29 minute read

ENTREVISTA

Next Article
PNEUS

PNEUS

©DIVULGAÇÃO

Yoshinori Wakitani Presidente da Sumitomo Rubber do Brasil

Advertisement

“Mesmo com as adversidades, apostamos em nossas operações no mercado brasileiro”

Fachada da fá brica da Sumitomo Rubber do Brasil.

O execu� vo par� cipou de todo o processo de construção e instalação da fábrica da Sumitomo Rubber do Brasil, desde o início das operações, em 2012. Em julho de 2018, assumiu o cargo de Presidente da SRB. Nesta entrevista para Borracha Atual ele fala sobre a atuação do grupo no mercado brasileiro, inves� mentos e perspec� vas para o futuro próximo, no mundo pós-pandemia.

BORRACHA ATUAL: Qual o balanço que o Grupo Sumitomo faz dos quase sete anos de atuação no país?

YOSHINORI WAKITANI: As operações comerciais da Sumitomo Rubber do Brasil se iniciaram, na verdade, em 2012. Em outubro de 2013 inauguramos nossa fábrica de pneus de passeio e, em abril do ano passado, iniciamos também a produção de pneus de carga, além de expandir a fábrica de pneus de passeio já existente.

Foram anos de muitos esforços para consolidar as operações da nossa fábrica e também a presença das nossas marcas no mercado brasileiro. Mesmo com as adversidades, colhemos hoje os frutos desses esforços e con� nuamos apostando nas operações do Grupo no mercado brasileiro.

O mercado brasileiro é importante para o Grupo?

A fábrica do Brasil é uma das mais modernas entre as 12 fábricas do grupo no mundo e considerada um benchmark, evidenciando a importância das operações no país.

Além disso, a produção nacional garante a disponibilidade de produtos para ampliar a par� cipação no mercado brasileiro, e também permite que o Grupo possa expandir suas parcerias com as montadoras no fornecimento de pneus para equipamento original.

Qual foi o desempenho da Dunlop no Brasil no ano passado?

Em 2019, a produção de pneus de carros ultrapassou a marca de 5,7 milhões de unidades e ultrapassamos a marca de 25 milhões de pneus produzidos no Brasil. Além disso, a Dunlop abriu sua fábrica focada na produção de pneus para veículos pesados, como caminhões e ônibus, e já encerrou o ano com bons resultados.

A produção de todos os pneus Dunlop no Brasil utiliza a tecnologia TAIYO (Sun) System, um sistema que fabrica pneus sem emendas nas partes de borracha, o que garante produtos mais uniformes e proporciona mais conforto, estabilidade e menor consumo de combustível para os clientes. O módulo de pneus para caminhões no Brasil é a primeira fábrica da Dunlop no mundo a produzir pneus com essa tecnologia. Então sua inauguração foi um marco para o Grupo como um todo.

“A fábrica do Brasil é considerada um benchmark, evidenciando a importância das operações no país.”

Qual o portfólio da marca no país? Qual o segmento é mais focado?

A Dunlop trabalha atualmente com pneus de passeio, SUVs, vans, caminhões e ônibus, enquanto a marca Sumitomo trabalha apenas com passeio. Já a marca Falken, também pertencente à Sumitomo Rubber do Brasil, trabalha com um foco maior em pneus off -road e pneus de passeio UHP (Ultra High Performance).

O que signifi ca para a Dunlop o prêmio recebido recentemente como uma das melhores fornecedoras da Toyota?

O prêmio recebido reforça o compromisso que a empresa tem com todos os seus clientes. Seja no mercado de equipamento original ou de reposição. A Sumitomo Rubber do Brasil busca desenvolver e entregar seus produtos com excelência.

Em abril a Dunlop atingiu a meta de ampliar a capacidade de produção para 1.000 pneus por dia para veículos pesados no Brasil. O prazo foi cumprido mais cedo que o planejado. Qual era o prazo anterior? Se não houvesse a pandemia, para quando era esperada a produção em plena capacidade?

A empresa acaba de implementar uma capacidade de produção de 1.000 pneus por dia no país, mais cedo do que o planejado, considerando a importância do mercado de pneus para caminhões e ônibus no Brasil. Independentemente da pandemia, o foco do Grupo é fornecer mais pneus produzidos localmente ao mercado brasileiro. Então não haveria mo� vos para adiar o plano. Quais serão os refl exos da pandemia para o grupo em geral e para a Dunlop no Brasil em particular?

