Revista Atua - Agosto 2019

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sumário da edição

www.revistaatua.com.br

@atuarevista

facebook.com/atuarevista A Revista Atua, ano 11, número 43 (agosto de 2019), é uma publicação quadrimestral sem fins lucrativos da ACE - Associação Comercial e Empresarial de São João da Boa Vista (SP). Sua distribuição é gratuita, não podendo ser comercializada. Colaborações e matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representando necessariamente a opinião dessa publicação. Tiragem: 3 mil exemplares Presidente Candido Alex Pandini Diretora de redação Angela Bonfante Cabrelon Gerente Raphael de Padua Medeiros Editor Mateus Ferrari Ananias - mateus@acesaojoao.com.br Jornalista responsável Franco Junior - Mtb. 81.193 - SP Repórteres Daniela Prado Gustavo Oliva Jeferson Batista Pedrinho Souza Foto: Divulgação / Riot Games - Brasil

MATÉRIA DE CAPA

Projeto gráfico Mateus Ferrari Ananias

034 eSports: um negócio de bilhões Os eSports - ou esportes eletrônicos – têm sua origem na Coréia do Sul, principalmente por conta do jogo de estratégia StarCraft, lançado em 1998. Desde então, o que antigamente era apenas um passatempo entre os jovens, e que fazia

com que os pais obrigassem os filhos a desligarem o videogame ou o computador para praticarem algum tipo de atividade física, se tornou uma profissão, envolvendo até mesmo competições mundiais, o que movimenta bilhões de dólares com contratações, times e contratos de patrocínio.

076 A arte de fazer filmes Apaixonado por fotografia, Dilo Gianelli nasceu em São João em 1922 e, em 1945, realizou seu primeiro filme. Pouco depois, nasce a Gianelli Filmes do Brasil, uma produtora que entraria para a história do cinema nacional.

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moda & beleza

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culinária

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empreendedores

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voluntariado

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Departamento Comercial Adrielli Souza - comercial@acesaojoao.com.br Produção de anúncios Alexandre Pelegrino - alexandre@acesaojoao.com.br Fotos Leonardo Beraldo / Cromalux - www.cromalux.net Produção e direção de arte Adriana Torati e Renata Maniassi Estagiários Duda Oliveira Letícia Felix Luana Zuin Tamires Zinetti Tamyres Cereja Sbrile Magalhães Professores orientadores José Dias Paschoal Neto Ana Paula O. Malheiros Romeiro Maria Isabel Braga Souza Foto de capa Divulgação / Riot Games - Brasil

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OUTROS DESTAQUES:

saúde

Revisora Ana Lúcia Finazzi - analuciafinazzi@uol.com.br

cultura

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educação

INFORME PUBLICITÁRIO

Alunos do CNA se conectam com idosos para aprender inglês Programa que já foi premiado integra alunos a idosos em casas de repouso, na América do Norte. Parte das pessoas que estudam um novo idioma tem um desejo: colocá-lo em prática em um local onde aquela língua seja nativa. Porém, não são todos que podem realizar uma viagem internacional, seja por falta tempo ou por motivos financeiros. Por isso, a Rede de Idiomas CNA desenvolveu um projeto pioneiro, que além de permitir aos jovens desenvolverem seu inglês, leva apoio e atenção a idosos de casas de repouso dos EUA e Canadá. PROGRAMA INOVADOR O programa Speaking Exchange permite que alunos entrem em contato com os idosos através de um chat privado na web - desenvolvido pela Rede de Idiomas CNA - e ao término do bate papo, o professor do aluno recebe um link para ter acesso ao vídeo. Assistindo ao material, junto com os estudantes, os professores podem avaliar o desempenho e conseguem apontar sugestões e melhorias para o aluno. De acordo com os franqueados, a intenção não é corrigir exatamente tudo, mas somente o que atrapalha no processo comunicativo. Para Ramon Thereza, coordenador da escola CNA São João, ganhadora do Prêmio Destaque Nacional em 2017 e 2018, o programa vai além da aprendizagem de um novo idioma. “A troca de experiências entre estudantes brasileiros e idosos americanos estabelece um relacionamento que ultrapassa as barreiras geográficas e de linguagem, agregando valor à vida dos participantes”. INTERCÂMBIO CULTURAL Luciano Pacheco, também franqueado do CNA São João, vai além: “entendemos o projeto como um intercâmbio cultural, sem custo para nossos alunos”. Além de adquirir mais fluência no idioma, Luciano afirma que o projeto pode incluir 6

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outras aprendizagens e conhecimentos. “Aprender sobre uma outra cultura amplia a dimensão do mundo”, pontua, exemplificando que, ao manter uma conversa com um idoso de Chicago, provavelmente o aluno vai se interessar em buscar mais informações sobre o local, o clima e a cultura da região. Outro aspecto considerado por ele é a possibilidade de entrar em contato com os idosos, desenvolver empatia, aprender a valorizar essa faixa etária e criar laços afetivos, culturais e educacionais. “Isso é enriquecedor”, comenta. Para saber mais sobre o projeto e participar, procure a escola CNA São João, que está localizada na Praça Co-

ronel Joaquim Candido, 60 – Centro. A escola oferece turmas de inglês a partir dos 03 anos de idade e até para jovens e maiores de 60 anos (CNA Seniors). Para mais informações, entre em contato pelo telefone (19) 3635-1666.

PRAÇA CEL. JOAQUIM CANDIDO, 60 - CENTRO TELEFONE: (19) 3635-1666


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saúde

INFORME PUBLICITÁRIO

A prevenção é sempre o melhor tratamento LARINGITES Laringite é uma inflamação da laringe que faz com que a sua voz fique rouca ou disfônica. A laringite pode ser de curto prazo ou de longa duração (crônica). Na maioria das vezes, ela surge rapidamente e não dura mais de duas semanas. Sintomas crônicos são aqueles que permanecem por duas semanas ou mais. Por isso, a avaliação com otorrinolaringologista se faz necessária se os sintomas persistirem por mais tempo. Nesses casos, a laringite pode ser causada por problemas mais graves. LARINGITE AGUDA A maioria dos casos de laringite é aguda ou temporária, e suas causas mais comuns podem incluir: • infecções virais semelhantes às que causam resfriados; • esforço vocal, causado por uso excessivo da voz; • infecções bacterianas no trato respiratório. LARINGITE CRÔNICA Laringite que dura mais de duas semanas é conhecida como laringite crônica. Este tipo de laringite é geralmente causado pela exposição a substâncias irritantes ao longo do tempo. Laringite crônica pode causar tensão das cordas vocais e lesões na corda vocal (pólipos ou nódulos). Estas lesões podem ser causadas por: • irritantes inalatórios, como vapores químicos, alérgenos ou fumaças; • doença do refluxo gastroesofágico (DRGE); • sinusite crônica; • uso excessivo de bebidas alcoólicas; • tabagismo.

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Uso excessivo habitual da voz, como no caso de profissionais que utilizam a voz como cantores e professores. Outras causas de rouquidão crônica também incluem: • as paralisias das cordas vocais; • tumores de laringe.

COMO PREVENIR • não fumar e evitar o fumo passivo. A fumaça pode secar a garganta e irritar as cordas vocais; • limite o uso de álcool e cafeína, pois essas bebidas podem causar desidratação, ressecando a mucosa da laringe e suas estruturas; • beba muita água. Os fluídos ajudam a manter o muco da garganta e fácil de limpar; • evite pigarrear, porque provoca uma vibração anormal de suas cordas vocais e pode aumentar o edema (inchaço) das mesmas; • evite infecções das vias respiratórias superiores. Lave frequentemente as mãos e mantenha sempre os cuidados com a higiene.

Use sempre os materiais de proteção do trabalho caso esteja exposto a substâncias ou ambientes que possam lhe causar laringite crônica, como já mencionado. Portanto, na evidência de sinais ou sintomas relacionados aos descritos, procure seu otorrinolaringologista para uma avaliação especializada e receber orientações e tratamento o mais breve possível.


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moda & beleza

Body positive e perspectivas no século XXI Iniciativa tem como objetivo fortalecer a relação das mulheres com o corpo. Foto: Reprodução Internet

POR TAMYRES CEREJA SBRILE MAGALHÃES

Corpo. Positividade. Parece simples, mas estes são os conceitos de um movimento que ajuda milhares de pessoas a fazerem as pazes com os próprios corpos. Para aqueles considerados fora dos padrões estéticos, o movimento body positive surge para pregar o amor-próprio, a autoaceitação. Seja em relação ao corpo gordo, com cicatrizes e queimaduras, corpos com partes amputadas, psoríase, ao corpo negro ou corpo com nanismo. Qualquer que seja a diferença do padrão preestabelecido, o body positive te engloba nessa causa. ORIGENS O movimento surgiu em 1967, quando um apresentador de rádio de Nova Iorque, Steve Post, resolveu realizar um evento intitulado fat-in, que na tradução literal significa “gordo não”. A intenção do apresentador era protestar contra o preconceito que pessoas gordas vivenciavam. Logo após o evento, Lew Louderback compôs um projeto intitulado Mais pessoas devem ser gordas!. Lew criou o ensaio como forma de testemunhar a discriminação que a esposa dele experimentou sendo gorda. A peça teve como objetivo corrigir a vergonha com relação à gordura e a crença de que ser gordo é sempre indicativo de ser obeso. O que não é verdade. O ensaio expõe a discriminação que as pessoas gordas sentem na América, e a cultura da vergonha de ser gordo. MOVIMENTO GANHA AS REDES A partir de 2012, com a nova era tecnológica, os adeptos dessa forma de viver ganharam força com a internet. As famosas influenciadoras digitais 10

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QUESTÃO DE IDENTIDADE

Embora pareça trivial, a questão da moda é um ponto central, tendo em vista os padrões de beleza impostos pelo mercado. Por exemplo, a influenciadora Jessica Oliveira sempre posa mostrando variados looks, com cores e estampas. “Já tinha odiado por tempo demais meu corpo, estava sedenta por amá-lo!”, conta.

utilizam as redes sociais para se comunicarem e exporem vivências pessoais, com o intuito de motivar e ajudar pessoas que estão passando pelo processo de autoaceitação. Com o instagram story, por exemplo, elas gravam vídeos,

postam fotos e abrem espaço para troca de experiências e histórias. A junção dessas pessoas acabou criando uma comunidade de usuários com o mesmo objetivo: se amarem. Mesmo sendo uma aliada no movi-

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mento, a internet pode ser vista, muitas vezes, como vilã. Com os haters e comentários preconceituosos, muitas pessoas que estão passando pelo processo de auto aceitação podem se sentir intimidadas e até desmotivadas. Na internet é possível encontrar de tudo. Pessoas magras e consideradas dentro dos padrões sendo elogiadas por muitos, dietas malucas que fazem ficar horas sem comer, aplicativos de exercícios para perder peso, que podem, por vezes, acabar prejudicando, quando aderidas sem a ajuda de um profissional. Estes são exemplos do que podemos encontrar: opostos muito grandes. ACEITAÇÃO DO CORPO A estudante de ciências sociais e influenciadora digital, Jessica Oliveira

(23), conheceu o movimento através da também influenciadora digital e ativista do movimento, Alexandra Gurgel, e no mesmo instante quis fazer parte da causa. “Logo que comecei a conhecer o movimento body positive, tive automaticamente a vontade de fazer parte, como algo que eu demorei tempo demais para conhecer, e que eu não poderia mais perder um minuto sequer sem viver aquilo. Já tinha odiado por tempo demais meu corpo, estava sedenta por amá-lo!”, conta. DIREITOS BÁSICOS Hoje há vários segmentos relacionados com o body positive, dentre eles destaca-se a militância gorda. Como o próprio nome diz, militância remete a busca e luta por direitos básicos. Mas, afinal, o que seriam esses direitos?

Bom, ir ao cinema e encontrar uma cadeira do tamanho adequado, andar de ônibus ou de avião e poder se mexer no assento, ir aos banheiros de transportes públicos sem ficar com medo de ficar entalado, ser representado em campanhas publicitárias e estampar capas de revistas, além de ter roupas de todos os tamanhos em lojas franquiadas. Esses são apenas alguns exemplos da causa pelas quais a militância gorda luta. Eles querem que a sociedade deixe de ver as pessoas gordas como inferiores ou menos capazes. A publicitária e também influenciadora digital, Carol Andrade (23), preocupa-se muito e dedica atenção especial ao que será publicado em suas redes sociais e blog. “Eu pesquiso muito porque não quero falar bobeira, porque não é uma brincadeira. Eu converso com pessoas todos os dias, as quais passam ou passaram pelo mesmo que eu passei e foi muito dolorido. Eu não quero machucar ninguém, eu quero ajudar”, comenta. Carol, além de ser adepta ao movimento, também compartilha experiências e vivências pessoais sobre como ela aprendeu a se amar. Com textos, fotos e vídeos, ela tenta se aproximar dos internautas e passar a conscientização do amor-próprio. “Acreditar sempre em você mesmo, se olhar no espelho e amar a pessoa que você está vendo. Não estou falando para amar a barriga que você não gosta, ou a estria. Amar a pessoa que você vê, é o primeiro passo para amar coisas maiores”. Quando questionada sobre dicas para quem está começando o processo de autoaceitação, agora, Jessica Oliveira é taxativa: “se cerque de pessoas que te apoiam, nas redes sociais siga pessoas com características iguais às suas, se livre de amizades tóxicas, e nunca se compare”. A

AMOR PRÓPRIO

A influenciadora Carol Andrade, além de postar dicas de moda e beleza, sempre indica lojas com roupas plus size. Além disso, possui um blog onde conta experiências e reflexões sobre os padrões de beleza pré-estabelecidos. “Acreditar sempre em você mesmo, se olhar no espelho e amar a pessoa que você está vendo”, define. Foto: Reprodução Internet

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comportamento

Absorventes reutilizáveis Mulheres trocam absorventes comuns por opção sustentável durante o fluxo menstrual. POR DUDA OLIVEIRA

Por muitos anos a menstruação foi considerada um ato nojento, onde a mulher precisava se esconder dos demais por sete dias considerados de impureza. Essa cultura patriarcal da Antiguidade foi perdendo força com o passar do tempo e evoluiu para a atualidade, o que permitiu que a mulher pudesse dispor de mais discrição, higiene e conforto, devido ao uso de absorventes descartáveis. O uso de absorventes descartáveis não só trouxe o risco de alergias, incômodos, dores e até infecções, como também comprometeu o meio ambiente, uma vez que cada absorvente descartável demora cerca de 100 anos para se decompor. Se fizermos uma conta rápida, chegaremos à conclusão de que os primeiros absorventes descartáveis produzidos ainda se encontram na natureza, uma vez que esse tipo de coletor menstrual começou a ser fabricado na década de 1930. Já o Brasil teve seu primeiro absorvente interno na década de 1970, quase 40 anos depois da entrada no mercado norte americano.

