Foto: Antoninho Perri
A revolução na coleta de
‘impressões digitais químicas’ 3
Um novo bisturi inteligente pesquisado na Inglaterra, para cirurgias de câncer, e um novo sensor de açúcar que pode ser útil para controle de diabéticos, em desenvolvimento na China, utilizam técnica criada pelo Laboratório ThoMSon do Instituto de Química da Unicamp para coleta e preparação de amostras que serão analisadas em um espectrômetro de massas.
O professor Marcos Eberlin, coordenador do Laboratório ThoMSon, ao lado do espectrômetro de massas: análises de amostras
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013 - ANO XXVII - Nº 570 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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HAQUIRA
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A família de Haquira Osakabe (1939-2008) doou à Unicamp o acervo pessoal do intelectual, que ficará sob a guarda do Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (Cedae).
Da esq. para a dir., Carlos Franchi, Carlos Vogt, Alidê Vogt e Haquira Osakabe em bosque à margem do rio Doubs, em Besançon, França, em foto de 1970
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O efeito manada nas redes sociais A militância de Odair Marques na educação
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Tecido funcional (e impermeável) Pesquisa mapeia violência sexual
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Inseticida é ameaça na criação de peixes Jornalismo com tempero literário
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TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Evolução parece premiar quem coopera Traição e perfídia são estratégias condenadas ao fracasso – no longo prazo. A conclusão, que pode produzir alguns suspiros de alívio (ao menos em quem não for cínico o bastante para se lembrar da frase de John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”), aparece não num trabalho de filosofia, mas de biologia evolutiva, publicado em 1° de agosto no periódico online Nature Communications, do grupo Nature. Os autores, da Universidade Estadual de Michigan, debruçaram-se sobre um surpreendente resultado da Teoria dos Jogos, divulgado em 2012. O teorema apresentado ano passado demonstrava a existência de uma família de estratégias bem-sucedidas, baseadas em traição e extorsão, para o jogo conhecido como Dilema do Prisioneiro. Esse Dilema é usado como modelo simplificado para o estudo de diversos tipos de interação, seja entre pessoas ou, até, espécies em ecossistemas. O problema costuma ser formulado em termos de “cooperação” e “deserção”. Se um dos parceiros coopera e o outro deserta, o desertor recebe um grande prêmio e o cooperador fica sem nada. Se ambos cooperam, os dois recebem uma recompensa modesta. Se ambos desertam, ninguém leva nada. Durante décadas, acreditou-se que, se o jogo é jogado consecutivamente, um grande número de vezes, a cooperação mútua caba sendo a melhor solução. No ano passado, no entanto, os físicos Freeman Dyson e William H. Press apresentaram uma prova de que existem inúmeras outras soluções – conhecidas pelo nome coletivo de “Estratégias de Determinante Zero” – que permitem que um dos participantes domine o jogo, sonegando ou extorquindo parte do prêmio do outro, sem que o jogador prejudicado possa reagir: em termos de premiação, para a vítima não ceder à estratégia de Determinante Zero é ainda pior do que submeter-se a ela. Agora, porém, Christoph Adami e Arend Hintze escrevem que essas estratégias são insustentáveis num cenário regido pela evolução biológica. “Descobrimos que a evolução vai castigá-lo, se você for egoísta e mesquinho”, disse Adami, em nota divulgada por sua universidade. A chave para o fracasso, no longo prazo, das estratégias de Determinante Zero é a existência de uma população diversificada de jogadores, a possibilidade de comunicação entre eles – o que permite identificar, e evitar, trapaceiros – e os mecanismos naturais de mutação e seleção. Estratégias extorsivas “não são estáveis numa população capaz de se adaptar”, escrevem os autores.
partir das partes da planta ricas em amido ou açúcar, e que são exatamente as usadas na alimentação humana. Dar escala comercial a esse tipo de operação tem se mostrado um desafio. No início de agosto, no entanto, o jornal The New York Times noticiou que a subsidiária americana de uma companhia europeia, a INEOS Bio, conseguiu, pela primeira vez, produzir uma quantidade comercial de etanol de madeira, e que o produto começa a ser distribuído ainda neste mês. O objetivo da INEOS Bio é também passar a usar lixo urbano como matéria-prima para produzir combustível.
prazeres egoístas fazem mal? O estudo tem limitações intrínsecas – do tamanho da amostra à metodologia – e, como diz artigo sobre o assunto publicado no blog Babbage, da revista The Economist, mesmo que o resultado reflita a realidade, na maioria das pessoas os dois efeitos se cancelam: o benefício do prazer eudemônico neutraliza o malefício do hedônico. E também é possível que a relação de causa e efeito corra no sentido oposto: talvez pessoas mais saudáveis tenham mais disposição para ajudar o próximo.
Vacina contra malária obtém sucesso em teste inicial
Nem todas as formas de felicidade valem a pena A busca do prazer é o caminho da felicidade, dizia o filósofo grego Epicuro, que por causa disso ganhou má fama entre as pessoas que não se davam ao trabalho de perguntar o que, exatamente, ele queria dizer com “prazer”, que para ele tinha mais a ver com serenidade de espírito do que com vinho e festa. E “felicidade” também é um conceito vago: costuma-se falar em felicidade eudemônica, que surge quando se encontra um sentido na vida, quando a pessoa se sente produtiva e útil, e felicidade hedônica, que vem da gratificação dos desejos pessoais mais imediatos. Pesquisas mostram que os dois tipos de felicidade estão correlacionados, tanto que, em termos de bem-estar psicológico, é difícil definir qual o “melhor”. Mas um estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte e da UCLA, publicado no periódico PNAS, indica que, ao menos para as células do corpo humano, a felicidade eudemônica é a que vale. Envolvendo 80 voluntários, que responderam a questionários sobre bem-estar e cederam amostras de sangue, a pesquisa descobriu que as pessoas com alta felicidade eudemônica e baixa felicidade hedônica têm um sistema imunológico mais saudável que as que se encontram no polo oposto. Na verdade, as pessoas com alto nível de felicidade hedônica e baixa felicidade eudemônica apresentaram alguns sinais levemente preocupantes, como maior predisposição a inflamações. Então, formas de felicidade menos egoístas fazem bem para a saúde, e
Uma vacina intravenosa – que precisa ser injetada diretamente no sangue do paciente – mostrou-se segura e eficaz contra a malária na primeira fase de um teste clínico, informam pesquisadores americanos em artigo publicado na edição de 8 de agosto da revista Science. O teste envolveu 57 adultos, dos quais 40 receberam doses da vacina, feita com esporozoítos do parasita Plasmodium falciparum durante um ano. Os demais atuaram como controles. A vacina é feita de esporozoítos – células que, normalmente, se desenvolvem no parasita adulto – enfraquecidos, e preservados por congelamento. Parte dos voluntários recebeu quatro doses da vacina e outra parte, cinco. Os controles não foram vacinados, e todos os grupos sofreram uma infecção controlada por malária. Dos pacientes com cinco doses, nenhum desenvolveu a doença; dos com quatro doses, 30% contraíram malária e, dos controles, 80%. Exames mostraram que a reação do sistema imunológico, entre os vacinados, foi proporcional à dose aplicada. Os pacientes toleraram bem a vacina, afirmam os autores. Mais estudos ainda precisam ser realizados para, entre outras coisas, determinar a duração da imunização, e em busca de uma forma de aplicação mais amigável que a injeção intravenosa.
Estudo vê risco de ‘efeito manada’ em redes sociais Instrumentos online que permitem agregar a opinião de um grande número de pessoas – como o botão “curtir” do Facebook, ou os rankings de estrelas em livrarias e outros tipos de comércio na internet – muitas vezes são saudados como ferramentas que extraem informação útil e relevante da chamada “sabedoria das multidões”, mas um artigo publicado na edição de 8 de agosto da revista Science sugere que esses resultados podem ser facilmente manipulados, destruindo o “saber coletivo” que poderiam transmitir. “Usamos avaliações feitas por outros para tomar decisões sobre quais hotéis, livros, filmes, políticos, notícias, comentários e narrativas merecem nossa atenção ”, escrevem os autores – Lev Muchnik, Sinan Aral e Sean Taylor, respectivamente, da Universidade Hebraica de Jerusalém, do MIT e da Universidade de Nova York. Eles usaram um site agregador de notícias como laboratório. O serviço oferece, aos leitores, a possibilidade de dar uma nota positiva ou negativa aos comentários publicados pelos demais. No experimento, um conjunto de mais de 100 mil comentários foi dividido, aleatoriamente, em três grupos. Num deles, todos receberam um ponto positivo, independentemente de sua qualidade intrínseca; em outro, um ponto negativo. O terceiro grupo foi mantido intocado, como controle. A análise da evolução dos comentários mostrou que os que receberam o ponto positivo aleatório chegaram, ao fim de cinco meses, a um escore médio 25% superior aos do grupo de controle. Curiosamente, os que receberam o ponto negativo aleatório tiveram o efeito deletério neutralizado: os usuários do site corrigiram, com seus votos, a manipulação negativa, enquanto que a positiva foi, não corrigida, mas amplificada. “Nossos resultados demonstram que, enquanto a influência social positiva se acumula, criando uma tendência de bolhas nos rankings, a influência social negativa é neutralizada pela correção das multidões”, concluem os autores.
A relação entre biocombustíveis, meio ambiente e alimentação é complexa, com vários órgãos internacionais advertindo que, na África e em países do Oriente, as lavouras plantadas para produzir combustível estão causando perda de segurança alimentar ou avançando sobre áreas de mata nativa que deveriam ser preservadas. Uma possível solução para o problema seria a produção de etanol celulósico, gerado a partir de partes das plantas que não são consumidas como alimento. O processo de converter “lixo vegetal” – aparas de madeira ou palha de milho, por exemplo – em álcool é tecnologicamente mais sofisticado que a produção de álcool a
Reprodução/CDC
Empresa produz etanol de lixo nos EUA
Mosquito do gênero Anopheles, transmissor da malária
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
Técnica inova a coleta de ‘impressões digitais químicas’ Pesquisadores desenvolvem técnica que permite análises simples e rápidas de marcadores químicos e biológicos ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br
Cientistas do Imperial College, em Londres, apresentaram nesta quarta-feira uma inovação tecnológica que pode aumentar a precisão das cirurgias de câncer. Uma doença que segundo a ONU atinge quase 13 milhões de pessoas por ano - meio milhão só no Brasil. Um bisturi eletrônico é capaz de diferenciar as células saudáveis das cancerosas.” A frase dita pelos apresentadores do Jornal Nacional (TV Globo), no último dia 17 de julho, revela a importância de uma pesquisa realizada na Inglaterra e que, no futuro, tornará muito mais segura e precisa a cirurgia para a retirada de tumores. Um detalhe, porém, passou despercebido: o bisturi usa uma técnica desenvolvida no Brasil, por pesquisadores do Laboratório ThoMSon do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, para a coleta e preparação de amostras que são analisadas em tempo real em um espectrômetro de massas – o resultado dessa análise fornece ao médico, na pesquisa inglesa, informação precisa para diferenciar células sadias das que estão doentes, com câncer, algo impossível apenas com a simples visualização dos tecidos afetados. Antes de explicar melhor a novidade contra o câncer, vale entender o que fizeram os pesquisadores da Unicamp: eles juntaram o efeito Venturi – demonstrado em 1797 pelo físico italiano Gionanni Battista Venturi (1746-1822) e explicado pelo Princípio de Bernoulli – com a técnica “sonic spray” (pulverização sônica) para captar e preparar moléculas, e tudo ao mesmo tempo, para análise em um espectrômetro de massas. Traduzindo: um gás inerte (Nitrogênio) atravessa uma rede de pequenos tubos, com diferentes diâmetros, gerando um vácuo que aspira as moléculas do material a ser avaliado, e, ao mesmo tempo, são devidamente ionizadas para processamento no aparelho que lê as “impressões digitais” que caracterizam cada componente, de acordo com a massa de cada um deles. Batizada de V-EASI (Venturi Easy Ambiente Sonic Spray Ionization), a técnica foi patenteada no Brasil pela Agência de Inovação Inova Unicamp. “É a técnica mais simples e mais eficiente de ionização em espectrometria de massas, porque tanto transfere como ioniza os vapores, fazendo as duas tarefas só com o auxílio de um gás inerte, possibilitando assim análises rápidas
e precisas ao nível molecular”, explica o professor Marcos Eberlin, coordenador do Laboratório ThoMSon. E qual a relação dessa técnica desenvolvida na Unicamp com a pesquisa inglesa? Bem, ela conectou um bisturi, usado em eletrocirurgia (uma corrente elétrica corta o tecido humano), a um espectrômetro de massas, dando origem ao “bisturi inteligente”, capaz de indicar, durante uma cirurgia para a remoção de tumores de câncer, se o médico está retirando tecidos sadios ou doentes. Os dois equipamentos já existiam no mercado, afirma Eberlin, e a técnica da Unicamp é um elemento inovador da ferramenta. “Se um cirurgião consegue remover o tumor completamente, as chances de ele voltar são minimizadas”, afirma o responsável pela pesquisa, Zoltan Takáts, em entrevista ao Jornal Nacional. Durante a operação, com o uso do bisturi, um vapor desprende do tecido cortado, esse gás é capturado, transferido e ionizado com a técnica V-EASI da Unicamp e um espectrômetro analisa esses vapores, em tempo real, guiando o cirurgião até a “fronteira” que divide as células normais das que foram tomadas pela doença. Segundo médicos, a maior dificuldade dos cirurgiões é identificar exatamente onde está o tumor e o novo equipamento aumenta a precisão sobre a área a ser removida durante a operação. Com o uso do bisturi, os perfis de biomoléculas das membranas celulares (fosfolipídios) são comparados automaticamente pelo equipamento, levando em conta as “impressões digitais químicas” de tecidos com e sem câncer. Quanto à técnica V-EASI desenvolvida pela Unicamp, ela garante que as moléculas do “vapor” cheguem ao aparelho em quantidade suficiente e pronta para a análise na forma de íons que serão avaliados pelo espectrômetro. O novo bisturi eletrônico e inteligente já foi usado em 91 pacientes, de acordo com os pesquisadores ingleses. Em cinco anos, o equipamento deverá estar disponível para a comunidade médica. No artigo “Real Time Analysis of Brain Tissue by Direct Combination of Ultrasonic Surgical Aspiration and Sonic Spray Mass Spectrometry” (análise em tempo real do tecido cerebral por combinação direta de aspiração cirúrgica ultra-sônica e sonic spray de espectrometria de massa), publicado em 2011 pela revista Analytical Chemistry, a técnica V-EASI da Unicamp é citada como a base do bisturi eletrônico pela equipe de pesquisa da Inglaterra. No mês passado, a técnica também foi anunciada como parte de um sensor de açúcar que pode ser útil para controle de diabéticos, produzido por pesquisadores chineses.
