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PROVANDO O NÉCTAR NA PRÁTICA
PROJETOS INTEGRADORES DA ESCOLA COLIBRI
São projetos integradores aqueles que, por seu mérito, atingem toda a comunidade escolar, transformando-se em um projeto de muita relevância.
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Colibri-lê
No percurso formativo em que escolhemos aprofundar o foco da leitura, a formadora Ana Carolina Carvalho, do Instituto Avisa lá, apresentou-nos o projeto Entorno, no intuito de aguçar nossos professores pela paixão pela leitura. E deu certo! Ficamos encantados com a experiência e vimos que era possível desenvolvê-la em nossa escola. Dessa forma, adequamos o projeto a nossa realidade circundante, investindo em práticas sociais de leitura, sistematizando as etapas anteriores até chegar às sessões simultâneas de leitura.
O projeto Colibri-lê envolve toda a comunidade escolar em sessões simultâneas de leitura, utilizando diferentes espaços externos da escola. A sistematização dos encontros de leitura promove a integração dos grupos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I, além de favorecer bons resultados no trabalho com a ampliação do universo cultural dos alunos. Acreditamos que se aprende a ler, lendo, exercendo o papel ativo de ouvinte e de leitor na construção de significado no processo de leitura, com base no conhecimento prévio a respeito do assunto, do autor e do que se sabe sobre a língua – características do gênero, do portador, do sistema de escrita, entre outros.
Nas sessões simultâneas de leitura, consideramos a qualidade literária, o interesse e a adequação à faixa etária, promovendo a socialização de livros escolhidos, a preparação de estratégias de leitura. Acontece uma vez por mês, e todo o planejamento e a organização são realizados pelos professores, em uma noite de formação pedagógica.
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Esse projeto é o “carro-chefe” da Escola Colibri, por ser um projeto integrador, abrangendo não só os alunos de toda a escola como também os funcionários, uma vez que os próprios alunos convidam os funcionários para escutar diferentes histórias. (FOTOS 74/75/76)
Buscando ampliar o universo cultural dos alunos por meio da literatura, são realizadas sessões simultâneas de leitura envolvendo todo o público escolar, considerando as seguintes etapas:
1ª etapa: escolha dos livros pelos professores, levando-se em conta a qualidade literária, o interesse e a adequação à faixa etária das crianças;
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2ª etapa: socialização, com os colegas, dos livros escolhidos por cada um dos professores e preparação da leitura;
3ª etapa: escrita da indicação literária pelos professores de cada um dos livros que serão apresentados;
4ª etapa: produção do painel com a capa e a resenha do livro e da ficha de inscrição a ser preenchida pelas crianças;
5ª etapa: inscrição pelas crianças na sessão em que querem participar;
6ª etapa; rodas simultâneas de leitura;
7ª etapa: discussão e comentários das crianças no retorno às respectivas salas.
Quintais – um lugar de brincar
O Projeto Quintais foi ganhando força ano a ano no segmento da Educação Infantil. O objetivo do trabalho no Projeto Quintais é promover um clima que permita às crianças sentirem-se à vontade para fazer escolhas, comunicar suas vivências e ideias, exercer a autonomia, compartilhando saberes e construindo conjuntamente novos conhecimentos. Pensando em criar um ambiente de integração em diferentes faixas etárias, o projeto mistura alunos de 4 a 5 anos, explorando diferentes espaços da escola. Elegemos temas como: pintores famosos, corpo/movimento, circo e profissões. As professoras planejam as atividades pensando na composição de grupos por trimestre e os alunos podiam escolher as estações.
Selecionamos os registros das estações de aprendizagem, trabalho realizado no ano de 2018 para contar a vocês:
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A mistura das crianças com idades entre 4, 5 e 6 anos, propiciou a criação de Estações de aprendizagens. Nelas, partilharam vivências, buscaram novos saberes, conquistaram autonomia e transformaram espaços da escola em lugares de aventuras, brincadeiras e magia. Nas propostas de atividades, o mundo maravilhoso da infância foi sendo resgatado e explorado; as crianças entraram em contato com diversos materiais, brincadeiras, deixando suas marcas por onde passaram.
