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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Campinas, 2 a 8 de junho de 2014 - ANO XXVIII - Nº 599 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Foto: Divulgação

Da Unicamp para Harvard Imageamento por espectrometria de massas durante cirurgia para retirada de tumor cerebral

Uma técnica pioneira, que permite identificar marcadores químicos do câncer e que foi aplicada em cirurgias no Harvard Medical School, rendeu a Livia Eberlin, graduada pela Unicamp, o Nobel Laureate Signature Award 2014, prêmio concedido a autores da melhor tese em química dos Estados Unidos. Livia Eberlin aprendeu a técnica em sua iniciação científica no Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, do Instituto de Química da Unicamp.

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Foto: Agência Brasil

Foto: Reprodução

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Matemática explica rotina de formigueiro

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Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Divulgação

Agrônomo aperfeiçoa filtros para irrigação

Cresce judicialização em conflitos coletivos

Foto: Antonio Scarpinetti

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As memórias ambientais do Parque da Serra do Mar

Nanofios potencializam processadores de dados Foto: Antoninho Perri

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História e esquecimento em vila operária tombada


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TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Ratos correm por diversão Camundongos correm dentro de rodas de exercício mesmo quando estão livres na natureza, mostra estudo realizado por pesquisadores holandeses da Universidade de Leiden e publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B. Normalmente presentes nas gaiolas em que os camundongos são mantidos em laboratório, as rodas de exercício permitem que os animais corram sem sair do lugar. Críticos defendem a ideia de que a corrida no interior da roda é um comportamento neurótico do animal, traumatizado pelo cativeiro. O trabalho dos cientistas holandeses contraria essa hipótese, ao demonstrar que mesmo camundongos livres se sentem atraídos pelos brinquedos e que a “duração dos episódios de corrida na roda, na natureza, é igual à do cativeiro”, o que sugere que a corrida não é um efeito neurótico, mas um “comportamento eletivo”.

Planetas demais A abundância de planetas pequenos – com, no máximo, quatro vezes a massa da Terra – descobertos em órbita ao redor de estrelas semelhantes ao Sol é “surpreendente”, diz artigo publicado no periódico PNAS, “já que faltam no nosso Sistema Solar”, onde apenas dois outros mundos, Vênus e Marte, são comparáveis ao nosso. Os autores do trabalho, de instituições dos Estados Unidos, realizaram uma compilação dos dados levantados pelo telescópio espacial Kepler, da Nasa, e concluíram que 25% das estrelas parecidas com o Sol têm planetas desse tipo. “Medições de densidade mostram que os planetas menores são feitos principalmente de rocha, enquanto que os maiores têm núcleo rochoso envolto nos gases hélio e hidrogênio, e provavelmente água”. Com base nesses dados, os autores pedem cautela no debate sobre o que seria a “zona habitável” de uma estrela – o volume de espaço ao seu redor onde um planeta poderia sustentar vida – e sugerem que a única forma de resolver a questão seria re-

alizando um “censo biológico” das estrelas próximas ao Sol, por meio de telescópios capazes de fazer análises químicas dos planetas observados.

Vacina para chimpanzés Uma vacina contra o vírus Ébola, testada em chimpanzés mantidos em cativeiro, mostrou-se segura e eficaz para aplicação nos animais que vivem na natureza, informa artigo publicado no periódico PNAS. Os autores do artigo, uma equipe que inclui pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, argumentam que o sucesso dos testes levantam questões éticas sobre o fim, já anunciado, dos estudos biomédicos em chimpanzés cativos, já que a preservação da própria espécie animal na natureza pode se beneficiar da prática, principalmente em populações de animais que contraíram doenças infecciosas pelo contato com seres humanos. Os autores apontam duas “dívidas éticas” da humanidade para com os chimpanzés – uma, mais geralmente reconhecida, com os animais usados como cobaias de laboratório; e outra, para com “os chimpanzés selvagens que morrerão de vírus transmitidos por turistas e cientistas”. Ao privilegiar uma dessas dívidas, como vêm fazendo os movimentos pelo fim dos estudos em primatas cativos, argumentam os pesquisadores, a comunidade científica corre o risco de ignorar a outra, “ainda maior”. Os autores propõem que o governo dos Estados Unidos, que vem se preparando para “aposentar” os chimpanzés cativos usados em pesquisas científicas, estabeleça uma população cativa exclusiva para estudos voltados para a conservação da espécie.

Beber em grupos é mais seguro, diz estudo Uma pesquisa encabeçada pela Universidade de Kent, no Reino Unido, indica que pessoas que consomem quantidades mode-

radas de álcool em eventos sociais tendem a se expor menos a riscos quando são parte de um grupo, e se comportam de modo mais perigoso quando estão sozinhas. De acordo com nota divulgada pela universidade, o resultado pode “levar a novas intervenções para promover o consumo recreativo saudável de bebidas alcoólicas”. O trabalho envolveu 101 voluntários com idades de 18 a 30 anos. Todos faziam parte de grupos que haviam consumido bebida antes de serem abordados pelos cientistas. Cada voluntário primeiro avaliou, sozinho, a probabilidade de se envolver numa situação arriscada – como dirigir depois de beber – e, em seguida, todo o grupo de amigos teve de chegar a um consenso sobre um outro tipo de situação arriscada. Também foram usados grupos de controle, envolvendo abstêmios. No fim, entre os bebedores, a resolução do grupo envolveu menos risco que a decisão tomada pelo bebedor solitário. “Esta pesquisa mostra que beber como parte de um grupo social pode mitigar os efeitos do consumo de álcool na aceitação de riscos”, disse uma das autoras, a pesquisadora Rose Meleady, da Universidade de East Anglia. O trabalho foi publicado no periódico Addiction.

Fezes fossilizadas distinguem culturas Fungos e bactérias encontrados em fezes fossilizadas no Caribe dão apoio à hipótese de que duas culturas distintas viveram na região de Viques, em Porto Rico, cerca de mil anos antes da chegada dos primeiros europeus às Américas, diz estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Microbiologia. “Coprólitos (fezes fossilizadas) são estudados com frequência, mas nunca antes tinham sido utilizados como ferramentas para determinar etnicidade ou distinguir entre culturas extintas”, disse, por meio de nota, a autora da pesquisa, Jessica RiveraPerez, da Universidade de Porto Rico. Na análise realizada pela cientista, foram examinadas amostras de DNA preservadas em coprólitos das duas culturas que, segundo o estudo arqueológico tradicional – feito a partir de vestígios como arte, ferramentas, etc. – teriam existido em Viques durante o

primeiro milênio da era comum. Comparando amostras de fungos e bactérias, os microbiologistas confirmaram a distinção de populações teorizada pelos arqueólogos, encontrando grandes diferenças entre os dois grupos humanos. “O estudo do paleomicrobioma de coprólitos sustenta a hipótese das ancestralidades múltiplas e pode oferecer evidências importantes sobre as antigas culturas e migrações do Caribe”, disse a autora.

A matemática das formigas Uma formiga individual tende a vagar ao acaso em busca de comida, mas o comportamento coletivo dos formigueiros ao procurar alimento é capaz de atingir um algo grau de ordem e eficiência, diz estudo matemático publicado no periódico PNAS. A compreensão do modo como as formigas fazem a transição do caos do movimento individual para a ordem da busca coletiva pode ajudar a estudar outros fenômenos, como os deslocamentos humanos pela internet. A equipe de autores, da China e da Alemanha, usou equações e algoritmos para analisar as informações levantadas por biólogos sobre o comportamento das formigas. Esses insetos marcam o caminho entre o formigueiro e a fonte de alimento com feromônios, que atraem outras formigas, o que reforça a trilha. E como os feromônios evaporam ao longo do tempo, quanto mais curta a rota, maior a chance de ela se perpetuar. Isso gera um efeito de reforço de eficiência, já que o caminho mais popular acaba sendo também o que requer menor gasto de energia. “Uma formiga sozinha não é esperta, mas o coletivo age de um modo que me sinto tentado a chamar de inteligente”, disse, por meio de nota, um dos autores do trabalho, Jürgen Kurths. “Coletivamente, as formigas formam uma rede complexa e altamente eficiente, algo que encontramos em muitos sistemas naturais e sociais”. Ele acredita que o modelo matemático criado a partir da compilação dos dados sobre formigas poderá se aplicar a outros animais que sempre retornam a um lar ou ninho, e também a alguns padrões humanos de comportamento.

Imagem: Divulgação/Nasa

Verdades químicas

Sistema de planetas de uma estrela distante, imaginado por artista da Nasa

A ONG britânica Sense About Science (“Sensatez sobre Ciência”) publicou, no fim de maio, a segunda edição de seu guia “Making Sense of Chemical Stories” (“Entendendo Histórias sobre Química”), um livro a respeito o modo como a química é tratada na mídia, principalmente em reportagens sobre bem-estar, estilo de vida e nutrição. “Em artigos sobre bem-estar e estilo de vida, produtos químicos são apresentados como coisas que devem ser evitadas ou eliminadas por meio do uso de meias, sabões ou dietas especiais, e que só causam mal à saúde e danificam o meio-ambiente”, diz a introdução do trabalho. “Mas a realidade química do mundo, em contraste, é de que tudo é feito de produtos químicos, que produtos químicos sintéticos frequentemente são muito mais seguros para a saúde humana que os chamados ‘naturais’ e que a ansiedade sem fundamento em relação a produtos químicos vem encorajando as pessoas a comprar ideias e ‘remédios’ que fazem muito pouco sentido do ponto de vista médico ou científico”. O livro está disponível gratuitamente, em inglês, no link http:// www.senseaboutscience.org/pages/makingsense-of-chemical-stories.html.

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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Técnica pioneira rende prêmio nos EUA a graduada pela Unicamp LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

ivia Eberlin, graduada pela Unicamp, foi premiada como autora da melhor tese em química dos Estados Unidos, recebendo o Nobel Laureate Signature Award 2014 – prêmio bastante cobiçado na área que traz a assinatura de todos os laureados com o Nobel de Química, nunca antes conquistado por um pesquisador brasileiro. Ela iniciou sua pesquisa ainda durante a graduação no Instituto de Química (IQ) e na iniciação científica no Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, onde aprendeu sobre a técnica ao ponto de ser aceita como doutoranda pelo professor Graham Cooks, o maior espectrometrista de massas da atualidade, na Universidade de Purdue. Na primeira vez em que Livia Eberlin se posicionou com seu equipamento na sala de cirurgia do hospital da Harvard Medical School, os médicos lhe dirigiram olhares céticos, como se perguntassem o que uma química fazia ali. Durante a cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, o cirurgião vai seccionando pequenos fragmentos da região afetada e passando-os ao patologista, que baseado no microscópio e na sua competência observa até onde avançou o tumor, orientando o cirurgião a parar ou continuar com o procedimento. Trata-se de um exame delicado, pois a diferença morfológica é mínima, havendo risco de se avançar sobre o tecido saudável, ou de parar antes de se retirar todo o tumor. O que a química brasileira fez com seu equipamento, um espectrômetro de massas, foi identificar marcadores químicos (moléculas) da doença, ao invés de diferenças de morfologia das células. Para isso, recorreu à técnica de imageamento, que se faz passando uma sonda sobre os fragmentos de tecido e obtendo na tela do computador uma imagem colorida que mostra com nitidez a superfície a ser retirada, contribuindo enormemente para a precisão da cirurgia. Outras cirurgias depois, química e patologista tornaram-se bons parceiros e a técnica passou a ser continuamente testada no hospital da Harvard. O professor Marcos Eberlin, responsável pelo Laboratório ThoMSon do IQ, iniciou a filha em espectrometria de massas e intermediou seu doutorado com o professor Cooks, de quem também foi aluno no pós-doutorado. “Ser minha filha é coincidência, pois Livia passou em vigésimo lugar no vestibular da Unicamp e em primeiro na Química, tendo sido uma excelente aluna de iniciação científica. Antes de se graduar, ela quis fazer um estágio no exterior e, já conhecendo bem os nossos equipamentos e os princípios da espectrometria de massas, passou três períodos de férias trabalhando para o professor Cooks, decidindo então pelo doutorado com ele. É a segunda geração de Eberlin’s naquele laboratório da Universidade de Purdue”, orgulha-se o docente da Unicamp. Marcos Eberlin esclarece que Livia, na verdade, deu continuidade ao trabalho de imageamento por espectrometria de massas iniciado por outro ex-aluno seu na Unicamp, Demian Ifa. “Trata-se de uma área nova, em que se produz uma imagem tridimensional de um tecido histológico (do cérebro, pele ou outros órgãos), semelhante ao que se faz com ressonância magnética nuclear; a vantagem é que ao invés de uma imagem morfológica, obtemos uma imagem da disposição espacial de moléculas, ou seja, uma imagem quimicamente seletiva, o que faz grande diferença em diagnósticos. Cooks propôs a Lívia que demonstrasse a eficácia do método em uma aplicação clínica. E, com a colaboração da professora Nathalie Agar, do hospital da Universidade de Harvard, começaram a procurar biomarcadores de tumores cerebrais.” Segundo Livia Eberlin, usando espectrometria de massas, eles conseguiram demonstrar que marcadores químicos podem ser detectados diretamente do tecido cerebral – e que essas moléculas são diagnósticas de câncer, do grau do tumor, além de indicarem a concentração das células de câncer em uma região específica do cérebro humano. “Obter essa informação diagnóstica por uma técnica química em questão de segundos, sem a necessidade de fazer uma modificação no tecido, é revolucionário para o tratamento de câncer cerebral. No futuro, eu vejo essa técni-

