Volume 2 Edição 3
Março 2012
astroPT magazine
Março 2012
ESPECIAL
Neil no Daily Show
É sempre uma delicia ver e ouvir o astrofísico Neil deGrasse Tyson, com a sua lucidez e forma cativante de explicar a ciência, os seus princípios e metas. Por isso não resisto a partilhar aqui mais uma entrevista com este grande comunicador e defensor da ciência, com um carinho muito especial pela exploração espacial. Esse é o tema principal desta entrevista, da passada segunda-feira (27 de Março) no excelente programa dirigido por Jon Stewart, The Daily Show (que eu recomendo vivamente). Nesta entrevista o Neil defende uma vez mais a origem e importância que a exploração espacial teve para o avanço da ciência e da tecnologia Página 2
americanas nos anos da década de 1960. Como cativou as mentes dos mais jovens e fê-los querer, também eles, serem astronautas ou físicos ou astrónomos… como se criou a “cultura do futuro”…e como o abandono dos programas de investigação espacial estão a contribuir para a decadência científica e cultural americana (e não só). Muitas pessoas questionam o gasto feito com a exploração espacial, mas o Neil não se cansa de explicar que o dinheiro destinado à NASA representa apenas meio cêntimo de cada dólar que os americanos pagam de impostos. Uma percentagem ínfima e cujas repercussões para a sociedade em muito superam o investido. “Este investimento no futuro, feito no séc. XXI, representa os alicerces das economia do amanhã. E, sem isso, mais vale voltar às cavernas, por que é para lá que estamos a ir,…falidos!” Enjoy! [Veja o vídeo aqui] Diana Barbosa
ESPECIAL
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Memoriais lunares ao dia da mulher Memorial ao dia da mulher criado em 1971 pelo Lunokhod 1. Esta é uma parte do panorama fotografado pelo robot soviético pouco depois de ter criado a figura. Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.
O Dia Internacional da Mulher é assinalado em muitos países, há já várias décadas, no dia 8 de Março. A data ganhou particular relevância na União Soviética como símbolo político de exaltação da mulher soviética como peça fundamental na construção do regime comunista e na defesa da pátria durante a Grande Guerra Patriótica (II Grande Guerra Mundial). Em 1971, os controladores da missão soviética Lunokhod 1 comemoraram a data de uma forma muito original. Ordenaram ao sofisticado robot que desenhásse com as suas rodas no regolito de Mare Imbrium um memorial ao dia da mulher. Depois de completar uma figura em forma de 8, o Lunokhod 1 reposicionou-se para criar um panorama que incluísse o memorial.
Dois anos mais tarde, o seu sucessor Lunokhod 2 criaria um memorial semelhante, desta vez na orla da cratera Le Monnier, no extremo leste de Mare Serenitatis. Este segundo memorial tem a particularidade de ser facilmente reconhecível em imagens recente- O mesmo memorial fotografado quatro décadas mais tarde pela sonda mente obtidas Lunar Reconnaissance Orbiter. É pela sonda ame- visível a escassos metros a Luna 21, a sonda que transportou o Lunokhod ricana Lunar 2 até à superfície da Lua. Reconnaissance Crédito: NASA/GSFC/ Arizona State University. Orbiter. Sérgio Paulino
Parte de um panorama obtido em 1973 pelo robot soviético Lunokhod 2 mostrando o memorial ao dia da mulher por si criado. Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.
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ASTROFOTOGRAFIA
ASTROFOTOGRAFIA de… Miguel Claro
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ASTROFOTOGRAFIA
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Atlântida desapareceu ? A lenda de Atlantis nasceu com Platão, há mais de 2000 anos atrás. No meu entender, é uma lenda sobre um sítio com muitas virtudes, mas que mesmo assim foi destruído por forças naturais. A história é similar a muitas histórias de ficção científica, passadas em planetas distantes. É uma história sobre ideais e precauções. Nada mais. Daqui por 2000 anos, se alguém pegar nos episódios de Star Trek e imaginar que são documentos históricos sobre a realidade desta altura, iríamos nos rir bastante dessa interpretação. O mesmo se passa aqui sobre a Atlântida. É para rir. O Google Earth usa sonares, que por vezes têm problemas, falham na leitura de dados ou sobrepõem dados, e por isso não se vêm as imagens claras, mas vêse “ruído”. Em 2009, uma dessas zonas com “ruído”, devido ao processamento digital das imagens e da sobreposição de conjuntos de dados, era no fundo do mar. Página 6
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EDUCAÇÃO
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Segundo os conspiradores, esta “grelha” só podia ser explicada como sendo a Atlântida (da mesma forma que o aparecimento de prendas de Natal só pode ser explicado pelo Pai Natal).
algum do “ruído” desapareceu. E, com isso, desapareceu a suposta Atlantida. Carlos Oliveira
3 anos depois, com equipamentos melhores que permitiram a actualização do Google Earth,
PUB
AstroPT alojado por: Grifin http://www.grifin.pt/
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EDUCAÇÃO
Procyon, por que te chamam assim? Uma das estrelas de brilho notável que nesta época, nas latitudes equatoriais, tem aparecido próxima do zênite nas primeiras horas da noite, é o astro principal da constelação do Cão Menor, Procyon. Além de figurar entre as estrelas mais brilhantes do céu, Procyon é também uma das estrelas mais próximas do Sistema Solar, estando a cerca de 11 anos-luz de distância.
observarmos em qualquer época do ano nas
Procyon é mais uma das estrelas cujo nome
latitudes austrais, veremos que Sírius e não
vem dos gregos. Seu nome significa “antes do
Procyon nasce primeiro. Acontece o contrário:
Cão” ou “a que precede o Cão”, porque anuncia
Sírius é que anuncia a chegada de Procyon. Esse
o surgimento da constelação do Cão Maior,
efeito só vale para as latitudes boreais, onde
onde está a estrela mais brilhante de todo o
regiões como a Grécia se situa. Procyon tem
céu, Sírius. O interessante é que os observado-
uma variante em latim, pouco utilizada: Anteca-
res situados abaixo da linha do equador estra-
nis
nham essa estrela ser chamada assim. Se a
Saulo Machado
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EDUCAÇÃO
NASA – Nazista? Na “caminhada” pelos blogs pseudocientíficos do mundo percebemos, em alguns artigos, um pensamento que lhes são recorrentes: o apelido que a NASA, carinhosamente, lhe fora atribuído neste “meio”: NASA “nazi”.
impactos benéficos no nosso dia-a-dia são inquestionáveis. Mas por que essa alusão à NASA com os nazistas do passado?
Simples. Antes de tudo, falta de conhecimento no Evidentemente, para um bom entendedor, meia assunto. O cidadão já não gosta muito da NASA e palavra basta: refere-se que a NASA seria, er… desconfia desta. Acredita que esta agência enrola digamos, “Nazista”. todo mundo todos os dias e já agora ela não quer dizer-nos que existem etzinhos por aí dando Já ouvi isso, outrora, de um grande colega do contchauzinho quando apontam seus telescópios. Ou vívio pessoal. que extraterrestres reptilianos estão conversando Entretanto, antes de entrarmos no “X” da quesem reuniões secretas com líderes globais. Ou que tão, vamos relembrar o que significa a palavra Nibiru tá chegando por aí. A NASA também esconNASA. de que existe, já agora, um asteróide em rota de colisão com a Terra. A NASA é abreviação “Um pequeno passo para o homem, um grande salto pobre coitada não pode para National Aeronautics para a humanidade (Neil Armstrong).” esconder esse segredo da and Space Administration população que – muito proou, em outras palavras, vavelmente, criaria pânico Administração Nacional da em escala global – e tentar Aeronáutica e do Espaço. desenvolver, a princípio, Fundada oficialmente em uma tecnologia que possa 29 de julho de 1958 – quandestruir ou ao menos desdo muitos sequer haviam viar este objeto perigoso. nascido -, esta agência norOs pseudos preferem que te-americana tem como seja colocada a boca-no-trombone e salve-se objetivos principais a exploração espacial, detecquem puder. Os Illuminatti’s, como não podiam ção de NEO’s e uma melhor compreensão do Unideixar de ser, também mandam por lá. A partir verso. Claro que possa existir objetivos dessa “impressão”, é natural quando esse mesmo “secundários”, tais como desenvolvimentos cidadão começa a pesquisar em sítios na internet secretos de tecnologia militar e outras coisas e se depara com uma informação (verdadeira, [inserir aqui outros objetivos ocultos a gosto]. diga-se de passagem) que a NASA já contratou exAcredito que segredos tudo e todos têm. Desennazistas (antes mesmo do fim da II Guerra Munvolvimento de tecnologia militar, por exemplo, dial). Pronto, vai ser chamada, a partir de agora, são mantidos por quase todos os países. Não é de “NASA nazi [completando e inserindo alguma crédito exclusivo dos EUA, tampouco da NASA. ofensa aqui]”. Mas os benefícios que esta nos proporciona e os Página 9
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EDUCAÇÃO
Retornamos à II Grande Guerra. Em 1945, cerca de 500 dos melhores pesquisadores e cientistas (engenheiros , médicos, etc.), percebendo que a Alemanha nazista perderia a guerra, começaram a negociar suas rendições para os EUA. Escaparam, por sorte, do julgamento de Nuremberg. Entretanto, uma coisa que vale a pena destacar: apesar de serem nazistas, muitos destes eram notáveis na área de Ciências Exatas que, por infelicidade do destino, estavam pondo seus serviços de maneira completamente desumana. Um dos maiores exemplos do poder de se utilizar desses “notáveis” beneficamente (claro, não somos tolos em acreditar que os EUA estavam solidários com eles e cá quiseram convertê-los, transformandoos em monges tibetanos ) foi o ex-nazista e engenheiro alemão Wernher von Braun, uma das ferramentas mais importantes para o sucesso da Apollo 11. O von Braun trabalhou na NASA até meados de 1970 – quando decidiu pedir demissão. Contudo, já não estou de acordo quando o assunto são os médicos nazistas. Apesar dos experimentos horrorosos da medicina nazista com humanos ter contribuido substancialmente para o avanço da medicina contemporânea, preferia ter este campo da ciência menos avançado – em algumas de suas subáreas -, pois esta contribuição foi à custa do sofrimento terrível de milhões de crianças, jovens, adultos e idosos – que nós não temos ideia do pavor que eles passaram. Os relatos destas experiências que os próprios médicos alemães deixaram são um verdadeiro livro de terror. Página 10
Todavia, os benefícios do aperfeiçoamento das descobertas das explorações espaciais projetadas e executadas pelos cientistas e especialistas que fizeram e fazem parte desta são inúmeros. Faz-se recomendável a leitura desteartigo do Carlos Oliveira sobre o tema. Aqui você pode encontrar aplicações mais “corriqueiras” do nosso dia-a-dia. Portanto, um convite à reflexão: será que a NASA deve ser chamada de Nazi pelo fato de alguns de seus membros em épocas passadas terem sido ex-nazistas? Ou será que ainda existem cientistas-zumbis a serviço da NASA? Ou seus membros atuais se influenciaram pelos membros antigos e se renderam ao antigo nazismo? (…) Outra coisa interessante que se faz notar: a zombaria e o deboche que alguns fazem quando algum integrante da NASA vem a público prestar esclarecimentos. É fácil ter sítios que atacam a agência norte-americana, mas colocam link’s para seus leitores acompanharem suas sondas, tais como a SOHO e STEREO. Ou atalhos para a Estação Espacial Internacional (ISS). É fácil ter sítios fazendo alusões de que a NASA não seria confiável, zombando dos esclarecimentos de sua equipe acerca de determinados assuntos quando esta vem a público – porém mesclam seu logotipo com o nome do seu sítio eletrônico, por exemplo. Antes de estes criticarem e/ou zombarem dessa agência, dando total descrédito à quase tudo que se refere, seria bom que os pseudos pudessem observar se não estão utilizando algumas de suas tecnologias no seu dia-a-dia… Cavalcanti
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Dia da poesia No dia da poesia a astroPT deixa-vos aqui dois poemas um de António Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho, professor de Física e Química e investigador da História da Ciência em Portugal, que nos deixou em 1997) e outro de Olavo Bilac (Jornalista e poeta Brasileiro, que nos deixou em 1918): Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Reduzida a vapor, sob tensão e a alta temperatura, move os êmbolos das máquinas que, por isso, se denominam máquinas de vapor. É um bom dissolvente. Embora com excepções mas de um modo geral, dissolve tudo bem, bases e sais. Congela a zero graus centesimais e ferve a 100, quando à pressão normal. Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão. António Gedão Ora direis ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso”! E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora! “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las: Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”. Olavo Bilac José Gonçalves
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EDUCAÇÃO
A Química das Coisas Universidade de Aveiro lança programa de divulgação de ciência na RTP2 Já vez que à que
alguma pensou é graças química pode beber café descafeinado, trabalhar num computador portátil ou usar post-its para apontar um recado? A nova série «A Química das Coisas» vai desmascarar a química escondida no dia a dia e mostrar como os desenvolvimentos recentes desta ciência contribuem para o nosso bem-estar.
