impress達o e design editorial # 02
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GRAFIA
h o m e n ag e m
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e x p e die n t e
t i p o grafia
de
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e x p e d i e n t e
# 02
porto alegre RS SETEMBRo de 2008 g r a f i a é uma public aç ão da gráfic a odisséia em parceria com a printmaker design de comunic aç ão edição
loraine luz
MTB 9654
dudaluzlo@gmail.com Design gr áfico
auracebio pereira
MTB 8315
print24h@gmail.com TR ATA MENTO DE IM AGENS
GRB produção gr áfica
printmaker
site francês escolhe grafia como “design do dia”
impressão
gráfic a odisséia col aboram nesta ediç ão
A imagem acima, com a foto de Eduardo Aigner reproduzindo a Grafia #01,
pauta fotogr áfica
foi selecionada pelo site francês Design and Design e publicada como desta-
TAMIRES KOPP tamiresk@sinos.net
que na categoria design gráfico do dia 27 de julho. Vamos figurar também do
eduardo aigner
anuário do site, um livro que mostra todos os escolhidos da área gráfica e de
eduardo@eduardoaigner.com.br
produto em 2008.
www.designanddessign.com
desenhos
greg tocchini gregtocchini@gmail.com
Você pode folhear as edições da Grafia no site da Odisséia. Acesse www.graficaodisseia.com.br/grafia
Av. Fr a n ç a, 95 4 N ave g a nte s | C e p 9 0 2 3 0 -2 2 0 Fo n e 51 33 03.5555 P o r t o A le g re RS B r a s il
R . B u e n o s A ire s, 4 0 2 / 510 J a rd i m B ot â ni co | Ce p 9 0 670 -13 0 Fo n e 51 3 0 61.5571 P o r t o A le g re RS B r a s il
C o m e rc ial Fo n e 51 33 03.55 4 4 ve n d a s @ g r af i c a o d i s s e ia.co m.b r w w w.g r af i c a o d i s s e ia.co m.b r
p r i nt 24 h @ g m ail.co m
Sof t wares InDesign CS3, Photoshop CS3 e Illustrator CS3 Formato 25,5cm x 25,5cm Papel da c apa Supremo Duo Design 300g Papéis do miolo Couché Suzano Matte 115g e Alta Alvura 120g Ac abamento da c apa Prolan fosco e e alto-relevo Tipografia Open Type Kautiva Pro Type designer: Ale Paul | Argentina / www.sudtipos.com Trebuchet MS Type designer: Vincent Connare | EUA Tr aja n Pro Adobe | EUA
Museo
Exljibris | Holanda
e d i t o r i a l
Escrever, fotografar, ilustrar, editar, diagramar, arte-finalizar, fechar arquivos, enviar pela Internet. Todas as etapas de produção de um impresso neste início de século 21 passam necessariamente por um ou por vários computadores. Há pouco tempo, a realidade era bem diferente. Se voltarmos 20 anos, encontramos as componedoras, máquinas do tamanho de um carro, que expeliam tiras de fotocomposição. Coladas em um diagrama por montadores especializados, as páginas seguiam para a máquina de fotolito e dali para para queimar a chapa. Antes delas, existiram ainda as IBM Composer, um misto de máquina de escrever e componedora. Mergulhando ainda mais fundo no passado recente, veremos as máquinas de linotipo, enormes emaranhados de metal e engrenagens acopladas a um teclado, capazes de fundir linhas de texto em tiras de estanho. Eram um avanço, comparadas aos tipos móveis montados à mão, guardados em grandes gavetas de madeira, divididas por letra, subdivididas por corpo, por fonte... Milhares de letras de chumbo ou madeira, muitas delas precursoras das que usamos hoje, guardadas na pasta “fontes” do computador. A própria terminologia se manteve em alguns casos. “Caixa alta”, maneira como hoje identificamos letras maiúsculas, nos remete à posição em que estes tipos eram guardados nas caixas: as maiúsculas, em cima;
Dentro da linha de produção industrializada do mercado internacional de
as minúsculas, embaixo.
