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ASSOCIAÇÃO PELA FAMÍLIA DIRETORIA Presidente Josué Rodrigues Silva Machado Vice Presidente José Luiz Brant de Carvalho Tesoureiro Jayme Altomar Secretária Marie Françoise Andriollo Vilela Superintendente Paschoal Milani Neto Coordenadora Pedagógica Laura Souza Pinto Supervisora da Controladoria Ivana dos Santos Supervisora da Ação Social Anna Thereza Guolo Ferraz Supervisora da Ação Social e Coordenadora de Projetos Roseli Gelmetti CONSELHO CONSULTIVO Diretor Luiz Marcello Moreira de Azevedo Filho Secretário Marcelo de Oliveira Monteiro Diniz Junqueira Suplente Magno José Vilela CONSELHO FISCAL Diretor Cláudio Damasceno Júnior Secretário Renato Serra Filho Suplente Guilhermina de Paula Santos SEDE Rua Bento de Andrade, 324, Jardim Paulista São Paulo, SP, 04503 000 Tel.: (11) 3054 2464 E-mail: acaosocial@aspf.org.br | Website: www.aspf.org.br
UNIDADES Prestação de serviço gratuito CENTRO EDUCACIONAL GRACINHA Diretora Hilda Setsuko Hashimoto Tel.: (11) 3742 4520
CENTRO EDUCACIONAL ASAS FORTES Diretora Rosana Marques Corso Tel.: (11) 4135 1353
CENTRO EDUCACIONAL CLARISSE FERRAZ WEY – CEPEC Diretora Maria do Carmo Risi de Azevedo Tel.: (11 ) 3751 0438
PROJETO CAMINHO NOVO Diretora Sônia Maria de Freitas Altomar Tel.: (11) 6693 8353
CENTRO EDUCACIONAL COLIBRI Diretora Maria Cecília Mello Fernandes Tel.: (11) 4702 4050
PROJETO ARCO-ÍRIS Diretora Solange da Rocha Tel.: (11) 3989-6916 Prestação de serviço remunerado
CENTRO EDUCACIONAL GIRASSOL Diretora Janete Rios Rocha Tel.: (11) 3751 5447
ESCOLA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS Diretor Eduardo Roberto da Silva Tel.: (11) 3167 0481
PROJETO AQUARELA Orientadora Pedagógica Luciana Oliveira dos Santos Silva Tel.: (11) 3751 5447
NOVA ESCOLA Diretora Maria Inês Del Tedesco Nabuco de Oliveira Tel.: (11) 5567 2464
CENTRO EDUCACIONAL UIRAPURU Diretora Ana Maria Rodrigues Tel.: (11) 3784 2419
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Associação Pela Família 1956-2006
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COMISSÃO EDITORIAL Analice Moura Ignácio Eduardo Roberto da Silva Laura Souza Pinto Roseli Gelmetti PROJETO GRÁFICO E EDITORIAL DESENHOLÓGICO Carlos Perrone Cristina Vieira Ana Basaglia Martha Kiss - ilustração PESQUISA E REDAÇÃO Sérgio Alli ENSAIO FOTOGRÁFICO Patrícia Iked ILUSTRAÇÃO Martha Kiss REVISÃO DE TEXTO Josué Rodrigues Silva Machado Laura Souza Pinto
PRÉ-IMPRESSÃO, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Pancrom Gráfica
O texto deste livro foi escrito com base em pesquisa documental no acervo da ASPF e depoimentos de pessoas que participaram da história da Associação e ajudaram a construí-la. A orientação geral coube aos membros do Conselho Editorial, com a colaboração do conjunto da equipe de produção deste projeto. Os testemunhos da professora Laura Souza Pinto foram de primordial relevância. O capítulo “Raízes na história do povo” baseou-se nos depoimentos de Zilda Noronha Miné, Ilda Noronha Miné, Floriano Noronha Miné e Conceição Cardoso Noronha Miné. O professor de teologia Francisco Augusto Carmil Catão contribuiu especialmente com informações contidas no capítulo “Herança nos compromissos cristãos”. Também contribuíram com seus relatos e análises: Anna Thereza Guolo Ferraz, Eurico Pereira de Souza, Gláucia Santos Correia, Hilda Setsuko Hashimoto, Josmar de Lira Garcia, Leandro Mendes, Maria Stella Scavazza, Maria Sueli do Nascimento, Roseli Gelmetti e Sidnei do Carmo da Silva, além das diretoras das unidades educacionais.
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SUMÁRIO
Apresentação
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PARTE UM Encontros Da origem até o Terceiro Setor
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PARTE DOIS
Herança nos compromissos cristãos
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A missão educativa
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Raízes na história do povo
PARTE TRÊS Encontros agora e depois
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APRESENTAÇÃO
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ste livro conta a história da ASPF. Uma história de 50 anos de sucesso. A ASPF nasceu oficialmente
em 1956, mas há indícios de que sua semente já existia na alma de mulheres cristãs que se reuniam algum tempo antes para trabalhar pela educação. Eram ligadas pela educação e pela fé. Algumas nem se conheciam, mas suas idéias eram confluentes. Entre elas, Laura Sousa Pinto, que começou como professora da Escola Nossa Senhora das Graças, foi diretora da escola, superintendente da ASPF e agora responde pela coordenação pedagógica. Ela estava no princípio de tudo, testemunha e participante da gênese e do crescimento da ASPF. Aqui se conta um pouco da história dessas mulheres e como a semente se transformou na cinqüentenária árvore frondosa com seus muitos frutos. Os frutos materiais, que permanecem com a ASPF, são as estruturas das duas escolas e dos oito centros educacionais. São frutos e braços com que atua, crente na força transformadora da boa educação. Os outros frutos, muitas centenas de outros, são os educandos que passaram pelas unidades e por certo ficaram marcados por esses tempos de escola, juventude e esperança.
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A ASPF passou por bons e maus momentos, como toda criação humana. Muito mais bons momentos do que maus. E jamais sua trajetória deixou de ser ascendente, como provam os resultados que obteve e vem obtendo: ela atende a quase 2 000 carentes, a maioria crianças e jovens. A história que se conta neste livro está resumida aos principais fatos que marcaram a existência da ASPF. Impossível descrever também matizes, sensações e emoções que a definiram em seus 50 anos. Essas são impressões gravadas como dádivas, graças, bênçãos apenas na memória dos que vivem e viveram nela e com ela. 8
Josué Rodrigues Silva Machado Diretor-presidente da ASPF
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SORTNOCNE
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ENCONTROS
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ncontros, convergências e confluências compõem a história da Associação Pela Família (ASPF). O encontro inaugural reuniu professoras e operárias católicas em torno do ideal de desenvolver e transformar as pessoas e as comunidades por meio da educação. As operárias eram do Brás. As jovens professoras eram, na maioria, de Perdizes, dos Jardins e de Pinheiros. A partir desse, outros encontros se sucederam. A Associação já nasceu com vínculos estreitos com a Escola Nossa Senhora das Graças. Depois, se tornou sua mantenedora e viabilizou a aquisição de sua nova sede. Colaborou assim para consolidar um modo de ensino que até hoje frutifica. A mudança da Escola Nossa Senhora das Graças para o Itaim-Bibi possibilitou o contato com um novo bairro ainda em adensamento e com um novo público, filhos de jovens famílias de classe média. Sempre dinâmica e em permanente renovação, a escola tornou-se espaço de encontro de gerações de professores e alunos, referência prática dos valores da ASPF e fonte de recursos para sua atuação social. Desde os anos 1950, o grupo que formou a Associação encontrou-se também com as questões sociais, no trabalho de educação e catequese na Av. Itaberaba (Zona Noroeste) e no Jardim Monte Kemel, na região do Ferreira (Zona Sudoeste), onde hoje é a sede do Centro Educacional Gracinha. No período difícil da ditadura militar, os encontros proporcionados pela ASPF significaram também resistência democrática na defesa dos direitos e da liberdade. Com a redemocratização do Brasil, seguiram-se novos encontros com diferentes comunidades e suas demandas:
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• na favela do Jardim Jaqueline (Zona Sudoeste) a presença da Associação a partir de 1982 impulsionou diversas iniciativas, entre as quais a criação do Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec), em 1986, e do Centro Educacional Girassol, em 1997. • no Valo Velho, na região do Capão Redondo (Zona Sul) a ASPF colaborou na organização de um Clube de Mães de 1978 a 1981; • no Real Parque (Zona Sul), em parceria com a Sociedade Amigos do Bairro, a ASPF participou da criação do Centro de Apoio à Criança O Visconde, que começou a funcionar em agosto de 1993. • no município do Embu das Artes (Zona Sudoeste) foi construído o Centro Educacional Colibri, inaugurado em 1996.
