Revista PARASPORTS

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ANDREW PARSONS

Entrevista com o presidente do CPB

NATAÇÃO

HARDCORE

Adrenalina sobre rodas

Preparação da equipe para 2016

Ano 1, Número 1 OUT-NOV 2013


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Dirceu Pereira Jr. – Diretor Executivo Áurea Editora

Dois momentos

importantes

O atual momento do paradesporto, no Brasil, não tem precedentes. Nos últimos anos, temos observado, com grande orgulho, as conquistas de nossos atletas paralímpicos e podemos ficar muito otimistas que na Paralimpiada do Rio de Janeiro, em 2016, vamos superar muitas marcas obtidas nas edições anteriores. Essa evolução tão significativa do esporte para pessoas com deficiência não se limita unicamente às atividades de alto rendimento, ela vai muito além disso. Hoje em dia, existem inúmeras iniciativas de empresas, governos, instituições e até de pessoas, que utilizam o esporte como ferramenta para a melhoria da qualidade de vida, na reabilitação precoce, na busca por lazer e diversão, como instrumento de inclusão social. Um outro aspecto que vem chamando muito a atenção é como a tecnologia e os novos meios de comunicação podem mudar a vida das pessoas com deficiência. O acesso à informação ficou muito mais fácil, há uma proliferação de equipamentos e softwares para ajudar a eliminar barreiras, aumenta a visibilidade e multiplicação das boas práticas, as redes sociais fizeram com que todo mundo ficasse mais acessível e conectado boa parte do seu dia. Foi observando esse movimento extremamente favorável que a Áurea Editora criou a PARASPORTS, uma revista digital totalmente gratuita que vai abordar o esporte para pessoas com

deficiência utilizando uma plataforma que vai oferecer acessibilidade do conteúdo a seu público objetivo. Nas páginas da PARASPORTS, vamos trazer entrevistas, reportagens sobre diversas atividades para o público com deficiência, opinião de profissionais, perfil dos atletas, sempre utilizando uma linguagem acessível, criativa e informal, sem ser simplista ou superficial. O formato desta nova publicação será de uma revista mesmo, que as pessoas poderão “folhear” suas páginas, ver o conteúdo em um projeto gráfico contemporâneo e gostoso de ler. E mais ainda, será possível ver galeria de fotos, vídeos ilustrativos das matérias, links para outras páginas na internet, sem falar, é claro, na acessibilidade pela audiodescrição das imagens, leitura digital dos textos e versão das matérias em Libras. Além da versão para ser visualizada em tablets, a PARASPORTS poderá ser acessada pelo smartphone e no computador pela versão web. Todo esse conteúdo estará disponível no site www.parasports.com.br Finalmente, quero destacar a equipe de profissionais que, com sua experiência no segmento, nos ajudou a tornar essa ideia em realidade e a parceria com a Associação Desportiva para Deficientes (ADD), que acreditou na iniciativa, tem nos dado todo o apoio e conhecimento adquirido nesses 18 anos de trabalho dentro do universo paradesportivo do Brasil. Boa leitura a todos e aguardamos suas críticas e sugestões em nosso site. Um grande abraço, Dirceu Pereira Jr. dirceu@aureaeditora.com.br


E R O C D R A H Alta dose de adrenalina

Manobras do skate ganham versões adaptadas e garantem fortes emoções para os mais radicais

A PARASPORTS é uma publicação desenvolvida pela Áurea Editora Ltda. em parceria com a Associação Desportiva para Deficientes (ADD). Reportagens: Claudete Oliveira, Karina Mossman e Paulo Kehdi. Revisão: Agencia Entre Aspas. Editor: Dirceu Pereira Jr. Projeto Gráfico, Diagramação e Programação: MVeras Design. Webmaster Site: Hnet Soluções em Internet. Conversor de Texto em Áudio: Soar (www.soarmp3.com.br). Tradução Libras: Mirian Caxilé. Coordenação Acessibilidade: Andrea Iguma. Audiodescrição: Jô Moraes. Filmagem: Estúdio Gabi Fotografia. Contato Comercial: Dirceu Pereira Jr. (dirceu@aureaeditora.com.br). Imagem de Capa: Hardcore Sitting Brasil. Áurea Editora Ltda – Rua Borges Lagoa, 1.080 sala 606 – Vila Clementino – São Paulo/SP – Tel/Fax: (11) 5574.8910 – www.aureaeditora.com.br A PARASPORTS não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção da editora. A revista se reserva o direito de resumir cartas e artigos, quando for necessário.


