Crisálida o casulo do novo cidadão

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CRISÁLIDA é o estado por que passa a lagarta para se tornar borboleta. É o local das metamorfoses, a câmara secreta das iniciações, a matriz ou o útero das transformações. O livro Crisálida – o Casulo de um Novo Cidadão revela as mudanças culturais e comportamentais que a arte é capaz de promover no ser humano. Mostra, com poesia e cor, o dia-a-dia de quatro unidades e de um grupo de educadores. Coordenados pela Sociedade Pela Família, esse time aceitou o desafio do programa Cidadão 21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna: formar crianças e adolescentes motivados, que interagem entre si e com os outros, aprendem a intervir em sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo, respeitam as diversidades culturais. Divididos em casulos, os jovens experimentaram um instigante e criativo roteiro, que incluiu visitas a museus e a espaços públicos até então desconhecidos. Experiências depois traduzidas por eles em pinceladas, mosaicos e grafitagem. CRISÁLIDA é uma viagem nesse universo de cigarras, mariposas, bichos-da-seda, borboletas e libélulas – todos adolecentes – que, após passar um tempo no casulo, aprenderam a voar. Com suas novas asas, romperam fronteiras, descobriram um mundo novo além de suas casas, escolas e bairros, perceberam-se capazes do que nem imaginavam. Tornaram-se cidadãos.




realização

SPF – sociedade pela família coordenação

paschoal milani netto laura souza pinto nivia meireles machado hilda setsuko hashimoto rita de cássia coelho

edição executiva

anna costa lúcia barros

p r o j e t o gráfico e editorial

d’lippi arte editorial thear comunicação

marco adriano d’lippi roseli maeve faiani d’lippi edição de texto

anna costa lúcia barros produção gráfica editorial

d’lippi arte editorial edição de arte

silvina gattone liutkevicius fotografias

ricardo teles impressão

gráficas paulinas desenhos

os desenhos que ilustram o livro foram executados pelos jovens, durante as atividades do projeto Crisálida registros fotográficos

apoio

Fundação Salvador Arena Gráfica Paulinas

os registros fotográficos foram feitos pelos próprios educadores, no decorrer do período de seu trabalho contatos com o projeto crisálidas

SPF - sociedade pela família site: www.spf.org.br e-mail: projeto@spf.org.br


Esperança é o que nutre a crisálida, metáfora perfeita da lenta metamorfose que se opera em nós, seres incompletos, em crescimento, buscando a luz, sedentos de

crisálida sabedoria, e de amor.

o casulo do novo cidadão


Trago uma esperança nova. Tão vida de cada homem. Trago


nova como a primeira luz que marca o amanhecer da o milagre da vida. Que lateja neste instante. No coração de uma criança. Que acaba de nascer. A terceira asa, poema de Thiago de Mello, canta a esperança. Esperança que nutre a crisálida, metáfora perfeita de todo processo educacional, ou da lenta metamorfose que se opera em nós, seres incompletos, em crescimento, bus­can­do a luz, sedentos de sabedoria, e de amor. Esperança que contrasta com a brutalidade que nos rodeia: o sem-número de crianças e jovens a quem todos os direitos são negados; os sem-nada, escondidos nos becos, expostos nas ruas, ou indignados, reivindicando. O mundo do espetáculo e do supérfluo, o ciberespaço, dourando a dominação e a desigualdade. Esperança, refletida no olhar curioso das crianças, que chegam a cada dia, ano após ano, repetindo o milagre da vida que se renova em cada sorriso. Esperança, anunciada nas parcerias entre órgãos públicos, empresas e organizações não-governamentais. Esperança, desenhada por crianças e jovens neste livro, fruto de uma parceria da Sociedade Pela Família – Centros Educacionais com o Programa Cidadão 21 – Arte do Instituto Ayrton Senna. Esperança que nutre a nossa utopia, de uma sociedade justa, solidária, na qual todos os humanos, no respeito e na alegria, libertem-se, dia a dia, da crisálida que os embalou, para tecerem juntos o futuro que começa aqui, nas páginas deste livro, e agora no diálogo com você. SPF – Sociedade Pela Família



Crisálida é lugar das metamorfoses, a câmara secreta das iniciações, a matriz ou útero das transformações. Mais ainda do que um envelope protetor, representa um estado eminentemente transitório entre duas etapas do devenir, a duração de uma mutação. Implica renúncia a um certo passado e aceitação de um novo estado, condição da realização. Frágil e misteriosa, como uma juventude cheia de promessas, das quais não se sabe qual será o resultado, a crisálida inspira respeito, cuidados e proteção. Ela é o futuro imprevisível que se forma, e, na biologia, símbolo da emergência – coisa latente, em evolução. [Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant]


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Formar crianças e adolescentes capazes de serem agentes da própria história, protagonistas da própria vida. Esse é o objetivo. O meio é a arte, ferramenta pedagógica que estimula a criativi­d ade e, por conseqüência, a capacidade do ser humano de reinventar a si próprio, dando novo significado às suas experiências.


7 Assim se pode resumir, em nível teórico, o projeto Crisálida, uma das iniciativas da Sociedade Pela Família, entidade sem fins lucrativos fundada em 1º de setembro de 1956, com a missão de educar crianças, adolescentes, jovens e adultos para que sejam cidadãos críticos, autônomos, responsáveis, solidários e conscientes de seus direitos e deveres, promovendo sua inclusão social. Na prática, o Crisálida é como o sorriso grande que aparece no rosto de Paulo Felipe, de 14 anos, ao desembarcar na estação Sumaré do Metrô, em São Paulo, e deparar-se com um painel gigante com rostos de gente comum, do artista Alex Fleming. Curioso, ele arrisca um palpite: “Acho que o artista não queria que esta estação ficasse vazia ou que as pessoas se sentissem sozinhas. Gostei da idéia.” A observação do jovem, que antes andava de metrô e passava sem ver as obras de arte, faz parte do desabrochar de um novo cidadão: mais perceptivo, opinante e crítico sobre sua comunidade, sua cidade e seu país. Entre o projeto e a realidade, quem faz a ponte são educadores e arte-educadores, que no Crisálida não realizam apenas um trabalho, mas emprestam um novo sentido à vida. Tudo começou com um desafio proposto pelo Instituto Ayrton Senna (IAS) às organizações parceiras: trabalhar sob a égide de uma Comunidade de Sentido, ou seja, pessoas e organizações que compartilham uma causa, crenças, valores, princípios, conceitos e um querer-ser coletivo – cuja base é a percepção de que a arte é capaz de oferecer uma tcontribuição decisiva e singular na formação de crianças e adolescentes como pessoas, cidadãos e futuros profissionais.

Depois de muita pesquisa e reflexão, a Sociedade Pela Família respondeu ao chamamento em 2002 criando seu projeto Crisálida. O nome já encerra o sentido: a metáfora do casulo, o estágio pelo qual passa a larva para transformar-se depois em borboleta. No Crisálida, crianças e jovens passam um período de suas vidas tendo acesso a ferramentas artísticas que os ensinam a transformar sua própria realidade. A base do trabalho é um tripé: o multiculturalismo, o fazer artístico e a apreciação*. Em outras palavras: as diferenças culturais entre os meninos, meninas, rapazes e moças do Crisálida são reconhecidas, respeitadas e somadas – assim abrindo horizontes, alargando fronteiras. O fazer artístico é estimulado: experimentam-se materiais, linguagens, é permitido ousar, e proibido é só não tentar. A apreciação é guiada: discute-se arte, comparase, reflete-se – assim como se discute, se compara, se reflete sobre a condição da comunidade e de cada criança e de cada jovem inserido ali. É assim que, por meio da arte, se produz conhecimento, se desenvolvem competências, se conquista a cidadania.

*

Estes conceitos fazem parte da Tecnologia Social de Educação para o Desenvolvimento Humano pela Arte, proposta pelo Instituto Ayrton Senna.


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9 Cinco vezes uma boa idéia São cinco os casulos que compõem o Crisálida: Cigarra, Mariposa, Bicho-da-Seda, Borboleta e Libélula. Em comum, todos buscam ter crianças e adolescentes motivados, que interagem entre si e com os outros ao seu redor, aprendendo a intervir nos espaços públicos e usufrui-los, respeitando as diversidades culturais.

O vôo da libélula São educadores e arte-educadores que compõem o grupo Libélula – um espaço de reuniões, oficinas, aprendizado e sensibilização para a arte.

O canto da cigarra Formado por alunos do Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec), o casulo, inspirado em músicas, trabalhou a grafitagem de muros da comunidade.

A trama do bicho-da-seda O Centro Educacional Gracinha se propôs a apresentar aos jovens uma visão diferenciada da arte na cidade de São Paulo e teve como foco as obras espalhadas pelas estações de metrô.

As cores da borboleta Educadores e jovens do Centro Educacional Uirapuru investigaram a identidade da cultura brasileira – miscigenação, religião e costumes – por meio de dança e teatro.

As descobertas da mariposa Conhecer melhor a sua comunidade, a cidade de Embu e as suas artes foram os objetivos do grupo de jovens do Centro Educacional Colibri.


