicado no Brasil pela primeira vez em 1992, pela Editora da Unicamp, e agora reeditado, foi um dos que trouxeram condições para a formação de vários pesquisadores em Análise de Discurso no Brasil. Como o senhor vê, hoje, os inícios da Análise de Discurso? Paul Henry – Começamos a ter em vista a ideia de constituir a Análise de Discurso. Foi Pêcheux que a lançou. Eu ainda não estava, de modo algum, nesse terreno, visto que eu fazia linguística e coisas correlatas, mas não diretamente. É verdade que pensamos na Análise de Discurso com o objetivo de propor uma outra abordagem de questões de semântica. Creio que é este o ponto, na medida em que considerávamos que todas as concepções da semântica que supunham, a grosso modo, que a palavra tem um sentido, que é na palavra que é preciso procurar o sentido, não podiam ser sustentadas. Eu creio que isso é importante. Evidentemente que, desde então, muita coisa se passou, a linguística também evoluiu, o pragmatismo, o cognitivismo, as teorias gerativas transformacionais continuaram, mas elas não se modificaram muito, não é? Direi as coisas de outro modo. Eu estive no começo do lançamento da ideia da Análise de Discurso, tal como depois ela foi desenvolvida na França e em outros lugares. A ideia de partida era justamente encontrar uma alternativa, estabelecer sob outras bases a questão da semântica e do sentido. Havia também uma dimensão política. Nessa época, passamos a considerar a propaganda. Tratava-se de compreender como, por meio de um certo número de coisas, o sentido deveria estar nos lugares que foram atribuídos aos indivíduos na sociedade em geral, considerando que isso passava pelo discurso.

Serviço

Obra: “A ferramenta imperfeita: língua, sujeito e discurso” Autor: Paul Henry Tradução: Maria Fausta Pereira de Castro Editora da Unicamp Área de interesse: Linguística Preço: R$ 38,00

JU – No livro, o senhor trata do sujeito, da língua e da ideologia. Na relação entre esses campos, a noção de sujeito aparece como algo que permite uma articulação. Há uma distinção que o senhor faz entre o sujeito enquanto um real, digamos, e a concepção científica do sujeito em cada um desses campos: na psicanálise, na linguística e no estudo da ideologia. Paul Henry – Sim, creio que é preciso dizer que o subtítulo do livro: sujeito, língua, discurso, parte do princípio de que não se pode tratar de nenhum desses campos sem levar em conta os outros, quer dizer, do sujeito para a psicanálise, da língua para a linguística e do discurso para a análise de discurso. Nenhum desses domínios pode ser separado dos outros. Sabe-se bem que a linguística desempenhou um papel muito importante no modo como Lacan releu Freud, mas demarcando os limites em relação a ele, ao mesmo tempo em que a psicanálise não se reduzia a um ramo da linguística. No que concerne à linguística, efetivamente, a psicanálise não pode ignorá-la. Isso é muito claro. A linguística se encontra em uma situação difícil para regrar a questão do sentido. Ela tem necessidade disso para identificar distinções de sentido, mas ela não tem uma teoria, na verdade, do sentido que a permita regrar tudo isso. Nossa posição, portanto, foi a de mostrar que é no discurso que a significação e o sentido se constituem. Foi esse terreno que fez com que explorássemos o discurso com métodos que lhe são próprios. Desde então, pensamos em métodos extremamente formais: a análise automática, então, com um programa, que tratava um corpus, etc., e essa orientação tinha uma visada essencialmente experimental. Tratava-se de ver até onde esse procedimento poderia ir e que espécie de resultados poderia produzir, e depois também quais são os resultados sobre os quais ela nos faz se debruçar. Isso era fundamental, mais importante ainda do que o sucesso a que ela podia chegar. Havia já naquela época, portanto, sempre essa mistura de algo bem tecnológico: computadores, programas, outras coisas. Havia um programa muito complexo de reconhecimento automático da língua francesa, com o qual tentávamos extrair estruturas sintáticas dos enunciados automaticamente, o que funcionou mais ou menos. Ele foi aperfeiçoado até que o espaço de Pêcheux, o programa, foi interrompido. Esse é o lado tecnológico. Além disso, houve a colaboração com muitos linguistas, um trabalho importante feito com historiadores, para os quais o discurso tinha verdadeiramente um lugar, através das análises de arquivo: não se pode confundir os arquivos com o discurso, o discurso não são os arquivos, o texto não é discurso. O discurso é o texto mais tudo o que permite dar um sentido, interpretação. Não é, portanto, somente o texto. JU – O conceito de pré-construído foi muito importante para o estabelecimento da Análise de Discurso. Como se deu sua formulação? Paul Henry – A ideia é, efetivamente, que o que se diz, o que se escuta, é sempre atravessado por algo que já foi dito, atravessado por um dito anterior. Eu acho isso natural. O discurso não funciona de modo isolado, ele está sempre ligado a outros discursos que se

