Capes e Unicamp lançam projeto pioneiro de pós
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014 - ANO XXVIII - Nº 600 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
12 MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
Foto: Arquivo Edgard Leuenroth (AEL-Unicamp)/Coleção Brasil Nunca Mais
O GOLPE REVISITADO Caio Navarro de Toledo, João Quartim de Moraes e Luiz Alberto Moniz Bandeira analisam as origens, o transcurso e os desdobramentos do golpe de 64. Os três intelectuais são autores de textos da coletânea que integra o livro “1964 – Visões críticas do golpe: democracia e reformas no populismo”, lançado pela Editora da Unicamp.
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Em foto feita por agente da repressão, estudantes protestam contra a ditadura militar, em São Paulo, nos anos 60: intelectuais traçam paralelo entre o Brasil de ontem e de hoje
Rochas fornecem pistas sobre a formação da Lua Contágio emocional no conteúdo do Facebook Cálculos preveem sucesso na carreira acadêmica
TELESCÓPIO
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A fotossíntese que é feita em laboratório Exercício faz jovem ganhar massa óssea
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Quando a acupuntura ajuda a aliviar a dor Veneno de jararaca pode render fármacos
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Foto: Universidade de Leicester/Divulgação
Reconstituição da coluna vertebral de Ricardo III, vista de vários ângulos
Teste de células-tronco embrionárias avança nos EUA O primeiro teste, em seres humanos, de uma terapia baseada em células-tronco embrionárias humanas venceu importantes obstáculos no mês de maio, informa o serviço noticioso Science Insider, da revista Science. A terapia em teste prevê o uso das células para o tratamento de lesões da medula espinhal. No início do mês, a empresa Asterias Biotherapeutics anunciou os resultados de um estudo sobre a segurança da terapia, e no fim de maio obteve uma dotação de mais de US$ 14 milhões do Estado da Califórnia. Os ensaios da terapia haviam sido lançados em 2010 pela companhia Geron, que decidiu abandonar a linha de pesquisa em 2011. A Asterias assumiu o projeto em 2013. Enquanto isso, a Comissão Europeia (CE), órgão executivo da União Europeia (UE), decidiu rejeitar uma petição apresentada por um grupo antiaborto chamado “Um de Nós”, que pedia o fim do financiamento de estudos com células-tronco que requerem a destruição de embriões humanos. Em nota emitida no fim de maio, a CE afirma que “células-tronco embrionárias são únicas e oferecem o potencial para tratamentos capazes de salvar vidas, com testes clínicos já em andamento”. A nota lembra ainda que “a Comissão continuará a aplicar as regras éticas e restrições estritas para as pesquisas financiadas pela União Europeia, incluindo a de que não financiaremos a destruição de embriões”. A Europa proíbe o uso de recursos da UE para a produção de novas linhagens de células-troco embrionárias humanas, mas não restringe a aplicação de verbas em estudos onde essas células tenham sido obtidas de alguma outra forma. “A Comissão Europeia não se propõe a financiar explicitamente pesquisas envolvendo células-tronco embrionárias humanas”, explica a nota. “Em vez disso, a Comissão financia pesquisas sobre o tratamento de doenças (...) que podem envolver células-tronco embrionárias humanas, se fizerem parte das melhores propostas”.
Alemães investigam a origem da Lua A hipótese mais popular sobre a origem da Lua diz que o satélite surgiu da colisão da Terra com outro astro, um planeta embrionário chamado Teia – nome dado, na mitologia grega, à mãe de Selene, a deusa da Lua. O problema com essa hipótese é que ela também prevê que boa parte dos destroços de Teia teria sido incorporada à Lua, mas praticamente todos os estudos sobre a composição da Lua e da Terra mostram que os dois astros são idênticos. Onde, então, teriam ido parar os restos de Teia? Agora, um artigo publicado na revista Science informa que cientistas alemães finalmente encontraram uma diferença significa-
tiva entre a composição da Terra e a de seu satélite natural, o que poderia apontar para a presença de vestígios de Teia na massa lunar. Analisando rochas lunares trazidas para a Terra durante o programa Apollo, da Nasa, os pesquisadores alemães descobriram uma proporção maior de átomos de oxigênio-17 nas amostras da Lua, em comparação com a taxa desse isótopo existente na Terra. De acordo com os autores, essa descoberta é consistente com a hipótese da colisão entre a Terra primordial e Teia.
anos após o Big Bang (o nosso sistema solar, em comparação, tem apenas 4,6 bilhões de anos, tendo nascido cerca de 9 bilhões de anos depois da Grande Explosão). De acordo com Sasselov, se o universo era capaz de formar planetas rochosos tão cedo, talvez a vida também possa ter aparecido nos primórdios do universo. “Se você pode fazer rochas, você pode fazer vida”, disse ele, por meio de nota.
Contágio emocional no ‘feed’ do Facebook Autoridades ‘nivelam’ montanhas na China O crescimento acelerado das cidades chinesas tem levado as autoridades a cortar o topo de montanhas, usando a terra removida para preencher vales e, assim, criar espaço plano suficiente para o desenvolvimento urbano. Artigo publicado na revista Nature, assinado por dois pesquisadores chineses, adverte para os riscos ambientais envolvidos na prática. Os autores escrevem que “dezenas de quilômetros quadrados” foram criados a partir do nivelamento de montanhas, desde 2012, e em alguns casos o procedimento levou a inundações, poluição das águas e à criação de superfícies instáveis, que podem vir a ceder na estação chuvosa. “As consequências desses programas sem precedentes não foram pensadas a fundo – ambientalmente, tecnicamente ou economicamente. Houve muito pouca modelagem dos custos e benefícios da criação de terra”, denunciam os pesquisadores.
O enigma do ‘planeta Godzilla’ Pesquisadores ligados ao Centro HarvardSmithsonian de Astrofísica anunciaram, no início de junho, a descoberta de um planeta rochoso com 17 vezes a massa da Terra. Esse planeta supera as chamadas “super-Terras” – categoria geralmente reservada a planetas rochosos com, no máximo, dez massas terrestres – e está sendo chamado de “mega-Terra”. Um dos autores da descoberta, Dimitar Sasselov, de Harvard, referiu-se a ele como “o Godzilla das Terras”. A existência desse mundo, denominado Kepler-10c e localizado a 560 anos-luz de nós, na constelação do Dragão, representa um enigma, já que as teorias correntes sobre a formação de planetas sugerem que um núcleo rochoso tão pesado deveria acumular em torno de si uma enorme atmosfera de hidrogênio, convertendo-se num gigante gasoso. O “planeta Godzilla” também é muito velho: seu sistema existe há 11 bilhões de anos, tendo surgido menos de 3 bilhões de
Um experimento que manipulou o conteúdo do news feed de mais de 680 mil usuários do Facebook mostrou que a exposição a conteúdo emocionalmente negativo leva o usuário a produzir e postar mais conteúdo negativo, e a exposição a conteúdo positivo estimula a produção e postagem de conteúdo positivo. O artigo que descreve o estudo foi publicado no periódico PNAS. “O experimento manipulou a extensão em que pessoas foram expostas a conteúdos emocionais em seus news feeds”, diz o trabalho, que tem entre seus autores um funcionário da rede social. “Isso testou se a exposição a emoções leva as pessoas a mudar seus comportamentos de postagem (...) numa forma de contágio emocional”. Apenas usuários que veem o Facebook em língua inglesa foram considerados elegíveis para o experimento. Os autores acreditam ter demonstrado que o contágio emocional acontece mesmo sem interação – isto é, sem que os usuários trocassem mensagens ou comentassem as postagens uns dos outros – mas por mera exposição ao conteúdo emocional do que aparecia no news feed. O efeito final da manipulação foi pequeno, reconhecem os pesquisadores, mas eles ponderam que, dada a escala das redes sociais, mesmo um efeito pequeno pode gerar grandes repercussões. “Mensagens online influenciam nossa experiência das emoções, o que pode afetar diversos comportamentos fora da rede”, escrevem.
Subestimando furacões com nomes femininos Furacões com nomes femininos são subestimados, levando as pessoas a relaxar nas medidas de segurança, diz estudo publicado no periódico PNAS. O trabalho fez uma revisão histórica da mortalidade causada por 94 furacões que atingiram os Estados Unidos entre 1950 e 1994, e concluiu que as tempestades com nome feminino causaram mais mortes que as batizadas com nome masculino. Em outra parte do estudo, os autores pediram que grupos de voluntários, com até 346 pessoas, tentassem prever a severidade de furacões a partir dos nomes dados: a previsão de que os furacões “masculinos” seriam mais graves predominou.
Também foram realizados outros testes – comparando, por exemplo, a disposição dos voluntários em obedecer a uma ordem de evacuação após um alerta de furacão de nome masculino ou feminino – que seguiram o mesmo padrão: as tempestades “masculinas” tendiam a ser levadas mais a sério que as “femininas”.
Corcunda de Ricardo III era fruto de escoliose Ricardo III, o infame rei da Inglaterra descrito numa peça de William Shakespeare como um vilão maquiavélico de corpo deformado, sofria de escoliose grave, com a coluna vertebral distorcida para a direita e também retorcida, numa forma espiral, afirma uma reconstituição de seu esqueleto descrita na revista médica Lancet, realizada por pesquisadores da Universidade de Leicester. O esqueleto mostra que a escoliose do rei tinha uma curva acentuada para a direita, o que fazia com que seu ombro direito fosse mais alto que o esquerdo e que o tronco parecesse curto em comparação com os braços e as pernas. Mas o pescoço do rei era reto, não inclinado, o que significa que a deformidade poderia ser bem disfarçada pelo corte das roupas. O esqueleto de Ricardo III foi encontrado numa escavação arqueológica realizada em Leicester. O anúncio da descoberta foi feito em fevereiro de 2013. A universidade também disponibilizou online uma imagem animada que permite visualizar a coluna do rei, neste link: http://www.le.ac. uk/plone-iframes/spine/
Prevendo o sucesso na carreira acadêmica A probabilidade de sucesso na carreira acadêmica pode ser prevista matematicamente, diz artigo publicado no periódico Current Biology. A fórmula leva em conta o número de publicações, o fator de impacto dos periódicos onde as publicações ocorrem e o número de artigos que são mais citados que o esperado, levando-se em conta o periódico onde saíram. É possível executar o cálculo online neste site, que considera publicações cadastradas no sistema PubMed, dedicado à literatura biomédica: http://www.pipredictor.com. De acordo com o principal criador do sistema, David van Dijk, do Weizmann Institute of Science, o fato de critérios como número de publicações e de citações permitirem prever o sucesso na carreira é “animador”, já que sugere “que as pessoas são promovidas por mérito”.
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014
Lição que vem da natureza rimeiro, compreender a natureza. Depois, tentar imitá-la. Adotado pelos cientistas há centenas de anos, esse princípio tem sido responsável por algumas das mais significativas descobertas da ciência ao longo da história. O preceito também serviu de inspiração ao professor Jackson Dirceu Megiatto Júnior, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, que obteve importantes avanços na sua desafiadora proposta de transformar água e luz solar em fonte de energia. Baseado na capacidade das plantas de realizar fotossíntese, o docente desenvolveu nanomateriais com propriedades similares. “Converter água e luz solar em fonte de combustível é algo que a natureza faz rotineiramente através da fotossíntese. O que estamos tentando fazer é reproduzir artificialmente esse processo em nossos laboratórios”, explica. Megiatto começou a se envolver com o tema da fotossíntese artificial logo após o seu doutorado, feito na Universidade de São Paulo (USP). Na época, ele ficou intrigado com a possibilidade de transformar água e luz em energia. A ideia fisgou o jovem cientista de tal maneira que ele passou a buscar dados que pudessem orientá-lo sobre que caminho seguir com uma pesquisa na área. A natureza, claro, foi uma das suas “fontes de inspiração e informação”. “Comecei a estudar profundamente o processo de transformação de água em carboidratos (fonte de combustível) realizado pelas plantas diariamente há bilhões de anos na Terra. Então, passei a me questionar se a Química seria capaz de sintetizar materiais ou elaborar sistemas que pudessem fazer a mesma coisa”, conta. O professor do IQ observa que a fotossíntese natural é um processo extremamente complexo, constituído por várias etapas. Algumas delas ainda não são bem compreendidas pela ciência. “O primeiro desafio, então, foi tentar entender o máximo possível sobre o processo, para em seguida tentar imitá-lo”, diz. Nessa ocasião, Megiatto teve a oportunidade de fazer dois pós-doutorados relacionados ao assunto na New York University e na Arizona State University, nos Estados Unidos. “Lá, eu trabalhei com materiais que buscavam transformar água e luz solar nos gases oxigênio e hidrogênio, sendo que o nosso interesse estava obviamente relacionado a este último gás, que é uma promissora fonte de combustível”, acrescenta. Após cinco anos de trabalhos, afirma Megiatto, o grupo do qual fazia parte obteve avanços significativos. Logo depois, ele trouxe a experiência adquirida nos Estados Unidos para a Unicamp, onde foi aprovado no concurso para a vaga de docente no IQ. “Meu retorno ao Brasil se deu principalmente pela chance de trabalhar em uma Universidade de reconhecida excelência e também porque esse trabalho estava vinculado ao Programa de Bioenergia da Fapesp [Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia - Bioen]”, detalha. Nos estudos que desenvolveu no exterior, o cientista analisou proteínas e enzimas presentes nas folhas das plantas, para saber como elas funcionam. Uma das constatações feita por ele é que as proteínas apresentam diferentes pigmentos, sendo predominante a clorofila, de cor verde. Elas é que são responsáveis, durante a
Docente desenvolve nanomateriais que realizam fotossíntese artificial com o objetivo de transformar água e luz solar em fonte de energia
Sistema Fotossintético Completo O2 Célula Solar O2
Luz Solar
F
F
F
Catalisador F
N HN
F
F F
HN
Porfirina
H2
O H N
2
Os gases são armazenados em tanques...
