Revista Atua - Novembro 2019

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sumário da edição

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A Revista Atua, ano 11, número 44 (novembro de 2019), é uma publicação quadrimestral sem fins lucrativos da ACE - Associação Comercial e Empresarial de São João da Boa Vista (SP). Sua distribuição é gratuita, não podendo ser comercializada. Colaborações e matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representando necessariamente a opinião dessa publicação. Tiragem: 3 mil exemplares Presidente Candido Alex Pandini Diretora de redação Angela Bonfante Cabrelon Gerente Raphael de Padua Medeiros Editor Mateus Ferrari Ananias - mateus@acesaojoao.com.br Jornalista responsável Franco Junior - Mtb. 81.193 - SP Repórteres Bruno Manson Daniela Prado Jeferson Batista Pedrinho Souza Detalhe da obra de Jean-Baptiste Debret / Acervo da Fundação Biblioteca Nacional / Divisão de Iconografia

MATÉRIA DE CAPA

034 História da população negra em São João As igrejas, clubes, ruas e praças de São João da Boa Vista guardam histórias e são espaços de resistência e sociabilidade negra desde o século XIX, quando começam a chegar para trabalhar no município (sobretudo em lavouras de cana-de-açúcar), os primeiros escravos negros. Tratados como mercadoria, os negros dificilmente traziam malas ou pertences pessoais. Mas, se fundiram de tal modo à história local que suas raízes se espalham por toda a cidade.

092 O bamba do samba paulista Entre os personagens que figuram na história do samba em São Paulo, está Geraldo Filme (1928-1995). Paulistano de nascimento, sanjoanense de batismo, tem em sua trajetória a marca do interior e a influência das manifestações negras locais.

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moda & beleza

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Projeto gráfico Mateus Ferrari Ananias Departamento Comercial Luciana Castilho - comercial@acesaojoao.com.br Produção de anúncios Alexandre Pelegrino - alexandre@acesaojoao.com.br Fotos Leonardo Beraldo / Cromalux - www.cromalux.net Produção e direção de arte Adriana Torati e Renata Maniassi Estagiários Duda Oliveira Letícia Felix Luana Zuin Tamires Zinetti Tamyres Cereja Sbrile Magalhães Professores orientadores José Dias Paschoal Neto Ana Paula O. Malheiros Romeiro Maria Isabel Braga Souza Foto de capa Antonio Carlos Lorette - acervo pessoal

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OUTROS DESTAQUES:

saúde

Revisora Ana Lúcia Finazzi - analuciafinazzi@uol.com.br

cultura

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moda & beleza

Uma revolução em andamento Mais transparência, sustentabilidade e consciência dentro da moda. POR DUDA OLIVEIRA

O aquecimento global é debatido há anos e um estudo publicado na revista científica Nature, em 2016, apontou que o aquecimento começou há cerca de 180 anos. O paleontólogo da Universidade Livre de Berlim e coautor do estudo, Jens Zinke, conta que as pesquisas mostram que o aquecimento da Terra, desde o início, tem relação com o aumento de concentração dos gases do efeito estufa, uma consequência direta da revolução industrial. Outra preocupação ambiental é o esgotamento dos recursos naturais utilizados na indústria como um todo, e também utilizados para a sobrevivência como um todo, como água potável, mineração, extração de petróleo, consumo de animais, entre outros. Em

2019, a humanidade atingiu o limite de recursos três dias antes que em 2018; e mais cedo do que em toda a série histórica, medida desde 1970. A preocupação ambiental não fica no foco somente de grandes indústrias agropecuárias, por exemplo. Essa preocupação migrou também para a indústria têxtil, responsável por grande parte do consumo de água. De acordo com dados do Water Footprint, são necessários 2720 litros de água para produzir uma única camiseta de algodão, pois a moda utiliza a água desde a irrigação das plantações de fibras naturais, lavagem dos fios e tecidos, até a contaminação pelas microfibras. IMPACTO AMBIENTAL Além do extremo consumo de água, a indústria têxtil, 7ª maior economia

do planeta, também é responsável por grande parte da emissão de carbono, lixo e contaminação das águas. O estudo A new textiles economy: Redesining fashion’s future, lançado pela Ellen MacArthur Foundation, com apoio da estilista McCartney, mostra que a cada segundo um caminhão de lixo de sobras de tecido é queimado ou descartado nos aterros sanitários. Somente em São Paulo, vão para os aterros sanitários, por dia, cerca de 26 toneladas de resíduos têxteis. A produção global de roupas mais que dobrou desde o ano de 2000. Somente em 2014 foram produzidos 100 bilhões de peças e, em contrapartida, 80% dos resíduos têxteis destinados aos aterros sanitários poderiam ser reutilizados. Além disso, estima-se que dobrando a vida útil de uma roupa, de um para dois anos, é possível reduzir 24% das emissões de Foto: Reprodução Internet

FONTE DE MICROPLÁSTICOS

O microplástico é um dos principais poluentes globais dos oceanos, e 34,8% dele vêm das nossas roupas e materiais texteis. Este dado é do relatório Primary Microplastics in the Oceans: a Global Evaluation of Sources [Microplásticos Primários nos Oceanos: uma Avaliação Global das Fontes], que como descrito no título, investiga as principais fontes de produção e descarte deste material no meio ambiente. 6

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Foto: Reprodução Internet

CO2 no ano. A indústria de tecidos, além de contribuir com grande parte da poluição e, consequentemente, com o aquecimento global, também é responsável por grande parte do trabalho análogo à escravidão. Um estudo feito na Índia, com 1452 trabalhadores do setor do vestuário, mostrou que 99,2% deles trabalham em condições de trabalho forçado. QUEM FAZ MINHAS ROUPAS? Foi pensando na sustentabilidade da moda que o Fashion Revolution foi criado. Um conselho global de líderes da indústria da moda sustentável, ativistas, imprensa e acadêmicos, após o desabamento do Rana Plaza, que abrigava confecções de roupas em Bangladesh. O desabamento ocorreu em 2013, mais de 1.134 pessoas morreram e 2.500 ficaram feridas. O desabamento do Rana Plaza revelou ao mundo o descumprimento com normas básicas de segurança no país e o pior lado da indústria têxtil. O movimento surgiu com o objetivo de aumentar a conscientização dos impactos ambientais e sociais da moda em todas as fases de produção, até o consumo, além de exigir transparência na indústria e nos negócios. Atualmente, o Fashion Revolution está presente em 92 países, onde desenvolve ações mobilizadoras e incentiva consumidores a questionarem marcas, trazendo a reflexão: “quem fez minhas roupas?”. O Fashion Revolution promove a Semana Fashion Revolution, que convida pessoas a refletirem sobre a procedência das roupas e também a questionar e exigir transparência. “Não podemos mais aceitar que os direitos dos trabalhadores sejam negados, precisamos olhar para o que é prioridade: quem está por trás”, explicou Fernanda Simon, coordenadora do Fashion Revolution no Brasil. Durante os anos do movimento, alguns avanços foram notáveis, como a inspeção de mais de 1.300 fábricas em Bangladesh, desde a tragédia do Rana Plaza, além do aumento de 77% do salário-mínimo da área pelo governo de Bangladesh, que agora é de $ 68 por mês. Além disso, 2.416 marcas responderam à hashtag #whomademyclothes e compartilharam informações sobre sua cadeia produtiva. Entre as grandes marcas, 150 8

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REPENSAR O CONSUMO E GESTÃO DE RESÍDUOS

Os resíduos são uma constante problemática na área da moda - em qualquer nível de trabalho. Podem ser resíduo de papel na hora do design, de tecidos na hora do corte, de fibras na tecelagem, e até mesmo na hora da reciclagem. Um dado de 2012 da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) aponta que 12 toneladas de resíduos têxteis são geradas por dia, só no Bom Retiro em São Paulo.

delas publicaram onde são feitas suas roupas. Mais de 70 marcas se comprometeram a participar da campanha Detox, do Greenpeace, que consiste em eliminar produtos químicos das cadeias de produção de moda. Juntas, essas empresas representam 15% da produção têxtil global. No Brasil, o movimento existe há cinco anos e a Semana Fashion Revolution envolveu aproximadamente 25 mil pessoas em 50 cidades do Brasil. Desses, 48 representantes estavam presentes, além de 55 embaixadores atuando em 114 escolas e universidades, que ficaram comprometidos com a organização de 815 eventos. Aproximadamente 500 marcas de vestuário se engajaram na campanha. Um dos meios utilizados para reaproveitar resíduos descartados pelas fábricas ou consumidores é o Upcycling, que consiste no processo de transformar produtos ou resíduos descartados em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Neste processo são utilizados materiais no final da vida útil, na forma em que estão para criar uma utilidade, diferente da reciclagem, onde os produtos são reprocessados para serem transformados em matéria-prima. Mesmo utilizando resíduos já existentes, produtos

Upcycling acabam sendo mais caros que as fast fashion, pois essas utilizam da exploração da mão-de-obra barata, sem considerar direitos trabalhistas básicos e salários justos. As fast fashions se baseiam na extração de quantidades excessivas de recursos naturais para a obtenção de matérias-primas em uma escala de produção rápida e de grandes quantidades, por isso esse segmento da moda leva as maiores críticas na pauta de moda sustentável. REPENSAR O CONSUMO O movimento Fashion Revolution busca que consumidores reflitam sempre antes de comprar algo, fazendo-se as seguintes perguntas: preciso mesmo deste item?; posso pegar emprestado de alguém?; caso precise mesmo comprar, pode ser em um brechó? Ou de segunda mão? Caso nenhuma das outras opções seja plausível, posso comprar de uma marca com princípios em que acredito? Um produtor local, com utilização de matéria prima consciente, que pague bem sua cadeia e gere impacto social na minha comunidade? O movimento indica tomar a decisão sobre a compra somente depois de responder essas perguntas, para um consumo consciente. A


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moda & beleza

Quais suas cores? A colorimetria, o estudo de cores, fortalece a relação com sua imagem pessoal. Foto: Reprodução Internet

POR TAMYRES SBRILE

Colorimetria é um teste feito com tecidos, é a ciência e o conjunto de tecnologias envolvidas, tanto na quantificação quanto na investigação física do fenômeno de percepção de cores pelos seres humanos. Traduzindo, colorimetria é o estudo das cores que usamos em nossa vida. Para se tornar um profissional dessa área, é necessário fazer um curso de Análise de Coloração e, caso queira se especializar, os cursos de Consultoria de Imagem e Estilo, e Consultoria de Moda também auxiliam na formação. Os cursos são livres, não é necessário uma graduação para começar. A Médica Veterinária e também Consultora de Imagem e Estilo, Jéssica Dearo (24), trabalha na área há mais de quatro anos. A carreira dela começou de uma maneira informal, como um hobby. Ela ajudava as amigas da faculdade a montar os looks e a fazer maquiagem para ganhar uma renda extra. Desde essa época ela já se interessava muito pelo assunto. Durante a faculdade, Jessica também trabalhou como varejista, o que lhe possibilitou uma bagagem maior de conhecimentos sobre tecidos, estampas, tendências de moda, etc. Existem vários métodos para saber qual é a cor que melhor combina com você. Jessica usa o método sazonal expandido, que não só vê a temperatura de cada pele, mas observa a intensidade de cor e profundidade de cada uma. As cartelas são nomeadas com as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Cada estação possui cores características que são medidas por meio da temperatura, profundidade e intensidade, gerando assim 12 cartelas de cores. CARTELAS DE CORES Jéssica aplica os testes nas clientes colocando um tecido cinza, que é neutralizador, na cabeça e no busto, para deixar 12

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somente o rosto à mostra. Nessa fase, a cliente está sem maquiagem e acessórios. Ela vai passando vários tecidos para identificar a característica da pele e também quais são as cores que mais harmonizam com a cliente, deixando-a mais iluminada e disfarçando manchas e olheiras. A consultoria não serve apenas para roupas, mas para cores de maquiagens, cabelos e acessórios. Com o mercado se expandindo, Jessica encontrou nas redes sociais um forte aliado. É por lá que se comunica e mostra os resultados de cada serviço. Além de uma maior interatividade, mostrando os resultados e bastidores de cada consultoria, na Internet é possível conquistar mais públicos. A plataforma Instagram é a que mais a auxilia. “Eu amo trabalhar com o Instagram, acho que é uma plataforma sensacional para o meu trabalho”, enfatiza. “A gente não paga por uma coisa que não conhece. Eu sempre tento trazer

o benefício real da Análise de Coloração, pois ele está muito ligado à autoestima e autoconhecimento. Saber que aquela cor te valoriza e te deixa mais bonita faz toda a diferença”, explica. A fisioterapeuta Emilia Raposo (32), amou a experiência que teve com a consultoria e revela que a colorimetria transformou a vida dela. “A maior diferença é não ficar perdida dentro das lojas, eu sei exatamente o que fica bom em mim. Depois da consultoria fiz uma limpa no guarda-roupa, redescobri outros jeitos de usar o que não faz parte da minha cartela de cores que é a primavera verdadeira, e ela me deu outro olhar para os acessórios!”, conta. As cores podem dizer muito sobre uma pessoa, tanto por questões estéticas, quanto emocionais. As cores estão presentes em todas as coisas do mundo e fazem parte do ser humano. “Eu acredito muito no poder das cores e no quanto elas podem nos fazer felizes”, finaliza Jéssica. A


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saúde

Transplante: uma nova chance para viver Operado há dois anos, Marcos Gabriel Campos teve seu caso retratado em um documentário da Discovery Science. POR BRUNO MANSON

Quando se fala em transplantes de órgãos, um dos maiores tabus é que a pessoa nunca voltará a ter uma vida normal, o que não é verdade. E um exemplo disso é o médico veterinário Marcos Gabriel Campos de Oliveira. Em 2017, Biel, como é conhecido, necessitou realizar um transplante de fígado, o que foi uma experiência que lhe marcou profundamente. Atualmente com 53 anos de idade, ele procura curtir ao máximo cada momento ao lado de sua esposa Andreia de Oliveira e de seus filhos Aref Moyabel Oliveira e Bela Maria de Oliveira. Esbanjando disposição, o transplantado é categórico em dizer: “Tenho uma vida melhor do que tinha antes”. Marcos foi acometido de uma cirrose em decorrência da hepatite C. A doença evoluiu de forma silenciosa, sem causar nenhum tipo de alerta. Seu problema de saúde somente veio à tona durante uma cavalgada, atividade que sempre gostou de participar. Na época, o veterinário iniciou um percurso de três dias e seu corpo começou a inchar.

“Comecei a cavalgada com 84 quilos e terminei com 93 quilos em apenas três dias. Foi quando veio o alerta máximo”, recorda. Preocupado, ele procurou o dr. João Batista Bueno, médico que sempre cuidou de sua família. Foram realizados exames e descobriu-se a doença, a qual já estava em um estágio bem avançado. Diante da gravidade da situação, o transplante do fígado era inevitável e o caso foi encaminhado para o dr. Ben-Hur Ferraz Neto, médico especialista na área. A partir daí, iniciou-se um verdadeiro drama em sua vida. SITUAÇÃO GRAVE O plano cirúrgico durou 11 meses. A princípio, Marcos confiava que conseguiria por meio de medicação não transplantar. Mas seu quadro vinha se

agravando. No dia 6 de setembro deste ano, ele foi internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Seu estado de saúde era extremamente delicado, demonstrado por meio da escala MELD (do inglês Model for End-Stage Liver Disease ou Modelo para Doença Hepática Terminal), um sistema de pontuação que quantifica a urgência de transplante hepático em pessoas maiores de 12 anos. Nesta medida, quanto mais alta for a pontuação do paciente, maior é a urgência da operação. Para se ter ideia, a partir do número 14, pode ser transplantado. Já quando a pontuação chega a 30, indica que o quadro é crítico. Nesta época, o veterinário chegou a atingir o número 44 na escala. Durante todo este processo aguardando pelo transplante, o apoio familiar

FUNÇÃO DO FÍGADO

O fígado é um dos órgãos que compõem o sistema digestivo. Ele é uma glândula e tem funções exócrinas, na liberação de secreções, e endócrinas, liberando substâncias no sistema linfático e sanguíneo. É ele que protege o nosso organismo contra substâncias nocivas que muitas vezes nós mesmos ingerimos, como é o caso das gorduras, da cafeína e do álcool, um grande vilão para esse órgão tão importante.