comics, os artistas estão espalhados pelo mundo. Alguns deles, como o
Outros tantos macetes da profissão, como o uso do estilete, da cêra quente no lugar da cola, do abdek para retoques, da régua de paicas,
paulista Greg Tocchini, desenham quase exclusivamente em revistas que nunca exibirão balões escritos em língua portuguesa.
da caneta nanquim, ficaram na memória de muitos profissionais da área
Já algumas impressoras aposentadas há décadas pela própria evo-
gráfica. E, como descobrimos nas reportagens desta Grafia #02, ainda
lução do mercado gráfico, podem, em casos raros, continuar a rodar. As
hoje permanecem no cotidiano diária de alguns poucos.
letras de metal estão operantes na realidade atual de pequenas gráficas.
O lápis, a borracha e o nanquim, por exemplo, são os instrumentos
Cientes de que estas raridades são certeza de boas imagens sob as
de trabalho mais próximos de desenhistas de histórias em quadrinhos.
lentes de fotógrafos sensíveis, fomos atrás de uma tipografia típica. E encontramos. No comando, um gráfico das antigas, com muito orgulho e
Letra e arte
histórias para contar. Era o que precisávamos para garantir uma bela edição e ainda homenagearmos este momento histórico, em que a indústria gráfica brasileira completa 200 anos de atividades. No meio da correria do dia-a-dia e da necessidade cada vez maior de velocidade (com qualidade), faça uma pausa para apreciar nosso desenhista de histórias em quadrinhos, que produz religiosamente uma página por dia. E nosso gráfico, que produz algumas páginas por hora. Cada um no seu ritmo, mas com algo em comum. Paciência, perseverança, personalidade. Letra e arte ocupando seu espaço no tempo.
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Iberê entra  na paisagem da cidade
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A primeira grande obra exposta na nova sede da Fundação Iberê Camargo não é do pintor gaúcho, um dos maiores artistas brasileiros do século 20. Um projeto arquitetônico singular em Porto Alegre e provavelmente no Brasil inteiro, com assinatura top do português Álvaro Siza, faz da própria sede, um edifício-escultura alvíssimo, na curva do Estaleiro Só, rumo à Zona Sul da cidade, uma atração à parte. De uma perspectiva mais ampla, o edifício-arte pode ser interpretado como a pedra fundamental de uma construção que está por vir. A Fundação Iberê Camargo é o portal para um novo cenário – já em gestação na Capital. Nas imediações, um complexo de compras e entretenimento está sendo erguido junto a um hipermercado. Com ele, alterações viárias como uma extensa ciclovia e uma expectativa maior: uma revolução na
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Fundação Iberê Camargo Endereço
Av. Padre Cacique, 2000 Porto Alegre - RS - Brasil Fone 51 3247-8000 Horários
De terça a sexta, das 10h às 19h; quintas até às 21h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h. A cafeteria e o estacionamento têm seus horários estendidos por mais uma hora, com exceção das quintas-feiras. Ingresso gratuito. Estacionamento pago. w ww.iberecamargo.org.br
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forma de a cidade se relacionar com o Guaíba. É a arquitetura influen-
plária, única, solene lá dentro. Pensa-se
ciando também formas de pensar.
duas vezes antes de tocar num corrimão,
Se os efeitos estéticos operassem apenas na zona do prazer ou do
encostar-se numa parede, ir por ali ou por
desprazer visual, Iberê Camargo não seria Iberê Camargo, nem Álvaro
aqui. Você parece caminhar dentro de
Siza seria Álvaro Siza. Mesmo o menos sensível ou leigo dos espectadores
algo vivo, que se mexe, que poderia rea-
percebe algo mais do que carretéis, ciclistas e formas humanas na obra
gir a um passo errado. É quase tenso. As
do pintor gaúcho. A nervosidade do traço incomoda. Quem nos salva? A
curvas dizem para onde ir, e a sensação
quietude alva do prédio de Siza e suas janelas-clarabóias que dão para as
de permanente movimento desconforta
águas plácidas do Guaíba.