Os impactos da pandemia foram sen� dos pelos mais diversos segmentos e locais no mundo todo, trazendo uma queda momentânea da demanda em diversos setores. Assim como a maioria das indústrias, a Dunlop no Brasil con� - nua trabalhando para manter suas operações e a� ngir suas metas dentro deste novo cenário.

Como a empresa está passando este momento e como se prepara para a retomada da economia?

A empresa con� nua trabalhando dentro de suas metas e estratégias previamente defi nidas, monitorando e acompanhando as alterações na demanda para atender o mercado da melhor forma possível.

Como a Dunlop analisa as vendas diretas para o consumidor fi nal (não montadoras)?

A Sumitomo Rubber do Brasil (SRB) comercializa suas marcas para seus distribuidores e é através desses distribuidores que nossos produtos chegam ao consumidor fi nal.

“Todo o processo de produção foi pensado para minimizar qualquer impacto ao meio ambiente.”

Qual a importância para uma fabricante de pneus ter revenda própria para o varejo?

A SRB não tem como responder essa questão, visto que não faz parte do nosso modelo de negócio.

Como está o treinamento/ educação da mão de obra?

O Grupo Sumitomo Rubber Industries aposta no treinamento e excelência da mão de obra em todos os níveis e existe um intercâmbio de informações entre as fábricas de diferentes regiões para que elas possam aprender umas com as outras. A SRB possui também programas internos que visam manter o desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus funcionários.

Quais as atividades/interação realizadas com a comunidade perto da unidade fabril?

A nossa fábrica está localizada em Fazenda Rio Grande, no Paraná, e desenvolvemos diversas a� vidades para apoiar a comunidade local. Promovemos campanhas de solidariedade durante o ano, convidando nossos funcionários a par� ciparem de doações para a comunidade local, como por exemplo: campanhas de Páscoa, Dia das Crianças e Natal. Temos também um projeto que chamamos de “Come on!” que foca em proporcionar bons momentos de refl exão para os jovens de Fazenda Rio Grande com o obje� vo de auxiliar na orientação profi ssional. Esta a� vidade visa oferecer uma direção para os adolescentes na escolha da sua carreira profi ssional, e é organizada pelas psicólogas da SRB que compar� lham importantes orientações e conhecimentos através de ferramentas intera� vas e dinâmicas.

Quais os destaques em relação à preservação do meio ambiente?

A Sumitomo Rubber do Brasil busca con� nuamente tornar-se uma empresa que contribua para a concre� zação de uma sociedade sustentável. Para esta conquista, um dos obje� vos é aprimorar as a� vidades de meio ambiente e elevar a consciência dos colaboradores.

A SRB também possui o Comitê de Meio Ambiente, responsável pela melhoria con� nua do Sistema de Gestão Ambiental com o obje� vo de melhorar o desempenho ambiental e acompanhar o plano de ação das a� vidades.

Além disso, todo o processo de produção foi pensado e desenvolvido para ser sustentável e minimizar qualquer impacto ao meio ambiente.

Dentre todas as a� vidades, podemos destacar:

Reaproveitamento de Água – contamos com uma estação que realiza o tratamento de 100% do efl uente domés� co da nossa fábrica e, a par� r de setembro, começaremos a trabalhar também com um sistema de reaproveitamento do efl uente através de osmose reversa que permi� rá reu� lizar 50% do efl uente gerado no processo produ� vo.

Preservação ambiental – as tecnologias empregadas na nossa fábrica no Brasil garantem uma expulsão mínima de gases poluentes no processo de fabricação dos nossos pneus. Além disso, a fábrica da Sumitomo Rubber do Brasil envia apenas o mínimo de resíduos para aterros e estamos à procura de novos parceiros e tecnologias para a� ngir o “Aterro Zero”, reforçando o compromisso da empresa com a preservação do meio ambiente.

Plan� o de árvores – todos os anos os funcionários do Grupo Sumitomo plantam árvores na Fazenda Rio Grande (região metropolitana de Curi� ba). Desde 2015, já foram quase 3.000 árvores plantadas e mais de 200 par� cipantes engajados na ação. Este é um dos nossos compromissos com o meio ambiente.

“Nosso foco principal é atender o mercado brasileiro.”