2H2 O
4H+ Eletrodo Metálico
Fenol
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H2
O2 + 4H+ 2H2
Membrana para Transporte de Prótons (H+)
F NH N
F F
Nanomaterial
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
Nanomaterial de porfirina/fenol depositado sobre uma superfície é energizado pela luz solar e realiza a reação de decomposição de água para produzir os gases hidrogênio (H2 ) e oxigênio (O 2 ).
fotossíntese, pela absorção da luz solar, que por sua vez ativará as moléculas de água no interior da folha. “Quando tentamos extrair seletivamente essas moléculas de clorofila das proteínas da folha, descobrimos que elas são estáveis somente quando ligadas à sua estrutura proteica natural. Fora dela, as moléculas se degradam e param de funcionar. Ou seja, deixam de absorver a luz solar, pois precisam da proteína para cumprir essa tarefa”. Como seria impossível, diante dos recursos oferecidos atualmente pela ciência, sintetizar essas proteínas em laboratório, o pesquisador e sua equipe recorreram à engenharia molecular em busca de uma alternativa. “O que nós fizemos inicialmente foi sintetizar moléculas muito similares às clorofilas, chamadas porfirinas, que dispensam a estrutura proteica para realizar absorção de luz sem se degradar”, relata Megiatto. A saída parecia perfeita, até que os cientistas constataram que, a despeito de serem estáveis durante o processo de absorção de luz, as porfirinas se degradavam primeiro que as moléculas de água durante o processo artificial de fotossíntese. Dito de outro modo, elas eram mais estáveis que a clorofila, mas não o suficiente para a conclusão do processo. Os cientistas se puseram, então, à procura de uma solução para o problema. Eles precisavam encontrar um elemento que pudesse ampliar a estabilidade das porfirinas. Foto: Antonio Scarpinetti
O professor Jackson Megiatto Júnior, autor da pesquisa: “A natureza foi minha fonte de inspiração e de informação”
Água
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Depois de vários testes, descobriram que o flúor, quando ligado quimicamente a essas moléculas, oferecia o resultado desejado. Entretanto, como em ciência é comum se enfrentar sucessões de dificuldades, Megiatto e seus companheiros depararam com mais um entrave, este ligado à velocidade com que ocorrem dois processos presentes na fotossíntese. O primeiro deles acontece quando as porfirinas recebem a luz solar, que é transformada em energia química no interior destas moléculas. O segundo se dá no momento em que as porfirinas, já ativadas pela luz, reagem com as moléculas de água, fazendo com que os átomos desta última se rearranjem em hidrogênio e oxigênio. “Acontece que havia uma enorme diferença de velocidade entre estes dois processos. Ao receberem luz, as porfirinas se ativavam. Entretanto, como o processo de transferência de energia para as moléculas de água é lento, as porfirinas se desativavam antes de o processo ser concluído. O desafio foi encontrar um intermediário que tornasse estes dois processos cineticamente compatíveis”. Nessa etapa, os pesquisadores recorreram novamente à natureza. “Na natureza, existe uma molécula que promove a ‘conversa’ entre as clorofilas e as moléculas de água, que é um aminoácido do tipo tirosina, presente na proteína das folhas. A tirosina apresenta um grupo fenólico em sua estrutura que possui uma propriedade bastante peculiar. Ele é capaz de receber rapidamente a energia proveniente das clorofilas ativadas e armazená-la pelo tempo necessário para que as moléculas de água ao seu redor sejam decompostas em hidrogênio e oxigênio. Moléculas do tipo fenol são produzidas às toneladas atualmente”, detalha o docente da Unicamp. A partir dessa informação, os cientistas conectaram quimicamente as porfirinas a um fenol e conseguiram finalmente estabelecer uma sintonia entre os dois processos. “Obtivemos um aumento de eficiência muito significativo. Ao compararmos o processo natural ao artificial, por meio de análises técnicas corriqueiras, nós constatamos que a resposta de um é muito similar à do outro. Em outras palavras, nós conseguimos ficar muito próximos da estrutura da natureza”, assegura Megiatto. Divulgados para a comunidade científica através de artigos publicados em revistas de alto impacto, como a Nature, os resultados do estudo tiveram ampla repercussão, conforme o professor do IQ explica.
Eletricidade ...para serem recombinados em uma célula a combustível para produzir eletricidade e água. A água pode ser reutilizada na célula solar.
Uma das consequências dessa repercussão foi o interesse da imprensa pelo tema. “Fui procurado por diversos veículos de comunicação, para os quais dei entrevistas. Foi algo novo, mas muito interessante para mim. Nós cientistas estamos acostumados a nos comunicar com nossos pares, mas não com a comunidade leiga. Particularmente, gostei muito da experiência. Até crianças vieram me fazer perguntas sobre a pesquisa”, diverte-se Megiatto. O próximo passo do trabalho, antecipa o pesquisador, será buscar um sistema completo de produção de energia. A proposta é conectar uma célula solar construída com os nanomateriais que realizam fotossíntese artificial a uma célula combustível, que reorganiza os átomos de hidrogênio e oxigênio, gerando água novamente e energia na forma de eletricidade. Isso já está sendo feito em colaboração com um grupo de cientistas norte-americanos na Arizona State University. “Vamos ver se essa conexão funciona bem. Mesmo que funcione, o sistema ainda não será atrativo do ponto de vista econômico. É que o processo de preparação das porfirinas é caro. Então, o maior desafio que teremos pela frente será melhorar as rotas sintéticas, de modo a baratear o custo de produção desses nanomateriais. Eu tenho convicção de que isso será possível ao longo do tempo. Essa fase eu pretendo desenvolver aqui na Unicamp, com a colaboração do grupo de pesquisa que estou formando. Já temos um projeto pré-aprovado pela Fapesp, na linha Jovem Pesquisador, cujo financiamento gira em torno de R$ 1 milhão, pelo período de quatro anos. Esses recursos serão utilizados para reformar e equipar o laboratório no qual trabalharemos”, informa. Enquanto os recursos não são liberados, o docente do IQ tem feito contato com estudantes interessados em participar das pesquisas. Atualmente, ele já conta com dois de iniciação científica, um de mestrado e um de doutorado. Além desses, um aluno de pós-doutorado italiano também está chegando para integrar a equipe. “O interessante é que entre esses estudantes não há só químicos. Temos também um engenheiro químico e uma aluna de estatística. A união de profissionais de diferentes áreas é fundamental para o sucesso desse tipo de pesquisa. Somente a Química não daria conta de responder a todas as perguntas. A abordagem multidisciplinar é uma exigência cada vez maior para quem quer atuar na fronteira do conhecimento”, considera Megiatto.
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Atividades físicas aumentam massa óssea de adolescentes
Fotos: Antoninho Perri
Frequência e tempo determinam incremento entre meninas, independentemente da sobrecarga ou da modalidade SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
atores como a frequência e a regularidade de uma atividade física na infância e adolescência determinaram um incremento importante de massa óssea em garotas de 11 a 17 anos que participaram de um estudo da Unicamp. A pesquisa demonstrou que o aumento da massa óssea em praticantes de atividade física ocorre independentemente da modalidade esportiva e da sobrecarga do exercício. Foram avaliadas 192 adolescentes, divididas em três grupos: 67 praticantes de handebol, 62 de natação e 63 mulheres não praticantes, mas saudáveis. “Desenvolvemos o estudo utilizando um equipamento de ultrassom portátil para analisar as falanges das mãos não dominantes [menos hábeis] neste grupo de meninas. Os resultados indicam que a frequência e o tempo de treinamento têm maior influência na massa óssea dessas adolescentes do que a especificidade de cada modalidade, sendo ela com ou sem sobrecarga corporal”, explica a educadora física Tathyane Krahenbühl, autora da pesquisa conduzida junto à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. A pesquisadora destaca que as mulheres estão entre as mais afetadas por doenças ósseas, entre as quais a osteoporose. Dados do National Institutes of Health (NIH) apontam que, a partir dos 50 anos, 30% das mulheres brancas e 13% dos homens brancos poderão sofrer algum tipo de fratura óssea. Em face desses dados, Tathyane Krahenbühl ressalta a importância da compreensão dos fatores que determinam o processo de aquisição de massa óssea, sobretudo na infância e adolescência, período de maturação do tecido ósseo. Isso permite criar, de acordo com ela, estratégias para a intervenção e prevenção das alterações e distúrbios deste tecido. “O estudo com mulheres nesta fase de formação dos tecidos ósseos é fundamental. Sabemos que é na infância e adolescência que ocorre este incremento mais importante de massa óssea. Em geral, a maioria das pessoas vão ter perdas. O importante, então, é prevenir. É como se você depositasse dinheiro numa conta, numa poupança, para poder gastar no futuro. Portanto, se houver uma prevenção desde a infância e adolescência, quando os indivíduos chegarem à velhice, mesmo perdendo, eles ainda vão ter uma estrutura óssea sadia capaz de evitar muitas doenças”, fundamenta. A educadora física esclarece que a avaliação da massa óssea pelo método de ultrassom de falanges é uma ferramenta útil na identificação precoce de doenças ósseas porque controla as alterações que ocorrem durante o desenvolvimento e crescimento do esqueleto. “As falanges, ossos que formam os dedos das nossas mãos e pés, são sensíveis às mudanças osteometabólicas gerais que ocorrem na parte periférica do esqueleto. Elas são, portanto, um importante ponto para a avaliação”, acrescenta. Tathyane Krahenbühl desenvolveu a pesquisa como parte da sua dissertação de mestrado conduzida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da FCM. A pesquisa foi orientada pelo docente Antônio de Azevedo de Barros Filho, do Departamento de Pediatria da FCM. Os estudos também foram conduzidos no âmbito do Laboratório de Crescimento e Desenvolvimento do Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) da FCM.
Avaliação da massa óssea pelo método de ultrassom de falanges: ferramenta identifica precocemente doenças
A estudiosa da Unicamp, que atua como professora de educação física na Secretaria de Esportes da Prefeitura de Valinhos (SP), dá sequência aos trabalhos com uma pesquisa de doutorado visando aprofundar sua análise atual. Na tese, ela fará uma investigação longitudinal, com o objetivo de avaliar a massa óssea em adolescentes praticantes de atividade física por um tempo maior do que o analisado em sua dissertação. “No mestrado eu produzi um estudo transversal envolvendo dois grupos em uma única investigação. O objetivo agora, até como sugestão da banca, é fazer um estudo longitudinal e acompanhar, por exemplo, as meninas por períodos superiores do que um ano”, relaciona. A defesa do seu mestrado ocorreu em fevereiro último.
HANDEBOL E NATAÇÃO O handebol e a natação foram as modalidades selecionadas para a investigação porque possuem diferentes níveis de impacto
Tathyane Krahenbühl, autora da dissertação: estratégias para prevenção das alterações
sobre o osso. “Escolhemos um esporte que não tem sobrecarga corporal, a natação, e um esporte de bastante sobrecarga, que é o handebol. E a literatura científica relata que praticantes de esportes com maior impacto, como handebol, voleibol, hóquei e ginástica, apresentam mais incremento de massa óssea quando comparados com desportos de baixa ou nenhuma sobrecarga corporal, como a natação. Mas no meu estudo não foi isso que ocorreu”, revela. A estudiosa aponta que as praticantes de natação tiveram um incremento de massa óssea superior ao de atletas de handebol, indicando que o treinamento é benéfico, independentemente da sobrecarga de cada modalidade. Este aumento advém, de acordo com ela, do estresse repetitivo que o treinamento físico gera sobre o osso, causando um aumento na sua densidade mineral. “As nadadoras avaliadas iniciaram a vida esportiva mais cedo do que as jogadoras de handebol, aproximadamente um ano e meio
antes. Elas também apresentaram um maior volume de treinamento durante a semana, com média de dois dias a mais por semana. A hipótese é de que, se as jogadoras de handebol tivessem o mesmo tempo e volume de treinamento do que as nadadoras, elas poderiam obter valores superiores aos encontrados. Há outras questões, como o tipo de avaliação realizada, mas os indícios são claros no sentido de que a atividade física periodizada é um fator relevante para o incremento de massa em adolescentes.”
ULTRASSOM Em suas investigações, Tathyane Krahenbühl utilizou exames de ultrassom, realizados por meio de um aparelho portátil. Trata-se, segundo ela, de uma técnica segura e acessível, capaz de avaliar a massa óssea conforme as variáveis de crescimento e maturação. “Há muitas vantagens em utilizar o ultrassom na avaliação, pois é uma tecnologia facilmente acessível, de baixo custo, não invasiva, sem radiação ionizante, além de ser de fácil manuseio. O ultrassom avalia o estado esquelético periférico. O método foi introduzido na Europa na década de 1990 e muitos estudos têm sugerido a sua validade neste tipo de prática clínica”, justifica. A pesquisadora explica que o método utiliza como princípio a velocidade do som para analisar as propriedades quantitativas e qualitativas do material ósseo. A técnica é baseada na transmissão de sinais de ultrassom por meio de um compasso que acopla dois transdutores, um emissor e um receptor, que devem ser posicionados na ponta dos dedos. O acoplamento das sondas com a pele é mediado por gel, para melhorar a transmissão da onda sonora, reduzindo a interferência externa. Em seu estudo, Tathyane Krahenbühl examinou os parâmetros de AD-SoS (Amplitude Dependent Speed of Sound) e BTT (Bone Transmission Time), além avaliar as variáveis de peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e os estágios do desenvolvimento pubertário de Tanner.