Foto: Reprodução Internet

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

CASO DE URGÊNCIA

Marcos Gabriel Campos de Oliveira, passou por um transplante de fígado há pouco mais de dois anos. Marcos foi acometido de uma cirrose em decorrência da hepatite C. A doença evoluiu de forma silenciosa, sem causar nenhum tipo de alerta.

foi fundamental. “No período em que a gente está na fila de espera, não devemos nos permitir estar em solidão, mas sim estarmos em solitude”, destaca. CIRURGIA A oferta de um doador compatível ocorreu no dia 21 de setembro. Marcos foi submetido a uma cirurgia em

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uma situação extremamente grave. Em 24 horas depois, ele teve que ser reoperado devido a um hematoma que se formou na cápsula do fígado, ao lado direito, quase do tamanho de metade do órgão. Após este procedimento, o paciente ficou em coma por 12 dias. Sua recuperação foi ocorrendo significativamente, a cada dia.

DE VOLTA AO LAR Após superar esta etapa, o veterinário finalmente voltou para casa, onde permaneceu sob cuidados. “Quando vim do hospital, precisei tomar uma medicação contra o vírus da hepatite C, por um período”, comenta. Paralelamente, ele também iniciou uma medicação para evitar a rejeição do novo órgão transplantado. “A minha rotina baseou-se em uma superalimentação, já que entrei no hospital com 94 quilos e quando operei pesava 43 quilos. Ao sair do hospital, eu estava com 45 quilos, sendo que meu peso normal é de 75 quilos”, relembra. “Hoje posso comer

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de tudo. Não tenho nenhum tipo de restrição alimentar. Minha única restrição é o uso do álcool. Nunca mais devo beber”. SUPERAÇÃO Mas a batalha de Marcos ainda não havia terminado. Durante o período em que estava em casa, ele foi perdendo boa parte de sua força e, no início de dezembro, descobriu que estava com o citomegalovírus (CMV). Esta infecção costuma se manifestar em pessoas com o sistema imunológico enfraquecido – como transplantados, por exemplo – e pode provocar doenças graves que comprometem o aparelho digestivo, sistema nervoso central e retina. O veterinário passou o Natal e o Ano Novo com seus familiares, sem apresentar melhora alguma. No dia 6 de janeiro, precisou voltar para São Paulo e ser novamente internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. E foi aí que ele quase perdeu as esperanças de continuar lutando por sua vida. “Quando tive que ficar longe de minha família, novamente. Eu pensei em desistir”, conta. Acompanhando todo o drama vivido pelo paciente, dr. Ben-Hur procurou incentivá-lo a não desistir e continuar sua batalha. Foi neste momento difícil que o médico fez Marcos recordar de seu grande sonho: dar uma festa de aniversário de 15 anos para sua filha Bela Maria. Ela foi uma grande motivação para que o veterinário pudesse aguentar firme e suportar todas as situações por que passou. Foi lembrando-se de sua filha e desse seu sonho que ele conseguiu forças e superou por definitivo toda esta fase. VIDA NORMAL A história de Marcos foi retratada em um quadro da série Transplantes, exibida no canal Discovery Science. O veterinário esteve entre os entrevistados do primeiro episódio, que abordou como tema o transplante de fígado. No mês de setembro ele completou dois anos de transplante e leva uma vida completamente saudável. Até voltou a andar a cavalo. “Minha

vida é normal. Talvez até melhor, pois a gente se respeita mais como pessoa devido a todo o sofrimento que a família passou durante este período de espera na fila de transplantes. Hoje minha rotina é melhor, porque eu dou valor àquilo que realmente deve ser dado. Não fico mais preocupado com coisas corriqueiras. Atualmente eu prezo por dar valor ao que realmente o tem”, conclui. PREVENÇÃO O Brasil é hoje o segundo país no mundo em número de transplantes de fígado, ficando atrás somente dos EUA. Após passar por toda essa experiência, Marcos deixa um alerta a todos: “Gostaria que, além dos exames preventivos de rotina, as pessoas fizessem também o exame de hepatite, pois muitos casos não precisariam chegar ao ponto em que cheguei, se tivesse sido alertado que estava com a doença”, orienta. “Depois que você entra na fila é muito angustiante”, relata. De acordo com dados do Ministério da Saúde, houve uma pequena queda no número de transplantes realizados no primeiro semestre de ano, que somaram 13.263, em comparação ao mesmo período do ano passado, quando registrou 13.291 casos. Segundo o ministério, este ano deve ser fechado com a taxa de 17 doadores efetivos por milhão da população (pmp). Em números absolutos, o país deve alcançar 3.530 doadores efetivos este ano. Já o número de pessoas em lista de espera por um transplante, atualmente, é de cerca de 44 mil pessoas. Em meio a estes números, muitas pessoas não conseguem sobreviver o tempo necessário para conseguir receber um órgão compatível. Isso se deve à baixa quantidade de doações que ainda são realizadas no país. “Quem já pensa em doar, que não fique só nas palavras. Que faça isso por atos e já deixe em seu documento que é doador de órgãos, pois no momento de tristeza, de luto da família, você salvará outra pessoa que também está com sua família em estado de choque”, finaliza Marcos. A

Hepatite C: uma doença silenciosa Foto: Reprodução Internet

A hepatite C é uma doença transmitida pelo vírus C e acomete 71 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, estima-se que 1,5 milhão de brasileiros tenham essa doença e não sabem. As formas de transmissão da hepatite C são transfusão de sangue, compartilhamento de seringas e agulhas para uso de drogas, assim como lâminas de barbear, depilar, alicates de unha e objetos cortantes em geral, além de tatuagens e colocação de piercings. O vírus C também pode ser transmitido de mãe para filho durante a gestação, mas o risco de contaminação é de apenas 6%. Outra forma possível é durante a relação sexual desprotegida. O teste para diagnóstico de hepatite C pode ser realizado em qualquer posto de saúde do país. É obtido por meio da análise de uma gota de sangue extraída de uma picada na ponta do dedo.

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lançamento coleção de verão - Arezzo

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empreendedorismo

Perfil dos empreendedores POR DUDA OLIVEIRA

Paciência e determinação são virtudes adquiridas durante o amadurecimento pessoal, mas são essenciais para quem almeja abrir a própria empresa e permanecer no negócio. É o que dizem as empresárias Aline de Almeida Dias Evangelista e Rayla Mendes, duas sanjoanenses que transformaram o hobby em lucro. Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Aline de Almeida 37 anos, microempreendedora

Aline de Almeida é proprietária e cozinheira do Ervas e Conservas. Criado há dois anos, o negócio familiar surgiu de uma necessidade financeira. Especializada em antepastos e conservas 100% artesanais, a empresa fabrica produtos especiais para serem compartilhados com quem se ama. E ela também destaca esse conceito nas estampa das sacolas dos produtos: “conserva tudo o que te faz feliz”. Além de participar de feiras e fazer entregas sob encomenda, o Ervas e Conservas tem parceria com outros comércios.

Qual foi sua motivação para empreender? Eu precisava de dinheiro na época. Estava desempregada, com a perna quebrada em recuperação e, portanto, não conseguia arrumar outro trabalho. Além disso, meu marido havia fechado a clínica veterinária. Não estávamos em uma boa maré financeira. Foi aí que juntei a paixão pela cozinha e a necessidade de encontrar uma fonte de renda. Era uma coisa que eu sabia e amava fazer, então resolvi encarar de coração aberto esse novo desafio. Você sempre quis empreender? Sempre tive vontade, mas faltava coragem. Como sempre trabalhei com salário fixo, ser autônoma me deixava um pouco assustada, mas a vontade de ter um negócio próprio acabou me mobilizando. 20

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Quais as principais dificuldades ao empreender? Acredito que sejam as burocracias que enfrentamos. No Brasil, temos uma alta taxa tributária, isso faz com que entrar na formalidade e ter funcionários se torne muito caro. Você enxerga como um desafio abrir uma empresa no interior? Por quê? Não acho que empreender no interior ou em uma capital seja tão diferente. Desafios temos em todos os lugares. Talvez a diferença esteja no tamanho do mercado, mas ainda vejo vantagens de estar no interior. Aqui, as pessoas acabam se conhecendo melhor e indicam seu produto umas para as outras, o famoso “boca a boca” ainda é a melhor propaganda. Numa capital, isso não acontece, você é apenas mais alguém que está chegando ali.


Quais os benefícios de ter a própria empresa? Um dos benefícios é a autonomia para trabalhar do seu jeito. Trabalhar com aquilo que você gosta, fazendo os seus horários, com possibilidade de expandir suas ideias e criar produtos novos. Durante sua trajetória como empreendedora, que lição você tira de todos os desafios pelos quais passou? Não esmorecer nem desanimar, essas são as principais

lições. Tem hora que você vai pensar em desistir, mas não desista, insista! Isso vai fazer toda a diferença. Desafios servem para fortalecer e amadurecer sua trajetória. O que você diria para alguém que pensa em empreender no mesmo segmento que você? Se joga! A cozinha é incrível e te abre um mundo de possibilidades. Faça seus testes gastronômicos, estude e invente. E o mais importante, acredite no seu negócio! Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Rayla Mendes 25 anos, jornalista e artista

Outra empresária que transformou um hobby em lucro é Rayla Mendes. Jornalista por formação e artista visual por ofício, é proprietária da Tô Desenhando (@to.desenhando), que faz ilustrações em paredes e lousas. A empresa existente desde 2016, mas formalizada como um negócio em 2018. Conte um pouco sobre a história da sua empresa. Eu sempre fui boa com desenhos e letras, mas com o passar dos anos eu deixei de lado e só voltei a fazer isso, de verdade, depois da faculdade. A Tô Desenhando surgiu de uma conversa numa roda de amigos, no fim de 2016. Entre uma encomenda e outra de pessoas mais próximas, eu percebi uma oportunidade de negócio, o que foi uma grande surpresa pra mim, mas só em 2018 passei a ver de fato como uma empresa.

sava em ter minha própria empresa, não era voltada para os meus desenhos, era algo mais “formal”, se é que me entende.

Qual foi sua motivação para empreender? Veio da necessidade de deixar meu trabalho menos informal/ amador, como eu considerava antes. Era preciso fazer alguns ajustes para que eu pudesse ofertar um bom produto e ter mais chances de venda. As coisas foram acontecendo bem rápido e, quando vi, já havia se tornado um negócio.

Quais os benefícios de ter a própria empresa? Ser minha própria chefe, a flexibilidade dos horários, poder resolver as coisas no meu tempo. Porém, todos esses pontos positivos, podem se tornar negativos se olharmos de uma outra ótica.

Você sempre quis empreender? Na verdade, já havia pensando em ter um negócio, mas nunca imaginei que faria isso tão jovem e sozinha. E quando eu pen21

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Quais as principais dificuldades de se empreender? Todo empreendedor precisa saber que é preciso paciência para gerir a empresa, para entender as necessidades que ela tem, além de uma dose de bom humor para lidar com os percalços inevitáveis da caminhada.

Durante sua trajetória como empreendedora, que lição você tira de todos os desafios pelos quais passou? Que é preciso paciência e determinação. As coisas parecem fáceis quando você vê outra pessoa fazendo. Quando chega a sua vez, o negócio aperta e, às vezes, pode ser meio desesperador. A REVISTA ATUA | NOVEMBRO DE 2019

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empreendedorismo

Dra.Cherie comemora 5 anos de sua fundação Uma história de empreendedorismo em família, com criatividade e propósito. A marca de jalecos e vestuário profissional, Dra. Cherie, foi criada em 27 de novembro de 2014, em razão da necessidade que a dentista e fashionista sanjoanense, Cici Navarro, tinha de encontrar jalecos diferenciados. Como não encontrava peças fashion e confortáveis, começou a criar sua própria vestimenta. Ao usar seu primeiro modelo, todas as suas amigas e colegas de profissão amaram. E então nasceu a Dra Cherie, em parceria com a irmã Ana Carolina Navarro, com o objetivo de oferecer um vestuário profissional que valorizasse a beleza de todos que o vestem, com modelos cheios de estilo, sempre de acordo com as últimas tendên-

cias vistas nas passarelas nacionais e internacionais.“Gostamos muito de surpreender e criar coisas novas, sempre tendo como base o nosso propósito, com que é gerar amor para todos os públicos que trabalhamos”, diz Cici Navarro. Realmente, a inovação é um dos fatores responsáveis pelo sucesso da empresa, que começou vendendo pelo Whatsapp e hoje tem um e-commerce que vende para todo Brasil; além da forte presença nas redes sociais - onde conta com mais de 530 mil seguidores no Instagram. Ainda falando de números, a Dra. Cherie também atende grandes varejistas e tem mais de 60 revendedores por todo Brasil e países como Bolívia, Paraguai, Peru, Panamá, República

Dominicana e Estados Unidos, além de parcerias com gigantes do mercado como Disney, Mattel e Colgate. Recentemente a marca também apostou nas lojas físicas, a primeira em São Paulo, na badalada região da Oscar Freire, e a segunda em Brasília, no Park Shopping. O escritório central fica aqui em São João da Boa Vista, onde administram toda a estrutura. Outra novidade fresquinha foi a abertura do Café Cherie, recém-inaugurado em 29 de outubro desse ano, ao lado da flagship de São Paulo. “A ideia do café é ampliar a experiência do cliente, criar momentos únicos e especiais para nosso público, já que muitos turistas de diversos lugares do Brasil vi-

IRMÃS NOS NEGÓCIOS

Carolina Navarro Frigo Januário (a direita) e Ana Cecília Mançano Navarro criaram o conceito de jaleco-fashion e revolucionaram o mercado. A partir desse insight, a peça tornou-se um acessório de moda.

Fotos: Divulgação

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Fotos: Divulgação

INFORME PUBLICITÁRIO

LOJAS FÍSICAS

A Dra. Cherie está investindo em diversos projetos. Um deles, a criação de uma rede de lojas físicas, onde cada cantinho foi pensado para transparecer o mundo Cherie. São duas lojas: a primeira em São Paulo, na badalada região da Oscar Freire, e a segunda em Brasília, no Park Shopping.

Fotos: Divulgação

sitam a loja e aproveitam para passear na Oscar Freire”, diz Ana Cecília Navarro. O café Cherie é uma extensão da marca Dra. Cherie, e é um espaço todo cor de rosa – a cor está em cada detalhe, desde a decoração até os principais ítens do cardápio. Quando questionadas sobre o principal motivo do sucesso da marca, as proprietárias respondem sem titubear: “nossos funcionários são os melhores do mundo!”. Hoje a Dra. Cherie conta com cerca de 45 colaboradores, sem contar os terceirizados, responsáveis pela confecção dos produtos. A equipe engajada, criativa e comprometida, tem como propósito entregar amor em todas as etapas do seu trabalho. “A participação dos funcionários em projetos sociais, como o plantio de árvores em áreas de reflorestamento da cidade, e gincanas solidárias para colaborar com ONGs locais, ajudam a tornar esse propósito de gerar amor ainda mais claro para os colaboradores”, diz Ana Carolina Navarro. Nesses cinco anos de existência, a jovem empresa tem muito o que comemorar, pois desbravou um mercado que antes não existia, despertando uma nova necessidade de consumo, além de trabalhar conceitos como beleza, empoderamento e autoestima, que antes não se falava nesse segmento. Mais do que clientes, as duas irmãs conquistaram uma nova família que atravessa fronteiras e deixa claro que tudo isso é mais do que vender jalecos: É sobre paixão, sobre amor, sobre nós. A

CAFÉ CHERIE

Inaugurado em outubro, o objetivo é ampliar a experiência do cliente que visita a loja. Além disso, o café oferece um cardápio variado e saboroso para todos que visitam a loja da Dra. Cherie ou que procuram um ponto de encontro na rua mais badalada de São Paulo, a Oscar Freire.

