Aventura Adaptada

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a r u t n e v tada p da


Steven Dubner - Palestrante e fundador da ADD.

Costumo enfatizar nas palestras que faço por esse país afora, que a motivação de cada um é o principal impulso para que superemos nossas limitações, receios e insegurança do desconhecido. Muitas vezes deixamos de viver as boas coisas da vida ou experimentar algo novo por medo de enfrentar os obstáculos que nós mesmos criamos. Já trabalho há muitos anos com a inclusão de pessoas com deficiência e conheci muitas pessoas que não aceitavam o rótulo de que uma deficiência, seja ela qual fosse, seria impedimento para se aventurar em um esporte ou alguma atividade mais radical. A vida é feita de escolhas, e cada um faz a sua. Não vale a pena remoer por receio dos desafios. Este livro mostra tudo isso, e um pouco mais. Quem não gosta de sentir aquele frio na barriga antes de se arriscar numa atividade que nunca fez e ter a satisfação de ter algo diferente? Há bem pouco tempo, a prática dos esportes de aventura não era comum por alguém com deficiência, mas hoje e dia isso é pura realidade. Cada vez mais os profissionais da área estão enxergando que todo mundo tem direito de praticar uma atividade junto à natureza e a demanda não para de crescer. Fico muito feliz ao ver a realização dos personagens do livro por terem superado suas limitações e sentido aquele gostinho que só a adrenalina nos traz. Com certeza essa sensação ficará marcada em suas memórias e trará inúmeros benefícios para sua autoestima e qualidade de vida.


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a r u t n e v ada t p a d Edição nº1 2016


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Aventura adaptada : um roteiro turístico e cultural / [Dirceu Pereira Junior, coordernação ; Arthur Calasans, fotografia ; Paulo Kehdi, Ana Lucia Borges, colaboradores]. -- São Paulo : Áurea Editora, 2016. "Participação: ADD Associação Desportiva para Deficientes". ISBN 978-85-88678-21-7 1. Deficientes 2. Deficientes - Aspectos sociais 3. Deficientes - Inclusão social 4. Deficientes - Orientação e mobilidade 5. Deficientes - Recreação 6. Deficientes - Serviços de acessibilidade 7. Turismo cultural I. Pereira Junior, Dirceu. II. Calasans, Arthur. III. Kehdi, Paulo. IV. Borges, Ana Lucia . 16-05310

CDD-305.9

Índices para catálogo sistemático: 1. Pessoas portadoras de deficiência : Inclusão na área do turismo : Sociologia 305.9


Editor responsável: Dirceu Pereira Junior Planejamento e Supervisão Geral: Dirceu Pereira Junior Produção Executiva: Ana Borges Redação: Ana Borges, Dirceu Pereira Junior e Paulo Kehdi Revisão: Silvia Bellintani Revisão Técnica: Sileno Santos Fotos: Arthur Calasans Direção de Arte: Marcos Veras Diagramação e Tratamento das Imagens: Bruno Matos Controle e Administração: Carla Meire Ferreira, Marlene Mirra e Rosana Gutierrez Pesquisa de campo: Ana Borges Produção e logística: Carlos Alberto Souza Bento Webdesign: Marcos Veras Programação Web: Hnet Informática


Apresentação

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Prefácio

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Introdução

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Destinos

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Atibaia Trekking

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Boituva Paraquedas

44

Bragança Escalada


Turismo de Aventura 14

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Brotas Rafting

Turismo

68

Caraguatatuba Paratrike

88

78

Socorro Tirolesa/Rapel


A cultura da inclusao

Por Eliane Miada – Fundadora da ADD

As opções para quem procura pacotes de turismo acessível têm crescido muito nos últimos tempos graças à grande visibilidade que as questões ligadas à inclusão da pessoa com deficiência têm alcançado nas diversas esferas da sociedade. É possível observar o surgimento de inúmeras iniciativas, de empresas do setor privado, parlamentares ligados à causa, órgãos do poder público, formadores de opinião e grupos sociais, que fomentam as práticas inclusivas para que todos possam desfrutar da possibilidade de conhecer lugares novos e aproveitar todos os benefícios que adquirimos ao viajar, seja a trabalho ou em busca de lazer. Uma vez que esse universo de alternativas turísticas vai se abrindo gradativamente, abre-se também o leque de possibilidades que as pessoas têm ao aliar aquele momento de lazer à prática de um esporte junto à natureza. É como se uma coisa estivesse ligada diretamente à outra. E isso vai de uma simples caminhada na praia ou no campo, até uma atividade em que a adrenalina vai a mil, gerando uma sensação única que vai ficar eternizada na memória. E essa emoção é universal, contagiante, empolgante e deixa em qualquer um aquela vontade de quero mais. Seja lá qual for o tipo de limitação de uma pessoa, essa emoção é a mesma para todo mundo. Cada qual com sua particularidade e grau de excitação, a conclusão é que, ao terminar um desafio em uma atividade de aventura qualquer, o medo e a ansiedade dão lugar a um sentimento de vitória por ter superado aquela situação, seja você uma pessoa com ou sem deficiência. Esse é o contexto que trazemos neste livro, Aventura Adaptada, um roteiro turístico e cultural. Trata-se de uma publicação na qual selecionamos 6 destinos turísticos no estado de São Paulo que oferecem a seus visitantes uma opção de praticar atividades de aventura junto à exuberante natureza do local de forma inclusiva. Para ilustrar o roteiro, convidamos pessoas com 6


Apresentação

Crédito: Arthur Calasans

deficiência para vivenciar essa experiência e mostrar que é possível enfrentar qualquer aventura com vontade e uma equipe preparada para atender às necessidades específicas de cada pessoa. Num período de 30 dias, a equipe do Aventura Adaptada, formada pelo jornalista Paulo Kehdi, o fotógrafo Arthur Calasans e a produtora Ana Borges, levou os aventureiros com deficiência para saltar de paraquedas em Boituva, andar de paratrike em Caraguatatuba, descer de rafting no rio Pepira, em Brotas, caminhar nas trilhas da Pedra Grande, em Atibaia, escalar a Pedra Bela, em Bragança Paulista, e experimentar a adrenalina da tirolesa e do rapel, em Socorro. Todo esse roteiro foi registrado em imagens belíssimas captadas ao longo da experiência e nos depoimentos de cada um dos participantes que, cada qual do seu jeito, vão guardar essa experiência para sempre em suas vidas. Além desse conteúdo da aventura propriamente dita, trazemos na publicação as informações dos destinos e os serviços disponíveis para quem se animar depois de ler essa empolgante narrativa. Quero agradecer a participação de todas as pessoas envolvidas na produção deste livro, que é mais um projeto da ADD, em parceria com a Áurea Editora, e que certamente colaborará para que tenhamos uma sociedade cada vez mais inclusiva. Boa leitura a todos.


Para mexer as cadeiras

por Mara Gabrilli

O esporte sempre foi fundamental na minha vida. Desde criança eu corria na escola. Gostava de competir. Mas havia um menino – o João Paulo –, que era o mais rápido da turma e eu nunca conseguia vencê-lo. E o João Paulo era amputado e usava uma prótese! Naquele tempo as próteses eram pesadas e ainda assim ele era o mais rápido! Eu passei a treinar todos os dias para superá-lo. Mais tarde, na juventude, eu virei maratonista. Cheguei a correr uma ultramaratona de 100 quilômetros e vocês podem ter certeza de que muito do João Paulo estava dentro de mim, me inspirando e motivando. Logo depois do acidente que mudou todos meus parâmetros na vida há 21 anos, eu fundei uma organização, inicialmente chamada de Projeto Próximo Passo, que hoje é o Instituto Mara Gabrilli. Ao mesmo tempo em que reaprendia a lidar com o novo corpo paralisado, não me sentia paralisada. Queria trabalhar e tinha uma grande consciência de que eu tinha acesso a oportunidades e informações que outras pessoas com deficiência não tinham. Há duas décadas, pouco se falava em inclusão e faltava tudo. Fundei o IMG para mudar esse quadro e ajudar a promover a autonomia das pessoas com deficiência. Pensava que iria disseminar conhecimento, mas aprendi muito mais. E muito do que aprendi foi com os atletas que começamos a apoiar. Hoje o IMG conta com 22 atletas, mas mais de 100 já estiveram conosco. Recebo uma energia muito grande da força de vontade e da superação que todos sempre tiveram. São campeões nas quadras, nas pistas 8


Prefácio

e nas piscinas, e representam o Brasil em competições nacionais e internacionais. Foram eles os maiores motivadores do trabalho de construção de políticas públicas que faço hoje. Meu principal objetivo sempre foi tirar as pessoas com deficiência de casa para que pudessem exercer a cidadania. E, para mim, o esporte e a cultura são ferramentas muito poderosas de inclusão. As primeiras Paralimpíadas foram promovidas em 1960, em Roma, como uma forma de reabilitar as diversas pessoas feridas na Segunda Guerra Mundial. “Espírito em Movimento” é o lema do movimento paralímpico. E eu acredito firmemente nisso! Neste ano (2016) eu me superei mais uma vez em um grande desafio: participei da primeira etapa do UB 515 Ultra Brasil Triathlon, competição realizada entre as cidades de Ubatuba, Paraty e Rio de Janeiro. A prova no Brasil é disputada nos mesmos moldes do Mundial, no Havaí. No primeiro dia os atletas nadam 10 km e pedalam 145 km; no segundo, pedalam mais 276 km; e no terceiro, correm duas maratonas (84 km). Eu entrei na água a convite do meu amigo Tubarão, triatleta e nutricionista, para a prova de natação em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Antes de entrar na água, eu já havia enfrentado dois obstáculos para estar ali: subir os inúmeros degraus da pousada (único lugar na cidade onde encontrei um quarto com banheira) e vestir a roupa de mergulho molhada do dia anterior... já imaginou uma tetra colocando aquela roupa de borracha? Mas eu estava empolgada e decidida em fazer meu melhor. Lembrei-me das maratonas que participei na vida. Da ansiedade que me tomava horas antes de correr, do frio na barriga que me impulsionava a completar todas as provas que eu, atleta amadora, decidia competir. Emocionei-me quando vi a preparação dos atletas, fazendo suas orações e pedindo autorização ao mar para que entrássemos ali.


Na hora da largada, não contive as lágrimas. Eu estava com medo e nervosa, em uma espécie de mini catamarã onde meu corpo ficou suspenso por cordas dentro da água. Naquele equipamento fui puxada 10 km pelo Tubarão, em uma prova que durou quase cinco horas. Na água, muita coisa passou por minha cabeça... e muita coisa aconteceu. Durante toda a prova fiquei o tempo todo praticando uma respiração acelerada e tentando mexer as pernas, contrair os músculos. Com a ajuda da água, algumas vezes consegui movimentos que me fizeram bater a coxa na barriga! Mas tudo era muito pequeno ali. Quando você pensa que um dia precisou de um aparelho para respirar e, de repente, a sua respiração se torna a protagonista daquilo tudo, o sentimento de gratidão toma conta. Virada para cima, foram cinco horas de céu, água, movimento e a sensação de que era Deus e eu. Uma sensação de infinito maravilhosa. Costumo dizer que sou fã das pessoas com deficiência porque elas superam obstáculos a cada minuto de seu cotidiano. Andar pela calçada em uma megalópole como São Paulo é um verdadeiro rally. Estamos acostumados a enfrentar barreiras e desafios. Então por que ainda é difícil associar um esporte de aventura a uma pessoa com deficiência? Saúdo a todos os envolvidos nesse livro “Aventura Adaptada” que mostraram que as pessoas com deficiência querem e podem ir muito além. Elas perpetuam o espírito de superação que toda aventura tem. Segundo o dicionário, a palavra “aventura” vem do latim “ad venture”, derivada do verbo “advenire”, que significa “alcançar”. Aqui encontramos o verdadeiro sentido de uma atividade de aventura porque ela é colocada ao nosso alcance, nos preparando para o que vier. Aqui você encontrará toda a ajuda, sempre bem-vinda, para uma aventura inesquecível. Boa leitura! 10


Crédito: Arquivo Pessoal

Mara Gabrilli é deputada federal. Foi relatora e autora do texto final da Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência). Integrou como única representante do Congresso Nacional, em agosto de 2015, a delegação do Estado Brasileiro em Genebra na reunião do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e, em junho de 2016, em Nova Iorque, na 9ª sessão da Conferência dos Estados Partes da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização Nações Unidas (ONU). Está sempre pronta para uma boa aventura.


Esporte de Aventura

por Sileno Santos – Coordenador da ADD

Academicamente, o fenômeno Esporte pode ser classificado de diversas formas: Individual, coletivo, de redes, de marcas, de precisão etc. Nos últimos anos, os esportes de aventura, também conhecidos como esportes de natureza ganharam destaque pela diversidade de possibilidade de sua prática. Atrelados ao conceito de lazer, os esportes de aventura têm uma característica marcante: o grau de risco físico, dado às condições de altura, velocidade ou variantes tais como clima, chuva, e ambiente em que são praticados. Há quem afirme que, por esse motivo, o esporte de aventura é mais emocionante, já que exige maior esforço físico e emocional. A carga de substâncias geradas pelo organismo para manter o estado de equilíbrio em situações de risco é o que garante, de fato, o fascínio por esportes de aventura. Destacamos: o paintball, skydiving, surf, montanhismo, paraquedismo, trekking, mountain bike, paraglider, dentre outros. As pessoas com algum tipo de deficiência experimentam as mesmas reações ao praticar um esporte de aventura. Por diversas vezes a prática esportiva de aventura não requer a habilidade e destreza de um esporte de rendimento, o que faz aumentar as chances de experimentar os esportes de aventura. A dificuldade em encontrar um local acessível para uma pessoa cadeirante, por exemplo, pode afastá-la de uma atividade extremamente prazerosa. Prazer está associado à felicidade de uma pessoa. Devemos todos, independentemente da condição, incentivar a participação de pessoas com deficiência em todas as atividades de nossa sociedade. Por vezes, poucas adaptações são facilmente realizadas para que haja a inclusão de pessoas com deficiência na prática dos esportes de 12


Introdução

Crédito: Arthur Calasans

aventura. Uma pessoa cega, por exemplo, pode certamente sentir os efeitos de altura de uma parede de escalada, assim como uma pessoa cadeirante certamente ficaria fascinada ao se aproximar de um penhasco e experimentar um salto duplo num paraglider. E se algumas vezes as pessoas com alguma deficiência são impedidas de chegar ao local de prática, por motivos de acesso pela natureza, a atividade também pode se aproximar das pessoas. Em plena cidade de São Paulo, por exemplo, as pessoas com deficiência podem fazer um rapel em um viaduto, por que não? Precisariam ir a um local isolado e de difícil acesso para garantir a emoção desta prática? Claro que não. Pessoas sensíveis são capazes de fazer adaptações e garantir o acesso de algumas atividades de aventura para as pessoas com deficiência. Precisamos deixar de lado os preconceitos, as dificuldades e as desculpas, reforçando o direito de uma pessoa com deficiência a sentir as emoções da prática dos esportes de aventura.