Para o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, o paradesporto nacional está em um crescente de qualidade e quantidade, terá um impulso ainda maior depois da paralímpiada de 2016 Por Paulo Kehdi

Comemoração na conquista de Alan Fonteles na Paralimpíada de Londres em 2012

Imagens: Divulgação CPB

CÍRCULO VIRTUOSO


Andrew Parsons, 36 anos, começou cedo a vivenciar a realidade do esporte paralímpico no Brasil. Em 1997, recém-formado em jornalismo, ingressou no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) como estagiário na área e, desde então, só fez crescer dentro da instituição. Tornou-se responsável pelo Departamento de Comunicação e, depois, convidado pelo ex-presidente Vital (Vital Severino Neto, presidente do CPB durante os biênios de 2001/2005 e 2005/2009), foi secretário-geral por 8 anos, entre 2001 e 2009, ano em que foi eleito presidente do CPB para seu primeiro mandato. Em abril desse ano, foi reeleito e fica no comando da entidade até abril de 2017, quando será sucedido por outro nome. “O estatuto do CPB prevê apenas a possibilidade de exercer a presidência por dois mandatos consecutivos, é certo que serei substituído por alguém em 2017”, diz Parsons. Essa sua trajetória o credencia a falar da evolução do paradesporto no Brasil, já que viveu realidades absolutamente distintas, desde quando o CPB ainda estava sediado em Niterói (RJ) e tinha apenas dois anos de vida (foi fundado em 1995). Parsons cita a sanção da lei Agnelo/Piva em 2001 (que estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Comitê Paralímpico Brasileiro. Do total de recursos repassados, 85% são destinados ao COB e 15% ao CPB) como um marco no desenvolvimento do esporte paralímpico no Brasil. “A entrada de recursos de forma permanente proporcionou um planejamento no curto, médio e longo prazo”, diz Parsons que exalta o momento presente, acredita no futuro e afirma sem hesitação. “Hoje somos uma das potências paralímpicas”. Confira nessa entrevista para a Parasports o que mais o presidente do CPB tem a dizer e qual sua expectativa para 2016.

A entrada de recursos de forma permanente proporcionou um planejamento no curto, médio e longo prazo

Parson acompanhando o Parapan de Guadalajara em 2011


Andrew, como era o CPB em 1997, quando você ingressou na entidade? Era um mundo completamente diferente do que vivenciamos hoje. Estávamos sediados em Niterói (RJ), éramos apenas quatro funcionários, lutávamos contra todo o tipo de carência que você possa imaginar. Para complicar ainda mais, o esporte paralímpico vivia um momento político conturbado, com disputa entre as Confederações. O cenário era muito ruim. Quando a realidade do paradesporto brasileiro começou a mudar? Foi em 2001, com a lei Agnelo/Piva. Passamos a contar com entrada constante de recursos, antes só vivíamos de ações pontuais. Em 2000, por exemplo, fomos a Sidney (sede daquela paralímpiada) contando apenas com o apoio do Banco do Brasil, que se expirou no ano seguinte. Ou seja, as pessoas e as instituições só enxergavam o ano anterior e o ano da paralimpíada. O primeiro ano após o término desse ciclo era terrível buscar dinheiro era como caçar agulha em um palheiro. Deixávamos de disputar mundiais, isso acarretava em menos vagas para a paralimpíada seguinte, provocava certo desestímulo a atletas e treinadores, ou seja, vivíamos um círculo negativo. Mas tudo começou a mudar em 2001.

Para o presidente do CPB, a Lei Agnelo/Piva, de 2001, mudou o paradesporto no país