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crônica

Engenho da marvada Se no grande solar da fazenda a caninha foi um sucesso, no mercado foi um fracasso. Foto: Reprodução Internet

POR MARCELO PIRAJÁ SGUASSÁBIA

A família Cabrália. Desafio aparecer alguém que nunca tenha, pelo menos, ouvido falar. Donos de terras de onde você está até perder de vista, não importa em que lugar você esteja. Era um infinito de terra roxa da melhor qualidade, a ponto do caminhante morrer antes de acabar de percorrer o fazendão. Os Cabrália passavam a vida à espera de heranças, e este esperar era o único afazer de todos na casa grande. Largavam-se às redes na varanda, aos banhos de cachoeira, às sem-vergonhices com a criadagem e a um fazer-coisa-nenhuma sem fim, embalados a doses cavalares de cachaça. Mulheres e homens, sem distinção. Dos pré-adolescentes aos patriarcas e matriarcas beirando os cem, todos bebiam dia e noite e esbarravam-se pelos corredores, trançando as pernas e falando mole. As doses cavalares tornavam-se industriais. Até que o mais (ou o menos) sóbrio entre eles viesse com a ideia da instalação de um destilador próprio da “marvada” - que abastecesse a família e cujo excedente fosse despejado no mercado, em forma de caninha com rótulo, registro e - se Deus ajudasse - consumidores fiéis. Se no grande solar da fazenda a caninha foi um sucesso, no mercado foi um fracasso. Para esquecê-lo, bebiam ainda mais. Faziam da aguardente um escudo contra o tédio, os medos, os aborrecimentos e até contra moléstias que os viessem ameaçar. E nas novenas, em hora da Ave Maria, pediam proteção divina às doenças terrenas e rogavam, ainda que não explicitamente, para que a morte da parentalha viesse antes da própria. Assim herdariam mais uma parte das terras, que bem ou mal garantiria um tempo a mais de va26

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gabundagem e de entrega ao álcool. E o que um dia foi um imenso latifúndio de produção de açúcar para exportação se transformou em agricultura de subsistência. Nos primeiros anos, o percentual reservado a consumo próprio era de 10%, depois passou a 20%, em seguida a 50% e daí foi um pulo para que todo o canavial fosse destinado ao engenho de pinga. Ou melhor, ao vício familiar a que todos se entregavam descontroladamente – até que morressem, fossem sepultados e seus corpos conservados ad infinitum pela quantidade absurda de álcool nos organismos.

O problema é que, desse estágio em diante, a família mesmo tinha que plantar, cultivar e colher a cana. Isto porque, não havendo renda gerada com a comercialização da lavoura, ninguém se arriscava a trabalhar de boia-fria pela possibilidade de não receber. E lá iam eles, antigos fidalgos, encarar a lida para estancar a sede de álcool. Riquíssimos vestidos da mais pura seda, vindos de ateliers da Europa, viravam ataduras para estancar os cortes da ceifa de cana, embornais de marmita, fraldas de rebentos que iam nascendo de mães bêbadas. A céu aberto e sem assepsia, a terra roxa de misturando ao sangue do parto. A


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sociedade

Produtividade, ócio e redes sociais Já é tempo de colocarmos um basta e perguntarmos: quem serve a quem? POR LEONARDO TORRES

O mundo dos negócios quer resultados. O administrador visa o lucro; o publicitário, a venda; o engenheiro, o custo/ benefício e por aí vai. Tudo em prol do progresso da empresa. E hoje, as redes sociais de bate-papo estão cada vez mais sendo utilizadas para agilizar a comunicação entre colegas de trabalho. O que gera uma discussão gigantesca sobre elas serem vilãs ou facilitadoras no mundo empresarial. No fundo a pergunta é: ela auxilia no progresso da empresa? O progresso, por sua vez, é a premissa para qualquer negócio. Não à toa, a palavra “negócio” pode ser entendida como “negar” o “ócio”. Em nossa sociedade ocidental, que valoriza o trabalho a todo custo, quem vive de ócio algumas vezes é considerado “vagabundo”; vide os adjetivos que pessoas preconceituosas dão a artistas, por exemplo. Curioso é saber que todo o processo de criação demanda de ócio, o que chamamos de “ócio criativo”. E parece que hoje estamos com tantos “negócios”, ou melhor, há tanta negação do ócio que a própria criatividade hoje é uma das

características mais pedidas entre recrutadores. Quantas vezes não estamos quebrando a cabeça com algum problema e só conseguimos resolvê-lo no momento em que relaxamos e esquecemos dele? Parece que a solução vem à mente em milésimos de segundo. Os verdadeiros insights normalmente chegam pelo ócio. Quem precisa ficar 24 horas diárias conectado, trabalhando, não se permite o ócio. Os insights, consequentemente, diminuem. Se a resolução de problemas é prejudicada, a produtividade cai. O descanso do indivíduo não acontece. Daí, a cada mensagem que chega, mais um estresse acumulado. Somente o barulho da mensagem já traz todo o estresse de volta. Por isso, a Síndrome de Burnout está cada vez mais comum em nosso tempo. As redes sociais de bate-papo, que eram para ser facilitadoras, acabam dominando os dias, as horas, os minutos e os segundos do dia e, ainda, invadem nossos finais de semana, feriados e férias. Já é tempo de colocarmos um basta, harmonizarmos nosso cotidiano e perguntarmos: quem serve a quem? A Foto: Reprodução Internet

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esportes Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

A ginástica artística em São João Com 35 anos de atuação, a ginástica sanjoanense, agora com novo local, participa de festivais e competições oficiais. POR PEDRINHO SOUZA

A ginástica é um esporte que envolve uma série de movimentos que requerem força, flexibilidade e coordenação motora. A ginástica artística, como modalidade, envolve um conjunto de movimentos corporais que são aplicados e julgados em competições. A equipe da Revista Atua conversou com Ricardo Herrera, atual treinador da ginástica de São João da Boa Vista, que contou desde o início da modalidade na cidade, até os dias atuais. GINÁSTICA EM SÃO JOÃO A ginástica foi implantada em São João em 1984, por meio do professor Sebas30

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tião Álvaro Galdino, na Esportiva Sanjoanense, depois passou a ser ministrada no ginásio do CIC, em 1998, com o programa Recriança, no qual Ricardo Herrera, hoje responsável pela ginástica sanjoanense, era estagiário. Na época, a modalidade ainda era praticada em áreas e com materiais improvisados. Herrera teve sucesso na carreira como atleta e professor, com diversas passagens marcantes. “Eu defendi o Esporte Clube Suzano, da cidade de Suzano, em São Paulo, como atleta e professor. Como atleta, fui campeão de Jogos Regionais do Interior e vice de Jogos Abertos do Interior, em 1994, depois virei técnico e coordenador da modalidade”, comenta. Como técnico disputou, além dos

Jogos Regionais e Jogos Abertos, também o Campeonato Paulista e o Brasileiro, sempre entre os primeiros colocados por equipe, além de ser campeão dos Jogos Regionais, na grande São Paulo, por várias vezes. Em 2012, Herrera retornou a São João, depois de 20 anos trabalhando fora, para ser o treinador das equipes de competição. O técnico trouxe para a cidade toda a aparelhagem específica da modalidade, acompanhado da esposa, Rose Herrera, que atualmente é a responsável pela escola de iniciação. O novo local específico para a prática da modalidade, localizado no Centro de Integração Comunitária (CIC), recebeu o nome do professor Galdino. Atualmente a ginástica atende mais

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de 200 atletas, os quais participam de festivais e competições oficiais. Quem quiser participar das aulas, basta fazer a inscrição no CIC, de segunda a quinta-feira, em horário comercial, para crianças de 6 a 12 anos. ORIGEM DO ESPORTE A história da ginástica vem dos tempos da Antiguidade. Antes da Era Cristã, já existia a prática de acrobacias no Egito, que eram bastante parecidas com os movimentos da ginástica artística. Mas, o que de mais concreto existe sobre a origem deste esporte, foi quando ganhou destaque na Grécia Antiga, se tornando um elemento fundamental para a educação física dos gregos. Eles usavam a modalidade como forma de aprimorar corpo e mente, além de aperfeiçoar o físico dos militares. Durante a Idade Média houve um desinteresse pela ginástica como competição, que foi ressurgir, com um grande salto, na Europa, no início do século XVIII, com ênfase na escola alemã, de movimentos lentos e ritmados, e com a escola sueca, que introduziu aparelhos na prática do desporto. As duas escolas exerceram influência no desenvolvimento do sistema de exercícios físicos idealizados por Friedrich Ludwig Jahn, considerado o pai da ginástica atual. Ele influenciou e contribuiu para a rápida multiplicação das escolas de ginástica na Alemanha e no mundo. Iniciou trabalhos com o uso de aparelhos, inventou novidades e tornou-se o grande propagador da ginástica. MODALIDADES A ginástica artística engloba diversas provas, tanto no masculino quanto no feminino. Cada ginasta passa por um roteiro de provas em que a meta é acumular o maior número de pontos possíveis, em cada uma das provas, para sair vitorioso. Tanto os homens quanto as mulheres cumprem um cronograma diferente de provas.Já no masculino, tem solo, cavalo com alças, argolas, salto sobre a mesa, barras paralelas e barra fixa. Já no feminino solo, salto sobre a mesa, barras assimétricas e trave. Sobre a pontuação, os critérios variam segundo os aparelhos. Tiram pontos dos erros técnicos, mas avaliam também o grau de dificuldade de cada movimento. A 32

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Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux


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matéria de capa

História da população negra tem raízes em toda a cidade Igrejas, clubes, ruas e praças de São João da Boa Vista são espaços de resistência e sociabilidade negra desde o século XIX. POR JEFERSON BATISTA

São João da Boa Vista ainda era um povoado quando o monsenhor João José Vieira Ramalho, no início do século XIX, chega à região e começa a incentivar o desenvolvimento local. O religioso, ao lado de outros grandes proprietários de terra, encorajava a vinda de fazendeiros para a região para a implantação de culturas agrícolas. Seus esforços deram certo. Com a formação de uma agricultura considerável e o crescimento da população, a mão de obra escrava se fez necessária. Sendo assim, por volta de 1830, começam a chegar para trabalhar no município, sobretudo

em lavouras de cana-de-açúcar, os primeiros escravos negros. Tratados como mercadoria, os negros dificilmente traziam malas ou pertences pessoais. Muitos carregavam apenas as pesadas correntes. Em seus corpos, contundo, além das marcas dos maus tratos, conservavam as tradições africanas que, atualmente, fazem parte da herança cultural de São João, bem como de todo o Brasil. Pela cidade, diversos pontos ajudam a contar a história da população negra sanjoanense, marcada pela resistência contra o preconceito racial, mas também pela força e alegria. De acordo com o censo mais recente do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), por volta de 20% das pessoas que vivem no município são negras – pretas e pardas. Na cidade, algumas figuras lutam para manter viva a cultura negra regional. “Existe um movimento negro organizado em nossa cidade”, afirma a professora Juliana Evangelista, que lidera o Baque São João, um grupo de maracatu. ROSÁRIO, O BAIRRO NEGRO Segundo o arquiteto e historiador Antonio Carlos Lorette, não era permita a venda de escravizados no centro do povoado, que em 1859 foi elevado à freguesia. Temia-se que estas pessoas tivessem doenças que pudessem criar

MERCADO DE HOMENS

Mercado da Rua do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ), no final do século IX. A pintura, de Debret, mostra negros esqueléticos no “bazar onde se vendem homens”, nas palavras do pintor. Em São João, haviam casas semelhantes, no atual largo da Igreja do Rosário.

Reprodução: Jean-Baptiste Debret / Acervo da Fundação Biblioteca Nacional / Divisão de Iconografia

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Reprodução: Escala 1:2500. São João da Boa Vista, 12-5-1901, por Guilherme Sandeville. Nanquim sobre papel linho. Acervo particular Antonio Carlos Rodrigues Lorette

FORMAÇÃO DO BAIRRO

Detalhe da primeira planta cadastral da cidade, início do séc. XX. O Bairro do Rosário surge com a abolição da escravatura (1888), quando negros libertos começam a se reunir no entorno do antigo local onde era realizado o comércio de escravados (atual largo do Rosário).

CUBATÃO

LARGO DO ROSÁRIO

(antigo pelourinho e feira de escravos)

IGREJA MATRIZ

SEGREGAÇÃO GEOGRÁFICA

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

epidemias, como já havia ocorrido nas redondezas. “Os escravos ficavam de quarentena em um terreiro, localizado numa bifurcação entre estradas que davam acesso às fazendas. Depois desse período, iam direto para as propriedades rurais, sem passar pelo povoado”, afirma Lorette, que é também diretor do Museu de Artes Sacras de São João da Boa Vista. Ao lado do campo de vendas de escravos, foi criado o Cemitério dos Cativos, para enterrar, em valas comuns, as mulheres e os homens negros que morriam antes mesmo de chegar às fazendas. Eles não tinham espaço no cemitério da Igreja Matriz, atual Igreja Catedral, onde enterravam-se os brancos. Anos mais tarde, porém, com o fim da escravidão, os negros libertos, sem lugar para ir, começam a construir suas moradias nas terras onde justamente funcionava o terreiro de comercialização de escravos. A partir desse momento, o local se torna o primeiro reduto da população negra e, com o passar dos anos, ganha o nome de Rosário, em referência a Nossa Senhora do Rosário. A santa católica sempre esteve entre as devoções dos escravizados. “Eles chegam ao Rosário, porque ali estavam enterrados seus iguais. Além disso, as terras eram baratas”, conta Lorette. Já em 1870, os moradores do bairro em formação, com ajuda de figuras como Cristiano Osório, começam a construir a igreja do Rosário, que é edificada no centro do terreiro de vendas de escravos. Três anos mais tarde, o templo católico já está pronto e se torna a segunda igreja da cidade, ficando atrás da Igreja Matriz. O historiador relata que as festas religiosas no Rosário sempre foram muito animadas. O bairro foi crescendo, sem planejamento. Mais tarde, porém, no início da república, a Câmara Municipal autori35

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Isso também leva a uma segregação geográfica, onde os negros moravam - em sua maioria - após o Córrego São João. Mesmo nessa planta, de 1901, ao longo das margens do córrego podemos notar edificações fora do alinhamento das ruas, do antigo bairro de Cubatão, também composto de por ex-escravos e veteranos de guerra.

za a realização do arruamento em várias partes da cidade, incluindo o bairro do Rosário. No local, as vias públicas são, então, renomeadas. Tiram os nomes imperiais e colocam nomes republicanos. No Rosário, as ruas ganham nomes de figuras abolicionistas, figuras negras ou de figuras que lutaram contra a escravidão, como Luiz Gama. CUBATÃO, O BAIRRO DOS DEGREDADOS Outro ponto que merece destaque é o bairro Cubatão, que deriva de um local de pouso para tropas de mulas, provavelmente, do final do século XVIII. Esse pouso de tropeiros ficava a beira de um caminho que descia pela atual Avenida Dona Gertrudes, cortava o local onde hoje se situa a escola Joaquim José e descia pela rua do camelódromo, cruzando o Sindicado dos funcionários Públicos Municipais, onde havia uma pequena ponde que atravessava o Córrego São João. Naquela época, não existia o bairro do São Lázaro (antiga Vila Santa Rosa), que só surgiria em 1925. Cubatão acabou se expandindo às margens do córrego e, de tempos em tempos, o local era vítima de inundações. Esse fato o transformou em um local semi abandonado, que acabou sendo ocupado por marginalizados da época: velhos, negros libertos, benzedeiros e prostitutas. Mas, também havia muitos trabalhadores no local que, sem dinheiro para moradias dignas, acabaram se sujeitando às condições precárias do Cubatão. Um exemplo eram as lavadeiras do córrego São João, que trabalhavam batendo as roupas nas pedras do córrego, onde atualmente é a agência do INSS local. Após a Revolução de 1932, Cubatão também recebeu muitos inválidos sem local para se alojar, como os famosos REVISTA ATUA | NOVEMBRO DE 2019

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

IGREJA DO ROSÁRIO

A atual igreja foi construída sobre a antiga capela. No local, situava-se o largo da forca e também o pelourinho, que é uma coluna de pedra colocada em um lugar público, onde eram punidos e expostos os criminosos. Também realizava-se nas imediações a feira de escravos.

“Jacaré” e o “Dito Foca”. A grande enchente de 1949 arrasou as casas, e a população de velhos foi movida para a Vila São José, mantida hoje pelo Vicentinos. Até a década de 1970, ainda era possível encontrar os escombros do bairro. Porém, tudo foi retirado para a construção do campus I da UNIFEOB. O local central do bairro de Cubatão seria onde hoje está situada a quadra de esportes da faculdade, próxima à antiga Escola de Comércio.