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Essa perspectiva multiplicou-se no novo século. As atividades da Associação expandiram-se em novos encontros: • na favela do Jardim Uirapuru, no Jardim João XXIII (Zona Sudoeste), onde a ASPF assumiu a gestão do Centro de Convivência, em 2001; • no Brás (Zona Leste) foi criado em 2004 o Centro Caminho Novo, que implantou o trabalho de alfabetização de adultos para moradores de rua; • no município de Taboão da Serra (Zona Sudoeste) a ASPF assumiu em 2004 a direção do Centro Educacional Asas Fortes; • no Jardim Elisa Maria, na Vila Brasilândia (Zona Noroeste), onde as duas unidades do Centro Educacional Arco-Íris funcionam desde 2004. Há dois anos, outro encontro com uma escola voltada para a classe média, a Nova Escola, na Vila Mascote (Zona Sul), adquirida para ampliar o trabalho pedagógico da ASPF e potencializar seu trabalho social. Entremeado nesses encontros, o contato acolhedor com uma ampla diversidade de públicos: crianças e adolescentes de famílias de baixa renda ou em situação de risco social, grupos de mães, jovens deficientes mentais, adultos e moradores de rua sem alfabetização.
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Diferentes parceiros também fazem da Associação uma instituição de encontro e comunhão de objetivos: desde voluntários e apoiadores até as ONGs empresariais ou da sociedade, além do poder público. Tudo isso é possível porque a ASPF constituiu-se também como um espaço de encontro de vocações, formando uma equipe de educadores e técnicos empenhados em ensinar, aprender e compartilhar. Assim, convivência, solidariedade, troca e crescimento mútuos tornaram-se os alicerces de seus trabalhos, caminhos e caminhadas. Nada tem sido feito sem superar desafios. É necessário vigor para enfrentar as adversidades contemporâneas, entre elas a fragilização dos valores e a globalização da exclusão social. Voltada para o futuro, a Associação Pela Família reflete o encontro do passado com o presente: dos anseios originais por justiça social até as ações atuais, cada vez mais abrangentes e consistentes, visando reunir, juntar e incluir as pessoas e grupos atendidos. A formação e a educação são entendidas aqui como pressupostos da participação e da cidadania. Por isso são as ferramentas cotidianas da ASPF na construção de um mundo melhor.
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DA ORIGEM ATÉ O TERCEIRO SETOR Superando o padrão assistencialista, a Associação Pela Família construiu uma trajetória de pioneirismo, participando ativamente da gestação de um novo modelo de ação social no país
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senhor espere o meu contado. Não convém a gente levantar escândalo de começo, só aos poucos o escuro é claro”. Assim falava Riobaldo em “Grande Sertão: Veredas”, o livro de Guimarães Rosa – do qual já disseram que o motivo central é o encontro – lançado em maio de 1956. Em 31 de janeiro daquele ano, a posse do presidente Juscelino Kubitschek foi o princípio de uma fase de otimismo, esperança e crescimento econômico. A estabilidade política rapidamente alcançada pelo novo governo contrastava com a turbulência que o país viveu desde o suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. O Plano de Metas de JK, com seu lema dos “cinqüenta anos em cinco”, foi a síntese do desenvolvimentismo. O PIB brasileiro passou a crescer à taxa de 7% ao ano, uma das maiores do mundo, que se manteria até o final dos anos 1970. O grande investimento estatal passou a conviver com o acelerado crescimento do capital privado nacional e internacional, que teve como símbolo a implantação da indústria automobilística no país. A cidade de São Paulo era aquela que não podia parar. Sua população crescia em média 5,58% ao ano, a maior do século XX. Isso significava quase 160 mil novos moradores por ano, dos quais 93 mil migrantes, grande parte deles vindos da zona rural do Nordeste. A vida corria em ritmo acelerado, e a atmosfera entre as classes mais abastadas era de quase euforia. Mas, enquanto a cidade avançava para tornar-se uma moderna
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metrópole, reproduzia de modo ampliado a desigualdade que caracterizou historicamente sua formação. O progresso veio acompanhado pelo crescimento da pobreza e a expansão desordenada rumo à periferia. A Prefeitura assumiu papel ativo no crescimento da cidade, principalmente na construção de avenidas e viadutos. Mas permaneceu entre a omissão e a negligência diante do crescimento da desigualdade e dos problemas sociais. Somente nos anos 1950 começou a instalar as primeiras escolas municipais, mas sua capacidade de atendimento era muito menor que a crescente demanda da população. Nesse contexto, nasceu, em 1º de setembro de 1956, a Associação Pela Família (ASPF), denominada inicialmente Sociedade Pela Família. A entidade surgiu para estruturar o trabalho social desenvolvido por moças e senhoras católicas em Itaberaba, um bairro distante para os padrões de então. Elas promoviam a formação e a educação de crianças pobres que não encontravam lugar nas escolas públicas. Essa experiência veio depois se articular com o projeto de gerir uma escola católica não-confessional, a Escola Nossa Senhora das Graças, que buscava trabalhar com as famílias mais ricas, formando seus filhos numa nova visão de sociedade. A escola serviria também como fonte de recursos para o trabalho filantrópico. Desde o início, a ASPF revelou-se uma proposta inovadora, comprometida com as questões sociais de seu tempo e trazendo em si uma permanente perspectiva de futuro. Tinha características que somente anos depois se generalizariam e seriam reconhecidos como avanços históricos na atuação da sociedade civil. O primeiro desses traços foi a opção pela educação como meio de impulsionar a mudança e o desenvolvimento social. A ênfase na fundamentação pedagógica do ensino oferecido é até hoje marca das diferentes unidades que compõem a Associação. Também vem desde seu início a articulação do trabalho voluntário com a profissionalização de seus educadores. A definição pela filantropia representava também, naquele momento, um salto em relação às práticas caritativas. A atuação na ASPF não era entendida como benevolência ou favor, mas meio para a construção de uma sociedade mais justa e livre.
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A postura da ASPF em relação à família também refletia uma disposição transformadora. Naquela época, a visão mais difundida de família baseavase no padrão das classes alta e média, mas omitia-se diante de uma realidade social que levava as famílias mais pobres à instabilidade e à desagregação. Opondo-se a essa lógica, a Associação buscava meios para assegurar condições de coesão e desenvolvimento das famílias mais necessitadas. Outro avanço inspirado pela a ASPF foi o protagonismo feminino. A presença das mulheres nas iniciativas de atendimento à infância carente já era uma tradição. Mas isso se dava de um modo que reforçava a dominação masculina. As ações de caridade realizadas por senhoras da elite costumavam ser vistas como extensões naturais da maternidade e da esfera doméstica, sem ameaçar a hegemonia dos homens no mundo profissional e na vida pública. Mas as mulheres reunidas na ASPF já estavam adiante dessa visão. Muitas delas tinham sua profissão e traziam a postura empreendedora de sua experiência na Ação Católica e na JIC (Juventude Independente Católica). Além disso, tinham um entendimento politizado da educação, da fé religiosa e de seu próprio papel como agentes de mudança na sociedade. Sem excluir os homens, a predominância feminina acabaria por tornar-se uma característica permanente da Associação. Nos seus primeiros 10 anos de existência, os frutos da capacidade realizadora da ASPF revelaram-se na consolidação da Escola Nossa Senhora das Graças e em sua linha educacional, que valorizava a liberdade, a afetividade e a inovação permanente. Materializou-se também na construção do novo prédio e na mudança para o Itaim-Bibi. A ação social também se fortaleceu, principalmente no início da década de 1960. O trabalho de Itaberaba foi transferido para o bairro do Ferreira, onde já atuava um pequeno núcleo de mulheres da JOC (Juventude Operária Católica), antigas parceiras da ASPF. Lá, a Associação construiu a nova sede do Núcleo Infantil e Juvenil São Paulo, oferecendo formação para meninas e onde se instalou uma Oficina de Corte e Costura. Em 1964, porém, com a instauração da ditadura militar, novos obstáculos surgiram na caminhada da Associação. A radicalização
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ideológica que caracterizou aquele processo também se manifestou numa ruptura interna. Um grupo numeroso de associados apoiou o golpe de 31 de março e acabou se desligando da ASPF. A incompatibilidade entre o obscurantismo do regime autoritário e a missão educativa da Associação criou enormes obstáculos aos poucos que ficaram. Numa atmosfera em que o medo era o sentimento dominante, aquele pequeno grupo chegou a temer também pelo futuro da Escola Nossa Senhora das Graças. A resposta, no entanto, veio do encontro, da proximidade e da parceria com os pais. Foram muitos os que se uniram para assegurar não só a escola de seus filhos, mas o espaço de educação e liberdade. Entretanto, também entre os pais estabeleceu-se um grande dissenso político. Para muitos deles, a proposta de formação inovadora e participativa da Escola Nossa Senhora das Graças confundia-se com subversão e esquerdismo. Enquanto uns passaram a atuar como co-responsáveis pelo futuro do projeto da escola, outros mudaram seus filhos para outras escolas. Naqueles anos os participantes da Associação conviveram também com a angústia de ver antigos companheiros da Ação Católica que se engajaram na oposição à ditadura sendo perseguidos, presos, torturados e, alguns deles, mortos. Desde a década de 1950, o grupo da JIC que formou a ASPF era muito próximo dos frades do Convento de São Domingos, em Perdizes. Os dominicanos sofreram brutal repressão, depois que alguns de seus membros se ligaram à Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização de esquerda que participou da chamada luta armada. Com o acirramento do autoritarismo após a edição do AI-5, em 1969, o trabalho social da Associação distanciou-se da Escola Nossa Senhora das Graças, mas não foi interrompido. Como espaço de resistência, o Núcleo São Paulo foi progressivamente ampliando seu leque de atividades e passou a sediar uma biblioteca, um curso de alfabetização de adultos e dois clubes de mães. A forma discreta e quase silenciosa dessa atuação da ASPF não lhe dava visibilidade, mas reforçava seu caráter autônomo e seus compromissos sociais, com o reforço da comunidade como espaço educativo e de exercício dos valores cristãos. Assim, a Associação participou da gestação