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renova-te. renasce em ti mesmo. multiplica os teus olhos, para verem mais. multiplica os teus braços, para semeares tudo. destrói os olhos que tiverem visto. cria outros, para as visões novas. destrói os braços que tiverem semeado, para se esquecerem de colher. sê sempre o mesmo. sempre outro. mas sempre alto. sempre longe. e dentro de tudo. [Cântico XIII, Cecília Meireles]


11 Sociedade Pela Família Concebida e idealizada por um grupo de professoras e operárias comprometidas com diversos projetos sociais, em pontos distintos da cidade de São Paulo, e que acabaram se articulando, a Sociedade Pela Família atende hoje mais de 1.800 crianças e jovens. Desses, 1.000 são assistidos gratuitamente nos centros localizados em bairros periféricos e outros 800 na Escola Nossa Senhora das Graças, no Itaim Bibi (unidade de serviço remunerado). A visão da Sociedade é promover a transformação pessoal e social, possibilitando a diminuição da desigualdade e da injustiça social. A educação é o caminho para a conquista desse mundo mais justo e menos desigual. Tendo por base os valores de solidariedade e justiça social, em sua atuação a Sociedade inclui as pessoas, promove o encontro, estabelece o diálogo. E assim ajuda a construir um mundo melhor.


“Tente não viver como se o tempo fosse uma realidade que pode roubar-lhe a vida. A vida é curta, porém, o momento transcende a eternidade.” [ Grafite Zen ]


o vĂ´o da libĂŠlula 14

as cores da borboleta 24

46 as descobertas da mariposa

34 o canto da cigarra

a trama do bicho-da-seda 54

saĂ­das com adolescentes 22

primeira revoada 42 roda de conversa 62 dentro dos casulos 64


o vôo

da libélula

“A função da arte não é passar por portas abertas, mas a de abrir portas fechadas.” [Ernst Fisher]



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Apontar caminhos, indicar possibilidades, mostrar que sempre, para tudo nesta vida, hå mais de um ponto de vista. Fazer isso atravÊs da arte, tendo em mente um objetivo nobre: formar crianças e jovens brasileiros para viver, conviver, conhecer e produzir na sociedade do sÊculo 21.*


17 Essa é a tarefa cotidiana, o desafio diário do grupo de educadores e arte-educadores do projeto Crisálida. Desafio ousado, tarefa exigente – pois educar é ser um facilitador na mais importante aventura humana: a jorna-da rumo ao desconhecido. No Crisálida, cada criança, cada jovem é convidado a partir numa viagem de novidades. Para enfrentar o desconhecido é preciso reaprender a ver, a ouvir, a falar, a sentir. Nesse processo, lagartas viram borboletas: descobrem em si potenciais adormecidos, desenvolvem habilidades até então insuspeitadas. Mas é preciso um eterno aprendiz para ensinar a outro. Alguém que sabe que não sabe tudo – como cada dia prova, com seu fardo único de imprevistos. Ser aprendiz não é fácil. Ainda bem. A graça está justamente na superação.

Educar a si mesmo Desde sua elaboração, o projeto Crisálida tem a formação contínua de educadores e arte-educadores como um de seus pilares. Daí a formação do grupo Libélula – um espaço de reuniões, oficinas e sensibilização dos profissionais para a arte. O motivo é um só: não tem nada a ensinar quem não está sempre aprendendo. O compromisso com o desenvolvimento do outro passa necessariamente pelo compromisso com o desenvolvimento de si mesmo. Por isso algumas perguntas norteiam nosso trabalho: quais são as competências necessárias para que um arte-educador atue com arte e educação no Projeto Crisálida? Essas competências estão presentes nas equipes de cada casulo? Como melhor desen­volvêlas? A busca de resposta a essas perguntas norteou o desenvolvimento de treinamentos específicos.

Eu cresci como indivíduo e como educador. Consegui ampliar a minha leitura e hoje tenho uma visão diferente do mundo e da arte. Agora, consigo olhar um quadro e refletir sobre o que ele me traz. Antes eu passava com pressa. [ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]

Itinerário formativo* O Crisálida já nasce grande – nada de projetos-piloto. As boas idéias devem ser postas em prática, em larga escala, com rapidez. Essa agilidade e abrangência do projeto são, ao mesmo tempo, força e fragilidade. For-ça que faz acontecer. E fragilidade porque os desa­f ios são maiores e mais urgentes – e se resumem em uma grande questão: como levar a arte para a centra­lidade dos cinco centros de atendimento?*  E, mais: como fazer isso diante da ausência do arte-educador em alguns casos e, em outros, da fragilidade do conhecimento artístico ou pedagógico do arte-educador? No primeiro ano de vida do Crisálida, entre agosto de 2002 e agosto de 2003, a coordenação desenhou um plano de formação para a equipe de educadores, arte-educadores e diretores dos centros educacionais envolvidos no projeto – um total de 17 pessoas. O educador acompanha as crianças e jovens de segunda a sexta-feira. Uma vez por semana, o arte-educador entra em cena, orientando o grupo e contribuindo para formar o educador.


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A comunidade de sentido* era o momento de refletir sobre o que * estávamos fazendo. A equipe de interlocução tinha sempre o cuidado de levar elementos para estimular a reflexão e o debate. [ Rita Coelho, arte-educadora do Gracinha e coordenadora do projeto Crisálida]


19 O plano de formação foi baseado em oficinas e em assessorias individuais em cada unidade do Crisálida. Em mente, uma certeza e um objetivo. A primeira: a necessidade de cultivar o perfil de cada profissional com respeito a seu ritmo e história de vida. Isto é: reconhecer em cada educador as mesmas características e habilidades que esses profissionais, por sua vez, precisam reconhecer nos jovens, para ajudá-los a se desenvolverem integralmente: o potencial de conhecer, fazer, ser e conviver. O segundo: formar educadores sensíveis e criativos, que acreditam nas possibilidades de desenvolvimento do potencial humano por meio da arte*, ousando na forma de fazer isso e buscando ampliar seu repertório nas diversas linguagens.

Ao final dos primeiros 12 meses, a certeza de ter avançado. As libélulas alçaram vôo com a ajuda dos seguintes recursos: Reuniões para discussão dos textos teóricos sobre arte. O grupo se encontrava uma vez por mês, na sede da Sociedade Pela Família, para trocar idéias e elaborar atividades com base nas informações recebidas. A riqueza desses encontros também ficou evidente na troca de experiências entre os educadores, na colocação de dificuldades e angústias do grupo, na busca conjunta

Os roteiros e as estratégias de formação se complemen­

por soluções. Era um espaço aberto para avaliar, cri-

tavam, mas não foi simples o aprendizado. No início, o

ticar, refletir, propor e enxergar os resultados.

grupo precisou vencer alguns desafios, entre os quais: a falta de tempo aliada à complexidade do material enviado pelo IAS, e o medo de que o novo não desse certo. Mas o diálogo aberto, a possibilidade de compartilhar as dificuldades, o incentivo da equipe e a responsabilidade por participar de um projeto inovador fizeram com que o grupo desse os primeiros passos, acreditando na proposta e abraçando o desafio.

A comunidade de sentido abria espaço para propor coisas novas, trocar experiências. Todos procurávamos juntos soluções para problemas individuais.

[ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do Gracinha e coordenadora do Crisálida] Gracinha


20 Oficinas visando à experimentação dos educadores em algumas linguagens artísticas. A Sociedade Pela Família sentiu a necessidade de ir além na formação de sua equipe. Realizou encontros mensais para propor­ cionar ao grupo a reflexão sobre conceitos, vivências, e o aprendizado de técnicas artísticas, principalmente aos educadores que não tinham intimidade com a arte. Também preparou oficinas específicas para cada casulo, nas quais o foco era o tema que a casa trabalharia, com o objetivo de dis­po­nibilizar ferramentas de trabalho e integrar educador, arte-educador e diretor no projeto.

Interlocuções

com cada casa, para sentir as ne-

cessidades da equipe. Uma vez por semana, os coor­ denadores do Crisálida se reuniam com o educador e o arte-educador de cada casulo para acompanhar de perto o trabalho: verificar como o projeto estava sendo conduzido, trocar idéias, dar sugestões, discutir dificuldades, propor novos caminhos.

“Na comunidade do sentido, descobri que a gente precisa conhecer a criança. Percebi que o olhar pede ou dá muita coisa”

[José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]

Ações complementares

para ampliação do re-

pertório cultural. Além dos encontros formais, a coor­ denação do Crisálida enviava periodicamente mensagens – por e-mail – para o grupo, sugerindo e estimulando leituras de livros e de artigos, propondo visitas a exposições e mostras de arte, indicando peças de teatro e filmes. Propostas valiosas para ampliar o conhecimento e a sensibilidade artística de toda a equipe. Algumas atividades e visitas foram promovidas e acompanhadas pela SPF.


21 No início foi difícil. Não conseguia entender os textos, entrar em sintonia. Mas conseguimos falar das dificuldades na comunidade. Vimos que havia abertura e isso dá confiança para dizer: eu não estou conseguindo, preciso de ajuda. Aprendi junto com as crianças, pois a arte também estava distante do me u dia-a-dia. [Wanderleia Rocha, educadora do Uirapuru]

O educar para mim mudou. Antes eu chegava na sala de aula e a minha única preocupação era ensinar o Carimbó, por exemplo. O aluno tinha que sair sabendo tocar. Na comunidade de sentido descobri que a gente também precisa conhecer a criança, prestar atenção nela, nas suas perguntas e atitudes. Percebi que um olhar pede ou dá muita coisa. [José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]

O educador ideal O treinamento de todos os envolvidos no Crisálida busca desenvolver o perfil desejado de profissional para o projeto. Esse “educador ideal” tem as seguintes características: É sensível para perceber desejos e necessidades do grupo.

É habilidoso nas técnicas artísticas.

É

inventivo, criativo e criador. Propõe possibilidades de ação e expressão. Busca espaços de manifestações artísticas. . Tem postura de reflexão e avaliação. Está atento aos indicadores de resultados. Faz registros sistemáticos.