Turismo de Aventura

Caminhada em Atibaia na subida da Pedra Grande. A utilização do bastão direcional melhora a comunicação entre pessoa com deficiência visual e o guia durante o trekking.


CrĂŠdito: Arthur Calasans


Primeiramente entendido como uma atividade associada ao Ecoturismo, hoje o Turismo de Aventura possui características estruturais e mercadológicas próprias. Mas nem sempre foi assim. Segundo publicações do Ministério do Turismo do Brasil, nos anos 1970 essa forma de atividade nada mais era do que uma forma prazerosa de estar em contato com a natureza, mesmo que isso fosse visto com certo estranhamento por alguns setores da sociedade. O segmento nasceu com um pequeno grupo de pessoas dispersas geograficamente, de diferentes classes sociais e idades, que começaram a desenvolver atividades junto à natureza, passando a visualizar a possibilidade de fazer daquilo seu meio de vida. Na década de 1980 houve as primeiras reflexões sobre Turismo de Aventura. No fim dos anos 90, os primeiros equipamentos para a realização de atividades de natureza (capacetes, caiaques infláveis, cordas, entre outros) começaram a ser produzidos no Brasil. Em 1999, foi organizada a primeira feira do setor de Turismo de Aventura, a Adventure Sports Fair, que proporcionou a promoção e conhecimento das atividades do segmento. A feira teve um importante papel para o associativismo do segmento, e algumas associações foram criadas. Em 2001, a primeira definição de Turismo de Aventura foi elaborada no Brasil, na Oficina para a Elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de Aventura, realizada em Caeté, Minas Gerais. Por fim, o Ministério do Turismo, em 2003, iniciou o debate sobre a criação de um marco regulatório para o segmento. No mesmo ano, foi elaborado um diagnóstico nacional e internacional que visava identificar experiências de normalização, certifica16


Crédito: Vida Azul Paraquedismo

Além da adrenalina,o salto duplo de paraquedas permite que a pessoa com deficiência visual interaja com o paraquedista sobre as belas imagens que um salto como esse oferece.

ção e regulamentação da área. A norma ABNT NBR 15.331 é o documento oficial que rege as atividades de Gestão de Segurança de todas as organizações que atuam no setor de turismo de aventura, e soma-se em sua composição às normas voltadas à Gestão de Qualidade (ISO 9001) e Gestão Ambiental (ISO 14001). Esse crescimento vem trazendo um novo leque de ofertas, possibilidades e questionamentos, que precisam ser compreendidos para a viabilização da oferta do segmento com qualidade. Podemos citar como atividades relacionadas: rafting, rapel, tirolesa, escalada, paratrike, mountain bike, mergulho autônomo, mergulho de apneia, trekking, arborismo, exploração de cavernas, entre outras. Atualmente são inúmeras as localidades brasileiras que se caracterizam pelo Turismo de Aventura, espalhando-se por todas as regiões do país. Turismo de Aventura


Crédito: Arthur Calasans

Trabalho em equipe é fundamental para superação de obstáculos ou enfrentar as dificuldades naturais de acessibilidade na hora da atividade de aventura.

O Brasil é considerado um dos principais destinos, procurado por pessoas de todo o mundo. Cidades como Bonito (MS), Chapada dos Guimarães (MT), Chapada da Diamantina (BA), Fernando de Noronha (PE), Jericoacoara (CE), Parque Nacional do Monte Roraima (RR), Jalapão (TO), Ilha Grande (RJ), Cambará do Sul (RS) e Florianópolis (SC), entre tantos outros municípios brasileiros, podem ser citados como locais que oferecem o Turismo de Aventura, com infraestrutura para receber adequadamente os amantes dessa atividade. Esta publicação escolheu seis destinos dentro do estado de São Paulo: Atibaia, Boituva, Bragança Paulista, Brotas, Caraguatatuba e Socorro como palcos a serem explorados, mas sob um viés completamente diferente: o do Turismo de Aventura, sendo praticado por pessoas com deficiência. 18


Turismo de Aventura Adaptado: Qualquer pessoa pode praticar o turismo de aventura, inclusive pessoas com deficiência, desde que observados os requisitos mínimos para realização das atividades, como altura, peso, grau de mobilidade, capacidade cognitiva e condicionamento físico adequado. Para o público com deficiência a diferença está nas adaptações de equipamentos e técnicas utilizadas na realização da modalidade, para os diferentes tipos de deficiência, com suas características e graus de comprometimento físico e/ou cognitivos específicos. Nesse cenário, é imprescindível que as pessoas com deficiência que estejam em busca de emoções e muita adrenalina procurem empresas do segmento do Turismo de Aventura que tenham conhecimento sobre o tema. São elas que farão a avaliação e preparação das pessoas com deficiência, baseadas no vasto conhecimento que possuem, em cada modalidade de aventura citada. Nas atividades descritas no livro, buscou-se oferecer esse serviço, indicando empresas idôneas, com histórico de experiência no segmento e que tenham equipamentos adequados para contemplar o binômio prazer e segurança. Obviamente que atividades de aventura trazem certo risco ao praticante, independentemente de sua condição. O importante é saber quais são esses riscos e como evitá-los. Ou, caso se apresentem, ter o conhecimento de como enfrentá-los. Listamos aqui os problemas mais comuns detectados e que podem se tornar ainda mais perigosos no universo da Turismo de Aventura


deficiência: desconhecimento da modalidade e dos riscos inerentes à determinada modalidade; falta ou má avaliação de capacidade corporal para esforço físico; desconhecimento de doenças pré-existentes; roupas e calçados inadequados; desobediência a sinais e placas de sinalização e advertência; desconhecimento de técnicas e utilização de equipamentos de proteção e segurança; autoconfiança em demasia; pouco ou nenhum planejamento; desconhecimento do local e região onde se pretende praticar esportes de aventura; desatenção ou má avaliação aos sinais de intempéries atmosféricas; ausência de comunicação preliminar sobre roteiros e trajetos; ausência de observação aos ensaios de segurança de equipamentos e acessórios (sobrecarga aplicada, conservação, manutenção, fadiga e obsolescência). No entanto, se estamos elencando os problemas, é claro, nada mais justo do que citar a outra face da moeda. Com atitudes de planejamento proativa e receptiva a informações e comandos, dificilmente algo de errado acontecerá. Sendo assim, o sucesso de uma empreitada com estas características depende não só do profissional capacitado, como também da pessoa com deficiência. As adaptações são simples, e estão descritas nos capítulos que se seguem. Apenas elencando algumas delas, podemos citar a necessidade de guias especializados no auxílio à pessoa com deficiência visual; o uso de barras direcionais para pessoas com esse mesmo tipo de deficiência; elementos extras de segurança em caso de deficiências físicas, como paraplegia ou tetraplegia. Nesse caso, o uso de cintos adicionais é recomendado, evitando que membros sem sensibilidade fiquem desprotegidos. No caso de deficiência auditiva, o conhecimento de Libras seria um diferencial interessante. Caso 20


Crédito: Evandro Bonnochi Equipamentos de proteção e orientação

contrário, comandos por meio de sinais comuns e toques serão ensaiados antes do início da aventura. E se falamos dos cuidados, nada melhor do que fechar essa introdução descrevendo os benefícios, que são muitos. Se a atividade escolhida exigir esforço físico, o ganho óbvio é de uma condição atlética melhor, incluindo benefícios respiratórios e de coordenação, com aumento de agilidade e equilíbrio. O Turismo de Aventura proporciona interação com elementos do meio ambiente, consciência ecológica e sociocultural. Ele traz uma exposição individual a desafios para elevação de autoconfiança e autoestima. Proporciona também reflexão e autoconhecimento, além do aprimoramento das habilidades de convívio interpessoal. Ou seja, o Turismo de Aventura está aí para ser praticado, por todos. A composição explosiva de adrenalina, belos visuais, superação de desafios e socialização faz desse segmento algo quase irresistível de experimentar, especialmente por pessoas com deficiência, tornando-se mais um estímulo à independência e autonomia. Turismo de Aventura

adequada permitem uma atividade de aventura segura e muito prazerosa.


Destinos



Crédito: Arthur Calasans

Trek, em português, significa migrar. O nome então é possivelmente uma herança da colonização inglesa no mundo, principalmente da África e América do Norte, onde os trekkers viajavam meses em suas carruagens a boi, ou mesmo a pé, carregando todos os seus pertences de um lado para outro, muito parecidos com os nômades do oriente. Justamente por essa definição de migração, mudança, viajar, “carregar a casa” é que o termo trekking é empregado para a atividade. Também há os termos backpacking e hiking, comumente utilizados na América. O trekking é uma das atividades ao ar livre mais seguras, e que pode ser praticada por qualquer pessoa saudável, em qualquer idade. Porém, especificamente para a trilha da Pedra Grande, em Atibaia, foi estabelecida pela

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Subida da Pedra Grande exibe cenário espetacular.

Atibaia

Trekking empresa Grade 6 Viagens a idade mínima de 12 anos para participação na aventura. Para aqueles que não praticam atividade física regularmente, o melhor caminho é se exercitar em caminhadas mais curtas, em praias ou parques. Todavia, antes de praticar qualquer atividade física, é necessário que se faça uma avaliação médica para garantir a segurança. Existem vários tipos de trekking, como o trekking de um dia ou de longa distância, além das modalidades competitivas, como o trekking de regularidade ou o de velocidade, também conhecido como corrida de aventura.

Trekking | Atibaia


Ana Borges e Cristiano Rodrigues passam trecho de queimada durante a subida

Crédito: Arthur Calasans

com destino a Pedra Grande, Atibaia, SP.

Diario de bordo

A saída de São Paulo foi às 6 horas de uma manhã ensolarada de sexta-feira. O destino era Atibaia e a trilha que leva ao topo da Pedra Grande, o mais belo cartão postal da cidade, a 1.450 metros de altitude. Os personagens escolhidos para esse destino, já ansiosos pela aventura que se aproximava, foram Ed Carlos Gomes da Cruz, 43 anos, e Cristiano Sousa Rodrigues, 42 anos, ambos com deficiência visual. A trajetória deles já mostra que a busca por novidades é uma diretriz na condução de suas vidas. Ed Carlos nasceu com malformação no nervo óptico, mas aprendeu mobilidade desde cedo. Com 2 anos de idade e apenas 10% de visão, foi levado pela mãe à Fundação Dorina Nowill, com essa intenção. Aos 14 já tinha autonomia total para locomoção. Tendo terminado o Ensino Médio, fez curso técnico de massoterapia e trabalha no hospital 9 de julho há 12 anos, exercendo suas habilidades. Mas ele nunca se acomodou com sua situação e sempre procurou novas experiências fora de sua rotina. 26


Trekking | Atibaia

Ed Carlos em parada para ouvir os diferentes sons da natureza.

Crédito: Arthur Calasans

Em 2013, por exemplo, foi com o projeto Expedições Inclusivas para montanha HUAYNA POTOSI, na Bolívia, de 6.088m e subiu até 5.750m, superando paredes de gelo e enfrentando temperaturas próximas aos -25° C. “Acho importante experimentar o novo, sair de sua zona de conforto. Isso passa a ser importante para sua vida”, diz Ed Carlos. Da mesma forma pensa Cristiano, que tem retinose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina. Somente aos 16 anos é que ele começou a perder a visão, progressivamente. Atualmente tem algo em torno de 5% de visão. Com curso superior em administração incompleto, mas com intenção de terminá-lo, Rodrigues começou a trabalhar cedo, aos 9 anos de idade, e sempre quis experimentar novos horizontes. Atualmente, trabalhando em uma ONG na área de aromas e fragrâncias, checando composição de produtos, ele também busca o novo, com a intenção de se divertir e de se fortalecer. “Faço corridas de aventura, remamos, caminhamos e precisamos ter um sentido de navegação apurado. Isso acaba se revertendo em benefícios psicológicos e físicos, te ajuda no dia a dia”.


Crédito: Arthur Calasans

Papel do guia na caminhada inclui a descrição do visual e vegetação de Mata Atlântica presente nesse pedaço da Serra da Mantiqueira.

A caminhada em direção ao topo da Pedra Grande começou por volta das 10 da manhã. Considerada uma trilha de intensidade moderada, exige concentração e esforço físico. São 2,5 quilômetros de distância, mas com altimetria de 640 metros. Ou seja, ao finalizar a caminhada, chega-se 640 metros mais alto do que o início da aventura. Durante o trajeto, Ed Carlos foi guiado por Lucas Sato, da empresa Grade 6 Viagens, e Cristiano foi guiado por Ana Borges, produtora experiente em aventuras dessa natureza. Estava presente também Marcos Robioglio, que comandou um drone durante todo o trajeto, captando lindas imagens. A trilha apresenta muitas irregularidades de terreno, incluindo a formação de pequenas valetas, frutos da erosão local. É preciso atenção por conta de pequenas pedras espalhadas pelo caminho, que causam alguns escorregões. Nesse cenário, 28


Recomendações • Adaptações para pessoas com deficiência visual: a barra direcional é um recurso disponível interessante mas caso não a tenha, a pessoa com deficiência visual pode segurar na mochila ou no ombro do guia. É essencial que a comunicação entre a pessoa com deficiência visual e o guia seja constante, fazendo com que as orientações tragam a exata noção do terreno explorado e para aumento da sensação de segurança por parte de todos. • Alimentação: levar kit lanche (sanduíche, barra de cereal, chocolate, frutas frescas/secas etc), e água; cada participante deve ter autonomia de 3 litros. Isotônicos do tipo gatorade também são bem-vindos. • Vestuário: Camiseta dry fit, de preferência de cor clara e mangas compridas, jaqueta impermeável ou capa de chuva, tênis ou bota de trekking amaciado e resistente, boné ou chapéu, bastões de caminhada (item opcional, mas importante por auxiliar no equilíbrio).