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do que no futuro viria a consolidar-se como o Terceiro Setor. Começavam a proliferar instituições, grandes e pequenas, muitas delas resultando da renovação de antigas entidades de caráter religioso ou assistencial. Na década de 1970, o autoritarismo convivia com o crescimento econômico. Praticamente não havia espaço público de manifestação política, e qualquer tipo de organização da sociedade civil tendia a confundir-se com oposição política. Mas a ASPF perseverou em sua caminhada. Espraiando seus ideais em pequenos núcleos organizados sob a forma de clubes de mães, que se formaram também no Jardim Jaqueline, em 1975, e no Valo Velho, em 1978. Entre os católicos, difundia-se a Teologia da Libertação, e multiplicavam-se as Comunidades Eclesiais de Base, que Dom Paulo Evaristo Arns chamava de “pontos de luz nas periferias escuras das grandes cidades”, A recessão econômica em que o país mergulhou na década de 1980 agravou ainda mais a desigualdade social na cidade de São Paulo. O desemprego tornou-se crônico. As favelas incharam e multiplicaram-se de modo vertiginoso. Segundo a Prefeitura, em 1980 eram 763 núcleos de favela, e 1.592 em 1987. A cidade defrontou-se também com o surgimento do fenômeno da violência urbana, caracterizada pelo maior crescimento do número de homicídios de sua história. A ASPF continuava a dar mostras de pioneirismo. Já era corrente na Associação a idéia das crianças como sujeitos de direitos. Aprofundou-se a formação e a reflexão pedagógica, novos profissionais incorporaram-se ao trabalho. Também foram estabelecidos os primeiros convênios com a Prefeitura de São Paulo, e iniciou-se a prática de levar alunos da Escola Nossa Senhora das Graças para atividades de monitoria e recreação com as crianças dos Centros Educacionais. Foi nessa época que a sigla ONG (organização não-governamental) começou a ser comumente utilizada para designar um tipo de entidade sem fins lucrativos que tem como referência a afirmação de direitos democráticos fundamentais. A promulgação da Constituição, em 1988, e a subseqüente aprovação de normas como o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, e a Lei Orgânica da Assistência Social, em 1993, estabeleceram um novo marco
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legal. Isso deu visibilidade às ONGs, legitimando-as como organizações de pessoas em torno de questões da cidadania. O conceito de parceria foi cada vez mais usado para definir um novo tipo de colaboração entre organizações da sociedade civil entre si e com o poder público. Nos anos 1990, São Paulo catalisou os efeitos da entrada do país no processo de globalização. O processo histórico de produção e reprodução da desigualdade ampliou-se sob os efeitos da nova realidade econômica mundial, geradora de modalidades inéditas de desemprego, precarização do trabalho e enfraquecimento dos sindicatos. Criaram-se imensos bolsões de exclusão social e violência. Desde lá, uma geração inteira de jovens vem sendo submetida a um sistema escolar degradado, que oferece ensino de baixíssima qualidade. Mal preparados, deparam-se com imensos obstáculos para ingressar no mercado de trabalho. O depoimento de Zilda Noronha Miné, uma das pioneiras da ASPF, hoje com 88 anos, ilustra bem sua percepção desses tempos: “Nas fábricas, chegou o tal de robô e já tirou a mão-de-obra de muita gente. O que vamos fazer, se vai daqui pra mais? É claro que a gente, mesmo sabendo disso, não vai não querer o progresso. Mas se a mocidade não tem trabalho, vai pelo caminho ruim”. A resposta da ASPF diante desse panorama traduziu-se em maior profissionalização, otimização no uso dos recursos, reestruturação organizacional e vigorosa expansão do público atendido. O foco na formação profissional e no embasamento técnico da ação social foi acompanhado da laicização da entidade. Sem abandonar os fundamentos cristãos de seus valores, a ASPF distanciou-se das atividades caracteristicamente religiosas. De outra parte, também ocorreu uma retração da presença da Igreja no cotidiano das atividades comunitárias nos locais em que a Associação atuava. A estruturação do chamado Terceiro Setor consolidou-se no Brasil nesse cenário. AS ONGs ganharam visibilidade e legitimidade com o progressivo acúmulo de experiências inovadoras de enfrentamento das questões sociais. Assim, passaram a ser reconhecidas pelo Estado, o Primeiro Setor, que institucionalizou as políticas de convênios e parcerias. Estabeleceu-se, desse modo, uma cooperação que surgiu como alternativa à incapacidade
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do poder público de responder adequadamente às demandas sociais da população. O Segundo Setor, formado pelos agentes econômicos privados, que sempre costumou expressar indiferença e distância em relação às questões de interesse público, rapidamente passou a incorporar a noção de responsabilidade social. Iniciou então um crescente relacionamento com as organizações sem fins lucrativos, vistas como canais para concretizar o investimento do setor empresarial nas áreas social, ambiental e cultural. Em quase quinze anos, do início da década de 1990 a 2006, sob o estímulo, e depois a administração, da professora Laura Souza Pinto, a ação social da ASPF passou de duas para oito unidades educacionais. Foi um grande salto, que combinou inspiração e profissionalização. Primeiro, na gestão de Laura na superintendência. Em seguida, com Paschoal Milani Neto, contratado como superintendente, e Laura, dedicada à ação social. Ela lutou muito pela criação das novas unidades educacionais. Por fim, com a compra da Nova Escola, Laura assumiu a direção pedagógica da Associação, para dedicar-se à tarefa de recriar e moldar a nova unidade à feição da ASPF – um trabalho talvez mais difícil do que criar uma escola nova – árduo desafio para quem dedicou e tem dedicado a maior parte de todos os mais de sessenta anos de sua vida profissional ao magistério na Escola Nossa Senhora das Graças – foi diretora de 1960 a 1976 – e ao crescimento da ASPF. No período extremamente frutífero para a ação social sob influência de Laura na ASPF, diversificaram-se as modalidades de atendimento, e ampliou-se o leque de segmentos atendidos, que passou a incluir pessoas com deficiência, homens em condição de rua e jovens em busca de ingresso no mercado de trabalho. O desafio atual para a Associação é trabalhar acreditando que a educação vai possibilitar às pessoas atendidas condições para que busquem acesso a seus direitos fundamentais e a uma inserção produtiva sustentável. No convívio com governos, empresas e ONGs, tem desenvolvido um aprendizado mútuo acerca das respectivas responsabilidades sociais. E, coerente com sua inserção no Terceiro Setor, a ASPF estende o cultivo de suas ações locais como sementes de cidadania, participação e transformação.
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RAÍZES NA HISTÓRIA DO POVO A saga de uma família desde a escravidão, passando pelo trabalho operário, até a ação social e evangelizadora, é parte do aprendizado que alicerçou a formação e os destinos da Associação Pela Família
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m 1850, sob forte pressão da Inglaterra, o imperador Pedro II sancionou a Lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico internacional de escravos para o Brasil. Entretanto, apesar de severas medidas adotadas pelo governo imperial, o tráfico clandestino de escravos subsistiu por alguns anos. Por volta de 1860, um navio aportou em São Luís do Maranhão trazendo em seu porão uma família inteira de africanos, inclusive a filha caçula, que tinha somente uns 2 anos de idade. Foram todos vendidos para um fazendeiro. Como era comum ocorrer, os escravos foram batizados e obrigados a adotar a religião católica. A menina mais nova recebeu o nome de Luísa. Nos anos seguintes, a proibição do tráfico internacional provocou o crescimento do comércio interno de escravos em muitas regiões do Brasil. Enquanto isso, a principal cultura no Maranhão, o algodão, entrou em crise com a queda dos preços do produto na Europa. Endividados, muitos proprietários passaram a negociar seus escravos. Ainda adolescente, Luísa foi vendida a um fazendeiro paulista, por 400 ou 500 mil réis. Nunca mais esqueceria a dor de ser afastada para sempre de sua mãe e irmãos. Durante toda sua vida contaria aquela história da cena da partida. Lembrava das palavras da mãe, quando esta lhe deu um pequeno saco com pepitas de ouro e pedras preciosas: – Olha, Luísa, você leva isto e quando carecer de alguma coisinha, você vende isto aqui ou troca por aquilo que estiver precisando.