Colhe depoimentos dos familiares e professores. Reflete sobre o processo e o

avalia. Propõe mudanças. Revê estratégias. Amplia seu repertório de ações.


saídas passo-a-passo

O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e à cidade é o olhar de descobrimento. Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia. [Irael Luziano Dias, arte-educador]

com


Para que a visita a um museu ou o passeio a um parque seja uma experiência produtiva e tranqüila, vale seguir esses passos: antes

Estimule a curiosidade do grupo sobre o lugar a ser visitado

Pesquise sobre a exposição e o

museu e conte o que descobriu para os adolescentes. O entusiasmo do educador é fundamental localize no mapa da cidade o local

Fale sobre o percurso a ser feito: O horário de saída do

Centro educacional, que tipo de transporte será utilizado, que trajeto será feito até chegarem ao destino

Converse sobre a melhor postura a ser adotada em locais públicos. Exemplos:

respeitar os lugares reservados a idosos ou gestantes no transporte público; falar baixo; cumprimentar e agradecer ao motorista, cobrador ou monitores da exposição

Proporcione momentos de

discussão em que os educandos possam falar de suas angústias ou dúvidas sobre a saída Entregue as autorizações de saída a cada educando para serem assinadas pelos responsáveis.

durante

Faça um círculo com os educandos para preparar a saída e relembrar as regras

Escolha al-

guns adolescentes (talvez os mais dispersos) para realizar algumas tarefas, como: entregar passes, ler em voz alta as regras e o que foi combinado

No trajeto, estimule a conver-

sa sobre o passeio, relembre o nome da exposição ou do local a ser visitado. Mesmo se o ônibus ou o tmetrô estiver lotado, estimule esse bate-papo entre grupos de dois ou três adolescentes

Enten-

da as regras do espaço: o que é permitido fazer ou não, a localização do guarda volumes, Apresente a turma ao monitor para tornar a visita ainda mais agradável

Dos banheiros, etc.

Estimule as perguntas, as opiniões cante-o

Envolva aquele educando que parece desinteressado, en-

O educador precisa estar atento e ser o animador do grupo.

depois

Faça uma avaliação do passeio de forma interessante, envolva a turma, pergunte o que cada um achou, quais as críticas e sugestões para uma próxima vez seja significativa centes

Escolha uma forma de registro que

Faça apontamentos sobre os comportamentos e as participações dos adoles-

Tente sempre aproximar ou relacionar a vivência da saída, as obras apreciadas, ao

adolescentes cotidiano dos jovens.


Por meio do conhecimento das manifestações da cultura brasileira, seus folguedos e sua arte, fortalecer a convivência, respeitando seus próprios valores e identidade.


as cores

da borboleta


No começo dos começos, Lá no princípio do tempo Do tempo... Do tempo... Obatalá, Orixalá, Oxalá Reinava nos sonhos, Reinava na terra Um dia, um casal desejou ter um filho e foi falar com Oxalá : “Meu pai, nos dê um filho !” E Oxalá respondeu-lhes: “Ainda não é a hora.” O casal tanto insistiu que o orixá permitiu mas, com uma condição, só com uma condição... O menino não poderia passar para o outro lado do mundo O menino nasceu. Ele era muito curioso... Tudo o que seu pai fazia, o menino imitava. Ele era muito egoísta e ambicioso. Um dia, seu pai foi para o outro lado do mundo e o menino ficou espiando. Assim que seu pai sumiu de vista, o menino adentrou o outro lado das coisas E pela primeira vez na sua curta vida ele sentiu-se livre, verdadeiramente livre. E orgulhoso e arrogante. Com um cajado, começou

26a atacar tudo o que via

pela frente e a gritar com muita raiva: “Quem disse que eu não posso entrar aqui?Quem disse? Eu entro em qualquer lugar!” E ele berrava e chutava, totalmente transtornado. Os guardiões do outro lado tentaram impedir o menino, mas não conseguiram. O moleque era muito esperto. Oxalá, percebendo o que estava acontecendo, ficou profundamente ofendido e com seu sagrado poder transformou o garoto atrevido em uma árvore colocada exatamente entre os dois mundos, dos deuses e dos homens: Irôco! Irôco! Irôco Kisselê! Irôco! Irôco! Irôco Kisselê!


27

Romilson enrosca-se nas sílabas. O texto demora a sair. Respira fundo e diz em tom alto para ser escu­tado:“Os guardiões do outro mundo tentaram impedir o menino de continuar. Tentaram, mas não conseguiram.”


28

“É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente.” [ Simone de Beauvoir ]


29 Romilson, 15 anos, é um dos 30 adolescentes do casulo

Marajoara e desenvolveu a habilidade de contar

Borboleta, um grupo formado no Centro de Convivência

histórias. O objetivo era claro: desenvolver a identidade

Uirapuru da Sociedade Pela Família, que participa do

dos jovens, a aceitação de si mesmo e dos outros,

Projeto Crisálida/Borboleta.

ampliar a convivência harmoniosa e a auto-estima.

Em cena, o jovem relata um trecho do conto Nagô A Separação dos Mundos, extraído do livro Os Nagôs e a Morte, de Juana Elbein dos Santos. A história fala de um menino curioso, esperto e arrogante, que queria passar para o outro lado do mundo. Romilson e seus amigos adolescentes também desejam ultrapassar fronteiras e alcançar o outro lado da cidade, da cultura, da cidadania.

Itinerário formativo Construir o conhecimento, fazer o assunto encantar o jovem, conquistar sua participação ativa. Um desafio diá­rio para quem tem nas mãos a missão de ensinar, de compartilhar, de apresentar caminhos e de aprender com os educandos. As transformações no casulo Borboleta

No Uirapuru, os jovens são convidados a se apropriar

foram coloridas por educadores e arte-educadores,

da cultura brasileira, por meio de oficinas de arte,

envolvidos diretamente com o grupo, que fizeram a

música, teatro, dança e capoeira. Dentro do Projeto

interface entre textos e músicas, comportamento e

Crisálida, o Centro de Convivência focou seu trabalho

atuação teatral, artes plásticas e dança, diálogo e respeito.

nos mitos e nas lendas da região amazônica, com seus

O grupo de adolescentes construiu o repertório com o

arquétipos e representações típicas.

auxílio diário dos educadores – que propunham pesquisas,

Durante o primeiro ano, o casulo trabalhou com os

leituras e atividades artísticas, utilizando materiais como

adolescentes a biodiversidade da região, ensinou

giz de cera, lápis de cor, carvão, nanquim, pintura em tela,

danças típicas, apresentou trabalhos dos ceramistas de

confecção de máscaras de gesso e papela­gem.

“Aqui eu conheço um pouco do mundo e da arte. Passeio, faço amigos, aprendo a dançar, a fazer teatro. Vou além do mundinho da tv.” [Evelyn Oliveira de Souza, 13 anos]


30 Uma vez por semana, os assuntos eram transformados

entrevista com Tiru, índio da tribo Xavante, participante

em músicas, danças e encenações. Na busca pela

do grupo do Centro Educacional Gracinha, cativou os

informação, todos realizaram visitas a exposições,

adolescentes. A fala de Tiru sobre seu conceito de vida

assistiram a vídeos e filmes, mergulharam na literatura,

– que enfatiza o respeito ambiental, a convivência

aprenderam a ouvir, a contar histórias e a elaborar

em grupo e a ajuda mútua –, foi entendida por todos.

espetáculos.

O encontro ainda estimulou o interesse pela cultura indígena nas oficinas de música e de dança.

Descobrir a si mesmo

Para entender a composição étnica do povo brasileiro

O grupo apresentava uma grande dificuldade de

Borboleta foram buscar nas pinturas, nos traços e

interação: o contato. Pegar na mão do outro, fazer

nas cores a explicação e a visão de artistas sobre a

pares para a dança típica criava sempre um problema.

miscigenação nacional.Visitaram as exposições Negras

Risadas, timidez e zombaria era o que se tinha.

Memórias, Memórias de Negro, Sesi; Do Modernismo

Para mudar esse cenário, os educadores se utilizaram

à Arte Contemporânea, Faap; Claro e Explícito, de Bia

de um conjunto de recursos: dinâmicas de cooperação

Lessa; Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândido

e integração, leituras de textos sobre a vida indígena

Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro

no Brasil, apresentação dos vídeos Xingu e Xavante. A

Cultural Banco do Brasil. Olhar para outro povo, para

e ampliar seu repertório cultural, os jovens do casulo


31

outra cultura também ajudou os jovens a entender e

No repertório desses 30 jovens que participaram do

a criar discussões e debates. A exposição Os Guerreiros

Projeto Crisálida foram incluídos, além dos ritmos e

de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no

das danças – como o samba de roda, maculelê, ciranda

Parque do Ibirapuera, apresentou ao grupo os costumes,

de roda, capoeira e carimbó, expressões do folclore a

os valores e as crenças das antigas dinastias chinesas.

da cultura brasileira –, exemplos de cidadania, incentivo à apropriação da cultura que a cidade de São Paulo

Informação cantada e dançada

oferece muitas vezes gratuitamente, respeito ao outro,

Com música, dança e poesia, o grupo se interessou

provas ou testes, é absorvido aos poucos e transparece

pelas lendas e mitos da região amazônica. Ao embalo

em gestos simples de meninos que cantam para

do Carimbó, ritmo amazônico, a cultura da região ficou

mostrar o que sabem, como fez Carlos Henrique

mais próxima, mais palpável. As rodas de conversas,

Galvão, 11 anos, para responder à pergunta: “O que

as danças indígenas mostraram nos gestos a cultura

você aprendeu aqui?” Às vezes, faltam palavras. “Aqui

do povo da floresta. E os desenhos e pinturas com giz,

a gente aprende muitas coisas. Ah, como música e

tinta ou os trabalhos em argila registravam o conteúdo

dança”, diz Carlos Henrique. Mas é seu canto que

absorvido pelos adolescentes.

