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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014 - ANO XXVIII - Nº 598 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Ari Ferreira/ Lance
UNIDOS VENCEREMOS
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Paulo Cesar Montagner (Faculdade de Educação Física) e Marcelo Proni (Instituto de Economia) opinam sobre possíveis legados e impactos da Copa do Mundo.
Desigualdade é tema de edição da ‘Science’ Regiões semiáridas e reservatório de carbono
TELESCÓPIO
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Tese mapeia febre maculosa na RMC Livro critica ingerência do mercado na educação
Seleção brasileira de futebol perfilada antes de partida da Copa das Confederações, realizada em 2013
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Quando o lixo pode virar combustível Problemas na visão afetam ‘viciados’ em computador
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
‘Science’ dedica edição à desigualdade No rastro dos movimentos Occupy e do enorme sucesso editorial do livro O Capital no Século XXI, do economista francês Thomas Pikkerty, a revista Science da semana passada dedicou uma seção especial à questão da desigualdade econômica, com cinco artigos – entre reportagens e revisões da literatura científica – a respeito do tema, e que vão da psicologia da pobreza à transmissão da desigualdade entre as gerações. “Um diálogo internacional surgiu em torno da questão” da desigualdade, diz a introdução dessa sequência de artigos, “juntamente com alguns dados científicos que o alimentam”. Todo o material reunido pela Science em seu caderno especial “A Ciência da Desigualdade” estará disponível gratuitamente, por tempo limitado, no site http://www.sciencemag.org.
Pikkerty: Marx também estava errado O primeiro texto da seção especial sobre desigualdade da revista Science é assinado por Thomas Pikkerty e Emmanuel Saenz. Com o título “Desigualdade no Longo Prazo”, o texto se vale de dados históricos e estatísticas para afirmar que “a desigualdade de renda e riqueza era muito alta um século atrás, principalmente na Europa, mas caiu dramaticamente na primeira metade do século XX. A desigualdade de renda voltou a aumentar nos Estados Unidos desde os anos 70, de forma que os EUA são, hoje, muito mais desiguais que a Europa”. O artigo resume os dados e metodologias usados por Pikkerty em seu best-seller O Capital no Século XXI, incluindo a análise da relação entre o crescimento da rentabilidade do capital, da economia como um todo e da desigualdade. E conclui: “A desigualdade não segue um processo determinístico. De certo modo, tanto Marx quanto Kuznets [Simon Kuznets (1901-1985), economista ganhador do Nobel que defendia que a desigualdade tende naturalmente a diminuir numa economia de mercado] estavam errados. Há forças poderosas empurrando, alternadamente, na direção de maior ou menor desigualdade. Quais dominam depende das instituições e políticas que a sociedade decide adotar”.
Desigualdade e diploma Também na seção especial da Science sobre desigualdade, o economista David H. Autor, do MIT, chama atenção para o que considera o principal fator de desigualdade dentro dos “outros 99%” da população, numa referência à divisão, feita pelo movimento Occupy, entre o 1% mais rico de os demais cidadãos: “O crescimento dramático do bônus salarial associado à educação superior e à capacidade cognitiva”. Autor se debruça especificamente sobre a situação nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, mas sua discussão pode ter relevância para o Brasil: dados do IBGE do ano passado mostravam que um trabalhador brasileiro com nível superior ganhava, em média, 220% a mais que um brasileiro com menos estudo. E um relatório da OCDE, publicado em 2011, já apontava o Brasil como o país onde o diploma de nível superior mais eleva a perspectiva de renda do trabalhador. O economista levanta dados que o levam a concluir que o bônus salarial dos
trabalhadores mais qualificados e a perda de renda dos menos educados resulta fundamentalmente de pressões de oferta e demanda – incluindo a crescente substituição do trabalho pouco intelectualizado por máquinas e computadores – mas afirma que há, também, fatores de política pública que influenciam o movimento, como o valor do salário mínimo, o poder de negociação dos sindicatos e a política tributária.
Crescimento e desigualdade A relação entre crescimento econômico, desigualdade e pobreza nos países em desenvolvimento é complexa e depende da medida de desigualdade que se utiliza – se absoluta ou relativa – escreve o economista Martin Ravallion, da Universidade Georgetown, na edição especial sobre desigualdade econômica da revista Science. No geral, o crescimento econômico do mundo em desenvolvimento, incluindo países como Índia e Brasil, tem sido neutro em termos de impacto sobre a desigualdade relativa, mas vem agravando a desigualdade absoluta. Ravallion explica a diferença entre essas medidas com o seguinte exemplo: “Se a distribuição de renda entre duas pessoas muda de US$ 1.000 e US$ 10.000 para US$ 2.000 e US$ 20.000, a desigualdade relativa não muda, mas o abismo absoluto entre o rico e o pobre dobrou”. Só que ao mesmo tempo em que aumenta a desigualdade absoluta, escreve o autor, o crescimento tende a reduzir a pobreza extrema e a miséria, o que pode gerar uma tensão entre políticas de combate à miséria e políticas de redução da desigualdade. E mesmo o efeito de redução da pobreza do crescimento é atenuado, no entanto, se a desigualdade inicial da sociedade já for grande demais. “Quanto mais desigual for a distribuição original, menor a fatia do crescimento que vai para os pobres, e menor a queda de desigualdade gerada pelo crescimento”.
Educação e genética na escolha do cônjuge
Luz em matéria
Pessoas em busca de um marido ou esposa tendem a selecionar parceiros geneticamente semelhantes a si mesmos, diz estudo publicado no periódico PNAS, mas esse efeito da seleção genética é muito menor que o da seleção por nível educacional. Os autores do trabalho, ligados a instituições dos Estados Unidos, compararam os chamados SNPs – polimorfismos de nucleotídeo único, um tipo de marcador presente no DNA que pode ser usado para distinguir indivíduos ou graus de parentesco – de casais heterossexuais casados e de pares heterossexuais formados ao acaso, e concluíram que a similaridade genética entre os casais casados é maior que a observada nos pares aleatórios. Os autores concluem que a influência da similaridade genética na escolha do parceiro é da ordem de 4,5%. O mesmo artigo também avaliou a influência da educação – medida em anos completos de ensino formal – na escolha de parceiros, comparando o nível educacional de casais casados ao de casais formados ao acaso. Desta vez, o grau de influência calculado pelos autores foi de 12,7%. “Descobrimos que os cônjuges são mais semelhantes geneticamente do que dois indivíduos escolhidos ao acaso, mas que esta similaridade é, no máximo, um terço da similaridade educacional”, escrevem os autores. “Além disso, processos de segregação social no mercado de casamentos são amplamente independentes da dinâmica genética da seleção sexual”.
Matéria e energia podem ser convertidas uma na outra, um fato científico resumido na equação E=mc2. No entanto, embora a transformação de matéria em energia seja um feito tecnológico quase corriqueiro – é o que acontece durante uma explosão atômica, e também, de modo controlado, nas usinas nucleares – o inverso, o uso de energia para gerar matéria, continuava a ser um desafio em termos de execução prática. Agora, uma pesquisa publicada na última semana no periódico Nature Photonics sugere um experimento em que a colisão de duas partículas de luz, ou fótons, deve dar origem a um par de partículas materiais: um elétron e seu correspondente de antimatéria, o pósitron. De acordo com nota divulgada pelo Imperial College London, onde atuam dois dos autores da proposta, o experimento envolve o uso de elétrons acelerados a uma velocidade altíssima, que entrariam em colisão com um anteparo de ouro, choque que produziria partículas de luz de alta energia. Essa luz seria dirigida para o interior de um cilindro também de ouro, cuja superfície interna teria sido aquecida por um laser, produzindo mais partículas de luz. A matéria surgiria da colisão entre o feixe de luz vindo do bloco de ouro com os fótons presentes na cavidade do cilindro. Um dos autores da proposta, Oliver Pike, disse que o experimento é simples e pode ser realizado com tecnologia disponível hoje. “A corrida para executar o experimento já começou”, declarou ele, por meio de nota.
Foto: Eva van Gorsel (CSIRO)/Divulgação
Ecossistema semiárido do norte da Austrália, um dos responsáveis pela grande captura de carbono de 2011
Ciclo de carbono no semiárido A vegetação das regiões semiáridas do hemisfério sul pode estar se transformando em importantes reservatórios de carbono, captando parte do CO2 lançado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, diz artigo publicado na edição da última semana da revista Nature. Os autores – uma equipe internacional formada por europeus, americanos e australianos – debruçaram-se sobre o grande sumidouro de carbono de 2011, quando a massa de terra do planeta absorveu quase duas vezes mais carbono que a média dos dez anos anteriores, na maior captura de carbono pelos continentes desde o início da medição das concentrações do gás na atmosfera, em 1958. Os autores determinaram que a vegetação de três regiões semiáridas do hemisfério sul cresceu de modo excepcional nesse mesmo ano, principalmente na Austrália. As outras áreas afetadas foram a zona temperada no sul da América do Sul e o sul da África. “Essas regiões experimentaram até seis temporadas com aumento de chuva, e desde 1981 uma expansão de 6% na cobertura vegetal da Austrália quadruplicou a sensibilidade da absorção líquida de carbono pelos continentes à precipitação”, escrevem os autores.
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner
Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
Tese mapeia incidência da doença na RMC, onde é alta a taxa de letalidade
Pesquisa sugere ações no combate à febre maculosa Fotos: Antonio Scarpinetti
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
s 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) devem estar mais atentos no sentido de estruturar ações macros e continuadas para a prevenção da febre maculosa, doença com alta letalidade, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pelo carrapatoestrela (Amblyomma cajennense). O alerta vem de um estudo da Unicamp, desenvolvido pela pesquisadora e médica veterinária Jeanette Trigo Nasser. Em sua investigação, ela traçou o perfil epidemiológico, a distribuição espacial dos casos e as características dos programas de controle dos municípios da RMC. A região representou, em 2012, quase 20% dos casos confirmados no país. Para a estudiosa da Unicamp, a maioria das cidades apresenta dificuldades estruturais, de capacitação e organização na condução de ações de prevenção e controle da doença. A pesquisa, elaborada junto à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, cobriu o período de 1998 a 2012. “Não há um programa nacional sobre febre maculosa, como, por exemplo, existe em relação à dengue. Esse quadro não deve mudar, até porque a doença está muito restrita à região sudeste. Mas na RMC ainda morre muita gente de febre maculosa. No período do estudo, a doença já teve 244 casos, com 25% de letalidade. Isso dá uma média de 16 registros por ano, com uma média de quatro mortes”, dimensiona Jeanette Nasser. Seus estudos integraram tese de doutorado elaborada junto ao Laboratório de Análise Espacial de Dados Epidemiológicos (Epigeo), vinculado ao Departamento de Saúde Coletiva da FCM. A tese foi orientada pela docente Maria Rita Donalisio Cordeiro, que trabalha na área de saúde coletiva, com ênfase em epidemiologia de doenças infecciosas. Jeanette Nasser atua, profissionalmente, como médica veterinária nas prefeituras de Campinas e Valinhos. “A RMC está entre as regiões do Sudeste que mais se destaca, apresentando o maior número de casos. E onde, infelizmente, a taxa de letalidade é bastante alta. Quando existe algum surto, o município, geralmente, responde bem com ações de controle. Mas depois há um silêncio e a doença retorna. E acaba matando mais gente. Isso acontece porque não há continuidade de ações, que dependem muito das administrações que entram a cada quatro anos. O que se espera é uma ação no âmbito da RMC que ultrapasse as administrações municipais. E que isso seja uma preocupação constante de saúde, com procedimentos continuados”, defende a pesquisadora.
Cavalo, um dos hospedeiros da febre maculosa, no distrito de Joaquim Egídio: doença vem migrando das áreas rurais para os centros urbanos
com frequência em áreas periurbanas e urbanas, inclusive parques públicos. Isso sugere que está ocorrendo uma adaptação do ciclo da doença a este tipo de ambiente”, revela. Ela complementa que em Campinas, por exemplo, a maior intensidade de casos foi observada em área central devido a um surto em pessoas que frequentaram uma lagoa no bairro Jardim Eulina. Em Pedreira, a área de maior densidade de casos corresponde também à região central da cidade, ao longo do rio Jaguari. “Observamos ainda um padrão sazonal na distribuição da doença ao longo do ano, com o maior número de casos de junho a novembro, com pico em setembro, período em que predomina o estágio de ninfa de ‘Amblyomma cajennense’”, acrescenta.