Publicação Dissertação: “Avaliação da massa óssea de adolescentes atletas do sexo feminino utilizando o ultrassom quantitativo de falanges” Autora: Tathyane Krahenbühl Orientador: Antônio de Azevedo de Barros Filho Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Na gênese do golpe Três dos intelectuais que participam do livro “1964 – Visões críticas do golpe: democracia e reformas no populismo”, relançado pela Editora da Unicamp, analisam as origens e os reflexos da ditadura Fotos: Antoninho Perri
MARIA MARTA AVANCINI marta.avancini@gmail.com
oltar às razões e aos significados do golpe de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura, é a proposta central do livro “1964 – Visões críticas do golpe: democracia e reformas no populismo”, organizado pelo filósofo Caio Navarro de Toledo, professor aposentado do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. A obra, cuja segunda edição foi recentemente lançada pela Editora da Unicamp, reúne artigos de 13 intelectuais que jogam luz sobre a economia, a política, os movimentos sociais, as possibilidades de resistência e os legados de um dos acontecimentos que mais fortemente modelaram a sociedade brasileira contemporânea: a tomada do poder pelos militares em 31 de março de 1964. Ao longo dos artigos, os autores expõem suas visões – muitas das quais pautadas por suas próprias vivências dos acontecimentos daquele período – sobre a sociedade brasileira no contexto pré-golpe, elucidando os arranjos sociais, políticos e econômicos que funcionaram como mote para a tomada do poder pelos militares. Os artigos, por sua vez, constituem a súmula do seminário “O Golpe de 1964: 30 anos”, realizado no IFCH em março de 1994 e que resultou na primeira edição da obra, publicada três anos após o evento. Como um mosaico, o livro “1964” traz à tona dimensões fundamentais para se compreender o Brasil contemporâneo, especialmente no que diz respeito ao jogo de forças entre os diferentes atores sociais, as dinâmicas desencadeadas nessas interações permeadas por ideologias, interesses e visões de mundo, bem como seus efeitos sobre a vida dos brasileiros. Nessa medida, o livro funciona como um espelho, que nos permite olhar para o presente a partir da lente do passado.
Qual o legado do golpe militar de 1964 para a sociedade brasileira? Qual foi o seu impacto na constituição/consolidação da democracia política no país? Caio Navarro de Toledo – O golpe de 1964 estancou um extenso movimento social e político que, no início da década de 1960, reivindicava o aprofundamento da democracia política no país. A batalha contra o caráter excludente da democracia liberal se manifestava em torno de reivindicações como direito ao voto dos analfabetos e dos subalternos das Forças Armadas, irrestrita liberdade partidária e ideológica, liberdade de imprensa, ampliação da liberdade de organização sindical, revogação da Lei de Segurança Nacional, dentre outras. No campo, percebia-se – em virtude da presença das extensas propriedades rurais e do latifúndio improdutivo – a inexistência de relações democráticas, manifestadas, por exemplo, no poder arbitrário dos coronéis, na violência e nos “currais eleitorais”. Bem sabiam, pois, os setores nacional-reformistas e de esquerda que a reforma política não podia se dissociar de reformas sociais e econômicas defendidas por setores partidários, pelas Ligas camponesas, pelos sindicatos, pelos subalternos das Forças Armadas, pelas entidades estudantis. Contra uma ampla mobilização social – representada pela emergência na cena política de novos atores e movimentos – organizam-se as frentes partidárias e núcleos político-ideológicos do empresariado (nacional e multinacional), a grande mídia, a cúpula da Igreja Católica, as agências de inteligência e o governo dos Estados Unidos. Estes setores civis interpelarão as Forças Armadas a fim de dar um basta à “subversão” em curso no país. O golpe militar, pois, teve amplo apoio de setores significativos da sociedade civil brasileira. O legado político do golpe de Estado e da ditadura militar foi altamente negativo à cultura política do país. Além de o golpe bloquear o avanço da democracia política, o regime militar destruiu as entidades dos trabalhadores e impôs, de forma sistemática, o medo e a repressão sobre a vida política. João Quartim de Moraes – O legado do golpe foram 21 anos de ditadura. Ele veio para enterrar as reformas de base, o movimento de cultura popular, a política externa independente, o espírito crítico e contestador dos estudantes e intelectuais, em suma, o novo Brasil socialmente avançado que se anunciava nas lutas de massa e das forças de esquerda.
Assim como em certa medida ocorre hoje, a pauta de reivindicações de 50 anos atrás perpassava o acesso a direitos sociais, a reforma agrária e o equilíbrio da economia – dentre outras questões. O Brasil de hoje não é obviamente o mesmo de João Goulart, mas é possível identificar, nas análises dos intelectuais que participam do livro, continuidades e relações entre o presente e um passado não tão distante. A seguir, três dos autores que participam da coletânea, apresentam algumas reflexões sobre o golpe militar e seus legados. Caio Navarro de Toledo analisa detalhadamente a teia de relações políticas e sociais do Brasil nos primeiros anos da década de 1960 e alerta para importância e a necessidade de se fortalecer o debate público e a memória do golpe de 1964 e da ditadura militar. O professor titular aposentado do IFCH da Unicamp João Quartim de Moraes analisa o impacto negativo do golpe militar sobre o intenso processo de reformas de base que o Brasil vivia no início da década de 1960. Moraes, que é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e em Filosofia, enfatiza o papel da burguesia na sustentação do golpe militar, visando à manutenção de seus privilégios – o que evidenciaria, segundo ele, uma afinidade das elites com o fascismo. Já o bacharel em Direito Luiz Alberto Moniz Bandeira – professor titular aposentado de História da Política Exterior na Universidade de Brasília (UnB) que atualmente atua como professor visitante nas universidades de Heidelberg e Colônia, na Alemanha – revive, a partir de suas pesquisas documentais, o papel central desempenhado pelos Estados Unidos na materialização do golpe que resultou na derrubada de João Goulart.
Caio Navarro de Toledo: “O regime militar destruiu as entidades dos trabalhadores e impôs, de forma sistemática, o medo e a repressão sobre a vida política”
Leia, a seguir, os principais trechos das entrevistas concedidas ao Jornal da Unicamp.
O aspecto mais macabro desse funesto legado é, sem dúvida, a institucionalização da tortura como método de extorsão rápida de informações úteis ao aniquilamento da resistência clandestina. O golpe deixou também para a consciência democrática nacional uma lição histórica de grande valia para as gerações presentes e futuras: em situações de crise política aguda, quando o controle exercido sobre a “opinião pública” pelos grandes meios privados de comunicação social não logra garantir a “funcionalidade” do sufrágio universal, a burguesia, para manter seus privilégios econômicos, portanto suas posições de classe, redescobre sua afinidade com o fascismo. Para manter a “liberdade” essencial, a propriedade privada dos meios sociais de produção, os capitalistas não têm escrúpulos em revogar o conteúdo ético-político do liberalismo (“Estado de Direito”, liberdades e garantias individuais, etc.), trocando-o por medidas (e, se necessário, por regimes) de exceção, que vão do “estado de sítio” às ditaduras militares. Ao assumir a presidência em 1974, Ernesto Geisel anunciou um projeto de “abertura política lenta e gradual” que acarretou, dentre outras coisas, a ab-rogação do Ato Institucional nº5, após mais de 11 anos de vigência. Essa manobra bem sucedida de estabilização conservadora implicou na renúncia ao poder discricionário do Estado de exceção. Mas o regime não renunciou ao controle dos centros nevrálgicos do poder – ao contrário, pretendia assegurar por outros métodos a continuidade da política de estabilização conservadora vigente desde 1964. Não tem cabimento falar, nesse contexto, em democratização ou redemocratização. Democracia é o regime político em que o povo é soberano. Luiz Alberto Moniz Bandeira – O legado do golpe de 1964 foi o pior possível para a sociedade brasileira. Seu impacto foi extremamente negativo para a evolução da democracia no Brasil. A ditadura militar desarticulou todo o sistema político e partidário existente no país, bem como corrompeu e prostituiu o Congresso, com a prática das cassações de mandato e suspensão de direitos políticos. E, devido ao sufoco da liberdade e ao terror que o Estado impunha, a corrupção grassou, mais do que em qualquer governo. Um empresário alemão, que tinha inclusive contribuído financeiramente para o golpe, mostrou-se arrependido, ao dizer-me, em 1976, que sob o governo militar até para entrar em uma concorrência ele tinha de oferecer dinheiro, o que antes nunca tivera de fazer. (Mais nas páginas 6, 7 e 8)
João Quartim de Moraes: “O golpe de 64 veio para enterrar o novo Brasil socialmente avançado que se anunciava nas lutas de massa e das forças de esquerda” Foto: Reprodução
Luiz Alberto Moniz Bandeira: “A ditadura militar desarticulou todo o sistema político e partidário existente no país, bem como corrompeu e prostituiu o Congresso”
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Campinas, 9 a 22
Reflexão e conjuntura n (Continuação da página 5) MARIA MARTA AVANCINI marta.avancini@gmail.com
Que continuidades e descontinuidades existem, a seu ver, no campo da política e das relações internacionais, entre a conjuntura em que o golpe aconteceu e o momento atual da sociedade brasileira? Caio Navarro de Toledo – De 1946 a 1964, a democracia apresentava várias limitações, superadas, em parte, na Carta de 1988. Graças às pressões populares durante a Assembleia Constituinte foi adotado o voto dos analfabetos, ampliou-se a liberdade partidária, diversificou-se o debate ideológico, ocorrem experiências de orçamento participativo, ampliou-se a participação do ministério público etc. No entanto, ontem como hoje, as eleições ainda são decididas pelo poder econômico. Os meios de comunicação de massa, privados e estatais, não estão submetidos a qualquer tipo de controle democrático. A participação dos trabalhadores na definição das políticas públicas é praticamente inexistente. Por fim, a democracia política ainda se limita à participação eleitoral, posto que os mecanismos de democracia direta (entre eles, o plebiscito e referendo), previstos na Carta de 1988, não foram acionados nem cogitados pelo Executivo federal e Congresso nos últimos 25 anos. Ou seja, a chamada soberania popular – que se expressaria parcialmente por meio da convocação do eleitorado a fim de opinar e decidir questões sociais e econômicas relevantes – é ainda retórica. No pré-1964, após reconhecer que a direita não aprovaria as reformas socioeconômicas e se organizavam para a sua desestabilização, o governo Goulart apoiou a intensificação das mobilizações sociais e políticas. Também se empenhou abertamente na defesa de reformas sociais e ampliação da democracia política. Com isso, o governo Goulart acabou decretando sua sentença de morte. Na atual conjuntura política, particularmente após as “jornadas de junho” de 2013, vários movimentos sociais de orientações políticas progressistas têm saído às ruas para reivindicar políticas sociais, que atenuem as carências dos setores populares e médios. Em paralelo, há as recorrentes as manifestações dos movimentos dos trabalhadores rurais em prol da reforma agrária posto que há 50 anos esta bandeira não foi ainda atendida pelos sucessivos governos (ditatoriais e democráticos). Os governos do PT tomaram iniciativas sociais que retiraram extensas parcelas da sociedade da extrema pobreza, permitiram reajustes do salário mínimo acima da inflação, diminuíram o desemprego etc. Mas isso não invalida o fato de as administrações federais do PT serem identificadas como “governos da ordem” na medida em que não questionam os privilégios das classes dominantes nem se propõem a reformar a ordem econômico-social dominante. João Quartim de Moraes – Há muito circula na esquerda latino-americana uma explicação irônica da estabilidade institucional estadunidense. Querem saber por que não há golpes de Estado nos Estados Unidos? Porque lá não há embaixada dos Estados Unidos. O golpe de 1964 não fugiu à regra. Carlos Lacerda, o mais furibundo e virulento chefe civil da conspiração golpista, admitiu, em entrevista de 1977, que ele e [José de] Magalhães Pinto, quando eram governadores respectivamente da Guanabara e de Minas Gerais, haviam mantido contatos com a embaixada norte-americana a fim de garantir armas e apoio diplomático dos Estados Unidos para o golpe que estavam articulando. Tiveram pleno êxito: às 15h30 de 31 de março de 1964, o Pentágono desencadeou a operação “Brother Sam”, mobilizando um fast carrier task group (do qual fazia parte o portaaviões Forrestal), com o objetivo de fornecer aos sediciosos o carregamento de quatro petroleiros gigantes, bem como 110 toneladas
de armas e munições, a serem transportadas por aviões de guerra. O rápido sucesso do golpe tornou desnecessário o prosseguimento da operação, mas a certeza de poderem contar com o “colosso do Norte” trouxe grande encorajamento aos conspiradores. Durante o meio século que nos separa do golpe de 1964, as principais mudanças na situação internacional que concernem mais diretamente ao Brasil são a ascensão econômica da China, as transformações revolucionárias nacional-populares na Venezuela, Bolívia, Peru, bem como o avanço do Mercosul. As relações de força em escala mundial são hoje menos desfavoráveis aos povos da periferia. Luiz Alberto Moniz Bandeira – Essa é uma questão complexa. No campo das relações internacionais, o regime militar, durante o governo do marechal Humberto Castelo Branco [primeiro presidente militar instalado pelo golpe de 1964] subordinou o Brasil aos Estados Unidos. Porém, depois, o regime, sobretudo com o governo do presidente Ernesto Geisel, voltou a seguir linhas similares ao da política externa do presidente João Goulart, a fim de defender os interesses nacionais, determinados pelas necessidades do processo produtivo do país em desenvolvimento e as contradições com os interesses dos Estados Unidos voltaram a recrudescer. A conjuntura em que o golpe de Estado ocorreu, em 1964, é bem diversa da que hoje existe tanto ao nível nacional quanto internacional. Embora esteja em andamento uma nova Guerra Fria com a Rússia e a China, os Estados Unidos já não mais são uma estrela de primeira grandeza. O presidente Barack Obama, como seu antecessor George W. Bush, ainda tenta implantar a full spectrum dominance, porém enfrenta inúmeras dificuldades. E, a fim de manter aparente legitimidade, Washington passou a instrumentalizar organizações não-governamentais (ONGs) mantidas com recursos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e do National Endowment for Democracy (NED), ademais de outras fundações privadas americanas. Elas operam como quintas e promovem demonstrações, convocadas através das redes sociais, com a cobertura da grande mídia corporativa, a pretexto de defender direitos humanos, a democracia, sistema de educação e saúde etc. E assim continuam até derrubar o governo. Foi o que aconteceu na Ucrânia recentemente.