A reciclagem e a economia circular têm relevância na estratégia da empresa?

Assim como todos os associados da ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumá� cos), a SRB par� cipa da Reciclanip, inicia� va considerada uma das maiores da indústria brasileira na área de responsabilidade pós-consumo, também conhecida como logís� ca reversa. Com o apoio das associadas, a en� dade faz a coleta e o devido descarte dos pneus inservíveis em todo o país.

As prá� cas de reciclagem e consumo consciente também são divulgadas e incen� vadas dentro da empresa, seguindo seu compromisso em criar uma sociedade sustentável.

Quais os nichos de mercado em que a empresa pretende atuar no Brasil e na América do Sul?

A SRB con� nuará trabalhando nos segmentos no qual atua no momento.

A exportação será importante?

A SRB já exporta alguns produtos para outros países da América La� na, mas nosso foco principal é atender o mercado brasileiro.

Novos investimentos estão no radar da empresa?

Nosso foco é consolidar os inves� - mentos já feitos até o momento. 

Economia ensaia retomada após primeiro semestre trágico

Todos concordam que A a volta para o nível de atividade pré-pandemia não acontecerá do dia para a noite. Mas os agentes econômicos não estão parados e sinalizam que o pesadelo de um mundo inerte pelo Covid-19 pode estar acabando.

pandemia do Covid-19 parou a economia mundial por mais de 90 dias. Expecta� vas de crescimento em pra� camente todos os setores foram revisadas para baixo. De acordo com a agência de classifi cação de riscos S&P, o mais provável é uma queda no PIB global de 2,4% em 2020, seguida de um crescimento de 5,9% em 2021. A situação só não foi pior porque governos de vários países, incluindo o brasileiro, se esforçaram para evitar o apagão total na renda fornecendo auxílios emergenciais a parte da população, que se revelaram importantes para manter a roda da economia girando. Olhando para trás, vemos que no país a esperança de um crescimento posi� vo de PIB esvaiu-se logos nos primeiros dias de pandemia. Segundo dados do Bole� m Focus, divulgado pelo Banco Central em 6 de julho, a projeção de PIB para 2020 é de -6,50% (uma pequena melhora, pois no estudo anterior a queda prevista era de -6,54%). Para 2021, permanece em 3,50%. A projeção de infl ação (IPCA) para 2020 e 2021 permanecem estáveis em 1,63% e 3,00%, respec� vamente. Quanto ao dólar, a projeção da taxa de câmbio permanece em 5,20 para 2020 e passou de 5,00 para 5,05 para 2021. A projeção de Selic permanece em 2,00% ao fi nal de 2020 e 3,00% ao fi nal de 2021.

Olhando para a frente, vemos que há disposição nos agentes econômicos em retomar a rota do crescimento o mais rápido possível. Um dos indicadores que refl ete esse quase entusiasmo é o Índice de Confi ança do Empresário Industrial, um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria, que cresceu sucessivamente em maio, junho e junho (34,7%, 41,2% e 47,6%, respec� vamente), após violenta queda de abril em relação a março (34,5% contra 60%). Neste levantamento, o principal execu� vo da empresa responde perguntas sobre as condições atuais gerais da economia brasileira, do Estado de São Paulo e de sua empresa, além da expecta� va para os próximos seis meses. O entusiasmo terá que ser grande dos agentes econômicos, porque o estrago dos efeitos da pandemia foi enorme. O setor automo� vo, uma das locomo� - vas do PIB nacional, afundou no primeiro semestre. A produção acumulada entre janeiro e junho, de 729,5 mil veículos, representou uma queda de 50,5% na comparação com o primeiro semestre de 2019. Em junho, a produção de 98,7 mil unidades foi 129,1% superior à de maio, mas 57,7% inferior à de junho do ano passado. Com esses dados e com base nas expecta� vas econômicas do país para o segundo semestre, a associação projeta produção de 1.630 milhão de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em 2020, volume 45% inferior

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea,

Foto: motor1.uol.com.br

“O entusiasmo terá que ser grande dos agentes econômicos, porque o estrago dos efeitos da pandemia foi enorme”.