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Com estreia agendada para o dia 16 de março, às 13h55, na RTP2, o novo programa televisivo tem autoria do Departamento de Química da Universidade de Aveiro (DQ), produção da Science Office e Duvideo e apresentação de Cláudia Semedo. Os episódios, de cerca de três minutos cada, foram produzidos a pensar no grande público, com uma linguagem acessível e explicações visuais apelativas. Cláudia Semedo conduz o espectador pelos meandros da química que nos rodeia, ao longo dos 13 programas desta primeira série, em exibição de segunda a sexta-feira, às 13h55, até 3 de abril. Carlos Oliveira [NR: veja os vídeos aqui]
EDUCAÇÃO
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Alphard, por que te chamam assim?
Após o equinócio de Março, a maior das 88 constelações pode ser observada nas primeiras horas da noite. Trata-se da Hidra (Hydra), constelação originalmente chamada de Serpente no tempo dos babilônios. O nome atual deve-se aos gregos, eternizando um dos adversários de Hércules durante seus famosos Trabalhos, a Hidra de Lerna. Página 13
Apesar da constelação ser a mais extensa de todas as oficiais, não há tantas estrelas em destaque, a não ser uma: Alphard.
destaca em meio a um aparente vazio de estrelas. Existe um nome latino para Alphard menos usual: “Cor Hydræ“, que quer dizer “Coração Alphard está entre as 50 estrelas da Hydra”, devido à posição da mais brilhantes do céu. Seu nome, estrela no imaginário corpo da de origem árabe, significa “a Solicriatura mitológica. tária”, porque bem próximo dela não existem estrelas que rivalizem Saulo Machado em brilho. Vista de locais com poluição luminosa, Alphard se
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DIVULGAÇÃO
Ciência 2.0 Ciência 2.0 é um projecto de divulgação científica desenvolvido na Universidade do Porto. O site desenvolverá conteúdos das mais diversas áreas científicas, incluindo da astronomia. É um projecto que pretende dar a conhecer a Ciência com rigor e ao mesmo tempo de forma acessível e explicativa. Informalmente, vão sendo explicadas as várias ciências e o que elas têm de melhor e o que se vai fazendo nesta área. Um dos primeiros textos é sobre supernovas, e podem lê-lo aqui. “Somos “filhos” das estrelas e ajudados pelas supernovas. (…) “As estrelas massivas produzem [núcleos de] carbono, azoto, oxigénio e também o ferro”, explica
Carlos Oliveira, astrónomo e coordenador do blogue AstroPT. (…) Contudo, são facas de dois gumes. Se por um lado nos dão vida, pois produzem o carbono de que somos constituídos e de que o planeta Terra é composto e também o ferro e o oxigénio, elementos que nos são essenciais, por outro, caso aconteça alguma “num raio de 100 anos-luz, pode matar-nos em segundos”, salienta Carlos Oliveira. Estes conceitos foram defendidos, por exemplo, por Carl Sagan, cientista americano, que afirmou sermos “star stuff”, ou seja, tudo o que nos constitui é feito nas estrelas.” Carlos Oliveira
Calendário Astronómico A Sociedade Portuguesa de Astronomia (SPA) criou um google calendar, público, para funcionar como agenda de eventos relacionados com a Astronomia, como sucessor da Agenda do AIA2009. Assim, sempre que alguém organizar um evento no âmbito da Astronomia, cujo destinatário seja o público em geral, pode colocar o mesmo na agenda/calendário. Para isso, basta enviarem um e-mail com essa informação para o endereço da SPA [spa@sp-astronomia.pt]. Para verem o calendário, cliquem aqui, e podem subscrever os feeds, aqui. Carlos Oliveira Página 14
DIVULGAÇÃO
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Ciência com Todos
Ciência com Todos é um interessante projecto, do qual faço parte da comissão científica. Esta foi a informação recebida de João Pedro Calafate: Ciência com Todos é um projeto de educação/ divulgação de Ciência, que apresenta como principal finalidade melhorar a literacia científica dos cidadãos portugueses e outros interessados. Este projeto apresenta um sítio na Web – http:// cienciapatodos.webnode.pt – onde o utilizador poderá “dar asas” à sua curiosidade e imaginação (acerca da vida, do mundo e do universo que nos rodeia) colocando questões, relacionadas com a Ciência e a Tecnologia, para as quais não encontra uma resposta ou não encontra uma resposta cientificamente adequada e acessível e vê-las respondidas por especialistas de diversas áreas da Ciência e da Tecnologia. O projeto conta atualmente com 167 colaboradoPágina 15
res de várias áreas da Ciência, que constituem a sua comissão científica, sendo maioritariamente docentes doutorados de instituições universitárias portuguesas e/ou investigadores das mesmas ou de centros de investigação científica. Alguns destes colaboradores pertencem a instituições universitárias estrangeiras. Um dos objetivos chave deste projeto é a indagação científica tanto por parte de alunos, de todos os níveis de ensino, como por parte dos professores de Ciências destes níveis. Neste momento, o leitor poderá encontrar no sítio do CcT uma quantidade razoável de questões/respostas, de uma variedade de áreas científicas e temas, que apelam à curiosidade de cada um. Carlos Oliveira
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LITERACIA CIENTÍFICA
O Vento… Dentro e Fora da Cabeça Como cientista amo a ciência e não gosto que falem mal dela quando não a compreendem ou que digam bem de algo que é contrário à ciência. Quando se trata de um leigo desconhecido posso debater de forma mais rígida. Contudo, quando se trata de uma pessoa que conheço é-me difícil dizer que aquilo é uma aldrabice. Digo apenas que não é assim. É escusado ensinar ciência a alguém que quer, à força, que as ideias esotéricas sejam verdadeiras. A conversa teve início nas dores de garganta. A causa, disse esse amigo, é devido a uma entrada de ar que existe na parte de trás do pescoço. Imediatamente coloquei a mão a pensar que tinha um buraco que nunca tinha notado! Felizmente não encontrei nenhum buraco. Segundo esse meu amigo o vento entra por esse local e provoca as doenças e que, por isso, as pessoas usam cachecol. Eu respondi que se usa cachecol, não para não entrar frio mas para aquecer a garganta porque o vírus da gripe replica -se a 4ºC. Notem que, em ciência somos ensinados a indicar bibliografia e características concretas (como o exemplo dos 4ºC, pode-se ver no comentário deste post).
chinesa que “O frio faz os objetos se contraírem” (até aqui está certo), que “causa calafrios, e os tremores provocam o enrijecimento dos músculos.” E que “O vento-frio é tradicionalmente tratado com ervas quentes e diaforéticas (indutoras de suor) para dissipar o frio e repelir o vento.” Aqui já está tudo mal. Mas isso sou eu e a Física que estamos errados. Ora, todos sabemos que o suor aparece quando estamos quentes e temos febre, não para dissipar o frio mas para resfriar o corpo para que este baixe a temperatura . O suor não permite o corpo atingir a temperatura de 42ºC, temperatura de degeneração das proteínas. Mas todos sabemos que a Bioquímica é uma farsa e que o tradicionalismo chines de mais de 2000 anos, baseado em dragões (que todos sabemos existir) e energias mágicas (que obviamente existem), é o correcto. Mais um desastre de senso comum é que o vento quente é “causado por uma combinação de agentes patogênicos, essa síndrome é vista normalmente no resfriado comum (em inglês) ou gripe.” Acho que nem é preciso referir que a gripe é característica de ambientes frios, cerca de 4ºC e que o vento não é composto por agentes patogénicos mas é, por definição, massas de ar em movimento.