Ao contrário de outros países latinoamericanos que enfrentaram golpes militares na mesma época em que o Brasil, em nosso país não existe uma reflexão e uma crítica, na arena ampliada do debate público, sobre o golpe de 1964.
Pouco se fala e pouco se debate a respeito do golpe – exceto por alguns segmentos da sociedade. Que tipo de efeito isso tem, na opinião do senhor, para a compreensão dos processos políticos e sociais que se dão no país?
Entendendo o RODRIGO OLIVEIRA FONSECA rodrigoroflin@gmail.com
nova edição de A fala dos quartéis e as outras vozes chega em um momento especial. Em razão do clima político no país, o aniversário de 50 anos do golpe de 1964 não foi burocrático ou melancólico. Trouxe mais ingredientes ao caldeirão ideológico que cozinha os humores nacionais desde junho passado, e que também se manifesta em torno dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. E, em razão da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, os sentidos de pátria estão em disputa nas ruas, sob o risco de enquadramento de manifestantes e grevistas como terroristas e inimigos da lei e da ordem. Também por isso, é mais que pertinente saber como falavam aqueles que, por 21 anos, arvoraram-se da tarefa de salvar o país da desordem, da corrupção, da república sindicalista e do comunismo. Em perspectiva discursiva e não subjetivista, pertinente à filiação teórica de Freda Indursky a Michel Pêcheux, a questão que o livro desenvolve é: o que falou aí, em todos estes anos, desde o lugar da Presidência da República? Indursky, ao analisar o discurso presidencial da República Militar Brasileira à luz da Análise de Discurso (AD), contribui para o adensamento de nossa compreensão do discurso político e, em especial, dos meandros do autoritarismo. Mobiliza de modo singular e produtivo autores como J.J. Courtine e Claudine Haroche. No caso desta última, propõe importante ajuste no tocante ao conceito de determinação discursiva, pelo qual a saturação de um substantivo associa-se a uma
seleção de cunho ideológico: democracia decente, bons brasileiros, a única e autêntica revolução nacionalista. São instigantes as análises do livro, demonstrando e atravessando as fronteiras entre a sintaxe frasal e a sintaxe discursiva. Formas de negação, de discurso relatado, de interlocução e (in) determinação... — atestamos em sua base linguística o fato de que uma formação discursiva, mesmo autoritária, não é um monólito homogêneo, fechado em si mesmo e estático. Por exemplo, os funcionamentos de NÓS nas falas presidenciais. Do majestático à imagem de porta-voz do regime, há também a captura de interlocutores em teias para lá de constrangedoras (“Digo ‘nossa’ revolução, neste instante, sobretudo porque ela foi obra também da imprensa”, atirou Costa e Silva sobre jornalistas em coletiva de 1969). Um processo interessante é o da construção da quarta pessoa discursiva. Após percorrer a origem psicanalítica do conceito, forma de ausentar-se do seu dizer, Freda Indursky trabalha o seu funcionamento propriamente discursivo, pelo qual se indetermina o agente da enunciação, falando de si como se falasse de outro. Seja em “Hoje o sacrifício que se pede é a véspera da prosperidade nacional” (Castelo Branco), ou em “Se o governo não tivesse o partido, só se poderia realizar uma grande e ampla obra num país em ditadura” (Geisel), o SE das construções transitivas pronominais produz o efeito de uma verdade absoluta em torno de fatos que independem da vontade do enunciador. Apaga-se o agente político que pede sacrifícios à população, no período em que “se” rebaixaram os salários aos menores índices de toda a história; o mesmo agente que não pode prescindir de seu partido, a Arena, para emprestar ares de democracia ao governo. Um elemento-chave do caráter autoritário desse discurso refere-se às formas de construção
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de junho de 2014
na arena do debate público Fotos: Arquivo Edgard Leuenroth (AEL-Unicamp)/Coleção Brasil Nunca Mais
Manifestações de estudantes contra a ditadura, na década de 1960, em São Paulo, em fotos feitas por agentes da repressão
Caio Navarro de Toledo – Deve ser reconhecido que, por ocasião dos 50 anos do golpe de Estado de 1964, foram realizadas centenas de atividades e debates em todo o país. Igualmente, ocorreram manifestações de ruas em repúdio à data. Rádios e TVs de larga audiência promoveram debates e entrevistas sobre o golpe e os efeitos da ditadura militar. Durante várias semanas,
todos os grandes jornais do país publicaram artigos e cadernos especiais sobre os 50 anos do golpe. Dezenas de livros, edições de revistas e blogs/sites tematizaram o assunto. No entanto, o que mais importa destacar é o fato de que sem, nenhuma exceção, todos os materiais publicados pelo conjunto da grande mídia brasileira aborda-
o discurso dos generais do outro, em representações como povo, classes trabalhadoras, (bons e maus) brasileiros etc. Ora o dilui, ora o indetermina, e por vezes fala desse outro como ventríloquo. Quando o outro é o contrário ao governo, a conjuntura histórica implica fortes inflexões no dizer: determina que nas falas de Castelo Branco, Geisel e Figueiredo ele seja um alvo fácil e sempre visível, enquanto nas de Costa e Silva e, de modo extremo, de Médici, haja um ocultamento radical, um recalcamento da oposição, não havendo lugar para emergir o diferente, o externo e o oposto, em sensível proporção ao avanço da repressão política. Muito da AD brasileira só se conhece por artigos e livros de coletâneas, nos quais os procedimentos de análise da materialidade linguística dos discursos, em geral, pouco aparecem. Nesse sentido, A fala dos quartéis é um prato cheio para todos os que apreciam a sustentação analítica desse campo, de(sen)volvendo muitas questões pertinentes aos estudos de linguagem. A fala dos quartéis também é um banquete para os apreciadores das análises do discurso político, e contribui com aqueles campos de saber que tomam a política e o político como questão. J.J. Courtine diz que em AD é preciso ser linguista e deixar de sê-lo ao mesmo tempo. Freda Indursky faz algo ainda mais arrojado, não deixando de ser linguista em momento algum, incitando-nos a acompanhar a todo instante a demanda e as insuficiências do saber linguístico em torno das práticas ideológicas que se materializam nos discursos. Essa é, afinal, mais uma forma de nos recusarmos a ser capturados na cruel e autoritária injunção entre amar e deixar. Rodrigo Oliveira Fonseca é pesquisador associado da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
SERVIÇO Título: A fala dos quartéis e as outras vozes Autora: Freda Indursky Páginas: 352 Preço: R$ 46,00 Editora da Unicamp
ram de forma crítica o movimento de abril de 1964, denominando-o pelo seu devido nome: golpe de Estado, não “revolução democrática”. Registre-se também que passeatas em defesa do golpe, programadas para algumas cidades, fracassaram ou nem mesmo se realizaram face o número irrisório de participantes. Neste ano, nem mesmo os militares, em seus clubes fechados, se reuniram no dia 31 de março para comemorar a data. Todos estes fatos não deixam de ser relevantes quando se privilegia o ideal da construção de uma cultura política democrática no país. A este respeito, deve ser lembrado também que, decorridos 50 anos, é um fato significativo que não foi produzida no Brasil uma única obra cultural relevante (na historiografia, na literatura, no cinema, no teatro, na música popular etc.) em defesa do golpe e do regime militar de 1964. Em contraposição, existem dezenas de obras de elevada consistência artística e intelectual que criticam o golpe e a ditadura militar. Apesar de as representações de natureza democrática serem predominantes, não devemos nos iludir quanto à extensão desta “vitória” ideológica e cultural; afinal, ainda é altamente insuficiente no Brasil o debate público sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar. Apenas os setores letrados da sociedade brasileira têm um conhecimento razoável destes sombrios tempos de nossa história política. Não é, pois, descabido afirmar que a democracia política vigente no país ainda não logrou ser plenamente vitoriosa posto que não enterrou, definitivamente, a ditadura militar de 1964. Além de instituições e dispositivos herdados do período militar, cujos efeitos ainda se fazem sentir sobre a atual vida social brasileira, a memória da ditadura – para a maioria do povo brasileiro – é frágil, imprecisa e lacunar. As entidades do campo democrático e progressista têm elevada responsabilidade pela fragilidade e inconsistência dessa memória; afinal, desde o fim do regime militar, são raras e extemporâneas as iniciativas dos partidos políticos, de organizações de movimentos sociais e entidades culturais para promover debates públicos sobre o golpe e os efeitos perversos do regime militar.
Na batalha pela memória social da ditadura, hoje, ganham amplo destaque os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Nacional de Verdade, criada pelo atual governo. A expectativa é que esta Comissão produza, além de um amplo, minucioso e consistente relatório final, um conjunto de materiais e publicações que possam ser apropriadas pelo debate público, além de propor aos governos federal e estaduais a construção de museus semelhantes aos de vários países da América Latina que documentam os períodos de ditadura militar que viveram. João Quartim de Moraes – Sempre houve reflexão e crítica, mas a questão, sem dúvida, é seu limitado alcance na arena ampliada do debate público. Essa carência não se manifesta apenas a propósito do golpe de 1964. A baixa escolaridade da maioria da população e a intoxicação mental promovida pelos grandes meios audiovisuais manipulados pelos “donos da notícia” explicam em boa parte o fraco interesse pela memória histórica. A amplitude atingida pelo terrorismo de Estado nos outros países latino-americanos também explica as diferenças no grau de rejeição que inspiram os regimes militares contrarrevolucionários. É difícil medir o grau de abominação e de atrocidades de cada um deles. Mas crimes contra a humanidade como o roubo sistemático dos filhos das vítimas da tortura e do assassinato seletivo, tal como ocorreu na Argentina sob o celerado general [Jorge Rafael] Videla e parceiros, mobilizaram as Mães da Plaza de Mayo (hoje avós), cujo pungente combate sensibilizou largas parcelas da opinião pública. No Chile, a violência do golpe de Pinochet foi muito maior do que no Brasil, porque a mobilização popular para levar adiante as reformas sociais avançadas do governo de Salvador Allende colocava na ordem do dia a ultrapassagem do capitalismo. O aniquilamento da resistência dos operários, camponeses, estudantes foi operado à luz do dia, nos bairros populares, nos estádios, na rua. Luiz Alberto Moniz Bandeira – Não creio que se fale pouco a respeito do golpe de 1964. Recentemente, por ocasião do transcurso do seu cinquentenário, saíram muitas publicações sobre o acontecimento. Eu mesmo, ainda vigente o regime militar e estando preso pela Marinha, publiquei, em 1973, o livro Presença dos Estados Unidos no Brasil, obra na qual mostrei a participação dos Estados Unidos, como fator fundamental para a efetivação do golpe. Em 1977, ainda sob a ditadura, lancei O Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961-1964), apoiado na documentação do próprio João Goulart e também na documentação desclassificada nos Estados Unidos, bem, como em entrevistas com os mais diversos atores que participaram dos acontecimentos. Esse livro esteve seis meses no primeiro lugar da lista dos bestsellers. A 8ª edição revista muito ampliada foi publicada pela Editora Unesp, em 2010. Também publiquei, posteriormente, o livro Brasil-Estados Unidos: a rivalidade emergente (1950-1988), no qual analisei a evolução do regime militar, com as suas contradições internas. Sua 3ª edição saiu recentemente pela Civilização Brasileira Há obras excelentes, escritas por acadêmicos norte-americanos, como Jan K. Black, cuja obra A Penetração dos Estados Unidos no Brasil, escrita e publicada nos Estados Unidos, em 1977, foi traduzida e lançada no Brasil pela Editora Massangana, da Fundacão Joaquim Nabuco, em 2010. Outra acadêmica, nos Estados Unidos, Ruth Leacok, publicou Requiem for Revolution – The United States and Brazil, 1961-1969, obra de altíssima qualidade. E não posso deixar de referir-me a outros livros muito bons, muito lúcidos, tais como Cold Warriores Coups d’Etat – Brazilian Relations, 1945-1964, de W. Michael Weis, e Brazilian Part Politics and the Coup of 1964, de Ollie Andrew Johnson. Essas obras deviam ser traduzidas e publicadas no Brasil. (Continua na página 8)
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014
Reformas abortadas, a falta de resistência e o papel dos EUA Foto: Moniz Bandeira/Arquivo particular
(Continuação da página 7)
Navarro de Toledo, Quartim de Moraes e Moniz Bandeira falam sobre temas abordados por eles no livro MARIA MARTA AVANCINI marta.avancini@gmail.com
Na época do golpe de 1964 havia tensões entre grupos sociais e econômicos em razão de reformas sociais e econômicas (por exemplo, a reforma agrária) que se mostravam necessárias e importantes naquele contexto. Que papel o golpe de 1964 desempenhou no sentido de acomodar ou não essas tensões? Elas persistem no Brasil contemporâneo? Caio Navarro de Toledo – Pode-se dizer que em ambas as conjunturas – no pré1964 e no momento atual – um programa de reformas sociais e econômicas deveria se impor no capitalismo brasileiro. Ou seja, as reformas socioeconômicas postuladas nos anos 1960 também seriam necessárias 50 anos depois - a reforma agrária, a reforma bancária, a reforma tributária, a reforma urbana, o controle do capital estrangeiro etc. Talvez a maior diferença entre as duas conjunturas seja o fato de que, no pré-1964, as mobilizações sociais, particularmente nos últimos meses do governo Goulart, foram incentivadas pelo Executivo, pois eram vistas como recursos políticos importantes à realização das reformas. As manifestações não eram, pois, criminalizadas nem reprimidas pelo governo. Hoje, nas ruas e praças da atual conjuntura, as mudanças reivindicadas têm como principais protagonistas os estudantes (setores médios) e alguns movimentos sociais de extração popular, apoiados por partidos políticos socialistas. As bandeiras que, hoje, são desfraldadas nas ruas do país, contudo, não têm sido empunhadas pelas maiores centrais sindicais e partidos políticos congressuais. Por sua vez, diante de ações que atentam contra o patrimônio de empresas privadas, particularmente bancos, o governo federal não tem hesitado em apelar para dispositivos da Lei de Segurança Nacional – herdada da ditadura militar – a fim de ameaçar o conjunto dos manifestantes. Tropas do Exército têm sido cogitadas para reforçar a ação repressiva das PMs estaduais, particularmente no período da Copa da Fifa. Concluindo: no pré-1964 os setores nacional-reformistas e de esquerda postulavam reformas do capitalismo brasileiro na direção daquilo que Florestan Fernandes chamou da “Revolução dentro da ordem”; hoje, as revoltas estudantis e as iniciativas dos movimentos sociais – por meio de seus programas e reivindicações – não parecem questionar os fundamentos da ordem econômico-social dominante.