Você citaria mais algum fator que colaborou para a reversão do quadro? Apontaria mais três fatores, iniciativas do presidente Vital. O primeiro foi a mudança da sede do CPB para Brasília, que acabou se convertendo em uma aproximação ainda maior com o Ministério do Esporte. Uma segunda variável foi o aproveitamento midiático da paralimpíada de 2004, em Atenas. Foram 168 horas de transmissão pelo canal Sportv (canal a cabo ligado à Rede Globo de Comunicação) e a cobertura de mais 13 canais, o que possibilitou ao povo brasileiro um contato maior com esse universo, entender o esporte paralímpico e, principalmente, perceber a sua importância, tanto social, como esportiva. As pessoas viam que a paralimpíada era um evento grandioso, não um festival qualquer e fomos ajudados ainda pelo fantástico desempenho do Clodoaldo Silva (nadador brasileiro que conquistou seis ouros e uma prata naquela edição dos Jogos). Por fim, citaria a mudança no modelo de gestão, implantada ainda antes de Atenas, em 2002. Passamos a seguir o modelo internacional, priorizando as modalidades e não as deficiências. Ou seja, não importa se o atleta é cego ou cadeirante, mas sim qual a modalidade que pratica. A destinação dos recursos por modalidade acabou com a sobreposição de papeis e houve um ganho em escala, as confederações passaram a receber mais investimentos e puderam se organizar melhor na gestão e distribuição dos mesmos.


Odair Santos, observado pelo guia Carlos Santos, recebe cumprimentos de Parsons após a prata conquistada nos 1.500 metros rasos, em Londres

Como você enxergou a participação brasileira nas paralimpíadas, de 2008 e 2012? Muito boas e evidenciando o crescimento do esporte paralímpico. Em Pequim, 2008, conquistamos 47 medalhas (16 de ouro) e terminamos na nona colocação. Em Londres, 2012, ficamos em sétimo, com 43 medalhas (21 de ouro). Mas não são apenas esses números que contam. Em Atenas, por exemplo, competimos em 13 modalidades. Em Pequim, 17. E em Londres, participamos de 18 modalidades de um total de vinte. Ou seja, estamos desenvolvendo atletas em diversos esportes, aumentando o leque de opções e possibilidades de mais medalhas. Cito a bocha como exemplo. Em Atenas nem tivemos representantes. Já em 2008 e 2012 a modalidade trouxe 5

ouros e 2 pratas, somando-se as duas paralimpíadas. E não pensem que as vagas são dadas, elas são conquistadas em competições internacionais, especialmente mundiais. Só no Rio não teremos essa preocupação, por sermos o país sede estamos automaticamente classificados para as 22 modalidades previstas. Como você avalia a sua primeira gestão na presidência, entre 2009 e 2013? Seguimos caminhos que achávamos necessários. A revitalização da base foi algo muito importante, com a reformulação das paralimpíadas escolares. Em 2012, por exemplo, foram 1.200 crianças inscritas, com 25 das 27 unidades da federação representadas, foi o maior evento com essas características no mundo. Esse ano esperamos

Em Pequim, 2008, conquistamos 47 medalhas (16 de ouro) e terminamos na nona colocação. Em Londres, 2012, ficamos em sétimo, com 43 medalhas (21 de ouro).


representatividade total, das 27 unidades da federação. Temos hoje 22 clubes paralímpicos no Brasil voltados para a base. Nessa linha ainda podemos destacar as parcerias firmadas com governos estaduais e municipais, capacitando os professores de educação física da rede pública para que a criança com deficiência participe de maneira correta das atividades na escola. Isso só aumenta nossa chance de termos mais atletas de ponta, além do ganho social enorme que a atividade esportiva trás. Implantamos também uma metodologia de planejamento interessante que chamo de “Teia de Aranha”. Consiste em programas interligados, desde a base até o esporte de alto rendimento. Proporcionamos, dessa forma, diferentes caminhos para os atletas se desenvolverem física e tecnicamente, desde as crianças com deficiência até adultos que a adquiriram na idade adulta. Temos comissões técnicas específicas, os profissionais se dedicam a uma modalidade apenas, antes tínhamos fi-

siologista para a natação e o atletismo, por exemplo, isso não ocorre mais. Implantamos também a Academia Paralímpica Brasileira, voltada ao conhecimento, ciência e tecnologia, e criamos o Conselho de Atletas, que inclusive tem poder de voto na eleição para a presidência do CPB. É uma forma de mantermos todos pertos, unidos, com poder de opinião, convergindo em uma direção, baseado em um senso comum. O que você espera da sua segunda gestão? Não teremos mais tantas novidades como na primeira, será um período de refinamento de tudo o que já existe, programas, melhoria das estruturas. Chamamos de “Melhor do Mesmo”, com avaliação dos projetos existentes, concentrando os serviços, criando mais centros de referência. Posso citar como modelos os centros de referência do atletismo, em São Caetano do Sul (SP), e o de natação, na capital paulista. Os atletas moram lá, dedicam-se exclusivamente ao esporte, dessa forma otimizamos recursos, tanto humanos, como financeiros. Queremos também nos aproximar de empresas privadas, mas acredito que esse “namoro” só vai virar “casamento” depois das paralimpíadas de 2016. Hoje 100% dos recursos do CPB são provenientes da área pública e é preciso uma participação maior da iniciativa privada e a paralimpíada do Rio servirá como um estímulo nesse sentido, pela exposição e repercussão que causará.