Estação 1 – Quintal poético de vila com as casas construídas pelas crianças, poesia nas ruas
Arte, literatura e o brincar
As crianças inventaram casas com materiais não estruturados, como caixas de papelão, na medida em que participavam dos quintais de construção, indo para espaços externos da sala, pintando as paredes, construindo telhados. Dessa forma, a brincadeira ficava mais incrementada, e o olhar atento da professora permitiu ao grupo criar um canto de vila. Mas como se daria isso? Por meio de rodas de conversa, a professora apresentou uma proposta de construção. Mas construir o quê? Casas dos bairros em que as crianças moram! O percurso foi enriquecido com a literatura do livro “Poemas para brincar” do autor José Paulo Paes. Brincando na vila, tornou-se evidente a cultura local dos bairros onde moram, os detalhes das casas e das ruas e os aspectos da vizinhança. O mais importante para a criança não é o produto acabado, mas sim o envolvimento no processo de criar e inventar em seu percurso criativo, assim, as crianças do G4, G5 e 1º ano escolheram o território de construção, partindo da observação do bairro e das casas onde moram. As casas foram construídas com caixas de papelão pelas crianças, e a atividade foi mediada pelas professoras. Durante o processo de construção, as crianças fizeram a planta, decidiram como seria a casa, pensaram na estrutura e depois deram o acabamento com a pintura. O espaço da vila
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foi organizado com a orientação dos alunos, com faixas de pedestres, pontos de ônibus, posto de saúde, padarias, pontes e até, pizzaria.
Brincando, as crianças passearam nas ruas do bairro, dirigiram os carros passando pelas ruas, pontes, guardando seus carros nas garagens. Brincando, as crianças reproduziram o itinerário que fazem diariamente com seus pais, enriquecendo a brincadeira com a cultura local.
A família no projeto
O convite foi estendido à cada família que, a sua maneira, construiu e foi encaminhando para a escola, compondo o canto de vila que ficou em exposição no dia da mostra cultural. Com essa atividade, as crianças depararam-se com problemas estéticos e desenvolveram estratégias para solucioná-los, dominaram procedimentos básicos de materiais e meios específicos, por exemplo, usar pincéis, realizando pintura, apreciar suas próprias produções, bem como as dos colegas, construir significações para a experiência do tempo e do espaço da criação.
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Estação 2 – Sons no bosque dos dinossauros, escultura grande de dinossauros e confecção de dinossauros em família
Arte, literatura e o brincar
Partindo do interesse do grupo por dinossauros, a professora propôs às crianças uma expedição nos espaços da escola, e os dinossauros tornaram-se inspiração do brincar na estação 2. Após brincarem bastante com os dinossauros de brinquedos, é hora de contar a história do mundo dos dinossauros e imergir no universo infantil por meio de inúmeras rodas de conversa, brincadeiras e exploração sobre as espécies e os sons produzidos pelos seres pré-históricos.
O brincar no território dos dinossauros possibilitou às crianças que participaram da estação de aprendizagem 2 uma viagem ao mundo dos dinossauros, investigando e estudando esses animais pré-históricos. Alguns aparelhos podiam ser utilizados na brincadeira: laptops dispostos no espaço serviram para um subgrupo realizar a pesquisa sobre as espécies, as máquinas fotográficas eram um recurso utilizado para fotografar os dinossauros, registrando tudo o que fazia parte do território. Além da pesquisa e do registro com foto, outro subgrupo fazia escavação na serragem e na areia à procura de pedras antigas que também faziam parte do contexto dos dinossauros. As crianças enterravam os dinossauros e depois faziam a escavação para encontrá-los. Tudo isso faz parte do conhecimento das crianças e mostra quanto elas se apropriam dos procedimentos de pesquisa, imitando o que os arqueólogos fazem estudando as culturas, as semelhanças e diferenças das espécies de dinossauros.
Após a escavação, as crianças fizeram uma festa de aniversário para os dinossauros; felizes ocupando o espaço e brincando, revelam quanto gostam do campo de exploração e da pesquisa. Crianças que têm como atividade principal e espontânea a brincadeira, que permitem inventar e reinventar com o outro, com os objetos, que buscam o tempo todo um papel que possa atuar e envolvendo-se com o grupo, por meio das ações, mostram-se fortes, curiosas, amigas, alegres, verdadeiras protagonistas na transformação dos espaços.