é importante a escolha de um calçado apropriado, confortável e com uma sola que ajude no equilíbrio. Em algumas oportunidades, a força física se faz necessária, para superar obstáculos naturais como pedras de médio porte, galhos e raízes. Platôs e subidas mais íngremes se revezam pelo caminho. O interessante é que a trilha é contemplativa e pode ser feita em diferentes ritmos. Quem está mais acostumado, pode ir mais rapidamente. Outros podem percorrê-la mais vagarosamente. O topo da Pedra Grande foi alcançado após duas horas e meia de caminhada, tempo considerado normal pelos especialistas. Durante o trajeto já é possível visualizar paisagens incríveis, mas o topo da pedra reserva uma vista aérea de Atibaia e da região de tirar o fôlego. Trekking | Atibaia


A descrição desse visual espetacular foi detalhadamente contada aos aventureiros com deficiência visual por seus respectivos guias, ao longo da caminhada, assim como em seu ponto mais alto. Muitas fotos foram tiradas e um bate-papo divertido dominava o ambiente. Para a descida, são necessárias mais uma hora e meia, em média. A concentração e a definição de ritmo são importantes nessa etapa também, por muitos considerada até mais difícil que a própria subida, por exigir equilíbrio maior do corpo. Caso a pessoa não queira descer caminhando, é possível o resgate por carro. “Indescritível a sensação de conquista, de ter chegado ao fim. É assim que enxergo a vida, imponho metas a mim mesmo e faço de tudo para cumpri-las. Agradeço ao Lucas por ter me passado tranquilidade e segurança durante o trajeto. Somos todos um time, com um objetivo comum. Esse senso coletivo conta demais e torna tudo mais agradável”, conta entusiasmado Ed Carlos. “A interação com o ambiente é fantástica! E a minha ligação com a Ana durante o trajeto ajudou demais. A barra auxilia muito e seus comandos de voz alertando para o que vinha pela frente foram essenciais para o término de uma caminhada que foi extasiante, mas ao mesmo tempo tranquila. Meu recado para as pessoas com deficiência é que saiam de sua rotina e experimentem sensações novas, como fizemos aqui em Atibaia”, finaliza Cristiano.

Crédito: Arthur Calasans

Ponto mais alto da trilha antes da subida a Pedra Grande.

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Destino: Pedra Grande em Atibaia Distância: 67 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem: Entre uma hora e meia e duas horas, dependendo do trânsito Caminho: Rodovia Fernão Dias

Atibaia

São Paulo 

São muitas as atrações da cidade. Para quem gosta de História, o destaque são duas igrejas: a Igreja Matriz de São João Baptista, construída em 1665 e considerada como marco zero do município, e ainda a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construídas por escravos. Sua construção começou em 1763 e só foi terminar em 1817. Nossa Senhora do Rosário é considerada a Santa protetora dos negros. Existe ainda o Museu de História Natural, cujo acervo é composto em sua maioria por mais de mil espécies de vertebrados taxidermizados, formando uma rara coleção de nossa fauna com modelos vindos de todas as regiões brasileiras, especialmente do Pantanal Matogrossense, Amazônia e Rio Grande do Sul. Ele fica localizado no Parque Edmundo Zanoni – Av. Horácio Neto 1030 – e funciona de terça a domingo, das 8h às 17h30. O próprio parque é muito visitado pelos turistas. Em sua área de 38.700 m², abriga, além do Museu, o salão do artesão, playground, jardim japonês, viveiro de pássaros e um pavilhão de exposições. Tudo isso em meio a uma extensa área verde de grande beleza natural, contemplando bosques, lago com Trekking | Atibaia


Servicos

Trekking na Pedra Grande Empresa: Grade 6 Viagens Endereço: R. Oscar Alves Costa 103, sala 3, Barão Geraldo, Campinas Contatos: www.grade6viagens.com.br contato@grade6viagens.com.br | (19) 3305-5040

Onde ficar

Hotel Bourbon Contatos:(11) 4414-4700; http://www.bourbon.com.br/hotel/upscale-pt/ convention-spa-resort/bourbon-atibaia/ Endereço: Rodovia Fernão Dias (BR – 381), Km 37,5. A aproximadamente 6 quilômetros da Pedra Grande Hotel Tauá Contatos:(11) 4416-5009; Site http://www.tauaresorts.com.br/atibaia Endereço: Rod Dom Pedro I (SP -065), Km 86. A aproximadamente 30 quilômetros da Pedra Grande Pousada Paiol Contatos:(11) 4416-4453; http://pousadapaiol.com.br/ Endereço: Estrada Municipal Hisaychi Takebayashi, 9800A, Bairro da Usina, Atibaia. A aproximadamente 15 quilômetros da Pedra Grande

Como chegar

Carro - Acesso principal pela BR-381 (Fernão Dias) Ônibus - Viação Atibaia (http://www.viacaoatibaiasp.com.br/ / 0800-16-6444) 32

Crédito: Arthur Calasans

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.


Durante a caminhada é importante paradas para recobrar o fôlego e hidratação.

Hoteis

pedalinhos, patos e gansos. Além de todos esses atrativos, o Parque Edmundo Zanoni é palco de diversos eventos do Município e do Estado, como a Festa das Flores e Morangos de Atibaia e o Revelando São Paulo Entre Serras e Águas. A Festa dos Morangos e das Flores é nacionalmente conhecida, por seu caráter cultural amplo e diversificado. Mais informações do evento podem ser encontradas no link http://www.floresemorangos.com.br/. Atibaia rima ainda com boas compras. No bairro do Tanque ficam os japoneses Shugo Izumi, ceramista que produz vasos e pratos de argila moldados a mão, e o mestre Osamu Hidaka, especialista no cultivo do bonsai. Já no bairro do Portão, o atrativo é a fabricação de tapetes arraiolos. As peças, que seguem técnicas portuguesas, estão disponíveis na associação dos artesãos. Para quem deseja mais adrenalina, Atibaia tem kartódromo (telefone – (11) 4411-6118) e pista de MotoCross (telefone – (11) 99912-9753). Trekking | Atibaia


Boituva

Paraquedas Eduardo Soares sente a descida em queda livre de 50 segundos.

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Paraquedas | Boituva

Crédito: Vida Azul Paraquedismo

As primeiras notícias que se têm sobre paraquedas são do italiano Leonardo da Vinci (1452 – 1519), que escreveria em notas: “Se um dia alguém dispuser de uma peça de pano impermeabilizado, tendo os poros bem tapados com massa de amido e que tenha dez braças de lado, pode atirar-se de qualquer altura, sem danos para si”. Por isso, esse gênio é também considerado um precursor como projetista de paraquedas. Mas o primeiro voo mesmo que se tem notícia foi realizado por outro italiano, Fausto Veranzio, em 1617, que saltou com um protótipo de paraquedas da torre da catedral de Veneza, aterrissando ileso diante dos espectadores. O chamado paraquedas moderno foi inventado pelo francês Louis-Sébastien Lenormand, que fez um salto pela primeira vez em público em 1783. De lá para cá, só evoluções. No Brasil, o grande nome é o de Charles Astor, que começou a praticar a modalidade em 1931 e é considerado o pai do paraquedismo por aqui. A prática da modalidade é regulamentada pela Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPq). Atualmente estão em operação diversas áreas de salto no Brasil, em que se realizam saltos esportivos e saltos duplos, estes últimos sempre acompanhados por profissionais devidamente habilitados para instrução de alunos e realização dos saltos. A cidade de Boituva, no estado de São Paulo, concentra o maior número de instrutores de paraquedismo, escolas e aeronaves dedicadas à prática do esporte, por isso é considerada a capital nacional do paraquedismo.


Algumas curiosidades sobre o salto duplo: na hora da queda livre, que dura aproximadamente 50 segundos, alcança-se, em média, 200 km/h. Depois do paraquedas aberto, sua velocidade é reduzida a 20 km/h e o voo contemplativo dura cerca de 5 minutos. A altura a que se chega na hora do salto é de aproximadamente 12 mil pés, ou 3.630 metros. A temperatura costuma ser 15° C mais fria do que na superfície. Todo salto é feito com um paraquedas principal e outro reserva. Estatísticas mostram que em apenas 0,1% (um em mil) dos saltos o paraquedas reserva é acionado. Os aviões usados em Boituva são Cessna, modelo Caravan, mais leves e potentes, com hélices e turbinas, apropriados para a modalidade e que podem levar até 15 passageiros.

Recomendações Como em toda atividade aérea, é melhor saltar logo pela manhã, quando as chamadas atividades térmicas estão mais calmas. Pede-se o uso de uma roupa confortável já que, em cima dessa vestimenta, será colocado o macacão especial para o salto, com capacete, rádio e outros equipamentos de segurança. A alimentação antes do salto deve ser leve e feita uma hora e meia antes da atividade. No caso de cadeirantes, a pessoa é retirada da cadeira, todo o equipamento é posto, então ela é recolocada na cadeira para embarcar no avião com ela. O salto será realizado sem a cadeira, diferentemente de algumas outras atividades aéreas como bungee jump, por exemplo, onde é permitido o salto com a cadeira. No caso de pessoas com deficiência auditiva, a comunicação se dá por sinais, mesmo método utilizado com pessoas sem deficiência, já que durante a queda livre a comunicação verbal é praticamente impossível. Pessoas com deficiência visual são orientadas por meio de toques, combinados ainda em terra. Não se salta com chuva, nem com ventos acima de 14 km/h. Não é recomendável que se salte gripado ou com alguma outra enfermidade. Pessoas acima de 130 quilos podem ter de passar por uma pré-avaliação, para checar se o salto é possível. 36


Diario de bordo Mais um dia de céu azul e muito sol. Nada poderia ser melhor, já que o destino era Boituva, mais precisamente o Centro Nacional de Paraquedismo do município, local onde ocorrem os saltos, a pouco mais de cem quilômetros da capital paulista. A aventura era o salto duplo de paraquedas e os convidados da vez eram Ravelly Santana Silva, 20 anos, amputada da perna direita, e Eduardo Soares da Silva Costa, 35 anos, deficiente visual. Ravelly é natural

Equipe de cinegrafistas da empresa Vida Azul e nossos aventureiros

Crédito: Arthur Calasans

Ravelly e Eduardo.

Paraquedas | Boituva


Confiança no paraquedista instrutor durante a queda livre permite ao aventureiro desfrutar de toda adrenalina que um salto de paraquedas oferece

de Feira de Santana, Bahia. Aos 17 anos teve o intestino perfurado por conta de uma malformação do órgão. Ficou em coma e seu estado era crítico. Durante o tratamento, um coágulo na perna direita formou-se, acabou causando uma trombose do membro e a amputação se fez necessária. “Logo que saí do hospital já comecei minha adaptação, usava muletas. Quatro meses depois, iniciei o uso da prótese. Hoje não preciso mais das muletas, ando só com a prótese, aprendi mobilidade sozinha, treinando em casa”, diz ela, que mora em São Paulo desde os 19 anos, estudando jornalismo na Faculdade Belas Artes. Aventura radical antes dessa, só participação em um rally, onde foi como convidada. “Mas gosto muito dessa coisa da adrenalina, queria muito pular de paraquedas, de bungee jump. Quando surgiu o convite, aceitei de imediato”. Mesma reação teve Eduardo. Deficiente visual com baixa visão desde que nasceu, por conta de um erro médico durante a gravidez, tinha aproximadamente 40% da visão aos 17 38


Crédito: Vida Azul Paraquedismo

anos. Depois disso, passou a perder mais do sentido. Atualmente tem algo em torno de 10%. Mas isso não o impede de ter uma vida plena, muito pelo contrário. Formado em educação física, com curso técnico em massoterapia, trabalha desde os 14 anos de idade e tem autonomia total. Quando convidado para o salto, vibrava como criança. “Participo de corridas de aventura, adoro emoções, superar meus limites. Queria muito saltar, experimentar algo diferente e a oportunidade surgiu agora. Estou ansioso, nem dormi direito”, explica Eduardo, antes de iniciar os preparativos para o salto. A empresa que os atendeu em Boituva foi a Vida Azul, com mais de quatro anos de existência. Seu principal saltador é Carlos Ribeiro Marques, 35 anos, conhecido por todos como Kalay. Além de ser instrutor profissional, especializado em voos duplos (tandem), é heptacampeão brasileiro de swoop, modalidade que consiste em pousar o paraquedas em alta velocidade sobre uma superfície de água. Sua experiência também pode ser traduzida no número de saltos que já fez: 11.500! Em terra, Kalay e sua equipe passam os procedimentos que serão realizados durante o voo. São instruções simples, mas importantes. Postura, comunicação, tudo é repassado. Ravelly e Eduardo escutam atentamente, fazem as simulações com desenvoltura. A equipe da Vida Azul já acompanhou saltos de pessoas com todos os tipos de deficiência, inclusive, tetraplégicos. “O que fazemos é uma avaliação da pessoa. Não saltamos apenas em casos extremos”, diz Kalay. Explicações dadas, então tudo pronto para os saltos! Além de Kalay, que iria saltar com Ravelly, outros quatro paraquedistas iriam participar da Paraquedas | Boituva


Treinamento antes do salto é obrigatório e fundamental para praticar a aventura

Crédito: Arthur Calasans

com segurança

aventura: Ivan Vinco, que iria com Eduardo e mais três cinegrafistas, Igor Soares, Jean Scripnic e Marcos Vinícius, todos com experiência em saltos e encarregados de registrar as emoções. Com a ansiedade no grau máximo, os convidados e a equipe da Vida Azul seguem para o avião. Para quem fica em terra, em minutos tudo vira um ponto branco no céu. Para quem está na aeronave, o que predomina é um papo descontraído para conter a adrenalina, que está literalmente no céu. Na porta do avião, a mais de 3 mil metros de altitude, a hora mais emocionante. Praticamente ajoelhados, saltadores mergulham no espaço! A queda livre é espetacular, dura segundos, mas parecem uma eternidade. Doce eternidade! Após a abertura do paraquedas, a adrenalina dá uma diminuída e o que prevalece é a contemplação de uma paisagem única, deslumbrante. Ao chegarem em terra, nossos convidados estão em êxtase puro! “Saímos já dando uma pirueta, fui eu que pedi. A adrenalina mistura-se com o visual, tudo vira algo fantástico. Vi paisagens incríveis e como o céu estava lindo, limpo, pudemos observar até São Paulo! A única coisa que sei é que vou saltar de novo, já estou viciada nisso!”, avisa Ravelly. O mesmo sentimento é compartilhado por Eduardo. “A energia lá em cima, antes e durante o salto, é algo magnífico, positivo. Na queda livre, a velocidade do vento na cara faz com que você se esqueça de tudo o que é ruim, só coisas boas vêm à mente. A comunicação durante o voo foi tranquila. Depois foi só curtir a paisagem, que era descrita em detalhes pelo olhar do Ivan. Acho que se a queda livre tivesse durado mais cinco segundos, eu teria voltado a enxergar (risos)!”, finaliza, eufórico, Eduardo. 40


