Revista Ribeira 1

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N O 1 | JANEIRO 2017

Saco da Ribeira: no centro das atenções

ILHA ANCHIETA O paraíso é aqui NÓS GASTRONOMIA Refeições com vista para o mar E MAIS: Mergulho no azul Passeio de veleiro Trilhas imperdíveis

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Situação geográfica privilegiada, facilidade de acesso e investimentos na região fazem do bairro o mais atual polo de atração turística

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O melhor da cozinha caiçara com pitadas do sabor asiático

ÍNDICE

3 VIVA A RIBEIRA! 6 POLO REDESCOBERTO 8 TURISMO E LAZER Passeio de veleiro Praias e trilhas Circo nas férias Sup para todos Aves de Ubatuba Mergulho no paraíso 26 MAPA ILUSTRADO

O chef Fábio Eustáquio abre as portas de seu restaurante no ponto mais privilegiado do Saco da Ribeira nosgastronomia nosgastronomia

Av. Plínio França, 335, térreo Saco da Ribeira, Ubatuba SP Reservas: (12) 99710 8512

Revista Ribeira Uma publicação da Atmosfera Editor Kailash C. Pinotti Jornalista responsável Regina Teixeira Mtb 23.909/SP Edição de arte Paula Muniz Redação Regina Teixeira Impressão Bercrom Gráfica Colaboradores Aleko Stergiou, Daniel Wellington, Emílio Campi, Elsie Orabona, Marcio Guedes, Paulo Barbosa dos Santos, Pryscila Tornelli, Ricardo Ligabue, Roberto Negraes

30 CULTURA E HISTÓRIA Ilha Anchieta no tempo Antigas lembranças 42 NÓS GASTRONOMIA 46 ARQUITETURA Notável Ribeira Mall Marina premiada 51 CONSUMO Biquínis de algodão Novo vidro de areia

Foto: Lucas Faraco

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EDITORIAL Ubatuba é privilegiada por natureza. São 100 km de costa entrecortada por baías e enseadas, protegida pela Serra do Mar e sua exuberante Mata Atlântica, com praias movimentadas, tranquilas, de ondas, desertas, desconhecidas, lindas. Ubatuba congrega tantos atrativos que é natural a vinda de novos moradores e mais veranistas, cujas necessidades fazem com que a rede de comércio e serviços se estenda de norte a sul do município, diminuindo a dependência do centro. E assim vão surgindo o que os urbanistas chamam de novas centralidades, como é o caso do Saco da Ribeira. Maior ancoradouro natural do litoral paulista, o Saco da Ribeira sempre foi a meca dos navegadores, que ali encontram um abrigo bastante protegido. A concentração de barcos é notória e proporciona um cenário digno de cartão postal. Devido à facilidade de acesso ao bairro, aos poucos o Saco da Ribeira deixa de ser um centro de convergência exclusivo do mundo náutico para ser um dos mais importantes polos turísticos do município. Em outras palavras, uma nova centralidade, tema de uma das matérias desta revista, cuja intenção é (re)descobrir os passeios, os sabores, a história e as novidades da Ribeira.

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Projeto aprovado na Prefeitura do Município de Ubatuba.

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AV PLÍNIO FRANÇA, 264 - SACO DA RIBEIRA - UBATUBA SP

Incorporação registrada sob nº R-2 na matrícula 42.381 em 14/12/2009 no Cartório de Registros de Imóveis de Ubatuba. R7


Capa | RIBEIRA

RIBEIRA: A NOVA CENTRALIDADE DA COSTA SUL DE UBATUBA Cartão postal do município, bairro destaca-se na geografia urbana como polo convergente No mundo todo, o espaço urbano tem se reconfigurado. O centro permanece uma região equidistante, mas já não é a única que congrega multifunções. Novas centralidades têm emergido em razão da possibilidade de minimizarem o tempo gasto, os desgastes e os custos associados aos deslocamentos espaciais. Em Ubatuba, não poderia ser diferente. Uma coisa é percorrer seus 100 km de extensão a fim de conhecer as praias e admirar as paisagens. Outra é sair do Lázaro em direção ao centro para ir ao banco, ao supermercado, ao shopping, em plena temporada, com um trânsito de lascar. Deixa qualquer um irritado, por isso é boa a promessa de que tudo estará a poucos quilômetros de

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distância, num lugar lindo, plano, perfeito: o Saco da Ribeira. Essa vocação para ser uma nova centralidade de Ubatuba, capaz de desafogar o trânsito e tornar o município mais sustentável, começa a ser trilhada a partir de um estudo da Urban Systems, empresa de Business Intelligence especializada em pesquisa comportamental e análise de dados estatísticos em mapas digitais, para dimensionamento de mercados e levantamento de tendências em cidades. O resultado são cenários denominados de Lógica Urbana, que explicam a relação entre o comportamento das pessoas e as correlações com o mercado e as instituições, dentro de um determinado espaço geográfico. E a lógica é essa: valer-se da

posição geográfica do Saco da Ribeira para formar uma nova centralidade, com melhoria da infraestrutura viária e paisagística, oferta de comércio e serviços de alta qualidade e implantação de waterfront para lazer e contemplação da natureza. Trata-se de uma adaptação da região às transformações sociais, econômicas, culturais e políticas, que imprimem a necessidade de novos pontos de convergência de uma parcela da população, em busca de comodidade. O Saco da Ribeira será o ponto de referência de quem está na Domingas Dias, Lázaro, Sununga e Flamengo. Isso em relação às necessidades do dia a dia, porque, em matéria de beleza, o Saco da Ribeira continuará atraindo turistas do mundo inteiro!

Vista aérea do Saco da Ribeira, foto de Emilio Campi.

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PERSONALIZE SEU ROTEIRO PELA ILHA ANCHIETA Você decide a hora da saída, os locais de visitação, o tempo de permanência e muito mais Foto: Celso Neto.

Dependendo da força do vento, o passeio de veleiro dispensa o motor e traz um silêncio que aproxima ainda mais o homem da natureza e vice-versa, pois é nessas horas que costumam aparecer os golfinhos!

