Memórias de um Colibri

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MEMÓRIAS DE UM COLIBRI 1



MEMÓRIAS DE UM COLIBRI


AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os funcionários que contribuíram para nossas riquezas. Hoje sou melhor do que ontem, quando aqui cheguei. Foi na convivência com os educandos e educadores que aprendi a importância da diversidade e posso dizer que fui feliz em ter o privilégio de participar da vida de cada um. Agradeço às crianças que por aqui passaram como um raio de sol a iluminar e abrilhantar este espaço maravilhoso, com tanta alegria nos contagiando e emocionando com suas manifestações de pensamento e carinho. Aos pais agradeço por toda a participação e parceria ao longo desses anos, construindo assim uma relação de confiança para a realização da parceria no processo educativo de crianças. A mantenedora por disponibilizar um lugar tão lindo para se fazer educação e a confiança que depositaram em cada um de nós para a realização de um trabalho sério e cheio de méritos. A todos os formadores que aqui passaram e que nos tiraram da zona de conforto, esperando um avanço vindouro.


A POÉTICA DA ESCOLA COLIBRI: MEMÓRIAS

“O que a memória ama fica eterno...” Rubem Alves

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SUMÁRIO

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APRESENTAÇÃO ..........................................................................................................

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ENTREVISTA COM A SENHORA LAURA SOUZA PINTO..................................

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BREVE HISTÓRIA..........................................................................................................

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INICIANDO O VOO COMO AÇÃO SOCIAL..........................................................

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DESAFIOS DO VOO .....................................................................................................

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VALORES DO COLIBRI................................................................................................

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A ESSÊNCIA DO NÉCTAR – MARCAS QUE CONQUISTAMOS DURANTE O TRABALHO...........................................................................................

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O ALÇAR VOO DO COLIBRI .....................................................................................

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PROVANDO O NÉCTAR NA PRÁTICA ...................................................................

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NEM A PANDEMIA IMPEDIU DE VOAR ..............................................................

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A POLINIZAÇÃO ..........................................................................................................

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APRESENTAÇÃO Também conhecido como beija-flor, o colibri é um pássaro de pequeno porte. O principal alimento dos beija-flores é o néctar das flores. Se há escassez de alimento em seu hábitat, essa ave é capaz de voar quilômetros e mais quilômetros até encontrar uma fonte segura para alimentação. Mas o néctar não é o seu único alimento. Capaz de visitar 1.500 flores por dia, o beija-flor é um dos principais agentes polinizadores já existentes, pois ao colher o néctar das flores, o pólen se fixa a seu corpo, e, ao voar até outra flor, ele a poliniza. As civilizações indígenas sempre tiveram um grande respeito por essa ave emblemática. Ela leva em seu simbolismo um poderoso significado espiritual: representa a ressurreição. Para os ameríndios, o beija-flor simboliza a beleza, a harmonia, a verdade e a força. Segundo a lenda, em uma tribo indígena do Arizona, a dos índios Hopi, o colibri assume a figura de um herói que salva a humanidade da fome. Já na prática do xamanismo, o colibri é um animal de poder e, portanto, é invocado na cura do amor verdadeiro. Diariamente, temos contato com esse pássaro aqui em nosso Colibri, espaço educativo que já recebeu inúmeros educandos e educadores para um trabalho capaz de transformar a vida de pessoas! Fazendo uma analogia à representação do pássaro, somos um pouco colibris. Amantes da educação, temos o privilégio de poder contar para vocês algumas marcas de nossa história deste lugar encantador chamado COLIBRI. Como ele, fomos um pouco heróis, ou melhor, resilientes! Foram 25 anos de uma história de impactos e relevância para tanta gente! 7


Como eternos educadores, acreditamos no potencial de cada um que por aqui passou, ajudando-os a desabrochar o melhor de si, por meio da educação, fazendo germinar seus frutos pelo mundo afora. É interessante brincar com as palavras e seus significados em cada contexto... O Colibri é um lugar que apresenta abundância de belezas naturais, e aprendemos a desfrutar de tudo que ele oferece. Aprendemos também com o outro, e, novamente como colibris, levamos nosso néctar em forma de conhecimento para muitas gerações, deixando um pouquinho do nosso saber em cada um, e absorvendo novas aprendizagens com cada um que passou por aqui, fazendo de nossa escola um lugar de encontros e trocas, compondo maravilhosas memórias. Nas próximas páginas, vamos fazer um voo rápido, mas com algumas paradas, pairando como colibris, para contar momentos especiais que escolhemos para partilhar. O convite deste livro nasceu do anúncio do encerramento deste projeto chamado Colibri. A intenção foi justamente resgatar momentos, lembranças, vivências e emoções de todos que, de alguma forma, ajudaram a construir nossa história. Mas a escrita não poderia ser diferente do que fazemos na prática, assim, convidamos os funcionários para a escrita desta história de forma coletiva. O “fazer com” é uma das marcas que nos representa. Esperamos que este livro possa eternizar o legado deixado por funcionários, pais, mães e, principalmente, pelos alunos e alunas. Gratidão a tantas mãos que realizaram este projeto transformador! Assim como no voo de um colibri, em que o pássaro bate asas para se manter no ar e desfrutar do néctar das flores, esperamos que todos os leitores possam bater asas, viajar nas páginas deste acervo e desfrutar de todo o seu conteúdo. Boa leitura! Equipe Colibri / dezembro 2021

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CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá, As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias

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ENTREVISTA COM A SENHORA LAURA SOUZA PINTO, IDEALIZADORA DO CENTRO EDUCACIONAL COLIBRI 1. O que motivou a sra. a fundar o Centro Educacional Colibri? O Centro Educacional Colibri nasceu do compromisso da ASPF com a justiça social e a educação, com o objetivo de ampliar o atendimento às crianças das regiões mais vulneráveis, oferecendo-lhes atividades complementares às da escola, colaborando com as famílias, que enfrentavam grandes dificuldades. Além disso, no futuro, este centro poderia se transformar em escola, onde conviveriam alunos bolsistas e pagantes.

2. Como surgiu a escolha do nome Colibri? O nome foi inspirado pelas características dessa ave: os colibris têm o voo rápido e extremamente ágil, além de serem lindos e fortes. São as únicas aves capazes de voar em marcha a ré e de permanecer imóveis no ar. Assim também gostaríamos de ser, recuar, permanecer na mesma situação, voar de novo.

3. Quais são suas memórias mais marcantes da escola? Quase impossível selecionar memórias: caminhar na mata, ir até o riozinho, acompanhar a construção, procurar e conseguir novos parceiros. Ver a criançada feliz, brincando, almoçando; abraçar as educadoras e os funcionários, saber do seu compromisso, de suas dificuldades, admirar sua coragem. Ter medo de que se acidentem, assumir decisões difíceis, mas necessárias. Conhecer as famílias, aprender com elas.

4. Na sua opinião, qual o diferencial que o Colibri conquistou durante todos esses anos? 10


Os fundamentos do centro e da escola são os mesmos: educar, trabalhar junto, com respeito e amor, descobrir a riqueza da diversidade, estar atento às mudanças, aprender com os novos desafios, sabendo que educar é um processo para a vida toda, muda apenas o arcabouço.

5. Qual seu sentimento sobre o fechamento da escola? Muita dor, mas com esperança, pois o local é lindo, a história é viva e estimulante.

6. Qual o legado que a escola deixará para as novas gerações? Confiar em Deus, caminhar juntos, aprender sempre uns com os outros, tornando nosso mundo melhor, esse é o nosso legado.

7. Como a sra. espera que esse espaço e infraestrutura sejam utilizados daqui para frente? Somos lúcidos e corajosos, espero e desejo que a escola renasça, pequena e forte, irradiando a verdadeira sabedoria.

8. Qual o saldo geral de tantos anos de dedicação na ASPF, o que a senhora conclui? Agradeço pelas pessoas com quem convivi, alegro-me, porque de tantos encontros fica a força das nossas mãos juntas, com nosso compromisso em tornar a vida mais justa e fraterna.

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BREVE HISTÓRIA A Associação pela Família (ASPF) é uma instituição de caráter filantrópico e sem fins lucrativos, fundada em 1º de setembro de 1956, com sede e foro na cidade de São Paulo. Reconhecida como entidade beneficente de educação e de assistência social, tem como finalidade a prestação de serviços nas áreas de educação e assistência social. Promover a efetivação do direito das pessoas à educação de qualidade, por meio de ações educativas e culturais, visando à formação do espírito crítico e à transformação pessoal e social. Os serviços sociais destinam-se às pessoas que possam estar em situação de dificuldade familiar, educacional, econômica e social, em qualquer de suas formas, em vulnerabilidade ou risco, sejam crianças, adolescentes ou jovens. Atualmente, para realizar seu objetivo social, a Associação mantém estabelecimentos de ensino, como escolas de Educação Infantil e Ensino Básico, nas quais serão concedidas bolsas de estudo, obedecidas as determinações legais. Em 1980, a SPF aprovou a compra de um terreno no jardim Colibri, no município de Embu das Artes, para futura construção de um Centro Educacional. No ano de 1993, com o objetivo de atender maior número de crianças, a Sociedade pela Família iniciou o Projeto Colibri. A construção foi iniciada em fevereiro de 1995, em parceria com o Instituto C&A de Desenvolvimento Social. (fotos 2 e 3) A realização desse sonho aconteceu em 1996, ano em que o Centro Educacional Colibri foi inaugurado. (fotos 4 e 5) No ano de 2003, ocorreu a mudança do nome de Sociedade pela Família (SPF) para Associação pela Família (ASPF), em função das exigências do Novo Código Civil Brasileiro. 12


Em outubro de 2010, em decorrência da nova legislação, o Centro Educacional Colibri foi transformado em escola formal de Educação Infantil e Fundamental l, funcionando sob regime de concessão de bolsa integral ou parcial de estudos. Apesar da grande transformação, que alterou a forma de funcionamento, o Colibri levou a sua essência para o novo modelo escolar. Com muitos desafios orçamentários e administrativos, a ASPF encerra suas Unidades de Assistência Social, sendo as duas últimas em 2021 e a Escola Colibri, em dezembro do mesmo ano. Há uma intenção, que a aplicação das bolsas seja na Escola Nossa Senhora das Graças. Esse encerramento impacta a vida de funcionários, alunos e suas famílias. No entanto, queremos registrar o que ficou de bom! Os momentos que nos marcaram durante tantos anos de dedicação, compromisso, trabalho, estudo e amor. Deixamos a esperança da continuidade desse trabalho de outra forma que somente o Colibri com sua destreza pode conseguir...

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INICIANDO O VOO COMO AÇÃO SOCIAL A criação do Centro Educacional Colibri vem do compromisso explícito da missão da ASPF para a concretização de um sonho: construir uma unidade educacional de qualidade e excelência para crianças e jovens de diferentes classes sociais, da região de Embu das Artes e Cotia, dando ênfase à diversidade cultural como elemento gerador de aspectos coletivos, tais como cidadania, integração, sentimento de comunidade e pertencimento, promovendo, assim, oportunidades e conquistas na trajetória de vida de cada indivíduo, ou seja, a formação de protagonistas de suas histórias. O Centro Educacional Colibri é uma das unidades da Associação pela Família, que se insere no mercado educacional, com um projeto político-pedagógico consolidado. É imprescindível a qualquer instituição que se insira no mundo globalizado que tenha plenas condições de proporcionar o melhor da atual conjuntura na sociedade a qual está inserida. Para tanto, o Colibri pretende buscar sua autossuficiência por meio da ampliação em seu quadro de atendimentos, abrindo, dessa forma, oportunidades a alunos interessados em uma educação que proporcione condições para que possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural.