Saide, explica em seu site www.ginecologianatural.com.br que os absorventes industrializados – ou descartáveis – não são feitos somente de algodão. “O Poliéster, Polipropileno e Polietileno são feitos a partir de petróleo, água, ar, álcool e ácido, e liberam um tipo de gás irritante da mucosa vaginal. Revestem os absorventes tornando-os ultra-absorventes, não permitindo a passagem do ar e tornando o local abafado, quente e úmido, o que propicia a proliferação de fungos e bactérias, responsáveis pelo mau cheiro na menstruação”, conta. “O sangue menstrual, em condições saudáveis, não cheira mal. Tem apenas cheiro de sangue. O que causa o odor ruim é o contato com o absorvente contendo essas substâncias”, explica a ginecologista. REDUZIR O IMPACTO AMBIENTAL A produtora de absorventes de pano em São João da Boa Vista, Ana Beatriz Maca-

rio de Lima, disse que trocar absorventes descartáveis pelos ecológicos foi uma forma de libertação. “Os absorventes descartáveis nunca foram bons pra mim, sempre me machucaram, sempre deixaram um cheiro desconfortável e, além disso, eu via que não favorecia o meio ambiente. Então fui estudar sobre o assunto e vi o tanto de resíduos tóxicos que esse absorvente descartável contém e o tanto de lixo que ele produz. Depois que usei os absorventes de pano eu fiquei apaixonada. Eu me senti tão perto de mim, tão conectada comigo mesma”, conta. A partir daí, Ana conheceu os absorventes de pano e começou a produzí-los, com o intuito de levar esse outro tipo de coletor às mulheres da região, pois no interior esses outros métodos de coleta de sangue menstrual não são acessíveis. “Me veio essa ideia de levar para outras mulheres essa reconexão com o sangue, que é tão sagrado

DANOS À MULHER Devido às várias consequências do uso dos absorventes descartáveis – internos ou externos – mulheres, principalmente adeptas do Movimento Feminista, começaram a questionar novas formas de coletar sua menstruação. Por isso, reviveram o absorvente de pano, que existe desde a Idade Média; recriaram o copinho coletor, inventado em 1867 por Leona Chalmers e criaram calcinhas absorventes. Toda essa movimentação buscou não só uma maneira mais sustentável de se coletar a menstruação, sem que houvesse uma agressão à natureza, mas também uma forma de cuidar da higiene menstrual, evitando os problemas decorrentes de seu uso. A ginecologista, adepta do movimento de Ginecologia Natural, Bel Foto: Divulgação

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e importante, que foi tão desvalorizada”, explica. Ana Beatriz também argumenta que com absorventes ecológicos é possível “plantar a lua”, ritual que consiste no ato de devolver o sangue menstrual à terra. “Antigamente as mulheres não usavam nenhum tipo de coletor menstrual, então era natural que enquanto elas faziam as atividades do dia a dia, o sangue escorria e caia diretamente na terra. Era ‘super’ natural e hoje nosso sangue é taxado como algo nojento, por isso perdemos esse hábito. Mas antigamente o sangue escorria, caia na terra e a nutria”, esclareceu Ana. FIQUE ATENTA O uso dos absorventes reutilizáveis, no entanto, requer que a mulher tenha conhecimento sobre seu fluxo. E nem sempre a solução será eficiente para todas. Daniela Lopes, de 35 anos, tentou trocar os absorventes descartáveis externos para a calcinha de fluxo intenso, mas não teve uma boa experiência. Depois de três horas de uso, descobriu que o sangue tinha vazado. Apesar do “trauma”, ela foi reembolsada pela Pantys e ainda procura marcas

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Foto: Divulgação

em busca de mais praticidade e sustentabilidade durante seu período menstrual. “Amo tecnologias que facilitam nossa vida e contribuem com o meio ambiente”, conta. Os absorventes sustentáveis ainda são um nicho e também mais representativos no mercado americano do que a fatia de 0,5% daqui, estimada pela P&G (multinacional americana de bens de consumo).

Mas, para Juliana Inhasz, professora de Economia do Insper (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), essa diferença está associada à falta de informação da consumidora sobre as alternativas e, quanto mais a mulher se inserir no mercado de trabalho, mais o mercado de absorventes e produtos de higiene feminina tende a ganhar consumidoras. A


esportes

Mulheres driblam preconceito e dominam o futebol Modalidade feminina ganha mais destaque e espaço no meio esportivo. POR TAMIRES ZINETTI E LEIVINHA

Alguns anos atrás podíamos dizer que o futebol era exclusividade dos homens. Isso porque, até o final da década de 70, o esporte era proibido para as mulheres. O decreto-lei nº3.199, de 1941, dizia que o futebol era “incompatível com as condições de sua natureza”, além de argumentos que sustentavam que o impacto da modalidade poderia prejudicar a fertilidade delas. Diante de tantos contras, a prática do esporte só saiu da ilegalidade em 1980, mas até hoje enfrenta preconceitos que, lentamente, estão mudando. Depois das Olimpíadas do Rio, em 2016, o futebol feminino ganhou maior visibilidade no cenário nacional. O portal UOL divulgou um estudo que mostra a ascensão da modalidade feminina na última década. Contudo, mesmo com a crescente popularidade, o futebol ainda

é visto como um esporte predominantemente masculino. SUPERANDO PRECONCEITOS A estudante de Direito, Maria Fernanda Vidotti, de 20 anos, diz que sofreu preconceito dentro de casa por querer jogar. “Desde criança eu jogava com alguns meninos e eles sempre me respeitaram, mesmo quando as jogadas eram mais duras, com o que eu não me preocupava, mas eles tinham medo de me machucar. Depois que eu cresci meus pais viram que eu não ia parar de jogar bola e começaram a falar que era um esporte para meninos”, conta. O mesmo aconteceu com a estudante de educação física, Amanda Almeida, que é jogadora profissional há dois anos. Ela comenta que muitas vezes já sofreu preconceito: “As pessoas me falavam que é um esporte de homem, me dando apelidos pejorativos, e que o futebol não era coisa

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

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pra mulher. Mesmo assim enfrentei todos os obstáculos e hoje me sinto honrada em ser jogadora profissional de futebol”. COPA DO MUNDO FEMININA Com repercussão inédita, o torneio mundial tem sido enaltecido pela mídia e patrocinadores, entre eles a marca de roupas Nike, que realizou um evento na França, país-sede da competição, para exibir os uniformes das 14 delegações que patrocina. Essa é a primeira vez que a empresa faz uniformes exclusivamente para as mulheres na disputa do Mundial e, no caso da seleção brasileira, a camisa contará com a frase “Mulheres Guerreiras do Brasil”. Esse investimento em times femininos ultrapassa a barreira do marketing e chega aos torcedores com entusiasmo. A estudante de Pedagogia, Naira Rodrigues, conta que acompanhou todos os jogos da seleção. “É bacana ver e perceber que o futebol feminino está crescendo e evoluindo, porque desde sempre temos a ideia de que só os homens sabem jogar bola, só eles sabem entrar de um campo e fazer um ótimo jogo. Então, é legal mostrar que essa ideia está totalmente ultrapassada”, afirma. Naira ainda ressalta que as mulheres também representam muito bem o futebol dentro de campo. “Sabemos o quanto as mulheres têm força e garra, isso também deve ser valorizado por todos e, acima de tudo, elas devem ser respeitadas pelo que fazem”, disse. PIONEIRISMO EM SÃO JOÃO Embora proibido, a década de 1950 viu o futebol feminino florescer, atraindo grande público e a atenção da imprensa.E, o que pouca gente sabe, é que São João da Boa Vista faz parte dessa história, sendo uma das cidades pioneiras no esporte. >


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AV. DONA GERTRUDES, 17 CENTRO - SÃO JOÃO DA BOA VISTA TEL.: 19 3631-0191 19 97142-1902 17

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Em 11 de maio de 1952, driblando a Lei, o preconceito, o machismo, a forte influência religiosa e uma cidade elitizada como a São João da Boa Vista da época, um grupo de alunas do Instituto de Educação Cel. Christiano Osório de Oliveira, com o intuito de arrecadar fundos para a formatura, organizou uma partida de futebol que ficou para a história, por ter levado cerca de 5.000 pessoas à Sociedade Esportiva Sanjoanense e mobilizar a imprensa através da TV Paulista (São Paulo), Rádio Nacional (Rio de Janeiro) e Difusora local, além da Gianelli Filmes do Brasil (leia mais sobre a produtora na página 76). A partida foi a pioneira no futebol feminino do país, e despertou tamanha atenção, envolveu toda uma comunidade e rendeu muito falatório, mas aflorou a perFotos: Arquivo www.leivinha.com.br

2º NORMAL B (COM UNIFORME DA SOCIEDADE ESPORTIVA SANJOANENSE)

Na foto, em pé: Terezinha, Yara, Sonia Bissoli, Dalva Alvarez, Glorinha Aguiar e Odila Seda. Agachadas: Marly Gomes, Fany, Evanilde Oliveira, Lourdinha, Ziloca Oliveira e a atriz Vanja Orico.

2º NORMAL A (COM UNIFORME DO PALMEIRAS F.C.)

Na foto, em pé: Mirtes Marcon, Jandira Cassiano, Aparecida Camargo, Vera Ceschin, Cidinha Morais e Renê Romanholli. Agachadas: Dirce Mineirinha, Dirce Aleixo, Claunice Marcon, Ditinha Tavares e Isa Martarello. 18

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sonalidade marcante daquelas estudantes e serviu de exemplo para a nação. Os times eram formados por alunas e também convidadas. As escalações eram as seguintes: o time do 2º Normal A era formado por Jandira Cassiano (Asmara), Aparecida Camargo e Vera Ceschin (Terezinha); Ditinha Tavares, Iracema e Dirce Mineirinha, Renê Romanholli, Mirtes Marcon, Dirce Aleixo, Claunice Marcon e Isa Martarello (Cidinha Morais); já o 2º Normal B era composto por Sonia Bissoli, Glorinha Aguiar e Yara Del Pozzo; Evanilde Oliveira, Marli Gomes e Odila Seda; Dalva Alvarez, Ziloca Oliveira (Lála), Lourdinha (Terezinha), Fany e Vanja Orrico (atriz de renome nacional, que estava na região para a filmagem do O Cangaceiro, em Vargem Grande do Sul). A partida foi tão importante que contou com o árbitro local, Francisco Pedro Regini, além de uma breve cerimônia no gramado antes do início do jogo, onde foram reunidas lideranças locais, como o diretor do colégio - Dr. Hugo de Vasconcellos Sarmento - e o prefeito João Ferreira Varzim, com suas respectivas esposas. Mas o sonho durou pouco: ao ganhar fama pelas páginas dos jornais, as atletas atraíam o olhar dos detratores da prática, que passavam a exigir, também pelos veículos de comunicação, o cumprimento da lei. Assim, os times foram obrigados, em poucos meses, a encerrar suas atividades. Pelo tempo dessa jornada memorável, a repercussão ainda é evidente. Em 2014, 73 anos após o decreto proibitivo de Vargas, ironicamente o Palácio do Catete no Rio de Janeiro, sede do governo naquela época, recebeu o Espaço Futebol para a Igualdade, evento apadrinhado por Marta, jogadora da seleção brasileira, que proporcionou ao visitante uma nova maneira de enxergar o futebol entre as mulheres, além do jogo em si, tratando-o como plataforma de superação de preconceitos de gênero, raça e condição social. FUTEBOL SANJOANENSE Mais informações sobre esse jogo – que terminou empatado - e suas curiosidades, podem ser obtidas no site www.leivinha.com.br, que reúne um grande acervo sobre a história dos clubes locais e do futebol em São João da Boa Vista. A


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seu pet

A importância da adoção de cães e gatos abandonados Animais retirados das ruas têm a chance de um novo acolhimento familiar. Foto: Divulgação

POR LETÍCIA FELIX

Todos sabem que no Brasil o número de animais abandonados é grande e, segundo o ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais) esse número pode ultrapassar os 30 milhões. Os motivos para tantos casos de abandono podem ser vários, como nascimento de uma criança, mudança de casa e até mesmo viagens. Outro motivo, bastante preocupante, deve-se a não castração desses animais, que ao terem filhotes são abandonados pelos proprietários, muitas vezes em caixas deixadas em portas de outras casas ou em hospitais veterinários. IMPORTÂNCIA DA ADOÇÃO Vera Gossler, Presidente da USPA (União Sanjoanense de Proteção dos Animais) aponta que adotar um cachorrinho para satisfazer o desejo de uma criança também pode gerar motivo de abandono já que, em muitos casos, a criança se encanta pelo animal quando ele é pequeno e fofinho e depois, quando este cresce, perde o interesse e os pais querem descartar o animal. “Quem escolhe adotar um animalzinho deve estar ciente de que um filho, por exemplo, um dia vai crescer e tornar-se independente dos pais, porém um animal será dependente por toda a vida”, afirma Vera. É válido lembrar que a adoção contribui para a redução do número de animais abandonados, dessa forma você estará realizando um ato caridoso de grande valor. A adoção de um pet abandonado pode ser muito gratificante, pois esses animais costumam ser muito amorosos, afetuosos e dedicados ao dono. O ato de adoção valoriza a vida animal que, como nós, é capaz de sentir dor, amor, gratidão e se sente valorizado 20

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PENSANDO EM ADOTAR?

Que tal adotar ao invés de comprá-lo? Assim, além de oferecer um recomeço para um pet abandonado – um problema, em especial, dos grandes centros urbanos, essa também é uma forma de se posicionar contra a comercialização de cachorros e gatos.

ao terem alguém que o ama. “Eles são ótimas companhias, hoje eu não fico sozinha. Tem horas que eu penso se fui eu quem a escolheu ou se ela que me escolheu”, diz Paloma Minelli, sobre sua gata Capitu. ADOÇÃO RESPONSÁVEL O processo de adoção é bem simples e o que conta mais é o interesse de quem adota assumindo a responsabilidade. Geralmente é necessário apresentar o RG e comprovante de endereço, além de atender a outros critérios que são estabelecidos, de acordo com cada instituição. Se você tem uma criança em casa,

pode usar o processo de adoção como forma de ensinar aos filhos valores como responsabilidade, comprometimento, solidariedade e humanidade. Não se esqueça que da mesma forma que você realiza o ato de adotar, pode ser você quem abandonará o animal futuramente, por isso é importante verificar a disponibilidade de outros membros da família à adoção, a logística de futuras viagens com o animal, ver o tempo que você terá para dar carinho a ele, e a questão da limpeza de fezes ou até mesmo o banho do animal. Tudo isso são coisas que devem ser pensadas e programadas antes da adoção. A


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empreendedorismo

Perfil dos empreendedores POR GUSTAVO OLIVA

Obstáculos e dificuldades fazem parte de toda trajetória de vida, seja ela pessoal ou profissional. Na hora de abrir o próprio negócio é preciso acreditar, ir além e encontrar nos contratempos o caminho para o crescimento. Com paciência e dedicação a sua marca pode chegar a lugares que você nem imaginava. Conheça a trajetória da jovem empresária Andressa Marcondes Bargas, de 29 anos; e do casal apaixonado por chocolate, Bruno Arrigucci Bernardes, 33 anos, e Tálita Bertolucci Arrigucci, 36 anos. Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Andressa Marcondes Bargas 29 anos, administradora de empresas

Andressa Bargas sempre foi apaixonada por moda e, depois de se formar em administração na UNIFAE, decidiu se mudar para Campinas, a fim de empreender. Em meio à crise, viu a oportunidade de abrir a própria loja, a Ouvi Biju?, oferecendo produtos a um preço acessível. Um ano e meio depois, o negócio dos sonhos se tornou uma franquia com 60 lojas espalhadas por todo o país. Como foi sua trajetória profissional antes da Ouvi Biju? Nasci em São João da Boa Vista e sou formada em administração de empresas. Durante a faculdade fiz estágio e depois comecei a trabalhar no financeiro de uma empresa da cidade, mas ter o próprio negócio sempre foi meu sonho. Resolvi me mudar para Campinas para colocar esse desejo em prática. Pensava em abrir uma empresa na área da alimentação, pois também sou formada em gastronomia, mas nunca segui na área. Então pensei em acessórios, já que todos gostam de usá-los. Foi apenas com coragem e força de vontade que eu resolvi criar minha empresa. Como surgiu a Ouvi Biju? Em 2016 abri minha primeira loja em Campinas. Até então 24

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eu não tinha ideia de expandir, eu só pensava em ter meu próprio negócio para administrar, mas surgiu a procura e a vontade de crescer. Há um ano e meio veio a ideia de passar de uma loja para uma franquia. Em apenas três anos nós já possuímos 60 lojas espalhadas por várias cidades do país. A maior parte está concentrada no estado de São Paulo, mas temos também na Bahia, no Sul, no Paraná, Tocantins, todas espalhadas pelo Brasil. Foi uma expansão bem rápida, mas eu sempre estive atenta para que tudo desse certo. Onde e como surgiu a oportunidade de abrir a loja? Eu sempre gostei muito de moda e tendências, até pensei em fazer moda quando era mais nova, mas acabei desistindo. No ano em que eu queria empreender só se falava em crise.