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Contendo o choro, Luísa pegou o presente e partiu. Quando chegou ao alto-mar, dominada pela revolta e a raiva, jogou tudo nas águas. Depois, buscou algum conforto nas orações. Mesmo tendo sido imposta, a formação católica tornou a menina profundamente religiosa. Luísa chegou ao seu novo cativeiro em 1872 ou 1873. Era uma grande fazenda em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, onde se concentravam os “barões do café”, que compunham boa parte da elite paulista. O café já representava mais de 50% das exportações brasileiras. A jovem escrava passou a ser chamada de Luísa Maranhão. Como era forte e disposta, foi mandada para a lida na roça. Ia sempre à frente de uma fila de escravos e tinha como função dar o ritmo do trabalho. Sua revolta contida, porém, às vezes aflorava. Certo dia, depois de ouvir desaforos de seu feitor, partiu para cima dele com a enxada nas mãos. Foi contida por outros escravos e, como era praxe nessas situações, castigada com muitos açoites. Trabalhou no café durante alguns anos. Um dia, ao passar pela casa do senhor, uma das cozinheiras lhe disse: – Luísa, prepare-se porque vão fazer você casar com o Paulo. Paulo Orozimbo também tinha sido escravo do dono de Luísa. Com economias juntadas durante anos, comprou sua carta de alforria. Mas, por falta de alternativa, continuou trabalhando para o mesmo senhor. Era tido como um homem bom. Luísa, porém, não gostou da notícia. Seu pretendente já era viúvo e tinha um filho adulto, igualmente liberto. Por isso, falou para a cozinheira: – Com o Paulo? Ainda se fosse com o filho dele. – Mas não é com o filho não. Diz que é com o Paulo mesmo. A contrariedade de Luísa chegou até a sinhá, a mulher do fazendeiro. Quando Paulo Orozimbo foi procurá-la para falar de suas intenções com a escrava, ela ponderou: – Paulo, vê se você arranja uma outra mucama, a Luísa é tão nova pra você.
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– Não posso, sinhá, é a Luísa que eu quero. Luísa não teve como escapar e acabou se casando. As núpcias pelo menos a libertaram da escravidão. Resignou-se e dedicou-se ao trabalho e à criação dos filhos. Em pouco tempo, vários nasceram, todos homens, entre eles Amâncio, Fernando e Cornélio. Mas o marido, Paulo Orozimbo, morreu logo, sem deixar lembrança. Luísa, que jamais gostara dele, se casou novamente. Quando estava com quase 40 anos, teve finalmente a sua menina, Durvalina. Por muitos anos Luísa passou com a família, de safra em safra, pelas lavouras de café, em diferentes cidades do Vale do Paraíba. Quando Durvalina nasceu, viviam em Lorena. Mas os filhos cresceram e começaram a ganhar o mundo. Amâncio foi o primeiro a vir para a capital, onde se empregou como caseiro em uma fazenda na Zona Leste. Depois, trouxe a família. Moraram uns anos na Penha e depois se instalaram na R. José de Alencar, a rua da estação dos bondes, no Brás. Na primeira década do século XX, Luísa Maranhão e sua filha foram morar numa casa próxima à Rua da Consolação. Durvalina trabalhava como empregada doméstica e, nas horas vagas, também costurava para fora. Cuidou da mãe, por quem nutria um, grande carinho, até 1926, quando Luísa Maranhão faleceu, aos 78 anos. Durvalina herdou dela a profunda religiosidade e a disposição para o trabalho. Em 1929, Durvalina começou a dar aulas de catecismo. O primeiro espaço que conseguiu foi no recém-inaugurado Parque São Jorge, sede do Corinthians e ponto de encontro de jovens operários. Suas aulas ocorriam num galpão onde havia apenas uns bancos de tábuas. Algumas vezes, Durvalina levava sua jovem sobrinha Zilda, que a partir daí se tornaria companhia constante em sua ação religiosa. O trabalho de Durvalina foi um dos primeiros núcleos de organização do operariado católico na Zona Leste de São Paulo. Nessa época, surgiram os Círculos Operários Católicos, que incentivavam a
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sindicalização de seus membros para combater a influência comunista nas entidades de classe e disseminar a doutrina católica. No final da década de 1940, Durvalina e suas sobrinhas Zilda e Ilda participaram da formação da JOC (Juventude Operária Católica) no bairro do Belém. Havia uma grande agitação política e sindical. O bairro vizinho da Mooca era uma das principais bases do Partido Comunista no país. Em 1947, o PCB conseguiu eleger com os votos do bairro três vereadores da capital. Zilda eventualmente participava de reuniões no Sindicato dos Empregados da Indústria Têxtil, mas divergia bastante de sua direção. Nessa época, as irmãs Zilda e Ilda trabalhavam numa tecelagem de seda no Belém. Foram as primeiras negras admitidas como operárias nessa fábrica, rompendo uma barreira de preconceito que ainda era bastante generalizada, mais de 50 anos depois do fim da escravidão. No começo da segunda metade do século XX, Fernando, irmão de Durvalina, empregou-se como caseiro num sítio localizado na região onde hoje é o Morumbi, de propriedade de Silvio de Campos, membro da Ação Católica e dirigente do Partido Democrata Cristão. Durvalina costumava visitar o irmão nos fins de semana e feriados. Ficava hospedada no bairro do Ferreira, na casa de sua amiga Odila Luz. O pai dela, Juvenal, era dono de muitas terras e de uma rinha de briga de galo que era o grande ponto de diversão das redondezas. Ao perceber a ausência da Igreja Católica na região, Durvalina começou a fazer o que já sabia muito bem, dar aulas de catecismo para crianças e jovens. Para ajudar, seu irmão construiu uma casinha para ela ficar quando fosse fazer seu trabalho. Já era uma casa de tijolo, mas ficou sem porta durante alguns anos, só com uma cortina de estopa e uma cadeira atrás. Foi uma fase de muitas dificuldades, mas Durvalina compensava com sua boa vontade e a dedicação à causa da religião. Durvalina e suas duas sobrinhas, Zilda e Ilda, aproveitavam intensamente suas noites e os fins de semana para diversas atividades
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pastorais e a militância na JOC. Entre essas atividades estavam as reuniões gerais da Ação Católica. Foi assim que elas conheceram o grupo da JIC (Juventude Independente Católica). Esse encontro acabaria determinando, alguns anos depois, uma grande mudança em suas vidas, ligando-as definitivamente à história da Sociedade Pela Família. Cada vez mais animada com seu trabalho no Ferreira, Durvalina resolveu comprar um terreno no bairro. Escolheu um lugar barato, perto de um charco e coberto de mato. Entretanto, tinha uma vertente bonita que lhe pouparia o trabalho de mandar fazer um poço. Com muitas relações na Igreja, Durvalina conhecia alguns membros da Ordem dos Carmelitas Descalços, que possuía uma chácara localizada próxima ao atual centro de Taboão da Serra, onde padres e seminaristas passavam as férias. No verão de 1954, aproveitando que também tinha férias na tecelagem do Belém e que a chácara dos Carmelitas não era muito distante de seu terreno, Durvalina foi trabalhar para eles como cozinheira. Lá, frei Crisóstomo sugeriu a construção de uma capelinha no Ferreira, para ampliar o trabalho pastoral que já realizava. Com apoio de seu irmão Fernando, das sobrinhas e das amigas da Ação Católica, Durvalina começou a construir a capela. Catarina Leão contribui com 2 mil réis, Maria Grabois com mil réis, Edith Bógus e Edith Azevedo Marques também ajudaram. Em uma olaria do bairro ela conseguiu uma doação de tijolos. Assim a capela foi erguida, lançando as bases daquela que viria a ser a primeira sede definitiva do trabalho social da Sociedade Pela Família, fundada pelas senhoras da JIC em 1956.