INOVAÇÃO
A principal vantagem da técnica V-EASI é a simplicidade combinada com a eficiência, segundo o professor do Instituto de Química e coordenador do laboratório ThoMSon. “O efeito Venturi é mecânico, logo não é preciso usar nenhum dispositivo elétrico para transferir esse vapor. A técnica ‘sonic spray’ também é mecânica e
Foto: Antoninho Perri
O professor Marcos Eberlin, coordenador do Laboratório ThoMSon, mostra capas de revistas que publicaram artigos produzidos por ele: abrangência internacional
não usa eletricidade, característica que aumenta a portabilidade do sistema, a simplicidade, reduz custos e aumenta a segurança em uma sala cirúrgica”, explica Eberlin. Durante a cirurgia, além dos equipamentos médicos, há somente a necessidade de um cilindro de gás que, pelo efeito Venturi, suga os vapores desprendidos a partir da aplicação do bisturi e causa a ionização por “sonic spray” permitindo assim a análise direta e em tempo real pelo espetrômetro de massa dos marcadores de câncer. O sistema V-EASI permite transporte à distância, assim o espectrômetro não precisa ficar na sala cirúrgica. Outras técnicas para ionização e dessorção de amostras para análise por espectrometria de massas são mais complexas e dispendiosas, por isso a origem do nome dado à técnica criada pela Unicamp: V-EASI, em alusão à palavra “easy”, em inglês, fácil. No laboratório da Unicamp, a técnica EASI já foi aperfeiçoada para a versão V-EASI e mais ainda na versão S-EASI (“super EASI”, como explica o coordenador da pesquisa), porque o cilindro de gás foi substituído por uma latinha de spray com gás inerte conectado a um cateter e a uma agulha de seringa. Tamanha simplicidade e mobilidade permitem analisar amostras de forma rápida e adaptar o sistema a equipamentos portáteis, ao contrário do que era exigido há pouco mais de 20 anos e que tornava esses exames tão complexos. “Com os marcadores químicos [as ´impressões digitais` citadas anteriormente], você não se engana, porque há uma mudança muito drástica de perfil químico e eliminamse então critérios morfológicos subjetivos [na cirurgia de câncer]. Comparam-se dois espectros que são muito diferentes. Por isso, a espectrometria se tornou uma técnica tão poderosa de diagnóstico de câncer e de outras doenças”, avalia o professor da Unicamp.
V-EASI - Entenda o mecanismo 1) Um gás inerte é injetado em um “T”, criando um vácuo (efeito Venturi) que irá aspirar as moléculas da amostra a ser analisada com um espectrômetro de massas
E as aplicações são as mais variadas possíveis. Nos últimos oito anos, pesquisadores do Laboratório Thomson publicaram mais de 35 artigos com trabalhos mostrando a praticidade da técnica EASI e suas variantes V-EASI e S-EASI nas mais diversas aplicações, como na verificação da autenticidade de documentos (contra fraudes), qualidade da carne consumida (entre outros alimentos), de remédios, biodiesel e petróleo etc. “Quase tudo pode ser analisado”, explica o coordenador do laboratório, ao mostrar nove capas de revistas científicas internacionais que deram destaque nos últimos anos aos avanços obtidos pelos pesquisadores da Unicamp, como as conceituadas revistas “Analytical Chemistry”, da America Chemical Society, e “Analyst”, da Royal Society Of Chemistry, destacadas em quadros logo no corredor de entrada. O grupo ThoMSon do Instituto de Química possui hoje 55 pesquisadores, boa parte deles envolvidos em trabalhos com a aplicação das técnicas V-EASI e S-EASI. A espectrometria de massas é uma técnica de análise bastante usada para a caracterização de substâncias químicas porque desvenda a formulação ao nível molecular. A partir de uma amostra, é capaz de revelar as moléculas presentes, qual a constituição e a fórmula química de cada umae, ainda, quantificar cada um dos componentes encontrados. A linha de pesquisa que levou ao método EASI começou a ser desenvolvida no Laboratório ThoMSon a partir de 2005, quando da apresentação de novas técnicas de espectrometria de massas em um congresso realizado nos Estados Unidos. Na época, foi demonstrado que compostos presentes em uma nota de dólar – como cocaína – poderiam ser analisados sem a necessidade de preparação da amostra. “Agora, além de compostos químicos, é possível detectar também várias biomoléculas”, afirma Eberlin, ao explicar que a evolução das técnicas ampliou as potencialidades de aplicação da espectrometria no mundo. Foto/ilustrações: Laboratório ThoMson
Efeito Venturi
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Partículas que serão enviadas para o espectrômetro
2) No deslocamento do aerossol (efeito “sonic spray”), as partículas são ionizadas, condições para que sejam detectadas e analisadas pelo equipamento Material a ser analisado Espectrômetro
3) Os parâmetros analisados permitem comparar “impressões digitais químicas” de amostras; nas cirurgias de câncer, comparar o perfil de células sadias e doentes
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
A vez dos tecidos funcionais
Pesquisa da FEQ desenvolve material à prova d’água e com ótima capacidade para o transporte de vapor Fotos: Antoninho Perri
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
entro de algum tempo, é bem provável que você abra o armário e tenha que levar em consideração um novo aspecto na escolha da roupa que vestirá para ir ao trabalho ou à academia. Assim, além de decidir pela cor e design, terá também que optar pelo tecido mais apropriado às suas necessidades de momento. Este poderá lhe proporcionar tanto um bom transporte de umidade quanto uma melhor troca de calor com o ambiente, para ficar em somente dois exemplos. Embora ainda seja embrionária no Brasil, a pesquisa voltada ao desenvolvimento de produtos têxteis funcionais começa a apresentar resultados promissores no país. Um desses estudos foi conduzido pela engenheira têxtil Camilla Borelli Silva, no contexto da sua tese de doutoramento defendida na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. O trabalho, orientado pelo professor Edison Bittencourt, resultou no desenvolvimento de um tecido impermeável, atributo indispensável à produção de determinadas roupas esportivas e profissionais. Conforme a autora do estudo, cada vez mais a indústria busca fabricar itens de vestuário que ofereçam algo além da simples cobertura do corpo. Os tecidos funcionais, que já foram chamados de “inteligentes” no passado, têm exatamente essa missão. O conforto se destaca como um dos atributos mais valorizados nos artigos têxteis e pode ser definido pelos aspectos físico, termofisiológico e psicológico. “No caso da minha pesquisa, o principal objetivo foi analisar o conforto termofisiológico proporcionado pelo tecido, termo que tem a ver com a sua capacidade de liberar o calor e a umidade gerados pelo corpo no ambiente”, afirma.
A engenheira têxtil Camilla Borelli Silva, autora da tese, durante teste e revelando detalhe da pesquisa: cada vez mais a indústria busca fabricar itens de vestuário que ofereçam algo além da simples cobertura do corpo
fecção de uniformes profissionais”, informa Camilla. De acordo com ela, a obtenção desse tipo de resultado gera informações relevantes para ajudar no desenvolvimento de novos produtos por parte da indústria.
Camilla explica que o corpo humano libera calor durante a prática de qualquer atividade física. Para regular a temperatura, o organismo gera primeiramente vapor d’água, que depois de condensado vira suor. “O tecido da roupa funciona como uma barreira para a troca de calor e liberação de suor entre o corpo e o ambiente. Ou seja, se essa troca for feita de maneira mais eficiente, o corpo se resfriará mais depressa, evitando que o vapor se transforme em líquido e permitindo que o tecido seque mais rapidamente. Com isso, a pessoa se sentirá mais confortável”, pormenoriza.
No Brasil, complementa a autora da tese, ainda há muito que se avançar em relação a pesquisas na área têxtil. “Temos notado uma movimentação nesse sentido no país, mas ela ainda é incipiente e está concentrada principalmente na academia. No exterior, há um volume maior de estudos, inclusive por parte do setor produtivo. Entretanto, mesmo lá fora as abordagens em torno do tema conforto são recentes. É importante que nós tenhamos mais pesquisas nessa área, pois o mercado é muito amplo. Se pararmos para pensar, veremos que estamos cercados por produtos têxteis”, observa Camilla.
O conforto fisiológico, prossegue a pesquisadora, deve existir não somente quando a pessoa realiza alguma atividade física intensa, mas em relação a qualquer ação em que haja geração de suor, o que torna evidente a necessidade de utilizar tecidos que ofereçam aos usuários uma boa gestão de umidade. “Ou seja, precisamos de tecidos que protejam do frio ou calor e simultaneamente permitam o transporte da umidade ao ambiente”, reforça. Em seu trabalho, a engenheira têxtil criou um tecido a partir de fios de poliéster. A escolha dessa matéria-prima foi feita porque ela dá origem a tecidos resistentes, baratos, que não amassam e são fáceis de lavar e secar. “Eu variei a quantidade e o diâmetro dos filamentos que compõem os fios, bem como a forma como os fios foram tramados. Esses aspectos são importantes porque interferem na capacidade do tecido de transportar umidade. O passo seguinte foi analisar a influência destas diferentes configurações no comportamento do tecido. Para isso, eu usei um método ainda pouco conhecido no Brasil, denominado Moisture Management Tester (MMT)”, relata Camilla. O aparelho pertence ao Centro Universitário da FEI, onde Camilla coordena o curso de Engenharia Têxtil. “O MMT é um método muito interes-
sante porque faz uma análise dinâmica do transporte de umidade no tecido. Nos testes convencionais (capilaridade), o tecido é colocado em contato com a água, que sobe ao longo do seu comprimento. Quanto mais a água sobe, maior capacidade de transportar umidade ele tem. Ocorre que isso não é o que acontece no corpo. Por isso o MMT é uma ferramenta importante na gestão da umidade do tecido. Em outras palavras, ele simula o suor passando pelo tecido e analisa o espalhamento, a velocidade do espalhamento e quantidade de líquido em cada face ou superfície do tecido e quanto de líquido passou de um lado para o outro”, detalha a autora da tese de doutorado. A pesquisadora adverte, porém, que esse método não mede as propriedades de transporte de umidade na forma de vapor e nem
o tempo de secagem do material, que também influenciam na percepção humana de conforto. “Por isso, dependendo do tipo de aplicação a ser avaliada, é necessário complementar a pesquisa com outros testes. Neste estudo, por exemplo, foram avaliadas também as propriedades do tecido relativas à capilaridade, permeabilidade ao vapor e permeabilidade ao ar”, pormenoriza Camilla. Retornando ao método MMT, ao final da análise ele fornece gráficos que ajudam o pesquisador a classificar o desempenho do tecido. “O material que eu analisei, em razão da configuração que fiz, tem características que o tornam à prova d’água e com ótima capacidade para o transporte de vapor. Trata-se, portanto, de um produto apropriado para uso em climas frios, para a prática de esportes de inverno e até mesmo para a con-
Ao falar de produtos têxteis, a pesquisadora lembra que não está se referindo somente a roupas. “Os tecidos são utilizados por diversos segmentos, entre eles a medicina e a construção civil. Nesta última, por exemplo, é comum a aplicação de tecidos entre a alvenaria e o acabamento com o objetivo de impermeabilizar a estrutura”, lembra. Em relação ao seu trabalho especificamente, Camilla revela que já foi procurada por algumas empresas interessadas em discutir a definição parcerias. “Essa aproximação entre a academia e a indústria é fundamental, pois é ela que permitirá o desenvolvimento de novos e melhores produtos”, diz.