Ao pesquisar um pouco encontrei coisas horríveis! Encontrei num site de medicina tradicional
Mais uma série de barbaridades existem neste
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FÍSICA
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site. Fico com medo que comecem a ensinar às pessoas que existem civilizações a morar num planeta que vai bater com o nosso este ano, que a 3ª dimensão vai desaparecer e que vamos passar para uma 5ª dimensão. Que vai haver mudanças de energias e coisas do género… esperem… mas isso já é ensinado! E as esponjinhas já absorvem tudo isso. Pesquisei nas sebentas das cadeiras de fisiologia e anatomia da faculdade e não encontrei nenhuma entrada de ar no pescoço. Na mesma linha veio-me parar às mãos um folheto interessante de uma astróloga vidente especializada em coisas de energia (não, não é especializada em física das altas energias. Isso é treta). É
diplomada por um centro Umbandístico (que quer dizer seita). Esta especialista séria lê mãos, búzios e, agora, velas! Se a vela não acende podia ser por falta de jeito, por estar vento ou chuva. Mas não, quer dizer que um anjo tem dificuldade para ancorar. É tão triste que não consigo reproduzir mais. Tenho dificuldade em escolher qual a pior análise de chamas de velas. Para pessoas sérias as ideias vão em direcção ao bem-estar e ao conhecimento verdadeiro. Para os charlatães as ideias vão na direcção oposta e, obviamente, oposta ao conhecimento e ao senso comum. Muita gente não repara porque é esponjinha, absorvem tudo. Dário Codinha
Nova partícula subatómica Depois de ter sido descoberta a partícula Chi b (3P), eis que surge o E(38). A descoberta foi comunicada ontem Crédito: http://cft.fis.uc.pt/eef/stronghiggs.htm pela Universidade de Coimbra e que podem ler no Público. O investigador holandês Eef van Beveren, físico teórico da Universidade de Coimbra, analisou os dados obtidos com as experiências dos aceleradores de partículas em Bona (Alemanha) e no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN, na Suíça), entre outras instituições. Nessa análise, o Página 17
físico “‘varreu” todos os eventos registados nas experiências, mesmo os considerados irrelevantes, e num ínfimo espaço registou uma quantidade de 46 mil eventos com 13 sigma de significância (mais que suficiente, superior a 5 sigma, para declarar-se a existência de uma partícula), que é um indicador de relevância estatística. Esta partícula com propriedades pouco conhecidas (sabe-se que é 25 vezes mais leve do que um protão e três vezes mais leve que um pião), que existe numa zona de energia tão baixa e apresenta uma extrema leveza, poderá ter grandes implicações na física de partículas, na física das altas energias e na cosmologia. Por exemplo, poderá ser utilizada como uma fonte de energia nuclear mais limpa, dado que se desintegra totalmente sem deixar resíduos, onde “um miligrama desta matéria dará para um megawatt durante um ano”, segundo o cientista. [podem ver o vídeo aqui] José Gonçalves
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ASTROBIOLOGIA
Mito Moderno Um aluno do mini-curso de astrobiologia dos Açores, decidiu desenhar uma imagem que abrangesse o curso. Segundo as suas palavras: “A figura é uma expressão de um mito moderno: o do extraterrestre. Esse é uma inteligência superior, esquiva, que se mantém para além do tempo e espaço, tomando assim o lugar dos deuses ou espiritualidade na consciência do Homem. A figura do extraterrestre revela-se, portanto, como um símbolo antropomórfico moderno do desconhecido.” E com o consentimento dele, Paulo Pacheco, cá fica a imagem. Página 18
Carlos Oliveira
ASTROBIOLOGIA
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Anfípodes extraterrestres No curso de astrobiologia que leccionei nos Açores, um dos alunos disse-me uma coisa deveras interessante: que o extraterrestre do filme Alien afinal não é assim tão extraterrestre. Há quem diga que é baseado numa pintura de H. R. Giger chamada Necronom IV. Mas este ser estranho poderá ter sido inspirado por um animal bem terrestre: um anfípode, pequeno crustáceo sem carapaça, mais precisamente um Phronima. Vejam as semelhanças:
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[veja o vídeo aqui] Carlos Oliveira
COSMOLOGIA
Março 2012
Colisão entre Anãs Brancas na Origem das Supernovas de Tipo Ia ? Em Agosto do ano passado, neste artigo, descrevi como ocorre uma supernova de tipo Ia. Na altura a motivação foi o aparecimento de uma supernova deste tipo na galáxia M101. Com um pico de brilho de magnitude +9.9, no dia 13 de Setembro, foi uma das supernovas extragalácticas mais brilhantes das últimas décadas. No artigo, expliquei que, ao contrário do que acontece com supernovas de tipo II (e Ib e Ic), para as quais várias estrelas progenitoras (as estrelas que explodiram dando origem à supernova) foram já identificadas em imagens de arquivo, para as supernovas de tipo Ia não foi identificada nenhuma estrela ou sistema de estrelas progenitor. Estudos teóricos deixam no entanto poucas dúvidas de que as supernas de tipo Ia Cenário 1. Uma anã branca em órbita de uma companheira normal. O gás da companheira resultam da explosão termo- é lentamente capturado pela anã branca até que a fusão explosiva do carbono é desencanuclear de uma anã branca, deada, dando origem à supernova. Crédito: NASA/CXC/M. Weiss resultado do despoletar da companheira. Existem dois cenários possíveis: fusão descontrolada de carbono no seu interior. Este processo não pode ocorrer em anãs brancas Cenário 1. A companheira é uma estrela normal, isoladas, por isso é também consensual que são semelhante ao Sol ou uma gigante vermelha, sistemas binários contendo pelo menos uma anã mais evoluída. Neste cenário, o material da estrebranca que dão origem a este tipo de supernova. la companheira escapa do seu lobo de Roche, e é O que não é consensual é a natureza da estrela Página 20
COSMOLOGIA
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Cenário 2. Duas anãs brancas num sistema binário perdem gradualmente energia orbital e acabam por colidir. A fusão explosiva do carbono é despoletada rapidamente no interior da estrela que se forma brevemente após a colisão. Crédito: NASA/GSFC/D. Berry
capturado pelo campo gravitacional da anã bran-
mais maciça, rodeada de um disco de material
ca, acabando por colidir com a superfície da mes-
que rapidamente é capturado. Estes estudos
ma. Este material adiciona peso às camadas exte-
apontam para que o aquecimento e aumento de
riores da estrela e aumenta a pressão no seu inte-
pressão provocados pela queda desse material na
rior. Ultrapassado um limite crítico de pressão e
estrela provoquem a ignição do carbono e a sua
temperatura interna, inicia-se a fusão explosiva
fusão explosiva, dando origem à supernova. De
do carbono e forma-se a consequente supernova
notar que neste cenário as anãs brancas em causa
de tipo Ia, destruindo completamente a anã bran-
podem ser menos maciças do que no caso ante-
ca. Um pormenor importante: a anã branca tem
rior, o que aumenta significativamente o número
de ser suficientemente maciça à partida para
de sistemas passíveis de dar origem a uma super-
incrementar numa escala de tempo razoável a sua
nova de tipo Ia.
massa até próximo do limite de Chandrasekhar (1.4 massas solares), pois só para este regime de massa é que a pressão e temperatura internas é suficiente para desencadear a fusão explosiva do carbono. Um problema notado consiste no facto de poderem não existir anãs brancas maciças suficientes para explicarem a frequência das supernovas de tipo Ia. Cenário 2. A companheira é outra anã branca. Neste cenário, as estrelas orbitam cada vez mais próximo e acabam por colidir (vejam mais abaixo). De acordo com simulações a colisão dá origem, por breves instantes, a uma estrela única, Página 21
Durante muitos anos, o cenário preferido (por razões cientificas obviamente) dos astrofísicos foi o primeiro. No entanto, recentemente várias linhas de investigação parecem apontar na direcção oposta de forma muito convincente. De facto, o cenário 2 poderá estar na origem da grande maioria das supernovas de tipo Ia ao passo que o cenário I poderá explicar algumas supernovas deste tipo com características atípicas, por exemplo, luminosidades anormalmente elevadas. Os trabalhos recentes que descrevo em seguida são um bom exemplo desta provável mudança de paradigma. Os astrofísicos Carles Badenes (Universidade de Pittsburgh) e Dan Maoz (Universidade de Tel-
COSMOLOGIA
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Aviv), tentaram responder a uma questão aparentemente simples – “Será que existem sistemas binários em que ambas as estrelas são anãs brancas em número suficiente para explicar a frequência observada de supernovas de tipo Ia?”. A resposta que obtiveram foi positiva. Os autores estimaram que, na nossa galáxia, o número de tais sistemas binários é suficiente para dar origem, em média, a uma colisão por século. Este número é semelhante à frequência de supernovas de tipo Ia observada para galáxias semelhantes à nossa. Mas como é que os autores estimaram este número? O processo, apesar de conceptualmente simples, é extremamente trabalhoso. A ideia Na imagem vêem-se 99 das 4000 anãs brancas estudadas por Badenes e Maoz – os objectos azuis consiste em contar no centro das imagens. Crédito: Carles Badenes e equipa do SDSS-III quantos destes sistemas binários existem numa vizinhança do Sol e estimar a frequência das colisões na nossa galáextrapolar o seu número para a totalidade da xia. galáxia. Depois é necessário determinar para Para determinarem o número de sistemas na estes sistemas, em média, quanto tempo decorre vizinhança do Sol, os autores utilizaram dados desde a sua formação até à colisão das estrelas. provenientes do Sloan Digital Sky Survey (SDSS), O número de sistemas e o tempo necessário para um projecto que procedeu a um censo do céu a ocorrência de uma colisão permitem então inteiro recolhendo informação básica e espectros Página 22
COSMOLOGIA
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de milhões de objectos astronómicos. No meio deste mar de informação os autores identificaram cerca de 4000 anãs brancas próximas. Para cada uma delas, usaram espectros para detectar variações na sua velocidade radial (ao longo da nossa linha de visão) que indiciassem a presença de uma estrela companheira e O observatório SWIFT da NASA. Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/Swift permitissem determinar as suas características. centro de gravidade comum cada vez com maior Nos casos em que a companheira era também
velocidade. Isto aumenta a emissão de ondas gra-
uma anã branca, os autores utilizaram a Teoria da
vitacionais, resultando numa aproximação ainda
Relatividade Geral para determinar quanto tempo
maior, … , um ciclo vicioso que termina com a
passaria até as estrelas do sistema colidirem. De
colisão das duas estrelas numa escala de tempo
facto, devido à elevada velocidade orbital e fortes
relativamente curta (dezenas de milhões de anos)
campos gravitacionais das anãs brancas, um tal
após a formação do sistema. Com os dados do
sistema binário dissipa energia sob a forma de
SDSS e observações subsequentes, os autores
ondas gravitacionais. Isto não é ficção, foi
confirmaram a presença de 15 sistemas binários
demonstrado experimentalmente com observa-
formados por duas anãs brancas na amostra origi-
ções de um sistema binário com dois pulsares
nal de 4000, traduzindo-se este número na fre-
(estrelas de neutrões). Este trabalho resultou, em
quência referida de uma colisão por século.
1993, num prémio Nobel atribuído aos investiga-
Podem ver a notícia e o artigo aqui e aqui, respec-
dores da Universidade de Princeton, Russell Hulse
tivamente.
e Joseph Taylor. O resultado dessa dissipação é a
Brock Russell, da Universidade de Maryland, Col-
perda gradual de energia orbital das estrelas. As
lege Park, é o autor principal de um outro estudo
estrelas ficam cada vez mais próximas e orbitam o
que explora outra particularidade destes sistemas
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Março 2012
COSMOLOGIA
binários para determinar a natureza da estrela companheira. No cenário I, se a estrela companheira for uma estrela normal, é de esperar que esta emita para o espaço material através de um vento estelar. Estes ventos estelares são particularmente densos (transportam muito material) em estrelas mais evoluídas como gigantes vermelhas, ou em supergigantes. Ora, quando a anã branca explode, o material em expansão deveria colidir a alta velocidade com este material que circunda a estrela companheira, na realidade o sistema completo, e fazê-lo emitir brevemente raios X. Russell e os colegas utilizaram observações de 53 supernovas de tipo Ia realizadas com o telescópio de raios X (designado por XRT) a bordo do observatório SWIFT (originalmente desenhado para observar explosões de raios gama) para tentar detectar a dita emissão de raios X. O resultado foi negativo, implicando que as estrelas companheiras das anãs brancas que explodiram nestas supernovas não poderiam ser supergigantes ou mesmo gigantes vermelhas de tamanho mais modesto. Um estudo complementar, liderado por Peter Brown da Universidade do Utah, Salt Lake City, utilizou também dados obtidos com o SWIFT, desta vez com outro instrumento sensível no ultravioleta (designado por UVOT), que observou 12 supernovas de tipo Ia menos de 10 dias depois da explosão, numa fase muito precoce da supernova portanto. Nesta fase, se a companheira for uma estrela normal de maior dimensão, a onda de choque da supernova deve comprimir fortemente as camadas exteriores da estrela, aquecendo-as e fazendo-as emitir radiação ultravioleta. Os autores não detectaram este tipo de emissão em nenhuma das 12 supernovas observadas, reforçando a ideia de que as estrelas companheiras são pequenas, semelhantes ao Sol ou de menor Página 24
dimensão. Os artigos de Russel e Brown serão publicados no início de Abril, respectivamente nas revistas, The Astrophysical Journal Letters e The Astrophysical Journal. Entretanto podem ver a notícia aqui. Paralelamente a estes estudos, a descoberta da supernova SN 2011fe na M101, referida no início deste artigo, numa fase muito inicial da explosão, permitiu realizar observações com uma sensibilidade sem precedentes, dada a proximidade relativa da galáxia. Observações realizadas com o UVOT do SWIFT não detectaram qualquer excedente de radiação no ultravioleta, tal como Brown tinha observado nas suas 12 supernovas, e reforçando as conclusões do seu estudo. De facto, neste caso, as observações têm qualidade suficiente para concluir que a estrela companheira será forçosamente mais pequena do que o Sol. Um outro trabalho ainda não publicado, liderado por Alicia Soderberg do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, e utilizando dados também obtidos com o SWIFT, sugere mesmo que a explosão só poderia ter sido causada pela colisão de duas anãs brancas. A identificação dos sistemas progenitores das supernovas de tipo Ia não é simplesmente um problema interessante em astrofísica. As suas implicações são importantíssimas, por exemplo, para a cosmologia. De notar que foi com base na assumpção de que a luminosidade máxima das supernovas de tipo Ia é constante (a menos de pequenas correcções entretanto compreendidas) que foi possível determinar que o Universo está a acelerar a sua expansão e deduzir a existência da chamada “energia negra”. Luís Lopes
COSMOLOGIA
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Hubble Observa a Espiral Barrada NGC2683
Crédito: ESA/Hubble & NASA
O telescópio Hubble obteve esta imagem espectacular da galáxia NGC2683, situada na constelação do Lince, com a Advanced Camera for Surveys (ACS), um dos seus instrumentos mais versáteis e sensíveis. Apesar de não ser aparente na imagem, NGC2683 é uma galáxia espiral barrada, em que os braços espirais terminam numa estrutura linear (a barra) centrada no núcleo e contendo uma grande densidade de estrelas. A barra não é visível na imagem pois a galáxia está a ser vista “de lado” e os braços espirais mais exteriores e as poeiras neles existentes encobrem as suas zonas mais interiores. Os astrónomos deduziram a estrutura barrada para NGC2683 com base no estudo do movimento das estrelas em torno do núcleo da galáxia. Esse estudo é realizado medindo o efeito de Doppler provocado por esse movimento na luz emitida pelas estrelas da galáxia em diferentes pontos do disco. A imagem que se segue, da galáxia designada de UGC12158, mostra o aspecto típico de uma galáxia espiral barrada vista “de cima”. A nossa própria galáxia, a Via Láctea, é uma espiPágina 25
Crédito: ESA/Hubble & NASA
ral barrada, uma descoberta relativamente recente dos astrónomos que estudam a sua estrutura e evolução. A imagem que se segue mostra o aspecto que a Via Láctea poderá ter vista de uma perspectiva semelhante da UGC12158, com base nos estudos mais recentes da estrutura galáctica, em particular no que diz respeito à localização da barra e dos vários braços espirais. Podem ver mais detalhes sobre esta imagem aqui e mais pormenores sobre a imagem de NGC2683 aqui. Luís Lopes
Crédito: NASA/ JPL-Caltech
SISTEMA SOLAR
Março 2012
Oposição de Marte
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Esta foi uma oposição periélica (de periélio, o ponto de maior aproximação ao Sol). Na oposição de hoje, os dois planetas estão na oposição mais distante (cerca de 101 milhões de km). Esta é uma oposição afélica (de afélio, o ponto de maior afastamento do Sol). A próxima oposição periélica será em 27 julho 2018, com os dois planetas a cerca de 57,6 milhões km de distância. Na imagem, os objetos NÃO estão representados à escala de tamanho, embora a escala da distância (isto é, o desenho das órbitas), seja aproximada-
mente o correto. CAUP
PUB
Hoje (3 de Março) é dia de oposição de Marte. Uma oposição ocorre quanto Marte, a Terra e o Sol estão perfeitamente alinhados e os dois planetas estão “do mesmo lado” da órbita, algo que ocorre de 26 em 26 meses. No entanto, como as órbitas não estão exatamente no mesmo plano e a órbita de Marte é mais excêntrica que a da Terra, a distância entre os dois planetas em oposição não é sempre a mesma. A 27 agosto de 2003 ocorreu a última oposição em que os planetas estiveram mais próximos (a apenas 56 milhões de km).