Stefano Arnhold da Confederação Brasileira de Esportes de Neve, homenageia Parsons


Quais são os recursos que o CPB conta hoje? Só para dar uma ideia de comparativo, em 2003 os recursos da lei Agnelo/Piva representavam 100% das receitas do CPB. Em 2004, conseguimos as primeiras parcerias com empresas públicas e começamos a diversificar nossas fontes de renda. Hoje, o CPB conta com uma verba anual de, aproximadamente, R$ 100 milhões, sendo que apenas 30% são provenientes da lei Agnelo/Piva. Temos 30% de receita que são fruto do patrocínio da Caixa (Caixa Econômica Federal), 30% de convênios firmados junto ao Ministério do Esporte, 8% de uma parceria com o Governo do Estado de São Paulo e ainda 2% de outra parceria, esta firmada com a Prefeitura do Rio de Janeiro. Ou seja, se mantivermos a receita atual teremos R$ 400 milhões durante todo o ciclo paralímpico, contra R$ 165 milhões do ciclo anterior, de Londres. São recursos expressivos, acredito que o sucesso do esporte paralímpico está ligado à boa gestão financeira. Como você avalia os equipamentos e os locais hoje existentes para a prática do paradesporto? São carentes no esporte como um todo, temos pouquíssimos centros de treinamento, estamos atrás de países da América do Sul em algumas modalidades inclusive. Tenho muita fé de que o novo Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo (será perto da Rodovia dos Imigrantes, construído em convênio com o Governo do Estado de São Paulo e as obras estão previstas para começarem

Andrew que começou sua carreira no CPB como estagiário na área de comunicação, em 1997

Somos uma das potências paralímpicas, com certeza


ainda neste ano) trará um grande salto no esporte de alto rendimento. Mas isso não é suficiente, é preciso multiplicar iniciativas como de Santa Catarina, por exemplo, que organiza várias competições tanto para crianças como para adultos. Posso citar ainda o Paraná, Piauí, Amazonas, Rio Grande do Norte, Goiás e Paraíba como estados fora do eixo Rio-São Paulo que estão se desenvolvendo, em modalidades específicas. Mas em outros estados a coisa ainda engatinha. É preciso melhorar ainda, muito. Como você avalia a participação brasileira nos últimos mundiais de atletismo e natação, realizados em julho e agosto? Muito boa. Conseguimos ficar em terceiro no atletismo, a apenas uma medalha dos Estados Unidos e em sexto na natação, empatados com Austrália e EUA. Conseguimos o que queríamos, confirmar favoritismos, como do André Fonteles e do Daniel Dias, por exemplo, resgatar ídolos que não vinham de bons resultados, como do Lucas Prado (corredor, cego) e ainda alavancar novos valores como a Verônica Hipólito (atletismo) e o Roberto Alcade (natação), só para citar alguns. Estamos no início de um ciclo paralímpico importantíssimo. O que está sendo feito para que os resultados continuem aparecendo em 2016? Acredito que continuar fazendo o que vem dando certo e melhorar alguns programas. Como disse esse período será de refinamento dos projetos existentes. Vamos priorizar competições internacionais, especialmente os mundiais e o Parapan de Toronto em 2015, participar de uma nova Competição Sul-Americana que terá sua primeira edição em 2014, em Santiago (Chile), e seguir o calendário nacional, com o Circuito Caixa, o calendário das Confederações, com competições regionais, estaduais e municipais. Estamos com diversos eventos programados, em todas as modalidades previstas. O cenário é favorável para treinamentos e competições, e ajudará os atletas a se preparar de forma apropriada.