comprova o aprendizado de música e de vida.

ao espaço público e aos limites de convivência. Esse conhecimento adquirido não pode ser medido em


32 É hora de puxar a rede /É hora de ir pro mar

Ao som do atabaque, jovens interpretam no palco um

É hora de puxar a rede /É hora de trabalhar

pou­quinho da vida, que exige paciência, conhecimento,

O mar é minha morada /A noite é minha companheira

união, audácia, limites, respeito. O preconceito agora é

Samurai é meu travesseiro /A jangada amiga verdadeira

deixado de lado. Todo o grupo já demonstrava apropriação

Amigos juntam-se a ele para cantar e relembrar a letra.

do conto, aceitação dos ritos, das diferenças. Também

Sorridentes e abraçados, eles seguiram cantando pelo

tinham total domínio da expressão corporal e da percussão

campinho de areia, um dos poucos espaços de lazer da

trazidos pela capoeira. Para todos os adolescentes do

comunidade do Jardim João XXIII, na zona oeste de São

casulo Borboleta, a arte foi o meio, o jeito atraente e eficaz

Paulo, onde está localizado o Centro de Convivência

de aprender e de se transformar. Para alguns, como a

Uirapuru. Lá dentro a movimentação anunciava: era hora

talen­tosa Evelyn, de 13 anos, foi mais: talvez a oportunidade

do teatro.

de se encontrar na dança, no palco e na vida.

No palco e na vida

Resultados obtidos

Se falta vocabulário, sobra expressão corporal. Foi no

A mudança se faz lenta, mas eficaz. No casulo, borboletas

palco que o casulo Borboleta encontrou a maior harmonia.

se transformam em momentos e tempos diferentes. Umas

Conseguiu reunir todas as expressões artísticas:

ainda na crisálida, outras experimentando os primeiros

desenho, escultura, pintura, música e dança. Também

vôos. Mas em todas o colorido é visível. Aprenderam e

fez progressos na convivência. Aqueles que não se

ensinaram a ver, a sentir, a propor, a ouvir, a fazer, a ser.

interessaram num primeiro momento, ao final de poucas

Durante o primeiro ano do Projeto Crisálida, no

semanas já pediam espaço no palco e um papel para

Uirapu­ru, os jovens do casulo Borboleta apresentaram

interpretar. Quem faltava a um ensaio mandava bilhete:

avanços significativos. Com freqüência mensal de cerca

“Professor, estou doente. Não me substitua, decoro o

de 90%, os 30 adolescentes se mostraram interessados

texto em casa.”

nos aspectos culturais da etnia brasileira.

Na sala ampla, os adolescentes sentam-se em roda.

Também conseguiram avançar na leitura e na escrita.

Falam todos ao mesmo tempo. Mas, na hora em que é

Alguns educandos que haviam parado de estudar fizeram

preciso falar, calam. O diálogo é confuso e exige esforço

o caminho de volta às escolas públicas. Também ficou

desmedido do educador. Limites têm que ser relembrados

explícita a apropriação de normas de melhor convivência.

a todo momento. Mas uma curta frase do educador faz

Palavras e expressões como “por favor”, “com licença”,

tudo mudar: “Vamos ensaiar.” O grupo sozinho se

“desculpe” e “obrigado” passaram a ser mais utilizadas

coordena e começa a preparação. Uns pegam panos, que

pelo grupo. As apresentações realizadas para os fami-

viram trajes. Outros posicionam instrumentos. As vozes

liares e para a comunidade – um total de três –

se confundem. Há brigas também. “Hoje eu faço o filho”,

contribuíram para ampliar a participação dos pais em

dizia um menino puxando o pano azul da mão de outro.

reuniões e a procura de vagas no Centro de Convivência.

Aos poucos, a cena era montada.


33 “O jeito de falar dos jovens, o jeito de tratar o outro – tudo mudou, melhorou. Eles estão cada vez mais envolvidos com o teatro, a capoeira, a música, a pesquisa. Estão mais envolvidos com eles mesmos.” [ Wanderleia Rocha, educadora ]

“Adoro desenhar, por isso gostei muito de visitar exposições, conhecer o trabalho de vários artistas, de gente que eu nem imaginava que existia. Acho que esse conhecimento pode fazer diferença e até me ajudar a conseguir um bom emprego no futuro.” [ Nadya Santos, 13 anos ]

“O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e até mesmo à cidade de Paranapiacaba é o olhar de descobrimento. Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.” [ Irael Luziano Dias, arte- educador ]

“Era difícil dar a mão para o outro na hora da dança. Imagina um abraço, então. A relação deles, agora, é outra. A música, a dança e o teatro ajudam nessa integração. Hoje existe mais carinho.” [ José Renato Batista de Oliveira, arte-educador ]


Ampliar o repertório musical e, por meio criando estilo singular em suas representaçþes.

o canto

da cigarra


dele, exercitar as diversas linguagens artĂ­sticas,


36 O professor apontou no alto da escada e o sorriso de José Lucas D’Voranen Paz se abriu: “O Irael chegou”, avisou o menino de 10 anos. A alegria da turma era esperada. O muro que seria grafi­ tado – o terceiro desde o início do projeto – era o da Escola Municipal Vianna Moog, na qual estuda a maioria dos meninos e meninas do Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec), uma das unidades da Sociedade Pela Família. A música escolhida pelos jovens para inspirar as imagens não poderia ser mais apropriada: Criança Não Trabalha, do cantor e compositor PauloTatti. Por conta das férias, o grupo estava reduzido, mas os 12 artistas deram conta do recado. Em pouco tempo, piões, skates, bolas, jogos de dama, bicicletas, televisores, pranchas de surf tomaram conta de um dos muros da quadra da escola, antes pichado com palavrões. Ali foram es­ tampados mais do que desenhos coloridos – estavam representados as brincadeiras preferidas e os objetos de desejo da garotada. “Não vejo a hora de as aulas começarem para meus amigos verem o muro que eu ajudei a pintar. Acho que eles vão adorar”, orgulhava-se a inquieta Elaine Aparecida Pereira, 11 anos.

Naquela ensolarada manhã de julho de 2003, jovens do casulo Cigarra esperavam an­siosos a chegada do arteeducador Irael Luziano Dias. Tudo estava pronto: moldes cortados, tintas escolhidas, sprays separados e mais um saco com lápis, borrachas, tesouras e pincéis. Era dia de grafitagem.

Itinerário formativo No casulo Cigarra, os 29 adolescentes aceitaram o desafio de transformar música em grafite e colorir os muros da comunidade do Jardim Jaqueline, na zona sul de São Paulo, com poesia, alegria, reflexão, respeito e beleza. Por detrás dos desenhos e das tintas, vários propósi­ tos: desenvolver a expressão, o repertório e a linguagem dos educandos; incentivar a argumentação, a opinião e o respeito ao próximo; estimular a apropriação do bairro, o cuidado com o meio ambiente e a mudança da paisagem; além de envolver e sensibilizar a comunidade. A formação do grupo de jovens precisava ser bastante ampla para capacitá-los a realizar a transformação


37 giz,mertiolate, band-aid, sabão, tênis, cadarço, almofada, colchão, quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão, criança não trabalha, criança dá trabalho, um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato, cinco, seis, tudo outra vez, lápis, caderno, chiclete, peão, sol, bicicleta, skate, calção, esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão, bala, pelúcia, merenda, crayon, banho de rio, banho de mar, pula-cela, bombom, tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão criança não trabalha, criança dá trabalho [Criança Não Trabalha] música de Paulo Tati


38 “As crianças não tinham conhecimento sobre arte. Nunca haviam visitado uma exposição, um museu. Foi um ganho para todos.”

[ Ruth de Souza Abreu, educadora ]

que alcançou a fama em pouco tempo com seus grfites e telas que retratavam o cotidiano dos negros na periferia de Nova York. Com isso, definições foram as­ similadas: grafite sim, pichação não, nome, palavrão, emoção; arte e risco; aventura e cultura.