O senhor enfoca a ausência de resistência ao golpe de 1964. Se entendi corretamente, a atitude e comportamento do então presidente João Goulart foram decisivos para que os militares assumissem o poder com tanta “facilidade”, por assim dizer. Mas, naquele contexto histórico e social, havia condições para resistência? E, caso houvesse, seria possível outro encaminhamento histórico?
João Goulart, presidente deposto pelos militares, em uma de suas fazendas
João Quartim de Moraes – No artigo, a ênfase foi sobre a ausência de resistência militar ao golpe. Uma esquadrilha da Força Aérea Brasileira (FAB) teria destroçado as tropas comandadas pelo fascista [Olímpio] Mourão Filho, que desencadeou a sedição marchando de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Mas os oficiais da Aeronáutica fiéis à legalidade que tentaram decolar foram presos. O mesmo ocorreu com os oficiais do Exército que esboçaram resistência. Bem antes dos que imaginam estar dizendo algo novo ao enfatizarem o caráter também “civil” do golpe de 1964, o saudoso Nelson Werneck Sodré, que participou do colóquio de 1994 no IFCH, sobre os 30 Anos do golpe, sublinhara com lúcida precisão que o golpe “foi político, embora operado por forças militares”. Werneck Sodré sustenta que “os próprios empreiteiros do golpe” surpreenderam-se com a ausência de resistência militar por parte do governo, pois sabiam que Goulart dispunha de elementos militares suficientes para a resistência – embora não seja possível saber se ela seria bem sucedida. Na visão dele, o que paralisou a ação das forças militares a favor do governo foi a prévia derrota política das forças populares que o apoiavam. Lembrando que, de 1945 em diante, as intervenções políticas das Forças Armadas foram inspiradas pelos partidos de direita, ligados aos latifundiários e à burguesia – salvo a do general Teixeira Lott para garantir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek em 1955 –, Werneck Sodré constatou que os militares “devidamente dopados pelo anticomunismo e pela ação maciça da mídia”, acreditavam estar realmente salvando Deus, a Pátria e a Família.
O senhor aponta o papel decisivo desempenhado pelos Estados Unidos no sentido de apoiar e viabilizar a ascensão de governos militares na América Latina, num contexto em que se buscava conter uma suposta onda revolucionária esquerdista. Sem a influência dos Estados Unidos, o golpe de 1964 teria acontecido? Luiz Alberto Moniz Bandeira – O golpe de Estado, que derrubou o governo João Goulart e destruiu o regime democrático no Brasil, não teria ocorrido se os Estados Unidos não o houvessem preparado e patrocinado. A documentação desclassificada não deixa a menor sombra de dúvida. Após a Revolução Cubana, em 1960, as atenções dos Estados Unidos voltaram-se mais e mais para a América Latina e, particularmente, para o Brasil. Àquela época, a Junta Interamericana de Defesa (JID), por iniciativa do Pentágono, aprovou a Resolução XLVII, em dezembro de 1960, propondo que as Forças Armadas, percebidas como instituição mais estável e modernizadora no continente, empreendessem projetos de “ação cívica” e aumentassem sua participação no “desenvolvimento econômico e social das nações”. Em seguida, janeiro de 1961, John F. Kennedy, ao assumir a presidência dos Estados Unidos, anunciou sua intenção de implementar uma estratégia tanto terapêutica quanto profilática com o objetivo de derrotar a subversão onde quer que se manifestasse.
E o Pentágono tratou de priorizar, na estratégia de segurança continental, não mais a hipótese de guerra (HP) contra um inimigo externo, extracontinental (União Soviética e China), porém a hipótese de guerra contra o inimigo interno, isto é, a subversão. Essas diretrizes, complementando a doutrina da contra insurgência, foram transmitidas, através da JID e das escolas militares no Canal do Panamá, às Forças Armadas da América Latina, região à qual o presidente Kennedy repetidamente se referiu como “the most critical area e the most dangerous area in the world” [a região mais crítica e mais perigosa no mundo]. O surto de golpes desfechados pelas Forças Armadas no continente, a partir de então não decorreu somente de fatores domésticos, mas, principalmente, da mutação na estratégia de segurança do hemisfério realizada pelo Pentágono, com o fito de submeter às diretrizes de Washington dos países que recalcitravam e se opunham à intervenção e à ruptura relações com Cuba. Essas intervenções militares na política doméstica, induzidas pelos Estados Unidos, constituíram batalhas da hidden World War Three, da Guerra Fria. Constituíram um fenômeno de política internacional, aí fora necessário criar as condições objetivas, tanto econômicas quanto sociais e políticas, que compelissem as Forças Armadas a derrubar governos contrários aos interesses dos Estados Unidos. A CIA dedicou-se, então a promover spoiling operations, operações de engodo, uma das quais consistia em penetrar nas organizações políticas, estudantis, trabalhistas e outras para induzir artificialmente a radicalização da crise, a fim de criar as condições para a intervenção das Forças Armadas. Com efeito, o golpe militar de 1964 foi made in USA, ou seja, planejado, articulado e impulsionado por Washington. O Pentágono, a partir de julho de 1963, começou a elaborar vários planos de contingência, denominados “Brother Sam”, que consistiam no envio de uma força-tarefa, com o porta-aviões Forrestal, para o litoral do Brasil, com a missão de dar apoio logístico aos insurgentes e desembarcar marines, se o golpe de Estado desencadeasse uma guerra civil. O presidente João Goulart, informado sobre a preparação dos Estados Unidos para intervir militarmente e dividir o Brasil, percebeu que qualquer resistência poderia representar um gesto heróico, porém não passaria de uma aventura, inútil o derramamento de sangue, uma “sangueira” inútil, conforme sua própria expressão.
SERVIÇO Título: 1964 – Visões críticas do golpe: democracia e reformas no populismo Organização: Caio Navarro de Toledo Páginas: 208 páginas Preço: R$ 40,00 Editora da Unicamp
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Aliviando a dor crônica
Ortopedista emprega técnica de acupuntura para avaliar processos inflamatórios em 46 pacientes ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
uitas pessoas, hoje, que ainda não se submeteram à terapia das agulhas da acupuntura – criada há mais de dois mil anos – já não duvidam mais que elas estimulam pontos do corpo que ativam áreas cerebrais, trazendo maior irrigação sanguínea e liberação de substâncias que beneficiam o organismo como um todo. O tratamento consiste no diagnóstico e na aplicação de agulhas em determinados pontos do corpo, que se distribuem em especial sobre as linhas chamadas meridianos, reconhecidos pela medicina tradicional chinesa como canais que ligam a superfície do corpo com órgãos internos, com a função de transportar a energia através do corpo. Uma pesquisa de mestrado desenvolvida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) conseguiu avaliar alterações decorrentes de processos inflamatórios nos meridianos de 46 pacientes com dor crônica atendidos no Ambulatório de Ortopedia do Complexo Hospitalar Ouro Verde, em Campinas. As alterações geraram fenômenos bioenergéticos que puderam ser captados e mensurados de forma segura por um equipamento eletrônico idealizado na Feec durante o estudo do ortopedista Maurício Argenton Sofiato, que empregou a técnica de Ion Pumping (em português bombeamento iônico) – proposta pelo cientista Yoshio Manaka. Maurício, orientado pela docente da Feec Vera Lúcia da Silveira Nantes Button, selecionou exclusivamente pacientes que apresentavam dor em um único membro do corpo, que podia ser superior ou inferior. Ele comprovou vantagens na aplicação da técnica de Manaka, mas ao mesmo tempo observou que ainda pode levar algum tempo para chegar ao estágio de produzir um equipamento comercial com tecnologia nacional. Segundo o que apurou, será fundamental envolver nesta tarefa outros profissionais, como engenheiros e programadores, não somente médicos. “A ferramenta é barata e de simples aplicação”, garante. “Desenvolver um aparelho nacional seria muito bom porque poderia aprimorar a qualidade da acupuntura oferecida nos consultórios brasileiros e baratearia o tratamento pois, depois que a dor se torna crônica, fica muito difícil para o paciente”, repara. Na ortopedia, essa dor aparece mais associada aos membros e à coluna, podendo ter relação com patologias degenerativas. Entretanto, é um pouco precipitada a tendência de correlacioná-la exclusivamente com as atividades do trabalho, como tem sido sugerido, opina.
De acordo com o ortopedista, a dor crônica é um problema para o Brasil porque o seu portador geralmente sofre com o descrédito das pessoas. Também gera gastos governamentais excessivos. Em 2001, as despesas com dor crônica, decorrentes de benefícios previdenciários, suplantaram R$ 75 bilhões no país. Esse é um valor absurdo, critica ele. “Mas imagino que seja do interesse dos governos que esses pacientes tenham uma melhora, de preferência com tratamento de baixo custo.” Um diodo, por exemplo, adotado no equipamento desenvolvido, custa centavos”, exemplifica. No mercado atual, um equipamento similar – que faça uma avaliação e um tratamento automático, porém baseado em outro sistema diagnóstico (de impedância da pele, por exemplo) – é comprado ao custo de US$ 11 mil a US$ 21 mil. É o caso do Eletrodermal Screening Device, o EDSD, de origem alemã.
TÉCNICA O Ion Pumping ainda é pouco explorado no Brasil e há poucos trabalhos disponíveis sobre o tema no mundo. Mais recentemente, o pesquisador Tetsuo Inada, um pouco antes de lançar um livro abordando essa técnica, presenteou o ortopedista com um exemplar. Maurício concluiu que realmente a grande vantagem da técnica é o seu baixo custo. Embora existam muitas críticas à acupuntura, porque são poucos os estudos comprovando a sua eficácia científica, essa técnica mostrou que realmente funciona, porque neste trabalho foi possível medir a diferença de potencial e ver a sua variação com o passar do tempo, durante a aplicação.
Publicação Dissertação: “Estudos das características elétricas dos meridianos e pontos de acupuntura: técnica de Manaka” Autor: Maurício Argenton Sofiato Orientadora: Vera Lúcia da Silveira Nantes Button Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec)
Por outro lado, o mestrando reconhece que “a associação com a melhora do paciente foi o ponto mais complicado de sua dissertação, devido à complexidade dos métodos de avaliação e mensuração da dor crônica”. O pesquisador conta que nessa técnica duas agulhas funcionam como eletrodos que permitem o “bombeamento” de elétrons através de um fio condutor, proporcionando o alívio da dor. Utilizando como complemento terapêutico apenas um diodo semicondutor, um fio elétrico e duas garrinhas, foi possível medir, de forma ágil e eficaz, a diferença de potencial entre dois eletrodos (agulhas de acupuntura) e perceber uma diminuição dessa diferença, ao mesmo tempo em que se verificava uma melhora clínica do paciente. As aplicações ocorreram semanalmente em cinco sessões. O ortopedista não sugeriu modificações na técnica. O que fez, e que acabou sendo inédito, foi medir a diferença de potencial. “Quando a agulha é colocada dentro de uma solução, ela assume as características de um eletrodo. Então torna-se viável a medição da diferença de potencial em relação a duas substâncias diferentes”, explica. Da mesma forma, quando a agulha é introduzida na pele de um paciente, pode haver diferença de concentração de íons sódio e potássio. Essa variação de concentração gera uma diferença de potencial entre as regiões saudáveis e doentes pois, quando se avalia um tecido lesado, ocorre um extravasamento do íon potássio de dentro da célula. É essa diferença que gera a possibilidade de conduzir eletricidade através do fio de Manaka. Ao ligar os dois lados que têm uma diferença de potencial, elétrons são conduzidos do lado que tem mais para o lado que tem menos. Eles correm pelo fio e vão diminuindo a diferença de potencial, que é captada por um sistema que foi criado para a investigação de Maurício. A aplicação desta técnica não excede dez minutos semanais. Depois, os pacientes são acompanhados. O sistema é composto de um amplificador diferencial com ganho 10 (de dez vezes o valor dele), que gera um sinal que pode ser captado em qualquer multímetro comum, comprado em uma loja de material elétrico. O que isso representa? Que houve uma variação de diferença de potencial com a aplicação da técnica, pois essa diferença foi sendo reduzida. Os membros com dor e sem dor foram ficando “iguais”.