Sob o signo da resistência, a devoção dos negros Os negros escravizados, uma vez no Brasil, não tinham autorização dos seus proprietários para processar sua fé original, sendo proibidos de expressar, cultuar ou fazer ritos de acordo com suas próprias crenças religiosas e, muitos deles, ao demonstrarem a não-aceitação ao catolicismo, acabavam sendo severamente castigados. Sendo assim, foi necessário aos negros cativos adaptar suas crenças aos santos católicos: Oxum, por exemplo, passa a ser Nossa Senhora do Rosário, por conta das contas dos rosário por ela carregada, assim como os colares de búzios do Orixá. Nesse contexto, também surgem as Irmandades dos Homens Pretos. Segundo Eduardo Hoornaert, em História da Igreja no Brasil, as ordens surgem com dois objetivos: auxiliar na cristianização dos escravos (já que, para muitos senhores, “amortecia os instintos dos negros”) e também separar brancos e negros nas missas dominicais. Isso é importante pois, era obrigação dos senhores mandar seus escravos à missas, porém eles não não obedeciam essa determinação, porque as igrejas eram muito pequenas e os brancos presentes “não suportavam o mau cheiro exalado pelos escravos”. Desta forma, surgem as irmandades, espaços permitidos - dentro da legalidade - nos quais o escravo podia manifestar-se, fora de suas relações de trabalho. Elas desempenhavam função de auxílio, em caso de doença e/ ou morte, e proteção aos seus membros. Paradoxalmente, era através da religião católica que os escravos podiam resguardar valores culturais, em especial suas crenças religiosas. Essas confrarias acabaram sendo as guardiãs de diversas tradições africanas, que se conservaram pela frequência dos contatos, pela conservação da língua e outras razões semelhantes. Foto: Haroldo Abrantes / historiasdopovonegro.wordpress.com

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DITO PITO, MUITO MAIS QUE BENZEDOR Uma das figuras folclóricas que permeiam a memória popular sanjoanense é Dito Pito (1901-1999), conhecido benzedor que viveu na cidade. Este personagem popular, porém, tem uma trajetória marcada pela resistência contra o racismo e pela persistência em ocupar espaços onde as pessoas negras não eram tão bem vindas. Benedito Antonio Lourenço, que ganhou o apelido devido ao cachimbo que utilizou por muitos anos de sua vida, conseguiu, ao lado de sua esposa Joana de Oliveira, participar do sistema social e religioso, dominado pela elite sanjoanense, durante as primeiras décadas do século XX. Filho de ex-escravizados, passou por diferentes profissões: carpinteiro, marceneiro, caçador e benzedor. A infância e adolescência de Dito Pito foi de muito trabalho. “Começou a trabalhar com 10 anos de idade. Ele era uma pessoa que se envolvia em tudo na cidade”, conta Lorette. A sociedade sanjoanense dos anos 1930 não era receptiva para os “homens de cor”. A escravidão já havia acabado, mas as pessoas negras ainda eram vistas como inferiores por parte da população. Diante disso, era praticamente impossível um negro participar das atividades culturais e sociais da cidade. Dito Pito, com seus amigos, não

aceitam esse ostracismo e, em 1936, criam o Club Henrique Dias. A organização, que funcionou até 1944, promoveu bailes de carnaval no antigo Cine Guarani, onde é atualmente o prédio da Telefônica (antiga Telesp). Além do protagonismo no clube, o carpinteiro tinha um envolvimento grande com a comunidade religiosa da matriz. Um negro ativo nas coisas da igreja principal da cidade era algo inédito naquela época. “Dito Pito se tornou uma pessoa importante no sistema religioso e público. Sabia ler e escrever, se tornou o primeiro coroinha negro e fazia todos os serviços de altar na Matriz. Fotos da época mostram ele em meio a todos os coroinhas brancos”, conta Lorette. Dito Pito construiu sua casa no bairro Rosário, que ficava localizada na Rua Luiz Gama. O nome da rua, inclusive, é uma homenagem a um importante personagem da história nacional que lutou contra o racismo e a escravidão. “Luiz Gama era um advogado, não pode frequentar a escola porque era negro, mas podia advogar sem ser bacharel e ajudou a libertar vários escravos, conseguindo alforrias para eles”, conta a advogada Dy Lourdes. A casa de Dito Pito não existe mais e Lorette lamenta a não preservação do espaço. A antiga morada fora construída em cima do antigo Cemitério dos Cativos. Era possível ver marcas das

sepulturas no quintal. Era neste local, ainda, que ele e sua esposa realizavam benzimentos e confeccionavam produtos de curas e remédios a partir de animais e plantas. Essa capacidade de cura do casal chamava atenção e fez com que a casa fosse frequentada por parte significativa da população da cidade. CLUBE RECREATIVO LUIZ GAMA Na década de 1940, a população negra de São João ainda enfrentava resistência para frequentar espaços de sociabilidade. Diante disso, os negros se organizam e criam o Club Recreativo Luiz Gama, já que o clube anterior, Club Henrique Dias, havia sido descontinuado. “A fundação do Luiz Gama foi o resultado de uma luta muito importante para os negros em São João. Nos primórdios, era clube de encontro e também local de ajuda mútua entre os negros que sempre sofreram discriminação e racismo em todas épocas”, afirma Juliana. Para o jornalista Marcelo Gregório, “o [clube] Luiz Gama foi de extrema importância para que a comunidade negra pudesse superar os obstáculos”. Nas décadas seguintes, a agremiação negra realizou diversos eventos que se tornaram proeminentes na cidade. A advogada Dy Lourdes, que frequentou o local quando criança, lembra dos bailes de Carnaval e a criação da escola de samba, do concurso miss negra e da formação de equipes esportivas, com o destaque para o futebol. Juliana também afirma que, na década de 1970, no seu período áureo, o clube promoveu “festas e eventos que congregavam os negros da cidade e onde se decidiam o papel das lideranças”. >

CLUBE LUIZ GAMA

Em 2009, o prédio, que fica na Rua General Osório, chegou a ser leiloado. Depois de um imbróglio judicial, a prefeitura passou a ser a proprietária do local e concedeu a administração do espaço para membros da comunidade negra da cidade por meio da Associação dos Amigos do Clube Luiz Gama, que mantém o Espaço de Cultura Afro Brasileira Luiz Gama, onde são realizadas atividades culturais, como capoeira, maracatu, entre outras.

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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Com o passar do tempo, a organização vai perdendo força. “Com a morte dos pretos velhos, a gente perdeu um pouco da história. Mas essa história é de suma importância, porque todos nós da comunidade negra, em algum momento, passamos pelo Luiz Gama. Meu pai fez parte de uma diretoria quando eu era criança, eu aprendi a origem do samba dentro do clube”, afirma Dy Lourdes, que faz parte da Associação dos Amigos do Clube Luiz Gama. Já nos anos 2000, o clube passou por dificuldades financeiras e não cumpriu seus compromissos financeiros. Em 2009, o prédio, que fica na Rua General Osório, chegou a ser leiloado. Depois de um imbróglio judicial, a prefeitura passou a ser a proprietária do local e concedeu a administração do espaço para membros da comunidade negra da cidade por meio da Associação dos Amigos do Clube Luiz Gama, que mantém o Espaço de Cultura Afro Brasileira Luiz Gama, onde são realizadas atividades culturais, como capoeira, maracatu, entre outras. O prédio do antigo clube, atual espaço cultural, fica na esquina entre as ruas General Osório e Riachuelo, no bairro São Lázaro. “Na época, a região era conhecida como Risca Faca, podemos dizer que era uma espécie de favela da cidade”, conta Dy Lourdes. “No prédio onde funcionava o Luiz Gama há atividades que valorizam a cultura negra. No mês de novembro, que tem o dia 20 como Dia da Consciência

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Negra, são realizados eventos organizados pela ONG Protéia, com apoio da Prefeitura, que contribuem com a valorização da cultura negra. Debates, palestras, homenagens, show e esporte são destaques”, afirma Gregório. Apesar das atividades, o prédio passa por problemas estruturais. “A situação física do espaço é crítica. Há infiltrações, o piso vem se desfazendo, as instalações elétricas são muito antigas, a segurança do espaço é precária, as janelas têm vidros quebrados, mas, mesmo assim, ele permanece em funcionamento”, afirma Juliana, que acrescenta: “mesmo nessa situação, há um atendimento significativo de pessoas, negras ou não, nas atividades promovidas no local”. IRMANDADE DE SÃO BENEDITO No corredor central do Museu de Artes Sacras de São João da Boa Vista, uma imagem de São Benedito, restaurada recentemente, é um tesouro que guarda um pouco da história da Irmandade que existiu na cidade, dedicada ao santo católico. Criada no final do século 19, a agremiação religiosa funcionava na Igreja Catedral. Porém, já nas primeiras décadas do século XX, os negros católicos assumiram o protagonismo na irmandade e reivindicavam uma igreja

independente, para homenagear o santo com quem compartilhavam a mesma cor de pele. Depois de muita discussão, um serralheiro doou um terreno para a construção da Igreja de São Benedito e, em 1928, a irmandade se transfere para o novo templo, levando a imagem do santo. Hoje esta imagem fica no museu. Uma das festas mais tradicionais de São João era a festa promovida pela Irmandade do Divino. Com procissões luxuosas, as famílias tradicionais desfilavam pelas ruas centrais da cidade na chamada Corte do Divino. As celebrações eram, no entanto, restritas à elite. A população pobre só podia assistir ao espetáculo social e religioso. Diante disso, membros da Irmandade Negra decidem criar a Corte de São Benedito. Dito Pito, uma das lideranças, afirmou: “São Benedito também é rei, então, vamos fazer a corte e a coroa para ele”. Outro fator importante na escolha de São Benedito foi a cor da sua pele. Segundo as tradições católicas, São Benedito morreu em abril de 1589 na Sícilia(Itália) e, algumas versões de sua história, dão conta de seu nascimento em família pobre e descendente de africanos escravizados na Etiópia; outras, dizem que foi um escravo capturado no norte da África. >

CORTE DE SÃO BENEDITO

O controle dos bens simbólicos estava sob a tutela de uma pequena elite economica e branca. Desafiando essa situação, Dito Pito e outros negros organizam a Corte de São Benedito. Abaixo, o contraste entre a singela coroa utilizada no evento dedicado a São Benedito (à direita) e a ornamentada coroa usada na Corte do Divino (à esquerda).

Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux


H O P E SÃ O J OÃO | AV. DONA GERT R UDES , 17 - C EN TR O - S ÃO JOÃO DA B O A V I S TA T EL.: 19 3631-0 191 19 97142. 1902 39

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Foto: Beatriz Negreiros

Seja qual for a história real, o fato do sincretismo religioso – uma espécie de mistura - entre catolicismo e as religiões africanas, fez o santo começar a ser venerado pelos negros, que relacionam o período de escravidão e a origem africana do santo com o seu próprio passado de escravidão e suas raízes africanas. Para se ter uma ideia da força dessa devoção, em Guaratinguetá, desde 1726, grupos de negros e libertos já organizavam uma cavalaria em louvor a São Benedito, tradicionalmente no domingo de Páscoa. Porém, em São João, a corte durou apenas até meados de 1950. Apesar de a irmandade também não existir mais, a Igreja de São Benedito recebe todo o ano, no mês de novembro, uma missa afro. “A celebração é bem interessante. É uma mistura de tambores africanos com os ritos católicos. A igreja de São Benedito é um lugar muito simbólico para a comunidade negra de São João”, diz Dy Lourdes. A Semana da Consciência Negra, que ocorre em novembro, é, inclusive, um dos principais eventos realizados na cidade em busca de resgatar a história e falar

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sobre temas como o racismo. Para membros da comunidade negra sanjoanense, ainda existe um caminho longo para a conquista da igualdade e do respeito. E, nesse processo, a cultura tem um papel importante. O grupo de maracatu, a capoeira e o samba são algumas atividades presentes na cidade, bem como manifestações culturais mais recentes, como o hip hop. O projeto Batalha Central (foto acima), que começa a ser realizado no centro da cidade, tem como liderança um

grupo de MC´s locais, entre elas, Caroline Franco dos Reis, a MC Carol da Rima. Para ela, “o hip hop é a voz das ruas acolhendo aos que não são ouvidos e também os marginalizados”. Dy Lourdes considera essas manifestações culturais e artísticas importantes para que pessoas negras e brancas entendam que é preciso combater os preconceitos. “Não é transformar numa guerra entre pretos e brancos, mas lutar pela igualdade”, afirma a advogada. A


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meio ambiente

Reciclagem em São João A Coopermax, iniciativas particulares e projetos universitários auxiliam no correto descarte de resíduos em nossa cidade. POR DANIELA PRADO

Pela definição dos dicionários, usa-se a palavra ‘lixo’ para designar coisas ou mesmo pessoas (no intuito de ofender) que não têm mais qualquer função. Certamente muitos já ouviram a frase “lugar de lixo é no lixo”. Mas será que, na prática, essas ideias realmente fazem sentido? Por mais que se busque conscientizar as pessoas desde a infância, ainda há aquele papel de bala que a criança joga na sarjeta e vai se misturar com a água da chuva , “navegando” até o rio, que deságua no mar, onde estão os peixes e tartarugas que sofrerão as consequências dessa atitude. Infelizmente nem todos “acordaram” para essa triste realidade. São muitas as latinhas de cerveja, papéis de propaganda, embalagens de alimentos, plásticos e até lixo orgânicos jogados pelas ruas – sendo que em muitos pontos da cidade é possível encontrar cestos de

lixo, ou seja, jogar essas coisas no chão é uma questão cultural. Pensando na conscientização das pessoas para que, cada vez mais, fujam desse hábito, em São João da Boa Vista algumas iniciativas visam o correto descarte dos resíduos e incentivam essa mentalidade nas pessoas, como se, pela reciclagem, o lixo tivesse novas oportunidades e o mundo, por sua vez, se tornasse mais sustentável. A Coopermax, criada em 2003 pela Prefeitura Municipal, com o apoio da Petrobrás, realiza a coleta seletiva de papéis variados, como revistas, jornais, caixas de papelão, garrafas e frascos de vidro, plásticos que vão desde garrafas pet e recipientes de produtos de limpeza até brinquedos, além de isopor, metal e óleo de cozinha. COLETA SELETIVA Adrian Cristina Vidal, diretora secre-

tária da Coopermax, explica que, ao separar o lixo para a Coleta Seletiva, é importante não misturar recicláveis com orgânicos. “Coloque plásticos, vidros, metais e papéis em sacos separados. Lave as embalagens do tipo longa vida, latas, garrafas e frascos de vidro e plástico. Embrulhe vidros quebrados e outros materiais cortantes em papel grosso (do tipo jornal) ou coloque-os em uma caixa, para evitar acidentes. Garrafas e frascos não devem ser misturados com os vidros planos”, orienta Adrian, sobre o procedimento na hora de separar seu lixo. Ela também destaca que a coleta funciona em seis etapas: descarte, coleta, descarregamento, triagem, prensa e venda. Segundo Adrian, o caminho que o lixo reciclável percorre após o descarte do munícipe é o seguinte: o caminhão terceirizado da prefeitura efetua a coleta nos trechos separados

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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COOPERATIVA DE RECICLAGEM

Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux

A Coopermax, criada em 2003 pela Prefeitura, com o apoio da Petrobras, realiza a coleta seletiva em São João da Boa Vista. “A reciclagem gera oportunidade de trabalho e renda aos associados, cooperados e catadores”, explica Adrian Cristina Vidal, diretora da cooperativa.

por bairros e divididos em dias da semana (assim como ocorre no caso do lixo orgânico); ao término da coleta, os caminhões se dirigem à cooperativa, localizada no Distrito Industrial; lá o material é descarregado na rampa ligada a uma esteira própria para a seleção e separação dos materiais. A separação funciona para selecionar material específico e, logo em seguida, são prensados e estarão, enfim, prontos para venda. “Com a reciclagem, faz-se uma grande economia de energia, poupa-se recursos naturais e ainda coloca-se novamente em circulação coisas que estariam no lixo. Geralmente as pessoas acham que o lixo não serve para mais nada, que é sujo e não vai ter nenhuma utilidade. A reciclagem veio provar que tudo se pode reaproveitar. O tempo para a decomposição de alguns produtos é muito longo e esse é mais um grande motivo para que a reciclagem seja feita em todo o mundo. O plástico, que é muito utilizado no dia a dia, leva cerca de 450 anos para se decompor, o vidro 5 mil anos, a lata 100 anos, o alumínio de 200 a 500 anos. Com a reciclagem, é possível diminuir os problemas do meio ambiente e por isso as pessoas devem se conscientizar, para que possamos ter um mundo mais saudável. Pensando pelo perfil socioeconômico, a reciclagem gera oportunidade de trabalho e renda aos associados, cooperados e catadores”, justifica Adrian. LAVAR OS MATERIAIS? Existe muita desinformação com rela44