O linguista francês Paul Henry: “Eu continuo convencido de que para falar do sujeito, é preciso falar de um sujeito histórico”

convocam, que são convocados por sua letra, sua materialidade. É isso que levou à ideia de pré-construído, de início com um trabalho sobre a pressuposição tal como desenvolvido por Frege, mas nós nos distanciamos disso muito rapidamente, porque, simplesmente, a ideia de conteúdo de Frege consistia em que podia haver ao menos dois níveis em um texto – o nível superficial e algo que estava em uma posição segunda, se preferir, enganchada na primeira. A estrutura do texto, então, era uma hierarquia, havia uma superfície e depois algo abaixo. E depois, na medida em que a noção de pressuposição efetivamente implicava a ideia, grosso modo, de que a palavra tem um sentido. Era preciso mudar de registro efetivamente. Quais são os discursos que trabalham no interior de um discurso, linguisticamente? É essa a ideia de pré-construído, não há discurso que funcione sem fazer apelo a outros discursos. JU – Qual é a diferença entre a noção de pressuposição e a de pré-construído? Paul Henry – A noção de pressuposição vem da lógica, é a idéia de Frege também. A pressuposição é no fundo a ideia de que, quando se pronuncia uma frase, implicitamente, haja asserções que se apresentam em seu interior, que não são explicitadas no nível da frase, mas sem a qual a ela não poderia ter sentido. É essa a ideia de pressuposição. É preciso pressupor algo para que a frase tenha um sentido. E então simplesmente é um limite da noção de pré-construído, que é uma generalização dessa ideia, quer dizer, efetivamente há asserções, para dizer como os lógicos, mas eu diria discursos que são convocados como se eles nunca fossem anteriores ao discurso explícito atual. É importante, efetivamente, é verdade que a ideia de pressuposição funciona assim, mas justamente ela continua tributária da ideia da literalidade: há um sentido literal, é isso o que é discutido, de fato, sempre. Pode-se certamente ter o sentimento, quando se está sob determinadas condições, em um momento dado, de que há uma literalidade do sentido, mas a questão aí é de saber como esse sentido se constrói, se fabrica. JU – Sim, e em seu artigo sobre as orações relativas, o senhor mostrou que a linguística é insuficiente para descrever o sentido na relação entre língua e discurso. Paul Henry – Aí eu creio que é verdadeiramente típico, a teoria das relativas, as determinativas e as explicativas. A diferença entre as duas não é uma diferença linguística, é uma diferença discursiva, porque efetivamente isso depende do sentido que se atribui aos elementos da proposição e não simplesmente de sua sintaxe. O nível sintático está lá, isso é muito claro, mas o modo como se levou em conta o léxico das orações relativas na gramática gerativa, etc. eram procedimentos perfeitamente ad hoc, quer dizer, que permitiam efetivamente construir, formalizar uma diferença, mas integrando no formalismo coisas que não tinham o mesmo viés – quer dizer que essas coisas são feitas brutalmente. Contrariamente ao que Chomsky pensava, a gramática, a sintaxe, não é independente da semântica. No limite é isso. Ou pressupomos que há um sentido literal e nesse

momento efetivamente regra-se a questão desse modo. Mas, se não se admite que há o sentido literal, e que há uma outra explicação, a explicação nesse momento, efetivamente, vai ser discursiva. E a análise de discurso, o que ela vai fazer? Ela vai buscar, de início, sem preconceito de nada em princípio, quais são os efeitos de sinonímia que podem se produzir no interior de um corpus. Quais são, de fato, as palavras, as frases que funcionam como se nunca tivessem sido sinônimas umas das outras? E, ao contrário, quais são as linhas de ruptura, de fratura, que fazem com que haja coisas que estão em uma parte de um corpus mas não em outra, de modo que se possa dizer que há uma coisa diferente em uma e em outra parte do corpus? Trata-se assim mesmo de produzir, de identificar diferenças, como em toda parte, isso a partir de algo que é essencialmente da análise distribucional, com a sintaxe, etc. JU – E como era a questão do sujeito, da psicanálise, nesse contexto de relação entre língua e discurso? Paul Henry – Bem, para mim – eu não posso responder por Pêcheux – ela apareceu, efetivamente, em relação ao trabalho que eu havia feito sobre Frege e sobre o qual também eu me debruçava. Quer dizer, eles mesmos eram obrigados, com Ducrot, a supor certas coisas desse sujeito, mas sem lhe conferir nenhum estatuto. Então, é aí efetivamente que toda a bagagem que eu tinha de leitura de Freud, e de psicanálise, e de Lacan, na época, me levou a pensar que era nesse terreno que se podiam encontrar respostas. É certo que a ideia de que o sujeito é um ser de linguagem, como diz Lacan, ia totalmente nesse sentido, e eu penso que isso continua sendo uma questão, uma posição muito forte. Foi assim que aconteceu, a meu ver, porque nas análises, nos trabalhos publicados por Ducrot, particularmente, que eram frequentes, éramos obrigados a supor uma série de coisas a respeito do sujeito, portanto, não da gramática, do léxico, mas algo que não é da linguística. O que é esse sujeito? A discussão que há no final do livro com Oswald Ducrot é justamente isso. Foi assim que aconteceu. Bom, e eu me interessava pela psicanálise. E eu continuo convencido de que para falar do sujeito, é preciso falar de um sujeito histórico. Mas o que é essencial, assim mesmo, é isso: o que a linguagem faz com esse ser, o que isso faz com esse ser para que haja linguagem, o que isso faz ao ser humano para que haja linguagem. Em um universo de linguagem, o que acontece para que isso fale, o que isso faz com o ser para que ele seja falante? Penso que é isso o sujeito. Para dizer de outro modo, não há ser, não há sujeito, sem linguagem. José Horta Nunes é pesquisador do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb/Nudecri) da Unicamp.