SISTEMA SOLAR
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Dione tem atmosfera de oxigénio
A lua Dione fotografada pela sonda Cassini a 11 de Outubro de 2005. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
A sonda Cassini detectou pela primeira vez iões de oxigénio molecular (O2+) junto à superfície de Dione, confirmando a presença de uma ténue atmosfera em redor desta lua de Saturno. A descoberta foi divulgada num artigo recentemente publicado na revista Geophysical Research Letters (ver aqui). Há já algum tempo que os cientistas suspeitavam da presença de O2+ em Dione. Nos anos 90, o telescópio espacialHubble tinha detectado nesta lua saturniana a assinatura espectral de ozono (O3), o
que sugeria a existência de quantidades apreciáveis de oxigénio molecular junto à sua superfície. A confirmação da existência de uma ténue atmosfera (ou exosfera) de O2+ em Dione surgiu a 7 de Abril de 2010, durante uma passagem próxima da sondaCassini, a apenas 503 quilómetros de altitude. Com o seu instrumento INMS (Ion and Neutral Mass Spectrometer), a sonda da NASA mediu densidades de iões situadas entre 0,01 e 0,09 O2+.m-3,o equivalente ao encontrado a 480 quilómetros acima da superfície terrestre.
Templo de Diana by Miguel Claro
skyscapes.htm#148
Mais imagens em: http:// www.astrosurf.com/astroarte/ Página 27
Visita http:// miguelclaro.com Miguel Claro
Terá a exosfera de Dione origem biogénica? É muito improvável que tal ocorra. Como explicam os autores do artigo, o oxigénio molecular de Dione deverá ser libertado da sua superfície pelo intenso bombardeamento do gelo de água superfícial com protões solares ou outras partículas energéticas. Os cientistas da missão vão, no entanto, continuar a procurar outros processos responsáveis pelo O2+ da exosfera dioniana, incluindo mecanismos geológicos. Sérgio Paulino
SISTEMA SOLAR
Março 2012
Tesouros da missão Voyager: ciclones jovianos Tempestades na Cintura Temperada do hemisfério norte de Júpiter. Mosaico de imagens obtidas pela sonda Voyager 2 a 9 de Julho de 1979. O retrato final foi colorizado, usando como modelo uma outra imagem de contexto (em baixo). Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.
É impressionante a quantidade de imagens obti-
ra porque felizmente começam a proliferar ama-
das pelas duas sondas Voyager que nunca foram
dores com a paciência e a habilidade necessárias
tornadas públicas. Tudo isso aconteceu não por-
para mergulharem nesse imenso tesouro e traze-
que a NASA as quisesse esconder, mas porque
rem a público belíssimos retratos dos gigantes
simplesmente é um vasto material em bruto, até
gasosos e das suas luas. Relembro que todo esse
agora apenas usado por cientistas. E digo até ago-
vasto material está disponível a quem o quiser
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SISTEMA SOLAR
Volume 2 Edição 3
Imagem de contexto em cores aproximadamente naturais, mostrado a região retratada na imagem de cima e comparando-a com as dimensões da Terra. Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.
observar (e utilizar) aqui. Daniel Macháček é um dos entusiastas desta acti-
Vejam: a imagem. Espectacular, não? E que tal ao som deste tema?
vidade. Recentemente, desenterrou dos arquivos de dados da NASAimagens do planeta Júpiter obtidas pela sonda Voyager 2 em 1979. Com a mestria com que já nos habituou, compôs um magnífico retrato da atmosfera turbulenta do gigante gasoso. Os pormenores visíveis são impressionantes. Numa extensão de cerca de 12 mil quilómetros, desfilam grandes ciclones, cada uma com o seu respectivo olho bem delineado.
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Sérgio Paulino
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Março 2012
Cometa Garradd aproxima-se hoje Crédito: Olivier Sedan
O Cometa Garradd estará hoje o mais próximo da Terra, a somente 10 minutos-luz, a cerca de 180 milhões de kms de distância da Terra. Com uma magnitude no limite da visibilida-
de a olho nú, em lugares escuros, o cometa está a passar na direcção da constelação Ursa Menor.
Carlos Oliveira Página 30
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SISTEMA SOLAR
Redemoinho em Marte Visto de Órbita ! Crédito: NASA/JPL/University of Arizona
O Mars Reconnaissance Orbiter inclui uma câmara de alta resolução designada por HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment) que é responsável por algumas das mais belas imagens de Marte até à data. A operação da câmara está a cargo da Universidade do Arizona que mantém uma página na Internet com um arquivo a não perder. Nesta pequena nota gostava apenas de chamar a vossa atenção para uma imagem recente particularmente espectacular. No dia 16 de Fevereiro passado, a HiRISE fotografou um “dust devil”, em português – redemoinho de poeira, numa região de Marte conhecida por Página 31
Amazonis Planitia. A imagem é impressionante, especialmente quando pensamos que foi obtida a partir de órbita. A partir do tamanho da sombra projectada no solo foi possível calcular que a pluma de poeira libertada pelo redemoinho teria mais de 800 metros de altura e uma espessura de cerca de 30 metros. A forma ondulada da pluma resulta da trajectória do redemoinho na superfície e da interacção com o vento na atmosfera. Podem ver a imagem noutros formatos e mais informação aqui. Luís Lopes
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Março 2012
Cratera listrada em Arabia Terra
Listras radiais numa pequena cratera situada nos planaltos de Arabia Terra, em Marte. Imagem obtida a 05 de Fevereiro de 2012 pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter. Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.
Algumas regiões de Marte ostentam verdadeiras
declives acentuados, formando bandas escuras
obras de arte. Vejam, por exemplo, o caso desta
que se desvanecem com o tempo.
cratera fotografada recentemente pela Mars
A cratera da imagem destaca-se pela beleza do
Reconnaissance Orbiter.
padrão radial de listras que exibe, certamente fru-
As listras que decoram o interior desta cratera são estruturas vulgarmente encontradas em encostas por toda a superfície poeirenta de Marte. Pensa-se que são constituídas por material finamente granulado que se precipita ao longo de Página 32
to de episódios repetidos de queda de material granulado do cimo das suas encostas. Sérgio Paulino
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SISTEMA SOLAR
Estranho material negro em Vibídia Vibídia é uma A cratera Vibídia, em Vesta. Imagem obtida pela sonda Dawn a 21 de Outubro de 2011 (resolução: 70 metros/pixel). pequena cra- Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA. tera vestiana que se destaca pela distribuição diferencial de materiais de aspecto e cor distintos em seu redor. Os materiais mais brilhantes formam um padrão circular que se estende a mais de 15 quilómetros da orla da cratera. A curta distância e no seu interior distingue-se um outro material mais escuro, curiobem delimitada, que denuncia a presença de um samente também visível na vertente de uma craestrato subsuperficial nesta região, escondido por tera vizinha (em baixo). um fino manto de regolito. A origem e natureza deste material é ainda descoVejam mais imagens de Vesta aqui. nhecida, mas um levantamento preliminar da sua presença na superfície de Vesta sugere uma disSérgio Paulino tribuição heterogénea (ver aqui). Em Vibídia parece localizar-se preferencialmente numa camada
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SISTEMA SOLAR
Março 2012
Sol aponta um gigantesco buraco coronal na direcção da Terra A densidade de plasma no interior dos buracos coronais é tipicamente 100 vezes inferior à observada noutras regiões da coroa. Normalmente, os gases da coroa são superaquecidos a temperaturas superiores a 1.000.000 ºC, facto que os torna particularmente brilhantes em imagens captadas na banda do ultravioleta extremo. Devido à sua baixa densidade, os buracos coronais são relativamente mais frios e, consequentemente, mais escuros nessa zona do espectro electromagnético. Durante os períodos de actividade solar mínima, os buracos coronais tendem a ficar confinados às regiões polares do Sol. A sua ocorrência em latitudes inferiores vaise tornando mais comum à medida que o ciclo solar se aproxima do seu auge, pelo que a sua presença nestas regiões do disco solar nesta fase do actual ciclo é um fenómeno perfeitamente normal.
Buraco coronal observado ontem pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta extremo (193 Å). Estão representadas as linhas do campo magnético da coroa solar (representação obtida a partir de cálculos realizados com base no modelo PFSS). Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.
O Solar Dynamics Observatory tem estado a assistir nos últimos dias à lenta deslocação de um enorme buraco coronal acima da superfície do Sol. A gigantesca abertura deve a sua presença a uma lacuna na estrutura do campo magnético da coroa, que permite a fuga de um rápido e denso fluxo de
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partículas carregadas para o espaço interplanetário. Neste momento, o buraco coronal está voltado na direcção da Terra, pelo que se espera um aumento da actividade geomagnética nos próximos dias devido à interacção do campo magnético terrestre com o intenso vento solar gerado na região.
Sérgio Paulino
SISTEMA SOLAR
Volume 2 Edição 3
Astronauta da missão Apollo 12 colhendo uma amostra de rocha lunar. Crédito: NASA.
Estará o impacto de um asteróide na origem das anomalias magnéticas da Lua?