ao de 2019. “Trata-se de uma es� ma� va dramá� ca, mas muito realista com base no prolongamento da pandemia no Brasil e na deterioração da a� vidade econômica e da renda dos consumidores”, afi rma o Presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. A perspec� va de produção é lastreada num mercado interno projetado de 1.675 milhão de unidades vendidas no ano (queda de 40%) e uma exportação de 200 mil unidades (queda de 53%), além de levar em conta a variação de estoques e as importações de veículos. Com o licenciamento de 132,8 mil unidades em junho, o acumulado do semestre foi de 808,8 mil autoveículos, recuo de 38,2% sobre o mesmo período de 2019. As exportações em junho fecharam em 19,4 mil unidades, totalizando 119,5 mil no semestre, uma queda de 46,2%. “A situação geral da indústria automo� va nacional é de uma crise maior que as enfrentadas nos anos 80, 90 e essa mais recente de 2015/16. Ela veio num momento em que as empresas projetavam um crescimento anual de quase 10%. Um recuo dessa magnitude no ano terá impactos duradouros, infelizmente. Nossa expecta� va é que apenas em 2025 o setor retorne aos níveis de 2019, ou seja, com atraso de seis anos”, avalia Luiz Carlos Moraes. Realidade igualmente tenebrosa está sendo vivida pelas revendedoras de veículos no primeiro semestre. Segundo dados da FENABRAVE – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, no acumulado do 1º semestre/2020, foram emplacados 1.225.663 veículos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas, implementos rodoviários e outros, o que representa queda de 36,13%, na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram emplacadas 1.918.977 unidades. A situação dos importadores de veículos, que já não estava tranqüila, por conta da acentuada valorização do dólar, tornou-se preocupante após o fechamento do comércio devido à pandemia. De um primeiro trimestre posi� vo, com alta de 20,4% nas vendas, os números passaram para o vermelho no fechamento do semestre, com queda de 18,7% na comparação com os primeiros seis meses de 2019. João Henrique de Oliveira, presidente da ABEIFA – Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores – reconhece que a situação não é fácil e pede compreensão ao governo sobre a situação dos importadores. “Muitas marcas que hoje produzem no país já foram ou ainda são associadas da ABEIFA. É uma porta de entrada para o inves� mento estrangeiro direto no país. É de suma importância que o governo tenha polí� cas que possam ajudar a preservar a situação dos importadores e manter sua viabilidade”, afi rma o execu� vo. Na esteira do setor automo� vo, a indústria pneumá� ca também se viu em apuros no primeiro semestre, devido aos efeitos da pandemia. Fechou o primeiro semestre de 2020 com queda de 29,6% em relação ao mesmo período de 2019. Em junho a baixa nas vendas foi de 31,1%, e mesmo com os resultados nega� vos no mercado de montadoras (-56,7%) e reposição (-21,4%), o setor teve uma re