Boituva

Quer explorar o ar de outra forma? Em Boituva você poderá desfrutar de um passeio de balão, uma experiência única e inesquecível sobrevoando cidades, campos e rios, a aproximadamente 500 metros acima do solo em áreas habitadas, e quase ao nível do solo em áreas de mata ou plantações que não estejam ocupadas por animais domésticos, chegando mesmo a tocar a copa das árvores. O tempo de voo é de cerca de uma hora quando as condições atmosféricas permitem, e o passeio todo vai levar algo em torno de três horas. São muitas as empresas de balonismo situadas em Boituva. Outra atração da cidade é o Parque Ecológico Eugênio Walter. Com aproximadamente 136 mil metros quadrados e mais de 30 espécies de animais, o parque foi enquadrado como zoológico pelo Ibama, e recebe animais apreendidos do tráfico ou que foram atropelados. No parque, que tem atraído muitos turistas, os animais recebem todo o atendimento necessário e adequado por biólogos e

Destino Centro Nacional de Paraquedismo em Boituva Distância 123 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem Uma hora e meia da capital paulista, sem trânsito Caminho Rodovia Castelo Branco (SP – 280)

São Paulo

Paraquedas | Boituva


Servicos

Onde ficar

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Hotel Garrafão Contatos: (15) 3263-8030 ou (15) 3263-1369 http://www.hotelgarrafao.com.br/ Endereço: R. Cel. Eugênio Motta 477 Centro Boituva-SP, a aproximadamente 7 quilômetros do Centro Nacional de Paraquedismo Hotel Toyo Inn Contatos: (15) 3263-5872 http://www.hoteltoyoinn.com.br/ Endereço: Av. Mario Pedro Vercelino, 238, Boituva, a apenas um quilômetro do Centro Nacional de Paraquedismo

Como chegar

Carro - Pela Rodovia Castello Branco (BR 374), Boituva fica no Km 116. Ônibus - Viação Vale do Tietê (http://www.valedotiete.com.br) 42

Crédito: Vida Azul Paraquedismo

Paraquedismo em Boituva Empresa: Vida Azul Paraquedismo Endereço: Centro Nacional de Paraquedismo, Av. Industrial, s/n, Rodovia Castelo Branco, Km 116, Boituva - SP Contato: www.vidaazulparaquedismo.com.br contato@vidaazulparaquedismo.com.br (11) 94866.5909, (15) 3363.3668, (15) 3363.3916


Babuzinho, cinegrafista Vida Azul, registra as cenas do salto de Ravelly Santana.

Hoteis

veterinários. O zoo funciona como um centro de reprodução de aves e mais de 100 espécies estão catalogadas. São aves que migram especialmente até o parque para reproduzir. Além dessas aves que passam pelo parque, outras vivem em cativeiro. São cisnes, mutuns e araras, além de mamíferos e répteis como macacos e jabutis. Ao todo, são 75 exemplares abrigados em áreas especiais de acordo com a necessidade de cada um. O local conta também com uma área de preservação. Trata-se de uma área verde, onde mananciais naturais e vegetação típica da Mata Atlântica são encontrados. Está localizado na Avenida Pedro Eid e fica aberto de terças a quintas-feiras, e aos sábados e domingos das 8h às 16h30. Às sextas-feiras o local fecha mais cedo, às 15h30. A entrada é franca. Mais informações pelo telefone: (15) 3263-5302. A cidade ainda apresenta Festivais de Inverno e de Verão, com shows, barracas de comes e bebes e muitas outras atrações. Para saber mais sobre os festivais e suas programações completas, ligue (15) 3363-8800. Paraquedas | Boituva


Escalada Braganca Paulista

A modalidade escalada faz parte do montanhismo, que consiste em ascender montanhas de variadas altitudes – baixa, média ou alta – por caminhada e/ou escalada. Nas caminhadas, a atividade é predominantemente aeróbica, ou seja, a exigência cardiopulmonar é prioritária devido aos longos percursos percorridos, que podem apresentar grande desnível de terreno. Já na escalada propriamente dita, o esforço físico é anaeróbico, dado que ele não é contínuo, como o de uma caminhada. Períodos de “descanso” se intercalam com o esforço físico utilizado pelo praticante, à medida que vai superando os obstáculos e chegando ao topo do local, ou em algum platô pré-determinado, objetivo final. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 15.500 – amplia o leque de opções e conceitua escalada como a ascensão de montanhas, paredes ou blocos rochosos, podendo ser dividida em quatro grupos: em rocha, gelo (alpinismo, andinismo), mista e indoor (local fechado, onde o ambiente é controlado). Atualmente a prática é cercada de normas de segurança, mas, como em toda a modalidade de aventura, a evolução veio com o decorrer do tempo. Na origem, a escalada já aparece como uma atividade derivada do montanhismo e utili44


Jaqueline e Matheus acompanham instrutor para escalada com segurança na Pedra

Escalada | Bragança Paulista

Crédito: Arthur Calasans

Bela em Bragança.


Instrutor Lucas Sato prepara as rotas de escalada.

zada como treino para corrida alpina. A modalidade como prática desportiva aparece no século XIX, na Alemanha e na Inglaterra, onde, na totalidade, a chamada escalada livre era utilizada. A definição de escalada livre se dá quando a corda e outros equipamentos só servem para assegurar a segurança do escalador. As saliências do terreno são os únicos apoios para progredir na ascensão, logo o escalador usa os seus próprios meios (mãos e pés) para poder progredir na parede. Ainda na escalada livre, existe uma subdivisão, entre escalada móvel e escalada solo. Na primeira, não existem pontos fixos de segurança colocados na parede (grampos). É da competência do esca46


Crédito: Arthur Calasans

lador criar os seus próprios pontos de segurança – as chamadas “rotas” – com recursos de materiais especiais. Já na escalada solo, a mais radical, o escalador não utiliza qualquer equipamento de segurança. Essa prática só pode ser utilizada por escaladores com muita experiência. Com a evolução da modalidade, foi instituída a escalada artificial (indoor ou outdoor), quando pontos de apoio são artificialmente colocados, ajudando o praticante na progressão. São usadas escalas de graduação para definição do nível de dificuldade, sendo que as mais famosas são as de Fontainebleau e de Hueco Tanks. No Brasil, a escala utilizada vai do grau 3 até o grau 12 (do mais fácil para o mais difícil). Os principais centros de escalada no país estão nos estados do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Escalada | Bragança Paulista


Recomendações Como a escalada exige esforço físico, é importante que a pessoa esteja alimentada. É possível até alimentar-se minutos antes do exercício, mas de forma moderada, assegurando assim energia suficiente para a atividade. Outra preocupação é com a roupa a ser utilizada. Na montanha, a mudança rápida das condições climáticas exige vestimenta adequada para qualquer tipo de situação, então é bom estar preparado para o frio e para o calor. Mas o mais importante é que seja confortável. Evite usar calças jeans, que limitam seus movimentos. Aconselha-se a retirada de anéis dos dedos, caso existam, e recomenda-se que mulheres usem o cabelo preso. Essas orientações são importantes, evitando complicações extras caso ocorra uma queda. Quando se fala em queda, é importante salientar que ela é totalmente controlada por quem faz sua segurança, com freios especiais, evitando complicações maiores. Existe a orientação no sentido de não se segurar nos pinos de segurança durante a subida, algo instintivo para marinheiros de primeira viagem. Os comandos usados são simples, e no caso de pessoas com deficiência auditiva foram combinados sinais que significavam, “pronto para subir”, “pronto para descer” e “pausa” (ou descanso). Na descida, usa-se a técnica do rapel positivo e recomenda-se que as pernas fiquem um pouco afastadas uma da outra, aumentando a sensação de segurança e equilíbrio. Para explorações mais radicais, com maior grau de dificuldade, além do equipamento de segurança próprio da atividade, deve-se partir com um bom mapa da região e uma bússola para a orientação, pois o nevoeiro ou uma nuvem no cimo de uma montanha podem tapar por completo a visibilidade. 48

Esforço da subida e recompensado pela vista do alto da pedra. Descida dos aventureiros é com rapel apoiado pelos instrutores.


Crédito: Arthur Calasans

Escalada | Bragança Paulista


Em ambientes menos rigorosos, como o da Pedra do Santuário, a preocupação maior é com relação à vestimenta e os equipamentos de segurança. Entende-se por equipamentos de segurança: capacete, cadeirinha, corda, auto-seguro, mosquetões, freios ascensores e descensores. Qualquer pessoa, a princípio, é capaz de praticar a escalada. No caso de uma deficiência física mais severa, uma avaliação será feita. Para tanto, é importante entrar em contato prévio com a empresa que irá assisti-lo durante a aventura, para que os profissionais tenham a exata noção de suas necessidades. A Grade 6 atende pessoas de 8 anos em diante, nessa modalidade. Não é recomendado escalar com chuva e proibido quando há tempestades com raios. Um último aspecto necessita ser citado. Como as rochas geralmente se encontram em locais que só são alcançáveis por trilhas, recomenda-se levar sacos plásticos para carregar todos os detritos produzidos no caminho, preservando assim o meio ambiente e as belas paisagens exploradas.

Comunicação com os Instrutores teve uso da Língua Brasileira de

Crédito: Arthur Calasans

Sinais e Leitura Labial.

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Diario de bordo Das modalidades radicais descritas nessa publicação, duas se destacam por exigirem mais do aventureiro, fisicamente falando. No trekking e na escalada, o praticante é totalmente “ativo”. Além de interagir com o meio que o cerca, depende dele o desenvolvimento da atividade. No caso do trekking em Atibaia, duas pessoas com deficiência visual encararam o desafio da subida, auxiliadas por guias durante o trajeto. Agora, os convidados tinham deficiência auditiva e foram auxiliados por dois experientes escaladores, Lucas Sato e José Eduardo Sartor Filho, ambos da Grade 6, empresa especializada em montanhismo e que vem atendendo pessoas com diversos tipos de deficiência. O encontro da equipe da Grade 6 com os aventureiros se deu na própria Pedra do Santuário, um local belíssimo localizado no simpático município de Pedra Bela, vizinho de Bragança Paulista. Cercada de natureza e de uma vista espetacular, a Pedra (ou rocha) explorada é própria para iniciantes, pois possui apenas rotas de graus

3 e 4 (escala brasileira). E era exatamente essa a situação de Jaqueline Carmen de Moura, 33 anos, e Matheus Cabral de Oliveira, 24, já que eles nunca haviam praticado a escalada antes. Ambos nasceram surdos, mas por motivos diferentes. A mãe de Jaqueline contraiu rubéola durante a gravidez, acarretando na surdez. Ela então frequentou escolas especiais durante o Ensino Fundamental, e escolas regulares no Ensino Médio. Depois formou-se em educação física, na Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU). “Na escola especial não encontrei dificuldade alguma, porque sempre havia um intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) na sala de aula. Já no Ensino Médio e na faculdade, nem sempre era assim, então muitas vezes o aprendizado ficava prejudicado”, conta ela, que trabalhou em banco, na área de informática, mas que atualmente está desempregada. Escalada | Bragança Paulista


Na parte esportiva, tem predileção pelo futsal, jogando regularmente e defendendo instituições como a Confederação Brasileira de Surdos. Esportes radicais estavam limitados, até então, ao rafting e arvorismo. “Estou bem ansiosa para iniciar a escalada”, dizia ela, com um sorriso estampado no rosto. Já Matheus é surdo por genética, já que o pai é surdo também. Diferentemente de Jaqueline, estudou somente em escolas especiais. “Não encontrei dificuldades pela presença constante do intérprete de LIBRAS. Ainda não tenho curso superior, mas minha intenção é estudar psicologia, apesar de ter conhecimento mais profundo ligado à informática”, conta Matheus, que já trabalhou em várias empresas na área administrativa, mas que também está desempregado. Já praticou vários esportes, como muay thai, futebol, tênis e vôlei, seu esporte preferido. Com relação a esportes radicais, o máximo que tinha feito era ter participado de corridas de kart, nada mais. “Estou com um friozinho na barriga, mas determinado a escalar a rocha”, fala. A escalada feita na Pedra do Santuário é considerada livre, mas quem fez a primeira incursão na rocha, colocando os pinos de segurança em buracos já pré-existentes (feitos por outro escalador), foi Lucas. Pacientemente e com muita habilidade ele foi vencendo os 25 metros que separam o ponto de partida até o platô no meio da rocha (a pedra tem 50 metros de altura no total), local determinado de chegada, as costuras (dois mosquetões ligados por uma fita), para, finalmente, passar a corda por esses pontos. Como Eduardo Tetamanti Jurado, personagem do rafting de Brotas, também foi para o desafio, Lucas acabou abrindo três rotas diferentes, bem próximas umas das outras, para que os três personagens pudessem escalar a rocha ao mesmo tempo. Com as rotas prontas, o passo seguinte, importantíssimo, foi repassar todas as instruções de segurança. No cenário que se apresentava, com três escaladores com deficiência auditiva, sinais foram combinados para que tudo desse certo durante a escalada. É necessário salientar que a escalada para iniciantes sempre conta com o apoio e a segurança de um instrutor de escalada, que fica no ponto de início da subida, seja ele qual for. Esse personagem não só faz a segurança do escalador, com a possibilidade de frear uma queda, caso ocorra, como também faz a orientação durante a escalada, caso o escalador requisite algo nesse sentido. Tudo repassado, os três, cada qual assistido por um es52


O desgaste para a Crédito: Arthur Calasans

chegada no ponto alto da escalada é recompensado pela alegria de superação de um desafio.

calador profissional (a produtora Ana Borges é escaladora e fez a segurança de Eduardo), iniciam a subida. O desafio maior é encontrar os melhores pontos de apoio, tanto para os pés, como para as mãos, durante a subida. Usa-se a força dos braços e pernas, mas é possível fazer pausas durante o exercício, caso o aventureiro sinta a necessidade de um breve descanso. A interação dos três com o ambiente explorado é total. São eles, a rocha e os equipamentos de segurança, um universo paralelo se forma. Percebe-se também que a escalada é totalmente instintiva, ou seja, é o praticante que vai descobrir qual o melhor caminho durante a subida. Ao final, todos alcançaram o platô com uma grande habilidade, surpreendente até. “Me senti superconfortável durante a subida, não encontrei absolutamente nenhuma dificuldade”, conta Matheus. Jaqueline chama a atenção para o trabalho dos instrutores, antes e durante a escalada. “Como tudo foi repassado de forma muito clara por eles, com paciência e o uso correto dos sinais, a escalada foi espetacular. A boa comunicação é imprescindível!”. A atividade foi tão prazerosa, que os percursos foram repetidos quatro vezes por cada um. Matheus e Jaqueline são enfáticos ao afirmar que vão escalar outras vezes e elogiam a vista do local, ainda mais bela quando se alcança o platô. Eduardo, ao lado deles, é só sorrisos, traduzindo sentimentos de prazer, conquista e superação. Escalada | Bragança Paulista


