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Foto: Divulgação

Documentários retratam início do fotojornalismo em Campinas Projeto do Grupo de Pesquisa Memória e Fotografia (GPMeF), sediado no Centro de Memória-Unicamp (CMU), resultou em documentários, produzidos pela Rádio TV-Unicamp (RTV), que historiam os primórdios do fotojornalismo em Campinas. A série é dirigida pelo jornalista Amarildo Carnicel, que é coordenador do GPMeF e diretor-associado da RTV.

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Gilberto de Biasi, um dos pioneiros do fotojornalismo em Campinas

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 10 a 16 de março de 2014 - ANO XXVIII - Nº 589 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti

Desvendando o genoma da cana 3

Metodologia desenvolvida por uma equipe internacional de pesquisadores, que conta com a participação de cientistas da Unicamp, USP, UFSCar e IAC, abre caminho para o sequenciamento completo da cana-de-açúcar. O método foi descrito em artigo publicado no Scientific Reports, do grupo Nature. Outro estudo do mesmo grupo já identificou mais de 5 mil novos genes da planta. Os resultados foram veiculados no periódico PLoS ONE.

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‘Vendaval’ de energia nos buracos negros Artigos falsos são gerados por computador Cientistas testam voto via celular

TELESCÓPIO

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Uma viagem no mundo micro

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Pesquisadora manipula chip que recebe amostras de DNA de cana-de-açúcar, em laboratório da Unicamp, onde está o equipamento usado nos estudos

Crises políticas à luz do neoliberalismo

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Reposição hormonal em mulheres jovens


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TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Foto: Nasa/ ESA

Vendaval de buraco negro Buracos negros ativos injetam muito mais energia no ambiente que os cerca do que astrônomos imaginavam, diz artigo publicado na revista Science. Quando um buraco negro atrai grandes quantidades de gás, as partículas são aceleradas e compactadas de tal forma, antes de mergulhar de vez no abismo, que acabam emitindo radiação. Além disso, a energia transmitida pelo buraco negro para o material ao seu redor pode produzir ventos e jatos que expelem matéria em alta velocidade. Cientistas já sabiam que a radiação gerada pelo mergulho de material num buraco negro não pode superar um certo limite – o chamado Limite de Eddington – porque, do contrário, a pressão da luminosidade levaria à dispersão dos gases que tentam cair no abismo, interrompendo o processo. No entanto, não estava claro se a energia cinética da matéria soprada para longe dos buracos negros também teria de respeitar a mesma limitação. Agora, pesquisadores australianos e americanos informam que, após um ano de observações, determinaram que um buraco negro afastado do núcleo da galáxia M83 gera ventos com energia cinética que supera o Limite de Eddington para um astro de sua massa, que é cerca de 100 vezes maior que a do Sol. De acordo com nota distribuída pela Science, isso indica que buracos negros são capazes de injetar muito mais energia no ambiente que os cerca do que se imaginava, o que tem repercussões para o estudo da história e da evolução das galáxias.

Prevendo a evolução da gripe Vírus de gripe têm uma proteína em suas carapaças, a hemaglutinina, que gruda na membrana de algumas células humanas e prepara o caminho para a invasão que leva à doença. A hemaglutinina e o sistema imunológico humano vivem numa permanente “corrida armamentista”, e é a rápida capacidade de mutação do gene responsável pela proteína que faz com que a vacina contra a gripe tenha de ser atualizada com frequência. Na revista Nature, pesquisadores da Alemanha e dos Estados Unidos apresentam um modelo que parece ser capaz de prever a evolução anual de hemaglutinina do vírus da gripe A/H3N2. “Inferimos os componentes da aptidão das cepas em circulação num dado ano, usando dados de genética das populações de todas as cepas anteriores”, escrevem. “Da aptidão e da frequência de cada cepa, prevemos a frequência das cepas descendentes no ano seguinte”. Os autores sugerem que seu modelo pode fornecer novos critérios para a seleção de vacinas contra a gripe, além de apresentar uma ligação entre genética de populações e epidemiologia que “será explorada mais a fundo em trabalhos futuros”.

Europa lançará missão em busca de planetas em zona habitável Dos mais de mil planetas já descobertos fora do Sistema Solar, desde que o primeiro desses astros foi encontrado, em 1992, a grande maioria é composta por mundos gasosos, mais parecidos com Júpiter ou Saturno que com a Terra, e nenhum dos poucos planetas rochosos encontrados se mantém dentro da chamada “zona habitável” de suas estrelas, a distância que permite a existência de água em estado líquido e, em tese, de vida.

A galáxia M83, em imagem composta do telescópio espacial Hubble e do telescópio terrestre Magellan

Para preencher essa lacuna, a Agência Espacial Europeia decidiu financiar a missão Plato, que pretende identificar e caracterizar milhares de planetas, com ênfase em astros terrestres e localizados em zonas habitáveis. “Plato” é a sigla em inglês de Trânsitos Planetários e Oscilações estelares e também o nome, ainda em inglês, do filósofo clássico grego Platão. Plato será posicionada num dos chamados pontos lagrangianos do sistema TerraSol, onde a gravidade dos dois astros se equilibra, criando uma zona de estabilidade. A sonda será dotada de 34 diferentes telescópios. A missão deve ser lançada do espaçoporto mantido pela França em Kourou, na Guiana Francesa, em 2024.

O estado das florestas do mundo Um novo website interativo, o Global Forest Watch (“Vigia Global das Florestas”, em inglês) permite acompanhar, praticamente em tempo real, as mudanças na cobertura de florestas do mundo. O site, lançado pelo World Resources Institute, agrega dados de satélites como o MODIS e o Landsat, além de outras fontes, incluindo o Instituto Imazon, do Brasil. A tela principal do site é um mapa-múndi que pode ser colorido de modo a apresentar a geografia da cobertura florestal, marcar as regiões onde há mais desmatamento ou maior ganho de florestas, onde estão as florestas preservadas e outras informações. O site contém ainda uma seção de relatos, para onde cientistas e moradores de áreas de floresta podem enviar fotos e depoimentos. O endereço é http://www.globalforestwatch.org/.

Tártaro dos dentes traz informação da Idade Média Pesquisadores de universidades da Europa e dos Estados Unidos conseguiram analisar em detalhe o DNA contido no tártaro dentário – formado por placas bacterianas enrijecidas e mineralizadas – de esqueletos de um monastério medieval alemão. De acordo com os autores do trabalho, publicado no periódico Nature Genetics, o resultado é um verdadeiro tesouro de informação sobre a relação entre seres humanos e micróbios, mil anos atrás – além de uma boa fonte de dados a respeito da dieta da Idade Média.

Uma das conclusões dos pesquisadores foi de que, a despeito dos avanços na higiene bucal nos último milênio, as bactérias que infestam a boca humana e causam problemas como gengivite continuam praticamente as mesmas. “Reconstituímos o genoma de um importante patógeno periodontal e apresentamos a primeira evidência, até onde sabemos, de biomoléculas da dieta recuperadas de cálculo dental antigo”, diz o artigo. A bactéria reconstituída a partir dos vestígios encontrados nos dentes foi a T. forsythia, “conhecida moradora da placa supragengival e subgengival, associada a formas avançadas de doença periodontal e descrita em lesões de arteriosclerose”. Também foram detectados no tártaro genes ligados à resistência das bactérias a antibióticos, “ilustrando como o microbioma oral funciona como fonte e reservatório de novas resistências”.

Morte de cônjuge aumenta risco cardíaco por 30 dias Levantamento sobre a saúde de mais de 30 mil viúvos do Reino Unido, entre 2005 e 2012, encontrou uma elevação no risco de problemas cardíacos durante um período de 30 dias após a morte do cônjuge, diz artigo publicado no periódico JAMA Internal Medicine. Os viúvos participantes do estudo tinham idade de 60 a 89 anos, e seus dados foram comparados aos de um grupo de controle com as mesmas características de sexo, faixa etária e condição geral de saúde, mas que não havia perdido um cônjuge no mesmo intervalo de tempo. O estudo encontrou uma elevação de mais de 100% no risco de infarto do miocárdio e de derrame nos viúvos, em comparação com os controles. Essa elevação desapareceu, com o risco voltando a ser compatível com o dos controles, após um período médio de 30 dias.

Mais de 120 artigos de congressos são bobagem gerada por computador As editoras Springer e IEEE Publications estão retirando mais de 120 “artigos científicos” de suas bases de dados, depois que uma investigação de dois anos, realizada por pesquisadores franceses, deter-

minou que os textos haviam sido gerados automaticamente por um programa de computador. Todos os trabalhos excluídos haviam sido publicados em atas de conferências científicas, os chamados “proceedings”, que reúnem os textos das pesquisas apresentadas ao congresso. Os artigos gerados eletronicamente foram todos produzidos com base no programa SCIgen, inventado em 2005 por pesquisadores do MIT exatamente para provar que “conferências aceitam artigos sem sentido”, de acordo com nota publicada pelo site da revista Nature. Os pesquisadores franceses que detectaram os artigos fraudados haviam criado um software para identificar o uso de SCIgen. A maioria das conferências que aceitaram os artigos gerados por computador teve lugar na China, e os artigos eram assinados por pesquisadores chineses ou baseados na China. Não está claro, no entanto, se os supostos autores estavam praticando fraude ou se nem mesmo sabiam que seus nomes estavam sendo usados para subscrever páginas sem sentido.

Cientistas testam voto eletrônico via celular O periódico Human Factors publica um estudo, realizado por pesquisadores da Rice University, sobre o uso de smartphones como “urnas eletrônicas”. O título do trabalho é “Toward More Usable Electronic Voting: Testing the Usability of a Smartphone Voting System” (“Rumo a um Voto Eletrônico Mais Fácil de Usar: Testando a Usabilidade de um Sistema de Votação de Smartphone”). Os autores argumentam que os sistemas atuais de voto eletrônico apresentam dificuldades que vão desde a interface com o usuário a questões de sigilo e segurança, e que o voto por celular eliminaria inconvenientes como as filas nas seções eleitorais. De acordo com eles, voluntários já familiarizados com o uso de smartphones cometeram menos erros votando por celular, em eleições simuladas realizadas como parte do estudo, do que ao utilizar outros sistemas. Os autores reconhecem que mais pesquisa ainda é necessária para garantir que o voto por celular atinja os níveis necessários de inviolabilidade e segredo, no entanto.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

Metodologia abre caminho para o sequenciamento completo da cana Grupo internacional de pesquisadores já identificou mais de 5 mil novos genes da planta CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

o mesmo tempo em que sua importância econômica cresce, a cana-de-açúcar ainda guarda, em sua estrutura genética, um mistério que só agora começa a ser desvendado, graças a uma metodologia pioneira desenvolvida por uma equipe internacional, com participação decisiva de pesquisadores da Unicamp, USP, IAC e UFSCar e descrita em artigo publicado no periódico online Scientific Reports, do grupo Nature. Outro trabalho do mesmo grupo, publicado no início deste ano no periódico PLoS ONE descreve a identificação de mais de 5 mil novos genes da planta, entre outras descobertas, o que ampliará a aplicação de metodologia desenvolvida. “A cana é muito diferente de todas as outras espécies cultivadas que a gente conhece”, disse ao Jornal da Unicamp a pesquisadora Anete Pereira de Souza, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e professora do Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. “Creio que é a espécie mais complexa que conhecemos. Outras espécies, não usadas pelo ser humano, talvez tenham uma organização genética como a da cana, mas não sabemos porque não as usamos”. Essa complexidade vem da forma como os cromossomos – as estruturas que guardam o material genético – se organizam nas células da planta. Quem se lembra das aulas de biologia do ensino médio sabe que o ser humano, por exemplo, é diploide: isso significa que os cromossomos humanos se organizam em pares, de modo que a cada cromossomo corresponde uma cópia, ou homólogo. Quando o óvulo é fecundado, o embrião se forma recebendo um homólogo do pai e outro da mãe. É por isso que as crianças apresentam características de ambos os pais. A cana-de-açúcar, em comparação, é uma planta poliploide: isso significa que o número de homólogos de cada cromossomo varia – no caso específico da cana, as células podem conter de dez a 14 cópias de cada cromossomo, o que gera um total de mais de 110 cromossomos individuais. “A cana é o cruzamento de duas espécies que geraram um organismo que conservou o número de cromossomos de ambos os pais”, disse Anete. “E para complicar ainda mais, foi um cruzamento entre duas espécies que se comporta como se fosse a duplicação de uma só espécie: ela é autopoliploide. Então, a genética dela é muito complexa, ela é muito diferente”. Essas diferenças, explicou a pesquisadora, acabaram levando o estudo da genética da cana a uma espécie de beco sem saída na última década: como a maioria dos métodos e das tecnologias de análise genética existentes tinham sido desenvolvidos para lidar com diploides – como o ser humano – apenas 10% do genoma da cana estava ao alcance da ciência. “Tem um genezinho aqui que me interessa. Como que eu faço para achar esse gene?”, exemplificou a pesquisadora. “A metodologia genética que a gente tinha para usar aqui não se aplicava. A gente estudava todo esse genoma como se fosse igualzinho ao diploide, de dois em dois. Então, a gente via, assim, 10% do genoma, e só”. “O arranjo numeroso e complexo dos genes nos poliploides, como cana-deaçúcar, torna difícil entender como características genéticas são transferidas dos