OUTROS MUNICÍPIOS
Campinas, Pedreira, Jaguariúna, Santa Barbara D’oeste, Vinhedo e Cosmópolis também apresentam números preocupantes segundo o estudo. Em Campinas foram re-
gistrados, no período, 72 casos. O município vem seguido por Pedreira, com 27; Jaguariúna, com 18; Santa Bárbara D’oeste, com 14 casos; Vinhedo, 13; e Cosmópolis, 10. Engenheiro Coelho foi a única cidade que não registrou infecções no período. Além destas cidades, também compõem a RMC, Americana, Artur Nogueira, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Santo Antônio de Posse e Sumaré. Os dados levantados pela pesquisadora também demonstram, entre 1998 e 2012, um crescimento dos casos e aumento no número de municípios com registros da doença. A quantidade de pessoas infectadas saltou de três, em 1998, para 25 em 2012, com o maior pico em 2011, com 29 casos. Nos três primeiros anos do período de estudo, apenas três municípios apresentaram registro: Pedreira, Jaguariúna e Campinas. Em 2003 foram cinco municípios, passando para 13 em 2006. Ao final de 2009, 16 cidades da RMC já haviam notificado casos.
PREVENÇÃO E CONTROLE
Uma série de ações preventivas pode ser desenvolvida para mitigar a incidência da febre maculosa na população, orienta Jeanette Nasser. “A primeira está relacionada à sensibilização e conscientização da população. Isto significa orientar quanto ao ciclo do carrapato e ao respeito à sinalização de que aquele local está infestado. É preciso também que a população faça, regularmente, a autoinspeção no corpo”, aconselha. Outra ação, de acordo com ela, é no sentido de estruturar uma área de vigilância epidemiológica, de modo que as notificações sejam realizadas rapidamente e que estas informações cheguem a outros setores das prefeituras, como as áreas de controle de pragas, manutenção e poda, por exemplo. “O controle de carrapato é realizado quando não existem condições ideais para que o ciclo progrida. Portanto, o corte do mato rente ao solo, a colocação de placas informando a população sobre a presença do carrapato e o cuidado com os trabalhadores que fazem esta atividade são extremamente importantes. Existem profissionais que estão expostos por falta de equipamentos de proteção. E eles estão entre os que mais morrem”, lamenta.
URBANIZAÇÃO DA DOENÇA
Os estudos desenvolvidos por ela apontam que Valinhos está entre os municípios com a maior densidade de casos. Dos 244 registrados entre 1998 e 2012 na RMC, a cidade confirmou 49 infecções pelo carrapato, representando um quinto do total, entre as 19 cidades. A letalidade foi de 42,9% sobre o total. Por conta disso, a médica veterinária detalhou o padrão epidemiológico e a distribuição espacial no município. Ela explica que por ser bastante entrecortado por rios, ribeirões e córregos, Valinhos está mais vulnerável à doença. “O rio propicia condições ambientais muito favoráveis ao vetor, o carrapato, e ao hospedeiro da febre maculosa, no caso, a capivara e os cavalos, em geral. Estes animais se deslocam pelos rios e o carrapato precisa de mato e grama para colocar seus ovos. Quando o vetor coloca o seu ovo neste ambiente, estes eclodem e fazem todo o ciclo do ‘Amblyomma cajennense’.” Outra tendência, bastante evidente em Valinhos, é a de urbanização da doença. De acordo com a pesquisa, há registros progressivos de casos na zona urbana, em locais próximos aos rios, pastos sujos e mata ciliar degradada. Jeanette Nasser relaciona, no entanto, que o padrão de transmissão da febre maculosa em Valinhos é semelhante ao descrito em outras cidades da RMC. “Estudos têm mostrado que a doença vem ocorrendo em regiões até então não consideradas de risco para transmissão. Não mais se restringe às áreas rurais e de mata, estando
“A contribuição do meu estudo está, justamente, em localizar espacialmente onde as pessoas, provavelmente, foram infectadas pela febre maculosa. A minha pesquisa mapeou os locais para propor medidas de controle. Não existe nenhum outro trabalho que aponte como está a situação nos munícipios da Região Metropolitana de Campinas”, justifica a estudiosa da Unicamp. Para elaborar o levantamento, ela buscou informações sobre os casos notificados e os locais prováveis de infecção em diversas bases de dados: no Sistema de Informação sobre Agravos Notificáveis (Sinam); nas fichas de investigação epidemiológicas disponibilizados pelo Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) da Superintendência de Controle de Endemias Regional (Sucen); e também em relatórios oficiais complementados por informações de técnicos que participaram da investigação dos casos. Esses dados foram georreferenciados mediante a coleta de coordenadas com auxílio do Google Earth. A partir deste trabalho, foram identificadas áreas com maior concentração de casos nos municípios da região por meio do estimador de densidade kernel.
A médica veterinária Jeanette Trigo Nasser: “Minha pesquisa mapeou os locais para propor medidas de controle”
Publicação Tese: “A febre maculosa brasileira na Região Metropolitana de Campinas: sua distribuição espacial e as dificuldades das ações de prevenção e controle locais” Autora: Jeanette Trigo Nasser Orientadora: Maria Rita Donalisio Cordeiro Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
Livro traz crítica ao economicismo presente nas políticas educacionais Foto: Antoninho Perri
Obra coordenada pela professora Nora Krawczyk reúne artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
professora Nora Krawczyk, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação (GPPE) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, acaba de publicar o livro Sociologia do Ensino Médio - Crítica ao economicismo na política educacional, composto por artigos assinados por nove pesquisadores brasileiros e estrangeiros. A obra, prefaciada pelo professor Mariano Enguita, é mais que um contraponto à lógica empresarial, que tenta se colocar como modelo para a educação brasileira. Analisa aspectos que concorrem para que o ensino no país ainda não tenha alcançado a necessária dimensão democrática. “Nossa proposta com este livro é discutir os princípios, pressupostos e consequências das políticas para o ensino médio, a partir de um campo de conhecimento pouco levado em conta. Trata-se de promover o diálogo entre as políticas educacionais e as ciências sociais, neste caso com pesquisas desenvolvidas na área da sociologia da educação”, afirma. Para ela, o olhar da sociologia crítica sobre os desafios vividos hoje pelo ensino médio “é subsídio decisivo para a formulação das políticas educacionais”. A docente considera que “cada vez mais abordagens economicistas, embasadas em estudos superficiais, contaminam a definição de estratégias educacionais”, em particular as voltadas ao ensino médio. Tais abordagens, que ela considera atualmente hegemônicas, têm como matriz experiências advindas da gestão das empresas, aplicando à relação entre sociedade e educação conceitos de eficiência e sucesso típicos das relações de mercado. Isso se expressa, diz, na pouca atenção às dinâmicas institucionais e sociais, quando se trata de implementar determinadas ações e estratégias governamentais. O livro é uma contraposição a esta tendência, apresentando pesquisas realizadas na América Latina e Europa, que demonstram o que as ciências sociais podem oferecer à reflexão político-educacional. A docente da FE explica que os programas governamentais voltados ao ensino médio apresentam tendências semelhantes dos dois lados do Atlântico. Daí a importância da participação na obra de pesquisadores estrangeiros – uma argentina e dois franceses, sendo que um deles está radicado atualmente no Brasil – cujos estudos muito têm contribuído à compreensão dos rumos que atualmente assume a educação. De acordo com ela, ainda que seja uma coletânea, o livro não se limita a promover a simples compilação das investigações conduzidas pelos autores. “O fio condutor deste trabalho é aprofundar a compreensão da direção que vem tomando as políticas educacionais e as novas configurações da educação pública”, afirma. O primeiro capítulo do livro, assinado pela própria Nora Krawczyk, analisa a ausência de diálogo entre o conhecimento produzido pela sociologia e as políticas educacionais. Para a autora, os gestores da educação privilegiam conhecimento baseado em evidências e avaliações quantitativas nacionais e internacionais, como formas de regulação educacional. Ela explica que esta abordagem expressa, em última instância, parte das contradições entre democracia e capitalismo, que têm marcado as correlações de forças internas no âmbito da política educacional. Um tema comum a três das autoras é a chamada interdependência competitiva entre as escolas como forma de regulação educacional. A questão é abordada pelas professoras brasileiras Maria Alice Nogueira e Wania G. Lacerda e pela professora francesa Agnès van Zanten. Elas refletem sobre as políticas educacionais que hoje promovem a competição entre as escolas nos dois países, provocando sérios problemas de segregação social. “Alguns fenômenos que consideramos próprios da dinâmica institucional brasileira também estão presentes em outras culturas. Ou seja, eles são resultado de uma política educacional de dimensão global”, observa a professora da FE. A interdependência competitiva, observam as especialistas, produz sérias implicações. “As escolas disputam os ‘melhores alunos’ para obter uma melhor avaliação de desempenho, o que está atrelado à obtenção de maiores recursos ou bônus. Como os pais querem ver os filhos matriculados nas melhores escolas, elas passam a ser muito procuradas, o que as leva a adotar um processo de seleção de estudantes. A consequência dessa postura, bastante perversa, é que as ditas melhores escolas ficam com os jovens mais ‘fáceis’ de serem ensinados, enquanto os demais são obrigados a procurar outros estabelecimentos de ensino. Ora, isso cria um claro círculo de exclusão. Ou seja, algumas escolas têm bons resultados porque têm os melhores alunos e têm os melhores alunos porque têm bons resultados”.
A professora Nora Krawczyk, organizadora da obra: “O que vai melhorar a educação no Brasil e em outros países é a adoção de políticas que coloquem a escola num novo lugar”
No volume, Bernard Charlot e Rosemiere Reis discutem outro tema: o potencial da sociologia para a compreensão do confronto dos alunos com ao saber, e apresentam resultados de pesquisa sobre os sentidos atribuídos pelos jovens e adultos ao aprender. Já Marilia Sposito e Raquel Souza tratam da relação entre juventude e escola, mas analisando a condição juvenil no marco das transformações recentes do ensino médio no Brasil, que derivam, entre outros, da expansão das matrículas e da incorporação de jovens de origem social e racial cada vez mais diversa. A organizadora da obra diz que estudos científicos apontam que os jovens não demonstram desinteresse pelo conhecimento. O que ocorre, na maioria dos casos, é que a juventude não vê suas características e interesses contemplados pelas políticas educacionais. A escola tradicional, conforme a docente da FE, é tida como chata pelos estudantes. Isso ocorre porque a instituição foi pensada no século 19, num momento histórico em que os jovens tinham a capacidade de prever o futuro mais imediato e em que a escola era o único espaço no qual o saber era transmitido. “A juventude de hoje é muito diferente daquela do século 19, bem como o conhecimento produzido. Infelizmente, a escola não acompanhou essas mudanças. O que vai melhorar a educação no Brasil e em outros países é a adoção de políticas que coloquem a escola num novo lugar; um lugar que permita que ela recupere a sua importância cultural dentro da sociedade e que ofereça ao jovem um espaço de reflexão”, considera Nora Krawczyk. Este aspecto é analisado no livro por Guillermina Tiramonti, a partir dos problemas que hoje enfrentam os países latino-americanos ao tentar responder às demandas de incorporação social e relevância cultural da escola.
A docente da FE assinala que o tempo político não é o mesmo das mudanças educacionais. Assim, os gestores públicos adotam mecanismos para a obtenção de resultados rápidos, ainda que esses resultados não expressem a realidade. “Tais mecanismos respondem aos interesses de determinados setores da sociedade que precisam dispor de indicadores que demonstrem que o país está evoluindo nos rankings internacionais”. Uma dificuldade adicional, afirma Nora Krawczyk, refere-se ao fato de os programas serem frequentemente substituídos por outros antes mesmo de produzirem efeitos. “Essa é uma decorrência da lógica economicista usada para construir a política educacional. O pragmatismo é que conduz as iniciativas”, diz. As políticas do setor, enfatiza a educadora, são em muitos casos legitimadas por experiências, várias importadas de outros países. Todavia, nem sempre elas vêm acompanhadas da devida avaliação. “Há sempre uma ideia nova sendo implementada. Também nesse aspecto é criado um círculo nefasto, porque dificilmente se sabe o que deu e o que não deu certo e os motivos pelos quais determinados resultados foram atingidos. E isso não acontece somente quando da troca de um governo pelo outro. Acontece num mesmo governo. Essa é uma característica da política educacional que remonta aos anos 90. Se prestarmos atenção a essas iniciativas, veremos que elas não atacam os problemas de fundo. São meras maquiagens”. Diante de tantas dificuldades, como fazer, então, para tornar a escola mais interessante aos olhos dos estudantes? Na opinião de Nora Krawczyk, algumas medidas são indispensáveis. Ela destaca duas. Em primeiro lugar, é preciso corrigir o discurso segundo o qual a educação resolve tudo. “Isso não é verdade. A educação é um elemento importante, mas ela não determina o futuro do jovem. Hoje, a juventude tem um futuro difícil, pois o mercado de trabalho está mais exíguo e a concentração do conhecimento é muito maior que no passado. Então, essa contradição entre o discurso que vemos na mídia e a realidade acaba desvalorizando a própria escola. Ou seja, surge o entendimento que diz: ‘se ela não cumpre o que promete, não serve para nada. É necessário recuperar o sentido cultural da escola para o jovem”, insiste. Outra questão fundamental, assinala, é pensar a educação como um fenômeno complexo e dentro de um contexto em que sejam contempladas também políticas sociais e econômicas. “A educação é um fenômeno multideterminado e por isso politicas isoladas não resolvem”.