cuperação de 35,6% em comparação ao mês de maio. Com isso, em junho foram comercializadas 3.432.710 unidades. Os dados fazem parte do levantamento setorial divulgado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumá� cos (ANIP).“Os dados mostram que ainda estamos distantes em relação à performance apresentada pelo setor em 2019. A recuperação ainda é um desafi o e a a� vidade das montadoras con� nua sendo um fator importante mesmo com os bons números dos pneus de carga”, afi rma Klaus Curt Müller, presidente execu� vo da ANIP. Setor vital para momentos como esse, em que há um aumento expressivo de alguns produtos de seu por� ólio (par- � cularmente do segmento farmacêu� co), a indústria química sofreu reveses mas não tão grandes quanto outros setores da economia. No primeiro semestre as importações brasileiras de produtos químicos totalizaram US$ 19,6 bilhões, redução de 4,1% em relação ao igual período de 2019. Em uma avaliação mensal, apesar da instabilidade econômica no primeiro bimestre e da calamidade pública defl agrada desde março com a pandemia da Covid-19, o valor importado foi superior a US$ 3 bilhões em todos os meses do primeiro semestre. As exportações brasileiras de produtos químicos, por sua vez, somaram no período US$ 5,6 bilhões, redução de 11,7% em relação aos mesmos meses do ano anterior, sendo que a redução da alíquota do Reintegra, em junho de 2018, dos anteriores 2% para ínfi mos 0,1%, con� nua causando grande impacto no desempenho exportador do setor. Desde então, o patamar mensal de exportações se estagnou em US$ 1 bilhão; enquanto, anteriormente à medida, oscilava entre US$ 1,2 e US$ 1,4 bilhão mensais. Em termos de quan� dades transacionadas, as movimentações de produtos químicos foram recorde, tanto com as importações de 22,9 milhões de toneladas quanto com as exportações de 7,7 milhões de toneladas, respec� vamente aumentos de 11,6% e de 16,4% em relação aos maiores registros anteriores. O défi cit acumulado da balança comercial de produtos químicos a� ngiu US$ 14 bilhões no primeiro semestre deste ano, um modesto recuo de 0,7% comparado com o mesmo período de 2019. Nos úl� mos 12 meses (jul/19 a jun/20), mesmo com os graves desafi os do enfrentamento da pandemia da Covid-19, esse indicador totalizou US$ 31,6 bilhões, montante somente inferior aos US$ 32 bilhões de 2013. Os efeitos da pandemia do novo coronavírus impactaram fortemente também os resultados da indústria calçadista. Dados elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apontam que, no acumulado dos cinco primeiros meses de 2020, as exportações somaram 39,53 milhões de pares e US$ 294,9 milhões, quedas de 22,1% e 28,7%, respec� vamente, ante igual período do ano passado. Haroldo Ferreira, presidente da associação, destaca que o resultado já era esperado pelo setor, que percebe seus pedidos minguando desde o início do ano.“Em 2020, não � vemos nenhum resultado posi� vo na relação com 2019, mas as quedas foram acentuando com o passar dos meses. As exportações devem estabilizar, ou demonstrar quedas menores, somente no úl� mo trimestre do ano. Devemos fechar 2020 com um revés na casa de 30% nos embarques”, projeta o dirigente, ressaltando que a exportação nacional do setor deve retornar a patamares da década de 1980. Uma boa no� cia é a diminuição na queda do nível de emprego. Em abril, foram perdidos mais de 29 mil postos na a� vidade, número que caiu para 16,5 mil em maio e 5,2 mil em junho, fato explicado pela abertura gradual do comércio � sico em alguns dos principais centros de compras do País. Entre os fabricantes de máquinas e equipamentos, o cenário é preocupante. A receita total do setor registrou R$ 56,03 bilhões no acumulado janeiro-junho, uma retração de 8,5% no ano em relação ao mesmo período de 2019. No mercado domés� co, as receitas encolheram 7,8% frente aos primeiros seis meses do ano passado. O arrefecimento de importantes mercados clientes e a difi culdade no emprego dos fatores de produção têm colaborado para o cenário nebuloso dos fabricantes de máquinas na pandemia. As receitas de exportação do setor de máquinas e equipamentos não responderam à altura do câmbio desvalorizado. Mesmo antes da pandemia, as exportações do setor já apresentavam sucessivas retrações desde novembro de 2019 em razão da desaceleração do mercado internacional. Com a pandemia, a situação das exportações de máquinas piorou consideravelmente. Com mercados fechados e restrições à entrada de produtos estrangeiros, a decisão de inves� mento dos clientes externos também foi adiada. No acumulado do ano, as receitas de exportação já contabilizam queda de 25,4%, o que ocorreu de forma intensa e generalizada nos segmentos fabricantes de máquinas e equipamentos. Se a indústria sofre com os efeitos devastadores da pandemia do novo Coronavírus, o mesmo não se pode dizer do setor agrícola que, apesar de não apresentar o vigor dos tempos normais, ainda é fonte de boas no� cias. De janeiro a abril de 2020, os dados de comércio exterior da cadeia do agronegócio mostram que as exportações brasileiras cresceram 7% (em valor) em comparação com o mesmo período do ano anterior. Soja e carne bovina contribuíram posi- � vamente, enquanto milho e celulose apresentaram queda. Na análise detalhada dos mercados e preços agropecuários domés� cos, feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), constatou-se que as reações à pandemia contribuíram para o aumento de quase todos os preços agropecuários em março. O isolamento social com a chegada do vírus no Brasil

causou, no início da pandemia, picos de demanda que impulsionaram os preços de produtos como arroz, banana, café e ovos. A par� r de abril, os efeitos sobre os preços foram difusos. A subseção de crédito rural apresenta o bom desempenho do volume de crédito contratado no primeiro quadrimestre do ano, em especial no bimestre março-abril, que marca o início da crise da Covid-19 no país. Esse resultado mostra o esforço conjunto do governo federal e das en� dades integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), no sen� do de preservar o crédito des� nado ao setor agropecuário, considerado estratégico no enfrentamento da crise.