pais para os filhos em tais plantas, e como funcionam os múltiplos variantes de cada gene. Infelizmente, o melhoramento da cana enfrenta esse enigma, o que dificulta o melhoramento e, consequentemente, a obtenção de variedades mais produtivas”, diz nota divulgada pelo grupo responsável pelo artigo na Scientific Reports. “Já em 2004, eu e o Augusto [Antonio Augusto Franco Garcia, do Departamento de Genética da Esalq/USP, também autor do artigo na Scientific Reports] percebemos que se a gente continuasse trabalhando daquele jeito, nós nunca poderíamos conhecer o genoma todo, estaríamos sempre limitados pela metodologia que estava sendo usada. A metodologia era inadequada”, disse Anete. O novo método, que segundo a pesquisadora “abre o caminho” para o estudo completo do genoma da cana, se vale de SNPs (sigla em inglês para “polimorfismo de base única”, normalmente pronunciada “snip”), que são diferenças de uma única “letra” do código genético em pontos específicos de cromossomos homólogos. Cromossomos homólogos com diferentes SNPs contêm diferentes versões, ou alelos, dos mesmos genes. “Creio que foi por volta de 2007, quando eu ministrava aula de genética para o curso de Farmácia, aqui na Unicamp: o curso de genética básica, que surgiu a ideia de como resolver o problema”, contou Anete. “Preparando as aulas para o curso, tomei contato com uma área que chama farmacogenômica. A indústria farmacêutica, ao desenvolver remédios para diferentes doenças, percebeu que as pessoas respondem de modo muito diferente a certos remédios: por exemplo, quimioterápicos para câncer, que podem fazer muito mal para algumas pessoas, e quase não afetar outras”. Essa diferença, em alguns casos, pôde ser rastreada e associada a diferentes SNPs. E a indústria farmacêutica já dispunha de tecnologia capaz de analisar SNPs a partir de amostras de DNA de milhares de pessoas, o que permitia estimar o impacto que algumas drogas viriam a ter na população. Crucialmente, uma máquina usada em farmacogenômica, chamada Sequenom (um espectrômetro de massas do tipo MALDI-TOF, capaz de identificar as diferentes bases do DNA), era capaz de inforA professora Anete Pereira de Souza, integrante do grupo de pesquisa: “A genética da cana é muito complexa e diferente”

Fotos: Antonio Scarpinetti

Chip usado no sequenciamento: mapeamento de genes importantes para o melhoramento da cana-de-açúcar

mar a “dosagem alélica”: qual a proporção de cada tipo de SNP presente na amostra analisada. “Tendo o alelo e a dosagem, a genética da cana vira genética normal, mendeliana”, explicou Anete, numa referência ao tipo de cálculo genético desenvolvido a partir do trabalho de Gregor Mendel, no século 19. “A grande descoberta desta metodologia foi isso: a gente poder analisar SNPs na cana como se estivessem presentes só em dois cromossomos, mas considerando a dosagem de cada um dos alelos, porque os SNPs têm sempre apenas dois alelos, mesmo que estejam em organismos como a cana. E aí, quando a gente consegue fazer isso, a gente consegue usar todos os princípios da genética mendeliana, como fazemos para o estudo do feijão, milho, arroz, ervilha e outras espécies diploides. Aí a gente faz genética mendeliana”. Um Sequenom foi adquirido para o CBMEG, com apoio da Fapesp e do CNPq, mas uma nova barreira metodológica apareceu: o software do fabricante do equipamento só era capaz de lidar com genomas diploides. As primeiras tentativas de medir a dosagem de SNPs da cana produziram resultados ruins. “A ideia dos SNPs nós tivemos, o equipamento para fazer isso a gente achou, mas o software teve de ser específico: todo feito em casa, tudo montado por nós”, disse ela. “Foi aí que o Augusto fez todo esse software único, idealizado por ele e seus alunos, que tem toda uma análise de probabilidade. É tudo uma análise genético-estatística que foi montada especificamente para analisar a dosagem que o equipamento, que o hardware do equipamento, solta. Só que o software de análise deles não serve para nós, porque é feito para diploide”. O trabalho com o desenvolvimento do software específico para poliploides também já rendeu um artigo científico, publicado no periódico PLoS ONE em 2012 e um capítulo de livro da série Methods in Molecular Biology em 2013, assinados por Franco Garcia e Marcelo Mollinari, da Esalq, e Oliver Serang, de Harvard.

Anete acredita que a nova metodologia auxiliará muito no mapeamento de genes importantes para o melhoramento, e também abre caminho para o sequenciamento do genoma da cana-de-açúcar. Esse processo é complexo, explicou ela, porque, dado o grande número de homólogos de cada cromossomo, fica difícil, uma vez analisados os fragmentos do DNA, montar a sequência completa na ordem correta para cada um dos cromossomos homólogos. “Você pica o DNA e sai sequenciando os pedacinhos. E aí tem de juntar tudo, cromossomo por cromossomo, isto é, homólogo por homólogo. E como você vai saber se esse pedacinho é daqui ou dali?” Com mais de dez homólogos de cada tipo de cromossomo e mais de uma centena de cromossomos no total, a tarefa é gigantesca. Com o uso de SNPs, no entanto, a questão fica mais simples: “Usando vários SNPs, todos em linha, você sabe exatamente, do começo ao fim, como juntar: porque se eu tenho dois SNPs em comum aqui, e outros dois em comum ali, mas este outro é diferente, então trata-se de um alelo diferente e, portanto, de outro cromossomo. É uma maneira exata de conseguir montar um genoma”. Após a publicação do software e da metodologia, um artigo no periódico PLoS ONE, contendo os resultados de pesquisa coordenada pelo pesquisador do CBMEG Renato Vicentini, apresentou ao mundo resultados que viabilizarão e auxiliarão a aplicação da técnica: a descoberta de mais de 5 mil novos genes de cana e de centenas de milhares de SNPs, “além de ter visto a expressão global do genes codificados em cana-de-açúcar em seis variedades diferentes e de interesse para o melhoramento no Brasil”, explicou Anete. A equipe responsável pela criação da nova técnica incluiu, além de pesquisadores da Unicamp e da USP, cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Universidade Harvard e de duas instituições australianas, a Universidade Southern Cross e a Universidade de Queensland. Instalado no CBMEG da Unicamp, montado em parceria com o Instituto de Biologia da Unicamp, o Laboratório Multiusuário de Genotipagem e Sequenciamento, onde se encontra o Sequenom, está aberto a projetos de pesquisa de cientistas e estudantes de fora do grupo multidisciplinar encabeçado por Anete, e mesmo que não estejam ligados ao projeto da cana-de-açúcar. “Nosso trabalho só foi possível graças ao financiamento da Fapesp e, principalmente, do Programa Bioenergia. Então a gente abriu o laboratório como multiusuário. Foi um compromisso nosso desde a submissão do projeto. Agora que conseguimos um produto considerável, podemos abrir com segurança de ajudar o usuário”, disse ela. “Um objetivo é permitir que pessoas que trabalham com organismos não-modelo desenvolvam seu próprio protocolo e descubram os segredos de seu organismo, como nós descobrimos. E isso só foi possível porque temos o equipamento disponível”. É possível entrar em contato com o laboratório a partir da página do CBMEG na internet: http://www.cbmeg. unicamp.br/.


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014 Fotos: Divulgação

Desvendando o mundo micro

Software desenvolvido no IC usa recurso tridimensional para identificar micro-organismos com alta taxa de acerto MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

uando um médico e um biólogo vão ao microscópio para analisar uma bactéria, fungo ou protozoário, eles enfrentam uma série de problemas para identificar esses minúsculos seres. Com frequência, ocorre o que os especialistas classificam como “ruído”. Este pode ser materializado tanto na falta de foco da imagem quanto na mudança de cor dos micro-organismos, provocada pelo eventual uso de soluções. Além disso, determinados organismos são “gelatinosos”, característica que faz com que sofram alterações no seu formato. Software desenvolvido pelo cientista da computação Danillo Roberto Pereira, no contexto da sua tese de doutorado defendida no Instituto de Computação (IC) da Unicamp, sob a orientação do professor Jorge Stolfi, pode contribuir para a superação dessas dificuldades. Nos testes realizados em laboratório, a ferramenta alcançou taxa de acerto na identificação dos microorganismos em torno de 70%, considerada “excelente” pelo autor do trabalho. Pereira explica que desenvolveu um método original e genérico de alinhamento/casamento de modelos deformáveis tridimensionais de micro-organismos. Em outros termos, o que ele fez foi gerar um modelo matemático que representa a superfície tridimensional de alguns micro-organismos. O casamento/alinhamento, nesse caso, consiste em recuperar a pose (posição, tamanho, rotação e possíveis deformações) dos organismos. “Pense na imagem de uma pessoa sorrindo. Se eu quero saber qual a posição dos olhos e da boca, eu pego um modelo tridimensional e faço o alinhamento desses pontos para recuperar o contexto no qual a imagem foi gerada. O mesmo princípio vale para a identificação dos micro-organismos”, esclarece o pesquisador. Qual a importância desse tipo de ferramenta? Conforme Pereira, alguns microorganismos são muito parecidos uns com os outros, mas causam doenças diferentes. Por isso é fundamental que o especialista consiga identificá-los com precisão, de modo a facilitar a abordagem terapêutica. “Normalmente, a imagem de uma bactéria ou protozoário é feita em poucos segundos. Entretanto, o especialista leva várias horas analisando-a, para tentar identificar o patógeno. O que estamos propondo é um recurso rápido e com elevado grau de confiança na identificação desses micro-organismos”, reforça. Para desenvolver o software, o autor da tese de doutorado procedeu da seguinte forma. Ele selecionou uma base composta por quatro micro-organismos complexos: Volvox, Paramecium, Elegans e Cyclops. Também utilizou três modelos convencionais e simples (esfera, cubo e cilindro). Depois, com base em imagens geradas por microscopia ótica e eletrônica, comparou-as às imagens tridimensionais que representam a superfície tanto dos objetos quanto dos micro-organismos, para estabelecer um parâmetro de comparação. “Atingimos uma taxa de acerto na identificação em torno de 70% a 75%, o que é excelente levando em conta a generalidade do método”, considera Pereira.

Aliás, a característica genérica da ferramenta merece um registro à parte. Segundo o cientista da computação, o modelo não é específico para a identificação de um dado organismo. “Existem métodos que trabalham com apenas um tipo de organismo. Ou seja, não servem para a análise de outras espécies. O software que nós estamos propondo serve para os mais diversos tipos de seres microscópicos”, assegura. O recurso é tão versátil, prossegue o autor da tese de doutorado, que pode ser utilizado em outras áreas além da biologia e da medicina. Um exemplo de aplicação é o segmento esportivo. De acordo com Pereira, o software pode servir, por exemplo, para recuperar a pose referente a um atleta. Para entender melhor o que isso quer dizer, imagine-se um praticante do arremesso de dardo. Basta filmar o arremessador em ação, para posteriormente recuperar os seus movimentos conforme o modelo tridimensional. “Com isso, é possível resgatar as passadas, a posição dos braços e do tronco, além de outros aspectos. Com isso, o treinador tem como identificar possíveis falhas na execução da prova e adotar medidas para corrigi-las”, compara o pesquisador. Indo um pouco mais longe, a ferramenta também pode ser aplicada em processos de reconhecimento facial. Nesse caso, o software promove a comparação entre o modelo tridimensional disponível e imagens de um banco de dados. “Se o modelo matemático que desenvolvemos provou funcionar muito bem no mundo micro, é provável que ele tenha um melhor desempenho no mundo macro. Isso, é claro, é apenas uma suposição que terá que ser comprovada por meio de novos testes”, observa o cientista da computação. Para desenvolver a ferramenta, Pereira fez uso de técnicas relacionadas a diferentes áreas, como a computação gráfica, processamento de imagem e métodos multiescalas hierárquicos. Questionado se o software foi objeto de alguma medida de proteção intelectual, o pesquisador responde que somente agora, após a defesa da tese, é que estudará providências nesse sentido. Ele entende, porém, que o modelo proposto por ele tem todas as condições de ser transformado em produto comercial. “Não vejo grandes problemas em transferirmos essa tecnologia para uma indústria interessada em produzi-la em escala. Penso que ela será de grande ajuda para usuários de diferentes áreas do conhecimento”, entende Pereira, que contou com bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Microscopia ótica de dois Cyclops sp.; é possível observar que os eggs sacs (sacos laterais) podem ou não estar presentes

Imagem de microscopia eletrônica de um Caenorhabditis elegans na qual fica evidente seu alto grau de deformação

Publicação Tese: “Fitting 3D Deformable Biological Models to Microscope Images” Autor: Danillo Roberto Pereira Orientador: Jorge Stolfi Unidade: Instituto de Computação (IC) Financiamento: Fapesp Danillo Roberto Pereira, autor da tese: “O que estamos propondo é um recurso rápido e com elevado grau de confiança na identificação dos micro-organismos”

Microscopia ótica de um Paramecium sp., sp. um dos micro-organismo testados no trabalho