Leia a íntegra desta entrevista em: http://www.unicamp.br/unicamp/ ju/587/o-discurso-nao-funciona-demodo-isolado


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Ação de proteína abre frente para tratamento da leucemia Foto: Antoninho Perri

Estudo desenvolvido no Hemocentro fundamenta artigo publicado no Journal of Leukocyte Biology

da célula. As forminas são encontradas desde fungos, plantas até mamíferos. “São proteínas importantes que fazem parte do citoesqueleto da célula e controlam várias funções, inclusive o desenvolvimento do câncer. No doutorado, vi que o gene FMNL1 estava mais presente nas células leucêmicas. O passo seguinte foi estudar a função da proteína codificada por esse gene na célula”, explicou Patrícia. Nessa etapa da pesquisa foram usados dois tipos de linhagens celulares leucêmicas humanas cultivadas in vitro: as células Namalwa, associadas à leucemia linfoide crônica (LLC) e as células K562, associadas à leucemia mieloide crônica (LMC). Os métodos de análise da migração celular usados por Patrícia na pesquisa foram fei-

tos pela pesquisadora e bióloga da Unicamp Mariana Lazarini, durante seu estágio no laboratório da professora de biologia celular Anne Ridley, do King’s College de Londres. Por meio de uma tecnologia complexa que utiliza um vetor lentiviral, a pesquisadora interferiu no ácido ribonucleico das células (em inglês RNA), responsável pela síntese de proteínas, provocando o “silenciamento” do gene FMNL1. Assim, o gene parou de produzir a proteína. Então, Patrícia começou a investigar o que a ausência dessa proteína provocava no funcionamento da célula. “Quando inibi a ação da proteína das células leucêmicas, observei que houve uma diminuição significativa na proliferação do câncer. Repeti o teste em camundongos com

aplicações subcutâneas e as células cresceram menos. O tumor era bem menor do que as células que tinham a proteína ativada”, disse Patrícia. Além disso, quando o gene foi silenciado, a pesquisadora observou outro fenômeno comum nos processos de metástase: a migração das células leucêmicas para outros tecidos e órgãos. Esse fenômeno é conhecido como migração transendotelial, que é a capacidade que a célula cancerígena tem de atravessar o endotélio vascular, membrana semipermeável que regula o tráfego de moléculas, e infiltrar-se em outros tecidos e órgãos. “Os vasos sanguíneos são feitos de células endoteliais. O processo de metástase é a célula cancerígena sair da corrente circulatória, passar a barreira da célula endotelial do vaso sanguíneo e se disseminar em outros órgãos. Observei que, na ausência de FMNL1, as células migraram menos. Acreditamos que FMNL1 regula a dinâmica de filamentos de actina que são, de maneira simplificada, os músculos da célula”, explica Patrícia, que atualmente trabalha como professora no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para testar a participação da proteína FMNL1 no tratamento da leucemia, Patrícia também simulou no experimento a aplicação do medicamento Imatinib usado para o tratamento de leucemia mieloide crônica. A pesquisadora observou que quando a proteína FMNL1 estava inativa, a ação do medicamento foi potencializada em 20%, aumentando a ação contra o tumor. Segundo Patrícia, a pesquisa é um avanço muito grande para entender o funcionamento das células leucêmicas. “Ao entender o papel dessa proteína no contexto da leucemia, não vamos curar a doença, mas podemos melhorar a ação terapêutica de uma droga já bem estabelecida para o tratamento. Entretanto, ainda vão anos de estudos antes de isso ser testado em humanos”, disse.

“Provisão de qualidade de serviço em redes Integradas Epon-Wimax” (mestrado). Candidata: Mariana Piquet Dias. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC.  Economia - “O papel da compensação de reserva legal entre propriedades na conservação da biodiversidade no Estado de São Paulo” (mestrado). Candidata: Paula Bernasconi. Orientador: professor Ademar Ribeiro Romeiro. Dia 16 de dezembro, às 9 horas, na sala 23 do IE. “A trajetória da sociedade amante da instrução: entre o pragmatismo e o humanismo da elite imperial (1829-1876)” (doutorado). Candidato: Ronaldo Raemy Rangel. Orientador: professor José Ricardo Barbosa Gonçalves. Dia: 17 de dezembro, às 14 horas, na Sala 23 no Pavilhão da Pós-Graduação. “Uma visão do progresso: a influência da economia política na interpretação da transição da ordem escravista (sociedade auxiliadora da indústria nacional 1850-1877)” (doutorado). Candidato: André Luiz Alipio de Andrade. Orientador: professor José Ricardo Barbosa Gonçalves. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na Sala 23 no Pavilhão da PósGraduação do IE.  Educação Física - “Handebol em cadeira de rodas: diretrizes para a classificação” (mestrado). Candidata: Andreia Maria Micai Gatti. Orientador: professor José Irineu Gorla. Dia 17 de dezembro, às 9 horas, no auditório da FEF. “Qualidade de vida para Pessoas com Deficiência – contribuições para uma abordagem de ginástica laboral” (mestrado). Candidato: Ricardo Lima Bastos. Orientador: professor Gustavo Luis Gutierrez. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, na sala de aula 5 da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Estudo da ventilação natural em edificações com torres de vento multidirecionais através de ensaios em túnel de vento e simulações computacionais” (doutorado). Candidato: Nixon Cesar de Andrade. Orientador: professora Lucila Chebel Labaki. Dia 16 de dezembro, às 9h30, na Sala de Defesa da CPG no FEC. “Efeito da força cortante nos deslocamentos de vigas de madeiras sujeitas à flexão estática” (mestrado). Candidato: Fábio Albino de Souza. Orientador: professor Nilson Tadeu Mascia. Dia 16 de dezembro, às 14h30, na sala CA-22 da FEC. “Otimização dinâmica da logística de distribuição de produtos alimentícios refrigerados e congelados” (doutorado). Candidata: Carolina Corrêa de Carvalho. Orientador: professor Orlando Fontes Lima Júnior. Dia 17 de dezembro, às 9 horas, na Sala de Defesa da CPG da FEC. “Otimização estocástica robusta no planejamento da operação do sistema interligado nacional” (mestrado). Candidato: Victor de Barros Deantoni. Orientador: professor Alberto Luiz Francato. Dia 17 de dezembro, às 10 horas, na sala CA-22 da FEC. “Proposta de material de condição de carga padrão para implementação de método de potência sonora em serra-mármore” (doutorado). Candidato: Adriano Aurelio Ribeiro Barbosa. Orientadora: professora Stelamaris Rolla Bertoli. Dia 17 de dezembro, às 10h30, na sala da congregação da FEC. “Otimização de portfólio na comercialização de energia incentivada” (mestrado). Candidato: Tiago Henrique Gonçalves. Orientador: professor Alberto Luiz Francato. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, na sala CA-22 da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Estudo das características elétricas dos meridianos de acupuntura: técnica de Manaka” (mestrado). Candidato: Maurício Argenton Sofiato. Orientadora: professora Vera Lúcia da Silveira Nantes Button. Dia 18 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses da FEEC.