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ção a limpeza dos materiais recicláveis, jornalistas, catadores, especialistas, cada um tem uma versão do que é certo. Porém, há alguns pontos que deverão ser considerados, especialmente, o fato do material demorar entre uma semana a alguns meses entre o descarte na sua casa e o processo de lavagem na empresa recicladora. Além disso, este material será triado manualmente, por pessoas que são iguais você, possuem olfato, tato e visão. E os resíduos de alimento nos recicláveis vão dar origem a vetores como ratos, baratas, moscas e mosquitos nas cooperativas, além de sujarem os veículos. Isso sem contar que alguns materiais podem ter desconto de até 70% no seu valor de venda pela sujidade É sempre importante destacar que você não precisa lavar os recicláveis como se fosse a louça da sua casa, basta remover o excesso de sujeira e usar a água do enxágue da louça para finalizar a limpeza. Agora se você acha que isso é muito trabalho, imagina para quem está lidando com isso todos os dias tendo que sobreviver da venda destes materiais. ELETRÔNICOS TAMBÉM PODEM SER RECICLADOS Contudo, um outro tipo de produto, quando encerra sua vida útil, precisa de um descarte muito peculiar e cuidadoso: o lixo eletrônico. O grupo de extensão RETEC UNESP - Reciclando Tecnologia, surgiu em novembro de 2017 no

campus de São João da Boa Vista da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Seu objetivo é contribuir para uma gestão adequada dos resíduos sólidos e descarte correto dos resíduos eletrônicos (REEs), tanto no campus como no município, por meio do envolvimento da comunidade (do campus e externa), a fim de promover conscientização e mudança de atitudes em relação aos resíduos. Composto por estudantes, funcionários e docentes do campus, além de colaboradores externos, o RETEC UNESP conta ainda com uma equipe interdisciplinar para o desenvolvimento de suas ações. Seu Coordenador é o Profº Dr. José Augusto de Oliveira, docente dos cursos de Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações e Engenharia Aeronáutica da UNESP, que possui experiência nos temas relacionados à Engenharia e Gestão do Ciclo de Vida de produtos e serviços industriais. “Atualmente, as atividades do grupo envolvem a realização de processos educativos sobre o tema em escolas do município e da região, além da comunidade interna do campus; publicações em redes sociais, visando o compartilhamento de informações e a conscientização da população sobre temas ambientais e sobre REEs. Há campanhas isoladas para coleta e destinação adequadas desses resíduos; identificação das lixeiras seletivas para descarte adequado dos resíduos no campus; elaboração de materiais didático-pedagógicos para os processos edu-

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cativos; participação e apresentação de trabalhos em eventos; e parcerias com a Prefeitura, a Cooperativa de Prestação de Serviços e Coopermax e empresas relacionadas à produção reciclagem de REEs, principalmente dos setores aeronáutico e de telecomunicações”, pontua José Augusto. E completa que a principal meta para 2020 é a instalação, no campus, em parceria com a Prefeitura, de um container para a coleta, armazenamento e destinação adequada de REEs provenientes de toda a comunidade sanjoanense, o que possibilitará também o estudo desses resíduos para o aprimoramento da gestão e da produção de tecnologias relacionadas, como de reutilização, remanufatura e reciclagem, por exemplo. “É importante salientar que o RETEC UNESP - Reciclando Tecnologia não tem o objetivo econômico de vender esses resíduos, mas sim estudá-los e destiná-los corretamente”, frisa. Sobre os riscos que o descarte incorreto de eletrônicos e afins pode acarretar às pessoas e ao meio ambiente, José Augusto cita que, em 2016, segundo o relatório Global E-waste monitor 2017, o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de REEs, e o Brasil ocupou a 2ª posição neste ranking, produzindo cerca de 1,5 milhões de toneladas destes resíduos – o que deixa claro que os impactos am-

bientais são significativos. Não ó pelo volume e tempo que levam para se decompor, mas pela possível presença de metais pesados em sua composição, os quais são altamente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. “Muitos destes metais são carcinogênicos [causadores de câncer], conforme podemos verificar na classificação dos grupos de substâncias químicas da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC). Se estas substâncias químicas entrarem em contato com o solo, podem lixiviar e atingir cursos d’água superficiais, como rios, lagos e mares, ou então percolar e alcançar os cursos d’água subterrâneos, que por sua vez se encontram com as águas superficiais ou se acumulam nos aquíferos que suprem grande parte da demanda hídrica de vários ecossistemas, incluindo a espécie humana. Um exemplo numérico dessa agressão é, por exemplo, uma simples bateria de smartphone, que pode poluir cerca de 60.000 litros de água”, alerta José Augusto. Além disso, o não reaproveitamento desses resíduos na produção de novos produtos resulta na necessidade de extrair mais matéria prima do meio ambiente, contribuindo para a sua degradação e escassez. Há muitos estudos estimando a escassez de grande parte destes metais, em

poucos anos. “Evitar o aumento acelerado desse passivo em todo o mundo tem sido a principal motivação para elaboração de legislações que visem reduzir o teor das substâncias perigosas presentes nos REEs, bem como sua reciclagem e correta destinação dos rejeitos ao final de sua vida útil”, esclarece ele. A população pode acompanhar a iniciativa nas redes sociais - Facebook e Instagram: @retec.unesp, para saber como descartar seus resíduos eletrônicos adequadamente ou solicitar palestras e informações. PROJETO QUE RECICLA E AJUDA AO PRÓXIMO Realizar o descarte correto dos resíduos, em alguns casos, pode ir além da preocupação com o meio ambiente e sustentabilidade, mas envolver o bem-estar de quem vive em meio a esse espaço. Camila Viana Ciancalio, coordenadora do Programa Empreender da Associação Comercial, também gerencia um projeto - desenvolvido pelo grupo de Mulheres Empreendedoras - em que o lixo eletrônico é coletado, vendido e revertido em prol do Lar São José, da Sociedade São Vicente de Paulo. “O projeto de venda de lixo eletrônico em prol de alguma entidade assistencial já era realizado pela São João InformáFoto: Reprodução Internet

LIXO ELETRÔNICO NO BRASIL

O Brasil está na liderança de produção de lixo eletrônico da América Latina. É o que afirma um estudo da Global e-Waste Monitor 2017, que avalia em todo o mundo a quantidade de sujeira criada a partir de computadores, televisores e celulares descartados, por exemplo. Na pesquisa produzida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o país produz anualmente 1,5 mil tonelada. 46

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tica desde 2012. A idealizadora do projeto foi a Angélica Almeida, proprietária dessa empresa. Nós ampliamos a coleta desse lixo, divulgamos para mais pessoas e colocamos o projeto no papel, incluindo informações específicas sobre o Lar São José e sobre a situação do idoso na nossa cidade e país”, conta Camila, sobre como tudo começou. Por ser Coordenadora do Programa ‘Empreender’ da Associação Comercial e Empresarial de São João da Boa Vista, que reúne empresários dos mais diversos setores em núcleos, Camila revela que um deles é o da Mulher Empreendedora, o qual realiza, anualmente, uma ação social para ajudar algum projeto já existente na cidade, através da mobilização dessas empresárias. “Em 2019, as mulheres escolheram ajudar o Asilo Lar São José a custear as despesas de um ano de padaria. A Angélica participa conosco do Núcleo da Mulher e tomou conhecimento dessa ação social. Assim, nos contatou para ampliarmos o projeto, incluindo a Associação Comercial como ponto de coleta

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e divulgando para mais pessoas. Como um dos objetivos norteadores do Núcleo da Mulher é contribuir com a sociedade, a possibilidade de unir a causa ambiental com a social nos pareceu o melhor dos mundos”, acrescenta. Todas as pessoas interessadas em contribuir com esse projeto podem levar seu lixo eletrônico para qualquer um dos pontos de coleta ou, no caso de materiais muito pesados e difíceis de transportar, basta ligar na Associação Comercial, telefone (19)3634-4303 e solicitar a retirada. Além da Associação Comercial, localizada na Rua São João, nº 237, Centro; e cujo horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, outro ponto de coleta é a São João Informática, que fica na Praça da Bandeira, nº 25, Centro; e funciona de segunda a sexta-feira das 8h30 às 18h e aos sábados das 8h30 às 12h00. “O Lar São José é uma instituição de longa permanência destinada a idosos em situação de vulnerabilidade social. Fomos visitá-los e tivemos a oportunidade de co-

nhecer o trabalho da instituição, que é séria e uma referência no município no cuidado ao idoso. Por termos visto o nível de necessidade da instituição (cujas demandas são variadas e constantes – principalmente por produtos de higiene pessoal, carne e frutas) e conversando com os responsáveis pela administração, nos relataram essa dificuldade de manter a conta da padaria em dia (eles consomem, mensalmente, cerca de 1428 unidades de pães tradicionais e 25 unidades de pão integral, o que faz com que a conta mensal de padaria fique em torno de R$ 750,00). Então acabamos por optar por essa ação social neste ano. O lixo eletrônico entra nessa história da seguinte maneira: todo material coletado é recolhido por uma empresa parceira, o Edinho Sucatas, que pesa o material e paga um preço fixo, de acordo com a quantidade de material recolhida. Ele nos paga por esse material e esse dinheiro é depositado na conta do Núcleo da Mulher, cujo objetivo é arrecadar os R$ 9.000,00 para custear um ano de padaria do asilo”, detalha Camila, sobre a decisão de ajudar esta instituição em especial. A

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nossa cidade

A magia do Natal nas ruas de São João da Boa Vista Parada de Natal é um dos maiores eventos natalinos do interior de São Paulo. POR LUANA ZUIN

Há dez anos, Ana Cláudia Carvalho, então presidente da Associação Comercial (ACE), visitava Gramado (RS) para conhecer o projeto Natal Luz. Encantada, ela quis trazer aquele tipo de magia a São João da Boa Vista – e deu certo! Hoje existe o projeto Natal Mágico (parceria entre a entidade e a Prefeitura Municipal), que engloba a decoração natalina pela cidade, eventos culturais e, claro, o desfile da Parada de Natal. Em sua décima edição, este ano, o Natal em São João tem como tema Natal na Fazenda Encantada. A decoração, os figurinos e os carros alegóricos gira-

rão em torno da temática. Todo o material artístico é criado, desenvolvido e produzido em São João da Boa Vista, utilizando mão de obra local, como explica a diretora de turismo e responsável pela decoração, Rose Vasconcellos. A PARADA DE NATAL Trata-se de um espetáculo musical, onde há a apresentação de arranjos musicais, coreografias, figurinos, cenários e adereços desenvolvidos e criados para o evento. Baseado no tema Natal, a parada percorre toda a extensão da Avenida Dona Gertrudes, terminando na Praça da Igreja Catedral. Este ano, será realizada nos dias 8 e 15 de dezembro,

com início às 20h30. Antes da parada, haverá também a apresentação da fanfarra da EMEB José Peres Castelhano, que desfila pela avenida interpretando músicas natalinas. São mais de duzentos artistas desfilando – entre crianças, adultos e idosos – e quase uma centena de outros trabalhadores envolvidos desde a confecção das fantasias e alegorias até a sonorização, iluminação e segurança do evento. Ainda conta com a presença do bom velhinho, que dá as boas-vindas ao Natal e presenteia as crianças com balas. É, provavelmente, o maior evento de rua realizado em São João, atualmente, segundo o presidente da As-

Foto: Dú Paparazzi

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Foto: Dú Paparazzi

sociação Comercial, Candido Alex Pandini. Ele ressalta a importância econômica do evento para nossa cidade. “O objetivo central é trazer gente da região para São João. Qualquer família que venha e gaste com, pelo menos, um lanche aqui, isso é dinheiro de fora que está sendo injetado na economia local e ajuda a manter a roda da economia funcionando. É importante, porque mais de 51% do PIB (Produto Interno Bruto) de São João vem dos setores de comércio e serviços, então é preciso manter a cidade como um centro de referência na nossa microrregião”, afirma. Vanderlei Borges de Carvalho, prefeito de São João da Boa Vista, também ressalta a importância das comemorações do Natal para a cidade. “O Natal Iluminado é hoje um produto turístico de nosso município, graças à parceria entre a Prefeitura e a Associação Comercial. Além de encantar sanjoanenses e visitantes de várias cidades da região, existe o aspecto econômico. Está comprovado que o movimento no comércio aumenta significativamente nesta época e propicia

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faturamento extra aos empresários e diversos prestadores de serviços. Nossos departamentos estão trabalhando com muito afinco e esperamos que o sucesso de anos anteriores se repita em 2019”. Rodrigo Poiano, gerente de uma choperia localizada na Av. Dona Gertrudes, conta que realmente há um aumento considerável de movimento e consumo no fim do ano. “Nos dias da Parada trabalhamos com reservas de mesas na parte de cima do estabelecimento, de onde dá para assistir ao desfile. Vem bastante gente da região, eles reservam as mesas, consomem e assistem ao desfile”, conta. IMPORTÂNCIA CULTURAL Além dos objetivos ligados ao turismo e economia, o projeto Natal Mágico também visa o fomento à cultura, incentivo à produção artística local e descoberta de novos talentos. Um dos grupos que desfila anualmente é o grupo de dança Blackout, que participa desde a primeira edição. O coreógrafo, Carlos Reis, destaca a importância de participar do evento. “A Parada é uma grande vitrine, onde todos os grupos podem mostrar seus trabalhos, divulgar sua marca ou estilo. É muito gratificante poder participar”. Para 2019, o grupo está criando novas coreografias e espera que a parada, esse ano, seja mais mágica e emocionante do que a passada. Assim tem sido com o passar dos anos, sempre superando o ano anterior. “Estamos preparando várias surpresas”, conta. Uma delas, será a inclusão do projeto Natal nos Bairros na programação cultural natalina, que é desenvolvido pela Associação Comercial em parceria com a Prefeitura.

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NATAL NOS BAIRROS Esse projeto substituirá a Chegada do Papai Noel no DER e tem como objetivo levar um pouco dos eventos natalinos para mais bairros, permitindo que mais pessoas possam aproveitar e curtir com suas famílias. “É um novo projeto que percorrerá os quatro bairros mais populosos da cidade, com apresentações de corais e grupos teatrais em praças públicas, para que a população possa assistir gratuitamente”, comenta o presidente da ACE, Candido Alex. As datas de realização serão as seguintes: dia 04/12, na Praça da Viola (Jardim Europa); dia 11/12, na Praça Benedito Galli (Jd Nova República); dia 18/12, na Praça Isaura T. Vasconcellos (DER) e, no dia 22/12, na Praça Waldemar Junqueira Ferreira (Recanto do Jaguari). Todos os eventos terão início às 20h30 e uma duração aproximada de uma hora. INÍCIO DA PROGRAMAÇÃO NATALINA As comemorações de Natal começam oficialmente em São João da Boa Vista no dia 30 de novembro, com a Missa Campal. “Logo após o término da missa, haverá o acendimento das luzes da cidade: ao lado da igreja, encontra-se uma Árvore de Natal itinerante que é acesa e, a partir dela, acendem-se as luzes da cidade inteira. É quando se faz oficialmente a abertura do Natal em São João da Boa Vista”, conta a diretora de Turismo. A programação cultural segue até o dia 23 de dezembro e a decoração fica nas ruas até o começo de janeiro. Para consultar toda a agenda de eventos, basta acessar o site www.natalemsaojoao.com.br. A


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voluntariado Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux

Cultura e educação para crianças Projeto AEHA atende mais de 120 crianças que participam de oficinas de artesanato, aulas de xadrez, informática e dança. POR TAMIRES ZINETTI

Em tempos de violência e ódio surge uma nova geração de pessoas interessadas em propagar o bem. O estado de vulnerabilidade, por muitas vezes, afasta as crianças da infância. Casos de abuso ou envolvimento com drogas são alguns dos mais comuns. Segundo o balanço da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos feito em 2018, que cerca de 57% dos casos de violência contra crianças e adolescentes denunciados acontecem dentro da casa da vítima. Para mudar esta realidade a AHEA - Associação de Educação do Homem do Amanhã, aposta na educação e cultura. No contra turno escolar, 125 crianças participam de oficinas de artesanato, aulas de xadrez, informática e dança. A AHEA surgiu em 1983, da iniciativa de empresários e comerciantes em fazer algo pelo jovem, com o objetivo de complementar o trabalho social da criança, do jovem e da família, prevenindo a ocorrência de situações de risco e fortale54

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cendo a convivência familiar e comunitária. A Associação dá oportunidade para que essas crianças desenvolvam habilidades e conhecimentos para aplicar na vida pessoal, entre elas, interagir no meio social, desenvolver uma imagem positiva, ampliar a autoconfiança, autoconhecimento, raciocínio lógico, criatividade e desenvolvimento cognitivo. A Coordenadora Administrativa da AEHA de São João da Boa Vista, Ana Rita Alves Godoi, conta que as crianças são encaminhadas pelo CRAS – Centro de Referência de Assistente Social – até a associação e que depois são divididas em grupos por idade para que possam realizar as atividades. “Eles fazem artesanato, informática, dança, xadrez, participam de conversas uma vez na semana com a assistente social e psicóloga”, conta. Ela explica, ainda, que algumas crianças chegam na Associação com dificuldades de se comunicar. “Algumas chegam e ficam embaixo da mesa e a gente vai trabalhando em cima disso. No lúdico, jogos, brincadeiras, sempre voltado para um objetivo.” >