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

De Collor ao mensalão Foto: Joedson Alves/ Agência Estado/ AE

Tese analisa crises políticas à luz de mudanças ocorridas no interior do neoliberalismo LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

anilo Enrico Martuscelli é autor da tese de doutorado intitulada “Crises políticas e capitalismo neoliberal no Brasil”, na qual analisa as crises do governo Collor em 1992 e do partido do governo (PT) em 2005. A originalidade da tese – orientada pelo professor Armando Boito Jr. e apresentada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) – está em procurar interpretar essas crises à luz dos conflitos de classe e das mudanças no desenvolvimento capitalista no Brasil. “São escassas as análises mais profundas sobre as crises políticas recentes no país. Há muitos textos de conjuntura, feitos no calor dos acontecimentos, mas os trabalhos mais sistemáticos sobre o tema praticamente inexistem”, afirma Martuscelli, que tem graduação em ciências sociais e mestrado e doutorado em ciência política pela Unicamp. “Na tese, busco compreender essas crises a partir dos processos de transição ao neoliberalismo no país e de reformas no interior deste modelo”. De acordo com o autor, diferentemente das abordagens macrossociais, macropolíticas e macro-históricas das crises de 1930, 1954 e 1964, as análises das crises de 1992 e 2005 geralmente caem em certa “fulanização” da política, em um tipo de crônica do cotidiano que se apega à descrição dos fatos e aos traços psicológicos dos agentes envolvidos. Na visão de Martuscelli, uma das explicações para essa ruptura na produção históricosociológica diz respeito ao impacto político e social das crises anteriores em comparação com as recentes. “As crises de 30, 54 e 64 criaram, respectivamente, as bases para o desenvolvimento do processo de industrialização no país, para a crise do populismo e para o estabelecimento do regime ditatorial. Já a deposição de Collor não resultou no fim da política neoliberal nem colocou em xeque o regime democrático constituído a partir de meados dos anos 80. A crise do partido do governo, em 2005, não logrou afastar o PT do poder federal nem pôr em questão as estruturas do capitalismo neoliberal.” O pesquisador observa que, a partir do final dos anos 1990, registra-se um processo de desgaste do neoliberalismo, surgindo, assim, grupos interessados em reformar este modelo. “Há um movimento de classes, ainda sem condições de superar o neoliberalismo, mas que pretende criar, nas franjas deste modelo, um tipo de política que contemple seus interesses. É esse tipo de explicação que, a meu ver, não aparece de maneira clara no debate. A explicação da relação dessas crises políticas com o desenvolvimento capitalista e com o conflito de classes é o aspecto teórico importante e original da tese.” Embora concorde que o distanciamento histórico é fundamental para compreender melhor todas as variáveis de um fenômeno, o cientista político argumenta que é necessário começar um trabalho mais sistemático sobre as crises recentes e que sua pesquisa cumpre um pouco tal função. “Quanto ao impeachment de Collor, já há certo distanciamento que permite enxergar um processo de mudanças ocorrendo na política brasileira. No caso da crise de 2005, ainda temos efeitos presentes na atual conjuntura, como as prisões de José Dirceu, José Genoíno e outros réus do mensalão. A crise, em si, já foi superada enquanto fenômeno, mas questões envolvendo os dois blocos que vêm hegemonizando as eleições (PT e PSDB) ainda são relevantes para pensar a disputa política no país.”

“AS DORES DO PARTO”

Caracterizando a crise de 1992 como resultante das “dores do parto” da transição ao neoliberalismo, Martuscelli relembra o con-

José Dirceu, Lula e Antonio Palocci, em foto de 2005: para autor da pesquisa, período foi marcado por pressões da burguesia interna por mudanças na política estatal

Foto: Divulgação

Danilo Enrico Martuscelli, autor da tese: “O realinhamento eleitoral é um processo importantíssimo para explicar as mudanças”

texto do final dos 80 e começo dos 90, em que ocorreram várias experiências de transição ao neoliberalismo em nível mundial. “Isso significou transitar para um modelo de capitalismo ancorado nas políticas de privatização, abertura econômica, desregulamentação do mercado de trabalho e redução de direitos sociais – modelo que interessava à burguesia financeira internacional. Por outro lado, vimos a resistência de setores da burguesia brasileira, como dos industriais reclamando do timing da política de abertura comercial introduzida por Collor – abertura que apoiavam, mas não da ‘forma escancarada’ como vinha sendo implementada.” O autor da tese acrescenta que, também no final dos 80, houve um forte crescimento das greves, o que expressava as dificuldades do empresariado em criar um ponto de unidade com os setores organizados dos trabalhadores. “Ao invés de rivalizar com os interesses do capital financeiro internacional, a burguesia interna preferiu se aliar a tais interesses para enfrentar as pressões dos trabalhadores urbanos. Várias foram as tentativas de neutralizar tais pressões, entre as quais destacamos: a promoção de vários seminários empresariais para pensar a ‘harmonia capital-trabalho’, a criação das câmaras setoriais e a fundação da Força Sindical, que passou a representar um sindicalismo mais afeito à negociação com patrões e governos.” Na avaliação do pesquisador, a conjuntura é diferente no começo dos 2000, quando a resistência às mudanças na política neoliberal passa a provir da burguesia financeira internacional, preocupada, inclusive, com a eleição de Lula. “A escolha de Palocci para a Fazenda e de Meirelles para o Banco Central serviu para dar-lhes alento. Mas a burguesia interna – que possui relação de contradição e dependência em relação ao capital estrangeiro e é representada por setores da indústria, do agronegócio e dos bancos nacionais – aca-

bou construindo uma frente política com setores dos trabalhadores organizados, visando pressionar o governo a adotar políticas de incentivo à produção industrial, à geração de empregos e ao aumento de salários, e que garantissem maior participação do Estado nos rumos da economia brasileira.” Martuscelli lembra ainda do fracasso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), cuja implementação interessava aos EUA; do declínio da taxa de juros, que contraria o interesse dos bancos estrangeiros e nacionais; e da mudança de perfil de financiamento do BNDES, que passou a privilegiar a indústria e a construção civil. “Temos a confluência de uma frente política que ainda é incapaz de tomar o leme da política estatal, mas que procura conquistar maior espaço na política nacional. Para mim, a queda de Palocci, em 2006, não teve a ver apenas com o escândalo do lixo em Ribeirão Preto, mas sobretudo se relaciona com essas pressões da burguesia interna por mudanças na política estatal, sendo a troca deste por Mantega um reflexo desse movimento.”

FINANCIAMENTO

DE CAMPANHA

O autor do estudo destaca que, em nenhum momento da crise, a grande burguesia interna cogitou a possibilidade do impeachment de Lula, tendo, inclusive, prestado apoio ao governo – o que não aconteceu com Collor, que foi se isolando progressivamente. “Pouco antes da denúncia de Duda Mendonça em relação ao caixa 2, Lula se reuniu com grandes empresários e recebeu uma carta das seis principais confederações patronais, apontando a necessidade da redução dos juros, da ampliação da participação do Estado na economia e da reforma política.” O cientista político afirma ainda que a convergência entre governo e grande burguesia interna se expressou mais claramente na questão dos financiamentos de campanha. “Em 2002, a campanha de Lula havia recebido R$ 27,9 milhões e a de Serra, R$ 27,8 milhões. Já em 2006, Lula recebeu R$ 75 milhões e Geraldo Alckmin, R$ 45,78 milhões. Na tese indico o perfil dessas contribuições, aparecendo, no caso de Lula, o setor de construção civil em primeiro lugar, seguido do setor financeiro. Justamente esses dois setores é que mais iriam lucrar nos anos seguintes: há um fortalecimento da construção civil com a Copa do Mundo, Olimpíada, PAC e Minha Casa, Minha Vida, enquanto que os bancos nacionais passam a obter lucros muito superiores aos registrados no governo FHC.” Sobre a reeleição de Lula em 2006, Martuscelli entra em debate com o também cientista político André Singer – que integrou a banca e sustenta a tese do realinhamento eleitoral nesta eleição, na qual o subproletariado (representado pelos setores beneficiados por políticas como Bolsa Família, Luz para Todos, crédito consignado e também pelo aumento do salário mínimo) teria se deslocado do bloco hegemonizado pelo PSDB para o PT; por outro lado, a candidatura de Lula teria se distanciado da classe média, fração de classe historicamente vinculada ao PT.

“Considero que o realinhamento eleitoral é um processo importantíssimo para explicar as mudanças, especialmente no segundo governo Lula”, admite o autor da tese. “Mas o realinhamento mais importante é o político, que aconteceu no seio da burguesia, ou seja: o governo do PT passou a fortalecer os interesses da grande burguesia interna, que consegue amplos financiamentos do BNDES, faz a defesa da queda da taxa de juros e, ao mesmo tempo, consegue promover ações conjuntas com o movimento sindical (o que estava fora do script político do início dos 90).” A ressalva do pesquisador à análise de Singer, portanto, é a de que o realinhamento não se restringiu à aproximação do PT com o subproletariado – o que teria garantido a reeleição de Lula. “Existem, inclusive, outros realinhamentos, como a aproximação da Força Sindical com a CUT, e, a partir da crise de 2005, o fortalecimento da aliança do governo Lula com o PMDB. Ressalte-se, inclusive, o fato de Lula não ter sofrido risco de impeachment. Não havia isolamento político e, sim, o interesse de representantes da grande burguesia interna em apoiá-lo – aspecto que não é observado por muitas análises.”

PERSPECTIVAS DE PESQUISA

Atualmente lecionando na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Chapecó (SC), Martuscelli já visualiza alguns temas para trabalhar em suas próximas pesquisas, como a comparação da crise política de 2005 no Brasil com as crises na Argentina de 2001 e 2008 – todas elas relacionadas com o processo de desgaste do neoliberalismo. “Vejo correlações interessantes, como o fato de que tanto aqui como lá, observadas algumas diferenças importantes, terem ocorrido processos de reformas, e não de superação do modelo neoliberal.” Outro eixo possível de pesquisa está na realização de uma análise comparativa do papel das denúncias de corrupção nas crises de 1930, 1954, 1964, 1992 e 2005. “Por que surgem as denúncias? Em 1930, temos a crítica aos ‘carcomidos da República Velha’. Em 1954, a crítica udenista ao ‘mar de lama do Catete’. E, em 1964, a crítica conservadora à ‘República dos Sindicalistas’, que estaria sendo supostamente formada no governo Jango. As denúncias de corrupção também aparecem em 1992 e 2005 como analisamos na tese. Para mim, importa avaliar os efeitos dessas denúncias no processo político e sua relação com as crises políticas e os conflitos de classe. Esta é outra questão que ainda não foi analisada de maneira satisfatória.”

Publicação Tese: “Crises políticas e capitalismo neoliberal no Brasil” Autor: Danilo Enrico Martuscelli Orientador: Armando Boito Jr. Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)


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Campinas, 10 a 16

Primeiras impress

Documentário produzido pela RTV, em parceria com Grupo de Pe do CMU, recupera memória do fotojornalismo de Campinas Foto: Nelson Chinalia/ Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

O escritor dispõe de tempo para refletir. Pode aceitar e rejeitar, tornar a aceitar (...) Existe também um período em que seu cérebro ‘se esquece’, e o subconsciente trabalha na classificação de seus pensamentos. Mas, para os fotógrafos, o que passou, passou para sempre.” A frase é do francês Henri Cartier-Bresson (19082004), reputado como o “pai do fotojornalismo”. Seu pensamento, ainda muito atual, alerta para a necessidade de valorizar o registro fotográfico como documento, certo de que o esquecimento pode acontecer, e de fato acontece. Vislumbrando a possibilidade de perder um amplo material de interesse social e de pesquisa, o Grupo de Pesquisa Memória e Fotografia (GPMeF), sediado no Centro de Memória-Unicamp (CMU), entrevistou cinco fotógrafos – Luiz Carvalho de Moura, Gilberto de Biasi, Neldo Cantanti, Antoninho Perri e Nelson Chinalia – que atuaram na imprensa campineira no período entre 1950 e 1998. Seus depoimentos estão no documentário “Primeiras Impressões – O Início do Fotojornalismo em Campinas”, recém-produzido pela Rádio TV-Unicamp (RTV) em parceria com o GPMeF. “Muitos desses fotógrafos, do ponto de vista da produção jornalística da cidade, acabaram sendo esquecidos. E essas pessoas foram muito relevantes para que isso acontecesse”, pontua Nelson Chinalia. “O registro da memória deles é fundamental. São personagens dotados de informações valiosas que, se não registradas, acabam se perdendo”. O documentário em questão integra a série “Especial Fotografia – Recortes da Memória. Além de “Primeiras Impressões”, foram produzidos “Nelson Chinalia – O Cronista Visual da Cidade”, “Cartões Postais de Campinas” e “Câmara Viajante – Reflexões”, apresentados pela jornalista Luiza Moretti, sob a direção-geral do jornalista Amarildo Carnicel, que também é coordenador do GPMeF e diretor-associado da RTV. A concepção desse projeto partiu do fotógrafo e pesquisador do GPMeF Nelson Chinalia. A socióloga Olga von Simson, especialista em História Oral e pesquisadora do GPMeF, imediatamente abraçou a ideia. “Esse projeto foi uma espécie de laboratório que focaliza a fotografia, um tema universal, sedutor e que, por conta disso, desperta grande interesse nas pessoas. Mas o carro-chefe, desde o início, era o vídeo mais amplo, com entrevistas dos fotojornalistas”, relata Amarildo. A história foi contada a partir do depoimento de Luiz Carvalho de Moura, o patriarca dos fotojornalistas de Campinas, e encerrou com Nelson Chinalia, que reportou os bastidores de sua experiência com os pioneiros da cidade. Este recorte no tempo