Day charter R$ 1.500,00 Capacidade até 10 pessoas Agendamento (12) 99606 7779

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Não é preciso ter barco para conhecer um dos destinos mais charmosos da Costa Verde: a famosa Ilha Anchieta. Além dos tradicionais passeios de escuna, com hora marcada para sair e destino certo para visitar, há uma opção mais reservada e exclusiva, à sua disposição no Saco da Ribeira: um day charter de veleiro! Quem oferece a mordomia é o Katoosh, um veleiro de 44 pés, cuja tripulação é formada por um jovem casal que resolveu levar a vida como muitos adorariam! Celso Neto, o comandante, nasceu no veleiro, passou a infância no continente, arriscou fazer engenharia mecatrônica na Federal de Lavras, MG, mas a paixão pelo mar não permitiu que ele completasse o curso, então

voltou para o Katoosh, agora com a Fernanda, sua fiel escudeira. Os dois são uns amores e fazem de tudo para agradar os clientes, que terão 7 horas de passeio (normalmente são 5 horas), sem horário para embarcar. A sugestão é que seja das 10h às 17h, para aproveitar bem a luz do dia, mas, no horário de verão, tudo fica mais flexível! Como se não bastasse determinar o horário, cabe ao cliente decidir o roteiro. “Antes de começar o passeio, a gente pergunta o que eles querem conhecer”, conta Neto. “Existem oito opções de praias. A mais distante fica a apenas 40 min. da costa”, completa. Uma das atrações é a Praia do Leste, considerada pelo site de viagens Trip Advisor uma das

melhores do Brasil! Pequena, de águas límpidas e cercada pela natureza, é excelente para banhos, mergulhos e selfies invejáveis! Brincadeiras à parte, a dica é esquecer as redes sociais e mergulhar para ver a estátua de Jacques Cousteau, ali mesmo, na praia do Leste, a cerca de 10m de profundidade. Se a água estiver limpa, basta afundar 3m que já dá para ver a estátua, colocada por operadoras de mergulho de Ubatuba no dia 15 de Novembro de 1997. Fazendo jus a Cousteau, vida marinha é o que não falta no passeio. O Katoosh dispõe de kit de mergulho para locação, que inclui máscara, snorkel, nadadeira e a chance, enorme,

de ver peixes, lulas, raias, tartarugas e golfinhos. Estes, na verdade, costumam acompanhar o barco, principalmente se o vento colaborar na velejada. Isso mesmo: se a turma gostar de velejar e o tempo permitir, há essa possibilidade! Segundo o comandante, a Praia do Leste é tão inebriante que o Katoosh às vezes nem sai de lá: o cliente simplesmente deleta a sugestão de conhecer as praias do Sul, do Engenho e o presídio da Ilha Anchieta (saiba mais nesta edição). Também há possibilidade de levar o animal de estimação, desde que sob consulta, e de usufruir os cômodos do Katoosh: 2 quartos, sala de estar com mesa para refeições, banheiro, cozinha

e churrasqueira (leve tudo do continente e lembre-se: a pesca é proibida no entorno do Parque Estadual da Ilha Anchieta!). O barco também dispõe de ducha de água doce e bote de apoio para embarque e desembarque em todas as praias do roteiro, quantas vezes for necessário. São tantas as vantagens que a recomendação é reservar com antecedência, sem medo do tempo ruim, pois, se for o caso, é possível remarcar o passeio ou ter o dinheiro de volta. “Hoje em dia, dá para saber a previsão do tempo com até 4 dias de antecedência”, tranquiliza Neto, que encerra esta entrevista dizendo: “Ubatuba é privilegiada por águas predominantemente calmas, sem vento e cristalinas”. R 11


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NAS TRILHAS DA RIBEIRA As subidas nos deixam ofegantes, mas o ar puro da mata oxigena os pulmões, até chegarmos ao topo, cujo visual é de prender a respiração

É natural associar o Saco da Ribeira ao mundo náutico, mas os atrativos do bairro vão muito além do mar. Que o diga a atleta e educadora física Luciana de Fátima Silva, proprietária da academia Ubatuba Outdoor Fitness. Só pelo nome da academia, já dá para perceber que Luciana é grande entusiasta das atividades ao ar livre, especialmente as corridas de aventura. Um de seus roteiros preferidos é a Trilha da Sete Fontes, que sai do Saco da Ribeira, passa pelas praias do Flamengo e Flamenguinho, e atravessa dois morros para chegar ao destino. “Os cenários são de tirar o fôlego”, afirma a entrevistada. “Mas a subida é íngreme também”, admite.

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Por isso, é importante estar em forma para encarar a trilha, considerada de média dificuldade. A caminhada leva aproximadamente três horas, portanto a dica é sair bem cedo, para dar tempo de aproveitar a praia e voltar com a luz do dia. Alguns trechos são de mata fechada, mas a trilha é suficientemente larga para não se perder, a não ser que anoiteça. Leve uma mochila com bastante água, barras de cereais e frutas, pois não há nada pelo caminho, a não ser a natureza lindíssima. O ideal é ir com alguém que já conheça o caminho e nunca sozinho, pois a trilha é pouco movimentada e não vai ser fácil encontrar socorro caso precise. A Sete Fontes é uma praia

tranquila, semi-deserta, de águas límpidas e areia branquinha. Há um quiosque de pescador, que serve peixe frito, cerveja, sucos e refrigerante. Vale lembrar: não deixe nada, a não ser pegadas; não leve nada, a não ser lembranças; não tire nada, a não ser fotografias!

Considerada de média dificuldade, a trilha é bem mantida e deve ser feita em silêncio, para aproveitar a oportunidade de ouvir os sons da mata, entre eles o canto dos pássaros.

Caminho para a praia do Flamengo, foto de Márcio Guedes. Ao lado, a trilha da Sete Fontes, demarcada em vermelho.

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Praias paradisíacas são um convite ao mergulho

Depois de três horas de caminhada por uma trilha relativamente larga, em meio a espécies da Mata Atlântica, com direito a um descanso nas praias do Flamengo e do Flamenguinho, chega-se a Sete Fontes, uma das praias mais bonitas e preservadas de Ubatuba, cujas águas calmas oferecem ao visitante um merecido banho de mar.

Praia do Flamengo, foto de Márcio Guedes. À esquerda a praia Sete Fontes, foto de Paulo Barbosa dos Santos.

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Ao lado do Saco da Ribeira, a Praia da Sununga ĂŠ famosa por causa da Gruta que Chora e internacionalmente reconhecida como uma das melhores praias para a prĂĄtica do SkimBoard. Foto de Marcio Guedes.