Pedras no caminho Outro desafio do casulo Cigarra foi a integração da equi­ pe – educador e arte-educador – com educandos e com

artística – da música ao grafite – e de suas próprias

a concepção do projeto. Mais do que adotar técnicas de

vidas. Foram realizadas várias visitas culturais a mu­

ensino, é necessário acreditar na metodologia utiliza-

seus e exposições de arte.Também fez parte do roteiro

da, confiar na arte como meio eficaz de transformação

assistir a filmes, visitar e fotografar muros grafitados

social e cultural, e ainda abrir espaço, conquistar a con­

pela cidade. Os jovens também ampliaram seu reper-

fiança e encantar o educando para poder trocar infor-

tório musical sendo apresentados à vida e à arte de dois

mações e sentimentos.

expoentes grafiteiros: o naturalizado brasileiro Alex

“O projeto grafite no Cepec foi uma ousadia de grande

Vallauri, gravador profissional que usava máscaras para

tamanho. Em muitos momentos, sentíamos o evoluir da

realizar seus grafites, e Jean-Michel Basquiat, negro

turma; em outros, a percepção era de estagnação.” As

americano, filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha,

palavras de Maria do Carmo Risi, diretora do Centro,


39

revelam a realidade de quem trabalha na área de educa­

tados. O primeiro, dentro do próprio Cepec, serviu como

ção. O caminho não é reto e plano, mas cheio de cur-

experimento e adaptação às novas ferramentas: moldes,

vas, subidas e descidas, e é preciso saber a hora certa

tintas, pincéis, rolos, sprays. O tema era o meio ambien-

de acelerar e frear.

te. No segundo muro, na Rua Alessandro Bibiena a pro-

As conquistas vieram aos poucos. Contratada para as­

paganda eleitoral foi trocada por figuras de crianças. No

sumir o dia-a-dia do casulo Cigarra, a educadora preci-

terceiro muro, na escola do bairro, imagens de brinque-

sou de tempo para despertar o interesse do grupo, que

dos substituíram palavrões.

muitas vezes mostrou-se agressivo e alheio às propos­ tas de trabalho. Também houve necessidade de buscar

Pinceladas de harmonia

um outro arte-educador, que interagisse melhor com a

Se, nas oficinas, André Marques dos Santos, de 12 anos,

concepção proposta.

permanecia à distância, desconfiado, e só fazia o que

Para estabelecer a relação de afinidade e confiança en-

tinha vontade, na rua, diante do muro, o jovem sorria,

tre o arte-educador e os educandos foram utilizadas

contava piada e tentava interagir. A ansiedade era grande.

algumas brincadeiras, pois a situação lúdica predispõe

Todos queriam pintar, deixar a sua marca, transformar

ao contato, à quebra de reservas, à observação do outro.

com suas mãos o cenário mal cuidado da rua na qual

Se nos primeiros meses a maior transformação ocorreu

vivem. Primeiro, tinta branca. Os rolos percorriam o muro

dentro do próprio casulo, no segundo semestre as cores

com agilidade. Poucos minutos depois, já era difícil dis­

se espalharam pela comunidade. Três muros foram pin-

tinguir o muro, dos adolescentes: todos brancos.


40 Postes são fatos São fixos São focos Concretos O poste é ponto de vista De luz De tudo De todos De dia, determina distâncias De noite, clareia mistérios Pintados, são totens tribais Mastros de circo Elétricos círculos de cores Faróis para olhares navegantes Poste se faz poema [ por Irael Luziano Dias, arte-educador ]


41 “Grafitamos brincadeiras de criança no muro para mostrar que a gente precisa aproveitar a infância. Criança não trabalha.” [Erlaine Oliveira Pereira, 11 anos]

Grafitar juntos, desenvolvendo um mesmo painel, exi­ ge ca­pa­cidade de trabalhar em grupo, um aprendizado

Resultados obtidos

que vale para a vida. Educadores e jovens discutiram

Perceber as dificuldades, ser capaz de visualizar um

limites e concessões, criaram novas técnicas, deixa­

novo caminho e apostar em mudanças é sinônimo de

ram livre a imaginação. Folhas de árvores colhidas

amadurecimento. O Projeto Crisálida encontrou no ca­

nas redondezas serviram de moldes para uma árvore

sulo Cigarra momentos de resistência. Às vezes eram

psicodélica. Figuras de crianças apareceram coloridas.

educadores que não abraçavam a nova concepção de

“Sugeri que as imagens ficassem sem detalhes como

aprendizado e transformação. Em outros momentos

olhos, sobrancelhas, nariz, boca – assim, quem passas­

eram jovens que ainda não estavam preparados para ser

se por ali projetaria a imagem que quisesse. Os jovens

tocados e envolvidos pela arte. Cada ser humano tem o

aceitaram de pronto, só André mostrou-se incomoda-

seu tempo particular de crisálida.

do. Passado algum tempo, ele retornou ao local e pi-

Ao final dos 12 meses, os envolvidos nesse trabalho têm

chou seu nome em torno de uma das figuras. Criou na

certeza de terem iniciado a construção de um novo sa-

rua a sua identidade”, relata o arte-educador Irael.

ber: mais intuitivo e sensível. Quem acompanhou o dia-

Arte nos postes Ao passear pela comunidade, os jovens, agora com olhar mais atento, enxergavam outras possibilidades. Numa rua deteriorada, poluída, invadida por sacos pretos de lixo, havia postes. Novos moldes, novos sonhos. E os postes viraram totens pintados com estrelas, com mãos, pés ou figuras geo­ métricas. Na Rua Alessandro Bibiena, é bonito de ver: o grafite continua firme no muro e abre ala para os cinco postes coloridos que dividem espaço com o mato que cresce e com o lixo que fica. Quem passa olha a mensa­ gem colorida e se encanta. Ninguém pichou por cima.

a-dia dos jovens percebeu as conquistas diárias, mesmo que sutis. “Tivemos um ganho no interesse pelas atividades e a agressividade está mais controlada. Alguns adolescentes se abriram e a cigarra dentro deles começa a cantar. Outros, porém, ainda estão no casulo”, diz a educadora Ruth de Souza Abreu. “Se não atingimos os resultados em 100%, demos o primeiro passo. Sensibiliza­ mos e fomos sensibilizados. Foi muito importante participar desse projeto e vivenciar uma proposta tão diferenciada”, resume a diretora Maria do Carmo Risi.


“Digo: o real não está na saída e nem na chegada.

primeira revoada


Ele se dispôs para a gente é no meio da travessia.”

[Guimarães Rosa]

Mariposas, borboletas, cigarras, libélulas e bichos-da-seda reunidos num mesmo casulo e com os mesmos objetivos: expor idéias, compartilhar conhecimentos, ouvir a experiência dos outros, fazer amigos e avaliar o caminho percorrido até aquele 28 de abril – os primeiros oito meses do projeto Crisálida. O Primeiro Fórum de Adolescentes reuniu 85 jovens das quatro casas, no Centro Educacional Colibri – uma ampla unidade da Sociedade Pela Família, localizada no município de Embu, em SP. O dia, recheado de apresentações e vivências, foi produtivo. Cada grupo teve a oportunidade de expor seu projeto e perceber o quanto havia caminhado até aquele momento – o meio da travessia.


Eram 8 horas quando os primeiros ônibus começaram

bem diferente de pichação”, como disse Medson Felipe

a chegar ao Colibri – casulo Mariposa. No auditório, os

de Souza, 11 anos. “É a arte que invade as ruas, que deixa

jovens esperavam ansiosos pelos visitantes. Tímidos,

os muros bonitos”, completou Erlaine Oliveira Pereira,

meninos e meninas mant inham a formação e o

13 anos.

agrupamento: borbolet as per to de borbolet as;

A explicação sobre o Uirapuru ficou a cargo de Tatiana

mariposas junto de mariposas. Mas a mesa farta de café da manhã aproximou os jovens, que, aos poucos, foram se reconhecendo dos passeios feitos conjuntamente. Trocas de olhares, sorrisos, cumprimentos. A primeira apresentação foi a do dono da casa. Um pequeno grupo do Colibri, com a ajuda de transparências, contou a história da cidade de Embu – o foco do trabalho do casulo. No início, as palavras faltavam. Educador e arte-educador, ao lado da turma, davam suporte para a apresentação. A comunicação foi fluindo mais facilmente, e a troca de experiências aconteceu.

Silva Reis, 15 anos. “Primeiro estudamos nossa origem, a mistura de brancos, negros e índios. Fizemos máscaras representativas das etnias do povo brasileiro. Também estamos aprendendo os ritos e lendas da região amazônica.”

Aplausos de pé Muito mais do que narrar os projetos, cigarras, bichosda-seda e mariposas prepararam apresentações sobre a exposição Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, realizada entre fevereiro e junho de 2003, na Oca, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Os ideo­gra­mas

Roda de conversa

chineses foram o foco da turma de grafiteiros do Cigarra.

Atividade terminada, era hora de seguir para um amplo

jovens do Mariposa se transformaram em monitores e

terraço e sentar em roda. Olhos nos olhos, todos se

convidaram todos para passear pela exposição que eles

apresentaram: nome, idade e casulo. No semblante da

montaram sobre a visita aos Guerreiros de Xi’an.

maioria, a expectativa de fazer a apresentação, explicar

Já as borboletas subiram ao palco para retratar a

no que já haviam trabalhado, o que já haviam produzido.

exposição Negras Memórias, Memórias de Negro, que

Com orgulho, Eduardo Silvério da Silva Júnior, 14 anos,

foi vista também em fevereiro na Galeria de Arte do

levantou-se para falar do Bicho-da-Seda: “Nosso tema

Sesi-SP. Com muita criatividade, encenaram o conto

é Arte no Metrô. Fizemos visitas a estações, conhecemos

africano A Separação dos Mundos.

várias obras expostas. Escolhemos a obra Quatro

As palmas vieram, animadas. Cada apresentação

Estações, de Tomie Ohtake, como inspiração para fazer,

deixava claro quanto cada casulo tinha caminhado,

também em mosaico, as quatro principais fases do ser

quanto cada jovem havia se apropriado da linguagem

humano, que definimos como: bebê, criança, adulto e

artística. O encontro virou celebração.

velho”, descreveu o garoto. Outro colega quis contribuir: “A gente precisa de tempo para perceber quantas obras existem na cidade. São Paulo não é só violência.”

A garotada do Bicho-da-Seda montou um telejornal. E os

Depois do almoço, houve um tempinho para brincadeiras, bate-papo e descanso. Mariposas, borboletas, cigarras e bichos-da-seda voavam agora juntos, 85 jovens, um

Os meninos do Cigarra narraram com entusiasmo a

mesmo grupo. Alguns ensinavam dança afro. Outros

proposta de seu casulo: transformar música em grafite.

simplesmente apreciavam a sombra das árvores na bela

E deixaram bem claro: “Grafite é desenho, é arte, coisa

área verde do Centro Educacional Colibri. No final da tarde, a grande roda se formou novamente. Hora de avaliar o dia.