Foto de rebelião no presídio de Hortolândia, que rendeu a Nelson Chinalia o prêmio Vladimir Herzog, na década de 90

Foto: Neldo Cantanti/ Divulgação

foi feito quando os fotógrafos deixaram os estúdios, então mais voltados às fotografias sociais e de casamento, e passaram a ter uma presença marcante nas redações dos jornais e a investir na fotografia como elemento de informação. “O último fotógrafo a ser contratado numa redação sem a necessidade de diploma de jornalista foi o Nelson. Ele percebeu o valor de aliar a teoria assimilada nos bancos escolares ao desenvolvimento da produção do fotojornalismo”, conta Amarildo. Nelson começou a trabalhar no Correio Popular em 1973. Seu primeiro grande desafio foi fotografar o então governador de São Paulo, Laudo Natel. Daquele momento em diante, não parou mais: desfilaram por suas lentes o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, o ex-papa João Paulo II, o ex-piloto de Fórmula I Ayrton Senna e atletas que participaram da Copa do Mundo de Futebol na França em 1998, entre outras personalidades. Na condição de editor de fotografia do Correio Popular e docente da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, tomou uma importante decisão: a partir daquele momento, todo candidato a fotógrafo do jornal, deveria ter como pré-requisito o diploma de jornalista. Foi então responsável pela formação de uma geração de novos fotógrafos que hoje estão distribuídos em jornais e revistas de circulação nacional e em agências do exterior. Embora apostasse na renovação desses profissionais, não abriu mão dos bons fotógrafos que já estavam na redação. “Ele soube unir a vitalidade dos mais novos à exFoto: Divulgação

Antoninho Perri, hoje fotógrafo da Assessoria de Comunicação da Unicamp, retoca fotografia na redação do extinto Diário do Povo, na década de 70

Foto de Neldo Cantanti mostra o cineasta Lima Barreto, poucas horas depois de sua morte, no Hospital Cândido Ferreira, em Campinas

periência dos mais antigos. Esse encontro de gerações, no entanto, deveria ser marcado por uma qualidade fundamental: o olhar diferenciado”, lembra Amarildo. “Vejo uma diferença de olhar entre quem cursou a universidade e aquele que aprendeu com a profissão, mas reconheço o olhar de quem já fotografava muito bem, como o Biasi, o Neldo Cantanti, o Antoninho Perri, o Nelson Parizato, o Carlinhos Souza Ramos, o Nerivelton Araújo, entre outros”, destaca Nelson. “Todos vieram da época do filme e vejo que ainda é preciso saber o que é a revelação para depois entender o que é fotografia e o que é o processo digital. Até hoje, ensino fotografia em preto e branco para meus alunos.” Nelson sempre notou que cada fotógrafo tinha sua característica para determinadas situações. Ele lembra que Gilberto de Biasi tinha grandes sacadas. Era o Carnaval de 1950. Campinas só tinha três máquinas fotográficas profissionais. A que estava com Biasi não tinha flash. Só tinha chapa. Sua missão era fotografar a entrega do prêmio para a escola de samba vencedora.

Qual foi sua estratégia? Subiu o prédio defronte ao Correio Popular, na Rua Conceição. Apoiou a máquina na janela, usou um tempo de exposição longo, previu o momento que os outros fotógrafos iriam clicar e ‘roubou’ a luz do flash dos outros num ângulo totalmente diferente. Essa foi a foto publicada pelo jornal. O mestre Nelson não é contra a produção digital, entretanto afirma que ela está apenas engatinhando. Tem pouco mais de uma década de vida, em contraposição à fotografia, com quase 200 anos. Aprecia tanto a tecnologia que, com seu celular, realiza vários flagrantes por dia. No Instagram, tem perto de 3.200 seguidores. Em sua opinião, num prazo não muito distante, será possível imaginar que a máquina fotográfica não existirá mais. “Quem sabe, será uma espécie de óculos. E quem disse que ainda teremos telas de computador? Talvez o holograma possa substituí-las. Aí a realidade será muito diferente”, pressagia.


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6 de março de 2014

sões

Foto: Divulgação

esquisa s HISTÓRICO A fotografia entrou na imprensa em Campinas de maneira rudimentar na década de 1920. A impressão era precária e priorizava somente palavras e poucas ilustrações. Quando mudou o tipo de impressão, e isso possibilitou imprimir a fotografia, tinha aí uma profissão sendo criada. Os fotógrafos, oriundos dos estúdios, foram treinados para trabalhar com o repórter. As figuras do repórter e do fotógrafo tiveram início com as grandes revistas brasileiras, como o Cruzeiro, no anos de 1930, e a Manchete, nos anos de 1950. Os jornais perseguiram esse objetivo também e, na década seguinte, já tinham essas figuras. Ocorre que ainda não era interessante para as empresas terem fotógrafos contratados. Então eles atuavam como free-lancers. Tinham contratos temporários para certos trabalhos e recebiam por fotografia publicada. Uma curiosidade: quando usavam flash, o preço era mais elevado porque, a cada flash acionado, uma lâmpada era queimada. Nelson assistiu à criação do fotógrafo contratado por trabalho e à fotografia quando se estabeleceu como meio de informação, isso porque a impressão já tinha atingido certo padrão de qualidade e as informações, acompanhadas de imagens, tinham mais valor. Procurou se inspirar, a princípio, naqueles que fotografavam ao seu lado. Mas não se limitou aos amigos de redação. Começou a buscar em livros grandes nomes da fotografia. Assim, ‘conheceu’ Ansel Adams, Cartier-Bresson e Eddie Adams. Também teve a chance de ler John Edgecoe, que morreu em 2008 aos 94 anos, deixando uma belíssima produção impressa. A valorização desses profissionais provocou uma reviravolta na produção intelectual dos fotógrafos e muitos passaram a querer publicar na revista National Geographic. Ter uma foto nesta revista era uma espécie de consagração desse profissional. Outro objeto de desejo era participar do time da Agência Magnum, cooperativa francesa de fotógrafos que já reuniu nomes como húngaro Robert Capa, o polonês David Seymour e o francês Henri Cartier-Bresson. De olho no cenário que se desenhava na Europa, mas com os pés fincados em Campinas, Nelson buscava assimilar ao máximo o conhecimento que lhe chegava. Para ele, Luiz Carvalho de Moura fazia o papel da escola. Quase todos os fotógrafos passavam pelo seu laboratório na Rua Conceição. Possuía uma capacidade incomum de recrutar jovens para lhes ensinar o gosto de fotografar, testemunha. Não era somente isso. Ensinava como se portar, visto que o fotógrafo era muito visado. Desfilava nos lugares públicos empunhando máquinas do último tipo. A câmera Rolleiflex pousava à frente dele, como um símbolo de poder. “Ninguém tinha uma sequer do porte das nossas”, garante Nelson, que foi comprar seu primeiro equipamento 20 anos após começar a trabalhar, quando ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Fotojornalismo, em 1995. Os fotógrafos registravam as várias faces de uma Campinas que batia a porta dos 400 mil habitantes no século 20, produzindo um vasto material, muito importante para sair um dia e se apagar no dia seguinte e cuja guarda não era feita com a devida metodologia, lamenta ele. “E tão importante quanto a escrita do fato é a sua comprovação visual. Todo trabalho hoje, de historiografia e de memória, deve analisar as imagens porque elas podem falar até mais que um texto.” Os jornais mudaram os processos de impressão e, por conta disso, muita coisa foi deixada no meio do caminho. Em Campinas, por exemplo, por conta de jornais e redações que mudaram de endereço, muito conteúdo foi jogado. “Graças ao CMU, parte dessa história está guardada. Creio que todas as cidades deveriam ter um órgão como esse, que preservasse a sua memória visual, além da escrita”, lembra a socióloga Olga von Simson, que por muitos anos foi diretora do CMU.

Luiz Carvalho de Moura ainda jovem, em foto colorida à mão pelo próprio: patriarca do fotojornalismo em Campinas

Muito da memória do jornal já não existe mais. Luiz Carvalho de Moura e Neldo Cantani não têm arquivos pessoais – tudo se perdeu. O diálogo com eles no documentário então se deu por meio de fotografias já conhecidas ou daquelas inseridas no livro Um Click na História. “Como Nelson conhecia o que foi perdido, construiu questões e diálogos baseados nesse acervo que não podemos mais construir”, comenta Olga. Segundo a socióloga, é valioso preservar essa memória e conseguir chamar pessoas que tenham uma história a contar. São pessoas lúcidas, testemunhas vivas de uma história que elas próprias protagonizaram. “Compete ao grupo de pesquisa, dentro de uma metodologia estabelecida, investigar, reunir e organizar essas informações que são históricas. E ressalto também o importante trabalho dos profissionais da RTV-Unicamp que, desde a captação de imagens até o trabalho de edição, deram forma e movimento a um conteúdo que poderia ficar esquecido numa prateleira. Esse é um dos papéis da TV universitária: dar visibilidade às produções desenvolvidas na academia”, considera Amarildo. “Desconheço que haja disponível um material sobre Luiz Carvalho de Moura, guardado e preservado, em termos de áudio e vídeo, com a qualidade que acabamos de fazer.” Tão ou mais importante que os sete minutos da fala de Carvalho de Moura – de um total de 35 minutos do documentário – é o material com mais de uma hora que o

grupo de pesquisa tem na íntegra. O material ora registrado torna-se referência obrigatória para quem quiser investigar sobre a história do fotojornalismo de Campinas. Nelson observa que somente a partir dos anos de 1990 foi que a imprensa da cidade começou a preservar essa memória visual de modo mais sistematizado e organizado. “Isso graças ao empenho do jornalista Antonio Scarpinetti, fotógrafo da Assessoria e Imprensa da Unicamp. Ele foi responsável pela catalogação e documentação desse material no Correio Popular. O jornal e, por extensão, Campinas, deve a ele esse trabalho que é tão valioso quanto produzir a fotografia”, conclui Nelson.

MEMÓRIA A professora Olga sempre trabalhou com a memória mediante a intertextualidade, que envolve a imagem composta com o texto e gerada pela oralidade. “A fotografia foi fundamental em meus trabalhos anteriores, porque sempre ‘detonou’ o processo de memorização dos meus entrevistados”, afirma. Quando foi possível associar uma fotografia antiga ao tema da pesquisa e a mostrava ao entrevistado, percebia que a memória dele ganhava novo impulso, porque as informações da imagem faziam com que se lembrasse com riqueza de detalhes. Então essa associação entre imagem e o texto oral, que depois se tornou o texto escrito, é o que permite fazer esses trabalhos de recuperação da memória”, avalia.

Olga passou pela experiência típica de quem trabalha com fotos do passado. Quando tinha em suas mãos as fotos feitas com as câmeras convencionais, os acervos eram pequenos, as fotos eram cuidadas, tudo porque o fotógrafo sabia que tinha um número determinado de chapas a fazer. Ele se preocupava com a luz, com o ângulo e com uma série de aspectos da construção fotográfica. Depois vieram as fotos digitais, e as pessoas fotografam desbragadamente, sem grandes preocupações. A fotografia democratizou-se, contudo piorou a qualidade. É no computador que ele vai escolher as melhores imagens, melhorá-las com o Photoshop e depois divulgá-las pelas redes sociais. De outra via, há que se considerar que a quantidade é tão demasiada que as pessoas já não se prendem mais às imagens. Quem fotografa, peca pelo excesso. Então encontrar um bom fotógrafo, que se preocupe ao adotar o ritual fundamental para construir uma boa fotografia, faz a diferença, pondera a socióloga. “Acho isso premente na formação dos novos fotógrafos, para quebrar a ânsia do registro sem maiores cuidados. O ritual só qualifica o trabalho.” A pesquisadora mencionou que o documentário muito a emocionou a priori pelo respeito que se deve ter pelos idosos, por aqueles que construíram uma trajetória com heroísmo, com tropeços, porém que foram capazes de se afirmar e de se tornar reconhecíveis. “Isso também deve ser ensinado aos mais novos.” Em suas palavras, os idosos são resultado de trajetórias anteriores, de experiências anteriores, de vivências anteriores, e são capazes de transmiti-las. “Respeitá-los, valorizálos e reconhecê-los é também garantir que não sejam jogados às traças, que nossa memória não seja apagada. É valorizar a memória para que a tradição desse conhecimento possa permanecer”, ensina Olga.