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Proporciona, por meio de diferentes atividades, inserir o aluno em uma convivência harmoniosa entre seu contexto social e o ambiente educacional, oferecendo-lhe os recursos necessários para que se desenvolva com plena harmonia, inclusive com a natureza, e promovendo o privilégio da convivência com a diversidade, por diferentes classes sociais. A gestão do Colibri se constitui democrática e, no exercício de suas atribuições, estabelece a organização, a mobilização e a articulação das possíveis condições materiais e humanas necessárias para promover o avanço dos processos socioeducacionais desse estabelecimento de ensino, trabalhando efetivamente pela aprendizagem dos alunos, contribuindo para que estes possam enfrentar os desafios da sociedade complexa, globalizada e da economia centrada no conhecimento.

A MARCA DO PÁSSARO A HISTÓRIA DO LOGOTIPO DO CENTRO EDUCACIONAL COLIBRI “Meu nome é Danilo, sou ex-educando do Centro Educacional Colibri. Hoje tenho 40 anos. Logo quando entrei, teve um concurso de desenho para escolher o desenho que seria o símbolo do Colibri. Eu sempre gostei de desenhar paisagens, personagens, etc. Quando soube a respeito do concurso, fiquei empolgado para participar. Havia muitos educandos bons em desenho, mas mesmo assim resolvi participar. Eu queria que fosse algo simples, e, como o próprio nome diz, Colibri, me inspirei no pássaro. Às vezes, olhava os desenhos dos outros educandos e via propostas maravilhosas! Pensava: não vai dar certo o meu, perto desses outros desenhos. Para diferenciar, procurei saber quais eram as cores da Associação pela Família e usei essas mesmas cores para relacioná-las ao Colibri. De tanto pensar o que fazer, criei em alguns minutos o meu desenho e decidi que estava 15


ótimo. Sem pretensão alguma de achar que o meu seria o escolhido, entreguei meu desenho. Quando saiu o resultado, fiquei muito feliz, pois foi um surpresa para mim! Hoje tenho orgulho desse feito! Faço questão de lembrar ao meu filho que fiz esse símbolo que se tornou o logo do Centro Educacional Colibri, que significou e ainda significa muito, pois hoje sou muito grato às aprendizagens que tive nos anos que estive por lá e nos anos que meu filho estudou, quando se transformou em escola formal”. Danilo Procópio da Silva (ex-educando, funcionário e pai de aluno)

Ao longo de dezesseis anos, o Colibri chegou a atender 460 educandos na faixa etária de 6 a 16 anos. Desde a sua inauguração, vem traçando um caminho de conquistas que resultam em um reconhecimento positivo na região. Durante o tempo como ação social, experimentamos diferentes agrupamentos, de acordo com a intenção, que revelavam sua concepção. No início, ainda com a “cabeça fechada” e presos aos modelos mais tradicionais, os agrupamentos seguiam a aproximação da faixa etária. Um pouco mais amadurecidos, e em novas experiências, convidamos os maiores, ou com mais autonomia, para auxiliar os menores. Esse modelo foi se aprimorando e esses tutores ganhavam espaço até para participar de reuniões para a melhoria da escola, em seus 16


diferentes espaços educativos. Em todos os modelos, a presença de um educador sempre se fez necessária para intermediar as relações. A liberdade do modelo de ensino se fez presente até os dias atuais, trazendo para todos a certeza de estar em um lugar diferenciado, com possibilidade de experimentar novos caminhos e adquirir, assim, uma infinidade de aprendizagens. Essas aprendizagens passaram a ter maior significado, pois eram construídas por seus autores, e esse fazer pedagógico trouxe impactos na vida de toda a comunidade escolar. Com isso, o Colibri começava a ficar conhecido na região por ser um lugar não somente lindo fisicamente, mas, principalmente, por agregar valor na vida de todos que passaram por ali. Para ingressar no Colibri, a família precisava preencher uma solicitação de vaga e aguardar na fila de espera. A procura era tão grande por uma oportunidade que, muitas vezes, a família aguardava até dois anos pela vaga. Considerando a parceria com a família, fundamental para se alcançar os objetivos esperados, era necessário planejar ações estratégicas com esse público que, gradualmente, foi se envolvendo de forma bastante participativa no processo de aprendizagem de seus filhos. Conquistas importantes se deram nessa caminhada. Muitos de nossos ex-educandos voltam ao Colibri, agora como escola, para matricular seus filhos, expressando, nessa atitude, o prazer de poder proporcionar a estas marcas que os ajudaram na formação para a vida. Desejar que o filho vivencie as mesmas experiências que os pais só pode ser porque tais experiências fizeram muita diferença em suas vidas.

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ENCANTOS DE UM COLIBRI À ESCOLA COLIBRI Quando pensamos em “oportunidades” que não devemos perder JAMAIS! Minha filha Victória estudava na 4ª série do Ensino Fundamental com sua melhor amiga (e irmã de honra) Melissa, filha da professora de Educação Física Michelle. Duas lindas meninas, estudiosas e muito esforçadas. Melissa disse a Victória que, após os estudos convencionais na escola estadual, frequentava um centro educacional chamado Colibri, que acolhia crianças cujas mães trabalhavam e as deixavam, muitas vezes, sós ou com parentes, que oferecia cuidados, “reforços” em estudos, além de recreação e alimentação. “Poxa, que legal” – pensamos imediatamente e aprovamos o seu ingresso. Pena que descobrimos “tarde”, não é? Pois já se passara meio ano letivo. Foi de grande valia! O ensino era até mais convicto e eficaz ao que ela estudava na escola estadual, acreditam? Na ocasião, havia um limite em razão da idade das crianças, e minhas meninas tiveram de se despedir... ainda não era escola. De lá trouxeram na bagagem muito carinho e aprendizado, em pouco tempo de usufruto, que levaram para suas vidas. Hoje elas têm 21 anos: Victória está na faculdade de Biologia e Melissa, na faculdade de Direito. Nossa admiração pela instituição foi tamanha que procuramos a secretaria, na pessoa da querida Geralda, para nos informar sobre a possibilidade de ingresso de meu filho Victor. A vaga era muito disputada, pois a prioridade eram famílias bem carentes, mas, enfim, conseguimos após estudos da equipe e da querida diretora Cecilia! Nesse período, o Colibri crescia e se tornava MAIS FORTE e, enfim, ESCOLA. Nosso garoto participava em período integral. A alimentação era tão boa, tão deliciosa, que, ainda 18


hoje, meus filhos fazem menção do trabalho das cozinheiras. A higiene, todo o prédio, salas de aula – tudo tão limpo! Havia ônibus que os levava e os trazia a pontos estratégicos para os pais. O cuidado era tamanho que se o responsável não estivesse no ponto, o ônibus levava as crianças de volta à escola. Eu mesmo já tive de ir buscar meu filho lá, pois acabamos nos atrasando [risos]. Tínhamos professores inteligentes, compromissados com a escola e o trabalho, tão carinhosos que acabamos nos tornando AMIGOS dentro e fora da escola. Éramos frequentemente convidados a participar dos eventos culturais, de trabalhos de ensino... nos sentíamos HONRADOS E FELIZES! Ao passo que as boas atitudes eram levadas às demais famílias, muitas queriam desfrutar de tudo isso, mas as vagas ainda não eram suficientes. Quem não quer ver seu filho bem cuidado, bem instruído e feliz? Agora mais crescido, meu filho não podia contar mais com essa FAMÍLIA LINDA que nos acolheu... a 6ª serie do Fundamental II não poderia ser mais ali. Foi uma despedida linda e muito difícil, muito dolorosa para todos... acredito que para todos da escola também, pois estávamos muito apegados... desde colaboradores, professoras até a diretora. Hoje Victor está finalizando o 2º ano do Ensino Médio na escola estadual; um jovem lindo e forte, com alicerces fortes pela família, com seus pais presentes, e pela instrução de mestres da escola Colibri. Isso é nossa vida: ciclos que se encerram para enfim virem outras crianças e receberem todo esse carinho... Embora estejamos passando por um momento crítico, pandêmico, em que o calor humano quase se extinguiu, respeito e gratidão também... Meu sobrinho Caio está sendo atendido este ano e se despede, infelizmente. Esse menino ainda não sabe mensurar a perda que é essa escola encerrar suas atividades, 19


contudo, a escola pode até fechar suas portas, mas seus colaboradores, professores, a secretaria e sua diretora JAMAIS FECHARÃO seus corações, pois com amor e dedicação sobreviveram a fortes tempestades... e não será agora que o amor esfriará! Victor e eu estivemos na escola no dia 5 de novembro (meu aniversário) e ficamos muito felizes com nosso reencontro. Muito emocionado, resumi o máximo em palavras o que meus sentimentos repletos de GRATIDÃO podem transmitir. Momentos eternizados em nossas vidas! Guardamos vivas dentro de nós as palavras da nossa diretora e amiga Cecilia: “Estamos crescendo como escola e profissionais. A cada dia aprendemos mais e mais! Ter o olhar da família é muito importante para corrigirmos a rota, afinal nosso propósito são os alunos!!! Para mim, que represento esta equipe, não tem coisa mais gratificante do que ter o reconhecimento das famílias, do nosso trabalho!” Agradeço todo carinho que você e sua família nos deram nesse tempo todo. “Nossos sonhos se realizam na medida em que acreditamos neles e no potencial que temos para alcançá-los. Com amor e mui atenciosamente, Valter e Marcia, pais dos ex-alunos Victor e Victória “Meus filhos foram atendidos no Centro Educacional Colibri, a Ana e o Alberto, eles frequentavam as atividades no contraturno escolar, e foi muito importante para o desenvolvimento deles. Eu também tive a oportunidade de participar de uma oficina de artesanato com a professora Daniela, foi uma experiência de aprendizagem gratificante, pois transformei essa oportunidade em fonte de renda.” Cristina dos Reis da Silva, mãe de alunos e funcionária 20


PARCERIAS – DE PÓLEN EM PÓLEN O maior recurso financeiro que possibilita este projeto chamado Colibri é a cota patronal, em que 20% das mensalidades pagas das escolas desta mantenedora são revertidas para o nosso atendimento. Na época em que ainda éramos conhecidos como ação social, havia uma cultura institucional para a formação de parcerias com institutos ou organizações que pudessem subsidiar o projeto. Apesar de o objetivo maior ser a captação de recurso, por meio de projetos, em cada uma das parcerias, recebia-se a oportunidade de estudo e reflexão sobre o trabalho. Para concorrer em processos seletivos, toda a documentação era analisada, além de haver uma visita técnica para a realização de entrevistas. Consolidado, o trabalho ia ganhando êxito e relevância na medida em que tínhamos oportunidades com novas parcerias. Parcerias sempre foram necessárias no trabalho do Colibri, e eram realizadas com o segundo setor. Cada financiador tinha uma intenção de acordo com seu perfil e objetivos e estabelecia a parceria por meio de processos seletivos para que organização sem fins lucrativos pudesse concorrer ao prêmio. Esse prêmio sempre era composto de uma parte em dinheiro e outra em formação. A parceria era no máximo para dois anos, possibilitando mais oportunidades para outras organizações. FUNDAÇÃO ABRINQ A parceria com a Fundação Abrinq possibilitou a manutenção e a ampliação de cem alunos na faixa etária da Educação Infantil, trazendo grande impacto para a comunidade, porque a Educação Infantil sempre teve uma demanda muito grande no município, que muitas vezes não 21


dava conta de atender. Essa parceria também possibilitou a propagação do nome e do trabalho do Colibri, já que, por meio da rede, todas as ONGs se reuniam mensalmente para discutir seus trabalhos. FUNDAÇÃO VITAE A parceria com a Fundação Vitae (2005), associação civil sem fins lucrativos, que apoia projetos nas áreas de cultura, educação e promoção social, trouxe um impacto muito relevante em especial no “despertar de leitores e escritores”: um projeto de leitura e escrita, com a duração de dois anos, destinado a crianças de 6 a 12 anos de idade. O projeto da Vitae revelou muitos potenciais, contribuindo para que as ações mais intencionais de alfabetização pudessem ocorrer dentro do Centro Colibri. Foi a partir de então que esforços e campanhas foram lançados com o objetivo de adquirir livros. Um desses frutos foi a produção de versões com clássicos dos contos de fada feita em dupla com as turmas que eram atendidas pela então educadora social Jô. As turmas foram agraciadas com a presença da ilustre e simpática escritora Sandra Branco. “Meus educandos nunca tinham encontrado pessoalmente com algum escritor ou escritora, foi incrível: um misto de euforia e admiração, como algo realmente surpreendente” – relembrou a responsável pelas turmas. Professora Jô INSTITUTO AYRTON SENNA Essa parceria possibilitou que projetos na área da arte e do esporte pudessem ser realizados. Um deles, por exemplo, deixou os adolescentes bastante entusiasmados: o Projeto Mamulengo (1999), de cultura popular de teatro de mamulengos (bonecos), trazido pelo artista Valdeck de Garanhuns, que fora contratado naquela época. 22