Livia Eberlin identifica marcadores químicos de câncer no cérebro durante procedimento cirúrgico em Harvard ca sendo utilizada em todos os hospitais, em todas as cirurgias de cânceres. A informação química fornecida por MS deverá aprimorar o diagnóstico e tratamento e, no final, prolongar a estimativa de vida de todos nós”. Marcos Eberlin observa que são dois brasileiros egressos do seu laboratório na Unicamp, portanto, os pioneiros nesta área de imageamento que já se dissemina pelo mundo. “Outros hospitais estão testando técnicas semelhantes, como a do bisturi eletrônico, também desenvolvido por nós no ThoMSon e que foi manchete do Jornal Nacional [TV Globo] depois de anunciado pelo Jornal da Unicamp: durante a cirurgia, vai se retirando espectros de massas e detectando onde está o tumor. Uma diferença neste trabalho, que sucedeu ao de Lívia, é a qualidade do dado químico, pois vemos espectros em que a diferença é tênue e a chance de errar é maior. Independente da técnica, elas não substituem a

figura do patologista, mas aprimoram a qualidade de seu trabalho. Como um fotógrafo que sempre busca uma câmera mais moderna, damos ao patologista uma nova e poderosa ferramenta.” Livia Eberlin recebeu o Nobel Laureate Signature Award 2014 durante o Congresso da Sociedade Americana de Química em março, como primeira pesquisadora a desenvolver e utilizar espectrometria de massas em uma sala de cirurgia nos EUA, criando imagens dos limites do tumor cerebral para melhor guiar o bisturi do cirurgião. Toda a pesquisa está descrita em sua tese de doutorado. “O professor Cooks foi fundamental ao me dar a chance de aplicar a técnica na detecção de cânceres, mas esta conquista não seria possível sem a excelente formação que recebi na Unicamp e no Laboratório ThoMSon do IQ – foi o meu alicerce.” Marcos Eberlin ministrou palestra juntamente com Graham Cooks em um simpósio específico para a premiação, e conta que seu ex-professor – “que faz por merecer o Nobel de Química há muito tempo” – estava bastante orgulhoso porque já orientou mais de 200 alunos e Livia foi a primeira a conquistar este prêmio. “Hoje ela faz pós-doutorado na Universidade de Stanford, com o professor Richard Zare, que também figura entre os maiores químicos da atualidade. E, lá, está usando a mesma técnica em cânceres mais difíceis de serem detectados, como de estômago e pâncreas.” Foto: Divulgação

Ao lado de Graham Cooks, Livia Eberlin recebe o Nobel Laureate Signature Award 2014: melhor tese em química dos Estados Unidos

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O docente da Unicamp pretende, junto com o Centro Infantil Boldrini de Campinas, utilizar a técnica em tumores de cérebro de crianças e adolescentes. “Estamos propondo aos patologistas do Boldrini que façamos o mesmo trabalho nas salas de cirurgia. Entramos recentemente nesta área de imageamento e com a melhor plataforma disponível. É incrível lembrar que começamos a usar a espectrometria de massas para detectar, por exemplo, poluentes em rios, e hoje investigamos o cérebro humano. Já iniciamos estudos similares também com o Cipoi [Centro Integrado de Pesquisas Oncohematológicas na Infância] da Unicamp, através de seu diretor, o médico Alexandre Nowil, e do pesquisador Gilberto Franchi, para o diagnóstico de leucemias. Eles possuem uma ampla biblioteca de células de leucemia, nosso material de pesquisa. A identificação morfológica do tipo de leucemia exige um especialista altamente capacitado, mas com espectrometria de massas ele pode fazer esse diagnóstico de uma forma automatizada.” Operando o espectrômetro de massas no Laboratório ThoMSon, o mestrando Pedro Henrique Vendramini demonstrou a possibilidade de diversas outras aplicações, inclusive em análise forense: a falsificação de uma assinatura é denunciada com o exame de apenas uma das letras, em que a tinta de cima é diferente da usada no fundo. “Quando analisamos padrões químicos, colocamos um spray para fazer uma varredura com deslocamento trimensional. Num tecido para prospecção de biomarcadores de câncer, o sistema vai processando e construindo uma imagem como a do cérebro, com áreas coloridas indicando onde esses biomarcadores se concentram e para qual direção se propagam, permitindo ao cirurgião retirar com exatidão a área de tecido necessária.” Para Marcos Eberlin, a espectrometria de massas brasileira tem alcançado grande sucesso nos últimos anos e, nesta área de imageamento, que considera uma das maiores novidades em pesquisas de diagnósticos clínicos, o Brasil foi pioneiro através de pesquisadores formados ou atuando na Unicamp, e já com reconhecimento internacional. “Esses pesquisadores estão hoje na fronteira da busca de novas aplicações e a expectativa para o futuro próximo é de que promovam outras importantes realizações. Livia pretende regressar ao país e iniciar um novo grupo de pesquisa na área. Rodrigo Catharino, também egresso do Laboratório ThoMSon, docente da FCM, vem procurando aplicações clínicas para o imageamento no Hospital de Clínicas da Unicamp. Demian Ifa, que iniciou o desenvolvimento da técnica, agora é professor pesquisador da Universidade de York (Canadá). Ele conta com vários brasileiros em seu grupo e acaba de firmar um acordo para intercâmbio de estudantes com o nosso laboratório por meio da Fapesp.” Fotos: Antonio Scarpinetti

Vista parcial do no Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, onde Livia aprendeu a técnica, e o equipamento (destaque) usado por ela


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Cresce intervenção da Justiça em greves, aponta dissertação Análise de conflitos coletivos de trabalho, durante os anos 2000, revela judicialização crescente Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

esquisa apresentada no Instituto de Economia (IE) constata que 34,6% das greves ocorridas durante os anos 2000 tiveram intervenção da Justiça do Trabalho, evidenciando a importância do Poder Judiciário para as relações trabalhistas e compreensão da realidade brasileira neste período recente. “A judicialização dos conflitos coletivos de trabalho: uma análise das greves julgadas pelo TST nos anos 2000” é o título da dissertação de mestrado desenvolvida pelo advogado Alexandre Tortorella Mandl e orientada por José Dari Krein, docente do IE e diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Inicialmente, Alexandre Mandl aponta um movimento contraditório no Brasil nos anos 2000, observando-se, por um lado, uma melhoria dos indicadores do mercado de trabalho, com aumento dos empregos formais, valorização do salário mínimo e diminuição do desemprego; e, por outro, o aprofundamento das formas de flexibilização do trabalho implementadas nos anos 90, como intensificação da jornada, manutenção da alta rotatividade e baixa qualidade do emprego e remuneração. “Temos um contexto de profundas transformações no capitalismo contemporâneo, com a reestruturação produtiva, internacionalização da produção e globalização financeira. A proposta é pensar como esta dinâmica se expressa dentro do Poder Judiciário.” O autor da dissertação afirma que centrou sua atenção na Justiça do Trabalho e, neste âmbito, optou pelo estudo das decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST), por ser o órgão de última instância e com o poder de uniformizar as decisões. “E, dentre os conflitos trabalhistas, preferimos analisar os conflitos coletivos (ao invés dos individuais), sobretudo o embate capital-trabalho. Isso porque a greve é um instrumento histórico para o movimento da classe trabalhadora e, também, porque a relação entre greve e direito de greve é emblemática para entender o papel do Judiciário – estamos tratando de um fato social a ser normatizado pelo direito, normatização que decorre das disputas entre os setores patronais e os trabalhadores.” Segundo o advogado, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) registra um número crescente de paralisações no período: foram 416 em 2001, 518 em 2009 e 873 em 2012. “As modificações do mercado de trabalho nos anos 2000 provocaram o fortalecimento do movimento sindical, que tem sido vitorioso particularmente nas pautas econômicas, conquistando sucessivos aumentos reais nos salários de 2004 (quando o Dieese começou a publicar seus balanços de greves) até 2010. Se, na década de 90, muitos anunciaram o fim do movimento sindical (e do instrumento da greve), os estudos do Cesit mostram o contrário, que ele está mais vivo do que nunca. E que isso deve ser estudado inclusive para entendermos as novas manifestações de rua e as dimensões que as lutas sociais tomaram no Brasil recente.” Quanto à hipótese que moveu a pesquisa, se houve aumento ou diminuição da intervenção do Poder Judiciário nas greves, Alexandre Mandl procurou respondê-la por meio do resgate bibliográfico em torno do conceito de judicialização – o que não foi tarefa fácil. “Analisamos 53 acórdãos do período de 2000 a 2012. São basicamente recursos que chegavam ao TST – decorrentes da falta de acordo entre as partes em dissídios coletivos nos TRTs [Tribunais Regionais do Trabalho] – para que as greves fossem julgadas. A pesquisa inclui ainda dissídios de categorias nacionais, como dos Correios, interpostos diretamente no TST como única instância.” A dificuldade, como esclarece o autor do estudo, vem das alterações determinadas na Emenda Constitucional nº 45, de 2004, conhecida como de Reforma do Judiciário. A emenda atribui à Justiça do Trabalho novas competências para julgamento de ações oriundas dos movimentos paredistas, entre

Greve dos garis no Rio de Janeiro: o movimento, segundo o autor do estudo, reforça a importância do tema Foto: Antoninho Perri

O advogado Alexandre Tortorella Mandl, autor da dissertação: lógica conciliatória ainda é majoritária

as quais dos interditos proibitórios – ações de caráter civil interpostas para a defesa da posse empresarial, distribuídas em primeira instância e que também servem como instrumento de cerceamento do direito de greve. “Juntamente com os dissídios coletivos, as organizações patronais procuram ajuizar o interdito proibitório, com o objetivo de cercear o direito de greve. Permanece a lógica dos atores do patronato de judicializar as greves buscando decisões que declarem a abusividade das mesmas.” Tendo colhido dados do período 20042010 indicando que 34,6% das greves foram judicializadas, Alexandre Mandl acha interessante observar que, aparentemente, o TST tem adotado uma posição mais progressista que na década de 1990. “Os desembargadores e ministros têm considerado o peso constitucional do direito de greve e decidido, na ampla maioria dos julgamentos, pela não abusividade das greves. O problema é que recursos demandam tempo e esta decisão sai apenas depois de dois ou três anos. Considerando que o aspecto temporal é fundamental para a dinâmica real da greve, esse resultado final precisa ser relativizado. Se uma paralisação é considerada abusiva em primeira instância, a empresa já pode descontar os dias parados e demitir trabalhadores, por exemplo.” O advogado observa que, portanto, a decisão do TST favorável à greve tem relativa efetividade para a realidade concreta do conflito capital-trabalho. “Os interditos significam dizer que a greve pode ter sido não abusiva para o TST, mas antes, no TRT, foi considerada abusiva – e vimos que, em 100% dos

pedidos de interdito em primeira instância, foi concedida a liminar. Por ser uma medida preventiva, isso ataca diretamente o direito de greve e acarreta inclusive multas para o sindicato, numa forma de criminalizar qualquer conduta posterior. De fato, a tendência progressista percebida no TST não se apresenta de forma linear. Pelo contrário, em termos proporcionais, mesmo não sendo o centro da pesquisa empírica, pudemos verificar que nos TRTs há mais julgamentos favoráveis à abusividade da greve.”

TAXA O autor conclui na dissertação que, diferentemente de algumas avaliações apontando uma suposta queda da taxa de judicialização dos dissídios coletivos nos anos 2000, não se pode afirmar que a Justiça do Trabalho está menos presente nas relações de trabalho. “A taxa de judicialização não pode ser entendida apenas como a taxa de dissídios coletivos, deve ser compreendida de forma muito mais ampla. Primeiro, devemos destacar que os setores patronais continuam não abrindo mão de judicializar a greve por meio dos dissídios coletivos; no entanto, é interessante verificar que também se utilizam de outros instrumentos, como os interditos proibitórios. Combinando as duas formas, podemos dizer que há um crescimento da taxa de judicialização e da intervenção do Poder Judiciário nos conflitos grevistas. Essa constatação foi destacada pela banca examinadora como uma das contribuições mais interessantes e que talvez sintetize o estudo.”