METODOLOGIA

Durante a produção do documentário, os pesquisadores estabeleceram – com base na história oral – a recuperação dessa memória mediante um roteiro de perguntas. A parte intelectual da produção diz respeito ao GPMeF. A RTV-Unicamp se interessou pela ideia e, assim, foi estabelecida a parceria. O grupo de pesquisa não se preocupou apenas em reconstruir aspectos da trajetória dos fotógrafos entrevistados. Queria conhecer um pouco da história de cada um e aprofundar esse conhecimento através de uma análise mais cuidadosa. Quando feitas as entrevistas, pela qualidade do material, composto pelo depoimento de Nelson e pelo seu arquivo fotográfico, percebeu-se que o conteúdo permitia um roteiro que sustentava um documentário. Ele foi lançado no site da RTV e batizado como “Nelson Chinalia, o cronista visual de Campinas”. O retorno do público foi muito positivo. É apresentado no canal 10 da NET e também sob demanda no portal (http:// www.rtv.unicamp.br). “É algo interessante porque você assiste o quê, quando, quantas vezes e o trecho que quiser. Ao constatar o retorno desse vídeo, percebemos que a RTV poderia atuar nessa outra frente, além de suas produções que integram sua grade de programação”, comemora Amarildo. Foto: Antonio Scarpinetti

Da esq. para a dir., Amarildo Carnicel, Olga von Simson e Nelson Chinalia: preservando a história do fotojornalismo


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

Reposição hormonal não afeta jovens com falência ovariana Estudo da FCM foi publicado na revista norte-americana ‘Menopause’ Foto: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

termo menopausa precoce cedeu lugar à falência ovariana prematura (POF) ou insuficiência ovariana, denominações mais adequadas com os dias de hoje e que representam a perda da função do ovário [de produzir hormônios e de regular a menstruação] antes dos 40 anos de idade. Para essas mulheres (muitas na casa dos 20), o fenômeno é anunciado por irregularidade menstrual, menstruações mais ou menos frequentes. Não sabem o que fazer e o que pensar. E, ao procurarem ajuda médica, têm indicação de terapia de reposição hormonal (TRH). Elas se assustam. A reposição hormonal nestes casos é hoje mandatória, mas muitas a evitam por medo do câncer de mama, embora não havendo nenhuma evidência científica para essa faixa de idade. Teoricamente, quanto maior o tempo que o ovário deixa de funcionar, diminui a glândula mamária e aumenta o percentual de gordura. O receio na comunidade científica era que a reposição nas jovens mudasse este processo. Não foi o que mostrou um estudo da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A TRH em jovens mulheres com perda da função dos ovários não aumentou a densidade mamária com o avançar do tempo. Tal descoberta foi vista com animação pelo conselho editorial da revista norte-americana Menopause, um dos periódicos de maior circulação e prestígio na área de menopausa, que recomendou ampla divulgação do artigo “Mammographic breast density in women with premature ovarian failure: a prospective analysis”, da aluna de iniciação científica Luísa Helena Assis. A pesquisa, orientada pela docente Cristina Laguna Benetti Pinto, teve apoio da Fapesp e foi veiculada na edição on-line da Menopause em janeiro último e está prevista sua publicação na versão em papel em setembro deste ano. Assinam o texto, além de Luisa e da ginecologista Cristina, Maria Fernanda Brancalion, Eduardo Tinois, Helena Giraldo, Cesar Cabello e Daniela Yela. O trabalho foi premiado pela Sociedade Europeia de Ginecologia Endócrina e foi apresentado neste mês de março no 16º Congresso Mundial de Ginecologia Endócrina, em Florença, Itália. O evento se constitui o mais destacado da área. Luisa avaliou 56 pacientes com falência ovariana precoce, antes dos 40 anos, atendidas no Ambulatório de Ginecologia Endócrina do Hospital da Mulher “Prof. Dr. José A. Pinotti” Caism. Elas foram submetidas à TRH pelo período mínimo de três anos, para verificar se a reposição influenciaria a densidade mamária. Segundo a orientadora, o artigo certamente é relevante porque fornece substrato para que o médico mostre à paciente que a TRH nesta faixa etária não aumenta esse fator considerado de risco para câncer de mama – a densidade mamária. A perda da função do ovário nesta idade não é esperada, e pode ser comparável a uma mulher cuja tireoide deixou de funcionar e que por isso precisou repor o hormônio da tireoide. Igualmente, nas mulheres com menos de 40 anos, quando o ovário perde sua função, precisam ser repostos os hormônios que deveriam estar em funcionamento: o estrógeno e a progesterona. E essa reposição será feita até a idade em que a glândula entraria na menopausa.

DESCONSTRUÇÃO

As mulheres com falência ovariana precoce necessitam de uma abordagem diferenciada. A intenção é desvincular essas jovens do termo menopausa, pois é justamente essa vinculação que faz com que elas tenham medo do tratamento hormonal, garante Cristina. Isso porque uma pesquisa publicada na imprensa em 2002 acabou relacionando o uso dos hormônios do tipo do premelle ou premarin com o aparecimento do câncer de mama. Este estudo demonstrou risco aumentado para o desenvolvimento desse câncer pelas mulheres que chegavam à menopausa em idade habitual. “Discutível ou não, ele não se aplica à mulher jovem. Até por esse motivo, desenvolvemos a nossa investigação para avaliar a mama de mulheres em que ovário deixou de funcionar abaixo dos 40 anos”, diz. Essas mulheres muitas vezes são desinformadas e o médico também. Além disso, na literatura, há poucos estudos a esse respeito. Por isso o artigo alcançou grande repercussão na revista Menopause, comenta a professora. “Oferecemos respostas iniciais para que o médico dialogue com a paciente e mostre-lhe que deve fazer a TRH.” No Caism, há anos é prescrita a reposição hormonal com estrógeno associado à progesterona, por meio de comprimidos, mas também por meio de gel e de adesivos.

Da esq. para a dir., Luísa Helena Assis, Helena Giraldo e a professora Cristina Laguna Benetti Pinto, orientadora: estudo de impacto

Essa indicação é para manter um bom nível estrogênico, que ajuda a diminuir várias doenças em mulheres jovens: melhora a massa óssea e previne-se a osteoporose e sintomas genitais como secura, dor nas relações sexuais e ardor na vulva. Outros estudos ainda sugerem uma melhora cognitiva, dos parâmetros metabólicos (colesterol, triglicérides) e também menor relação com doenças neurológicas.

CAUSAS

O ovário dessas mulheres, conta Luisa, perdeu sua função antes da hora e, em geral, em um grupo em que o ovário nunca funcionou e também em um grupo em que o ovário já funcionou. “Estudamos o grupo em que o ovário funcionou e deixou de funcionar.” Normalmente essa disfunção pode resultar de causa genética, autoimune e pode ocorrer após radio e quimioterapia. “Muitas mulheres com câncer obtêm a cura, contudo seus ovários entram em falência e elas deixam de engravidar.” Mas algumas, sobretudo as que têm causas autoimunes, passam um período em que o ovário ora funciona bem, ora decai. Diante dessa oscilação, elas ainda têm uma chance mínima de conceber. Porém, na maioria das vezes não é possível estabelecer com segurança a causa da falência ovariana. Atualmente, para mulheres que querem engravidar, é possível recorrer a outras formas de tratamento baseadas na reprodução assistida – um conjunto de técnicas que viabilizam a gestação em mulheres com dificuldades de engravidar, mediante a doação de óvulo para aquelas que podem gestar.

AVALIAÇÃO

Os achados desse estudo foram avaliados a partir de um software desenvolvido pelo físico Eduardo Tinois e da leitura de mamografias realizadas pelo mastologista Cesar Cabello dos Santos, da Divisão de Oncologia do Caism. A grande vantagem foi que essas mamografias tinham intervalo de pelo menos cinco anos, o que permitiu fazer uma avaliação prospectiva.

Publicação Artigo: “Mammographic breast density in women with premature ovarian failure: a prospective analysis” Revista: Menopause Autores: Luisa Helena Assis, Cristina Laguna Benetti Pinto (orientadora), Maria Fernanda Brancalion, Eduardo Tinois, Helena Giraldo, Cesar Cabello e Daniela Yela Financiamento: Fapesp

A densidade da mama, refere Cristina, pode ser avaliada de várias formas. Uma delas envolve o uso de mamografias. Nelas são riscados o que foi visibilizado de glândula mamária e de tecido gorduroso. O software analisa o percentual de glândula mamária em relação ao que há de gordura. Segundo a mestranda Helena Giraldo, da linha de pesquisa coordenada pela professora Cristina, as investigações que se dedicam a avaliar os fatores de risco para o câncer de mama podem fornecer dados que aumentam a prescrição e a aderência ao tratamento. A despeito de existirem conclusões definitivas, alguns estudos da literatura médica sugerem que, quanto mais “cedo” a menopausa, independentemente da reposição, menor é o risco do câncer de mama, porque o ovário parou de funcionar “cedo”.

OUTRAS PESQUISAS As pacientes comumente chegam ao Ambulatório de Ginecologia Endócrina do Caism com queixas menstruais, a fim de investigar o porquê do seu ciclo ter ficado irregular (a cada três a seis meses) ou porque cessou. Os exames, no caso, vão apontar que o ovário está perdendo a sua função. É daí que a mulher fica impactada, ao receber o diagnóstico. Muitas negam e demoram um tempo até que entendam e assumam que têm uma disfunção. Cristina informa que, para elas, o diagnóstico equivale à perda de um ente querido. A professora comenta inclusive que, nas consultas no Caism, as pacientes jovens já não podem e não querem mais ser enquadradas no mesmo grupo de estudo das mulheres na menopausa. Por conta disso, vários projetos, especificamente para esta população, estão em andamento no hospital. Helena agora está estudando as queixas sexuais dessas mulheres, já que a reposição às vezes não consegue melhorar esse quadro. Ela está investigando uma nova forma de terapêutica para esse público. Um estudo já publicado, de mulheres com falência ovariana prematura antes dos 40 anos, revelou que, mesmo com a reposição, elas têm muito mais queixas sexuais do que as mulheres cujo ovário funciona bem. Em estudo anterior, da pós-graduanda Poliana Cordeiro, avaliou-se a função sexual das mulheres com falência ovariana prematura que usavam a TRH. Poliana examinou o seu ambiente vaginal e comprovou ser igual ao de outras mulheres e que, mesmo assim, ainda tinham mais queixas. “Estamos propondo agora um tratamento diferente do que já foi feito em fisioterapia, com estímulos elétricos, para tentar atingir planos mais profundos, teciduais”, relata Helena. “Vimos que estas mulheres precisam de respostas, e os ginecologistas do Ambulatório de Ginecologia Endócrina do Departamento de Tocoginecologia da FCM têm buscado um atendimento diferenciado para elas”, acrescenta Cristina.


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

Pesquisadora aprimora sistemas de alimentação de motores a álcool

Engenheira analisa a influência da temperatura do combustível no funcionamento de bicos injetores Foto: Antoninho Perri

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

os veículos movidos a álcool e mesmo nos carros flex, a partida a frio é conseguida com o apoio de um reservatório de gasolina. Desde há muito se sabe que nos motores de combustão interna ciclo Otto, que utilizam velas para gerar faísca e dar ignição, a combustão ocorre muito mais facilmente quanto menores forem as partículas do combustível. Sabe-se também que, se comparadas a uma mesma temperatura, as gotas que constituem o spray da gasolina são menores que as do álcool, o que explica em parte a maior dificuldade do início da combustão deste, principalmente em dias frios. Em temperaturas drasticamente baixas, até a gasolina é afetada, o que reforça a evidência de que a temperatura influi no tamanho das partículas de um combustível. Como a gasolina ou o álcool, e hoje até a mistura deles, são introduzidos no motor com o ar na forma de sprays gerados pelos bicos injetores, é fundamental avaliar os parâmetros envolvidos no processo – como diâmetros representativos das gotas, distribuição dos diâmetros, campo de velocidades e aspectos macroscópicos do spray – com vistas ao melhoramento desse sistema. Esse conhecimento pode contribuir para a melhoria do desempenho global do motor em relação ao consumo de combustível e para a diminuição das emissões de poluentes, em decorrência da possibilidade de uma queima mais eficiente. Estas perspectivas e expectativas constituíram o escopo de trabalho desenvolvido pela engenheira mecânica Renata Fajgenbaum, orientado pelo professor Rogerio Gonçalves dos Santos, do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, que a levaram à dissertação de mestrado em que analisa a influência da temperatura do combustível no atomizador de bicos injetores automotivos. Depois de concluído o doutorado em combustão na Ecole Centrale Paris, França, o docente retornou ao Brasil e trabalhou cerca de um ano e meio na Magneti Mareli Sistemas Automotivos, em Hortolândia. A empresa estava desenvolvendo um sistema para substituir a partida a frio convencional dos carros movidos a etanol como alternativa ao processo atual que usa reservatório de gasolina, consagrado desde o advento dos motores a álcool. Pouco tempo depois, Renata estagiou na empresa trabalhando com bicos injetores. Ao ingressar na Unicamp, Rogerio se deu conta da possibilidade de conjugar três fatores favoráveis: sua vontade de analisar com mais profundidade e propriedade a interferência da temperatura no processo de partida de motores a explosão; a motivação de Renata em se envolver em pesquisa depois da graduação e aprofundar seu conhecimento em atomização; e o interesse da Magneti Marelli em realizar um estudo científico sobre seu produto. Eles tiveram a ideia então de projetar e construir uma bancada para o desenvolvimento do trabalho e analisar o comportamento da atomização do combustível em várias temperaturas ao ser injetado. Embora centrado no álcool, o estudo estendeu-se também à gasolina, que serviu como base de referência. As empresas que pesquisam alternativas para sistemas de partida a frio para os motores movidos a álcool procuram determinar, de forma empírica, a que temperatura uma porção do álcool precisa ser aquecido para dar início ao funcionamento do motor. Esses sistemas, que prescindem do reservatório auxiliar de gasolina, são empregados ultimamente em vários carros vendidos no Brasil. Apesar disso, esclarece o docente, “isso é feito empiricamente. Ao chegar à universidade me propus a entender mais a fundo como isso funciona, qual a função do aquecimento”.