Com 35 anos de carreira, Mestre Valdeck de Garanhuns tem uma vasta história com diversos tipos de arte: teatro, pintura, cordel, poesia e, principalmente, seus famosos bonecos. Foi em São Paulo, a partir de 1985, que tomou contato com os mestres bonequeiros. “Conheci Augusto, um bonequeiro que trabalhava em feiras beneditinas, feiras de conventos. Fui com ele em uma dessas feiras, para um trabalho inspirado no mamulengo.” VALDECK DE GARANHUNS O nome correto para uma apresentação de mamulengo é brincadeira. “Eu com meus 50 bonecos, se começar a brincar posso ficar umas 6 horas direto”, diz sorrindo. E ninguém brinca igual. Cada mestre tem uma mala, com vários personagens que até podem se parecer, mas cada um tem uma personalidade. Na mala dos mestres mais antigos são 70, 80 bonecos. Por meio de oficinas realizadas por Valdeck, os adolescentes não só aprenderam a confeccionar bonecos como também os utilizaram em apresentações de teatro para as crianças menores. Esta mesma parceria, possibilitou o aprimoramento das atividades esportivas, inclusive possibilitando a utilização da piscina, quadra e campos de areia e gramado.

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INSTITUTO HEDGING GRIFFO A parceria, que inicialmente foi prevista para dois anos, em função dos bons resultados que o Colibri apresentou, acabou sendo ampliada para mais dois anos, contemplados pelo Programa Crescer por meio da “EDUCAÇÃO INTERDIMENSIONAL”. O Programa Crescer não só “mexeu” com os educandos, provocando-os, mas com toda a equipe do Colibri. Todos os educandos tinham de realizar atividades relacionadas com espiritualidade, cognição, corporeidade, projeto de vida, como lidar com as adversidades da vida, cuja resiliência é fator determinante! As oficinas se estendiam aos funcionários que chegaram a participar de teatros, estudos e eventos. Muitos colaboradores nesta ocasião, voltaram a estudar, uma vez que o envolvimento pessoal de cada um trouxe benefícios próprios. O acontecimento desse projeto foi um divisor de águas para o Colibri, haja vista que, para os momentos de formação, a proposta acontecia com o irmão do professor Antônio Carlos Gomes da Costa, Alfredo Gomes da Costa, enfatizando sempre sua filosofia de olhar o ser humano como um todo. O objetivo dele era trazer a Educação Interdimensional para dentro das escolas públicas, conseguindo aplicar em algumas escolas de Minas Gerais antes de falecer. Lembrando que ele também foi um dos redatores do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Educação Interdimensional se apoia em um ferramental teórico-prático, compreendendo o ser humano em quatro dimensões: LOGOS – dimensão do pensamento, da racionalidade; PATHOS – dimensão do sentimento, da afetividade; EROS – dimensão da corporeidade; MYTHO – dimensão do homem com os mistérios da vida e da morte, do bem e do mal.

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Além das quatro dimensões, o programa oferecia algo tão especial e inovador em consonância com a nossa prática. Muitos que por aqui passaram dizem que nesta unidade há algo especial. Além das quatro dimensões, o ferramental nomeava o que já fazíamos em nossa prática, mas que não sabíamos nomear. A Pedagogia da Presença, que abrange tanto o cuidado no atendimento, a acolhida, a habilidade de escuta, o respeito ao atender, a relação de ajuda para a construção do trabalho coletivo e o projeto de vida. Entender como se daria a transformação de uma habilidade de um educando em um projeto de vida, sendo protagonista naquilo em que ele sabia fazer. Composto de muito conteúdo teórico-prático, o Programa Crescer proporcionou a formação continuada para todos os educadores e um investimento muito significativo nesse objetivo, possibilitando que trouxéssemos em nossa unidade, o Alfredo Gomes da Costa e a Tereza Pena Firme para estudo no tema: avaliação. Em todas as formações, o Colibri possibilitou que funcionários de outras escolas públicas participassem e até mesmo educadores e diretores de outras unidades da ASPF. Assim como as outras parcerias, o Programa tinha a Rede Crescer com encontros com todas as ONGs contempladas por esse mesmo projeto. Em meio às várias avaliações, o Centro Educacional Colibri se destacou e, consequentemente, foi indicado para escrever outro projeto, dessa vez em parceria com a Camargo Corrêa, uma das maiores construtoras do país, surgindo, assim, a cobertura e o piso da quadra esportiva do Colibri. CAMARGO CORRÊA O projeto ganhou o nome de Espaços Educativos, porque a proposta pedagógica tinha de estar relacionada com espaços onde as crianças passariam algum tempo fazendo atividade. A cobertura da quadra se deu pensando no con25


forto que as atividades em família, atividades esportivas e brincadeiras com as crianças poderiam proporcionar. Além da cobertura, o projeto também contemplou uma pequena reforma do Colibri 2, um bloco, cujo atendimento era destinado para as crianças de 4 e 5 anos.

DESAFIOS DO VOO Diante do crescimento no número de atendimentos oferecidos pelo Colibri, aumentaram também os desafios nesse processo, e as conquistas obtidas só puderam ser consolidadas porque os desafios foram enfrentados por meio de planejamento e disposição de fazer dar certo. O trabalho em equipe sempre foi visto como uma potente ferramenta para proporcionar interação entre as pessoas, gerando, consequentemente, alinhamento de ações e atitudes que, somadas, levaram a um resultado positivo para todo o trabalho. Um desafio maior veio no fim de 2010 quando houve a necessidade de mudar a natureza do serviço prestado, deixando de oferecer um trabalho educacional informal, para oferecer um ensino formal na Educação Básica, a partir de 2011. Assim, o Colibri se tornou escola regular, passando a atender crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. Um horizonte se abriu para um tempo de muitas aprendizagens. Realizar um trabalho formal, sem perder os valores que pertenciam ao trabalho que se fazia antes se tornou a grande preocupação. No entanto, os anos que antecederam o início da escola se constituíram em um alicerce forte para fundamentar o novo projeto. Dessa forma, o grande desafio tornou- se instigante para todos. Era desejo, naquele momento, fazer uma escola de qualidade, que contribuísse para a forma26


ção integral do indivíduo, entendida aqui como uma formação cognitiva, social e emocional do indivíduo. Para concretizar esses ideais, foi necessário buscar no mercado consultorias que fossem referências na área pedagógica e que viessem somar junto à equipe da casa, compartilhando os mesmos propósitos. As áreas do conhecimento possuem relevante importância no currículo escolar, por isso, foi imprescindível serem abordadas de forma coerente aos valores, preocupações e desejos da gestão do Colibri. A consultoria pedagógica contratada trouxe uma proposta que compreendeu as inquietações descritas, passando a realizar um trabalho de formação docente com o objetivo de instrumentalizar o trabalho pedagógico do professor na dimensão teórico-prática. Pretendia-se que, com essas experiências de formação, o professor encontrasse um significado em sua prática, sentindo-se pertencente ao trabalho. Para que o professor entre em contato com o seu fazer, é necessário que registre sua prática e pense sobre ela, podendo até mesmo sentir-se mais valorizado como profissional. O trabalho desenvolvido na formação de professores teve reflexo na aprendizagem dos alunos, pois estes se sentiram mais capazes e valorizados pelo repertório cultural que traziam de bagagem para a escola, encontrando, assim, um significado na aprendizagem.

DE CENTRO EDUCACIONAL COLIBRI PARAESCOLA, O QUE MUDOU? E quem disse que mudar seria fácil? Mudar é a alavanca que impulsiona os degraus da vida! Na virada de ação social para escola, apesar de muitas apostas, havia certa resistência; uma questão de insegurança, pois era um momento em que algumas unidades da Associação pela família, estavam encerrando suas atividades, e o Colibri virando Escola, provavelmente, muitos dos 460 educandos, que tinham atendimento garantido como ação social, seriam perdidos. 27


Emocionalmente, foi bem desafiante, mesmo que depois, como escola, a chance de atender a um grupo menor de alunos para que houvesse aprofundamento da aprendizagem fosse possível. Mas, naquele momento, os ganhos futuros, que, com certeza, viriam também com a Escola Colibri não eram vistos, devido a dor emocional pelo encerramento do Centro Educacional Colibri. Para iniciar, fomos buscar referências externas para conhecer algumas metodologias; visitamos a Escola Castanheiras, Escola Ursinho Branco, Escola Ágora, Colégio Magno, Escola Viva e a Escola Nossa Senhora das Graças, que é uma das unidades da Associação pela Família (ASPF). De volta “para casa”, já se sabia que era necessária a continuidade de investimento na formação dos professores da Escola Colibri. Uma escolha apurada de renomados formadores contribuiu para a sua ascensão: Espaço Pedagógico, por Madalena Freire e Maria de Fatima Camargo; Instituto Singularidades, por Maria Estela Lacerda Ferreira e Gisela Wajskop; Instituto Avisa lá, por Clélia Cortez e Ana Carolina Pereira Carvalho; Colégio Vera Cruz, por Clélia Cortez e Maria Virgínia Gastaldi; Escola da Vila, por Tucha e Maria Clara Galvão; Escola Castanheiras, por Debora Vaz e Escola Ursinho Branco, por Rosangela Veliago. A Rosângela Veliago foi contratada logo de início, contribuindo muito como assessora e formadora dos professores na área de linguagem, especialmente nas práticas de alfabetização, elaboração de projetos didáticos e sequências didáticas. Com vasta experiência, chegou a fazer inclusive palestras para famílias, contribuindo para a formação desse grupo. Em seguida, contratamos o Instituto Singularidades para a escrita da proposta pedagógica da escola, e, mais tarde, com a chegada da Educação Infantil, foi a vez de contratarmos o Instituto Avisa lá, com a formadora, Ana Carolina 28


Carvalho, para a formação dos professores da Educação Infantil. A partir de então, foram muitos ganhos, como escola, em razão de que se olhava para o fazer pedagógico. Um dos resultados que o Colibri trouxe na virada para escola foi o domínio da leitura e da escrita, fazendo muita diferença na vida daqueles que tiveram o privilégio de fazer parte dessa construção de saberes. Para a diretora Cecília, um dos maiores impactos era chegar ao fim do ano e ter alunos do G5 lendo! Infelizmente, no tempo da ação social, era possível identificar educandos de 6ª ou 8ª série (termo usado na época) analfabetos. Como Escola Colibri, foi pensado que seria possível ter uma Educação Interdimensional. Mas o tempo não foi suficiente para que isso acontecesse, sendo empecilho também: a cobrança da parte escolar, a qualificação dos professores, a formação de currículo... destacava-se mais a preocupação com a vida acadêmica. No entanto, o jeito do antigo Colibri, especialmente acolhedor, foi trazido para o modelo de escola. Todos, funcionários e famílias, reconhecem essa marca até hoje.