“Análise e caracterização dos conversores analógico-digitais” (mestrado). Candidato: Roberto Jossimar Vega Lapapasca. Orientador: professor Luís Geraldo Pedroso Meloni. Dia 18 de dezembro, às 10 horas, na sala PE-12 do prédio da CPG da FEEC. “Programação de serviços web por otimização multi-objetivo e teoria dos jogos” (doutorado). Candidato: Walcir Fontanini. Orientador: professor Paulo Augusto Valente Ferreira. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. “Desenvolvimento de processos de obtenção de nanofios de silício para dispositivos MOS 3D utilizando feixe de íon focalizados e litografia por feixe de elétrons” (mestrado). Candidato: Marcos Vinicius Puydinger dos Santos. Orientador: professor José Alexandre Diniz. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na sala PE-11 do prédio da CPG da FEEC. “Método para detecção de perdas não técnicas usando lógica nebulosa como principal agente preditivo” (mestrado). Candidato: Juliano Andrade Silva. Orientador: professor Carlos Albero Favarin Murari. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 do bloco da CPG da FEEC. “Perspectivas de solução tecno econômico para projetos de rede em banda larga” (mestrado). Candidato: Odair dos Santos Mesquita. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 19 de dezembro, às 9 horas, na FEEC. “Avaliação da correção de heterogeneidade em planejamentos 3d e imrt de tratamentos radioterápicos de neoplasia de próstata” (mestrado). Candidata: Bruna Biazotto. Orientador: professor Eduardo Tavares Costa. Dia 19 de dezembro, às 9 horas, na sala PE-37 do prédio da CPG da FEEC. “Compensação eletrônica de degradações ópticas em receptores coerentes: contribuições ao sincronismo de portadora, equalização e simulação” (doutorado). Candidato: Fábio Lumertz Garcia. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 19 de dezembro, às 9 horas, na Sala PE-12 da CPG da FEEC. “Contribuição ao cálculo do ponto de máximo carregamento em sistemas de potência” (mestrado). Candidato: Carlos Eduardo Xavier. Orientador: professor Carlos Alberto de Castro Júnior. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC.  Engenharia Química - “Estudo do crescimento da microalga Desmodesmus sp. visando a produção de biodiesel” (doutorado). Candidata: Luisa Fernanda Rios Pinto. Orientadora: professora Maria Regina Wolf Maciel. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Física - “Modificações vetoriais da relatividade geral: aplicações cosmológicas e no sistema solar” (doutorado). Candidato: André Luís Delvas Fróes. Orientador: professor Alberto Vazquez Saa. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, no auditório do DRCC. “Nanolasers de semicondutor metálico-dielétrico com bombeio eletrônico: a influência do meio de ganho” (doutorado). Candidato: Felipe Vallini. Orientador: professor Newton Cesário Frateschi. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, no auditório da Pós-Graduação do IFGW no prédio D.  Geociências - “Ecotoxicidade associada à contaminação por metais na interface água-sedimento no sistema estuarino de SantosCubatão/SP” (mestrado). Candidata: Gisele Witt Said. Orientador: professor Wanilson Luiz Silva. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na sala A do DGRN do IG. “Cidades médias e cidades de porte médio: distinção a partir de situações geográficas interurbanas e dinâmicas de expressões da centralidade intraurbana - uma análise comparativa de Taboão da Serra (SP), São Carlos (SP) e Marília (SP)” (doutorado). Candidato: Júlio Cesar Zandonadi. Orientadora: professora Regina Célia Bega dos Santos. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IG.