Mandl acredita que sua dissertação contribui para levantar questões importantes para outras pesquisas de mestrado ou doutorado, especialmente no momento em que se acirra o debate em torno dos limites da greve e do papel do Judiciário. “A análise das causas e efeitos da judicialização das greves é relevante para complementar a compreensão das alterações estruturais no mercado de trabalho, como da regulação trabalhista, do poder normativo da Justiça do Trabalho e das ações sindicais. Da mesma forma, há necessidade de compreender o movimento contrário das instituições públicas, onde também vemos avanços, como no Ministério Público do Trabalho, que tem o poder de interpor ações civis. E, ainda, a reestruturação dos auditores fiscais, que cumprem o papel de fiscalizar as relações trabalhistas. Entretanto, ainda é majoritária uma lógica conciliatória, que muitas vezes acaba por permitir o descumprimento da legislação trabalhista.” Como último exemplo, Alexandre Mandl cita a realização da Copa do Mundo no Brasil, antevendo uma tendência do Poder Judiciário em cumprir um papel restritivo ao direito de greve, visto que a competição atrai a atenção mundial e faz aflorar os protestos da sociedade. “Depois de concluída a dissertação, os fatos somente reforçam o que temos alegado quanto à importância do tema. Todos nós vimos o desenvolvimento das greves dos garis no Rio de Janeiro ou dos professores em todo o país. Agora, em especial, existe a discussão sobre a criação de um ‘tribunal de exceção’ dentro dos TRTs para julgar greves durante a Copa. A presidente Dilma Rousseff já declarou que pode ter manifestação de rua, desde que não afete a Copa; e que pode ter greve, desde que não afete o setor produtivo. Tratase de uma contradição, pois a greve, por sua natureza, afeta o setor produtivo e, sim, cumpre o papel de chamar a atenção do poder público. O que temos testemunhado, portanto, é um contexto mais repressivo das lutas sociais, induzindo à garantia da lei e da ordem, e em que o movimento sobre a tendência da judicialização das greves ainda está em disputa.”

Publicação Dissertação: “A judicialização dos conflitos coletivos de trabalho: uma análise das greves julgadas pelo TST nos anos 2000” Autor: Alexandre Tortorella Mandl Orientador: José Dari Krein Unidade: Instituto de Economia (IE)


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Nanofios de silício ampliam capacidade de processadores

Estruturas minúsculas e tridimensionais vêm sendo desenvolvidas por pesquisadores da FEEC e do CCS

Imagens: Divulgação

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

epois de apresentar, no ano passado, o primeiro transistor 3D fabricado no Brasil, o Centro de Componentes Semicondutores (CCS) e a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp avançam no domínio das técnicas de fabricação dos nanofios tridimensionais de silício, as minúsculas estruturas por onde flui a eletricidade no interior dos atuais componentes eletrônicos. Os transistores 3D são uma das principais apostas para que se possa manter o ritmo atual de miniaturização e de melhoria de desempenho dos processadores de dados que estão no cerne da vida moderna – de computadores e telefones celulares a automóveis, equipamentos de diagnóstico médico e no controle de processos industriais. Nas últimas décadas, o ganho de capacidade dos processadores vem seguindo a chamada “Lei de Moore”, proposta em 1965 por um dos fundadores da Intel, Gordon E. Moore. De acordo com essa lei, o número de transistores que pode caber numa mesma área deve dobrar a cada dois anos, aproximadamente. Hoje, alguns circuitos integrados, tais como os processadores, contêm bilhões de transistores. No entanto, a crescente miniaturização já está levando os componentes ao limite de suas capacidades físicas, explica o pesquisador José Alexandre Diniz, professor da FEEC e diretor do CCS. “Estamos chegando à escala do átomo”, disse ele. Transistores são usados em processadores de dados como interruptores, permitindo ou bloqueando a passagem de corrente elétrica, atividade que produz as sequências de “0” e “1” que representam as operações lógicas de um computador. Quanto maior o número de transistores, portanto, mais operações um circuito integrado é capaz de fazer. As pesquisas que levaram à criação do transistor feito de material semicondutor deram o Prêmio Nobel de Física a John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley, em 1956, e a invenção do circuito integrado foi reconhecida com o Nobel de Física em 2000, concedido a Jack Kilby. Numa entrevista concedida em 2005 à publicação TechWorld, o próprio Gordon Moore reconheceu que a “lei” que leva seu nome é insustentável no longo prazo: “Em termos do tamanho do transistor, dá para ver que estamos nos aproximando do tamanho dos átomos, o que é uma barreira fundamental”, disse ele. “Temos mais dez ou 20 anos até atingirmos esse limite fundamental”, acrescentou, falando nove anos atrás. Os transistores 3D representam uma solução para o problema de como seguir aumentando a eficiência dos processadores sem levar a miniaturização a níveis que inviabilizem o próprio funcionamento dos aparelhos: essa tecnologia permite que a eletricidade no transistor flua por três planos, em vez de apenas um, como acontece no caso dos transistores planares tradicionais. Isso reduz a área necessária para abrigar o conjunto dos dispositivos, já que cada um deles passa a oferecer três canais para a corrente elétrica. O transistor 3D permite, ainda, um controle melhor da corrente, o que reduz a tensão necessária para ligá-lo e desligá-lo. Outra vantagem dessa tecnologia é a redução drástica da perda de energia no sistema. “Os transistores atuais têm uma corrente de fuga da ordem de pico-Ampere, o que faz com que consumam baterias mesmo em standby”, disse Diniz ao Jornal da Unicamp. Ele compara o fluxo de elétrons pelo transistor ao fluxo de água num encanamento, e explica que, no caso do transistor tradicional,

Na foto maior, o transistor; nas imagens menores, os nanofios em diferentes escalas de ampliação

dias, mas a um custo unitário de US$ 150, ou pouco mais de R$ 300. Os equipamentos presentes no CCS têm capacidade para produzir protótipos, mas não chegam à escala industrial, e é improvável que a indústria brasileira adote as tecnologias testadas pelo grupo da Unicamp, disse Diniz. “A indústria nacional não está nessa fase, nem temos fábricas para isso”, afirmou o pesquisador. “Há uma tendência mundial de a indústria se deslocar para onde a mão de obra é mais barata. Mas temos de obter a tecnologia: alguém no Brasil tem de ser capaz de fazer isso”, disse. “A arquitetura de transistores (...) baseada em nanofios tem se tornado essencial para sustentar a Lei do Moore e permitir a evolução da indústria nanoeletrônica”, escreveu Santos em sua dissertação. “O desenvolvimento e emprego desses transistores têm sido exigências fundamentais para a moderna indústria microeletrônica”, diz o texto, mais adiante.

FUTURO

a torneira “não fecha bem, fica pingando”. “Nos transistores 3D, a perda cai em três ordens de magnitude e as baterias de equipamentos eletrônicos com esses dispositivos podem durar muito mais”, afirmou. Se um único chip de computador pode conter bilhões de transistores, um só transistor pode abrigar milhares de nanofios, que são os “canos” por onde passa a eletricidade – tudo isso, numa escala de tamanho que desafia a imaginação: os transistores 3D da Intel, empresa comercialmente pioneira nesse tipo de tecnologia, têm 22 nanômetros (nm). Isso significa que mais de 4 mil deles poderiam ser alinhados na espessura de um fio de cabelo. Quando do lançamento do Ivy Bridge, primeiro processador com esse tipo de tecnologia, em 2012, um executivo da Intel disse à emissora britânica BBC que a meta da empresa era criar um sistema capaz de fazer as baterias dos equipamentos eletrônicos durarem até 20 vezes mais tempo. Na Unicamp, a pesquisa orientada por Diniz e realizada por Marcos Vinícius Puydinger dos Santos para sua dissertação de mestrado, “Desenvolvimento de processos de obtenção de nanofios de silício para

dispositivos MOS 3D utilizando feixe de íons focalizados e litografia por feixe de elétrons”, produziu transistores 3D com 35 nm e até 1.280 nanofios. Santos investigou dois processos para a produção dos transistores, envolvendo diferentes equipamentos presentes no CCS: o Focused Ion Beam (“Feixe de Íons Focalizados”, conhecido pela sigla FIB), que dispara íons de gálio sobre a superfície de silício, esculpindo-a em escala nanométrica e também, quando necessário, depositando outros materiais sobre ela, tais como o metal platina e o isolante óxido de silício. O outro processo, por Electron Beam Litography (“Litografia de Feixe de Elétrons”, EBL), se vale das partículas subatômicas para desenhar um gabarito que, depois, será usado, em outros equipamentos, como molde para a criação dos transistores. “Cada técnica tem suas peculiaridades e desafios”, disse Santos. “A ideia foi explorar as técnicas e fazer algo inovador para o Brasil”. Os transistores produzidos pelo FIB levaram dois dias para serem feitos, com um custo unitário de US$ 4 mil (mais de R$ 8 mil) por dispositivo. Já os obtidos por meio da litografia de elétrons levaram dez Foto: Antonio Scarpinetti

Os resultados obtidos para a dissertação de Santos já representam um avanço sobre a tecnologia usada na criação dos primeiros transistores 3D do Brasil, anunciada pelo CCS em 2013, parte do doutorado de Lucas Petersen Barbosa Lima, que passou um ano num doutoramento-sanduíce no Interuniversity Microelectronics Centre (IMEC), da Bélgica, graças ao programa Ciência Sem Fronteiras do governo federal. Esse trabalho inicial produziu dispositivos com até 100 nm. “Ainda não tínhamos o EBL então”, explicou Diniz. “Agora que o Lucas voltou ao Brasil, ele vai trabalhar no EBL também”. O objetivo do CCS é chegar aos dispositivos de 10 nm. Ao lançar o Ivy Brigde em 2012, a Intel informava que pretendia atingir essa escala em 2015. Depois de produzir os nanofios para sua dissertação, Santos pretende seguir com pesquisas na área em seu doutorado. “Vou trabalhar não só em silício, mas também em arseneto de gálio”, disse ele, referindo-se a um material alternativo para a fabricação de semicondutores, que permite uma maior facilidade de condução dos elétrons. “Ele permite trabalhar em frequências mais altas, por isso pode ser usado em equipamentos de telecomunicações”, explicou o pesquisador. Diniz disse ainda que o CCS realiza pesquisas sobre outros tipos de transistores 3D baseados em nanofios ou nanoestruturas, como os que se valem de grafeno, nanotubos de carbono e de materiais magnetoresistentes. As pesquisas para o desenvolvimento dos transistores 3D no Brasil fazem parte de uma parceria entre a Unicamp e a USP, e integram um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), coordenado pelo professor João Antônio Martino, da Escola Politécnica da USP, e também estão inseridas entre as atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Sistemas Micro e Nanoeletrônicos (INCT-Namitec), coordenado pelo professor Jacobus W. Swart, da FEEC da Unicamp. O INTC-Namitec é um dos 123 órgãos criados pelo Programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Vale acrescentar que, os sistemas FIB e EBL, usados nos trabalhos de Lima e de Santos, foram adquiridos pela Unicamp através de projetos temáticos da Fapesp coordenados pelos professores Jacobus W. Swart da FEEC e Newton Cesário Frateschi do IFGW, respectivamente, em 2005 e 2011.

Publicação

Da esq. para a dir., Marcos Vinícius Puydinger dos Santos, Lucas Petersen Barbosa Lima e o professor José Alexandre Diniz: avanços nas técnicas de fabricação

Dissertação: “Desenvolvimento de processos de obtenção de nanofios de silício para dispositivos MOS 3D utilizando feixe de íons focalizados e litografia por feixe de elétrons” Autor: Marcos Vinícius Puydinger dos Santos Orientador: José Alexandre Diniz Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: Fapesp


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Aprimorando filtros de areia Agrícola propõe novos componentes em equipamentos usados na irrigação localizada Foto: Antonio Scarpinetti

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

maior parte das propriedades agrícolas no Brasil precisa utilizar a filtração das águas superficiais para viabilizar a irrigação localizada, pois detritos e impurezas podem causar obstrução nos sistemas de irrigação. A presença de impurezas nas águas superficiais associada à baixa eficiência dos filtros na sua remoção são fatores que causam obstrução de emissores, reduzem a uniformidade de distribuição, afetam o desempenho hidráulico desses sistemas de irrigação, acarretam o aumento dos custos operacionais e geram riscos no rendimento da produção agrícola. Dentre os filtros que podem ser utilizados em irrigação, o de areia se destaca pela capacidade de filtrar tanto material inorgânico como orgânico. Eles são constituídos por tanques ou reservatórios metálicos cujo interior é preenchido por uma camada de material poroso particulado, que constitui o leito filtrante. Este material poroso pode ser areia, cascalho ou outros granulados que retêm os sólidos que se encontram em suspensão na água. Filtrada, a água passa então pelos drenos localizados na parte inferior do filtro e entra no sistema de irrigação. A utilização da irrigação localizada possibilita maior uniformidade de distribuição pelos emissores, garantindo a chegada de água e nutrientes próximos ao sistema radicular da cultura com maior eficiência, devido à redução de perdas comuns em outros métodos de irrigação. Um dos sistemas localizados é o de gotejamento, que utiliza emissores com diâmetros de saída reduzidos e, portanto, sujeitos ao entupimento por partículas físicas, químicas ou biológicas. A partir de problemas e dúvidas apresentados durante palestras que proferiu para citricultores sobre irrigação, o professor Roberto Testezlaf, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, se deu conta, em 2006, de que havia um grande desconhecimento dos produtores sobre as características dos filtros de areia e seu funcionamento. Este foi o ponto de partida para que o docente iniciasse um trabalho sobre esse tema na Feagri, dentro da linha de pesquisa “Desenvolvimento e avaliação de técnicas, sistemas e equipamentos de irrigação”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Tecnológica de Irrigação e Meio Ambiente.