Os cientistas têm-se intrigado com as anomalias magnéticas encontradas em algumas regiões da Lua desde que os astronautas da missão Apollo 12 descobriram, pela primeira vez, rochas fortemente magnetizadas nas planícies de Mare Cognitum, no sul de Oceanus Procellarum. Tipicamente, as rochas recolhidas nas missões Apollo são pobres em ferro, o que lhes confere um fraco potencial de magnetização. Por outro lado, a distribuição de regiões fortemente magnetizadas na superfície lunar nem sempre se correlaciona com estruturas geológicas que possam fornecer pistas sobre a sua origem, como por exemplo, bacias de impacto, vulcões ou fluxos de lava. Um trio de investigadores acreditam agora ter encontrado na antiga bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken a chave para a solução deste enigma. Com um diâmetro médio de 2.200 km e com cerca de 13 km de profundidade, a gigantesca depressão é a maior estrutura de impacto do Sistema Solar. A sua forma elíptica é uma clara evidência de que terá sido esculpida pelo impacto de um Página 35
grande objecto numa trajectória oblíqua. A norte de Pólo Sul -Aitken concentra-se o mais proeminente grupo de anomalias magnéticas de toda a superfície lunar. Mark Wieczorek do Institut de Physique du Globe de Paris e os seus dois colegas do Massachusetts Institute of Technology publicaram um artigo na revista Science onde especulam que esta coincidência é uma forte evidência de que a gigantesca bacia foi esculpida por um grande asteróide com 10 a 30% de ferro na sua composição e cerca de 100 vezes mais magnetizado que os materiais da crusta lunar. Para testar a sua hipótese, os investigadores realizaram várias simulações de impacto em computador, onde fizeram variar as dimensões do projéctil, a sua velocidade e o ângulo da sua trajectória. Descobriram que o impacto de um asteróide rico em ferro, com 200 km de diâmetro, num ângulo de 45º e a uma velocidade de 15 km.s1 provocaria a distribuição dos seus materiais num padrão semelhante ao observado para as anomalias magnéticas lunares. Curiosamente, as simula-
ções reproduzem inclusive a presença de fortes anomalias isoladas no lado mais próximo da Terra, como é o caso de Reiner Gama e Descartes. Os fragmentos metálicos do asteróide teriam condições para ser magnetizados durante o seu arrefecimento, caso existisse um campo magnético global na Lua quando a bacia de Pólo Sul-Aitken se formou, há cerca de 4,3 mil milhões de anos – uma distinta possibilidade, de acordo com os autores. Depois do dínamo lunar cessar a sua actividade, essas regiões poderiam permanecer magnetizadas, criando o estranho retalho observado nos dias de hoje. Podem consultar o artigo original deste trabalho aqui. Sérgio Paulino
A bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken. Estão evidenciados a vermelho na metade esquerda da imagem os grupos de anomalias magnéticas situadas no limite norte da depressão. Crédito: NASA/LRO/Science/AAAS.
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Março 2012
Dois mundos surpreendentes
Encélado e Titã numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 12 de Março de 2012. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.
Na semana passada, a sonda Cassini realizou uma sessão de monitorização de nuvens no hemisfério subsaturniano de Titã. Durante a sessão, partes do disco difuso da maior lua de Saturno foram momentaneamente ocultadas pela lua Encélado e por uma porção do sisPágina 36
tema de anéis. O encontro entre os dois surpreendentes mundos foi registado pela Cassini através de filtros para a banda do visível, o que permitiu a construção deste retrato em cores naturais. Na altura Titã encontravase muito distante, a cerca de
2,45 milhões de quilómetros de distância. Encélado estava muito mais próxima, distando apenas cerca de 1,05 milhões de quilómetros da sonda da NASA. Sérgio Paulino
Volume 2 Edição 3
SISTEMA SOLAR
O que escondem as áreas permanentemente sombrias das regiões polares de Mercúrio? Foi com grande entusiasmo regiões polares. Como nunca que, no início dos anos 90, são aquecidas pelo Sol, estas a NASA anunciou uma inespesuperfícies mantêm-se a temrada descoberta em Mercúrio. peraturas suficientemente baiMunidos do sistema de radar Goldstone-VLA, cientistas planetários americanos identificaram nas regiões polares do planeta superfícies com elevada reflectividade radar, que sugeriam a presença de depósitos de gelo de água no interior das crateras mais profundas. Esta extraordinária descoberta viria a ser confirmada nos anos seguintes em sucessivos mapeamentos da região realizados pelo Radiotelescópio de Arecibo. Gelo na superfície de MerImagens de radar da região do pólo norte de cúrio? Como poderia sobre- Mercúrio, obtidas a partir do observatório de viver gelo de água num pla- Arecibo em Julho de 1999 (a) e em Agosto neta tão próximo do Sol? A de 2004 (b) (resolução: 1,5 km/pixel). As zonas mais claras correspondem a superfíresposta está na inclinação cies com elevada reflectividade radar. A seta do eixo de rotação do tórri- indica a direcção de incidência média do do planeta. De acordo com radar. as mais recentes medições Crédito: John Harmon, Martin Slade e Melissa Rice (imagem publicada na revista Icarus, realizadas pela sonno artigo de 2011 Radar imagery of Mercury’s da MESSENGER, o eixo de putative polar ice: 1999–2005 Arecibo results). rotação de Mercúrio tem uma inclinação inferior a 1º, o que permite a existência de xas para aí aprisionar gelo de pequenas áreas permanenteágua por longos períodos de mente sombrias no interior das tempo. crateras mais profundas das Um dos principais objectivos
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da missão primária da MESSENGER (concluída no passado dia 18 de Março) era recolher dados que permitissem determinar a natureza dos misteriosos depósitos polares. Anteontem, membros da equipa científica da missão apresentaram na 43ª Lunar and Planetary Science Conference (a decorrer durante esta semana) os primeiros resultados dessas observações. Nancy Chabot, membro da equipa responsável pelo Mercury Dual Imaging System (MDIS), mostrou a localização das superfícies com elevada reflectividade radar em imagens da região do pólo norte de Mercúrio obtidas pelaMESSENGER. Nas imagens foi possível verificar que todas as zonas brilhantes se encontram em áreas permanentemente abrigadas da luz solar. Chabot revelou ainda que quase todas as crateras com mais de 10 quilómetros de diâmetro situadas acima dos 80º de latitude (crateras profundas e complexas) contêm os misteriosos depósitos. Estas observações são consistentes com a hipótese dos depósitos serem constituídos por gelo de água. Greg Neumann apresentou resultados obtidos pelo
SISTEMA SOLAR
instrumento Mercury Laser Altimeter (MLA) que complicam, no entanto, as conclusões de Chabot. Apesar do MLA ser usado essencialmente para medir a topografia de Mercúrio, a intensidade do brilho do pulso de luz devolvido pela
Março 2012
de radar. No entanto, estas superfícies não são suficientemente frias para que o gelo de água se mantenha estável por longos períodos de tempo. A situação altera-se porém a profundidades de 10 a 20 cm, regiões onde a temperatura desce aos 100 K (-173º C). É aqui (numa profundidade acessível ao radar) que os depósitos de gelo subsistem. Mas então o que se encontra na superfície? Como explicou David Paige na sua apresentação, existem muitos materiais com as características observadas. Os melhores candidatos são, no entanto, compostos orgânicos complexos semelhantes aos encontrados nos meteoritos O pólo norte de Mercúrio numa projecção estereográfica construída com imagens obtidas condritos carbonáceos. Estes pela sonda MESSENGER. Estão desenhadas a cada 5º as linhas de latitude e a cada 30º as linhas de longitude (os 0º de longitude correspondem à linha vertical de baixo). As superfí- compostos seriam voláteis noutras regiões de Mercúrio, cies brilhantes ao radar mapeadas pelo Radiotelescópio de Arecibo estão assinaladas a amarelo. mas nas áreas permanenteCrédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution mente escondidas da luz of Washington. solar encontram condições ideais para se consolidarem superfície mercuriana pode poderá estar nas temperaturas numa fina camada negra acima fornecer interessantes infordestas áreas permanentemendo gelo. mações relativas à sua compote obscuras. Baseados nos perOs cientistas da missão aguarsição. Se existisse gelo de água fis topográficos obtidos pelo dam agora a conclusão da anánas zonas permanentemente MLA, cientistas da missão crialise dos dados obtidos pelo sombrias das crateras polares ram um modelo que mostra as espectrómetro de neutrões de Mercúrio seria de esperar a temperaturas médias e extrepara poderem determinar com detecção de um intenso pulso mas das regiões polares de maior precisão a natureza desde retorno no altímetro Mercúrio. O que descobriram é tes compostos. Esperam-se da MESSENGER. Na verdade, verdadeiramente curioso. assim nos próximos meses não foi isso aconteceu. Sempre Como seria de esperar, no novos segredos revelados nesque o laser do MLA incidia nesmodelo as zonas mais frias tes locais recônditos do Sistesas superfícies, o pulso de encontram-se nas áreas inacesma Solar. retorno detectado era muito síveis à luz solar, os mesmos menos brilhante que o das locais onde se acumulam os Sérgio Paulino regiões iluminadas pelo Sol. E depósitos com alta reflectividaPágina 38
isto acontece apesar da superfície de Mercúrio ser das mais escuras do Sistema Solar (mais escura ainda que a superfície da Lua)! Então qual é afinal a natureza deste bizarro material escuro? A solução para este enigma
SISTEMA SOLAR
Volume 2 Edição 3
Cientistas observam a dança de um gigantesco tornado solar
Sequência de imagens obtidas a 25 de Setembro de 2011 pelo Solar Dynamics Observatory (AIA, canal de 171 Å), mostrando um monstruoso tornado em rotação na atmosfera solar. Crédito: NASA/Dr. Xing Li, Dr. Huw Morgan and Mr. Drew Leonard.
Os tornados solares são fenómenos relativamente frequentes na superfície do Sol, que muitas vezes precedem a libertação de violentas ejecções de massa coronal. Recentemente, o Solar Dynamics Observatory registou imagens de uma destas magníficas estruturas elevando-se a uma altitude equivalente a 5 vezes o diâmetro da Terra! Investigadores da Universidade de Aberystwyth, País de Gales, analisaram em detalhe as imagens e descobriram algumas particularidades interessantes que poderão ajudar a compreender os mecanismos que mobilizam as ejecções de massa coronal. Durante um perío-
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do de algumas horas, o Solar Dynamics Observatory observou gases superaquecidos a temperaturas na ordem dos 50.000 a 2.000.000º C a serem sugados de uma densa proeminência e a moverem-se em espiral até às camadas mais exteriores da atmosfera solar. Estes gases moviamse a velocidades que atingiram os 300 mil quilómetros por hora! Aparentemente, os tornados solares arrastam consigo dobras do campo magnético solar, moldando-as numa estrutura em hélice por onde é ejectado material da superfície. É este movimento ascendente de gás superaquecido que,
segundo Xing Li e colegas, poderá desempenhar um papel fundamental na formação de uma ejecção de massa coronal. A equipa espera poder estudar mais destes tornados durante o actual ciclo solar. Entretanto, podem apreciar o vídeo apresentado ontem pelos investigadores na UK-Germany National Astronomy Meeting 2012. Vejam também este outro vídeo captado pelo Solar Dynamics Observatory em Fevereiro passado, mostrando três outros tornados mais pequenos em rotação. [Para ver os vídeos ir aqui] Sérgio Paulino
SISTEMA SOLAR
Março 2012
Missão Cassini: espectaculares imagens de Encélado, Jano, Dione e Reia
Evander, uma cratera com 350 km de diâmetro situada na região do pólo sul de Dione. Imagem obtida pela sonda Cassini a 28 de Março de 2012. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
Encélado e as suas espectaculares plumas, numa imagem obtida pela sonda Cassini a 27 de Março de 2012. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
Na passada terça-feira, a sonda Cassini concretizou uma passagem a apenas 74 km da superfície de Encélado. O encontro teve como objectivo principal o estudo da composição química dos jactos de vapor e de partículas de gelo de água em actividade na região do pólo sul, pelo que grande parte das observações estiveram reservadas aos espectrómetros INMS, CAPS e CIRS. DuranPágina 40
te a aproximação, PUB a câmara de ângulo fechado da Cassini focou o lado nocturno da lua e fotografou as plumas em contra-luz através de diversos filtros de cor. Aqui está a mais bela imagem desse conjunto. Após o encontro
com Encélado, a Cassini navegou pelas proximidades de Jano, Dione e Reia. A equipa de imagem da missão aproveitou estas passagens
SISTEMA SOLAR
Volume 2 Edição 3
Reia pairando sobre os anéis de Saturno. São visíveis ainda duas pequenas luas passando a grande velocidade junto aos anéis (a segunda está parcialmente oculta pelos anéis no lado esquerdo da imagem). Imagem obtida pela câmara de ângulo fechado da Cassini a 29 de Março de 2012. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
Jano vista pela Cassini a 27 de Março de 2012. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
não programadas para aumentar o acervo de retratos da superfície gelada destes pequenos mundos. Eis alguns magníficos exemplares. Sérgio Paulino
Jano em frente da Saturno numa composição em cores aproximadamente naturais construída com imagens obtidas pela Cassini a 27 de Março de 2012, através de filtros para o ultravioleta próximo, o verde e o infravermelho próximo. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.