(até o prédio está de fato em uma curva
Da mesma forma, entrar no museu projetado por Siza não é só estar num lugar que concentra o acervo de Iberê. Há uma atmosfera tem-
da avenida). Quem nos salva? Iberê em pinturas, gravuras e desenhos.
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A indústria gRáfica brasileira completou 200 anos em 2008.
neste espaço de tempo, evoluiu muito a arte de transformar uma única matriz em vários exemplares.
mas nem tudo mudou.
As impressoras ainda fazem muito barulho. a tinta ainda precisa secar no papel.
e alguns tipógrafos apaixonados continuam
a produzir impressos unindo letras de metal.
para comemorar esta data, resolvemos
homenagear simbolicamente um destes raros profissionais e suas saudosas máquinas.
textos de loraine luz fotos de tamires kopp e eduardo aigner
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er dono de uma das mais antigas gráficas na ativa de Porto Alegre não garante luxos à vida de Salomão Sibemberg, 79 anos (nada evidentes). Garante sentido. E relíquias também. São máquinas de 40, 50 anos atrás – as mais novas. Entre as mais antigas, uma prensa inglesa do século 19 e uma impressora manual de braço do início do século passado (“Isso é um mimo”, diz o dono, orgulhoso da surpresa nos olhos dos visitantes). Sentido, relíquias e admiração entre os apaixonados pelos processos de impressão. Salomão é tipógrafo, e a tipografia é a essência da produção gráfica, por mais digital e virtual que seja hoje. “Eu não evoluí para as quatro cores. Sou inimigo do offset. Para mim, eram as letras de Gutenberg. Naquele tempo,
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tínhamos artistas. Eu sou tipógrafo. Administrativamente, eu falhei. Mas como trabalhador, operário... (pausa) é o meu trabalho”, sintetiza, com semblante satisfeito. Salomão está sentado atrás da escrivaninha, no escritório de onde se espera que o dono do negócio administre. Não é caso de Salomão. Não é ali que passa a maior parte do seu tempo. A sala é simples, parece improvisada na pequena peça que antecede o galpão onde o maquinário está acomodado (ou espremido). Ao lado, sobre uma outra mesa, um computador é o único item que nos joga para a contemporaneidade. “O que hoje se faz ali (Salomão aponta para o computador), se fazia na mão”, adverte, como se aos visitantes fosse suficiente para entender o tamanho de seu conhecimento no ramo.
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Salomão está de jaleco azul, limpo, mas caprichosamente manchado pelas tintas do ofício. Usa manguitos de um grosso plástico protegendo o antebraço do blusão de lã. A composição visual dá a dica: o tipógrafo não fica longe do coração da gráfica, o maquinário e sua produção. Algumas máquinas, só ele opera. Está no ramo desde criança. Começou ao nove anos, trabalhando na gráfica do pai, seu Luiz, um dos pioneiros do ramo na Capital. Luiz teria impresso um dos primeiros jornais da comunidade israelita da cidade. Eram os anos 30 em Porto Alegre. “Ele nasceu dentro de uma gráfica”, exagera a esposa, algo conformada. Se não está em casa, Salomão está entre as máquinas. Trabalha mesmo nos finais de semana, se for o caso de cumprir o prazo do cliente. “Eu conto para os meus funcionários, eles não acreditam”, começa ele. “Naquele tempo se trabalhava por amor à arte. No fim do expediente, eu ia para casa, jantava e procurava o patrão. Para pedir a chave da gráfica. Para voltar. Ele perguntava, mas o que vai fazer lá? Ah, eu dizia, vou limpar a minha máquina. Às vezes, ia terminar um trabalhinho, adiantar alguma coisa para o tipógrafo no dia seguinte. E ficava lá até umas onze da noite...” Do pai, Salomão herdou a paixão pelo ofício. Todo o maquinário é aquisição sua – parte arregimentada de estabelecimentos que, ao contrário do seu, fecharam as portas, derrotados pela evolução tecnológica. Da última vez que adquiriu máquinas novas pensando em se atualizar já se vão 30 anos. Importou quatro automáticas, com capacidade para produzir mais. “Era um tempo bom, diferente, a gente tinha vontade de desenvolver”, comenta. Os impressos feitos em uma máquina pagavam a aquisição de outra. Salomão nunca fez cursos, aprendeu na lida. Do colégio, só fez o elementar. “Mas hoje dou surra no português”, gaba-se. Idioma aprimorado da maneira mais complexa possível. Ou seja, pela arte de unir tipos, da direita para esquerda, de cabeça para baixo, como se estivesse sempre olhando um texto refletido no espelho.
