NATAÇÃO ADAPTADA NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
A melhor compreensão da história dessa modalidade permitirá ao interessado quebrar alguns paradigmas comuns e sentir-se apto a iniciar sua aventura nesse esporte. Ademais, o esporte é rica ferramenta de integração social, além de fornecer benefícios individuais como flexibilidade, força, agilidade, coordenação, independência, entre outras. E é com você, interessado em ingressar nesse esporte, que queremos falar. Passamos a orientá-lo(a) daqui por diante. Vamos conhecer mais um pouquinho desta fascinante modalidade esportiva! O Instituto Mara Gabrilli (IMG) é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e executa projetos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência. Foi fundado em 1997 com o nome de Projeto Próximo Passo - PPP, pela própria Mara Gabrilli, após ficar tetraplégica em 1994, por causa de um acidente que quase lhe custou a vida. No início, o objetivo era criar ferramentas para fomentar pesquisas para cura de paralisias. Com o passar do tempo, outras oportunidades surgiram e a ONG adotou também o esporte como meio de inclusão social, oferecendo treino a atletas com deficiência. Em 2007, com uma década de vida, a Organização se expandiu e tornou-se o Instituto Mara Gabrilli mantendo o PPP como seu braço de apoio ao paradesporto. Segundo o Censo 2000 (IBGE), 14,5% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Isso, em números atualizados, corresponde a cerca de 24 milhões de brasileiros. É um universo de pessoas que podem ter nascido com alguma deficiência ou a adquirido ao longo da vida. E quando falamos de ações que melhorem a qualidade de vida dessas pessoas, podemos incluir também as que têm mobilidade reduzida, ou seja, idosos, gestantes, obesos, mulheres com carrinhos de bebê e outros. Trabalhamos para eliminar as barreiras físicas e atitudinais, para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas em todos os âmbitos sociais, visando promover a sua inclusão educacional, econômica, cultural, esportiva, e na defesa de um mundo de acessos universais, sem segregações: um mundo para todos.
Introdução
Esta cartilha foi elaborada com o objetivo de fornecer dados importantes às pessoas com deficiência física e visual interessadas em ingressar na natação paraolímpica.
Apresentação
Desde a antiguidade, saber nadar era mais uma arma que o homem dispunha para sobreviver. Os povos antigos eram exímios nadadores. O culto à beleza física dos gregos fez da natação um dos exercícios mais importantes, originando assim as primeiras competições da modalidade. A prática de atividades motoras por pessoas com deficiência - como processo de habilitação, reabilitação e interação social - constitui-se um dos principais instrumentos para o desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas dessa parcela da população. Inegavelmente, são muitos os ganhos decorrentes da participação em atividades de lazer e esporte, sejam eles no âmbito sensório motor e/ou psicossocial. A natação, dessa forma, tem sido de grande importância para o desenvolvimento global das pessoas com deficiência. Pode ser praticada em qualquer idade e condição física, trazendo benefícios que influenciarão diretamente as atividades diárias, favorecendo e facilitando a inserção social. No Brasil, a natação foi introduzida oficialmente em 31 de julho de 1897, quando os clubes Botafogo, Icaraí e Flamengo fundaram, no Rio de Janeiro, a União de Regatas Fluminense, posteriormente chamada de Conselho Superior de Regatas e Federação Brasileira das Sociedades de Remo. Em 1914, o esporte passou a ser controlado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA. Em 1935, as mulheres começaram a participar oficialmente das competições. A organização das competições para pessoas com deficiência em âmbito internacional é responsabilidade do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), entidade máxima do desporto para pessoas com deficiência em suas competições e da Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA), responsável pelas competições esportivas de pessoas com cegueira e deficiência visual.
Como dito anteriormente, a prática da natação traz inúmeros benefícios. Além dos benefícios físicos, nadar proporciona a integração social, a independência e o fortalecimento da autoestima dos atletas. Para os deficientes físicos, normalmente a iniciação na natação se dá pelo trabalho de reabilitação feito geralmente em hospitais, clínicas ou faculdades de educação física. O retorno físico e psicológico da natação para as pessoas com deficiência pode ser notado, principalmente, no deslocamento do indivíduo sem grandes esforços, pois sua propriedade de sustentação (empuxo) e eliminação quase que total da gravidade, facilita a execução de movimentos que, em terra, poderiam ser dificultosos ou impossíveis de serem realizados sem auxílio. Da reabilitação à prática da natação como esporte é uma questão de tempo e escolha. Ademais, a prática da natação por pessoas com cegueira e deficiência visual esteve inicialmente restrita a uma utilização terapêutica, porém, com a massificação e disseminação das práticas esportivas para pessoas com deficiência, a natação passou também a ser praticada como competição. Com um programa de treinamentos sério e a consequente profissionalização dos atletas com deficiência, surge um novo cenário na natação paraolímpica: sai de cena o esporte como forma de reabilitação e entra o esporte de altorendimento. Tantas mudanças refletiram no desempenho dos atletas brasileiros. Com a natação não foi diferente. Há um salto qualitativo visível nos últimos anos em provas individuais e revezamentos. Recordes mundiais, medalhas, conquistas nacionais e internacionais fizeram e fazem do Brasil uma grande referência no paradesporto mundial na modalidade.