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Institucionalmente, o logotipo do Centro Educacional foi substituído para a escola formal.

Em meados de 2011, fomos procurados pela Rede Globo de televisão para gravar uma matéria que traduz um pouco do nosso trabalho. Aponte a câmera do celular para o QR Code a seguir e confira um pouquinho desse momento.

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO – UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA O Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Escola Colibri foi sendo construído, refletido e registrado. As primeiras ações voltadas para a redefinição da identidade do Colibri aconteceram no 2º semestre de 2011, quando a equipe gestora buscou auxílio externo do Instituto Singularidades para organizar desejos, sonhos e utopias, transformando-os em ideias e metas palpáveis e reais. No início desse processo, diálogos, conversas e muita história deram pistas da demanda, das necessidades, do desenho institucional que se configurava. O trabalho do apoio externo junto à equipe de gestão foi traduzir em ações e tarefas os fragmentos daquele discurso, como peças de um quebra-cabeça que, aos poucos, ia definindo as figuras e imagens. Nesse momento, novos profissionais chegaram para trabalhar no espaço do Colibri, e o início da discussão coletiva para a definição da identidade da escola foi se constituindo no grupo. Acredita-se que o processo de construção do Projeto Político-Pedagógico, bem como o próprio documento gerado por esse processo, é um instrumento unificador de concepções pedagógicas e de valores, apontando direções que devem orientar as decisões e ações de todos os participantes da comunidade interna e externa da escola. Gradativamente, o Colibri foi mudando sua realidade escolar e, igualmente, se modificando. Diante de tantas experiências importantes, surgiu a necessidade de sistematizar o trabalho que estava sendo realizado, pela escrita desse documento institucional, para dar um novo significado ao projeto pedagógico existente, já que este não respondia às exigências de uma nova prática pedagógica que surgia. Então, fez-se necessário escrever um Projeto Político-Pedagógico condizen31


te e coerente com a nova realidade. Mas de que forma isso seria feito? Teria de ser de um jeito participativo, envolvendo a todos da escola, pois essa é a forma de trabalhar que esse lugar acredita. Sendo assim, os princípios, os objetivos e as concepções registrados nesse documento representam, por consenso, os valores e as crenças de toda uma equipe. As pessoas sentem-se parte integrante desse projeto que reflete os interesses comuns dos profissionais que trabalham no Colibri.

Escrever o Projeto Político-Pedagógico (PPP) de forma participativa é uma experiência enriquecedora para uma equipe, mas a rotina atribulada de uma escola, em que muitas atividades são urgentes, não é tarefa fácil, pois o processo que envolve essa construção exige dedicação e empenho. Uma ajuda profissional, externa e experiente, fez-se necessária para auxiliar na elaboração do documento. Decidiu-se incluir os professores na elaboração do projeto político-pedagógico não apenas para o cumprimento dos dizeres da legislação mas, principalmente, porque a gestão da escola acredita que um projeto pedagógico para ter vida e entrar na sala de aula precisa traduzir a voz dos professores em uma dimensão político-pedagógica. 32


QUEM SÃO AS FAMÍLIAS QUE PROCURAM A ESCOLA COLIBRI? Acreditamos em uma escola de educação de qualidade para todos. Nesse sentido, atendemos tanto famílias de classe baixa como de classe média alta. Para as famílias que se encaixam nos critérios da Lei nº 12.101, cuja renda familiar mensal per capita não excede o valor de 1 ½ (um e meio) salário mínimo, o aluno pode ter bolsa integral 100%. Para as famílias, cuja renda familiar mensal per capita não exceda 3 (três) salários mínimos, o aluno pode ter o direito a bolsa parcial de 50%. Para as famílias que possuem nível socioeconômico diferenciado desses casos, a anuidade é integral. Com a convivência de diferentes classes sociais, todos aprendem, pois trocam saberes e conhecem mais a si e ao outro. Aprendem a respeitar diferentes realidades, a dividir, a respeitar a sua história de vida e a do outro, exercendo, na prática, sua cidadania. A família é a primeira instituição, primeiro núcleo em que a criança convive. Depois, quando passa a frequentar a escola, amplia os núcleos de convivência. Assim como os alunos, a família requer da escola compreensão, acompanhamento, trabalho e planejamento sistematizados. Mas, para que isso ocorra, a escola precisa estar aberta para a construção dessa parceria, entendida como uma união de indivíduos para alcançar um objetivo comum. ) O Colibri acredita na parceria entre família e escola e abre suas portas acolhendo crianças e familiares, por meio de experiências de convívio: encontros de pais, dia da família, mostra cultural, festas, atividades de interação entre famílias, alunos e escola, entrevistas e encontros entre coordenação e responsáveis. 33


“O Dia da Família é uma atividade de integração entre família e escola e se dá por meio de várias oficinas planejadas com muito carinho e dedicação pelos professores. Crianças e adultos brincam juntos, fazendo desse dia um momento único, pois, muitas vezes, os pais, na correria do dia a dia, não têm tempo para proporcionar momentos como esse”. Ana Maria Rodrigues Paixão (professora da Educação Infantil) A relação que se estabelece entre família e escola, assim como a que se estabelece com os alunos, é de confiança, respeito à sua história, sua origem, proximidade, afetividade, ou seja, uma real relação de parceria. Uma ação conjunta na educação dos alunos, já que cada uma das partes desempenha o seu papel com responsabilidade, incentivando, motivando e desenvolvendo habilidades que possam tornar o aluno uma pessoa capaz de observar o que está ao seu redor com um olhar curioso, de quem sabe fazer perguntas, de pensar e sistematizar o conhecimento. Família e escola são também responsáveis pela sociabilidade do aluno, despertando o compromisso social, a solidariedade e a consciência de seu papel na sociedade em que está inserido. A família e a escola são os principais alicerces da formação do aluno ao longo de sua vida. Ambas precisam estar próximas. Ainda há muito trabalho a ser desenvolvido, já que compreendemos a escola como lugar público, em que o exercício democrático possa ser vivenciado com a participação efetiva das famílias no processo de aprendizagem de seus filhos. Mas é 34


importante ressaltar que esse é um processo contínuo de participação coletiva. Portanto, os profissionais do Colibri compreendem que é um processo que deve ocorrer de forma permanente, pois a educação na vida de um cidadão, a responsabilidade familiar de educar e cuidar dos filhos e a consciência dos efeitos positivos da presença assídua da família dentro da escola, acompanhando o desempenho escolar de seus filhos, contribuem para o desenvolvimento e consequente sucesso das crianças como cidadãos habitantes de um mundo em constante mudança. Durante toda a história do Colibri, foi necessária uma escuta afetiva desse grupo chamado família. Assim como os alunos, fomos desenvolvendo planos de aproximação para uma parceria pautada no respeito e na confiança. No início, a família estava acostumada a ir para a escola para ouvir reclamações de seu filho. No Colibri, houve mudança de paradigma. Até o nome reunião de pais, passou a ser chamado de dia da família, ou encontro de família. O salão era tomado pelas famílias nos sábados letivos, chegando a quase 90% de presença. Em meados de 2020, um pouco antes da quarentena, aconteceu no Colibri, a vivência familiar, com a presença de pais, mães e seus filhos. Fizemos rodas literárias que proporcionaram momentos de acolhimento, e todos aproveitaram de forma prazerosa. Acreditamos que em breve faremos novas rodas literárias! Confira aqui como foi nossa experiência! (FOTO 18) 35


MÚLTIPLOS OLHARES, MUITAS VOZES. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: A ESSÊNCIA DO NOSSO TRABALHO Não era desejo que o processo de escrita do projeto político-pedagógico do Colibri tivesse como produto um documento semelhante ao de tantas outras instituições, localizadas em diferentes realidades e em contextos diversos. Era desejo que tanto o processo de elaboração quanto o documento produzido fossem representativos da identidade da escola, e, para isso, era necessário refletir sobre as mudanças que se faziam necessárias diante da realidade que agora se instalava. A Escola Colibri já trazia uma prática pedagógica construída nos últimos tempos, vivida nos momentos de planejamento, nas atividades de sala de aula, na forma de interação entre todos os seus atores – professores, auxiliares, coordenação, direção e pessoal de apoio. Os momentos de formação, com as intervenções dos coordenadores para a reflexão das práticas desenvolvidas, são de suma importância na escola, pois auxiliam e contribuem para a tomada de consciência, reflexão constante dos professores, transformando e aprimorando a ação 36


pedagógica de todos, visando à melhoria na qualidade do ensino. Logo nos primeiros encontros de formação, questões surgiram para movimentar os encontros coletivos de professores, auxiliares e equipe gestora. O grupo de trabalho era constituído por professores “antigos”, que acompanharam a história do Colibri, e os recém-chegados, trazendo uma formação profissional e um repertório cultural diferentes, originando, portanto, uma prática pedagógica que precisava ser ajustada ao desejado pela equipe Colibri. As questões iniciais propostas ao grupo tinham o objetivo de identificar o perfil profissional dos professores e, ao mesmo tempo, eram uma estratégia provocadora de reflexões e respostas: •

Atualmente, como está o mundo em que vivemos?

Como seria um mundo ideal? Quais mudanças deveriam acontecer? Como seria a escola nesse mundo ideal?

Que sociedade desejamos construir?

Que escola desejamos ser?

Que cidadão queremos formar?

Que professor o Colibri necessita para concretizar seus ideais pedagógicos?

Em quais concepções de sujeito, de aprendizagem, de educação e de avaliação acreditamos e queremos trabalhar? 37


Essas questões foram temas de conversas com a equipe gestora, pautas dos encontros de formação, motivo para a produção de textos coletivos, pesquisas de referenciais teóricos. Foi um processo de escuta, de dar voz aos professores, de interpretação de discursos pedagógicos, de organização de demandas, necessidades e desejos individuais que mais tarde iriam ser transformados em objetivos coletivos, em um Projeto Politico-Pedagógico de nossa escola. Coube aos assessores e à equipe gestora, em um trabalho conjunto e árduo, passar para a linguagem escrita o conjunto de ideais, concepções e valores, princípios educacionais e objetivos pedagógicos que se expressavam, desenhando a identidade da Escola Colibri, que, nesse documento, se revela representando o nível de consciência que o grupo conseguiu atingir até esse momento. O maior ganho desse processo foi assumir, no coletivo, elementos que estavam presentes na prática dos professores, traduzindo-os em objetivos e metas a serem alcançados.

BUSCANDO RESPOSTAS, IDENTIFICANDO MARCAS, DEFININDO IDENTIDADE, MISSÃO E CONCEPÇÕES Enquanto realiza sua função social, uma escola imprime marcas, intencionais ou não, na sua comunidade e, aos poucos, constrói a sua identidade institucional. Quando decide elaborar seu projeto político-pedagógico, olha para si mesma e resgata essas marcas, fortalecendo os aspectos que deseja manter e/ou enfraquecendo aqueles que não correspondem mais aos sonhos e desejos, definindo como quer ser reconhecida pela comunidade que atende. O Centro Educacional Colibri, em conformidade com a missão da Associação pela Família, definiu que seu trabalho é oferecer serviços educacionais para a formação de cidadãos críticos, questionadores e atuantes na sociedade em que estão inseridos, respeitando o contexto sócio, econômico e cultural dos alunos e as características das famílias. Para isso, assume compromisso com a qualidade, visando ao desenvolvimento de seus profissionais e ao aperfeiçoamento da prática pela formação continuada. 38


Deseja ser não só um espaço educativo de vivências sociais, de convivência democrática e, ao mesmo tempo, de apropriação, construção e divulgação de conhecimentos como também de transformações de condições de vida das crianças que a frequentam.