MESTRADO

Foi nessa oportunidade que o engenheiro agrícola Marcio Mesquita, com apoio de um projeto aprovado pelo CNPq, realizou mestrado orientado pelo docente que teve o intuito de caracterizar filtros de areia pelo levantamento dos principais fabricantes nacionais e estrangeiros dos equipamentos utilizados no Brasil, estabelecendo comparações entre eles. O objetivo era o de conhecer os produtos comercializados no país e entender seus processos de fabricação. Nesse estudo ele avaliou a operação do processo de filtragem desses filtros em propriedades agrícolas realizando ensaios laboratoriais, caracterizando o material filtrante e determinando a perda de pressão a partir de diferentes estruturas internas dos equipamentos. Ele considera que estas três etapas influíram significativamente na sua capacitação técnica de operação e dimensionamento desses equipamentos. No decorrer destes estudos, o pesquisador constatou a pouca disponibilidade de conhecimentos no Brasil quanto à concepção do projeto e/ou planejamento do uso de filtros de areia, e se deu conta da falta de informações técnicas sobre os utilizados na irrigação brasileira. Disso resulta uma precária assistência ao produtor quanto à suas formas de instalação, operação e manutenção, o que leva ao comprometimento do potencial de filtragem. Para Marcio, “estas questões tornaram-se mais evidentes e assumiram maior dimensão quando verificamos a inexistência de uma base tecnológica nacional no desenvolvimento desses equipamentos, corroborada pelo fato dos modelos comercializados no Brasil corresponderem a cópias de tecnologias oriundas de outros países, sem que tivessem recebido aperfeiçoamentos significativos ou passado por ensaios de desempenho ou verificações técnicas quanto às suas características funcionais”. Os fabricantes brasileiros não se preocuparam com o desenvolvimento tecnológico com vistas a, sobretudo, solucionar problemas e dificuldades que surgem na operação dos equipamentos em campo ao longo do tempo, e não buscaram sequer soluções empíricas. O pesquisador detectou uma série de problemas no funcionamento desses filtros, decorrentes das características estruturais de seus projetos, como, por exemplo, a não uniformização do fluxo de água sobre o leito filtrante, o que conduz à formação de turbulências próximas às paredes do filtro, que além de comprometerem a eficiência da filtragem, entre outras consequências, aumentam a frequência da necessidade de retrolavagens, o que contribui para a redução da vazão do sistema de irrigação e a ocorrência de entupimentos de emissores, mesmo em sistemas que utilizavam filtros de areia.

Publicação Tese: “Desenvolvimento tecnológico de um modelo de filtro de areia para irrigação localizada” Autor: Marcio Mesquita Orientador: Roberto Testezlaf Unidade: Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri)

O professor Roberto Testezlaf, orientador da pesquisa: resultados promissores na melhoria dos processos de filtragem

Pesquisas subsidiam manual técnico O professor Roberto Testezlaf, orientador da linha de pesquisa, explica que a possibilidade da criação de um manual técnico sobre filtros de areia ocorreu, depois de sete anos de estudos, com a finalização de projetos desenvolvidos por alunos de graduação e pós-graduação que buscaram contribuir para a melhoria do projeto e do emprego adequado desses equipamentos no campo. Foram esses trabalhos que levaram à criação e recente publicação do manual técnico “Filtros de areia na irrigação localizada”, em que o docente divide a coautoria com Fábio Ponciano de Deus e Marcio Mesquita. Ao tratar dos filtros de areia pressurizados - assim chamados por operarem a pressões maiores que as atmosféricas para atender às necessidades dos sistemas de irrigação - o manual técnico mostra suas partes constituintes, aborda princípios de operação, faz a caracterização da areia empregada, discute critérios para seleção e dimensionamento, orienta sobre instalações e operações e mostra como devem ser mantidos e avaliados.

DOUTORADO

A partir destes estudos iniciais, o pesquisador vislumbrou a possibilidade de continuá-los, visando contribuir para o avanço dessa técnica de filtragem e sua consolidação no campo. Foi o que fez em nível de doutorado, também orientado pelo professor Testezlaf. Ao partir para este novo trabalho, ele considerou que a falta de desenvolvimento técnico no Brasil de projetos para filtros de areia, que utilizem ferramentas tecnológicas de engenharia, limita a otimização das suas configurações e restringe o seu funcionamento eficiente, trazendo prejuízos energéticos, econômicos, tornando mais longo o caminho para o aparecimento de inovações no processo de filtragem da água para irrigação. Marcio Mesquita se propôs então no doutorado a contribuir para o aprimoramento do projeto estrutural desses equipamentos, colaborando com a padronização dos seus parâmetros de operação e gerando informações que auxiliem fabricantes no aperfeiçoamento de seus modelos de filtros. Na direção desses objetivos ele aplicou a fluidodinâmica computacional (CFD), técnica da área da computação científica que emprega métodos computacionais para simulação de fenômenos que envolvem fluidos. Buscou com isso o desenvolvimento de um filtro de areia que atendesse as especificações hidráulicas e que propiciasse maior eficiência e eficácia do leito filtrante para as condições de efluente, que corresponde à vazão de água filtrada para o sistema de irrigação. O professor Testezlaf lembra que a utilização das ferramentas de CFD permitiu ao pesquisador propor novos modelos de componentes internos para filtros de areia que foram testados em um protótipo construído na Feagri. Para ele, esse protótipo apresentou, em condições experimentais, resultados promissores na melhoria dos processos de filtragem e retrolavagem quando comparados aos modelos comercializados atualmente. O estudo foi dividido em quatro etapas: avaliação e validação da aplicação da fluidodinâmica computacional (CFD) no dimensionamento de filtros de areia; análise do perfil de escoamento dos modelos de acessórios estruturais de filtros comerciais, que permitiu identificar-lhes características positivas e negativas; proposta e análise de diferentes modelos de acessórios que compõem internamente os filtros até chegar a modelo que resultasse em aumento de eficiência hidráulica; construir e analisar em laboratório o modelo resultante do desenvolvimento virtual.

A capa do manual técnico: resultado de sete anos de estudos

O manual publicado pela Feagri será encaminhado às bibliotecas das principais faculdades de engenharia agrícola do país e estará disponível nas versões com alta e baixa resolução no site www. fregri.unicam.br/irrigação, do grupo de pesquisa da Faculdade.

As primeiras simulações computacionais com CFD foram realizadas no Departamento de Ingeniería Rural y Agroalimentaria da Universidad Politécnica de Valencia, Espanha, onde Marcio realizou intercâmbio no período de setembro de 2011 a fevereiro de 2012, e finalizadas no Laboratório de Pesquisa em Processos Químicos e Gestão Empresarial (PQGe) da Faculdade de Engenharia Química sob a supervisão do professor Milton Mori. Em relação a estas fases, ele considera que a utilização do (CFD) nesses processos é ainda muito recente, fazendo-se necessário ainda, pela comparação de resultados de ensaios de laboratório com as simulações computacionais, comprovar se a parametrização aplicada no programa de solução de equações foi suficientemente precisa. Ele enfatiza ainda a necessidade de realizar pesquisas de campo que comprovem a eficácia do modelo resultante do desenvolvimento virtual na retenção de impurezas. Para o pesquisador, a modelagem matemática parametrizada simulou adequadamente o comportamento do escoamento em filtros de areia nas condições predeterminadas de ensaios, confirmando-se como ferramenta essencial e indispensável ao desenvolvimento e otimização de projetos de equipamentos hidráulicos para irrigação. A técnica CFD também se mostrou adequada para projetos de novos componentes estruturais de filtros de areia, assim como para estudos sobre a dinâmica de funcionamento e operação do equipamento.

DECORRÊNCIAS

O desenvolvimento da pesquisa levou o autor a algumas sugestões a serem consideradas em futuros trabalhos. Para ele, os ensaios com água limpa permitem uma análise específica da hidráulica de escoamento em filtros de areia. No entanto, considera oportuna a caracterização do comportamento operacional do protótipo de filtro em condições reais de campo, na presença de concentrações típicas de sedimentos na água, visando definir padrões operacionais e determinar a eficiência dos processos de filtragem e retrolavagem. Ele entende ainda que a dinâmica do processo de retrolavagem em filtros rápidos necessita ainda de mais informações, principalmente no que diz respeito ao processo de desprendimento de partículas aderidas, o que exige o desenvolvimento de ensaios em diferentes configurações.


Campinas, 2 a 8 de junho de 2014

Estudo de pesquisadora do Nepam analisa histórico de reserva ambiental criada em 1977

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Serra do Mar:

parque preservou, mas gerou polêmica entre antigos moradores

Foto: Antonio Scarpinetti

JOSÉ TADEU ARANTES Agência Fapesp

om área superior a 3 mil quilômetros quadrados (km²), o Parque Estadual da Serra do Mar protege uma preciosa porção da Mata Atlântica. Criado em 1977 e declarado patrimônio em 1985, o parque impediu que importantes recursos naturais fossem espoliados pela especulação imobiliária que se seguiu à construção da rodovia Rio-Santos (BR-101) e até hoje atinge fortemente a região. Para os antigos moradores da área, no entanto, a memória da instalação do parque nem sempre tem conotações positivas. “Houve uma grande desapropriação de terras, que englobou, apenas no município de Ubatuba, por exemplo, cerca de 80% do território”, explicou Aline Vieira de Carvalho, professora dos programas de pós-graduação em História e em Ambiente e Sociedade da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (Nepam). De acordo com a pesquisadora, o impacto da criação do parque foi percebido de diferentes maneiras pelos moradores da região. “Alguns compreenderam que ele seria fundamental para a preservação do meio ambiente naquele espaço; mas outros se opuseram à sua existência, pois se sentiram drasticamente afastados de seus modos tradicionais de vida”. Essa foi uma das conclusões da pesquisa “Memórias ambientais e rodovia Rio-Santos: patrimônio e fontes orais no litoral Norte de São Paulo”, conduzida por Carvalho com apoio da Fapesp. “Ficou claro que as questões patrimoniais não podem ser abordadas de forma simplista nem com decisões tomadas de cima para baixo”, afirmou a pesquisadora. Carvalho enfatiza que a criação do parque foi muito positiva, como contraponto ao impacto causado pela construção da rodovia Rio-Santos e à especulação imobiliária que se seguiu. “Foi uma iniciativa pioneira do Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo] e uma grande conquista. Porém, sua implantação é até hoje narrada como não tendo contemplado os interesses dos moradores locais, porque a concepção prevalecente era a de um parque sem seres humanos”, disse. “Infelizmente, a partir dos dados da pesquisa, que trabalhou com uma rede de patrimônios materiais instalados na região do Litoral Norte de São Paulo, podemos dizer que temos optado, de maneira geral, por concepções patrimoniais que separam o ser humano da natureza”, afirmou Carvalho. Segundo ela, há uma tradição no país de se pensar o patrimônio ora como apenas cultural ora como apenas ambiental. “Percebemos que tanto os discursos institucionais quanto as narrativas dos moradores consideram ‘patrimônio natural’ e ‘patrimônio cultural’ como coisas desconexas, sem levar em conta que as categorias ‘natureza’ e ‘ser humano’ não podem ser pensadas como realidades independentes”, ressaltou a pesquisadora. Essa visão influencia fortemente o comportamento cotidiano, atuando como um fator de reprodução do uso desprecavido dos recursos naturais. “Por isso a memória ambiental é tão importante”, disse. “Memória ambiental” foi exatamente o conceito que nucleou a pesquisa. “Ela é formada por narrativas acerca das relações entre os seres humanos e a natureza”, definiu Carvalho. “A memória de tais relações configura um referencial simbólico para nossas negociações cotidianas com o meio ambiente.” É importante levar em conta que tais “memórias” são constituídas não apenas pelas lembranças das experiências vividas,