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Imagem de contexto mostrando o mesmo cenário da imagem de cima. É visível entre Saturno e Reia a pequena lua Mimas. Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.
TERRA
Março 2012
Hora do Planeta Tal como aconteceu em anos anteriores (2009, 2010, 2011), este ano também se comemora a Hora do Planeta. Este ano a Hora do Planeta será hoje, sábado, 31 de Março, às 20h30m locais. Durante 1 hora deve-se desligar todas as luzes de casa. Este é um evento simbólico que visa a sensibilização para a eficiência energética. Segundo a WWF, organizadora do evento, irão participar 5.411 cidades e vilas, de 147 países. É um número recorde: em 2011 participaram 5.251 localidades, de 135 países. Alguns monumentos internacionais que ficarão às escuras: Torre Eiffel, Ópera de Sydney, Acrópole, igrejas e conventos em Goa e Angkor, Buckingham Palece, Big Ben, etc. As iniciativas a favor da defesa do planeta vão além do apagão e, em Portugal, incluem a parada de velas, na Praça do
Município, em Lisboa, uma caminhada com candeias a azeite, em Góis, entre outras iniciativas. Carlos Oliveira Página 42
TERRA
Volume 2 Edição 3
Cosmos, rugidos e silêncios
(...) Esta é uma imagem já bem conhecida de todos os amantes de Astronomia, captada em infravermelhos pelo telescópio espacial Spitzer, as lentes apontadas mesmo ao coração da nossa galáxia, a Via Láctea. O que observam encontra-se a 26 mil anos-luz e é por isso – só por isso – que subitamente o monumental rugido dos motores principais do vaivém parece agora tão insignificante perante a imensidão de todo este silêncio. O Universo é silencioso porque o som não se propaga no vácuo e é silencioso por nos esconder ainda tantos mistérios… Mas comunica de muitas formas, muitas das quais invisíveis ao limitado olhar terrestre. E é por termos instrumentos cada vez mais sofisticados para descodificar o significado das mensagens que o Universo nos envia que um grupo de cientistas da Universidade Grenoble, em França, pôde partilhar uma conclusão que até há poucas décadas seria impensável de obter: milhares de planetas potencialmente habitáveis devem existir na nossa galáxia.
100 estrelas anãs, 40 SuperTerras Observem a foto outra vez. Haverá algum ser inteligente extraterrestre (para conveniência do post e da fraca imaginação do autor, não vamos caracterizá-lo radicalmente diferente de nós) observando uma foto semelhante à nossa, uma esplendorosa imagem do braço da galáxia por onde andamos? Caso exista e for ingénuo como nós, que problemas poderá esperar que os misteriosos extraterrestres do terceiro planeta a contar do Sol tenham resolvido? Será o Universo um gigantesco «espelho» onde pudemos observar o que fomos ou o que poderemos vir a ser como espécie? Do que temos quase a certeza, a julgar pelos resultados obtidos pelos investigadores, é que ao número considerável de estrelas anãs na nossa galáxia – 160 milhares de milhões, conta o estudo agora divulgado – deverão corresponder milhões de planetas «potencialmente habitáveis». Pelo menos uma centena desses planetas – chamamoslhe «Super-Terras», por serem rochosos e massivos – estará a menos de 30 anos-luz do nosso planeta. À escala cósmica, é
malta vizinha. Os cientistas chegaram a esta conclusão devido à premissa segundo a qual pelo menos 40 por cento das estrelas anãs possuem um planeta rochoso semelhante à Terra a orbitar na chamada «zona habitável». Mas é preciso ter atenção a estas notícias e à forma como rapidamente os media associam conclusões baseadas em premissas à existência de vida extraterrestre e, pior ainda, a homenzinhos verdes em naves espaciais: quando um cientista diz «potencialmente habitável» refere-se a duas perspetivas diferentes: primeiro, pode ser habitável de acordo com as únicas condições que conhecemos para a existência de vida, ou seja, as condições terrestres; segundo, pouco sabemos de planetas terrestres na galáxia (muito menos ET’s) mas, tal como vós, leigos, adorávamos saber. E é então que a poderosa e inspiradora muralha de sons à Stockhausen sugerida pelos motores do vídeo me deixa a pensar o que poderá acontecer quando, num futuro longínquo, a nossa engenharia desvendar os mistérios deste silêncio cósmico e pudermos espreitar para o outro lado do espelho… Marco Santos
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A bacia de Sudbury. A rosa está representada a área metropolit zado a leste, é uma segunda cratera de impacto, formada poste
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Novo Software revê em alta lista de candidatos do Kepler A equipa da missão Kepler disponibilizou recentelogo foram já confirmados, incluindo por exemmente um novo artigo que apresenta a análise plo: Kepler-10b (primeira Super-Terra do Kepler), dos primeiros 16 meses de dados recolhidos pelo telescópio pela nova versão do software de processamento de dados, designada de SOC 7.0 (SOC = Science Operations Center). O artigo, que tem como primeira autora a investigadora de origem brasileira Natalie Batalha, descreve a detecção de um número muito significativo de novos candidatos que se vêm juntar aos já listados nos dois catálogos de candidatos elaborados previamente pela equipa. O primeiro destes catálogos data de Junho de 2010 e identifica 312 candidatos, detectados em apenas 43 dias de observações. O segundo catálogo, apresentado em Fevereiro de 2011 lista 1235 candidatos, identificados através da análise de 13 meses de observações (trimestres Q1 a Q5, em inglês (Q) de “quarter”). Mais de 60 candidatos provenien- Kepler-16ABb, o primeiro exoplaneta em órbita de um sistema binário, afectuosamente chamado tes deste segundo catá- de Tatooine. Crédito: Karl Tate, SPACE.com Página 44
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Kepler-16ABb (Tatooine), Kepler20e e -20f (primeiros planetas mais pequenos que a Terra), e Kepler22b (primeira Super-Terra ou subNeptuno na zona habitável). Durante um trimestre, o telescópio mantém-se fixo apontando para o seu campo de visão em Cisne. No final desse período, e para manter os painéis solares virados para o Sol, o telescópio tem de rodar 90 graus mantendo-se apontado para o mesmo campo em Cisne. Isto faz com que a mesma estrela seja observada em píxeis diferentes do CCD em trimestres diferentes. Ao fim de 4 trimestres, o telescópio volta à posição original (fez uma rotação de 360 graus). A nova versão do software de processamento de dados, disponível desde o Verão de 2011, é particularmente imporAs rotações trimestrais do telescópio Kepler tendo em vista manter os painéis solatante pois permite pela primeira res voltados para o Sol. Crédito: DKG / Wikipedia vez à equipa “colar” observações de uma mesma estrela obtidas em trimestres distintos, corrigindo fielmente o ruído introduzido pelo hardware do telescópio, e corrigindo em particular o brilho da estrela em função da sensibilidade dos píxeis usados para a observar. Apesar de ter disponível apenas mais um trimestre (Q6) de dados, A curva de luz de Kepler-18, com três planetas detectados com trânsitos, em bruto (vermelho, em cima) e corrigida (azul, em baixo). Notem-se as descontinuidades dos valores em bruto no final de cada trimestre – a curva de luz parece recomeçar numa posição nova na vertical, o que corresponderia a uma variação grande de brilho da estrela. Na realidade isto deve-se a efeitos instrumentais, nomeadamente ao facto de a estrela ser observada por píxeis com sensibilidades diferentes em diferentes trimestres. O novo software permite eliminar estes efeitos de forma muito precisa. Crédito: missão Kepler Página 45
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no momento em que o novo software se tornou disponível, a equipa decidiu re-processar os dados de todos os trimestres Q1 a Q6 beneficiando da precisão extra das curvas de luz que certamente iriam ser geradas. Em particular, a maior precisão permitiria detectar: planetas com períodos orbitais maiores (observamos mais tempo sem interrupções) e portanto trânsitos mais espaçados; planetas mais pequenos, colecionando múltiplos trânsitos de pequena amplitude e aumentando a precisão das observações (relação sinal-ruído). Para cada estrela, a pipeline de software recebe como input todas as observações realizadas ao longo dos trimestres Q1 a Q6. O resultado final consiste, para cada estrela, numa curva de luz muito precisa corrigida para os efeitos instrumentais referidos. Isto constitui uma tarefa computa-
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cional bastante intensiva. As curvas obtidas passam depois por um software que tenta detectar sinais de trânsitos de forma automática, elaborando uma lista de possíveis candidatos. As curvas de luz para esta lista preliminar são depois analizadas por um outro software que tenta avaliar a qualidade dos candidatos, i.e., se os sinais detectados só podem ser explicados por trânsitos planetários ou por efeitos alternativos. Só são incluídos no catálogo candidatos para os quais os testes realizados apontam com uma probabilidade muito elevada (>90%) para uma origem planetária. Os resultados obtidos com esta nova análise foram impressionantes, resultando na identificação de 1091 novos candidatos planetários, um ganho de 88% relativamente ao número total de
Os candidatos do Kepler detectados no catálogo de 2010 (azul), no catálogo de 2011 (vermelho) e os novos candidatos (amarelo). As linhas horizontais marcam os raios da Terra, Neptuno e Júpiter para referência. De notar que a maioria dos novos candidatos são menores do que Neptuno e com períodos orbitais mais longos. Crédito: Batalha et al. Página 46
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candidatos (1235) do catálogo de 2011. Os candidatos observados têm raios entre um terço o da Terra e três vezes o de Júpiter, correspondendo a profundidades de trânsito entre 20 partes por milhão e 20 partes por milhar no brilho da estrela hospedeira. Os períodos orbitais variam entre meio dia até quase um ano, correspondendo a temperaturas de equilíbrio (sem assumir o efeito de eventuais atmosferas) entre 3800 e 200 Kelvin. Os novos candidatos têm a seguinte distribuição por tamanhos (Rp – raio do planeta, Rt – raio da Terra): 196 (Rp < 1.25Rt, aprox. tamanho da Terra), 416 (1.25Rt < Rp < 2Rt, Super-Terras), 421 (2Rt < Rp < 6Rt, Neptunos), e 41 (6Rt < Rp < 15Rt, Júpiteres). Para além destes, existem ainda 17 candidatos incluídos no catálogo com raios superiores a 15Rt, dos quais uma pequena parte são 3 vezes maiores do que Júpiter e provavelmente não são planetas. Facto notável, dos novos candidatos, mais de 91% são mais pequenos que Neptuno! O número de
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candidatos com Rp > 2Rt cresceu apenas 52%. Isto é, o Kepler está cada vez mais eficiente a detectar planetas pequenos. Para além disto, o número de candidatos com período orbital maior do que 50 dias aumentou 123% relativamente ao catálogo de 2011 ao passo que os candidatos com períodos inferiores a 50 dias subiu apenas 85%. Com o passar do tempo o Kepler está a tornar-se mais eficiente a detectar planetas com períodos mais longos. O número total de candidatos, os novos mais os do catálogo de 2011, passa agora a ser de 2321, associados a 1790 estrelas hospedeiras, o que implica que há muitos candidatos em sistemas múltiplos. De facto, das 1790 estrelas, 365 têm mais de um candidato planetário, correspondendo a 896 candidatos no total em sistemas múltiplos (com 2, 3, 4, 5 ou 6 planetas). Podem ver o artigo aqui. Luís Lopes