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HERANÇA NOS COMPROMISSOS CRISTÃOS O surgimento da Associação Pela Família resultou de décadas de caminhada da Igreja na atuação social, consolidando-se no movimento da Ação Católica e na busca da reconciliação de uma sociedade desigual
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o final do século XIX, o mundo passou por intensas transformações. Na esteira da industrialização vieram a urbanização, a formação da classe operária, o enriquecimento dos grandes industriais e a mudança de valores morais. A Igreja Católica, que durante um período resistiu ao que chamava de “mundo moderno”, acabou adaptando-se ao contexto histórico e adotou uma nova visão, passando a enfatizar a participação dos leigos e seu envolvimento com as questões sociais. Em 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII publicou a encíclica “Rerum Novarum”, ressaltando a preocupação da Igreja com a justiça social e em especial com os direitos da classe operária. No Brasil, na virada para o século XX, o poder público continuava tratando a pobreza como “caso de polícia”. Não se reconhecia o desemprego, por exemplo. O que havia era a “prática da vadiagem”, inclusive no Código Penal. A Igreja Católica atuava quase solitariamente no atendimento dos excluídos de então. Em São Paulo, a principal referência nesse campo ainda era a Santa Casa de Misericórdia. Fundada em 1560, com o nome de Confraria da Misericórdia de São Paulo dos Campos de Piratininga, a instituição ainda expressava, três séculos depois, sua inspiração original no princípio católico da caridade. A Santa Casa proclamava como sua missão: tratar os enfermos, apoiar os presos, socorrer os necessitados e amparar os órfãos. Entretanto, o caráter
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paliativo e provisório desse atendimento acabou tornando-se um dos traços característicos do que se denominou posteriormente de assistencialismo, criticado por reproduzir as desigualdades sociais e não dotar os mais pobres de instrumentos para alterarem sua condição. Na década de 1920, o papa Pio XI lançou as bases da Ação Católica, definindo-a como a participação dos leigos no apostolado hierárquico da Igreja para a difusão dos princípios católicos na vida pessoal, familiar e social. Na mesma época, surgem na Europa as primeiras organizações denominadas JOC (Juventude Operária Católica), idealizadas pelo padre belga León Joseph Cardijn. O movimento foi incorporado pela Igreja e expandiu-se pelo mundo. Já na década de 1930, aparecem no Brasil os primeiros núcleos de operários católicos inspirados na JOC, mas sua oficialização só ocorreria em 1948. Em 1931, novamente em 15 de maio, foi lançada a encíclica “Quadragesimo Anno”, que marcava o aniversário da “Rerum Novarum” e aprofundava os compromissos da Igreja diante dos problemas sociais. Em 1935, por iniciativa de dom Sebastião Leme, Cardeal do Rio de Janeiro, foi criada a Ação Católica Brasileira (ACB), que tinha em sua direção Alceu Amoroso Lima, um dos líderes mais expressivos do laicato católico. O movimento destacava a importância da atuação dos leigos na “recristianização” da sociedade, tendo como um dos principais meios a mudança interior dos cristãos pela educação. Em pouco tempo, a Ação Católica constituiu-se e ganhou força em São Paulo. Em 1936, como expressão da presença da base da Igreja na educação e no atendimento dos necessitados, um grupo de professoras católicas fundou a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira do Brasil. A formação técnica oferecida tinha como fundamento a concepção de que todas as pessoas são livres e têm direito a encontrar na sociedade os meios necessários à sua sobrevivência e ao seu pleno desenvolvimento. Essa iniciativa marcou a criação da profissão de assistente social no país. Na fundação da escola, fixou-se também a data de 15 de maio como Dia Nacional do Assistente Social, em homenagem às duas encíclicas sociais da Igreja.
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Inicialmente, a Ação Católica buscara inspiração no modelo italiano, de orientação religiosa mais conservadora. Ela foi, porém, progressivamente aproximando-se da orientação franco-belga, origem também da JOC na Europa, de caráter menos devocional. A Ação Católica trouxe a consciência de que existe um compromisso cristão não-religioso. Ele diz respeito à ação cristã na sociedade. É a responsabilidade social cristã. Essa foi a contribuição da Ação Católica para modificar o panorama da ação da Igreja no Brasil. Havia na Igreja brasileira uma posição bastante dogmática, ligada à defesa da autoridade do papa. A Ação Católica tinha uma abordagem diferente e adotava a metodologia do Ver, Julgar e Agir. Ela propunha aos católicos que partissem da realidade, e não do dogma, para analisar a realidade em face dos princípios cristãos e chegar a uma linha de ação. Não se tratava mais da linha determinada pela autoridade eclesiástica, mas aquela que no discernimento de cada um parecesse corresponder melhor às exigências cristãs. Em fevereiro de 1943, as professoras católicas Carmelita Grassi Bonilha e Maria de Oliveira Neves fundaram, na rua Maranhão, em Higienópolis, a Escola Nossa Senhora das Graças. Simpáticas à Ação Católica, deram à escola uma orientação coerente com as idéias que animavam esse movimento. Ofereciam uma educação católica nãoconfessional e inovadora, valorizando a liberdade de pensamento e a afetividade como elemento fundamental na relação entre professores e alunos. Desse modo, a escola demarcava terreno com o ensino oficial, que vivia um processo de acelerada expansão, e também com os antigos colégios de padres e de freiras, caracterizados pelo tradicionalismo e pelo grande espaço dedicado às missas e aos ritos religiosos. Em seu primeiro ano de funcionamento, a escola formou uma turma de apenas 22 alunos e passou por muitas dificuldades. Em função disso, suas pioneiras a venderam, no início de 1944, para a Sociedade Brasileira de Educação e Instrução de Meninas, que possuía objetivos semelhantes aos das fundadoras.
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Em 1946, um grupo de professoras, mães e senhoras atuantes na Ação Católica começou a utilizar o espaço da Escola Nossa Senhora das Graças para suas reuniões. Elas assumiam como responsabilidade cristã a atuação voltada para mudanças na sociedade e viam na escola um meio de formar novas gerações com base nesses valores. Também buscavam uma renovação na Igreja, uma vez que as posições conservadoras ainda eram dominantes. Uma nova fase no movimento dos leigos teve início em 1947, quando Dom Hélder Câmara foi nomeado assistente nacional da Ação Católica. Sob sua influência, a Ação Católica adota a especialização por segmento social, dando origem a cinco ramos ligados à juventude: JAC (Juventude Agrária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica), JIC (Juventude Independente Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). As jovens senhoras que se reuniam na Escola Nossa Senhora das Graças organizam-se na JIC, que agrupava diferentes setores profissionais de classe média, boa parte deles ligados à educação. Fizeram parte do grupo a diretora da escola, Maria Eugênia de Andrade Moraes, e as senhoras Clarice Ferraz Wey, Edith Bógus, Sonia Vidigal, Heloísa e Branca Prestes Monzoni, Dirce Arruda Sampaio, Dinah e Odila Rezende Barbosa e Tereza Leitão. Também participava a já renomada assistente social Helena Iraci Junqueira, que na década anterior havia contribuído para a criação da Escola de Serviço Social de São Paulo, uma das cinco faculdades reunidas em 1946 para formar a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1949, a jovem professora Laura Souza Pinto, membro da JEC, é contratada para trabalhar na escola Nossa Senhora das Graças e também se integra ao grupo. Na década de 1950, aquela equipe da JIC iniciou um trabalho de apoio a crianças e jovens carentes na Av. Itaberaba, região da Vila Brasilândia (Zona Noroeste), que daria origem ao primeiro Núcleo Infantil e Juvenil São Paulo. Nesse tempo, em reuniões gerais da Ação Católica, realizadas na própria Escola Nossa Senhora das Graças ou no pensionato católico
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Leão XIII, no Belém, o grupo da JIC conheceu o núcleo da JOC formado por tecelãs da Zona Leste, entre as quais Durvalina Noronha e suas sobrinhas, as irmãs Zilda e Ilda Noronha Miné, que já realizavam evangelização no Ferreira, bairro próximo a Taboão da Serra, na região Sudoeste de São Paulo. Além de problemas administrativos, a Escola Nossa Senhora das Graças passou novamente por dificuldades financeiras. Foi então que, em 1956, o grupo da JIC, visando contribuir com a escola e estruturar o trabalho de Itaberaba, fundou a Sociedade Pela Família (SPF).