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RIBEIRA É SÓ ALEGRIA Espetáculo circense está entre as atrações programadas para divertir moradores e turistas nestas férias

Respeitável público: o Ribeira Circo Show chegou! E vai ficar durante as férias de janeiro no Saco da Ribeira! A trupe apresenta um divertido e animado espetáculo de variedades, que começa com uma parada circense com o palhaço e equilibrista à procura das crianças. “Tem criança aí?”, pergunta o artista, buscando resgatar a criança que ainda vive em cada um de nós. Pelas mãos do mágico, o público é conduzido para uma aventura no fantástico mundo do circo, com números de equilíbrio, malabares, contorcionismo, acrobacia aérea, mágicas e muita palhaçada! Adultos e crianças vivem a alegria do picadeiro circense, com cortina de veludo, tapete de lona,

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gambiarra de lâmpadas e peças temáticas. A duração do espetáculo é de 60 minutos, com diversão garantida. O Circo Show é dirigido pelo mágico ilusionista Juliano Vargas, artista circense desde 1995. Ele já trabalhou em grandes circos no Brasil e no exterior, como o Circo Spacial São Paulo/SP e Brazilian Circus Jedda, da Arábia Saudita. O picadeiro já lhe rendeu alguns prêmios, entre eles o Troféu arte circense, da Secretária de Cultura de SP. Formado em comunicação social pela Universidade Anhembi Morumbi, Juliano também já foi consultor do programa Domingão do Faustão. Que tal brincar de circo? Além do espetáculo à noite,

a trupe do Ribeira Circo Show realiza oficinas de circo durante a tarde, voltadas para a criançada, de 3 a 12 anos (crianças de até 4 anos devem estar acompanhadas dos responsáveis). Segundo Juliano, a ideia é que, através da vivência circense e do contato com o mundo do circo, a criança se torne artista por um dia, ou apenas se permita experimentar as aventuras da arte circense. As oficinas trabalham a coordenação motora, a autoestima, a concentração, o equilíbrio, a motivação e a consciência corporal. Para a trupe, esse trabalho é uma grande realização. “Enquanto existir o sorriso de uma criança o Circo estará sempre de pé!”, afirma o mágico.

De 12 a 28 de janeiro: de quinta a domingo, às 20:30, com duas sessões aos sábados, às 19h e 20h30. Estreia 27 de dezembro de 2016, às 20h30. Agenda De 28 a 30 de dezembro de 2016 e de 2 a 8 de janeiro de 2017: diariamente, às 20h30, com duas sessões no sábado, dia 7, às 19h e 20h30.

Espaço Kids Venha brincar de Circo! Malabares, acrobacias, cama elástica, perna de pau e equilíbrio. Abertura Dias 29 e 30 de dezembro de 2016, das 14h às 18h. De 2 a 28 de janeiro de 2017:

de quarta a domingo, das 14h às 18h. Endereço Av. Marginal, Saco da Ribeira, em frente ao posto Shell.

Foto: Roberto Silva

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SOBRE AS ÁGUAS Não é um milagre, é o stand up! A prancha que permite ficar em pé no mar ganha cada vez mais adeptos, de todas as idades

Não importa a idade: todo mundo pode flutuar sobre as águas. Quem garante isso é um dos maiores entusiastas do Stand Up Paddle (SUP) no Brasil, o shaper e surfista Fábio Chati. Dono da loja Ubatuba Sup, de frente para a orla da Praia do Cruzeiro, no centro de Ubatuba, Chati vende e aluga pranchas, além de dar aulas para iniciantes e organizar saídas com os adeptos. Segundo ele, seus clientes vão desde uma mãe que leva junto a criança de três anos até um senhor de oitenta anos. “É muito fácil”, assegura. A facilidade, no entanto, pode colocar o praticante em situações de risco. “A pessoa se empolga e não percebe que está se distanciando, que

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pode ter correnteza, que já está anoitecendo, entre outros problemas”, adverte Chati. Observar as regras de segurança é fundamental para poder usufruir o melhor do Stand Up: o contato com a natureza. A posição de pé amplia a visão periférica e permite enxergar cardumes de longe! Tartarugas, raias, baleias e golfinhos são facilmente avistáveis sobre uma prancha. Eis, portanto, um check list dos cuidados que se deve ter: • Escolha o equipamento correto, de acordo com o seu tipo físico, que vai determinar a dimensão e a flutuabilidade corretas da prancha e também do remo. • Prefira um local mais protegido, sem correnteza e sem vento.

• Informe-se sobre as condições do mar. Vai ter ressaca? Vem aí um noroeste? Melhor não sair. • Jamais saia em dias de trovão, porque você vira um para-raios. • Procure conhecer a região. Da Enseada até a Ilha Anchieta, por exemplo, são 20 km ida e volta. O perigo nesse trecho relativamente curto é a correnteza no canal. • Mantenha-se longe de navios. Eles não te veem e ainda te sugam! • Não saia muito tarde, para não correr o risco de estar no mar quando anoitecer. • Use a cordinha! E mergulhe sem correr o risco de bater um vento e levar a prancha para longe, te obrigando a nadar atrás dela com o remo na mão! • Colete é bom, instrutor também. R 21


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Conheça os tipos de prancha

SUP WAVE O nome diz tudo: é uma prancha com pouca flutuação, feita para surfar, mas primeiro tem de aprender a remar e se locomover. FUN Chamadas de híbridas, porque fazem tudo. Surfam até na marola, porque têm pouca inércia. FUN RACE São pranchas com configuração de caiaque. Menos confortáveis, vão estreitando e ficam mais velozes. TURING Indicadas para travessias. São as menos exploradas no Brasil.

DOWNWIND Comuns em Búzios e Cabo Frio, são feitas para o outside, para surfar ondulação com vento empurrando, e exigem um barco de apoio. INFLÁVEIS Surgiram do pessoal do rafting, mas poucas pessoas se aventuram a descer corredeiras de pé! Têm sido mais usadas para passeios, pela facilidade de armazenar e transportar (apesar de ter de encher). Fábio Chati surfando na praia do Sapê, foto de Aleko Stergiou. Ao lado, com o quiver de pranchas desenhado por ele, foto de Daniel Wellington. Ubatuba SUP (12) 3833 5799

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OS CANTOS DA MATA ATLÂNTICA As imagens desta e da próxima página foram tiradas em Ubatuba e são apenas uma amostra das maravilhas fotografadas pelo jornalista Roberto Negraes, autor do livro “Ave, foto” Redator e fotógrafo, com trinta anos de profissão, o jornalista Roberto Negraes aproveitou a aposentadoria e passou, os últimos sete anos, embrenhandose nas matas de Ubatuba para fotografar aves e gravar seus cantos. O resultado de tanta aventura e dedicação está no livro “AVE, FOTO”, lançado pelo sistema Catarse de crowfunding (financiamento coletivo), em parceria com a Axis Mundi Editora. “Caminhar pelas trilhas observando as belezas da natureza é extremamente gratificante”, conta Negraes, que chega a passar horas sob a veste camuflada, com a câmera fotográfica em punho, à procura dos habitantes da Mata Atlântica.

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“As emoções nos acompanham passo a passo, com o avistamento não apenas de belas aves, mas também de mamíferos, insetos, árvores e flores de inúmeras espécies”, encanta-se. A Mata Atlântica é uma das regiões com maior biodiversidade do mundo e sua avifauna inclui mais de 600 espécies, das quais cerca de 160 são endêmicas, isto é, não existem em nenhum outro tipo de ambiente no mundo. Algumas espécies estão ameaçadas de extinção, daí a extrema importância das unidades de conservação. Com mais de 80% de sua área com mata nativa preservada pelo Parque Estadual da Serra do Mar, Ubatuba é um dos melhores destinos para observação de

aves. “Aqui tem muito lugar interessante, como a Folha Seca, no sertão da Praia Dura. É um lugar de mata fechada, famoso por causa do Sítio do Jonas, referência mundial”, observa. Sugestões de trilhas, cuidados durante a caminhada, recomendações sobre equipamentos e dicas de fotografia estão entre os assuntos da obra do jornalista, que também narra histórias curiosas e presenteia o leitor com imagens raras e belíssimas.