Braganca Paulista Pedra Bela e Bragança Paulista são vizinhas, apenas 31 quilômetros a separam. Pedra Bela é bem menor, e apresenta um charme único. Passando por suas pequenas ruas é possível reconhecer e admirar o ambiente bucólico que se apresenta. A igreja matriz é típica de municípios minúsculos, Pedra Bela tem somente 6 mil habitantes. Dentre suas principais atrações temos a maior tirolesa do país, com 1.900 metros de extensão. O cabo contínuo, a 128 metros de altura, proporciona quase dois minutos de descida, a até 107 km/h. Mas atenção. Ela se encontrava desativada na época de nossa aventura. Portanto, é bom checar se é possível usufruir do equipamento na época de sua viagem. Outros pontos turísticos da cidade são as cachoeiras Boca da Mata e Antonio Souza, essa na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais. A Pedra do Santuário, que foi a localidade explorada por nossos personagens, tem um santuário em seu topo, daí o nome. Juntamente com a Pedra Maria Antonia, também é ponto obrigatório de visitação. A Pedra Maria Antonia é usada para escaladas, inclusive, e possui um grau maior de dificuldade em relação à Pedra do Santuário, com rotas entre 4 e 5 graus da escala brasileira. Entretanto, recomendamos que o aventureiro se hospede em Bragança Paulista, com mais infraestrutura, especialmente para receber pessoas com deficiência. Apesar das universidades que lotam as ruas de jovens e de agito, Bragança Paulista não perdeu o charme de estância. A cidade continua a atrair as famílias que chegam em busca da tranquilidade. Alguns programas, porém, são comuns e obrigatórios para todos os públicos - um deles é saborear a famosa linguiça de Bragança, servida nos estabelecimentos em versões variadas. No Bar Galícia (Av. Antônio Pires Pimentel, 54


753), o embutido é feito artesanalmente. Sem gordura, é macia e apimentada na medida certa. Na La Bragantina (Av. Doutor Tancredo de Almeida Neves, 446), os proprietários passaram anos pesquisando a história do produto, com antigos moradores, para chegar a uma receita exclusiva. A casa tem treze variedades, entre elas uma com pimenta biquinho e a Cuiabana, com carne bovina e queijo fresco, feita no leite. O “point” mais concorrido, entretanto, é o Bar do Rosário (R. Barão de Juqueri, 6), ao lado da igreja, que oferece sanduíches recheados com calabresas de ervas, de pimenta, de azeitonas, de provolone e ao vinho. Impossível não voltar para casa com uns quilinhos a mais! Para queimar as calorias, faça uma caminhada ao redor do Lago do Taboão, cartão-postal da cidade, com pista de cooper, quadras e playground. Quando a noite cai, os estudantes tomam conta do espaço, contornado por bares movimentados nos finais de semana. Atividades em contato com a natureza são

Destino Pedra Bela, município vizinho a Bragança Paulista, mais especificamente a Pedra do Santuário Distância 118 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem Duas horas da capital paulista, sem trânsito Caminho Rodovia Fernão Dias (BR-381) e Via Joaquim de Paula Souza

São Paulo 

Escalada | Bragança Paulista


Servicos

Escalada em Bragança Paulista Empresa: Grade 6 viagens Endereço: Rua Oscar Alves Costa 103, sl. 03, Barão Geraldo, Campinas Contato: www.grade6viagens.com.br contato@grade6viagens.com.br | (19) 3305-5040

Onde ficar

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Hotel Villa Santo Agostinho Contatos: (11) 4034-8884 http://www.hotelvillasantoagostinho.com.br/ Endereço: Rua Victório Panuncio, 200. Jardim. Sevilha - Bragança Paulista Ka Business Hotel Contatos: (11) 4481-9300 http://www.kahotel.com.br/ Endereço: Rua Renato de Oliveira, 80 - Jardim São Jose - Bragança Paulista Hotel Fazenda Dona Carolina Contatos: (11) 4534-9100 http://www.hotelfazendadonacarolina.com.br/ Endereço: Rodovia Alkindar Monteiro Junqueira, Km 39,5, s/n - Capela do Barreiro - Itatiba

Como chegar

Carro - Anhanguera (SP-330) , BR-50 (Rodovia Federal), Rodovia Edgard Máximo Zambotto (SP354), Rodovia Dom Pedro I (SP-65) e Rodovia Fernão Dias (BR-381) Ônibus - Viação Bragança http://www.viacaobraganca.com.br/ 56


Vista do alto da Pedra do Santuário, um local belíssimo localizado no simpático

Crédito: Arthur Calasans

município de Pedra Bela, SP.

praticadas na Represa Jaguary, localizada na Estrada de Piracicaba, com acesso pela Fernão Dias. Formada por um espelho d’água de 50 quilômetros quadrados, é frequentada pelos adeptos dos esportes náuticos e da pesca, e descortina belas paisagens emolduradas por montanhas. Nas férias de julho, outra grande atração da cidade. No período acontece o Festival de Inverno (mais informações no site da prefeitura, http://www.braganca.sp.gov.br/newsite/index.php), com intensa programação gratuita de shows, oficinas culturais, exposições, apresentações teatrais e de cinema. Paralelamente ao evento é realizado o Festival de Arte Serrinha, que reúne espetáculos, performances e oficinas de moda, teatro, música, fotografia e gastronomia. O cenário é a Fazenda Serrinha (Estrada Municipal José Vaccari, s/n - Zona Rural), uma antiga propriedade cafeicultora transformada em reserva natural, centro cultural e pousada. Para mais informações turísticas da cidade, acesse o portal www.guiadebraganca.com.br, ou ligue para (11) 4033-2000. Escalada | Bragança Paulista


Brotas

Rafting

A equipe Augusto Toledo,

Eduardo Tetamanti Jurado, Paulo Kehdi, Ana Borges e

Katia Chagas em descida de

CrĂŠdito: Cristiane Sposito

rafting pelo rio JacarĂŠ-Pepira.

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A palavra “rafting” vem do inglês raft, que significa balsa ou jangada. A modalidade é considerada um esporte radical que se baseia na prática de descida em corredeiras em equipe, utilizando botes infláveis, remos e equipamentos de segurança. A história moderna do rafting teve início em 1842, quando John Fremont, militar do exército americano, fez suas primeiras expedições utilizando um barco desenhado por Horace H. Day. Consta que essas experiências se deram no rio Colorado (EUA), que atravessa o Grand Canyon. O barco possuía quatro compartimentos separados e foi batizado de Air Army Boats. A evolução dos barcos e das técnicas veio justamente da necessidade de superar os obstáculos do rio, não apenas as corredeiras, mas também pedras, galhos e árvores. Notícias dão conta que o rafting começou a ser utilizado em grande escala depois da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), especialmente por aventureiros norte-americanos. No Brasil, a primeira empresa de rafting de que se tem notícia foi fundada em 1982, no Rio de Janeiro. De lá para cá, o esporte só fez crescer por aqui e praticamente todos os estados brasileiros oferecem a possibilidade da descida em seus rios, cada qual com particularidades próprias. Entre as principais características do rafting, podemos destacar: o trabalho em equipe e os itens e procedimentos de segurança. Geralmente vão de cinco a oito pessoas no bote, sendo que o condutor fica na parte de trás da embarcação e é dele que partem os comandos para os demais membros da equipe. Sendo assim, o sentido coletivo tem que predominar, com todos empenhados em obedecer e colaborar. Basicamente são quatro os comandos durante uma descida: “frente”, quando a equipe impulsiona o barco no sentido da corredeira; “ré”, quando existe a necessidade de mover o bote no sentido contrário ao da corredeira; “segurar”, quando os tripulantes fazem dois movimentos simultâneos, o de segurar nas cordas que circundam o bote, além de inclinarem os corpos para dentro do barco; e por fim, “chão”, onde os tripulantes saem da borda do bote e se locomovem para dentro da embarcação. Esse comando é utilizado quando corredeiras com quedas mais acentuadas se aproximam. Pode haver variações de comando, dependendo da empresa contratada e ainda da região do país. Rafting | Brotas


Recomendações Antes de qualquer coisa é necessário que se escolha uma empresa de rafting que tenha cadastro no Ministério do Turismo, que siga a Norma de Segurança ABNT NBR-15.331 (Segurança no Turismo de Aventura) implementada e, ainda, condutores de rafting qualificados de acordo com a norma técnica ABNT-NBR-15.370 (Competência de Pessoal – Condutores de Rafting). Não é permitida a prática da modalidade sem capacetes e coletes salva-vidas. Aconselha-se o uso de roupas confortáveis e impermeáveis durante a atividade porque, pode ter certeza, você vai se molhar! Caso não tenha, sem problemas, mas leve outra muda de roupa completa, porque a que você estiver usando ficará encharcada.

O rafting oferece aos aventureiros momentos de muita emoção nas quedas de nível mais altos no rio.

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Crédito: Arthur Calasans

São seis os níveis de corredeiras estabelecidos: Nível I: Áreas com pedras muito pequenas; requer poucas manobras. Nível II: Algumas águas agitadas, talvez algumas rochas; pode exigir manobras. Nível III: Ondas pequenas, talvez uma pequena queda, mas sem perigo. Pode requerer habilidade de manobra significativa. Nível IV: Ondas médias, presença de poucas pedras, com quedas consideráveis; manobras mais difíceis podem ser necessárias. Nível V: Grandes ondas, possibilidade de grandes rochas, possibilidade de grandes quedas, há riscos e exige manobras precisas. Nível VI: Corredeiras extremamente perigosas, pedras e ondas enormes. O impacto da água pode até causar estragos no equipamento.


Procure comer em até uma hora antes do início da atividade. O rafting só não ocorre quando tempestades com raios se apresentam, ou ainda quando o rio está em condições extremas, seja de cheia, seja de seca. No Parque Aventurah, exige-se que o interessado em se divertir no rafting tenha, no mínimo, 1,20 metro de altura, independentemente de sua idade. A pessoa com deficiência física vai sentada no bote, segurando uma fita em seu interior, que permite maior equilíbrio e segurança. Ele não rema, apenas observa a natureza em volta e sente a adrenalina das quedas. Já quem tem deficiência auditiva é orientado a fazer tudo o que a pessoa da frente está fazendo. Pessoas com deficiência visual são orientadas o tempo todo pelo condutor, além de receberem descritivos do ambiente que está sendo explorado. Esforço físico moderado é exigido, já que você terá de remar junto com os outros tripulantes por praticamente todo o trajeto.

Diario de bordo A saída da capital paulista se deu bem cedo, sob o olhar de uma lua minguante. O destino seria Brotas, o mais distante dentre os que foram visitados. Mais precisamente o Parque Aventurah, inaugurado em 2010 e que vem oferecendo atividades adaptadas para pessoas com deficiência. O desafio da vez era descer o rio Jacaré-Pepira. Pertencente à bacia do rio Tietê, tem 174 quilômetros de extensão. Mas o que interessava aos convidados dessa aventura eram os dez quilômetros de corredeiras e quedas, todos eles dentro do município de Brotas. Augusto Sérgio Cruz de Toledo, 50 anos, paraplégico, o mesmo que comandou o paratrike em Caraguatatuba, agora iria experimentar uma nova sensação. “Nunca fiz rafting, estou bem ansioso, experiências novas são sempre bem-vindas”. Nascido em Itu, mas criado em Campinas e depois Indaiatuba, Augusto, que além de piloto de paratrike é advogado, teve contato com esportes de aventura desde sempre. “Meu pai era paraquedista, eu era bem pequeno e ele já me levava ao Campo dos Amarais, em Campinas, para vê-lo saltar. Rafting | Brotas


Crédito: Arthur Calasans

Depois, com 16 anos, comecei minhas aventuras, motocross e paraquedismo foram as primeiras. O engraçado é que fazia tudo escondido de meu pai, que já tinha quebrado a perna duas vezes saltando e não queria o mesmo para o filho. Mas na época dele a coisa era mais complicada, hoje o paraquedismo evoluiu demais”. Ao fazer curso de asa-delta em Atibaia, viu pessoas saltando de parapente. Resolveu praticar a modalidade e, em 1993, fez seu primeiro voo solo. Foi pegando confiança, fez centenas de saltos até que, em 2003, sofreu acidente que o deixou paraplégico. “Uma das piores coisas que podem acontecer para quem pratica esportes radicais é o excesso de autoconfiança. Fiz um voo em que não respeitei as condições climáticas do momento, achei que sabia de tudo. Descobri que não”. Mas o acidente não o privou de mais aventuras. Após intensa e bem sucedida adaptação à nova realidade, começou a voar de paratrike e voltou a fazer paraglider, em 2008, com uma cadeira adaptada, que facilita sua aterrissagem. Porém, em Brotas o ambiente era outro, não mais o ar, mas sim a água. O segundo aventureiro também é “expert” em emoções. Eduardo Tetamanti Jurado, 32 anos, ficou surdo com 8 meses de idade, devido a uma infecção que lesou seu nervo auditivo. Sua infância dividia-se entre partes boas e ruins. A boa era a prática de esportes, especialmente futebol, com amigos. A ruim era a barreira de comunicação com os ouvintes. Eduardo encontrou essa mesma dificuldade em escolas regulares, por isso frequentou escolas especiais. “Essas escolas me facilitaram muito, sim, por causa de domínio de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), mas também ensinavam português para acompanhar. Considero LIBRAS minha primeira língua, depois o português”, explica Eduardo. Formou-se em Design de Mídia Digital pela Faculdade Impacta Tecnologia. Sofreu no início com a falta de qualidade dos intérpretes de LIBRAS contratados pela instituição, mas no fim, graças a 62


Depois de momentos de mais adrenalina na descida do rio permite, há momentos para

suas requisições, pôde terminar o curso de forma apropriada. Seu trabalho de conclusão de curso (TCC), chamado Deaf Travel Brazil, tirou a nota máxima. Trabalhou em bancos, fez fotografia, até que decidiu colocar em prática seu trabalho de TCC e fundou a Deaf Travel Brazil, agência de turismo voltada para surdos, fundada em 2012. Eduardo tem vasto currículo em esportes de aventura. “A minha aventura radical sempre foi o paraquedismo, até hoje são mais de 25 saltos realizados. Já fiz mergulho em diversas localidades, rapel dentro de cavernas, fiz trilhas de bicicleta, passeio de balão gigante e rafting, em Juquitiba (SP)”. Todavia, agora o curso era outro e quem já fez rafting sabe que uma aventura nunca será igual a outra. Augusto e Eduardo foram recepcionados pela equipe do Aventurah. As instruções eram que, durante o trajeto, Augusto ficaria no chão do bote e não remaria, por motivos de segurança. Teria ainda ao alcance das mãos uma fita presa ao bote, para auxiliar no seu equilíbrio. Já para Eduardo a instrução era mais simples. Repetir os movimentos da pessoa da frente, essa foi a orientação. Para irem até o rio, foi utilizado um ônibus do Parque. A transferência de Augusto, tanto da terra para o ônibus, como da terra para o bote, foi feita de forma tranquila. Capacetes e salva-vidas colocados, uma repassada nos comandos que seriam usados na jornada e, então, tudo pronto! Rafting | Brotas

contemplação da natureza espetacular da região.