SERVIÇO Título: Sociologia do Ensino Médio - Crítica ao economicismo na política educacional Organizadora: Nora Krawczyk Autores: Diversos Editora: Cortez Páginas: 208 Preço sugerido: R$ 32,40
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
O combustível
Fotos: Divulgação
que vem do lixo Engenheiro faz avaliação econômica e ambiental do aproveitamento energético de resíduos sólidos CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
crescente volume de resíduos sólidos – lixo – produzido pelas sociedades modernas levou a um consenso mundial: os aterros sanitários se mostram incapazes de resolver o problema, agravado pelo não reaproveitamento desses materiais. O considerável volume de material aterrado tem esgotado as áreas disponíveis e próximas das fontes geradoras, acarretando custos adicionais e impactos ambientais que poderiam ser evitados. Nas últimas décadas foram desenvolvidas varias tecnologias que permitem que o lixo possa ser reutilizado de alguma maneira, levando ao que se conhece hoje como valorização dos resíduos, que corresponde a transformá-los em algum bem útil à sociedade. Os resíduos passam então a ter um valor econômico, acarretando diminuição do material destinado ao aterro e mitigando impactos ambientais. Dentre as tecnologias que permitem a valorização dos resíduos, estão as que aproveitam a energia que estes podem oferecer. Ao estudo dessas possibilidades se propôs o engenheiro Maurício Cuba dos Santos Mamede, orientado pelo professor Joaquim Eugênio Abel Seabra, do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. O docente enfatiza que o trabalho situa-se no contexto energético: “A dissertação não está voltada especificamente para o aproveitamento de resíduos sólidos. No Brasil existe uma hierarquia que envolve redução, reutilização, reciclagem, aproveitamento energético e disposição final. Neste contexto nos dedicamos ao estudo do seu aproveitamento como fonte de energia”. Diante dessa perspectiva, Maurício dedicou-se primeiramente a fazer um levantamento das principais tecnologias utilizadas no mundo para o aproveitamento energético dos resíduos sólidos, procurando entender como funcionam e os produtos que geram. Participando de um encontro na USP com professores e técnicos suecos ele conseguiu uma estada de duas semanas no município de Boras, na Suécia, quando teve oportunidade de conhecer e visitar a usina de biogás Sobacken. No país, que se distingue por possuir os mais avançados sistemas de aproveitamento de resíduos sólidos, que começaram a ser implantados há 30 anos, ele teve oportunidade de conhecer duas das três tecnologias que selecionara como passíveis de serem aplicadas no Brasil e lá amplamente difundidas. O programa sueco é conhecido mundialmente pelo fato de que o país apenas aterra cerca de 1% do resíduo gerado. O pesquisador fundamentou seus estudos em experiências internacionais de sucesso que consideram a segregação dos resíduos na fonte geradora. Na Suécia, a participação da população é fundamental para o sucesso do programa. Ela é responsável por levar o material reciclável - metais, papéis, vidros, plásticos - para as centrais de reciclagem onde, sob a responsabilidade de fabricantes, é coletado e devidamente destinado, e por segregar o restante, em duas frações, colocando-os em sacos de cores di-
Publicação Dissertação: “Avaliação econômica e ambiental do aproveitamento energético de resíduos sólidos no Brasil” Autor: Maurício Cuba dos Santos Mamede Orientador: Joaquim Eugênio Abel Seabra Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)
ferentes: nos pretos é recolhido o material orgânico, biodegradável, que corresponde à parte úmida; nos brancos são juntados os rejeitos, que constituem a parte seca, combustível, não sujeita à reciclagem. A usina de biogás de Sobacken processa, em reatores anaeróbios, somente a fração orgânica, biodegradável, dos resíduos domiciliares e industriais, gerando biogás, utilizado como combustível veicular, e composto orgânico, que substitui o fertilizante químico em plantações rurais. No município de Boras (Suécia), que tem aproximadamente 100 mil habitantes, todos os caminhões de coleta de lixo e os veículos de transporte público, são movidos pelo biogás produzido, que contém originalmente entre 60% a 70% de metano. Mas, alternativamente o biogás pode ser empregado também para a geração de energia elétrica, utilizando-se um motor estacionário. A segunda tecnologia que o pesquisador acompanhou na Suécia foi a da incineração da parte seca oriunda do resíduo, os rejeitos (sacos brancos). Eles são queimados em uma caldeira a aproximadamente 850 graus Celsius, gerando energia térmica que, ao passar por um trocador de calor, transforma água em vapor que é então utilizado para acionar turbina que produz energia elétrica. A terceira tecnologia por ele selecionada, e que teve oportunidade de conhecer em planta instalada em Paulínia, utiliza uma sucessão de equipamentos mecânicos que selecionam os materiais que têm maior valor energético, como plástico e papel, removendo o que possa comprometer a queima, como vidro, matéria orgânica, etc. Essa tecnologia dá origem ao combustível sólido (combustível derivado de resíduo – CDR) que é utilizado como substituo do óleo combustível na indústria.
em consideração as matrizes energéticas brasileiras prevalentes, a real produção e composição dos resíduos sólidos gerados por municípios Exemplos suecos: acima, separação de resíduos nos domicílios; brasileiros, além de aspectos abaixo, caminhões de coleta sendo abastecidos com o biogás regionais de preços de produção”. O estudo partiu de relatório governamental que apresenta dados sobre a composição de resíduos sólidos de 93 municípios brasileiros, baseando-se em 81 deles por questões de compatibilidade e confiabilidade. Dados de 2012 apontam que das 62,730 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidos no Brasil, 90% foram coletadas, sendo 58% destas encaminhadas a aterros sanitários e 48% tiveram destinação inadequada, ocasionando danos e degradação ao ambiente. fez isso através de uma análise consequencial Para mitigar esta situação, a lei federal em que procurou determinar o impacto da 12.305 de agosto de 2010, que instituiu a Poinserção de produtos energéticos oriundos lítica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), do lixo como substituto das fontes energéobriga que até agosto de 2014 haja a substicas convencionais utilizadas no país, tais tituição de lixões e aterros controlados por como a matriz elétrica nacional, a gasolina aterros sanitários – técnica de disposição que automotiva e o óleo combustível industrial. utiliza princípios de engenharia para miniO óleo combustível foi trocado na indústria mizar impactos ambientais. Entretanto, os pelo CDR, a gasolina pelo biogás veicular, e municípios têm encontrado dificuldades de a energia elétrica pela energia da incineração colocar em prática as disposições da lei. A e do biogás utilizado em motor estacionário. propósito afirma Maurício: “O Brasil ainda Com essa análise o autor procurou determicontinua a olhar os resíduos com uma visão nar como essas intervenções podem corrode curto prazo, somente para fins de remeborar com a valorização econômica dos resídiação, deixando a cargo dos municípios a duos e a mitigação de impactos ambientais resolução da questão. Faltam iniciativas mais relacionados ao seu gerenciamento. concretas no âmbito nacional que estimulem a valorização dos resíduos. Na Suécia, por Para o levantamento econômico foram exemplo, o governo proibiu o aterramento utilizados dados disponíveis na literatura O ESTUDO sobre a necessidade de capital para instaladas frações orgânica e combustível como forções, custos operacionais e de manutenção ma de estimular as rotas alternativas. Mas é A partir dessas pesquisas prévias, o aupara cada tecnologia. Na análise ambiental, claro que estas propostas não surgiram do dia tor identificou possibilidades de obter dois os cenários eletricidade e combustível foram para a noite, mas sim fazem parte de um plaprodutos energéticos a partir dos resíduos comparados em relação a sete categorias de no sólido de médio e longo prazo”. sólidos: energia elétrica e combustível, comimpacto: acidificação das águas e dos solos; binando duas das três tecnologias estudadas Em vista do quadro delineado, o objetivo eutrofização dos corpos aquáticos, que corem cada um desses cenários. Para o cenário do trabalho desenvolvido por Maurício foi responde ao aumento de sua matéria oreletricidade, ele associou a utilização do bioavaliar e discutir, utilizando ferramentas de gânica; aquecimento global, em função da gás em motor estacionário e a incineração. análise ambiental e econômica, diferentes emissão de gases de efeito estufa; depleção No cenário combustível adotou o uso do rotas para o aproveitamento energético dos da camada de ozônio, em consequência da biogás veicular e o combustível derivado de resíduos sólidos no contexto brasileiro. emissão de halogenados; depleção abiótiresíduo (CDR). Diante desses cenários, diz ca, decorrente da extração de fontes fósseis, Maurício, “nos perguntamos: o que é meLEVANTAMENTO DE CUSTOS como o petróleo; toxidade, devida à liberação lhor produzir no Brasil a partir de resíduos, de metais pesados; e oxidação fotoquímica, Para chegar ao objetivo que se propusera energia elétrica ou combustível? A resposta formação de ozônio fotoquímico. o pesquisador teve de levantar custos envoldepende muito dos fatores específicos que vendo a implantação das tecnologias e de sua estão envolvidos na produção convencional de energia elétrica e de combustíveis no operacionalidade, além de delinear as conseCONCLUSÕES país. Por isso mesmo, era fundamental levar quências dos seus impactos ambientais. Ele Os resultados de todas essas análises apontou o cenário combustível como o mais Foto: Antoninho Perri promissor para o Brasil. Maurício explica que as consequências ambientais mostraram-se favoráveis aos combustíveis porque o deslocamento da gasolina e do óleo combustível, que são fósseis, gera benefícios ambientais maiores que a matriz elétrica brasileira. Por outro lado, do ponto de vista econômico, apesar de produzir combustível a partir do biogás seja mais complexo, os benefícios econômicos decorrentes de sua comercialização como combustível veicular são maiores que sua utilização para produção de energia elétrica. As tecnologias propostas se mostram ainda um pouco mais caras frente à utilização do aterro sanitário. O pesquisador considera que a aplicação destas tecnologias em municípios pequenos impõe a adoção de tarifas de tratamento de resíduos sólidos municipais maiores que as praticadas em aterros sanitários ou a adoção de incentivos na comercialização das energias produzidas. Mesmo assim, se considerada a mesma tarifa de praO professor Joaquim Eugênio Abel Seabra (à esq.), orientador, ticada em aterros sanitários, elas começam a e Maurício Cuba dos Santos Mamede, autor da dissertação: se tornar viáveis para municípios acima de aproveitando a energia gerada pelos resíduos 200 mil habitantes.
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Campinas, 26 de maio
Para além das quatro
Os professores Paulo Cesar Montagner, da Faculdade de Ed analisam o que pode significar para o país sediar a
‘O tempo é que vai permitir uma avaliação mais precisa’ Fotos: Ari Ferreira/Lance
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
nquanto esta entrevista com o professor Paulo Cesar Montagner, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, estava sendo planejada e executada, alguns acontecimentos relacionados direta ou indiretamente à Copa do Mundo, que está sendo organizada pelo Brasil e que terá início no dia 12 de junho, alimentaram o acalorado debate em torno das possíveis consequências do evento. Num curto período, um torcedor morreu após ser atingido por um vaso sanitário atirado por um adversário, grupos foram às ruas em diferentes estados para protestar contra os gastos com o Mundial e a imprensa noticiou que os sistemas de energia e de telefonia móvel (4G) dos estádios dificilmente funcionarão a contento durante a competição. Diante desses e de outros episódios, o Jornal da Unicamp recorreu ao docente, que soma 34 anos de dedicação ao estudo do esporte, para pedir que ele refletisse sobre os legados e sequelas que a Copa poderá proporcionar ao país. Na opinião de Montagner, é provável que ocorram tanto perdas quanto ganhos. “O tempo é que vai permitir uma avaliação mais precisa sobre o saldo dessa empreitada”, afirma. De acordo com Montagner, que também ocupa o cargo de chefe de gabinete da Reitoria, o Brasil cometeu um grave erro político ao dizer que a Copa deixará, assim como os Jogos Olímpicos, que ocorrerão no Rio de Janeiro em 2016, um enorme legado ao país. “O governo se comprometeu com algo que não sabia muito bem se poderia dar conta. Decorrido o período entre o anúncio do país como sede do Mundial e a véspera do início da competição, pouca coisa mudou no plano da infraestrutura. Melhoramos um pouco alguns aeroportos, fizemos alguma coisa em termos de mobilidade urbana e reformamos e construímos estádios. Entretanto, foram iniciativas insuficientes para satisfazer a sociedade”, pondera. Quanto ao âmbito esportivo, Montagner também considera que os legados apregoados pelo governo federal dificilmente serão alcançados, pelo menos na dimensão anunciada. “Esse legado esportivo somente virá se de fato o Brasil aproveitar a Copa e as Olimpíadas para criar uma estrutura voltada à prática de diferentes modalidades. É importante que os meninos e meninas que assistirem às apresentações da ginástica olímpica, por exemplo, encontrem centros esportivos em variados pontos do país onde possam praticar seu esporte preferido”, entende. Outro equívoco cometido pelo Brasil em relação especificamente ao Mundial de futebol, acrescenta o docente, foi ter dito à população que não haveria investimento público na reforma ou construção de estádios. Conforme Montagner, desde o início não houve qualquer movimentação da iniciativa privada em assumir integralmente esses gastos. “Eu penso o seguinte: o problema não é construir uma arena de R$ 1 bilhão. O problema é o destino que será dado a ela. Se o estádio servir aos jogos da Copa, aos campeonatos regionais e nacionais e ao desenvolvimento do esporte em geral e da saúde da população, o investimento estará justificado. Entretanto, não há garantias de que isso virá a acontecer. Olhando em retrospectiva, nada indica que esses equipamentos cumprirão de fato essas missões”.