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Seu Salomão, da gráfica sibemberg, é tipógrafo há mais de cinquënta anos
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É diante do grande gavetário de tipos que a habilidade e a memória de Salomão surpreendem os visitantes. “Isso é de encantar”, afirma ele, abrindo uma das pesadas gavetas. Os tipos são peças de chumbo, de variados tamanhos, com letras desenhadas em relevo. Há um alfabeto inteiro para cada tipo de letra/fonte. Há dezenas de peças para cada letra, em cada alfabeto, em cada fonte. O resultado são várias gavetas cujo conteúdo é organizado em caixas. Na parte superior, as letras maiúsculas. Na inferior, as minúsculas. (Vem daí a terminologia ainda corrente nas redações de jornal de caixa alta e baixa.) Salomão “escreve” uma palavra em segundos, segurando as pecinhas entre os dedos. Sabe o local de cada letra mesmo de olhos fechados.
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Pelo menos outros dois detalhes se destacam entre as máquinas nesse ambiente que, para muitos, parou no tempo. Há prateleiras de madeira onde se acomodam, de pé, apoiandose umas às outras (como livros) as facas de corte, moldes personalizados que servem para recortar e fazer vincos nos impressos. Mais adiante, junto ao gavetário, um livreto amarelado e com as bordas gastas e reviradas pelo uso. É o Catálogo de Tipos, no qual é possível consultar as letras de que a gráfica dispõe para compor a matriz que se transforma em cartões, convites, talões, envelopes, blocos de nota fiscal. Seu Salomão não se aperta. Gosta de desafios. Não raro pega o trabalho que outras gráficas disseram não poder fazer. Como um álbum para partituras com letras gravadas em dourado.
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“Não há nada que as outras pessoas façam que a gente não possa fazer. O importante é ter vontade. Às vezes um cartãozinho de visita malfeito estraga o cliente”, atesta. “Centralizo muito as coisas. Isso estafa o dia da gente”, deixa escapar. Talvez por isso os filhos insistam para que Salomão pare. “Mas é o que sei fazer”, justifica aos dois dentistas, um médico, nenhum dono de gráfica. “Os meus filhos eu não deixei sujar as unhas”, diz. A curto prazo, abandonar o ofício não está nos planos. Tampouco investir em renovações tecnológicas. “Não é uma questão de não acreditar na evolução. É uma questão de fazer o que se sabe”, simplifica.
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“E hoje não tem por que modernizar minha gráfica se ninguém vai seguir com ela, nem tem para quem deixar.” Não tem para quem, mas tem o que deixar. Que esta reportagem possa ser uma homenagem à “teimosia” de Salomão. Ironicamente, a Grafia, com os recursos tecnológicos de que dispõe, faz o que o tipógrafo optou por não fazer. Traz a Sibemberg para os dias atuais, tentando evitar uma injustiça: a de que sua própria história não fosse (ao menos em parte) impressa.
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Mônica vir a mangá teen Primeiro, um desabafo: com a informação ultra-rápida de hoje, aumentou demais a tortura pela chegada às bancas locais de lançamentos nacionais. Ficamos sabendo por blogs especializados, comentamos com amigos, esperamos. E nada de as revistas chegarem por aqui. Até quando Porto Alegre vai continuar sendo destino apenas daquilo que encalha nas bancas de Rio de Janeiro e São Paulo? Talvez, para sempre, quem sabe...