O curso do rio é fantástico. Passagens tranquilas se revezam com quedas d’água que chegam ao nível IV. A mata exuberante do local permite a visualização de pássaros e animais selvagens, como tucanos e macacos. O sol teimava em brilhar, deixando tudo mais lindo. A cada queda d’água que se aproximava, a adrenalina corria solta. Os aventureiros revezavam-se entre risadas, apreensão e a sensação de conquista, de superação. Para quem estiver pensando em desfrutar dessa deliciosa aventura, prepare-se! As quedas d’água mais fortes estão reservadas para o final do trajeto. Encharcados e felizes, Augusto e Eduardo comemoraram o fim da aventura e falaram de suas impressões, beirando a euforia. “Experimentei um ambiente que eu não estava acostumado, o visual é incrível. Pude me posicionar de forma confortável no bote e curtir esse belo pedaço de natureza. E o rafting ainda tem essa coisa da socialização, nos tornamos todos uma equipe”, comenta Augusto. Eduardo também adorou a experiência, mas fez algumas ressalvas. “A aventura de rafting em Brotas foi a mais radical que tive na vida. Mas fiquei um pouco inseguro, pois durante o trajeto não é possível comunicar-se utilizando as mãos, pois estamos nos segurando nos botes”. Porém, tirando esse detalhe, tudo foi maravilhoso, vou repetir com certeza. Essa combinação do rio com a mata é deslumbrante e o turismo de aventura só traz benefícios, quando praticado da forma correta”.

O guia responsável pela equipe avisa antes das quedas e auxilia na

Crédito: Arthur Calasans

condução do bote.

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Brotas

O município é considerado a capital paulista da aventura. Sendo assim, além do rafting, você pode experimentar outras atividades como arvorismo, caminhadas, visitação de cachoeiras, canyoning (exploração do rio utilizando-se de outras técnicas que não o rafting), trilhas, ultraleve, quadriciclo, tirolesa e boia-cross. São inúmeros os locais e as empresas que oferecem esses serviços. Aqui recomendamos uma visita ao Parque Aventurah, que vem se preparando para receber pessoas com deficiência. Possui rampas de acesso e banheiros adaptados, porém neles o cadeirante não consegue fechar a porta do lavabo, perdendo assim sua privacidade. E o vestiário carece de uma bancada de alvenaria, ou algo similar, que ajudaria a pessoa com deficiência física na troca da roupa. Além do rafting apresentado, são mais dezoito atrações complementares, todas muito divertidas. Segundo o pessoal do Parque, qualquer deficiência é contemplada, em todas as atividades. Avaliações são feitas por equipe experiente e apenas em casos extremos uma pessoa com deficiência ficará impossibilitada de usufruir de alguma atividade. Brotas está cercada de uma natureza exuberante. São inúmeras as cachoeiras de lá, com destaque para a Cachoeira do Saltão, a mais alta da região e a do Cassorova, que apresenta

Destino Parque Aventurah em Brotas Distância 250 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem Três horas da capital paulista, sem trânsito

Caminho Rodovia Eng. Paulo Nilo Romano (SP-225)

São Paulo

Rafting | Brotas


Servicos Onde ficar

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Brotas Eco Resort Contatos: (14) 3653-9999 http://www.brotasecoresort.com.br/ Endereço: R. Emílio Dalla Dea Filho, S/N, Portão 3, a aproximadamente 13 quilômetros do Parque Aventurah. Pousada Frangipani Contatos: (14) 3653-4851 ou (14) 3654-3569 http://www.frangipani.com.br/ Endereço: Estrada Brotas BR 040, Km 8 – Patrimônio, a aproximadamente 25 quilômetros do Parque Aventurah.

Como chegar

De carro - Acesso pela rodovia Bandeirantes (SP348) até o entroncamento com a Washington Luiz (SP-310). Siga por ela até o trevo de Itirapina e entre à esquerda na Rodovia Eng. Paulo Nilo Romano (SP225), que atravessa Brotas De ônibus - Expresso de Prata (http://www.expressodeprata.com.br) 66

Crédito: Arthur Calasans

Parque Aventurah Endereço: Rodovia Engenheiro Paulo Nilo Romano (SP 225), Km 143, Zona Rural, Brotas Contatos: http://www.aventurahbrotas.com.br/ aventurah@aventurahbrotas.com.br (14) 3653-4802 / (14) 99109-6267


Uma coisa é certa nessa atividade. Ninguém sai seco depois de um bom rafting.

dois níveis de queda em um vale cercado de mata densa. Porém, infelizmente, o acesso a elas é difícil para pessoas com deficiência física, pois é preciso descer escadarias íngremes, com mais de 150 degraus. Outra atração muito famosa de Brotas é a “areia que canta”. Depois de estacionar no Fazenda Hotel Areia que Canta, você segue com um guia até uma piscina natural cristalina, onde há flutuação (com saídas a cada hora). A areia do lugar, de grãos de quartzo, “assovia” quando esfregada, daí o nome. O passeio de três horas termina com um mergulho no Rio Tamanduá. No mesmo Fazenda Hotel é possível a observação de pássaros, são mais de 150 espécies que habitam o local e o passeio pode levar o dia todo, dependendo da vontade do cliente. Ainda no quesito “observação”, vale a pena uma ida ao Centro de Estudos do Universo (CEU). Após uma sessão no planetário, que dura 50 minutos, há visualização dos astros no telescópio, principalmente em junho e julho, que costumam ter céu limpo. Quando as nuvens atrapalham, você ganha o direito de visitar o CEU em outra data. Fora do binômio aventura/natureza, recomendamos uma visita ao Anand Ateliê, inaugurado em 2012, com especialidade em cerâmicas. Por fim, vá a Casa da Cachaça, onde Luciano Malagutti, o simpático proprietário, recomenda sempre a cachaça Rasteirinha, envelhecida em carvalho. E oferece ainda salame apimentado, queijo cremoso, café coado na hora e outras gostosuras para conquistar seus visitantes, além de doces caseiros, geleias, biscoitos e embutidos. Que delícia! Rafting | Brotas


Caraguatatuba

Paratrike

Crédito: Arthur Calasans

O paratrike é uma modalidade de aventura muito similar ao paramotor, equipamento de voo com motorização auxiliar, composto por uma asa denominada parapente, que não contém elementos rígidos em sua estrutura e cujo comando se realiza por meio de controle aerodinâmico. A diferença entre o paramotor e o paratrike é que esse último contém todos os itens do paramotor, mais estrutura modular com rodas, o que torna mais fáceis os pousos e decolagens. Ou seja, um piloto de paramotor necessita ter boa condição física para aguentar o peso do equipamento até a decolagem e ainda na aterrissagem. Já no paratrike esse quesito não é essencial. A palavra paramotor nasceu da simplificação da expressão “parapente com motor” e está composta pela união entrelaçada das sílabas dos elementos fundamentais para a prática deste esporte: o parapente e o motor propulsor auxiliar. Pode transportar um ou dois tripulantes e não necessita de instalações aeronáuticas para a decolagem e a aterrissagem, pois pode ser utilizado o esforço físico das pernas como trem principal, a chamada decolagem a pé (DAP), ou com a ajuda de um dispositivo mecânico que a substitua, decolagem conhecida por mecânica (DMC).

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E comum ver muitos “Paratrikes� pelo ceu de Caraguatatuba.

Paratrike | Caraguatatuba


Sua velocidade estará compreendida entre 32 km/h e 60 km/h, isso considerando-se vento zero e ao nível do mar. Sua corrida para decolagem, tanto para o DAP como para o DMC, necessita do esforço físico dos braços do piloto para inflar o parapente e subi-lo na posição de voo. Existem diversos tipos de motor para o paratrike, com potência variada, sendo específicos para voo solo (menos potência) e voo duplo (mais potência), geralmente alimentados por gasolina, e que podem ter autonomia de voo entre trinta minutos e cinco horas. O recorde brasileiro em um voo solo é de 425 quilômetros percorridos, em 5 horas e 13 minutos. Já o recorde de altura alcançado por um paratrike é de incríveis 6.749 metros. Nos voos o uso de capacetes é obrigatório, sendo que permitem a comunicação entre o piloto e o passageiro, e ainda a comunicação via rádio com a equipe de apoio em terra.

Recomendações Independentemente de estar calor ou frio, é recomendado que a pessoa voe com calça, tênis, meias e casaco, pois o paratrike pode chegar a uma altura de 300 metros em voos turísticos. É mais recomendável que se voe cedo, especialmente no interior, para evitar as chamadas atividades térmicas. Não são feitos voos caso o vento esteja acima de 25 quilômetros por hora (em voos solos), e de 18 quilômetros por hora (em voos duplos). Também não se voa caso esteja chovendo, ou ainda quando se apresentam nuvens conhecidas como “cúmulus nimbus”, que prenunciam chuvas, sólidas e com grande desenvolvimento vertical. A única adaptação do paratrike se dá em pessoas com tetraplegia ou paraplegia, com a fixação dos pés por meio de cordas, evitando assim que eles fiquem soltos durante a aventura. Cintos extras são utilizados por qualquer passageiro, aumentando a sensação de segurança. 70


Augusto Toleto, piloto, leva Ana Carolina Bandeira para seu primeiro voo de par-

Diario de bordo

O destino desta modalidade de esporte de aventura desta vez foi o litoral, em um domingo que prometia muito sol e visualizações aéreas fantásticas. Aéreas sim, porque o destino era Caraguatatuba e a modalidade era realizar o voo duplo de paratrike. Os convidados para este destino foram Ana Carolina Silva Bandeira, 30 anos, com síndrome de Down, e Matheus de Carvalho Sampei, 38 anos, paraplégico. Ana Carolina, a Carol, como gosta de ser chamada, foi estimulada desde cedo por seus pais, Umberto e Francisca. Frequentou escolas especiais e regulares, a APAE de São Paulo, fez balé clássico, contemporâneo e dança de salão. “Meu sonho é surfar e andar de jet-ski, sempre gostei de água, nadava na APAE e gostava muito da atividade”, diz Carol. Articulada, desenvolta, com curso técnico com foco em administração, trabalha desde os 21 anos. Já foi mensageira interna na SERASA, atendente de biblioteca, bancária, e atualmente trabalha como auxiliar na recepção de um spa. Sobre a aventura que se aproximava, mostrava coragem de enfrentar o novo. “Não sei o que vou encontrar pela frente, só sei que estou muito animada para voar”. Matheus é de São José dos Paratrike | Caraguatatuba

Crédito: Arthur Calasans

atrike em Caraguatatuba.


Crédito: Arthur Calasans

Momento da aterrissagem mistura frio na barriga da descida e vontade aproveitar mais um pouco dessa emoção única.

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Campos. Ele é cadeirante e ficou paraplégico aos 29 anos, por conta de um acidente de carro. Engenheiro mecânico, trabalhando na área de tecnologia da EMBRAER, Sampei sempre foi um amante de aventuras. “Antes do acidente eu saltava de paraquedas, surfava, andava de skate, sempre tive predileções por esportes radicais”, diz ele, que mora sozinho e tem autonomia total. Na fase pós-acidente, pulou de bungee jump, fez “drops” com caiaques e rafting, enfrentando corredeiras. Mesmo com esse passado repleto de emoções, ele se mostrava ansioso antes do voo. “Não é medo, mas uma ansiedade de saber que vou vivenciar o inédito, algo que nunca fiz”. Na praia, o visual ensolarado era fantástico, misturando-se com o mar, a areia e montanhas ao redor. A equipe da Oxy Fly, composta pelo piloto Augusto Sérgio Cruz de Toledo, e seu auxiliar Luiz Carlos Donda já aguardava os convidados para o voo de paratrike. Além deles, os amigos de Augusto, Claudio Sergio Tonheta e Felipe Toledo, companheiros de voo livre e de paratrike. Augusto, de 50 anos, ficou paraplégico há 13 anos por conta de imprevistos em um voo livre. “Eu voava desde 1993, infelizmente tive problemas durante um voo em 2003 e fiquei paraplégico. Mas logo depois retomei os voos de paratrike, que são minha paixão”. Ele tem curso de instrutor habilitado, tanto para voos, como para ministrar aulas. Fez cursos de Simulações em Acidentes de Voos (SAV) e é totalmente preparado para enfrentar qualquer situação que se apresente. “O voo de paratrike traz alguns riscos, principalmente durante a decolagem e na aterrissagem. Meu conhecimento faz com que eu saiba lidar com qualquer imprevisto. Até mesmo se o motor apagar, não há problema, a vela é especial para voos duplos e o que era motorizado vira voo livre”, diz ele, que é advogado e faz a manutenção do equipamento a cada 50 horas de voo. Paratrike | Caraguatatuba


Crédito: Arthur Calasans

Ana Carolina Bandeira, Ana Borges, Augusto Toledo, Matheus Sampei comemoram passeio inesquecível em Caraguatatuba.