Me diziam que eu era louca por ter meu próprio negócio naquele momento, em época de empresas fechando e pessoas desempregadas. Eu não fiquei desestimulada com isso, pelo contrário, eu pensei em abrir algo de baixo custo para que todos pudessem comprar. Surgiu a ideia de colocar o preço de R$ 10 que é acessível. Muitas vezes uma mulher quer ir a uma festa, mas não pode comprar um look novo, então um acessório muda todo o visual dela. Na necessidade de ter um produto barato para oferecer em época de crise e a vontade de empreender, eu decidi abrir a loja. Qual a principal dificuldade em ter seu próprio negócio? A maior dificuldade está em você encontrar algo que goste porque, caso contrário, seu trabalho não será feito com amor e carinho, e pode não dar certo. Dificuldades você encontra em todos os setores, como a burocracia ou a escolha errada do público para o seu produto. Eu pesquisei e vi que meus produtos poderiam atingir todos os clientes. A dificuldade é essa, você entender seu negócio antes de colocá-lo em prática. Qual o diferencial da Ouvi Biju? Temos fabricação própria, peças exclusivas inspiradas em marcas (nacionais e internacionais) já conceituadas e produtos para todos os gostos e estilos. Além do nosso preço, que é muito acessível, também temos nossa produção feita em Limeira, então fazemos banhos próprios para melhorar

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nossos produtos e montamos várias peças. Como lidar com a concorrência para atrair clientes? Concorrêcia existe em todo lugar, mas acredito que em São João nós somos os pioneiros nessa qualidade, em ter peças exclusivas e fabricadas por nós mesmos. Então conseguimos atender o gosto das clientes, perceber as preferências e estilos, e colocar isso nas peças. Você não precisa pagar R$ 80 por uma peça bacana, nós temos qualidade e estilo a um preço acessível. Minha ideia sempre foi a pessoa gastar pouco e estar na moda. Quais são os planos futuros para a empresa? Nosso plano de expansão está a todo vapor. Até o final do ano queremos chegar a 100 lojas. Meu desafio como franquia é aumentar cada vez mais a rentabilidade dos meus parceiros. Buscamos melhorias para que dê resultados para todos os nossos franquiados. A ideia, quando uma pessoa adquire uma loja da nossa marca, é que ela tenha renda, resultados e que seja satisfatório. Queremos continuar isso. Qual a dica para quem quer ter o próprio negócio? A primeira coisa é sonhar e acreditar, assim como eu fiz. Muitas pessoas me apoiaram, outras não, alguns diziam que era loucura, mas eu queria, eu fui e consegui. Nunca desistir é a palavra, mesmo que apareçam obstáculos e barreiras, se acreditamos e fazemos não tem como dar errado. >


Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Tálita e Bruno Arrigucci ela, 36 anos, chef de cozinha; ele, 33 anos, arquiteto

Um casal apaixonado por chocolate resultou na abertura do próprio negócio que não poderia deixar de ser uma chocolateria. Depois de voltar da Itália, onde Tálita Arrigucci foi a primeira brasileira a trabalhar em uma confeitaria em Milão, o casal trouxe um pedacinho da Europa para São João. Ela se considera mais criativa, enquanto Bruno Arrigucci é mais prático. E a união dessas qualidades está no sabor de cada chocolate encontrado na loja. Antes da Ganacherie, como foi a trajetória profissional do casal? Eu, Bruno, nasci em São João da Boa Vista, cursei arquitetura e urbanismo em Poços de Caldas (MG) e casei com a Tálita em 2016. Trabalhava como arquiteto na cidade, mas resolvemos mudar para a Itália, um mês depois que nos casamos. Moramos por quase dois anos no país, trabalhavámos em Milão e fomos com a ideia de não voltar mais para o Brasil, porque eu queria fazer o mestrado na Itália e, enquanto isso, trabalhei em diversos lugares, inclusive em redes de fast food. Resolvemos retornar porque sentíamos muita saudade da família e, depois de um tempo, decidimos ter nosso próprio negócio, que surgiu com a experiência da Tálita em Milão. Já eu, Tálita, também nasci em São João, me formei em psicologia em Poços de Caldas (MG) e, embora eu atue como psicóloga, sempre fui apaixonada por cozinha e chocolate. O Bruno sempre foi chocólatra e eu gostava de inventar com o chocolate. Então começamos a fazer artesanalmente em casa, para amigos e familiares. Passei por dificuldades fora do meu país, porque eu não sabia falar italiano, mas consegui me formar em pasticceria (confeitaria), na Academia Italiana de Chef. Fiz estágio não remunerado durante três meses na confeitaria Martesana, uma das mais conceituadas de Milão e trabalhava seis dias por semana, em média 13 horas por dia, para conseguir experiência. Três dias depois, fui contratada como a primeira brasileira a trabalhar ali. 26

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Mas a saudade apertava, então decidimos voltar com o desejo de empreender. Onde e como viram a oportunidade de criar a chocolateria? Quando voltamos não sabíamos o que exatamente abrir. Inicialmente, a nossa ideia era criar uma confeitaria, mas demandava um recurso financeiro muito maior, então optamos por focar especificamente no chocolate. A elaboração da ideia foi devido a tudo que vivemos na Itália, queríamos trazer a experiência europeia do chocolate para São João. Portanto, tudo surgiu da qualidade que vimos no país, porque aprendemos que, para os italianos, a relação com a comida é uma paixão, eles não aceitam qualquer chocolate, só o melhor. Isso foi o que conseguimos trazer para cá, já em dois meses com nossa loja aberta, a melhor qualidade. Qual a principal dificuldade em se ter o próprio negócio? Sem dúvidas é a questão financeira, isso porque nós tivemos muito trabalho, foi tudo bem planejado e nós fizemos tudo o que podíamos para conter gastos. As paredes da nossa loja e os balcões fomos nós que erguemos e pintamos. Meu sogro ajudou nos acabamentos, fizemos o possível para economizar. Todo o desenvolvimento de marca e embalagem nós também fizemos, com a vantagem de termos um arquiteto com criatividade por aqui, então isso ajudou. Como é abrir o negócio dos sonhos ao lado do parceiro?


É maravilhoso, nós nos damos muito bem e nos completamos. No máximo discutimos pelos sabores das trufas, porque cada um gosta de um sabor diferente. O Bruno é empreendedor e eu gosto mais de fantasiar as coisas, então casa muito bem, a gente se complementa, a deficiência de um é a qualidade do outro, e isso sempre resultou em coisas novas para nossos clientes. Como surgiu o nome Ganacherie? Foi uma das coisas mais difíceis de decidir. Nós queríamos um nome italiano para que pudesse representar bem nossa empresa, mas nos deparamos com outros empreendimentos com os nomes que tínhamos em mente. Então optamos pelo Ganacherie que siginifca ganache em francês e casa bem com a culinária francesa que também é nossa inspiração, já que utilizamos muito a ganache em nossos produtos. A bolacha Pillow Willow, nosso carro chefe no começo de nossa carreira, criamos depois da nossa prima trazê-la da Austrália. São dois biscoitos amanteigados recheados com ganache de chocolate ao leite, que fez muito sucesso aqui no Brasil. Ele está em fase de implementação aqui na nossa loja porque todo mundo ainda pede, devido o sabor. Qual o diferencial da Ganacherie? Nossa experiência artesanal, sem dúvidas, é o nosso diferencial. Tentamos sempre trazer trufas novas e combinações de sabores diferenciados. Trabalhamos apenas com chocolate

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belga de melhor qualidade, creme de leite fresco, fruta de verdade e nossos produtos não têm gordura vegetal, você consegue sentir o verdadeiro sabor. Como lidar com a concorrência para atrair clientes? Acredito que nós concorremos com nós mesmos, primeiramente, e depois, com lojas de presentes, não apenas de chocolates, mas também perfumarias. Muitos compram nossos produtos para presentear, como no dia das mães e aniversários, por exemplo. Apostamos na qualidade dos nossos chocolates para atrair os clientes. Quais os planos para a empresa? A primeira ideia é colocar um café na chocolateria, ampliar nosso espaço, trazer algumas tortas e o gelato, mas sempre com a ideia inicial de colocar o que é de fora e que você não encontra aqui em São João, como uma torta italiana, por exemplo. Queremos trazer, ainda, mais da tradição europeia para cá. Qual dica vocês dão para quem pensa em empreender? Não desistir, porque não é fácil. Você vai esbarrar em muitos empecilhos e incertezas, mas não pode parar. Nós lemos uma frase que dizia: “melhor feito do que perfeito”, então se você for esperar a situação perfeita para abrir o seu negócio, você nunca vai conseguir. Nós abrimos, corremos contra o tempo na época da Páscoa e deu tudo certo, não tivemos a condição ideal, mas sim nossa força de vontade. A


psicologia

Baby Blues O estado regressivo e melancólico pode durar até duas semanas após o parto. POR MARYÁ REHDER AMBROSO

Positivo! A partir do momento em que a mulher pega o resultado do exame de gravidez, uma explosão de sentimentos é vivenciada por ela. Afinal, em nove meses tudo mudará por completo e ela poderá vivenciar o amor incondicional envolto de uma experiência única, onde serão construídos os momentos mais mágicos de sua vida e de sua família. E nesses nove meses, ela prepara tudo nos mínimos detalhes, escolhe o enxoval com o maior carinho do mundo e decora o quartinho prestando atenção em toda a minudência. A cada ultra-som a ansiedade aumenta e a emoção toma conta do coração. Eis que chega o dia mais esperado, o do nascimento! Finalmente ela conhecerá o amor da sua vida e a felicidade terá morada garantida no seu dia a dia. O bebê nasce e as emoções sentidas pela mãe não são bem aquelas esperadas por ela e por todos ao seu redor. A tristeza e a melancolia começam a se manifestar e poucos entendem o porquê disso. Mas essa mudança no comportamento e nas emoções da mãe nada mais são que os hormônios começando a agir. Não se trata de uma insatisfação ou infelicidade da mãe, mas sim de uma desordem emocional, um período de instabilidade de humor ocasionado por todas as mudanças pelas quais ela vem passando: nova rotina, forma física diferente, um novo ser dentro do lar, as expectativas sobre o ser uma boa mãe e, principalmente, sobre o futuro. Esse conjunto de sintomas e sinais é

denominado de Baby Blues. O Baby Blues é, então, um estado regressivo e melancólico que normalmente se inicia nos primeiros três a cinco dias após o nascimento do bebê e pode durar até duas semanas. Passando desse tempo, é necessário que a mamãe procure por ajuda, para que seja feita uma avaliação psicológica mais detalhada. Sintomas como: insegurança, impaciência, ansiedade, insônia, mudança brusca de humor, vontade de chorar constante e maior sensibilidade emocional são característicos desse período. E, diferentemente da depressão pós-parto, tais sintomas não impedem que a mãe realize suas atividades rotineiras ou cuide do seu bebê. E como tratar o Baby Blues? O primeiro passo é conversar, por isso é muito importante que a mãe seja notada, visto que na maioria das vezes, logo após o nascimento do bebê, a mãe é esquecida pelos familiares. Portanto a escuta é necessária, compartilhar os sentimentos e buscar acolhimento são atitudes fundamentais para que os sintomas sejam amenizados. Além, também, a divisão das tarefas com o bebê. É possível que outras pessoas de confiança fiquem com o bebê para a mãe tomar um banho, se alimentar e descansar um pouco. Receber um recém-nascido na família é um presente para todos. Se houver colaboração, empatia e muito amor envolvido, a jornada do puerpério pode ser mais branda e os bons sentimentos tendem a se instalarem e fazerem morada no cotidiano da mais nova mamãe e de todos os que a rodeiam gerando, assim, um desenvolvimento sadio e tranquilo para o bebê. A

Foto: Melahirkan Artboard

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negócios

Design de interiores e empresas A bem utilizada decoração de um ambiente pode ajudar no conforto, na organização e até mesmo na qualidade de vida das pessoas. POR PEDRINHO SOUZA

Por conta da modernidade de dos altos custos, cada vez mais os espaços físicos estão menores, seja em ambientes residenciais ou comerciais, fazendo com que cada metro quadrado seja melhor utilizado. Portanto, a profissão de design de interiores vem crescendo, mostrando que cada detalhe é essencial para que as pessoas se sintam bem e aproveitem o espaço da melhor forma possível. O QUE É? O design de interiores consiste no planejamento e na organização de todas as necessidades de um espaço, incluindo iluminação, mobiliário e as partes elétricas. O profissional da área é responsável por desenvolver um projeto que

ofereça praticidade e conforto dentro de uma composição esteticamente eficiente e equilibrada. Além disso, é possível projetar ambientes residenciais e comerciais, em qualquer estilo. A equipe da Revista Atua conversou com Paulo Vieira Rosa, designer de interiores. Ele fala sobre a importância da decoração em uma empresa. “A decoração revela muito sobre a marca, os valores, o público-alvo e o segmento. Muitas vezes pode ser o primeiro ponto de contato com um cliente. Para exemplificar, podemos pensar que seria bem como a roupa que vestimos, o que ela diz sobre nós. Seria, então, a mesma coisa que a decoração diria sobre a empresa”, comenta. Quando o assunto é design de interiores, cada detalhe é importante, uma

boa decoração é essencial para que o cliente sinta-se bem no espaço e volte mais vezes. É preciso atentar para a ajuda de um profissional, para os aspectos que envolvem o projeto completo de um ambiente, desde as cores até a parte elétrica. “Cada espaço deve garantir o devido retorno à empresa, sendo usado da melhor maneira possível. Posso usar, como exemplo, o Hills [Burger] onde, no projeto que criamos, estoques ocuparam lugares inusitados, devido à falta de espaço, como embaixo de uma mesa, em cima de um forro de madeira e até mesmo numa parte onde fica completamente a mostra, fazendo parte da decoração do ambiente. Olhar de maneira diferente os espaços comuns, ressignificar objetos e móveis, é um bom ponto de partida para se desenvolver o projetos

PÚBLICO-ALVO

Um projeto para a composição de uma empresa, é preciso priorizar o público-alvo. Os principais pontos a serem considerados são as suas necessidades, interesses, desejos e comportamentos.

Foto: Reprodução Internet

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em espaços reduzidos”, pontua Paulo.

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QUALIDADE DE VIDA A decoração pensada de maneira funcional pode ajudar na circulação dos ambientes, na organização, conforto e praticidade. Até a escolha de um tom para pintura de uma parede pode colaborar para aumentar ou baixar a energia das pessoas, ou mesmo a escolha da temperatura da iluminação, nos deixando mais ou menos atentos para trabalhar. Esse entorno criado pode nos ajudar tanto para o lazer quanto para o relaxamento, aumentando a qualidade de vida de quem o utiliza.

palmente, a necessidade e os desejos do cliente. O cotidiano de trabalho envolve o contato com arquitetos, marceneiros, pedreiros, pintores e eletricistas. Responsável por traduzir a personalidade das pessoas que ocuparão o local, o especialista na área busca aproveitar o espaço de acordo com aquilo que a estrutura física proporciona. Um profissional de interiores fará as melhores escolhas na hora de decorar uma casa. O planejamento de interiores pode trazer qualidade de vida todos os dias, criar um ambiente mais confortável, uma empresa mais produtiva e uma morada mais acolhedora.