VALORES DO COLIBRI Os valores e as atitudes definidos têm uma dimensão transversal e devem estar presentes e visíveis nas relações sociais, pedagógicas e profissionais necessárias para o funcionamento de uma instituição escolar. Zabala diferencia o conceito de valor e atitude quando expressa que: “[...] entendemos por valores os princípios ou as ideias éticas que permitem às pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido”. Para o autor, atitudes são formas de condutas que as pessoas apresentam, baseadas nos valores que elegeram como adequado: respeitar o meio ambiente, ajudar colegas nas tarefas, realizar tarefas escolares. 39


A ESSÊNCIA DO NÉCTAR – MARCAS QUE CONQUISTAMOS DURANTE O TRABALHO •

Acolhimento

Escuta afetiva

Generosidade

Pertencimento

Espírito de equipe (“fazer com”)

Essas são as palavras que as pessoas que vêm nos visitar nos revelam e que acolhemos como marcas que nos representam de fato.

QUAIS CONCEPÇÕES ESCOLHEMOS? “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”. Rubem Alves 40


A equipe estudou e registrou alguns aspectos essenciais que fazem parte do que podemos chamar “acervo escolar” e que traduzem o que a nossa equipe acredita, valoriza e coloca em prática. São eles:

Educação •

Educar na diversidade e nas diferenças, sem distinção de classe social, cor, religião ou qualquer outra diferença.

Educar os sentidos e pelos sentidos para desenvolver em cada aluno a dimensão estética, a sensibilidade para as artes e a música.

Educar para garantir a todos o acesso aos conhecimentos básicos e fundamentais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I.

Educar para a inserção no currículo de experiências de observação, para o ensino da pesquisa e da intervenção no meio social e cultural.

Educar para a ampliação do repertório cultural.

Educar para formar cidadãos críticos, questionadores, atuantes na sociedade, considerando sempre os saberes existentes. 41


Para Jean Piaget, a principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.

Metodologia A metodologia da escola se apoia na concepção socioconstrutivista, uma vez que o papel da interação com o outro – aluno-professor/aluno-aluno – é fundamental para a construção do conhecimento. Nessa concepção de ensino-aprendizagem, consideram-se também os conhecimentos prévios dos alunos para a ampliação das diversas habilidades e competências e respeita-se cada aluno como ser único, em seus aspectos emocionais, cognitivos, pessoais e sociais. Promove-se a elaboração de perguntas para instigar o pensamento dos alunos, fazendo-os criar hipóteses e relações entre o que sabem e o que não sabem, descortinando o que precisam saber. Nesse sentido, os projetos ganham uma forma especial de aprender e ensinar. Os alunos são motivados à pesquisa sobre seus interesses e compartilham com os demais alunos para a construção de saberes coletivos.

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FAMÍLIA Não há escolas sem alunos, e não há alunos sem seus responsáveis, portanto, o Colibri valoriza a parceria com as famílias e com a comunidade, com intuito de complementar o trabalho desenvolvido em sala de aula. Os pais têm espaço no Colibri para participar do trabalho pedagógico, acompanhando o desempenho dos filhos, colaborando no desenvolvimento dos projetos e ajudando a construir, de forma permanente, o projeto político-pedagógico.

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ALUNO Acredita-se que o aluno é um ser único, ativo no processo de aprendizagem, com direitos e deveres, que devem ser respeitados, independentemente de sua classe social, considerando seus conhecimentos prévios, seus aspectos emocionais, cognitivos, pessoais e sociais.

“Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria o seguinte: o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe.” D. P. AUSUBEL

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EDUCADOR/PROFESSOR Contribui para que os alunos reconheçam a importância de seu papel na sociedade, que sejam capazes de lidar com o desafio da diversidade, interagindo com novas mentalidades e novas identidades. Para isso, está sempre em processo de aprendizagem; testemunha e vivencia os valores morais; tem sensibilidade, comprometimento e paixão; busca e fortalece o próprio crescimento humano e de seus educandos, fazendo-os enxergar o outro, bem como outras formas de enxergar. Nossa meta busca o conhecer, o fazer, o viver e o ser, idealizando uma sociedade atenta ao desenvolvimento integral, em que haja lugar para todos e todas, aberta às diferentes identidades, na qual as pessoas sejam felizes, e que as desigualdades fortaleçam as relações. Assim, o educador deve atuar como mediador, que provoca e incentiva a todo o momento o pensar, por meio de aulas bem elaboradas e questionadoras, permitindo à criança mostrar suas ideias e seus pensamentos. “O professor mediador é um conceito utilizado para caracterizar o professor que trabalha com a mediação pedagógica, significando uma atitude e um comportamento do docente que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos. A ideia de professor mediador surgiu com o desenvolvimento, a partir da década de 70, da “pedagogia progressista”, caracterizada por uma nova relação professor-aluno e pela formação de cidadãos participativos e preocupados com a transformação e o aperfeiçoamento da sociedade. Dessa forma, a função do professor deixa de ser o de difundir conhecimento para exercer o papel de provocar o estudante a aprender a aprender. Esse conceito também está presente na perspectiva da escola cidadã, idealizada por Paulo Freire, na qual o professor deixa de ter um caráter estático e passa a ter um caráter significativo para o aluno.” Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil, São Paulo, 2002

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O PAPEL DOS PROFESSORES ESPECIALISTAS NO TRAÇADO PEDAGÓGICO Artes/Música Essas linguagens articulam saberes referentes a produtos e fenômenos artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre formas artísticas. As artes visuais possibilitam aos alunos explorar múltiplas culturas visuais, dialogar com as diferenças e conhecer outros espaços e possibilidades inventivas e expressivas, de modo que amplie os limites escolares e crie formas de interação artística e de produção cultural, sejam concretas ou simbólicas. (BNCC) A música promove a ampliação e a produção dos conhecimentos musicais, que passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita 46


vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade. (BNCC) A Educação Física oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas. Elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movimento corporal, organização interna e produto cultural. (BNCC) Ano a ano, as crianças mergulham nas práticas de criação alinhadas aos projetos das turmas, imprimindo suas marcas nos espaços da escola: muros e taludes, azulejos no muro da quadra. Para a apresentação musical, ensaiam, treinam as notas em instrumentos musicais: flautas, xilofones, etc., e apresentam suas produções musicais às famílias nos eventos culturais: festa junina, formatura, show de talentos, etc. Campeonatos de diferentes modalidades esportivas, reúnem alunos e funcionários pelas quadras e campos da escola.

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O PAPEL DOS FUNCIONÁRIOS NO COLIBRI Fomos vinte, chegamos a sessenta, hoje estamos com 27 funcionários. Escrever sobre esse público é a oportunidade de contar a vocês algo que eu descobri na trajetória: a necessidade de trabalhar com esse grupo como mais um grupo que compõe a comunidade escolar. Quem faz o trabalho de uma escola são pessoas! Pessoas que têm sua história, trazem suas bagagens, adentram no projeto por identificação com a causa ou até mesmo por necessidade. Aos poucos, são “mordidos” pela isca, e, como alunos, aprendem no grupo, deixam suas marcas, revelam sua concepção e contribuem no espiral do processo de ensino-aprendizagem. São inúmeras histórias de afeto, gratidão, aprendizado, recuos e avanços... Histórias que nos marcaram e que permitiram sermos melhores do que aqui chegamos. Seria injusto talvez citar nomes e esquecer de alguns. Então, registramos somente a necessidade do olhar sensível a todo esse grupo que faz desse projeto um lugar tão especial! Há tantos lugares que fomos juntos conhecer por meio dos encontros de formação, em nossas conversas individuais, nos projetos que vivenciamos juntos, nas conquistas, nas perdas, nas confraternizações, nas saídas culturais, nos estudos em grupo. Para representar todos os funcionários a Anatália Maria de Jesus Lopes que é a mais antiga funcionária, nos representa por sua garra, disposição e alegria. Essas mãozinhas representam cada um dos funcionários. Ainda combinamos uma brincadeira para cada um responder: 48


“Daqui cinco anos, vamos nos encontrar na praça do Embu das Artes. Com quem você vai encontrar e que história ou situações vividas no Colibri você vai compartilhar com quem encontrou? Cada uma dessas histórias, serão compartilhadas no evento de encerramento deste Colibri em 17 de dezembro de 2021.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Temos como premissa que o trabalho de formação não cessa. A escola é vista como um ser vivo que se movimenta a cada dia, e por estar inserida no mundo que também não para. A reflexão do fazer é realizada na medida em que só posso aprimorar meu fazer pedagógico por meio dos instrumentos metodológicos, como observação, registro, reflexão e avaliação. Mesmo com os desafios orçamentários da mantenedora, a formação continuada se faz presente até os dias de hoje. Em 2016, foi o último ano de formação com as formadoras do Instituto Avisa lá; Ana Carolina Carvalho, com foco na leitura; Maria Eugênia (Tucha) e Maria Clara da Escola da Vila, com o foco em matemática para a Educação Infantil e séries iniciais; e Rosângela Veliago na formação do Ensino Fundamental. Depois, toda a formação passou a ser planejada pela Coordenação da Escola Colibri. No início as formações eram para todo o grupo de professores, dos diferentes ciclos. Um pouco mais na frente, a formação passou a ser específica por temas ou necessidades dos professores e de cada ciclo. Assim, iniciamos com o trabalho de linguagem oral e escrita, dando voz à ênfase de projetos didáticos e sequencias, pertinentes a cada série, nos diferentes ciclos. A outra demanda se deu na área da matemática. O trabalho com a formação na área de 49


Matemática tem como objetivo criar contextos de reflexão e aprofundamento do conhecimento didático e avanços em relação às práticas, que potencializam a construção coletiva de um rol de boas experiências docentes. Essa formação teve como foco tematizar e aprofundar os conteúdos matemáticos, de modo que o grupo de professores se torna, progressivamente, mais conhecedor e instrumentalizado – para que o trabalho nessa área possa intervir junto aos alunos de modo seguro, intencional e eficiente para a realização do planejamento das aulas e avaliação das aprendizagens dos alunos. Foi desenvolvido com os professores da Educação Infantil e professores e coordenadores do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano). Num segundo momento, Rosângela Veliago, trabalhou o foco na compreensão sobre a avaliação e suas funções: diagnosticar os conhecimentos prévios “trazidos” pelos alunos para planejar o ensino; possibilitar a identificação das ajudas específicas que eles necessitam; subsidiar o feedback do professor a respeito dos aprendizados obtidos; analisar o valor da ação pedagógica em relação às expectativas de alcance. Percebendo os desafios encontrados, na prática, em tematizar situações didáticas para os professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, era necessário um olhar mais apurado nas práticas dos professores do segmento da Educação Infantil. Foi quando a direção interveio e convidou o Instituto Avisa lá para compor as propostas de assessoria pedagógica. Foi um ajuste certeiro que muito contribuiu no processo, ressignificando o espaço de leitura dentro da escola. A partir dai, ações como: clube de leitura, o gosto da leitura, o que fazer antes e após a leitura, visita a espaços de leitura, diferentes gêneros, escolha de acervo, elaboração de espaço de leitura, foram ganhando um espaço especial na escola. Um pouco mais tarde, foi a vez de refletir sobre o brincar na infância, ressignificar as práticas do cotidiano: formação de cantos diversificados, faz de conta, jogo simbólico, e as intervenções pedagógicas no brincar. Já em outro momento, estudo sobre o meio natural pensando na vasta área verde da escola em que os projetos de natureza são desenvolvidos, sistematizando etapas, 50


campo de investigação, pesquisa, procedimentos, registros dos bichos observados, escolha dos materiais de manipulação para melhor observação, saber comum e saber científico. Quantas descobertas.... Seguimos refletindo sobre as práticas de leitura e escrita, comportamento leitor e escritor, como fazer boas recomendações literárias, escolha do livro, conversa sobre a leitura destacando os achados artísticos. Mas como trabalhar com os alunos sem passar pelo professor? Assim, nos encontros de formação os professores escolheram alguns títulos para serem lidos: “O Menino do dedo verde”, “Arroz de palma”, “ Alice no país das maravilhas” , “ Alice através do espelho” e “A hora da estrela” . Em um dos encontros de formação, os professores trouxeram de casa objetos que retratavam memórias do tempo de infância, com fotografias de quando eram pequenos, casa da roça, quantidade de irmãos, bule de ágata, pedrinhas e alguns relatos orais que foram lembrando. Fizeram uma roda de apreciação dos objetos e cada um compartilhou as memórias mais significativas que a leitura aguçou no grupo. Quantas experiências boas, inúmeras produções coletivas, registros por meio de fotos e vídeos, revendo o caminho percorrido, quantas aprendizagens serão levadas para as próximas paragens e percursos que trilharemos.