Onde encontrar: Livraria Nobel - Ubatuba Tel (12) 3833 3033

Pica-pau da cabeça amarela.

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Beija-flor tesoura.

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MAGNÍFICA REGIÃO SUL

Ubatuba, com seus 100 km de costa, recortada por baías e enseadas, oferece muitas opções de passeio aos moradores, frequentadores e turistas. A região sul concentra o maior número de praias do município. São 53 ao todo, da Galhetas às Toninhas. O mapa ilustrado destaca o trecho em que se situa

o Saco da Ribeira, incluindo a bela praia da Fortaleza, a famosa Vermelha dos arquitetos, a reservada Domingas Dias, a curiosa Sununga, a escondida Sete Fontes, a tranquila Enseada, a divina Ilha Anchieta, entre outras que merecem a visita.

Mapa | RIBEIRA

Ilustração de Ricardo Ligabue.

Ilha Anchieta Sete Fontes

Flamengo

Fortaleza

Sununga

Praia Brava

Toninhas Saco da Ribeira

Praia Vermelha Praia do Lázaro

Enseada Domingas Dias Santa Rita

Praia Dura

Lamberto

Perequê-Mirim

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PRAIA DO LESTE Toca da Tartaruga

MERGULHO NO PARQUE A variedade de vida marinha, uma boa visibilidade e a temperatura agradável da água permitem um delicioso passeio pelo mundo submarino ao redor da ilha

A Ilha Anchieta é considerada um dos melhores destinos do Brasil para o mergulho contemplativo. Em algumas localidades, como na Praia do Sul, a água é tão transparente que da areia já dá para ver os peixes nadando no rasinho. Máscara, snorkel e um par de nadadeiras são itens obrigatórios para percorrer os costões rochosos observando corais, esponjas, algas e muitos peixes coloridos. Se o mergulho livre já é uma delícia, imagine então o autônomo. Para quem não tem certificado, mas gostaria de mergulhar, a boa notícia é que existe um programa justamente para isso: o Discover Scuba Diving. Segundo a instrutora de mergulho, agente de turismo

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O local é abrigado e indicado para todos os níveis de mergulho autônomo. A costeira rochosa abriga diversos tipos de corais, moreias e miriquitis, já no fundo de areia há um pequeno parcel que atrai muitos peixes e tartarugas.

PRAIA DO LESTE Estátua de Jacques Cousteau Uma estátua em tamanho natural foi colocada pela associação das operadoras de mergulho de Ubatuba em novembro de 1997, em homenagem ao mergulhador e cientista francês, Jacques Cousteau. Encontra-se na areia, a 9 metros de profundidade, próxima ao costão rochoso, ponto que agrega uma grande diversidade de vida marinha.

PEDRA DO NAVIO

e fotografa subquática Elsie Orabona, da operadora e escola de mergulho Omnimare, o programa compreende uma aula rápida, um treinamento na piscina com o equipamento e o mergulho acompanhado de instrutor. Independentemente do tipo de mergulho, se livre ou autônomo, há uma regra que precisa ser respeitada, para que o ambiente

se mantenha sadio: não tocar em nada, nem retirar nada do fundo. “Dos mergulhos, só tiramos fotografia e trazemos boas lembranças”, observa Elsie. Conheça, a seguir, os principais pontos de mergulho da Ilha, de acordo com a Omnimare, que há 26 anos ministra cursos, aluga e vende equipamentos e faz saídas de mergulho na região.

Uma enorme pedra projeta-se da costeira ao mar em formato sugestivo de navio. Afastandose da costeira, há um parcel que concentra cardumes de diversas espécies de peixes.

ENSEADA DAS PALMAS Saco dos Ventos É o local mais abrigado da ilha, sendo bastante indicado para principiantes, pela pouca

profundidade. Aqui podem ser encontrados restos do naufrágio de uma pequena escuna, onde robalos são frequentemente avistados.

SACO DA AROEIRA Local abrigado, constituído por uma costeira rochosa e fundo de areia, ideal para checkouts de curso básico. Uma curiosidade do local é a presença de tamburutacas, uma espécie de crustáceo que chama a atenção pelo tamanho, encontradas em pequenos buracos na areia.

PEDRA MIÚDA O local é tranquilo e abrigado, constituído por uma costeira rochosa e fundo de pedras, onde habitam pequenos crustáceos que atraem seus predadores.

PRAIA DO SUL É um dos pontos mais procurados para iniciantes ou para checkouts de curso básico. Esta costeira, que forma a pequena enseada, favorece também os praticantes de mergulho livre, que podem sair da praia em direção à costeira, a fim de explorar as grandes pedras dispostas no fundo de areia, formando tocas e fendas que servem de abrigo para garoupas, budiões, cirurgiões, cangulus, dentre outras espécies.

PONTA DO CALHAU O local é bem abrigado e recomendado para todos os níveis de certificação. Grandes pedras estão dispostas no fundo de areia dando a ideia de um salão. Na areia veemse ciriantos e linguados. Por entre as pedras, salemas e cirurgiões.

ILHOTE DO SUL É um ponto que agrega bastante vida marinha, sendo comum a avistagem de cardumes de passagem, como xaréus e enxadas. Nadando a oeste há um grande parcel onde, no verão, podem ser vistos badejos se alimentando e cercando os cardumes de sardinhas. Já para o leste, podem ocorrer fortes correntes devido à variação das marés no pequeno canal formado com a ilha Anchieta, exigindo mais experiência dos mergulhadores.

Águas transparentes e rica vida marinha garantem um bom mergulho. Foto de Elsie Orabona.