Área pertencente ao Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba: declarada patrimônio em 1985, reserva tem 3 mil quilômetros quadrados

mas também por tudo aquilo que é aprendido de diferentes maneiras, desde os relatos bíblicos sobre as relações entre o homem e a natureza até narrativas atuais veiculadas pelas empresas da mídia e do entretenimento. “A hipótese que adotamos na pesquisa foi a de que o patrimônio define um eixo aglutinador dessas memórias. Nossa proposta, então, foi investigar as memórias ambientais vigentes no Litoral Norte do Estado de São Paulo tendo como referência os patrimônios existentes na região”, informou Carvalho. “Estávamos interessados tanto nos discursos oficiais e institucionais como naqueles que eram produzidos por moradores da região”.

percebemos que, sim, a Rio-Santos havia mudado a percepção das pessoas, mas existiam também outros fatores, que não consideramos inicialmente”, disse. Em ordem cronológica, esses fatores foram: a implantação da balsa São SebastiãoIlhabela (1958); a catástrofe de Caraguatatuba, com numerosas vítimas, em decorrência de chuvas torrenciais e deslizamentos de terras (1967); a instalação do terminal da Petrobras em São Sebastião (1971); a criação do Parque Estadual da Serra do Mar (1977); e a duplicação da rodovia Tamoios (em andamento desde a década de 1970). Como seria de esperar, tais fatores foram mencionados com ênfases variadas nos diferentes municípios. Assim, a criação do CONCEPÇÕES DE PATRIMÔNIO Parque Estadual da Serra do Mar, fortemente percebida pelos moradores de Ubatuba, Carvalho afirmou que o grupo começou a quase não foi citada pelos de São Sebastião entrevistar os moradores com o pressupose Ilhabela, que focaram suas narrativas na to de que a rodovia Rio-Santos, construída instalação do terminal da Petrobras. durante o regime militar, teria modificado a “Esses viram a instalação do terminal percepção do homem em relação ao contexcomo algo que impactou a natureza, desto natural. “Conforme a pesquisa avançou, conectou os espaços urbanos e Foto: Antoninho Perri mudou o panorama da cidade. Não era objeto da pesquisa saber se a chegada da Petrobras realmente causou esses efeitos. Mas, sim, detectar como essa chegada ficou registrada na memória. Isto é, como as pessoas a narraram para si mesmas”, afirmou a pesquisadora. A ressalva é importante porque ajuda a precisar o objeto da pesquisa, que, tomando apenas como parâmetros os fatos objetivos, centrou seu foco investigativo na subjetividade. E favorece também o entendimento de como os mesmos fatos foram interpretados de diferentes maneiras de acordo com a inserção social dos entrevistados. Assim, os antigos moradores da área desocupada para a criação do Parque Estadual da Serra do Mar compuseram uma narrativa desfavorável não pelo fato de o meio ambiente ter sido protegido. Ao contrário, pois o meio ambiente era a fonte de sustentação de seu antigo modo de vida. Mas por causa da forma como ocorreu a implementação do patrimônio e por alguns aspectos de sua gestão, A professora Aline Vieira de Carvalho, autora da pesquisa: “As questões patrimoniais não podem ser abordadas de forma simplista” explicou a pesquisadora.

“Vale acrescentar que muitas coisas mudaram em relação a esse cenário inicial, pois a criação do parque foi efetivada durante a ditadura militar brasileira, o que marcava uma gestão bastante específica e autoritária da coisa pública.” “Já os representantes do setor imobiliário apresentaram um discurso totalmente diferente”, relatou Carvalho. “Neste caso, o parque foi considerado um empecilho por fugir da lógica capitalista de exploração do território, preservando uma área que, de outra maneira, teria sido destinada à construção de novos condomínios e outras formas de obtenção de lucro”. Segundo a pesquisadora, o viés ideológico penetra também o discurso oficial, inclusive o amparado por critérios científicos. “É o caso da própria definição de patrimônio”, exemplificou. “As definições oficiais sobrevalorizam as grandes construções físicas relacionadas a personagens ilustres ou a um suposto passado glorioso da região e subvalorizam expressões culturais das comunidades locais. No extenso rol de patrimônios do Litoral Norte paulista, a maioria esmagadora dos sítios é composta por igrejas e casarões senhoriais. Aldeias indígenas e remanescentes de quilombos não fazem parte da lista”, disse. Uma recomendação resultante da pesquisa é a de que as pessoas relacionadas com determinados patrimônios ou sítios arqueológicos não sejam excluídas dos processos decisórios sobre essas áreas. O grupo também defende uma abordagem mais complexa das relações entre cultura e natureza nas definições patrimoniais. “O patrimônio é uma poderosa narrativa, fluida e complexa, que pode estar cotidianamente ligado à vida das pessoas que se relacionam com ele”, disse Carvalho, ressaltando que ele pode ser compreendido como uma chave para mudanças e permanências culturais. “Existe hoje, no meio acadêmico e científico, um grande debate sobre os graves conflitos existentes em áreas de preservação. Nossa proposta é a de que a definição e gestão de um patrimônio levem em conta as necessidades e opiniões das pessoas que vivem cotidianamente nesses locais. Se o processo decisório não se apoiar em um debate democrático, o patrimônio será sempre visto por essas pessoas como um problema, um empecilho. E não haverá qualquer empenho em protegê-lo ou em interagir com o processo de gestão patrimonial”, concluiu Carvalho.


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Campinas, 2 a 8 de junho de 2014 Fotos: Antoninho Perri

Dissertação avalia impactos da cana em cursos de água

Plantação de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto, uma das três áreas analisadas na pesquisa

Análise conclui que plantações não afetam a qualidade e não reduzem a vazão SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

engenheira mecânica Marjorie Mendes Guarenghi avaliou, em sua dissertação de mestrado conduzida na Unicamp, os impactos do crescimento da atividade canavieira sobre a vazão e a qualidade das águas em três regiões produtoras do Estado de São Paulo: Jaú, Pontal e Ribeirão Preto. A principal conclusão do estudo, segundo a pesquisadora da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), é que, baseado nos dados disponíveis, não se pode afirmar rigorosamente que a produção em larga escala da cana-de-açúcar tem sido responsável pela redução do fluxo dos rios e pela deterioração da qualidade das águas. “Nas três regiões avaliadas, não foram observadas alterações nas vazões dos rios que pudessem ser atribuídas ao crescimento da cana-de-açúcar, mas sim à variação das chuvas. A análise dos parâmetros de qualidade das águas indicou tendências crescentes, principalmente para as séries de nitrogênio, como nitrato e nitrito. No entanto, o aumento da concentração desses parâmetros pode estar tanto relacionado à aplicação de fertilizantes, como também ao tratamento inadequado de esgotos sanitários e efluentes industriais lançados nos cursos d’água”, explica Marjorie Guarenghi. O seu estudo foi conduzido no âmbito do Programa de Sustentabilidade do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e do Programa de Pós-Graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos da FEM. A pesquisadora utilizou as bases de dados de estações pluviométricas, fluviométricas e de qualidade disponibilizadas pela Agência Nacional das Águas (ANA), pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo e pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A falta de estações de qualidade em Jaú impossibilitou a avaliação qualitativa nesta região. A dissertação de Marjorie Guarenghi foi orientada pelo docente Arnaldo Cesar da Silva Walter, que atua no Departamento de Energia da FEM. O trabalho contou com financiamento, na forma de bolsa à pesquisadora, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No momento, a engenheira mecânica dá se-

quência aos estudos, com um doutorado que avaliará os impactos da atividade canavieira sobre a biodiversidade. O seu mestrado foi defendido em fevereiro último.

NITROGÊNIO E FÓSFORO

As concentrações dos parâmetros de nitrogênio, embora tenham apresentado tendências crescentes, não estão acima dos valores estipulados pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nas regiões de Pontal e Ribeirão Preto, as duas em que a qualidade das águas foi analisada. “Apesar da expansão da lavoura canavieira nestas regiões, acompanhada da aplicação da vinhaça e utilização de fertilizantes a base de potássio e fósforo, não foram detectadas variações significativas associadas à atividade canavieira. Tendência crescente para o fósforo foi observada na estação de qualidade de Ribeirão Preto, correlacionada com o crescimento populacional e, provavelmente, influenciada pelo lançamento de efluentes sem tratamento adequado. Isso também foi verificado com relação ao nitrogênio, mas mesmo assim, estas concentrações de nitrogênio não excederam os limites estipulados pelo Conama”, detalha Marjorie Guarenghi. A pesquisadora da Unicamp ressalva que a baixa disponibilidade de dados, em termos de extensão das séries históricas e frequência de monitoramento em locais com intenso crescimento da cana, restringiu a

seleção de áreas de estudo. Para desenvolver a pesquisa, foram adotados procedimentos metodológicos de análise estatística sobre séries históricas de chuva, vazão e qualidade das águas baseados em testes não paramétricos de detecção de tendência (Mann-Kendall, Mann-Kendall sequencial, e Mann-Kendall Sazonal), magnitude de tendência (estimador Sen’s Slope), de mudanças bruscas das séries (Pettitt), e de correlação de Kendall (τ).

REGIÕES A sub-bacia do Rio Jaú é a que possui a menor área de drenagem entre as avaliadas. A região, analisada com base em uma série histórica que cobre o período de 1982 a 1999, engloba os municípios de Dois Córregos, Jaú e Mineiros do Tietê. A área drenada pela estação de monitoramento da vazão do Rio Jaú é de 417 km² e abrange uma parcela de cada um destes municípios. Apesar do crescimento de 20% da área colhida de cana-de-açúcar em Dois Córregos, Jaú e Mineiros do Tietê durante os 17 anos de análise, não foram verificadas mudanças no comportamento do regime hidrológico da sub-bacia que pudessem ser atribuídas à expansão canavieira. As regiões de Pontal e Ribeirão Preto estão inseridas na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) do Rio Pardo. A área drenada corresponde a 8.818 km². A região de Pontal que foi analisada

envolve cinco municípios: Sertãozinho, Batatais, Sales Oliveira, Jardinópolis e Pontal. E a de Ribeirão Preto, seis cidades: Brodowski, Serrana, Serra Azul, Altinópolis, Cravinhos e Ribeirão Preto. “Nestas duas regiões, nas quais o crescimento da cana-de-açúcar foi de 40% ao longo dos 36 anos de análise, também não foram observadas correlações significativas entre as vazões médias anuais e a área colhida de cana-de-açúcar. Tendências e mudanças bruscas nas séries de vazão média anual entre 1974 e 2011 também não foram detectadas. Em todas as regiões analisadas, as alterações do comportamento das vazões foram semelhantes às variações das precipitações”, complementa.

Publicação Dissertação: “Avaliação dos impactos sobre a quantidade e qualidade das águas devido ao crescimento da atividade canavieira” Autora: Marjorie Mendes Guarenghi Orientador: Arnaldo Cesar da Silva Walter Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: CNPq

A engenheira mecânica Marjorie Mendes Guarenghi: concentrações não estão acima dos valores estipulados pelo Conama


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Entre o apagamento

e a conservação Fotos: Antoninho Perri

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

o bairro Vila Industrial, região sul de Campinas, funcionou aquela que foi uma das primeiras vilas operárias do Brasil. Não são imóveis representativos da pujança da elite cafeeira, como os encontrados no centro da cidade e que foram quase todos transformados em comércio, mas sim antigas indústrias, curtumes, hospitais e as casas, geminadas, de dois ou três cômodos, que abrigavam trabalhadores das proximidades. Trata-se de patrimônio tombado pelo poder público, mas ainda distante de receber o devido reconhecimento. O que atrai novos habitantes e empreendimentos é a localização privilegiada, “a cinco minutos do Centro”. Da antiga Vila Riza, por exemplo, conjunto que ficava às margens do complexo da estação ferroviária e onde hoje funciona o novo terminal rodoviário de Campinas, sobraram apenas quatro exemplares de residências, após a demolição em 2007. Havia sim um processo de tombamento, mas foi arquivado. Há ainda a Vila Manoel Freire. Esvaziada pelo risco de desabamento das casas, foi depois de anos de abandono ocupada por moradores de baixa renda. Houve vários projetos para tentar salvar o patrimônio, mas todos deram em nada, e a vila está em ruínas. Não funcionou a ideia de um centro cultural e malogrou a implantação de moradias populares, projeto que seria financiado pela Caixa Econômica Federal. Existem alguns conjuntos de casas nas ruas Francisco Teodoro, Venda Grande e Alferes Raimundo. A Vila Manoel Dias continua lá, escondidinha e ocupada, na maioria das casas, por imigrantes nordestinos. De todos os bens tombados na cidade pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc), desde o ano de sua criação, em 1987, o bairro Vila Industrial abriga muitos. A vila é operária porque, entre o final do século 19 e início dos 20, o bairro era considerado periférico. Por isso, abrigava cemitérios, hospitais, fábricas e população de baixa renda. Hoje, mudou. Há inclusive um túnel que encurtou consideravelmente a distância com o Centro. A verticalização das habitações predomina no bairro. A vizinhança ainda se encontra, mas somente dentro do condomínio. O bairro transformou-se, sobretudo, em um local de passagem. Para encontrar a pensionista Déa Magali, é preciso andar a pé, passear pelos conjuntos da rua Alferes Raimundo, e parar para observar, porque logo ela abre a porta para ver o que está acontecendo. É uma das moradoras mais antigas do local. Está ali há meio século e não hesita em dar sua opinião sobre o tombamento das casas, inclusive a dela. “Foi uma porcaria”. O pesquisador da Unicamp Rafael Roxo dos Santos é outro morador do bairro. Mora em uma casa alugada que foi construída há cem anos. E, durante os passeios a pé pela Vila Industrial, começou a observar e tentar entender porque o tombamento “não funciona”, pelo menos na opinião da dona Déa. “O tombamento não garante uma intervenção direta sobre o bem porque o próprio poder público alega que não tem recursos.