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APRENDIZADOS NA COMUNIDADE COLIBRI Composta de funcionários, alunos e famílias, com o tempo fomos construindo e alicerçando elos que foram alinhavados com as histórias de cada um pegando um pedaço de tecido para o acolhimento: reuniões de pais, mostras culturais, sessões simultâneas de leitura, estações culturais, formaturas, vivências com os filhos, construções de bonecos com os filhos, oficinas de artesanatos, entre outros; mais um pedaço de tecido colorido de parceria convidando os envolvidos a fazer junto: eu olho de cá, você olha de lá; e outro pedaço de tecido multicor para revelar as manifestações culturais, as etnias, os diferentes pontos de vista, o olhar da escola, o olhar da família, os diferentes olhares passando por um crivo em que muitas vezes foi preciso girar para observar de perto e outras vezes girar novamente para observar de longe para definir novas rotas. Diante dos desafios, procuramos exercitar a capacidade de viver o aprendizado por si próprio e por meio dos colegas, apoiadores, parceiros, frutos colhidos do processo de desenvolvimento da autonomia. Juntamos esforços e observamos que alunas e alunos, famílias e a equipe Colibri evoluímos juntos. O mundo é um bem comum e a realidade é cons52


truída cada vez mais de maneira colaborativa. Por isso, foi no dia a dia que procuramos, com nossas ações, aproximar, conviver e produzir juntos. Acreditamos que o compromisso do indivíduo com a coletividade se fortalece junto com sua potência para contribuir com o todo. Colhemos frutos com o empenho de todos!

O ALÇAR VOO DO COLIBRI Consolidada, a prática pedagógica era realizada por todos e, no exercício incessante do registro, alguns trabalhos foram publicados em revistas de educação. Em 2017, o Colibri voa para outras instâncias, levando sua essência, atingindo sua relevância...

PROFESSOR NOTA DEZ – PELA FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA O Prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita. Reconhece e valoriza professores e gestores escolares da Educação Infantil ao Ensino Médio de escolas públicas e privadas de todo o país. A professora do 1º ano do Ensino Fundamental, Luana Veiga de Pinho Portílio, foi premiada, nesse ano, como as dez melhores professoras do país, pelo projeto Aves do Entorno, na área de Ciências. Os alunos do 1º ano da professora Luana aprenderam na prática os comportamentos de um observador de aves. Tiveram como desafio, nesse estudo, investigar o entorno da escola para conhecer e identificar quais aves visitavam o local. 53


Além de ler textos, assistir a documentários e programas de reportagem, eles anotaram e desenharam em um livro de observações as características, as cores, os tamanhos e os tipos de bico das aves encontradas. Muitas crianças comprovaram nesses registros coisas pesquisadas nos textos, como o comportamento das aves, a construção de ninhos e sua alimentação. Ao propor situações de aprendizagem com questões desafiadoras e possíveis de serem respondidas pela observação da natureza, a professora desenvolveu a cultura científica em seus alunos, o que envolve a capacidade de compreender e interpretar o mundo.

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PROJETOS EM DESTAQUE PUBLICADOS NA REVISTA AVISA LÁ Contos clássicos “As crianças veem a leitura como algo mágico, mas o que confere essa magia não são apenas os personagens, temas, ou qualquer acessório usado por quem lê.” Professora Ana Maria Paixão – G5 O projeto Contos Clássicos foi desenvolvido com o grupo 5 com o objetivo de ampliar o repertório de contos tradicionais e criar oportunidade para a apreciação da escuta atenta dos contos clássicos. (fotos 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 53 e 54)

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CORREIO POÉTICO “A experiência literária brinda o leitor-ouvinte com as coordenadas para que ele possa nomear-se e ler-se nesses mundos simbólicos que outros seres humanos construíram.” Yolanda Reys Publicado na revista Avisa lá, dia 17 de agosto de 2017, o artigo “Correio poético” foi realizado com o grupo 3, envolvendo os dois 2º anos. Uma caixa de correio foi decorada para que os alunos depositassem as cartas, e, todas as terças-feiras, as crianças olhavam para ver se havia alguma carta; o grupo recebia poemas, respondia com outros e realiza a escrita coletiva de livros apreciados em sala. E, para surpresa, a escola toda passou a desenvolver também o projeto Indicação Literária. A poesia já estava presente no cotidiano das crianças, assim como a leitura, a contação de histórias e o reconto oral.

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PROJETO AVES DO ENTORNO “O sujeito aprende na interação, tanto com o objeto de conhecimento quanto com parceiros mais experientes, a respeito do que está aprendendo.” Kátia I. Brakling Esse projeto foi publicado na revista Avisa Lá e, no mesmo ano, possibilitou que a professora Luana Portílio ganhasse o prêmio Professor Nota Dez. Como vimos, é um projeto desenvolvido com o 1º ano com o objetivo de despertar o interesse pelo mundo natural, compreender e fazer uso dos procedimentos de pesquisa, favorecer a observação das aves do entorno e compreender e fazer uso dos procedimentos de escrita.

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DÁ PARA FAZER MELHOR Em 2019, houve mais uma oportunidade de levar nossa prática para fora da escola. Com a série Dá para fazer melhor, do Instituto Avisa lá, a professora do segmento da Educação Infantil do G5 – grupo de alunos com 5 anos, Érica Teixeira Durães, foi convidada, pelo instituto, para contribuir com as reflexões sobre a leitura. A série “Dá para fazer melhor, Ler e contar... não é tudo a mesma coisa?”, tem como objetivo promover a reflexão sobre a prática da leitura e apontar novas possibilidades sobre o fazer pedagógico no cotidiano da escola, valorizando o saber teórico-prático do professor. Composta de cinco episódios (vídeos curtos) que abordam temas da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, a série trata do tema “Leitura na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental”. Confira um pouquinho desta experiência:

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No dia 21 de julho, chegou a vez da orientadora Luciana Santos. Luciana é apaixonada pela literatura, quase uma poetisa nata. Adentrou no Colibri de mansinho e, aos poucos, foi construindo a intervenção pedagógica junto aos seus professores. Com o olhar atento ao fazer pedagógico, ao atendê-los, sempre deixa o convite para uma nova leitura, faz o professor sair do seu lugar de conforto para avançar em seu processo no ato de educar. Responsável por acreditar em seus educadores, não mediu esforços para que cada um pudesse avançar em seus projetos, registrando-os e publicando-os em revistas renomadas sobre educação. Não é à toa que logo foi convidada para participar da Jornada Pedagógica Companhia na Educação, promovida pela Companhia das Letras e pelo Instituto Avisa lá. A contribuição foi falar sobre as práticas de leitura desenvolvidas na Escola Colibri. Luciana compartilhou a experiência com o projeto Colibri-lê, que ressalta a importância do envolvimento da comunidade de leitores e promove a valorização e a preservação de um acervo de qualidade dentro de um espaço habitável e acolhedor. Com base em seus relatos, foram reveladas contribuições como a formação continuada e as rodas simultâneas de leitura. Também foi apontada a necessidade de um acervo vasto de livros e de murais com indicações literárias, além do intercâmbio de leitores, da ampliação de repertório e da participação das famílias.

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PROVANDO O NÉCTAR NA PRÁTICA PROJETOS INTEGRADORES DA ESCOLA COLIBRI São projetos integradores aqueles que, por seu mérito, atingem toda a comunidade escolar, transformando-se em um projeto de muita relevância.

Colibri-lê No percurso formativo em que escolhemos aprofundar o foco da leitura, a formadora Ana Carolina Carvalho, do Instituto Avisa lá, apresentou-nos o projeto Entorno, no intuito de aguçar nossos professores pela paixão pela leitura. E deu certo! Ficamos encantados com a experiência e vimos que era possível desenvolvê-la em nossa escola. Dessa forma, adequamos o projeto a nossa realidade circundante, investindo em práticas sociais de leitura, sistematizando as etapas anteriores até chegar às sessões simultâneas de leitura. O projeto Colibri-lê envolve toda a comunidade escolar em sessões simultâneas de leitura, utilizando diferentes espaços externos da escola. A sistematização dos encontros de leitura promove a integração dos grupos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I, além de favorecer bons resultados no trabalho com a ampliação do universo cultural dos alunos. Acreditamos que se aprende a ler, lendo, exercendo o papel ativo de ouvinte e de leitor na construção de significado no processo de leitura, com base no conhecimento prévio a respeito do assunto, do autor e do que se sabe sobre a língua – características do gênero, do portador, do sistema de escrita, entre outros. Nas sessões simultâneas de leitura, consideramos a qualidade literária, o interesse e a adequação à faixa etária, promovendo a socialização de livros escolhidos, a preparação de estratégias de leitura. Acontece uma vez por mês, e todo o planejamento e a organização são realizados pelos professores, em uma noite de formação pedagógica. 64


Esse projeto é o “carro-chefe” da Escola Colibri, por ser um projeto integrador, abrangendo não só os alunos de toda a escola como também os funcionários, uma vez que os próprios alunos convidam os funcionários para escutar diferentes histórias. (FOTOS 74/75/76)

Buscando ampliar o universo cultural dos alunos por meio da literatura, são realizadas sessões simultâneas de leitura envolvendo todo o público escolar, considerando as seguintes etapas: 1ª etapa: escolha dos livros pelos professores, levando-se em conta a qualidade literária, o interesse e a adequação à faixa etária das crianças;

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2ª etapa: socialização, com os colegas, dos livros escolhidos por cada um dos professores e preparação da leitura; 3ª etapa: escrita da indicação literária pelos professores de cada um dos livros que serão apresentados; 4ª etapa: produção do painel com a capa e a resenha do livro e da ficha de inscrição a ser preenchida pelas crianças; 5ª etapa: inscrição pelas crianças na sessão em que querem participar; 6ª etapa; rodas simultâneas de leitura; 7ª etapa: discussão e comentários das crianças no retorno às respectivas salas.