Conceito e histórico da Natação Paraolímpica
A natação está presente no programa oficial de competições desde a primeira Paraolimpíada, em Roma, em 1960. A primeira participação brasileira no quadro de medalhas ocorreu em Stoke Mandeville (1984), com a conquista de uma medalha de ouro, cinco de prata e uma de bronze. Nos Jogos Paraolímpicos de Seul (1988), o país ganhou um ouro, uma prata e sete bronzes. Na Paraolimpíada de Barcelona, o esporte obteve para o Brasil três bronzes. Em Atlanta (1996), a performance foi exatamente igual à de Seul. Em Sydney, a melhora no desempenho foi significativa, rendendo aos brasileiros seis ouros, dez pratas e seis bronzes. Mas o melhor desempenho ocorreu mesmo em Atenas, onde o país conquistou 33 medalhas – 14 de ouro, 12 de prata e sete de bronze.
Os 20 anos de conquistas de medalhas, em seis Paraolimpíadas, permitiram que o Brasil criasse uma identificação positiva com a natação, tornando-a a modalidade paraolímpica mais popular do país e contribuindo com o surgimento natural de ídolos frutos destas conquistas. Alguns destaques entrem os atletas são:
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Fabiana Harumi Sugimori Nasceu em Campinas, 1980, e perdeu a visão por causa do excesso de oxigênio na incubadora do hospital que queimou a sua retina. Competiu na categoria S11 e conquistou duas medalhas de ouro paraolímpicas nos 50 metros livres, em Sydney, 2000. Em Atenas 2004, bateu o recorde mundial além de diversas outras medalhas e títulos mundiais. É formada em Relações Públicas pela PUCC.
Clodoaldo Silva O “Tubarão Paraolímpico”, 31 anos, teve paralisia cerebral por falta de oxigênio durante o parto, o que afetou os movimentos das pernas. Suas principais conquistas vieram a partir do Mundial, que ocorreu na Argentina em 2002, onde bateu três recordes: nos 50m, 100m e 200m livre. Na Paraolimpíada de Atenas, em 2004, o atleta conquistou seis medalhas de ouro e uma de prata além de quatro recordes mundiais. Clodoaldo também foi a indicado para o Oscar Mundial do Esporte, em 2005, e no mesmo ano recebeu o troféu de melhor atleta paraolímpico do mundo do Comitê Paraolímpico Internacional.
Andre Brasil Integrante atual da Seleção Paraolímpica Brasileira de Natação (categoria S10), nasceu no Rio de Janeiro em 1984 e tem sequela de poliomielite na perna esquerda. Detém, atualmente, 13 recordes mundiais. Em 2008, durante os Jogos Paraolímpicos de Pequim, conquistou medalha de ouro nos 400m livre, 50m livre, 100m livre e nos 100m borboleta, além de uma medalha de prata nos 200m medley, três recordes mundiais e dois paraolímpicos. No Mundial Paraolímpico de Natação de 2010, realizado na Holanda, Andre venceu cinco provas, conseguiu dois segundos lugares e bateu três recordes mundiais.
Daniel Dias Nasceu em 1988 em Campinas e é destaque da Seleção Paraolímpica Brasileira de Natação nas Paraolimpíadas de Pequim 2008 e no Mundial de Natação 2010, na Holanda. É membro do Conselho de Esportes, representando os atletas paraolímpicos, para os Jogos Paraolímpicos Rio 2016. Disputa as provas 50m, 100m e 200m livre; 200m medley; 100m peito; 50m costa e 50m borboleta - 4 x 50m medley; 4 x 50m livre; 4 x 100m medley e 4 x 100m livre. É especialista nos 200m medley. Conquistou 8 medalhas de ouro no Parapan Rio 2007. Foi o maior medalhista das Paraolimpíadas de Pequim 2008, conquistando quatro medalhas de ouro, quatro de prata e uma de bronze. Conquistou oito medalhas de ouro e uma de prata no Mundial de Natação da Holanda 2010. Venceu o Prêmio Laureus Oscar do Esporte em 2008. E Atualmente é recordista Mundial dos 50m, 100m e 200m livre, 200m medley e 50m borboleta.