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Cultura e História | RIBEIRA

ILHA ANCHIETA: CERCADA DE RIQUEZAS POR TODOS OS LADOS A apenas 4 milhas náuticas da costa, a 2ª maior ilha do litoral paulista reúne atrativos de grande importância histórica e ecológica Pense em uma ilha com praias lindíssimas, trilhas ecológicas, ruínas históricas e excelentes pontos de mergulho. Essa é a Ilha Anchieta, a menos de uma hora de barco do Saco da Ribeira. É a segunda maior ilha do litoral de São Paulo, com 17 km de costões rochosos e praias de água verde esmeralda cristalina, num total de 828 hectares, devidamente protegidos por lei. Desde 1977, quando foi criado o Parque Estadual da Ilha Anchieta, com a finalidade de resguardar os atributos excepcionais da ilha, é proibido acampar, pescar, retirar espécies da flora ou da fauna marinha, colher mudas, cortar plantas, levar animais domésticos e abrir caminho pela mata. Tudo em nome da preservação de um

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dos principais destinos turísticos de Ubatuba. Muitos atrativos A principal praia do Parque Estadual da Ilha Anchieta é a do presídio, onde fica a administração do Parque, o atracadouro e as ruínas da excolônia correcional, desativada em 1955, após sangrenta rebelião dos detentos. Para chegar às ruínas, o visitante passa por um museu que conta a História do presídio. As celas foram construídas uma ao lado da outra de modo a formarem um pátio interno, que era usado para banho de sol dos presos e hoje abriga famílias de capivaras. Esses animais foram introduzidos na ilha em 1983, pelo Zoológico

de São Paulo, junto com outras espécies de mamíferos, como macacos-prego, saguis, quatis, gambás, lagartos, tatus e cutias. A iniciativa fazia parte de um plano de recuperação ambiental da fauna e flora, degradadas por décadas em decorrência das atividades do presídio. No entanto, algumas espécies reproduziram-se assustadoramente. De acordo com o censo populacional de animais da Mata Atlântica paulista, desenvolvido por pesquisadores e alunos do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro, em 2005, as capivaras tinham saltado de sete para 250 indivíduos; as oito cotias já eram 1000; os cinco saguis

Vista aérea do antigo presídio, foto de Tony Fleury.

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Cultura e História | RIBEIRA

estavam em 900 e os 13 quatis somavam 200. Apesar dos alertas de ecologistas, na época não havia estudos suficientes para se prever que essa medida poderia causar um desequilíbrio ambiental: a maior consequência da superpopulação de mamíferos foi o desaparecimento de muitas aves. Apenas em 2002 foi aprovada a lei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação, que proíbe a introdução de qualquer

espécie da fauna e da flora em parques, florestas e áreas de proteção ambiental, sem estudos prévios de impacto. Polêmicas à parte, a presença desses animais rende fotos divertidas e exige atenção redobrada na hora do lanche, quando esfomeados macacos e quatis costumam aparecer para roubar o sanduíche! Trilhas Responsável pela administração

do parque, através do Instituto Florestal, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente lista em seu portal as principais atrações da Ilha Anchieta, com a recomendação de que, para alguns passeios, sejam contratados monitores autônomos credenciados, cujos conhecimentos sobre os aspectos ambientais, históricos e culturais da ilha vão engrandecer a visita. Veja, ao lado, os atrativos listados.

Trilha da Praia das Palmas Extensão: 360 metros (ida e volta). Grau de dificuldade: leve. Tempo de duração: 10 min (ida). A direita de quem desembarca no píer está a praia das Palmas. A trilha até lá é curta, plana e agradável. É uma praia de areia branca, águas calmas e cristalinas, ideal para as crianças.

A Ilha Anchieta tem a peculiaridade de reunir todos os atrativos turísticos possíveis em uma única porção de terra cercada de água por todos os lados.

Trilha da Praia do Sul Extensão: 2.200 metros (ida e volta). Grau de dificuldade: leve Tempo de duração: 1 hora (ida). O percurso passa pelos mirantes “Costão das Palmas” e “Biodiversidade”, terminando na Praia do Sul, bastante procurada pelos turistas por ter águas límpidas, com muita vida marinha e ótima visibilidade, o que favorece o mergulho, o uso do snorkel e a contemplação da natureza pelos adeptos do turismo ecológico. Trilha do Saco Grande Extensão: 2.600 metros (ida e volta). Grau de dificuldade: médio Tempo de duração: 1 hora e 30 minutos (ida). O percurso passa pelas ruínas do Quartel e da Vila Militar da década de 50, terminando em um costão rochoso com vista para o mar aberto. Trilha do Engenho Extensão: 1.000 metros (ida e volta). Grau de dificuldade: leve Tempo de duração: 20 min (ida). Em meio à Mata Atlântica em regeneração, a trilha passa pelo Mirante do Boqueirão e pela Praia do Engenho, e termina no aquário natural, com águas transparentes e diversas espécies marinhas. No local é recomendado mergulhar sem nadadeiras. Trilha Subaquática Extensão: 350 metros (ida). Grau de dificuldade: médio Tempo de duração: 30 min (ida). As atividades de mergulho são realizadas ao longo do Costão Rochoso entre as praias do Presídio e Engenho. Avistam-se estrelas do mar, coral cérebro, algas e muitos peixes. Esta atividade pode ser feita sem monitoria por visitantes que tenham noção de flutuabilidade e saibam nadar. Trilha da Represa Extensão: 750 metros (ida e volta). Grau de dificuldade: médio Tempo de duração: 40 min (ida). A trilha passa pela área da antiga Vila Civil e Casa de Máquinas. Sobe em meio à Mata Atlântica em regeneração, passando pelo Mirante “Passado e Presente”, e termina na represa.

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Praia do Sul, Ilha Anchieta. Foto de Tony Fleury.

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História

Visitação Aberto todos dias durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, das 9h às 17h. Ingresso R$ 13,00 por pessoa, crianças de até 12 anos, adultos com mais de 60 e pessoas com deficiência não pagam. Estudantes pagam meia entrada, mediante apresentação de documento. Informações (12) 3842 1231 Para saber mais www.ambiente.sp.gov.br/parqueilha-anchieta www.ilhaanchieta.com.br ubatubense.blogspot.com.br

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Na época do descobrimento do Brasil, índios Tamoios e Tupinambás já habitavam a Ilha Anchieta, para eles Ilha da Tapira, que significa “lugar calmo”. Depois vieram os portugueses, que fundaram a Freguesia do Senhor Bom Jesus da Ilha dos Porcos, um vilarejo com escola, capela e cemitério, que mais tarde passou a ser chamado apenas Ilha dos Porcos. Em 1902, as famílias foram desapropriadas para a construção do presídio, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e inaugurado em 1908, como Colônia Correcional do Porto das Palmas. Transformou-se em presídio político entre 1930 e 1933, período da ditadura de Getúlio Vargas. O nome da ilha foi mudado para Ilha Anchieta em 1934, como parte das homenagens ao quarto centenário do nascimento do Padre José de Anchieta. Em 1942, o então Instituto Correcional da Ilha Anchieta passou a receber presos de alta periculosidade, funcionando como presídio de segurança máxima até 1955, quando foi desativado. Em 1952, ocorreu uma grande rebelião. Sob a influência de um dos presos, conhecido como Portuga, os detentos passaram a ser mais cordiais e gentis, se aproximaram bastante dos policiais e até da população da ilha, num clima de confiança e paz que na verdade era o preparatório para o golpe. Como coloca o blog Ubatubense em um editorial, “a rebelião do presídio da Ilha Anchieta foi como aqueles filmes nos quais você