Publicação Tese: “Comparativo das propriedades de transporte de umidade, capilaridade, permeabilidade ao vapor e permeabilidade ao ar em tecidos planos de poliéster” Autora: Camilla Borelli Silva Orientador: Edison Bittencourt Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013 A tecnóloga em saneamento ambiental Darlene Denise Dantzger, autora da dissertação: produto é usado sem critério
ma pesquisa conduzida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp revelou os danos ambientais causados pelo inseticida diflubenzuron quando utilizado na piscicultura brasileira para o controle de doenças em peixes. O estudo também apontou para a possibilidade de o produto afetar a saúde dos peixes, tornando a carne imprópria para o consumo. Comercializado com o nome de Dimilin, o diflubenzuron tem o seu uso regulamentado apenas para as atividades agrícolas, principalmente, contra pragas que atingem as culturas do milho, tomate, algodão, trigo e citros. “Mas ele vem sendo empregado indiscriminadamente na piscicultura, e até em pesqueiros, por apresentar resultados satisfatórios no controle de parasitoses”, alerta a autora do estudo, a tecnóloga em saneamento ambiental Darlene Denise Dantzger. A pesquisadora lembra que não existe no país legislação específica para o registro de produtos destinados ao controle de parasitoses na piscicultura, conforme levantamento realizado na Secretaria de Defesa Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Por este motivo, considera, o diflubenzuron é bastante utilizado em pesqueiros já que representa baixa toxicidade aos peixes. Entretanto, apesar desta baixa toxicidade, o inseticida pode apresentar efeitos a longo prazo na saúde dos peixes, além de provocar danos a outros organismos aquáticos. Darlene Dantzger ressalta que os organismos mais sensíveis, como algas e crustáceos, estão entre os mais prejudicados. “No ambiente aquático este composto pode atingir também os corpos hídricos, afetando, deste modo, a qualidade da água para o consumo, pois os tratamentos convencionais não eliminam os compostos químicos”, complementa a tecnóloga em saneamento, formada pela Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, com campus em Limeira (SP). Os resultados da pesquisa integram dissertação de mestrado defendida por Darlene junto ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Funcional e Molecular do IB. Ela foi orientada pelo docente Hiroshi Aoyama, do Departamento de Bioquímica da Unidade. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financiou o estudo, que também contou com a colaboração dos pesquisadores Vera Lucia Scherholz Salgado de Castro e Cláudio Martin Jonsson, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio Ambiente, localizada em Jaguariúna (SP). “Os resultados são importantes para fornecer suporte, tanto a programas ambientais de melhorias para áreas de pisciculturas, como para órgãos governamentais reguladores. Além disso, abre perspectivas para investigações futuras nesta área”, calcula Darlene Dantzger. Ela menciona que a sua investigação terá continuidade com um estudo de doutorado. O trabalho aprofundará os resultados sobre os possíveis efeitos nocivos da substância aos peixes, de modo a identificar os riscos à saúde em humanos.
POTENCIAL CANCERÍGENO
Outra contribuição relevante do estudo foi analisar os efeitos de uma substância formada a partir do metabolismo do diflubenzuron nos organismos aquáticos. Trata-se do p-cloroanilina (PCA), um metabólito potencialmente cancerígeno e mutagênico para os seres humanos. A pesquisa demonstrou que a aplicação do diflubenzuron na atividade piscicultora pode gerar esta substância na água.
Foto: Antonio Scarpinetti
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
Estudo revela potencial tóxico de substância usada na piscicultura O diflubenzuron, empregado indiscriminadamente no controle de doenças em peixes, provoca danos ambientais e riscos à saúde “O PCA possui potencial mais tóxico do que o diflubenzuron. Ele não é somente um metabólito deste produto. O PCA é metabólito de vários outros agrotóxicos e também de tinturas de tecidos e borrachas. É possível comprar a substância já purificada, e a sua aplicação em ambientes aquáticos é proibida por lei”, expõe a tecnóloga da Unicamp.
TESTES
Foram realizados dois tipos de testes: o toxicológico agudo e o bioquímico. Os ensaios toxicológicos permitem, conforme Darlene Dantzger, estabelecer limites permissíveis para as substâncias químicas visando à proteção da vida aquática. Além disso, é possível avaliar o impacto sobre a biota e os corpos hídricos. “Embora os ensaios de toxicidade aquática aguda sejam muito empregados no monitoramento ecológico, a maioria deles não revela os tóxicos responsáveis pela contaminação e também gera poucas informações sobre o mecanismo que induz aquela toxicidade”, compara.
Já os testes com indicadores bioquímicos são mais sensíveis e revelam alterações específicas, que servem, muitas vezes, como um ‘sinal de alerta’ para o meio ambiente. “Alterações ao nível bioquímico ou molecular são normalmente as primeiras respostas detectáveis e quantificáveis em uma mudança no meio ambiente”, completa Darlene Dantzger. Ela explica que foram utilizados nos ensaios três tipos de organismos de modo a permitir uma classificação apropriada do risco ambiental. Nos testes de toxicidade aguda foram analisados os efeitos sobre mobilidade, crescimento e sobrevivência em microcrustáceos (daphnias similis), algas (pseudokirchneriella subcapitata) e peixes (oreochromis niloticus), respectivamente. Os peixes estudados são conhecidos popularmente como tilápia do Nilo. Nos ensaios bioquímicos foram observadas alterações nas atividades em três tipos de enzimas: fosfatases, catalase e superóxido dismutase. “Nos testes de toxicidade aguda, ambos os compostos mostraram ser nocivos aos organismos. O diflubenzuron apresentou Fotos: Divulgação
maior toxicidade para as algas e os microcrustáceos; e o seu metabólito PCA, para os microcrustáceos e os peixes. Já os ensaios bioquímicos constataram que tanto o diflubenzuron como o PCA ocasionaram alterações nas enzimas dos organismos. Os peixes, por exemplo, sofreram um estresse oxidativo, o que poderia, futuramente, ocasionar doenças mais sérias nestes animais”, sinaliza. Todos os testes, de acordo com Darlene Dantzger, respeitaram os princípios éticos na experimentação animal adotados pela Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratórios (SBCALL). Os ensaios foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Unicamp.
Publicações DANTZGER, D.D.; LEME, C.W.; ANJOS, E.F; JONSSON, C.M.; AOYAMA, H. Toxicity and Enzymatic Alterations of Daphnia similis Exposed to 4-chloroaniline. In: XLI REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR, 2012, FOZ DO IGUACU. DANTZGER, D.D.; ANDRADE, C.A.; ANJOS, E.F; JONSSON, C.M.; AOYAMA, H. Evaluation of Toxicity Diflubenzuron and p-chloroaniline in Biochemical Indicators of Fishes Oreochromis niloticus. In: XLII REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR, 2013, FOZ DO IGUACU.
Na sequência, algas utilizadas nos ensaios toxicológicos e bioquímicos; tanques com peixes em teste (Embrapa meio ambiente); tilápias utilizadas nos testes; abertura da tilápia para retirada do fígado; e diferença macroscópia (cor e tamanho) entre um fígado de um peixe sem exposição ao PCA (abaixo na foto) e outro após a exposição ao produto
Dissertação: “Avaliação da toxicidade do diflubenzuron e p-cloroanilina em indicadores bioquímicos de organismos não-alvo aquáticos” Autora: Darlene Denise Dantzger Orientador: Hiroshi Aoyama Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Fapesp
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
O legado de Haquira Osakabe Foto: Henry Schwarz
Família doa à Unicamp acervo pessoal do professor do IEL, falecido em 2008; material ficará abrigado no Cedae/IEL LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
professor Haquira Osakabe, membro do grupo fundador do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, faleceu de câncer em 13 de maio de 2008. Antes, já aposentado e tendo ido morar em Ribeirão Preto, para melhor compartilhar a vida em família, passou por períodos de melhoria da doença, mantendo suas atividades de orientação e pesquisa. “Ele percorria o périplo Ribeirão-São PauloCampinas, vindo mensalmente ao IEL para um ou dois dias de discussão com os orientandos. Como orientador, era o que havia de maravilhoso”, conta a professora Raquel Salek Fiad, coordenadora do Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (Cedae). Flávia Carneiro Leão, supervisora do Cedae, lembra a pessoa extremamente generosa, tipo pai de todos, tão próximo dos colegas professores quanto de alunos e funcionários. “Depois de sua morte, alunos que estavam com pesquisas em andamento sentiram-se totalmente órfãos. Teve gente que reformulou o projeto para apresentá-lo em outra área, como uma estudante que acabou defendendo tese em midialogia. Havia tanto diálogo e entrosamento que esses alunos não sabiam como seguir sem ele.” A esses e tantos outros órfãos, a família do intelectual acaba de doar o Fundo Haquira Osakabe, que está sob a guarda do Cedae para consulta pública. As irmãs Teresinha Saito Schumaker e Cristina Saito participaram da cerimônia oficializando a entrega de aproximadamente 2.600 obras (livros, periódicos, artigos em jornais, fotocópias de obras de difícil acesso, postais, bilhetes, correspondências), que se deu em 12 de junho. Simultaneamente, houve o lançamento de dois livros publicados pós-mortem pela Editora Iluminuras: o inédito Entre Almas e Estrelas e a reedição de Resposta à Decadência. “Quando souberam dessa homenagem, vários funcionários elogiaram a iniciativa e fizeram questão de participar. Achávamos que 40 lugares seriam suficientes para um lançamento de livro às duas da tarde, mas sobrou gente encostada nas paredes e sentada no chão”, recorda Raquel Fiad. “Haquira tinha interesses muito amplos, a capacidade de aglutinar pessoas de várias áreas e, nesse percurso todo, não rompia as relações com os grupos dos quais participava. Hoje em dia, poucos docentes têm esse perfil, são raros na Universidade.”
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PERFIL DO
Haquira Osakabe em Long Beach, EUA: intelectual desempenhou papel fundamental no IEL, onde deu aulas
ginalias, livros autografados por escritores contemporâneos e demais dedicatórias. “Não me parece um truísmo afirmar que esses registros indicam o nível das relações institucionais de um pesquisador, as leituras que foram indispensáveis para a sua formação e que oferecem para as gerações futuras de investigadores uma imagem do trabalho intelectual, sugerindo linhas de investigação, problemas teóricos e atitudes críticas diante do que se concebe por literatura e outras artes.” O docente do IEL afirma que os núcleos temáticos mais robustos e com fortes sugestões de linhas de pesquisa e problemas de investigação podem ser divididos em seis grupos: 1. Estudos medievais, compreendendo especialmente a península ibérica e demais países europeus, principalmente França e Inglaterra.
2. Estudos sobre as relações entre religião e literatura, com ênfase na espiritualidade cristã, principalmente o romance católico e certa tradição da poesia mística; também merece destaque uma bibliografia sobre o esoterismo e sua presença na obra de Fernando Pessoa. A abordagem do mito de uma perspectiva filosófica, antropológica e psicológica está contemplada em vários livros do acervo. 3. Obras e estudos sobre literatura portuguesa: romance, conto, teatro e poesia. Crítica e historiografia de vários autores modernos e contemporâneos. Cabe sublinhar a existência de uma “Pessoana”, com obras poéticas e em prosa contendo marginálias. Aqui reside um dos principais argumentos para a organização do Fundo em núcleos temáticos e a conservação integral, por exemplo, dos estudos com anotações da recepção crítica de Fernando Pessoa.
Fotos: Antonio Scarpinetti
FUNDO
O professor Marcos Aparecido Lopes encarregou-se de examinar integralmente o acervo pessoal de Haquira Osakabe, durante o ano de 2010, com a colaboração voluntária de Daniele de Souza, aluna do curso de estudos literários. “Procurei, numa primeira etapa, averiguar a existência de núcleos temáticos consistentes que estruturassem o conjunto de documentos doados ao Cedae, para, numa segunda etapa, organizá-los com vistas à constituição de uma possível coleção ou fundo especial ‘Haquira Osakabe’. Em seguida, fiz uma triagem minuciosa do material, avaliando a qualidade física de livros e papeis dispersos no acervo.” Uma preocupação de Marcos Lopes foi identificar a presença de anotações e mar-
Raquel Salek Fiad, coordenadora do Cedae: “Como orientador, era o que havia de maravilhoso”
Flávia Carneiro Leão: “Depois de sua morte, alunos que estavam com pesquisas em andamento sentiram-se totalmente órfãos”
4. Obras e estudos sobre literatura brasileira: romance e poesia; crítica e historiografia. 5. Obras e estudos sobre literatura e cultura japonesa; 6. Obras e estudos da literatura ocidental: obras traduzidas e originais. Na opinião de Marcos Lopes, tais núcleos temáticos desenham o perfil de um intelectual efetivamente preocupado, ao longo de sua carreira, com uma prática interdisciplinar rigorosa e lastreada na interlocução acadêmica nacional e internacional. “É o que se depreende da quantidade expressiva de obras com dedicatórias de escritores e outros pesquisadores brasileiros e estrangeiros, e, sobretudo, da aquisição zelosa de material bibliográfico. Em suma, o perfil dos títulos da biblioteca de Haquira Osakabe possui três aspectos fundamentais: as relações entre a obra literária e a experiência do sagrado, os estudos medievais a respeito da península ibérica e uma bibliografia indispensável sobre a obra de Fernando Pessoa.” A separação da biblioteca dos documentos, como geralmente acontece em relação aos fundos, gerou uma discussão interessante. “Ficou decidido que livros e documentos ficariam juntos, aqui no Cedae. Vejo um aspecto positivo, pois na verdade uns conversam com os outros: o pesquisador pode ler o que Haquira escreveu e, no mesmo lugar, consultar o que ele leu para escrever. As anotações nos livros, as marginálias, têm relação direta com a produção de um intelectual”, observa Raquel Fiad. Flávia Carneiro Leão recorda, por sua vez, que no primeiro momento foram doados apenas os livros, que podiam ser transportados com mais rapidez e tranquilidade, e só depois vieram os documentos. “As irmãs de Haquira precisavam de mais tempo para organizar a parte documental e fiquei muito impressionada com o carinho com que elas fizeram isso: tudo chegou devidamente identificado e organizado em caixas e pastas, o que revela um grande amor por esse irmão.”