A PROFISSÃO O designer de interiores é o profissional que ordena cada espaço da melhor forma possível. O objetivo é deixar o ambiente esteticamente harmônico, aconchegante e funcional. Ele trabalha com a ambientação de espaços residenciais e comerciais. Arranja os ambientes, levando em conta a estética, o conforto, a funcionalidade e, princi-

ACOMPANHAMENTO Quando um designer fica responsável pelo projeto de um ambiente, ele geralmente também monitora o andamento da obra. Com isso, o cliente não precisa gastar muito do seu tempo cuidando dos detalhes da execução, pois a garantia de qualidade na entrega estará sob a responsabilidade do profissional adequado. “Quando for buscar um profissio-

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nal, é muito importante olhar os projetos que ele já desenvolveu, assim você pode optar por aqueles que desenvolvem trabalhos parecidos com o que você sonha. Existem diversos modelos de contratos que podem atendê-lo”, menciona. ARQUITETURA X DESIGN DE INTERIORES As profissões de arquiteto e designer são diferentes. A formação em arquitetura e urbanismo é um bacharelado que dura cinco anos e desenvolve conhecimentos para atuar em diversas áreas: urbanismo, projeto para residências, prédios comerciais, paisagismo, design de produtos e interiores. Em contrapartida, o curso design de interiores desenvolverá habilidades para ambientação interna de espaços residenciais e comerciais. De modo geral, o design de interiores trabalha em uma escala mais próxima das pessoas e em espaços menores que a arquitetura. Alguns arquitetos, inclusive, oferecem esse tipo de serviço como um projeto complementar. A


negócios

Erros: punição ou aprendizagem? Falhas devem ser encaradas como possibilidades de melhoria. POR MARCELO BOEGER

Cada vez mais buscamos nas organizações uma cultura de desempenho. Mas, mesmo com capacitações regulares, tecnologia e ferramentas, erros podem ocorrer e temos que estar (a qualquer momento) preparados para identificá-los e neutralizar as suas consequências no menor tempo possível. Algo que não foi planejado aconteceu. E agora? Como a sua gestão lida com isso? Claro que o melhor a fazer com as falhas seria evitá-las. Mas, já que algumas vezes acontecem, mesmo com todas as precauções requeridas, podem ser pelo menos usadas como oportunidades para compreender falhas nos processos e no aprimoramento (ou criação) de um sistema de alerta existente para percebê-las antes que as mesmas ocorram. Na área de facilities especialmente, as equipes podem estar expostas a um alto volume de atendimento em determinados horários, os tempos das atividades são mensurados e monitorados e os erros podem ter consequências diretas no cliente final (ou no tomador), afetando a qualidade do serviço. Percebo em muitos casos, erros ocorrendo com colaboradores bem-intencionados, mas em processos com desenhos equivocados que podem estar voltados ao erro. Muitos serviços ocorrem em locais ou em momentos mais vulneráveis (na troca de turno, na fronteira entre dois serviços) em que não está realmente claro as responsabilidades das partes, por exemplo. Erros podem acontecer por vários motivos. Um dos motivos mais comuns que ocorrem em uma organização é originado pela falha na comunicação. Às vezes causados pela própria pressão do ambiente por produtividade (acima daquilo que a equipe tem capacidade de entregar), pela pressa para realização de uma tarefa, pela falta de habilidade e qualifi-

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cação dos profissionais que executam (que pode ser causada muitas vezes por um recrutamento e seleção ineficaz), imaturidade da equipe, a falta de controle sobre os resultados (que pode fazer com que erros só sejam percebidos bem depois do fato que o originou) e mesmo pela alta rotatividade da equipe. As empresas que simplesmente toleram erros constantemente – criam problemas enormes para a qualidade de sua operação. Por outro lado, o ritual de “caça às bruxas” poderá criar um ambiente de insegurança, injustiça, medo e baixa produtividade. A equipe operacional deve sentir que atua em um ambiente em que erros são tratados, notificados e servem para aprendizagem. Caso contrário, atuarão em baixo desempenho. Quando atuam em ambientes em que erros são amplificados por outros da equipe e a liderança “apenas” busca culpados de forma indiscriminada para punir os responsáveis, é gerado um clima constantemente tenso e uma insegurança muito grande nas equipes. Normalmente, os envolvidos tendem a culpar “algo” ou “alguém” pelo problema, para se livrar das consequências e não há nenhum trabalho de revisita ao processo para se evitar que o problema se repita no futuro. Neste cenário, quando uma decisão tem que ser tomada, muitas vezes não há quem queira se expor, para não ser o responsabilizado pelas consequências da mesma. O “jogo do empurra”, a estagnação e o medo de decidir errado poderão ser o estopim para potencializar ainda mais as consequências do dano original. Erros intencionais também existem e devem estar no “radar” do gestor. Um olhar atento sobre o erro poderá identificar eventuais sintomas de fraudes, boicotes ou sabotagens – motivados às vezes por insatisfação, por má fé, para desafiar o sistema ou ainda, para afetar diretamente alguém – mesmo que seja sua própria liderança. A


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matéria de capa

eSports: um negócio de bilhões de dólares Competições profissionais de jogos virtuais ganham cada vez mais espaço no país e atraem até mesmo os tradicionais clubes do Brasil. POR FRANCO JUNIOR E MATEUS ANANIAS

Os eSports - ou esportes eletrônicos – têm sua origem na Coréia do Sul, principalmente por conta do jogo de estratégia StarCraft, lançado em 1998. Desde o lançamento a Blizzard Entertainment, produtora do game, reportou que seu serviço multiplayer online Battle.net (uma plataforma, a qual permite que jogadores de todo mundo possam jogar via internet), cresceu 800%. Foi a inusitada combinação do jogo e do serviço online que lançou as bases para se estabelecer um cenário profissional do eSport na Coréia, transformando os jogadores profissionais

em celebridades da mídia, que têm suas partidas transmitidas ao vivo em canais de televisão dedicados aos jogos eletrônicos, desde os anos 2000. A febre logo se espalhou por todo o mundo. Com isso, o que antigamente era apenas um passatempo entre os jovens, e que fazia com que os pais obrigassem os filhos a desligarem o videogame ou o computador para praticarem algum tipo de atividade física, se tornou uma profissão, envolvendo até mesmo competições mundiais, o que movimenta bilhões de dólares com contratações, times e contratos de patrocínio. E a diversidade é grande entre as

STARCRAFT

opções de eSports: há jogos de luta (Mortal Kombat e Street Fighter), de cartas (Hearthstone e Magic), FPS (que são jogos de tiro em primeira pessoa, como Counter-Strike e Call of Duty), MMO (jogo simulando mundos e que reúnem muitos jogadores online, como World of Warcraft) e MOBA (arena de batalha online multiplayer, como DotA 2 e League of Legends). Entretanto, os mais famosos e com maior público de competições, hoje em dia, são LoL (League of Legends), CS (Counter Strike), DotA e Overwatch. Esses jogos possuem ligas próprias e muito fortes, angariando, além dos competido-

Foi o jogo, lançado em 1998, que lançou as bases para se estabelecer um cenário profissional do eSport na Coréia, transformando os jogadores profissionais em celebridades da mídia nos anos 2000. 34

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TÉCNICO CAMPEÃO

Um dos maiores responsáveis pela caminhada da INTZ até a final do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL) de 2019 é o sanjoanense Lucas “Maestro” (no centro da foto). Nascido em Bauru e criado em São João da Boa Vista, ele é membro da comissão técnica do time desde a primeira etapa de 2017.

res, um público enorme, que geram todos os anos receitas bilionárias. A natureza competitiva desses jogos e o constante trabalho das empresas criadoras fazem com que as transmissões e campeonatos sejam os maiores do mundo, com enormes premiações. Para se ter ideia da importância e do tamanho desse universo, basta destacar que os grandes eventos anuais desses jogos lotam estádios e ginásios, além de reunirem públicos superiores em números totais - maiores que as finais da NBA. Já no Brasil, o eSport ainda está crescendo, apesar de ser um gênero de competição já bem popular. O game mais famoso neste sentido, por aqui, é o League of Legends, graças ao suporte dado pela produtora Riot Games, em torneios oficiais, como o Campeonato Brasileiro, ou CBLoL, como também é chamado. Jogos como Counter-Strike, Street Fighter e Fifa também possuem torneios locais, porém menores. JOGADORES PROFISSIONAIS Como todo esporte tradicional, os esportes eletrônicos também possuem times e jogadores oficiais. É normal que uma equipe de eSport seja patrocinada por grandes marcas relacionadas com games, por exemplo, além de existirem jogadores que possuem suas próprias marcas, fama e, claro, uma legião de fãs. Um deles é Lucas Pierre Figueiredo, nascido em Bauru e criado em São João da Boa Vista. Lucas não é apenas um jogador de LoL, mas também é técnico da equipe INTZ, que se sagrou campeã do Campeonato Brasileiro de League of Legends, o CBLoL. “O campeonato posssui dois turnos por ano. O primeiro turno de 35

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2019 foi bastante movimentado na tabela, bem equilibrado, mas no fim conseguimos uma boa subida na fase de pontos e chegamos aos playoffs com força. Tanto nas semifinais como nas finais chegamos como underdogs, mas felizmente vencemos todas as adversidades e nos sagramos campeões brasileiros. A final foi bastante significativa por termos vencido a equipe do Flamengo, que vem de esportes tradicionais também com muito peso”, comenta Lucas Pierre, que no jogo usa o nickname (apelido) de Maestro. LOL - LEAGUE OF LEGENDS Com mais de 70 milhões de jogadores registrados, dos quais 32 milhões são jogadores ativos, o LoL (League of Legends), da plataforma PC, é um dos jogos mais populares do mundo e também um dos que mais possuem competições de eSports. O jogo, assim como explica o site omelete.com é um MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) desenvolvido e publicado pela Riot Games. O game funciona como free to play, uma espécie de jogo gratuito, onde qualquer jogador participa sem a necessidade de um pagamento. No entanto, existem itens no jogo que podem ser adquiridos com dinheiro real. Ele é um jogo ambientado em um mundo de fantasia, que envolve batalhas sangrentas e muita magia. Atualmente com 30 anos, Lucas Pier-

re destaca que geralmente o interesse por eSports vem da relação direta que as pessoas têm com os jogos que gostam. Entretanto, ele explica que, no caso dele, a paixão teve início ainda na infância. “Sou gamer desde os cinco anos de idade, então foi uma transição natural. Para os jovens que não possuem uma paixão enorme por futebol, por exemplo, é uma segunda opção bastante acessível. Além disso, sempre fui um grande fã de competições esportivas, então acabei unindo o útil ao agradáve, e transformei meu hobby e minha paixão no meu trabalho”, revela Maestro. Ele comenta, ainda, sobre o crescimento das competições de eSports por todo o mundo. E relata que os torneios têm ganhado espaço até mesmo em arenas e estádios que, a princípio, foram desenvolvidos para jogos de futebol. “As competições em esportes eletrônicos são bastante variadas, considerando organizações, eventos e tamanho. Algumas modalidades, como LoL, Dota e CS, movem milhões de dólares e de pessoas por ano, e cada campeonato é bastante visado e muito profissional. Outras modalidades são um pouco menores e mais novas, o que gera públicos menores e menos exposição. Normalmente o grosso das partidas é disputado online (cada um em seu centro de treinamento), ou em estúdios fechados (como é o caso do CBLOL). As partidas REVISTA ATUA | AGOSTO DE 2019

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são transmitidas para milhões de pessoas de todo o mundo em diversas línguas, e os eventos de partidas importantes são presenciais, em locais bastante famosos como o Allianz Parque, o estádio de Seoul ou a famosa Key Arena, de Seattle”, conclui. COUNTER-STRIKE Counter-Strike (usualmente abreviado como CS) é uma série de jogos eletrônicos de tiro em primeira pessoa multiplayer, no qual times de terroristas e contra terroristas batalham entre si, respectivamente. A série foi lançada inicialmente como uma modificação do jogo Half-Life e foi desenvolvida pelos próprios jogadores, antes de ser adquirida pela Valve Corporation, desenvolvedora do Half-Life. O sucesso do CS no Brasil tem ligação direta com a febre das lan houses, que pipocaram por todo o país nos anos 2000. Muitos jogadores tiveram sua primeira experiência de jogar online através do Counter-Strike, o que logo fez prosperar a comunidade online do game. Nessa época, o eSport ainda era em grande parte - underground. O Brasil estava no auge do boom econômico, e os jovens estavam se apaixonando por FPS, saindo da geração que cresceu no Playstation. Mas, o que popularizou mesmo o CS, foi que o jogo não exigia um computador extremamente bom e caro para ser jogado. “Desde o início do eSports no Brasil, todo mundo estava jogando Counter-Strike”, diz Rodrigo Guerra, jornalista

que cobre o MIBR para a ESPN Brasil, em entrevista à revista americana PC Gamer. “StarCraft, ou League of Legends, não é natural para nós”, explica ele. E hoje, o Brasil possui um dos times mais competitivos do mundo, o MiBR. As primeiras equipes do MiBR apareceram em 2003, ainda no Counter Strike 1.6. Duas décadas depois, o país é um dos melhores times de Counter-Strike: Global Offensive (a nova versão do jogo Counter Strike, conhecida como CS:GO) do mundo, conquistando um título importante no ano passado na ZOTAC Cup. Eles representam uma mudança de poder no tecido do eSports, no gênero de FPS. Percorra as equipes participantes e você verá que, entre os americanos, os ucranianos e os franceses, a MiBR é o único time que representa a América do Sul. “Queremos representar nosso país, queremos deixar nosso país orgulhoso de nós”. “Criar um legado. Um legado brasileiro”, explica Marcelo Coldzera David, jogador do MiBR e muitas vezes apontado como um dos melhores do mundo. No mês passado, a produtora DCSet Group e o Grupo Globo anunciaram o Campeonato Brasileiro de CS:GO (CBCS), que terá premiação de R$ 800 mil, transmissão no SporTV e vaga na Starseries. A iniciativa inédita no País busca fomentar o cenário brasileiro, contando com a participação de equipes nacionais.

BRASIL É O TERCEIRO NO MUNDO NOS ESPORTS Se o Brasil já é popular no mundo em diversas modalidades esportivas, principalmente no futebol, cada vez mais o país também tem se tornado tradicional no eSports. Estima-se que, hoje, o Brasil é o terceiro país com mais número de jogadores no mundo, com 66 milhões de pessoas ligadas aos jogos eletrônicos. O número de simpatizantes dos eSports no Brasil é maior, por exemplo, do que a torcida do São Paulo - o terceiro clube de futebol do país em número de torcedores. Segundo a última pesquisa da Newzoo, o Brasil registrou um crescimento de 20% em sua audiência de eSports em relação ao ano anterior, e chegou a 2019 com 21,2 milhões de fãs. Este total é dividido em 12 milhões de ocasionais e 9,2 milhões de entusiastas (aqueles que acompanham regularmente), o que nos coloca como a terceira maior torcida do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Os números podem ser ainda mais expressivos quando focamos nos hábitos de consumo dos gamers brasileiros. Os entusiastas do eSport são os que mais compram jogos, hardwares e periféricos, segundo a 1ª Pesquisa Game Latam, que mapeou os hábitos de consumo dos gamers no Brasil, México, Chile e Colômbia. O estudo abordou 2.100 gamers e foi

SUCESSO NO BRASIL

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O sucesso do Counter-Strike (CS) no Brasil tem ligação direta com a febre das lan houses, que pipocaram por todo o país nos anos 2000. Muitos jogadores tiveram sua primeira experiência de jogar online através do CS, o que logo fez prosperar a comunidade online do game. Acima, foto do time MiBR durante um campeonato.

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Mulheres representam um terços dos expectadores de eSports Um estudo feito pela empresa de pesquisas Interpret mostrou que as mulheres representam atualmente 30,4% dos espectadores de eSports. A pesquisa foi realizada com base em dados do último trimestre de 2018, mostrando um crescimento em relação ao público feminino de eSports demonstrado em 2016. Esses números são grandes avanços para o mercado, já que no mesmo período de 2016 o valor era de 23,9%. Este crescimento de quase 6% em apenas dois anos mostra que o segmento está a caminho de uma futura paridade de gênero em seu público. Em informações mais aprofundadas sobre o público feminino nos eSports, 35% são jogadoras de games de PC/Console relacionados aos esportes eletrônicos, enquanto 20,3% acompanham ligas competitivas. Mesmo com números crescentes, os jogos competitivos mais comuns não são os prediletos do público feminino, sendo alguns exemplos Dota 2 (20%), Rainbow Six Siege (23%), Counter-Strike: Global Offensive (24%), Hearthstone (26%) e Overwatch (26%). De acordo com Tia Christianson, vice-presidente de pesquisa da Interpret da Europa, Oriente Médio e África, a indústria de esports apresentará mais crescimento futuramente. “Como uma indústria, mais progressos serão feitos, já que o papel das mulheres em títulos tradicionais de esports continua a crescer dados os esforços de alguns dos líderes do setor. É mais provável que muito desse crescimento venha em gêneros de esport não tradicionais e, especialmente, em jogos adaptados a dispositivos móveis e tablets”, cita Tia Christianson.

feito pela Seeds Market Research e FD Comunicação. Além disso, os eSports fazem o Brasil figurar entre o 10º e 15º lugar em relação ao faturamento desta modalidade. E este panorama deve mudar para melhor, em breve. Em setembro do ano passado, o então ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, divulgou um investimento de R$ 100 milhões no setor nacional de games, que deverá ser utilizado em linhas de estratégicas de desenvolvimento e produção de jogos, aceleração de empresas, festivais, tecnologia e desenvolvimento e produção de conteúdo em realidade virtual e realidade aumentada. MERCADO EM ASCENSÃO Diante desses dados, da facilidade de acesso aos jogos eletrônicos e o aumento no número de praticantes, o mercado de eSports deverá crescer quase 15% em 2019. Os números são da Newzoo, agência global de marketing especializada na modalidade, que aponta que o público global da modalidade deve alcançar mais de 450 milhões de pessoas neste ano. Isso se deve ao maior número de jogos se tornando populares, além de marcas começando a criar torneios próprios, 38