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A MISSÃO EDUCATIVA A educação é o fio condutor da Associação Pela Família na busca da realização de sua missão de promover o pleno desenvolvimento humano, comunitário e pessoal de todos aqueles que participam de seu trabalho
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o nascer, em 1956, a ASPF consolidou o encontro das trajetórias históricas de dois grupos que na origem eram quase antagônicos e expressavam a polaridade que cindia a sociedade paulista na primeira metade do século XX. De um lado, operárias negras descendentes de escravos e, de outro, jovens universitárias, professoras e assistentes sociais, algumas delas filhas de famílias ricas e tradicionais. Assim, uniu-se a perseverança e a devoção do saber popular com a capacidade de intervenção que a condição econômica e cultural proporcionava. A ASPF defrontou-se, em seu início, com dois desafios práticos que se relacionavam: manter e estruturar o trabalho de formação para as crianças pobres do Núcleo Infantil e Juvenil São Paulo, em Itaberaba, e contribuir para a continuidade do projeto da Escola Nossa Senhora das Graças. Em 1959, a Associação comprou a escola e tornou-se sua mantenedora. A partir daí, viabilizou novos rumos para a instituição, possibilitando sua mudança para o novo prédio no Itaim-Bibi, em 1960, no qual permanece até hoje. Naquele ano, a escola tinha 188 alunos no ensino infantil e no ensino primário, de 1º a 4º ano. O advento da ditadura impactou fortemente a vida da Associação e da Escola Nossa Senhora das Graças, trazendo crises e rupturas. Na escola, o pequeno núcleo que resistiu a esse processo foi capaz, graças ao apoio da comunidade escolar, de prosseguir com o projeto educacional que a distinguia. Nesse período, promoveu-se uma renovação no ensino de português e matemática e foram criadas classes de “pedagogia
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especializada”, para atender crianças com dificuldades específicas. Em 1975, como resultado de um movimento de pais e alunos de 8ª Série, foi criado o 2º Grau na Escola Nossa Senhora das Graças. No mesmo ano de 1975, o antigo Núcleo São Paulo, que em 1962 fora transferido para o Jardim Monte Kemel, deu origem à Escola de Educação Infantil Gracinha, cujas vagas eram oferecidas a crianças pobres da comunidade, tendo seu custo integralmente coberto com recursos da ASPF e com o trabalho voluntário de diversas apoiadoras. Em 1993, a Escola Gracinha muda novamente de caráter, passa a chamar-se Centro Educacional Gracinha e começa a oferecer formação complementar a crianças e jovens que freqüentavam a escola pública. Nesse mesmo ano, a ASPF participou da criação do Centro de Apoio à Criança O Visconde, em parceria com a Sociedade Amigos do Bairro do Real Parque (Zona Sul), conhecido pela favela na beira da Marginal Pinheiros. Também em 1993, para atender crianças, a ASPF iniciou o Projeto Colibri, preparando a criação de um novo centro educacional, em terreno de sua propriedade no Embu das Artes. Em fevereiro de 1995, o Instituto C&A firmou a parceria que proporcionou a construção do Centro Educacional Colibri, inaugurado em 1996. No ano seguinte, o trabalho no Jardim Jaqueline desdobrou-se e foi criado o Centro Educacional Girassol. Em mais uma inovação, em 2001 a ASPF firmou convênio com a Prefeitura de São Paulo e assumiu a gestão do Centro de Convivência Uirapuru, na entrada da favela de mesmo nome. Nesse ano, foi iniciado também o Projeto Aquarela, primeira experiência de alfabetização de adultos, ação que a ASPF multiplicaria posteriormente em diferentes espaços e formatos. Em 2003, a Escola Nossa Senhora das Graças completou 60 anos e no ano seguinte seu prédio passou por ampla reforma e ampliação. Em 2004, foi criada a Nova Escola, na região do Aeroporto, tendo como prioridade a educação de qualidade e oferecendo ensino particular infantil, fundamental e médio. O novo empreendimento visou também gerar um aumento de receita para a ação social.
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Três parcerias firmadas nesse ano marcaram o ingresso da ASPF em novas áreas de atuação, que se articularam com sua missão embasada na educação. Assim, surgiu o Projeto Caminho Novo, no Brás, para oferecer alfabetização a homens em situação de rua. Foi inaugurado também o Centro Educacional Asas Fortes, em Taboão da Serra, atendendo jovens de 14 a 16 anos e oferecendo formação para o trabalho. Começou a funcionar ainda o Núcleo Arco Íris, que iniciou na ASPF o trabalho educativo dirigido a pessoas com deficiência, na Vila Brasilândia. A trajetória de 50 anos da ASPF foi construída por diversas gerações de educadores, técnicos, administradores, alunos e suas famílias: milhares de pessoas, cada uma com sua contribuição e seu aprendizado nessa história. Essas cinco décadas são também marcadas pela liderança e inspiração da professora Laura Souza Pinto e pelo simbolismo da permanente proximidade com a família Noronha Miné. Há 20 anos a “Con”, Maria da Conceição Cardoso Miné, cunhada das irmãs Zilda e Ilda, trabalha no Centro Educacional Gracinha. Ela é a cozinheira querida pelas crianças e referência para todos na prática da afetividade como ensino da convivência, que ela traduz de modo simples: “Onde tem carinho, tem respeito”. Nesse percurso, os Centros Educacionais da ASPF não formaram somente os alunos, mas dezenas de educadores. Alguns deles hoje dirigem outras instituições, ONGs e faculdades, tendo produzido relevantes contribuições. Também é um reflexo das conquistas do projeto a transformação de vários alunos dos Centros Educacionais em novos educadores e técnicos da Associação. Maria Sueli do Nascimento, coordenadora pedagógica do Centro Educacional Gracinha, é um exemplo. Nascida no Jardim Jaqueline, Sueli é a irmã mais nova da educadora Maria José Nascimento, a Dudé, falecida em 1996, uma das integrantes do grupo da comunidade que participou da estruturação do Cepec. Ainda menina, Sueli foi aluna desse centro desde 1985 e permaneceu ligada ao trabalho da ASPF, como educanda, depois como voluntária e, em 1993, como educadora contratada do Gracinha. Em 2006,
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aos 29 anos, formada em pedagogia, completou 13 anos de trabalho no Gracinha, período em que viu outros alunos engajarem-se na ASPF como educadores. Entre eles estão Leandro Mendes, arte-educador que trabalha com a dança; Gláucia Santos Correia, auxiliar; Josmar de Lira Garcia, responsável pela manutenção de redes e o suporte de informática em todas as unidades da ASPF; e Sidnei do Carmo da Silva, técnico e monitor de informática no Centro Educacional Gracinha. Todos eles têm em comum, além da formação nas unidades da ASPF, a passagem pela escola pública numa condição de péssima qualidade de ensino e degradação das relações entre professores e alunos e destes entre si. Também testemunharam pessoalmente a violência urbana invadir suas vidas, de suas famílias e de comunidades. Todos têm relatos de amigos e colegas de escola que morreram precocemente ou estão presos, depois de se envolverem com as drogas e o mundo do crime. A convivência cotidiana com essa realidade é muito diferente do pânico episódico das classes média e alta diante de tragédias que ganham repercussão e logo caem no esquecimento. Interna e externamente, a ASPF vai na contra-corrente e reafirma seu papel educacional. Os profissionais da ASPF realizam suas funções estabelecendo relações de complementaridade e autonomia entre si. Para tanto, meios mais importantes são o diálogo e o compartilhamento da busca de soluções. Essas relações, que têm por base o uso de metodologias participativas, favorecem o clima de satisfação e não seriam viáveis na estrutura vertical de uma empresa ou sob as normas burocráticas e hierárquicas do poder. Os centros educacionais buscam a proximidade com as comunidades em que estão inseridos, não apenas em relação às famílias atendidas, mas também contribuindo para resolver problemas comuns que atingem aquelas coletividades. Resta sempre a indagação sobre os impactos efetivos do trabalho realizado pela ASPF. Na visão dos ex-alunos que hoje são educadores e técnicos da ASPF, quem passa pelos Centros Educacionais tem acesso a um aprendizado que de outro modo dificilmente teria oportunidade de
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conhecer. É a possibilidade de interagir com respeito e liberdade, é o acesso à cultura, ao computador, à internet e ao jornal. Segundo eles, a vida muda para quem passa pela Associação. Ainda que essas pessoas, diante da magnitude de obstáculos que o mundo impõe, nem sempre se percebam capazes de mudá-lo, é certo que o mundo muda para elas. É na força transformadora da educação que a ASPF, por meio de suas escolas e centros, reafirma os compromissos históricos de sua missão. Ela reflete a crença de que a educação, muito mais que a transmissão de conteúdos escolares, é o processo de formação para a vida e a cidadania. Assim, capacita as pessoas para a solução dos dilemas práticos do cotidiano e para a adoção das melhores decisões e atitudes políticas para nossas comunidades e para o país. Educar-se é aprender a pensar e a sentir. Por isso, é um pressuposto do pleno desenvolvimento das potencialidades individuais e um instrumento fundamental para a construção de um ambiente de convivência que permita superar os graves problemas sociais que marcam o Brasil e sua história.
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ILDA NORONHA MINÉ, 84 ANOS, E ZILDA NORONHA MINÉ, 88 ANOS
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onhar é acordar-se para dentro” disse o poeta Mário Quintana, que em 2006 completaria 100 anos. A Associação Pela Família acredita que é possível despertar esse sonho, que não é ilusão. É um sonho que se sonha junto, nasce dos encontros e se torna um permanente iluminar de cada um consigo mesmo e com o outro. É assim que o escuro se faz claro. Para a ASPF e para todos aqueles que compõem sua grande comunidade, é a luz da educação e do compromisso social que nutre de vitalidade cada um em seu trabalho cotidiano. No cenário imediato, os objetivos coletivos estão dirigidos para o aprofundamento da inclusão social, cultural e tecnológica das pessoas atendidas, e de suas famílias e comunidades. Em particular, o acesso qualificado ao trabalho. Para tanto, há que multiplicar as formas e processos de participação das comunidades, a integração entre os corpos de profissionais de cada unidade e a interação criativa entre eles. Mas é preciso olhar também para o horizonte das próximas décadas. Nessa perspectiva, a Associação Pela Família evidencia um grande potencial. Seus fundamentos são os 50 anos de trajetória firme e coerente e o imenso repertório de experiências e de histórias de vidas. O passo presente consiste em solidificar o que já foi construído e continuar a ampliar o atendimento de forma sustentável, lançando bases para um novo modo de convivência em nossa sociedade, mais solidário, acolhedor e humano. Nesse rumo, a Associação deve fortalecer cada vez mais seu caráter de instituição exemplar em sua atuação na esfera pública não-estatal, articulando anseios e participação de setores da sociedade civil. Novas gestões se sucederão, novas gerações virão. O trabalho da ASPF revela seu vigor na multiplicidade de unidades e projetos, retratados nas próximas páginas. Eles mostram os encontros que a Associação constrói, que abrem os caminhos feitos no seu caminhar.