Gol marcado pelo Brasil, na Copa das Confederações, em jogo contra o Japão no estádio Mané Garrincha, um dos palcos da Copa do Mundo
“CHUTE” ERRADO
Ainda no âmbito dos tropeços, continua o professor da Unicamp, o Estado brasileiro “errou o chute” ao associar um evento de amplitude mundial a uma possível política nacional do esporte. “Não era preciso fazer isso. Esse e outros equívocos têm servido de argumento aos grupos contrários à Copa. Uma das consequências dessas críticas é a vinculação do esporte à corrupção, o que evidentemente não é bom para o segmento. Não é correto culpabilizar o esporte, visto que a corrupção não é algo exclusivo dele; trata-se de uma prática que infelizmente está presente em várias atividades humanas. Essa associação entre esporte e corrupção talvez seja uma das sequelas com as quais teremos que lidar”, lamenta Montagner. Quanto aos legados, Montagner considera que eles também ocorrerão, mas a extensão que alguns deles alcançarão dependerá das iniciativas governamentais que serão adotadas após o Mundial e, mais adiante, após as Olimpíadas. “A Copa trará alguns ganhos ao país, como está registrado no livro do professor Marcelo Proni [leia texto na página 7], do Instituto de Economia, do qual fui o autor do prefácio. Obviamente, o turismo interno será movimentado e as obras de infraestrutura efetivamente realizadas ficarão”, elenca. No que se refere ao esporte propriamente dito, o docente da Unicamp entende que a transmissão de benefícios não será tão direta assim, notadamente em relação à Copa. Segundo Montagner, os brasileiros já gostam de futebol e não passarão a apreciá-lo ou a praticá-lo mais somente porque o país sediará a competição. “O mesmo vale para os Jogos Olímpicos. Como disse anteriormente, os legados serão efetivos e permanentes se esses eventos de alcance mundial servirem para criar uma consciência nacional sobre a importância da prática do esporte. Ao mesmo tempo, eles também precisam servir para que definamos políticas públicas que instituam programas sérios de esporte na escola. Se isso for feito, não tenho dúvidas de que em 20 anos nós poderemos nos transformar em um país olímpico”, infere. Nesse ponto, Montagner abre parênteses para explicar que um país olímpico não é
necessariamente aquele que ocupa as primeiras colocações no quadro de medalha das Olimpíadas. “O Canadá e a Austrália são países olímpicos, mas não estão entre os maiores ganhadores de medalhas. Entretanto, ambos difundiram a prática de diversas modalidades esportivas entre a população. No caso do Brasil, nós poderemos até nos transformar numa nação ganhadora de medalhas. Nós temos muito talentos esportivos adormecidos, que esperam por algo que os desperte. Se tivermos uma base forte de praticantes, certamente chegaremos aos atletas de alto rendimento. Em termos de comparação, num conjunto de milhares de pintores é muito provável que encontremos alguns artistas geniais entre eles”. Ao falar sobre o estímulo à prática do esporte na escola, o docente da Unicamp revela que este é o seu maior sonho. “Penso que seria importante aproveitarmos a Copa e as Olimpíadas para sensibilizar as instâncias governamentais nesse sentido. A escola também é lugar do esporte, principalmente quando ele está voltado à promoção do bem-estar das pessoas, tanto das que têm quanto das que não têm talento. Não é na
escola que o jovem se desenvolverá como atleta, mas certamente ela é um local privilegiado para despertar nele o interesse por esta ou aquela modalidade. Precisamos ter uma nova visão pedagógica sobre a finalidade do esporte”, defende. Questionado se o resultado da Copa – derrota ou vitória da seleção brasileira – poderá interferir na análise dos legados ou sequelas que poderão ser deixados pela competição, Montagner diz que o brasileiro tem consciência política para saber que se trata somente de futebol. “Não creio que a sociedade vá se deixar levar por esta ou aquela análise ideológica”. Acerca do papel da academia no desenvolvimento de pesquisas que contribuam para uma análise mais profundada das problemáticas relacionadas ao esporte, o professor da FEF diz que as universidades talvez precisem dedicar mais tempo aos estudos dos fenômenos sociais e antropológicos ligados ao segmento. “Nós avançamos muito em áreas como a biodinâmica e a bioquímica. Penso que devemos continuar investindo nessas áreas, mas também nos dedicar ao viés social do esporte, de modo a compreender as suas variadas e complexas dimensões”, conclui.
Fotos: Antoninho Perri
O professor Paulo Cesar Montagner, da FEF: “O legado esportivo somente virá se de fato o Brasil aproveitar a Copa e as Olimpíadas para criar uma estrutura voltada à prática de diferentes modalidades”
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o a 1º de junho de 2014
o linhas do gramado
ducação Física, e Marcelo Proni, do Instituto de Economia, a Copa do Mundo, que começa no próximo dia 12
‘É importante aprender a cobrar do Estado uma postura transparente’ CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
legado e os benefícios econômicos reais de megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, geralmente ficam muito aquém do prometido por seus promotores, disse ao Jornal da Unicamp Marcelo Proni, diretor associado do Instituto de Economia (IE) da Universidade e coautor, com Raphael Britto Faustino e Leonardo Oliveira da Silva, do livro “Impactos Econômicos de Megaeventos Esportivos”, a ser lançado no dia 29, às 10h, no auditório do Instituto de Economia, numa parceria entre o IE, Casa da Educação Física e Penses – Fórum Pensamento Estratégico da Unicamp. “O que a literatura internacional mostra é que, pegando essas últimas edições, tanto da Copa quanto dos Jogos Olímpicos, sempre tem uma propaganda muito forte em termos de legados, mas as projeções feitas antes dos eventos são sempre muito otimistas, e depois as avaliações feitas a posteriori mostram que ficou muito aquém. Não quer dizer que não haja legado, mas geralmente ele fica muito longe projetado inicialmente”, disse o pesquisador. Em artigo publicado em 2012, escrito em conjunto com um dos coautores do livro, Leonardo Oliveira da Silva, Proni já citava números que mostravam o excesso de otimismo das projeções e promessas que vinham sendo feitas para a Copa, por meio da comparação de dois estudos, um da consultoria Value Partners e outro da Ernst & Young Brasil e FGV Projetos: “Chama atenção a diferença de mais de R$ 40 bilhões entre os dois estudos nas previsões de impacto sobre a circulação monetária, assim como a divergência no volume considerado de investimentos programados (...) Mais difícil é a comparação dos números relacionados à criação de empregos. No primeiro estudo, somando postos de trabalho permanentes e temporários, projeta-se a criação de 710 mil empregos. No segundo estudo, a projeção parece ser muito exagerada (...) uma média de 720 mil postos de trabalho por ano”. Outros trechos do artigo mostram como, tanto no caso da Copa da Alemanha (2006) quanto da África do Sul (2010), os legados ficaram abaixo do prometido. O impacto da Copa no nível de emprego da economia alemã teria sido pouco significativo, por exemplo, sendo o principal benefício do torneio um aumento na autoestima do povo alemão, uma melhora na imagem da Alemanha perante o resto do mundo. No caso sul-africano, para uma expectativa prévia de aumento de 0,54% no PIB do país no ano do torneio, constatou-se um ganho de menos de 0,3%. Na questão da geração de empregos, o resultado foi “realmente decepcionante”: “A previsão inicial de 695 mil novos postos de trabalho considerava que mais da metade seria temporária, mas se esperava que 280 mil seriam conservados em 2010”. Mas, também por conta da crise econômica internacional de 2008, “foi registrada uma redução de 4,7% do total de ocupados na África do Sul (627 mil trabalhadores) só no trimestre imediatamente anterior à realização da Copa. Na indústria da construção, os empregos criados desapareceram assim que os projetos foram concluídos”, diz o artigo. O texto prossegue: “A Copa na África do Sul não contribuiu para reduzir as desigualdades sociais. Por um lado, a grande maioria dos empregos temporários gerados pagava baixos salários e não houve redução significativa na taxa de desemprego no país, mesmo antes da
Policiais acompanham protesto em Fortaleza, cidade que sediará jogos da Copa do Mundo
crise. Por outro, as principais melhorias trazidas para a infraestrutura urbana acabaram beneficiando mais a classe média, enquanto os principais estímulos econômicos foram apropriados por segmentos da classe empresarial”.
MANIQUEÍSMO
Proni, no entanto, não entra no coro dos críticos mais ácidos da realização da Copa do Mundo no Brasil. “É difícil ficar numa posição maniqueísta, ou é muito bom ou é muito ruim, ou sou a favor ou sou contra”, disse ele. “A avaliação tem de ser mais ponderada, obviamente há alguns segmentos, alguns setores econômicos, que estão sendo favorecidos, por exemplo, a construção civil, o segmento do turismo, são alguns que ganham bastante com a preparação. E, por outro lado, há alguns segmentos que podem ser prejudicados, porque o governo deixa de investir recursos públicos em outras prioridades”, disse. Falando das manifestações de rua do ano passado e do movimento “não vai ter Copa”, ele disse que “o problema é que prometeram muito, criaram uma expectativa muito forte, e agora, conforme vai se aproximando, estamos vendo que vai ficar muito aquém daquilo que tinha sido inicialmente projetado, ou prometido”. O pesquisador pondera que “houve toda uma politização dessa questão da Copa”. Para ele, não faz sentido opor o investimento em estádios ao investimento em hospitais e escolas, já que é legítimo o governo investir em políticas esportivas e que, como o Brasil projeta uma autoimagem de “país do futebol”, seria fácil legitimar a escolha como sede de uma Copa do Mundo sem apelar para um legado econômico. “Mas acho que faz sentido quando as pessoas falam que querem hospitais padrão Fifa, querem escolas padrão Fifa. Afinal, se você vê o empenho grande de autoridades públicas para viabilizar a Copa do Mundo, por que não cobrar empenho nessas outras áreas, que são importantíssimas?” “Uma coisa importante é que a Copa do Mundo estimulou um aprimoramento dos procedimentos de fiscalização e pôs em discussão uma série de coisas em relação ao gasto público”, disse ele. “Acho que isso é um aprendizado: do ponto de vista da sociedade, é importante aprender a cobrar do Estado uma postura transparente, promover uma discussão sobre as prioridades, explicitar quais são os segmentos econômicos e sociais beneficiados pela política pública”.