“Tanto os educandos quanto nós, os educadores, estávamos ansiosos por esse encontro. Trabalhamos muito e essa integração, essa troca entre os grupos e, principalmente, a confirmação de que esses meninos e meninas estão caminhando e se desenvolvendo, só nos dá mais força para investir nesse projeto.” [ Rita Coelho, educadora e coordenadora do Crisálida ]

“Gostei de me apresentar. Todo mundo prestou atenção.” [ Samara de Oliveira Rocha, 14 anos, casulo Borboleta ]

“Vendo aquela organização, percebi que estamos no caminho certo. Contribuímos para a construção de um mundo de adolescentes autônomos, que sabem ser e ser com o outro.” [ André Luiz Pereira do Nascimento, educador ]

“É nesses momentos de integração que se estabelecem vínculos, regras, respeito e valorização da auto-estima dos jovens.” [ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]


as des


escobertas da mariposa

Desvendar a sua história de vida, interagindo poeticamente com a realidade em que vive, criando e fortalecendo laços afetivos com a cidade de Embu das Artes e representando esse processo de maneira singular através da linguagem plástica.


48

“Quero conhecer, para melhor sentir; e sentir, para melhor conhecer.â€? [Paul CĂŠzanne]


49 Conhecer a cidade em que se vive, descobrir sua história, entender sua cultura e usufruir os espaços públicos. Com esse desafio o casulo Mariposa desenvolveu um trabalho amplo com 30 alunos do Centro Educacional Colibri, na região de Embu, localizada a 30 quilômetros da capital paulista e endereço da maior parte dos adolescentes. Apesar de viverem bem próximos do Centro Histórico de Embu, cidade conhecida por sua tradicional feira de artesanato aos domingos e pelos móveis rústicos e antiquários, os jovens pouco ou nada sabiam dessa tradição cultural e apenas uma minoria já havia visitado a região. Munidos de máquinas fotográficas e com a curiosidade aflorada pelas informações recebidas em sala de aula, os jovens saíram em busca de conhecimento, como turistas em visita a uma nova cidade. A proposta era construir a imagem de Embu, explorar suas texturas, descobrir sua origem. Em três visitas à cidade, as conversas com os artistas, lojistas, donos de restaurantes e os cliques das câmeras formaram o painel cultural e so-­ cial da região, que hoje vive do turismo. Durante um ano de Projeto Crisálida, as jovens mariposas vislumbraram um pouco mais do que os limites de suas casas, escolas e ruas. Voaram pela região de Embu e também puderam conhecer outros pontos culturais da capital paulista, em visitas a exposições de arte. Ampliaram seu repertório e descobriram que a arte morava ali, logo ao lado, em sua cidade, e que a capital de São Paulo, distante poucos quilômetros, também oferece várias oportunidades de cultura e lazer de graça. E assim, ultrapassando os limites do bairro, descobriram a si mesmos, viram-se como cidadãos.

“Aqui aprendi a ver. Vi a cidade onde vivo. Vi as linhas principais de um desenho, vi as cores das tintas, do giz de cera. Vi exposições, pinturas, retratos.” [Aline Nunes de Santana, 14 anos]


50

“A arte tira o indivíduo do comodismo, deixa a gente mais sensível. Vemos criança que no começo não falava muito, não era participativa, mas que por meio do desenho traz grandes contribuições para si própria e para o grupo.” [ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]


51 Itinerário formativo Para aprofundar o conhecimento sobre a cidade em que moram, os alunos foram convidados a experimentar novas vivências e materiais. As informações foram aos poucos sendo absorvidas e trabalhadas em forma de pintura, escultura e desenhos. Tudo começou com os jovens fazendo uma entrevista com os próprios familiares para verificarem o que eles conheciam de Embu das Artes. Para descobrir a rotina da cidade, foram realizadas visitas em dias diferentes da semana, sempre registradas em fotos e depoimentos. Não apenas o Centro Histórico foi o foco das visitas. Os educadores e o arte-educador programaram uma saída a pé até o Cemucam, área verde próxima do Centro Educacional Colibri. Ali o desafio para os adolescentes era registrar o caminho pelo qual passaram e conhecer um pouco dos freqüentadores do local por meio de entrevistas. O casulo Mariposa, como os outros, também participou de visitas a museus, como o Museu de Arte Moderna e o Museu de Arte Contemporânea, e a exposições: Negras Memórias, Memórias de Negro, no Sesi; Do Modernismo à Arte Contemporânea, na Faap; Claro e Explícito, de Bia Lessa;Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândido Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro Cultural Banco do Brasil; e Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no Parque do Ibirapuera.

“Com esse projeto aprendi a pintar com aquarela, fazer sombras com lápis preto. Agora sei trabalhar com máquina fotográfica e filmadora.” [Kauê G. de Souza Mota, 14 anos]


52

“É bom quando a gente conhece coisas novas. Visitei Embu das Artes, trabalhei com barbante, fui a outras exposições. Fiz coisas que nunca tinha feito.” [Fabiano de Souza Araújo, 12 anos]


53 Aprender a recomeçar Manter um grupo de adolescentes interessado na proposta de trabalho e concentrado na atividade diária é sempre um desafio. Maior ainda quando, no meio do caminho, há troca de turmas e também de educadores. Isso aconteceu no Colibri. Novo educador, novo arte-educador e até mesmo a maioria dos educandos, com o início do ano letivo de 2003, mudou de horário escolar e saiu do projeto. Foi necessário retomar e repensar algumas atividades e saídas. “Sentimos a necessidade de envolver os adolescentes no projeto, partindo do indivíduo para o meio no qual ele vive, a cidade de Embu. Trabalhamos durante um mês na confecção de auto-retratos”, conta Flávia Manzione Zanzotti, arte-educadora do casulo Mariposa. Lápis grafite, giz de cera e aquarela foram os instrumentos para aproximar o educando de si mesmo. O progresso foi visto no encontro dos casulos, no mês de abril. Aquela turma que parecia dispersa havia se tornado um grupo. A timidez aos poucos foi vencida. As mariposas compartilharam a visita de Embu com os colegas dos outros casulos. Com ajuda do retro­projetor, imagens e texto contaram um pouco da história e da cultura da cidade em que vivem esses jovens. E, para mostrar o que absorveram da exposição “Os Guerreiros de Xi’an”, eles montaram uma exposição com recortes da mostra e objetos pessoais. Era a cultura chinesa dividindo espaço com os costumes do educando.

“Atingimos parcialmente o nosso objetivo no projeto Crisálida. Nosso processo tem sido lento, mas estamos notando crescimento. Acredito muito nessas mudanças mais vagarosas, acho que são mais verdadeiras e profundas. Precisamos respeitar esse tempo.”

[Maria Cecília Melo Fernandes, diretora do Colibri]


atrama

do bicho-da -

Conhecer a cidade de São Paulo, apropriando-se dos espaços públicos culturais e artísticos, fortalecendo seres críticos e habilidosos, criando no fazer e no interagir possibilidades de dialogar no meio em que vivem.


-seda


56

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura. Fora da boniteza e da alegria.” [ Paulo Freire ]

[ Paulo Freire ]

A arte como veículo de formação e de transformação. É dessa maneira que o Centro Educacional Gracinha, mais uma unidade da Sociedade Pela Família, localizado na Vila Campo Belo, zona oeste da capital paulista, exerce influência construtiva na população atendida – jovens de 6 a 18 anos.


57 Com a experiência de quem já domina a linguagem artística, o Gracinha desenvolveu uma proposta inusitada e interessante, dentro do projeto Crisálida. No casulo Bicho-da-Seda, os jovens aprenderam a enxergar a cidade de um jeito diferente, por meio da arte. O foco principal do projeto, durante o primeiro ano de Crisálida, foi conhecer e fotografar as obras de arte expostas nas estações do Metrô, pesquisar a vida e a obra de um dos artistas e criar um produto expressivo, a partir da técnica utilizada pelo artista estudado. Em suas viagens pelo subsolo da metrópole, pelas linhas Verde, Vermelha e Azul, os 27 adolescentes foram além da apreciação dos trabalhos de Alex Fleming, Francisco

“Eu já havia passado por várias estações do Metrô e nunca reparei nas obras de arte. Hoje, paro e fico observando e quero saber que artista fez aquilo. Já falei até para amigos e pessoas da família: se pegar o metrô, olhe a arte ao redor.” [ Paulo Felipe Nascimento, 14 anos ]

Brenand, Tomie Ohtake: promoveram o exercício da liberdade criadora, com novas formas de pensar e de agir, de enxergar a si mesmos e ao mundo; interagiram com o

posições, teatros, cinemas. Foi um processo intenso de

espaço público e se expressaram com autonomia, ética

alfabetização do olhar, refletido nas palavras de Alcides

e estilo estético.

dos Santos Brito, 14 anos: “Quando visito museus e

Itinerário formativo

exposições, me sinto desenhado nos quadros e esculpi-

Arte é linguagem e, portanto, exige estudo, trabalho, reflexão, informação. Educadores e arte-educadores do

Viagem Cultural

Bicho-da-Seda criaram oportunidades e atividades

Ansiosos e curiosos, adolescentes e educadores se di-

que contemplaram três aspectos da prática da arte: o

rigiram à estação Sé – Linha Vermelha. A primeira via-

multicultu­ralismo, a apreciação da obra e o fazer artís-

gem informativa começou por ali. Recepcionados pela

tico*. Assim, proporcionaram aos jovens vivências ri-

equipe responsável pela parte cultural do Metrô, os

cas, que os torna­ram mais autônomos e capazes de ver,

educadores e jovens conheceram toda a estrutura e o

pensar, agir, decidir e criar de forma independente.