A família no projeto
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Foi proposto aos pais construírem dinossauros com seus filhos, usando materiais não estruturados. As crianças traziam os dinossauros para a escola como troféus conquistados, apresentavam na roda os materiais utilizados e o processo de construção em família. No dia da mostra cultural, os dinossauros construídos pelas famílias fizeram parte do acervo de materiais sobre o mundo dos dinossauros e encantaram os apreciadores dos seres pré-históricos. As crianças aprenderam a produzir materiais para brincar utilizando referências de estudos realizados pelo grupo; conhecer e identificar espécies de dinossauros; comparar suas ideias com as ideias dos colegas decidindo sobre o que é melhor explicar sobre os seres estudados; conhecer explicações mitológicas utilizadas por diferentes povos para explicar os mistérios do mundo; utilizar objetos variados para construir engenhocas, por exemplo, um dinossauro gigante; reconhecer diferenças entre passado e futuro por meio da comparação de fatos, fotografia e outros marcadores de tempo.
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Estação 3 – Embu das Artes é aqui! Descobrindo pequenos artistas plásticos – experiências com o barro
Arte, literatura e o brincar
As crianças da estação 3 adentraram o universo de modelagem da ceramista Célia Santiago.
Nas linguagens plástica e visual, as crianças da estação 3 vivenciaram e apreciaram o trabalho da ceramista Célia Santiago, que mora em Embu das Artes, realizaram leituras de suas obras e tiveram a oportunidade de conhecê-la. O grupo se interessou pelas produções da artista e confeccionou casinhas com materiais não estruturados. O encantamento com a visita ao ateliê da artista ficou estampado no olhar das crianças, e a anfitriã acolheu o grupo radiante de alegria. As crianças são como arte: pura expressão, afinidade, espontaneidade, capacidade de comunicação, de diálogo com o mundo e com a vida.
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“Arte é forma de conhecimento, pois envolve a história, a sociedade, a vida. Não está apenas ligada à ideia de prazer estético, contemplação passiva, mas ao contrário, é dinâmica e representa trabalho já que possui forças materiais e produtivas que impulsionam as relações históricas e sociais e leva o homem à compreensão de si mesmo e da sociedade.” Cavassin, 2008, p. 49
O início do projeto se deu assim: A professora repertoriou o grupo com modelos de casas de Ítalo Calvino, e, por ter contato com uma artista plástica da região, fez o convite para que realizasse um trabalho voluntário com o seu grupo de crianças. Apresentado o percurso por onde trilharia com as crianças, a ceramista aceitou prontamente o convite e contribuiu em grande medida na jornada criativa do grupo. A visita da artista plástica Célia Santiago, na Escola Colibri, aconteceu em 26 de junho com as crianças da Estação 3 – Algumas crianças fizeram a recepção e foram conduzindo-a aos painéis com as produções. Em seguida na roda de conversa, as crianças se apresentaram e fizeram algumas perguntas relacionadas ao trabalho da ceramista. Como você faz as casinhas? Quais materiais usa? Como são feitos os bonequinhos? O grupo ficou bem eufórico, pois tudo na artista chamava atenção: sua saia com bonecos, seu colar com uma mini-igreja da matriz de Embu das Artes... Depois da roda, fomos para a sala e ela trouxe alguns materiais e um quadro o qual todos apreciaram e fizeram perguntas sobre ele; apresentou as ferramentas utilizadas por ela, algumas compradas e outras elaboradas por ela própria; e, como demonstração de seu processo, trouxe uma casinha em argila na qual foi criando a porta, a janela, o telhado... para as crianças, parecia mágica, e algumas até comentaram: você faz mágica! A casinha começava a ganhar vida, e ela explicou que depois de feitos todos os detalhes, a peça vai para um forno que deixa a peça dura para depois ser pintada.