Saídas para a crise

Não se retoma a a� vidade econômica de uma hora para outra após um tombo globalizado como o atual. Turbulências passadas ensinaram essa lição aos governantes de hoje e muitos deles tomaram providências imediatas para estancar uma crise econômica futura, que poderia vir com mais fúria que a pandemia do Covid-19. “Estamos entrando em uma segunda fase da crise mundial provocada pela Covid-19, com os efeitos da quarentena social chegando de forma agressiva às economias nacionais”, afi rma o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, Presidente do Conselho de Admi

Luiz Carlos Mendonça de Barros. nistração da Foton e que já foi presidente do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e Diretor do Banco Central do Brasil. “O primeiro impacto, provocado pelo pânico que a� ngiu inves� dores e ins� tuições fi nanceiras no mundo todo, está controlado pela ação conjunta dos bancos centrais. A lição de 2008 foi aprendida e desta vez o protocolo defi nido após 2008 não foi só rapidamente aplicado, como expandido por outras medidas ainda mais heterodoxas”, afi rma Mendonça de Barros. “Para o enfrentamento desta segunda fase as lições do passado não foram sufi cientes pela natureza diferente do choque nega� vo que a� ngiu simultaneamente a operação de empresas e a renda dos salários de trabalhadores e arrecadação de impostos dos governos”, declara o economista. “Felizmente a leitura deste choque feito por economistas e governos nacionais foi rápida e correta ao iden� fi car o verdadeiro apagão de renda que iria ocorrer nas economias de mercado pelo tempo em que o afastamento social durasse. Em pouco tempo construía-se um protocolo de natureza keynesiana para enfrentar a recessão que se seguiria”, completa. José Francisco Lima Gonçalves, economista do Banco Fator, segue o mesmo raciocínio de Mendonça de Barros. “Vivemos uma situação de preferência pela liquidez, apesar do crescimento dos a� vos de risco. O importante é que os governos reagiram rápida e intensamente em relação à polí� ca econômica”, afi rma o economista. “De uma maneira geral houve consenso em relação a uma folga tributária, há programas enormes de transferência de renda e a concessão de garan� as por parte do governo. Quanto à polí� ca monetária, foi uma exacerbação daquela que conhecemos desde 2008, que é a expansão dos balanços dos bancos centrais, a redução dos compulsórios e a queda dos juros a zero ou a valores nega� vos”, afi rma.

José Francisco Lima Gonçalves.

O refl exo das medidas tomadas pelo governo brasileiro, principalmente o auxílio emergencial, ainda não foi dimensionado, mas já há indícios de que o caminho da recuperação será tortuoso. Carta do respeitado IPEA – Ins� tuto de Pesquisa Econômica Aplicada, datada de 30 de junho, é reveladora nesse aspecto. Segundo os economistas do Ins� tuto, caso o processo de fl exibilização gradual das restrições à mobilidade e ao funcionamento das a� vidades econômicas iniciado em junho se mantenha, projeta-se a recuperação gradual do PIB no terceiro e quarto trimestres. A queda projetada para o ano é de 6%, mas a trajetória de recuperação no segundo semestre deixará um carry-over de quase 2% para 2021, cujo crescimento projetado é de 3,6%. Espera-se que, em função da deterioração fi scal causada pela pandemia, a dívida bruta do governo geral (DBGG) em proporção do PIB aumente de 75,8% no fi nal de 2019 para 93,7% no fi nal de 2020. Apesar da expecta� va de que as medidas emergenciais não se estendam além de 2020, a crise da Covid-19 aumentou também para o futuro os desafi os fi scais do país, que sairá da crise com uma dívida pública muito mais alta, e níveis de produção e arrecadação muito mais baixos que antes. Logo, o esforço fi scal que vinha sendo realizado terá que ser reforçado, visando reafi rmar o compromisso com o equilíbrio das contas públicas e com uma trajetória sustentável para a dívida pública.