PERIGOS
O Brasil, diz Proni, não corre o risco de sofrer problemas como os que atingiram a África do Sul, por conta da Copa do Mundo
de 2010, ou a Grécia, onde os gastos com os Jogos Olímpicos de Atenas-2004 ajudaram a empurrar o país para uma grave crise econômica. “Não é que a crise atual na Grécia tenha sido causada pelo prejuízo dos Jogos, pois houve outros problemas que se somaram, mas de qualquer forma é um exemplo de um legado negativo, que o legado que ficou foi muito mais negativo que positivo”, disse ele. Já na África do Sul, “os investimentos feitos em função da Copa do Mundo não ajudaram a reduzir as desigualdades sociais ou a reduzir problemas mais fundamentais, mas certamente beneficiaram uma parcela pequena daquela população e alguns ramos daquela economia”. “O Brasil tem um porte muito maior que o da Grécia ou da África do Sul. A Copa não vai representar um prejuízo como foi no caso desses dois”, afirmou ele, acrescentando que o gasto do governo federal com a Copa é pequeno em relação ao montante de recursos de que o setor público dispõe para investir. “Para ter uma ideia, o PAC 2 previa um gasto de R$ 1 bilhão entre 2011-2014. Os investimentos para a Copa representam menos de 3% desse valor. Os recursos que o BNDES emprestou para a construção de estádios também pesam muito pouco no volume de dinheiro que o banco oferece todo ano. Assim, do ponto de vista do governo federal, não há problema de endividamento. O que desvia recursos que deixam de ser investidos em outras áreas é o pagamento de juros”. O pesquisador nota, no entanto, que governos estaduais e prefeituras podem vir a enfrentar dificuldades financeiras, e encarar escolhas realmente controversas sobre a des-
O professor Marcelo Proni, diretor associado do IE: “O risco é deixar como legado um elefante branco, uma arena moderníssima que vai ficar ociosa a maior parte do tempo”
tinação de recursos públicos, desviados do atendimento de carências locais, para a Copa. O artigo de 2012 lembra que algumas cidades têm parte importante de seu PIB comprometido com obras para o evento, como Cuiabá (21%) e Natal (16%). “O risco é deixar como legado um elefante branco, uma arena moderníssima que vai ficar ociosa a maior parte do tempo, mas acontece que será o governo estadual quem terá de pagar os R$ 500 milhões ou mais”, disse ele. “Algumas cidades vão se beneficiar mais, porque vão receber, por causa da Copa do Mundo, um público que, do ponto de vista do turismo, vai trazer mais vantagens. E tem algumas cidades que, pela questão do sorteio dos jogos, vão receber só quatro jogos e não necessariamente de seleções que atraem um público grande. Então, há diferenças aí entre as sedes: a relação custo-benefício não é a mesma para todas”. Proni aponta, ainda, um risco de elitização das novas arenas esportivas: “A Copa afeta o futebol brasileiro. A construção dessas arenas mexe com a relação existente entre os clubes e as torcidas. Logo surgirá a questão de definir quem é que vai frequentar essas arenas. Acho que tende a haver uma elitização”.
BALANÇO
“A Copa é um bom negócio para a Fifa, que vai ganhar muito dinheiro com a Copa. Acho que a Copa vai beneficiar alguns segmentos, como o turismo, a construção civil, alguns adjacentes. E acho que em algumas cidades a população pode ter ganhos em termos de mobilidade urbana, uma melhoria localizada, mas não necessariamente são projetos que necessitavam da Copa para se justificar. O país poderia ter investimentos na modernização de aeroportos sem que houvesse a Copa do Mundo”, disse o pesquisador. Proni disse que já existem algumas metodologias para mensurar o efeito, se positivo ou negativo, de um megaevento para o país ou cidade que o recebe, mas que “ainda é difícil fazer uma avaliação completa, chegar a um quadro completo dos impactos”. “Aqui no Brasil há pessoas que tendem a enfatizar os prejuízos, há aqueles que enfatizam mais os ganhos, mas o que acho importante é que os megaeventos chamam a atenção da população, da sociedade organizada, para essa discussão a respeito de qual o dever do Estado, como você legitima os gastos públicos, como são decididas as prioridades, como se faz a prestação de contas. Isso está sendo um aprendizado importante. E espero que a universidade não fique alheia a isso”.
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
O consumo e
as lições da crise
Dissertação analisa desregulamentação bancária e financeira dos EUA nas últimas três décadas
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m seu estudo de mestrado junto ao Instituto de Economia (IE) da Unicamp, a bacharel em relações internacionais Lídia Brochier buscou compreender a evolução do consumo pessoal nos Estados Unidos (EUA) a partir da década de 1980 até a crise financeira de 2007 a 2009. O “consumo financeirizado”, como ela denomina em seu trabalho, manteve, de um lado, a expansão da economia norte-americana por quase 30 anos, mas gerou, de outro, um endividamento insustentável, que culminou na crise. A situação estadunidense, segundo a autora do estudo, serve como alerta para a economia brasileira. “Não é mais possível analisar o consumo apenas baseado na renda. E as teorias clássicas se apoiam muito neste aspecto. É importante avaliar a variação dos ganhos de capital porque ela demonstra como o consumo se expande atualmente. Tem a questão do crédito e do endividamento, que podem se tornar inconsistentes no médio prazo. Num primeiro momento o crédito leva ao crescimento do consumo e da economia, mas posteriormente isso pode apresentar consequências negativas, como aconteceu nos Estados Unidos. Embora o Brasil ainda tenha muito espaço para a expansão da economia, a situação norte-americana serve de alerta ao país”, analisa. A pesquisadora pondera que a oferta de crédito no Brasil ainda é baixa quando comparada com as estatísticas norte-americanas. “Mas não basta somente expandir o crédito ao consumidor. O consumo e o investimento têm que caminhar juntos. Não tem como o consumo crescer indefinidamente se o investimento não crescer no país. É preciso haver uma complementariedade”, defende. Em relação à situação norte-americana, a estudiosa observa que, atualmente, o crescimento do investimento está num patamar razoável, com uma taxa real de 9,5%, registrada em 2012. “Resta saber se esse crescimento é sustentável em médio prazo. Na falta dos investimentos aos níveis necessários, a formação de uma nova bolha na economia pode não ser o cenário desejável, mas é, sim, palpável.” Lídia Brochier foi orientada pela docente Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti, que atua no Departamento de Teoria Econômica do IE. A dissertação, defendida em fevereiro deste ano, obteve apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que concedeu bolsa à pesquisadora. No momento, ela dá sequência aos estudos com uma pesquisa de doutorado no IE com o objetivo de aprofundar as estruturas de financiamento do consumo e suas consequências.
Fotos: Divulgação
Cenas da crise norte-americana: “consumo financeirizado” desencadeou endividamento crescente, que logo se mostrou insustentável
das hipotecas desde a década de 1980 esteve na base do ‘consumo financeirizado’ no país. Esse padrão de crescimento, em ação por quase 30 anos, foi questionando pela crise financeira”, lembra. Assim como a financeirização moldou as formas de investimento das empresas, ela também evocou um papel para o consumo das famílias mais sofisticado do que aquele previsto pelas teorias clássicas do consumo. A pesquisadora afirma que os estudos sobre a financeirização focam, em geral, muito mais a questão de como ela afeta as decisões das empresas e, consequentemente, o investimento, do que dos consumidores. “Meu trabalho revisa as teorias mais convencionais e difundidas do consumo a fim de extrair ideias pertinentes para compreender a evolução do consumo no contexto da financeirização. Objetiva também destacar alguns pontos em que tais teorias são historicamente datadas, não se aplicando às modificações ensejadas por esse processo. O consumo é um fenômeno pouco investigado, sobretudo entre as teorias mais clássicas. Mas ele dever ser entendido, atualmente, como uma peça fundamental do sistema capitalista”, sustenta.
O PESO NAS ECONOMIAS Conforme levantamento de 2011 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o consumo pessoal representou cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em
2009. Na economia dos Estados Unidos, o gasto familiar superou os 70% do PIB em 2012, conforme dados do ano passado do Flow of Funds Accounts (FFA), levantamento realizado pelo banco central americano, o Federal Reserve (FED). “O consumo tem enorme peso no PIB de muitas, senão, da maioria das economias. Além disso, num contexto em que países como a China estão fortalecendo sua estratégia de crescimento a partir da demanda interna, a relevância do tema se torna explícita. Graças ao ambiente gerado numa economia financeirizada, o descasamento dos gastos das famílias dos limites da renda contribui para o funcionamento do consumo como elemento ativo da demanda. Os Estados Unidos constituem a configuração mais peculiar na qual o consumo agiu como motor de expansão dos gastos nas últimas décadas”, examina Lídia Brochier. Seu estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro, a pesquisadora realizou uma revisão das teorias do consumo. Foram estudadas as teorias de John Maynard Keynes, James Duesenberry, Franco Modigliani, Milton Friedman, Michael Kalecki e Hyman Philip Minsky. No segundo capítulo, ela elaborou uma contextualização histórica do processo de desregulamentação bancária e financeira. Por fim, no último a pesquisadora discute os dados do consumo em torno de três eixos: a renda, a riqueza e o crédito, e o endividamento das famílias.
Publicações Artigos BROCHIER, L. . A financeirização do consumo e o problema da geração de demanda agregada nos EUA. 2013. (Apresentação de Trabalho/ Congresso). XVIII Encontro Nacional de Economia Política. BROCHIER, L. . A financeirização do consumo e a crise financeira nos Estados Unidos: o fim do padrão de crescimento. 2012. (Apresentação de Trabalho/Congresso). V Encontro Internacional da AKB (Associação Keynesiana Brasileira).
Dissertação: “A financeirização do consumo: uma análise das modificações do consumo pessoal nos Estados Unidos da década de 1980 à crise financeira de 2007-9” Autora: Lídia Brochier Orientadora: Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti Unidade: Instituto de Economia (IE) Financiamento: Capes
Foto: Antonio Scarpinetti
A DINÂMICA
Para a estudiosa da Unicamp, a desregulamentação progressiva do sistema bancário e financeiro norte-americano, desde 1930, gerou forte expansão do consumo, permitindo que as famílias passassem a consumir com base em instrumentos não tradicionais. Tais “inovações financeiras” ampliaram a capacidade de empréstimo das famílias, tornaram ativos ilíquidos em ativos líquidos e dinamizaram o consumo de maneira sem precedentes. Mas, por outro lado, esse “consumo financeirizado” trouxe endividamento crescente, que se tornou insustentável, como demonstrou a crise financeira no país. Lídia Brochier considera que a expansão do crédito tem aspectos positivos, sobretudo para aumentar o consumo e impulsionar a economia, mas a forma como isso foi feito nos Estados Unidos, com a alavancagem excessiva, trouxe problemas. “Lá as famílias tinham empréstimos até com amortização negativa. Isso significa que o pagamento mensal era cada vez menor e, portanto, o montante da dívida final ia aumentando. E uma hora isso ia estourar, pois gerava desequilíbrio nos balanços das famílias. A expansão do crédito ao consumidor e
Lídia Brochier, autora do estudo: “Embora o Brasil ainda tenha muito espaço para a expansão da economia, a situação norte-americana serve de alerta ao país”
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
Uso sem pausa do computador desencadeia distúrbio na visão
Foto: Antoninho Perri
Pesquisa feita com 53 professores universitários mostra que 30 deles eram portadores de síndrome ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
advento do computador diminuiu as distâncias. O seu uso massivo trouxe uma identificação universal. Em 1990 existiam 40 milhões de computadores no mundo, em 2008 um bilhão e estima-se que em 2014 chegue a dois bilhões. Hoje em dia quase todos os empregos estão informatizados e é praticamente impossível as pessoas viverem sem esse equipamento. Mas, se por um lado representou um avanço sem precedentes, por outro a vida eletrônica trouxe malefícios inclusive à saúde, pela superexposição à tela do computador. Olhos vermelhos e secos, problemas de audição, dores de cabeça, nas costas e no pescoço, fadiga e dificuldade em conseguir foco são atribuídos ao seu uso prolongado, por mais de quatro horas. Esses sintomas podem causar um distúrbio ocular – que pode levar a problemas mais sérios, se não for tratado – que atende pelo nome de Síndrome da Visão do Computador, no inglês Computer Vision Syndrome (CVS). Pesquisa desenvolvida pela optometrista Adriana Castillo Estepa na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) mostrou que, num universo de 53 professores universitários, 56,5%, ou seja, 30 deles, apresentavam esse distúrbio, o que pode trazer uma redução da produtividade e da qualidade de vida daqueles que permanecem horas na frente do computador sem a devida pausa. Segundo o que apurou a sua investigação, os sintomas que mais os incomodavam quando trabalhavam com o Personal Computer (PC) eram fadiga, ressecamento e irritação oculares. Outro achado relevante foi que 27 dos 53 docentes apresentavam problemas binoculares (capacidade de ver tridimensionalmente, permitindo fazer cálculos mentais instantâneos de profundidade e de distância para se situar no espaço físico), especialmente insuficiência de convergência. Isso influía na apresentação de sintomas visuais no momento de usar o PC ou de fazer tarefas em visão de perto. Além disso, 19 professores tinham a forma leve da síndrome, dez a moderada e um a severa. “O pior é que, na maioria dos casos, estes problemas ainda não tinham sido diagnosticados”, revela.
QUADRO A Síndrome da Visão do Computador pode se manifestar durante ou depois do trabalho com o PC. De acordo com a mestranda, esse distúrbio começou a ser relatado cientificamente com a popularização dos computadores, nas décadas de 1980 e 1990. Grande parte dos relatos apontava que a síndrome tinha uma alta prevalência nos usuários de computadores e alertava que poderia se tornar a epidemia do século 21. Adriana conta que diagnosticou vários casos da CVS em trabalhadores que usavam o PC por uma longa jornada. Chamou-lhe a atenção o volume de casos e a pouca informação dada tanto pelos pacientes quanto pela comunidade médica para os aspectos preventivos e tratamento da síndrome. Ao ingressar no mestrado em Saúde Coletiva, a mestranda verificou que o uso de computadores estava aumentando, bem como a sua preocupação e a da sua orientadora, a docente da FCM Aparecida Iguti, com a saúde do trabalhador. Decidiram estudar a síndrome nos professores da Unicamp, visto que essa população faz uso diário do computador e, para esse grupo, tal ferramenta é imprescindível.