Foto: Antoninho Perri
DOR CRÔNICA Maurício ressalta que, quando atuava no Hospital Ouro Verde, a Prefeitura Municipal manifestou a preocupação de reduzir custos com dor crônica. Neste período, ele também começou a ver, em seu consultório, que pacientes com essa dor e sem possibilidades cirúrgicas melhoravam muito com a acupuntura. Decidiu fazer especialização em acupuntura e aplicar a técnica. Ao ler uma descrição de 1940, feita durante a Segunda Guerra Mundial por Manaka, averiguou que seus relatos mencionavam o tratamento da dor dos grandes queimados na guerra sem uso de medicamentos, já que naquele instante não havia outra opção. Manaka usava a técnica de Ion Pumping, que ligava uma área doente a outra área sadia do mesmo paciente com as mesmas características energéticas. Ambas as áreas pertenciam ao mesmo meridiano. Com isso, o médico japonês inferia a possibilidade de transportar íons de um lado para o outro, obtendo sucesso no controle dos processos dolorosos. Essa técnica deveria se chamar bombeamento elétrico, já que os elétrons é que são conduzidos, não os íons. Os íons são partículas que não poderiam ser transferidas por um fio condutor. “Então imaginei que poderia tratar pacientes com dor crônica com tal técnica”, revela.
A partir daí, o ortopedista empregou uma escala visual analógica (VAS) modificada, a qual é um parâmetro que permite mensurar a dor através de indicações que vão de nenhuma dor, leve, moderada, intensa a muito intensa. Com essa escala, o pesquisador investigou o paciente antes e após a aplicação da técnica em cada sessão, para verificar se houve melhora clínica, ou não, e se essa melhora era duradoura, ou não. Notou-se melhora dos pacientes. “Mas o que acontece é que na nossa amostra muitos eram dependentes do benefício previdenciário. Então tinham ‘medo’ de falar que melhoraram, uma vez que poderiam perder tal benefício, que muitas vezes era o que sustentava suas famílias.” E a melhor forma de se avaliar a dor, ressalta, seria o relato dos próprios pacientes. Contudo, Maurício afirma que não dá para acreditar 100% nos auto-registros de ausência de melhora, pois esses pacientes não desistiam do tratamento e livremente optavam por permanecer na pesquisa. Apenas uma pessoa desistiu, por não obter melhora. Para que esse quadro mudasse, o médico acredita que a população do estudo deveria ser outra – que não dependesse dos benefícios previdenciários. “Isso porque é evidente que realizamos a medição, percebemos uma diminuição da diferença de potencial e verificamos uma melhora clínica do paciente”, enfatiza ele. Agora, caberá a Maurício criar um modelo estatístico que permita correlacionar o grau da variação do sinal com a melhora clínica, iniciativa que deve ficar para o doutorado. A presente investigação foi realizada em parceria com o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento (LPD) e com o Laboratório de Ultrassom (LUS), ambos do Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) da Feec. Também os pesquisadores de lá montaram o Amplificador Diferencial, que permitiu expandir o sinal e ter um registro da diferença de potencial no multímetro. “A importância desse trabalho interdisciplinar é que esse conhecimento não faz parte da rotina médica. Se não fosse o Departamento de Engenharia Biomédica, não teríamos condições de desenvolver esse sistema”, reconhece Maurício, que atualmente trabalha em clínica privada e no serviço de saúde ocupacional da Prefeitura Municipal de Campinas.
Maurício Argenton Sofiato, autor da pesquisa: “A ferramenta é barata e de simples aplicação”
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PAINEL DA SEMANA Desafios da docência universitária - Palestra será proferida pela professora Maria Isabel da Cunha, dia 10 de junho, às 9 horas, na sala 55 do EA² do Ciclo Básico. A organização é do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA²). Público Alvo: Docentes da Unicamp. As inscrições podem ser feitas no link www.ea2.unicamp.br. A palestrante tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Superior, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, pedagogia universitária e avaliação institucional. Mais informações: telefone 19-3521-7991 ou e-mail ea2@reitoria.unicamp.br Docência e memória: escritas e lembranças da Educação - Tema será abordado na próxima edição do Fórum Permanente de Desafios do Magistério. O evento ocorre no dia 10 de junho, às 8h30, no Centro de Convenções da Unicamp. É organizado pelo Centro de Memória da Faculdade de Educação (FE), pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) e pelo Correio Escola Multimídia/RAC. O Fórum, que será transmitido ao vivo pela RTV Unicamp, reunirá pesquisadores de diferentes áreas da educação para um dia de debates sobre a memória como elemento significativo da prática docente. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/ ou telefone 19-3521-5565. Os Bem-intencionados - O Lume Teatro-Unicamp apresenta o espetáculo, no Galpão Multiuso do Sesc Campinas, dias 10, 11 e 12 de junho, às 20 horas. A peça retrata uma noite na vida dos integrantes de um conjunto musical iniciante, envolvendo atores e público em um mesmo espaço cênico. Em um salão de baile, eles surgem conduzidos pela música. Aos poucos, as aparências arduamente construídas começam a se desmanchar, revelando aspectos humanos e frágeis de cada um. Um elogio à arte, uma reflexão irreverente sobre suas perspectivas em nosso tempo e do trabalho artístico como expressão ou degrau para a fama. Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 4 (matriculados no Sesc). O SESC Campinas fica na rua D. José I, 270, no bairro do Bonfim. Mais detalhes pelo e-mail marina@lumeteatro.com.br Os determinantes sociais da saúde e uma política de saúde justa - Tema será apresentado por Camila Gonçalves De Mario, Pós-doutoranda (EACH/USP-Leste), dia 11 de junho, das 12h30 às 14 horas, no auditório do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo). O encontro faz parte da próxima edição da Série “Tempo de Debate”, evento organizado pelo Nepo, que visa trocar experiências informais entre pesquisadores do Nepo com a comunidade acadêmica. O evento está sob a responsabilidade da professora e historiadora Maísa Faleiros. Mais informações: 19-3521-0363. Livros com 25% de desconto - A livraria da Unicamp localizada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) promove até 11 de junho a venda de livros das editoras Cia. das Letras e Zahar com 25% de
desconto. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas, à rua Sérgio Buarque de Holanda 571, no IEL. Linguagem, intersubjetividade e conhecimento - No dia 11 de junho, às 16 horas, no Anfiteatro UL01 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira-SP, acontece mais um encontro do evento Quartas Interdisciplinares (QIs), promovido pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da FCA. Desta vez, o tema a ser tratado será “Linguagem, intersubjetividade e conhecimento”. As QIs são coordenadas pelos professores Eduardo Marandola Júnior e Álvaro D’Antona. Mais informações: telefone 19-3701-6674 ou e-mail chs@fca.unicamp.br Expediente na Copa do Mundo - Em virtude dos jogos do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo, no dia 12 de junho assim como no dia 17, o expediente da Unicamp será encerrado às 12h30. No dia 23 o expediente estará suspenso, conforme Portaria GR 41/14. As horas não trabalhadas serão compensadas, observadas as respectivas jornadas de trabalho, cabendo às Unidades e Órgãos estabelecerem e fiscalizarem a forma de compensação. A presente medida não alcança as atividades definidas como essenciais, intransferíveis ou de interesse público, que terão funcionamento normal. Dessa forma, os Órgãos de apoio administrativo às Unidades e Órgãos que prestam esses serviços deverão se organizar para dar suporte ao funcionamento ininterrupto de tais atividades. Imagens sobre a docência: história de vida e a escrita espetacular - Tema será debatido pela professora Alessandra Ancona de Faria, pós-doutoranda pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, dia 13 de junho, às 9 horas, no Salão Nobre da FE. O evento é promovido pelo Laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação (Laborarte). A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-5565 ou e-mail eventofe@unicamp.br 40 anos do Arquivo Edgard Leuenroth - Fórum ocorre no dia 25 de junho, às 9 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. Celebrar os 40 anos de existência da instituição, fortalecendo as atuais parcerias e firmando outras; refletir sobre os caminhos a serem trilhados diante das novas tecnologias da informação e das crescentes possibilidades de pesquisa por acesso remoto, bem como sobre a produção acadêmica resultante de seu acervo nestes 40 anos e buscar contribuições para elaborar diretrizes para futuras políticas de ampliação e aquisição de fontes são os objetivos do evento. O Fórum será transmitido pela TV Unicamp e está sob a responsabilidade do professor Alvaro Bianchi. Inscrições, programação e outras informações no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/politicaspub02.html Obras censuradas em exposição - A Área de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BCCL) expõe dez obras que foram censuradas pelo órgão de Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Visitas podem ser feitas até o final de junho, de segunda a sexta-feira das 9 às 17 horas, no 3º piso da BCCL. Mais informações: 19-3521-6465.
EVENTOS FUTUROS Comunicação e política para Bioeconomia - O Instituto de Economia (IE) em parceria com a Universidade de Tecnologia de Delft e o Be-Basic oferecem, de 21 a 25 de julho, das 9 às 18 horas, nas dependências do IE, o curso Comunicação e política para bioeconomia. O objetivo é criar uma compreensão sobre o papel e a natureza das percepções públicas e suas políticas de inovação e transferência de tecnologia com a bioeconomia. Nele, os estudantes poderão adquirir conhecimentos para que se engajem na comunicação, em comitês regulatórios e na formulação de novas políticas. Ética, Ciência da Comunicação, Políticas de Inovação e Questões Regulatórias, Percepção Pública, Mídia e Estratégias de Comunicação e Avaliação e percepção de riscos são os tópicos a serem abordados. A organização é dos professores José Maria da Silveira e Patricia Osseweijer. Mais detalhes pelo e-mail brazil@be-basic.org ou telefone 19 3521-1267. Cole - Com o tema Leituras sem margens, o décimo nono Congresso de Leitura do Brasil (Cole) acontece de 22 a 25 de julho de 2014, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é da Associação de Leitura do Brasil (ALB). Mais informações: 19 3521-7960 ou e-mail acamorim@alb.com.br Revista Brasileira de Inovação recebe trabalhos - A editoria da Revista Brasileira de Inovação recebe, até 31 de julho, arti-
DESTAQUE
gos para a confecção de um número especial sobre política industrial e inovação, a ser lançado em 2015. Os artigos devem ser resultados de pesquisas originais e inéditos, de natureza teórica ou aplicada e se alinharem aos temas definidos nesta chamada. Serão aceitos trabalhos em português, inglês ou na língua espanhola. Wilson Suzigan, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, e Renato Garcia, do Instituto de Economia (IE) são os editores da publicação. Saiba quais são os temas em que os trabalhos devem se enquadrar acessando o link http://www.unicamp. br/unicamp/eventos/2014/04/02/revista-brasileira-de-inovacao-recebeartigos-ate-31-de-julho
TESES DA SEMANA Artes - “Cinema português contemporâneo: a fabulação do real em Pedro Costa” (mestrado). Candidata: Maíra Freitas de Souza. Orientador: professor Francisco Elinaldo Teixeira. Dia 18 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 3 da CPG do IA. Ciências Médicas - “Centro de Convivência e Cultura e suas repercussões na vida de usuário de um Centro de Atenção Psicossocial” (mestrado). Candidata: Priscila Helena Rubin Ferreira. Orientadora: professora Maria de Fátima Campos Françozo. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, no anfiteatro da comissão de Pós-graduação da FCM. Engenharia Agrícola - “Desenvolvimento de modelos numéricos baseados em séries temporais de dados agroclimáticos e espectrais aplicados ao planejamento regional de produção de cana-de-açúcar” (de doutorado). Candidata: Renata Ribeiro do Valle Gonçalves. Orientador: professor Jurandir Zullo Junior. Dia 18 de junho de 2014, às 14h30, no Laboratório de Solos da Feagri. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Eficiência de um sistema simplificado de tratamento de efluentes na remoção de cistos de Giardia spp. e ovos de helmintos” (mestrado). Candidata: Lays Paulino Leonel. Orientador: professor Adriano Luiz Tonetti. Dia 9 de junho de 2014, às 9 horas, na sala CA-22 da FEC. “Desnitrificação em filtro anaeróbio” (mestrado). Candidata: Jenifer Clarisse Pereira da Silva. Orientador: professor Adriano Luiz Tonetti. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, na sala CA-22 da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Proposta de metodologia de avaliação de voz sintética com ênfase no ambiente educacional” (mestrado). Candidato: Harlei Miguel de Arruda Leite. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 9 de junho de 2014, às 10 horas, na sala PE-12 da FEM. “Ambiente virtuais de aprendizado: propostas de editoração e visualização de conteúdo educacional para aulas presenciais e online” (mestrado). Candidato: Tiago Cinto. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 11 de junho de 2014, às 10 horas, na sala PE-12 da CPG da FEEC. “Proposta de protocolo de roteamento geográfico utilizando algoritmo de localização baseado em medidas de intensidade de sinal” (mestrado). Candidato: Luiz Carlos Branquinho Caixeta Ferreira. Orientador: professor Paulo Cardieri. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 4 da FEEC. “Construção de grupos fuchsianos aritméticos provenientes de álgebras dos quatérnios e ordens maximais dos quatérnios associados a reticulados hiperbólicos” (doutorado). Candidata: Cintya Wink de Oliveira Benedito. Orientador: professor Reginaldo Palazzo Junior. Dia 18 de junho de 2014, às 15 horas, na FEEC. Engenharia Mecânica - “Desenvolvimento de um cabeçote de extrusão de filamento fundido para manufatura aditiva” (mestrado). Candidato: Frederico David Alencar de Sena Pereira. Orientador: professor João Mauricio Rosario. Dia 9 de junho de 2014, às 14 horas, na sala JE-02 da FEM. “Avaliação da tixoconformabilidade de ligas Al-Si-Cu produzidas via refino de grão” (mestrado). Candidata: Camila Sola Ruiz. Orientador: professor Eugênio José Zoqui. Dia 10 de junho de 2014, às 14 horas, no auditório do DEF da FEM. “Uma contribuição à melhoria do processo de fresamento em 5 eixos de pás de turbinas hidráulicas” (mestrado). Candidato: Rafael Segantin Lacerda. Orientador: professor Anselmo Eduardo Diniz. Dia 18 de junho de 2014, às 9 horas, na sala de seminários ID02 da FEM. Engenharia Química - “Estudo dos efeitos da incorporação de aditivos estabilizadores à radiação ultravioleta sobre as propriedades mecânicas e térmicas do polímero abs” (mestrado). Candidata: Mayara