O pesquisador Rafael Roxo dos Santos: “O tombamento entra em conflito com os interesses do proprietário”

Casario da Vila Industrial: bairro secular transformou-se em local de passagem

Assim, o tombamento entra em conflito com os interesses do proprietário, que está preocupado com a renda do imóvel”. Rafael é geógrafo e autor da dissertação de mestrado “A Vila Industrial e o patrimônio histórico arquitetônico de Campinas-SP: entre a conservação e a reestruturação urbana”. Seu trabalho conclui que, em vez de proteger o bem, às vezes o tombamento acaba contribuindo para a sua degradação. Quando o bem é tombado, explica o pesquisador, o imóvel deve ser preservado de acordo com novos parâmetros, o que torna a manutenção cara. Outra questão é o desconhecimento do proprietário em relação à lei de tombamento. Muitos perdem certos benefícios como, por exemplo, isenção do IPTU ou transferência de potencial construtivo, que seriam formas de amenizar os custos pela preservação do bem. “A pergunta que norteia o estudo é porque, apesar de tantos bens tombados, não se consegue a conservação”, questiona Rafael. Há conflitos de interesses em relação ao bem e transferência de responsabilidades. “Com a medida de proteção, os proprietários abandonam o imóvel porque acreditam que quem tem que preservar e fazer a manutenção é o poder público. Se há inquilinos, acabam se tornando inadimplentes. O poder público, por sua vez, não arca com o ônus e, por meio do conselho do patrimônio público, aplica multas ao proprietário. Ele não paga e nada acontece, o imóvel fica inviável. No fundo está a questão da propriedade, que ainda é maior que o tombamento e a memória”.

FEBRE AMARELA

Pensando na formação do bairro, Rafael chegou à história da formação da cidade. A Vila Industrial começa a se delinear com os nomes “Campo de Sant’Anna” e “Immigração” no final do século 19, a partir de uma visão da elite, corrente à época, de que as coisas consideradas insalubres, como o matadouro municipal, os cemitérios, os lazaretos ou hospitais, tinham que ficar afastadas da cidade. As epidemias de febre amarela chancelaram este modo de pensar. Os curtumes vieram depois. “A ferrovia chega em 1872, quando já havia dois cemitérios. Posteriormente é montado o lazareto dos morféticos e dos variolosos. Os curtumes mesmo chegam apenas no início do século 20”. Rafael salienta que a ferrovia e a própria estação foram, por muito tempo, empecilhos para o morador do bairro se locomover até o centro da cidade. Isso garantiu um relativo isolamento do bairro, que resultou em certa autonomia, pelo menos até os anos 1980, quando o transporte ferroviário entra em decadência e foi construído, junto ao córrego, o túnel de acesso ao centro. A preservação da unidade arquitetônica se deu de maneira fortuita. Mas os tombamentos, não. Muitos anos depois a “epidemia” voltou. Desta vez, Febre Amarela foi o nome de um grupo preservacionista de Campinas, liderado por Antônio da Costa Santos, prefeito assassinado em 2001. O grupo realizou uma série de estudos para proteção do patrimônio e denúncias contra intervenções realizadas, sem a autorização do órgão Estadual Condephaat - Conselho de

Paradoxalmente, tombamento colabora para a deterioração de patrimônio histórico de Campinas Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico, que geraram mobilizações da sociedade civil. Em 1985, o Febre Amarela enviou ao Condephaat um estudo de tombamento para o complexo ferroviário e outros diversos bens culturais da cidade, mas sem resposta, informa o pesquisador. “Pela lei de tombamento é assegurada uma área envoltória de proteção para preservar a visibilidade do bem, portanto uma série de outros imóveis entra no processo também”. Antes, apenas havia sido protegido o prédio da estação. A partir da criação do Condepacc, em 1987, e após as mobilizações, foram decretados diversos tombamentos na cidade. O curtume Cantusio foi o último a ser tombado, em 2012. Os tombamentos de bens ligados à história dos trabalhadores é uma tendência mundial, segundo Rafael. Ele afirma que, ao patrimônio mundial, vão sendo incorporados imóveis ligados à prática cotidiana, como as vilas operárias e o patrimônio industrial. Ao mesmo tempo, há mudanças do padrão dos bairros, que deixam de ter as características do tempo passado. “É uma ideia que está relacionada à questão da reestruturação econômica. O bairro que vai deixar de ser bairro e se tornar um local de passagem. Os moradores novos não vão ter muita relação com o local porque eles moram nos condomínios, vão trabalhar, voltam e dormem”. Rafael percebeu com o estudo que quem faz a manutenção desses bens tombados, contraditoriamente, é o próprio morador pobre, que ocupa, e não tem recurso nenhum. “A casa ainda está de pé porque ele ainda está lá dentro”. Tanto é verdade que os membros do conselho do patrimônio consideram imóveis relativamente conservados, como apurou Rafael, aqueles que se mantiveram em uso. A partir do esvaziamento, a deterioração avança muito rápido. Outra questão colocada no trabalho ligada à preservação é o problema de moradia. “Não se consegue a preservação porque por detrás disso está a ausência de uma política pública intersetorial que vincule preservação, habitação popular, e incentivos culturais para que o bairro se renove em termos econômicos e consiga ter uma dinâmica que dê conta de sustentar essas formas”. A pesquisa conclui que o tombamento vem como algo emergencial, um recurso utilizado quando o bem está em processo de ruir, para impedir que o proprietário desfigure ou queira demolir o imóvel. “Nenhum incentivo maior é dado e o proprietário é penalizado duplamente porque a manutenção é mais cara e os incentivos são baixos. A própria situação de conflito social na cidade afasta o controle do proprietário, que é demasiadamente penalizado”.

Publicação Dissertação: “A Vila Industrial e o patrimônio histórico arquitetônico de Campinas - SP: entre a conservação e a reestruturação urbana” Autor: Rafael Roxo dos Santos Orientadora: Maria Tereza Duarte Paes Unidade: Instituto de Geociências (IG)

A pensionista Déa Magali: “O tombamento foi uma porcaria”


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PAINEL DA SEMANA  Iniciação Científica - A Unicamp recebe, de 2 a 8 de junho, as inscrições para o XXII Congresso de Iniciação Científica. Podem se inscrever bolsistas de iniciação científica da Unicamp de qualquer órgão de fomento ou voluntários, além dos bolsistas que participaram do Programa Pibic-EM (ensino médio). O evento, que é organizado pelas Pró-Reitorias de Pesquisa (PRP) e de Graduação (PRG), acontece de 22 a 24 de outubro, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp. Em 2013 foram apresentados 1.346 trabalhos, sendo 429 da área de Biológicas, 415 de Tecnológicas, 182 da área de Exatas, 253 da área de Humanas e 67 de Artes. Os organizadores solicitam que os orientadores de trabalhos de IC estimulem seus alunos a se inscreverem no XXII Congresso de Iniciação Científica da Universidade. Mais detalhes no site http://www.prp.unicamp.br/pibic  Construindo uma trajetória sustentável - A Comissão da Semana do Meio Ambiente da Unicamp organiza no dia 2 de junho, o Fórum “Unicamp: construindo uma trajetória sustentável” com os professores Sandro Tonso e Rachel Stefanuto. O objetivo é promover um diálogo sobre as questões socioambientais dentro dos Campi da Unicamp. O Fórum ocorre às 9 horas, no Centro de Convenções. Inscrições, programação e outras informações no link http://www.cgu. unicamp.br/semana_meio_ambiente.php. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-8071 ou e-mail gestaoambiental@reitoria.unicamp.br  Café mundial - Como identificar o que realmente nos traz felicidade e promove o bem estar e qualidade ambiental na vida no campus? Esta e outras questões estarão em debate durante a realização do Café Mundial, evento organizado pela Comissão da Semana de Meio Ambiente da Unicamp e que será realizado no dia 3 de junho, às 8h30 no Espaço Cultural Casa do Lago. O objetivo é discutir com alunos, docentes e funcionários do campus, questões que interferem (positiva ou negativamente) no bem estar da comunidade. Como facilitadora atuará a professora Rachel Stefanuto. O debate faz parte da Semana de Meio Ambiente da Unicamp. A Casa do Lago fica na rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Mais informações: telefone 19-3521-8071 ou e-mail gislaine.moreira@reitoiria.unicamp.br  Jornada da Endici - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) organiza no dia 3 de junho, em seu auditório, a II Jornada da Endici. Com abertura às 9 horas, o evento é gratuito e as inscrições podem ser feitas pelo site http://www.labeurb.unicamp.br/endici/jornada ou no local da jornada. O objetivo da Jornada é apresentar resultados parciais do projeto “Enciclopédia discursiva da cidade: análises e verbetes”, promovendo uma discussão mais ampla com pesquisadores convidados nacionais e internacionais. A Endici é uma enciclopédia digital online e tem como objetivo compreender o urbano através da linguagem, utilizando como base a perspectiva da análise de discurso. É coordenada pelos professores Eni Puccinelli Orlandi e José Horta Nunes e conta com uma equipe de autores permanentes e colaboradores. O projeto recebe o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Auxílio à Pesquisa, Proc. n° 2012/22917-0).

 Filarmônica de Pasárgada no IA - O Instituto de Artes (IA) recebe a banda paulistana Filarmônica de Pasárgada, dia 3 de junho, às 19 horas. Em apresentação no auditório da unidade, o grupo fará o lançamento de seu primeiro CD: “O Hábito da Força”. O primeiro trabalho foi apoiado pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Mais detalhes no site http://www.iar. unicamp.br/evento/filarmonica-de-pasargada/, telefone 19- 3521-7911 ou e-mail eventos@iar.unicamp.br  A escrita de textos acadêmicos - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), promove no dia 4 de junho, às 13 horas, no auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), o workshop “A escrita de textos acadêmicos: contexto de produção e características formais”. Ele será ministrado pelas professoras Anna Christina Bentes e Vivian Cristina Rio Stella (IEL). O evento é direcionado aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp. Mais detalhes no link http://www.cgu.unicamp.br/espaco_ da_escrita/workshop_escrita_textos_academicos.php, telefone 19-35216649 ou e-mail workshops.escrita@reitoria.unicamp.br  Interação humano-robô - Nos dias 4, 11 e 18 de junho, das 13 às 14 horas, acontece um minicurso gratuito sobre interação humanorobô, na sala da congregação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Professores, pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação são o público-alvo. As inscrições podem ser feitas o link http://bit.ly/curso-hri. O curso será ministrado por Gabriele Trovato, pesquisador associado da Universidade de Waseda (Tóquio), atualmente pesquisador visitante na Divisão de Robótica e Visão Computacional do CTI Renato Archer (DRVC/CTI). O minicurso é uma organização conjunta do Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (DCA/FEEC) e da Divisão de Robótica e Visão Computacional do CTI. Mais informações pelo e-mail martino@dca.fee.unicamp.br  Lançamento - No dia 4 de junho, às 14h30, no auditório Jorge Tápia do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, acontece o lançamento do livro “Sistema Financeiro, Bancos e Financiamento da Economia: uma abordagem keynesiana”, do professor Luiz Fernando Rodrigues de Paula, do Departamento de Evolução Econômica (DEE) da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE/UERJ). A organização é do professor Célio Hiratuka, docente do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) do IE. O objetivo da publicação é analisar a relação entre sistema financeiro, bancos e financiamento da economia, enfocando em particular os determinantes do comportamento dos bancos em uma economia monetária e sua relação com o ciclo econômico; e a relação entre financiamento da economia, funcionalidade do sistema financeiro e estruturas financeiras, incluindo financiamento de investimento fixo e de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Mais detalhes pelo telefone 19-3521-0114.  Colônia penal - Em turnê pelo interior paulista, a Cia Carne Agonizante, dirigida pelo bailarino e coreógrafo Sandro Borelli, apresenta o espetáculo “Colônia Penal”, dia 4 de junho, às 20 horas, no Instituto de Artes (IA) da Unicamp. A apresentação integra a segunda etapa do projeto Unidança/2014 e é gratuita. Mais informações: elaine.calux@ gmail.com  Conflitos no espaço escolar - O Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário e Juventude (Violar) da Faculdade de Educação (FE) organiza mesa-redonda sobre o assunto, dia 5 de junho, às 14 horas, no Salão Nobre da FE. Inscrições e outras informações na página eletrônica http://www.fe.unicamp.br/semviolar/, telefone 193521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br  Sistemas de apoio à decisão e sustentabilidade - Tema será abordado por Paula Drummond de Castro e Pedro Massaguer, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), dia 5 de junho, às 14h30, no auditório do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. O encontro faz parte da série de seminários organizada pelo DPCT. Mais detalhes: telefone 19-3521-5124 ou e-mail geopi@ige.unicamp.br  Semana do Meio Ambiente - A Comissão da Semana do Meio Ambiente encerra no dia 6 de junho, as atividades da Semana do Meio Ambiente da Unicamp com uma caminhada na Praça da Paz, às 9 horas. O evento é apoiado pelo programa Mexa-se e pelo Centro de Saúde da Comunidade (Cecom). Às 10 horas haverá a divulgação de um “mascote” criado pelas crianças da Divisão de Educação Infantil (Dedic). Às 11h, uma carta será entregue à administração superior do campus, contendo reflexões e ideias de ações sustentáveis para a Universidade, geradas durante a realização do Café Mundial, no último dia 3, no Espaço Cultural Casa do Lago. Mais detalhes no link http://www. cgu.unicamp.br/semana_meio_ambiente.php, telefone 19-3521-8071 ou e-mail gestaoambiental@reitoria.unicamp.br  Docência e memória: escritas e lembranças da Educação - Tema será abordado na próxima edição do Fórum Permanente de Desafios do Magistério. O evento ocorre no dia 10 de junho, às 8h30, no Centro de Convenções da Unicamp. É organizado pelo