Implantamos a Academia Paralímpica Brasileira, voltada ao conhecimento, ciência e tecnologia, e criamos o Conselho de Atletas, que inclusive tem poder de voto na eleição para a presidência do CPB

Andrew Parsons confia que a iniciativa privada vai olhar o paradesporto brasileiro com outros olhos depois de 2016


O presidente do CPB projeta ganhar o Parapan de Toronto, em 2015, e almeja o 5° lugar no Rio, em 2016

Qual a sua expectativa para o Parapan e a Paralimpíada? Ganhamos o Parapan de 2007 no Rio e em 2011, em Guadalajara. Não podemos querer nada diferente disso em 2015, em Toronto. Para as paralimpíadas, estamos projetando um quinto lugar, que seria fantástico. São várias modalidades com chances de medalha, destacaria o atletismo e a natação e ainda a Bocha, o Futebol de 5, o Futebol de 7 e o Judô como carros-chefes. Temos modalidades que estão em um crescente, como esgrima, remo, hipismo e ciclismo e ainda estamos formando atletas para duas modalidades que estrearão em paralimpíadas, a canoagem e o triatlo. Estou confiante em um bom desempenho. Você considera o Brasil uma potência paralímpica? Somos uma das potências, com certeza, com China, Rússia, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália. Outros países também merecem respeito, como Alemanha, Canadá, Ucrânia e França. E você credita essa condição a quais razões? Acho que resumindo, à boas gestões que vêm se sucedendo. Temos um planejamento eficiente, definição de prioridades, responsabilidade com os recursos e estamos cada vez mais próximos de confederações, treinadores, comissão técnica e atletas. Uma conjunção de fatores que mostram que estamos no caminho certo. E o que você imagina para o futuro, para 2017 e em frente? Acredito que a tendência de crescimento se mantenha por muitos anos, basta continuar tratando o paradesporto com o respeito que ele merece. E, como já disse, ampliar ainda mais os recursos, trazendo especialmente a iniciativa privada para esse universo, o que hoje não ocorre, infelizmente.


Aaron, também conhecido por “Wheelz”, em mais uma manobra nas pistas de skate

E R O C D R HA Imagem: Barnard Photography

Alta dose de adrenalina Manobras do skate ganham versões adaptadas e garantem fortes emoções para os mais radicais Por Karina Mosmann


Imagem: Mike Ray

Vídeo com manobra do backflip bombou na internet.

Blunt to fakie, 50-50, handplant ou blackflip. As manobras do skate convencional vêm cada vez mais conquistando praticantes com deficiência por todo o mundo. A mistura do BMX (bicicross) e skate começou a fazer a cabeça dos radicais cadeirantes depois que o vídeo do norte-americano Aaron Fotheringham realizando um backflip bombou na internet. “Wheelz”, como é mais conhecido Fotheringham, entrou para o Guinness como o primeiro a fazer a manobra na cadeira de rodas, em julho de 2006. O nome do esporte em si ainda não é um consenso. Nos Estados Unidos, onde foi criado, há algumas variações como Wheelchair Motocross e Wheelchair Skateboarding. Aqui no Brasil, introduzido entre 2006 e 2007, está ficando conhecido pelo nome Hardcore Sitting (HCS), que também é uma das opções de nome na terra do Tio Sam.

“Acompanhava uma equipe de basquete em cadeira de rodas na época. A quadra ficava perto de uma pista de skate e os garotos me perguntaram se era possível fazer algo parecido com o que tínhamos visto no vídeo do Aaron. Sentei na cadeira e fui o primeiro a descer a rampa, depois de mim, uns cinco também se arriscaram, mas foram os três mais radicais que decidiram trocar as quadras pela pista de skate”, relembra o psicólogo esportivo, Pablo Moya, introdutor da modalidade no país. Depois da criação do site e de postar alguns vídeos próprios, o profissional foi surpreendido com vários contatos de pessoas de todo o país pedindo mais informações sobre a modalidade, como e onde praticar. A maioria eram ex-praticantes de esporte radical que gostariam de voltar a praticar uma atividade que tivesse a adrenalina como “cardápio principal”. Com Pedro Henrique Amorim, de Caraguatatuba – litoral norte de São Paulo, foi assim. Skatista antes do acidente de carro que o deixou com uma lesão medular incompleta, em 2005, encontrou o Hardcore Sitting quando buscava na internet “manobras radicais em cadeira de rodas”. “Estava internado por conta de uma cirurgia e minha tia levou um notebook. Quando encontrei o Hardcore Sitting e vi vários vídeos falei para ela: ‘quando eu