Segundo a pesquisadora, a superexposição ao computador gera sintomas como olhos vermelhos e secos, problemas de audição e dificuldade em conseguir foco, entre outros
Um dos passos do estudo foi levantar a frequência de casos da CVS entre os professores universitários e encontrar os principais fatores de risco da síndrome, além dos sintomas visuais e oculares que mais incomodavam esse público-alvo. Conforme a optometrista, essa amostra foi escolhida sobretudo pela quantidade de horas que os professores passam trabalhando com os computadores e pelas tarefas que desenvolvem, as quais requerem alta concentração, grande esforço mental, sem falar no vício de fazer reduzidíssimas pausas.
VARIÁVEIS
Adriana optou por um estudo transversal, entre fevereiro e dezembro de 2013, no qual empregou dois questionários a fim de obter informações sobre os usuários do PC e um teste visual, que demorava cerca de 20 minutos. Os professores agendavam um horário, respondiam os dois questionários e passavam pelo teste. Nesse trabalho, foram observadas três variáveis significativas em relação aos professores: a idade, que minimiza as chances de ocorrência; as horas de uso diário no computador, que aumentam essas chances; e os problemas vergenciais, como insuficiência ou excesso de convergência ou divergência, associados ao aparecimento da síndrome. A pesquisadora propôs três grupos de fatores a serem controlados para evitar essa síndrome. Foram eles os visuais (uso da correção visual e da visão binocular, acomodação e superfície ocular protegida em especial pela lágrima), os organizacionais (horas de uso do computador, os horários de trabalho e as pausas frequentes) e os fatores do posto de trabalho com computadores (iluminação, presença de ar-condicionado ou ventiladores direcionados para os olhos). “Acredito que deva haver estímulos para que seja construído um quadro da real situação da saúde visual dos trabalhadores que usam computadores. Este conhecimento permitirá avançar na sua promoção, prevenção e tratamento”, acredita. Essa doença contém 14 tipos de sintomas (visuais, oculares e musculoesqueléticos) e, dependendo do diagnóstico, é feito um tratamento individualizado, que não pode ser generalizado para todos os usuários de computador, uma vez que depende dos sinais e sintomas de cada indivíduo.
CONTROLE
Segundo Adriana, para superação dessa síndrome, devem ser controlados os fatores visuais, organizacionais e os fatores do posto de trabalho. A visão do paciente deve ser corrigida e sua saúde ocular precisa ser restabelecida.
Profissão não é reconhecida no país Adriana vive na Colômbia, país em que a Optometria é uma profissão reconhecida e que atua dentro do serviço público de saúde de mãos dadas com a oftalmologia, para a promoção e a prevenção da saúde visual. O profissional dessa área pode prescrever correções ópticas como
A atividade da pessoa deve ser adequada ao trabalho com computadores, com cadeiras ergonomicamente idealizadas, telas com tamanho confortável, brilho e contraste que não prejudiquem a visão. E os horários de trabalho devem incluir pausas frequentes. Adriana reconhece que hoje não existe no Brasil nenhuma política pública para a promoção e prevenção da síndrome, e isso faz com que a maioria de pessoas desconheça a importância de cuidar de sua visão, ter hábitos saudáveis para o uso do computador e como tem que ser o ambiente de trabalho. “A prevenção entre usuários de computador diminuiria consideravelmente o aparecimento da síndrome”, garante. O acesso ao profissional da visão é a primeira abordagem a ser garantida para controlar a síndrome, mas no país, com a centralização da saúde visual no oftalmologista, este acesso infelizmente é limitado. De acordo com a pesquisadora, é preciso integrar a saúde ocular a todos os níveis de atenção, ampliando a participação dos demais profissionais da saúde, entre eles o optometrista, ressalta. Apesar do foco de sua pesquisa ser o professor, Adriana comenta que, em crianças, o processo é o mesmo. Elas não devem estar expostas a largas jornadas no computador, por mais de duas horas. Quando isso acontecer, necessitam estar cercadas de hábitos mais saudáveis, com os pais enfatizando posições ergonômicas adequadas. Comumente, usar o computador na cama ou no sofá, esclarece ela, pode causar distúrbios visuais e muscoloesqueléticos, ainda mais porque a visão das crianças até os nove anos de idade está em desenvolvimento constante. Até essa idade é fundamental vigiar de perto a sua saúde visual, aconselha. As crianças devem ser avaliadas obrigatoriamente a cada ano por um profissional da saúde visual, porque problemas visuais não corrigidos na infância podem ser irreversíveis na idade adulta.
óculos e lentes de contato, efetuar tratamentos das anomalias (refrativas, sensitivas, binoculares e motoras), diagnosticar e tratar problemas do segmento anterior do olho, além de detectar patologias no segmento posterior do olho. No Brasil, a Optometria não é devidamente reconhecida. Foto: Divulgação
Adriana Castillo Estepa, autora da dissertação: “A prevenção entre usuários de computador diminuiria consideravelmente o aparecimento da síndrome”
Publicação Dissertação: “Saúde visual no trabalho e a Síndrome da Visão do Computador em professores universitários” Autora: Adriana Castillo Estepa Orientadora: Aparecida Mari Iguti Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
PAINEL DA SEMANA Homenagem a Marco Antonio Teixeira - O Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) organiza entre 26 e 29 de maio, o VI Workshop on Dynamical Systems - MAT 70, em homenagem aos 70 anos de Marco Antonio Teixeira, professor titular aposentado pelo Imecc. O evento contará com 22 palestras de pesquisadores de ponta na área dos Sistemas Dinâmicos, oriundos do Brasil, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, França, Bélgica, China, além de um minicurso e várias apresentações de pôsteres. Apoio: Capes, CNPq, Fapesp, BREUDS/UE, além do INCTMat/CNPq e Imecc. Programação no site http://www.mat70.com/. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6028 ou e-mail rmiranda@ime.unicamp.br Cognição e artes musicais - O Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics) organiza, de 26 a 29 de maio, a 10ª edição do Simpósio de Cognição e Artes Musicais (Simcam). A abertura oficial do simpósio ocorre às 14h30, no Centro de Convenções da Unicamp. Algumas atividades do Simcam serão realizadas no Instituto de Artes (IA) e na Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC). O Simcam é um evento anual promovido pela Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) e realizado em parceria com universidades brasileiras. Trata-se de um simpósio multidisciplinar dedicado à discussão científica de questões relevantes aos processos cognitivos em Música, em suas várias dimensões. Conferências, mesas-redondas, comunicações, sessões de apresentação de projetos de pesquisa, pesquisas em andamento e seus resultados, apresentações artísticas entre outras atividades estão no programa. O evento está sob a organização de José Eduardo Fornari Novo Junior. Mais detalhes no site http://www.abcogmus.org/simcam/index.php/simcam/simcam10, telefone 19-3521-7923 ou e-mail beth@nics.unicamp.br Micro-organismos probióticos em alimentos - A Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) promove, entre 26 e 30 de maio, o workshop “Micro-organismos probióticos em alimentos: microbiologia, tecnologia, funcionalidade e inovação”. O evento é organizado por docentes da Unicamp, da Universidad Nacional del Litoral (Argentina) e conta com a participação de palestrantes de universidades brasileiras e de órgãos governamentais. Mais detalhes no http://www. fea.unicamp.br/extensaoworkprobioticos.html Crise energética - Encontro organizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp visa debater com especialistas, a crise pela qual estamos passando no país e quais os possíveis meios para combatê-la. O evento acontece no dia 28 de maio, das 8h30 às 12h30, na Casa do Professor Visitante (CPV). Setor Elétrico, Petróleo e Gás e Bioenergia são os temas a serem abordados. Mais informações: telefone 19-3521-1718 ou email bianca@nipeunicamp.org.br
A arte e a formação do estudante universitário - A Faculdade de Educação (FE) recebe no dia 28 de maio, a professora Silvia Maria Cintra da Silva, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Na ocasião, ela profere a palestra “A arte e a formação do estudante universitário: desafios para o nosso tempo”. O encontro acontece às 9 horas, no Salão Nobre da FE e é promovido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (Gepec). A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Mais informações pelo telefone 19-3521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br Coleções biológicas - Divulgar as coleções da Unicamp ao público acadêmico e empresarial visando atender a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico com qualidade, embasamento científico e em conformidade com a legislação vigente. Este é o objetivo do workshop “Coleções biológicas e seu impacto no desenvolvimento científico e tecnológico nacional e internacional”, evento organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e que será realizado no dia 28 de maio, às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). As inscrições podem ser feitas no link http://www. prp.rei.unicamp.br/inscricoes/formulario.php?id=4. No workshop serão abordadas as coleções biológicas já constituídas pela Unicamp e apresentadas as experiências consolidadas pela Fiocruz e Embrapa. Docentes, alunos de graduação e de pós-graduação e empresas que fazem uso da biodiversidade brasileira para pesquisa, desenvolvimento e inovação nas áreas alimentícia, farmacêutica, cosmética, entre outras, são o público-alvo. Mais detalhes sobre o evento podem ser obtidos mediante contato com o telefone 19-3521-2798 ou site http://www.prp.unicamp.br/index.php/colecoes-biologicas-eseu-impacto-no-desenvolvimento-cientifico-e-tecnologico-nacionale-internacional A educação estética na pedagogia Waldorf - Palestra será ministrada por Jonas Bach Junior, pós-doutorando pela Faculdade de Educação (FE), dia 28 de maio, às 14h30, no Salão Nobre da FE. A participação no evento é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Informações: 19-3521-5565. As contribuições da clínica da atividade de Yves Clot - No dia 28 de maio, a professora Selma Venco, da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, profere palestra sobre o assunto. O evento é promovido pelo Núcleo de Estudos Trabalho, Saúde e Subjetividade e ocorre às 14 horas, na Sala ED14 da FE. A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Mais informações: 19-3521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br O pensamento de Ana Clara Torres Ribeiro - No dia 28 de maio, às 14 horas, no auditório do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, Leila Christina Dias (UFSC) e Fernanda Sanches (UFF) debaterão o tema “O pensamento de Ana Clara Torres Ribeiro: contribuição para a formação de uma teoria social crítica”. O debate está sob a coordenação da professora Adriana Bernardes (Unicamp). Trata-se de evento em homenagem à pesquisadora Ana Clara Torres Ribeiro (falecida em 2011), reconhecida nacional e internacionalmente como fonte de reflexão teórica imprescindível nas áreas de ciências sociais, humanas, no campo da saúde pública, nas artes e na cultura e como inspiradora de ações políticas junto a segmentos populares. Outros debates relacionados à vida e obra de Ana Clara Ribeiro ocorreram na USP de Rio Claro e na Unesp de Presidente Prudente e Rio Claro. Informações: 19- 3521-5114. Campus Tranquilo - As próximas reuniões do Programa Campus Tranquilo acontecem no dia 28 de maio, às 14h30, no Instituto de Economia (IE); e no dia 29, às 10 horas, no Hospital Prof. Dr. “José Aristodemo Pinotti”, o Caism da Unicamp. Conheça o site do Programa http://www.cgu.unicamp.br/campus_tranquilo.php Quartas Interdisciplinares - No dia 28 de maio, às 16 horas, no Anfiteatro UL01 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira-SP, acontece mais um encontro do evento Quartas Interdisciplinares (QIs), promovido pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da FCA. Desta vez, o tema a ser tratado será “Pensamento humanístico e condição humana na modernidade”. As QIs são coordenadas pelos professores Eduardo Marandola Júnior e Álvaro D’Antona. Mais informações: telefone 19-3701-6674 ou e-mail chs@fca.unicamp.br PNE: desafios para a educação básica - A Faculdade de Educação (FE), por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional (Greppe), realiza, dia 28 de maio, uma mesa-redonda com os professores Rubens Barbosa de Camargo, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), e com Vaniza Guidotti, presidente do Conselho Municipal de Educação de Paulínia/SP. O evento ocorre às 19 horas, no Salão Nobre da FE. “PNE: desafios para a Educação Básica” é o tema a ser tratado. A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Mais informações: 19-3521-5565.