Mas vamos aos fatos: demorou mas chegou e já está na segunda edição a nova revista da Mônica. Na imagem ao lado, dá pra ver bem como cresceram a dentuça (ops!) mais famosa do Brasil e toda sua turma. Eles agora são pré-adolescentes. Bem legal a sensação de ver personagens nacionais mudando de “faixa etária”. Também mudou o traço do desenho, que segue o estilo Mangá, dos quadrinhos japoneses. No mínimo, corajosa e comercialmente oportuna a aposta de Mauricio de Sousa. Basta olharmos a quantidade de fãs adolescentes que se caracterizam como seus ídolos nos chamados Cosplay. E, também, a seriedade com que tratam do assunto. Interessante o meio-termo a que os desenhistas chegaram nesta tarefa de preservar traços da Mônica-criança e famosa, ao mesmo tempo em que renovaram o jeito de desenhar. O resultado é uma fusão de linguagens, com a apropriação de alguns elementos do Mangá, em detrimento de outros. A leitura de trás pra frente, por exemplo, não foi utilizada. Mas
Comparamos as páginas de um Mangá japonês com a revista Mônica Jovem para ajudar na discussão sobre este novo jeito de desenhar a personagem
o tipo de papel, as páginas em preto e branco, muitos elementos de diagramação transversal e imagens sangradas na página remetem ao estilo oriental de fazer HQ. E, é claro, as expressões faciais exageradas e o reticulado para a ambientação de luz e sombra. Para colocar mais lenha na discussão se a nova Mônica é Mangá ou não, fomos à banca e compramos uma revista japonesa bem típica, chamada Black Lagoon, na qual também aparece uma jovem como personagem principal. As histórias não têm nada em comum. Nossa idéia foi apenas comparar os elementos nas páginas da revista nacional com um Mangá de autoria japonesa. Faça a sua análise.
Mônica Jovem
Black Lagoon
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sete jornalistas engraçados, uma mosca e um logo bem legal Eles chegaram com espalhafato e, sem nenhuma modéstia, tomaram conta da TV nas noites de segunda-feira. Marcelo Tas, Danilo Gentili, Felipe Andreoli, Rafinha Bastos, Marco Luque, Rafael Cortez e Oscar Filho são os pilotos desta mosca elétrica que vive atazanando a vida de políticos e celebridades. O bordão repetido pelo “comandante” Tas sintetiza o programa: “Eles estão à solta, mas nós estamos correndo atrás”.
Além de ser irreverente, bem-humorado e pôr o dedo na ferida em muitas pautas, o CQC ainda tem uma cenário muito descolado, com vinhetas e figurinos inspirados nos filmes Irmãos Cara-de-Pau e Homens de Preto. A Rede Bandeirantes de Televisão conseguiu chacoalhar a concorrência com esta franquia, presente também na Espanha, no Chile e na Itália, onde se chama Caiga Quiem Caiga. Com as mesmas iniciais, o logotipo, reproduzido aqui, é igual em todos os países. O grafismo das letras em 3D é inspirado nos olhos da mosca, que enxergam em todas as direções ao mesmo tempo. Característica muito útil no dia-a-dia de insetos e de jornalistas fuçadores.
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o r i g i n a l
Imagem fiel Em novembro de 1988, este bottom do Smile com um pingo
trazer para o cinema a obra-prima de Alan Moore e Dave Gibons,
de sangue chamou atenção na banca de revista. A disposição ver-
Watchmen. Com um diferencial importante: extrema fidelidade
tical dos elementos, o nome sem tradução para o português, o
ao que se vê nas páginas da história em quadrinhos.
close extremo... tudo destoando do que se costumava ver por aqui
Abri minha caixa de guardados. Tirando o pó, as revistas es-
nas HQs. Entre as poucas informações na capa, dizia que se tra-
tavam muito bem conservadas. Resolvi reler, porque as vezes
tava da primeira de seis edições de uma “minissérie de luxo”. Valia
mudamos de opinião. O que parecia lindo décadas atrás agora
os 950 cruzados. Comprei. Li. E esperei longos seis meses até ter
pode não ter tanta graça.