OBJETIVOS E PREMISSAS

A pesquisadora considera que, com o conhecimento das relações entre os parâmetros de atomização, dos aspectos geométricos do bico injetor e das diferentes condições de

Renata Fajgenbaum, autora do estudo, e o professor Rogerio Gonçalves dos Santos, orientador: otimizando o desempenho do motor

ensaio, é possível modificar características físicas do injetor, prever e otimizar o seu funcionamento. Em vista disso, o seu trabalho teve como objetivos: realizar uma investigação experimental sobre o processo de atomização de líquidos em bicos injetores de motores de combustão interna; caracterizar os principais parâmetros do spray gerado relacionando propriedades do líquido à montante do injetor, condições operacionais e geometria do atomizador empregado no injetor; correlacionar parâmetros e propriedades de forma a oferecer ferramentas de engenharia úteis ao projeto e desenvolvimento de injetores. Estudos relacionados à área de combustão mostram que quanto menor o diâmetro das gotas do spray gerado pelo injetor, mais fácil a combustão, independentemente do tipo de combustível. Essa foi a premissa de partida que Renata procurou comprovar. Os testes que visavam à determinação de como ocorre a variação do tamanho das gotas do combustível foram feitos em seis temperaturas situadas entre os 16 e 55 graus Celsius, conseguidas através da troca de calor do combustível com uma mistura refrigerante de água e etileno glicol. Os experimentos foram realizados para um injetor de injeção eletrônica indireta (injeção no pórtico), predominante desde o advento do automóvel, em que a mistura ar e combustível é realizada previamente antes de entrar na câmara de combustão. Testado para uma variação de temperatura que pode ser considerada pequena, os resultados mostraram que as variações dos tamanhos médios das gotículas foram muito sutis e podem se situar dentro da margem de erro prevista na utilização do instrumento. Mas quando o histograma de distribuição das partículas é avaliado, esses dados mostram que, para um mesmo combustível, à medida que a temperatura aumenta o número de partículas de menor diâmetro em relação às demais aumenta também, embora as médias representativas possam ser consideradas constantes. Assim, a maior facilidade de combustão pode estar relacionada a esse aumento discreto das partículas menores com o crescimento da temperatura. O estudo permitiu que fosse determinado o campo de velocidades das gotas para cada temperatura e realizada a caracterização do spray para o tipo de injetor utilizado. Em relação ao diâmetro representativo, a gasolina realmente revelou um diâmetro médio menor do que o álcool e essa certamente é uma das razões que a tornam mais adequada a partidas a frio em qualquer temperatura.

CONCLUSÕES

Com base no estudo, Renata conclui que mesmo uma pequena variação de temperatura influencia o tamanho das gotas do combustível, mesmo que de forma sutil. Ela espera um aumento desse efeito em temperaturas maiores e que dele decorra maior facilidade do início da combustão por aque-

Esquema de aparato experimental completo

Laser

Bancada

Difusor

Trocador de calor

Processamento das imagens

cimento, embora considere que outros parâmetros precisem ser ainda analisados. A pesquisadora defende a continuidade dessa linha de pesquisa em temperaturas mais altas, que são as de fato utilizadas nas aplicações que envolvem o aquecimento prévio do combustível que, no caso o álcool, situam-se na faixa dos 120-140 graus Celsius. Neste caso, para manter o combustível líquido, haveria necessidade de uma pressurização no local do aquecimento, o que exigiria a adição de dispositivos novos à bancada. O professor Rogerio explica que procurou partir do modelo mais simples para depois, à vista dos resultados obtidos, estudar situações mais complexas. Para ele, “o importante foi vivenciar uma primeira experiência que possibilitasse entender realmente a atomização de álcool. Acumulam-se experiências que permitem conhecer o funcionamento de um motor, mas pouco se sabe sobre o que realmente interfere na queima do álcool, apesar dos 40 anos de conhecimentos sobre esse tipo de motor. Então esta é uma tentativa de entender mais a fundo quais são as características desse spray de álcool. Os resultados obtidos podem vir a ser usados para melhorar o bico injetor e comparar soluções propostas, contribuindo para a evolução desses dispositivos”. Outra decorrência da pesquisa seria a contribuição para o acúmulo de conhecimento no Brasil sobre a utilização da técnica óptica de medição empregada no experimento, que se configura como uma das mais recentes e modernas atualmente, mas que ainda está engatinhando no país. O projeto de pesquisa contou com recursos da Bolsa-Auxílio da Capes, recebida pela pesquisadora; do Programa de Auxilio à Pesquisa, do Fapex da Unicamp, concedido para compra de materiais de consumo e permanentes e contratação de serviços; e da empresa Magneti Marelli Sistemas Automotivos, através do fornecimento de matériaprima, equipamentos know-how e construção da bancada de testes.

Câmera fotográfica

APARATO EXPERIMENTAL

Como se pode observar na figura, o aparato experimental completo consta fundamentalmente de duas partes distintas: a bancada e o equipamento chamado Shadowgraphy. Constitui a bancada o tanque de armazenamento do combustível, dentro do qual uma serpentina está inserida e conectada, através de uma mangueira, a um trocador de calor. Do tanque o combustível é bombeado até a galeria de combustível localizada na parte superior da câmara transparente da bancada, onde a pressão é regulada e a temperatura medida. O combustível vai então para o bico injetor - disposto na parte superior da câmara transparente - que o injeta e o atomiza formando um spray cônico dentro dela. A essa bancada é acoplado o equipamento de Shadowgraphy, que permite a medição de alguns parâmetros do spray – diâmetros médios das gotas, campo de velocidade e distribuição das partículas. Para essas determinações, o equipamento dispõe, por sua vez, de uma câmara fotográfica, uma fonte de iluminação (laser e difusor - que modifica a luz que chega ao spray para luz difusa) e de um software de processamento das imagens. O Shadowgraphy utilizado foi disponibilizado pela Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp.

Publicação Dissertação: “Influência da temperatura do combustível nos parâmetros de atomização de um atomizador utilizado em bicos injetores automotivos” Autora: Renata Fajgenbaum Orientador: Rogerio Gonçalves dos Santos Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

PAINEL DA SEMANA  Celpe Bras - As inscrições ao exame para a obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) devem ser feitas até 10 de março, no endereço eletrônico http://celpebras.inep.gov.br/inscricaoCelpeBras/. As provas (coletiva e individual) ocorrem nos dias 8, 9 e 10 de abril. Na Unicamp, a coordenadora de aplicações é a professora Matilde Virgínia Scaramucci, do Instituto de Estudos da Linguagem IEL. O Celpe-Bras foi desenvolvido e outorgado pelo Ministério da Educação (MEC), aplicado no Brasil e em outros países com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE). É o único certificado de proficiência em português como língua estrangeira reconhecido oficialmente pelo governo do Brasil. Internacionalmente, é aceito em empresas e instituições de ensino como comprovação de competência na língua portuguesa e no Brasil é exigido pelas universidades para ingresso em cursos de graduação e em programas de pós-graduação, bem como para validação de diplomas de profissionais estrangeiros que pretendem trabalhar no país. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19- 3521-1520 ou e-mail seee@iel.unicamp.br  Multicomponent Mass Transfer - O curso acontece no dia 10 de março de 2014, das 9 às 18 horas, na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. Organizado pela FEQ e Delft University of Technology and BE-Basic, tem entre os tópicos processos com três ou mais espécies, as misturas de componentes múltiplos; processos com mais de um motor, incluindo gradientes elétricos ou de pressão; processos com uma matriz sólida, tal como um polímero ou um meio poroso. Mais informações com o professor Guilherme Jose de Castilho pelo e-mail brazil@be-basic.org ou telefone 19-3521-1718.

 Selo comemorativo da FEC - A Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) recebe, até 10 de março, as inscrições ao concurso para a criação do selo comemorativo dos 45 anos do curso de Engenharia Civil e dos 15 anos do curso de Arquitetura e Urbanismo. Conheça o regulamento no site http://www.unicamp.br/ unicamp/sites/default/files/field/arquivo/selofec.pdf#overlay-context=  Estética como acontecimento - No dia 10 de março, às 18 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Educação (FE), o professor Daniel Lins, da Universidade Federal do Ceará (UFC), ministra o curso “Estética como acontecimento”, voltado aos estudantes de pós-graduação, graduação, professoras e interessados no assunto. A organização é do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) e da Pós-Graduação da FE-Unicamp. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas (presencialmente) no primeiro dia de curso. Mais informações pelo telefone 19-3521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br  Mulheres no esporte - A primeira edição de 2014 do Fórum Permanente de Esporte e Saúde acontece no dia 11 de março, às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O evento tratará do tema “Mulheres no esporte”. A organização do evento está a cargo das professoras Helena Altmann e Heloisa Helena Baldy dos Reis. Informações, programação e inscrições no site http://www.foruns. unicamp.br/foruns/index.php?idArea=9  50 anos do Golpe de 64 - O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, por meio do Departamento de História e do Programa em Pós-graduação em História, promoverá nos dias 11 e 12 de março o seminário 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964 – Revisitando questões e debates. O evento, aberto à participação de toda a comunidade universitária, reunirá pesquisadores jovens e consagrados, que refletirão sobre temas como memória, trauma, gênero, espaços, transições e sociedade. As atividades serão realizadas nos Auditório I do próprio IFCH. Leia mais em http://www.unicamp.br/unicamp/ noticias/2014/02/17/evento-debatera-os-50-anos-do-golpe-de-64  Gênero, sexo e preconceito - Uma mostra de filmes e debates sobre gênero, sexo e preconceito é o que o Centro Cultural do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp programou para exibir nos meses de março e abril, em seu miniauditório. As apresentações ocorrerão às terças e quintas-feiras, sempre às 17h30. Short bus abre a maratona filmográfica no dia 11 de março e Meninos que não choram é a atração do dia 13. Leia mais: http://www.unicamp.br/ unicamp/eventos/2014/02/12/centro-cultural-do-iel-exibe-mostra-defilmes-sobre-genero-sexo-e-preconceito  Pré-operatório de cirurgia bariátrica - A Unicamp efetua inscrição para o grupo pré-operatório de cirurgia bariátrica (de redução do estômago) no dia 12 de março, às 8 horas, no seu Ginásio Multidisciplinar (GMU). Mais detalhes no link http://www.unicamp.br/unicamp/ noticias/2014/02/26/selecao-para-pre-operatorio-de-cirurgia-bariatricasera-no-dia-12  Workshop com a Editora Elsevier - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), organiza no dia 12 de março, às 15h30, no auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), o workshop “Scientific Publishing: Insights into what authors, editors and journals want”. Ele será ministrado por representantes da Editora Elsevier, líder mundial em publicações de Saúde, Ciência e Tecnologia. Há 130 vagas disponíveis. O seminário será na língua inglesa e é direcionado aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp. Mais detalhes no site http://www.cgu.unicamp.br/espaco_da_escrita/index. php, telefone 19-3521-6649 ou e-mail workshops.escrita@reitoria. unicamp.br.

DESTAQUE

 Boas-vindas aos novos alunos do IG - Evento de boas-vindas e confraternização entre alunos ingressantes, veteranos e professores de Pós-graduação do Instituto de Geociências (IG) acontece no dia 12 de março, às 14 horas, no auditório de Pósgraduação (PE11) da Faculdade de Engenharia Elétrica (PE11). A organização é da Coordenação da Pós-graduação do IG. Na ocasião, às 19h30, o professor Renato Emerson dos Santos, docente da FFP-UERJ e presidente da AGB, profere aula magna com o tema “Relações raciais e Geografia: uma leitura contemporânea”. Será na sala MD-02 (Engenharia Básica). Mais informações: telefone 19-3521-4597 ou no site http://www.ige.unicamp.br/pos-graduacao/  CONASSS - Assistentes sociais da Unicamp, da USP e da Unesp promovem, de 9 a 11 de abril, no Centro de Convenções do Parque Tecnológico de São José dos Campos-SP, o VII Congresso Nacional de Serviço Social em Saúde (CONASSS) com o tema “As repercussões na crise do capital nas políticas de saúde e ações do serviço social na efetivação de direitos”. As inscrições podem ser feitas (com desconto) até 14 de março pelo site www.conasss.com.br