 Linguagem - “Investigando a hipótese Cayapó do Sul-Panará” (doutorado). Candidato: Eduardo Alves Vasconcelos. Orientador: professor Wilmar da Rocha D’Angelis. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A Língua Geral Paulista e o “Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica” (mestrado). Candidata: Fabiana Raquel Leite. Orientador: professor Wilmar da Rocha D’Angelis. Dia 18 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A representação da criança no humor: um estudo sobre tiras cômicas e estereótipos”(doutorado). Candidato: Márcio Antônio Gatti.Orientador: professor Sirio Possenti. Dia 19 de dezembro, às 13h30, no anfiteatro do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Diagnóstico em modelos de regressão linear e não-linear com erros simétricos” (mestrado). Candidata: Sandra Santos dos Reis. Orientador: professor Mauricio Enrique Zevallos Herencia. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Bifurcações genéricas de sistemas dinâmicos suaves por partes com simetrias” (doutorado). Candidato: Felipe Emanoel Chaves. Orientador: professor Marco Antonio Teixeira. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, na sala 221 do Imecc. “Existência e propriedades qualitativas para dois tipos de EDP´s com potenciais singulares” (doutorado). Candidata: Cláudia Aline Azevedo dos Santos Mesquita. Orientador: professor Lucas Catão de Freitas Ferreira. Dia 17 de dezembro, às 14h30, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Análise do dimorfismo sexual em adultos através de medidas cranianas” (mestrado). Candidato: Fábio Delwing. Orientador: professor Eduardo Daruge Junior. Dia 16 de dezembro, às 9 horas, na sala da Congregação da FOP. “Procedimentos para redução da incompatibilidade entre sistemas adesivos simplificados e cimentos resinosos de presa dupla” (doutorado). Candidata: Ariene Arcas Topal Paes Leme. Orientador: professor Mario Alexandre Coelho Sinhoreti. Dia 17 de dezembro, às 8h30, na sala da Congregação da FOP. “Condição periapical e qualidade das obturações de canais em idosos: uma revisão sistemática” (mestrado profissional). Candidato: Fabrício Rutz da Silva. Orientador: professor Eduardo Hebling. Dia 18 de dezembro, às 9 horas, no anfiteatro 1. “Análise da integridade da superfície de implantes dentais, da influência da nitretação por plasma a frio na bioatividade de osteoblastos e da osteogênese ao redor de implantes amino-funcionalizados instalados em coelhos”(doutorado). Candidato: Plinio Mendes Senna. Orientador: professor Altair Antoninha Del Bel Cury. Dia 19 de dezembro, às 13h30, na sala da Congregação da FOP. “Eletromiografia dos músculos do core em diferentes exercícios isométricos de estabilização do tronco” (doutorado). Candidato: Frederico Balbino Lizardo. Orientador: professora Delaine Rodrigues Bigaton. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Influência do condicionamento ácido do ângulo cavosuperficial nas propriedades mecânicas e nanoinfiltração de restaurações após envelhecimento termomecânico” (mestrado). Candidato: Erick Kamiya Coppini. Orientador: professor Luis Alexandre Maffei Sartini Paulillo. Dia 18 de dezembro, às 13h30, na sala da Congregação da FOP.  Química - “Simulações por dinâmica molecular de sistemas biológicos relacionados à hidrólise de biomassa lignocelulósica” (doutorado). Candidato: Thiago Costa Ferreira Gomes. Orientador: professor Munir Salomão Skaf. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Construção de um espectrômetro de absorção atômica e estudos de formação e evolução da nuvem atômica com atomização eletrotérmica em sistema de duplo filamento de tungstênio” (mestrado). Candidato: Manassés Zuliani Jora. Orientador: professor Celio Pasquini. Dia 18 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU

pós três anos de pesquisa básica realizada no Hemocentro da Unicamp a partir de um novo gene descrito pelo grupo de pesquisa da médica hematologista Sara Teresinha Olalla Saad, acaba de ser publicado, no Journal of Leukocyte Biology, o artigo de capa “FMNL1 promove a proliferação e migração de células leucêmicas”. O artigo foi escrito pela farmacêuticabioquímica Patrícia Maria Bergamo Favaro durante parte de seu pós-doutorado na Unicamp, em 2010. A pesquisa mostra a ação da proteína FMNL1 – mesmo nome do gene – na migração e proliferação das células leucêmicas e abre a possibilidade de usá-la como novo alvo terapêutico para o tratamento da leucemia. O estudo da FMNL1 começou durante o doutorado de Patrícia, defendido em 2006 na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp no programa de pós-graduação em fisiopatologia médica. Esse gene foi descrito a partir do Projeto Genoma do Câncer Humano, que gerou várias sequências de genes expressos em células cancerígenas. O FMNL1 faz parte da família das forminas, proteínas relacionadas com o controle da formação, diferenciação e sobrevivência

Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

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Painel da semana  Comvest divulga lista de aprovados na primeira fase do Vestibular - A lista de aprovados na primeira fase do Vestibular Unicamp será divulgada no dia 20 de dezembro, juntamente com os locais de prova da segunda fase. A segunda fase será realizada nos dias 12, 13 e 14 de janeiro de 2014. Leia mais em www.comvest.unicamp.br.  Programa de Avaliação da Graduação - O Programa de Avaliação da Graduação (PAG) do segundo semestre está aberto à participação de docentes e estudantes até o dia 20 de dezembro. O processo é on-line, anônimo e voluntário e trata-se de um instrumento de consulta e avaliação das condições de oferecimento de disciplinas e cursos, permitindo também acompanhar o perfil da comunidade acadêmica dos semestres anteriores. A avaliação é organizada pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)², que disponibiliza os dados gerais para toda comunidade e oferece apoio às coordenadorias de curso para o reconhecimento dos aspectos apontados por professores e alunos. O link para o preenchimento da avaliação e consulta de dados pode ser acessado na página eletrônica http://www.ea2.unicamp.br/. Mais informações: 19-3521-7991.

Teses da semana  Computação - “Método de modelagem e geração de testes para o ambiente de ensino a distância Teleduc” (mestrado). Candidata: Caroline Castello Letizio. Orientador: professora Eliane Martins. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC sala 85 - IC 2.

