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DOZE ESCOLAS VÃO BRIGAR PELO TÍTULO DO GRUPO ESPECIAL NA SAPUCAÍ

Saiba como cada escola de samba do grupo especial virá para a avenida

O sambódromo da Marquês de Sapucaí volta a receber o maior espetáculo da Terra. É o desfile das escolas de samba do Grupo Especial neste domingo (19) e segunda (20). É a primeira vez, desde o desfile de 2020, o último antes da pandemia, que o carnaval acintece na sua época tradicional. Os desfiles de 2022 ocorreram em abril. São doze escolas na passarela do samba lutando pelo campeonato.

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Viradouro Conta A Hist Ria De Rosa Maria Eg Pcia

A Unidos do Viradouro será a última a desfilar na segunda-feira de carnaval. A vermelho e branco de Niterói vai homenagear Rosa Maria Egipcía. A fundadora do obra humanitária Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, também foi a primeira afro-brasileira a escrever um livro. O carnavalesco Tarcísio Zanon destaca na sinopse de apresentação do enredo que ela também foi a primeira a refletir sobre importantes aspectos da história tão marcante, na condição de escravizada, meretriz, feiticeira, beata e escritora. Uma santa africana no Brasil.

"Mostraremos todas as pétalas - e espinhos - dessa linda flor. "A Flor do Rio de Janeiro": Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Preparem seus corações", diz o texto de apresentação do enredo.

Aos 30 anos, começou a ter visões místicas, o que levou à condição de "beata", e começou a ser perseguida pela igreja católica, que achava que ela estava possuída. Foi considerada feiticeira, herege, foi presa e levada pela Inquisição para Lisboa, onde morreu de causas naturais em 12 de outubro de 1771.

No carnaval de 2022, a Viradouro foi a terceira colocada, com enredo "Não há tristeza que possa suportar tanta alegria", sobre o carnaval de 1919, pós-pandemia de gripe espanhola.

Seus destaques são a rainha de bateria, a atriz Erika Januzza, o mestre de bateria Ciça e o intérprete Zé Paulo, um dos melhores da nova geração do carnaval. Última a desfilar, a Viradouro é considerada pela crítica especializada, uma das favoritas ao título.

Unidos do Viradouro

HORÁRIO DOS DESFILES:

DOMINGO 19/02

22h Império Serrano

23h15 a 23h30 Grande Rio

0h a 0h30 Mocidade

1h a 1h20 Unidos da Tijuca

2h a 2h20 Salgueiro

3h a 3h50 Mangueira

SEGUNDA-FEIRA 20/02

22h Tuiuti

23h15 a 23h30 Portela

0h a 0h30 Vila Isabel

1h a 1h30 Imperatriz

2h a 2h40 Beija-Flor

3h a 3h50 Viradouro

LORENA Improtta, Musa da Viradouro

CARNAVAL COMEÇA

COM ARLINDO E ZECA

A abre-alas do Carnaval carioca será a Império Serrano, que homenageia seu ilustre filho Arlindo Cruz. O enredo "Lugares de Arlindo" , a escola de Madureira conta a história do autor de músicas como O show tem que continuar e Meu lugar. A expectativa é trazer para a avenida uma crônica alegórica de suas obras, como explica o carnavalesco Alex de Souza.

"Ao longo do desfile, através de fantasias e alegorias, a gente faz citações à sua obra e vai mostrando, como uma espécie de crônica, a partir da música Meu lugar, tudo que é relacionado à história dele, os lugares de Arlindo. Todos os lugares: lugares físicos, lugares metafóricos... a gente vai contando muito da história dele através de sua obra".

A Grande Rio também rende uma merecida homenagem este ano e vai le- var para a Sapucaí toda a ginga de Zeca Pagodinho, com o enredo Ô Zeca, o pagode onde é que é?. Nascido Jessé Gomes da Silva Filho, a obra de Zeca Pagodinho retrata os subúrbios, a "velha Baixada", as festas de rua e a religiosidade popular. O historiador Leandro Silveira fala da influência que essas manifestações para a cultura carioca.

"O desfile das escolas de samba movimenta a cultura e a economia do Rio de Janeiro o ano inteiro. É óbvio que, quanto mais perto do carnaval, isso fica mais visível a todo o público, mas esta movimentação se dá durante todo o ano".

Já a Mocidade vai abordar o legado de Mestre Vitalino como o enredo Terras de meu céu, estrelas de meu chão. Vitalino Pereira dos Santos, conhecido como Mestre Vitalino, foi um artesão, ceramista popular e músico. Considerado "o Deus do barro", ele é um dos ícones da cultura do Agreste, como lembra o historiador Leandro Silveira.

"A Mocidade Independente de Padre Miguel vem falando da arte e dos discípulos de mestre Vitalino. Uma ótima oportunidade para que o Brasil e o mundo conheçam mais de perto a obra e a vida deste artista nordestino - pernambucano -, mas também daqueles que seguiram o seu legado. Que aprenderam com ele e levaram adiante a sua luta, a sua experiência no mundo da arte".