não sabe se torce pelo bandido ou pelo mocinho, pois após os acontecimentos o que restou foi apenas a marca registrada de um grande estrategista e sua formidável inteligência. O que passou não se julga, deixa apenas seus vestígios”. Alguns episódios dessa “Gravíssima ocorrência no presídio da Ilha Anchieta”, como estampava a manchete do Estadão no dia 21 de junho de 1952, foram contados pelo guia Zico, e estão relatados a seguir. “Aqui também havia a Febem. Os menores só podiam ficar seis meses, depois tinham que ser remanejados. Teve um menor que conseguiu ficar 3 anos. O apelido dele era Escoteiro. Toda vez que a embarcação vinha buscá-los, ele se escondia no forro. Gostava muito da ilha. Daí mudou a direção do presídio e o comandante novo puxou a ficha de todos os presos e descobriu que esse menor infrator estava la´há 3 anos, o que podia gerar sindicância. O que aconteceu? O preso virou carcereiro. Ele morreu faz alguns anos em Taubaté, mas antes escreveu um livro: O morador do pavilhão 6”. “O seu Antonio, o Escoteiro, só não morreu no dia da rebelião porque ele foi procurar um preso que havia desaparecido, o Dentinho. Dos 17 policiais de plantão, 10 saíram para procurá-lo, o que desguarneceu o presídio. Nesse dia, 150 presos foram buscar lenha aqui no morro do Papagaio, com três escoltas. Chegando lá, mataram o 1º policial e deram uma machadada na cabeça do 2º, que ficou com a marca da rebelião a vida toda, até falecer há poucos

As ruínas do presídio guardam muitas histórias e rendem imagens incríveis. Fotos de Regina Teixeira.

anos, em Taubaté. Daí tomaram o quartel, pegaram todas as armas e vieram para o presídio. Havia confronto de preso contra preso e a maioria das mortes foi devida a brigas entre eles. Dois carcereiros e oito policiais bateram de frente contra os presos e morreram. Jazem no mausoléu do quartel”. “Os presos fugiram nas canoas de pesca; na rebelião, foi todo mundo pra dentro. Os machucados eram jogados no mar. Eles tomaram a embarcação do presídio, Carneiro da Fonte, e afundaram a lancha Maracanã, da PM, por excesso de peso”. “Dos 456 presos que existiam aqui no dia da rebelião, 180 foram recapturados, 119 foram dados como mortos e o restante, como desaparecido”.

“Já havia superlotação, de 40 a 50 presos por cela, todos amontoados. Direitos Humanos não existiam. Os filhos apanhavam e as mães não sabiam”. “No livro Joatão e a ilha, o jovem presidiário João-Sebastião de Azevedo, o Joatão, fala sobre as facções que havia no presídio”. “Embaixo das celas havia uns buracos que ventilavam o piso, mas viraram um covil de cobras” “Em 1946 vieram pra cá 200 presos japoneses, que formavam uma facção no bairro da Liberdade em São Paulo. Eles matavam quem falasse que o Japão havia perdido a guerra. Quando chegaram, não havia energia porque a turbina da represa estava quebrada, então eles a restauraram. Um ano depois, a cela deles já não tinha

mais cadeado, por serem muito disciplinados. Um japonês virou carcerário e outro, enfermeiro”. “Cada cela tinha um time de futebol. Em um dia das mães, o presídio estava em silêncio absoluto, daí um sargento da vila militar desconfiou, convocou os policiais que estavam de folga e, quando chegaram ao presídio, não havia nenhum preso. Foram encontrá-los no campinho da praia das Palmas. Segundo relatos, tinha até policial completando o time. Havia um excesso de confiança aqui dentro do presídio. Qualquer hora ia mesmo estourar a rebelião”. “Presos jurados de morte gravaram seus nomes no chão da solitária: Mocoroa, China Show, Caveirinha, Alemãozinho, etc”. R 39


Cultura e História | RIBEIRA

ENTRE O PASSADO E O FUTURO Dona Esmerânia, uma das primeiras moradoras do Saco da Ribeira, relembra o passado do bairro, que para ela é bem mais bonito hoje em dia A história do Saco da Ribeira pode não estar registrada em livros, mas se mantém viva na memória de Magna Esmerânea Guedes. Aos 94 anos, a filha de João Glorioso da Cruz, um dos fundadores do bairro, nos leva a um passado distante, em que nada havia na Ribeira, a não ser a própria natureza. Ela lembra de como era a vida no meio do mato, do pai chegando da Ilha Anchieta com a canoa de Voga carregada de peixes, das viagens a cavalo até a cidade, da chegada dos primeiros vizinhos e das marmitas que fazia em seu restaurante para os trabalhadores que construíram o píer, o Iate Clube, o primeiro conjunto de prédios. Para quem imagina encontrar

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uma senhora saudosista, uma surpresa: D. Esmerânia é uma pessoa moderna, que gosta do progresso. Embora fale com carinho do passado, prefere o presente e vibra com o futuro: “Já viu como está ficando essa orla? Nossa, que beleza!” Neste bate papo, que não tem pretensão de servir como documento histórico, deixamos D. Esmerânia à vontade para dividir conosco as mais remotas lembranças. A origem Sou neta de francês. Nasci na Domingas Dias e fui criada até os 15 anos em Caraguatatuba, quando meus pais se mudaram para o Saco da Ribeira, onde vivo até hoje. Ainda existe a senzala

dos escravos da fazenda do meu avô, no Rio Escuro. Ele veio da França com o Vigneron, Maria Jean, entre outros.

O Saco da Ribeira antigamente: poucas casas, pouca gente, boas histórias e muitos peixes!

A chegada O meu pai veio pra cá com rede de matar tainha e um barco, o Caramuru. Aqui não tinha ninguém, nem nada. Era um mato só, chamado guaxuma. A gente cortava para pôr engodo para a formiga, para ela não comer a folha da mandioca, que a gente plantava. O primeiro armazém foi do meu pai, João Glorioso da Cruz, nome da rua em que moro hoje. Ele morreu com 98 anos.

O primeiro cerco da ilha foi dele. A canoa de Voga vinha cheinha! Cada peixe grande! Pescavam tanto que meu pai teve que fazer as câmaras aqui. Um dia, papai pescava na linha, e, ao puxar, enfiou o anzol no dedo dele. Daí ele foi no seu Filhinho (Washington de Oliveira, 1906-1999, farmacêutico): “seu Filhinho, corta a ponta do meu dedo, mas não quebre o meu anzol!”. Daí foi proibida a pesca na Ilha Anchieta. Queimaram os ranchos onde deixavam os barcos. Não deixaram mais pôr o cerco. As redes ficaram apodrecendo lá nas pedras.

A pesca Papai pescava na Ilha Anchieta.