A farmacêutica-bioquímica Patrícia Maria Bergamo Favaro: “No doutorado, vi que o gene FMNL1 estava mais presente nas células leucêmicas”


Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013

ARTIGO

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por: Marcelo Firer, Sérgio Tozoni e Alberto Saa*

O ensino de Cálculo Diferencial e Integral na Unicamp Foto: Antonio Scarpinetti

m matéria publicada no Jornal da Unicamp, relatando tese de doutorado defendida na Faculdade de Educação, foi abordada a questão do ensino de Cálculo Diferencial e Integral (em particular de Cálculo I) e, embora não dito explicitamente, muitos leitores entenderam tratarse da nossa Universidade. Em seu retrato desta tese, a matéria oferece uma visão parcial e distorcida do que representa este conjunto de disciplinas e do modo como a comunidade do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) enfrenta esta tarefa, que acreditamos por bem esclarecer.

O

DESAFIO DE 15 MIL MATRÍCULAS ANUAIS Começamos destacando que Cálculo Diferencial e Integral, como disciplina matemática preocupada com o estudo de mudanças de situação e estado, é não apenas considerado um marco na fundação da ciência moderna, mas uma disciplina (alguns dizem linguagem) essencial para o desenvolvimento de inúmeras áreas do conhecimento. Por este motivo, na Unicamp, como em qualquer universidade do mundo, todos os estudantes de cursos de ciências exatas, tecnológicas, economia e outras mais começam seus cursos universitários estudando uma série de disciplinas sobre Cálculo Diferencial e Integral. Na Unicamp, a responsabilidade por este conjunto de três disciplinas, para as quais são abertas 90 turmas por ano (recebendo um total de 4.853 matrículas), fica ao encargo do Imecc. Considerando, além destas, outras disciplinas que oferecemos para outros cursos da universidade e as disciplinas de graduação oferecidas aos nossos alunos, chegamos a aproximadamente 15 mil matrículas de graduação por ano. É uma enorme (e bem-vinda) tarefa assumir esta responsabilidade formativa dos alunos de graduação de nossa Universidade e ao mesmo tempo manter a excelência na pós-graduação e na pesquisa (o Imecc forma aproximadamente 25% dos doutores do Brasil na grande área de Matemática – Matemática Aplicada – Estatística, por meio de três programas de pós-graduação, considerados entre os melhores do país). Mais ainda precisamos e devemos assumir esta missão tendo em vista a necessidade de mantermos um padrão de qualidade que permita o desenvolvimento futuro destes estudantes. Para garantirmos aos alunos o direito de uma formação compatível com as exigências futuras que terão na Universidade e em sua vida profissional, desde o ano 2000, as disciplinas com grande número de turmas são trabalhadas de forma coordenada – todos os alunos passam por avaliações iguais ou similares, negociadas entre os docentes responsáveis. Como bem observado – acreditamos que de forma elogiosa pela autora da tese – “quem não for capaz de cumprir etapas estabelecidas pela coordenação da disciplina, provavelmente será reprovado”. O tamanho deste universo de alunos demanda uma organização complexa, capaz de garantir um padrão de qualidade ao mesmo tempo em que atenta para a existência de necessidades individuais e peculiaridades de um público diverso. Procuramos lidar com um público de dimensão industrial, devotando uma atenção próxima do artesanal.

FORMAÇÃO

PRÉVIA DOS ALUNOS DE CÁLCULO I Como todos podem imaginar, trabalhando com alunos ingressantes de diversos cursos, temos um universo diver-

Vista parcial do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica

sificado no que se refere aos interesses futuros e, mais do que tudo, à formação prévia dos alunos. Assim, dentre as diversas turmas de Cálculo I, por vezes com o mesmo professor e fazendo a mesma prova, encontramos turmas com 100% de aprovação ao lado de turmas com reprovação de 77,5%, este último sendo o único número indicado na matéria e que induziu os leitores a concluírem equivocadamente que trabalhamos neste patamar de insucesso: na realidade, o índice de reprovação médio dos últimos cinco anos foi de 28,5%, um número alto, mas compatível com padrões das melhores universidades do mundo. A disparidade entre o sucesso de duas turmas distintas que têm aulas com o mesmo professor, que recebem a mesma atenção e fazem a mesma prova é explicada por um único fator: a diferença da formação prévia dos alunos em matemática. A correlação entre as notas de Cálculo I e as notas obtidas pelos alunos na prova de matemática do vestibular é altíssima e nisto reside a principal dificuldade da disciplina. Vale ressaltar que esta dificuldade é sobremaneira agravada pelo calendário de matrícula de ingressantes nas universidades paulistas, que adentra o ano letivo, dificultando ainda mais a tarefa daqueles que de antemão teriam mais dificuldades. Independentemente de outras questões relativas ao modo como selecionamos nossos estudantes e como os introduzimos ao ensino de fato superior, e mesmo sendo “rígidos e inflexíveis” nas exigências (conforme argumenta a autora da tese), os professores do Imecc são atentos a estas dificuldades e adotam uma série de instrumentos e estratégias para lidar com estas peculiaridades. Um dos instrumentos adotados é oferecer amplo horário de atendimento e atenção aos alunos: além dos horários oferecidos por cada um dos docentes, du-