Quarta escola a entrar na Avenida, a Unidos da Tijuca coloca todo mundo para sambar com um cortejo em homenagem à Baía de Todos os Santos, a segunda maior baía do mundo. A agremiação vai falar de Kirimurê, o grande mar interior do povo indígena Tupinambá. Será um encontro de peixes, de águas e sereias. O carnavalesco Jack Vasconcelos diz que o público vai se sentir em uma viagem lúdica conduzida pelas próprias águas da baía:

"Ela se torna personagem narradora do próprio enredo, e ela vai nos contar um pouco das coisas que ela presenciou, o que aconteceu na sua superfície, o que que ela viu, quem chegou, quem partiu, e o que aconteceu e acontece no seu entorno - aonde suas águas banham".

Já o Salgueiro traz para a Sapucaí o enredo Delírios de um Paraíso Vermelho que faz um retrato de um paraíso fictício onde tudo é vermelho. Nele, o real e o fantástico se encontram e a liberdade de expressão impera. O carnavalesco do Salgueiro, Edson Pereira, explica que o enredo também homenageia o saudoso Joãozinho Trinta:

"Apesar de não ser o enredo da escola, nós nos apropriamos da filosofia da qual ele trabalhava, no qual ele fazia enredos completamente oníricos e de cunho social e cultural (...) e também, qual a importância da liberdade de expressão, que era algo muito expoente no trabalho do Joãozinho Trinta".

A Estação Primeira de Mangueira encerra o desfile no domingo com o enredo As Áfricas que a Bahia canta, que vai destacar o protagonismo feminino e a luta pelo fortalecimento da identidade afrobrasileira, a partir da música e do carnaval na Bahia.

"É interessante observar que a Mangueira faz uma ponte entre territórios: África, Bahia e o próprio Morro de Mangueira. Segundo a escola - e ela tem razão -, o Morro de Mangueira é o território no Rio de Janeiro onde o Rio é mais baiano. E aí abre espaço para a Mangueira falar da sua própria ancestralidade".

A primeira escola a pisar na segunda-feira de Carnaval é a Tuiuti, que vai levar para avenida o enredo Mocangueiro da Cara Preta, que homenageia a Ilha de Marajó, no Pará. O carnavalesco João Vitor Araújo explica detalhes do enredo. "A gente traz para o desfile o grande mestre Damasceno, um artista múltiplo que vive na região da Ilha de Marajó, e um dos compositores mais importantes da região Norte. Ele é responsável pela criação do Búfalo-Bumbá, uma readaptação do Auto do Boi. Como o búfalo é o animal símbolo do Marajó, ele ressignifica esse auto".

Segunda a desfilar, a Portela exalta o seu protagonismo no carnaval carioca, já que, em 2023, a branca e azul completa 100 anos de existência.

O enredo "O azul que vem do infinito", vai contar a história da escola a partir da trajetória de cinco personagens: Paulo, Dodô, sr. Natal, Davi Correia e Monarco.

A Vila Isabel é a terceira a entrar na avenida. A agremiação vai falar de diversidade religiosa, defendendo que os diversos deuses fazem parte da história de uma só humanidade, que trilha caminhos diferentes em busca da felicidade.

O carnavalesco Paulo Barros explica que a intenção do enredo é celebrar os diferentes credos.

"A gente pegou festas com cunho religioso porque elas têm também a questão forte da diversão. O São João é uma festa religiosa, mas tem fogueira, dança, alegria. Então o enredo tem essa pegada da celebração".

A verde e branca (Imperatriz) será a quarta a entrar na avenida no segundo dia de desfiles. Com o enredo O aperreio do cabra que o Excomungado tratou com má querença e o Santíssimo não deu guarida. A escola vai fantasiar sobre a vida após a morte do rei do cangaço Lampião, como explica o carnavalesco Leandro Vieira.

"Primeiro, ele vai ao inferno e não consegue abrigo. Vai ao céu, não consegue também. E desce à terra para ocupar um lugar no imaginário das coisas do Nordeste (...) hoje, tudo que a gente conhece à respeito da identidade nordestina, inevitavelmente passa por aquilo que Lampião construiu".

Já a Beija-Flor de Nilópolis, a quinta a desfilar, entra com o enredo Brava gente - O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência. A escola vai propor uma reflexão sobre o Brasil em que vivemos.

A Beija-Flor vai tocar o dedo na ferida. Duzentos anos depois da Independência, a maioria continua excluída: negros, índios, mulheres... (eles que) formam a grande maioria da população brasileira, e, no entanto, continuam excluídos de tantos direitos e até das páginas da história".

Quando a Viradouro entrar na dispersão, o que nos resta é aguardar a apuração da Quarta-Feira de Cinzas, que vai definir a grande vencedora do carnaval carioca. Mas o samba ainda entra na avenida mais uma vez com o Desfile das Campeãs, que será realizado no sábado, dia 25, a partir das 20h, trazendo de volta as seis melhores colocadas.

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