TESES DA SEMANA  Artes - “Picture Ahead: a Kodak e a construção de um turistafotógrafo” (doutorado). Candidata: Livia Afonso de Aquino. Orientadora: professora Iara Lis Schiavinatto. Dia 10 de março de 2014, às 14 horas, na sala 2 do prédio da pós-graduação do IA. “A trilha musical como gênese do processo criativo na obra de Moacir Santos” (mestrado). Candidato: Lucas Zangirolami Bonetti. Orientador: professor Claudiney Rodrigues Carrasco. Dia 10 de março de 2014, às 14 horas, na sala 3 da Pós-graduação do IA.  Computação - “Interação multimodal em ambientes de EaD: proposta de arquitetura e impactos” (doutorado). Candidato: André Constantino da Silva. Orientadora: professora Heloisa Vieira Rocha. Dia 14 de março de 2014, às 13 horas, no auditório do IC. “Estudo e avaliação de conjuntos de instruções compactos” (doutorado). Candidato: Bruno Cardoso Lopes. Orientador: professor Rodolfo Jardim de Azevedo. Dia 14 de março de 2014, às 14 horas, na sala 53 do IC-2 do IC.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Parâmetros de sustentabilidade no retrift escolar: abordagem gráfica” (mestrado). Candidata: Isabela Escaroupa Panobianco. Orientador: professor Evandro Ziggiatti Monteiro. Dia 12 de março de 2014, às 14 horas, na sala CA-22 da FEC.  Engenharia Mecânica - “Diagnóstico energético e gestão da energia em uma planta petroquímica de primeira geração” (mestrado). Candidato: Flávio Roberto de Carvalho Mathias. Orientador: professor Sergio Valdir Bajay. Dia 10 de março de 2014, às 10 horas, na sala JD2 da FEM. “Influência do sistema pre-crash de segurança veicular em ocupantes de diferentes estaturas” (mestrado). Candidato: Daniel Todescatt. Orientador: professor Antonio Celso Fonseca de Arruda. Dia 10 de março de 2014, às 14 horas, no auditório KD da FEM.  Engenharia Química - “Hidrogenação de compostos aromáticos em fase líquida com catalisadores à base de metais do grupo VIII suportados em alumina via impregnação úmida” (doutorado). Candi-

dato: Raphael Soeiro Suppino. Orientador: professor Antonio José Gomez Cobo. Dia 12 de março de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Remoção de compostos BTX em argila organofílica por adsorção em fase líquida” (mestrado). Candidata: Sara Karoline Figueiredo Stofela. Orientadora: professora Melissa Gurgel Adeodato Vieira. Dia 14 de março de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Preparação e caracterização organofílica para adsorção de BTX” (mestrado). Candidata: Sidmara Bedin. Orientadora: professora Meuris Gurgel Carlos da Silva. Dia 14 de março de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Síntese e caracterização de MCM-41 impregnada com magnésio e cromo e suas propriedades catalíticas para reações de conversão de etanol” (doutorado). Candidata: Nathália La Salvia. Orientador: professor Gustavo Paim Valença. Dia 14 de março de 2014, às 14 horas, na sala de aula PG05 do bloco D da FEQ.  Geociências - “Padrões da interação universidade-empresa no Brasil: análise multivariada dos surveys de grupos de pesquisa e empresas em 2008 e 2009” (mestrado). Candidato: Fabio Chaves do Couto e Silva Neto. Orientador: professor Wilson Suzigan. Dia 10 de março de 2014, às 14 horas, no auditório do IG. “Geocronologia e evolução do sistema hidrotermal do depósito aurífero de Juruena, província aurífera de Alta Floresta (MT), Brasil” (mestrado). Candidato: Anderson Alirio Acevedo Serrato. Orientador: professor Roberto Perez Xavier. Dia 12 de março de 2014, às 9 horas, no auditório do IG. “Mapeamento de minerais de alteração hidrotermal aplicando técnicas de sensoriamento remoto e espectroscopia de reflectância na área Salares Norte, Chile” (mestrado). Candidata: Juanita Rodriguez Melo. Orientador: professor Alvaro Penteado Crósta. Dia 14 de março de 2014, às 9 horas, na sala A do DGRN do IG.  Linguagem - “Sujeito nulo e ordem VS no português brasileiro: um estudo diacrônico-comparativo baseado em corpus” (doutorado). Candidata: Aline Peixoto Gravina. Orientadora: professora Charlotte Marie Chambelland Galves. Dia 11 de março de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Apropriação da curadoria na web por uma empresa de mídia tradicional: a cultura da convergência entre a narrativa e o banco de dados” (mestrado). Candidata: Nayara Natalia de Barros. Orientador: professor Marcelo El Khouri Buzato. Dia 13 de março de 2014, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Idiossincrasias do processamento de pronomes plurais” (doutorado). Candidata: Mahayana Cristina Godoy. Orientador: professor Edson Françozo. Dia 13 de março de 2014, às 14 horas, no anfiteatro do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “O Problema de Cauchy para a Equação de Benjamin-Ono-ZakharovKuznetsov” (doutorado). Candidato: Alysson Tobias Ribeiro da Cunha. Orientador: professor Ademir Pastor Ferreira. Dia 14 de março de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação do tecido pulpar de dentes de ratos irradiados com radiação X” (mestrado). Candidata: Rafaela Argento. Orientadora: professora Glaucia Maria Bovi Ambrosano. Dia 10 de março de 2014, às 9 horas na sala da Congregação da FOP.  Química - “Metodologias de RMN de 1H aplicadas na caracterização estrutural e termodinâmica de complexos supramoleculares orgânicos” (doutorado). Candidato: Lucar Gelain Martins. Orientadora: professora Nita Jocelyne Marsaioli. Dia 11 de março de 2014, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

DO PORTAL

Aprovados R$ 10 mi para obras de infraestrutura nas unidades Fotos: Antonio Scarpinetti

Alvaro Crósta: verba expressiva para cumprir metas do Planes

Comissão de Planejamento Estratégico Institucional (Copei) da Unicamp aprovou um edital com recursos da ordem de R$ 10 milhões para obras e serviços de infraestrutura nas unidades, colégios técnicos, centros e núcleos e unidades da área de saúde. As propostas devem ser encaminhadas à Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU) até o dia 15 de março, para a seleção dos projetos pela Copei até 15 de abril. O valor máximo por projeto (limitado a um por unidade) é de R$ 2 milhões. Diante da demanda por projetos de infraestrutura que chega à administração central, a preferência é que estes recursos sejam alocados para obras. “Esta chamada interna está ligada às atividades do Planejamento Estratégico [Planes 2014], que este ano recebeu uma dotação orçamentária bem superior às de anos anteriores”, esclarece o professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade e presidente da Copei. “A ideia é disponibilizar

A pró-reitora Teresa Atvars: seleção vai ocorrer em duas fases

uma verba bastante expressiva para atingir as metas propostas no Planes. Com esses R$ 10 milhões, estamos alocando quatro vezes mais recursos que no ano anterior, sendo que o professor Tadeu Jorge já comentou em reunião do Conselho Universitário que o objetivo é dobrar essa quantia nos próximos dois anos, obviamente dependendo de haver disponibilidade orçamentária.” Alvaro Crósta ressalta o caráter competitivo desta chamada, em que serão priorizadas obras que impactem positivamente no crescimento do número de alunos de graduação; viabilizem áreas de pesquisa inovadoras; utilizem critérios bem definidos na distribuição do espaço físico para atividades de pesquisa; que tenham o projeto executivo detalhado e pronto para ser licitado; e contenham, ainda, descrição pormenorizada e orçamento necessário para as obras e instalações. “Para evitar problemas que tivemos no passado, gostaríamos de receber projetos que tenham um orçamento realista. É importante financiar obras que possam ser

concluídas, ao invés de começá-las e depois não ter recursos para terminá-las.” A professora Teresa Atvars, pró-reitora de Desenvolvimento Universitário, esclarece que a seleção se dará em duas fases, a primeira no âmbito da própria Copei, examinando se os projetos estão de acordo com o edital; e a segunda de avaliação do mérito, por uma comissão mista com pessoas da Unicamp e de fora. “Em relação ao prazo um pouco curto para entrega das propostas, estamos imaginando que para esta chamada já existam várias com o projeto executivo detalhado e com um orçamento. Por outro lado, queremos aprovar os projetos na reunião da Copei em abril, pois envolvem obras, cuja licitação é demorada. Os prazos são importantes para tramitar, licitar, contratar e iniciar as obras ainda esse ano.” Um aspecto inédito deste edital, segundo Alvaro Crósta, é a preocupação com a evasão nos cursos de graduação: a unidade onde a evasão seja maior do que 20% na média dos últimos cinco anos, deverá apresentar

um projeto detalhado, semestre a semestre, para a redução substancial deste porcentual no prazo de três anos. “A Unicamp está vivendo este problema há bom tempo. Existem cursos que ultrapassam o limite de 20% de evasão e que deverão olhar com cuidado para essa questão, adotando medidas para sua redução.” De acordo com Teresa Atvars, o esforço que a Universidade deve fazer para conter a evasão é de natureza acadêmica e, portanto, o plano de ação nesse sentido pode não estar diretamente vinculado ao projeto apresentado. “A vinculação é indireta, pois mesmo que o projeto não esteja ligado às atividades da graduação, o conjunto de atividades de natureza acadêmica tem impacto sobre a qualidade do ensino. Queremos o compromisso das unidades de ajudar a Unicamp, como um todo, a reduzir a evasão, com a criação de um ambiente em que essa problemática seja tratada de modo estruturado.” (Luiz Sugimoto)


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

Em busca de uma plataforma para

sistemas robóticos autônomos Faculdades mentais humanas inspiram desenvolvimento de arquitetura de hardware para veículos móveis CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

s softwares, criados para executar funções específicas, precisam do apoio de hardwares, constituídos basicamente de componentes e circuitos eletrônicos. Trabalho desenvolvido pelo engenheiro eletrônico Milton Felipe Souza Santos analisa a possibilidade de criação de arquiteturas de hardware, buscando encontrar plataforma de desenvolvimento escalável e adaptável a diferentes estruturas mecânicas de veículos móveis e passível de ser provida de sensores suficientes para lhes permitir comportamentos autônomos. Para caracterizar melhor o conceito de autonomia foram primeiramente analisadas capacidades mentais humanas como as de sensação, percepção, orientação e cognição, todas relacionadas ao hardware quando implantadas em veículos móveis. Houve também necessidade de buscar métodos e sistemas para solucionar os problemas decorrentes desses empregos. Analisaram-se ainda as possibilidades de topologias em rede de forma a conectar módulos individuais e propostos critérios de escolha de módulos e topologias dos sistemas. O trabalho permitiu estruturar e criar sequência de desenvolvimento de um veículo móvel robótico em fases que pudessem ser facilmente seguidas na elaboração de programas em faculdades, escolas e empresas. O pesquisador buscou chegar a um sistema autônomo o mais completo possível, adotando como modelo as faculdades mentais humanas. Orientou-o a procura de um sistema capaz de suportar a maioria das possibilidades de hardware e software escolhidas para tratamento, utilizando a mesma plataforma eletrônica para diferentes tipos de aplicações mecânicas. Ou seja, um sistema capaz de conter todas as formas de guiagem que possam contribuir para o comportamento autônomo, de forma que a arquitetura de hardware possa ser simplificada com a utilização do mínimo de blocos/módulos de acordo com as necessidades impostas em cada situação.

O estudo propõe ainda um método de como alcançar o desenvolvimento das arquiteturas de hardware desejadas, expõe conceitos de autonomia e de inteligência artificial, métodos de localização e navegação e arquiteturas modulares existentes no mercado industrial e automotivo para uso em robótica móvel.

MOTIVAÇÕES

Face às suas experiências nas áreas espacial e automotiva, o engenheiro se deu conta de que grande parte dos sistemas empregados nos dispositivos robóticos autônomos trabalha utilizando uma única central de processamento com todos os demais elementos operando ao redor. Ele se interessou então em estudar um sistema que operasse de forma mais distribuída de modo a oferecer maior robustez e confiabilidade. Com a aquiescência do professor José Raimundo de Oliveira, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, a quem Souza Santos apresentou a proposta para desenvolvimento de mestrado, teve início o trabalho orientado pelo docente. Inicialmente ele pesquisou o que existe no mercado na área de sensores que poderiam ou deveriam ser utilizados em um robô móvel para que ele pudesse se localizar e se movimentar no ambiente e ainda realizar o trabalho que lhe fosse destinado. Na realidade, o pesquisador analisou nesta fase como isso é feito na atualidade. Essa análise o remeteu à área cognitiva, mais especificamente ligada à psicologia e psiquiatria, levando-o a empregar características mentais humanas que mais o interessaram, como percepção, sensação, representação, para a elaboração de sua proposta. “Parti do que já se consegue transferir das características humanas para a inteligência artificial”, esclarece ele, que se valeu dos sensores para estudar a sensação, passou para a percepção, em que os dados são trabalhados com a eliminação dos erros, para em seguida chegar ao sistema de localização. Na reprodução do processo de sensação, a leitura do mundo externo e interno é convertida em sinais elétricos que reproduzem características humanas como contato, distanciamento, etc. A percepção corresponde à continuidade deste processo em que os sinais elétricos são convertidos em dados úteis, eliminando eventuais ruídos. Como não interessa apenas sentir, mas é preciso também perceber, muitos estudiosos tratam estas duas atividades mentais conjuntamente, como uma coisa só. A orientação, que no individuo corresponde à consciência de sua situação temporal e espacial em relação ao meio, Foto: Antoninho Perri

possibilita à máquina obter a informação de onde estava, onde está e onde pretende estar depois. Esta capacidade de orientação é a parte mais importante do dispositivo móvel, pois ela é usada para um determinado tipo de ação, o que interessa substancialmente. Como os estudos dessa área estão relacionados aos softwares, o pesquisador, que se dedicou à arquitetura de hardware, não se deteve neles. “No fundo me dediquei em saber como o conjunto de hardwares deve ser desenvolvido para permitir a utilização e o emprego das várias plataformas de softwares existentes. O hardware está se tornando uma commodity que permite o uso e o desenvolvimento de softwares criados para atingir objetivos determinados”, constata.