DO PORTAL
Semana do Meio Ambiente e ‘ambientalização’ da Unicamp “ambientalização” da Universidade foi a ideia trazida pelo professor Sandro Tonso, da Faculdade de Tecnologia (FT), para o debate na abertura da Semana do Meio Ambiente da Unicamp, no último dia 2, no Centro de Convenções. “A Unicamp já faz isso de modo ainda não articulado. Estamos em um bom momento para criar, com o apoio da Reitoria, uma política de ambientalização que envolva todos os campi, articulando não apenas órgãos e unidades que já se ocupam disso, mas toda a comunidade; e trazendo o tema inclusive para dentro das disciplinas, pensando que a formação de um filósofo, engenheiro ou tecnólogo deve tocar nas questões ambientais. É preciso que a Universidade discuta e se comprometa com isso.” Este fórum, que teve como tema “Unicamp: construindo uma trajetória sustentável”, abriu oficialmente as atividades da semana, que ocorrerão em vários pontos e visam promover um diálogo sobre as questões socioambientais nos campi, integrando as ações já existentes e criando novas iniciativas. “A Unicamp já implementou uma política ambiental há alguns anos, com resultados muito bons, como por exemplo, zerando o seu déficit de resíduos dos laboratórios. Mas podemos levar a questão ao Restaurante Universitário, órgãos administrativos, pesquisas e projetos de extensão. O momento é de ampliar as iniciativas e trazê-las para a cultura universitária do dia-a-dia”, completou Sandro Tonso. A professora Rachel Stefanuto, do Instituto de Geociências (IG), também participou dos debates no fórum, mas chamou a atenção para o “Café Mundial” que ocorreria durante todo o dia 3, na Casa do Lago. “Vamos
Pollyane Calderaro da Silva. Orientadora: professora Ana Rita Morales. Dia 10 de junho de 2014, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Física - “Efeitos quânticos em semimetais de Dirac” (doutorado). Candidato: Bruno Cury Camargo. Orientador: professor Iakov Veniaminovitch Kopelevitch. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Um método espectral eficiente para domínios não-limitados: aplicações a toros auto-gravitantes em torno de buracos negros” (doutorado). Candidato: Claiton Pimentel de Oliveira. Orientador: professor Alberto Vazquez Saa. Dia 16 de junho de 2014, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. Linguagem - “Diálogos possíveis: o folhetim Helena (1876), de Machado de Assis, no jornal O Globo” (mestrado). Candidata: Priscila Salvaia. Orientador: professor Jefferson Cano. Dia 11 de junho de 2014, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Uma ou duas? Eis a questão! Um estudo do parâmetro número de mãos na produção de sinais da língua brasileira de sinais (libras)” (doutorado). Candidato: André Nogueira Xavier. Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 13 de junho de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Memória e ficção: o teor testemunhal na obra de Günter Grass” (mestrado). Candidato: Bruno Mendes dos Santos. Orientador: professor Márcio Orlando Seligmann Silva. Dia 13 de junho de 2014, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. “You tell stories, we click on them: ciberliteratura(s) e novas experiências na criação de histórias” (doutorado). Candidata: Ana Flora Schlindwein. Orientador: professor Denise Bértoli Braga. Dia 16 de abril de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses de IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Superfícies mínimas em variedades lorentzianas” (doutorado). Candidata: Adriana Araujo Cintra. Orientador: professor Francesco Mercuri. Dia 11 de junho de 2014, às 11 horas, na sala 253 do Imecc. “Soluções invariantes de operadores diferenciais definidos em fibrados” (mestrado). Candidato: Elizeu Cleber dos Santos França. Orientador: professor Pedro José Catuogno. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 221 do Imecc. “Aproximação de funções contínuas e de funções diferenciáveis” (mestrado). Candidata: Maria Angélica Araujo. Orientador: professor Jorge Tulio Mujica Ascui. Dia 13 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “A fórmula de Russo e desigualdades de desacoplamento para entrelaçamentos aleatórios” (doutorado). Candidato: Diego Fernando de Bernardini. Orientador: professor Serguei Popov. Dia 16 de junho de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Influência da medicação intracanal no tratamento endodôntico” (doutorado). Candidata: Giselle Priscilla Curz Abi Rached. Orientadora: professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes. Dia 9 de junho de 2014, às 8h30, no anfiteatro 2 da FOP. “Avaliação da resistência da união à dentina desmineralizada pós-tratamentos remineralizadores” (mestrado). Candidato: Luiz Filipe Barbosa Martins. Orientadora: professora Regina Maria Puppin Rontani. Dia 10 de junho de 2014, às 9 horas, no anfiteatro 2 da FOP. “Cimentos resinosos modificados com aditivos poliméricos tiouretanos: propriedades da camada de cimento e da interface adesiva” (doutorado). Candidato: Ataís Bacchi. Orientador: professor Rafael Leonardo Xediek Consani. Dia 10 de junho de 2014, às 14 horas, no anfiteatro 2 da FOP. “Avaliação qualitativa e quantitativa da formação e tratamento in vitro de lesões de cárie sub-superficiais em dentes decíduos” (mestrado). Candidata: Thais Varanda. Orientadora: professora Fernanda Miori Pascon. Dia 16 de junho de 2014, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Associação entre saúde bucal, qualidade de vida, níveis salivares de cortisol e alfa-amilase em idosos institucionalizados” (doutorado). Candidata: Polyanne Junqueira Silva Andresen Strini. Orientadora: professora Maria Beatriz Duarte Gavião. Dia 18 de junho de 2014, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. Química - “Espectrometria de massas aplicada em estudos de quantificação de hormônios esteroidais na área de produção animal” (doutorado). Candidato: Helio Alves Martins Júnior. Orientador: professor Marcos Nogueira Eberlin. Dia 9 de junho de 2014, às 14 horas, na IQ-14 do IQ. “Quantificação dos hormônios esteroides em plasma e fluido folicular bovino utilizando cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas sequencial (LC-MS/MS)” (mestrado). Candidato: Marcos Paulo Steola. Orientador: professor Marcos Nogueira Eberlin. Dia 11 de junho de 2014, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Foto: Antonio Scarpinetti
discutir com alunos, docentes e funcionários qual é a contribuição que estamos dando para resolver um quadro de insustentabilidade. A sustentabilidade exige uma ação constante, tanto por parte do educador no processo de formação dos profissionais, mas dentro de todo o campus, promovendo acessibilidade, mobilidade, inclusão, diálogo e parcerias nesse sentido.” Antes da cerimônia com a presença de autoridades, o músico Paulo Ohana, estudante do InsAbertura da Semana do Meio Ambiente: articulando as ações tituto de Artes (IA), interpretou “Sal da Terra”, de Beto Guedes, ao passo que no saguão do auditório estavam desperdício de água. E temos ainda a Divisão expostos banners voltados à questão ambiende Alimentação, com um programa constantal. A programação do primeiro dia incluiu a te contra o desperdício de alimentos, hoje exibição do filma “Janelas da Alma” na Casa em torno de 10% ao dia, quando já chegou do Lago. Durante a semana foram exibidos a 18%.” filmes, e aconteceram visitas monitoradas às A pró-reitora de Desenvolvimento Uniáreas ambientais e de serviços da Unicamp, versitário, professora Teresa Atvars, lembrou uma feira de economia solidária, caminhadas que a história da Unicamp com a questão ame ações promovidas por alunos integrantes biental é antiga, remontando aos anos 1980, do Trote da Cidadania pelo Consumo Consno Instituto de Química (IQ), que já se preciente, com a participação também das crianocupava com a destinação dos resíduos quíças do sistema educativo da Universidade. micos produzidos nos laboratórios. “Hoje o O professor Armando José Geraldo, presite do IQ traz um manual de tratamento de feito da Unicamp, disse que tem sob sua resresíduos acessado por todas as universidades brasileiras. Esse mesmo manual deu origem à ponsabilidade a Divisão de Meio Ambiente, Central de Resíduos da Unicamp e, mais recom serviços de limpeza urbana, áreas verdes, centemente, nos anos 2000, na primeira vercoleta seletiva e de monitoramento animal. são do Planejamento Estratégico, foi introdu“São serviços que poucos conhecem, como zido o conceito de universidade sustentável. de proteção às capivaras, que em períodos Na mesma época criou-se o Trote da Cidadade frio procuram mais o asfalto; de podas de nia, que levou o tema da sustentabilidade aos árvore, que melhoram a iluminação, mas resalunos ingressantes e conquistou inúmeros peitar limites estabelecidos pela legislação; prêmios nacionais.” e o trabalho de “caça vazamentos” contra o
Para o professor João Azevedo Meyer, próreitor de Extensão e Assuntos Comunitários, a responsabilidade pelo meio ambiente é uma parte relevante da extensão universitária. “Trabalho com ecologia matemática e, na Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional, apareceu pela primeira vez, em 1979, um trabalho que trazia a ideia de sustentabilidade. É daquele tempo que a ecologia matemática vem se esforçando em pesquisas sobre o tema. Mas tudo isso que fazemos pelo meio ambiente não deixa de ser um trabalho de extensão universitária, é a produção científica e acadêmica da Universidade colocada a serviço da sociedade.” Representando o reitor José Tadeu Jorge, a professora Ítala D’Ottaviano, pró-reitora de Pós-Graduação, afirmou que a Unicamp tem inovado na área ambiental e, ainda no final dos anos 1970, criou os centros e núcleos interdisciplinares de pesquisa, entre eles o Nepam (Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais) e o Nipe (Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético). “A partir das atividades do Nepam foi implantado o primeiro programa de pós-graduação multiunidades da Unicamp, de Ambiente e Sociedade, que envolve pesquisadores de ciências humanas, biológicas e de exatas. E, desde o início, este programa se tornou uma referência, de tal forma que a Capes criou uma área para avaliação de programas na área ambiental.” Ao final da Semana do Meio Ambiente da Unicamp, foi formulada uma carta de intenções para expressar as propostas colhidas durante a semana e que, além de nortear as ações da Universidade, será enterrada numa “cápsula do tempo” para que possa ser avaliada futuramente. O evento foi organizado por uma comissão formada por pessoas de diversos órgãos: Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), Grupo Gestor Ambiental (GGA), Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), Prefeitura do Campus, Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH), Centro de Saúde da Comunidade (Cecom), Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), Espaço Cultural Casa do Lago e Trote da Cidadania pelo Consumo Consciente. (Luiz Sugimoto)
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014
Grupo isola duas toxinas
de veneno de serpente
Descoberta feita por pesquisadores brasileiros pode resultar no desenvolvimento de fármacos Foto: Reprodução
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
ma equipe de pesquisadores ligados a instituições brasileiras, incluindo o Laboratório de Química de Proteínas (Laquip) do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, conseguiu isolar e caracterizar duas toxinas presentes no veneno da serpente Bothrops brazili, um tipo de jararaca que vive na América do Sul, já tendo sido encontrada no Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Guiana Francesa. Artigos descrevendo as moléculas e seu modo de ação no corpo humano já foram publicados em periódicos internacionais, como Biochimica et Biophysica Acta, Toxicon e Acta Crystallographica. Essas descobertas poderão vir a ajudar não só no tratamento das vítimas de picada, mas também no desenvolvimento de novas drogas para outros problemas de saúde – uma molécula encontrada no veneno de outra espécie de jararaca, Bothrops jararaca, já serviu de base para a criação de um remédio para hipertensão. As serpentes do gênero Bothrops – as jararacas – aparecem em cerca de 90% dos casos de envenenamento por picada de cobra no Brasil, mas não existe um soro antiofídico capaz de ser útil para qualquer tipo de picada, mesmo quando a espécie exata do animal é conhecida. “Há diferenças na composição do veneno dependendo da distribuição geográfica, a alimentação e até a idade da serpente”, explicou ao Jornal da Unicamp o pesquisador peruano Salomón Huancahuire-Vega, que iniciou seus estudos com o veneno da B. brazili durante o mestrado, realizado no Laquip e é autor das publicações sobre as duas moléculas caracterizadas. Suas pesquisas continuaram no doutorado e prosseguem agora no pós-doutorado, também realizados na Unicamp sob a orientação do professor Sergio Marangoni. “Toda essa variabilidade não permite ter um soro antiofídico que possa ser útil para qualquer acidente ofídico, pois o soro será efetivo para aquelas toxinas que estavam presentes no veneno com o qual se preparou o soro, e se o acidente ocorre com uma serpente que expressa alguma toxina diferente, a eficiência do soro diminui, e é exatamente isso o que acontece na realidade”, disse ele. “Sempre que um acidente ocorre com alguma serpente botrópica, apesar do uso do soro antiofídico, alguns danos são irreversíveis”. No caso específico da B. brazili, a serpente produz uma quantidade excepcional de veneno em suas glândulas, o que a torna ainda mais perigosa. “No envenenamento causado por B. brazili, ocorrem consequências sérias, devido aos componentes tóxicos presentes no veneno, assim como ao grande volume inoculado”, disse Huancahuire-Vega.
SAÚDE PÚBLICA Somada à baixa eficácia dos soros antiofídicos disponíveis, há a dificuldade logística de fazer o antiveneno chegar às regiões amazônicas, mais afetadas por acidentes envolvendo esse tipo de serpente. Como diz o artigo publicado por Huancahuire-Vega e colegas no periódico Biochimica et Biophysica Acta, “o acesso a essas áreas remotas é muito limitada, por causa de barreiras geográficas, vasto território e falta de infraestrutura rodoviária”. Os autores do artigo citam ainda um estudo publicado em 2008 no periódico PLoS Medicine, que afirma que “o envenenamento resultante da picada de cobra é um problema importante de saúde pública em vários países tropicais e subtropicais”. O trabalho da PLoS, de autoria de pesquisadores da Europa e do Sri Lanka, estima que o total anual de mortes por picada de cobra, no mundo, pode ser de mais de 90 mil. Outro artigo, publicado na revista médica Lancet em 2010, fala em mais de milhões de picadas anuais e até 125 mil mortes.