rante todos os dias da semana, nos horários em que não há atividades letivas (das 12h às 14h e das 18h às 19h), todos os alunos de Cálculo I podem contar com apoio oferecido por alunos de doutorado do Programa de Estágio Docente. Também são adotadas, já faz tempo, estratégias que incluem listas de exercícios semanais e testes frequentes, estes últimos servindo aos alunos como sinalização das expectativas em relação a sua aprendizagem e um retorno sobre o andamento destas. Não satisfeitos com estas iniciativas, docentes do Imecc realizaram recentemente experiência muito bem-sucedida com duas turmas, oferecendo horário extraclasse de exercícios, às sextas-feiras, das 12h às 14h. No momento, estão em estudo as necessidades (em termos de recursos humanos) para expandir esta experiência para todas as mais de 30 turmas de Cálculo I. No Imecc, temos plena consciência de que, para um grupo de alunos e para alguns cursos, estes esforços são insuficientes para dar conta do tamanho do hiato entre a formação em matemática com que estes alunos adentram à Universidade e a formação necessária para aprender o conteúdo de Cálculo Diferencial e Integral. É por este motivo que, no curso de Licenciatura em Matemática (noturno), já faz mais de uma década, esta disciplina foi postergada para o segundo semestre letivo, sendo introduzida disciplina de matemática básica no primeiro semestre, para ensinar (ou rever) conteúdos típicos de ensino médio. Esta estratégia, ao mesmo tempo em que se mostrou correta (o número de formandos cresceu de maneira inequívoca), ainda mostra-se insuficiente e, por este motivo, na reformulação em andamento, está sendo proposta a duplicação das horas dadas nesta nova disciplina de matemática básica.

Temos a convicção plena de que selecionamos bem os nossos alunos, contamos com uma grande quantidade de estudantes talentosos e dedicados. No entanto, as deformidades do ensino fundamental e médio em nosso país são tamanhas que, mesmo em uma universidade com a qualidade da Unicamp, precisamos lidar com este tipo de dificuldade. O Imecc como instituição é atento a estas carências e é engajado também na formação continuada de professores (por meio do Laboratório de Ensino de Matemática e do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional). O Imecc, como sempre, está disposto a conversar com as coordenações de cursos que porventura desejem (ou acreditem ser necessário) enveredar por este tipo de opção feita no curso de Licenciatura em Matemática. Mais ainda: talvez seja o momento de a Universidade Estadual de Campinas começar a discussão sobre a criação de cursos pré-acadêmicos, nos moldes de disciplinas isoladas adotadas pelo Imecc ou do Profis, instituído pela Pró-Reitoria de Graduação. Manifestamos ainda a convicção que o orientador da referida tese, professor Sérgio Antônio da Silva Leite, também coordenador do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA2), no exercício desta sua função, não se absterá de apoiar as necessidades da comunidade do Imecc na busca contínua por melhorar este importante “serviço” que prestamos à Universidade. Concluímos afirmando que a reprodução do adjetivo “pesadelo”, para caracterizar uma disciplina que estrutura a formação de metade de nossos estudantes, é uma atitude indigna de qualquer cientista e inaceitável em instância universitária. *Subscrito por mais 40 docentes e endossado pela Congregação do Imecc.


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Campinas, 16 a 31 de dezembro de 2013

Unicamp se destaca em premiação da Capes Fotos: Ana Frattini/Capes

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

om 50 trabalhos inscritos, a Unicamp conquistou oito prêmios Capes de Tese em 2013, sendo que duas das pesquisas premiadas receberam distinção especial: o Grande Prêmio da área de Ciências Biológicas, da Saúde e Agrárias; e o prêmio Instituto Paulo Gontijo de Química. Além disso, a Universidade angariou nove menções honrosas. “Neste ano, a Unicamp concorreu com 50 teses e recebeu 19 premiações”, disse ao Jornal da Unicamp a pró-reitora de Pós-Graduação, Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, referindo-se ao total de prêmios, distinções especiais e menções honrosas. “Isso reflete a seriedade do trabalho que nossa Universidade presta ao país e à ciência e também reflete, sem dúvida, a alta qualidade de nossos programas de pós-graduação e da pesquisa aqui realizada”. O Grande Prêmio Capes de Ciências Biológicas, da Saúde e Agrárias foi concedido à tese “Estudo do IL-7R na Leucemia Linfoide Aguda pediátrica de linhagem”, de Priscila Pini Zenatti, defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob orientação de José Yunes. O trabalho, que avança o conhecimento científico sobre as causas da leucemia infantil e sugere um novo alvo para a criação de drogas contra a doença, já havia dado origem a um artigo científico de grande repercussão, publicado no periódico internacional Nature Genetics em 2011. Já o Prêmio Capes – Instituto Paulo Gontijo foi concedido a Marco Antonio Barbosa Ferreira, autor da tese “Síntese total da (-) -goniotrionina. Estudo teórico da influência estereoeletrônica na seletividade 1,5 em reações aldólicas envolvendo beta-alcoxi metilcetonas”, defendida no Instituto de Química (IQ), sob orientação de Luiz Carlos Dias. A goniotrionina, isolada originalmente do extrato da casca de uma árvore nativa da Tailândia, pode ser útil na quimioterapia do câncer, e o trabalho de Ferreira apresenta um método para produzir a substância em laboratório. Além de Priscila e Ferreira, que foram laureados em cerimônia realizada em Brasília no último dia 10, receberam o Prêmio Capes de Tese em suas áreas de estudo os seguintes pesquisadores da Unicamp: Taniele Rui, em Antropologia/Arqueologia, com a tese “Corpos Abjetos: etnografia em cenários de uso e comércio de crack”, orientada por Heloísa André Pontes; Alline Artigiani Trisbit, em Ciência de Alimentos, com a tese “Efeito da homogeinização à alta pressão na atividade e estabilidade de enzimas comerciais”, orientada por Marcelo Cristiani; Juliana Sampaio Farinaci, em Ciêncas Ambientais, pela tese “As Novas Matas do Estado de São Paulo: um estudo multiescalar sob a perspectiva da Teoria da Transição Florestal”, orientada por Mateus Batistella (leia matéria na página 3); Diego Salles Corrêa, em Engenharias, pela tese “Methodology for Evaluating the Collective Harmonic Impacto f Residential Loads in Modern Power Distribution Systems”, orientada por Walmir de Freitas Filho; Marcos Alberto R. Vasconcelos, em Geociências, pela tese “Estudo geofísico de quatro prováveis estruturas de impacto localizadas na Bacia do Parnaíba e detalhamento geológico/geofísico da estrutura da Serra do Cangalha/TO”, orientada por Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp; e Roberison Wittgenstein Dias da Silveira, em Geografia, pela tese “Filosofia, Arte e Ciência: a Paisagem na Geografia de Alexander Von Humboldt”, orientada por Antonio Carlos Vitte.