EchO EChO, um acrónimo para Exo- A assinatura espectral dos átomos e moléculas na atmosfera de um exoplaneta fica gravaplanet Characterization Obser- da no espectro da estrela hospedeira durante um trânsito. O EChO quer tirar partido deste vatory, é uma missão de tipo facto. Crédito: ESA / David Sing M (classe média em termos de recursos necessários aos seu planeamento, desenvolvimento e funcionamento) proposta em 2010 no âmbito do programa Cosmic Vision 2015-2025 da ESA. Em Fevereiro de 2011 a missão foi uma de 5 seleccionadas para o prosseguimento dos estudos sobre a sua viabilidade e implementação. A ideia da missão é simples: tirar proveito das condições de observação únicas no espaço Página 47
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para detectar no infravermelho as assinaturas espectrais das atmosferas de planetas que realizam trânsitos em frente das respectivas estrelas hospedeiras quando vistos a partir da Terra. Durante o trânsito, parte da luz da estrela passa através da atmosfera do planeta antes de continuar a sua viagem na nossa direcção. Essa travessia introduz no espectro infravermelho da estrela novas linhas espectrais devidas a átomos e moléculas que ocorrem na atmosfera planetária. Os espectros obtidos com o EChO permitirão determinar a composição e estrutura atmosférica de vários exoplanetas permitindo o seu estudo comparativo. A observação dos exoplanetas em diferentes comprimentos de onda no infravermelho permite também calcular com mais precisão a sua real dimensão e densidade fornecendo pistas importantes sobre os seus interiores e processos de formação. Estas observações já foram feitas para alguns, poucos, exoplanetas pelos telescópios Hubble e Spitzer. O EchO, no entanto, seria um telescópio optimizado especificamente para este tipo de observação e não faria outra coisa. O instrumento central da missão é um telescópio de 1.5 metros de abertura que será colocado em órbita do Sol no ponto L2 de Lagrange, um ponto no espaço em que a gravidade da Terra e do Sol têm igual intensidade. Esta localização garante estabilidade à órbita do telescópio, proximidade à Terra para transferência de dados e recepção de Página 48
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Infografia descrevendo a missão EChO. Crédito: ESA
comandos e uma visão desobstruída do espaço (algo que, por exemplo, o Hubble não tem). Se tudo correr bem, o EChO será lançado entre 2020 e 2022 e observará trânsitos durante pelo menos 5 anos. Podem ver mais informação aqui. Luís Lopes
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LBTAO Observa Sistema Planetário de HR8799 Situado no Monte Graham, no Arizona, o Large Binocular Telescope é um dos maiores telescópios do mundo. É composto por dois telescópios de 8.4 metros de diâmetro montados lado a lado a uma distância de 14.4 metros (entre os respectivos eixos ópticos). O objectivo final do projecto consiste em utilizar os dois telescópios como um só utilizando interferometria para combinar imagens dos dois espelhos. A resolução assim atingida, associada ao tamanho dos espelhos primários, tornarão o LBT um dos instrumentos mais poderosos do mundo. Entretanto, num dos telescópios foi instalado um novo sistema de óptica adaptativa, designado de LBTAO, particularmente sofisticado que permite obter imagens no infravermelho próximo com uma resolução sem precedentes. O LBTAO está acoplado a câmaras CCD muito sensíveis como a PISCES e a LMIRCam, que cobrem bandas distintas do espectro. Um dos primeiros alvos deste sistema, literalmente a sua “primeira luz”, foi o sistema planetário em torno de HR8799. As observações vêm descritas em dois artigos disponibilizados ontem na Internet. A figura que se segue mostra duas imagens do sistema obtidas com a PISCES e com a LMIRCam em duas Página 49
Os dois telescópios gigantes do Large Binocular Telescope. Crédito: Marc-Andre Besel e Wiphu Rujopakarn
O sistema planetário de HR8799, uma estrela jovem na constelação do Pégaso. Crédito: NASA, ESA, and A. Feild (STScI)
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bandas distintas do infravermelho próximo centradas em 1.65 e 3.3 micrometros, respectivamente. A observação do sistema nestas bandas é importante pois a luminosidade dos planetas nestes comprimentos de onda é um forte indicador das composições e condições físicas das suas atmosferas. Por exemplo, os modelos teóricos
camadas mais interiores e quentes das atmosferas dos planetas e são consequentemente mais brilhantes no infravermelho. Parece assim que os planetas em torno de HR8799 poderão ter atmosferas complexas com nuvens. Num outro artigo, a dinâmica do sistema planetário foi analisada à luz da nova informação obtida
Os planetas do sistema de HR8799 vistos com o LBTAO. Crédito: Skemer et al.
prevêm que os planetas como os de HR8799 devem ser pouco luminosos na região dos 3.3 micrometros devido à presença de metano na atmosfera. Um dos artigos refere que as observações agora obtidas com o LBTAO e a LMIRCam mostram que, na realidade, os quatro planetas do sistema são mais brilhantes do que seria de esperar nesta banda, contrariando os modelos. Os autores afirmam, com as devidas cautelas, que as observações são consistentes com modelos das atmosferas dos planetas que incluem nuvens com opacidade variável. Num tal cenário, regiões com nuvens bastante densas são pouco brilhantes nas bandas observadas pois não permitem observar camadas mais interiores e quentes da atmosfera. Reciprocamente, regiões desprovidas de nuvens ou com nuvens menos densas permitem observar Página 50
com o LBTAO e a câmara PISCES, combinada com observações dos planetas já publicadas. Os autores concluem que as estimativas existentes para as massas dos planetas – 5 Mj para o planeta “b” e aproximadamente 7Mj para os restantes (Mj = massa de Júpiter), são demasiado elevadas e tornariam o sistema gravitacionalmente instável a curto prazo. A análise dos autores favorece massas menos elevadas, por exemplo 3.5 Mj para “b” e aproximadamente 5Mj para os restantes. Uma tal distribuição de massa tornaria o sistema estável a longo prazo. Estas massas são significativamente inferiores às estimadas a partir dos modelos mais aceites actualmente para objectos planetários com idades comparáveis à da estrela, estimada em 30 milhões de anos. Claramente, ainda há muito trabalho a fazer na compreensão da formação e evolução destes planetas gigantes. Luís Lopes
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Planetas rochosos à volta de anãs vermelhas são muito comuns
O Astrónomo do CAUP Nuno Santos pertence à equipa que descobriu que super terras a orbitarem anãs vermelhas, o tipo de estrelas que compõem 80% da nossa galáxia, devem ser muito frequentes. Uma equipa internacional de astrónomos, da qual faz parte Nuno Cardoso Santos (Centro de Astrofísica e Faculdade de Ciências, Universidade do Porto), fez a primeira estimativa do número de planetas rochosos que orbitam anãs vermelhas. Segundo o primeiro autor deste artigo, Xavier Bonfils (IPAG/ Observatório de Genebra), “As novas observações que fizemos com o HARPS indicam que 40% de todas as anãs vermelhas terão super-terras a orbitá-las na sua zona de habitabilidade. Como as anãs vermelhas são muito comuns — há cerca de 160 mil milhões delas na Via Láctea — isto dá-nos o surpreendente resultado que há Página 51
dezenas de milhares de milhões destes planetas, só na nossa galáxia.” A equipa usou o espectrógrafo HARPS (ESO) para observar uma amostra de 102 anãs vermelhas, durante um período de 6 anos. Nesta amostra foram detetadas nove super terras, incluindo duas na zona de habitabilidade (Gliese 581d e Gliese 667Cc). Ao combinar todos os dados, incluindo as estrelas que não apresentam planetas, a equipa conseguiu determinar que a frequência de super terras a orbitar dentro da zona de habitabilidade é de 41%. Considerando apenas as anãs vermelhas na vizinhança do Sol, o número de super terras num raio de 30 anos-luz do Sistema Solar deverá rondar os 100. Um destes planetas é o Gliese 667Cc, o segundo planeta descoberto neste sistema triplo. Apesar de ser 4 vezes mais massivo que a Terra, é o plane-
ta mais parecido com a Terra até hoje descoberto. Situandose mesmo no centro da zona de habitabilidade, este planeta rochoso quase de certeza que terá as condições necessárias para a existência de água líquida na sua superfície. A deteção de planetas semelhantes à Terra a orbitar outras estrelas semelhantes ao Sol é justamente um dos objetivos mais importantes do projeto ESPRESSO. “Os resultados agora publicados sugerem que o ESPRESSO terá muitos planetas para descobrir”, comenta Nuno Cardoso Santos. O mesmo estudo concluiu ainda que planetas maiores, do tamanho de Saturno ou Júpiter, são bastante raros em anãs vermelhas, com frequências a rondar apenas os 12%. Mais informações: Astronotícia do CAUP Comunicado de imprensa ESO Artigo Científico (Bonfils et al.) CAUP
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Março 2012
Notícias sobre a Shenzhou-9 A China prepara cuidadosamente o lançamento da sua próxima missão espacial tripulada, a SZ-9 Shenzhou-9. Depois de uma série de rumores sobre adiamentos e sobre a possibilidade de a missão ser lançada sem tripulação a bordo, a China tem deixado fugir alguma informação sobre esta missão. O voo da Shenzhou-9 é mais um passo importante no desenvolvimento do programa espacial tripulado da China. Após a colocação em órbita do módulo TG-1 Tiangong-1 e da sua acoplagem automática com a cápsula SZ-8 Shenzhou-8 em 2011, a China prepara-se agora para executar a sua primeira acoplagem tripulada sendo esta a principal missão da Shenzhou-9 cujo lançamento deverá ter lugar em Junho de 2012. É agora amplamente aceite que a missão levará uma tripulação de três elementos a bordo e novos dados indicam que poderemos assistir ao lançamento da primeira chinesa para o espaço já nesta missão, algo que só era esperado para a missão da SZ-10 Shenzhou-10 adiada para 2013. Sabe-se também que a tripulação principal estará já seleccionada, mas que a presença da primeira yuangyuan a bordo irá depender de mais exames Página 52
e será tomada no último momento. O foguetão CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G estará já pronto para o lançamento, mas não há a confirmação da sua chegada ao Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan. Entretanto, sabe-se também que a missão da Shenzhou-9 terá uma duração de 13 dias, sendo 3 dias em voo independente e 10 dias acoplada ao módulo Tiangong-1. Foi revelado que durante esta permanência pelo menos um dos tripulantes estará sempre a bordo da Shenzhou9. Não sabe qual a razão por detrás desta decisão, podendo esta estar relacionada com a incapacidade do sistema de manutenção de vida não ter a capacidade de manter três tripulantes ao mesmo tempo a bordo do módulo espacial ou então será apenas uma razão de segurança. Esta é uma missão ansiosamente aguardada e certamente que as próximas semanas trarão mais novidades sobre os seus preparativos. Rui Barbosa
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X-37B, um ano em órbita O vaivém espacial não tripulado X-37B (OTV-2) encontra -se há um ano em órbita terrestre após ter lido lançado a 5 de Março de 2011 desde Cabo Canaveral. A verdadeira missão do OTV -2 nunca foi divulgada pela Força Aérea dos Estados Unidos, mas responsáveis militares norte-americanos indicaram que o veículo está a desempenhar as suas funções em órbita sem problemas. Equipado com painéis solares e com um volume de carga semelhante à de um pequeno carro de transporte, o X-37B deverá estar equipado com sistema de observação óptica e electrónica, levando a cabo missões de vigilância e observação sobre países tais como o Irão ou a China. Com uma missão originalmente prevista para ter uma duração de 270 dias, os responsáveis militares decidiram prolongar o voo não havendo de momento qualquer indicação sobre a data do seu regresso à Terra. O artigo publicado no Boletim Em Órbita sobre esta missão pode ser lido no n.º 109 de Abril de 2011.