DESTAQUE Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), colocou no ar no último dia 26 o Guia Cultural da Unicamp, um site que traz a relação das atividades artísticas, culturais e esportivas realizadas nos campi da Universidade. Uma mostra do vigor dessa produção é que em seu primeiro dia a ferramenta traz aproximadamente 30 opções diferentes de programas para o público, entre cinema, exposição, apresentações musicais etc. De acordo com o pró-reitor de Extensão, professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, a criação do Guia Cultural faz parte da proposta da atual Administração da Universidade de conferir à cultura um papel relevante no dia a dia da instituição. “Temos nos esforçado para estabelecer uma programação cultural marcada pela qualidade e diversidade”, afirma. Além de reunir num único espaço todas as atividades desenvolvidas por grupos, unidades e órgãos ligados à Unicamp, o Guia Cultural também cumpre o papel de promover a integração entre esses produtores culturais. “A ferramenta pode auxiliar até mesmo na tomada de decisão sobre a realização de um evento. Ao notar que já há uma atividade agendada para uma determinada data, o organizador pode adiar ou adiantar a sua produção, de modo a evitar a coincidência de datas e a possível pulverização de público”, pondera a coordenadora da CDC, Margareth do Carmo Vieira Junqueira. Ainda segundo ela, o Guia também estará disponível em aplicativo para telefones celulares que utilizam o sistema operacional android. “Futuramente, nossa intenção é criar uma versão do Guia Cultural também em papel, para que consigamos atingir outros

Centro de Memória da Faculdade de Educação (FE), pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) e pelo Correio Escola Multimídia/RAC. O Fórum, que será transmitido ao vivo pela RTV Unicamp, reunirá pesquisadores de diferentes áreas da educação para um dia de debates sobre a memória como elemento significativo da prática docente. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.foruns. unicamp.br/foruns/ ou telefone 19-3521-5565.  Os determinantes sociais da saúde e uma política de saúde justa - Tema será apresentado por Camila Gonçalves De Mario, Pós-doutoranda (EACH/USP-Leste), dia 11 de junho, das 12h30 às 14 horas, no auditório do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo). O encontro faz parte da próxima edição da Série “Tempo de Debate”, evento organizado pelo Nepo, que visa trocar experiências informais entre pesquisadores do Nepo com a comunidade acadêmica. O evento está sob a responsabilidade da professora e historiadora Maísa Faleiros. Mais informações: 19-3521-0363. Livros com 25% de desconto - A livraria da Unicamp localizada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) promove até 11 de junho a venda de livros das editoras Cia. das Letras e Zahar com 25% de desconto. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas, à rua Sérgio Buarque de Holanda 571, no IEL.  Linguagem, intersubjetividade e conhecimento - No dia 11 de junho, às 16 horas, no Anfiteatro UL01 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira-SP, acontece mais um encontro do evento Quartas Interdisciplinares (QIs), promovido pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da FCA. Desta vez, o tema a ser tratado será “Linguagem, intersubjetividade e conhecimento”. As QIs são coordenadas pelos professores Eduardo Marandola Júnior e Álvaro D’Antona. Mais informações: telefone 19-3701-6674 ou e-mail chs@fca.unicamp.br  Expediente na Copa do Mundo - Em virtude dos jogos do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo, no dia 12 de junho assim como no dia 17, o expediente da Unicamp será encerrado às 12h30. No dia 23 o expediente estará suspenso, conforme Portaria GR 41/14. As horas não trabalhadas serão compensadas, observadas as respectivas jornadas de trabalho, cabendo às Unidades e Órgãos estabelecerem e fiscalizarem a forma de compensação. A medida não alcança as atividades definidas como essenciais, intransferíveis ou de interesse público, que terão funcionamento normal. Dessa forma, os Órgãos de apoio administrativo às Unidades e Órgãos que prestam esses serviços deverão se organizar para dar suporte ao funcionamento ininterrupto de tais atividades.  Imagens sobre a docência: história de vida e a escrita espetacular - Tema será debatido pela professora Alessandra Ancona de Faria, pós-doutoranda pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, dia 13 de junho, às 9 horas, no Salão Nobre da FE. O evento é promovido pelo Laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação (Laborarte). A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-5565 ou email eventofe@unicamp.br  40 anos do Arquivo Edgard Leuenroth - Fórum ocorre no dia 25 de junho, às 9 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. Celebrar os 40 anos de existência da instituição, fortalecendo as atuais parcerias e firmando outras; refletir sobre os caminhos a serem trilhados diante das novas tecnologias da informação e das crescentes possibilidades de pesquisa por acesso remoto, bem como sobre a produção acadêmica resultante de seu acervo nestes 40 anos e buscar contribuições para elaborar diretrizes para futuras políticas de ampliação e aquisição de fontes são os objetivos do evento. O Fórum será transmitido pela TV Unicamp e está sob a responsabilidade do professor Alvaro Bianchi. Inscrições, programação e outras informações no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/politicaspub02.html  Obras censuradas em exposição - A Área de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BCCL) expõe dez obras que foram censuradas pelo órgão de Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Visitas podem ser feitas até o final de junho, de segunda a sexta-feira das 9 às 17 horas, no 3º piso da BCCL. Mais informações: 19-3521-6465.

TESES DA SEMANA  Computação - “A conjectura de Tuza sobre triângulos em grafos” (mestrado). Candidato: Lucas Ismaily Bezerra Freitas. Orientador: professor Orlando Lee. Dia 2 de junho de 2014, às 9 horas, na sala 85 do IC.

“Uma arquitetura para aprovisionamento de redes virtuais definidas por software em redes de data center” (mestrado). Candidato: Raphael Vicente Rosa. Orientador: professor Edmundo Roberto Mauro Madeira. Dia 5 de junho de 2014, às 10 horas, no auditório do IC.  Economia - “Estruturas familiares e padrão de gastos em educação no Brasil: primeira década dos anos 2000” (de doutorado). Candidata: Maria Alice Pestana de Aguiar Remy. Orientador: professor Waldir José de Quadros. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.  Educação - “Mais do que energia, uma aventura do corpo: as colônias de férias escolares na América do Sul (1882-1950)” (doutorado). Candidato: André Dalben. Orientadora: professora Carmen Lúcia Soares. Dia 3 de junho de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FE.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Análise experimental e numérica de radiers estaqueados executados em solo laterítico” (doutorado). Candidato: Jean Rodrigo Garcia. Orientador: professor Paulo José Rocha de Albuquerque. Dia 2 de junho de 2014, às 10 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Aplicação da ferramenta de gerenciamento de risco hfmea no setor de expurgo do Centro de Material e Esterilização” (mestrado). Candidata: Michele Cristina Almeida de Sousa. Orientador: professor Sérgio Santos Mühlen. Dia 4 de junho de 2014, às 9 horas, na FEEC. “Sistema híbrido de armazenamento de energia para aplicação em veículos elétricos” (mestrado). Candidato: Wellington de Oliveira Avelino. Orientador: professor José Antenor Pomilio. Dia 6 de junho de 2014, às 9 horas, na sala PE-11 do prédio da CPG da FEEC. “Modulador dp-qpsk em fotônica integrada” (mestrado). Candidato: Alexandre Passos Freitas. Orientador: professor Hugo Enrique Hernandez Figueroa. Dia 6 de junho de 2014, às 9 horas, na sala PE-12 do prédio da CPG da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Gestão da energia na indústria de laticínios” (mestrado). Candidato: Paulo Cesar Silva. Orientador: professor Sergio Valdir Bajay. Dia 5 de junho de 2014, às 10 horas, na sala de seminários ID-02 da FEM. “Análise de estabilidade em sistemas rotativos” (mestrado). Candidato: Antonio Carlos Sanches Grijota Piragibe Carneiro. Orientadora: professora Katia Lucchesi Cavalca Dedini. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, na sala JE2 da FEM.  Engenharia Química - “Hidrogenação do tolueno em fase liquida com catalisadores de Ni e Ru suportados em alumina: efeitos do pH e da natureza do agente redutor empregados na preparação dos sólidos por impregnação úmida”(mestrado). Candidata: Daiana Rezende Ganzaroli. Orientador: professor Antônio José Gomes Cobo. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Linguagem - “Existe fim em marfim? Um estudo da relação de palavras dentro de palavras no acesso lexical” (mestrado). Candidata: Beatriz de Oliveira Salgado. Orientador: professor Edson Françozo. Dia 5 de junho de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Testemunho de um peregrino entre sombras” (mestrado). Candidata: Jacquelin Del Carmen Ceballos Galvis. Orientador: professor Márcio Orlando Seligmann Silva. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, no anfiteatro do IEL.  Física - “Desenvolvimento de um sensor para quantificação de forças em experimentos in situ de microscopia eletrônica” (doutorado). Candidato: Vitor Toshiyuki Oiko. Orientador: professor Daniel Mario Ugarte. Dia 2 de junho de 2014, às 14h30, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Moléculas fotônicas para aplicações em engenharia espectral e processamento de sinais ópticos” (doutorado). Candidato: Luís Alberto Mijam Barêa. Orientador: professor Newton Cesário Frateschi. Dia 5 de junho de 2014, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “A extensão 3-3-1 das partículas elementares e suas aplicações à cosmologia” (mestrado). Candidato: Cesar Peixoto Ferreira. Orientador: professor Marcelo Moraes Guzzo. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, no auditório Méson Pi do DRCC do IFGW.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Permutações livres de certos padrões” (mestrado). Candidato: Jorge Féres Junior. Orientador: professor José Plínio de Oliveira Santos. Dia 6 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação por elementos finitos de tensões ocorridas em diferentes seções transversais do sistema de retenção de overdenture tipo barra-clipe com desajuste vertical” (mestrado). Candidato: Moises da Costa Ferraz Nogueira. Orientador: professor Rafael Leonardo Xediek Consani. Dia 6 de junho de 2014, às 9 horas, no anfiteatro 4 da FOP.

DO PORTAL

Unicamp lança site com Guia Cultural Foto: Antoninho Perri

O pró-reitor de Extensão, João Frederico da Costa Azevedo Meyer, e a coordenadora da CDC, Margareth do Carmo Vieira Junqueira

públicos”, adianta Margareth. Carmen Lúcia Rodrigues Arruda, a Malu, supervisora de Ação Cultural da CDC, acrescenta que neste primeiro momento é a Coordenadoria que tem feito contato com grupos, unidades e órgãos para obter informações sobre os eventos artísticos, culturais e esportivos. A ideia, porém, é estimular cada vez mais os responsáveis pelas atividades a procurarem a CDC para divulgar suas realizações. Isso pode ser feito pelo telefone 3521-1732 ou pelo e-mail cultural@unicamp.br. “Além disso, ao acessar o site do Guia Cultural, o usuário poderá abrir um formulário que deverá ser preenchido com os dados relativos aos eventos. Essas informações serão trabalhadas pela nossa equipe e colocadas no ar. O ideal é que os responsáveis entrem em contato conosco assim que estiverem com seus eventos definidos”, orienta Margareth. O pró-reitor de Extensão destaca, ainda, que o Guia Cultural trará links para notícias sobre eventos culturais que sejam divulgadas pelo Portal da Unicamp e também por sites de fora da Universidade, desde que a atividade conte com a participação de alguém vinculado à instituição. O endereço do Guia Cultural é o www.guiacultural.unicamp.br. (Manuel Alves Filho)


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Um encontro da memória com a história –

tortura: nunca mais! Ao Ítalo Tronca, aquele abraço!