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ambém chamada carinhosamente de “Gracinha” por sua comunidade, a Escola Nossa Senhora das Graças é a instituição da ASPF com maior visibilidade e imagem consolidada na sociedade. Não é para menos: é mais antiga que a própria Associação, tem mais de 60 anos de tradição e já formou dezenas de milhares de alunos. Fundada em fevereiro de 1943, proporciona sólida formação humanística e científica para 800 estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio. Valores como respeito, solidariedade, liberdade e cooperação são permanentemente estimulados. É o exercício deles, afinal, que vai formar cidadãos críticos e autônomos. Além dos conteúdos escolares, a ENSG promove atividades complementares para ampliar o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades. São oferecidos, por exemplo, cursos de teatro, de esportes, além de oficinas de redação e de matemática. Para facilitar a assessoria dos professores, em algumas disciplinas as classes são divididas e a duração das aulas é estendida para 75 minutos. Outro desdobramento da proposta da escola é o trabalho com os pais. Por meio do projeto Valorizando a Vida, entre 1996 e 2005, foi possível organizar ações a partir de temas propostos por pais, alunos, docentes e não-docentes. Hoje, muitas ações já incorporadas ao currículo da escola dão condição para o aprimoramento do trabalho com os pais e a comunidade escolar. Em 2004, a Escola Nossa Senhora das Graças passou por uma ampla reforma e hoje conta com cinco pavimentos e 6,4 mil mÇ de área. O edifício dispõe de instalações modernas e de diversos equipamentos de apoio, como biblioteca e laboratórios.
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Gracinha
história do Centro Educacional Gracinha é carregada de simbolismo. Ele funciona até hoje no prédio construído na década de 1960 no terreno doado à ASPF por Durvalina Noronha e sua sobrinha Zilda Noronha Miné, ao lado da primeira capela construída na região do Ferreira (Zona Sudoeste). A outra sobrinha de Durvalina, Ilda Noronha Miné, que foi operária até 1961, trabalhou no Gracinha por 21 anos, de 1963 a 1984. O Gracinha realiza atividades de educação complementar com crianças e jovens de 6 a 16 anos. Atende gratuitamente 170 crianças de 20 bairros da região. Elas permanecem na unidade por 4 horas, em período alternado com a escola regular, e recebem café da manhã, almoço e lanche da tarde. O centro trabalha a cada ano com um eixo temático diferente, relacionado com as diferenças étnicas, culturais e regionais que caracterizam o Brasil. Assim, os educandos aprendem músicas, danças e manifestações culturais presentes nos diversos estados brasileiros. Além disso, fazem trabalhos com pintura e desenho e utilizam a técnica chinesa milenar do Teatro de Sombras, que apresenta figuras e personagens criados pela projeção de luz sobre mãos e objetos em uma tela, ganhando vida com a manipulação e voz das crianças. Também são freqüentes as visitas a teatros, exposições, parques e museus.
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Cepec – Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey desenvolve atividades de educação complementar, trabalhando principalmente com a língua portuguesa e a inclusão digital. Enraizado na vida da comunidade do Jardim Jaqueline, onde está há 20 anos, o Cepec também participou da construção das bases pedagógicas que orientam o trabalho da ASPF. Atende atualmente 120 crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, divididos em dois períodos. As atividades oferecidas incluem artes plásticas, grafite, teatro, recreação, esporte, leitura de textos e jornais, e o aprendizado de informática, para o qual são disponibilizados 15 computadores do próprio centro. Após o final dos turnos e aos sábados, a unidade realiza o projeto “Clic Cepec”, por meio do qual jovens e adultos maiores de 15 anos recebem aulas de informática. Além disso, a unidade também oferece aulas de reforço escolar e apoio aos professores de 60 crianças entre 6 e 10 anos com dificuldades de alfabetização da escola municipal Viana Moog. À noite, durante a semana, duas turmas de adultos têm aulas de alfabetização.
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naugurado em 1996, o Colibri oferece atividades de educação infantil e complementar para crianças de baixa renda matriculados em 14 escolas públicas dos municípios de Embu das Artes e de Cotia, na Grande São Paulo. A sede, no Embu das Artes, próximo à Rodovia Raposos Tavares, foi construída em parceria da ASPF com o Instituto C&A de Desenvolvimento Social. Com instalações amplas, o Colibri dispõe de extensa área verde, com quadras poliesportivas, playground e piscina. Ali, 350 crianças entre quatro e 12 anos recebem apoio escolar e também realizam atividades esportivas, artísticas, de recreação e de informática, em turnos de 4 horas. Música, capoeira, dança, artes plásticas, educação física e computação fazem parte do repertório cotidiano, em que se busca também desenvolver a leitura e a escrita dos educandos. O Colibri conta com o apoio de dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, médicos, pediatras, enfermeiros, advogados e arquitetos, voluntários da Fundação Abrinq, que prestam atendimento aos educandos e a outras crianças da comunidade. Durante um sábado por mês são realizados encontros com as famílias dos educandos. Os familiares recebem orientação dos educadores, participam de jogos cooperativos e também de diversas oficinas, como culinária e contação de histórias.
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nstalado numa casa próxima à favela do Jardim Jaqueline, o Centro Educacional Girassol desenvolve atividades lúdicas e educativas com 140 crianças de 4 a 6 anos. Elas aprimoram suas capacidades e recebem noções de cidadania enquanto participam de brincadeiras, jogos, canções e danças. Aberto em agosto de 1998, o Girassol surgiu como um prolongamento do trabalho do Cepec, dirigido para a faixa etária que aquela unidade não atende. Um dos projetos do Girassol leva as crianças às ruas da comunidade, onde cantam para os moradores. O centro também interage com a população do Jardim Jaqueline quando o seu coral se apresenta em escolas, creches e praças. Além de ocupar os espaços da favela com arte e aproximar as pessoas, essas atividades resgatam a rua como um lugar saudável e de sociabilização. Além do trabalho dirigido ao público infantil, o Girassol também atua em outras atividades, organizando as famílias para a participação de eventos internos, como festas e quermesses, e em ações comunitárias, como mutirões de limpeza na favela.
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o Centro de Convivência Uirapuru, localizado na favela de mesmo nome, no Jardim João XXIII, Zona Sudoeste de São Paulo, 90 crianças e jovens de 6 a 15 anos são estimulados a desenvolver suas habilidades. A unidade nasceu em 2001, em decorrência de convênio da ASPF com a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social do município. A cultura brasileira é o eixo do trabalho do Uirapuru, que se desdobra em inúmeros temas: culinária, brincadeiras típicas, influência africana – tudo serve de mote para as atividades coordenadas pelos arte-educadores. Na programação estão oficinas de teatro, de leitura, de música e de capoeira. Existe também um grupo de dança, que realiza apresentações externas. Por estar localizado numa região carente, com problemas de emprego, de segurança e de saúde, o Uirapuru também trabalha com as famílias dos atendidos, convidando-as a participarem das atividades. A unidade atende ainda 22 crianças participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – Peti.
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Fundada em 1° de janeiro de 2004, a Nova Escola visa proporcionar uma educação de qualidade, formando cidadãos autônomos, competentes, solidários e felizes, a escola espera contribuir para a construção de uma sociedade livre, justa e mais humana. Esses objetivos norteiam a proposta pedagógica, que se apóia em quatro pilares: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer. Outra marca do processo é a participação dos pais dos estudantes. O diálogo com a família, afinal, é um dos princípios da equipe de orientadores e professores. Os profissionais da Nova Escola, aliás, são responsáveis por um currículo muito além do tradicional. Trabalhando com Educação Infantil e com os Ensinos Fundamental e Médio, eles preparam diversas atividades extracurriculares. É o caso dos programas de voluntariado, de prevenção ao uso de drogas e de preparação para o vestibular. Sem falar nas pesquisas de campo, no coral de alunos e nas aulas de teatro, de culinária e de orientação sexual. Tudo isso acontece numa área de 5,9 mil mÇ especialmente projetada para a rotina escolar. Ela abriga amplas áreas verdes, jardins internos e confortáveis salas de aula. Conta ainda com laboratórios, biblioteca e até uma horta, além de salas-ambientes de idiomas, de artes, de música, entre outros. Uma pista de educação para o trânsito, quadras poliesportivas e espaços de lazer completam a paisagem.