DESENVOLVIMENTO Com base no desenvolvimento do trabalho, o pesquisador criou tabelas que permitem a seleção e utilização dos módulos realmente necessários para a criação de um robô, de um dispositivo móvel, de modo a preparar o ambiente de hardware para uso de determinados softwares. Embora, como mostram estudos de casos apresentados na dissertação, a estrutura desenvolvida contemple todas as possibilidades que venham a ser aventadas, ele não tem a presunção de que ela seja perfeita. Souza Santos conta que o seu orientador acredita que o trabalho constitua uma base para quem começa os estudos de robótica móvel, mostrando o que existe atualmente na indústria e na academia, facilitando o desenvolvimento de uma proposta própria de plataforma. Os componentes da banca examinadora consideraram que a parte mais importante do estudo está nas tabelas apresentadas ao final do texto, que permitem ao usuário vislumbrar o caminho a ser seguido e que módulos devem ser utilizados para chegar a um dispositivo robótico móvel com determinadas características. Para o autor, o arcabouço apresentado permite construir qualquer plataforma configurável com vistas a atender à criação de vários equipamentos e às suas necessidades e que, a exemplo de um lego, se presta às mais diferentes montagens. Ele lembra também que, a partir dos resultados, seu orientador vislumbrou a possibilidade de o desenvolvimento de cada um dos módulos propostos dar origem, conforme o caso, a trabalhos de iniciação científica, mestrado, doutorado e em decorrência até pós-doutorado. E este é o ponto: os esquemas mostram o que precisa ser desenvolvido para chegar à plataforma pretendida para o desenvolvimento de um robô móvel. Para tanto, e como cada módulo vai acompanhado de um diagrama que prevê seu funcionamento, basta transformar os diagramas apresentados em circuitos e os fluxogramas em softwares. Souza Santos considera que “a complexidade está na customização de cada sistema e que ela é contemplada no produto obtido, pois a arquitetura proposta oferece a possibilidade de montar um drone, um carro robótico, uma cadeira de rodas com autonomia, permitindo que o desenvolvimento se concentre no software, sem necessidade de preocupação com o hardware”. Portanto, a motivação que levou ao trabalho foi a de fornecer à empresa e à academia uma plataforma configurável, escalonável, com múltiplas áreas de processamento, de maneira a permitir a adição das extensões necessárias, o isolamento das variáveis e o desenvolvimento de conceitos. Para ele, a proposta permite isso, pois cada módulo está relacionado a uma área e constitui de certa forma a um centro de processamento, o que facilita a localização e a resolução de problemas face à versatilidade, o que não ocorre nos sistemas que centralizam o processamento. Depois do estudo de todas as questões teóricas, da definição dos barramentos adequados e dos módulos necessários, resultou uma plataforma que foi chamada de “Sistema Autônomo Completo”, por falta de outra nomenclatura melhor. Com base nele foram propostos os resultados de duas simplificações: uma focada em veículos que operam no solo (bidimensional) e outra para veículos que atuam em ambientes tridimensionais como o ar e a água. Foram apresentadas então aplicações da proposta através de estudos teóricos de casos que exemplificam que módulos podem ser utilizados em carros e em tanques de guerra, que se movem no plano, e em veículos que se movimentam no espaço. O pesquisador conclui: “Com o trabalho foi possível estruturar e criar uma sequência de desenvolvimento de um veículo móvel robótico em fases que podem ser facilmente seguidas por escolas e empresas”.

Publicação Dissertação: “Análise e proposta de arquiteturas de hardware para veículos autônomos” Autor: Milton Felipe Souza Santos Orientador: José Raimundo de Oliveira Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Milton Felipe Souza Santos, autor da dissertação: “Parti do que já se consegue transferir das características humanas para a inteligência artificial”


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Campinas, 10 a 16 de março de 2014

O poder do erro

Fotos: Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ma sociedade que busca colocar a regra acima do ser humano nunca vai ser livre e feliz. Essa foi a conclusão da dissertação de mestrado de Rodrigo do Prado Bittencourt, desenvolvida a partir da releitura da novela “A estória de Lélio e Lina” e presente na obra Corpo de Baile, do escritor João Guimarães Rosa [1908-1967]. “A regra pressupõe a falha e a punição da falha. Isto se torna perigoso, quando levado a extremos em que as pessoas vivem sob uma grande pressão para não falharem, não errarem nunca”, reflete o pesquisador no seu estudo, apresentado recentemente ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Segundo ele, a História mostra que muitas vezes o que é chamado de erro, e repudiado num momento histórico, pode passar a ser correto em outro. “Mas o que é ser ‘normal’? Existe alguém ‘normal’?”, indaga o autor da dissertação, na mesma direção da personagem Lina na estória: o normal é relativo. Comumente, as pessoas são obrigadas a sacrificar a felicidade para ceder às pressões sociais. “Fazemos isso o tempo todo no trabalho, na família, na universidade e em outras esferas. É preciso criar uma sociedade em que a felicidade de cada um seja a regra maior, e isso só se faz com liberdade, com espaços que comportem a variedade política, econômica, cultural, social, sexual”, defende o autor da pesquisa, sob orientação do professor do IEL Mário Luiz Frungillo. Guimarães Rosa, natural de Cordisburgo, em Minas Gerais, aborda a relação entre o jovem vaqueiro Lélio e a idosa viúva Lina. Os dois vivem uma intensa amizade que, na verdade, se mostra bem mais que uma mera afeição. Lina, em sua sabedoria, ensina Lélio a ser mais humano. Convida-o a sair de si mesmo e descobrir-se, sem medo, no contato com o diferente. Na visão dela, os erros não deviam levá-lo a se repudiar ou a repudiar alguém e sim buscar entender o que há de mais humano em si próprio. “A democracia pressupõe o ‘erro’, a liberdade de ser diferente”, observa Rodrigo. Lélio chegou a uma fazenda de gado no sertão de Minas Gerais na primeira metade do século XX, provavelmente na década de 1950. Foi contratado e iniciou ali uma nova vida. Sem família, era um solitário, e a procura por um novo lugar era também a busca pela felicidade. Por insegurança, ele não se abria facilmente e não conseguia se envolver profundamente com ninguém. Lina, vizinha da fazenda onde Lélio trabalhava, seria a pessoa com que conseguiria romper essa barreira? Seria para o vaqueiro alguém importante? A amizade entre Lélio e Lina causou estranheza às pessoas do local, sobretudo ao filho dela, que era um sitiante ganancioso que tentava pôr fim ao relacionamento dos dois. Eles resistiram e seguiram se encontrando, apesar de tudo. Nessa fazenda, Lélio sofreu desilusões amorosas, conflitos com seus amigos, dúvidas sobre seu futuro e toda a sorte de angústias, que somente Lina conseguiu aplacar. Quando essa propriedade foi vendida, Lélio desejou se mudar dali. Ficar seria um sofrimento, pois ele viu amigos morrerem, outros se mudarem, um enlouquecer, outro adoecer... Resolveu levar Lina consigo, sem alarde, para uma outra fazenda do sertão, como se estivesse roubando uma moça para se casar com ela. Ao longo da narrativa, percebe-se, o vaqueiro foi se tornando cada vez mais confiante: já não precisava renegar seus desejos em nome de regras sociais opressoras ou viver do passado, sem experimentar as oportunidades do presente. Tudo isso Lina conquistou por meio do quê? Ela não era rica, famosa ou bela. O que tinha ela a oferecer? A palavra! Lina, como seu criador, cultuava a beleza da palavra.

Cozinha da casa onde Guimarães Rosa (destaque) passou a infância, na cidade mineira de Cordisburgo

sil. Conforme ele, nos textos de Guimarães Rosa são encontradas referências místicas, intertextuais, filosóficas, estéticas e inclusive históricas. Há sempre algo mais que os fatos históricos, mas eles também estão lá. Isto fica evidente em Grande Sertão: Veredas, com as referências a lutas jagunças, que de fato ocorreram, porém não se limitam a esta obra. Em “A estória de Lélio e Lina”, verifica-se um sertão em contato cada vez mais intenso com a modernidade, e este processo foi muito bem descrito por Guimarães Rosa, que fez parte da terceira geração do modernismo. Ele publicou essa obra em 1956, em um momento de maturidade pessoal, literária, profissional e política, explica Rodrigo. Já era pai; já estava em seu segundo casamento (que duraria até o fim de sua vida); já tinha deixado a profissão de médico (para ingressar na diplomacia); já tinha publicado um livro (Sagarana) e tinha ganhado um prêmio literário (pelo livro de poesias Magma, que ele não quis publicar). Além disso, o escritor passou pela experiência da Segunda Guerra Mundial, sendo cônsul em Hamburgo (1938-1942), onde, junto com a segunda esposa, ajudou muitos judeus a fugirem do nazismo, uma importante e profunda experiência política. Assim, Guimarães Rosa traz uma bagagem bem mais sólida que a de Sagarana, publicada dez anos antes. Os textos dos livros de 1956 (Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas) são muito mais maduros e muito mais “universais”. Focam-se mais naquilo que ele acredita ser o humano em si, fugindo do pitoresco e do exótico, ainda presente em alguns contos de Sagarana e muito evidentes nos contos de sua juventude, publicados na revista O Cruzeiro.

Não há dúvida de que essas experiências de vida influenciaram suas obras e nota-se isso nelas. Há muita violência em “A estória de Lélio e Lina”. Pode-se dizer que ela subjaz a toda a narrativa. Lélio sempre desejou resolver seus conflitos por meio dela e foi Lina quem lhe mostrou o caminho da aceitação do outro: da tolerância e do diálogo. O pesquisador discutiu em seu trabalho a relação entre as regras sociais e a liberdade. Guimarães Rosa dá uma lição de tolerância e de defesa do direito de cada um de ser como quiser e de fazer o que quiser com sua vida, desde que não prejudique os outros. Lina é quem está sempre a defender que a felicidade deve estar acima de qualquer coisa: religião, posição política, moral, interesses econômicos. As regras sociais, para ela, não devem ficar acima do humano, obrigando todos à perfeição. A perfeição não é um atributo humano; exigi-la é desumano. Além do mais, Lina sugere a Lélio que a visão que o vaqueiro tinha de perfeição era muito questionável. Ela defende Manuela, que perdera a virgindade antes do casamento (algo que, no sertão, poderia resultar até em morte), e garante a Lélio que não havia moça melhor para lhe fazer feliz. A concepção de que se pode separar as pessoas “boas” e “perfeitas” das “erradas” e “desprezíveis” é o princípio do nazismo e de várias outras formas de sujeição e opressão historicamente conhecidas, comenta Rodrigo. Como esta fronteira não pode ser fácil e claramente delimitada, ela é vista por Lina como sem sentido. Afinal, não se pode condenar alguém pelos seus erros. É preciso ver cada um em sua completude, em tudo aquilo que tem de humano. Com efeito, é pelo erro que o ser humano cresce, avança. Em

ESTÉTICA Quando descreveu a relação do social e da estética no trabalho, Rodrigo quis dizer que a estética trabalha a partir da sociedade. Se os códigos estéticos não forem antes de tudo sociais, a obra de arte torna-se inapreensível. “Tente explicar Hamlet para uma tribo africana tradicional, como Laura Bohannan tentou fazer, e você verá que uma obra só faz sentido dentro de um contexto”, esclarece o pesquisador. Assim, a união amorosa entre um jovem e uma idosa devem ser analisados pelo ponto de vista do contexto em que se insere. Apenas deste modo pode-se compreender a importância deste fato dentro da obra, sua “contação estética”. Os pilares sobre os quais se assentaram sua pesquisa foram principalmente dois: um de matiz sociológica, voltado sobretudo para as contribuições de Bourdieu à Sociologia da Literatura, e outro propriamente de Crítica Literária, baseado no que há de fortuna crítica sobre a obra rosiana. É ampla e variadíssima a fortuna crítica sobre Guimarães Rosa, que foi contista, novelista, romancista, além de diplomata. Esta pesquisa se estabeleceu na vertente que busca perceber os elementos políticos e históricos dentro da sua obra, representada por autores como Heloisa Starling, Walnice Galvão, Luiz Roncari e Willi Bolle, tradição que não é nova no Brasil e que foi iniciada por aquele que ainda é considerado um dos maiores críticos da história do país: Antônio Candido. O texto avaliado ensina muito sobre a sociedade e sobre o indivíduo, e mesmo sobre a Filosofia. Lendo-o, percebe-se o quanto o contato com o outro pode revelar mais sobre mim mesmo. “Por isso nos remete à Psicanálise de Lacan, que explora o sujeito não como um ser isolado e inteiriço – a mônada concebida por Leibniz –, porém como um ser em constante relação com outros seres e que não existe senão no interior destas relações”, constata Rodrigo. “É no contato com o que descubro meu. E só assim eu posso melhorar e me tornar uma pessoa mais feliz. O outro é um desafio, mas também um presente.”

Publicação Dissertação: “Lina e o poder do erro: ensinamentos de uma personagem de João Guimarães Rosa” Autor: Rodrigo do Prado Bittencourt Orientador: Mário Luiz Frungillo Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

SOCIEDADE Em determinado trecho da dissertação, Rodrigo menciona a pertinência das ligações entre o texto rosiano e a História do Bra-

“A estória de Lélio e Lina”, o escritor sintetiza bem isso: “E ninguém não sabe: talvez o céu não cai só mesmo por causa do voo dos urubus...”

Rodrigo do Prado Bittencourt, autor da dissertação: “A democracia pressupõe o ‘erro’, a liberdade de ser diferente”


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