A alimentação A gente comia peixe, farinha

de mandioca, banana verde. Fazíamos muito o famoso Azul Marinho. O transporte Não tinha luz elétrica, não tinha carro, não tinha jardineira – como eram chamados os ônibus antigamente. A gente, para pegar a jardineira, para ir para Caraguatatuba, tinha que andar a praia do Lázaro todinha, entrar na Domingas Dias e subir o morro até chegar na estrada de terra. Quando não era isso, a gente ia andando, daqui à Caraguatatuba. Às vezes, eu ia a cavalo pra cidade. Passava no Condó (local do atual píer), subia no Lamberto, descia para a praia do Perequê Mirim, saía na Enseada, tudo pela praia. Subia ali pelo Franscico

Maciel, que também tinha um armazém, e ia pra cidade buscar pão, remédio. Quando foi um dia, na altura das Toninhas, o vento balançou a folha do coqueiro, que assustou o cavalo. Ele relinchou e ficou em pé. Quase caí lá pra baixo. Aí, meti a espora no cavalo, apertei a rédia, ele abaixou e vim me embora. Não fui mais. Só a pé. A energia Quando ainda não tinha luz, a gente usava um copo de água, com dois dedos de óleo e a boia de cortiça com pavio. Colocava nos quartos para alumiar. Não tinha bujão de gás, cozinhava tudo a lenha. A água vinha da cachoeira. Era muito sofrido.

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O armazém Eu casei aos 18, com quem o meu pai escolheu. Eu e meu marido, Tibúrcio Silvério Guedes, tínhamos um armazém muito grande. Aqui não tinha nada, nem padaria. O único armazém era o nosso. As mercadorias chegavam de barco, vindo de Santos. Daí vinha o pessoal da Sete Fontes, Ribeira, Lázaro, Praia Dura, Fortaleza, todo mundo para cá, comprar aqui. O caminho era uma trilha. Tudo mato. Não tinha uma casa, não tinha nada. A saúde Eu ia para a Ilha Anchieta. Já era casada, e ia de canoa motor para lá, para consultar com o médico do presídio. Quando a minha filha ficava ruim, com febre, a gente a levava lá. A rebelião Minha filha estava na escola da Ribeira, quando houve a rebelião do presídio (1952). Ela tinha uns 10 anos. Daqui para a Ribeira não tinha estrada. Era uma trilha. A gente ficou tenso. A escola Vinha gente do Flamengo, da Sete Fontes, tudo para a escola da Ribeira (inaugurada por volta de 1930). Depois de crescida, minha filha, que dava aulas lá, fez a mudança da escola para o postinho (1958). Ela e a Sueli, diretora, trouxeram tudo a remo. Fizeram uma casa grande aqui, pé na areia. Quando a maré vinha, entrava na escola. As crianças se molhavam. Tudo descalço, que naquela época ninguém usava sapato. Depois de muitos

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anos (1978), o governador Paulo Egydio inaugurou a atual escola Professora Semíramis Prado de Oliveira. A pensão Depois abrimos a pensão, Bemte-vi. Eu cozinhava. Cozinhei para o pessoal que trabalhou na construção do Iate Clube. A gente carregava as panelas debaixo da sombrinha, colocava um cavalete, 3 tábuas e punha a toalha, para servir a refeição. O restaurante Eu já tinha restaurante quando chegou o pessoal do Conde Matarazzo. Eram os seguranças para as terras que ele havia comprado na Pedra da Goma, caminho da Ribeira. Os seguranças dele ficavam aqui, eu fazia comida para eles também. Um dos guardas não conseguia dormir, a gente escutava ele pra lá e pra cá a noite toda, daí eu disse que aquela noite ele iria dormir. Ele perguntou se eu fazia benzimento. Que nada, fiz um chá de melissa. No dia seguinte o colega dele contou que não pôde dormir, por causa do ronco do amigo! Os vizinhos A 1ª pessoa que veio pra cá, de São Paulo, foi o seu Alfino. Ele ficou muito tempo, mas daí fez uma pousada no Lázaro e mudou pra lá. A casa foi vendida para o Wilson Fittipaldi, o Barão. Aí eu tornei a cozinhar para a família. Tinha uma mesa só para eles, com uma placa, para ninguém sentar. A D. Suzi, esposa do Wilson, dizia: D. Esmerânia, se o Emerson (Emerson Fittipaldi, ex piloto da

Fórmula 1) não comer, a senhora me conta que eu vou deixá-lo de castigo. Aí a mãe saia pra lá com o seu Wilson e o Emerson ficava almoçando. Quando ele não estava mais aguentando, pedia para jogar fora. Eu ficava com dó dele e jogava. A estrada O primeiro prefeito que abriu estrada para a Ribeira foi o Dr. Alberto Santos (Dr. José Alberto dos Santos, 1890-1982, primeiro prefeito de Ubatuba democraticamente eleito em 1947, por voto direto). Ele namorava uma moça lá na Ribeira. As marinas Começaram a vir as marinas. Primeiro foi o Iate Clube, em seguida o Timotel, atual Timoneiro. Com a construção do píer, da antiga Sudelpa (Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista), o bairro desenvolveuse com a pesca e o turismo de escuna. Em seguida veio a marina Costa Norte, o Porto Marina Saco da Ribeira e a Golden Port, hoje Voga Marine. Então vieram as embarcações, que são o verdadeiro cartão postal do Saco da Ribeira.

Simpática e lúcida, Dona Esmerânia relembra as histórias da Ribeira. Foto do neto, Marcio Guedes. R 43


Gastronomia | RIBEIRA

NÓS GASTRONOMIA: DELÍCIAS À BEIRA MAR Receitas que acrescentam à culinária caiçara pitadas da cozinha oriental resultam em pratos que enchem os olhos e dão água na boca Já provou os sabores da Ribeira? Quem esteve no Chef in Voga sabe do que estamos falando: do camarão envolto em disco de pupunha, com molho de manjericão roxo; da pupunha oriental aromatizada com gengibre e pimenta, acompanhada de camarões e lulas salteadas com vinho chinês e molho de ostra; da banana recheada com doce de leite, empanada em farinha especial, com sorvete e base de pé de moleque; entre outras tentações assinadas pelo chef Fábio Eustáquio. Suas receitas com toque personalizado fizeram tanto sucesso que o Chef in Voga, evento que vinha sendo realizado todos os sábados,

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na Voga Marine, precisou ser encerrado para dar lugar ao Nós Gastronomia. Localizado no mesmo endereço, com vista privilegiada para o mar, o restaurante ganhou mais espaço e modernidade na cozinha, para poder receber

os clientes todos os dias na temporada! A filosofia permanece: oferecer uma comida internacional, com pitadas asiáticas e toque regional, a exemplo do palmito e dos frutos do mar, base de muitos pratos. As receitas evitam frituras e dão

Mix de entradas: bom para os olhos e para o paladar.

preferência a grelhados e saladas, temperados com leite de coco, açafrão, canela, cardamomo e outras especiarias que sofisticam as refeições e instigam o paladar. Ao lado da esposa, a designer de interiores Pryscila Tornelli, que cuida da administração

e finanças, Fábio explica a escolha do nome. “Nós” remete ao mundo náutico: nós de marinheiro, nós de milha náutica. “Nós” é a primeira pessoa do plural. Plural é a nossa proposta: variada, múltipla, que oferece mais sabores e mais experiências. “Nós”, por fim, sugere a ação de compartilhar, sobretudo as entradinhas, como o ceviche de peixe branco com leite de coco, ervas e pimenta dedo de moça, acompanhado de chips de mandioca caramelada com mel e limão, que pode ser provado por todos à mesa. A apresentação dos pratos também faz enorme diferença, tornando ainda mais prazerosa a experiência de degustar as criações do chef premiado.