DESTAQUE
As artes de curar, segundo Machado de Assis - Sidney Chalhoub, historiador e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, é o convidado do Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde (GEHCS) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Em reunião aberta no dia 29 de maio, às 15 horas, no anfiteatro da Comissão de Ensino de Graduação em Medicina da FCM, ele fala sobre “As artes de curar, segundo Machado de Assis”. Será emitido certificado de participação. Inscrições no dia do evento. Informações adicionais pelo e-mail cmemoria@fcm.unicamp.br ou telefone 19-3521-9116. Internacionalização de empresas - O Fórum “Rotas para a internacionalização de pequenas e médias e empresas e de empresas de base tecnológica” será realizado no dia 29 de maio, das 14 às 22 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira-SP. O evento está sob a responsabilidade dos professores Cristiano Morini, Edmundo Inácio Júnior e Muriel Gavira de Oliveira. Um dos palestrantes será Andre Luiz Souza Limp de Azevedo, analista de negócios Internacionais da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Mais detalhes no http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno66.html ou telefone 19-3521-5039. A geografia e os geógrafos - O corpo discente do curso de Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp organiza conferência em comemoração ao Dia do Geógrafo. Será com a professora aposentada pela USP, Maria Adélia Aparecida de Souza, dia 29 de maio, às 19h30, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes. Na ocasião, ela aborda o tema “A geografia e os geógrafos: método e práticas na construção do futuro”. Mais detalhes pelo telefone 193521-4196 ou e-mail rafaelstrafo@ige.unicamp.br Domingo no Lago - Próxima edição do evento cultural organizado pelo Espaço Cultural Casa do Lago acontece no dia 1º de junho, a partir das 10h30, na rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Atrações: o Grupo Trancos e Barrancos com a peça teatral “A Família Ratos”, a Cia Alaska com a peça “O Circo Laska agora está laskado” e o Coral Canarinhos da Terra em conjunto com os grupos Koralito, Alegretto e Meninos Cantores em apresentação do concerto “Tema MPB: e Chico Buarque de Holanda”. Todas as atividades são gratuitas. O Domingo no Lago é aberto à participação da comunidade interna e externa ao campus da Unicamp. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7017 ou e-mail casadolago@reitoria. unicamp.br
TESES DA SEMANA Biologia - “Participação dos receptores purinérgicos P2X3 e P2X7 na hiperalgesia inflamatória articular em joelho de ratos e o estudo dos mecanismos periféricos envolvidos” (doutorado). Candidata: Juliana Maia Teixeira. Orientadora: professora Claudia Herrera Tambeli. Dia 27 de maio de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do prédio da CPG do IB. Computação - “Problemas de emparelhamentos estáveis” (mestrado). Candidato: Maycon Sambinelli. Orientador: professor Orlando Lee. Dia 27 de maio de 2014, às 10 horas, na sala 85 do IC. Engenharia Agrícola - “Desenvolvimento de sistemas de preferência ambiental para frangos de corte e galinhas poedeiras” (doutorado). Candidata: Ana Paula de Assis Maia. Orientadora: professora Daniella Jorge de Moura. Dia 29 de maio de 2014, às 14 horas, no anfiteatro da Feagri. “Otimização do processo de secagem contínua com aplicação de radiação infravermelha em um secador agitador/misturador” (doutorado). Candidata: Carolina Maria Sánchez Sáenz. Orientador: professor Rafael Augustus de Oliveira. Dia 30 de maio de 2014, às 14 horas, no anfiteatro da Feagri. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Estudo comparativo de métodos eficientes para análise de redes complexas de abastecimento de água” (doutorado). Candidato: Edwin Antonio Aranda Saldaña. Orientador: professor Paulo Vatavuk. Dia 30 de maio de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Estudo da dinâmica de indivíduos para rastreamento multi-alvo utilizando conjuntos aleatórios finitos” (doutorado). Candidato: Victor Baptista Frencl. Orientador: professor João Bosco Ribeiro do Val. Dia 29 de maio de 2014, às 14 horas, na sala PE-11 da FEEC.
“Contribuições ao problema de filtragem H-infinito para sistemas dinâmicos” (doutorado). Candidato: Márcio Júnior Lacerda. Orientador: professor Pedro Luis Dias Peres. Dia 30 de maio de 2014, às 9 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Algoritmos para redes de transporte multimodal aplicado ao tráfego urbano” (doutorado). Candidata: Juliana Verga Shirabayashi. Orientador: professor Akebo Yamakami. Dia 30 de maio de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. Engenharia Mecânica - “Estudo experimental e numérico da formação de frost em torno de três cilindros com arranjo triangular” (doutorado). Candidata: Raquel da Cunha Ribeiro da Silva. Orientador: professor Carlos Teófilo Salinas Sedano. Dia 29 de maio de 2014, às 14 horas, no auditório do DETF da FEM. “Caracterização do fresamento de chapas do compósito polímero reforçado com fibras de carbono (PRFC)” (doutorado). Candidato: Francisco Romeo Martins. Orientador: professor Nivaldo Lemos Coppini. Dia 29 de maio de 2014, às 14h30, na sala JD2 da FEM. Engenharia Química - “Purificação de fragmento Fab humano em níquel, cobre, cobalto e zinco quelatados ao CM-Asp” (mestrado). Candidata: Cecília Alves Mourão. Orientadora: professora Sonia Maria Alves Bueno. Dia 29 de maio de 2014, 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Desenvolvimento de sistema microfluídico baseado em gradiente de concentração difusivo para bioprocessos” (mestrado). Candidata: Aline Furtado Oliveira. Orientadora: professora Lucimara Gaziola de La Torre. Dia 30 de maio de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Física - “Uma Introdução à teoria quântica de campos: quebra espontânea de simetria” (mestrado). Candidato: Heitor do Amaral Jurkovich. Orientador: professor Marcelo Moraes Guzzo. Dia 28 de maio de 2014, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Dissipação e descoerência quântica em oscilação de neutrinos” (mestrado). Candidato: Guilherme Balieiro Gomes. Orientador: professor Marcelo Moraes Guzzo. Dia 29 de maio de 2014, às 15 horas, no Auditório Méson - Pi do DRCC do IFGW. Geociências - “A universidade empreendedora no Brasil: uma análise das expectativas de carreira de jovens pesquisadores juniores” (mestrado). Candidata: Nathalia Dayrell Andrade. Orientador: professor André Luiz Sica de Campos. Dia 28 de maio de 2014, às 14 horas, na sala B do DGRN do IG. “Evolução paleoambiental da Bacia Bauru na região de Campina Verde, oeste de Minas Gerais” (mestrado). Candidata: Camila Tavares Pereira. Orientador: professor Alessandro Batezelli. Dia 29 de maio de 2014, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem - “As artes visuais, a música e a construção de sentidos na expressão do poeta da Argentina Jorge Aulicino” (mestrado). Candidato: Márcio Luiz Oliveira Pinheiro. Orientadora: professora Silvana Mabel Serrani. Dia 27 de maio de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica “Uma comparação entre semblances no método de ponto médio comum” (mestrado). Candidata: Daniela Midori Kamioka. Orientadora: professora Maria Amélia Novais Schleicher. Dia 30 de maio de 2014, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Relação entre proporção digital (2d:4d) e linfoma de Hodgkin” (mestrado). Candidato: José Laurentino Ferreira Filho. Orientador: professor Jacks Jorge Junior. Dia 26 de maio de 2014, às 9 horas, no anfiteatro 2 da FOP. “Influência de variáveis socioeconômicas no impacto da saúde bucal e na qualidade de vida em crianças e adolescentes” (doutorado). Candidata: Fabiola Diogo de Siqueira Frota. Orientadora: professor Maria Beatriz Duarte Gavião. Dia 29 de maio de 2014, às 8h30, na sala da Congregação da FOP. “Efeitos da articaína livre e associada a lipossomas com gradiente de ph transmembranar sobre a viabilidade celular e expressão de il-6 em queratinócitos humanos (HACAT)” (mestrado). Candidato: Bruno Vilela Muniz. Orientadora: professora Maria Cristina Volpato. Dia 30 de maio de 2014, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. Química - “Desenvolvimento de formulação lipídica nanoestruturada utilizando miristato de miristila e ceramidas no carreamento de estradiol: avaliação físico-química e biológica” (mestrado). Candidata: Jeanifer Caverzan da Silva. Orientador: professor Nelson Eduardo Durán Caballero. Dia 30 de maio de 2014, às 13 horas, no miniauditório do IQ.
DO PORTAL
Tecnologia de graduada pela Incamp vai ser utilizada nas eleições deste ano Griaule Biometrics, empresa graduada pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), venceu a concorrência com multinacionais estrangeiras por um negócio de R$82 milhões e irá fornecer um servidor biométrico de altíssima tecnologia para o Tribunal Superior Eleitoral(TSE). Com estimativa para começar a ser utilizado ainda nas eleições deste ano, a tecnologia possibilita que o TSE faça o reconhecimento de 160 milhões de eleitores em todo o território nacional por meio das impressões digitais, conferindo maior segurança e eficiência ao processo eleitoral brasileiro. Atualmente, o sistema eleitoral brasileiro abrange 142,4 milhões de pessoas, mas deve atingir os 160 milhões em 2017, ano em que todos os votantes devem estar totalmente cadastrados. Este número faz com que o sistema de identificação biométrica nacional seja considerado o maior do mundo. “Considerando que são coletadas as digitais dos 10 dedos de cada pessoa, o número de comparações que o software de reconhecimento tem que processar é da ordem de quintilhões”, explica Felipe Bergo, pesquisador da empresa. A tecnologia fornecida pela Griaule deverá ser implementada 120 dias antes das eleições deste ano para fazer a validação biométrica de toda a base coletada até agora, com a finalidade de garantir a segurança do pleito. “O TSE possui atualmente um banco de dados com 24 milhões de eleitores cadastrados. Entre-
tanto, essa base não possui garantia de unicidade, ou seja, é possível que uma pessoa mal intencionada tenha se cadastrado duas vezes nesse banco, com nomes diferentes. O objetivo da contratação do TSE é validar a base de dados - verificando, registro por registro, se existe alguma duplicidade”, comenta Iron Daher, CEO da Griaule Biometrics. “O produto adquirido pelo TSE, o GBS Server, é fruto de mais de 10 anos de desenvolvimento e pesquisa feitos pela Griaule, com o apoio de instituições de fomento à inovação e pesquisa como a Finep, a Fapesp e o CNPq, além da Agência de Inovação Inova Unicamp. O GBS Server é um servidor de autenticação biométrica, responsável por armazenar, validar e autenticar os dados biométricos dos eleitores brasileiros”, afirma Daher. O empresário lembra que o sistema é o mais preciso do mundo, recebendo certificações de interoperabilidade e qualidade de órgãos norte-americanos como o Federal Bureau of Investigation (FBI) e o National Institute of Standards and Tecnology (NIST). Em 2006, o algoritmo de reconhecimento do Sistema Automatizado de Identificação de Impressões Digitais em larga escala (AFIS) da Griaule conquistou o primeiro lugar na Figerprint Verification Competitition (FVC2006), considerado o Prêmio Nobel na área de biometria. Segundo Daher, a experiência adquirida na Incubadora da Unicamp foi essencial para a implementação da tecnologia e também para seu sucesso. “A incu-
Foto: Carolina Octaviano
Iron Daher, CEO da Griaule: servidor de autenticação biométrica armazena, valida e autentica os dados biométricos dos eleitores
bação na Unicamp, facilitada pela Inova, foi essencial para o desenvolvimento da Griaule. Ainda incubada, a empresa participou do FpVTE, competição organizada pelo NIST, que buscava certificar sistemas como capazes
de lidar com grandes quantidades de dados. A proximidade com outras empresas permitiu que a Griaule se destacasse nessa competição, trazendo credibilidade para a marca”, conclui. (Carolina Octaviano)
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
Fotos: Divulgação
Na sequência, participante do teste antes de pedalar, pedalando dentro do aparelho de ressonância magnética funcional (centro) e detalhe do eixo que transmite o torque para o ciclo ergômetro acoplado ao equipamento
Estudo avalia efeito de carboidrato no cérebro durante exercício físico
Foto: Antonio Scarpinetti
Nutricionista constata que o substrato ativa áreas sensoriais e relacionadas ao comportamento CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
esquisa realizada pela nutricionista Gabriela Kaiser Fullin Castanho junto à Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, orientada pela professora Paula Teixeira Fernandes, do Departamento de Ciência do Esporte, propôs-se a avaliar o efeito do consumo de carboidrato na ativação cerebral durante exercício físico. Sabe-se que carboidratos estão relacionados com o melhor desempenho esportivo. Por vias diretas ou indiretas, o substrato mantém a glicemia, poupa glicogênio, repõe glicogênio muscular e também exerce papel importante no cérebro como fonte de energia, podendo melhorar a função neural durante exercícios físicos. É possível também que, com o consumo de carboidratos, ocorra diferenciação na ativação de outras áreas cerebrais relacionadas ao desempenho no exercício. A nutrição adequada tem sido relacionada ao melhor desempenho esportivo, sendo a dieta variada em carboidrato, proteína, gordura e micronutrientes, importante para a manutenção da saúde e para a melhora do desempenho. Estudos têm mostrado que o melhor substrato para a prática de exercício físico é o carboidrato, o que torna imprescindível que atletas adotem estratégias adequadas para o seu consumo antes, durante e depois de treinos e competições. Sabe-se que o aumento da concentração de serotonina no cérebro, durante exercício físico intenso e prolongado, leva ao desenvolvimento da fadiga e consequente diminuição do desempenho. A suplementação com carboidrato contribui para a diminuição da serotonina, o que pode levar ao retardamento dos sintomas de fadiga. Quando Gabriela chegou ao Departamento de Ciência do Esporte da FEF para a pós-graduação, encontrou proposta envolvendo estudo conjunto com o Departamento de Neurologia do HC, que procurava relacionar modificações no cérebro em decorrência do exercício. Trata-se de uma abordagem ainda nova envolvendo a chamada neurociência do esporte. Ela então teve a ideia de estudar alguns nutrientes e avaliar suas influências no cérebro durante o exercício para beneficiar o rendimento. E explica: “Como o carboidrato é a fonte energética mais estudada, constituindo 60% a 70% da fonte de energia do organismo, achamos mais interessante começar com ele antes de partir para outras substâncias”. Com base nesse quadro, o estudo objetivou avaliar o efeito do consumo de carboidrato na ativação cerebral por ocasião do exercício físico realizado durante a aquisição de ressonância magnética funcional (RMf), que permite acompanhar o funcionamento do cérebro. A RMf constitui uma modalidade da neuroimagem que possibilita determinar alterações do estado funcional do cérebro de forma não invasiva, constituindo-se uma ferramenta capaz de detectar e dimensionar a atividade metabólica em função de sinal relacionado ao nível de oxigênio do sangue. Com a técnica de RMf é possível descobrir quais áreas cerebrais específicas apresentam alterações relativas ao oxigênio causadas por modificações na atividade neural. A RMf permite tomadas de regiões do cérebro em frações de segundo, possibilitando acompanhar, como em um conjunto de fotografias instantâneas, o seu funcionamento em momentos muito próximos, permitindo a detecção de regiões
A nutricionista Gabriela Castanho: “Achamos mais interessante começar com o carboidrato antes de partir para outras substâncias”
mais ativas, menos ativas e até relativamente inativas. Isso é feito através do que se chama de sinal de oxigênio dependente, porque a área mais ativa consome mais oxigênio e glicose. A RM atua através do sinal dado pelo consumo de oxigênio, que se mostra maior ou menor de acordo com a atividade da área. A pesquisa contou com a participação de dez ciclistas voluntários do sexo masculino que realizaram protocolo de pedalada em cicloergometro acoplado à RMf em que consumiam 50g de carboidrato (maltodextrina) ou solução placebo (um suco dietético sem carboidrato), com paladar similar ao carboidrato, no intervalo de duas séries de exercícios. Ela comparou as imagens da RMf desses mesmos atletas antes que fizessem uso do carboidrato ou do placebo com as obtidas depois do consumo de cada um deles separadamente. Este complexo estudo orientado pela professora Paula Teixeira Fernandes contou com a colaboração do físico médico Brunno Machado de Campos, funcionário do Departamento de Neurologia a FCM da Unicamp, que participou da análise de interpretação dos dados coletados, e do educador físico Eduardo Bodnariuc Fontes, idealizador do protótipo, aluno de pós-doutorado do mesmo Departamento de Neurologia.