Álvaro Crósta (à dir.), coordenador-geral da Unicamp, e Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, pró-reitora de Pós-Graduação (de preto), com Priscila Pini Zenatti, vencedora do Grande Prêmio Capes, e seu orientador, professor José Yunes

Álvaro Crósta e Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano com Marco Antonio Barbosa Ferreira (à esq.), vencedor do Prêmio Instituto Paulo Gontijo de Química, e seu orientador, professor Luiz Carlos Dias

Os representantes da Reitoria da Unicamp posam com autoridades, entre as quais Aloizio Mercadante (centro), ministro da Educação, em cerimônia realizada dia 10 em Brasília

“Para nós, é de grande relevância a Universidade ter sido reconhecida com os prêmios Capes de Tese e, em especial, com o Grande Prêmio Capes”, afirmou Ítala. A pró-reitora lembrou ainda que, além das teses premiadas produzidas na Universidade, a Unicamp está, de algum modo, relacionada a pelo menos outros dois trabalhos reconhecidos na premiação: a tese ganhadora do prêmio de Odontologia, de autoria de Mary Anne Sampaio de Melo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), teve como orientadora Lidiany Karla Azevedo Rodrigues, “uma jovem docente, recém-doutorada pela FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Unicamp)”, explicou Ítala. Essa tese foi reconhecida, ainda, com uma distinção especial, o Prêmio Capes – Interfarma de Inovação e Pesquisa. E o ganhador do Grande Prêmio da área de Humanas, Aldair Carlos Rodrigues, que desenvolveu sua tese, “Poder eclesiástico e inquisição no século XVIII luso-brasileiro: agentes, carreiras e mecanismos de promoção social” na Universidade de São Paulo, hoje faz seu pós-doutorado no Departamento de História do IFCH da Unicamp, sob a supervisão da professora Leila Algranti. Estabelecidos em 2005 e entregues pela primeira vez em 2006, os Prêmios Capes de Tese e Grandes Prêmios Capes de Tese foram criados para distinguir as melhores teses de doutorado defendidas nos cursos reconhecidos pelo Sistema Nacional de Pós-Graduação. De acordo com a Capes, são considerados na seleção dos premiados os quesitos originalidade, inovação e qualidade. A Fundação Carlos Chagas e o Instituto Paulo Gontijo são parceiros da premiação, concedendo distinções especiais nas áreas de Educação, Ensino e Química. Os prêmios são concedidos a teses das áreas de conhecimento reconhecidas pela Capes, como antropologia, astronomia, ciências ambientais, história, nutrição, química, teologia. Já os Grandes Prêmios contemplam três grandes áreas do saber: Engenharias, Ciências Exatas e da Terra; Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias; Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes, Ciências Sociais Aplicadas. Cada grande prêmio contempla, ainda, pesquisas multidisciplinares em suas áreas, e conta com um homenageado especial. Neste ano, os homenageados foram Álvaro Alberto da Mota e Silva, pioneiro nas pesquisas brasileiras sobre energia nuclear, falecido em 1976, na área de engenharias e ciências exatas; Zeferino Vaz, condutor da construção e estabelecimento da Unicamp, falecido em 1981, na área de ciências biológicas; e Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e político, falecido em 1997, na área de ciências humanas. A tese da Unicamp agraciada com o Grande Prêmio recebeu, portanto, a homenagem a Zeferino Vaz. Desde a primeira outorga do prêmio, há oito anos, a Unicamp já recebeu 11 Grandes Prêmios, 58 prêmios e 52 menções honrosas. “Já é uma tradição a Unicamp ser reconhecida nacionalmente pela Capes em todos os anos”, disse Ítala. Em todo o período de 2006 a 2013, a Universidade inscreveu 308 teses, de um total de 3.441 trabalhos apresentados à Capes por instituições de todo o Brasil. Do total de teses que concorreram ao prêmio nos oito anos de sua existência, 345, ou cerca de 10%, foram premiadas. Na Unicamp, a proporção de trabalhos premiados em relação ao de apresentados é de 18,8%. Neste ano, foram apresentadas 645 teses, por 80 diferentes instituições, sendo que 48 trabalhos, ou pouco mais de 7%, receberam prêmios. Já a Unicamp teve 16% das teses apresentadas reconhecidas com um Prêmio Capes.


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