Quintais – um lugar de brincar O Projeto Quintais foi ganhando força ano a ano no segmento da Educação Infantil. O objetivo do trabalho no Projeto Quintais é promover um clima que permita às crianças sentirem-se à vontade para fazer escolhas, comunicar suas vivências e ideias, exercer a autonomia, compartilhando saberes e construindo conjuntamente novos conhecimentos. Pensando em criar um ambiente de integração em diferentes faixas etárias, o projeto mistura alunos de 4 a 5 anos, explorando diferentes espaços da escola. Elegemos temas como: pintores famosos, corpo/movimento, circo e profissões. As professoras planejam as atividades pensando na composição de grupos por trimestre e os alunos podiam escolher as estações. Selecionamos os registros das estações de aprendizagem, trabalho realizado no ano de 2018 para contar a vocês:

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ESTAÇÕES DE APRENDIZAGEM: EXPLORAÇÕES E BRINCADEIRAS A mistura das crianças com idades entre 4, 5 e 6 anos, propiciou a criação de Estações de aprendizagens. Nelas, partilharam vivências, buscaram novos saberes, conquistaram autonomia e transformaram espaços da escola em lugares de aventuras, brincadeiras e magia. Nas propostas de atividades, o mundo maravilhoso da infância foi sendo resgatado e explorado; as crianças entraram em contato com diversos materiais, brincadeiras, deixando suas marcas por onde passaram.

Estação 1 – Quintal poético de vila com as casas construídas pelas crianças, poesia nas ruas Arte, literatura e o brincar As crianças inventaram casas com materiais não estruturados, como caixas de papelão, na medida em que participavam dos quintais de construção, indo para espaços externos da sala, pintando as paredes, construindo telhados. Dessa forma, a brincadeira ficava mais incrementada, e o olhar atento da professora permitiu ao grupo criar um canto de vila. Mas como se daria isso? Por meio de rodas de conversa, a professora apresentou uma proposta de construção. Mas construir o quê? Casas dos bairros em que as crianças moram! O percurso foi enriquecido com a literatura do livro “Poemas para brincar” do autor José Paulo Paes. Brincando na vila, tornou-se evidente a cultura local dos bairros onde moram, os detalhes das casas e das ruas e os aspectos da vizinhança. O mais importante para a criança não é o produto acabado, mas sim o envolvimento no processo de criar e inventar em seu percurso criativo, assim, as crianças do G4, G5 e 1º ano escolheram o território de construção, partindo da observação do bairro e das casas onde moram. As casas foram construídas com caixas de papelão pelas crianças, e a atividade foi mediada pelas professoras. Durante o processo de construção, as crianças fizeram a planta, decidiram como seria a casa, pensaram na estrutura e depois deram o acabamento com a pintura. O espaço da vila 67


foi organizado com a orientação dos alunos, com faixas de pedestres, pontos de ônibus, posto de saúde, padarias, pontes e até, pizzaria. Brincando, as crianças passearam nas ruas do bairro, dirigiram os carros passando pelas ruas, pontes, guardando seus carros nas garagens. Brincando, as crianças reproduziram o itinerário que fazem diariamente com seus pais, enriquecendo a brincadeira com a cultura local.

A família no projeto O convite foi estendido à cada família que, a sua maneira, construiu e foi encaminhando para a escola, compondo o canto de vila que ficou em exposição no dia da mostra cultural. Com essa atividade, as crianças depararam-se com problemas estéticos e desenvolveram estratégias para solucioná-los, dominaram procedimentos básicos de materiais e meios específicos, por exemplo, usar pincéis, realizando pintura, apreciar suas próprias produções, bem como as dos colegas, construir significações para a experiência do tempo e do espaço da criação.

Estação 2 – Sons no bosque dos dinossauros, escultura grande de dinossauros e confecção de dinossauros em família

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Arte, literatura e o brincar Partindo do interesse do grupo por dinossauros, a professora propôs às crianças uma expedição nos espaços da escola, e os dinossauros tornaram-se inspiração do brincar na estação 2. Após brincarem bastante com os dinossauros de brinquedos, é hora de contar a história do mundo dos dinossauros e imergir no universo infantil por meio de inúmeras rodas de conversa, brincadeiras e exploração sobre as espécies e os sons produzidos pelos seres pré-históricos. O brincar no território dos dinossauros possibilitou às crianças que participaram da estação de aprendizagem 2 uma viagem ao mundo dos dinossauros, investigando e estudando esses animais pré-históricos. Alguns aparelhos podiam ser utilizados na brincadeira: laptops dispostos no espaço serviram para um subgrupo realizar a pesquisa sobre as espécies, as máquinas fotográficas eram um recurso utilizado para fotografar os dinossauros, registrando tudo o que fazia parte do território. Além da pesquisa e do registro com foto, outro subgrupo fazia escavação na serragem e na areia à procura de pedras antigas que também faziam parte do contexto dos dinossauros. As crianças enterravam os dinossauros e depois faziam a escavação para encontrá-los. Tudo isso faz parte do conhecimento das crianças e mostra quanto elas se apropriam dos procedimentos de pesquisa, imitando o que os arqueólogos fazem estudando as culturas, as semelhanças e diferenças das espécies de dinossauros. Após a escavação, as crianças fizeram uma festa de aniversário para os dinossauros; felizes ocupando o espaço e brincando, revelam quanto gostam do campo de exploração e da pesquisa. Crianças que têm como atividade principal e espontânea a brincadeira, que permitem inventar e reinventar com o outro, com os objetos, que buscam o tempo todo um papel que possa atuar e envolvendo-se com o grupo, por meio das ações, mostram-se fortes, curiosas, amigas, alegres, verdadeiras protagonistas na transformação dos espaços.

A família no projeto 69


Foi proposto aos pais construírem dinossauros com seus filhos, usando materiais não estruturados. As crianças traziam os dinossauros para a escola como troféus conquistados, apresentavam na roda os materiais utilizados e o processo de construção em família. No dia da mostra cultural, os dinossauros construídos pelas famílias fizeram parte do acervo de materiais sobre o mundo dos dinossauros e encantaram os apreciadores dos seres pré-históricos. As crianças aprenderam a produzir materiais para brincar utilizando referências de estudos realizados pelo grupo; conhecer e identificar espécies de dinossauros; comparar suas ideias com as ideias dos colegas decidindo sobre o que é melhor explicar sobre os seres estudados; conhecer explicações mitológicas utilizadas por diferentes povos para explicar os mistérios do mundo; utilizar objetos variados para construir engenhocas, por exemplo, um dinossauro gigante; reconhecer diferenças entre passado e futuro por meio da comparação de fatos, fotografia e outros marcadores de tempo.

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Estação 3 – Embu das Artes é aqui! Descobrindo pequenos artistas plásticos – experiências com o barro Arte, literatura e o brincar As crianças da estação 3 adentraram o universo de modelagem da ceramista Célia Santiago.

Nas linguagens plástica e visual, as crianças da estação 3 vivenciaram e apreciaram o trabalho da ceramista Célia Santiago, que mora em Embu das Artes, realizaram leituras de suas obras e tiveram a oportunidade de conhecê-la. O grupo se interessou pelas produções da artista e confeccionou casinhas com materiais não estruturados. O encantamento com a visita ao ateliê da artista ficou estampado no olhar das crianças, e a anfitriã acolheu o grupo radiante de alegria. As crianças são como arte: pura expressão, afinidade, espontaneidade, capacidade de comunicação, de diálogo com o mundo e com a vida. 71


“Arte é forma de conhecimento, pois envolve a história, a sociedade, a vida. Não está apenas ligada à ideia de prazer estético, contemplação passiva, mas ao contrário, é dinâmica e representa trabalho já que possui forças materiais e produtivas que impulsionam as relações históricas e sociais e leva o homem à compreensão de si mesmo e da sociedade.” Cavassin, 2008, p. 49 O início do projeto se deu assim: A professora repertoriou o grupo com modelos de casas de Ítalo Calvino, e, por ter contato com uma artista plástica da região, fez o convite para que realizasse um trabalho voluntário com o seu grupo de crianças. Apresentado o percurso por onde trilharia com as crianças, a ceramista aceitou prontamente o convite e contribuiu em grande medida na jornada criativa do grupo. A visita da artista plástica Célia Santiago, na Escola Colibri, aconteceu em 26 de junho com as crianças da Estação 3 – Algumas crianças fizeram a recepção e foram conduzindo-a aos painéis com as produções. Em seguida na roda de conversa, as crianças se apresentaram e fizeram algumas perguntas relacionadas ao trabalho da ceramista. Como você faz as casinhas? Quais materiais usa? Como são feitos os bonequinhos? O grupo ficou bem eufórico, pois tudo na artista chamava atenção: sua saia com bonecos, seu colar com uma mini-igreja da matriz de Embu das Artes... Depois da roda, fomos para a sala e ela trouxe alguns materiais e um quadro o qual todos apreciaram e fizeram perguntas sobre ele; apresentou as ferramentas utilizadas por ela, algumas compradas e outras elaboradas por ela própria; e, como demonstração de seu processo, trouxe uma casinha em argila na qual foi criando a porta, a janela, o telhado... para as crianças, parecia mágica, e algumas até comentaram: você faz mágica! A casinha começava a ganhar vida, e ela explicou que depois de feitos todos os detalhes, a peça vai para um forno que deixa a peça dura para depois ser pintada. Em um segundo momento, ela explicou como faz os bonecos com massa de biscuit e propôs que cada criança fizesse um com massinha. Foi explicando as etapas, começando com a cabeça, depois o corpo, os braços e as pernas, e cada criança fez e apresentou para ela. E, para finalizar, propôs que fizessem um boneco de tecido para levar para casa. O grupo preparou uma surpresa: 72


uma exposição de casinhas feitas com caixas. A artista ficou encantada com as produções do grupo. No dia 25 de agosto, foi a vez das crianças irem ao ateliê da artista Célia Santiago. As crianças ficaram encantadas com o espaço, com os trabalhos apresentados e a diversidade de recursos na sala de estar. Alguns entraram dizendo: “Uau!”, “Que incrível!”. As crianças exploraram cada detalhe da sala, e a artista acompanhava os olhares atentos e curiosos do grupo. Realizaram na sala do ateliê uma intensa roda de conversa em que as crianças contaram a ideia da casa da imaginação. A artista perguntou como elas imaginam que é a casa da imaginação: como um prédio cheio de apartamentos, casa de hotel, casa de quadro, casa de céu, casa de argila, casa com telhado muito bonito, de barro, casa de árvore, de nuvem, de palha, de madeira e massinha, casa invisível? Em seguida Célia pergunta: Uma casa para ser um lugar muito bom de morar, o que precisa ter? E logo a imaginação das crianças falou mais alto: ser na praia, ter piscina, ter areia, ser uma chácara, terreno com lugar para fazer festa junina. Qual é a casa da imaginação onde todo mundo carrega tudo? — A nossa cabeça, responde um aluno. — É a nossa cabeça que cabe tudo que quero observar, diz Célia. Depois, as crianças realizaram um desenho no papel sulfite; cada uma desenhou a sua casa da imaginação. A ceramista retornou à escola, mas dessa vez para que as crianças tirassem a ideia da casa imaginária do papel e fizessem a modelagem usando argila, contribuindo com a técnica e o cuidado com esse material, de forma que as crianças pudessem manusear melhor e fazer as esculturas. 73


E as casinhas iam ganhando forma: amassar bem, bater dos lados, usar as ferramentas adequadas nas linhas dos telhados, portas e janelas. Fizeram também esculturas das copas das árvores e em outro dia, Célia retornou para a finalização. As peças foram para a olaria e lá foram colocadas em um forno apropriado, passando pelo processo de queima em que as peças até mudam de cor por causa do calor e tornam-se mais resistentes. A artista retornou trazendo as peças que foram pintadas pelas crianças, compondo uma valiosa maquete coletiva: a cidade “Queros Colorido”, que ficou exposta no dia da mostra cultural, em 27 de outubro de 2018.