em mãos o último exemplar, já custando 1,6 cruzados novos. Até
Ainda não saí do primeiro volume. É muita informação e von-
a moeda brasileira mudou de nome. Guardei tudo. Sem internet,
tade de comparar o que foi desenhado e o que está virando filme.
não havia muita gente com quem conversar sobre a maravilhosa
No site www.watchmenmovie.com, peguei as imagens de alguns
história que acabara de conhecer.
personagens e coloquei aqui, junto aos desenhos que fotografei
Vinte anos depois, muita criatividade e tecnologia prometem
das páginas. No mais, espero, resignado, a estréia em 2009.
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A Odisséia de greg tocchini a u r a c e b i o
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Digite “Greg Tocchini” na ferramenta de busca dos sites das
Brasileir o desenha para editora dos EUA
maiores livrarias brasileiras e a resposta quase unânime será: “foram encontrados 0 produtos”. Em uma delas, aparece uma única publicação, com a seguinte ressalva: “sujeito a importação (...) en-
trega em até sete semanas”.
adaptação em quadrinhos do poema épico gr ego que narra as aventuras de Ulysses
Faça o mesmo no site da Amazon.com. O resultado são 20 revistas, todas publicadas nos Estados Unidos. O desenhista é brasileiro, mora em São Paulo. E vive hoje o sonho de muitos guris e gurias apaixonados por HQs: trabalha para a Marvel, uma das maiores editoras de Comics do mundo, a casa do Homem-Aranha, do Hulk e de muita gente superforte e superconhecida, principalmente depois que saiu do papel e invadiu as salas de cinema. No mercado norte-americano desde 2002, Greg também já trabalhou para a concorrente DC Comics, onde ficou 13 meses seguidos desenhando o personagem Lanterna Verde. De volta à Marvel, este brasileiro de 29 anos abraçou o desafio de trazer para a linguagem dos quadrinhos a jornada épica escrita pelo grego Homero no fim do século VIII aC. A primeira parte da Odisséia em HQ (Marvel Illustrated: The Odyssey #1) começou a ser vendida nos EUA em setembro.
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Serão oito edições mensais, ao preço de US$ 3,99 cada. Depois, sai uma versão encadernada, a ser comercializada em livrarias. Nenhuma delas tem previsão de ser publicada no Brasil. Greg está desenhando a quinta parte da série neste momento. E, com autorização da Marvel, cedeu estas imagens para que pudéssemos mostrar aos leitores de Grafia um pouco do talento brasileiro que só os norte-americanos conseguem encontrar em bancas de revista. Além das páginas da “The Odyssey”, pedimos ao artista imagens de outros trabalhos, postados por ele no blog www.gregtocchini.blogspot.com.
Fo-
mos prontamente atendidos. Aproveite a exposição!
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O processo criativo de Greg GRAFIA: Você digitaliza originais feitos com lápis e põe contornos e cor no computador? GREG: Depende do dia e do trabalho. O meu processo seria algo parecido com: lápis, arte (nanquim, linhas com cor, um pouco do que tiver vontade) e computador, onde mexo mais um tanto. Mais cor, mais contraste. E a entrega do arquivo, que é o grand finale. GRAFIA: E tablet, você utiliza? Faz desenhos direto no computador ou não? GREG: Sim. Uso Photoshop, sempre com tablet. GRAFIA: O que você usa para colorir? GREG: Tinta à óleo, aquarela, mais ecoline. E computador, onde a tinta não acaba nunca! GRAFIA: Você usa modelos em alguma arte? GREG: Só os modelos que possa imaginar e referências (fotografias, filmes...) para enriquecer sempre a imaginação.