Apresentações feitas, explicações dadas, Augusto lança a pergunta: “Quem quer ser o primeiro a voar?”. Imediatamente Carol se apresenta: “Eu quero!”, não escondendo a adrenalina que tomava conta dela e de todos por ali. “E se eu sentir medo durante o voo?”, questiona. “Se você sentir medo, eu paro o voo e faço uma aterrissagem tranquila. Mas tenho certeza que você vai curtir o visual”, rebate Augusto. Pois ele estava mais do que certo. Ao término do voo de cerca de 15 minutos, com altura variando entre 100 e 200 metros, Carol era êxtase puro! “Emocionante. No início fiquei um pouco tensa, mas fui relaxando, conversando com o Augusto, comecei a curtir o visual, que é fantástico”, disse ela, que queria repetir o voo assim que chegou ao solo! Só que o próximo seria Matheus, também ansioso com o momento que se aproximava. Ao término de seu passeio, contagiava a todos com uma alegria que transbordava pelos poros. “Sensacional, a combinação perfeita experimentei aqui, tudo casou. O belo visual da praia, do mar, das montanhas, o sol, espetacular. A sensação de liberdade, o vento batendo na sua cara, não tem como não experimentar isso aqui, vou recomendar a todos os amigos e quero fazer novamente, com certeza”. Ao final, todos acabaram voando, cada qual experimentando sensações diferentes. E a alma da atividade pode ser resumida em uma frase de Augusto, já durante o animado almoço, logo após o término dos voos: “Minha felicidade é proporcionar felicidade aos outros”. 74


São Paulo 

Destino Praia do Romance em Caraguatatuba Distância 173 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem Duas horas e meia da capital paulista, sem trânsito Caminho Via Dutra e Rodovia dos Tamoios

Caraguatatuba São 40 quilômetros de orla em Caraguatatuba, com praias para todos os gostos. Destaque para a praia de Tabatinga, considerada a mais bonita de lá, a Brava, preferida dos surfistas e ainda as vizinhas Mococa e Cocanha. Nessa última, o belo cenário é formado por coqueiros, rios e vista das ilhas Cocanha e do Tamanduá. O mar calmo e de águas claras atrai famílias e adeptos do caiaque e do mergulho de observação. A infraestrutura inclui quiosques, bares e restaurantes. Já Mococa possui mar calmo e transparente e é indicada para a prática de esportes náuticos – como pesca e mergulho. Ela também é próxima às ilhas Cocanha e do Tamanduá, também recomendadas para visitação, acessíveis por barcos ou jet-ski. Outra atração imperdível consiste na visita ao Morro de Santo Antônio. Com 340 metros de altitude, apresenta uma espetacular vista formada pelas enseadas de Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela. É, inclusive, ponto de encontro das turmas da asa-delta e do parapente, que lá encontram duas rampas para saltos. O Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba – também apresenta uma série de atrações. O parque, que tem área total de 315 mil hectares, sendo 88 mil em Caraguatatuba, abriga Paratrike | Caraguatatuba


Servicos

Selfie de Ana Carolina Bandeira sobre a praia de Massaguaçu.

Paratrike em Caraguatatuba Empresa: Oxy Fly Contato: www.oxyfly.com.br oxyfly@terra.com.br | (19) 9 7409-7723

Onde ficar

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Hotel Mar Contatos:(12) 3883-5669; http://hotelmar.com.br/site/ Endereço: R. São José dos Campos, nº 159, Centro - Caraguatatuba – SP, a aproximadamente 4 quilômetros da Praia do Romance Hotel Litoral Norte Contatos:(12) 3883-1655; http://hotellitoralnorte.com.br/site/ Endereço: Av. Dr. Artur Costa Filho, 315 - Centro, Caraguatatuba – SP, a aproximadamente 3,5 quilômetros da Praia do Romance

Como chegar

Carro - Acesso principal pela SP-99 (Tamoios), ou BR101 (Rio-Santos) Ônibus - Litorânea (http://www.litoranea.com.br/) Itapemirim (http://www.itapemirim.com.br) Normandy (http://www.normandy.com.br/)

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Crédito: OxyFly

Hoteis espécies diversas de animais, pássaros e árvores típicas da mata Atlântica. O núcleo Caraguá tem três trilhas abertas: a do Poção leva à Cachoeira da Pedra Redonda, com 6 metros de queda e cerca de três horas para ir e voltar. Já a do Jequitibá, que é fácil e termina numa piscina natural com pequena queda d’água (são 40 minutos ida e volta), pode ser feita de dia, durante o horário de funcionamento do parque; ou à noite, das 19h às 21h – a atração, nesse caso, é ver animais de hábitos noturnos, como cotias, pacas, tatus e corujas. Para a histórica trilha dos Tropeiros, mais longa, com 8 quilômetros de extensão e que dura cerca de cinco horas, a caminhada começa no Bairro Pouso Alto, a 25 quilômetros da entrada principal do parque, e termina na sede (um carro do parque leva ao ponto de partida). É preciso agendamento para fazer a trilha do Poção (saídas às 9h e às 13h), a trilha noturna do Jequitibá e a trilha dos Tropeiros. Todas as caminhadas são feitas com monitores ambientais e para fazer as trilhas é preciso pagar taxas. Para mais informações sobre o Parque, ligue (12) 3882-3166. Vale ainda reforçar que Caraguatatuba está estrategicamente localizada entre São Sebastião e Ubatuba, municípios com praias variadas e deslumbrantes. Paratrike | Caraguatatuba


CrĂŠdito: Evandro Bonocchi

Socorro

Tirolesa Rapel

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TIROLESA Evandro Bonocchi aprecia a vista do Parque dos Sonhos em atividade de rapel negativo.

A tirolesa é uma atividade esportiva de aventura originária da região do Tirol, na Áustria, daí a origem de seu nome. Na atividade, o praticante é preso por mosquetões a uma cadeirinha de escalada, e se desloca com roldanas de um ponto a outro por um cabo aéreo posicionado horizontalmente, mas geralmente com acentuado declive. O cabo pode ser ancorado em grandes alturas o que faz com que o praticante tenha a sensação de “voar” sobre o local. Muitas tirolesas estão acima de florestas, lagos e outras lindas paisagens, o que torna a experiência mais prazerosa. É uma atividade passiva, que não requer nenhum esforço físico do praticante, nem mesmo uma técnica específica. Por isso, pode ser feita por praticamente qualquer pessoa, de qualquer idade, até mesmo leigos, iniciantes e pessoas sem condicionamento físico. As poucas restrições estão descritas no capítulo sobre recomendações. Porém, é necessário usar equipamentos especiais para garantir segurança e bem-estar.

RAPEL O termo “rappel” vem do francês e significa trazer e recuperar. Apesar de não se saber exatamente quando a técnica foi criada, ela foi utilizada por espeleólogos, que usavam desse recurso para explorar cavernas. Sua definição em dicionários é clara: “processo de descida de uma vertente ou paredão na vertical com a ajuda de uma corda dupla passada sob uma coxa e sobre Tirolesa Rapel | Socorro


o ombro oposto a ela, ou por meio de um dispositivo especial que desliza controladamente pelo cabo”. Existem dois tipos de rapel, o negativo e o positivo. No primeiro, a descida é livre. Sustentado por cabos e numa cadeirinha, o praticante não tem nenhum tipo de contato com superfícies sólidas, até chegar ao chão. Já no rapel positivo, o mais praticado, a descida se dá em contato com uma superfície sólida, que pode ser um morro, uma pedra ou até mesmo uma simples parede. Muitas descidas são feitas num misto das duas modalidades, intercalando-se o corpo no ar com situações de apoio em superfícies sólidas.

Recomendações São poucas as recomendações para essas atividades. A principal delas é ouvir atentamente a todas as explicações dadas pela equipe do Parque dos Sonhos, ou de qualquer outro lugar que esteja preparado para tal. No Parque, os instrutores são experientes e treinados para atender a pessoa com deficiência. Nenhuma das duas atividades é realizada com chuva e a tirolesa é descartada caso os ventos estejam acima de 15 km/h. O mesmo vale para o rapel negativo. Nessa modalidade é recomendável que se mantenha o corpo longe da corda e, caso o corpo comece a girar em torno de seu próprio eixo, recomenda-se travar a corda até voltar à posição inicial. O uso de capacete é obrigatório em ambas as atividades. Por trazer uma grande dose de adrenalina, a tirolesa não é recomendada para pessoas com problemas cardíacos, epilepsia ou hipertensão. No final do percurso da tirolesa, freios são acionados, possibilitando assim uma chegada segura e tranquila, depois da adrenalina da descida. É necessária certa atenção nesse momento, mantendo a face afastada do cabo, evitando assim qualquer possibilidade de contato com o equipamento. Os equipamentos do Parque são checados antes de cada descida e periodicamente, para que nenhum imprevisto ocorra. Qualquer local que ofereça atividades de aventura necessita ter essa prática. Evite malabarismos desnecessários enquanto estiver na tirolesa ou no rapel negativo. Ficar de cabeça para baixo, pendular e saltar só compromete a segurança. 80


Celia Regina se esforça na descida de rapel em Parque dos Sonhos,

Crédito: Arthur Calasans

Socorro, SP.

Diario de bordo O destino dessa vez foi Socorro. E, acreditem, o município está longe de ser um destino comum. O principal diferencial da cidade é a atenção com a acessibilidade de pessoas com deficiência. Praticamente todos os pontos e equipamentos turísticos foram ou estão sendo adaptados para permitir o acesso de pessoas que, usualmente, não poderiam participar das atividades ou visitar os atrativos. Nenhum local turístico de Socorro traduz isso de forma mais verídica do que o Parque dos Sonhos. Referência mundial em acessibilidade e segurança, o Parque segue a norma da ABNT, e tem a certificação da ISO 21.101, que atesta a prática segura do turismo de aventura, contemplando pessoas com deficiência. E ainda a NBR 9.050, que regula o item de acessibilidade de hotéis, entre outros itens. O Parque dos Sonhos é a única empresa do Brasil a ter essas duas certificações. Para desfrutar desse incrível espaço, foram convidados Evandro Bonocchi, 40 anos, paraplégico e Regina Célia Ribeiro da Silva, 48 anos, deficiente visual. Ambos ficaram impressionados assim que chegaram ao local, tamanha a qualidade da infraestrutura montada. Bonocchi , natural de Jacareí (SP), teve uma adolescência ligada a um sonho, o de Tirolesa Rapel | Socorro


Crédito: Arthur Calasans

ser ator. Foi atrás de seu objetivo, fez curso profissionalizante, participou de peças de teatro, elencos de apoio e de um episódio do seriado da TV Globo, Linha Direta. “Eu era a cara do bandido (risos), me chamaram para fazer o papel e aceitei na hora”. A participação acabou levando a outra mudança radical, a de viver no Rio de Janeiro. Porém, dois anos e meio depois, percebeu que a carreira era difícil, dinheiro era artigo raro. Pragmático, em 2005 arrumou emprego num hotel de Ubatuba (SP), vendendo pacotes turísticos. Todavia, sofreu um acidente de moto no percurso entre o hotel e sua casa, em dia de muita chuva. “Perdi o controle, bati na guia e fiquei com a lesão medular. No início eu encarava aquilo como uma tragédia, era a mesma pessoa, só que em outro corpo. Tive de reaprender tudo e a minha estada no hospital Sarah Kubitscheck (Brasília, DF), em 2006, foi um divisor de águas. Antes dependia de todos. Depois de ficar lá quarenta dias, passei a ter autonomia”. Começou a fazer maquetes eletrônicas e a escrever um blog, o “Tocando a Vida Sobre Rodas”. Convidado para palestrar em uma universidade, para falar sobre o blog, mostrou aptidão para a coisa. E é disso que vive hoje, dando

Superação de limitações, sensação de liberdade e emoção são os elementos principais da tirolesa e rapel.

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palestras pelo país, convidado por empresas. Casado e pai de um filho, Evandro é também amante de esportes e aventuras. Já fez de tudo depois do acidente: jogou basquete, anda de handbike, participou de maratonas, corridas de rua e de aventura, andou de caiaque, mas elege a ida ao Jalapão (TO) como sua experiência mais radical. Lá fez trekking, rafting e tirolesa, entre outras atividades. Desta vez, no Parque dos Sonhos, faria o rapel negativo e o circuito de tirolesa, e estava ansioso antes das atividades. “Gosto de adrenalina, vamos ver o que encontramos por aqui”. Já para a paulistana Célia, a motivação era outra, a de superar seus medos. Nascida com catarata nos dois olhos, começou a ter problemas na visão aos 5 anos de idade. Perdeu a mãe cedo, quando tinha 14 anos, e o glaucoma, que já havia atuado em seu olho direito, apareceu em seu olho esquerdo quando tinha 22 anos. Daí em diante ficou cega, não conseguia mais reconhecer luzes e vultos, o que antes era possível. Longe de se esconder atrás da situação, fez curso técnico em magistério e passou em concurso público, tornando-se professora da rede pública de ensino. Atua na profissão até hoje, mas formou-se em psicologia também, profissão que espera exercer após se aposentar como professora. Casada, enfrentou preconceitos e a desconfiança da própria família para construir uma carreira. Porém, a coragem com que enfrentou a vida lhe faltava nas atividades radicais. O máximo que tinha feito até então era andar de caiaque em um lago. “E nem fui até a outra margem, pedi para voltar (risos). Mas estou aqui para fazer o rapel positivo e o circuito da tirolesa, quero superar meus limites”. A primeira aventura foi de Evandro, o rapel negativo. Levado de caminhonete até o topo de um morro, de lá desceu de uma altura de 50 Tirolesa Rapel | Socorro


metros, cercado por um fantástico ambiente e com muita segurança. “O que mais me impressionou foi a qualidade da equipe. A transferência da cadeira para o equipamento de rapel foi feita de forma rápida, segura. Depois foi só curtir o visual”. Já perto do chão, a equipe do Parque lhe deu toda a assistência para uma chegada tranquila. Agora era a vez de Regina no rapel positivo. Insegura no início da descida, foi ganhando confiança. Com a companhia de um experiente instrutor, desceu o morro sem sustos. Ao final, o sorriso escancarado no rosto já traduzia seus sentimentos. “Achei importantes as explicações dadas antes e durante a atividade. A descrição de tudo o que me cercava também foi essencial, aumentou demais a sensação de segurança. Estou orgulhosa de mim mesma, de ter superado esse desafio”. Agora era a vez do circuito de tirolesa. São três, cada qual com sua particularidade. A primeira tem 1 quilômetro de extensão e fica a 140 metros de altitude. As outras são mais curtas, com 400 e 200 metros de extensão, com alturas de 30 e 25 metros respectivamente. Nessas, a velocidade pode chegar até 60 km/h. Evandro foi primeiro, Regina em seguida. Ao final, ambos estavam eufóricos. “A adrenalina é total, o vento batendo no rosto, a sensação de liberdade, o visual maravilhoso, morros, rios e cachoeiras se misturando ao céu azul, espetacular! E a equipe do Parque mais uma vez se mostrou muito preparada. As transferências da minha cadeira para a tirolesa se deram de forma segura, me senti superconfortável durante o trajeto. Lembrando do que passei no Jalapão, aqui não tem comparação, é muito melhor”. Regina também era só elogios. “O pessoal daqui tem a preocupação de descrever tudo o que a aventura reserva, e isso para alguém com deficiência visual é muito bom. A sensação de segurança e liberdade que vivenciei é indescritível! E como a base de partida é de cimento, aumenta sua confiança na hora de se lançar ao espaço”. E ambos, ao final do dia, repetiam em uníssono: “Queremos voltar, queremos mais!”. 84