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fazendo ser tendência que o número de campeonatos dispare. O jogo Fortnite, por exemplo, passará a ter um campeonato mundial em 2019. Sobre essa crescente no número de campeonatos, Bruno Luis Pereira, que é jornalista de eSports, explica que nem todos os jogos acabam se tornando eSports e que nem todos os fãs de jogos se tornam gamers. “Nem todos os jogos são eSports, na maioria das vezes a empresa que lança o jogo já pensa que ele pode vir a se tornar uma competição e/ou um torneio. É importante dizer também que são poucas pessoas que conseguem chegar a um nível competitivo. E quando esse nível é atingido, existe uma estrutura muito maior, pois há muitas empresas e marcas querendo entrar nesse mercado, para atingir essa parcela da população que não está ligada na televisão e no rádio”, relata o jornalista. CLUBES TRADICIONAIS NOS JOGOS ELETRÔNICOS Com jogos e competições de eSports crescendo cada vez mais, os tradicionais clubes de futebol do Brasil têm aderido ao universo virtual, lançando suas próprias equipes. No Brasil, Flamengo, Corinthians e Santos, por exemplo, são

alguns dos clubes que viram essa oportunidade de se aproximar com outra parcela da população, que muitas vezes nem mesmo gosta de futebol. Em outros países, esta tendência é ainda maior, fazendo com que clubes de futebol como PSG (França) e Schalke 04 (Alemanha) e de basquete Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers, já possuam também suas equipes de eSports. “Muitos adolescentes não estão tão interessados em futebol e outros esportes tradicionais, mas sim em esportes virtuais. Eles estão na internet e têm as linguagens próprias, que os clubes tradicionais não conseguem atingir. É uma oportunidade de mercado que não dá para deixar passar. Inclusive, quando o Corinthians entrou no eSports, em 2017, o diretor de marketing do clube citou o exemplo de uma publicação da página de eSports do clube, em que um jovem disse que não gosta de futebol e que o pai dele não gosta de vídeogame, mas que agora ele tem algo em comum com o pai, que é poder torcer para o Corinthians. Ou seja, os clubes tradicionais não podem ficar de fora, é uma nova tendência, é uma revolução”, destaca o jornalista Bruno Luis Pereira. A


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nossa cidade

A centenária Casa Giordano Empresa de presentes e utilidades domésticas está na quarta geração da família. Fotos: Arquivos pessoais

POR PEDRINHO SOUZA E MATEUS ANANIAS

No início do século XX o mundo tinha menos de 2 bilhões de habitantes, sendo que, hoje, são mais de 7 bilhões. O Brasil contava com cerca de 1.300 cidades (atualmente o número atinge 5.570 municípios) e a população brasileira evoluiu de 30 milhões para aproximadamente 210 milhões de habitantes. Muita coisa mudou desde a fundação da loja, na rua Saldanha Marinho, próximo à esquina com a rua Tiradentes, localizada bem no centro da cidade. A empresa teve de se reinventar diversas vezes desde sua inauguração, em agosto de 1919 – pouco menos de um ano após o fim da Primeira Guerra Mundial, a “guerra para acabar com todas as guerras”. Passou pela crise de 1929, pelo golpe paulista, a revolução de 1932; assistiu à ascensão do nazifascismo – inclusive na cidade – que culminou com a Segunda Guerra Mundial; por diferentes planos econômicos e crises, incluindo a atual; e continua em atividade até nossos dias, já na quarta geração da família. Atualmente a Casa Giordano conta com mais de 20 mil itens e é uma referência em presentes e utilidades domésticas, em toda a região. INÍCIO DAS ATIVIDADES Tomazina Giordano nasceu no dia 11 de setembro de 1881, na região de Rivello, na Itália. Em 1909 veio para o Brasil encontrar o marido, Vincenzo Giordano, que no ano anterior chegou ao Brasil e estava na companhia de um parente já radicado em São João da Boa Vista. Vicenzo veio trabalhar como folheiro (que é uma espécie de funilaria, utilizando folhas de flandres). O casal tinha dois filhos: Nícola e Rafaella. Na leva de imigrantes italianos que aqui chegaram, havia grupos de profissionais que relutaram em ir para as la42

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vouras de café para substituir os escravos abolidos (1888). Principalmente os sapateiros e folheiros, que possuíam requintado gosto e dotes artísticos. Após o reencontro, o casal teve mais dois filhos: Rufina e Lourenço. Em uma de suas viagens a trabalho

pela zona rural, Vincenzo sofreu um acidente, caindo de sua montaria e se ferindo gravemente. Sendo transportado ao hospital da cidade vizinha, Poços de Caldas, veio a falecer. Dona Tomazina, como era conhecida, perdeu o marido precocemente


Foto: Arquivo pessoal

e teve de cuidar da casa, dos filhos e se adaptar a uma língua que pouco dominava: o português. No meio desse cenário de desamparo, buscou algum meio para sustentar a família e, com ajuda de José Maringolo, o qual era casado com Rosa Buoncristiano Maringolo, sobrinha de Tomazina, abriu um comércio. Precursora da Casa Giordano, Dona Tomazina iniciou um pequeno empório vendendo produtos de alimentação, no estilo secos e molhados, algo muito característico da época em que se vendia um pouco de tudo em armazéns, onde a principal forma de pagamento era a caderneta. Anos mais tarde, Nícola Giordano começou a trabalhar e acabou assumindo o estabelecimento, consolidando a segunda geração da família à frente do armazém. EVOLUÇÃO Em 1938 a Casa Giordano acabou se mudando para o local onde ainda hoje se encontra, na rua Saldanha

IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL

Na imagem ao lado, rara foto do passaporte - ou salvo-conduto - da senhora Tomazina Giordano, em sua vinda para o Brasil, em 1909. Ela veio ao nosso país se encontrar com o marido, Vincenzo Giordano, que no ano anterior chegou ao Brasil e estava na companhia de um parente já radicado em São João da Boa Vista, onde trabalhava como folheiro.

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Marinho, 451. Nesta época, além de empório, a loja começou a trabalhar com ferragens e presentes, por iniciativa de Júlia Milan Giordano, esposa de Nícola. “A Dona Júlia Giordano trabalhou na loja numa época em que não havia calculadora e as contas eram pagas pelos clientes da zona rural, uma vez por ano. Ela anotava tudo em caderneta e as contas eram feitas no lápis e papel”, recorda Maria Inês, nora de Dona Júlia e esposa de Nildo Giordano. É importante lembrar que até a crise de 1929, o Brasil era uma economia cafeeira, extremamente dependente do mercado internacional. Com o auge da crise, o nível de renda naquele período recuou entre 25% e 30% e o preço dos produtos importados se elevou - em média - 33%. É nesse período que ocorre a perda da hegemonia política pela burguesia cafeeira, em favor da classe industrial e urbana ascendente, ávida por modernidade, mais comodidade e tendên-

cias ditadas pela França, no final da belle epoque. PRESENTES E UTILIDADES DOMÉSTICAS É nesse cenário que a Casa Giordano começa a mudar seu foco para exclusivamente presentes e utilidades domésticas. Essa consolidação ocorreu quando Nildo Giordano, filho de Nícola e Julia, assume os negócios da família. O casal também teve uma filha, Eunice Giordano. Em pouco tempo, com a terceira geração da família, a empresa se torna referência regional. Em 1982 foi construído o prédio onde a empresa se situa até hoje: e Sérgio Galvani Giordano, bisneto da Dona Tomazina, assume a gestão dos negócios. Sérgio, que continua à frente da empresa até os dias atuais, oficializa a quarta geração da família nos negócios e pretende chegar muito mais longe. ATUALIDADE E CENTENÁRIO A Casa Giordano tem uma área de 800

metros quadrados, contando com a loja e os depósitos; além de mais de 20 mil diferentes itens entre artigos de porcelana, cristal, inox, alumínio, plástico, eletrodomésticos e cutelaria. “Pode-se dizer que no ramo de atividade em que a gente atua, é a maior e mais completa loja da região. Em todo esse tempo no comércio, sempre buscamos atender o cliente da melhor forma”, conta Sérgio. Ele explica que se sente muito honrado em estar à frente da empresa, por ocasião de seu centenário. “Infelizmente, não são todas as empresas que conseguem atingir essa marca. Então, me sinto honrado por continuar com essa história, que vem lá de trás, com a Dona Tomazina”. Ele também detalha que a empresa está fazendo projetos para realizar eventos, a fim de marcar a data. “É um ano especial, temos um projeto de mudar a nossa logomarca e vamos continuar evoluindo, dando condições de compra mais atrativa e mantendo o nosso atendimento diferenciado, que é nosso forte desde que iniciamos nossas atividades”, finaliza. A

DIVERSIDADE DE PRODUTOS

Hoje, sob o comando de Sérgio Galvani Giordano, a loja reune mais de 20 mil itens de diversas áreas domésticas, sendo uma das maiores do setor na região.

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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sociedade

Um novo setor em construção Mulheres ocupam cada vez mais espaço na construção civil, mas preconceito ainda persiste. POR DUDA OLIVEIRA

As áreas da engenharia sempre foram conhecidas pelo domínio dos homens; mulheres foram excluídas desses campos, pois até há pouco se acreditava que mulheres não tinham inteligência suficiente para fazer contas complexas. Junto a isso, tinha também o estereótipo de que mulheres deveriam ocupar cargos femininos, que necessitavam de atenção e “um toque” de feminilidade, como enfermeiras e professoras. Com o tempo, elas passaram a ocupar o mercado de trabalho, tendo como marco a Revolução Sufragista, onde mulheres conquistaram o direito ao voto e, desde então, lutam para que cada vez mais possam ocupar cargos majoritariamente masculinos, como a área de construção civil. O Brasil foi o primeiro país de toda a América a ter faculdades de engenharia, com a fundação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que posteriormente, em 1858, daria origem à

Escola Central, responsável por formar os primeiros engenheiros civis do país e, principalmente, Edwiges Maria Becker Hom’meil, também conhecida como a primeira engenheira civil do Brasil. Edwiges se formou em 1917. Sendo a primeira mulher a se formar na área, mostrou a importância da representatividade e deu espaço a mais mulheres que queriam ingressar nesse ramo. Assim, a primeira mulher negra a se formar engenheira civil no Brasil e a primeira mulher a se formar engenheira civil no estado do Paraná foi Enedina Alves Marques, em 1945, aos 32 anos. Enedita foi responsável pelo Plano Hidrelétrico do Paraná, atuando na Usina Capivari-Cachoeira, além do projeto do Colégio Estadual do Paraná e da Casa do Estudante Universitário, de Curitiba (CEU). O pioneirismo de mulheres no século XX contribuiu para que outras mulheres pudessem continuar ocupando espaços nas salas de aula, como mostram os dados do Departamento Intersindical

de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Federação Nacional dos Engenheiros, que apontam, entre os anos de 2003 e 2013, um número expressivo de mulheres que se formaram, e que passou de 24.554 para 54.022. Foi um crescimento de cerca de 132%. Porém, de acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), mulheres ainda são minoria no mercado de trabalho, sendo que homens ocupam mais de 86% das vagas e mulheres apenas pouco mais de 13%. O Confea divulgou também que, dos 273.491 profissionais de Engenharia Civil ativos no Conselho, apenas 53.960 são mulheres. PROFISSÃO MASCULINA A arquiteta, Mariana Mendes, relatou que passou por momentos onde sentiu que não foi respeitada por ser mulher e disse que, nesses momentos, pedia para que tais atitudes não fossem repetidas. “A reação a esse pedido é surpreendente, pois em todas as situações o pedido foi acatado, porém, com estranheza. Nesse ponto, vejo que o fator respeito não foi cumprido, então, a partir daí, esse profissional não irá trabalhar mais comigo”, explicou. Mariana associou a diferença de gênero dentro da construção civil ao conservadorismo atribuído à profissão, mas acredita que esse comportamento pode ser mudado com a educação. “A diferença

PRECONCEITO

A engenheira civil, Fernanda Pellegrinelli, contou que, antes de entrar para engenharia, era designer de sobrancelhas, passou por momentos em que sofreu preconceito por atuar numa área majoritariamente masculina. “A pessoa não confia em você por você ser mulher, ela não acha que você é capaz de fazer um cálculo. Alguns homens, os pedreiros mesmo, não acreditam que você vai subir numa escada, não acreditam que você vai entrar num buraco para fazer uma estrutura”, relata.

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

CAUSA “ESTRANHEZA”

A arquiteta Mariana Mendes, relatou que passou por momentos onde sentiu que não foi respeitada por ser mulher e explicou que, nesses momentos, pedia para que tais atitudes não fossem repetidas. “A reação a esse pedido é surpreendente, pois em todas as situações o pedido foi acatado, porém, com estranheza”.

de gêneros dentro da construção civil é algo incontestável, pois, infelizmente, ainda existe um conservadorismo muito grande dentro desse campo, em nosso país. Mas acredito que o conhecimento coloca todos em um mesmo poder de atuação e que quando compartilhado com o outro, aumenta as chances de ter resultados positivos em nosso trabalho”, disse. “O amadurecimento do conhecimento no decorrer da minha carreira, me possibilitou de alguma forma driblar o machismo. Por isso, hoje, quando nós mulheres impomos nossa participação e mostramos a todos quão qualificadas somos para desenvolver qualquer função de desejemos, tornamos essa diferença cada vez menor em nossa atuação profissional”, explicitou a arquiteta. A engenheira civil, Fernanda Pellegrinelli, contou que, antes de entrar para engenharia, era designer de sobrancelhas, mas que a construção civil sempre foi seu sonho. Por isso, mesmo estabilizada financeiramente como designer, optou por

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entrar na graduação aos 27 anos, tendo que conciliar o estudo com o trabalho de designer e a maternidade. “Na época eu não podia largar o emprego, porque era uma faculdade cara. Foi muito difícil. Eu trabalhava o dia todo e à noite, quando poderia ficar com meu filho, eu não conseguia. Eu o via pouco. Me dividia entre trabalho da faculdade e casa, mas todo momento em que eu estava com ele era só com ele. Não tinha celular, faculdade, nada. Era eu e ele”, lembra. “Graças a Deus, meu filho compreendeu isso. Ele amadureceu muito rápido nessa parte de pensar que a mãe dele estava fazendo uma coisa pelo bem dele. E nos cinco anos de faculdade eu consegui conciliar tudo”, conta a engenheira. Fernanda relatou à reportagem da Revista Atua que passou por episódios de discriminação e que isso começou dentro das salas de aula. “O pessoal mais novo compreendia bem, tratavam a gente por igual. Eu sentia um pouco de preconceito na hora de fazer grupo com o pessoal um pouco mais de idade”, revela. “Senti muito preconceito também da parte dos professores; mas não dos professores que eram graduados pra dar aula, e sim dos que atuavam na área e também davam aula. Esses mostravam um certo desconforto quando fazíamos uma pergunta. O preconceito começou dentro da sala de aula. Um dia escutei de um professor que, pra uma mulher fazer engenharia, ou ela é feia ou é sapatão” – termo pejorativo que se refere às mulheres lésbicas, destaca Fernanda. A engenheira disse também que os homens tinham privilégios que davam a eles oportunidade de terem estágios e trabalhos remunerados, mesmo antes de se formarem, enquanto que, para as mulheres, as oportunidades não eram as mesmas. “Eles torciam o nariz por você ser mulher”, conta. Fernanda lembrou de momentos em que sofreu preconceito por atuar numa área majoritariamente masculina. “A pessoa não confia em você por você ser mulher, ela não acha que você é capaz de fazer um cálculo. Alguns homens, os pedreiros mesmo, não acreditam que você vai subir numa escada, não acreditam que você vai entrar num buraco para fazer uma estrutura”, relata. ELA TEM CAPACIDADE? “Eles falam: ‘não dona, você vai se ma-

chucar!’; ‘mas você vai fazer isso?!’. Eu sou baixinha, minha voz é fina e eles me olham se perguntando ‘esta é a engenheira?!’, mas depois que eles me conhecem, acabam vendo que sou capaz. Mas até então, a gente sofre muito preconceito. Ás vezes a gente fala com a pessoa por telefone, por email, e na hora em que a gente acaba encontrando pessoalmente, pelo fato de ser mulher, os clientes se perguntam: ‘será que vai dar certo?’”, acrescenta Fernanda. Outra profissional que atua na área de construção civil em São João da Boa Vista é a pedreira Adriana Cristina Antônio, mais conhecida como Nenê, que iniciou sua carreira há cinco anos, quando tinha 24 anos, como servente de pedreiro, amarrando ferragem. Ela agora trabalha com a parte de acabamento. “Comecei a trabalhar com isso porque estava desempregada. Meu pai é mestre de obras e pedi uma oportunidade a ele”, comenta. “No começo ele não queria muito, porque é uma profissão que só tem homens, mas acabei indo. Amarrei ferragem em uma firma no Distrito Industrial, depois fui tra-

balhar de servente e, com o tempo, comecei a mexer mais com acabamento. Hoje eu gosto muito do que faço”, declara Nenê. Ela comenta que algumas vezes já ouviu que só conseguiu uma vaga nesse ramo devido ao seu pai, mas garante que não se importa com esse tipo de comentário, pois sabe de seus limites. Além disso, a pedreira conta que algumas parceiras de seus colegas de trabalho ficam enciumadas com sua presença nas obras, pois não acham normal uma mulher nesta função. Nenê disse que em cinco anos de trabalho nunca compartilhou uma obra com outra pedreira, mas crê que, sendo pioneira nesse ramo, aqui na cidade, pode inspirar outras mulheres a seguirem o ramo. “Essa é uma profissão que sempre está de portas abertas no mercado de trabalho. Pena que temos muito preconceito, ainda. Muitos acham que não somos capazes, pelo fato de sermos mulheres”, relata. Mas a pedreira deixa um recado àquelas que sofrem esse tipo de discriminação: “vá em frente e mostre que você é capaz”. A