Quem foi Haquira Osakabe (1939-2008) foi professor associado do Departamento de Teoria Literária (DTL) do IEL. Ingressou na Unicamp em 1969 como auxiliar de ensino. Sua carreira sempre se manteve ligada à história do Instituto. Aposentado em 1997, manteve até sua morte diversas atividades de orientação e de pesquisa em sua área de atuação. Osakabe tinha graduação em Letras Vernáculas pela Universidade de São Paulo (1969), mestrado em Linguística pela Universidade de Besançon (1971), doutorado em Linguística pela Unicamp (1976) e pós-doutorado pela Universidade de Franche Comté (1982), pós-doutorado pela Universidade de Lisboa (1986) e pós-doutorado pela Universidade Nova de Lisboa (1999). Foi professor visitante da Universidade de Georgetown e ministrou cursos nas Universidades de Berkeley e Los Angeles. Em 2005 foi publicado, pela Editora da Universidade Federal do Paraná, o livro Verdade, amor, razão, merecimento: Coisas do mundo em de quem nele anda – Homenagem a Haquira Osakabe. Organizado por seus ex-orientadores Anamaria Filizola, Patrícia da Silva Cardoso e Paulo Mota, o livro reúne estudos de vários autores, versando sobre temas de interesse do homenageado, tais como literatura portuguesa, literatura brasileira e cultura japonesa.
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Depoimentos
O lado família Teresinha Sato Schumaker Cristina Sato Temos bastante diferença de idade com nosso irmão. Nossas lembranças mais claras [da sua paixão por literatura] remontam à época em que ele cursava o normal, na tradicional Escola Estadual Otoniel Mota de Ribeirão Preto. Ocorriam debates literários calorosos entre alunos dos diferentes cursos promovidos por dedicados e competentes professores. Camões, Vieira, Machado de Assis entre outros, eram discutidos. Muitas vezes, seu grupo de estudo se reunia em nossa casa para preparação de debates. A família sempre admirou e respeitou esta sua dedicação à literatura. Os pais, Takeshi Osakabe e sua esposa Eiko (nascida Eiko Yoshida) não eram imigrantes típicos. Tinham educação urbana, nenhuma experiência rural e, a rigor, não viviam situação de penúria financeira. O sr. Takeshi tinha curso superior (era farmacêutico estabelecido) e a sra. Eiko tinha diploma de professora primária, tendo inclusive exercido, antes do casamento, algum tempo de magistério. Só razões familiares poderão explicar a decisão do jovem casal (com dois filhos pequenos) de emigrar. No Brasil, ano de 1934, o destino dos Osakabe foi uma fazenda de café no distrito de Guarantã, município de Guararapes (SP), onde lhes nasceu a terceira filha. Como se disse acima, sem experiência rural nem de trabalho braçal, os Osakabe deveram muito aos jovens amigos Tanaka, Nogawa e Okubo. Mal se completaram os dois anos de trabalho rural que por contrato deveriam cumprir, a família mudouse para Ribeirão Preto, na antiga região da Mogiana, cidade moderna, contando já com benefícios como água e luz elétrica. Nesta cidade nasceram seus demais sete filhos. O sr. Osakabe abriu uma escola de japonês para atender os filhos da colônia, em cuja educação mais esmerada as famílias já tinham condições de investir: domínio do japonês padrão, domínio da leitura e da escrita, contato com tradições japonesas. Além disso, fazia-se necessário oferecer aos jovens a oportunidade de receber uma educação formal brasileira. Deve-se notar que a região de Ribeirão, embora vitimada pela crise de 29, abrigava inúmeros fazendeiros de origem japonesa e que na época formavam uma espécie de elite financeira regional. A região de atuação da escola (depois denominada pensionato, ou “gakô” em japonês) ia da imediação sul de Ribei-
Fotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti
Teresinha Sato Schumaker e Cristina Sato
rão Preto até as margens do Rio Grande. Com pais educadores e humanistas, não houve nenhum entrave para a escolha profissional do professor Haquira. Merece menção especial a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que colocou em lados opostos Brasil e Japão. A colônia nipônica viu-se vigiada, e um certo medo de represálias fez com que cessassem inúmeras atividades até então desenvolvidas (como o ensino da língua japonesa, a publicação de jornais em japonês). O gakô de nossos pais também passou a ser visto com desconfiança, mas o seu vínculo com a Igreja livrou-os várias vezes de uma inspeção mais rigorosa. O casal Osakabe promoveu fortemente a integração dos filhos na comunidade brasileira, forma providencial de proteção da família contra as agruras daqueles tempos de guerra e do pós-guerra. Haquira nasceu no ano de 1939 e foi neste contexto que se formou. Entretanto, é sua mãe Eiko, leitora obstinada de poesias e romances japoneses e escritora de raicais quem exerce forte influência sobre o filho. Embora com formação em linguística e literatura portuguesa, nosso irmão acompanhava atentamente o cinema japonês, tendo escrito algumas resenhas e prefácios de livros sobre o assunto. Deu suporte a alunos, inclusive de universidades americanas, para o desenvolvimento de projetos sobre raicais e migração japonesa no Brasil. Fica, assim, evidente a importância que ele dava às suas raízes. Haquira foi um intelectual brilhante, diversificado em seus interesses. Tinha uma forma peculiar de olhar as pessoas e o mundo, sempre numa perspectiva muito generosa; tinha horror às injustiças. Já na adolescência teve que lidar com a saúde fragilizada do pai, que viria a falecer no ano de 1964. Assim, ainda jovem, assumiu os cuidados com a mãe e a orientação dos irmãos e sobrinhos. Um verdadeiro mestre, rico em amor e sabedoria.
Literatura e ética Marcos Aparecido Lopes Como aluno de Haquira Osakabe, durante o período do meu doutorado (2000-2005), privei de sua honestidade intelectual e de um padrão de exigência acadêmica que não fazia concessões às modas teóricas ou às políticas de produção científica. Relendo alguns de seus textos acadêmicos, percebo que a arquitetura do argumento e a clareza das ideias estavam voltadas para o fortalecimento de um espaço público, uma conditio sine qua non para o debate vigoroso das ideias. Sua paixão pela literatura portuguesa, se assim me posso expressar, e suas incursões na questão do ensino de literatura, revelam uma atitude política e ética corajosa: aprender literatura é o aprendizado da crise contínua do sujeito. Ensinar literatura não é uma questão pedagógica ou
Marcos Aparecido Lopes
de orientação metodológica, é uma questão ontológica e ética. Sempre fará falta alguém que nos lembre isso, alguém que encarne isso.
O Samurai Francisco Foot Hardman Em sua aula inaugural para a turma de graduação em ciências humanas do IFCH, naquele agosto de 1971, Haquira teceu uma brilhante análise linguística da canção-manifesto da bossa nova, “Desafinado”, de Tom Jobim e Newton Mendonça. “Fotografei você na minha Rolleiflex / Revelou-se sua enorme ingratidão”. Quantas implicações poéticas, culturais e discursivas somente na leitura desses dois versos! Sabedoria e carisma, bondade e mistério: os que tínhamos o privilégio de ouvi-lo, já antevíamos não a figura do professor, mas a do mestre. De cujo poder mágico, a duras penas, só poucos alcançaram liberar-se. E ele, fiel à linhagem dos samurais, reverenciava a rebeldia de seus discípulos, mais que a submissão. O alfabetizador de crianças na Praia Grande, filho de imigrantes japoneses nascido em Ribeirão Preto, que cursara a USP tardiamente, entrando de roldão nos enredos da política, do cinema, da arte e do teatro de 1968, aceitou o contrato da recém-criada UEC (Universidade Estadual de Campinas) para dar aulas no departamento de linguística que Fausto Castilho insistia em montar e, assim, foi um dos fundadores do IFCH. O contrato carregava-o para longe, Besançon, França, para fazer o mestrado junto com os futuros docentes Barone (IMECC), Franchi, Ilari e Vogt, estes três seus colegas na criação das bases que levariam, em 1977, ao surgimento do IEL. Para Haquira este inesperado emprego vinha a calhar, pois conseguia com ele escapar da iminente prisão política em São Paulo, naqueles duríssimos meses de 1969.
Mas vamos falar sério: linguística em Besançon é dose pra leão. Assim, num domingo primaveril de Paris, em 71, vamos encontrá-lo no mítico hotel Vêndome do Quartier Latin, para onde fugira com o colega de infortúnio Valmor Letzow (até hoje professor de francês por lá), ambos recebendo uma ilustre visita que estaciona na portaria sua bicicleta: Jean-Luc Godard. Tinha ido até ali para retomar o debate iniciado dias antes num evento do Cahiers du Cinéma. Valmor pede a ele que espere uns minutos, pois Samurai estava no banho. Deixemos a cena e a memória por aqui. Outros tempos, outros espaços em que vida, cultura e crítica estavam encarnadas e, como não poderia deixar de ser, em permanente crise. Poética da incerteza absoluta. O mal é extremo mas banal, somente o bem pode ser radical e profundo. Que sua lembrança aqui nos faça atentar para o palpitante livro que se escreve, não nos mofados corredores da mediocridade triunfante, mas no rumor das ruas.
Francisco Foot Hardman
À sombra do mestre Alcir Pécora Haquira Osakabe foi a pessoa mais importante de minha vida intelectual. As suas aulas povoavam a minha imaginação muito depois do fim do restante das aulas. Foram elas que me levaram a pensar a linguagem como núcleo problematizador de todas as minhas leituras, em algum lugar entre a literatura e a filosofia, áreas que não distinguia e cujas obras lia com o mesmo tom. Conheci Haquira em 1973 – embora, antes disso, já houvesse reparado naquele japonês alto e cabeludo, na república que ele mantinha na Ferreira Penteado, a mesma rua da casa da minha família. Em março de 1975, me tornei monitor de sua disciplina de Análise do Discurso, o que se repetiu durante os quatro semestres seguintes. Líamos Platão, Aristóteles, Arnault & Daniel, Pascal, Humboldt, Wittgenstein, Perelman, Benveniste, Vignaux, Gilson, Pêcheux, Barthes, Derrida, Deleuze, Foucault etc. Em parte, era leitura da moda que Haquira trazia na inevitável mala francesa de bolsista da época, hoje perdida e esquecida pelo caminho. Mas, de outra parte, era um elenco que demandava compromisso intelectual sério; mais que isso, era pluralista e internacional o bastante para manter a cabeça livre da doxa que, em meados dos anos 70, ameaçava submeter a crítica literária do Brasil à hegemonia da sociologia teleológica cujo hardcore era o modernismo paulista. Ao fim da graduação, foi tão somente para permanecer sob os domínios mentais do Haquira que prestei o concurso para a primeira turma de Mestrado no Departamento de Teoria Literária, que
então começava a existir apenas como pós-graduação. Menos de um ano depois, em novembro de 1977, fui contratado como docente, muito provavelmente porque o grupo de professores que deu início ao DTL me visse pelas lentes de aumento típicas da generosidade do Haquira. E quando em 1980, comecei a pensar em Vieira como objeto de minha tese de doutorado, foi porque, antes, o Haquira me havia soprado essa ideia, assim como, depois, requentou meu latim de colégio e leu Teologia Escolástica comigo. Até o último dia em que o vi, na sua casa de Ribeirão Preto, Haquira ainda mostrava a mesma vibração intensa para pensar. Estava magro de pernas, facilmente dobradas no sofá exíguo, e agudo em observações sobre literatura e quanto ela se opunha à estreiteza institucional. Que melhor recado para alguém que, como eu, na ocasião, era diretor do IEL? Este registro abreviado serve como testemunho público do muito que lhe devo e também como esperança privada de que ainda seja, em parte, memória do que fui à sombra dele.