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Imagem: USAF Rui Barbosa
Março 2012
ASTRONÁUTICA
Primeira taikonauta na Shenzhou-9? Segundo adiantou o Boletim Em Órbita citando a agência de notícias oficial chinesa Xinhua, as autoridades espaciais chinesas completaram a selecção inicial dos membros da tripulação para a primeira acoplagem tripulada da China e no grupo
de elementos seleccionados encontram-se duas taikonautas. No entanto, a selecção dos três tripulantes que serão lançados a bordo da SZ-9 Shenzhou-9 será feita nos últimos momentos. O lançamento da Shenzhou-9 está previsto para ter lugar entre Junho e Agosto, havendo um consenso que este poderá ter lugar em Junho. Os seleccionados para a missão encontram-se na fase final de treino e a montagem da cápsula espacial e do seu foguetão lançador CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G está já terminada. Rui Barbosa
Coreia do Norte irá lançar novo satélite
O Comité Coreano para a Tecnologia Espacial, a organização da Coreia do Norte que dirige os esforços espaciais deste país, anunciou que se prepara para levar a cabo o lançamento do satélite Kwangmyongsong-3 entre os dias 12 e 16 de Abril. Página 54
Esta será a terceira tentativa da Coreia do Norte para colocar em órbita um satélite artificial depois dos dois desaires anteriores registados a 31 de Agosto de 1998 e 5 de Abril de 2009. O Kwangmyongsong-3 deverá ser lançado por um foguetão Unha-3 a partir de uma nova base de lançamento localizada na costa Oeste da Coreia do Norte, em Pongdong-ri (os lançamentos anteriores bem
como vários testes de mísseis balísticos intercontinentais tiveram lugar desde Musudanri). Este lançamento irá servir para comemorar o 100º aniversário do nascimento de Kim Il-sung e certamente irá elevar os ânimos nos outros países da região que não vêem com bons olhos o facto de a Coreia do Norte possuir esta capacidade estratégica. Rui Barbosa
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China testou o Dragão Divino? O Boletim Em Órbita já havia aqui adiantado a possível ocorrência de um lançamento orbital no dia 17 de Março a partir do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan. No dia 16 de Março os observadores internacionais foram surpreendidos com o aparecimento de um conjunto dos denominados NOTAM, ou NOTice To AirMan, que delimitavam várias zonas localizadas ao longo de uma trajectória originária do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan. Um desses NOTAM excluía uma zona de impacto situada a cerca de 160 km do local de lançamento, uma distância muito curta para os actuais lançadores orbitais chineses. Este facto acabaria por intrigar os observadores do programa espacial chinês, surgindo várias especulações sobre o que a China iria levar a cabo. Os primeiros estágios dos lançadores utilizados para as missões não tripuladas lançadas desde Jiuquan acabam por cair em zonas mais afastadas, não se explicando assim a existência da zona de impacto criada por um dos NOTAM. Um outro NOTAM excluía um corredor aéreo geralmente
utilizado por aviões de transporte comerciais. Vários observadores avançaram a hipótese de a China vir a testar um novo foguetão de combustível sólido ou então levar a cabo o teste de um míssil balístico de combustível sólido, explicando assim o primeiro NOTAM o local de impacto de um primeiro estágio. Surgem agora rumores que a China poderá ter realizado um teste de reentrada do seu avião aeroespacial Shenlong, ou Dragão Divino. As primeiras imagens deste avião surgiram em Dezembro de 2007 (imagem em cima) quando várias fotografias mostravam o Shenlong montado na fuselagem inferior de um bombardeiro H-6K. Até ao momento não surgiu qualquer informação oficial sobre o que ocorreu em Jiuquan a 17 de Março, mas o autor sabe que muitos oficiais militares se deslocaram aquele polígono para observarem um teste de algo importante. Este teste poderá ter sido um teste de reentrada do Shenlong. Rui Barbosa
Edoardo Amaldi a caminho da ISS Assumindo um papel fundamental no abastecimento da estação espacial internacional e complementando esse transporte com os veículos de carga russos (Progress-M) e japoneses (HTV), o Automated Transfer Vehicle (ATV) europeu tem um papel fundamental neste tipo de missão só anteriormente comparável à capacidade do antigo vaivém espacial norteamericano. Página 55
O veículo mais recente da série, o ATV-3, foi lançado às 0434UTC do dia 23 de Março de 2012 pelo foguetão Ariane-5ES (L553/ VA205) a partir do Complexo de Lançamento ELA3 do CSG Kourou, Guiana Francesa. Com um volume de carga semelhante ao volume de um autocarro de dois andares, o ATV-3 leva mantimen-
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Março 2012
tos importantes para os seis membros da Expedição 30 que actualmente se encontra a boro da ISS (Daniel Burbank, Anatoli Ivanishin, Anton Shkaplerov, Oleg Kononenko, Donald Pettit e André Kuipers). A bordo seguem outras cargas científicas, equipamentos experimentais, equipamentos sobressalentes, ar, oxigénio e propolente, além de artigos pessoais para a tripulação. A acoplagem com o módulo Zvezda deverá ter lugar a 28 de Março e o Edoardo Amaldi deverá permanecer acoplado até 3 de Setembro. Até lá deverá realizar manobras de elevação da altitude orbital da estação espacial internacional. Este ATV foi baptizado com o nome de ‘Edoardo Amaldi’ continuando assim a tradição da agência espacial europeia de baptizar estes veículos com nomes de cientistas ou personalidades europeias que deram grandes contribuições para o avanço cientifico no velho continente. Edoardo Amaldi foi um físico italiano que levou a cabo investigações Página 56
na área da espectroscopia atómica , física nuclear, física das partículas e gravitação experimental. Rui Barbosa
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Proton-M/Briz-M lança Intelsat-22 O foguetão Proton-M/Briz-M foi lançado às 1210:32UTC do dia 25 de Março de 2012 para iniciar uma missão de cerca de 15 horas e 30 minutos com o objectivo de colocar em órbita o satélite de telecomunicações Intelsat-22. Com um céu pontilhado de nuvens sobre a Plataforma de Lançamento PU-39 do Complexo de Lançamento LC200 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, a contagem decrescente decorreu sem qualquer problema e o foguetão foi lançado à hora prevista. Todas as fases iniciais da missão (separação dos três estágios iniciais, separação da carenagem de protecção e separação do estágio Briz-M) decorreram sem problemas. O estágio Briz-M levou a cabo a sua primeira ignição entre as 1221:48UTC e as 1226:07UTC, sendo realizadas mais quatro queimas antes da separação do Intelsat-22. O satélite Intelsat-22 foi construído pela Boeing Satellite Systems e é baseado no modelo BSS702MO, tendo uma massa de 6.199 kg no lançamento e um período de vida útil de 18 anos. Está equipado com 22 repetidores de banda C, 18 repetidores de banda Ku e 18 repetidores UHF que irão fornecer serviços para a África, Ásia, Europa, Médio Oriente e Oceano Índico. As forças Página 57
de defesa australianas compraram a carga UHF que será utilizada durante 15 anos. Esta é a primeira missão da ILS (International
Launch Services) que irá utilizar uma órbita supersincronizada com os primeiros três estágios a utilizar uma ascensão standard para colocar o Briz-M numa trajectória suborbital. A partir daqui o BrizM realiza várias manobras colocando-se primeira numa órbita preliminar, seguindo-se uma órbita intermédia, uma órbita de transferência e finalmente uma órbita de transferência para a órbita geossincrona. Na separação o Intelsat-22 estava colocado numa órbita com um apogeu a 65.000 km de altitude, perigeu a 3.791 km de altitude e inclinação orbital de 28,5º. Imagem: Khrunichev Rui Barbosa
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Março 2012
Novo lançamento comercial da China
A China levou a cabo um novo lançamento orbital bem sucedido ao colocar em órbita o satélite de telecomunicações Apstar-7. O lançamento teve lugar às 1027UTC do dia 31 de Março de 2012 e foi levado a cabo por um foguetão Chang Zheng3B/E desde a Plataforma de Lançamento LC2 do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, província de Sichuan. A separação do satélite terá ocorrido pelas 1053UTC. O satélite Apstar-7 foi construído pela Thales Alenia Space e é baseado no modelo Spacebus4000C2, tendo uma massa de 5.054 kg no lançaPágina 58
mento. Está equipado com 28 repetidores de banda C que serão utilizado para serviços de transmissão para a Ásia, Austrália, Europa e África, e 28 repetidores de banda Ku que serão utilizados para serviços de transmissão para a China (incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan), Médio Oriente e África. O Apstar-7 irá substituir o satélite Apstar-2R. Este foi o 50º lançamento de um foguetão da família de lançadores CZ-3A Chang Zheng-3A do qual deriva o CZ-3B, BZ-3B/E e CZ-3C. Rui Barbosa
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Coreia do Norte prepara Kwangmyongsong-3 Aparentemente a Coreia do Norte já colocou na plataforma de lançamento o primeiro estágio do foguetão Unha-3 que deverá colocar em órbita o satélite Kwangmyongsong-3 no dia 15 de Abril de 2012. O segundo estágio deverá ser transportado para a plataforma a 2 ou 3 de Abril. Entretanto as autoridades norte-coreanas revelaram que o satélite deverá ser colocado numa órbita com uma altitude de 500 km com uma inclinação de 97,40º. Na Estação de Lançamento de Sohae (mais usualmente conhecida como Centro Espacial de Tongchang-dong) decorrem os preparativos para o lan-
çamento que foram fotografados a 29 de Março. As imagens mostram a posição relativa da torre móvel de serviço ao lado da estrutura de acesso ao foguetão. Várias pessoas podem ser vistas a cortar os arbustos próximos da plataforma de lançamento para evitar um possível incêndio originado pelas chamas dos motores. São também visíveis camiões de abastecimento de propolentes. Imagem: DigitalGlobe Inc. Rui Barbosa
Rússia lança Cosmos 2479 A Rússia levou a cabo às 0549UTC do dia 30 de Março de 2012 o lançamento do satélite militar Cosmos 2479 utilizando um foguetão Proton-K/ DM-2 lançado desde a Plataforma de Lançamento PU-24 do Complexo de Lançamento LC81 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão. Este foi o último Proton-K a ser lançado, terminando assim uma história de 45 anos de serviço, com o seu primeiro lançamento a ter lugar a 10 de Março de 1967. Página 59
Utilizando um estágio superior Blok DM-2, esta missão colocou em órbita o último satélite de observação militar Oko. Estes satélites Oko (US-KMO) são satélites de aviso antecipado de lançamento de mísseis balísticos que operam em órbita geossíncrona, ao contrário dos satélites US-K que operam em órbitas Molniya, isto é com um apogeu extremamente elevado sobre os locais de observação. Imagem: Roscosmos Rui Barbosa
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O Boletim Em Órbita inaugura hoje as emissões regulares do seu canal no meo. Neste canal serão colocados
Para acederem ao Canal Em Órbita basta pressionar a tecla verde do seu comando meo e introduzir o n.º 355507. todos os vídeos dos lançamentos orbitais que forem sendo realizados ao longo do ano.
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