RESULTADOS
A pesquisadora constatou que tanto o carboidrato como o placebo utilizados ativaram áreas sensoriais e relacionadas ao comportamento, embora o carboidrato se tivesse distin-
Publicação Dissertação: “Efeito do consumo de carboidrato na ativação cerebral durante exercício físico” Autora: Gabriela Kaiser Fullin Castanho Orientadora: Paula Teixeira Fernandes Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)
guido por ativar outras duas áreas importantes em relação ao desempenho no exercício relacionadas a motivações, emoções e tomadas de decisões, o que o placebo não fez. Como esperado, durante as fases dos exercícios em que os atletas não recebiam carboidrato nem placebo, o cérebro apresentava interatividade mais pronunciada principalmente nas áreas relacionadas ao movimento, que são o cerebelo e o lobo frontal. Com o consumo do carboidrato também se mostraram ativadas áreas relacionadas à motivação, a tomadas de decisões, a emoções. Isto não era observado quando ocorria a administração de placebo, embora continuassem devidamente ativadas as áreas restritas aos movimentos. A propósito, Gabriela lembra que se sabe que o substrato carboidrato contribui para estimular o atleta no exercício. O estudo então pretendeu verificar que áreas do cérebro se mostravam efetivamente ativas para exercer essa interação. Nos estudos de neurociência considera-se a possibilidade de o cérebro atuar como sinalizador para o organismo quanto à possibilidade de prosseguir no esforço ou interrompê-lo. É ele que determina o momento em que o exercício deve ser interrompido por falta energia ou o estimula diante dos sinais de que as reservas energéticas são suficientes. A pesquisadora esclarece que o efeito do consumo de carboidrato se manifesta não apenas na parte periférica do organismo, constituída por nervos, músculos, órgãos, tecidos, mas também no cérebro e no sistema nervoso central. Ela conclui daí que as ativações constatadas em certas regiões do cérebro pelo consumo de carboidrato podem explicar a manutenção e até aparente superação do atleta durante o exercício físico. Para Gabriela, ao comparar o efeito do carboidrato e do placebo na atividade das áreas cerebrais, o estudo apresentou resultados satisfatórios ao mostrar que o carboidrato ativou áreas relacionadas à tomada de decisões e motivações, fatores cruciais para o rendimento esportivo. Embora o placebo tenha apresentado papel importante na ativação de áreas relacionadas ao estado psicológico, não mostrou benefícios para o exercício.
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Campinas, 26 de maio a 1º de junho de 2014
Vozes imaginadas PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
Foto: Antoninho Perri
oite de gala na Casa da Ópera de Manuel Luís, Rio de Janeiro, teatro em atividade entre os poucos existentes no Brasil no período colonial. A plateia espera para assistir La modista raggiratrice de Giovanni Paisiello, ópera cômica que traz no papel principal a cantora lírica Joaquina Maria da Conceição da Lapa, a Joaquina Lapinha, como é conhecida. Além dela, apresentam-se Francisca e Maria Candida, de quem hoje, três séculos depois, ainda nada se sabe. A não ser que eram sopranos e que, assim como Lapinha, possivelmente aprenderam as técnicas do bel canto italiano com os castrados portugueses e que, sobretudo, desapareceram do cenário artístico colonial antes do fim da segunda década do século 19. Especula-se que eram mulatas libertas. Certamente atrizes no período em que a mulher não podia estar no teatro sob a suspeita de ser confundida com meretriz. Considerando-se a escassez de fontes primárias de características biográficas, a atuação dessas personagens no ambiente lírico-musical carioca do Brasil Colônia pode ser resgatada por meio do repertório que executaram. Suas vozes nunca foram ouvidas, mas imaginadas por Alexandra van Leeuwen, a pesquisadora da Unicamp que buscou, em Portugal, os manuscritos da representação colonial da ópera e os analisou com o objetivo de entender como as intérpretes transformavam a obra, imprimindo uma versão única bem mais elaborada tecnicamente. Alexandra já havia “descoberto” Lapinha em sua dissertação de mestrado, quando estudou o repertório do padre José Maurício Nunes Garcia, compositor de destaque no período colonial, dedicado à cantora e atriz. Na época ela teve contato com os manuscritos de música dramática luso-brasileira de propriedade da Biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, na região do Alentejo, em Portugal. A pesquisadora buscava um espólio da intérprete, mas acabou identificando um material bem mais extenso, relacionado ao teatro carioca em atividade entre os fins do século 18 e início do 19. O trabalho de identificação das fontes foi feito com a ajuda do professor da Universidade Nova de Lisboa, David Cranmer. Dentre os manuscritos relacionados à prática luso-brasileira, Alexandra destacou os da ópera La modista raggiratrice. “A princípio não havia nada de especial no material para a prática brasileira, trata-se de uma ópera de um autor napolitano. Porém, os manuscritos eram os únicos que traziam nas partes cavadas vocais femininas, as modificações realizadas pelas intérpretes da ópera na Colônia, principalmente no que se refere à ornamentação. A versão base da ópera tem linhas melódicas bastante simples, mas, incluindo essa ornamentação, sua execução tornase mais exigente do ponto de vista técnico-vocal”, explica Alexandra. O estudo paleográfico, ou seja, das escritas antigas, foi feito pelo professor Cranmer e permitiu identificar
os copistas envolvidos. A pesquisadora, por sua vez, verificou que, nas partes separadas para os cantores havia anotações “como se fossem de um ensaio e sempre nas partes femininas”. Em Portugal, houve uma representação da ópera em 1792 no Real Teatro de Salvaterra – esta é a versão que corresponde à parte dos manuscritos que compõem a cota relacionada à obra no acervo de Vila Viçosa. “Tenho vários maços nessa cota, um maço com as partituras completas e as partes cavadas de instrumentos e outros dois maços com partes cavadas de vocais para o primeiro e o segundo ato da ópera”. Nestes manuscritos, constam os nomes dos intérpretes dos papéis femininos na versão lusitana, que foram executados por castrados. Na versão colonial, as anotações foram feitas na mesma partitura, trazendo o nome do cantor ou da cantora. A pesquisadora acredita que o material possivelmente foi utilizado no Brasil depois do retorno da cantora Lapinha de Portugal, em 1805, até no máximo 1813, quando o teatro de Manuel Luís foi fechado, devido à inauguração do Real Teatro de São João. “Parti da versão de 1792 acrescentando a ornamentação que estava presente nas partes separadas aos cantores. Comparei os manuscritos com outras versões da ópera, incluindo o manuscrito parcialmente autógrafo de Paisiello, que é de 1787 e está na biblioteca do Conservatório San Pietro a Majella em Nápoles”. As principais anotações estão nas partes executadas por Joaquina Lapinha. São três árias ao longo da ópera que Alexandra considera bastante ornamentadas. “Pude analisar o que foi feito, quais recursos ela usava, e é possível supor que o tempo em que a cantora passou em Portugal, e teve contato com a escola italiana de canto, interferiu nesse trabalho”.
Foto: Divulgação
O padre José Maurício Nunes Garcia: obras de elevado nível técnico
Das partes executadas por Francisca há dentro da versão colonial uma segunda versão, com ornamentações diferentes. A pesquisadora sugere que Lapinha possa ter substituído a outra intérprete em uma segunda representação. “Esta segunda versão é mais ornamentada que a primeira, uma característica da Lapinha, como se comprova pelo elevado nível técnico das obras do padre José Maurício, dedicadas à cantora.” Assim como Lapinha, Alexandra é cantora lírica, soprano coloratura, ou seja, um tipo de voz cujo repertório apresenta passagens melódicas de grande agilidade e ornamentação elaborada, valorizando a extensão vocal.
CASTRADOS
Alexandra van Leeuwen, autora do estudo: busca, em Portugal, por manuscritos da representação colonial da ópera
Diferentemente de outros países, Portugal ainda mantinha ao final do século 18 e início do 19, segundo Alexandra, a tradição dos castrados, que tiveram atuação representativa na cena dramática no período em que a Lapinha se apresentava por lá. Os castrados portugueses dominavam as técnicas da escola de bel canto (ou belo canto) italiano, cujo maior expoente é o compositor Gioachino Rossini, autor da ópera O barbeiro de Sevilha. Joaquina Lapinha teria atuado por um período de seis meses, no Real Teatro de São Carlos em Lisboa, no mesmo período em que Girolamo Crescentini, famoso castrato italiano se apresentava em Portugal. “As cantoras mulatas, especialmente a Lapinha, elaboravam bastante as linhas melódicas de acordo com as práticas do bel canto, da escola italiana, usando muito da ornamentação do repertório napolitano. O que vemos é improvisação livre, italiana, em contraposição à francesa que é mais restrita. Isso dá essa relação direta com a prática dos castrados”. Quando a Corte vem para o Brasil, os castrados e também companhias de fora começam a se apresentar no país. As personagens estudadas por Alexandra vão aos poucos desaparecendo do cenário artístico colonial. A intenção da pesquisadora com o estudo era mostrar que mais que coadjuvantes, Lapinha, Francisca e Maria Candida eram personagens principais no teatro do período e suas atuações alteraram o cenário da música dramática no Rio de Janeiro colonial. A participação das cantoras envolve a questão do gênero e também racial, uma vez que as mulheres brancas e da elite não atuavam nesse ambiente. Alexandra chama a atenção ainda para o repertório estudado que está disponível aos pesquisadores do período e estudantes de canto. “É uma fonte bastante rica para o desenvolvimento técnico-vocal”, salientou.
Publicação Tese: “O canto feminino na América Portuguesa: diálogos e intersecções na representação colonial de ‘La modista raggiratrice’ de Paisiello” Autora: Alexandra van Leeuwen Orientador: Edmundo Pacheco Hora Coorientadora: Adriana Giarola Kayama Unidade: Instituto de Artes (IA)