EDGAR SALVADORI DE DECCA

livro Pau de Arara – A Violência Militar no Brasil, até hoje anônimo e desconhecido no país, inaugura o novo projeto editorial da Fundação Perseu Abramo intitulado Cadernos Perseu: História & Memória. Memória A partir de agora, leitores e pesquisadores terão acesso a uma série de publicações e documentos inéditos ou pouco conhecidos que oferecerão subsídios importantes para o conhecimento das experiências vividas pelas organizações de esquerda no Brasil. Esta primeira obra foi publicada em 1970 na França e em 1972 no México, anonimamente. Se considerarmos o prestígio das editoras responsáveis por seu lançamento, podemos imaginar a importância das denúncias de tortura cometidas pela ditadura militar no Brasil que o livro traz. Mas finalmente, com esta nova edição, seus autores, Bernardo Kucinski e Ítalo Tronca, têm o devido reconhecimento. Segundo Kucinski, eles poderiam ter inventado um pseudônimo, assim como fez Chico Buarque ao criar seu Julinho da Adelaide, artifício comum em períodos de censura. Infelizmente, porém, terminaram por não utilizá-lo. Outro aspecto a destacar diz respeito aos originais, em português, de Pau de Arara. Em depoimento que consta na edição atual, Kucinski diz desconhecer seu paradeiro. No Natal de 1969,

foram levados para Paris e entregues, no então conhecido Café Cluni, ao jornalista exilado Luis Merlino, morto em 1972 pela ditadura militar. Tampouco se tem conhecimento de quem foi o responsável pela tradução do texto para o francês. Mas Kucinski reconhece que a melhor versão é a espanhola, feita pelo jornalista Flavio Tavares, tomada como referência para a edição de agora. Quanto às editoras, cabe esclarecer o porquê de seu prestígio. A francesa Maspero foi uma das mais importantes na divulgação das ideias das esquerdas antes e depois do maio de 1968. Por meio dela pudemos conhecer livros de autores críticos do colonialismo e do subdesenvolvimento, de intelectuais de vertentes radicais como Louis Althusser, Regis Debray, Franz Fenon, entre outros, e também de Che Guevara. O mesmo podemos dizer da Siglo XXI Editores do México. Naqueles anos de extrema censura às editoras e aos jornais brasileiros, muitas das obras publicadas pela Maspero e pela Siglo XXI eram debatidas em grupos de leitura, quase clandestinos, de professores e estudantes universitários. Quem trouxe escondido um exemplar de Pau de Arara para o Brasil, dizem os autores nas entrevistas anexadas à edição de agora, foi Fernando Henrique Cardoso, provavelmente em 1974. O livro de Bernardo Kucinski e Ítalo Tronca, apesar de não ter sido o primeiro a denunciar as torturas praticadas pelo regime militar, foi o que teve maior repercussão no plano internacional. Sua publicação ocorreu após a decretação do AI-5, quando se inFotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti

Ítalo Tronca, um dos autores do livro “Pau de Arara – A Violência Militar no Brasil”: documento sobre os porões da ditadura militar

tensificou o exílio de centenas de brasileiros em direção à Europa e a países da América Latina, como o Chile, mas sua trajetória é difícil de ser reconstituída pelos próprios autores. O fato é que circulou entre os grupos de esquerda em Paris e acabou chegando ao México. Pau de Arara é um documento revelador da atuação e da convicção de uma geração de jornalistas em defesa dos direitos humanos e principalmente da liberdade de imprensa e de informação. Escrito num período ainda anterior ao total recrudescimento da ditadura, de 1970 a 1975, antecipa e denuncia o circo de horrores que estava sendo construído nos porões dos Dops e dos DOI-Codis. O próprio título do livro é emblemático. Nenhum símbolo marcou tanto o regime militar brasileiro do que o “pau de arara”, o mais abominável instrumento de tortura utilizado nos órgãos de repressão. Além de sua “extrema simplicidade e facilidade de emprego”, era visto como “seguro” pelos agentes da repressão por não deixar marcas visíveis no corpo das vítimas. Por ter sobrevivido à barbárie da tortura e da repressão, Pau de Arara deve ser valorizado como uma escritura do silêncio, tecida na quase clandestinidade, com o apoio e a solidariedade de colegas e amigos de profissão. Seus autores superaram todas as adversidades na composição de um painel histórico da violência institucional no Brasil. Avesso às ideias da cordialidade do povo brasileiro, o livro reconstrói a trajetória da violência institucional no Brasil produzida, inicialmente, pela polícia política de Getúlio Vargas na ditadura do Estado Novo, de 1937, e depois pelos militares que se instalaram no poder após o golpe de 1964. Uma continuidade assustadora que nos permite entender o modo como a sociedade brasileira ainda hoje é refém do aparato repressivo do Estado. Dividida em três partes, a obra tem a capacidade de manter o leitor atento às condições históricas que propiciaram a instalação desses aparatos de violência e repressão que tiveram como um dos focos principais o combate às organizações e aos movimentos de esquerda no Brasil. Todos viveram praticamente na clandestinidade e na ilegalidade desde o Estado Novo até a instalação da ditadura militar. As duas primeiras partes do livro dão ênfase à montagem desses aparatos, tornando ainda mais chocante o capítulo final, dedicado aos testemunhos e aos documentos de homens e mulheres, estudantes, trabalhadores, sindicalistas, jornalistas e intelectuais submetidos às atrocidades dos porões da ditadura brasileira. Por esse motivo, seus autores merecem o reconhecimento ainda que tardio do trabalho realizado. No anonimato, escreveram um dos mais importantes documentos de denúncia da tortura praticada nos subterrâneos da história brasileira. Kucinski e Tronca, atuando como jornalistas e com a ajuda de outros colegas de profissão, souberam enfrentar a censura do regime militar e encontraram em terras estrangeiras a solidariedade daqueles que na época também lutavam por um mundo mais justo e de maior respeito aos direitos humanos. A Fundação Perseu Abramo não poderia ter sido mais feliz na escolha de Pau de Arara para inaugurar uma série de publicações sobre a história das esquerdas no Brasil. Sua leitura nos faz ainda mais convictos de quanto são importantes as garantias conquistadas na luta permanente pela democracia no país. As esquerdas que sobreviveram, junto com outros setores importantes da sociedade brasileira, conseguiram finalmente derrubar a ditadura em 1984. Essa é maior prova de que todas as dificuldades enfrentadas para a divulgação do Pau de Arara valeram a pena. No dizer dos próprios autores, o livro é dedicado a suas vítimas. “Eles partiram por outros assuntos, muitos. Mas no meu canto estarão sempre juntos...”, para lembrar aqueles versos de Milton e Caetano.

Edgar Salvadori De Decca é historiador, professor titular da Unicamp e autor, entre outros, dos livros 1930 – O Silêncio dos Vencidos e O Nascimento das Fábricas, ambos da Editora Brasiliense.

SERVIÇO O livro Pau de Arara: A Violência Militar no Brasil está disponível em pdf, para download, no seguinte endereço: http://novo.fpabramo.org.br/sites/default/ files/pauararacompleto.pdf


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Campinas, 2 a 8 de junho de 2014

Descompasso na batuta

Fotos: Antonio Scarpinetti

Pesquisador detalha problemas físicos enfrentados por maestros PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

s gestos feitos pelo maestro diante da orquestra ou de um coro podem ocasionar no profissional o que a medicina do trabalho chama de Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (Dort). Personalidades como o indiano Zubin Mehta, regente da Filarmônica de Israel, já precisaram afastar-se das atividades por conta do problema. Chegar a um programa de prevenção que ajude os maestros é o objetivo do pesquisador Jorge Augusto Mendes Geraldo. Em sua dissertação de mestrado, ele descreve o gestual básico da regência, utilizando a nomenclatura da anatomia e ferramentas da cinesiologia, ciência que analisa os movimentos. A pesquisa preliminar que resultou na dissertação foi necessária porque, segundo Jorge, praticamente não havia uma bibliografia específica sobre o tema, e faltava também a padronização de terminologias relacionadas à postura dos maestros. Jorge, que também é regente, precisou cursar disciplinas na área de Educação Física para ter mais familiaridade com o assunto. “Há um número considerável de pesquisas com violinistas, pianistas e outros músicos, mas pouco sobre a regência. A ideia dessa descrição é entender o movimento numa terminologia adequada para que pudéssemos prever problemas e também entender as dores que foram relatadas em artigos que encontramos”.

De acordo com o pesquisador, o trabalho do regente tem suas peculiaridades que podem favorecer determinados problemas posturais e lesões, assim como ocorre com os instrumentistas. Quem toca sopro provavelmente teria problemas diferentes em relação ao instrumentista de cordas, cada um com seus movimentos específicos. A dissertação reuniu, portanto, a bibliografia difundida na área de regência, que traz descrições dos movimentos e a postura que se pretende do maestro. “Chegamos a esses livros por meio de uma pesquisa anterior consultando bibliotecas de universidades públicas do Estado de São Paulo que têm o curso de música. As informações forneceram dados para a comparação com a descrição anatômica dos movimentos genéricos humanos, bem como o entendimento dos movimentos da regência, para que servem e como funcionam”. O repertório de gestos do regente é formado por movimentos básicos que, explica Jorge, dão a forma da regência e que todo músico é capaz de compreender, além dos movimentos que são considerados de expressão, particulares. “A partir dos movimentos básicos, cada regente desenvolve seu estilo próprio, lembrando apenas que os gestos devem sempre significar algo musical para o grupo”. O pesquisador descreveu dois tipos de movimentos básicos da regência: a marcação de pulso (ou de tempos) e a diferenciação entre eles. “O que foi se desenvolvendo nos séculos 19 e 20 são esquemas de movimento que agrupam marcações musicais periódicas de tempo e que têm um significado dentro da

O maestro e professor Carlos Fernando Fiorini, orientador da dissertação, regendo orquestra na Unicamp: arcabouço de gestos

música. Por exemplo, se as músicas agrupam compassos de três ou quatro tempos, há uma forma que o regente desenvolve que significa esse agrupamento de tempo. A marcação periódica e a diferenciação desses quatro tempos são os movimentos básicos”. Para cada gesto o pesquisador analisou os movimentos anatômicos relacionados, os grupos musculares que atuam, quais ajudam, quais controlam o movimento e as articulações envolvidas, assim como o grau de flexão que elas precisam. “A partir disso formulamos uma tabela que orienta de que maneira está sendo feito o trabalho. Se há dor, pode ser devido a um movimento que não esteja previsto ou por um estresse dessa musculatura que atua, por exemplo, por um tempo muito prolongado”, afirmou. Os relatos mais comuns que o pesquisador encontrou na literatura são os casos de fadiga em consequência tanto da execução

Jorge Augusto Mendes Geraldo, autor da pesquisa: descrevendo o gestual básico da regência

dos movimentos como o manter-se em pé do maestro. “A contração que chamamos de isométrica mantém estática certa configuração corporal. Apesar de usualmente manter uma tensão muscular relativamente baixa, ela gasta muita energia por manter o músculo atuando constantemente por longos períodos de tempo”. Os intervalos para descanso ou técnicas de apoio seriam estratégias para evitar o cansaço e as dores. Além da fadiga, Jorge descreve a bursite como sendo a popular “doença do maestro”. Trata-se de uma inflamação das bolsas sinoviais na região do ombro do regente, onde está localizada uma das articulações que mais trabalham nessa atividade profissional. O líquido sinovial ajuda a diminuir o impacto ou atrito que um músculo ou tendão tem com um osso, por exemplo, explica Jorge. A bursite ocorre devido à movimentação prolongada ou indevida da estrutura protegida pelas bolsas sinoviais. Embora durante a formação do regente, seja discutida a importância do aquecimento e da postura correta, uma vez que os ensaios ou concertos podem durar duas ou três horas, o pesquisador ressalta que os profissionais não têm total esclarecimento de como o corpo do maestro trabalha e “na maioria das vezes a preocupação com a saúde é posta em segundo plano”. O docente Carlos Fernando Fiorini, do Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, orientador da dissertação complementa: “Neste período dos ensaios ou concertos, o maestro faz o esforço de se manter em pé e ainda sustentando todo um arcabouço de gestos”.

Publicação Dissertação: “Descrição cinesiológica dos movimentos básicos da regência” Autor: Jorge Augusto Mendes Geraldo Orientador: Carlos Fernando Fiorini Unidade: Instituto de Artes (IA)


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