A família no projeto Na reunião de pais do 2º trimestre, a professora apresentou o percurso de estudo das crianças sobre as obras da ceramista Célia Santiago, e as famílias construíram uma maquete com as diferentes casas da imaginação utilizando materiais não estruturados, preparando uma surpresa para seus filhos, que chegariam na escola, no início da semana e apreciaram o trabalho dos seus pais.

MOSTRA CULTURAL – O COROAMENTO DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS EM CADA ANO LETIVO Com data prevista em calendário, toda a equipe se envolvia na organização da estrutura da exposição dos produtos finais dos projetos desenvolvidos evidenciando as produções dos alunos. O coroamento se dava com a participação das famílias apreciando o percurso de aprendizagem de seus filhos nas etapas do projeto. Partilhamos com vocês a experiência da nossa IX Mostra Cultural: “Achadouros literários”, em que organizamos estandes com os materiais produzidos pelos alunos com poemas de Vinicius de Moraes, contos clássicos, músicas da MPB, contos de bruxa, reinações de Narizinho, literatura de cordel e mitos gregos. 74


Na exposição dos produtos, procuramos evidenciar o percurso e o protagonismo dos alunos, suas descobertas e aprofundamento dos estudos, trazendo a essência do fazer coletivo de cada grupo. Os visitantes e as famílias adentravam os achadouros do viés literário em que os filhos e todos os estudantes da escola se envolveram e imprimiram suas marcas.O trabalho pedagógico precisa ser revelado ao público envolvido, e assim fazemos ano a ano convidando-os à apreciação.

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NEM A PANDEMIA IMPEDIU DE VOAR A RESILIÊNCIA E, como na lenda do colibri, fomos heróis! Há inúmeras situações que poderíamos citar aqui e que verdadeiramente nos fez mais resilientes. A transformação do modelo de ação social para o escolar; o impacto orçamentário e institucional, nos convidando a fazer uma escola com pouco recurso material; a perda de colegas e excepcionais profissionais que, pela crise institucional, tiveram de ser desligados; o enxugamento das turmas, dos serviços e recursos para manter a escola sem perder sua essência. Sim, hoje fomos mais fortes! Ainda educadores sonhadores, pois jamais vamos desistir de nossas crianças! Mas foi em 2020 e 2021 que colecionamos experiências árduas, que mexeram com os nossos mais íntimos sentimentos. Surpreendidos pela pandemia de covid-19, que afetou o mundo todo, a escola fechou em meados de março de 2020; e, sem tempo de se preparar, precisou, a muito custo, se reinventar para dar conta de seus objetivos. Um novo modelo se instalava, e, na escuta diária e afetiva com as famílias, a escola foi desenhando e redesenhando esse modelo. Com práticas inovadoras, principalmente pelo uso da tecnologia, impulsionou os professores para aulas e eventos de forma on-line. Durante todo esse período, ficamos reféns das autoridades governamentais que, a cada minuto, soltavam uma nova deliberação, provocando na equipe gestora e pedagógica uma sobrecarga de pressão, trabalho e muita cobrança, muitas vezes contrárias ao que acreditamos e fazíamos. Mesmo assim, fomos, com cuidado, tentando acolher as demandas, não deixando que nossas marcas fossem perdidas. O ano de 2020 foi um dos mais difíceis e desafiadores. Com pouca diretriz, e sem saber o que estava por vir, tivemos de apagar incêndios por todos os lados: alunos com dificuldade de apren76


dizagem, famílias perdidas sem conseguir auxiliar e acompanhar o processo de aprendizagem de seus filhos, diretrizes governamentais descabidas, cobrança das famílias pelo retorno presencial, falta de recurso tecnológico para os alunos aprenderem em suas casas, falta de espaço adequado para os alunos estudarem em casa, dificuldade da família na busca dos materiais elaborados pelos professores, dificuldade dos professores no conhecimento e na utilização de ferramentas tecnológicas, exaustão e desequilíbrio emocional de professores, alunos e até familiares. Sim, era preciso aprender a ensinar sem o contato físico e corporal que até então sempre nos ajudara a olhar para o aluno como um todo. Mas, mesmo com todos esses desafios, chegamos ao término do ano com a realização de um trabalho ousado. A formação de professores e até mesmo as rodas literárias, com a participação das famílias, aconteceram de forma on-line.

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“Com a pandemia em pleno auge, a mudança para o on-line foi necessária, porém bastante exaustiva. O acontecimento de uma transição deve ser planejado, jamais de forma abrupta. Essa convenção, no entanto, ficou fora de cogitação pela urgência do inesperado. Foi muito difícil (sem contar o desafio tecnológico) principalmente porque o acompanhamento da aprendizagem das crianças foi eventualmente sacrificado. Avaliar papéis escritos ou, ainda, “acompanhá-las” nas chamadas de vídeo, em sua maioria com câmeras fechadas, foi desafiador. Alunos e alunas são avaliados como um todo, ou seja, implica observação do comportamento, manifestações emocionais, sem contar que, a expressão corporal diz muito sobre a construção dessa aprendizagem. Particularmente, passei por momentos de ansiedade, me sentindo vulnerável... Nada supera a formação de vínculos, confiança e intimidade que somente a convivência, “olho no olho” pode proporcionar. Mas é fato que ter essa experiência também foi uma oportunidade de me reinventar e consequentemente adquirir novos conhecimentos”. Professora Jô, 5º ano B

E olhem só a Jô se superando em momentos online, também tivemos momentos incríveis!

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VIÉS DA POESIA EM TEMPOS DE PANDEMIA Dani Mattos é apaixonada por música e desenvolve vários trabalhos nessa área. Em meados de 2020, e aproveitando a pandemia, aconteceu um Sarau de Vinicius de Moraes, por Dani Mattos. Com base na obra do poeta e compositor Vinicius de Moraes, a cantora, educadora e regente Dani Mattos propôs uma oficina de criação de um sarau com a participação de funcionários da Escola Colibri. O sarau já era uma atividade que complementa o ensino de Literatura em sala de aula. Professores, funcionários e alunos tem a oportunidade de interagir ao ler em voz alta para os demais a poesia e a prosa do autor em questão, que ganha vida na voz e interpretação de cada participante. A leitura compartilhada envolve e cativa todos os participantes de maneira distinta, propiciando delicada integração. Com a chegada da Dani, houve a orientação de como criar um roteiro para a apresentação de sarau e exemplos de atividades já realizadas. Dani Mattos inicia o trabalho com os professores, mas logo um professor já abraça e repassa para seu grupo de alunos com a participação de outros funcionários. Todos aconteceram de modo virtual, na “janela” de suas casas, já que a escola permanece fechada devido a pandemia. Esta oportunidade trouxe, não somente a integração, mas um pouco de alegria para todos os envolvidos, que diante de tanta tristeza pelas consequências pandêmica, puderam desfrutar de momentos prazerosos.

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INTERVENÇÕES LITERÁRIAS EM TEMPOS DE PANDEMIA Renata Trufa é psicopedagoga, neuro educadora, arte terapeuta e contadora de histórias, atuando com técnica e sensibilidade, valor à singularidade e estímulo à autonomia. No dia 20 de abril, o grupo do 2º ano do Ensino Fundamental recebeu, virtualmente, a contadora de histórias, Renata Trufa. Com os olhos brilhando e ouvidos atentos, as crianças ouviram e apreciaram a história “O espelho mágico”, contada com maestria. Como forma de agradecimento pela visita, os alunos elaboraram ilustrações sobre a história, homenageando a autora.

E QUEM DISSE QUE NÃO DAVA? Como participante do projeto de Dani Mattos, a professora Ana Maria Paixão levou seus alunos para um verdadeiro show. As crianças da turma do G4, no dia 27 de novembro de 2020, deram um show revelando seus talentos; de suas janelas, apresentaram poemas de Vinicius de Moraes à equipe da escola e como não poderia deixar de faltar, o convite à convidada especial Dani Mattos! E que extraordinário sarau poético! Ficaram tão empolgadas que gravaram alguns vídeos, e as famílias enviaram para nossa apreciação. 80


A POLINIZAÇÃO A DESPEDIDA DOS COLIBRIS “Juntar forças e ser capaz de, como catadores de sonhos, coletar partes desta jornada de tantas conquistas é o que nos faz levantar todos os dias para terminar este projeto de forma digna em respeito a todos os alunos, famílias e funcionários que hoje estão aqui, nas páginas deste livro, em forma de memórias afetivas que revelam momentos únicos de comprometimento e compromisso com o aluno! Anunciado o encerramento desta escola é ter a certeza de ter deixado em cada um de nós uma marca profunda de aprendizado que levaremos para nossas vidas! Ainda sem acreditar que esse encerramento possa acontecer, nos pegamos unidos e brincando pelos corredores da escola, impulsionando uns aos outros. Um choro daqui, um grito dali, vamos a cada dia um socorrendo o outro, pensando em ações maravilhosas de celebração para cada um dos grupos atendidos por esta escola. Choramos ao relembrar e registrar, por meio deste livro, algumas experiências de tantos colibris. Pairamos em situações que nos marcaram para partilhar com cada um de vocês. O fechamento de ciclo se faz necessário. Embora muitas vezes não compreendamos, quero voltar no início, na passagem em que foi lançado o desafio da transformação do modelo de ação social para escola formal. Só depois de alguns anos, pudemos compreender que não se tratava de perdas, mas de um ganho ainda melhor! Com o coração apertado e sabendo que os mais atingidos serão eles, os nossos alunos, roga81


mos a Deus para que sejam encaminhados para outros lugares especiais como este Colibri. Um lugar em que sejam percebidos como pessoas capazes de aprender e evoluir, independentemente de seus estágios. Que encontrem um lugar acolhedor, de escuta apurada e sensível, que sejam respeitados e ouvidos, que reconheçam em si as inúmeras virtudes e que levem daqui todas as aprendizagens que adquiriram neste ninho especial chamado Colibri. E, quando vier tempestades ou momentos difíceis, que jamais se esqueçam deste convite: Se agarrem ao bom, ao belo, e sigam confiantes! Logo ali, como na lenda, o Colibri renasce de uma nova forma! Sim, amados professores, funcionários, alunos e familiares, é chegada a hora da partida... confiem... estaremos sempre juntos pelo resgate de tantas memórias.... Agora voem e levem consigo o pólen para fazer germinar o que aqui aprenderam a cada dia. Minha profunda gratidão a cada aluno que nos ensinou a olhar bem de perto e de mais perto as suas necessidades; a cada funcionário que, por sua dedicação e compromisso, arregaçou as mangas no dia a dia para fazer dar certo a engrenagem da grande roda; às famílias que aprenderam conosco e nos convidaram, a cada dia, a nos rever. Agora voem colibris, voem...voem... voem... não deixem de pairar naquilo que aprecias para se fortalecerem como ser na maravilhosa dança da vida. Obrigada por terem me permitido estar nesta história que me faz hoje uma mulher melhor, uma filha melhor, uma gestora melhor. Um beijo afetuoso em cada um.” Maria Cecilia Mello Fernandes 82


OS FILHOTES DO COLIBRI

DEPOIMENTOS DE ALUNOS

OS AUTORES DESTE LIVRO

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No dia 25 de novembro, enquanto revisávamos este livro, surpreendentemente, recebemos a visita de uma ex-professora que, amorosamente, veio nos presentear com um marcador de páginas encantador, contendo duas mensagens. “... AS HISTÓRIAS NUNCA PARAM ONDE A GENTE IMAGINA...” Trecho do livro O menino do dedo verde (lido em formação de professores)

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