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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Ainda segundo a coordenadora, na Associação há um trabalho realizado para a família, na parte comportamental e a assistência social. “É também um fortalecimento do vínculo entre os pais e a criança ou jovem, geralmente um auxílio na parte da psicologia. Nestes casos, a gente encaminha para o NEAP – Núcleo de Estudos e Atendimentos em Psicologia, da UNIFAE”, comenta. Também são realizadas reuniões com os pais a cada 15 dias. Durante as reuniões eles fazem roda conversa, tiram dúvidas e ainda trazem palestrantes para falar sobre temas relacionadas à família. Já para os adolescentes, surge o programa de capacitação nas empresas, que ficou mais conhecido como “guardinha”.

de 11 anos. Ele conta que frequenta a AEHA desde os nove anos e que se inspira no esforço que o tio teve quando passou pela associação. “Eu me inspiro no meu tio, ele passou por aqui e foi guardinha e hoje é eletricista. Eu quero me inspirar nele porque, quando eu tiver uns 15 anos, quero fazer um pouco de robótica e mais pra frente ser

engenheiro”, disse. Ana conta que antes de coordenar a Associação trabalhou em creches e escolas, e que sua visão mudou quando começou a trabalhar com uma instituição social. “Aqui a gente vê a necessidades do aluno como um todo. Além de chamar a atenção, nós temos que colocá-los no colo e abraçar”, finaliza. A

HISTÓRIAS Assim como todo processo da vida, momentos tristes e felizes aparecem. A coordenadora Ana conta que no processo de estruturação do site, a Associação precisou de um depoimento de um ex-aluno que foi para o programa de capacitação nas empresas, e que hoje é um dos chefes na empresa que trabalha. “Nós queríamos mostrar o que a AHEA mudou na vida dele, e ele nos contou que se não tivesse o apoio que a Associação deu, ele não teria chegado onde está hoje, porque a família não tinha as condições que a AEHA deu”, conta emocionada. Outro relato importante sobre o trabalho da associação é do menor J.V., Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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saúde

A importância da higienização dos alimentos Os alimentos carregam bactérias e produtos que podem causar inflamações e intoxicações. POR FERNANDA SENE

Os brasileiros estão cada vez mais preocupados com a alimentação. No entanto, os cuidados com a alimentação vão muito além das escolhas. O processo de higienização dos alimentos é uma etapa muito importante. Hortaliças, frutas e vegetais são produzidos no meio ambiente e carregam bactérias, vírus e parasitas. Por isso é fundamental checar o estado dos alimentos no momento da compra. Esses cuidados devem ser ainda mais severos com relação à carne bovina, frango e peixes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a intoxicação alimentar é um problema mundial e crescente. São 582 milhões de pessoas que adoecem e, destas, 351 mil morrem por ingestão de alimentos contaminados. “A contaminação por alimentos pode causar mais de duzentos tipos de doenças, desde diarréia até câncer. Os principais agentes de transmissão são a salmonella typhi, e.coli e o novovírus. Há ainda riscos em alimentos de origem animal crus, em frutas e vegetais contaminados com fezes e em mariscos com biotoxinas marinhas”, alerta Artur Timerman, médico infectologista e consultor de limpeza de uma empresa do setor. SÓ ÁGUA NÃO BASTA “Não basta utilizar somente água corrente.

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A água apenas retira a sujeira superficial. A primeira dica: se o preparo do alimento for realizado antes do consumo, o ideal é colocar o item escolhido em um saquinho plástico aberto dentro da geladeira por uma hora. Desta maneira, a temperatura do alimento diminui e não há a absorção de micro-organismos no momento da higienização. Se a compra for feita no dia anterior, a sugestão é guardar o alimento na geladeira e só higienizar na hora do preparo”, ressalta Daniela Lasman, nutricionista da Bodytech Iguatemi São Paulo. Segundo os especialistas, a higienização deve ser realizada da seguinte maneira: retire todas as partes estragadas, passe todos os alimentos em água corrente e faça uma mistura com uma colher de bicarbonato de sódio ou com duas colheres de vinagre. Deixe todos os alimentos mergulhados nessa solução e em um recipiente com 1 litro de água por 15 minutos. Com a ajuda da escova Lava Legumes, retire todas as impurezas que ainda estão nos alimentos e para finalizar passe todos os itens na água corrente novamente. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilancia Sanitária) o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. O principal dado sobre uso de agrotóxicos é o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) feito pela consultoria de mercado Phillips McDougall.

O trabalho é utilizado como referência tanto pelas indústrias do setor agroquímico, quanto por especialistas da área e ambientalistas. O relatório compara o valor investido em pesticidas nos 20 maiores mercados globais em 2013 e atribui três rankings sob diferentes perspectivas: em números absolutos, número por área cultivada e por volume de produção agrícola. A pesquisa mostra que naquele ano o Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos no mundo: US$ 10 bilhões. Estados Unidos, China, Japão e França ficam, respectivamente, nas posições seguintes. Desta forma, não é difícil imaginar que muitas frutas, verduras e legumes têm concentração de produtos químicos acima do permitido. Uma boa dica para tentar minimizar esse problema é deixar os produtos de molho na água sanitária, bicarbonato de sódio ou vinagre. Esses produtos podem ajudar a retirar os tóxicos impregnados nas cascas – mas a medida não tem efeito nos casos em que o veneno chega à parte interna do produto. ORGÂNICOS Se sua a opção for consumir alimentos orgânicos, é importante exigir o selo de certificação do produto. Há diversas feiras de verduras, legumes e frutas orgânicas espalhadas pelo Brasil. Para saber onde fica a feira mais próxima basta acessar o site www.feirasorganicas.org.br. A


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saúde

Parto humanizado Método traz uma resignificação ao parto natural. POR DUDA OLIVEIRA

Em todas as espécies de animais mamíferos, o único meio natural de nascimento é o parto vaginal, no qual depois do encaixe do feto na pelve da fêmea, a vagina dilata e a cria é expulsa, gerando uma nova vida. Entre os seres humanos, porém, principalmente no Brasil, o processo biológico vem sendo preterido há décadas. O parto vaginal ou natural vem sendo trocado pela cesariana, termo que tem origem etimológica na palavra latina caedere, que significa corte. Segundo fontes historiográficas, remete também ao nascimento do general romano Júlio César, que foi retirando do ventre da mãe, após a morte dela. A despeito de ser verdadeira ou não, esta história revela muito sobre a prática criada para salvar vidas de mães e crianças que, por alguma anormalidade, não

puderam passar pelo parto comum. A primeira cesariana de que se tem notícia, em que a parturiente e o bebê sobreviveram, foi realizada em 1337 e, desde então, foi sendo aperfeiçoada até se tornar o método de nascimento mais usual na América Latina, atualmente. O Brasil é o segundo país que mais faz cesáreas no mundo, atrás somente da República Dominicana. Os procedimentos cirúrgicos representam 57% de todos os partos realizados no Brasil, extrapolando muito a recomendação de um máximo de 15%, preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A cesariana é uma cirurgia que deveria ser feita apenas no caso de extremo risco, mas não é a prática comum dos médicos, principalmente no atendimento particular, que registra um percentual de cesáreas 84% superior aos partos vaginais. O procedimento cirúrgico tira o

protagonismo da parturiente e o transfere ao médico. A constância da prática fez com que as mulheres de hoje tenham medo de ter seus filhos longe do hospital e sem assistência médica. Esta consciência, que vem ganhando força nos últimos anos, motivou um movimento de humanização do parto, para que a mulher volte a assumir seu protagonismo e garanta o respeito ao seu corpo e mente. Muitas vezes, no ambiente hospitalar, ocorre a chamada violência obstétrica, praticada pelo médico contra a paciente, e que pode ser caracterizada pela indução à cesárea ou utilização da Manobra de Kristeller, usada para facilitar a expulsão do bebê do útero, já proibida em diversos países pelos danos que pode causar. Outro procedimento comum é a episiotomia – o famoso pique para ampliar a largura do canal vaginal – seguido do ponto do marido, método de sutura que aperta a entrada da vagina, com

PARTO EM CASA

Segundo a empresária Bruna Sant’ Angelo Doretto, esta foi a melhor experiência que teve: “Se tivesse que escolher onde faria meu parto novamente, repito mil vezes que seria domiciliar. Recebi amor, carinho, comida e bebida. Foi um parto respeitoso, tudo no meu tempo”.

Foto: Duda Oliveira

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Foto: Duda Oliveira

o intuito de aumentar a satisfação sexual do homem. Todos eles realizados sem o consentimento da mulher. Outro tipo de violência obstétrica é a privação de alimentação da parturiente durante o trabalho de parto, que muitas vezes dura horas, podendo se estender por dias. Na internet, pode-se encontrar diversos relatos de mulheres que foram privadas da ingestão de qualquer alimento ou bebida, inclusive água, até o nascimento do bebê, mesmo em casos de parto normal. Outros relatos falam da exigência médica de que a parturiente se mantenha numa única posição, que intensifica a dor das contrações, sem necessidade. COMBATER ESSA VIOLÊNCIA O parto humanizado vem para combater a cesariana compulsória e a violência obstétrica, tornando o processo menos doloroso e traumático para mães e bebês, além de devolver o protagonismo à mulher e permitir que ela se sinta completamente à vontade para tomar decisões e agir da forma mais confortável possível durante o trabalho de parto. Em relação ao bebê, já foi comprovado que o contato pele a pele com a mãe, imediatamente após o nascimento e ao menos uma hora, a chamada golden hour, tem inúmeros benefícios para a saúde do pequeno. Como era praxe, o bebê era arrancado da barriga da mãe,

era sacudido, levado para ser medido, pesar, pingava-se nitrato de prata nos olhos, aspiração das vias aéreas e muito mais. Outra questão é o corte imediato do cordão umbilical. As novas recomendações são as de que espere o cordão parar totalmente de pulsar antes do corte, pois evita-se, assim, várias doenças, entre elas a anemia. No parto humanizado, o bebê, seja de cesárea ou normal, vai direto para o colo da mãe.

A empresária Bruna Sant’ Angelo Doretto (33) foi a primeira mulher a fazer um parto humanizado domiciliar em Vargem Grande do Sul. Ela conta que esta foi a melhor experiência que teve: “Se tivesse que escolher onde faria meu parto novamente, repito mil vezes que seria domiciliar. Recebi amor, carinho, comida e bebida. Foi um parto respeitoso, tudo no meu tempo. Até agora ainda me emociono ao lembrar do momento único que vivemos. Meu marido recebeu nosso filho, que chegou cheio de saúde, e o entregou nos meus braços. Eu o acolhi com muito amor e gratidão. Não posso acreditar que consegui, que tudo aquilo que sonhei se tornou real, porque eu realmente

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MUDAR A PERCEPÇÃO

O parto natural era considerado por muitas mulheres um evento traumático, de puro sofrimento, pois a mãe não tinha nem mesmo o direito a um acompanhante. O parto humanizado busca mudar essa visão, usando uma serie de técnicas não invasivas para alívio de dor e, até mesmo a possibilidade de analgesia, no caso da dor ser insuportável. Ele pode ser realizado tanto em casa, quanto em hospitais; embora o acompanhamento médico seja sempre recomendável para evitar complicações. Foto: Duda Oliveira

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pari meu filho sozinha, ninguém o arrancou de mim. Foi mágico, nunca mais vou me esquecer.” Bruna revelou que havia sofrido violência obstétrica nas outras duas gestações e que não queria passar por isso novamente. “Entre uma conversa e outra, vendo experiências de outras pessoas, acabei conhecendo o Projeto Renascer em Casa e as enfermeiras obstétricas Fernanda e Sinara, que se dedicam a incentivar as mulheres para o parto natural. De início, planejamos que elas me auxiliariam quando entrasse em trabalho de parto até o momento de ir ao hospital, mas depois decidimos que o bebê nasceria em casa. As pessoas diziam que isso era loucura, mas eu estava certa do que queria. As enfermeiras me explicaram como tudo aconteceria no dia do nascimento e a porcentagem de riscos. Estava ciente de que, eventualmente, teria de ir ao hospital, mas tinha tanta certeza que tudo daria certo, que me senti segura e fortalecida. Acho que essa força veio por saber que tinha o apoio da minha família, que estava assistida por uma equipe 100% especiali-

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zada, além de estar no conforto do meu lar, onde tudo fluiu lindamente”, explica a empresária. Bruna recorda que, infelizmente, não foi esta a experiência que teve nas duas gestações anteriores. “O Theo, hoje com 7 anos, nasceu de uma cesária agendada. Com o primeiro filho é tudo novo, você entra em um mundo desconhecido, então fica presa ao sistema. Fui em jejum como me pediram e correu tudo bem. A saga começou na volta pra casa, com o desconforto dos pontos, a dificuldade pra andar, a dependência de outras pessoas. Tudo isso contribuiu para um quadro de depressão pós-parto. Foi horrível, mas venci”. “O Felipe, meu segundo filho, hoje com 4 anos, nasceria de cesária agendada também, mas um dia antes minha bolsa rompeu e fui às pressas para o hospital. Chegando lá, avisaram que eu tinha dilatação e ele nasceria de parto normal. Eu pirei, não estava nos meus planos, disse que não queria, mas tinha a impressão de falar com as paredes. Senti dores por horas, sem ninguém da minha família,

praticamente jogada, implorando por um gole de água, mas ninguém me ouvia, foi um total desrespeito. A única coisa que eu pensava é que ia morrer”, lembra Bruna. Tendo passado por experiências tão diversas, hoje a empresária lamenta que a maioria das gestantes não tenha acesso ao parto humanizado, mas acredita que isso esteja mudando: “Em algumas cidades, os hospitais já estão se preparando. Vi uma reportagem recente sobre uma maternidade do Ceará que contratou doulas, fiquei muito feliz. Meu desejo é que todas as mulheres tenham seus bebês como desejam, que sejam respeitadas e que levem essa experiência pra vida.” Com a segurança de quem sabe o que é melhor para a mulher, Bianca finaliza com um conselho: “Os estudos mostram que é muito seguro ter seu bebê em casa, se você tiver um pré-natal sem riscos. Portanto, pesquise, busque uma equipe especializada e viva esse momento único. Nada é mais lindo e maravilhoso que parir seu filho. Deus nos deu esse dom, não deixe que o medo te faça desistir. Acredite!” A


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culinária Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

Arroz com lentilha (mjadra) INGREDIENTES • 250g de arroz • 500g de lentilhas • 02 cebolas grandes (cortadas em borboleta) • Azeite • Sal MODO DE PREPARO Cozinhar as lentilhas com quatro copos de água e um pouco de sal. Deixe cozinhando até que elas fiquem macias (isso deve demorar cerca de 10 minutos). Após isso, coloque o arroz cru junto com a lentilha (se necessário, acrescente mais água) e deixar cozinhar. Frite a cebola (cortada) no azeite quente. Coloque a metade da cebola junto com a lentilha e o arroz e a outra parte reserve para enfeitar. 64

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UM POUCO DE HISTÓRIA Mjadra vem do árabe e significa algo como “variolado”, pois as lentilhas entre o arroz se assemelham a marcas de varíolas. A primeira receita registrada de mjadra aparece no Kitab al-Tabikh, um livro de receitas compilado em 1226 por al-Baghdadi, no Iraque, que descrevia a receita como sendo arroz, lentilhas e carne, sendo servido desta forma durante celebrações.

RECEITA INDICADA POR: Café Lafarrihe Telefone: (19) 3631-8771 Praça Roque Fiori, 18 - Centro


suas

novos cursos presenciais e a distância

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culinária

Torta de coco INGREDIENTES DA MASSA • 200g de farinha de trigo • 60 g de açúcar refinado • 01 gema • 01 pitada de sal • 120g de manteiga em temperatura ambiente RECHEIO • 01 vidro de leite de coco • 100g de coco ralado (reservar 02 colheres) • 01 lata de leite condensado (reservar 02 colheres) • 30g de açúcar refinado • 40g de amido de milho • 1/2 lata de leite (usar lata de leite condensado como medida) MODO DE PREPARO Dissolver o açúcar e o amido no leite e acrescentar os demais ingredientes em uma panela. Levar ao fogo baixo até engrossar (quando estiver desgrudando da panela). Rechear a massa

com o creme de coco. Cobrir com o coco ralado e o leite condensado reservados e levar ao forno até dourar. Desenformar a torta já fria. UM POUCO DE HISTÓRIA Uma fruta que é a cara do Brasil. Repleta de nutrientes, dela se aproveita da casca à polpa. Não por acaso, o coco foi alçado ao patamar de queridinho da alimentação saudável. Além de conter carboidrato, vitaminas e propriedades antioxidantes, o alimento é rico em ácido láurico, um componente fundamental para o sistema imunológico e que, além do coco, só é encontrado em grandes quantidades no leite materno.

RECEITA INDICADA POR: Café Lafarrihe Telefone: (19) 3631-8771 Praça Roque Fiori, 18 - Centro

Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

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nossa região

Espírito Sto. do Pinhal, a terra do café Patrimônios históricos, natureza e gastronomia estão entre os atrativos do município. Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux

POR BRUNO MANSON

Fundada em 1849, Espírito Santo do Pinhal tem seu passado extremamente ligado à cafeicultura e à imigração italiana, cuja influência ainda é visível na cidade. O município ficou conhecido como a terra do café, dado seu longo histórico de produção e comercialização do produto, além da variada atividade econômica e industrial baseadas nesta cultura. Com pouco mais de 44 mil habitantes, a cidade se destaca pelo seu patrimônio histórico-cultural e seus atrativos naturais que reforçam seu potencial turístico. Nesta edição, confira alguns lugares que todo visitante deve conhecer na cidade! PALÁCIO DO CAFÉ Inaugurado em 14 de agosto de 1893, o imponente prédio onde hoje está instalado o Centro Cultural Palácio do Café, na Praça Rio Branco, remonta a história de Espírito Santo do Pinhal. Durante muitos anos, o local serviu como sede de uma cadeia pública e do Fórum Municipal, no térreo, enquanto que no andar superior ficava a Câmara Municipal. Mais tarde, em meados da década de 1920, além de abrigar o Poder Legislativo, a Prefeitura Municipal também passou a funcionar no imóvel. Já na primeira metade da década de 1950, foi realizada uma reforma que deixou o prédio com as suas atuais características arquitetônicas. Hoje em dia o espaço no térreo foi transformado em museu, enquanto que o andar superior abriga o gabinete do prefeito. O Centro Cultural Palácio do Café recebe periodicamente exposições itinerantes em parceria com o Museu do Café. Recentemente duas mostras se destacaram. A primeira foi a exposição Café e Folclore Caipira, onde o público pôde conferir um panorama sobre o 76

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caipira, sua história, cultura e folclore relacionados diretamente ao café, tomando como base diversas pesquisas realizadas a partir da década de 60. Já a exposição À Venda propagandas de café em jornais e periódicos retratou os anúncios publicados nos veículos de comunicação impressos de São Paulo e do

Rio de Janeiro entre os anos de 1900 e 1950. Grande parte dos materiais expostos é do acervo da Biblioteca Nacional, fazendo uma verdadeira viagem no tempo pelas diferentes estratégias de atração do consumidor dessa época, mostrando das pequenas notas até as propagandas elaboradas de página inteira, das mais

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Foto: Leonardo Beraldo / Cromalux

diversas marcas de café. As exposições itinerantes podem ser conferidas no Centro Cultural Palácio do Café de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. THEATRO AVENIDA Patrimônio histórico de Espírito Santo do Pinhal, o Theatro Avenida foi inaugurado em 1927, a partir das obras realizadas por três famílias pinhalenses: os Bartholomei, os Galeano e os Martins. Situado à Avenida Oliveira Motta, 51, o local sempre foi o palco da cultura pinhalense e sediou vários eventos ao longo das décadas, como peças teatrais, festas de formatura, conferências e outros eventos. Além disso, por muito tempo, o espaço funcionou como cinema, com vesperais aos domingos. Nos anos 60, o Theatro Avenida foi praticamente desativado, abrigando apenas alguns eventos esporádicos e servindo como sede da Pinhal Rádio Clube. Já em 1976, foi levado o último espetáculo desta sua primeira fase, com a participação dos atores Lima Duarte e Armando Bogus. A partir de 1982, o prédio se tornou patrimônio público de Espírito Santo do Pinhal e passou a ser administrado pela Prefeitura. Mais tarde, em 1992, o imóvel foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico 78

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do Estado de São Paulo (Condephaat). Por muito tempo o prédio ficou fechado, até reabrir em 2009, para se tornar o principal “palco da emoção pinhalense”. Desde então, serve a muitas eventos importantes, com grandes nomes do meio artístico se apresentando em seu palco, como as atrizes Fernanda Montenegro e Denise Fraga, além do cantor Toquinho, a Orquestra Filarmônica da Polícia Militar do Estado de São Paulo, entre outras atrações. Com capacidade para 461 pessoas em sua plateia, o Theatro Avenida tem, em sua programação mensal, várias atividades culturais em diversos segmentos artísticos, sendo também sede do programa Pontos MIS, com a exibição de filmes, palestras e oficinas em parceria com o Museu da Imagem e do Som. Paralelamente a isso, o local ainda recebe apresentações de teatro, música, entre outras manifestações culturais. O espaço sediou, nos últimos tempos, as edições do Concurso de Dança do Interior (CODAI), o Prêmio AATA de Teatro Amador, o Festival de Inverno: Música na Mantiqueira e a Semana Edgard Cavalheiro.

CAFÉ COLONIAL EM MEIO A TRANQUILIDADE DO CAMPO Quem quer conhecer um pouco da his-

tória de Espírito Santo do Pinhal e também degustar um saboroso café colonial não pode deixar de conhecer o Paganini & Palermo Empório Rural. O espaço está situado na estrada vicinal Dr. Agenor Mondadori, no km 3, no bairro Santa Luzia, local que foi povoado por imigrantes italianos e que concentra uma forte tradição religiosa. O empório pertence ao casal Lurdinha e Adriano, que sempre trabalharam com a produção de café no município. O estabelecimento foi adaptado em um casarão datado de 1950, que fica bem em frente ao Santuário de Santa Luzia, onde ocorre a tradicional festa em louvor à santa. Os proprietários decidiram empreender no sítio, visando inicialmente atender aos peregrinos que vêm em dezembro para a Festa de Santa Luzia. Para se ter ideia, a novena atraiu mais de 80 mil pessoas ano passado e o santuário chegou até mesmo a receber a visita do cantor Roberto Carlos, há alguns anos. O empório oferece uma experiência inesquecível para aqueles que buscam por uma programação gastronômica e também a tranquilidade do campo. Durante a visita pode-se saborear o tradicional café colonial, que conta com uma variedade de pratos caseiros, como bolos, pães, queijos, geleias e doces. Já aos domingos é servido almoço – somente

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Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux

com reservas –, com pratos preparados em fogão de lenha. A ideia é oferecer ao público as comidas que eram feitas pelas nonnas – avós, em italiano – da forma mais tradicional possível. Há ainda o redário, onde as pessoas adoram ficar depois que almoçam ou tomarem o café. Durante o passeio, o público ainda conhece a história do local e como a imagem de Santa Luzia chegou ao bairro, entre outros fatos que remontam o passado do município. O local também faz parte do roteiro do Caminho da Fé, recebendo peregrinos durante o ano todo. O Paganini & Palermo Empório Rural está aberto ao público aos sábados, domingos e feriados, das 8h30 às 18h30. Nos demais dias, o atendimento é feito apenas com reservas. PRODUZINDO ALIMENTOS SAUDÁVEIS Quando se fala de sustentabilidade, a Fazenda Retiro Santo Antônio é uma referência. Situada entre Espírito Santo do Pinhal e Santo Antônio do Jardim, a propriedade pertence ao engenheiro eletrônico Jefferson Adorno, que nutre uma paixão intensa pela preservação ambiental. Há dezenove anos ele vem desenvolvendo um trabalho dedicado à conservação da natureza, com a preservação das nascentes e do córrego que passa pelo local, assim como o plantio de árvores – são mais de 9 mil mudas de espécies nativas plantadas até hoje. A fazenda tem 123 hectares, sendo que 33 destes são destinados à produção de café e 35 outros destinados a área de preservação. “Conseguimos formar corredores ecológicos interligando às nascentes, o que aumentou a quantidade de animais silvestres na região, como veados-campeiros, lobos-guarás e até mesmo onças pardas”, relata. Jefferson explica que o propósito da Fazenda Retiro Santo Antônio é focar na produção de alimentos sustentáveis e que fazem bem para a saúde. Diante disso, lançou a marca Kainã, que abrange o café especial – que rendeu o prêmio Cafeicultor Destaque do Brasil em 2009, o fubá de moinho de pedra, com milho não-transgênico e o mel silvestre. Paralelamente a todo este trabalho, a Fazenda Retiro Santo Antônio também 80

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desenvolve ações de educação ambiental e voltadas para o turismo rural. A propriedade está aberta para visitação durante todo o ano, com várias opções de roteiro, sendo o próprio produtor que recebe pessoalmente todos os visitantes. Na Tour do Café Especial e do Fubá de Moinho de Pedra, por exemplo, o público é recebido com uma degustação do

café Kaynã, acompanhado de um bolo de fubá da marca. Na ocasião, eles conhecem um pouco da história da fazenda e sobre as ações sociais e ambientais realizadas no dia a dia, além de adentrar a lavoura e conhecer todo o processo de produção sustentável. O local também recebe a visita de alunos de escolas e faculdades, além de contar uma ação

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especial: o Projeto de Turismo Sensorial. Esta iniciativa é destinada aos deficientes visuais e proporciona uma experiência diferenciada aos participantes, por meio dos sons, do toque e do aroma. Para participar de um tour pela Fazenda Retiro Santo Antônio é necessário realizar o agendamento com, pelo menos, um dia de antecedência. OPÇÃO TRATTORIA Com culinária eclética e cardápio alinhado com a moderna gastronomia, o Opção Trattoria é um dos restaurantes de destaque da região. Localizado à rua Abelardo Cesar, 152, na Praça da Bandeira, em pleno “coração” de Espírito Santo do Pinhal, o estabelecimento oferece pratos clássicos à base de carnes, aves, peixes, frutos do mar e massas deliciosas frescas e elaboradas a partir do momento do pedido do cliente. Sua carta de vinhos tem uma excelente seleção de importados em parceria com sommelier da GrandCru. Além disso, conta também com os vinhos de produção local da premiada Vinícola Guaspari e outras vinícolas da região. O restaurante oferece, ainda, serviço de rolha, onde o cliente fica a vontade para trazer vinhos de sua própria adega. O Opção Trattoria conta, no comando de sua cozinha, com a cheff executiva Alessandra Lourenço, cuja culinária prima pela criatividade, sutileza e leveza do tempero dos pratos, além de apresentação primorosa de suas criações. O bom atendimento e a qualidade de seus pratos renderam ao restaurante, por quatro anos consecutivos, o certificado de excelência do TripAdvisor, – site especializado em viagens, que fornece informações e opiniões de conteúdos relacionados ao turismo.Durante as terças, quartas e quintas-feiras, o espaço oferece um menu completo a um valor especial que contempla entrada, prato principal e sobremesa, com um cardápio que é alterado semanalmente. Já para os almoços de final de semana, o menu traz opções de entrada, prato principal e sobremesa a um valor especial. A

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LEMBRAR DO DESEJO DO MEU FILHO ME AJUDOU A DIZER SIM PARA A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS.

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Regina Menezes autorizou a doação de órgãos do seu filho Émerson em 2015.

#AVIDACONTINUA DOE ÓRGÃOS. CONVERSE COM SUA FAMÍLIA.

Acesse saude.gov.br/doacaodeorgaos e saiba mais.

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história

A república em São João Proclamada em 1889, instalou uma forma republicana presidencialista de governo. POR FRANCISCO ARTEN

A notícia da proclamação da República chegou a São João da Boa Vista dois dias depois. Veio por telegrama e provocou alvoroço e entusiasmo. A cidade, que vivia da produção do café, já era republicana havia algum tempo. Os cafeicultores desistiram da monarquia ao longo dos últimos anos por motivos diversos. A abolição dos escravos decepcionou os mais radicais, embora tenha causado relativo impacto. Muitos fazendeiros, por conta própria, já haviam liberto seus negros. Custava menos do que sustentá-los com a comida até o final de suas vidas, quando já não eram úteis como na juventude. Outros também abriram mão de seus escravos, não por interesse econômico, simplesmente, mas por convicções ideológicas e religiosas. A cidade tinha um grupo de abolicionista atuante, liderados pelos Irmãos Rehder. O que importunava mais os cafeicultores eram os impostos e as leis da monarquia, que dificultavam, na visão deles, a exportação do produto. Aos poucos os monarquistas foram sofrendo derrotas e diminuindo seus apoiadores na Câmara Municipal. Quando da proclamação da República, já não havia nenhum vereador monarquistas em São João.

O Partido Republicano fora implantado na cidade pela atuação dos principais cafeicultores e fazendeiros, como o Coronel Joaquim José. Contou, ainda, com o apoio da Igreja Católica, na figura do Padre José Valeriano e Joao Osório, que virou nome de uma das principais avenidas da cidade. Ao tomar conhecimento do teor do telegrama dando conta do fim da Monarquia, João Osório de Andrade Oliveira, que liderava a Câmara, convoca seus pares para uma sessão extraordinária, marcada para as 17 horas daquele mesmo dia. O mesmo telegrama também informava a mudança no Governo de São Paulo. A Câmara funcionava na Rua São João, atual prédio do SENAC. Ao longo do dia, a notícia foi se espalhando. Na hora marcada, o auditório da Câmara ficou lotado rapidamente e uma multidão se acumulou em frente ao prédio. O Coronel João Osório comunicou o fim da Monarquia e quis definir, com seus pares, quais as providências que a cidade deveria adotar diante do novo regime. Todas as pessoas importantes da cidade estavam lá. Os vereadores foram consultados se queriam aderir ao novo governo e houve unanimidade no apoio. Lavrou-se, então, a ata e 168 sanjoanenses assinaram o documento, entusiasmados, certos de que novos e bons tempos se iniciavam com o novo regime. A

Foto: Arquivo pessoal

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cultura

Família em cena O Cena IV comemora 44 anos de existência; é uma das únicas companhias de teatro do país com coordenação e estrutura em família. POR PEDRINHO SOUZA

Criado em São João da Boa Vista, o grupo Cena IV - Shakespeare & Cia divulga as obras do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) em todo o Brasil, por meio de peças, oficinas, workshops e produções audiovisuais. A coordenação do trabalho é toda feita em família. Ronaldo Marin (ator, diretor, especialista em Shakespeare e doutor pela Unicamp) e Zeza Freitas (atriz, diretora e produtora) dividem a direção-geral. Os filhos Marcella (atriz, dramaturga, figurinista e diretora) e Gabriel (ator, produtor, cenógrafo e iluminador) auxiliam no comando. Atualmente, são raras as companhias brasileiras de teatro que mantém a estrutura familiar, o que ainda é muito comum

na Europa. Completando 44 anos de atividades em 2019, o grupo possui um amplo repertório e participa dos principais eventos teatrais realizados no país, além de se apresentar em festivais internacionais. ORIGEM DO GRUPO O nome do grupo deve-se à formação inicial, que contava apenas com quatro atores em cena. Embora criado em 1975, a primeira apresentação oficial aconteceu somente no ano seguinte, durante a Semana Euclidiana, realizada na cidade de São José do Rio Pardo (SP). O sucesso foi tanto que, em 1977, quando São João decidiu homenagear Guiomar Novaes, uma de suas filhas mais bem-sucedidas no cenário artístico internacional, o Cena IV foi escolhido para fazer a abertura do festival que acontece até hoje e leva o nome

da pianista. Em pouco tempo a companhia cresceu, sempre atraindo os jovens de maior potencial cultural e artístico da cidade. “Éramos um grupo de jovens em busca de suas próprias formas de expressão”, conta Ronaldo Marin. “Tínhamos excelentes professores que estimulavam todo tipo de inciativa voltada para o nosso desenvolvimento cultural, e o teatro sempre foi o melhor lugar para as pessoas refletirem sobre a condição humana e o seu próprio lugar no mundo. Desde o início, o objetivo era que, por meio do teatro, aqueles jovens fossem capazes de encontrar suas próprias vozes”. Com o passar dos anos, alguns integrantes tomaram outros rumos, e somente dois dos membros fundadores permaneceram. Zeza e Ronaldo consolidaram a união não só na arte, mas como parceiros de vida. Os dois filhos que tiveram, Marcella e Gabriel, desde Foto: Arquivo pessoal

PRIMEIRO SUCESSO

Foto de Clóvis Vieira, para o cartaz do primeiro sucesso do grupo, a peça Ontem Hoje Primavera, de 1976. Na foto, Antônio Legaspe, Ronaldo Marin, Eneida Simon, Sandra L. Vasques, Zeza Freitas, Silvia Ferrante, Suia Legaspe, Ana Laura Barcellos e Edéia Alvise.

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Foto: Divulgação / British Council

ESPECIALISTA EM SHAKESPEARE

Ronaldo Marin é uma das maiores autoridades brasileira sobre William Shakespeare. Seu renome é tão grande, que foi convidado pelo British Council, ligado ao Consulado Geral Britânico, para desenvolver um trabalho educacional voltado às escolas, sobre como trabalhar a obra do dramaturgo em sala de aula. Além disso, Ronaldo é presidente do Instituto Shakespeare Brasil.

crianças se interessaram pela carreira artística. Desta forma, surgiu a nova formação do Cena IV, que hoje é uma companhia profissional estável, composta por atores formados pela própria escola, além de convidados de todo o Brasil. Em meados dos anos 80, nasce um projeto à parte da companhia: a Escola de Atores do Cena IV, com o objetivo de formar não somente atores, mas pessoas sensíveis interessadas no contato mais profundo com a arte. SHAKESPEARE O interesse pela obra de Shakespeare

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cresceu junto com a maturidade do grupo. Conforme o Cena IV foi entendendo o que significava fazer teatro, foi percebendo a importância daqueles textos fundamentais na formação de todo ator e atriz. “William Shakes-

peare não é apenas o maior autor de toda a literatura dramática ocidental, é também a principal referência de todos que vieram depois dele e construíram as narrativas que expressam nossa forma de falar, de pensar, de amar, ou

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seja, toda nossa forma de ser o que somos, seres humanos feitos de narrativas. Os críticos literários são unânimes em afirmar que Shakespeare foi quem melhor nos equipou”, explica Marin, que foi o responsável por trazer o autor para o centro dos trabalhos do grupo. Ronaldo Marin se tornou um dos grandes especialistas na obra de Shakespeare em todo o território nacional e é o responsável pelo Instituto Shakespeare Brasil. “Há dez anos promovemos Os Encontros Com Shakespeare, nos quais palestras, filmes, exposições, lançamentos de livros e apresentações teatrais baseadas na obra de Shakespeare são realizadas, durante uma semana, nas cidades onde o evento acontece”, destaca Marcella. COMPETÊNCIA E CIDADANIA O teatro é uma atividade ótima para corpo e mente, pois envolve o aluno em todos os sentidos: postura corporal, respiração, fala, leitura, entre outros. É uma ferramenta para a vida profissional em qualquer área de atuação. “Já tivemos inúmeros atores e atrizes formados pelos nossos cursos, mas este não é o nosso principal objetivo. Antes de tudo, estamos preocupados com a competência e a formação cidadã e vemos o desenvolvimento das habilidades relativas ao estudo da interpretação teatral como aliadas nesse sentido. Independentemente de seguir carreira, qualquer pessoa pode fazer teatro, na verdade, acreditamos que todos deveriam”, reforça Marcella. PROFISSIONALIZAÇÃO DE ATORES Mas se a meta é a carreira profissional, a Escola de Atores do Cena IV é a única da região que está regulamentada e autorizada a profissionalizar atores. Para aqueles que desejam obter o registro conhecido como DRT, a escola oferece curso com duração de três anos, que aborda desde o básico para a formação do ator – como técnicas vocais, ética, produção e interpretação de texto – até aulas de filosofia e história da arte, com o diretor Ronaldo Marin. Além disso, o aluno participa de vivências no “palco intensivo”, onde tem contato direto com a companhia profissional, um grande diferencial na formação. Ao final do processo, sendo aprovado, é encaminhado para a profissionalização. Os interessados em participar dos cursos da Escola de Atores do Cena IV podem obter mais informações entrando em contato pelos e-mails: escoladeatores@cenaiv.com ou contato@cenaiv.com. A 90

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Fotos: Arquivo pessoal


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cultura

O bamba do samba paulista Sanjoanense de batismo, Geraldo Filme é um dos nomes mais importantes da história do samba de São Paulo. POR JEFERSON BATISTA

A combinação samba e São Paulo sempre foi questionada por muita gente. O ritmo musical, provavelmente nascido na Bahia, ganhou espaço no Rio de Janeiro e, ao longo do tempo, tornou-se o principal produto cultural carioca. Diante disso, parecia que a metrópole paulistana - a capital do trabalho - e as regiões interioranas do estado - grandes produtoras agrícolas - não eram locais para fazer samba. Algumas figuras, contudo, desafiaram esta tese e colocaram o bumbo - instrumento característico do ritmo em São Paulo -, suas vozes e corpos a serviço desta manifestação cultural intensamente ligada às senzalas. Vale lembrar que, no estado, o samba tem sua origem na vida rural das negras e negros escravizados. No decorrer dos anos pós-abolição da escravidão, com o êxodo para a metrópole em crescimento, o samba rural encontra outras manifestações artísticas que dão origem ao particular samba paulista.

Entre os personagens que figuram na história do samba da terra do trabalho, está Geraldo Filme (1928-1995). Paulistano de nascimento, sanjoanense de batismo, tem em sua trajetória a marca do interior e a influência das manifestações negras. Seu legado, segundo o historiador Amailton Azevedo, “é deixar uma marca particular para o samba, desconstruindo a ideia de que São Paulo não sabe fazer música”. Professor de História da África e do Brasil na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Azevedo continua dizendo que o sambista “desfaz essa imagem de que São Paulo não tem bom samba e projeta a cultura negra no centro de uma outra narrativa, em que estas pessoas são parte integrante da história”. As pesquisas do historiador, que também é músico, resultaram no livro Sambas, Quintais e Arranha-Céus: as Micro-Áfricas em São Paulo (2016). A trajetória de Geraldo, ou Geraldão, como era conhecido nas rodas de samba nas periferias paulistanas, é permeada

Foto: Folhapress

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Imagem: Reprodução Itaú Cultural

A NATA DO SAMBA PAULISTA

Imagem do disco Plínio Marcos em Prosa e Samba. De pé, ao fundo, Geraldo Filme. Acompanhado de Toninho Batuqueiro, à esquerda, Plínio Marcos e Zeca da Casa Verde.

por um ativismo em defesa da música popular. Desafiou seu próprio pai, um daqueles que afirmavam a suposta superioridade do samba do Rio de Janeiro em relação ao samba paulista. Diante dessas críticas, Geraldo compunha. A canção Eu Vou Mostrar é conhecida por dar uma resposta a estas pessoas. Na letra, Geraldo esclarece: Eu sou paulista, gosto de samba. Na Barra Funda também tem gente bamba. Somos paulistas e sambamos p’ra cachorro. P’ra ser sambista não precisa ser do morro. Esta música, inclusive, é considerada a primeira composição do sambista, feita quando ele tinha apenas 10 anos. Contudo, o historiador da PUC-SP destaca que o pai do sambista era músico e vivenciou a produção musical carioca durante uma temporada. Sendo assim, sua crítica não era para ofender, mas para mostrar que os sambistas cariocas estavam melhores equipados em termos de instrumentos, 93

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enquanto que os de São Paulo tinham que fabricar seus próprios instrumentos, de forma caseira, o que prejudicava a qualidade musical. SAMBA PAULISTA As diferenças entre o samba produzido nas duas localidades mobilizou um debate acalorado nas décadas de 1970 e 1980. Até Vinícius de Moraes entrou na cena quando afirmou, em 1960, enquanto assistia a um show com o compositor Johnny Alf, na paulistana Rua Consolação, que “São Paulo é o túmulo do Samba”. Apesar de controvérsia, a fala, que repercutiu na imprensa, não agradou os bambas de São Paulo. Por seu turno, o dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999), grande incentivador do samba paulista, publicou artigo no jornal Folha de S.Paulo, em 1977, quando falou sobre as características peculiares do ritmo feito pelos paulistas.

“O samba paulista é diferente do samba baiano que se instalou no Rio de Janeiro a partir da casa das ‘tias’. O samba paulista é mais puxado ao batuque, ao samba de trabalho. Do toco, durão. O samba paulista vem das fazendas de café”. Canções como Eu vou Mostrar levam a musicista e também historiadora Lígia Nassif Conti a dizer que “Geraldo Filme foi um dos baluartes do samba paulista e um de seus mais engajados defensores”. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Conti é autora da tese A memória do samba na capital do trabalho: os sambistas paulistanos e a construção de uma singularidade para o samba de São Paulo (1968-1991). Considerando estas peculiaridades, Geraldo se tornou, então, um bamba, expressão utilizada para se referir a grandes sambistas. GERALDO VIVE O legado do artista, defendido pelos historiadores, está presente em diferentes partes da cidade de São Paulo, em São REVISTA ATUA | NOVEMBRO DE 2019

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Imagem: Reprodução Itaú Cultural

ENVOLVIMENTO POLÍTICO

Foto da Antiga Igreja da Sé em 1862. É desse cenário, em suma, que nascem os sambas de Geraldo Filme. Atento ao seu redor, à luta do povo negro e à história de resistências, Geraldo canta em Tebas, canção em referência ao marco zero da cidade de São Paulo. Outro fator importante para pensar a obra de Geraldo Filme são as críticas que ele fez à ditadura militar, o seu engajamento político. Ou refletir acerca da tensão entre Geraldo e os esforços das autoridades paulistanas (como o então prefeito Brigadeiro José Vicente Faria Lima) em profissionalizar o samba. Questionava o Carnaval como modelo de espetáculo, da televisão e dos negócios que foram incorporados nessa festa.

João da Boa Vista e outras localidades do interior. Na capital e na região metropolitana, os versos de Geraldo Filme, bem como de outros grandes nomes do samba de décadas passadas, como Toniquinho Batuqueiro, Clementina de Jesus e Adorinan Barbosa, são entoados em pelo menos 54 rodas de sambas, mapeadas pelo Guia do Circuito de Roda de Samba de SP, publicação lançada pela deputada estadual Leci Brandão (PCdoB). Na cidade em que foi batizado e viveu até os cinco anos, Geraldo Filme também vive nas rodas e apresentações. O músicos sanjoanenses do Grupo Si Tivesse Dó, criado em 2008, tem levado o nome e as canções do sambista para seus ouvintes. O grupo fez parte de um projeto chamado Resgate do Samba, realizado em um Ponto de Cultura de São João da Boa Vista. “Era contada a história do samba, de seus intérpretes e compositores”, afirma o músico André Luiz Paula Souza, que toca violão no grupo. “Nos anos de 2008 e 2009, realizamos shows no Projeto Seis da Tarde, relembrando sambas de várias gerações, bem como um tributo à Adoniran Barbosa e Geraldo Filme”. No repertório dos sambistas sanjoanenses estão Silêncio no Bexiga, Eu vou pra lá, Vai no bexiga pra ver, A morte de Chico Preto, todas composições de Filme. BATISMO EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA É na letra da canção Eu vou pra lá, inclusive, que o sambista Geraldo Filme 94

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diz ser “nascido num terreiro em São João da Boa Vista”. Apesar da afirmação na música, evidências mostram que o artista veio ao mundo, na verdade, na capital paulista, em 1928. Contudo, já que sua família materna era sanjoanense, viveu na cidade até completar cinco anos de idade e depois retornou para a capital do estado. Azevedo desenvolveu a noção de micro-áfricas para analisar a trajetória pessoal e musical de Filme. “O conceito consiste em pensar um conjunto de expressões culturais negras que resistiram ao processo de branqueamento que a urbanização paulista impôs aos seus habitantes”, afirma o pesquisador. Apesar de não existir um mapeamento detalhado dos primeiros anos de sua infância, o historiador afirma que São João da Boa Vista pode ser considerada a manifestação de sua primeira micro-áfrica. Em outras palavras, foi na cidade, ainda no seio de sua família, que ele teve contato com elementos da cultura negra, em festividades que mesclavam música, poesia e religiosidade. Festa era o que não faltava em sua família. Em depoimento raro sobre sua infância, o músico conta que foram “três dias de festa” quando foi batizado e continua: “eu só podia gostar disso. Era batuque no quintal pros nego véio, pros mais novo samba na sala e vamos s’embora”. Por sua vez, Conti afirma que a “vivência nos batuques negros das cidades interioranas deve-se à presença de sua

família nessas festividades desde sua infância”. A historiadora destaca ainda como o sambista se colocava em suas próprias canções para contar momentos e causos de sua vida. “Em Batuque de Pirapora, o sambista conta em primeira pessoa a história de um menino preto que foi impedido de estar em uma procissão católica e que foi levado por sua mãe ao batuque de terreiro”, afirma. ENTRE MARMITAS E RODAS DE SAMBA Não é possível saber exatamente como a família do cantor migrou do interior para a capital. Relatos levantados por pesquisadores mostram que a vida na cidade de São Paulo foi de muito trabalho como fiel ajudante de sua mãe, que mantinha uma pensão na Barra Funda. Viúva, já que o pai de Geraldo Filme morreu quando ele ainda era criança, educou o filho sozinha. Além de colaborar nas tarefas da hospedagem, Geraldo entregava marmitas a domicílio. Ao circular pelo bairro, teve contato com muita gente e com muitas manifestações artísticas. No extinto Largo da Banana, na ficava localizado na Barra Funda, região considera o berço do samba paulistano, o músico teve contato com os praticantes da tiririca, conhecida também como pernada - uma variação paulista da capoeira. “Em razão dos profundos laços de solidariedade praticados pela comu-

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nidade negra em São Paulo, Geraldo Filme também vivenciou desde muito novo os cortejos carnavalescos dos cordões”, relata a historiadora doutora pela USP, que também é professora de História da Música, entre outras disciplinas, do Conservatório de Tatuí, no polo localizado em São José do Rio Pardo. Contudo, Azevedo relata em suas pesquisas que “durante a infância e adolescência teve que conciliar seu entusiasmos junto ao samba com seu trabalho de entregador de marmitas”. Estas manifestações culturais tiveram papel importante na sua carreira como cantor. A vocação musical, que veio do berço, da observação dos seus familiares, ganhou força ao estabelecer laços nas ruas de São Paulo. Diversas rodas e escolas de samba tiveram o privilégio de ouvir ou tocar as composições de Geraldo, autor de muitos sambas-enredos. Entre eles, o Solano Trindade, Moleque de Recife, enredo da Vai-Vai em 1976, que homenageou Solano Trindade, grande artista pernambucano. “Os lugares de música onde Geraldo

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morou, frequentou e conviveu circunscreveram-se na Barra Funda, Campos Elísio, Bixiga e Liberdade, e diversas escolas de samba, entra as quais estão a Paulistano da Glória, Colorado do Brás, Camisa Verde, Unidos do Peruche e Vai-Vai”, ressalta Azevedo. Apesar disso, o sambista gravou apenas um álbum solo durante sua carreira, que recebeu seu nome, em 1980. Antes deste trabalho, ainda na década de 1970, ele participou de dois álbuns de Plínio Marcos, Balbina de Iansã (1971), que era trilha sonora de uma peça teatral do mesmo nome, e Plínio Marcos em prosa e samba: nas quebradas do mundaréu (1974), LPs fundamentais para quem quer conhecer o samba paulistano. “Os trabalhos de Plínio Marcos trazem não apenas a voz, mas também composições de Geraldo Filme, num precioso registro sonoro e fonte de pesquisas sobre a cultura negra em São Paulo”. “Antes disso, participou das gravações de um disco que reunia os sambas de enredo do carnaval paulista de 1968 e que foi lançado em 1969”, relata Con-

ti, que reflete ainda sobre a dificuldade que sambistas enfrentavam no mercado. “Com relação ao mercado musical e à profissionalização dos músicos em São Paulo, há que se ressalvar que pouco espaço era concedido aos músicos negros, que muitas vezes manifestaram sua insatisfação em razão das portas frequentemente fechadas”. Sobre isso, o próprio sambista afirmou que as gravadoras “não conseguem ver que o samba rural tem potencial para vender tanto quanto qualquer outro”, como consta na tese de Conti. Uma importante canção de Geraldo Filme é Tebas, que conta a história de um negro escravo arquiteto, que “construiu a velha Sé em troca da carta de alforria”. Esta música é mais um exemplo de como o cantor, que também foi um militante político negro, lutou para destacar os seus. Compunha e cantava sobre as mudanças na cidade, a vida dos antepassados na roça, o carnaval e as festas. Lembrar de sua trajetória, é resgatar também a história da cultura paulista. A


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olhares - Udo Matiello - @udom_photo

FIAT LUX Enquanto a cidade dorme, um perene raio de luz penetra das nuvens, trazendo a esperança da oportunidade de um novo recomeço. Fiat lux é um trecho de uma expressão em latim, traduzido frequentemente como “que haja luz”, remetendo à passagem bíblica da criação divina da luz descrita em Gênesis 1:3 (dixitque Deus fiat lux et facta est lux). 98

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