Alcir Pécora
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013 Foto: Antoninho Perri
Odair Marques da Silva: “A Universidade precisa aproximar os movimentos sociais do ambiente acadêmico”
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
coordenador do Centro Cultural de Inclusão e Integração Social da Unicamp (CIS-Guanabara), Odair Marques da Silva, acaba de voltar de suas férias na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (Utad), em Portugal. Passar as férias em uma universidade pode intrigar os mais curiosos, mas a verdade é que Odair aproveitou o recesso na Unicamp para avançar as atividades de seu curso e projeto de doutorado, em desenvolvimento na Utad. Especialista em pedagogia social e na relação da educação com novas mídias, ele realiza um estudo de caso, tendo como objeto o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, sobre o impacto de novas tecnologias, mídias interativas e redes sociais na difusão cultural da língua portuguesa. A investigação é realizada entre estudantes e professores, usuários presenciais e virtuais do museu. A escolha pelo tema evidencia o interesse e a preocupação com o acesso da sociedade como um todo a uma educação de qualidade. Uma história entre Odair e a educação social que teve início na adolescência e ainda lhe causa inquietação. Ou seria melhor chamar isso de vontade de agir? Dentro de suas condições de cidadão de representante de uma juventude militante da educação, Odair não desiste de buscar uma sociedade mais justa a partir do direito ao conhecimento. Para isso, elenca alguns obstáculos a ser superados, como a flexibilização do rigor acadêmico, que ainda afasta parte da sociedade de uma universidade bem-qualificada. “A Universidade precisa aproximar os movimentos sociais do ambiente acadêmico. Tem muitos talentos fora da Universidade ainda”, alega. Para Odair, a qualidade de vida na fase adulta depende da educação formal, e a educação social, por sua vez, pode ajudar a despertar o interesse de adolescentes, jovens e adultos em se inserir no sistema de ensino. A pedagogia social sempre esteve, de alguma forma, presente na vida do mestre em qualidade Odair Marques. Antes mesmo de entrar na Unicamp, em fevereiro de 1990, ele se dedicava à educação social, motivado pela metodologia de Paulo Freire, por meio da Pastoral da Juventude. O trabalho realizado na periferia de Campinas contribuiu na conscientização de muitos jovens da importância da educação formal. “De lá para cá, não abri mão da missão de tentar ampliar o papel social das pessoas com vista a uma sociedade mais justa. Infelizmente, a realidade ainda é de parte da população fora do sistema, apesar de inciativas tímidas”, argumenta Odair. O desejo do coordenador é que o acesso à educação esteja aliado à inserção no mercado e crescimento profissional. Odair acredita na formação de espelhos dentro de algumas comunidades distantes do universo da ciência. “Nos projetos de que participei, percebi que o fato de uma pessoa da comunidade buscar formação de nível superior motiva outros adolescentes a buscarem também esta formação.” O próprio Odair poderia se colocar como referência, já que a importância de estudar sempre faz parte das conversas com o pai e a mãe, ainda que os dois não tivessem tido a mesma oportunidade. Mesmo com incentivo da família, a oportunidade de frequentar um curso de mestrado surgiu somente aos 43 anos, e de doutorado, aos 53. “Para nós é sempre mais difícil e demorado. É preciso formar espelhos dentro do universo dessas pessoas para que elas tenham a mesma oportunidade. E a universidade pode desenvolver ações que promovam isso. É o papel de uma universidade pública”, defende. Antes de entrar na Unicamp, Odair foi voluntário no Centro de Educação e Assessoria Popular (Cedap), apoiando projetos de apoio à organização popular. Com este trabalho, também ajudou a formar lideranças em movimentos sociais.
Odair,
um militante da educação Coordenador do Cis-Guanabara busca uma sociedade mais justa a partir do direito ao conhecimento “Lá, me especializei em educação social por meu conhecimento em orçamento público.” Para ele, um bom educador precisa entender de orçamento público. Um dos principais fatores que dificultam a melhoria na educação, em sua opinião, é a falta de acesso dos professores a informações sobre o orçamento público. Segundo Odair, há limites na legislação que impedem que o orçamento público destine mais verba às escolas, daí os baixos salários. A decisão pelo aumento a professores passa pelos órgãos de uma prefeitura e do Estado que administram tal orçamento. A dedicação à pastoral, às Organizações Não-Governamentais e os trabalhos com jovens de movimentos sociais chamram a atenção de alguns políticos da região de Campinas. Em 1997, foi convidado para assumir a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Hortolândia. Tarefa que abraçou por dois governos. Essa experiência o fez desenvolver o olhar aguçado do professor e do administrador dentro da organização político-educacional do País. Em 2002, foi convidado pela então secretária de educação de Campinas, Corinta Maria Grisolia Geraldi, para dirigir a Fundação Municipal para Educação Comunitária (Fumec), onde ficou até 2004. A permanência na Unicamp, mais precisamente na Secretaria de Extensão do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), durou poucos meses, pois em 2005 voltou para a Secretária da Educação de Hortolândia. Hoje, além da coordenação do CIS Guanabara, Odair se dedica à docência em curso de graduação em pedagogia no Centro Universitário Salesiano (Unisal), onde integra um grupo de pesquisa em educação social. Em sua trajetória, Odair é um dos autores de três livros com a temática de pedagogia social. Também participou de projetos que visam
a pesquisas na área de relação das mídias sociais com educação. É um dos autores do livro do projeto Time, desenvolvido com professores da rede pública de Hortolândia. A participação em diferentes grupos propiciou a produção de artigos científicos com temas relacionados a educação. Um dos méritos do projeto, coordenado pelo pesquisador do Nied João Vilhete, foi permitir que professores de escola pública de Hortolândia vivenciassem as rotinas de um pesquisador, chegando a produzir e assinar um artigo científico num livro com selo de uma universidade do porte da Unicamp. Uma das professoras da rede envolvidas na pesquisa, Joana, recebeu prêmio de qualidade em educação e atribuiu o mérito a sua participação no projeto. Para Odair, a inciativa deveria ser referência para o Poder Público, já que deve contribuir com a educação em outros municípios. Como coordenador do CIS Guanabara, Odair vê a possibilidade de intensificar a aproximação entre a sociedade e a universidade por meio de atividades de extensão, como já acontece desde a criação do centro. No campus de Barão Geraldo, tanto na Secretaria de Extensão do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), na Secretaria de Extensão do Instituto de Artes, quanto no Grupo Gestor de Benefícios Sociais, procurou organizar ou participar de eventos nos quais se discute a sociedade. O último evento em que se envolveu foi o Colóquio de Língua e Cultura Portuguesa, realizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp em parceria com a Unisal. Antes de chegar à Unicamp, em fevereiro de 1990, como analista de sistemas, no Centro de Computação (CCUEC) da Unicamp, Odair foi funcionário da Informática de Municípios Associados (IMA). No CCUEC, teve participação importante no processo de informatização do Sistema Orçamentário Financeiro da Universidade durante sete anos. Mas o coração pulsava por outras práticas, aquelas que a teoria freireana propunha para que mais pessoas tivessem acesso a um bem que ninguém é capaz de roubar: o conhecimento, que dá direito a uma vida digna. Assim procurou seu lugar no “monstro” acadêmico onde a produção do conhecimento borbulha ininterruptamente. Desde então, ocupa-se de ter boas ideias e tentar colocá-las em prática em benefício de todos.
Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
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Pesquisa mapeia violência sexual contra mulheres jovens e adultas Foto: Antoninho Perri
Foram avaliados o perfil, os sintomas psíquicos, o tratamento ambulatorial e as características da agressão de 687 vítimas EDMILSON MONTALTI Especial para o JU
esquisa realizada no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Unicamp avaliou o perfil, os sintomas psíquicos, o tratamento ambulatorial e as características da agressão de 687 mulheres adultas e adolescentes vítimas de violência sexual atendidas entre os anos de 2006 e 2010. O trabalho resultou em três artigos científicos – um publicado em maio deste ano e dois recém-encaminhados para publicação internacional – e na dissertação de mestrado “Características sociodemográficas e sintomas psíquicos de mulheres vítimas de violência sexual”, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. A pesquisa foi conduzida pela médica psiquiatra Cláudia de Oliveira Facuri. A orientação foi da professora Renata Cruz Soares de Azevedo, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da FCM Unicamp. Violência sexual é, segundo a Organização Mundial da Saúde, “qualquer ato sexual ou tentativa de obter ato sexual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis, ou tráfico ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção, por qualquer pessoa, independente de sua relação com a vítima, em qualquer cenário, incluindo, mas não limitado, à casa e ao trabalho”. Dados brasileiros indicam que a mulher é a principal vítima de violência sexual ou estupro. A pena para o agressor é de 6 a 30 anos de reclusão, dependendo da gravidade, idade da vítima e se houver gravidez ou doença sexualmente transmissível decorrente da violência sexual. De acordo com a literatura médica nacional e internacional, as mulheres vítimas de violência sexual apresentam risco aumentado de hipertensão, dor pélvica crônica, síndrome do intestino irritável, asma, problemas ginecológicos, doenças sexualmente transmissíveis, suicídio, abuso de álcool e outras drogas e vários outros transtornos mentais. Já a experiência de violência sexual na adolescência pode se apresentar por sinais e sintomas indiretos, tais como: mudanças de comportamento; atitudes sexuais impróprias para a idade; demonstração de conhecimento sobre atividades sexuais superiores à de sua fase de desenvolvimento através de falas, gestos ou atitudes; masturbação frequente e compulsiva; tentativas de desvio para brincadeiras que possibilitem intimidades ou a manipulação genital que reproduz as atitudes do agressor.
PESQUISA
O Caism é um hospital universitário que integra a rede de instituições parceiras do projeto Iluminar Campinas. É referência local e regional para atendimento de mulheres e adolescentes vítimas de violência sexual e assistência à gestação decorrente dessa agressão. O atendimento é gratuito e funciona 24 horas, todos os dias do ano. As informações para a pesquisa foram obtidas das fichas clínicas que compõem o prontuário das pacientes. Os dados obedecem a uma sequência de avaliações feitas por uma equipe multidisciplinar composta por enfermeiros, ginecologistas, assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras que atenderam as vítimas de violência sexual. De acordo com os dados da pesquisa da Unicamp, a idade média das mulheres avaliadas foi de 23,7 anos, sendo 47,4% adolescentes. A maioria era da cor branca, solteira, sem filhos, sadia, com escolaridade maior que
A professora Renata Cruz Soares de Azevedo (à esq.), orientadora, e a psiquiatra Cláudia de Oliveira Facuri, autora da dissertação: problema de saúde pública
oito anos e profissionalmente ativa: 41,6% estavam empregadas e 39,4% eram estudantes. Quanto à religião, 84,9% tinham religião e 74,7%, prática religiosa, sendo que 52,6% delas eram católicas e 40,7%, evangélicas. Segundo depoimento das vítimas, a agressão ocorreu principalmente no período noturno, entre 18 horas e 7 horas da manhã, na rua, no percurso do trabalho ou escola, em vias sem ou com pouca iluminação, por um único agressor desconhecido e com intimidação por força física ou porte velado de faca ou arma de fogo. “As pessoas têm a fantasia de que as mulheres são abordadas na madrugada, na balada, porque estavam se oferecendo. Isso não é verdade. Elas são abordadas no período em que escurece ou logo no começo da manhã, no ponto de ônibus, indo ou voltando do trabalho ou da escola”, disse a psiquiatra Cláudia de Oliveira Facuri, que é formada pela Unicamp. Conforme dados da pesquisa, a violência sexual deu-se por meio de coito vaginal. Um quarto das mulheres era virgem até a ocorrência da violência sexual, 16,2% apresentavam antecedente pessoal e 9,6%, antecedente familiar de violência sexual. Após a violência sexual, mais da metade das mulheres apresentou alterações de sono; 51,8% apresentaram sintomas depressivos e 48,5% apresentaram ansiedade. Ainda de acordo com os dados da pesquisa, 46,5% das mulheres sentiram vergonha após o trauma e 20,8% se sentiram culpadas. Cerca de 1/3 delas se isolou, 32,9% evitaram contatos sociais e 28,8% alteraram suas rotinas diárias. Outro dado apontado pela pesquisa foi com relação ao comportamento suicida. Após serem violentadas, 18,8% das mulheres relataram que pensaram em cometer suicídio, 6,5% afirmaram que planejaram e 1,7% tentou se matar. Os principais temores relativos ao trauma apontados pela pesquisa foram: repetição da violência sexual para 25,8% das mulheres, medo de contrair doenças sexualmente transmissíveis para 24,3% e medo de gestação para 10,8% delas. “Elas vivem com temor da repetição da violência sexual. Muitas das agressões acontecem durante assalto e eles ameaçam voltar. A fala dos agressores é muito parecida. Embora raramente isso aconteça, ela acredita estar refém dessa pessoa para sempre. Quando sabem que o agressor está preso,
a sensação de segurança aumenta muito”, disse a professora e psiquiatra Renata Cruz Soares de Azevedo. Ainda segunda a pesquisa, mais da metade das mulheres realizou Boletim de Ocorrência (BO) e contou a alguém sobre a violência, geralmente pais, marido ou familiar. Ao longo do período estudado, houve redução na realização de BO pelas vítimas e aumento na procura precoce de atendimento: 65,3% delas procuraram o atendimento de emergência do Caism em até 24 horas e 87,6% procuraram o mesmo serviço até 72 horas. “O primeiro atendimento é crucial do ponto de vista médico. Se não iniciarmos o coquetel antirretroviral do HIV, antibióticos, vacina para hepatite B e anticoncepcional de emergência nos primeiros dias, preferencialmente nas primeiras 24 a 48 horas, as chances de prevenção se reduzem drasticamente”, disse Renata. Segundo as psiquiatras da Unicamp, após o atendimento de emergência, o tratamento ambulatorial por seis meses é essencial para seguimento sorológico e psicológico destas vítimas e possibilita a identificação e intervenção precoce no que for necessário. Cerca de um terço da amostra, particularmente as adolescentes, não desenvolveu sintomas psíquicos relacionados com o trauma. As adolescentes, quando comparadas com as mulheres adultas, foram mais agredidas por pessoas conhecidas e com uso de ameaça verbal.