Em um segundo momento, ela explicou como faz os bonecos com massa de biscuit e propôs que cada criança fizesse um com massinha. Foi explicando as etapas, começando com a cabeça, depois o corpo, os braços e as pernas, e cada criança fez e apresentou para ela. E, para finalizar, propôs que fizessem um boneco de tecido para levar para casa. O grupo preparou uma surpresa:
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uma exposição de casinhas feitas com caixas. A artista ficou encantada com as produções do grupo.
No dia 25 de agosto, foi a vez das crianças irem ao ateliê da artista Célia Santiago. As crianças ficaram encantadas com o espaço, com os trabalhos apresentados e a diversidade de recursos na sala de estar. Alguns entraram dizendo: “Uau!”, “Que incrível!”.
As crianças exploraram cada detalhe da sala, e a artista acompanhava os olhares atentos e curiosos do grupo. Realizaram na sala do ateliê uma intensa roda de conversa em que as crianças contaram a ideia da casa da imaginação. A artista perguntou como elas imaginam que é a casa da imaginação: como um prédio cheio de apartamentos, casa de hotel, casa de quadro, casa de céu, casa de argila, casa com telhado muito bonito, de barro, casa de árvore, de nuvem, de palha, de madeira e massinha, casa invisível?
Em seguida Célia pergunta: Uma casa para ser um lugar muito bom de morar, o que precisa ter? E logo a imaginação das crianças falou mais alto: ser na praia, ter piscina, ter areia, ser uma chácara, terreno com lugar para fazer festa junina.
Qual é a casa da imaginação onde todo mundo carrega tudo?
— A nossa cabeça, responde um aluno.
— É a nossa cabeça que cabe tudo que quero observar, diz Célia.
Depois, as crianças realizaram um desenho no papel sulfite; cada uma desenhou a sua casa da imaginação.
A ceramista retornou à escola, mas dessa vez para que as crianças tirassem a ideia da casa imaginária do papel e fizessem a modelagem usando argila, contribuindo com a técnica e o cuidado com esse material, de forma que as crianças pudessem manusear melhor e fazer as esculturas.
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E as casinhas iam ganhando forma: amassar bem, bater dos lados, usar as ferramentas adequadas nas linhas dos telhados, portas e janelas. Fizeram também esculturas das copas das árvores e em outro dia, Célia retornou para a finalização. As peças foram para a olaria e lá foram colocadas em um forno apropriado, passando pelo processo de queima em que as peças até mudam de cor por causa do calor e tornam-se mais resistentes. A artista retornou trazendo as peças que foram pintadas pelas crianças, compondo uma valiosa maquete coletiva: a cidade “Queros Colorido”, que ficou exposta no dia da mostra cultural, em 27 de outubro de 2018.
A família no projeto
Na reunião de pais do 2º trimestre, a professora apresentou o percurso de estudo das crianças sobre as obras da ceramista Célia Santiago, e as famílias construíram uma maquete com as diferentes casas da imaginação utilizando materiais não estruturados, preparando uma surpresa para seus filhos, que chegariam na escola, no início da semana e apreciaram o trabalho dos seus
pais.
MOSTRA CULTURAL – O COROAMENTO DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS EM CADA ANO LETIVO
Com data prevista em calendário, toda a equipe se envolvia na organização da estrutura da exposição dos produtos finais dos projetos desenvolvidos evidenciando as produções dos alunos. O coroamento se dava com a participação das famílias apreciando o percurso de aprendizagem de seus filhos nas etapas do projeto.
Partilhamos com vocês a experiência da nossa IX Mostra Cultural: “Achadouros literários”, em que organizamos estandes com os materiais produzidos pelos alunos com poemas de Vinicius de Moraes, contos clássicos, músicas da MPB, contos de bruxa, reinações de Narizinho, literatura de cordel e mitos gregos.
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Na exposição dos produtos, procuramos evidenciar o percurso e o protagonismo dos alunos, suas descobertas e aprofundamento dos estudos, trazendo a essência do fazer coletivo de cada grupo. Os visitantes e as famílias adentravam os achadouros do viés literário em que os filhos e todos os estudantes da escola se envolveram e imprimiram suas marcas.O trabalho pedagógico precisa ser revelado ao público envolvido, e assim fazemos ano a ano convidando-os à apreciação.
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