fun­cionamento do mais eficiente sistema de transporte

Além das visitas às estações do Metrô, fizeram parte

de São Paulo.Também ficaram sabendo sobre o conceito

do itinerário formativo: pesquisas em jornais, revistas,

da exposição Arte no Metrô e tudo o que poderiam apre-

Internet e biblioteca do Metrô; orientação para apre­

ciar pelos 49 quilômetros das trilhas subterrâneas.

ciação e conhecimento das obras; explicação sobre

Em razão da extensão das linhas e do número de tra-

materiais e técnicas utilizados pelos artistas e documen-

balhos, o grupo foi dividido em três turmas. Cada qual

tação com fotos, relatórios e textos. Até entrevistas com

passou uma tarde passeando por uma linha, aprecian-

funcionários e usuá­rios do Metrô foram feitas pelos

do as obras, para depois escrever seus próprios rela-

adolescentes.

tos e trocar informações com os outros grupos. Essa

O saber artístico envolveu também visitas a estúdios

decisão, mais tarde, provou-se acertada, pois criar o

e entrevistas com artistas plásticos, idas a museus, ex-

hábito de olhar uma obra de arte requer atenção, sen-

do nas estátuas que vejo. ”


58 sibilidade e paciência, o que seria um exercício muito

na Oca, no Parque do Ibirapuera. Entre tantos passeios

difícil com um grupo de 27 adolescentes.

culturais, até o Cemitério da Consolação entrou no roteiro:

Em cada saída, uma surpresa. Ao ver a obra de Wesley

conheceram o túmulo da Marquesa de Santos, dos es-

Duke Lee intitulada Museu Imaginário do Desenvolvi-

critores Monteiro Lobato e Mário de Andrade, além de belas

mento da Pintura no Brasil em Quatro Séculos, na esta-

esculturas e pitorescas histórias.

çãoTrianon-Masp, Emerson Aparecido C. Ferreira ficou intrigado e perguntou: “Esse Wesley fez somente uma colagem com quadros de outros artistas. Isso é obra de arte? Ele é um artista?” A dúvida do jovem foi a deixa para o grupo pensar, elaborar relações, administrar conflitos e acolher opiniões diversas.

Mãos à obra O desafio do casulo agora era representar artisticamente o conteúdo ao qual os adolescentes tiveram acesso durante as visitas ao Metrô e às exposições de arte. O grupo, encantado com os painéis de mosaico da artista plástica Tomie Ohtake expostos na estação Consolação, obra batizada de As Quatro Estações, resolveu se aventurar pela técnica e criar quatro painéis de 3m por 2m. Depois de muita discussão, o tema acertado foi a evolução do homem, representada pelas fases da vida que eles decidiram como as mais importantes: bebê, criança, adulto e idoso. Os educandos passaram semanas empenhados no fazer artístico. Primeiro, pesquisando a técnica de mosaico ao longo do tempo – na Mesopotâmia, na Grécia, em Roma –, até chegar aos dias atuais, com novos materiais. Depois, definindo símbolos para os painéis, escolhendo as cores,

“Eu nem imagino que estou neste lugar, nunca poderia me imaginar aqui.” [ Daiana Maria Lopes, 13 anos, parada em frente de uma obra de Tomie Ohtake no Instituto que leva o nome da artista ] Do Metrô, a viagem continuou por museus e exposições de arte. O casulo visitou a mostra deTomie Ohtake, que se tornou fonte inspiradora para os painéis de mosaico criados pela turma; conheceu o trabalho para deficientes visuais da artista Nazareth Pacheco, no espaço de artes Unicide; e deliciou-se na mostra Escultores e Esculturas, na Pinacoteca, na qual era possível sentir nos dedos cada forma, textura e temperatura das esculturas. Os jovens também se impressionaram nas exposições Negras Memórias, Memórias de Negros, no Sesi, e Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida,


59

“– Olha, há um tesouro na casa ao lado. – Mas não há nenhuma casa aqui ao lado. – Então construiremos uma!” [ Diálogo dos irmãos Marx ]

quebrando azulejos e desenhando os painéis, até finalmente chegar o momento de colar os ladrilhos. Mas, além do exercício proporcionado pelo fazer artístico, os jovens também experimentaram a troca, o diálogo, o respeito ao outro, o trabalho em grupo, a organização do espaço. Até aqueles que pareciam alheios ao projeto acabaram por pôr a mão na massa e fizeram questão de dar sua contribuição. Ao final, a boa surpresa estampada nos painéis: estética, beleza, criatividade, arte. Trabalho acabado, momento de novas experimentações: caminhar do bidimensional para o tridimensional. A vez de se aventurar pela escultura. O primeiro passo foi a pesquisa de como surgiu o concreto celular e como esse


60 “As senhoras da boa morte rezavam para que os senhores tivessem uma boa morte, já os guerreiros de Xi’an guardavam a morte.” [ Marina Gomes da Silva, 15 anos, comparando as exposições durante a roda de conversa ] material é usado. Depois veio o momento de tocar o material, de explorar sensações. Inspirados na exposição Os Guerreiros de Xi’an, o grupo sugeriu esculpir figuras representativas do seu cotidiano. Mas como esculpir algo tão complexo sem ter experimentado antes? A resposta foi buscada nos Moás da Ilha de Páscoa – figuras mais simples para quem era iniciante. O grupo então retomou as pesquisas, assistindo ao vídeo Rapa Nui – O Umbigo do Mundo, que retratava a construção dos Moás. Além do aprendizado das formas, meninos e meninas treinaram o olhar para uma outra cultura, outra etnia com costumes, crenças e rituais distintos. Foram feitas novas visitas a exposições. E mãos à obra. Moás prontos e uma sensação boa – de habilidade, de domínio e de competência para encarar outras experiências.

Resultados obtidos Jovens mais questionadores, observadores, autônomos, que respeitam as diferenças, compartilham conhecimentos, se orgulham de suas produções, e estão dispostos a rever e a elaborar suas ações cotidianas. Assim movimentou-se a crisálida no Centro Educacional Gracinha e os bichos-da-seda começaram a conhecer todo o potencial de tramar seu próprio futuro.

“Nas saídas que fizemos, observei adolescentes mais criteriosos com a monitoria, intervindo nas colocações e até relacionando obras de arte que já haviam visto anteriormente. Presenciei adolescentes expondo seu ritmo de observação das obras, discutindo preferências e expressando esse conhecimento dias depois da visita.” [ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]


61

“O bastão está caminhando. Junto com os adolescentes, nós, como equipe e profissionais, estamos também nos transformando, crescendo e acreditando cada vez mais nas possibilidades que o trabalho através da arte está nos propiciando. Todos nós estamos em movimento.” [ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do Centro Educacional Gracinha e coordenadora do Crisálida ]


roda

Momento de reflexão, de troca, de expressão. Sentados em roda, no início da atividade, alguns jovens se esforçam para parar quietos e ouvir os colegas. Outros, simplesmente, deixam fluir toda a energia, às vezes com brincadeiras, às vezes de forma agressiva. É na Roda de Conversa que se estabelecem combinados, que o jovem emite opiniões, discute dificuldades, apresenta avanços e conquistas. É preciso esforço para saber a hora de falar e de ouvir, construir sentidos, estabelecer associações entre direitos e deveres, liberdade e respeito. Como rotina, as rodas oferecem a estrutura necessária para cada um encontrar a harmonia interna e se preparar para desenvolver os temas e as atividades do dia. Nas culturas orientais mais antigas, os círculos, as rodas simbolizam o sagrado, o momento da comunhão. É a proximidade com o outro, o momento de criar laços — respeitando as diversidades.

“Quando nos sentamos em roda, no início ou fim do dia, sentimos o pulsar do grupo e juntos pensamos e avaliamos nossos erros e acertos, numa tarefa incansável de tornar o ensinar e o aprender difícil e árduo em satisfação e descobertas.”

Rita Coelho, coordenadora do Projeto Crisálida


“Na roda os educadores procuram substituir a ansiedade dos meninos e meninas por diálogo, troca, contato amigo e respeito ao diferente. Um tema é proposto, uma informação é compartilhada e a roda começa a girar.” [Wanderleia Rocha, educadora, casulo Borboleta]

“Fazemos dinâmicas e atividades na roda. Quando o grupo está muito agitado, a educadora tem que dar algumas broncas para acalmar. Aí podemos conversar, ler e ouvir lendas e mitos da região amazônica, que é o tema do nosso projeto.