Bothrops brazili, jararaca encontrada na América do Sul: diferenças na composição do veneno
O artigo na Lancet se refere à picada de cobra como uma “doença tropical negligenciada”, que já mata mais, em escala global, que patologias como dengue e cólera. “A dengue causa um número estimado de 50 mil novas infecções a cada ano, incluindo 73 mil casos graves, 19 mil dos quais são fatais, enquanto que a picada de cobra (...) pode matar até seis vezes mais pessoas”, diz o trabalho da Lancet.
PROTEÍNAS-TOXINAS
“Nós temos que entender que o veneno é utilizado pela serpente como uma arma de defesa e alimentação. Para garantir a sobrevivência da espécie, estes animais precisam sintetizar uma combinação de substâncias químicas mortais que funcionam em conjunto”, disse o pesquisador, explicando a origem da complexidade do veneno. “Algumas toxinas têm efeitos dissolvendo os músculos, outras causam paralisia. Essas substâncias no veneno das serpentes têm natureza protéica, e proteínas se encontram em todo o organismo, e cumprem funções importantes na digestão, circulação, transmissão nervosa, entre outras”. As toxinas nos venenos das serpentes são proteínas comuns em novas versões letais, ou formas mutantes de proteínas naturais do corpo, envolvidas em processos fisiológicos muito importantes, prosseguiu ele. Assim como as demais proteínas, as toxinas são cadeias formadas por unidades químicas menores, os aminoácidos. “Como já disse, nenhum antiveneno funciona para todas as mordidas de serpentes porque o veneno é incrivelmente variado: não só existe muita variação de uma espécie para outra, mas, até, dentro da área geográfica de uma espécie vemos grandes diferenças na composição do veneno. É como se tivessem um cardápio diferente, por assim dizer”. “Quando nós começamos o estudo deste veneno existia pouca informação, apenas alguns reportes de estudos ou caracterizações parciais de frações com certas atividades, mas nada isolado e caracterizado como nós fizemos”, disse. Huancahuire-Vega e seus colegas fizeram o isolamento e a caracterização bioquímica e farmacológica de duas miotoxinas – venenos que atacam o tecido muscular – que pertencem a uma família chamada fosfolipases A2 (PLA2), e que foram batizadas de BbTX-II e BbTX-III. A BbTX-III, uma típica PLA2, apresenta forte atividade catalítica – isto é, ela acelera certas reações químicas – e seus efeitos farmacológicos são resultado de sua ação sobre um conjunto de moléculas, chamadas fosfolipídios, presente na membrana das células musculares: uma vez rompida a membrana, a célula morre.
Já a BbTX-II é do grupo chamado de PLA2homólogas: possui a arquitetura molecular das PLA2 típicas, mas pequenas mudanças de aminoácidos na parte responsável pelo efeito catalítico fizeram com que estas toxinas perdessem a sua atividade de catalisadoras. O interessante deste grupo de toxinas, explica o pesquisador, é que, mesmo sem atividade catalítica, elas produzem os mesmos efeitos das PLA2 ativas cataliticamente. Em alguns casos, esses efeitos são até mais pronunciados. O desafio é compreender o mecanismo pelo qual toxinas como a BbTX-II agem para gerar o dano muscular.
MECANISMO
O pesquisador explica que o veneno de B. brazili age de forma local, diretamente nos tecidos onde foi injetado. Ainda não há evidência de ação em tecidos distantes. “As toxinas PLA2 que caracterizamos agem diretamente na membrana celular dos tecidos afetados”, o que rompe as células e destrói os tecidos. As BbTX-II e BbTX-III são toxinas que provocam destruição do tecido muscular e inflamação local, embora testes de laboratório mostrem que elas também podem ser tóxicas para os neurônios, as células do sistema nervoso. Uma contribuição importante do grupo de pesquisa, na compreensão de como essas proteínas agem na membrana muscular, foi a proposta de um novo mecanismo de ação: “Com base na determinação da estrutura cristalográfica da BbTX-II, e em comparações com outras toxinas botrópicas da mesma família, propomos uma hipótese coerente dos eventos moleculares que levam à sua toxicidade”, disse o pesquisador. A hipótese descreve, em detalhes, como a BbTX-II se ancora sobre a membrana, facilitando sua desestabilização. “Desorganizada, a membrana perde descontroladamente íons, iniciando alterações celulares irreversíveis, que acabam com a morte da célula”, explicou Huancahuire-Vega. “Este modelo proposto pode ser útil para desenvolver eficientemente inibidores que podem ser utilizados para complementar a administração do soro antiofídico convencional, evitando lesões permanentes ainda causadas por estas toxinas nas vítimas de acidentes ofídicos”, completou.
OUTRAS TOXINAS
“Ainda falta muito para chegar a conhecer este veneno e seus componentes individuais”, afirmou ele. “O isolamento e caracterização de componentes individuais do veneno constitui o suporte da toxinologia, como uma estratégia fundamental para analisar e entender a série complexa de eventos envolvidos no envenenamento ofídico”.
A análise do veneno completo sugere a existência de mais de 30 proteínas ou toxinas diferentes, diz o cientista. “O veneno viperídio, que é o nome da família à qual pertence a B. brazili, caracteriza-se por possuir varias famílias de toxinas”, sendo a família das PLA2 uma das mais abundantes.
POTENCIAL O estudo detalhado das moléculas que compõem o veneno das serpentes também pode abrir caminho para a descoberta de novos fármacos, capazes de salvar vidas mesmo fora do contexto do envenenamento por picada de serpente. “As toxinas do veneno da serpente possuem alta especificidade de seu alvo. São consideradas, cada vez mais, como modelos biológicos e têm contribuído para o conhecimento de como cada aminoácido da cadeia que compõe a proteína participa na expressão biológica da molécula”, disse Huancahuire-Vega. “Dessa forma, são cada vez mais utilizadas como ferramentas farmacológicas e como protótipo natural para o desenvolvimento de medicamentos”. O que sustenta essa estratégia industrial, explicou ele, é o fato de as toxinas representarem um modelo biológico isolado e purificado em laboratório, com moléculas homogêneas, de características físico-químicas já bem definidas e submetidas a testes farmacológicos. “Todo resultado advindo dessas moléculas podemos atribuir às suas características estruturais, que contribuem para a organização espacial da molécula, fazendo que seja uma proteína funcional”. Ele cita como exemplo o captopril, medicamento usado no combate à hipertensão arterial. Criado nos Estados Unidos em 1977, o medicamento surgiu a partir de um estudo do veneno da serpente Bothrops jararaca, feito no Brasil nos anos 60. Em tempos mais recentes, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) têm estudado o uso de proteínas do veneno da jararaca e da cascavel na criação de adesivos para uso medicinal – capazes de fechar cortes na pele, por exemplo – e no combate ao câncer.
Publicação Tese: “Modificações químicas e caracterização farmacológica das miotoxinas PhTX-I e PhTX-II isoladas do veneno de Porthidium hyoprora” Autor: Salomón Huancahuire-Vega Orientador: Sergio Marangoni Unidade: Instituto de Biologia (IB)
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Campinas, 9 a 22 de junho de 2014
Unicamp e Capes lançam projeto de pós-graduação LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
oi lançado no último dia 29 o Projeto Integrado Unicamp de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que possibilita o ingresso de pesquisadores de organismos de pesquisa, em especial da região de Campinas, em Programas de Pós-Graduação da Universidade, com o desenvolvimento de teses e dissertações em condições especiais. O evento organizado pela PróReitoria de Pós-Graduação (PRPG) contou com a presença da Capes: o presidente Jorge Almeida Guimarães, o diretor de Avaliação Lívio do Amaral e os coordenadores de Comitês de Área, que foram recebidos pelo reitor José Tadeu Jorge e o coordenador-geral Alvaro Crósta. Um lugar na mesa foi reservado a José Ellis Ripper Filho, ex-professor da Unicamp e representante do Governo do Estado no Conselho Universitário, que idealizou o projeto considerado piloto para ser replicado em outras universidades do país. A professora Ítala D’Ottaviano, pró-reitora de Pós-Graduação, apresentou o Projeto Integrado Unicamp aos diretores, diretores associados e coordenadores das Comissões de Pós-Graduação dos institutos e faculdades. “A proposta não constitui um novo programa de pós-graduação e sim uma nova forma de atuação de diversos programas de mestrado e doutorado, que se propõem a receber de uma forma especial pesquisadores de organismos de pesquisa, públicos ou não. Já temos a adesão de três instituições próximas à Universidade: o CTI (Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer), CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) e CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais). O CPqD já possui uma lista 40 pesquisadores candidatos à seleção.” Segundo a pró-reitora, inicialmente 12 unidades da Unicamp aceitaram participar do projeto, totalizando a oferta de 35 cursos de mestrado e 33 cursos de doutorado. São elas: Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), Faculdade de Engenharia Química (FEQ), Faculdade de Tecnologia (FT), Instituto de Biologia (IB), Instituto de Economia (IE), Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), Instituto de Geociências (IG), Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Instituto de Química (IQ). Ítala D’Ottaviano explica que os pesquisadores estudantes cumprirão todas as exigências e normas do programa de pós-graduação do qual participam, inclusive no que se refere ao processo de seleção. “Não haverá vaga especial, nem condição especial para o desenvolvimento do mestrado ou doutorado. O aluno será liberado para participar das atividades que requeiram sua presença na Unicamp e também poderá desenvolver a pesquisa nos laboratórios da instituição de origem, que deve aceitar as exigências em relação à publicação dos resultados, havendo ainda um compromisso quanto a patentes e direitos autorais. Como o pesquisador manterá o vínculo empregatício, recebendo salário integral, não serão necessárias bolsas.” Outra novidade importante apontada pela pró-reitora é a indicação de um líder de projetos integrados (pesquisador titulado) da instituição participante, que servirá de elo com os orientadores da Unicamp, podendo ser credenciado como coorientador e mesmo orientador, de acordo com as normas e regimentos dos programas de pós-graduação. “O projeto possibilitará, portanto, uma formação de pesquisadores mais centrada nos objetivos das instituições e uma redução da pressão que elas próprias sofrem para criação de programas de pós. Por outro lado, consideramos que o projeto não afetará negativamente os índices dos processos de avaliação dos nossos programas pela Capes; como por exemplo, na possibilidade de alguns estudantes demorarem mais do que o tempo médio previsto para suas pesquisas, visto que continuarão com suas atividades nos organismos em que estão empregados.” O professor Jorge Almeida Guimarães, presidente da Capes, considera o projeto bastante inovador também para a entidade. “Discutindo o programa com o professor Ripper, tratamos mais do foco em inovação e em pesquisa e desenvolvimento nas áreas tecnológicas e outras de exatas, onde esse tipo de demanda aparece com mais frequência, como engenharias, computação, física, química e biomédicas. Entendo que o projeto terá papel fundamental não apenas nas instituições mencionadas, mas também no doutorado na indústria. Nesse sentido, a palavra inovação foi um atrativo especial para nós da Capes, pois todos sabemos da necessidade de avançar em processos de inovação com base científica e resultados tecnológicos.” Guimarães acrescentou que a Capes vem buscando há algum tempo perfilar suas ações com as demandas que proveem de vários segmentos, tendo firmado acordos especial-
Fotos: Antonio Scarpinetti
O presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães (à dir.): “A palavra inovação foi um atrativo especial para nós”
O reitor José Tadeu Jorge (à dir.): “O projeto tem, por natureza, um espectro de integração extremamente amplo”
Ítala D’Ottaviano, pró-reitora de Pós-Graduação: “O projeto possibilitará uma formação de pesquisadores mais centrada nos objetivos das instituições”
mente com institutos (como Inpe, CNPEM, Inpa, Inmetro e Instituto Nacional do Câncer), mas não com universidades. “Estávamos buscando um modelo para as universidades quando surgiu esta proposta, aprovada pela Reitoria da Unicamp. E é o que estamos levando adiante, já trabalhando a ideia com a USP e de preferência interagindo com as FAP [Fundações de Apoio à Pesquisa] criadas a partir de 1988 com base no modelo vitorioso da Fapesp.” O reitor Tadeu Jorge, por sua vez, saudou o projeto por preencher princípios importantes ao longo da história da Unicamp, que ele denomina de “Três Is”. “O primeiro ‘i’ é de inovação, mas no sentido de inovar os caminhos de se obter produção de conhecimento, encontrando modalidades que permitam uma capacidade quantitativa maior, uma pertinência mais adequada a determinados nichos que exigem produção de conhecimento novo, e com a intensidade que as demandas desses setores requerem. Há muito se reclama que universidades e institutos de pesquisa tenham proximidade maior com a iniciativa privada, para juntos produzir
conhecimento que possa ser utilizado mais rapidamente em benefício da sociedade. É um conceito de longa data, mas também é de longa data que patinamos nesta questão.” Tadeu Jorge explica que o segundo “i” é de integração, considerando que a produção de conhecimento novo não pode mais ser feita de maneira isolada, havendo necessidade de participações externas à instituição. “Isso para que atores distintos se envolvam no processo e que as pesquisas sejam feitas de maneira colaborativa. E esse projeto tem, por natureza, um espectro de integração extremamente amplo, entre universidade e setor produtivo, entre as próprias universidades, a inserção dos institutos e a política pública através da ação especial da Capes no sentido de viabilizar a proposta. E o terceiro ‘i’ é da institucionalidade: é fundamental que se respeitem as regras, a história, a cultura e os valores de cada instituição, com flexibilidade, entendimento e uma dose de boa vontade para que se mantenha a consistência dos procedimentos de cada um dos atores e se fortaleça os resultados.”