PRECONCEITO EXISTE

Adriana Cristina Antônio, mais conhecida como Nenê, comenta que algumas vezes já ouviu que só conseguiu uma vaga nesse ramo devido ao seu pai, mas garante que não se importa com esse tipo de comentário. Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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saúde

A atividade física auxilia em tratamentos de saúde Terapias alternativas são importantes para melhorar a qualidade de vida de pacientes. POR LUANA ZUIN

Vestindo uma camiseta rosa com os dizeres “O pilates faz bem para o meu corpo, mente e toda a minha essência de ser”, dona Eunice da Silva frequenta a Clínica de Fisioterapia da UNIFAE duas vezes por semana – mas se dependesse dela, seria com mais frequência – para praticar pilates. PROJETO O projeto Pilates Para Reabilitação do Câncer de Mama ganhou vida no começo de 2018, e promove, como o nome sugere, sessões de pilates para pacientes com câncer de mama. A idealizadora do projeto foi Laura Rezende, que trabalha com reabilitação oncológica há 20 anos. A ideia veio da vontade de oferecer o serviço gratuitamente, pois o pilates não

é oferecido pelo SUS e o acesso acabava sendo restrito à comunidade. O estúdio de pilates foi inaugurado no ano passado e vem atendendo mulheres que tiveram ou ainda têm câncer de mama. Os benefícios do pilates vão além de físicos, como conta Laura: “Vemos uma melhora na dor, no movimento, na capacidade funcional, na força muscular, mas, sem dúvidas, existe também um ‘ganho de grupo’ por elas estarem juntas. É muito benéfico para o psicológico uma paciente conhecer a outra, não se sentir sozinha, ver que a colega também passou pela mesma situação”. Dona Eunice descobriu que estava com câncer em 2011 e a notícia mexeu muito com o psicológico dela. “Meu mundo caiu. Eu trabalhava naquela época e tive que parar, meu marido chegou a perguntar se ele poderia casar de novo

se eu morresse, minha mãe e cunhada se afastaram de mim”, relata ela. Hoje, ela deu a volta por cima e o projeto foi parte essencial nesse processo: “O pessoal da clínica deixa a minha autoestima lá em cima. Quando alguém não está bem, eles mandam mensagens, se preocupam. Aqui é uma família”. VOLTA POR CIMA E não é só o pilates, outras atividades físicas podem ajudar no tratamento do câncer. A fisioterapeuta Roberta Perez, de Santos (SP), recebeu o diagnóstico do câncer de mama em 2016, com apenas 27 anos de idade. Na época, desesperou-se e chorou muito, achando que iria morrer. No segundo protocolo de quimioterapia, foi informada que os efeitos seriam dores no corpo. “Quando comecei a senti-las, eu achei que não aguentaria de tão fortes que eram”, relembra. No caso dela, a ajuda veio inicialmente por meio da caminhada, que logo depois tornou-se corrida: O marido levou-a para um passeio ao ar livre e Roberta percebeu uma melhora nas dores. No dia seguinte, repetiu a dose e atreveu-se a correr. “Corri 2 km e chorei de emoção, meu corpo melhorou muito e decidi continuar a fazer a minha parte no tratamento. A corrida fez com que eu me

RESULTADO POSITIVO

“Está evidente que a atividade física ameniza consequências da doença e da terapia”, afirma o oncologista Auro Del Giglio, do Hospital do Coração, em São Paulo. Soa esquisito dizer que “gastar energia vai gerar energia”, mas é nesse sentido que as evidências científicas andam.

Foto: Labcom / UNIFAE

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sentisse viva e feliz. E, ironicamente, só me senti assim quando estive muito doente”, conta ela. Na fase das cirurgias, acabou desenvolvendo depressão. Foi nesse momento que começou a meditar e praticar Yoga, que também ajudaram bastante. Hoje, Roberta tem um perfil no Instagram com quase 10 mil seguidores, onde ela incentiva outros pacientes a praticarem exercícios e compartilha com os seguidores suas descobertas do mundo oncológico. “Percebi que as pessoas não conheciam nada a respeito da vida oncológica e eu poderia ajudar de alguma forma, por exemplo, desmistificando os estigmas que as pessoas colocam sobre nós, pacientes”, explica. “Está evidente que a atividade física ameniza consequências da doença e da terapia”, afirma o oncologista Auro Del Giglio, do Hospital do Coração, em São Paulo. Durante uma palestra realizada no Ganepão, um dos maiores congressos científicos do Brasil, o especialista destacou o papel da movimentação contra a fadiga gerada pelo tratamento. “Não há drogas adequadas para enfrentar essa reação adversa. Apenas os exercícios funcionam mesmo”, explica. Soa esquisito dizer que “gastar energia vai gerar energia”, mas é nesse sentido que as evidências científicas andam. COMBATENDO A ANSIEDADE Segundo o educador físico Rogério Gomes, a prática de exercícios físicos libera alguns hormônios neurotransmissores que causam sensação de prazer e bem-estar. “A atividade física praticada de 20 a 50 minutos, de forma moderada, tem grandes benefícios para o controle da depressão, estresse e ansiedade, porque há a liberação de hormônios como endorfina, dopamina e serotonina, que faz a pessoa se sentir bem e mais relaxada”, explica ele. Quanto ao tipo de atividade a se realizar, Rogério aconselha: “Qualquer atividade física é benéfica. O que importa é a pessoa fazer uma coisa com a qual se sente bem. Se é algo feito por obrigação ou sem satisfação, pode existir um bloqueio na liberação de hormônios”. Outro ponto importante é a intensidade dessa atividade, que deve ser de moderada a alta. “Uma atividade leve não traz 51

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Foto: Reprodução Internet

Histórias de uma jovem paciente oncológica Aos 27 anos e recém-casada, Roberta descobriu um câncer de mama, cuja campanha de conscientização ocorre agora, nos meses de outubro. “Ao descobrir o câncer de mama , tive uma sensação muita desesperadora de olhar a finitude da vida. Senti um desespero muito grande de não ter conseguido fazer o que tinha planejado. O diagnóstico vem com um estigma errado de morte, e aí vem a sensação de ‘vou morrer e não fiz nada’.” “Eu costumo sempre dizer que o tratamento envolve varias partes, como as científicas, do medicamento, da cirurgia, só que a nossa cura interna – não necessariamente a cura da doença –, a nossa maneira de viver bem, está muito atrelada ao que a gente faz para a gente”. Por isso, para ajudar outras mulheres que estão passando pela mesma situação, a jovem fisioterapeuta criou no Instagram o perfil Vai por Mim, onde tenta ajudar mulheres a ressignificar a dor e a vida a partir do câncer. O perfil é o @ vaipormim.oficial

os efeitos desejados. A intensidade seria uma velocidade maior, um peso maior, uma caminhada num passo mais acelerado. Tem que ter um gasto energético maior. Quanto maior a intensidade, maior a resposta do seu corpo com a liberação dos hormônios”, complementa. CONTRIBUIÇÃO PARA A CURA A estudante Caroline Marques começou a ter crises de ansiedade no final do ano passado, quando descobriu que estava com complicações na saúde e chegou até a pensar em suicídio. Encontrou refúgio na musculação, já que

sempre gostou de fazer exercícios. Hoje, graças às atividades, as crises estão mais controladas. A questão da autoimagem também é importante: o pilates, a musculação e a corrida fazem com que a pessoa se sinta melhor em relação ao próprio corpo, ajudando a elevar a autoestima. A atividade física pode funcionar como um complemento, um método não-farmacológico, mas nunca como substituto do tratamento médico. “A atividade física não é aquilo que vai curar a pessoa, mas a contribuição é muito grande”, finaliza Rogério. A REVISTA ATUA | AGOSTO DE 2019

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ponto de vista

Hoje, à 1h40, sem falta Nessas três preciosas horas, nada pode dar errado. POR MARCELO PIRAJÁ SGUASSÁBIA

Todos os dias, precisamente à 1h40 da madrugada, todos os retratos em preto e branco do mundo ganham cor e vida própria. Desde que não haja, claro, nenhum humano vivo presenciando o fenômeno. É uma concessão dada aos mortos retratados, uma espécie de alforria temporária da prisão da moldura e da fria imobilidade do papel fotográfico. Aos poucos, vão abandonando paredes, álbuns de recordações, mesas, consoles, criados-mudos e prateleiras onde dormem, esquecidos ou bem cuidados, com o pó espanado diariamente. Não ocorrendo nada que force os encarnados de determinada casa a permanecerem alertas durante a madrugada, a brincadeira dura em torno de três horas. Em geral sorridentes e dispostos, antes de saírem mundo afora eles se alongam e bocejam, ajeitam seus óculos, apertam os nós de suas grava-

tas, retocam sua maquiagem e penteiam seus cabelos. Então saem como os pequeninos da Terra de Gigantes. Sendo foto de família, se confraternizam e se abraçam antes de partirem para o passeio costumeiro pela casa. Quando casais, muitas vezes se beijam e transam loucamente por ali mesmo, escorados na moldura do porta-retrato. Há os que, no tour doméstico, observam a si próprios com a carne de agora - pois grande parte dos retratados continuam vivos, embora mais velhos. Entram nos quartos onde, devido ao adiantado da hora, normalmente dormem. Seguem nas pontas dos pés até se enfiarem nas cobertas que envolvem as versões gigantescas de seus corpos. Nessas três preciosas horas, nada pode dar errado. Nenhum pequeno incidente deve resultar na desgraça de serem vistos pela face colorida e animada do mundo. Enquanto se divertem, ou tentam se divertir, permanecem nos álbuns, paredes e estantes os papéis fotográficos em branco - casas vazias aguardando a volta dos perpétuos moradores. A

REALIDADE FANTÁSTICA

A foto que ilustra esse conto é trabalho da australiana Jane Long, que coloriu digitalmente uma série de fotos tiradas pelo romeno Costică Acsinte. Ela aproveitou para aprofundar esse efeito mágico das cores e, através do Photoshop, adicionou elementos fantásticos. O projeto foi batizado de Dançando com Costică Acsinte. Foto: Jane Long / Costică Acsinte

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saúde

Doação de sangue é um gesto que vai muito além de salvar vidas Em São João da Boa Vista, a Bioclínica realizou Campanha Noturna para incentivar doações durante o outono e inverno. POR DANIELA PRADO

Doar sangue é uma atitude que sempre despertou algumas dúvidas, seja no tocante à segurança do doador, por questões de assepsia, seja em como será a recuperação após doar, entre diversos outros fatores – o que faz com que certas pessoas se intimidem quando pensam em realizar o procedimento. Dados do Ministério da Saúde mostram que, atualmente, 1,6% da população brasileira doa sangue – o que significa um índice de 16 doadores para cada grupo de mil habitantes. Jovens com idade entre 18 e 29 nos, segundo a pasta, são maioria - respondem por 42% do total de doações registradas no país. O percentual de doadores (1,6%) está dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) – de pelo menos 1% da população, segundo o ministério. Porém, em São João da Boa Vista, os estoques do banco de sangue enfrentam baixa durante o período do outono e inverno e, por isso, a Bioclínica resolveu investir na 1° Campanha Noturna de Doação de Sangue, a qual teve aceitação bastante satisfatória, obtendo grande número de adeptos. Aline Telini Provenzano, responsá-

vel pelo marketing e setor de captação do Banco de Sangue, esclarece que a principal importância de se doar sangue regularmente é a consciência de que este não é um produto, portanto não se pode fabricar. “O único meio para obtê-lo é através da doação. O beneficio que essa doação pode trazer é o bem estar por ajudar o próximo e demonstrar esse gesto de solidariedade”, pontua. Sobre os requisitos para ser doador, Aline destaca que é preciso estar bem alimentado, apresentar documento com foto e estar em boas condições de saúde. “É recomendável fazer uma boa alimentação, rica em ferro e vitamina C, verduras de folhas verde-escuro, carnes vermelhas e tomar bastante liquido. Isso fará com que você realize uma doação segura”, ressalta

ela. No dia da doação não é recomendável realizar nenhum esforço físico. “A reposição do volume de plasma ocorre em 24 horas e, a dos glóbulos vermelhos, em 4 semanas. Entretanto, para o organismo atingir o mesmo nível de estoque de ferro que apresentava antes da doação, são necessárias 8 semanas para os homens e 12 para as mulheres. Esses são os intervalos mínimos entre as duas doações de sangue”, enfatiza Aline. E lembra que, em cada doação, o volume máximo retirado é de 450 ml, reposto rapidamente pelo organismo. A frequência máxima é de quatro doações anuais para o homem e de três doações anuais para a mulher. O intervalo mínimo deve ser de dois meses para os homens e de três meses para as mulheres.

RIGOROSO CONTROLE

Existem normas para a triagem de pessoas aptas a doar sangue, sendo que órgãos como o Ministério da Saúde e a Associação Americana de Bancos de Sangue são responsáveis por esse controle. O alto rigor no cumprimento dessas normas garante a saúde das pessoas que receberão o sangue, uma vez que ele não pode estar contaminado com outras doenças.

Foto: Daniela Prado

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O hemocentro de São João da Boa Vista funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 15h e todos os sábados, das 7 às 11h30. Ele se localiza na Av. João Osório, nº 92, ao lado da Santa Casa de Misericórdia Dona Carolina Malheiros. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (19) 3633-7036. REQUISITOS PARA DOAÇÃO Existem normas nacionais e internacionais para a triagem de pessoas aptas a doar sangue, sendo que órgãos como o Ministério da Saúde e a Associação Americana de Bancos de Sangue são responsáveis por esse controle. O alto rigor no cumprimento dessas normas garante a saúde das pessoas que receberão o sangue, uma vez que ele não pode estar contaminado com outras doenças. Por isso, é necessário seguir algumas orientações, como estar em boa condição de saúde; possuir entre 16 e 69 anos (menores pre-

cisam da autorização dos pais ou responsáveis); ter peso igual ou superior a 50kg; tomar um café da manhã reforçado, com pão, bolachas, frutas, leite ou suco e evitar alimentação gordurosa; não ter ingerido bebida alcoólica por pelo menos 12 horas antes da doação; ter dormido no mínimo 6 horas; além de não fazer uso de medicação, não possuir doença infectocontagiosa e não utilizar drogas. Também é necessário apresentar documento original com foto, que permita o reconhecimento do candidato, emitido por órgão oficial (RG, cartão de identidade de profissional liberal, Carteira de Trabalho e Previdência Social). Pessoas com menos de 18 anos precisam estar acompanhadas dos responsáveis ou com formulário de autorização. ETAPAS DA DOAÇÃO DE SANGUE Também existe uma sequencia que será seguida para a realização do cadastro:

Primeiramente, será realizado o cadastro do candidato à doação com a apresentação de documento oficial com foto. Após essa fase, será realizada uma pré-triagem, onde serão verificados os sinais vitais (pressão arterial, temperatura e batimentos cardíacos), peso e teste de anemia. Posteriormente, será realizado uma triagem clínica, com entrevista individual e sigilosa onde serão avaliados os antecedentes e o estado atual de saúde do candidato à doação para determinar se a coleta poderá trazer riscos para ele ou para o receptor. Além disso, também serão realizados exames de sangue para dectar eventuais doenças. Somente após esses procediemntos é que o candidato será autorizado a realizar a doação. O país conta com um total de 32 hemocentros coordenadores e 2.034 serviços de hemoterapia em atividade. A

Jovens são maioria entre doadores Foto: Daniela Prado

Em 2017, 3,3 milhões de pessoas doaram sangue e 2,8 milhões fizeram transfusão sanguínea no país. Do total de doadores, 42% são jovens, com idade entre 18 e 29 nos. Um deles é o jornalista Pedro Antonio Hernandez Costa, de 21 anos e cujo tipo sanguíneo é O positivo. “Eu doo sangue desde fevereiro de 2018, ou seja, há pouco mais de um ano, e comecei por vontade própria. Eu sempre queria, mas tinha um certo medo, até que criei coragem e fui”, recorda ele. Além do receio inicial, Pedro comenta que tomava um medicamento para asma, o que o impedia momentaneamente de satisfazer essa vontade. “Eu sempre achei muito importante essa questão de se doar para o outro, de poder ajudar a salvar vidas, de realmente se entregar um pouquinho ao próximo. Eu acho que a gente esquece um pouco dessa questão de se entregar pelo outro, então, considero super importante doar sangue. Não dói nada, não demora muito tempo e, assim como é tão importante para as pessoas que necessitam, o sangue também é algo que a gente tem de sobra e não vive sem ele. Então, para quem precisa, uma bolsa já significa muito”, destaca o jornalista, finalizando que o único intuito que ele tem ao doar sangue é, realmente, o de ajudar as pessoas.