[Fernando Pires S. da Silva, 14 anos]

“Conversamos sobre as apresentações que o grupo faz, exposições que vamos visitar, as regras para a saída, brincamos.” [Patricia Maria dos Santos, 12 anos]

“No círculo procuramos conhecer melhor o companheiro, fazendo uma vez por semana uma brincadeira chamada Cadeira do Amigo. É o jeito mais fácil da gente se conhecer e do educador conhecer a gente.”

de conversa [Silmara Brasileiro Quaresma, 16 anos]


dentro

dos casulos


Neste um ano de trabalho do Projeto Crisálida, acompanhamos de perto a evolução dos casulos. Vimos o romper de muitas crisálidas e o primeiro vôo de tantas borboletas, cigarras, bichos-da-seda, mariposas e libélulas. Essa transformação está sendo construída com muito trabalho, planejamento, estudo e com intencionalidade. As nossas ações estão sendo cuidadosamente pensadas e avaliadas numa incansável busca de integrar teoria e prática, clareando e aprimorando a nossa metodologia de trabalho, avaliando, registrando, replanejando, atentos ao “como fazer”. Nosso grande desafio foi buscar o alinhamento de educadores e arte-educadores na concepção do trabalho através da arte, a arte na centralidade, arte como linguagem, transformando efetivamente potenciais em competências*. Investimos na formação da nossa equipe de educadores e arte-educadores, sempre com o objetivo de ampliar os nossos conhecimentos e construir outros. Está sendo possível construir juntos, conhecimento! Ainda não podemos falar de resultados, podemos falar de processo; de jovens e adolescentes em pleno exercício. Exercitando a autonomia, ao se sentirem responsáveis pelo seu entorno; exercitando estar mais atentos e observadores para os códigos visuais que o tempo todo nos chegam por meio da imprensa e da mídia. Adolescentes e jovens leitores das questões sociais, sabedores dos seus direitos e praticantes de seus deveres. A via para esse desenvolvimento humano sendo a arte encurta muitos caminhos, pois a arte nos sensibiliza, nos mobiliza, nos transforma e essa vivência faz com que voltemos diferentes para a realidade. A partir do momento em que se fortalece o lado criativo, inventivo e crítico, a possibilidade de ressignificar a realidade fica mais ampla e, quando a realidade ganha significado novo, tornamo-nos mais responsáveis pelo mundo no qual vivemos e mais atuantes nessa realidade; é o exercício da cidadania. Os jovens estão mais sensibilizados para si mesmos, para o outro e para a cidade em que vivem. São os sujeitos dessa transformação.


e l e n c o

Educadores

Andréia Amaral dos Santos

André Luiz Pereira do Nascimento

Geralda Fernandes

Maria Cecília da Silva

Maria Sueli do Nascimento

Ruth de Souza Abreu

Tereza Cristina Vieira

Wanderleia Rocha

Arte-educadores Flávia Manzíone Zanzotti

d i r e ç ã o

Irael Luziano Dias

José Renato Batista de Oliveira

Rita Coelho

Educandos

Adelene Conceição da Costa

Ademilson da Silva Santos

Coordenadora de Ação Social da Sociedade Pela Família

Adriana da Silva Santos

Laura Souza Pinto

Adriano Moreira Dias Gonzaga

Adriel de Lima Sampaio

Equipe de interlocução

Alan Amorielli David

Vera Prates

Alcides dos Santos Brito

Rita de Cássia Coelho

Alcione da Silva Santos

Hilda Setsuko Hashimoto

Alexandre Pereira Gonçalves

Maria Sueli do Nascimento

Alex dos Santos Luz

Aline N. Santana

Amanda Campos

Centro de Convivência Uirapuru

Amanda Lacerda Barbosa

Ana Maria Rodrigues, diretora

Ana Paula Carvalho dos Santos

Anderson de Lima Soares

Centro Educacional Colibri

Anderson Lima Pereira

Maria Cecília Melo Fernandes, diretora

André Luiz Galvão

André Marques dos Santos

Angélica Aparecida da Silva

Bianca Rodrigues dos Santos

Bruno Cardoso Farias

Bruno Ferreira dos Santos

Bruno Souza Moura

Centro Educacional Gracinha Hilda Setsuko Hashimoto, diretora

Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec) Maria do Carmo Risi, diretora


Carla Ferreira

Gabriela Cristina Feltrin

Carlos Henrique Galvão

Gilberto do Carmo Assalti

Caroline Estela de J. dos Santos

Gilvan Mendes de Souza

Cássia Sabino de Souza

Luiz Henrique Batista Maike Santos Morais Manoel José dos Santos Filho

Sidnei do Carmo da Silva Silmara Brasileiro Quaresma Silvana de Oliveira Santos Soraya Faria Souza

Jailton da Silva Rocha

Márcio Alves da Rocha

Jaqueline Lucas M. da Silva

Marcleide de Jesus dos Santos

Jessica Danielle Xavier Lira

Marco Aurélio N. da Silva

Talita Alves Ferreira da Silva

Jéssica Fabiana G. da Silva

Marilia Santos Rodrigues

Tatiana Silva Reis

Daiana Maria Lopes

Jéssica Luna Nascimento Silva

Marina Gomes da Silva

Thacia Aguiar de Souza

Danilo Reis do Nascimento

Jeferson Alves

Marina Honório da Silva Santos

Thamara Laizza Santos

Dário Felix da Rocha Souza

Jeferson Correia Alves dos Santos

Medson Felipe de Souza

Tiru Xavante

Davi João Paulo

Jennifer Belarmino de Aguiar

Mileide Vieira de Carvalho

David de Oliveira Santana

Jéssica Belarmino de Oliveira

Dayane Guedes Teixeira Silva

Jéssica Cristina Rocha dos Santos

Celijeane Suzart Barbosa Cíntia Barbosa de Oliveira Cleiton Batista dos Santos

Nayara Estefani Bernardes

Sulamita dos Santos Rocha

Valdeir de Jesus dos Santos Wagner Pereira Santana

Jéssica Roberta Nicolau

Pamela Silva Prado

Wanderson Silva Cardoso

Denise de Lira Garcia

João Roberto de Monte Santos

Patrícia Barbosa Soares

Welder Alves dos Santos

Diego Maradona Gonçalves Santos Rosa

Joedson Florêncio da Silva

Patrícia Maria dos Santos

Wellington Ribeiro

Diogo Medeiros de Brito Gonçalves

Johnathan Silva Santos Souza

Paulo César Belmiro Júnior

Wellington Willian Nogueira da Silva

Johny Honório da Silva Santos

Paulo Felipe do Nascimento

Wesley Roger Santos Mariano

Douglas Paulo dos Santos Silva

José Carlos Nascimento Cruz

Paulo Henrique Lima Barbosa

Willian Gonçalves Oliveira

Douglas Pereira Araújo

José Fernando Berto da Paixão

Paulo Rodrigo Régis da Silva

Wilson Ribeiro de Jesus

Douglas Ramos dos Santos

José Lucas Dvoranen Paz

Peter Felipe do Nascimento

José Silva Santos

Priscila Ramalho Costa

Débora de Jesus dos Santos

Diovane Manoel da Silva

Elaine Aparecida Pereira Elen Sara Dantas Freitas Eduardo Coimbra Ferreira Eduardo Silvério da Silva Júnior Egnaldo Silva Andrade Elvis de Alencar Godoy

Juliana Costa de Moura Juliana de Oliveira Silva Juliana Silva Feltrin Juliano da Costa Julierme da Costa

Rafael Felipe de Souza Aran Rafael Pereira da Costa Renan Tadeu S. Santos Renato Cardoso de Freitas Ricardo de Souza Barbosa

Emerson Aparecido C. Ferreira

Kauê Jerônimo de S. Mota

Ricardo Santos Correia

Erinaldo Silva Andrade

Keila Mendes de Souza

Roberta Maria Régis da Silva

Erlaine Oliveira Pereira Euvandina Conceição dos Santos Everton de Oliveira Santos Evelyn Vieira de Souza

Laílson Silva de Oliveira Laio Fernandes de Lima Leandro Gonçalves da Silva Luan de Oliveira Mota

Fabiano de Souza Arcanjo

Lucas Gonçalves da Silva

Felipe Gonçalves Oliveira

Lucas Thiago Gonçalves Souza

Felipe Silveira Rodrigues

Luís Henrique de J. de Souza

Fernando Pires Saraiva da Silva

Luiz Claudio Lima

Fernando Silva Santos

Luiz Fernando Gonçalves

Filipe Antunes Trindade Silva Flávia Jesus da Silva Flávio R. do Nascimentos

Robson de Oliveira Abreu Robson Rodrigues da Silva Rodrigo Carlos Pereira Niza Rodrigo G. Pereira Rodrigo Teixeira Rogério Carlos Pereira Niza Rogério da S. Rocha Romeu Bispo Romilson Bispo Silva Samara de Oliveira Barbosa Samuel dos Santos Caetano


Produzido na primavera de 2003

D’lippi Arte Editorial • tel.: 11 3676 0074 • info@dlippi.com.br Thear Comunicação • tel.: 11 4702-3856 • anna@thear.com.br






O Projeto Crisálida é fruto do esforço conjunto de gestores, educadores e educandos para fazer da Arte uma via privilegiada para o desenvolvimento dos potenciais de suas crianças e jovens. O Instituto Ayrton Senna é um parceiro dessa causa. Temos imenso prazer de aprender com os desafios e conquistas dessa equipe campeã e imenso orgulho de compartilhar com o Crisálida nossa Tecnologia Social de Educação para o Desenvolvimento Humano pela Arte. [Simone André – Coordenadora do Programa de Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]

Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta u através da arte. Passo a passo, conta a transformação de jovens em cidadãos de seu presente e capazes de criar seu f Esse projeto da Sociedade Pela Famí parceria com o Instituto Ayrton Senn estimula o jovem a refletir, discutir id apontar soluções para mudar sua vida comunidade. É o relato fiel do trabalh desenvolvido por uma entidade que tem missão a busca de uma sociedade mais qual todos os seres humanos têm cond sair de suas crisálidas. E são livres p


Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educação através da arte. Passo a passo, conta a transformação de jovens em cidadãos - donos de seu presente e capazes de criar seu futuro. Esse projeto da Sociedade Pela Família, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e a apontar soluções para mudar sua vida e a da comunidade. É o relato fiel do trabalho desenvolvido por uma entidade que tem por missão a busca de uma sociedade mais justa, na qual todos os seres humanos têm condições de sair de suas crisálidas. E são livres para voar.


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