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Em São Paulo, Greg dá aulas de HQ aos sábados na Quanta Academia de Artes. Em Porto Alegre, a Quanta também tem professores de histórias em quadrinhos e de ilustração, em parceria com a Vertente Espaço de Arte. www.gregtocchini.blogspot.com www.comic-art-ink.com www.quantaacademia.com Vertente Espaço de Arte popartstudio@gmail.com [51] 3338-3758
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Mudar não é simples l o r a i n e
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Há mulheres que mudam o corte de cabelo como que zapeassem um controle remoto. Mas, em geral, uma mulher que com convicção faz uma mudança radical no cabelo está anunciando ao mundo corajosamente que algo ocorreu com ela. Depois do bLOg, criei o Simplificar É (http://pratiquesimplicidades. blogspot.com). Puro reflexo da euforia ao descobrir a revista Vida Simples. Lembrei da corajosa mudança dos cabelos femininos porque a Vida Sim-
ples mudou. Mudou seu projeto gráfico, seu visual. Não se entende a importância de um projeto gráfico até que... se tente mudá-lo. Não se entende a importância de um projeto gráfico até que... se sinta saudade dele (mas aí pode ser tarde demais para entender). Exageros à parte de fã confessa que sou da revista, quando a folheei pela primeira vez há mais de dois anos foi, como dizia aquele partido, descobrir que um outro mundo é possível. Tanto no conteúdo quanto na forma. Cada texto, cada título, cartola, até os brancos deixados nas páginas encantavam. A Vida Simples criou um estilo — e como paradigma foi copiada por outras publicações. Mal copiada. Faltava-lhes a essência.
A sessão Respostas, antes e depois do redesenho da Vida Simples. Abaixo, a página do redator-chefe, o gaúcho Leandro Sarmatz
Tudo o que a Vida Simples criara partira do seu próprio conceito, do seu próprio sentido de existir: simplificar — e isto era o inovador da época. O resto foi conseqüência.
Ainda que possa ter feito isso outras vezes desde sua estréia, suspeito que por momentos faltou convicção à
Por duas edições, o editor da revista anunciou a mudança do projeto
Vida Simples. Ou motivo para mudar. É como a mulher
gráfico. Na revista seguinte, o que mudou foi o tempo verbal. O projeto
cortar “só as pontinhas” dos cabelos e ainda querer que
não mudou, está sendo mudado. Ou seja, a coisa não foi nada simples
todos não apenas percebam mas aprovem e elogiem.
por lá (E o tema de capa da terceira edição após o início da mudança —
Mudar o visual sem que isso seja uma conseqüência da
“Ninguém é perfeito” — me parece tocar na questão de forma elegante e
essência até pode ser divertido (e simples) para muitas
sutil). Havia cartas de leitores insatisfeitos, como se pressentissem que, se
mulheres e muitas revistas. Não para a Vida Simples.
há possibilidade de um “radical corte de cabelo”, algo de profundo devia estar se orquestrando. Ciente desse receio e de mexer em time que estava ganhando, a
Vida Simples quis executar uma complexa e delicada manobra: mudar sem perder a essência. Porque perder sua essência genuína e pioneira é morrer. Mas mudar sem mexer na essência não é mudar. É maquiar-se (e maquiagem é anti-Vida Simples total). É tornar-se fake de si mesma. É zapear.
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f o t o s
Tamires Kopp tomou gosto pelo fotojornalismo nos idos de 1974, folheando o jornal Correio do Povo, ainda no formato standard. Trabalhou para alguns periódicos do Estado e colabora regularmente para revistas da Editora Abril. Mas o que o mantêm realmente ocupado nos últimos anos são as viagens que faz pelo Brasil rural, fotografando para o Ministério do Desenvolvimento Agrário a agricultura familiar e os assentamentos da reforma agrária. 51.3244 28 8 0/9 9 9 976 6 6/tamiresk@sin os.net/baitaprofissinal.com.br
Eduardo Aigner, Porto Alegre, 1970. Já fotografou rãs, prédios, músicos, casas, gatos, panelas, cadeiras, pedras, livros, cadeiras, fábricas, amigos, namoradas, folhas, personalidades, paisagens, brinquedos, tempestades, banheiras, atores, árvores, campos, cavalos, computadores etc. Estudou arquitetura, descobriu a fotografia e segue transitando em ambos os mundos. 51.32736762/91964592/eduardo@eduardoaigner.com.br/eduardoaigner.com.br
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