A necessidade de equilíbrio das contas públicas é mais um fator que impulsiona o governo a acelerar a reforma tributária, adiada há anos por várias administrações federais. Um dos pontos principais defendidos pelo Ministério da Economia é a criação de um novo imposto, nos moldes da CPMF. Outro é a maior taxação sobre o setor de serviços. O problema é o � ming: aumentar ou criar impostos em uma época de a� vidade econômica recessiva não parece ser um dos melhores incen� vos para a sobrevivência das empresas e muito menos para o aumento do consumo. E há aquela questão que afl ige, principalmente, os trabalhadores: o que acontecerá com a economia quando acabar o auxílio emergencial? “Se o emprego não � ver voltado após o fi m do auxílio, provavelmente em setembro teremos uma queda muito importante na demanda. Se o crédito não voltou para pequenas e médias empresas, é porque acertar os balanços e os fl uxos de caixas dessas empresas fi cou impossível, o que resultará no aprofundamento do processo de inadimplência”, afi rma o economista José Francisco Lima Gonçalves. “Acho que o medo sobe rápido e cai devagar. O � ming dessa melhora é complicado. Não só o � ming, a direção também - se melhora consistentemente ou se tem as idas e vindas”, analisa. O economista também alerta que, se tudo der certo e a economia voltar a ser o que era na fase pré-pandemia, o Brasil retornará a um cenário em que o PIB vinha crescendo em média 1% nos úl- � mos três anos. Ou seja, sairá da recessão para a estagnação. Mas reconhece a importância do auxílio emergencial no atual período. “Sem o programa emergencial estaríamos muito pior do que estamos, e, pensando adiante, é interessante ter um programa permanente de transferência de renda. Por outro lado, quando pensamos em renda decorrente de emprego, e portanto, com carteira de trabalho ou comprovante que dê acesso a crédito,

“A necessidade de equilíbrio das contas públicas é mais um fator que impulsiona o governo a acelerar a reforma tributária, adiada há anos por várias administrações federais”.

temos um pacote que não ajuda muito a recuperar a curto prazo o consumo das famílias. Ao menos, nesse período do auxílio, pelo que pudemos ver nos dados da poupança na primeira semana de julho, a captação líquida estava indo para o nega� vo e o saldo, caindo. Isso signifi ca que as famílias estão gastando, e isso é bom porque ajuda a recuperar a economia. Mas isso é ruim à luz do encerramento do programa de transferência de renda. Quando acabar o programa não vai mais ter essa captação e vai ser di� cil imaginar as famílias torrando suas poupanças no consumo”, afi rma. Situação semelhante, de contenção de gastos, deve acontecer com o consumo do governo, segundo José Francisco. “Esse é o quarto ano que tem se pra� cado uma polí� ca fi scal contracionista que resulta no corte das despesas discricionárias, e 90% disso é inves- � mento público. Para esse ano, o que vai acontecer é o encerramento do programa de transferência de renda e isso signifi ca que, daqui para o fi m do ano, e principalmente comparando o ano que vem com esse, teremos uma polí� ca que será contracionista”, declara.

Infraestrutura, a esperança?

O Senado aprovou, no dia 24 de junho, o marco legal do saneamento básico, que abre a possibilidade da inicia� - va privada inves� r em serviços de água e esgoto, que até então eram atribuição exclusiva do Estado. O tema é polêmico (opositores ao governo falaram até em “priva� zação da água”), mas também traz esperança de maior arrecadação para os cofres públicos com os contratos para concessão dos serviços – e também menores gastos estatais no setor. Picuinhas polí� cas à parte, é um assunto que pode ajudar a levantar a economia. “A área de infraestrutura terá um papel fundamental para minimizar os impactos da pandemia do Covid-19 no Brasil. Para isso é preciso fortalecer os inves� mentos públicos na área para es� mular novos recursos privados nacionais e internacionais, fomentar a geração de empregos e renda e movimentar a economia”, avalia o economista Luís Artur Nogueira. “O inves� mento em infraestrutura é uma saída, porque já há uma percepção do governo de que se não houver o aporte público, não terá o privado. Quanto ao saneamento básico, é preciso inves� r nessa área porque o governo, certamente, vai economizar em saúde nos anos seguintes”, completa. O economista José Francisco Lima Gonçalves não é tão o� mista na questão

Luís Artur Nogueira.