Mulheres que aderiram ao tratamento ambulatorial dividiram com mais frequência sobre a agressão, principalmente com a família, em especial os pais, marido ou amigos e se sentiram apoiadas, além de terem acesso ao acompanhamento multiprofissional oferecido ambulatorialmente. “Em famílias cuja mãe ou irmãs também foram vítimas de violência sexual, os sintomas pioram. Ocorre uma segunda vitimização dentro do ambiente familiar. Já tivemos que tratar de famílias inteiras, inclusive maridos ou parceiros que se angustiam e não sabem como lidar com a situação. Entretanto, quanto maior o apoio do grupo social, melhor a evolução”, revelou Cláudia. Segundo as psiquiatras da Unicamp, os serviços públicos de saúde devem estar preparados para atender as mulheres vítimas de violência sexual. Cerca de 74% das mulheres entrevistadas relataram que nunca foram perguntadas se sofreram violência na vida. Mesmo o Caism sendo um serviço de referência na região, um terço das mulheres não volta após o primeiro atendimento, de acordo com os dados da pesquisa. “As mulheres vítimas de violência sexual estão envergonhadas e fragilizadas. Perder o tabu de perguntar e ouvir com respeito, sem julgamento moral, o que essas mulheres querem contar pode fazer toda a diferença no tratamento. Os dados da pesquisa são a ponta do iceberg de um problema de saúde pública”, disse Cláudia.
Publicações Artigos Cláudia de Oliveira Facuri, Arlete Maria dos Santos Fernandes, Karina Diniz Oliveira, Tiago dos Santos Andrade, Renata Cruz Soares de Azevedo. Violência Sexual: Estudo Descritivo sobre as Vítimas e o Atendimento em Serviço Universitário de Referência no Estado de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, maio, 2013. Cláudia de Oliveira Facuri, Arlete Maria dos Santos Fernandes, Renata Cruz Soares de Azevedo. Psychiatric evaluation of women victims of sexual violence assisted at a referral university centre in São Paulo, Brazil. Submeted to International Jornal of Gynecology and Obstetrics.
Cláudia de Oliveira Facuri, Arlete Maria dos Santos Fernandes, Renata Cruz Soares de Azevedo. Sexual violence: a comparison between adolescents and adults assisted at a Brazilian university center. Submited to Journal of Interpersonal Violence.
Dissertação: Características sociodemográficas e sintomas psíquicos de mulheres vítimas de violência sexual Autora: Cláudia de Oliveira Facuri Orientadora: Renata Cruz Soares de Azevedo Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
10 Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
aa c dêi m ca
Painel da semana CNPq lança prêmios na Unicamp - O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) irá realizar uma solenidade para entrega de seus prêmios, em especial o XXVII Prêmio Jovem Cientista, cujo tema é “Água - desafios da sociedade”. Participam da cerimônia dirigentes do CNPQ e da Universidade e autoridades da região, além de docentes e estudantes de graduação e pós-graduação. A solenidade ocorre em 12 de agosto, às 15 horas, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). Mais informações: http://www.unicamp. br/unicamp/noticias/2013/07/02/cnpq-lancara-seus-premios-na-unicamp Exposição - O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e o Programa de Prevenção ao Uso de Substâncias Psicoativas Lícitas e Ilícitas (Viva Mais) organizam, dia 13 de agosto, às 10 horas, nas dependências da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), a abertura da exposição produzida pelo Programa de Prevenção do Viva Mais, ao longo de seus dez anos de existência. A mostra pode ser visitada pelo público, de segunda a sexta-feira, das 9 às 16 horas, até o dia 29. Mais informações pelo e-mail bazzo@unicamp.br Palestra com Ivan Capelatto - Em comemoração ao Dia dos Pais, o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) organiza, dia 14 de agosto, às 9 horas, no auditório da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), a palestra “A importância dos primeiros anos de vida da criança e os papéis afetivos do pai e da mãe”. Será proferida pelo mestre em psicologia Ivan Capelatto. Mais informações: 19-3521-4899. Fórum de Extensão Universitária - No dia 14 de agosto acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Extensão Universitária. Com o tema “Tecnologia social e os conceitos de economia verde: propondo convívios possíveis e desejáveis”, o evento ocorre às 9 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum está sob a organização de João Frederico da Costa Azevedo Meyer, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, e dos professores Rafael Dias (FCA), Sandro Tonso (FT) e Celso Ribeiro de Almeida (CAC/PREAC). Inscrições e mais informações no link http://foruns. bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ eventoext41.htm ou telefone 19-3521-5039. Palestra com Sandra Ziegler - A Faculdade de Educação (FE) promove, dia 15 de agosto, a palestra “La formación de elites en Argentina: Bachillerato Internacional, distinción y consagración académica”. Ela será ministrada pela professora Sandra Ziegler, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) da Argentina. A palestra será iniciada às 14h30 da Sala da Congregação da FE. A participação é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia. O Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação (GPPE/FEUnicamp) é o organizador do evento. Mais informações: 19-3521-5565.
Encontros - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (Cis-Guanabara) organiza, dia 15 de agosto, a exposição “Encontros”, dos artistas Eni Ilis, João Bosco e Piassa. A mostra pode ser visitada até 5 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. A entrada é livre com estacionamento gratuito. Mais detalhes: 19-3233-7801.
Eventos futuros
Futilidade da novela
Livro
da semana
A revolução romanesca de Camilo Castelo Branco
Nietzsche e Deleuze - Entre os dias 20 e 23 de agosto, a partir das 9 horas, na Faculdade de Educação (FE), acontece V Seminário Conexões – Deleuze e Território e Fugas e...’ e o ‘XII Simpósio Internacional de Filosofia – Nietzsche/Deleuze’. A organização é do Laboratório de Estudos Audiovisuais (OLHO) e do Grupo Diferenças e Subjetividades em Educação (DiS) da Faculdade de Educação (FE). Mais detalhes: telefone 19-35215565 ou e-mail eventofe@unicamp.br Antiguidade Greco-romana - Seminário acontece no dia 22 de agosto, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento é parte integrante do Fórum Permanente de Ensino Superior e está sob a organização das professoras Patrícia Prata e Isabella Tardin Cardoso, ambas do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Inscrições e outras informações: 19-3521-5039. Interfaces Geociências e Ensino - O Instituto de Geociências (IG) organiza nos dias 23 e 24 de agosto, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL), a partir das 9 horas, o encontro “Interfaces Geociências e Ensino: 40 anos de experiências (1973-2013)”. O evento comemora os 40 anos de experiências e pesquisas em ensino de Geociências do Programa de Pósgraduação em Ensino e História de Ciências da Terra (PEHCT) do IG. O objetivo é refletir sobre a trajetória de implantação de atividades sistemáticas voltadas para difundir o conhecimento sobre a Terra, o ambiente e suas transformações sociais e econômicas. Na primeira mesa-redonda, às 10 horas, o professor Ivan Amaral, da Faculdade de Educação (FE), apresenta um histórico do movimento de renovação no ensino de Geociências. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-4562 ou e-mail cedrec@ ige.unicamp.br
Teses da semana Computação - “Planning for mobile robot localization using architectural design features on a hierarchical POMDP approach” (doutorado). Candidato: Paulo Gurgel Pinheiro. Orientador: professor Jacques Wainer. Dia 16 de agosto, às 10 horas, no auditório do IC 2. “Fitting 3D deformable biological models to microscope images” (doutorado). Candidato: Danillo Roberto Pereira. Orientador: professor Jorge Stolfi. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no auditório do IC 2. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Integração de desempenho na avaliação de projeto: modelo de informação e simulação computacional na etapa de concepção” (mestrado). Candidata: Giovanna Tomczinski Novellini Brígitte. Orientadora: professora Regina Coeli Ruschel. Dia 14 de agosto, às 9 horas, na sala CA-22 da FEC. “Sistema de baixo custo para o tratamento de esgotos de comunidades isoladas” (doutorado). Candidata: Luana Mattos de Oliveira Cruz. Orientador: professor Adrianao Luiz Tonetti. Dia 15 de agosto, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC. “Avaliação da degradação e efeitos proporcionados a biomassa em sistemas de tratamento de esgotos por lodos ativados pelos fármacos levamisol, trimetropim e sulfadiazina” (mestrado). Candidata: Fernanda Fagali Plazza. Orientador: professor Alexandre Nunes Ponezi. Dia 16 de agosto, às 9h30, na sala CA-22 da CPG da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Otimização de hiperparâmetros para aprendizagem de máquina por regularização de manifolds” (mestrado). Candidato: Cassiano Otávio Becker. Orientador: professor Paulo Augusto Valente Ferreira. Dia 12 de agosto, às 14 horas, na FEEC. “Uma infraestrutura para laboratórios de acesso remoto federados com suporte a virtualização” (mestrado). Candidato: Guilherme de Oliveira Feliciano. Orientador: professor Eleri Cardozo. Dia 12 de agosto, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC.
Sinopse: O livro propõe que Camilo Castelo Branco levou a cabo uma autêntica revolução na literatura portuguesa e estuda o modo como se tornou o seu primeiro romancista moderno, suplantando o romance histórico e as formas incipientes de narrativa de ficção romântica. O ensaio pretende mostrar que a experiência de Camilo nos jornais e na prática de gêneros menores foi decisiva para a construção de um novo tipo de discurso, separado das ideias correntes na época sobre o papel da literatura e das escolas literárias. A parte substancial do livro é ocupada com análises de obras-primas de Camilo como Amor de perdição, Memórias do cárcere, O romance dum homem rico, Novelas do Minho. Autor: Abel Barros Baptista é professor titular de literatura brasileira na Universidade Nova de Lisboa. No seu trabalho de pesquisa, destacam-se os estudos sobre Machado de Assis, já publicados no Brasil (A formação do nome. Duas interrogações sobre Machado de Assis, Editora da Unicamp, 2003; Autobibliografias. Solicitação do livro na ficção de Machado de Assis, Editora da Unicamp, 2003), e a ação crítica em torno da necessidade de uma noção de literatura brasileira de um ponto de vista cosmopolita, nos ensaios de O livro agreste. Ensaio de curso de literatura brasileira (Editora da Unicamp, 2005) ou De espécie complicada (Coimbra, 2010). Participa na renovação dos estudos de Camilo Castelo Branco desde 1988, data do seu primeiro livro, Camilo e a revolução camiliana, aqui retomado. Autor: Abel Barros Baptista Ficha técnica: 1a edição, 2012; 296 páginas; formato: 14 x 21 cm ISBN: 978-85-268-1010-5 Área de interesse: Crítica e Teoria Literária Preço: R$ 40,00
Geociências - “Estimativa e mapeamento de carbono em fragmentos florestais da APA Fernão Dias (MG) por meio de dados landsat tm e de campo” (mestrado). Candidato: Daniel Dias de Andrade. Orientador: professor Marcos César Ferreira. Dia 15 de agosto, às 14 horas, no auditório do IG.
“Ctrl+C/Crtl+V: representações de professores universitários sobre o plágio na escrita acadêmica de seus alunos” (mestrado). Candidata: Mariana Batista de Lima. Orientadora: professora Terezinha de Jesus Machado Maher. Dia 16 de agosto, às 10 horas, na sala dos colegiados do IEL.
“Disputas territoriais entre o agroextrativismo do pequi e o agronegócio na substituição do cerrado por monocultivos agroindustriais: estudo das microrregiões Porto Franco-MA e Jalapão-TO” (mestrado). Candidato: Rodrigo Meiners Mandujano. Orientador: professor Vicente Eudes Lemos Alves. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no auditório do IG.
“O verbo Ikpeng: estudo morfossintático e semânticolexical”(doutorado). Candidata: Angela Fabiola Alves Chagas. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 16 de agosto, às 13h30, na sala de defesa de teses do IEL.
“Tribunais de contas: parceiros ou obstantes no processo brasileiro de desenvolvimento científico tecnológico e de inovação?” (doutorado). Candidata: Maristella Barros Ferreira de Freitas. Orientador: professor Rui Henrique Pereira Leite de Albuquerque. Dia 16 de agosto, às 14h30, na sala A do DGRN do IG. Linguagem - “Sobreposições de fala em diálogos: um estudo fonético acústico” (mestrado). Candidata: Thalita Siqueira do Valle Barbosa. Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 12 de agosto, às 14 horas na sala de defesa de teses do IEL. “Quarta Pítica de Píndaro: tradução e comentário analítico” (mestrado). Candidato: Alfredo Manoel de Rezende Silva. Orientador: professor Trajano Augusto Ricca Vieira. Dia 15 de agosto, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL.