Destino Parque dos Sonhos em Socorro Distância 135 km de São Paulo, capital Tempo de Viagem Duas horas e meia da capital paulista, sem trânsito Caminho Rodovia Fernão Dias (BR 381) e Rodovia Manoel Ferreira Lago Filho (BR 146)

Socorro

São Paulo 

O próprio Parque dos Sonhos oferece muitos outros atrativos. Além da tirolesa tradicional aqui apresentada, existe a modalidade “voadora”, em que o percurso de um quilômetro é feito de bruços, aumentando a adrenalina. Outras atividades oferecidas no Parque são arvorismo, espeleoturismo, boia cross, rafting, trilhas ecológicas e cavalgada, entre outras. No total são 10 atividades adaptadas para pessoas com deficiência. O local também oferece o turismo rural, com hortas orgânicas, centros de triagem e compostagem, minhocário, além de uma fábrica de pães, bolos e doces caseiros, solidificando o chamado tripé sustentável: ambiental, social e econômico. Na cidade, destaque para a Igreja Matriz Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Concluída em 1924, em alvenaria de tijolos, sob o comando do padre Antônio Sampaio, foi erguida no mesmo local onde esteve a primeira capela da cidade, datada de 1829. As pinturas e os vitrais foram doados por famílias socorrenses. No interior encontram-se obras do artista Mario Tomazzo. Possui um sino de 250 kg com nome de “Sagrado Coração de Tirolesa Rapel | Socorro


Superação de limitações,

Servicos

sensação de liberdade e emoção são os elementos

Onde ficar

Estabelecimentos que dispõem de apartamentos adaptados e acessibilidade para pessoas com deficiência.

O próprio Parque dos Sonhos oferece hospedagem e pacotes variados. Outra opção é o Campo dos Sonhos, hotel fazenda pertencente ao mesmo grupo que comanda o Parque dos Sonhos. Campo dos Sonhos Contatos: (19) 3895-3161 http://www.campodossonhos.com.br/ Central telefônica para pessoas com deficiência auditiva: TSPC (19) 3895-4696 Endereço: Estrada dos Sonhos, km 6 – Bairro das Lavras de Baixo - Socorro – SP

Como chegar

Carro - É necessário o uso de três rodovias, para quem sai da capital paulista. Rodovia Dutra (BR-116), Rodovia Fernão Dias (BR-381) e Rodovia BR-146 Ônibus - Viação Bragança (http://www.viacaobraganca.com.br/) 86

principais da tirolesa e rapel.

Crédito: Arthur Calasans

Parque dos Sonhos Endereço: Estrada da Varginha, km 7 - Bairro do Limoeiro, na divisa de Socorro/SP e Bueno Brandão/MG Contatos: www.parquedossonhos.com.br contato@parquedossonhos.com.br (19) 3895-7644 / (19) 3895-3161 Central telefônica para pessoas com deficiência auditiva: TSPC (19) 3895-7644


Jesus” e um de 180 kg, cujo nome é “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”. O município também tem seu Cristo Redentor, chamado de Mirante de Cristo, um belo espaço adaptado com vista privilegiada de toda a cidade. A estação Socorro também merece uma visita, o local é muito simpático. Sua construção é datada do final do século XIX. O curioso é que ela está inativa, já que foi construída na época em que a economia de Socorro, bem como a do país, era baseada no café. Com o declínio dessa fase, a estação foi perdendo gradativamente a importância econômica. Em 1966, o ramal ferroviário foi cancelado, e os trilhos retirados. Ainda para quem gosta de História, vale a pena uma ida ao Museu Municipal, cuja construção é de 1881. Voltando à natureza, recomendamos a Gruta do Anjo, que possui uma piscina natural de água mineral, com 4 metros de profundidade e paisagens internas incríveis. Para quem gosta de artesanato, imperdível o Espaço do Artesanato, aberto em 2012 e mantido por um grupo de 30 artesãos socorrenses, em parceria com a Prefeitura Municipal de Socorro. E para quem gosta de uma boa cachaça, é obrigatória uma visita ao Alambique Pioneira, alambique familiar com mais de trinta anos no mercado. Mais informações sobre atrações de Socorro no site http://www.socorro.tur.br/. Tirolesa Rapel | Socorro


Aventura Por Ricardo Shimosakai – CEO da Turismo Adaptado A proposta do turismo acessível é proporcionar meios para que qualquer pessoa, independentemente da sua condição, consiga realizar as atividades turísticas, sem que haja o enfrentamento de barreiras. É importante que a acessibilidade possa ser autônoma, ou seja, que não seja necessário o auxílio de terceiros. Porém, em alguns casos isso não é possível, seja por questões de segurança, da própria condição do turista, ou de outros fatores que acabam dificultando uma acessibilidade perfeita. O importante é estar sempre livre de preconceitos, para que se possa buscar alguma alternativa com mais facilidade. Dentre os segmentos que mais cresceram, o ecoturismo, turismo de aventura e o turismo esportivo merecem destaque. O esporte, assim como a aventura, é composto de desafios. No esporte e no paradesporto, você geralmente tem adversários, e na aventura o adversário pode ser você mesmo ou uma situação. Ambas as atividades têm sempre a questão da superação envolvida. Forçados a conquistar a vitória ou um objetivo, os praticantes de esportes ou aventuras acabam incorporando uma certa filosofia, uma maneira de pensar e agir, em que apesar das dificuldades, será feito o possível para conseguir alcançar o melhor resultado. Essas práticas acabam beneficiando o praticante em sua vida, no geral, com um valor ainda maior para pessoas com deficiência. Afinal, elas encontram dificuldades a todo o momento, e se não tiverem força de vontade para superá-las podem acabar morrendo na praia da ociosidade, ou até mesmo se afogar na depressão. Degraus, falta de comunicação adequada, espaços estreitos e discriminações, entre outros fatores, acabam atuando como adversários, e é preciso vencê-los para conquistar nossos objetivos em qualquer área de nossa vida. 88


Exploração do Abismo de Anhumas em Bonito,

Crédito: Arquivo pessoal

Mato Grosso do Sul

Aventura Acessível


Por isso, é comum ver atletas que vivem de forma independente e feliz. A parte do exercício físico, em que se trabalha a força e o equilíbrio é ótima ao nosso corpo. Mas também são trabalhados o raciocínio e o reflexo, para criar estratégias e vencer o jogo. Além disso, as competições são uma ótima forma de socialização, pois na maioria dos casos, os adversários ficam somente dentro das quadras, piscinas e pistas; fora delas eles podem ser grandes amigos. É claro que essa maneira de pensar serve para qualquer pessoa, mas acaba tendo um valor ainda maior quando se trata de uma pessoa com deficiência ou algum tipo de necessidade específica. O turismo de aventura acaba tendo um resultado satisfatório maior do que outros tipos de turismo em locais urbanos e culturais. Isto porque, como dito anteriormente, esse tipo de atividade envolve desafios, e em lugares geralmente rústicos e de natureza. Então a pessoa com deficiência que faz essa opção, sabe antecipadamente que não irá encontrar a acessibilidade da forma como é descrita nas normas, até porque, não

Rapel negativo no Cânion Iguaçu

Crédito: Arquivo pessoal

em Foz do Iguaçu, Paraná

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existem normas de acessibilidade em ambientes naturais. E também não irá encontrar um local tão limpo e asseado quanto se espera de um hotel, museu ou outro estabelecimento urbano. Não se espera sujeira, é claro, mas provavelmente poeira, areia, folhas e outros elementos naturais. Nesses casos, a acessibilidade, ou as condições para que seja possível realizar a atividade, são proporcionadas por equipamentos específicos, como por exemplo, uma espécie de assento individual, colocado no bote de rafting, para dar estabilidade a uma pessoa sem muitas forças ou equilíbrio, como um tetraplégico. Outro grande fator para o sucesso é a capacitação dos profissionais envolvidos. Cabe ao instrutor de mergulho, por exemplo, fazer uma descrição detalhada dos equipamentos, métodos e situações, para que haja uma compreensão total da parte de uma pessoa com deficiência visual, para que tudo ocorra de forma segura e confortável. Um segmento novo do turismo que vem se fortalecendo é o turismo esportivo. São propostas de viagem, para pessoas que querem praticar esportes ou assistir a jogos e torneios. Há grupos que se formam, para participar da Corrida Internacional de São Silvestre ou da Maratona de Nova York, onde também competem pessoas com deficiência. Outra variação são as provas de ciclismo, como a tradicional Prova Ciclística 9 de Julho, que acontece em São Paulo, ou a famosa Tour de France, onde há handbikes (bicicletas pedaladas com as mãos, utilizadas por pessoas com deficiência física), ou as bicicletas tandem, com dois lugares, em que um vidente vai na frente pedalando e guiando, e a pessoa com deficiência visual vai atrás, também pedalando. E para Aventura Acessível


não deixar de fora pessoas que buscam algo mais suave, a World Bike Tour, que pode ser descrita como um grande passeio ciclístico para toda a família, na qual os participantes ganham uma bicicleta, handbike ou tandem, e acontece anualmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Lisboa, Porto e Madri. Campeonatos e torneios também levam muitas pessoas a viajar. Há quem não meça esforços para acompanhar a Seleção Brasileira de Futebol numa Copa do Mundo, ou seu time do coração em jogos da Copa Libertadores da América, e até mesmo em campeonatos nacionais ou regionais. Muitos também consideram eventos esportivos como um atrativo a mais para conhecer o destino, o que deve acontecer com o Brasil na época das Olimpíadas e Paralimpíadas, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Muitos estádios possuem acessibili-

Descida de rapel positivo no Campamento Tlachtli em San Luis Potosi, México

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Crédito: Arquivo pessoal

dade para cadeira de rodas, e alguns até fornecem recursos da audiodescrição para cegos. No Brasil existem até duas torcidas organizadas formadas por pessoas com deficiência, como a Eficigalo, do Atlético Mineiro, e a Defiel, do Corinthians. Qualquer pessoa pode participar de uma atividade de aventura, sempre há alguma adaptação possível de ser feita, basta procurar informação a respeito, pois muitas vezes alguma solução já foi colocada em prática, ou também podemos aplicar nossa criatividade e experiência, aperfeiçoando ou inventando novas alternativas. Podemos tomar o mergulho como referência de uma prática de aventura possível de ser feita por qualquer tipo de pessoa. No geral, a diferença do mergulho adaptado para o convencional, não está

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nos equipamentos, mas na forma de utilizá-los e na experiência do instrutor. Pesos e técnicas de respiração são utilizados para regular a posição de um mergulhador que não consegue movimentar as pernas, ou mesmo um amputado. Surdos que se comunicam através da língua de sinais levam vantagem, afinal, podem conversar com mais liberdade debaixo d’água. Uma solução criativa para cegos é utilizar máscaras chamadas full-face, que cobrem o rosto inteiro, em conjunto com microfones e fones sem fio, é possível se comunicar, o que seria difícil sem essa adaptação, pois a comunicação é totalmente visual e através de gestos. A partir daí, você já deve ter quebrado a barreira do preconceito a ponto de imaginar usuários de cadeira de rodas praticando stand-up paddle na Represa de Guarapiranga, amputados surfando nas pipelines do Havaí, idosos escalando o Everest, no Himalaia, pessoas com paralisia cerebral completando as exaustivas provas de Iron Man e jovens com Síndrome de Down esquiando na neve em Cerro Catedral, na Argentina. Alguns destinos acabam tendo destaque, quando conseguem trabalhar em sintonia, atendendo esse nicho de público e transformando o que era motivo de depreciação do local ou serviço em uma vantagem competitiva. O turismo é uma cadeia produtiva, em que diversas empresas oferecem hospedagem, transportes, alimentação, informação e atendimento, entre outros itens, trabalhando para atender ao turista. É claro que essas empresas têm obrigações para tornar o turismo acessível. Por outro lado, no que diz respeito ao turista com deficiência, ainda que não seja uma obrigação, é importante informar suas necessidades aos locais e serviços turísticos que deseja usufruir, pois

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Crédito: Arquivo pessoal Esqui na Neve na pista de Cerro Catedral em Bariloche, Argentina e Tirolesa do Pânico no Parque dos Sonhos em Socorro, São Paulo

a acessibilidade não está presente em tudo e muitas vezes é necessária uma preparação prévia. Apontar falhas, cobrar melhorias, buscar profissionais experientes e participar, acaba mostrando aos empresários que este é um segmento ativo, e que por isso vale a pena realizar melhorias e investir em adaptações, para que as barreiras e superações fiquem restritas apenas às atividades que necessitam desses ingredientes para se fazerem emocionantes.

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Paulo, Arthur e Ana - Equipe Aventura Adaptada

A equipe que acompanhou as viagens e desenvolveu todo o conteúdo publicado neste livro foi composta por Ana Borges, Arthur Calasans e Paulo Kehdi, todos com bastante experiência em trabalhos que envolvem pessoas com deficiência e sua inclusão na sociedade. Eles percorreram cerca de 2.000 quilômetros em seis finais de semana distintos levando pessoas com diferentes tipos de deficiência para viver uma experiência única e conhecer destinos turísticos no estado de São Paulo. Eles literalmente fizeram jus ao ditado que afirma que a melhor coisa é quando conseguimos juntar o útil ao agradável. Juntos, eles tiveram o desafio de organizar a busca por personagens dispostos a superar seus limites para encarar uma atividade muito diferente e toda a logística para que essa pessoa tivesse uma experiência segura e muito prazerosa. Além, claro, de registrar tudo e contar para os leitores, por meio dos textos e imagens, os momentos vividos antes, durante e depois da atividade no Diário de Bordo, e também muitas dicas turísticas e informações das modalidades envolvendo aspectos históricos e técnicos daquela atividade. Ao final dessa jornada eles são unânimes em afirmar o quão enriquecedora foi a experiência e comprovam que é possível, sim, a prática de modalidades radicais por pessoas com deficiência.


A ventura Adaptada

Realização

Patrocínio

Idealização

Produção


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