Quem pode participar da Natação Paraolímpica
Na natação, podem competir atletas com diversos tipos de deficiência, sendo que nas Paraolimpíadas de Atenas (2004) e Pequim (2008) eram classificáveis apenas atleta com deficiência física e visual. Atualmente, os atletas com deficiência intelectual fazem parte do programa paraolímpico, participando das provas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Natação, principal evento oferecido pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) para natação. Os critérios para a classificação dos atletas para as provas de natação são definidos de acordo com o tipo de deficiência, sendo que: Na deficiência física é realizada uma classificação funcional, que irá inserir o atleta em classe compatível com suas limitações físicas, relacionadas a interferência na realização dos nados, a fim de habilitá-lo para disputar com outros nadadores que possuem o mesmo grau de comprometimento na prática da modalidade; Na deficiência visual é feita uma classificação oftalmológica, definida pela Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA) para legitimar, ou não, a participação de uma pessoa nas competições oficiais para cegos e deficientes visuais regidas pela IBSA e por suas filiadas, a filiada no Brasil e a Confederação Brasileira de Desportes para Cegos (CBDC). As provas são divididas nas categorias masculino e feminino, seguindo as regras do IPC Swimming, órgão responsável pela natação no Comitê Paraolímpico Internacional. A nomenclatura das classes ainda sofre uma diferença entre os nados; por exemplo, a letra S significa que o nadador competirá nas provas de nados livre, costas ou borboleta. O nado peito utiliza o SB, de breaststroke (nado peito), e no medley é utilizado o termo SM (medley). Na classificação do peito não existe a classe SB10, ou seja, só existem nove classes oferecidas para deficientes físicos neste estilo (de SB1 a SB9). As classes são dividas em: • S1 / SB1 / SM1 a S10 / SB9 / SM10 (deficiência física / motora); • S11 / SB11 / SM11 a S13 / SB13 / SM13 (deficiência visual); • S14 / SB14 / SM14 (deficiência intelectual). Quanto menor o número dentro da classe, mais alto é o nível de comprometimento físico ou sensorial (visual) causado pela deficiência.
• O atleta que apresentar problemas de equilíbrio pode ser auxiliado na largada, ou seja, recebendo apoio pelos quadris, mão, braço etc. Necessitando aprovação de um oficial técnico do evento; • A largada pode ser feita na água, no caso de atletas de classes mais baixas, que não conseguem sair do bloco. As classes S1, S2 e S3 têm autorização para manter seu(s) pé(s) encostado(s) à parede até que seja dado o sinal de largada. Não é permitido dar impulso ao nadador no momento da largada, devendo apenas soltar os pés neste momento; • No nado peito e borboleta, os nadadores com deficiência visual (S11 e S12) podem ter dificuldade de fazer o toque simultaneamente na virada e na chegada se estiverem muito próximos à raia. Desde que o nadador não ganhe vantagem injusta, o toque não simultâneo será permitido; • Atletas da classe S11 são obrigados a utilizar óculos opacos para que não passe a luz, assim como o auxílio dos tappers (batedores que tocam o atleta com um bastão para informar a proximidade da parede), um em cada extremidade da piscina.
Principais adaptações da regra para a natação paraolímpica
As adaptações da natação, na maioria das vezes são feitas nas largadas, viradas e chegadas.
Benefícios da prática da natação paradesportiva
A natação proporciona inúmeros benefícios aos seus praticantes, e não é diferente quando se tratam de pessoas com deficiência, que também são beneficiadas nos mais variados campos do desenvolvimento humano. Estes benefícios estão diretamente ligados as alterações sofridas pelo corpo imerso na água, a promoção de atividade física no meio líquido, as mudanças promovidas pelo treinamento esportivo e o frequente convívio social no exercício desta atividade. O desenvolvimento e aquisição de habilidades motoras exercido pela prática da natação promovem mudanças em algumas capacidades físicas como flexibilidade, força, agilidade, resistência cardiorrespiratória, equilíbrio e coordenação, estimulando a circulação sanguínea, auxiliando na manutenção de um índice de massa corporal (IMC) mais desejável, melhora no tônus muscular responsável pela postura, aumento da mobilidade e do potencial motor, o que contribuí para maior eficiência nas Atividades de Vida Diária (AVD) e maior independência do atleta. A natação e os esportes em geral são excelentes agentes da integração social, além de aumentarem a motivação e a autodisciplina. Experimentando as emoções de um dia de competição o atleta aprende a ganhar e perder, colaborando com o sentimento de membro ativo da sociedade mostrando para si próprio que é capaz de realizar e de melhorar.
O INSTITUTO MARA GABRILLI DESENVOLVE PROJETOS PARA MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, ATUANDO NA DEFESA DE UM MUNDO PARA TODOS, SEM EXCLUSÃO E COM ACESSOS UNIVERSAIS. www.img.org.br | img@img.org.br
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