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á 10 anos, o Arsenal da Esperança oferece 1.150 leitos para homens em situação de rua. Num local repleto de construções históricas, onde funcionou a Hospedaria dos Imigrantes, no Brás, foi criada uma casa de acolhimento material e espiritual. A ASPF é parceira desse projeto, mantendo o Centro Educacional Caminho Novo em um dos prédios do Arsenal. Ali são oferecidos cursos de alfabetização a jovens e adultos para que adquiram autonomia e aprimorem o senso crítico. Por coincidência, o Caminho Novo fica a poucos quarteirões do local onde por muitos anos morou, na primeira metade do século passado, a família Noronha Miné, das pioneiras da ASPF. Atualmente, os educadores do Caminho Novo trabalham com 108 alunos. Ao chegar ao centro, o educando passa por uma avaliação do quanto conhece da língua, principalmente em relação à capacidade de compreensão. É então encaminhado para uma das cinco classes disponíveis, conforme o grau de dificuldade apresentado. Quando completa os quatro estágios, recebe um certificado de conclusão do curso. Além das aulas de alfabetização, há reforço de matemática e diversas oficinas culturais que auxiliam no processo educativo. É o caso do clube da leitura e das oficinas de música e de teatro, todas ministradas por voluntários. Os educandos também participam do projeto Novo Papel, de reciclagem e encadernação. Com o apoio da Cáritas, eles produzem papéis com diversas texturas e cores, além de envelopes, álbuns e cartões. Parcerias com empresas e ONGs oferecem ainda outras possibilidades de cursos profissionalizantes. O Centro Educacional Caminho Novo é gerido por uma assembléia formada pelos próprios atendidos. Cada turma elege representantes que, coletivamente, decidem prioridades e resolvem problemas cotidianos.
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Centro Educacional Asas Fortes contribui para que jovens continuem os estudos e ingressem no mercado de trabalho. Fruto de parceria com o Instituto de Amparo a Crianças Asas Brancas, o centro desenvolve atividades de qualificação profissional e cultural, buscando proporcionar uma formação cidadã. É o caso dos cursos profissionalizantes de atendimento ao cliente e de rotinas administrativas. Participam educandos de 14 a 19 anos e 6 meses, todos estudantes de escolas públicas. Eles freqüentam 3 módulos, cada um com 25 alunos. Os cursos duram 3 meses e contam também com aulas de português, matemática, teatro, informática, atualidades e relações humanas. A inclusão digital é outro foco da unidade. Em parceria com o Instituto Ayrton Senna e com o apoio da Microsoft, o projeto Comunidade Conectada atende 100 jovens. O Asas Fortes também recebe crianças com dificuldade de aprendizagem. No projeto Novo Olhar, uma psicopedagoga acompanha 30 alunos de 7 a 14 anos. Outros 40 estudantes que precisam de reforço escolar participam das aulas de português do projeto Falando e Escrevendo. Num outro eixo do trabalho, jovens de 18 a 25 cumprindo medida disciplinar participam do projeto Jopec. Resultado de parceria com as secretarias de Desenvolvimento Social e de Segurança Pública de Taboão da Serra, o projeto oferece 6 horas diárias de aulas de português e de matemática.
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o Arco-Íris
objetivo do Centro Educacional Arco-Íris é desenvolver as potencialidades de pessoas com deficiência mental. Fundado em janeiro de 2005, nasceu de parceria com a Arca do Brasil, instituição católica de origem francesa. Atualmente, os educadores do centro atendem 45 pessoas, de 4 a 45 anos, com os mais diversos níveis de limitação, moradores do Jardim Elisa Maria, na região da Vila Brasilândia, a mesma onde, na década de 1940, teve início o trabalho social na Av. Itaberaba que daria origem à ASPF. O trabalho é realizado em duas unidades, organizadas em função da idade e da capacidade neuropsicomotora dos atendidos. Crianças e adolescentes começam no Espaço Infantil Mandacaru, onde aprimoram suas habilidades e a capacidade de realizar tarefas cotidianas e conviver em grupo. No Núcleo Arco-Íris são desenvolvidas atividades físicas e uma oficina pedagógica que estuda temas escolhidos pelos próprios educandos. Além disso, realizam-se também oficinas de culinária, de teatro, de contação de histórias e de artes visuais. Há ainda um grupo de dança, que faz apresentações em escolas da cidade. O atendimento é feito em período integral ou em dois turnos, manhã e tarde. Prioriza-se o meio período, incentivando as pessoas a freqüentarem a escola e centros públicos de cultura e lazer no restante do dia. Nas férias, faz-se o caminho contrário: as portas são abertas para os jovens da região, que são convidados a interagir com os educandos do Arco-Íris.
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Projeto Aquarela é destinado à alfabetização de jovens e adultos, mas seus participantes aprendem mais do que a ler e escrever. Tornam-se críticos e autônomos, capazes de compreender o contexto em que se dão as coisas e de assumir o próprio desenvolvimento. Uma das razões para isso é a ação pedagógica do Aquarela, que privilegia a participação dos educandos. Afinal, eles também possuem saberes que precisam ser considerados. Esse diálogo é a base de atividades que visam sensibilizar e despertar o interesse do aluno. Entre elas estão aulas de artes plásticas, de música, de culinária, narração de histórias e brincadeiras. O projeto nasceu em 1999, firmando-se no ano seguinte graças a um convênio com o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) da Prefeitura de São Paulo. Desde então, são atendidas 90 pessoas com idade a partir de 14 anos. As 4 salas de aulas são mantidas no Jardim Jaqueline, utilizando-se a estrutura dos centros educacionais Cepec e Girassol. Parte dos educandos tem grau de parentesco com crianças e adolescentes atendidos em outras ações da ASPF na região.
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EJA – Educação de Jovens e Adultos
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untamente com o Centro Educacional Caminho Novo e o Projeto Aquarela, o EJA integra os esforços da Sociedade Pela Família para educar jovens e adultos impossibilitados de freqüentar o ensino regular. Nesse projeto, iniciado no segundo semestre de 1998, são desenvolvidas atividades no nível das oito séries do ensino fundamental. Para ingressar no programa, sediado na Escola Nossa Senhora das Graças, o educando deve ser alfabetizado. Ele realiza uma prova de classificação de português e de matemática e, conforme o resultado, é direcionado para um dos seis módulos existentes. O primeiro corresponde à primeira e à segunda séries, e o segundo à terceira e à quarta. Daí em diante, o conteúdo de cada módulo passa a equivaler ao de uma série. O programa completo dura cerca de 4 anos. Cada módulo tem uma classe e, no total, são atendidas por volta de 100 pessoas. As aulas são ministradas por profissionais contratados e por voluntários. Alunos do período diurno da ENSG também contribuem, trabalhando como monitores. Além das disciplinas tradicionais, os jovens e adultos têm aulas de artes, de educação física, de informática e de noções de saúde. Também são realizadas atividades extracurriculares, como visitas a museus e saraus.
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Convênios e Parcerias A Associação Pela Família acredita que só é possível transformar a realidade se agentes de todas as esferas da sociedade trabalharem juntos. Além do empenho pessoal de cada um dos voluntários e profissionais, a instituição firma convênios com órgãos públicos e realiza parceria com empresas e com outras entidades. Convênios Prefeitura Municipal de São Paulo • Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social • Secretaria da Educação – MOVA Secretaria Municipal de Segurança Pública da Prefeitura do Taboão da Serra Parcerias para Projetos e Doadores Central Geral do Dízimo Fundação Abrinq Pelos Direitos da Criança Instituto Ayrton Senna Instituto Ayrton Senna / Microsoft Instituto Camargo Corrêa Instituto C&A de Desenvolvimento Social Instituto Hedging-Griffo Microsoft Vitae Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social Parcerias para criação de centros educacionais Arca do Brasil ASSINDES – Associação Internacional para o Desenvolvimento – Núcleo São Paulo Associação Amigos do Bairro do Real Parque Instituição de Amparo à Criança Asas Brancas
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Prêmios Prêmio Bem Eficiente - em 1997, 2000, 2003, 2006 A Sociedade Pela Família já recebeu quatro vezes o Prêmio Bem Eficiente, concedido pela Kanitz & Associados. Selo “Empresa Amiga da Criança” Em 1999, a Sociedade Peia Família recebeu da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança o certificado de Empresa Amiga da Criança. Prêmio Voluntário do Ano 2000 – Kanitz & Associados Pelo trabalho desempenhado no projeto de integração, realizado pela ENSG, foi selecionado para indicação na categoria Estudante o aluno Diogo Bertoldi Youssef.
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Prêmio UNESCO A ENSG foi agraciada com o Prêmio de Incentivo à Prevenção e ao Uso indevido de Drogas nas Escolas, na categoria escola privada, pelo trabalho realizado no Projeto Valorizando a Vida, que vem desenvolvendo com a comunidade escolar desde 1996. Premio Toastmaster International Recebido nos Estados Unidos, pelo aluno Marcelo Karan Delbin, pela participação voluntária no curso noturno de alfabetização de adultos, desenvolvido na Escola Nossa Senhora das Graças.
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DOS ENCONTROS FICA O ENCANTO
Dos “encontros“ fica o encanto. Encanto iluminado de esperança, porque as crianças compartilham conosco sua alegria e os jovens ainda se revoltam com a injustiça. Encanto porque, acreditamos na vida na paz, no mundo que virá, nascendo, humilde, também do nosso trabalho. Dos “encontros” fica o encanto das nossas mãos juntas, a angústia dos desencontros e perdas, o encanto da caminhada, agradecendo “dádivas, graças e bênçãos”
Laura Souza Pinto
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