Fabio Eustáquio é autor do famoso Cajutapu, talharim de pupunha salteado na manteiga de camarão, acompanhado de camarões grelhados e flambados ao molho de juçara. O prato, vencedor do Festival Gastronômico de Ubatuba, de 2011, já foi notícia da Isto É, 4 Rodas, Veja, Viagem, TV Vanguarda etc. A fama, no entanto, não lhe subiu à cabeça. Fábio é um sujeito simples, que tem orgulho de ser caiçara e conta, com naturalidade, sua trajetória. Aos 20 anos, queria levantar dinheiro para morar fora do país e estudar inglês, então vendeu sua moto e, com um empurrão do destino, foi para Londres.

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Gastronomia | RIBEIRA

Fábio com a equipe da cozinha do E&O Restaurant - Londres, 2004. Ao lado, sua leitura do Yaki Maguro, prato com atum, feito em vários paises e de diversas formas.

O seu primeiro trabalho na capital inglesa foi como lavador de pratos no restaurante asiático E&O, frequentado por estrelas como Madonna, Mick Jagger e David Beckham. Da pia para o fogão, ou como ele diz, “para a panela wok”, foi um pulo. Fábio logo se interessou pelo estilo diferente de cozinhar do renomado chef Ian Pengelly,

tornando-se seu braço direito. Depois de cinco anos aprendendo as artimanhas da cozinha panasiática, voltou para o Brasil com bagagem para assumir as caçarolas do East, um refinado restaurante tailandês em São Paulo. Em Ubatuba, liderou a cozinha do Quiosque Cantinho da Lagoa, na Praia do Prumirim, onde cativava a clientela com seus pratos à base de frutos do mar, pupunha e seu toque asiático. No Nós, Fábio promete receitas novas e muita inspiração para superar as expectativas do cliente. Alguém duvida? Reservas: (12) 99710 8512 Rua Plínio França, 335 - Térreo Saco da Ribeira - Ubatuba - SP

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Arquitetura | RIBEIRA

RIBEIRA MALL: COMPRAS COM VISTA PARA O MAR Projeto arquitetônico valoriza o visual do Saco da Ribeira e torna o ato de fazer compras ainda mais prazeroso Qualidade, variedade e preço são atrativos que levam o consumidor a escolher este ou aquele centro de compras, mas o Ribeira Mall oferece uma vantagem a mais: a paisagem. Nada se iguala à experiência de fazer compras, usufruir de serviços ou simplesmente passear em um espaço conectado com o mar, com vista espetacular das embarcações que fazem a fama do Saco da Ribeira. O Ribeira Mall é o cartão de boas-vindas para as profundas transformações que a Atmosfera Desenvolvimento Imobiliário vem implantando no bairro. O empreendimento faz parte de um conjunto de edificações, desenvolvido pela Perkins+Will Inc., empresa global de

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arquitetura. São três projetos distintos, porém conectados e integrados: o Ribeira Mall, que já pode ser considerado o novo centro de compras, entretenimento, alimentação e lazer da região sul de Ubatuba; o Voga Residence, um Condomínio Clube Residencial; e a Voga Marine, uma marina com serviços de primeiro mundo. Com uma área total de mais de 3.000 m², o Ribeira Mall irá abrigar lojas, restaurantes, lanchonetes e estacionamento de bicicletas e automóveis. O projeto é constituído por dois blocos distintos e em dois níveis, que se encontram em uma única praça central, de portas abertas para o mar. Um enorme deck de madeira se debruça sobre as

águas e convida à contemplação. O respeito pelo meio ambiente pauta todo o projeto, desde a concepção espacial dos blocos, que exploram a ventilação e a iluminação naturais, até a escolha do método construtivo e dos materiais de acabamentos locais. O empreendimento adota soluções ambientalmente sustentáveis, como estação de esgoto para os banheiros das áreas comuns, e atende as normas de acessibilidade e circulação universal.

Ficha técnica Área do terreno: 3.270 m² Área construída: 2.070 m² Área bruta locável: 1.000 m² 15 vagas rápidas de estacionamento Pavimento térreo: Mercado, farmácia, 7 lojas e 1 restaurante 2º pavimento: 6 lojas e 1 restaurante

ARQUITETO PREMIADO Responsável pelo Ribeira Mall, o escritório de arquitetura Perkins+Will Brasil assina também os projetos de Voga Marine e Voga Residence, que receberam o XIII Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa, na categoria Empreendimentos Multiuso. A cerimônia de premiação ocorreu em outubro, em São Paulo, e reuniu diversas gerações da arquitetura nacional. O prêmio também foi entregue à Atmosfera.

Serviços: Água, luz e gás individualizados, sistema de tratamento de esgoto com reuso, segurança, ar condicionado individual pré-instalado, banheiros, fraldário, elevador, recepção de embarcações no píer da Voga Marine.

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Consumo | RIBEIRA

A MAIS COMPLETA DA REGIÃO

O MAR É A INSPIRAÇÃO

Desde 1991

PARADISE, das estilistas Annie Ruiz e Rita Laffer, é a etiqueta de uma linha exclusiva de biquínis feitos a mão, com tecidos africanos, 100% algodão. São peças coloridas, com estampas incomuns, que surpreendem por empregar um material bem diferente da lycra. Annie, moradora de Ubatuba, atende pelo WhatsApp, daí é só combinar com ela um horário para ver a coleção: (11) 96489 2884.

(12) 3842 1238 (12) 3842 2686

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O mar transforma garrafas de vidro jogadas como lixo em fragmentos raros e belíssimos, esculpidos com o balanço das águas e com o toque da areia, num processo que leva muitos e muitos anos. As cores recebem um acabamento fosco devido ao atrito. Conhecido em outros países como Sea Glass, o vidro de praia é a matéria-prima com a qual a surfista e designer Nathy desenvolve sua marca de acessórios, LÁGRIMAS DE SEREIA.

facebook e instagram: lagrimasdesereia R 53


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