do saneamento. “No conjunto da expecta� va de infraestrutura privada, só temos a boa no� cia do marco legal do saneamento, que em nossa leitura nem é tão boa assim. Esse período em que as estatais estaduais são pra� camente desvalorizadas a zero é muito complicado. E depois imaginar que se vai ter a universalização desse serviço com rentabilidade privada é pra� camente um delírio”, afi rma. Ainda na área de infraestrutura, Luís Artur Nogueira lembra que o governo tem um pacote de obras pós-crise, que engloba 70 projetos no modal de transporte – rodovias, aeroportos, ferrovias e portos –, com montante es� mado de R$ 30 bilhões. Além disso, está man� do o cronograma de concessões para o segundo semestre, que inclui 44 projetos e R$ 101 bilhões em recursos. Parece animador à primeira vista, caso saiam do papel e a classe polí� ca colabore. Mas a inicia� va privada tem outra visão. “Todos os vetores recentes de inves� mento de capital fi xo estão um pouco prejudicados”, afi rma o economista José Francisco Lima Gonçalves. “Óleo e gás eram nosso xodó até o ano passado quando se projetava a recuperação do inves� mento. As incertezas do mercado global do petróleo, infelizmente, inibem esse negócio. A indústria de transformação, nem é preciso se alongar, sequer citar a enorme ociosidade que claramente inibe inves� mento. E em alguns setores haverá desinves� mento, um exemplo bastante relevante desse processo é a indústria automobilís� ca. Lajes e galpões seguem com essa mudança de comportamento decorrente não só no ritmo de crescimento baixo de 1% durante três anos mas também com os efeitos da pandemia, e haverá um ajuste importante dos preços desses recursos. Já os inves- � mentos rela� vos à mobilidade urbana têm chances de perder pouco: o ajuste do transporte cole� vo urbano irá mudar o perfi l dos inves� mentos. No curto prazo não vejo grandes chances de recuperação da economia”, fi naliza.

Salvação que vem do exterior

Se as incertezas polí� cas e econômicas internas prejudicam a rápida recuperação da economia nacional, a retomada mais veloz das a� vidades nas grandes potências mundiais pode ajudar o Brasil. “As três maiores economias entrarão em ciclo de crescimento, garan� ndo a emergentes a saída da recessão”, afi rma o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. “O que ocorre na China e já está sendo visto nas maiores economias nos permite assim proceder, embora apenas na virada do ano é que teremos sinais mais claros de uma retomada da a� vidade econômica de caráter mundial. Mas ela vai ocorrer em cenário com um grande hiato do produto e com um quadro defl acionário preocupante. A China será uma exceção pelo sucesso ob� do no controle da doença, e pela rapidez com que a a� vidade econômica está se normalizando. O FMI prevê um crescimento de 1,5% em 2020 seguido de uma expansão de 9% em 2021 em função de um programa de es� mulos fi scais e monetários, como ocorreu em 2010”, declara o ex-ministro. Luiz Carlos Mendonça de Barros também prevê que os Estados Unidos, outro pilar da economia mundial, se recupere rapidamente, mesmo que haja mudanças no comando do país após as eleições de novembro. “Os Estados Unidos chegará ao quarto trimestre deste ano com uma economia em recessão, mas com um hiato elevado do produto e um mercado de trabalho com bastante folga também. Mesmo com as incertezas de um novo presidente, podemos afi rmar que haverá no Congresso um segundo grande esforço de es� mulos fi scais para colocar a economia em uma rota mais clara de recuperação e uma redução do desemprego. Se es� ver certo, teremos na virada do ano e durante 2021 as duas maiores economias do mundo lado a lado com uma volta do crescimento econômico”, afi rma. Em relação à Europa, o economista vê na implantação de uma ajuda fi scal via “mul� annual fi nancial framework (MFF)”, com mais de US$ 1 trilhão de recursos, a grande alavanca para � rar o bloco do atoleiro. “Estes recursos vão certamente acelerar a recuperação econômica dos países em maior difi culdade como Espanha, Itália, Grécia e do Leste europeu. Desta forma as três maiores economias do mundo devem - ao longo do quarto trimestre - entrar em um ciclo de crescimento posi� vo garan� ndo para o mundo emergente uma condição de - embora mais lentamente - sair da armadilha da recessão ao qual estão hoje des� nados. Neste cenário o Brasil deve receber um empuxo externo via as exportações de commodi� es e a volta do inves� mento estrangeiro principalmente no setor de infraestrutura, viabilizando novamente o ambicioso processo de priva� zações atualmente em stand by no governo Bolsonaro”, fi naliza. 

This article is from: