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Volume 1, Edição 4

Maio 2011

astroPT magazine


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LITERACIA CIENTÍFICA

Hoje Está a Haver um Terramoto em Roma

Uma suposta profecia de um Italiano chamado Raffaele Bendandi (18931979), afirma que iria haver um terramoto dia 11 de Maio de 2011 e que destruiria Roma. Tudo isto baseado no estudo de 2 planetas que supostamente interferem com a Terra nessa data. Bendandi era um astrónomo e sismólogo autodidata italiano. No entanto parece que tudo “não passa de uma fraude”, disse Paola Lagorio, presidente da Associação La Bendandiana. Adianta ainda que “nos documentos de Bendandi não se encontra nenhuma referência ao terremoto em Roma no dia 11 de maio de 2011″ (Aqui) Contudo, as pessoas acham que será verdade e, imaginem, pelo menos 15% dos funcionários públicos pediram dispen-

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sa e centenas de pessoas estão a deixar a capital! Parece que Bendandi tinha razão, há um terramoto hoje e não é só em Roma, é na Itália. E não é um terramoto físico mas sim financeiro. Com tanta gente a acreditar numa parvoíce destas e a faltar em emprego a produtividade do país leva com um bom safanão. “É uma notícia totalmente inventada, obra de alguém que sabe que a única pessoa crível na Itália para uma previsão desse tipo é Bendandi”, denunciou Paola Lagorio em um programa da televisão pública RAI. (Aqui) Um dos sites mais fantásticos afirma que Bendandi teria deduzido trans-

neptunianos “que de tempos em tempos se aproximam e se alinham com os demais planetas, e com nosso satélite natural a Lua. Essa soma de influências dava a ele capacidade de prever a ocorrência de grandes sismos.”. Enfim, o mesmo tipo de frases que estamos habituados a ler e ouvir. É daquelas coisas que nos faz rir pois sabemos verificar esta mentira. Vejamos:

Esta é uma imagem dum modelo interactivo do Sistema Solar. Reparamos que os planetas, afinal, não estão alinhados. Que pena, gostaria de ver uma profecia cumprida. Estão-nos sempre a enganar. Quando será a sério? Já sei, quando algum desastre ocorrer vão dizer que havia uma profecia sobre

isso. Eu posso dizer que um dia vai haver um terramoto em Lisboa, sei que sim mas não digo mais nada. Quando houver um digo que sou profeta. Hoje podemos ver em tempo real mais uma mentira que anda a deambular por aí. E ainda reparamos que há mais pessoas com uma capacidade crítica muito pequenina e que vão atrás destas mentiras. Mais um dia em que a ciência e o pensamento crítico vence! Daqui a 10 dias esperase mais uma grande vitória. E há gente já a planear grandes férias com o dinheiro ganho com mentiras. Dário S. Cardina Codinha


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LITERACIA CIENTÍFICA

Nuvem do Caos irá dissolver a Terra em 2014!!! O nosso leitor Weslley deixou este comentário aqui no blog. Antes de passar à notícia propriamente dita, deixemme explicar uma coisa sobre Literacia. Vivemos numa sociedade da informação. Ao contrário de há 15 anos atrás, hoje sabemos o que se passa do outro lado do mundo no segundo a seguir a ter acontecido, e temos toda a informação disponível na ponta dos dedos. Daí que atualmente, literacia não é saber ler ou escrever, mas literacia atualmente define-se como Literacia Funcional – saber avaliar a enorme quantidade de informação que nos chega. E se não conseguirmos avaliar por nós próprios (porque não podemos saber sobre tudo), então devemos reconhecer os especialistas e perguntar-lhes.

Para mim, esta é a definição de inteligência. Inteligência é a utilização do pensamento crítico que nos permite ter uma Literacia Funcional. Já quem acredita em profecias, fins-do-mundo, etc, demonstra não ter essa inteligência. E quem se deixa levar por essas profecias praticamente todos os anos, então é parvo. Com isto quero dizer que o Weslley fez o correto. Não tinha a certeza sobre a legitimidade de uma notícia, por isso, perguntou. Demonstrou inteligência! Como podem ver aqui pelo blog, temos também exemplos de comentadores pouco inteligentes – que entram aqui no blog para dizer que eles é que sabem, porque acreditam que o mundo vai acabar… contra todas as evidências e explicações que hajam. Algo geral que podem apli-

car a todas estas notícias é o Detetor de Disparates – Baloney (Bullsh*t) Detection Kit – de Carl Sagan. Normalmente estas histórias sofrem de inúmeras falácias, que são facilmente reconhecidas se utilizarmos esse detetor. Uma das falácias mais conhecidas é o erro de facto. Por exemplo, se a história disser que 2 +2= 7, sabemos logo que é mentira, que não é credível. Isto é o que se passa, por exemplo, sobre a Profecia

Papa fala com o Céu Papa falará hoje durante 20 minutos com os astronautas na Estação Espacial Internacional. É a 1ª vez que um Papa fala com astronautas no espaço. Será que o Harold vai dizer que essa era a Profecia? Será que vai dizer que se enganou no sentido da comunicação? Será que vai dizer que afinal não era Cristo vir à Terra mas o Papa falar com o espaço? Sinceramente, não me admirava muito. A única admiração que teria era ele saber desta notícia do Papa! Carlos Oliveira Página 3

Maia, em que as pessoas mentem sobre o que dizem os Maias, em que mentem dizendo que o calendário acabava em 2012, em que mentem ao dizer que irá haver um alinhamento planetário nessa altura, etc. São tudo erros de facto – mentiras facilmente expostas bastando para isso pesquisar um pouco. Uma outra falácia é a fonte não ser credível ou não dizerem qual é a fonte. Uma outra falácia é dizerem que é segredo. É falácia porque é um paradoxo. Se é segredo,


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Nuvem do Caos irá dissolver a Terra em 2014!!! (cont.) direito de saber!”.

então essa pessoa comum não sabe. Se foi divulgado, então é porque não é segredo. Uma outra falácia é ligarem essa profecia a outras, para tentar dar falsamente uma maior credibilidade. Por vezes falam na Bíblia, segredos religiosos, pirâmides, ETs, etc. Há muitas outras falácias que qualquer pessoa pode reconhecer ao avaliar este tipo de notícias divulgadas pelos conspiradores. Ou seja, qualquer pessoa, mesmo sem ter o conhecimento específico de determinada área, pode avaliar as notícias que lhe vão chegando. Vamos agora passar ao exemplo em causa. O Weslley disse-nos isto sobre a notícia que anda a ser veiculada: “(…) texto sobre uma tempestade que pode sugar a nossa galáxia em 2014 (…). Os astrônomos a apelidaram de “Nuvem do Caos” porque ela dissolve tudo o que encontra em seu caminho incluindo cometas, asteróides, planetas e estrelas inteiras. Sua direção é a Terra. A notícia foi publicada no site do tablóide norteamericano “Weekly World News” com a seguinte manchete: “O mundo tem o Página 4

O buraco negro do qual a nuvem foi expelida se encontra a 28 mil anos luz da Terra. Descoberta pelo laboratório de raios X Chandra da NASA, estação espacial norteamericana, a nuvem de poeira cósmica tem a largura de 10 milhões de milhas e foi comparada a uma nebulosa ácida que se move em nossa direção perto da velocidade da luz. A data estimada para sua chegada é 1 de junho de 2014 às 9h15min. Um oficial sênior da Casa Branca que pediu para ficar no anonimato, disse que os conselheiros do sistema super secreto da presidência estão buscando alternativas rápidas. “Isso é muito parecido com o aquecimento global. Os especialistas ainda estão decidindo se a mudança climática é ou não é real. Por enquanto a existência dessa ‘Nuvem do Caos’ é somente uma teoria. Os norte-americanos não devem se apavorar até que todos os fatos sejam apurados”, confortou o oficial.“ Embora tenha alguns aspectos controversos, as análises da Fundação Charles Fort apontaram para vários aspectos interessantes, inclusive a relação existente com o terceiro segredo de Fátima, diversas previsões

da Idade Média (incluindo uma das centúrias mais incompreendidas de Nostradamus), o fim do calendário maia e a Teoria Geral da Relatividade.” Vamos então analisar o texto: - fala numa tempestade que pode sugar uma galáxia. Ora, isso não existe. - diz que isso acontecerá em 2014. Isso é impossível. A nossa Galáxia é muito grande. Mesmo em Star Trek, com a Enterprise, nem metade da Galáxia conseguiam viajar. Como a Galáxia é muito grande, supondo que essa tempestade existia… estaria então muito longe de nós. Nada viaja mais rápido que a luz, logo a tempestade não poderia chegar em 2014. - por outro lado, se fôr para chegar em 2014, então está mais próxima de nós do que a estrela mais próxima do Sol. Se é uma tempestade capaz de sugar galáxias, então será enorme. Sendo assim, deveria se ver no nosso céu todos os dias e todas as noites… já deveria estar a cobrir parte do céu! - não há nenhuma nuvem ou nebulosa que dissolva planetas e tudo o que encontra… - vem na direção da Terra. Isto demonstra geocentrismo psicológico. Num Universo gigantesco, algo único e tão devastador, vem precisamente na nossa direção! Somos um minúsculo ponto do espaço, mas pelos vistos atraímos tudo o que seja mau. Não faz sentido. Ou

melhor, só o faz se imaginarmos que somos muitos especiais… o centro do Universo. - o texto é do Weekly World News, que é um tablóide conhecido por inventar as notícias que publica… porque é essa a função desse tablóide. É satírico!!! Não é para ser levado a sério. - buracos negros não expelem nada… muito menos nuvens. Este é um erro de facto. - não especifica que tipo de buraco negro é. Existem vários tipos. - buracos negros são pequenos… ou melhor, são menores que galáxias, e estão no centro das galáxias (assumindo que o texto fala em buracos negros supermassivos). Isso quer dizer que eles pertencem às galáxias onde se encontram. Não andam a “sugar” outras galáxias. - se a nuvem se formou a 28 mil anos-luz de distância da Terra, então quer dizer que, no mínimo, se viajar à velocidade da luz, vai chegar cá daqui a 28 mil anos, e não daqui a 3 anos. - basta ir ao site do Observatório Espacial Chandra, e lá não fala nada disso. - o Chandra seria incapaz de detetar a radiação que a notícia original afirma, como podem ler aqui. - a NASA não é uma estação espacial. Mais um erro de facto. - se se move perto da velocidade da luz, quer dizer que vem mais lenta que a velocidade da luz. Como está a 28 mil anos-luz da


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Terra, isso quer dizer que chegará aqui lá para o ano 40.000 – nunca daqui a 3 anos. - a data estimada para a chegada está ao minuto. Isto seria impossível saber com a tecnologia atual. - a data estimada diz a hora e o minuto. Mas qual o fuso horário? Mais uma evidência que não têm cuidado com as informações. - as fontes são secretas. - a fonte diz que afinal, isto é só uma teoria. Ou seja, é uma “ideia no ar”, e não verdadeiro. - como é “só uma teoria”, mas sabem que vem na direção da Terra e até sabem o minuto que vai bater aqui? É mais um paradoxo. - comparar uma nuvem que supostamente suga galáxias ao aquecimento global, dizendo que as mudanças climáticas podem não ser reais, é no mínimo surrealista. - as análises são supostamente da Fundação Charles Fort. Quem tem os livros dele e conhece o seu trabalho, percebe que este é mais um sinal de que se deve duvidar desta notícia. - a Fundação Charles Fort não existe. Existe sim o Instituto Charles Fort, e, como era de prever, não tem nada a ver com isto.

- por fim, a ligação já normal nestes casos a temas pseudos e religiosos que são mentira: segredo de Fátima, Nostradamus, e calendário maia. Também ligam à Relatividade para tentarem dar um ar sério a algo que é totalmente mentira. Há textos com uma tradução ligeiramente diferente, como aqui: “Nebulosa capaz de dissolver planeta se dirige à Terra! Astrônomos paralisados de medo descobriram uma massa misteriosa que chamaram de uma “nuvem de caos” que dissolve tudo em seu caminho, incluindo cometas, asteróides, planetas e estrelas inteiras — e ela está vindo diretamente para a Terra! Descoberta em 6 de abril Observatório de Raios-X Chandra da Nasa, a nebulosa cósmica de 10 milhões de milhas de tamanho girando foi comparada a uma “nebulosa ácida” e está se aproximando de nós perto da velocidade de luz — fazendo com que seu tempo estimado de chegada seja às 9:15 da manhã do dia 1 de junho de 2014.” Como se pode ver, apesar de ligeiramente diferente em algumas frases, a história é a mesma. Existe um outro texto, ligei-

Klaatu Barada Nikto Estou a fazer um pequeno trabalho sobre o filme de 1951, O Dia em que a Terra Parou. O extraterrestre, Klaatu, chega à Terra e diz coisas como esta: “I am fearful when I see people substituting fear for reason” – assusta-me quando vejo as pessoas substituírem a razão pelo medo. Fez-me lembrar as notícias recentes de fins-do-mundo, e outras notícias do género, em que as pessoas preferem seguir o medo, em vez da razão. “I’m impatient with stupidity” – não tenho paciência para a estupidez. Se lerem alguns comentários neste blog, sobretudo em Página 5

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ramente diferente, aqui. O jornal Terra, também fala desta notícia, aqui. Este jornal dá mais algumas informações (além daquelas que já coloquei em cima). Diz que o texto original é de 12 de Setembro de 2005. Ou seja, já tem quase 6 anos. A notícia original diz que a nuvem de poeira tem 16 milhões de kms. Quando está mais perto de nós, Vénus está a cerca de 38 milhões de kms da Terra. Supostamente esta nuvem ocupa quase metade da distância entre estes 2 planetas. Como é que uma nuvem de poeira dissolve planetas? Mais um paradoxo. A notícia original diz que a fonte é Albert Sherwinski, astrofísico da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Basta ir ao site da Universidade, e percebe-se que este astrofísico não existe lá. A wikipedia também diz que esta notícia é falsa, aqui e aqui. Só mais 4 coisas sobre o jornal satírico em questão: - se fizerem uma pesquisa nesse jornal, vêem várias notícias do mesmo género sobre “nuvens do caos” sobre diferentes locais: Florida, Ohio, etc. - mas não desesperem. O

mesmo jornal já tem um cartoon em que o herói é um rapaz-morcego que combate essa nuvem. - no passado este jornal já teve uma capa com o expresidente George Bush a dizer: “Lei do Congresso fará de Weekly World News leitura obrigatória a todos os americanos”. É para rir. - por fim, este mesmo jornal tem uma notícia que só pode ser verdade. Diz o jornal que se as raparigas fizerem topless constantemente (ou seja, na vida diária, na rua e em todo o lado) podem viver mais 10, 20, ou 30 anos!! Quanto mais andarem em topless, mais vivem. Isto é uma investigação do Instituto para o Estudo dos Seios, e o Dr. Andrew Mansfield, diretor do Instituto, confirma a veracidade destas informações. A Dra. Eleanor Zeitzer, fundadora do Instituto de Estudos sobre o Envelhecimento, também confirma os resultados deste estudo. Ou seja, esqueçam tudo o que eu disse atrás!!! Obviamente que o jornal diz a verdade, porque este estudo só pode ser verdadeiro!!! Vá lá, meninas… sigam as recomendações médicas. Carlos Oliveira

matérias pseudo (astrologia, reikki, etc), religiosas, ou de fim do mundo, percebem o porquê do ET dizer que não tem paciência para essas coisas. Finalmente, a frase mais emblemática do filme: “Klaatu barada nikto!” – não há tradução, mas segundo o criador desta linguagem extraterrestre, a expressão pode ser interpretada como: “There’s hope for Earth, if the scientists can be reached” – numa tradução livre, poderá ser algo deste género: há esperança para a humanidade, se os cientistas forem chamados. Carlos Oliveira


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11 previsões do Fim do Mundo

Imagem: Cena do filme Constantine (2005) Crédito: Warner Brothers

Ao longo da história da humanidade não faltaram profetas da desgraça. Muitos deles levaram ao próprio homicídio ou suicídio dos seus seguidores. Um dos casos mais mediáticos foi o de David Koresh, que se suicidou com os seus seguidores em Waco, Texas. Hoje, apregoava-se que o mundo iria acabar. Se o leitor pensa que é a única profecia, desengane-se. A National Geographic publicou um artigo online com as onze profecias mais mediáticas. Aqui ficam: 1 – 21 de Maio: Fim do Mundo? Para os seguidores do pregador Harold Camping, o dia do juízo final está previsto para chegar no dia 21 de maio de 2011. A predição do fim do mundo é apenas a mais recente duma linha que remonta a séculos atrás. Durante o chamado Página 6

arrebatamento em 21 de maio, isto é, o Dia do Julgamento, está previsto Jesus Cristo voltar à Terra para reunir os fiéis e levá-los para o céu, de acordo com Camping, o fundador d o ministério independente Fami ly Radio Worldwide. 2 – Pompeia: Precursor do Fim do Mundo? Assim como algumas pessoas acreditam que um calendário Maya apont a 2012 como o ano do fim do mundo, alguns antigos romanos viram o ano 79 dC, após a erupção do Monte Vesúvio, que soterrou Pompéia, como um sinal do fim do mundo. Isso porque o filósofo romano Sêneca, que morreu em 65 dC, havia previsto que a Terra iria transformar-se em cinzas: ”Tudo o que vemos e admiramos hoje vai queimar no fogo univer sal, que inaugura um mundo justo, novo e feliz”, disse ele, de acordo com o livro de 1999, Apocalipse. 3 – 1666: Juízo final pelo fogo? Sabendo que a Bíblia descreve o 666 como o número da Besta, muitos cristãos euro-

peus entraram no ano de 1666 com trepidação. A prolongada praga que hav ia destruído grande parte da população de Londres, em 1665, não ajudara a amenizar os medos e, quando o Grande Incêndio de Londres ocorreu, muitos acreditavam que tinha chegado o Dia do Julgamento. Alguns londrinos viram o fogo como uma “terrível ira do julgamento de Deus que visitou uma terra pecaminosa”, de acordo com o livro de 2002, O Grande Incêndio de Londres: naquele ano apocalíptico de 1666. 4 – Cometa Apocalipse O surgimento do cometa Halley, observáv el a cada 76 anos, tem sido visto como um presságio do fim do mundo ao longo da história. A iminente chegada do cometa em 1910, por exemplo, provocou a histeria apocalíptica entre os europeus e norteamericanos. Alguns acreditavam que a cauda do cometa continha um gás, que impregnaria a atmosfera e eventualmente extingui ria toda a vida no planeta, segundo o astrónomo francês Camille Flammarion, co mo citado no livro Apocalips e. Alguns proveitos do pânico: Vendas de máscaras e ”pílulas de cometa “, dispararam, assim como suprimento de oxigé-

nio. Por exemplo, em Roma as pessoas esperaram, mantendo-se vivos no ar engarrafado, até que a cauda do cometa passa-se a Terra. 5 – Testemunhas de Jeová e o dilema do Fim do Mundo Desde a sua fundação em 1870, as Testemunhas de Jeová, um ramo cristão, profetizou o fim do mundo em 1914. Apesar do juízo final não ter chegado, em 1914, os seguidores da religião vêm prevendo que o mundo vai acabar ”em breve”, de acordo com o livro de 1997, Apocalipse Adiado: A História das Testemunhas de Jeová. 6 Alinhamentos planetários: presságios do Juízo Final? Alinhamentos planetários têm inspirad o muitas previsões do Juízo Final. O autor Richard Noone previu que o gelo iria dominar o mundo como resultado do alinhamento. E a “arqueólogo psíquico” Jeffrey Goodman afirmo u no seu livro de 1977, Nós somos a geração do Terremoto, que ”os terremotos e vulcões desencadearão em todo o mundo e uma fenda irá abrir-se e dividirá a Terra em vários lugares para aliviar o stress produzido pela mud ança,” New Scientist. Mas a desgraça e melancolia também pode desencadear a inovação científica,


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como ocorreu em 1774 na F rísia, Holanda. Um vigário esperando i mpulsionar sua congregação divulgou um ”livrinho da desgraça” que dizia que o sistema solar seria destruído durante uma conjunção programada, segundo a New Scientist. Como o pânico entre moradores cresceu , um astrónomo amador construiu um planetário na sua sala de estar para aliviar as preocupações e explicar os moviment os dos planetas, tornou-se o mais antigo planetário mecânico no mundo. 7 – Arrebatamento Robertson

de

PUB

Décadas antes da previsão de Harold Camping de 21 de maio de 2011, na TV evangelista, Pat Robertson tinha pregado que, em algum momento da década de 1980, Jesus iria retornar à Terra. Previsão do arrebatamento de Robertson foi baseado em escritos na Bíblia, Tessalonicenses especificamente,

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que afirma: ”Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com a voz do arcanjo, e re ssoada a trombeta de Deus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, depois nós que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, ao encontro do Senhor no céu”, de acordo com o The Atlantic. “Sob este cenário apocalípti co, os incrédulos e Satanás serão presos num lago de fogo, onde serão atormenta dos dia e noite para sempre”, escrito no The Atlantic. “O fogo pode também destruir a Terra e substituí-lo por um novo céu e Terra, onde os crentes e os redimidos, continuarão a história”. 8 – Hale-Boopalipse Trinta e nove pessoas, parte de um grupo religioso chamado Heaven’s Gate, na Califórnia, cometeram suicídio quando o cometa HaleBoop se encontrava no ponto mais próximo da Terra. O grupo acreditava que um OVNI montara vigília no cometa e que iria resgatálos de um mundo condena-

do. 9 – Morte pelo Gelo No seu livro de 1997, Gelo: O último desastre, o autor Richard Noone previu que em 05 de maio de 2000, os planetas iriam alinhar-se perfeitamente e trariam o fim do mundo, enviando o gelo na direção do Equador da Terra. Noone argumenta no livro que a deslocação do eixo da Terra, anteriormente ocorrida, tinha coincidido com tremendas mudanças climáticas, como as eras glaciais e que tais ”resultados q uase inimagináveis” aconteceriam de novo. Nenhuma calamidade ocorreu, e muitos cientistas estão agora preocupados com gelo por um outro motivo: As temperaturas de aquecimento estão progressivamente a causar o degelo. 10 – Ano 2000 dia do Julgamento final Em 1984 um colunista do Wall Street Journal alertou para o fim do mundo, que ocorreria em 01 de janeiro de 2000. Um bug causado por um erro de cálculo poderia incapacit

I see dead people. Crédito: José A. Gonçalves

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ar computadores e outras máquinas e levar ao caos em massa, dizia o colunista. O mesmo descrevia como comprar um amuleto anti-Y2K, instrumentos de salvamento e reparação Y2K. Os evangélicos também recomendaram aos seus seguidores armazenar alimentos e a prepararemse para o pior, segundo o Washington Post. Líderes como Jerry Falwell e Pat Robertson sugeriram que a mudança do milénio traria o arrebata mento, conforme descrito no livro bíblico do Apocalipse, segundo o Post. 11 – Buraco Negro criado pelo Homem? Quando o Grande Colisor de Hádrons (LHC) iniciou a colisão de partículas em Setembro de 2009, alguns críticos especularam que poderia gerar um buraco negro que significaria o fim do mundo. No entanto, a preocupação foi em vão: o colisor tem vindo a trabalhar sem consequências desastrosas. Como se pode ver, nenhuma destas previsões ocorreram. O problema é que, em primeiro lugar, estes “profetas” continuam a proclamar desgraças, mesmo errando sistematicamente. Em segundo, está nas pessoas que os seguem, ou mesmo não seguindo, acreditam nessas ilusões. Por isso, cada vez mais é importante divulgar e “educar” em ciência. José Gonçalves


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LITERACIA CIENTÍFICA

Profecias da Ciência Parece-me que uma das razões para as pessoas caírem vezes sem conta nas mesmas mentiras é a inexistência de Literacia Funcional: as pessoas não sabem avaliar corretamente a informação que lhes chega. A Literacia Funcional é a mais importante forma de Literacia na atual sociedade da informação. Para se ter Literacia Funcional, é óbvio que se tem que ter algum conhecimento de base dos assuntos, mas é muito mais importante ter pensamento crítico, que é transdisciplinar (ou seja, eu posso não perceber nada de agricultura, mas consigo perceber que as árvores não crescem por “artes mágicas”, por obra e graça do Pai Natal, por exemplo). O pensamento crítico, que literalmente se pode considerar como pensamento científico (que é inerentemente racional), não existe somente em matérias científicas, mas podemos observá-lo em tudo o que é assunto – de facto, nós utilizamos o pensamento científico todos os dias, a quase todos os momentos da nossa vida (digo quase, porque todos temos momentos de irracionalidade – ex: no Estádio da Luz, eu não quero saber se há ou não forade-jogo… logo que seja a favor do Benfica, é o que conta!!!)). Por exemplo, se vocês tiverem um familiar muito doente, que precisa urgentemente de fazer uma cirurgia ao cérebro… o que fazem? Levam-no a um hospital, onde existem neuro-cirurgiões qualificados? Ou levam ao vizinho do lado, que é trolha, mas que até lê de vez em quando uns livros sobre medicina? Penso que toda a gente responderia: levaria a um neuro-cirurgião. Mas porquê? Será porque indo ao neuro-cirurgião de certeza que a pessoa fica curada? Não, porque os especialistas também cometem erros, e não têm taxas de sucesso de 100%. Será porque o trolha nosso vizinho de Página 10

certeza que iria fazer asneira? Não, porque ele até poderia fazer bem as coisas. Então porque é? Nós levamos ao neuro-cirurgião, porque ele é o especialista, e como especialista que é, tem muito maior hipótese de ter sucesso. É tudo uma questão de probabilidades, mesmo que não nos dêmos conta. Utilizamos sempre o pensamento crítico/racional, ao ir pela hipótese mais provável para ter sucesso. (daí ser irracional consultar astrólogos, por exemplo, porque esses são os tais “trolhas que lêem livros” quando a pessoa precisa de um especialista em neuro-cirurgia)

da gasolina, que é sinónimo de ter mais conhecimento sobre o assunto), podemos chegar à explicação correta.

Deixem-me agora dar um exemplo que costumo utilizar constantemente, só para exemplificar que este pensamento crítico/científico/racional é utilizado por nós a todos os momentos:

(quem acredita nas profecias de fim do mundo, ignora o pensamento científico/racional, e por isso assume que foi um unicórnio invisível voador, porque simplesmente decide nem olhar para o ponteiro da gasolina. Está no seu direito. Simplesmente não está a ser racional)

Se forem no vosso carro numa autoestrada, e o carro pára de repente, o que fazem? Imaginam que terá sido um unicónio invisível voador que atravessou o carro e o parou? Ou será que vão olhar para o ponteiro da gasolina? Obviamente que olham para o ponteiro da gasolina… Porquê? Porque esse é o pensamento científico – de seguir a hipótese mais provável. Mas se o ponteiro da gasolina vos disser que existe gasolina suficiente, então imediatamente a pessoa pensa que poderá ser do motor, e começa logo a pensar em levar o carro ao mecânico. Porquê? Porque esse é o pensamento científico – de seguir a hipótese mais provável. Vamos testando as hipóteses e seguindo aquela que nos parece mais provável. Note-se que a ciência não nega que possa ser um unicórnio voador invisível. Simplesmente, é mais provável as outras explicações. E só as testando (por exemplo, olhando para o ponteiro

Termos conhecimento das coisas, testar-se as hipóteses, e seguirmos a hipótese mais provável, são os passos mais elementares do pensamento científico. Este é o pensamento científico, e que utilizamos praticamente a todos os minutos da nossa vida… mesmo que nem nos dêmos conta (porque é um processo que está estranhado desde nascença, em que vamos testando as coisas para perceber como sobreviver no mundo). E o melhor de tudo, é que este método funciona!!!

Uma outra característica da Literacia Funcional passa por perceber as bases da natureza da ciência, ou melhor, do processo da ciência. Novamente, é algo que colocamos em prática diariamente em milhares de atividades que realizamos, mas nem nos damos conta. Faz parte da natureza da ciência, avaliar a informação que lhe chega, observar, testar, evoluir, acumular conhecimento (a ciência aumenta gradualmente em termos de conhecimento para um corpo de conhecimento cada vez mais robusto), questionar-se a si própria, rever diariamente esse conhecimento, corrigir eventuais falhas, questionar o conhecimento existente (por isso é que se evolui), etc etc, etc. (ao contrário dos pseudos e das religiões, a ciência não se faz de verdades absolutas, mas sim de um constante questionamento do conhecimento adquirido) Propositadamente, deixei de fora uma das funções mais importantes da ciência: prever.


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A ciência não faz profecias propriamente ditas, porque não tem “revelações”. Mas através do processo descrito em cima, faz previsões. Aliás, a ciência faz milhares de previsões diariamente, e tem uma taxa de sucesso praticamente de 100% !!! (nas poucas coisas em que erra, é espetacular, porque é sinal de um aumentar de conhecimento) E pensarão vocês: mas isso será em laboratórios cientificos espalhados pelo mundo, e essas experiências não estão ao alcance do comum dos mortais. E em parte estão certos: diariamente existem milhares de experiências científicas feitas em laboratórios por todo o mundo que comprovam a veracidade do nosso conhecimento científico, a que obviamente não temos acesso. Não as devemos negar, mas a verdade é que não temos acesso. No entanto, para sabermos que a ciência faz milhares de previsões diariamente, e tem uma taxa de sucesso praticamente de 100%, não precisamos desses especialistas. A verdade é que todos nós, pessoa comum, podemos testar milhentos conhecimentos científicos. Aliás, na nossa vida diária, estamos constantemente a fazer previsões científicas/ racionais, a testá-las, e a retirar conclusões delas – mesmo que nem nos apercebamos disso. Por exemplo, se a pessoa liga o computador, está à espera que ele se ligue. Antes de clicarmos no botão de “on”, prevemos o que vai acontecer. E não é que a previsão se torna realidade diariamente com uma taxa Página 11

de sucesso de 100%? (e quando eventualmente existe uma falha, baseámo-nos no conhecimento científico – de sabermos que a previsão tinha que dar certo mediante os conhecimentos científicos – para corrigir a falha, porque só a ciência nos pode corrigir essa falha. Não nos pomos a imaginar fantasmas, mas simplesmente baseámo-nos naquilo que sabemos que funciona (ciência) para extrapolar para potenciais hipóteses racionais do computador não dar) Ou seja, seguimos o pensamento científico. Deixem-me dar outro exemplo: O pensamento científico dizvos que o vosso carro estará parado na garagem, e não anda a flutuar pelo ar devido à falta de gravidade. Quando vocês vão de manhã até ao carro, a vossa previsão é que ele esteja lá… agarrado ao solo. Essa previsão tem por base somente o conhecimento científico, baseado nas inúmeras experiências passadas. Essa é uma previsão da ciência. E não é que todos os dias essa previsão científica está correta? Em milhões de vezes em que vocês já fizeram essa experiência, nem por uma vez chegaram à garagem e viram o vosso carro a voar pelo ar. Certamente que podem pensar em milhares de exemplos diários do mesmo género. Destes exemplos podem-se retirar duas conclusões: 1 – A ciência está aberta a todos. Ao contrário dos pseudo, em que alguns se acham especiais (têm “dons ocultos” ou “ligações especiais a outras dimensões”), a ciência está

LITERACIA CIENTÍFICA disponível diariamente para todos. Existem especialistas (não devemos ignorar quem sabe mais do que nós em certos assuntos – isto faz parte da Literacia Funcional), mas não existe ninguém “especial”. Qualquer pessoa pode provar o conhecimento científico. E como referi, todas as pessoas testam diariamente, por milhões de vezes, esse mesmo conhecimento científico… na rua, em casa, na escola, no trabalho… em todo o lado. 2 – A taxa de sucesso das previsões científicas é mais próxima de 100% do que qualquer outra coisa que possam imaginar! Nenhuma profecia ou ideia pseudo, alguma vez teve uma taxa de sucesso sequer próxima da ciência/pensamento científico. Ou seja, como se percebe por tudo isto, o pensamento científico funciona! E nós testámo-lo milhões de vezes todos os dias… e, mesmo assim, ele funciona praticamente sempre de forma perfeita! O pensamento científico não é algo “especial”, “extraordinário”, “estranho”, “desconhecido”, que devemos “desconfiar”. Pelo contrário, é algo comum, que toda a gente utiliza diariamente milhares de vezes, em que as pessoas confiam a 100%, e que funciona! Se temos um método que funciona de forma perfeita (ou, no mínimo, da forma mais perfeita que pode existir), que testamos diariamente a quase todos os minutos, e ele não nos deixa ficar mal… então porque sobre ideias puramente pseudo, como as profecias de fim do mundo, as pessoas preferem ignorar o conhecimento científico, preferem ignorar a taxa de sucesso da ciência, e enveredar por caminhos que comprovadamente são de insucesso? Não faz qualquer sentido… é uma estratégia puramente irracional… contra os interesses da própria pessoa. (no exemplo acima do carro parar na auto-estrada, seria como se a pessoa se negasse a olhar para o ponteiro da gasolina, se negasse a chamar o mecânico, mas continuasse na sua crença absurda que só poderia ter sido um unicórnio invisível voador) Se a pessoa além de ignorar o pensamento científico, ainda se põe a atacá-lo, então nesse caso, na minha opinião, cai no defeito da hipocrisia. A razão é simples: a pessoa não deve atacar algo que utiliza diariamente milhares de vezes. Como se costuma dizer, isso seria cuspir no prato que lhe dá de comer. Escrevi este longo texto a pensar no porquê das pessoas seguirem a irracionalidade das profecias de fim do mundo, que é a notícia de hoje. Mas como percebem, este texto aplica-se a todas as formas de irracionalidade – a todas as vezes em que as pessoas preferem seguir o insucesso das crenças pseudo (ex: pulseiras quânticas, falar com mortos, astrologia,profecias, etc), em vez de seguirem o sucesso diário, constante, e total, da racionalidade do pensamento científico; ou seja, a todas as vezes em que as pessoas preferem seguir mentiras/ vigarices, negando o conhecimento. Carlos Oliveira


Maio 2011

LITERACIA CIENTÍFICA

Como lidar com o fim do mundo... e ser feliz Caros Cidadãos do Planeta Terra, fomos informados recentemente que o vosso planeta está às portas do Apocalipse. O Império Galáctico compreende que estas notícias são sempre difíceis de entender, mas NÃO ENTRE EM PÂNICO. Nós preparamos para si um mapa de instruções com várias opções de escape, para o ajudar a lidar com esta situação deveras difícil. O Império Galáctico, deseja-lhe um bom dia. João Clérigo

O Google criou uma competição para alunos de escolas primárias e secundárias. Os concorrentes teriam que fazer um desenho com o Google. O desenho teria que se referir ao futuro. Nomeadamente, o desenho teria que responder a: Página 12

“O que eu gostaria de fazer no futuro é…” O Matteo Lopez criou o desenho em cima. Obviamente, ele gostava de ser astronauta Ele ganhou o concurso, no valor de 15 mil dólares, para os estudos dele. Carlos Oliveira

Crédito: Matteo Lopez

Astro-google


Volume 1, Edição 4

EDUCAÇÃO

Modelo Interactivo do Sistema Solar Há um mês atrás, publicamos este post, com um excelente modelo do Sistema Solar. Agora, trazemos outro modelo do Sistema Solar, em que é possível “brincar” com várias funcionalidades de forma interativa, permitindo assim aprender de diferentes formas. Recomendo mudarem a “vista”, mudarem as diversas configurações que nos são apresentadas, visitarem os planetas, verem as informações para cada planeta,

verem a distância para as estrelas, etc. Pesquisem o site, aqui. Mais uma vez, deixo aqui a configuração dos planetas para 21 de Dezembro de 2012, em que se prova, mais uma vez, que não há alinhamento planetário com a Terra: Carlos Oliveira

Tutorial sobre Coordenadas Celestes Já referimos aqui no

7º ano de escolaridade e

blog a nova versão e

quer despertar a curiosi-

funcionalidades do pro-

dade científica dos alu-

grama stellarium. Este

nos.

software torna-se uma

Veja um pequeno tuto-

ferramenta essencial e

rial (um vídeo dividido

de consulta para quem

em duas partes) na nossa

é astrónomo amador e

página.

quer fazer uma observação nocturna (veja-se o exemplo do post de hoje sobre a Ursa Maior), ou então para quem ensina Física no Página 13

José Gonçalves


Maio 2011

EDUCAÇÃO

Prata Portuguesa na I-SWEEEP Duas alunas do Colégio dos Carvalhos, em Gaia, vieram até Houston, nos Estados Unidos, para participar nas Olimpíadas da Ciência referentes ao Ambiente (I-SWEEEP). O projeto delas é amigo do ambiente, aproveitando os recursos do sol na

construção civil. Leiam aqui. Já em Houston, as alunas Rita Costa e Teresa Vaz, ambas com

17 anos, sob a orientação do professor José Manuel Silva, venceram o segundo prémio. Leiam aqui. Carlos Oliveira

ARISS – Amateur Radio on International Space Station A Escola EBI/JI de Montenegro realizou um contacto via rádio com a astronauta Catherine Coleman, na Estação Espacial Internacional, no dia 23 de Maio, às 13h36, no auditório da escola. Neste contacto, vinte alunos colocaram uma questão em inglês aos astronautas sobre a exploração espacial e a vida dos astronautas na Estação Espacial Internacional. Foram 15 minutos inesquecíveis, onde os alunos colocaram várias questões sobre Página 14

o que se come no Espaço, se acredita que o Homem vai pisar Marte nos próximos dez anos ou qual a pior coisa que já lhe aconteceu lá em cima. “I hear you loud and clear”, alto e bom som, respondeu Catherine, depois de cerca de um minuto de chamadas a partir da Terra, sem qualquer resposta. Este projecto foi implementado com o apoio da REP (Rede de Emissores Portugueses), responsáveis pelo equipamento técnico

e pela presença do radioamador. Quase um ano depois do início do projecto, 15 minutos em directo com a ISS. Muito trabalho envolvido, mas uma experiência fantástica. Mais informações e fotos sobre esta inesquecível experiência aqui, aqui e aqui. Leia aqui a notícia da ESA sobre este contacto. Patrícia Raposo


Volume 1, Edição 4

IMPRENSA

Halo em Fátima Hoje é 13 de Maio. Muita gente vai em peregrinação ao Santuário de Fátima. As pessoas viram um Halo Solar. E muitas delas começaram a gritar que aquilo era um milagre, como podem leraqui e aqui. O facto de muitas pessoas interpretarem como um milagre, evidencia a falta de cultura das pessoas que entram neste tipo de religiosidades. Já um jornalista do Expresso (o artigo não está assinado) ter escrito que “esta imagem (…) será, sem dúvida, única” só prova que de jornalista tem muito pouco. É que bastariam 5 segundos no Google para ver milhões de fotografias de Halos Solares – ou os mais de 5000 vídeos no YouTube -, e se esse mesmo jornalista do Expresso fôr para Fátima várias vezes, certamente que verá mais Halos Solares nessa zona (ou noutra qualquer) e poderá tirar várias fotografias “únicas” todas iguais… O facto de isto ser um fenómeno normal, é dito pela SIC: “Para lá das crenças, a ciência tem uma explicação para o que aconteceu hoje em Fátima. A comunidade científica chama-lhe halo solar. Um fenómeno que acontece quando pequenos cristais de gelo suspensos na atmosfera reflectem a luz do Sol. Nestes casos, os cristais estão na ténue nuvem alta que se atravessa à frente do astro. Consoante o tamanho ou espessura, o resultado pode ser o que aconteceu hoje em Fátima, ou mesmo um circulo com o espectro de cores do arco-íris. Por vezes, o halo também se forma em noites de Lua Cheia. Cheia está a Internet de registos mais ou menos esotéricos do arco que NÃO é inédito.” Página 15

Crédito: Alberto Frias / Expresso

Como diz a Wikipedia: “Um halo é um anel de luz que rodeia um objeto. Os halos formam-se a 5-10 quilómetros, na troposfera superior. A forma e a orientação particulares dos cristais são responsáveis para o tipo de halo observado. A luz é refletida e refractada pelos cristais de gelo e pode-se dividir em cores por causa da dispersão, semelhante ao arco-íris.” Podem certamente ler a mesma explicação noutros lados, como aqui. Aliás, este fenómeno óptico é tão normal que antigamente era utilizado para prever o tempo!!! Concluindo: não existe milagre. Existe sim um fenómeno que é normal, e que é perfeitamente explicado pela ciência. O mundo seria excelente se as pessoas em vez de gritarem “milagre”, tentassem compreender as causas dos fenómenos. E o mundo seria menos inculto se as pessoas entendessem o quanto a ciência é importante na sua vida diária. Quiçá até fariam romarias

para agradecer todos os benefícios que a ciência lhes dá diariamente… ———————————————— —— Tendo em conta o elevado número de comentários que existem, e a existência de comentadores que não sabem sequer compreender textos simples, resolvi acrescentar esta parte ao post, de modo a tentar clarificar as mentes mais “sensíveis”. 1 – Este post é sobre um fenómeno perfeitamente explicável pela ciência – é um fenómeno que existiu igualmente no dia anterior e no dia seguinte, e que acontece regularmente (várias vezes por semana). 2 – Este post critica alguns jornalistas que em vez de fazerem o trabalho para o qual são pagos (que envolve investigarem sobre os assuntos), preferiram ser levados pelas crenças próprias. 3 – Neste sítio de ciência, obviamente que se defende o pensamento crítico, a cultura, a verdade, e as explicações científicas. Infelizmente, nem toda a gente é


Maio 2011

IMPRESA

Halo em Fátima (cont.) capaz de compreender isto. A compreensão de textos é algo que é ensinado na escola primária. Infelizmente, algumas pessoas esqueceram-se de como ler um texto. Isto denota uma completa ausência de literacia funcional, a mais importante forma de literacia na sociedade atual. Daí que como há várias pessoas que infelizmente não se sabem comportar, somos obrigados a moderar vários comentários. Não serão aprovados (como ainda agora fiz a mais 2) comentários de pessoas iliteradas que não sabem respeitar os outros e que se limitam a insultar com argumentos à pessoa (em vez de falar no fenómeno). Se não sabem ler e por isso erradamente assumem que se está a atacar a fé das pessoas, ao menos sejam educados o suficiente para respeitarem a opinião dos outros, em vez de os atacarem pessoalmente – ainda agora mais um iliterado enviou um comentário a insultar os meus “óculos” (para os pseudos, a escolha da côr de uns óculos é a razão mais importante para saber se a pessoa sabe sobre o fenómeno quase diário do Halo Solar)… ou seja, como não têm comentários inteligentes para fazer, resolvem insultar os gostos das pessoas… enfim… Já viram se os não-crentes na Igreja Católica fossem para sítios onde a crença Católica é divulgada, entrando pelas Igrejas dentro, e insultando as pessoas disto e daquilo? Certamente que seria um ato violento, sem qualquer desculpa, irracional, e uma total estupidez. No entanto, esta é a atitude Página 16

dos fundamentalistas crentes que resolveram comentar aqui. Entraram por um sítio de ciência, e resolveram insultar quem detém o conhecimento. Além de ser um perfeito disparate, é uma total hipocrisia, porque quem detém o conhecimento é quem lhes dá computadores e internet, ou seja, cospem no prato que utilizam todos os dias. O respeito não é algo que deve ser dado só aos crentes religiosos – o respeito deve funcionar para os dois lados! Tal como eu quando entro numa Igreja tenho respeito pelas crenças de quem lá está, quem entra em sítios de ciência, como o AstroPT, deve ter respeito pelas pessoas que cá estão. Infelizmente, a cegueira, o fundamentalismo, a falta de educação, e a iliteracia de alguns crentes não lhes permite ter esse respeito por quem tem ideias diferentes das deles. Muitos crentes querem ser respeitados nas suas crenças, mas hipocritamente não respeitam as crenças nem o conhecimento dos outros. Felizmente, existem outros crentes que têm abertura de mente e clareza de espírito para discutirem respeitosamente com outras pessoas. Se ainda tiverem dúvidas sobre isto, antes de escreverem comentários ignorantes em que só deixam ficar mal os crentes e a Igreja Católica, leiam estes meus comentários: - comentário nº 2: explico que o post é a criticar os maus jornalistas. Mas realço que também existem excelentes jornalistas. - comentário nº 2.1.1: exemplifico este mau jornalismo, comparando

com outras notícias caso fossem transmitidas da mesma forma. - comentário nº 14: escrevi que acho uma patetice os comentários de certas pessoas. O fundamentalismo religioso (que nega as evidências), expresso por vários comentadores, dá muito má imagem à Igreja. Felizmente que tenho muitos amigos religiosos, alguns deles padres – estas amizades vêm algumas delas dos 14 excelentes anos que vivi nos Salesianos -, e por isso não generalizo estas pessoas com a mente fechada para toda a Igreja. Neste comentário afirmo inclusivamente que tenho um grande amigo que é pároco, com quem converso constantemente, e que faz um enorme trabalho pela comunidade. A diferença é que ele é inteligente, sabe conversar, sabe analisar os fenómenos, e por isso é que, tal como eu, ele é contra todos os crentes fundamentalistas ignorantes que lhe aparecem à frente (como alguns que apareceram por aqui). - comentário nº 9.1: explico a subjetividade em assumir-se sinais de X ou Y, que é contrário ao pensamento racional. - comentário nº 39.1: explico estatística, até com a ajuda do facto de se ter visto o mesmo fenómeno no dia anterior. Explico igualmente o paradoxo que é acreditarse num Deus criador do Universo, ao mesmo tempo em que se acredita em deuses pequeninos que são deuses da chuva, do Sol, e de diversas características que uns “descendentes” de macacos vão vendo num invisível pedaço de pó no Universo. Ou se acredita num Ser Criador de todo um Gigantesco Universo, ou se acredita num “God of


Volume 1, Edição 4

the Gaps”. Acreditar-se nos dois tipos de deusesdemonstra que as pessoas nem sequer refletem sobre aquilo em que acreditam. - comentário nº 32.1.2: explico um pouco da natureza da ciência. - comentário nº 37.1: explico como se deve analisar o processo de “milagres” utilizando o pensamento crítico. - comentário nº 9.2: dou a ideia de espiritualidade que sabemos que é a verdade, e que nos é transmitida pela ciência, pela vida, e pelo Universo. - comentário nº 42.1: deixo aquilo que me parece ser um excelente sumário do que se tem passado em muitos comentários. Daí que vou reproduzir de novo essas minhas palavras: “Há uma tremenda falta de literacia. As pessoas não sabem ler e compreender textos. Parece que nunca fizeram a escola primária. Vai daí, num post a alertar para o mau jornalismo de alguns jornalistas em Portugal que nem pesquisaram sobre o fenómeno do Halo Solar, e explicando que o que aconteceu é um fenómeno que acontece constantemente e é perfeitamente explicável pela ciência… alguns religiosos de vistas muito curtas sentem-se atacados na sua fé por se ter explicação para o fenómeno. Sinceramente, parece-me que isto demonstra 2 coisas: - percebe-se que estas pessoas que se sentem atacadas só por um determinado fenómeno já ter explicação, são pessoas de pouca fé (precisam que este fenómeno seja um sinal de Deus, para assim acreditarem Nele). Página 17

IMPRENSA

- devido à irracionalidade, falta de pensamento crítico, e fundamentalismo religioso destas pessoas… é por isso que a Igreja depois tem mau nome pelas comunidades, e por isso é que cada vez mais gente foge dela. Felizmente, tenho muitos bons amigos na Igreja Católica para saber que eles próprios se sentem envergonhados com a falta de cultura e a falta de inteligência demonstradas por alguns crentes-comentadores que apareceram por aqui.” Carlos Oliveira

Aproveitei, e coloquei também a reportagem vídeo da SIC. Carlos Oliveira

Halos e arcos sobre Lisboa

Halo em Fátima ainda dá que falar… O post sobre o Halo em Fátima teve em 2 dias, mais de 130 comentários, o que representa um recorde aqui no blog. Infelizmente, vários desses comentários foram totalmente despropositados. Inclusivé recebemos vários outros comentários que decidi não aprovar porque não tinham qualquer nexo; se tivesse aprovado, o número de comentários seria ainda maior. De qualquer modo, devido a vários comentários demonstrarem que as pessoas não conseguiram compreender as poucas linhas do post, decidi escrever uma clarificação no próprio post. Curiosamente, a clarificação é maior que o post original. Se quiserem ler o que acrescentei ao post, cliquem aqui.

Halo circular a 22º e arco circumhorizontal sobre Lisboa. Crédito: Sérgio Paulino.

Mais do que reafirmar a vulgaridade dos halos atmosféricos, venho mostrar-vos uma interessante coincidência de dois destes fenómenos esta tarde sobre Lisboa. Na imagem, a cerca de 22º do Sol, podem observar um halo circular semelhante àquele visto em Fátima no dia 13 de Maio. Mais distante do Sol, a cerca de 46º na direcção do horizonte, encontra-se um menos comum arco circum-horizontal. Tais como os halos, os arcos resultam da refracção e reflexão da luz solar em pequenos cristais de gelo em suspensão na atmosfera. Sérgio Paulino


Maio 2011

HISTÓRIA

O que nos Representam as Estrelas? – A Passagem da Tradição Como o eixo da Terra é instável e se move como um peão com um período de 26 mil anos, os astrónomos são capazes de calcular qual a posição das estrelas numa determinada época. A precessão é a oscilação do pólo da Terra. Este movimento, causado pelas forças de maré originadas pela Lua, faz com que as posições das estrelas se desloquem relativamente a nós ao longo dos séculos, lentamente. (ler mais sobre Precessão aqui e aqui) Outro deslocamento espacial ocorre com o Sol a cruzar o equador celeste em direcção ao norte. Este movimento altera as constelações zodíacas a cada dois mil anos. Estes movimentos do nosso planeta foram descobertos por Hiparco e eram o segredo do mitraísmo, religião que teve o seu auge nos séculos II e III. O segredo central desta religião era a existência de um deus superior, o Mitra, que desloca toda a estrutura do Cosmos ( a precessão). (SCIAM Edição Especial “Etnoastronomia”) Egiptólogos britânicos conseguiram, por este método, determinar com precisão a data de construção da Pirâmide de Gizé. Página 18

Num artigo na revista científica Nature, Kate Spence mostra que os erros de orientação em pirâmides construídas antes e depois de 2467 a.C. mostram com precisão o desvio gradativo do alinhamento do pólo norte. Assim, é possível determinar o ano de construção. (BBC Brasil) A tradição de Eudóxio, já aqui referido, vem de uma época e um local. O local será a latitude de 36º e por volta de 1130 a.C. Assim, Eudóxio terá copiado dados observacionais com mais de 700 anos naquela época. Ao saber, agora, de quando e onde eram efectuados os registos astronómicos podemos verificar que houve uma transição de tradições entre as diferentes civilizações. Em primeiro lugar, há registos da

constelação Gémeos no Egipto que datam de 6000 a.C.. Esta constelação é confirmada na Grécia por volta do ano 1100 a.C. A constelação Sírius é registada também pelos egípcios por volta de 3000 a.C. onde era conhecida como Cão Maior. Mil anos mais tarde aparecem registos nos hiitas e no século VII a Grécia registava a mesma constelação. A constelação Órion teve o mesmo trajecto. Áries ou Carneiro foi registado por volta de 2500 a.C e no século VI na Grécia. Podemos descobrir que as constelações foram copiadas de povos para povos, pois ao longo dos anos as constelações movem -se na abóbada, mas não na pedra caligrafada. Hiparco copiou os mesmos documentos de


Volume 1, Edição 4

Eudóxio por volta do ano 900. Os dados combinam com as tábuas MUL.APIN o que sugere que Eudóxio copiouMUL.APIN e Hiparco copiou Eudóxio. Actualmente, a Estela Polar é a que nos dá o Norte. No entanto, em 2700 a.C era a estrela Turban que nos dava o Norte e Vega ocupava essa missão há 14 mil anos. Actualmente o equinócio da Primavera situa-se em Aquário, antes estava em Peixes e na época grega clássica em Áries. Da Mesoptâmia e da Ásia vieram tradições. Essas tradições foram para a Grécia e para o Império Romano. Sabe-se que há registos antigos na Sibéria, na Austrália, na América Central e no Sul da

HISTÓRIA

América do Sul, onde é o Perú. Houve, de certo, tradições perdidas mas algumas foram transmitidas por terra, por mar e em colunas comerciais. Em suma, a tradição mostrou-se vital em algumas civilizações. Mostrou-se preditiva de desastres ou de capacidade de adquirir mantimentos, como é o caso dos Boorongs. A observação dos céus passou de imaginações e estórias entre deuses para predi-

ções minuciosas que davam alimento ao povo. Mais recentemente, a Astronomia serviu de calendário e de orientação para a navegação. Contudo, persiste outra faceta, um resquício de Neandertal que permite a elaboração de estórias e invenção de instruções para a vida. Uma característica que ficou enraizada nas tradições mais profundas do ser humano, nos medos e nos desejos. A isto podemos chamar de Astrologia. Dário S. Cardina Codinha

Arqueologia Espacial Ainda hoje falei de Arqueologia, e vou voltar agora à mesma matéria, em mais uma demonstração das Vantagens da Exploração Espacial. A arqueóloga Sarah Parcak usou satélites para descobrir 17 pirâmides no Egipto que até agora eram totalmente desconhecidas. Satélites a 700 quilómetros da Terra, equipados com câmaras de infravermelhos detetaram as pirâmides que se encontram abaixo do solo, além de milhares de outros sítios com interesse. Agora, é só escavar . “A arqueologia espacial “substituiu” Indiana Jones. Imagens de satélite sobre o Egipto permitiram descobrir 17 pirâmides que estavam desaparecidas e três mil infra-estruturas escondidas debaixo do solo, num trabalho pioneiro de arqueologia espacial de um laboratório em Alabama, apoiado pela NASA.” Leiam o artigo no Público, e o original da BBC.

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Carlos Oliveira


Maio 2011

ASTRONÁUTICA

R.I.P. Spirit A NASA anunciou que desistiu de tentar restabelecer contacto o rover marciano Spirit, depois de 14 meses sem nenhum sinal de vida. De lembrar que o Spirit ficou atolado na areia em maio de 2009. Por isso, a orientação dos painéis solares do Spirit não era a ideal, o que juntando à acumulação de pó, provocou uma deficiente produção de energia. Assim, este não terá tido energia suficiente para manter a funcionar os aquecedores, que o permitiriam sobreviver ao inverno marciano. O último “sinal de vida” do Spirit foi enviado há 14 meses atrás. No entanto, o seu irmão gémeo Opportunity continua na sua missão à superficie de Marte. Mais informações no site NASA/ JPL. CAUP ——————————————— Bem, de qualquer modo, esta missão teve um sucesso extraordinário!!! Tinha um prazo de 3 meses, e durou 7 anos!!!! http://astropt.org/ blog/2011/01/04/parabensrovers/ Em parte, foi devido a algumas surpresas positivas, que só com missões destas se consegue ter. Pensavam que as placas de energia solar iriam ficar cheias de pó, e daí que não iriam poder mais Página 20

absorver energia. Mas o que se viu foi que as tempestades de pó, em vez de colocarem pó em cima das placas, limpavam-nas. Fantástico Quando ficou atolado, percebeuse que era grave http://astropt.org/ blog/2009/08/28/spirit-estapreso/ http://astropt.org/ blog/2011/02/14/spirit-atoladaem-solo-marciano/ Mas continuou a fazer ciência, mesmo parado num sítio. Em vez de rover, tornou-se num estilo de sonda que pousa num planeta. http://astropt.org/ blog/2010/11/02/spirit-atoladodetecta-agua/

O problema é que ao não se poder virar, não consegue absorver tanta energia solar… e foi perdendo energia e perdendo e perdendo Sem energia, era um desperdício de dinheiro tentar mantê-lo… e a NASA tem mesmo que cortar gastos… por isso, lá se foi o Spirit Os últimos comandos foram enviados esta 4ª feira de manhã: http:// www.nytimes.com/2011/05/25/ science/space/25rover.html Espero que tenham enviado um elogio fúnebre. Cheers for everything!!! We’ll miss you! Long Live Spirit!!! Carlos Oliveira


Volume 1, Edição 4

ASTRONÁUTICA

Alan Shepard, 50 anos na História O mundo já tinha sido espantado por mais um feito espectacular por parte da União Soviética a 12 de Abril de 1961 ao colocar Yuri A. Gagarin em órbita a bordo da Vostok-1. Correndo agora para o segundo lugar, os Estados Unidos preparavam o lançamento da sua primeira missão espacial tripulada. O principal objectivo científico do Projecto Mercury era o de determinar as capacidades do ser humano num ambiente de voo espacial e através das condições que teria de suportar para atingir o espaço exterior. Alguns dos problemas a resolver incluiam o desenvolvimento de um sistema automático de emergência, o problema do controlo do veículo durante a inserção orbital, o comportamento dos sistemas a bordo em órbita, a avaliação das capacidades dos astronautas no espaço, a monitorização durante o voo, a retrotravagem e manobras de reentrada e os procedimentos de amaragem e recuperação. O plano inicial do projecto Mercury previa o lançamento de sete missões suborbitais tripuladas antes de passar à fase seguinte: o voo orbital tripulado. Porém, e com o sucesso do voo de Gagarin, a NASA decidiu cancelar os voos suborbitais após a missão da Liberty Bell-7. O primeiro voo tripulado do projecto teve lugar a 5 de Maio de 1961. A contagem decrescente para o lançamento da MR-3 (Mercury Redstone3) teve início a 4 de Maio (após uma tentativa falhada em finais de Abril Página 21

devido ao mau tempo). A contagem decrescente foi dividida em duas partes porque a experiência anterior havia mostrado que era preferível correr a contagem decrescente em dois segmentos mais curtos e permitir assim às equipas de controlo da cápsula espacial e do lançador descansarem entes de se iniciar as operações finais. A contagem decrescente começou às 1330UTC do dia 4 de Maio. Todas as operações decorreram sem problemas e foram finalizadas antes do previsto. Uma paragem na contagem decrescente foi decretada a T-6 h 30 m, e durante este tempo os vários dispositivos pirotécnicos foram colocados no veículo procedendo-se também à preparação do sistema de peróxido de hidrogénio. A contagem decrescente foi retomada às 0430UTC do dia 5 de Maio. Uma nova paragem de uma hora foi decidida previamente para ocorrer a T-2 h 20 m e serviu para garantir que os preparativos da cápsula espacial haviam sido finalizados antes do transporte do astronauta para a plataforma de lançamento LC -5 do Cabo Canaveral. A contagem decrescente prosseguir com pequenos atrasos até T-2 h 20 m. Nesta altura, foram levados a cabo os preparativos finais da cápsula espacial e o astronauta foi transportado para a plataforma de lançamento. A contagem decrescente prosseguiu até T15 m, mas nesta altura os técnicos aperceberam-se que a cobertura fotográfica do lançamento e do voo não seria possível devido à presença de nuvens baixas junto da plataforma de lançamento. Os meteorolo-

gistas previram que o tempo iria melhorar dentro de 20 a 45 minutos. Durante este tempo, surgiu um problema com um dos conversores de corrente no foguetão Redstone. A contagem decrescente foi reciclada para T-35 m, sendo retomada 85 minutos mais tarde após a resolução do problema. De novo a T-15 m a contagem decrescente foi suspensa para se executar uma verificação final no computador de controlo da trajetória em tempo real. Devido à prolongada espera no interior da sua cápsula, o astronauta Alan Barlett Shepard a certa altura solicitou autorização para ser retirado para poder ir a uma casa de banho. Como era impossível fazer isto sem adiar o lançamento, o astronauta foi autorizado a urinar no interior do seu fato espacial. Finalmente, o lançamento acabaria por ter lugar às 1434UTC. O voo decorreria sem qualquer problema e teria uma duração de 15 minutos e 28 segundos, atingindo uma altitude de 187,5 km e viajando 487,6 km, amarando no Oceano Atlântico. Rui Barbosa


ASTRONÁUTICA

Maio 2011

Alan Shepard há 50 anos atrás – o 1º americano a “correr” atrás do Gagarin O Rui Barbosa já escreveu este post sobre este assunto. Faz hoje 50 anos que Alan Shepard fez história. O primeiro voo espacial (suborbital) tripulado dos EUA teve lugar a 5 de Maio de 1961, e durou 15 minutos e 28 segundos. Leiam aqui. A APOD de hoje faz referência a isso. A NASA mostra o trajeto da cápsula . E a Space.com fez um infografia muito interessante sobre este assunto .

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Carlos Oliveira

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Volume 1, Edição 4

ASTRONÁUTICA

A evolução do fato espacial

O astronauta Americano Alan Shepard possa para o fotografia num fato prateado de 1963, nos primeiros tempos do programa espacial.

Este fato espacial pouco flexível feito no início dos anos 60, foi projectado para proteger os astronautas da Apollo, durante a “caminhada” na lua. Embora nunca tenha sido usado.

O fato espacial do astronauta Edwin “Buzz” Aldrin durante a alunagem em 1969.

Este é um fato interior utilizado para refrigerar. Contém um sistema de arrefecimento liquido, que impede os astronautas de sobreaquecerem.

Membros da tripulação da Gemini 3, em 1964. As caixas junto dos fatos são ar-condicionados portáteis para impedir o sobreaquecimento dos astronautas nos seus fatos pressurizados.

O fato do astronauta Bruce McCandless em Abril de 1983. A foto foi feita durante o voo do space shuttle Challenger.

Este fato projectado pela engenheira do MIT, Dava Newman numa altura em que a NASA equaciona a possibilidade de voltar à Lua e uma missão a Marte. É engraçado verificar que a posição desta astronauta seria impossível com os outros fatos. Para lerem mais sobre cada um dos fatos, podem fazê-lo na National Geographic. Conceição Monteiro

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O vaivém espacial OV-105 Endeavour O vaivém espacial OV-105 Endeavour foi a última adição à frota de vaivéns espaciais dos Estados Unidos, tendo sido construído como substituto do vaivém espacial OV-099 Challenger. O Endeavour foi baptizado em honra do navio com o mesmo nome utilizado por James Cook no Século XVIII. Na viagem inaugural do Endeavour em Agosto de 1768, Cook navegou no Pacífico Sul para observar e registar o trânsito de Vénus entre a Terra e o Sol. A determinação do trãnsito de Vénus permitiu aos astrónomos determinar a distância do Sol à Terra que poderia depois ser utilizada como uma unidade de medição no cálculo dos parâmetros do Universo. Em 1769, James Cook foi o primeiro a mapear por completo a Nova Zelândia. As viagens de Cook também estabeleceram a utilidade do envio de cientístas em viagens d eexploração. Enquanto navegavam com Cok, os naturalistas Joseph Banks e Carl Solander recolheram muitas novas famílias e espécies de plantas, e encontraram muitas novas espécies de Página 24

animais. Pela primeira vez uma competição nacional que envolveu estudantes de escolas elementares e secundários nos Estados Unido, foi utilizada para baptizar o novo vaivém espacial. O seu nome foi anunciado pelo Presidente George Bush em 1989. O Endeavour chegou pelaprimeira vez ao Centro Espacial Kennedy

em maio de 1991 e voou a sua primeira missão em Maio de 1992. Neste primeiro voo o Endeavour recuperou e recolo-

cou em órbita um satélite de comunicações. O contrato para a construção do Endeavour foi atribuído a 31 de Julho de 1987 e o início da montagem estrutural da fuselagem posterior teve lugar a 28 de Setembro do mesmo ano (a montagem estrutural do módulo da tripulação havia sido iniciada a 15 de Fevereiro de 1982… sim, 1982!). As asas do Endeavour chegaram às instalações da Rockwell em Palmdale a 22 de Dezembro. A montagem final teve início a 1 de Agosto de 1988 e foi finalizada a 6 de Julho de 1990. O Endeavour deixou as instalações de fabrico a 25 de Abril de 1991 e foi transportado para o Centro Espacial Kennedy onde chegou a 7 de Maio de 1991. O Flight Readiness Review teve lugar a 6 de Abril de 1992 e a sua primeira missão teve lugar a 7 de Maio de 1992 (STS-49). O Endeavour completa assim 25 missões espaciais percorrendo um total de 166.003.247 km. Transportou 148 astronautas e todas as suas missões tiveram uma duração de 280 dias 9 horas 39 minutos e 44 segundos. Rui Barbosa


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O último voo do Endeavour O vaivém espacial OV-105 Endeavour, o mais novo de todos os vaivéns espaciais norte-americanos, iniciou a sua última missão espacial às 1256:26UTC do dia 16 de Maio de 2011. O lançamento teve lugar desde a Plataforma de Lançamento A do Complexo de Lançamento LC-39 do Centro Espacial Kennedy, Florida. A bordo do Endeavour seguem seis astronautas, sendo cinco norteamericanos e um italiano. O Endeavour é comandado por Mark Edward Kelly na sua quarta missão espacial. O Piloto do Endeavour é Gregory Harold Johnson que participar na sua segunda missão espacial. Os quatro Especialistas de Missão são Edward Michael Fincke (3ª missão), Roberto Vittori (Itália – 3ª missão), Andrew Jay Feustel (2ª missão) e Gregory Errol Chamitoff (2ª missão). O principal objectivo da missão STS-134 / ISS ULF5 é o transporte, entrega e colocação do espectómetro AMS-2 (Alpha Magnetic Spectrometer), um detector que foi desenhado para operar a partir da ISS e procurar por vários tipos de partículas de matéria. A bordo do vaivém espacial seguem partes

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sobressalentes para a ISS no ExPRESS Logistics Carrier -3 (ELC-3), entre as quais duas antenas de comunicações em banda S, um tanque de gás a alta-pressão, um conjunto que compõe um tanque de amoníaco, caixas interruptores, um computador para o Canadarm2 e um braço suplente para o robot Dextre. O ELC3 também transporta um conjunto de experiências para o Departamento de Defesa que irão testar sistemas e conceitos de materiais para o voo espacial de longa duração na órbita terrestre baixa. A missão STS-134 incluí quatro passeios espaciais (actividades extraveículares) que estarão focadas na manutenção da ISS, troca de experiências no exterior e transferência do sistema de sensores OBSS para a ISS. A tripulação irá deixar o sistema de sensores como um elementos permanente para o auxílio de futuros passeios espaciais a partir da ISS. Durante a missão, e após o Endeavour se separar da ISS, o vaivém irá aproximarse de novo da estação para testar novas tecnologias de sensores que poderão facilitar as futuras acopolagens de veículos à ISS. O Endeavour irá agora passar os próximos dois dias numa verdadeira persegui-

ção à estação espacial. No segundo dia da missão a tripulação irá levar a cabo a usual inspecção do sistema de protecção térmica do vaivém utilizando o sistema de sensores OBSS ligado ao Canadarm. Enquanto decorre a inspecção, os astronautas Fincke e Feustel irão preparar os fatos extraveículares que serão transferidos para a ISS após a acopolagem e que serão urtilizados nas quatro actividades extraveículares. Após a inspecção e a arrumação do sistema de sensores OBSS, o braço robot do Endeavour irá ser conectado ao ELC3 para assim preparar a sua transferência para a ISS pouco tempo após a acoplagem.~ No terceiro dia da missão o Endeavour irá aproximarse e acoplar com a ISS. O sistema STORRM (Sensor Test for Orion Rel-nav Risk Mittigation) irá começar a obter dados num computador no interior do vaivém durante a fase de aproximação e acoplagem. A manobra de reaproximação irá acontecer mais tarde na missão. Após a abertura das escotilhas entre o vaivém e a estação, ambas as tripulações irão começar a trabalhar na utilização do Canadarm do Endeavour para a transferência do ELC3 a partir do porão de carga do vaivém, sua transferência e entrega ao Canadarm2 e instalação na ISS. O AMS-2 será instalado no quarto dia de voo. De forma similar ao que foi feito com o ELC3, os braços robot do vaivém espacial e da ISS irão trabalhar em conjunto para a instalação do espectrómetro. As tripulações irão também começar a transferir equipamentos e mantimentos entre o Endeavour e a ISS, começando os preparativos para a primaira actividade extraveícular. As


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O último voo do Endeavour (cont.) tripulações irão rever a coreografia do passeio espacia, enquanto que Feustel e Chamitoff irão passar a noite no interior do módulo Quest. Cada um dos quatro passeios espaciais irá ter uma duração de seis horas e serão levados a cabo por três elementos da tripulação do Endeavour. Feustel é o astronauta líder para estas actividades. Tendo já levado a cabo três passeios espaciais, ele irá envergar um fato com riscas vermelhas. Fincke já levou a cabo seis passeios espaciais e irá envergar um fato extraveícular sem qualquer marca. Chamitoff irá levar a cabo o seu primeiro passeio espacial e irá envergar um fato com riscas vermelhas interrompidas. No quinto dia de voo, Feutel e Chamitoff irão recuperar duas experiências de exposição de materiais e instalar um novo conjunto de experiências no ELC2. Irão instalar sistemas de fornecimento de amoníacona estrutura da ISS, irão verter nitrogénio de um sistema de amoníaco e proceder à instalação de um sistema externo de comunicações wireless que permitirá as comunicações com os ELC montados nos segmentos P3 e S3 da ISS. No sexto dia de voo a tripulação irá transferir o sistema OBSS para a ISS que estará assim pronto para qualquer inspecção mais detalhada que possa ser necessária. A tarde do sexta dia será uma tarde livre para os astronautas e Feustel e Fincke irão passar a noite no Quest. Durante a segunda actividade extraveícular, no 7º dia de voo, Feustel e Fincke irão reabastecer os radiadores da estrutura P6 com

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amoníaco. Irão também finalizar os procedimentos para verter o sistema de amoníaco no P6, lubrificar o sistema de juntas num dos painéis solares e lubrificar uma parte do Dextre. O 8º dia de missão incluí a transferência de equipamento e mantimentos, e tempo livre adicional para os astronautas. No final do dia, Feustel e Fincke não irão passar a noite no módulo Quest dado que o terceiro passeio espacial irá ser antecedido de um novo protocolo de preparação do corpo dos astronautas para prevenir a doença de despressurização enquanto envergam os seus fatos espaciais extraveículares de baixa pressão. Os novos preparativos para o passeio espacial, denominados “in-suit light exercise”, não requer que os astronautas passem a noite a pressão reduzida e deverá utilizar menos oxigénio que está armazenado a bordo da ISS. Após envergarem os fatos na manhã do terceiro passeio espacial, Feustel e Fincke, irão levar a cabo um ligeiro exercício ao “caminhar” durante 50 minutos, e depois descansarem durante 50 minutos. Após o passeio espacial os membros da tripulação e as equipas de suporte no solo irão avaliar o novo procedi-

mento para determinar se será utilizado na quarto e última excursão. O terceiro passeio espacial no 9º dia de voo será utilizado para a instalação de um novo dispositivo PDGF (Power and Data Grapple Fixture), bem como os cabos de fornecimento de energia e de dados que lhes estão associados no módulo Zaryapara suportar operações robóticas a parte do segmento russo da ISS. Irão também instalar cabos adicionais para proporcionar um fornecimento redundante de energia ao segmento russo da estação espacial. A “inspecção tardia” no escudo de protecção térmica do Endeavour irá ter lugar no 10º dia de voo. esta inspecção é usualmente levada a cabo após a separação entre os dois veículos, mas terá de ser levada a cabo neste dia pois o sistema OBSS foi já transferido para a ISS. Entretanto na estação espacial a tripulação irá iniciar três dias de trabalhos de manutenção do dispositivo que remove o dióxido de carbono da atmosfera da ISS. Fincke e Chamitoff deverá passar a noite no Quest caso os resultados do novo protocolo de preparação para as actividades extraveículares não seja aprovado. No 11º dia de voo, durante o quarto e último passeio espacial da missão, os dois astronautas irão fixar o OBSS para armazenamento na


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interface entre as estrutyra S0 e S1. Os dois astronautas irão também recolher o FDGF da estrutura P6, remover o dispositivo de fixação electrónica do OBSS e substituílo com o dispositivo do PDGF do P6. Os dois astronautas irão então libertar dois dispositivos de fixação do Dextre e substituir partes do sistema de protecção térmica num dos tanques de gás no Quest. Esta será a última actividade extraveícular que será levada a cabo por uma tripulação de um vaivém espacial, pois o único passeio espacial previsto para a missão STS-135 será conduzido por dois elementos da estação espacial (Michael Fossum e Ronald Garan). O dia 12 da missão do Endeavour incluí a organização do equipamento utilizado nos passeios espaciais e mais trabalhos de transferência entre os dois veículos antes do encerramento das escotilhas. O 13º dia inicia-se com a separação do Endeavour e continuará com o principal objectivo da experiência STORRM. Uma vez separado da ISS, o Endeavour deverá levar a cabo um voo em torno da estação espacial com a tripulação a obter imagens detalhadas da sua estrutura externa que servirá como uma imporPágina 27

tante documentação para as equipas em Houston para monitorizar o laboratório espacial. Terminada a manobra em torno da estação, o Endeavour activará os seus motores para se afastar da ISS. Uma segunda activação dos motores do vaivém, que usualmente serviria para afastar ainda mais o vaivém, servirá como a primeira de várias manobras para fazer o vaivém aproximar-se da ISS para o teste dos sensores. A reaproximação irá imitar a trajectória de aproximação do veículo Orion. O teste irá categorizar a performance dos sensores no porão de carga do Endeavour e a sua aquisição por parte de reflectores num alvo de acoplagem na estação. Cerca de cinco horas após a acoplagem, os motores do Endeavour serão novamente activados para se afastar de vez da vizinhança da estação espacial. O 14º dia de voo será utilizado para a verificação do sistema de controlo de reacção do Endeavour e das superfícies aerodinâmicas de controlo. Ambos os sistemas serão utilizados no regresso à Terra. A última aterragem do Endeavour está prevista para ter lugar no 15º dia de voo no Centro Espacial Kennedy. Rui Barbosa

ASTRONÁUTICA

Endeavour e o AMS O vaivém espacial Endeavour, no seu último lançamento, leva uma carga especial: O Espectrómetro Magnético Alfa (ou AMS-02). O AMS-02 é um instrumento para medir as partículas e sua velocidade, especialmente os protões presentes na Radiação Cósmica de Fundo. Este instrumento irá ser instalado na Estação Espacial Internacional (ISS) e espera-se que recolha dados, pelo menos, durante uma década. Para além dos raios cósmicos, espera-se descobertas relativamente à matéria escura e sobre a antimatéria. O AMS foi proposto pelo físico de partículas, Samuel Ting. O projecto foi proposto em 1995 e o protótipo AMS-01 foi lançado no vaivém Discovery (missão STS91), em Junho de 1998. O AMS-02 era para ser enviado no vaivém Columbia em 2005, mas dificuldades técnicas adiaram o lançamento. Hoje, este viajou no vaivém rumo à ISS. Para Portugal, parceiro a ESA, esta última viagem tem um significado especial pois fez parte da equipa que construíu o AMS-02. A equipa portuguesa foi coordenada por Fernando Barão, investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas e docente do Departamento de Física do Instituto Superior Técnico (info:ionline). José Gonçalves

The Alpha Magnetic Spectrometer (AMS-02) is a state-of-the-art particle physics detector constructed, tested and operated by an international team composed of 60 institutes from 16 countries and organized under United States Department of Energy (DOE) sponsorship. The AMS-02 will use the unique environment of space to advance knowledge of the universe and lead to the understanding of the universe's origin by searching for antimatter, dark matter and measuring cosmic rays. (Hungarian). Crédit: NASA


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ARTIGOS

Super-Computador Desvenda Segredos do Carbono-12 O carbono, elemento essencial para a vida como a conhecemos, encontra-se na natureza principalmente sob a forma de carbono-12. O “-12″ refere-se ao número de partículas nucleares, no caso 6 protões e 6 neutrões. No Universo, 98.89% dos átomos de carbono têm núcleos com esta configuração. O carbono-12 é formado no interior das estrelas através de um processo designado de “triple-alpha”: duas partículas alfa (núcleos de hélio-4) reagem e formam um núcleo de berílio-8, o qual reage por sua vez com um terceiro núcleo de hélio-4 para formar carbono-12. Esta reacção só é possível nas condições extremas de temperatura e densidade existentes no interior de estrelas maciças, numa fase avançada da sua evolução. O processo não é tão simples como parece e depende de uma coincidência notável. Na realidade, o núcleo de berílio-8 fica ligado de forma muito precária à terceira partícula alfa. Normalmente, esta associação temporária, designada pelos físicos de estado ressonante, desfaz-se rapidamente, resultando de novo em 3 partículas alfa livres. No entanto, por sorte, um estado excitado do núcleo do carbono-12 tem uma energia apenas ligeiramente superior à energia do estado ressonante. Assim, 4 em cada 10 mil vezes, o estado ressonante adquire uma energia suficientemente elevada para se reconfigurar e formar esse estado excitado do carbono-12 que se designa por “Estado de Hoyle”. De facto, foi o astrofísico inglês Fred Hoyle que, Página 28

em 1954, deduziu a existência deste estado energético do núcleo do carbono-12. Este estado excitado tem um tempo de vida finito e acaba por decair no estado de energia mínima do carbono-12, a forma estável que observamos. Esta é a única forma de produzir carbono através de reacções de fusão. Hoyle argumentou que o simples facto de o carbono-12 existir, implicava também a existência deste seu estado excitado. A abundância do carbono no Universo implica também que a sua produção pelo processo “triple-alpha” não poderia ser muito eficiente. Este tipo de configuração nuclear é particularmente improvável e Hoyle teve de insistir muito com os seus colegas experimentalistas para que verificassem a sua existência. Tal aconteceu, finalmente, em 1957, por intermédio de uma equipa do Caltech (California Institute of Technology). A formação do carbono-12 é essencial não só para a vida, mas também para a continuação da cadeia de reacções de fusão no interior das estrelas que produzem elementos mais pesados. Sem o carbono não seria possível a formação de elementos mais pesados como o oxigénio, o silício e o ferro, entre outros. Apesar da importância desta reacção na nucleossíntese estelar e do facto do “Estado de Hoyle” ter sido identificado experimentalmente há mais de 50 anos, os cientistas não tinham conseguido ainda utilizar a teoria para calcular as propriedades

(O processo “triple-alpha” permite a formação de um estado excitado do núcleo do carbono-12. Crédito: American Physical Society)

dos estados energéticos do núcleo do carbono-12, e verificar se estavam de acordo com os dados experimentais. Tal tarefa envolve cálculos matemáticos complexos e é computacionalmente muito exigente. Este feito foi aparentemente conseguido agora por uma equipa constituída pelos físicos Evgeny Epelbaum, Hermann Krebs, Dean Lee e Ulf-G. Meißner, que realizaram os cálculos durante uma semana num super-computador chamado JUGENE (o terceiro mais rápido do mundo em Maio de 2009, por altura de um “upgrade”). As energias calculadas para os diferentes estados do carbono-12 estão em bom acordo com os resultados experimentais o que reforça a confiança de que finalmente este desafio pode ter sido vencido. Podem ver o artigo no qual me inspirei aqui, outra notícia aqui e uma outra explicação em português bem mais competente que a minha aqui. Luís Lopes


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FÍSICA

Mini Buracos Negros No artigo publicado no arXiv.org, Aaron P. VanDevender da Halcyon Molecular na cidade de Redwood, California, e J. Pace VanDevender da Sandia National Laboratories em Albuquerque, Novo México, querem encontrar uma maneira de detetar mini buracos negros (MBN) que se pensa existir na natureza. Os seus cálculos sugerem que os mini buracos negros podem passar pela Terra diariamente, e constituem uma ameaça muito mínima para o planeta. Os cientistas sugerem que estes MBN têm um comportamento e tamanho diferente dos Buracos Negros. Enquanto que um Buraco Negro surge do colapso de uma estrela de grandes dimensões e com uma massa mínima de Simulated view of a black hole in front of the 1023 kg, os MBN pensa-se que foram formados durante o Big Bang e poderão Large Magellanic Cloud. The ratio between -23 ter uma massa 10 kg. O comportamento de ambos com a matéria também the black hole Schwarzschild radius and the observer distance to it is 1:9. Of note is the é diferente: o buraco negro absorve toda a matéria que esteja dentro gravitational lensing effect known as an do horizonte do evento, puxando-a gravitacionalmente; em vez de absorver a Einstein ring, which produces a set of two matéria, estes MBN ligam-se gravitacionalmente à matéria, de modo que essa fairly bright and large but highly distorted images of the Cloud as compared to its matéria gire em torno do buraco negro a uma certa distância. Ou seja, os áto- actual angular size. mos de matéria orbitam um MBN, devido à gravidade, como os electrões orbitam em torno de um núcleo devido a forças eletrostáticas - ambos sem cair para o núcleo – os físicos chamam este sistema teórico o equivalente gravitacional de um átomo (GEA). Para os profetas das desgraças, aqui fica mais um dado: Os cálculos dos cientistas demonstraram que, para um buraco negro de 1 kg, levaria 1033 anos a engolir a Terra. Para comparar, o Universo tem cerca de 13.7 x 10 9 anos. E para MBN que possam ser criados no LHC, o tempo que demoraria a absorver a Terra seria muito superior. O resto da notícia, para quem quizer saber mais, pode ser lida aqui. Paper: A. P. VanDevender and J. Pace VanDevender. “Structure and Mass Absorption of Hypothetical Terrestrial Black Holes.” arXiv:1105.0265v1 [gr-qc] José Gonçalves

Sonda da NASA confirma teorias de Einstein A sonda da NASA Gravity Probe B (GP-B) confirmou duas das principais previsões derivadas da teoria geral da relatividade de Albert Einstein. O experimento, iniciado em 2004, usa quatro giroscópios extremamente precisos para medir o efeito das geodésicas, a curvatura do espaço e do tempo em torno de um corpo gravitacional, e o efeito de arraste, a quantidade de espaço e tempo que um objeto arrasta devido à sua rotação . GP-B determinou com precisão ambos os efeitos ao apontar para uma única estrela, IM Pegasi, enquanto descrevia uma órbita polar ao redor da Terra. Se a gravidade não afetasse o espaço e o tempo, os giroscópios do GP-B, apontariam para sempre na mesma direção, enquanto estivesse em órbita. Mas, na confirmação das teorias de Einstein, os giroscópios mediram alterações mínimas no sentido da sua rotação, enquanto a gravidade da Terra os puxava. Ver mais aqui, aqui, e aqui. José Gonçalves Página 29

Crédito da Imagem: PhysOrg.com


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FÍSICA

Relatividade Geral: O Teste da Gravity Probe B No início do mês de maio de 2011, foram publicados resultados obtidos com dados da sonda Gravity Probe B, que levou ao espaço um experimento para testar a Teoria da Relatividade Geral, de Einstein. Mais especificamente, o experimento buscava testar dois efeitos previstos pela teoria, a distorção e um arrasto do espaço (respectivamente,geodetic effect e frame-dragging, em inglês). O primeiro efeito é causado pela distribuição de massa, como o afundamento de um colchão quando você deita sobre ele. O segundo é provocado pelo movimento da massa, como o café com leite que gira ao redor da colher quando você a faz se movimentar. A Teoria da Relatividade Geral diz que o espaço e o tempo não são entidades independentes, mas formam um meio que chamamos hoje de espaço-tempo. A teoria diz ainda que o espaço-tempo é distorcido, ou perturbado, pela presença de massa, ou seja, o espaço e o tempo são alterados por corpos com massa. Quanto mais massa, maiores efeitos são percebidos. Antes da Gravity Probe B, como é de se esperar, houve uma Gravity Probe A, lançada em 18 de junho de 1976. Em seu interior, havia um complexo dispositivo chamado maser de hidrogênio, que tinha o objetivo de ser um marcador de tempo altamente preciso. Seria algo como um metrônomo que músicos usam para marcar o tempo durante a execução de uma música. O objetivo da missão era medir a mudança na cadência do tempo com a variação da gravidade, desde a superfície da Terra, até Página 30

a uma altura de 10.000Km, onde o efeito da gravidade é consideravelmente menor. A teoria dizia que a

Representação da distorção do espaçotempo ao redor da Terra.

Representação do pequeno arrasto, ou deslocamento, provocado no espaçotempo pela rotação da Terra.

gravidade aumenta o intervalo de tempo, ou seja, os relógios passam mais rápido quando estão sob menor influência gravitacional. Os resultados confirmaram isso, e toda missão durou apenas 1 hora e 55 minutos. Enquanto a Gravity Probe A lidou com o aspecto da distorção do tempo, sua sucessora, Gravity Probe B, lidou com a distorção do espaço. Lançada em 20 de abril de 2004, a missão consistiu em um satélite que carregaria consigo quatro giroscópios construídos

com as esferas mais perfeitas já produzidas pelo homem. Cada esfera executava uma ininterrupta rotação, sendo que o eixo de rotação deveria estar sempre apontado para uma distante estrela de referência. A estrela escolhida foi a IM Pegasi, ou HR8703, na constelação de Pegasus, e a cerca de 300 anosluz de nós. Essa estrela tem uma magnitude visual de 5,65, quase no limite da visão humana, mas ainda visível a olho nu. Trata-se de um sistema binário (duas estrelas orbitando um centro de massa comum), e as razões para essa escolha foram sua posição próxima ao equador celeste, ser brilhante o suficiente para ser observada pelo telescópio da missão e seu brilho utilizado como referência, e por seu movimento ser bem conhecido, devido a ser esse sistema uma forte fonte de ondas de rádio. A distorção do espaço provocada pela distribuição de massa da Terra faria o eixo da bolinha variar 6,6 segundos de arco em um ano. Isso equivale a 0,0018 graus. Para se ter uma ideia da pequenez dessa variação, considere que o tamanho da Lua Cheia, ou do Sol, vistos da Terra é de cerca 0,5 graus. Se você pegar o tamanho do diâmetro da Lua Cheia e dividir em 278 partes iguais, uma dessas partes equivale à variação esperada para o giroscópio em um ano orbitando a Terra. Se você acha isso uma precisão alta, leia mais abaixo… O efeito de arrasto provocado pela rotação da Terra era previsto pela teoria como cerca de 0,041 segundos de arco, ou 0,00001 graus. Isso é equivalente a uma parte do diâmetro do disco lunar no céu dividi-


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do em 50.000 partes. Pois é, bem menor que o efeito da distorção do espaço pela distribuição de massa da Terra. Ainda não é a maior precisão de dados envolvida na missão. Ambos os efeitos foram detectados por variação na inclinação do eixo de rotação das bolinhas dos giroscópios. O efeito de arrasto do espaço deveria ser detectado com uma variação da inclinação em relação ao plano do eixo de rotação da Terra, perpendicular ao seu plano de órbita (note que o eixo de rotação da Terra não é perpendicular ao plano da órbita, mas o plano onde está esse eixo é). O feito da distorção pela distribuição de massa seria detectado perpendicularmente. Dessa forma, cada gisroscópio poderia medir ambos efeitos, como na ilustração ao lado. As partes mais importantes do aparato, como as bolinhas dos giroscópios e o telescópio, foram construídas com quartzo, que apresenta pouca variação de tamanho sib mudança de temperatura. Segundo um release publicado pela NASA em fevereiro de 2005, se as bolinhas dos giroscópios fossem ampliadas até o tamanho da Terra, não haveria qualquer saliência (vales ou montanhas) com mais de 2,4 metros. A necessidade da construção de esferas tão perfeitas foi para minimizar qualquer alteração no eixo de rotação que não fosse devido aos efeitos relativísticos. Segundo o mesmo release, os equipamentos da Gravity probe B eram capazes de detectar uma variação na orientação dos eixos de 0,0005 segundos de arco, o equivalente a espessura de um cabelo humano visto a 32 quilômetros, ou a uma parte do diâmetro do disco da Lua Cheia dividido em 3.600.000 partes.

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FÍSICA

Os efeitos relativísticos foram detectados ortogonalmente.

Os resultados da Gravity Probe B foram altamente satisfatórios e, sem dúvida, a missão pode ser festejada por Físicos e Astrônomos. Esse foi o primeiro teste do efeito de arraste do espaço, mas o efeito da distorção por distribuição de massa já foi verificado em diversas observações astronômicas. E, sobretudo, nos lembremos também que o primeiro teste da Teoria da Relatividade Geral foi feito com fotos do céu obtidas no Brasil, na cidade de Sobral, no Ceará, e em Principe, em 1919. Esse pot foi também publicado no blog astronomia.blog.br. Leandro Guedes

Vórtice EspaçoTemporal Já demos conta no nosso blog de que os dados recolhidos pela sonda Gravity Probe B e tratados pela equipa do Professor Francis Everitt (Standford University), confirmaram as teorias da gravidade de Einstein. Também divulga-

mosvídeos com pormenores e cada etapa de todo o trabalho desenvolvido, assim como também uma explicação mais exaustiva para os mais curiosos. Deixo-vos neste link o vídeo feito pela Science@NASA e traduzido para português, que explica duma forma simples o que foi feito.

http://astropt.org/blog/2011/05/14/ vortice-espaco-temporal/ Também há um post com vídeos mais completos, mas em inglês:

http://astropt.org/blog/2011/05/09/ gravity-probe-b/

José Gonçalves


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EXOPLANETAS

Entrevista com Gregory Laughlin

Gregory Laughlin

Gregory Laughlin é uma figura proeminente na área da ciência planetária. Doutorado em Astronomia e Astrofísica pela Universidade da Califórnia, Santa Cruz, em 1994, fez trabalho pós-doutoral como “fellow” da NSF/JSPS, em Tóquio, bem como nas Universidades do Michigan e da Califórnia (em Berkeley). Entre 1999 e 2001, trabalhou como cientista planetário no Ames Research Center da NASA. Desde 2001 é professor na Universidade da Califórnia, Santa Cruz. Em 2004 recebeu o prémio NSF CAREER e foi promovido a “Full Professor” em 2007. O professor Laughlin está envolvido em algumas das iniciativas mais originais relacionadas com a descoberta e caracterização de exoplanetas e sistemas planetários. Recentemente concedeu-nos uma pequena entrevista onde nos fala da sua investigação. [AstroPT] – Can you give us a short

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overview of the projects and collaborations you are currently involved in ? [Greg Laughlin] – Right now, I’m working on a few different projects. One of these is the LickCarnegie planet search, which is a Doppler velocity survey that is aimed at finding planets orbiting bright nearby stars, with an emphasis on stars having less mass than the Sun. I’ve written posts at oklo.org which outline some of the discoveries by this project, including the planets orbiting the Sun-like star 61 Virginis, and the Laplace resonance among the planets orbiting Gliese 876. A second project consists of analysis of Spitzer photometric data for extrasolar planets on mildly to highly eccentric orbits. I’m interested in how the weather behaves on planets that are strongly irradiated, but which, because of orbital eccentricity, cannot be in purely synchronous rotation. Interesting cases are provided by Gliese 436b (we recently published an article on our work as part of a larger team led by Heather Knutson) and by HD 80606b. We have an interesting result for the HD 80606 case, which should be submitted quite soon. I’m also interested in the Kepler data, and I’ve been working on these data sets with my students. Nothing to report here yet, but we do have some interesting hypothe-

ses that we are testing. [AstroPT] – You are the mentor of transitsearch.org, a project that involves professionals and amateurs worldwide to detect transiting exoplanets. Can you describe the rationale behind the project and the way the observing campaigns are organized ? [Greg Laughlin] – The transitsearch.org project has been brought to a successful conclusion, and right now, the website is just an ephemeris service. When transitsearch.org was in its active phase, we identified planets that had been discovered by the radial velocity method, but which were not known to transit. We organized photometric campaigns by widely dispersed amateur and participating professional observers to check the candidates for transits. We succeeded in ruling out transits for a number of planets, and then eventually had successes, first with HD 17156b, and then with HD 80606b. [AstroPT] – Perhaps the most spectacular success of transitsearch.org so far was the discovery that HD80606b transits. Actually, as far as I know, HD80606b has become a personal favorite of yours. Can you tell us about this system, the planet and how the campaign that led to the discovery of the transits unfolded ? [Greg Laughlin] – I’ve always liked the HD 80606 system because of the crazy orbit of the planet. Its eccentricity is high enough so that it spends most of its time at a distance near 0.9AU from the parent star, but then every 111.4 days,


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comes racing in for a close encounter — a mere five or six stellar radii — from the surface of the star. The resulting burst of heating is guaranteed to provide an interesting situation on the planet, and indeed, I think it’s a good test case to study to understand how planets behave in general. [AstroPT] – You had the chance to observe this system with Spitzer twice (one of them very recently). In the first run you observed the secondary eclipse of HD80606b. Can you describe the importance of this observation and how it added to the knowledge of the system ? What was the main objective of the most recent observation with Spitzer ? [Greg Laughlin] – One nice thing that came from the HD 80606b Spitzer observations was the discovery that the planet undergoes secondary transit. This allowed the temperature of the planet to be measured, and also for the entire light curve to be calibrated. With the calibrated Spitzer 8 micron light curve, we were able to work out that the heat capacity of the atmosphere seen by Spitzer is relatively low. It seems to heat up quickly and cool down quickly. Our follow-up observations, which will be published soon, are geared to provide: (1) a measure of the amount of tidal dissipation that is occurring in the system; (2) a direct measurement of the spin frequency (length of the day) on the planet, and; (3) a confirmation of the radiative timescale at the shorter 4.5 micron wavelength. The data that we’Página 33

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[A órbita de HD80606b próximo do periastro. Note-se a indicação da janela temporal em que foi observado pelo telescópio Spitzer e que resultou na detecção do eclipse secundário (o planeta passa por detrás da estrela quando visto a partir da Terra). Note-se que o eclipse primário (em que o planeta passa em frente da estrela visto da Terra, normalmente designado por trânsito) ocorre alguns dias depois do eclipse secundário e da passagem pelo periastro. O tempo que decorre entre o eclipse secundário e o eclipse primário é fortemente dependente da forma da órbita, o que permitiu refinar o cálculo da excentricidade da mesma. Crédito: oklo.org]


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Entrevista com Gregory Laughlin (cont.) ve obtained are quite interesting, and we’re trying to provide the best possible interpretation in the paper that we’re writing. [AstroPT] – Personally, how is your daily routine affected when a transitsearch.org campaign is on and you know someone somewhere may be taking data that will reveal a new planet ? [Greg Laughlin] – It was quite exciting. For both the HD 17156 and HD 80606 campaigns, it was quite exciting to monitor the steady stream of reports coming in from around the world. It’s interesting

to sit at your desk and to think about the observers scattered all over the globe. In both cases there was this odd pattern of exciting news followed by news that damped down excitement. In both cases, it was about two weeks after the transit before it really became clear that the signal had been detected. [AstroPT] – What is the most valuable transitsearch.org discovery you could hope for and why ? [Greg Laughlin] – I think that HD 80606b was about the best that we could have hoped for. In this case,

[A curva de luz do eclipse secundário observado pelo telescópio Spitzer. Medindo o brilho infravermelho do sistema imediatamente antes (ou imediatamente depois) e durante o eclipse secundário é possível determinar o brilho infravermelho devido apenas ao planeta e desta forma calcular a temperatura das camadas de topo da sua atmosfera. De notar que, imediatamente antes de desaparecer (ou imediatamente após re-aparecer) por detrás da estrela, o planeta mostra-nos o seu lado diurno completo, sem fases. No caso do HD80606b, as observações permitiram calcular que a dita temperatura subiu dos 800 Kelvin (500 °C) para os 1500 Kelvin (1200 °C) em apenas 6 horas, durante a passagem pelo periastro. Crédito: NASA / JPL-Caltech / Greg Laughlin] Página 34

there’s (relatively speaking) a very bright parent star, which means that there will always be the possibility for cutting-edge follow-up measurements as more sensitive detectors are developed. I think that it’s unlikely that there are any brighter stars with transiting planets on such long-period and highly eccentric orbits. HD 17156b was also very valuable, again, because of the brightness of the parent star. When the Hubble Space Telescope was waiting to be repaired, and when the Fine Guidance Sensor was the only functioning instrument on the spacecraft, they carried out one of the longest duration HST observations that has ever been made, and the target was HD 17156. [AstroPT] – You have been working on the atmospheric modeling of hot jupiters with Jonathan Langton. Can you tell us how good current models are in predicting observations, in particular those obtained with Spitzer ? What do we know for certain about the atmospheric circulation in hot jupiters ? [Greg Laughlin] – Our experience so far is indicating that, while it’s amazing that we can get any information about the properties of planets that are so incredibly distant, there is a lot that we don’t know. There are a number of ways in which we can interpret a lot of the observations that have been made, and some of the conclusions regarding atmospheric composition might not be as secure as we might have hoped. I think that the eccentric planets — where you are guaranteed to not be in steady sta-


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te, and where you have a known impulsive energy deposition — have a lot of potential to sort out some of the more maddening ambiguities. Overall, I’m always amazed that Spitzer was so well suited for studying exoplanets, and when the mission was being designed, the planets weren’t even known to exist! [AstroPT] – Another brainchild of yours is the Systemic Console, that allows just about anyone to explore planetary system architectures by matching orbital configurations with real and synthetic radial velocity data. How did this project come about and what kind of scientific return is it providing ? [Greg Laughlin] – The project came about because I had been working with radial velocity data from various stars, and I badly wanted an interactive environment where one could test hypotheses quickly. It also seemed like a natural application for a Java applet, because the control of the orbits is very intuitive, and because the underlying physics is so simple. With regards to scientific return, the console has been a useful tool for analyzing data, and it has impressed upon me the importance of more sophisticated methods for parameter estimation and error analysis. It’s my hope that the console can evolve in these directions to become a truly world-class resource. [AstroPT] – Tell us about the oklo.org blog and how it connects with your research and the above mentioned projects. [Greg Laughlin] – With oklo.org, I’ve tried to report on new developments concerning extrasolar planets in a manner that is useful both to scientists who are working Página 35

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in the field and to interested members of the public. It’s sometimes been useful for research because it gets me thinking about certain problems from an alternative point of view. I think that it has allowed me to have made some connections that I otherwise would not have necessarily made. [AstroPT] – You are involved in an epic effort led by Debra Fischer to

lution spectrographs for radial velocity programs achieve at best 1 m/s precision ? When do you expect results ? [Greg Laughlin] – The focus is on Alpha Centauri B for several reasons: (1) it’s a lower-mass star, so the metal lines are more prominent, and its easier to get high-precision velocities; (2) the level of stellar jitter appears to be lower than for A;

[Imagens de uma simulação da evolução da circulação atmosférica no lado nocturno do HD80606b durante a sua passagem no periastro, altura em que é sujeito à radiação intensa da estrela hospedeira. São visíveis tempestades gigantescas sob a forma de vórtices e um jet-stream poderoso na zona equatorial. A atmosfera do planeta brilha na escuridão devido à forte irradiação a que foi submetido. Crédito: NASA / JPLCaltech / J. Langton.]

hunt for (terrestrial) planets around Alpha Centauri B, using the 1.5m CTIO (Cerro Tololo InterAmerican Observatory). Why do you focus on Alpha Centauri B and not (also) on A ? Can you describe the rationale of the project and the infra-structure it uses ? How will you be able to detect such a faint signal when the current high reso-

(3) at a given mass planet, the radial velocity half-amplitude, is higher for B, and; (4) the habitable zone is at periods of approximately 260 days. All this means that a detection will be easier to make around Alpha Centauri B. Alpha Centauri A is also being observed, and the comparison of the two data sets may help to isolate periodicities that are due to


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Entrevista com Gregory Laughlin (cont.)

[Um "screen shot" do software Systemic Console, desenvolvido pela equipa de Laughlin. Crédito: Luís Lopes]

systematic errors being introduced at the telescope or by the data reduction pipeline. Per point measurement is at best 1 m/s, but if the noise is Gaussian (and that’s a big if!!!) then one can let root(N) do its work by obtaining a large number of measurements. The basic ideas are fleshed out in more detail in the series of oklo posts from July through August of 2006. The HARPS team (at La Silla Observatory) is also observing the system at very high cadence, and so I expect that one way or another there will be an interesting result announced sometime within the next 2-3 years. Notas: Gregory Laughlin fala de um conjunto de termos técnicos que passo a descrever para facilitar a leitura do texto. “Tidal Dissipation” – Muitos planetas orbitam tão próximo das estrelas hospedeiras que as forças de Página 36

maré por elas exercidas podem ter consequências importantes. Por um lado, a energia dissipada na interacção pode aquecer o interior do planeta, tal como acontece com o satélite de Júpiter, Io, alterando radicalmente as suas características físicas. Externamente, as forças de maré podem colocar o planeta em rotação síncrona, i.e. o seu período de rotação ser igual ao seu período orbital, mostrando sempre a mesma face para a estrela, como acontece com a Lua relativamente à Terra. As mesmas forças podem ainda circularizar a órbita do planeta, se originalmente esta tiver uma excentricidade não nula. No caso de HD80606b, Laughlin quer determinar o que está a acontecer ao planeta ou à sua órbita como resultado das forças de maré exercidas pela estrela hospedeira próximo do periastro. “Jitter” – Variações na velocidade radial em escalas de tempo que

vão de minutos até dias, provocadas pela actividade intrínseca da estrela, nomeadamente: oscilações, convecção junto à superfície e “manchas solares”. O “jitter” dá origem a um ruído de fundo nas observações de velocidade radial que dificulta substancialmente a detecção de planetas cuja amplitude do sinal seja inferior. O “jitter” de uma estrela depende da sua massa, actividade e idade. Em geral, a actividade diminui de intensidade com a idade da estrela. Desta forma, as melhores estrelas para detectar planetas são anãs de tipo espectral G e K e de idade avançada. Este é precisamente o tipo de estrela observada pela maioria dos programas de detecção pela velocidade radial. Detectar planetas em estrelas com um “jitter” mais elevado pode ser feito em alguns casos mas à custa de uma cadência de observações muito superior, e o tempo de telescópio num instrumento de ponta é muito caro. No caso do projecto da Alfa do Centauro B, Fischer e a equipa têm um telescópio reservado para o efeito o que é excelente. “Radial Velocity Half-Amplitude” – Quantidade que define a influência gravitacional de um planeta na sua estrela hospedeira, através da variação máxima na velocidade radial da estrela provocada pelo planeta. Planetas com maior massa, com menor período orbital, com órbitas de elevada excentricidade e com estrelas hospedeiras menos maciças têm valores maiores desta quantidade e são mais fáceis de detectar. “root(N)” – Se o ruído nas observações tem uma distribuição gaussia-


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[O telescópio de 1.5 metros do CTIO utilizado pela equipa de Fischer na busca de planetas em torno da Alfa do Centauro B. Crédito: Debra Fischer]

na é possível combinar N observações individuais para aumentar a precisão na razão da raíz quadrada de N. Por exemplo, para aumentar a precisão 4 vezes seria necessário combinar 16 observações. Isto implica um aumento considerável no tempo de observação e, no caso do projecto da Alfa do Centauro B, um telescópio exclusivamente dedicado para o efeito, uma vez que a precisão do espectrógrafo utilizado logo à partida não é tão elevada como a do HARPS. “Radiative Timescale” – O tempo que o planeta demora a re-emitir para o espaço a energia recebida da estrela e absorvida pela sua atmosfera. Se este valor é pequeno, a atmosfera do planeta não tem tempo de distribuir o calor acumulado e o planeta apresentará grandes diferenças de temperatura, por exemplo, entre os lados diurno e nocturno. Se o valor é grande, é de esperar que a atmosfera consiga distribuir uma parte significativa do calor absorvido, Página 37

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tornando mais homogénea a temperatura do planeta. O que se segue é uma tradução livre da entrevista. Qualquer erro ou má interpretação da informação fornecida pelo entrevistado é da exclusiva responsabilidade do autor. Inicialmente, Greg Laughlin falanos dos seus projectos actuais que incluem: (1) o estudo dos planetas e sistemas descobertos pelo projecto Lick-Carnegie Planet Search; (2) a análise de observações realizadas pelo telescópio Spitzer de sistemas com planetas com órbitas de excentricidade moderada a elevada. Estes planeta, diz, devido à excentricidade das suas órbitas, não podem ter uma rotação síncrona e permitem uma análise menos ambígua das observações e a sua comparação com modelos; (3) a análise dos dados recolhidos pela missão Kepler. Pedimos depois a Laughlin que nos descrevesse o projecto transitsearch.org do qual foi o mentor. Laughlin diz-nos que o projecto terminou. No entanto, a página da Internet do projecto continua a proporcionar um serviço actualizado e preciso de efemérides para trânsitos de exoplanetas. Durante a sua fase activa, o projecto organizou várias campanhas de observação de alvos potencialmente interessantes, estrelas com planetas descobertos pela técnica da velocidade radial e cujas características orbitais tornavam elevada a probabilidade de um trânsito ser observado. Desta forma foi possível demonstrar que vários planetas não transitavam as estrelas hospedeiras e descobrir dois planetas notáveis, o HD17156b e o HD80606b, muito maciços e com órbitas de elevada excentricidade.

Sobre o sistema HD80606, Laughlin diz-nos que o que o atraiu no mesmo foi o facto de ser tão extremo. A excentricidade é tão elevada que o planeta passa a maior parte do tempo a uma distância próxima de 0.9 u.a. e a cada 114 dias mergulha vertiginosamente para um encontro com a sua estrela hospedeira a uma distância de apenas 5 ou 6 raios estelares no periastro. O aquecimento a que é submetido é brutal o que torna o seu estudo particularmente relevante para entender a física destes planetas. Depois da descoberta de que o HD80606b realizava trânsitos, através de uma campanha excepcional do transitsearch.org, Laughlin observou o sistema através do telescópio Spitzer durante uma janela temporal que cobria algumas horas antes e depois do periastro. Inesperadamente, foi detectado também um eclipse secundário o que permitiu a medição da temperatura do planeta, o refinamento da excentricidade da órbita e a medição de uma característica da atmosfera designada de “radiative timescale” que mede a capacidade da atmosfera re-emitir energia estelar absorvida. O valor observado para 8 micrómetros, um dos canais do Spitzer, foi baixo (veja -se nota no fim da entrevista). Uma nova ronda de observações teve lugar entretanto com o objectivo de determinar os efeitos das forças de maré no planeta e na sua órbita (“tidal dissipation”), a medição do período de rotação do planeta e a confirmação do valor obtido anteriormente para a “radiative timescale”. Os resultados serão publicados brevemente num artigo. Laughlin diz -se maravilhado com a qualidade excepcional das observações realizadas pelo telescópio Spitzer e como é particularmente adequado para a


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Entrevista com Gregory Laughlin (cont.)

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mic Console desenvolvido pela sua equipa e do blog oklo.org que mantém, e de que forma estes contribuem para a sua investigação. Systemic Console é um software que surgiu da necessidade que Laughlin tinha de uma ferramenta na qual pudesse testar facilmente ideias sobre a estrutura de sistemas planetários. O software foi disponibilizado através do blog oklo.org no qual Laughlin escreve sobre descobertas recentes e as suas implicações e sobre o seu próprio trabalho de investigação. Laughlin diz-nos que a interacção com a comunidade possibilitada pelo blog permitiu explorar vias na sua investigação que de outra forma dificilmente se teriam concretizado. Finalmente, pedimos a Laughlin que nos descrevesse um outro projecto a que está ligado, liderado pela famosa astrofísica Debra Fischer: a busca de planetas na estrela Alfa de Centauro B. O entrevistado diz-nos em primeiro lugar que a componente B do sistema foi escolhida devido a 4 características fundamentais: (1) é uma estrela menos maciça, mais fria, em que as linhas espectrais dos metais são bem definidas permitindo a medição da velocidade radial com maior precisão; (2) o “jitter” da estrela é menor que o da componente A (veja-se nota no final da entrevista); (3) para uma dada massa planetária, a amplitude da variação da velocidade radial é maior em B do que em A (veja-se nota no final da entrevista), e; (4) a zona habitável da componente B está a uma distância que corresponde a períodos orbitais de cerca de 260 dias

(menos do que seria para a componente A, e portanto permite a detecção de planetas em menos tempo). Devido ao facto de a precisão necessária para detectar planetas de tipo terrestre em órbitas tão afastadas ser superior ao estado da arte (cerca de 1 m/s), a estratégia passa por compensar a falta de precisão nas observações individuais combinando várias até atingir a precisão desejada. Isto requer imenso tempo de observação disponível que no caso do projecto é garantido com um telescópio dedicado no Observatório de Cerro Tololo, no Chile. Laughlin diz-nos que, com a equipa do HARPS também na corrida e apenas a 60 quilómetros no Observatório de La Silla, o veredicto sobre a existência ou não de planetas em torno da Alfa do Centauro B deverá ser conhecido dentro de 2 ou 3 anos. Luís Lopes

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observação de exoplanetas, não tendo sido desenhado para o efeito. De facto, quando o telescópio foi desenhado, nenhum exoplaneta tinha ainda sido descoberto ! Laughlin fala-nos depois da espectativa que sentia quando estava em curso uma campanha do transitsearch.org, de como era interessante sentar-se na secretária e pensar em todos os observadores espalhados pelo mundo que naquele momento estavam a recolher dados. Nas campanhas que resultaram na descoberta dos trânsitos do HD17156b e do HD80606b, às primeiras mensagens que pareciam indicar a detecção do trânsito, sucederam-se outras que as pareciam contradizer. Só ao fim de cerca de duas semanas, com uma análise mais cuidada de todas as observações, foi possível ter a certeza de que o trânsito tinha de facto sido detectado. HD80606b é considerado pelo entrevistado como o maior sucesso do transitsearch.org. De facto, refere que dificilmente poderia ser sido descoberto um sistema mais interessante, tendo em conta o brilho elevado da estrela hospedeira, que permite a obtenção de observações de grande qualidade, e a sua configuração orbital extremamente rara. HD17156b é também um sistema valioso, embora não tão extremo. Aquando da avaria das câmaras do telescópio Hubble, este sistema foi o alvo da observação mais longa realizada com o telescópio, utilizando um Fine Guidance Sensor como fotómetro. Em seguida pedimos a Laughlin que nos falasse do software Syste-

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Entrevista com Geoff Marcy

Geoff Marcy (Crédito: NASA)

Geoffrey Marcy, actualmente professor de astronomia na Universidade de Berkeley, é um dos pioneiros no estudo dos exoplanetas e um dos investigadores mais influentes da área. A sua carreira está pontuada por várias contribuições fundamentais em que esteve envolvido, de entre as quais se destacam: primeira medição do efeito de Zeeman (desdobramento das linhas espectrais na presença de campos magnéticos) no espectro de estrelas de tipo solar, a descoberta do “deserto de anãs castanhas” (inexistência de anãs castanhas a menos de 5 u.a das estrelas hospedeiras), o desenvolvimento

de métodos capazes de medir a velocidade radial até uma precisão de 3 m/s, a descoberta de 70 dos primeiros 100 exoplanetas conhecidos, descoberta do primeiro sistema múltiplo (upsilon Andromedae), descoberta do primeiro planeta em trânsito (HD209458b), descoberta do primeiro exoplaneta a orbitar para lá de 5 u.a. (55 Cancri d) e descoberta dos primeiros planetas do tamanho de Neptuno (GJ 436b e 55 Cancri e). O seu contributo para a área é alvo de contínuo reconhecimento como o demonstra o facto de ser recipiente de inúmeros prémios prestigiados como por exemplo: California Scientist of the Year (Abril de 2000), membro da National Academy of Sciences (Abril de 2002), NASA Medal for Exceptional Scientific Achievement (Junho de 2003), Shaw Prize (Setembro de 2005) e

(O cume do Mauna Kea no Hawaii com os dois telescópios do Observatório Keck utilizado por Geoff Marcy no projecto Eta-Earth e no seguimento de candidatos do Kepler. À esquerda pode ver-se o telescópio Subaru e à direita o IRTF (InfraRed Telescope Facility) da NASA. Crédito: Kelly E. Fast) Página 39

Carl Sagan Prize for Science Popularization (Novembro de 2009). Recentemente o Geoff Marcy concedeu uma entrevista ao AstroPT onde nos falou do seu percurso científico e dos seus projectos e descobertas mais recentes. [AstroPT] - What is your academic background and when did you first become interested in exoplanets as a research topic ? What was the field like at the time ? What problems did you have to solve in order to finally produce the first discoveries ? [Marcy] - I received a bachelors degree in both physics and astronomy from UCLA in Los Angeles in 1976. I received my Ph.D. from the University of California at Santa Cruz in 1982. My research was on magnetism of stars. I was offered a position as a “Carnegie Fellow” at the Carnegie Observatories in Pasadena California in 1982, giving me a chance to use the Mount Wilson 100inch telescope. It was at Mount Wilson Observatory that I realized one could measure Doppler shifts very precisely, enabling the detection of the wobble of a star caused by the gravitational pull by any orbiting brown dwarfs or planets. That’s when I started the planet search. No one else was searching for brown dwarfs or extrasolar planets at that time (1982), as far as I knew. The biggest problem I faced was finding a technique to measure Doppler shifts with adequate precision. Back then, I worked hard to finally achieve a precision of 230 meters/ sec. For comparison, now in 2011 we achieve a Doppler precision of 1 meter/sec.


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Entrevista com Geoff Marcy (cont.) From 1984 until 1995 I searched 120 stars, spending 5 minutes per planets and the architectures of for planets and brown dwarfs orbistar to spread the light into all of planetary systems ? ting other stars, [Marcy] - We but I failed to now know that find them. Those there are more 11 years of failusmall planets, re were very difthe size of Nepficult for me. I tune, than large felt nervous that planets the size I was wasting of Jupiter. This is telescope time an amazing disand wasting covery about the money and my distribution of own life. sizes of planets. [AstroPT] - You We now know, are one of the for the first time, leading investithat small plagators for the nets are more NASA/UC Etacommon than Earth project, large planets. that focuses on [AstroPT] - As a the detection of (A curva de velocidade radial da Super-Terra HD156668b, descoberta em 2010 pelo co-investigator planets in the projecto Eta-Earth. Crédito: projecto Eta-Earth) for the Kepler lower end of the mission your job mass spectrum. Can you describe is to do the follow up and confirits wavelengths (colors) and storing the research problem you are mation of planet candidates. How that spectrum on the computer. trying to answer, and the observing is this process organized ? What The next day, we analyze those and data-processing infrastructure are the technical difficulties of spectra to determine the Doppler used by the project ? measuring precise radial velocities shifts, hoping to detect slight chan[Marcy] - The key question is the for Kepler’s typically faint stars ? ges that would indicate that the fraction of stars that harbor an [Marcy] - The Kepler team has a star is wobbling due to a small plaEarth-size planet. Currently we committee called the “TCERT” net pulling on the star. We use 32 don’t know if Earth-size planets which stands for, “Transit Crossing Mac (Apple) computers in parallel exist around 1%, 10%, or 80% of all Event Review Team”. We judge the to analyze all of the data from the stars. The “Eta-Earth project” is quality of the planet candidates previous night, taking all day to designed to measure the Doppler that come from the photometry finish the calculations. Then we shifts of 230 nearby solar-type pipeline. We then determine what hunt through the Doppler measustars with extreme Doppler precitypes of follow-up observations are rements, looking for evidence that sion, to detect planets of nearly needed to verify the planet candithe stars are wobbling. Earth-size orbiting them in close-in dates. For example, the TCERT may [AstroPT] - Projects like Eta-Earth, orbits. recommend that the Keck telescoAAPS and HARPS-GTO are slowly We use the Keck telescope in pe take spectra, to determine if the revealing a large population of Hawaii about 20 nights per year for Doppler shift is consistent with the Neptunes and Super-Earths. With the Eta-Earth project. Every night planet found by Kepler. The TCERT the available data, what can be we point the telescope at about may also request that we obtain said about the frequency of these Página 40


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enough Doppler measurements with the Keck telescope to determine the mass and density of the planet. The greatest technical difficulty is determining the point-spreadfunction (PSF) of the spectrometer during the observation. Any asymmetries in the PSF of the spectrometer will cause false Doppler shifts. We guide the telescope very precisely on the star to avoid this problem. We also use a long slit, to allow us to subtract the moonlit sky from our spectra. These stars are so faint, typically 13th or 14th magnitude, that the moonlit sky contaminates our spectra. We subtract the moonlight, to yield a pure spectrum of the Kepler star. [AstroPT] - Currently, the best precision obtained with the radial

velocity technique is about 1 m/s. How then will you be able to measure the fainter signals (around 0.1 m/s) required to confirm the planetary status of Earth-size candidates in the habitable zone ? [Marcy] - Achieving a precision of 0.1 m/s is not possible. The stars have convection on their surfaces preventing a firm Doppler measurement to a precision better than 1 m/s. That is the best anyone can achieve for solar-type stars. We will not be able to confirm Earthsize planets in the habitable zone [using the radial velocity technique]. [AstroPT] - The Kepler team has recently announced the discovery of 1235 planet candidates in their data. Is there some estimate of how many of these are expected to be real planets ? Most of the candi-

(A localização dos 1235 candidatos do Kepler no campo de visão da câmara CCD. Crédito: missão Kepler)

dates are Neptune- to Earth-size, with gas giants being comparati-

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vely rare. What is the data telling us about the frequency of each of these different kinds of planets around other stars ? Is this in agreement with the findings of the Eta-Earth, AAPS, and HARPS-GTO projects ? [Marcy] – Yes [there is an estimate]. Tim Morton and John Johnson at Caltech calculated the probability that an eclipsing binary located behind the bright Kepler star could cause repeated dimmings, thereby giving the appearance of a transiting planet around the Kepler star. The probability of such alignments is only 5 to 10%. [In other words] 90 to 95% must be real planets. Yes [it is in agreement with the data from those other projects]. The Kepler results show that nature makes 8 times more planets of 2 Earth-radii than planets of 10 Earthradii. In other words, there are 8 times more super-Earths than Jupiter-size planets. We just published this result in a paper by Andrew Howard, myself, and the Kepler team. That paper is available on astroph web server. [Na mesma linha, num artigo recente na revista Scientific American, Marcy dizia: "If you take a sample of G-type, main-sequence stars, 8 percent of them will have 2- to 2.8-Earth-radii planets with orbital periods of less than 50 days."] [AstroPT] - Kepler also discovered many multiple systems, with up to six transiting planets (Kepler11). These systems seem to have a distinct architecture from the Solar system, with the planets tightly packed together close to the host star. Is this simply an


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Entrevista com Geoff Marcy (cont.)

(Histograma mostrando a distribuição dos 1235 candidatos do Kepler por tipo de planeta. O número de planetas de tamanho igual ou inferior a Neptuno supera em muito o número de planetas gigantes. O aparente decréscimo no número de planetas com tamanho inferior a Neptuno pode ser devido, de acordo com Bill Borucki, a um efeito real ou resultar apenas de uma maior dificuldade na detecção dos planetas mais pequenos, mais facilmente perdidos no ruído das observações. Estes números referem-se aos primeiros 120 dias da missão. A acumulação de mais observações e o aperfeiçoamento da pipeline de processamento dos dados irá certamente clarificar qual dos cenários corresponde à realidade. Crédito: missão Kepler)

observational bias, given the 4 month baseline for the data, or are these systems typical and the Solar System an odd ball ? [Marcy] - Yes, this is probably an observational bias. Kepler has only released data from its first 120 days, and so we have detected planets that have short orbital periods of less than 1/2 year. As time proceeds, Kepler will probably find planets of longer and longer orbital periods, including longer than 1 year. The Solar System is somewhat rare because its planets remain in the same plane and in nearly circular orbits. About 90% of other planetary systems have more inclined orbits and more eccentric Página 42

orbits, as our Doppler surveys showed. [AstroPT] - A few years ago a correlation was found between the metallicity of a star and the probability that it hosts giant planets. Does the Kepler data imply that this correlation is valid for planets in the Neptune- to Earth-size range ? What are the implications for the theories of planetary formation ? [Marcy] - We currently do not have good metallicity measurements for the Kepler host stars. We are working hard on this, by obtaining spectra of all of the host stars of the Kepler planets. We will see if the metallicity correlation is still

true for the small, Earth-size planets! [AstroPT] - Besides the above mentioned projects, what other research collaborations are you involved in ? [Marcy] - That’s it! Finding the first Earth-like planets is enough for me! But I am also trying to detect the laser transmission from advanced, technological civilizations. Podem ver a apresentação do Prof. Marcy no 218º encontro da American Astronomical Society, descrevendo os resultados preliminares do Kepler sobre a frequência dos diferentes tipos de planetas, aqui. Luís Lopes


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COSMOLOGIA

Qual será a causa da Energia Negra ?

Crédito: Jonathan Corum, The New York Times

Há uma semana atrás demos aqui conta de um estudo que provava a veracidade da energia negra… ou melhor, dos seus efeitos. Foi o estudo mais completo e mais conclusivo sobre a existência dessa energia negra… algo que pode nem serenergia nem será negra. Mas claro, continuamos sem saber o que ela é, ou qual exatamente a sua causa. E há algumas ideias “radicais” para Página 43

explicar a chamada energia negra. Uma das ideias coloca em questão o Big Bang, dizendo que é um mito religioso mascarado de ciência, e afirma que o que se deverá estar a passar é que para lá do Universo Observável, existe um gigantesco buraco negro supermassivo. Seguindo as já conhecidas leis de Kepler, então objetos longínquos de nós mas perto desse buraco negro têm velocidades superiores

àqueles que vemos perto de nós e que se encontram longe desse buraco negro. Algumas das estrelas lá longe poderão até já estar a ser consumidas por esse buraco negro de massa semelhante ao universo que conhecemos. Carlos Oliveira


SISTEMA SOLAR

Maio 2011

Cassini assiste à dança de luas na face de Saturno Trânsito das luas Titã e Dione na frente de Saturno. Composição a cores construída com três imagens captadas a 21 de Maio de 2011 pela sonda Cassini através de filtros de luz visível (azul, verde e vermelho). Titã e Dione encontravam-se, respectivamente, a 2,31 e a 3,15 milhões de quilómetros de distância. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Este fim de semana, a sonda Cassini teve uma oportunidade única de observar a passagem de três grandes luas sobre a face de Saturno. O evento decorreu durante o trânsito de Titã na frente do gigante e dos seus anéis, e teve os seus momentos altos nos encontros da maior lua de Saturno com as orbes geladas de Dione e de Tétis. Aqui ficam algumas imagens. Sérgio Paulino O encontro de Titã com o gigante Saturno e as duas luas Dione e Tétis. A primeira surge nas duas imagens do meio, enquanto que Tétis se encontra na última imagem da direita. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/montagem de Sérgio Paulino.

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Volume 1, Edição 4

SISTEMA SOLAR

Medindo a posição das pequenas luas interiores de Saturno Desde a sua chegada ao sistema saturniano, a sonda Cassini tem realizado várias sessões de observação astrométrica das pequenas luas de Saturno. Estas sessões são inúteis para cartografar a superfície destes objectos, uma vez que são executadas a grande distância dos seus alvos, mas proporcionam dados importantes para os astrónomos ajustarem os cálculos das respectivas órbitas. Esta semana, a Cassini concretizou a primeira de duas observações astrométricas (a segunda será hoje) das luas Metone, Telesto, Jano, Polideuces, Calipso, Prometeu e Pandora. A imagem que aqui vos trago faz parte dessa sessão. Conseguem encontrar na imagem Jano e Telesto? Sérgio Paulino

Jano, Telesto e uma porção do anel F de Saturno numa imagem captada a 03 de Maio de 2011 pela sonda Cassini. A posição de Jano é óbvia. Conseguem adivinhar a posição de Telesto? Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Crédito: Jonathan Corum, The New York Times

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