Matemática, Estatística e Computação Científica - “Semigrupos degenerados e fluxo estocástico de aplicações mensuráveis em variedades folheadas” (doutorado). Candidato: Paulo Henrique Pereira da Costa. Orientador: professor Paulo Regis Caron Ruffino. Dia 15 de agosto, às 14 horas, na sala 321 do Imecc. Odontologia - “Análise mecânica da influência de duas diferentes osteotomias sagitais mandibulares utilizando miniplacas e parafusos de titânio e variando o avanço mandibular” (mestrado). Candidato: Leandro Souza Pozzer. Orientador: professor José Ricardo de Albergaria Barbosa. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no anfiteatro 4 da FOP. Química - “Estudo de semioquímicos de opiliões (laniatores: arachnida) da família gonyleptidae: caracterização, síntese e biossíntese” (doutorado). Candidata: Daniele Fernanda de Oliveira Rocha. Orientadora: professora Anita Jocelyne Marsaioli. Dia 16 de agosto, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal
UPA já tem mais de 20 mil inscritos altando ainda vinte dias para a realização da UPA – Unicamp de Portas Abertas em 31 de agosto, já passam de 20 mil os estudantes de ensino médio inscritos para conhecer os laboratórios, os serviços e as inúmeras atividades desenvolvidas dentro do campus. Uma das escolas que se inscreveram é a de Ensino Fundamental Presidente Dutra, de Marituba (PA), cuja diretora conseguiu viabilizar a vinda de 50 alunos que percorrerão 2.800 quilômetros (três dias de ônibus) até Campinas. A Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) está preparando uma infraestrutura para receber 40 mil pessoas, mas a possibilidade de limitar o número de inscrições sequer foi cogitada, muito pelo contrário. “Queremos mais gente, em especial de escolas públicas. A meta é chegar, pelo menos, a 50% de alunos provenientes da rede. Estamos aguardando essa retomada das aulas em agosto para verificar junto à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo a possibilidade de medidas de incentivo ao comparecimento”, afirma José Reinaldo Braga, coordenador da UPA. “A nova gestão da Unicamp está implantando uma política forte relacionada às escolas públicas, como a ampliação dos critérios do PAAIS [Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social] e do próprio ProFIS [Programa de Formação Interdisciplinar Superior].” Segundo José Braga, 55% das inscrições têm sido de escolas particulares e 35% de escolas públicas, vindo depois os cursinhos, cursos técnicos e outras escolas. “Boa parte dessa diferença se deve à limitação da UPA apenas ao sábado, quando antes era incluída a sexta-feira. Creio que a organização anterior não previu o impacto desta redução para as escolas públicas, onde os professores pouco incentivam atividades de fim de semana, por causa do não pagamento de horas extras e de outros obstáculos. Vamos manter essa edição no sábado porque tivemos pouco tempo, desde a posse, para garantir uma estrutura adequada. Mas a questão será reavaliada para 2014.”
Foto: Antoninho Perri
lizado entre a Biblioteca Central, o Centro de Convenções e a Faculdade de Educação Física. “Grupos de artistas da Universidade vão se apresentar na mesma tenda montada para a cerimônia de abertura do evento, que terá a Orquestra Sinfônica da Unicamp. Aliás, a tenda será o ponto de referência para os visitantes.” Foram selecionados 150 monitores voluntários para orientar e acompanhar os estudantes nas atividades pelo campus. Somando todos os funcionários de apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão nas unidades e órgãos, mais os integrantes das atléticas, empresas juniores e do próprio movimento estudantil, estima-se que mais de 2 mil pessoas estarão assegurando o bom andamento da UPA 2013.
NA CASA DO LAGO
José Reinaldo Braga adianta uma novidade para esta edição, que é a utilização da Casa do Lago como um espaço de diálogo com outros segmentos da sociedade, diversificando o público da UPA. José Reinaldo Braga, coordenador da UPA. “Além de apresentações de banners, fotos e filma“A nova gestão da Unicamp está implantando uma política forte relacionada às escolas públicas” gens produzidos por nossos profissionais técnicoadministrativos, teremos dois debates em torno da O coordenador da UPA informa que cada unidade da academia e sua relação com a sociedade, um deles com a participação do reitor José Tadeu Jorge, sobre a democratizaUnicamp terá a sua programação, apresentando seus curção da universidade.” sos e laboratórios aos visitantes do ensino médio, e promovendo a interação com professores, graduandos e pósComo o evento será em parceria com o Sindicato dos graduandos. “Outros órgãos como SAE [Serviço de Apoio Trabalhadores da Unicamp (STU), e com participação da ao Estudante], Comvest [Comissão Permanente para os Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp), Braga Vestibulares] e Inova [Agência de Inovação da Unicamp] acredita numa boa mobilização dos movimentos sociais para montarão estandes no Centro de Convenções para mostrar a ocupação do espaço. “Consideramos importante o diálogo os serviços que oferecem. Ali, também, teremos entre 10 e com outros setores, como de movimentos populares, sindi12 palestras ocorrendo simultaneamente nos três auditócais e de mulheres e negros. Queremos mostrar a Unicamp rios, abordando nossos programas de extensão, o vestibupara muita gente desses setores que gostaria de entrar na lar, o ProFIS, o PAAIS e outros temas.” universidade, mas nem tenta, quando hoje temos a ampliação da pontuação do PAAIS, os nossos cursos noturnos e As atividades culturais ficarão reservadas para o final do vários cursinhos alternativos para facilitar essa entrada.” dia, quando os “upeiros” estarão se concentrando para em(Luiz Sugimoto) barcar de volta nos ônibus, no grande estacionamento loca-
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013-
Pesquisa valida reciclagem para
embalagem multicamada SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
engenheira química Natália Garrote de Barros validou, durante sua dissertação de mestrado defendida recentemente na Unicamp, um novo processo de reciclagem para embalagens multicamadas. Amplamente empregadas com eficiência para o acondicionamento de alimentos, estas embalagens são constituídas, na maioria das vezes, por polímeros incompatíveis, o que dificulta a reciclagem destes materiais após o consumo. A pesquisadora da Unicamp utilizou em seu estudo embalagens contendo poliamida e polietileno, polímeros que apresentam pouca capacidade de adesão quando misturados. O processo de reciclagem convencional para estes plásticos produz, portanto, compostos pobres, com baixos valores agregados. Isso acontece, conforme Natália de Barros, devido ao fenômeno da delaminação, uma espécie de esfarelamento no material final. “Estes plásticos não têm compatibilidade e, por isso, suas propriedades mecânicas são ruins. Como alternativa, colocamos aditivos para aumentar a adesão entre os polímeros, para que formassem uma blenda mais homogênea. Por meio desta mistura mais homogênea, conseguimos melhorar bastante as propriedades mecânicas, tornando possível a aplicação destes materiais reciclados em várias áreas”, revelou a engenheira química. Após passar pelo processo de reaproveitamento desenvolvido na Unicamp, as misturas dos plásticos poderiam ser utilizadas, por exemplo, na indústria de móveis, lonas, vasos ou até mesmo na produção de novas embalagens plásticas. “O método garantiu uma qualidade muito satisfatória nas blendas finais”, confirma Natália de Barros.
João Sinézio de Carvalho Campos, orientador: “Precisamos criar mecanismos para o reaproveitamento dos materiais pós-consumo”
Método é mais vantajoso do que o reaproveitamento convencional, cujas misturas possuem baixo valor agregado Ela explica que muitas empresas reciclam os chamados materiais puros, como as garrafas de Politereftalato de Etileno (PET), que são monocamadas. “Nos plásticos com apenas uma camada é mais fácil a recuperação. Inclusive o próprio processo de moagem é mais simples. No caso de uma embalagem flexível e multicamada, a reciclagem se torna um problema”, expõe. Durante a pesquisa a engenheira química visitou algumas empresas do ramo e constatou que muitas não avaliam a qualidade do produto. “Elas reciclam estas embalagens multicamadas, mas as propriedades finais destes materiais não são averiguadas. Este estudo, portanto, é importante para validar um processo de reciclagem com os equipamentos que qualquer empresa de reciclagem possui, de modo a garantir a qualidade do produto final”, justifica a pesquisadora. O seu estudo foi desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. O docente João Sinézio de Carvalho Campos, do Departamento de Engenharia de Materiais e Bioprocessos da FEQ, orientou o trabalho. Houve também a participação do professor Marco-Aurélio De Paoli, do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química (IQ), como coorientador. Além da colaboração do IQ, a pesquisa foi realizada em parceria com a multinacional Dupont do Brasil, empresa na qual Natália de Barros atua como consultora de desenvolvimento de mercado. A companhia ofereceu infraestrutura e suporte para o estudo conduzido na Unicamp. A investigação contou ainda com a colaboração do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai- SP), que produziu parte das amostras para a dissertação. “É possível, vantajoso, pode e deve ser utilizado este processo de reciclagem proposto no trabalho de mestrado da Natália.
Fotos: Antoninho Perri
“O melhor equipamento para o processo seria uma extrusora de dupla-rosca, que mistura melhor os polímeros. Mas esta não é a realidade do Brasil. Empregamos, portanto, uma extrusora monorrosca, já que a maioria das empresas de reciclagem possui este tipo de equipamento”, detalha.
ADITIVOS
Natália Barros, autora do estudo: “O método garantiu uma qualidade muito satisfatória nas blendas finais”
As embalagens são ótimas para o consumidor, são muito práticas, mas precisamos criar mecanismos, como este, para o reaproveitamento dos materiais pós-consumo, de modo que eles não sejam descartados inadequadamente no meio ambiente”, situa o orientador João Sinézio de Carvalho Campos. No Brasil, cerca de 30% da produção total de embalagens é constituída de materiais plásticos, conforme levantamento de 2010 realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido da Associação Brasileira de Embalagens (ABRA). Natália de Barros cita o dado para alertar que as embalagens plásticas estão entre os materiais mais abundantes nos aterros e lixões do país. “Além dos aspectos ambientais, a reciclagem pode ter sua contribuição econômica e social. Com o aumento populacional, a tendência é de um crescimento no consumo de embalagens. Portanto, processos para o reaproveitamento destes materiais situam-se num momento importante”, contextualiza a pesquisadora da Unicamp. Ela ressalta que o objetivo da pesquisa foi simular uma condição real de reciclagem para estes tipos de embalagens. A meta foi permitir que a maioria das empresas do ramo, principalmente aquelas que usam equipamentos mais simples, pudessem se beneficiar da validação do método.
O processo de reciclagem validado na Unicamp utilizou dois tipos de aditivos: o polietileno funcionalizado com anidrido maleico e o polietileno pós-consumo. O polietileno com anidrido maleico, que é comercializado, apresentou ótimo desempenho, melhorando as propriedades mecânicas e a homogeneização do material final. O polietileno pós-consumo, que pode ser obtido por meio do reaproveitamento de materiais plásticos, também contribuiu para a melhora das propriedades mecânicas, quando comparado ao polietileno virgem. Natália de Barros esclarece, no entanto, que a sua vantagem principal em relação ao anidrido maleico é o custo. “O anidrido maleico apresentou melhores resultados em relação ao polietileno pós-consumo. Mas a utilização do polietileno pós-consumo também colaborou para a homogeneização. Ele pode ser obtido, por exemplo, das embalagens dos produtos de limpeza”, explica. De acordo com a pesquisadora, este aditivo é oriundo de um polietileno de alta densidade e transformado, durante o próprio processo de pós-consumo, numa espécie de adesivo polimérico. “O polietileno pósconsumo chegou a melhorar as propriedades mecânicas, mas a utilização do anidrido maleico proporciona um melhor controle do processo de reciclagem”, compara.