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ecologia

INFORME PUBLICITÁRIO

Mudanças de hábito geram interesse por serviço de lavanderia profissional Fazer mais em menos tempo, proporcionar economia e respeito ao meio ambiente é o que todos temos buscado nestes tempos modernos. E é neste cenário que a procura por lavanderias profissionais tem crescido muito no mercado brasileiro. Esse tipo de serviço está cada vez mais acessível ao brasileiro. Exemplo disso é a Quality Lavanderia, rede de franquias com mais de 20 anos no mercado, que se preocupa muito com oferecer economia e promover a sustentabilidade ao nosso planeta. Atualmente, a cultura de lavar roupa fora de casa vem se tornando uma rotina na vida dos brasileiros, seja pela higienização adequada de diferentes tipos de roupas, seja pela praticidade e economia, evitando o consumo excessivo de energia elétrica e água, aumentando a vida útil de suas roupas, e também pelo tempo perdido lavando roupa em casa. Você sabia que um ciclo comum de uma lavadora de roupas doméstica consome aproximadamente 125 litros de água? E que uma torneira do tanque aberta por 15 minutos chega a gastar 280 litros de água? Se, por exemplo, você utilizar a máquina doméstica de lavar duas vezes por semana, mais quinze minutos de água do tanque a cada uso, você estará utilizando mais de 2200 litros de água por mês, só para lavar as suas roupas.

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Consumo consciente e sustentável é levado em conta numa lavanderia profissional, onde a economia de água é 40% menor do que em casa, ao mesmo tempo em que é maior a capacidade de peças de roupa lavadas. Além disso, o descarte adequado dos resíduos de produtos utilizados na higienização evita a poluição do meio ambiente. “Todos os métodos utilizados na Quality atendem às economias de água e de energia elétrica, reciclagem e respeito ao meio ambiente. Na Quality Lavanderia a economia, em todos os sentidos, e o respeito ao meio ambiente, em todas as etapas do processo, são essenciais”, comenta Fernando Azevedo, proprietário da loja Quality Lavanderia em São João da Boa Vista. Higienização e secagem são outras etapas fundamentais que assinalam um aumento do hábito de uso de lavanderias profissionais, estendendo a vida útil das roupas em até 90% , mantendo-as em condições de nova. Processos corretos e modernos de lavagem e secagem são o segredo. A economia de dinheiro, ao lavar roupas em lavanderias, é expressiva, ao contrário do que muitos pensam. Basta calcular o gasto com água, energia e produtos, além do tempo dedicado se fosse higienizar a peça em casa, isso sem falar na economia inversa do aumento da durabilidade de suas roupas em condição de nova.


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culinária

Carré e risoto de queijo meia cura INGREDIENTES Para o caldo de legumes: • 01 cebola média cortada • 01 cenoura média cortada • 01 talo de salsão (opcional) • 01 dente de alho e ervas frescas a gosto • 01 folha de louro • 1,5 litro de água Para o risoto de queijo meia cura: • 01 xícara de chá (240ml) de arroz arbóreo • 1/2 cebola média picada • 02 dentes de alho picado • 01 fio de óleo para refogar • 1/2 xícara de chá (120 ml) de vinho branco • 01 litro de caldo de legumes • 150g de queijo meia cura ralado • 80g de queijo parmesão ralado • 02 colheres de sopa de manteiga • Sal a gosto Para o carré de cordeiro: • Carré de cordeiro (de 4 a 6 ossinhos por pessoa) • Fio de óleo para untar a frigideira • Sal a gosto Molho de maracujá: • 01 maracujá

• 1/2 caixinha de creme de leite (100g) • 04 colheres de sopa de mel • 01 pitada de sal MODO DE PREPARO Para o caldo de legumes, adicione todos os ítens a uma panela até atingir fervura. Manter aquecido para que a infusão continue a extrair os sabores. Coe para a cozedura do arroz no risoto. Para o risoto, refoge o alho e a cebola com o fio de óleo, cuidando para não queimar, e adicione o arroz. Ao refogar o arroz, adicione o vinho branco para soltar o fundo e produzir sabor. Logo após a evaporação do vinho, adicione concha a concha o caldo de legumes quente, e ir mexendo o arroz para realizar o cozimento. Assim que o caldo for incorporado pelo arroz, adicione outra xícara de caldo até atingir o ponto de cozimento desejado. Atenção: mexer o risoto é importante para soltar o amido e promover maior cremosidade ao prato. Assim que chegar ao ponto de cozimento a seu gosto, incorporar o queijo meia cura, o parmesão e a manteiga e mexer de forma mais vigorosa. Bem misturados, seu risoto está pronto. Caso fique muito seco, equilibre com mais um pouco de caldo. A untuosidade da manteiga dá brilho ao risoto e os queijos, além do sabor, conferem maior cremosidade junto ao arroz no prato. Para o carré, em uma frigideira antiaderente bem quente, adicione o óleo e a carne, de pouco a pouco de acordo com o tamanho da frigideira, para grelhar. Deixe cerca de 2 minutos de cozimento para cada lado da carne. Já para o molho de maracujá, bata todos os itens no liquidificador e ajuste o sabor como julgar necessário.

RECEITA INDICADA POR: Racine de La Vie www.facebook.com/racinedelavie & Dom Cordeirone - Isaías Valim www.facebook.com/domcordeirone

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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culinária

Geléia de morango INGREDIENTES • 04 caixinhas de morango • 02 e 1/2 xícaras de açúcar refinado • 1/2 limão espremido e coado • 01 colher de sopa de pectina PREPAROS INICIAIS Antes de mais nada, lave, higienize e pique os morangos. Em uma tigela, misture a pectina e duas colheres de açúcar. Adicione, lentamente, uma xícara de água, misturando até que forme uma mistura homogênea. Reserve. Uma das partes principais da receita é a esterilização dos vidros e tampas, para evitar doenças. Ferva os vidros por 20 minutos e as tampas por 5. Retire e deixe secar naturalmente, de cabeça pra baixo, em uma forma forrada com papel toalha.

MODO DE PREPARO Em uma panela, adicione os morangos com 01 xícara de água. Ao iniciar a fervura, junte 01 xícara de açúcar e misture bem. Deixe ferver por, aproximadamente, 25 minutos e adicione o restante do açúcar. Cozinhe, em fogo baixo, por mais 30 minutos. Após esse período, misture a solução de pectina, sempre mexendo lentamente. Após a fervura, colocar o limão, ferver por um minuto e desligar. Coloque a geleia, ainda quente, nos potes de vidro esterilizados. Feche e vire-os de cabeça pra baixo por cinco minutos. Sua geleia está pronta! Essa receita rende aproximadamente seis vidros de 200g. A geleia tem uma durabilidade de 06 meses. Porém, após aberta, deve ser consumida em 07 dias. RECEITA INDICADA POR: Fadaluca Alimentos Telefone: (19) 99659-5573 instagram.com/fadaluca_alimentos

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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voluntariado

Assim se escreve uma história de amor Casa de Apoio ao Menor Irmã Dulce, ou simplesmente Camid, completa 17 anos e se consolida no acolhimento a crianças em situações de risco. POR DANIELA PRADO

Era uma vez, em uma cidade de belos poentes e montanhas, um padre chamado Carlos Roberto Vicente, que se compadecia ao ver crianças sofrendo violência, principalmente no ambiente doméstico – fosse a violência física, que deixava marcas no corpo, fosse a psicológica. Era o ano de 2001 e Padre Carlos, extremamente sensibilizado com essa situação, resolveu agir, ao perceber que podia mudar a vida dessas crianças, para minimizar o sofrimento delas. Assim, em 8 de outubro de 2001, foi fundada a Casa de Apoio ao Menor Irmã Dulce – ou simplesmente Camid – instituição que completou 17 anos recentemente e já ajudou muitas crianças e adolescentes neste tempo de existência em

São João da Boa Vista. Rodrigo Betinarde Pontes, o atual presidente da Camid, lembra que, no início, contavam com auxílio de voluntários que realizavam os cuidados diários com as crianças acolhidas ali. Desde sua fundação, até os dias atuais, Rodrigo destaca algumas mudanças e avanços, como a construção da sede própria, agora adequada e totalmente adaptada às necessidades das crianças e adolescentes assistidos. O presidente da Camid cita, ainda, a dedicação da diretoria em buscar recursos para que todo o trabalho realizado na casa se desenvolva a contento, e também a formação continuada de todos os membros da equipe técnica, coordenação, cuidadores e demais colaboradores – o que melhora a qualidade no atendi-

mento aos acolhidos. “Temos capacidade para abrigar vinte crianças e adolescentes. Hoje estamos com quinze acolhidos”, pontua ele. E esclarece que a Camid foi criada com o principal propósito de acolher crianças de zero a 17 anos e 11 meses, que estejam vivenciando algum tipo de violação de direitos em seu ambiente familiar, oferecendo-lhes todo o acompanhamento necessário para seu pleno desenvolvimento físico, psíquico e social, preservando e garantindo seus direitos, conforme prevê o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. “Para efetivar o trabalho, a Camid conta, hoje, com uma equipe composta por assistente social, psicóloga, coordenadora, cuidadores, profissional administrativo, motorista, cozinheira, auxiliar de limpeza

SERVIÇO DE APOIO

A Camid é um serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes em situação de risco social - como maus tratos, abandono, violência, negligência, abuso (físico, psicológico ou sexual). “As crianças são retiradas do convívio familiar por determinação judicial e, após o acolhimento institucional, são acompanhadas por toda uma rede de serviços que prestam apoio à criança e sua família, como um todo”, explica seu presidente. Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

e uma diretoria ativa, comprometida com a missão, visão e valores da entidade”, ressalta o presidente. Convém frisar que a Camid é um serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco social - como maus tratos, abandono, violência, negligência, abuso (físico, psicológico ou sexual). “Tais crianças são retiradas do convívio familiar por determinação judicial e, após o acolhimento institucional, são acompanhadas por toda uma rede de serviços que prestam apoio à criança e sua família, como um todo”, revela Rodrigo.

forma a instituição precisa entrar com a contrapartida, que são os eventos, o bazar e doações diversas”, justifica ele. VOCÊ TAMBÉM PODE AJUDAR A população interessada em fazer doações podem levá-las pessoalmente à Camid – localizada, em São João da Boa Vista, à rua Santa Terezinha, 350, Santo Antônio, ou telefonar para (19) 3631-7183. Também é possível realizar doações em espécie, depositando a

quantia na Agência 0022 - Banco Itaú, conta-corrente 53.000-0. “Pode nos ajudar doando alimentos, encaminhando à nossa sede ou solicitando que um dos nossos colaboradores retire em seu endereço. São aceitos ítens de vestuário, eletrodomésticos, eletrônicos, móveis e afins, sempre em bom estado, para venda em nosso bazar. Podem também adquirir ítens da nossa loja, à rua Prudente de Moraes, 161”, sugere Rodrigo. Para quem tem interesse, é possível fazer outro tipo de ajuda, como seu próprio tempo para desenvolver atividades junto às crianças, como contar histórias, música, artesanato, entre outras atividades, sempre bem-vindas. Contudo, Rodrigo pondera que é necessário apresentar um projeto do que se pretende realizar, para que seja apreciado pela diretoria e, assim, seja organizado o dia e horário em que irão se dedicar às causas da Camid. Outro ponto que merece destaque é no tocante a presenciar ou notar, em crianças e adolescentes, indícios de violência física e moral – como agir neste caso? O presidente da Camid enfatiza que qualquer pessoa que identificar uma situação de violação de direitos (violência, negligência, abuso sexual, abandono, etc) deve entrar em contato primeiro com o Conselho Tutelar da cidade, que é o responsável por receber, averiguar e se for o caso retirar a crian-

COMO É MANTIDA A CAMID O Presidente da instituição explica que a Camid possui um convênio com a Prefeitura Municipal, que realiza o repasse dos recursos, mensalmente. “Como trata-se de um serviço de acolhimento, os custos para manutenção da casa são altos, dessa

VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

O números do Disque 100 mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima.

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

ça ou adolescente do ambiente familiar. A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, e chegará ao conhecimento do Conselho Tutelar do município. O QUE É? O Disque 100 funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel (celular), bastando discar 100. O serviço pode ser considerado como “pronto socorro” dos direitos humanos, pois atende também graves situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos competentes, possibilitando o flagrante. O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos. NÚMEROS ASSUSTADORES Segundo a Agência Brasil, dados do Disque 100 mostram que, só no ano passado, foram registradas um total de 17.093

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denúncias de violência sexual contra menores de idade. A maior parte delas é de abuso sexual (13.418 casos), mas há denúncias também de exploração sexual (3.675). Só nos primeiros meses deste ano, o governo federal registrou 4,7 mil novas denúncias. Os números

mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima. A


estética & beleza

INFORME PUBLICITÁRIO

Preenchimento facial ou Botox, qual escolher? Com o passar dos anos o tratamento de problemas de pele sofreu uma verdadeira revolução. Hoje, os recursos que o médico dermatologista pode lançar mão nunca foram tão numerosos, as técnicas de tratamento oferecem soluções para os problemas mais complexos, ficando cada vez mais necessário o esclarecimento sobre cada uma dessas formas terapêuticas. Para a indicação correta das técnicas, temos sempre que deixar bem claro para a qual cada uma delas se destina.

A duração do tratamento é variável, mas geralmente em torno de quatro a seis meses. Já os preenchimentos são, na maioria, realizados com ácido hialurônico uma substância naturalmente presente no organismo humano, mas que com o passar da idade, tem sua quantidade degradada e sua produção diminuída, ocasionando perda de volume e contornos na face e o surgimento de rugas e linhas de expressão. Portanto, as principais indicações do uso de preenchimento facial são:

Podemos citar como exemplo as diferenças fundamentais e as indicações precisas entre preenchimento facial e a toxina botulínica (mais conhecida como Botox). São os mesmos produtos? Têm as mesmas indicações?

• Correção das rugas estáticas, aquelas que mesmo com o rosto em repouso ficam evidentes;

A toxina botulínica é uma proteína produzida pela bactéria Clostridium botulinum que tem a finalidade de paralisar temporariamente a musculatura na qual foi aplicada. Existem diferentes marcas de toxina botulínica, como por exemplo Botox, Dysport, Xeomin, entre outros. Ao paralisar a musculatura, ocorre um relaxamento local e consequentemente a diminuição das rugas. Portanto, as indicações desse procedimento são:

• Atenuar rugas dinâmicas, aquelas formadas quando fazemos expressões, por exemplo os “pés de galinha”, perioral (“código de barras”), entre outras; • Ajudar a levantar e reposicionar as sobrancelhas; • Diminuir as linhas e rugas do pescoço; • Reduzir o suor excessivo das axilas e mãos; • Correção do sorriso gengival.

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• Correção de sulcos profundos como o sulco nasogeniano popularmente chamado de “bigode chinês”; • Atenuação das olheiras; • Redução das cicatrizes de acne; • Melhora da volumização e contornos faciais; • Aumento do volume dos lábios.

A duração varia com o local de aplicação e a quantidade de produto aplicado, sendo em média, de seis a 18 meses. Assim sendo, ambos os tratamentos são indicados para o rejuvenescimento facial, cada um com mecanismos de ação e objetivos diferentes, podendo ser necessário a combinação dos dois para atingir os melhores resultados. Sempre procure um dermatologista de confiança e competência, certifique-se da procedência do material utilizado, esclareça todas as suas dúvidas para que esses procedimentos sejam realizados com segurança, garantindo um resultado o mais natural possível e preservando as características faciais de cada paciente.