Publicação Dissertação: Propriedades do material polimérico obtido da reciclagem de embalagens multicamadas Autora: Natália Garrote de Barros Orientador: João Sinézio de Carvalho Campos Coorientador: Marco-Aurelio De Paoli Unidades: Faculdade de Engenharia Química (FEQ) e Instituto de Química (IQ)
Adaptador facilita tratamento de canal Patenteada, tecnologia desenvolvida na FOP permite fotoativação de materiais resinosos ADRIANA ARRUDA Especial para o JU
esquisadores da Faculdade de Odontologia da Unicamp (FOP) desenvolveram uma tecnologia inovadora que, se levada à indústria, pode ser uma grande aliada nas cimentações de pinos intrarradiculares em canais dentais. O professor Mário Alexandre Coelho Sinhoreti, o aluno de doutorado Victor Pinheiro Feitosa – ambos da Área Materiais Dentários da FOP – e o engenheiro de computação Tiago Porto Barbosa desenvolveram um adaptador para fotoativação de adesivos e cimentos resinosos que objetiva substituir os materiais ativados quimicamente ou com ativação dual (química e física) por resinas fotopolimerizáveis. “Essas resinas possuem melhores propriedades mecânicas e maior durabilidade se comparadas às resinas quimicamente ativadas”, explica Feitosa. O adaptador desenvolvido pelos pesquisadores é feito de fibra óptica e com formato levemente cônico, sendo capaz de transportar a luz do aparelho fotoativador para regiões muito finas ou estreitas de forma a dissipar a luz em 360 graus – inclusive em regiões em que a luz emitida pelo aparelho fotoativador não alcançaria em condições normais, como
o canal radicular de um dente. “O adaptador possui dezenas de microfibras ópticas dispostas em uma forma similar a um cone que se alinham e são incluídas em silicone de alta densidade transparente. Essas fibras transportam a luz dos aparelhos fotoativadores para dentro do canal radicular dental (região antes não alcançada) e permitem a polimerização de resinas odontológicas nessa região”, explica Sinhoreti. Dessa maneira, a tecnologia permite o uso, em canais dentais, de resinas fotopolimerizáveis que apresentam melhores propriedades mecânicas, menor degradação e maior durabilidade que as resinas utilizadas atualmente e que são ativadas quimicamente. “Como o adaptador possui o formato cônico, leve flexibilidade e apresenta dimensões reduzidas, é possível utilizá-lo em cavidades finas ou estreitas”, explica Feitosa. Segundo o professor, não há atualmente no mercado aparelhos ou formas de fotoativar adequadamente resinas odontológicas dentro de canais tratados, o que torna o produto um grande diferencial na área. Além de ser aplicado em cimentações de pinos e procedimentos adesivos no canal dental, o adaptador pode chegar a regiões de difícil acesso. Com seu doutorado em andamento, Feitosa refletiu sobre a deficiência no mercado de fotoativação de adesivos e resinas odonto-
Foto: César Maia
contribuição da Inova foi essencial, já que nenhum dos inventores tinha conhecimento sobre redação e descrição técnica de patentes”. Segundo o pesquisador, os analistas da Inova Unicamp o auxiliaram desde o passo a passo da escrita até o depósito do pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
PERSPECTIVAS O professor Mário Alexandre Coelho Sinhoreti (à esq.) e o aluno Victor Pinheiro Feitosa: resinas com maior durabilidade
lógicas dentro de canais radiculares. “Imaginei que seria possível o transporte da luz de forma eficiente através de algum adaptador. Idealizei o formato e a disposição do adaptador e entrei em contato com o Tiago para a possível utilização de fibras ópticas. A ideia inicial foi criar um dispositivo que promovesse a fotopolimerização adequada dentro dos canais radiculares dentais. Após o esboço do adaptador, conversei com o professor Sinhoreti e ele deu todo o suporte para a finalização do projeto”, lembra o pesquisador. O pedido de patente foi depositado em 2012 com o auxílio direto da Agência de Inovação Inova Unicamp. Para Feitosa, “a
Os pesquisadores explicam que, neste momento, a busca por um parceiro comercial é importante para a continuidade do projeto. “As pesquisas sobre a tecnologia estão finalizadas. Temos perspectivas agora em relação à possível comercialização do produto e a publicação de artigos científicos em revistas de impacto”, afirma Feitosa. A equipe pretende também realizar o depósito internacional da patente. Para isso, os pesquisadores buscarão parceiros no Brasil que tenham interesse pela tecnologia e venda do produto em outros países. O contato para possíveis parcerias com empresas interessadas no licenciamento da tecnologia é realizado diretamente pela Agência de Inovação Inova da Unicamp. Para mais informações, o e-mail de contato é o parcerias@ inova.unicamp.br.
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Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013
Literatura faz
“Novo Jornalismo” reencontrar prestígio Foto: Antoninho Perri
ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br
e você começou esta leitura, depois de ver o título aí de cima, tem algum interesse sobre o assunto. Este primeiro parágrafo deveria conter o “lead”, a notícia mais forte desta apuração e o que o faria continuar a ler. É o tipo de jornalismo com o qual você está acostumado. Tudo para conquistar sua atenção e garantir a tão apregoada objetividade jornalística. Peço licença para começar diferente desta vez, porque seria impossível falar de “Novo Jornalismo” ou de “Jornalismo Literário” sem mostrar este contraste técnico e que faz parte de uma série de grandes rupturas iniciadas nas redações de jornais e revistas a partir dos anos 60. O herói desta história é um ser milenar em mutação. Ninguém sabe de onde ele veio, para onde irá e qual o limite de sua força. Todos, porém, reconhecem a dimensão do seu poder. O Jornalismo já viveu a fase dos grandes registros históricos da antiguidade, das fofocas, das notícias que suportavam o comércio entre povos, avançou aceleradamente com as novas tecnologias, com a imprensa, as máquinas da revolução industrial, com as guerras mundiais, com o rádio, a TV e a internet. O “superpoder” do Jornalismo advém de suas células, os “repórteres”, que o alimentam e o protegem de todo o tipo de ameaça em um mundo hostil. Num determinado período, como uma autodefesa diante dos efeitos “enfraquecedores” da cultura do “lead”, houve uma mutação inesperada: alguns repórteres do corpo do Jornalismo passaram a processar uma nova substância sintetizada a partir da literatura e que deu a ele um novo tipo de poder, revolucionando o modo de contar histórias e de apurar os fatos. O herói desta história, no caso, agora está devidamente apresentado a você: o Jornalismo. O parágrafo que acaba de ler foi inspirado em uma das estruturas narrativas incorporadas pelo “Novo Jornalismo”, chamada pelo sociólogo norte-americano Joseph Campbell (1904-1987) de a “Jornada do Herói”. É o mesmo modelo que George Lucas seguiu na saga do filme “Guerra nas Estrelas” (Star Wars): o herói parte em uma jornada, passa por treinamento, enfrenta desafios, supera os inimigos, entre outras etapas, e retorna para ponto de origem, sua casa, pleno de poderes. “O jornalismo literário não é tão diferente assim da própria literatura. A diferença mais significativa é
A jornalista Cyntia Belgini Andretta, autora da tese: analisando o deslocamento do discurso jornalístico
que enquanto na literatura percebemos um apagamento do autor, no jornalismo literário ele se revela muito importante, coloca-se em evidência”, afirma a jornalista, também formada em letras, Cyntia Belgini Andretta, autora da tese de doutorado “A ideia de literatura nos romances do novo jornalismo”, orientada pelo professor Antonio Alcir Bernárdez Pécora, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.
Em seu trabalho, Cyntia passou por obras de quatro ícones do Jornalismo Literário americano (veja texto nesta página), analisando publicações desde a década de 50 até os anos 2000: Joseph Mitchell (“O Segredo de Joe Gould), Norman Mailer (“A Luta”), Gay Talese (“A Mulher do Próximo) e Tom Wolfe (“Ficar ou não Ficar”). Por dois anos, a professora de jornalismo literário da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC) “dissecou” essas
Características do Jornalismo Literário: Pesquisa etnográfica sempre Entrevistas sempre Narrador, autor e personagem secundário são os mesmos Ponto de vista em primeira pessoa como personagem secundário História já conhecida
obras para estudar a linguagem, o enredo, os personagens, a construção e o foco narrativo, entre outras particularidades. “Os autores lidam com personagens reais, com fatos reais, o que indica que não podem inventar e manipulá-los, como faz o autor de ficção. Mas isso não significa que os autores desse gênero não inventem um pouco também”, explica a pesquisadora, ao analisar os limites dos escritores, que se permitiam algumas liberdades como recriar de cabeça diálogos, ambientes etc, até mesmo de forma indireta, por meio do depoimento de outras testemunhas. O “New Journalism” foi um fenômeno do jornalismo norte-americano que viveu seu auge de 1960 a 1980 e influenciou também o jornalismo e autores no Brasil. Era um movimento de contracultura, que questionou os padrões da época, segundo a pesquisadora. O Jornalismo Literário não usa “lead”, mas sim uma abertura (parágrafos iniciais) diferenciada, e a estrutura do texto não segue o padrão do relato jornalístico, com a inclusão de diálogos, da intervenção do narrador. Além disso, a construção da narrativa imita modelos da literatura – por exemplo, o da citada “Jornada do Herói”, perceptível em “A Luta”, de Norman Mailer. “Durante a década de 1960, os jornalistas tiveram seu momento de destaque ao descobrirem-se como contadores de história. A função de contar um fato noticioso já era o que definia a profissão, só faltava a aproximação com a literatura para que o fato relatado se tornasse, então, fato contado”, diz Cyntia, em seu trabalho. “A aproximação da literatura foi somente o primeiro passo, outros viriam. O uso de metáforas, metonímias e demais figuras de linguagem começaram a deslocar o discurso jornalístico para a função conotativa da arte literária.” Na época em que o Jornalismo Literário nasceu, os repórteres tinham acesso a informações em primeira mão, contato direito com interessantes personagens e histórias reais, mas estavam limitados pela cultura do “lead”, que sistematizou e padronizou a linguagem nas redações. De acordo com a pesquisadora, alguns jornalistas viram na grande reportagem uma oportunidade para alcançar uma posição de prestígio, experimentada até então pelos romancistas, segundo a opinião de Tom Wolfe. “No começo dos anos 60, uma curiosa ideia nova, quente o bastante para inflamar o ego, começou a se insinuar nos estreitos limites da statusfera das reportagens especiais. Tinha um ar de descoberta. Essa descoberta, de início modesta, na verdade, reverencial, poderíamos dizer, era que talvez fosse possível escrever jornalismo para ser... lido como um romance. Nem mesmo os jornalistas pioneiros nessa direção duvidavam sequer por um momento de que o romancista era o artista literário dominante. Tudo o que pediam era o privilégio de se vestir como ele”, escreveu Wolfe.
Publicação
Detalhes (até para status de vida do personagem) Intensidade e densidade na mesma obra Espaço: histórias urbanas Tempo: contemporâneo Personagens representativos de um grupo social. Particular que se universaliza. Enredos trazem os bastidores da notícia, sempre um fato noticioso
Tese: “A ideia de literatura nos romances do novo jornalismo” Autora: Cyntia Belgini Andretta Orientador: Antonio Alcir Bernárdez Pécora Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)
Fonte: Tese de doutorado “A ideia de literatura nos romances do novo jornalismo”, de Cyntia Belgini Andretta/Instituto de Estudos da Linguagem/Unicamp
SAIBA MAIS O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell
A luta, de Norman Mailer
A mulher do próximo, de Gay Talese
Ficar ou não ficar, de Tom Wolfe
Último livro publicado por Joseph Mitchell, que tinha carta branca para escrever o que quisesse e em quanto tempo quisesse pela revista The New York. Foi um dos primeiros repórteres a descrever histórias reais com técnicas de ficção. “Mesmo não escrevendo mais nada desde 1964, Mitchell continuou a receber salário até morrer em 1996, de câncer. Era famoso por escrever perfis e fez o primeiro texto no gênero sobre o famoso boêmio Joe Gould, ou Professor Gaivota (como era conhecido nos bares de Nova York), em 1942. Em 1964, recuperou a história e quis contar o que teria acontecido com o projeto a que Joe Gould, seu personagem, se dedicou: o livro das histórias orais.” “O primeiro perfil é mais otimista e pudera, pois conta com as revisões do próprio Joe Gould. O segundo perfil é escrito depois que Joe Gould morre e talvez por isso soe mais sincero.”
“Um livro para contar a história de uma única luta de boxe. Mas essa luta foi com os maiores boxeadores do século: Muhammad Ali e George Foreman, realizada no ano de 1974. A história tem como cenário o Zaire e todos os holofotes de Norman Mailer se voltam para o momento da luta, seus personagens, seus antecedentes, os temores e o contexto histórico da época. Ali vence e essa vitória é interpretada de modo complexo, como uma vitória do esporte para o cenário mundial, para os negros norte-americanos e para todos aqueles que, como ele, se recusaram a participar da Guerra do Vietnã, condenando esse episódio.” “O repórter Norman Mailer faz a cobertura desse evento esportivo e coloca em evidência a luta pela emancipação dos negros na década de 70 nos EUA. Ali é visto como o herói do livro, como também o próprio repórter se coloca como uma espécie de herói.”
O livro é resultado de nove anos de pesquisa e participação no movimento revolucionário sexual da década de 1960 e 1970, nos Estados Unidos. “A Guerra Fria e o modelo artificialmente criado do american way of life são colocados à baila na obra, pois o cenário dessas décadas era de uma revolução completa em vários sentidos, inclusive o sexual, embora o puritanismo anglo-saxão queira esconder até hoje. A mulher do próximo narra essa revolução em consonância com as demais, passa pelo movimento hippie e conta a história do editor Hugh Hefner, da revista Playboy. À primeira vista, parece um tema da subliteratura, mas apresenta análises contundentes de uma época, aproximando muito a obra ao realismo social.” O livro debate a liberdade sexual de uma era que antecede a descoberta da Aids. O próprio autor diz ter feito uma imersão no assunto e vive intensamente essa liberdade.
“Um livro de ensaio, com artigos produzidos em vários momentos da vida do autor. Contase, nessa obra, a história de personalidades que influenciaram o ambiente artístico, científico e religioso do século passado e que, contudo, são pouco conhecidos, quase considerados anônimos da sociedade contemporânea. Além disso, explora por meio de observação como é o comportamento dos jovens de modo geral nessa cultura contemporânea e finaliza tratando especificamente sobre a crítica de livros, mais especialmente, o autor pretende defender-se de acusações sobre seus textos escritos em estilo de jornalismo literário. Ao que se refere a esse estilo de Tom Wolfe, destaca-se a ironia, o processo de caricaturização de seus personagens, o deboche e também alguns trechos com intertexto.” A obra reúne assuntos relativos à década de 1990 e início dos anos 2000.
Fontes: Tese de doutorado “A ideia de literatura nos romances do novo jornalismo”, de Cyntia Belgini Andretta/Instituto de Estudos da Linguagem/Unicamp; entrevista com a autora