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cultura

A arte de fazer cinema A história da empresa sanjoanense Gianelli Filmes do Brasil, reconhecida internacionalmente. POR GUSTAVO OLIVA

Um homem além do tempo, é assim que as pessoas que trabalharam com Dilo Gianelli, à frente da produtora de filmes em São João da Boa Vista, definem o diretor de cinema e produtor cinematográfico. Apaixonado por fotografia, Dilo nasceu nesta cidade em 24 de dezembro de 1922 e foi com o pai que aprendeu a arte de fotografar, ainda muito jovem. Fez curso de cinema por correspondência no Instituto de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, nos EUA, mas foi em 1938, aos 16 anos, que teve seu primeiro contato com a profissão,

ao acompanhar as filmagens de um documentário sobre as comemorações da elevação de São João da Boa Vista à condição de Freguesia. A partir de então, a paixão pelo cinema só aumentava. Em 1945 realizou seu primeiro filme, O Dia da Vitória, no qual registra as comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial. É nesse momento que nasce a Gianelli Filmes do Brasil, uma produtora que ainda iria fazer mais sucesso do que o esperado. UMA NOVA ERA Com a empresa consolidada na cidade, Dilo Gianelli importa da Alemanha uma filmadora Arriflex, com três objetivas, que era a paixão do profissional, e começa a filmar diversos documentários, quase sempre encomendados pela prefeitura municipal ou comércio local. O cineasta e professor, doutor de cinema e psicanálise, Igor Alexandre Capelatto, explica que o período em que Dilo começou a

produção foi um dos mais importantes da história brasileira, marcado pelos críticos como boom do cinema. “Nesse momento temos filmes importantes da produtora Atlântida e da companhia Vera Cruz, com obras de pornochanchadas, comédias, filmes comerciais e, em sua grande parte, filmes cults. A maioria era produzida em São Bernardo do Campo, São Paulo, alguns no circuito do Rio de Janeiro e outros no nordeste”, explica. Capelatto ainda destaca que começa a nascer, nesse mesmo período, a nouvelle vague - movimento artístico do cinema francês que se insere nos anos sessenta - e que, apesar das produções de Dilo não serem oficialmente catalogadas nesse movimento, ele abraça essa nova linguagem que é importante para a construção do seu próprio mercado cinematográfico . Muito amigo do diretor de cinema Vitor Lima Barreto (1906-1982), natural de Casa Branca, Dilo participou, em 1953, das filmagens de O Cangaceiro, uma das obras do cineasta. As gravações aconteceram em Vargem Grande do Sul e Gianelli colaborou na parte fotográfica. O CANGACEIRO O Cangaceiro foi um dos maiores sucessos do cinema brasileiro e foi o

DILO GIANELLI

Na foto, Dilo Gianelli ao lado de sua filmadaora Arriflex. A história de Dilo com o cinema é antiga. Seu pai, Ramiro Gianelli viajou com Fernando Furlanetto para a Itália, onde acabou estudando fotografia. Retornando ao Brasil, Ramiro gravou o filme São João Antigo 1920, cujas cópias desapareceram e só reapareceram no aniversário da cidade, em 1974. Grande parte do interesse de Dilo pelo cinema vem de sua criação na rua Campos Salles, onde era o ateliê fotográfico de seu pai.

Foto: Arquivo familiar

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Fotos: Reprodução Internet

primeiro filme do Brasil a conquistar as telas do mundo, com a direção de Lima Barreto, diálogos criados por Rachel de Queiroz e fotografias de Dilo Gianelli. A produção é considerada como o melhor filme da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e foi o primeiro a receber prêmio no Festival de Cannes, na França. O filme também foi lançado no exterior como The Ninth Bullet, e exibido em 80 países. Com enredo baseado na figura de Lampião, o bando de cangaceiros do capitão Gaudino (Milton Ribeiro), semeia o terror pela caatinga nordestina e é nesse contexto que a professora Maria Clódia (Vanja Orico), raptada durante

um assalto do grupo, se apaixona pelo pacífico Teodoro (Alberto Ruschel). O forte amor entre os dois gera grande conflito no bando. BEM DE PERTO Gregório Pasquini, morador de Vargem Grande do Sul, acompanhou bem de perto toda a gravação de O Cangaceiro. Isso porque as cenas foram feitas na fazenda do seu pai. Ele conta que os cavalos, as cocheiras e os pastos que aparecem no filme eram todos da sua propriedade. “Foi uma satisfação muito grande ver a terra onde nasci e cresci estar nas telas dos cinemas do mundo todo. Eu assisti e fiquei muito feliz ao ver o nosso chão”, recorda. Apesar de não lembrar de detalhes

específicos de como tudo começou, devido o tempo, Gregório lembra que muitos profissionais integravam a equipe e que ficaram por um período extenso realizando as atividades. “Eles utilizaram nossos campos e coqueiros para imitar o nordeste e também um ‘buracão’, que fazia parte da vila cinematográfica, onde dormiam os capangas. Ainda temos esses traços da época guardados em nossa fazenda”, conta. INÍCIO DAS PRODUÇÕES Com a experiência adquirida, Gianelli produz seu primeiro longa, João Negrinho, baseado na obra de Jaçanã Altair, que conta a trajetória e a amizade de dois garotos, um negro e um branco, em uma fazenda durante o período pré-abolicionista. A amizade surgiu pelo esforço de um padre que prega a igualdade das raças e o combate às crueldades contra os escravos. Depois de finalizado nos estúdios da Cia. Vera Cruz, o longa estreou na cidade de São João da Boa Vista em 4 de dezembro de 1957, no Cine Avenida. Já no ano seguinte, Dilo lança seu segundo longa, Chão Bruto, com a participação do ator Lima Duarte (foto ao lado), que retrata o embate violento entre grileiros e posseiros no sertão paulista, motivado pela construção de uma ferrovia que aumenta o valor das terras a sua volta. Para Capelatto, Dilo levou uma nova estética ao cinema, com um ponto de vista diferenciado por meio da narrativa e do contexto. “Quando ele fala de escravidão, é a própria escravidão

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Foto: Arquivo familiar

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Foto: Arquivo familiar

GENTE BOA!

A produção da Gianelli Filme contava a história de boias-frias e o seu dia a dia de trabalho. O filme recebeu menção honrosa no Festival de Bilbao, na Espanha, e ganhou as salas dos cinemas em todo país. Na foto, Dilo Gianelli (com sua Arriflex) e o jovem Clovis Vieira, dirigindo a cena.

metragens participaram do circuito nacional que a Embrafilme impunha aos exibidores. O improviso tomava conta das produções naquele tempo. Zeza fazia os contatos com proprietários de lojas para comerciais ou com prefeitos e seus assessores para as filmagens. Já, Clóvis, atuava na direção de cena e dos atores, sempre acompanhado dos dois colegas de trabalho, e também fazia o corte e edição das imagens do “copião” em preto e branco, que chegava de São Paulo.

que conta a história, ou seja, a situação histórico-cultural se torna personagem e isso eu acho fantástico, fenomenal e de extrema importância para a produção brasileira. Alguns grandes cineastas se inspiraram nessa produção, como Arnaldo Jabor, por exemplo”. GENTE BOA! Gianelli volta a se dedicar a documentários curtos, feitos por encomenda e, em 1979, registra seu último filme, Gente Boa!, que nesse ano de 2019 completa 40 anos de produção. A trama contava a história de boias-frias sanjoanenses (trabalhadores que migram de uma região agrícola para outra) e o seu dia a dia de trabalho rural. A produção recebeu menção honrosa no Festival de Bilbao, na Espanha, e ganhou as salas dos cinemas em todo país, além de conquistar o importante selo da Embrafilme, que contribuiu para que o documentário fosse exibido pelos cinemas de todo o país. Na década de 1970, Zeza Freitas e Clóvis Vieira aproximaram-se de Dilo pela paixão que tinham pela fotografia. O convite para que participassem dos filmes chegou logo em seguida, convite este que aceitaram com grande alegria. 78

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Zeza foi atriz do filme e relembra os dias de gravação com os trabalhadores rurais na época. “Era um curta que mostrava a exploração do trabalhador, e o Dilo conseguia retratar todos os detalhes. Uma das cenas mais marcantes pra mim, foi ver os boias-frias abrindo as marmitas que levavam para o almoço, ao som do trem. Ele conseguiu um efeito genial, que marcou a todos que assistiram”, conta. Clóvis Vieira, diretor de arte desta produção, também relembra dos anos em que atuou na Gianelli Filmes do Brasil e explica que as principais produções, na época, foram curtas-metragens e comerciais para cinema em película 35 milímetros. “Entre esses comerciais, destaque para o da Casa de Móveis Beraldo, quando o então futuro vereador e prefeito sanjoanense, Sidney Beraldo, foi o garoto propaganda do filme de 30 segundos”, relembra. IMPROVISO E EMPENHO Em 1978, o trio filmou Mangalarga e viajou a Salvador (BA) para captar imagens em uma fazenda do município. Seguindo na mesma linha, Brasil Rodeio foi a produção seguinte, também sobre criação de cavalos. Ambos os curtas-

TEMPOS DIFÍCEIS Na década de 70, os recursos tecnológicos e financeiros eram escassos. Então, para realizar os comerciais, a produtora contava com o patrocínio de lojas, enquanto que, para os curtasmetragens, as prefeituras das cidades retratadas financiavam. Não havia verbas da produtora direcionadas para esse trabalho e, muitas vezes, algumas prefeituras voltavam atrás no contrato e não disponibilizavam o dinheiro, o que interrompia a produção. Era preciso contar com a ajuda dos amigos para um bom resultado final, então a equipe convidava colegas com aptidão para atuarem, estando à frente dos comerciais, o que era motivo de muita festa para aqueles que recebiam o convite. Clóvis define a experiência que teve na equipe de produção como maravilhosa. “Eu me sentia fazendo parte de um seletíssimo grupo que trabalhava com cinema neste país. Aprendi muito com o Sr. Dilo, que nos tratava como filhos, como melhores amigos. Fazíamos viagens constantes a São Paulo, à Embrafilme, na entrega de prêmios do cinema nacional e na censura da época. Era emocionante quando o Cine Ouro Branco exibia algum comercial e o público reconhecia na tela

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algum sanjoanense mais popular, que ali estava atuando”, recorda. Zeza Freitas e o marido, Ronado Marin, que também trabalhou com Dilo, contam que o profissional fez com que o telespectador entrasse em cena. “Ele fez com que as pessoas que assistiam seus filmes começassem a fazer parte daquilo, estivessem nas telas do cinema. O Gianelli foi pioneiro nesse belíssimo e importantíssimo trabalho que fez lotar as salas dos cinemas e fez o sanjoanense se apaixonar por filmes produzidos em sua terra”. Igor Capelatto afirma que era possível encontrar muitas produções no interior do estado, mas lembra

que a cultura, na época, não chegava à população como hoje, principalmente pela falta de internet. “O produtor do interior não tinha um público formado, equipe para atuar, atores e empresas patrocinadoras. Então, eles trabalhavam com o povo e isso era difícil. Os equipamentos também eram muito caros. Os cineastas até possuíam condições financeiras de produzir, de buscar rolos de filmes, câmeras, só que não tinham condições de armazenar esse material, pois era delicado”, lembra. Capelatto ainda explica que começou a surgir um público que se interessava por um cinema novo, então essas iniciativas

de produtores, de produzir e levar filmes ao interior, começou a crescer muito. “Eram iniciativas importantes, porque faziam parte de uma ferramenta cultural que ia além da música, da dança e do teatro. O cinema era muito popular, as pessoas iam às galerias, restaurantes, bares e ali passavam produções independentes, em praças, em teatros, em cinemas; e o público frequentava”, conta. TÉCNICA DE GRAVAÇÃO José Claudio Tavares Sibila trabalhou na Gianelli Produções há cerca de 40 anos e atuava na parte técnica. Ele conta que o processo, na época, era completamente diferente dos dias atuais. “Primeiro era feita uma cópia do documentário em filme preto e branco, depois pegávamos emprestada uma sala do cinema de São João e testávamos na tela para conferir e fazer as marcações necessárias. Em seguida, fazíamos a gravação magnética, voltávamos ao cinema e projetávamos novamente o filme”, lembra. Mas esse era apenas o começo de tanto trabalho que ainda vinha pela frente. Sibila conta que depois de todo esse processo, eles percorriam mais de duzentos quilômetros até a capital para fazer a gravação do documentário no formato óptico, em um estúdio de uma gravadora de São Paulo. “Essa transformação de magnético para óptico era trabalhosa, porque era preciso passar de um gravador de rolo grande para uma película de filme e, ainda, corrigir qualquer detalhe que sofresse mudanças”, lembra. CONTRIBUIÇÃO CULTURAL A história da Gianelli Filmes do Brasil é rica em fatos, em pessoas e em momentos históricos. Os familiares e colegas de trabalho possuem um acervo formado por registros importantes,

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Mesmo com recursos tecnológicos e financeiros escassos, na década de 70, Dilo Gianelli produziu diversos vídeos para lojas e empresas de São João da Boa Vista. Seu grande cliente, no entanto, foi a Kodak do Brasil, que encomentou à Gianelli Filmes um vídeo promocional (foto ao lado).

Foto: Arquivo familiar

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não apenas de São João, mas das cidades retratadas nos curtas-metragens e nos comerciais para o cinema. “E pensar que tudo isso foi realizado num tempo em que nem havia o videocassete! O Sr. Dilo não o conheceu, faleceu antes de sua invenção”, lamenta Clóvis. Gianelli ainda teve seu nome registrado no web-livro Dicionário de Fotógrafos do Cinema Brasileiro, de Antônio Leão da Silva Neto, entre 470 profissionais que possuem suas trajetórias registradas no arquivo on-line. O cineasta Igor Capelatto analisa que a atitude de Dilo, em valorizar o interior e a literatura, foi fundamental para o desenvolvimento dessas produções. “Ele levou o interior para frente, para aparecer na mídia, no mercado cinematográfico cultural do Brasil e até fora do país. Gianelli também valorizou muito a literatura em seus filmes e conseguiu colocá-la em pauta”. Para ele, a forma de trabalho de Dilo também chamava a atenção, já que ele valorizava todos os profissionais que com ele trabalhavam. “Uma

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contribuição que destacava todas as funções de sua equipe, em alguns cartazes a gente via o nome do figurinista, do contrarregra, do iluminador, do cenógrafo e são coisas que hoje nós vemos apenas em créditos bem sutis e em letras miúdas. A partir dele, o diretor Nelson Pereira e o cineasta Glauber Rocha também começaram a valorizar esses profissionais, e essa iniciativa veio do interior, veio de Dilo Gianelli”, relembra. ADEUS À PRODUÇÃO Em 21 de outubro de 1981, aos 58 anos de idade, Dilo Gianelli faleceu em São João da Boa Vista. Como reconhecimento ao seu talento e pioneirismo, hoje é nome de rua e de uma sala do Theatro Municipal da cidade. Para Capelatto, Dilo foi um pioneiro que criou situações e espaços para a produção, além de conseguir passar pela censura da época, antes mesmo da Ditatura, pois já existia um código de ética de censura cinematográfica para todas as artes e produtos, e essa censura fazia com que demorassem para autorizar o

filme e sua exibição. “Gianelli conseguia uma sala de cinema no interior, mas hoje esses cinemas querem exibir filmes americanos ou produções de canais de televisão; e é o que o público também quer assistir. Os cineastas, hoje, não têm o mesmo espaço que o Dilo tinha, então temos que batalhar para retomar a força de antigos cineastas, para que o cinema atual volte a ter o potencial que um dia já teve”, finaliza. “Com a morte do Sr. Dilo, creio que morreu, também, essa forma de fazer filmes aqui na cidade. Hoje, as câmeras de vídeo e os telefones celulares fazem isso com muita presteza”, revela Clóvis. “A Gianelli Filmes do Brasil foi um marco referencial para o cinema, não só da nossa cidade, mas de todo o país. Nós tivemos o privilégio de ter, em São João, um ser humano como Dilo. E se engana quem pensa que todo seu trabalho terminou com seu falecimento, até porque foi ele quem fez com que eu, apaixonada por tudo que aprendi, continuasse a seguir seus passos e, principalmente, suas dicas e lições de vida”, agradece Zeza Freitas. A


olhares - Nilton J. Queiroz

OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS No ambiente modificado pela intervenção humana – e pelo concreto, algumas espécies tentam buscar espaço para reocupar o que era seu habitat, o Córrego São João. Na foto, ave voa próximo a lâmina d´água, durante um pôr do sol refletido no piscinão do bairro Recanto do Lago. 82

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