sair daqui é isso que vou fazer’”, lembra. Nesta época, já havia passado cerca de três anos desde o acidente. Pedrinho, como é conhecido, começou sozinho, adaptando com a cadeira que tinha as manobras que ele já conhecia. Só depois de algum tempo, uma amiga filmou as façanhas e mostrou para Pablo que não pensou duas vezes e o convidou para ser atleta patrocinado da Jumper Equipamentos, marca de cadeiras de rodas e equipamentos especializados. “Ganhei uma cadeira com a metade do peso que fez toda a diferença. Com a minha de 12 quilos, nunca tinha conseguido tirar a roda do chão e na primeira rampa que fiz com a nova cadeira já mandei o primeiro aéreo”. A cadeira de rodas, inclusive, é um dos fatores fundamentais para o sucesso e desenvolvimento do HCS. No início, como não havia cadeiras específicas, era necessário adaptar o que se tinha. Pablo lembra que nesse período quebraram várias cadeiras de basquete até chegar à atual. “Junto com os engenheiros da Jumper, desenvolvemos uma cadeira leve, resistente e com amortecedor frontal. Só assim conseguimos evoluir as manobras”.

Imagens: Hardcore Sitting Brasil

Pedrinho realizou o primeiro backflip brasileiro

Para resistir aos treinos e inúmeras tentativas-erro-tentativas-acerto, elas só poderiam ser especialmente fabricadas para a prática de esportes radicais e a versão nacional custa em média R$ 4 mil. Própria para a modalidade, a cadeira de rodas WCMX tem só seis quilos, sistema frontal de amortecimento e é feita em liga aeronáutica o que garante maior resistência e leveza. As rodas são reforçadas e o pneu grosso. Além da cadeira, é obrigatória a utilização de equipamentos de seguranças: capacete com queixeira, protetores de dentes, cotoveleira, joelheira, luvas de couro e faixas de travamento.

Backflip brasileiro


Pedrinho já tem seguidores na prática do HCS

Passo a passo para quem quer começar Quem pode praticar o Hardcore Sitting? Para o psicólogo esportivo, basta ter adrenalina na veia para praticá-lo e na primeira aula já dá para sentir se você tem ou não adrenalina suficiente para encarar o desafio. “Um recém-lesionado tem medo e um tetraplégico que não tem força terá dificuldade. Mas nada disso é empecilho

BÊ-A-BÁ

das manobras

*

Entenda algumas das manobras do skate em cadeira de rodas:

Backflip: dar um mortal e cair sobre as rodas Blunt to fakie: parar com as rodas traseiras no alto da rampa Carving: andar nas paredes com velocidade em um circuito como se fosse uma onda Double backflip: dar duas voltas e cair sobre as rodas Handplant: plantar bananeira com a cadeira de rodas Ollie: pulo tirando as quatro rodas do chão, varando ou subindo rampas Tail manual: empinar e ficar só com as rodas traseiras 50-50: manobra executada no corrimão com os dois eixos deslizando *Fonte: Pablo Moya, psicólogo esportivo e introdutor da modalidade no Brasil.

Imagens: Hardcore Sitting Brasil

Com os equipamentos certos em um ano e quatro meses de treinamento já foi possível mandar o primeiro blackflip brasileiro. “O impulso é com o pescoço. Na hora que a cadeira começa a subir na rampa, já jogo a cabeça para trás e depois, na sequência, puxo com o braço, a tendência dela é virar. Quando estou de cabeça para baixo já tenho a manha de olhar para ver como vou aterrissar”, explica Pedrinho. Para evitar acidentes, antes de qualquer manobra, há uma avaliação dos obstáculos. Também tem que aprender a cair para não se machucar. Pablo reforça que em uma queda, um cadeirante está na metade da distância comparando com quem está de pé, ou seja, a queda é muito rápida, por isso equipamentos de proteção e técnica são fundamentais.


O Free-Running é uma iniciação para o Hard Core Sitting Imagen: Hardcore Sitting Brasil

para vivenciar a experiência do HCS. Temos diversos exemplos, como um praticante que em 30 anos nunca tinha empinado uma cadeira e hoje empina. Ou um ‘tetra’ que nem conseguia tocar a cadeira, mas por estilo de vida vai aos encontros e é um ótimo caso para conduzir, ou seja, ter um amigo que toque a cadeira para a pessoa”, explica. Até crianças podem participar. João Lucas Takaki, com 9 anos e cadeirante, foi o mais jovem brasileiro a praticar o HCS. “Em três meses o desenvolvimento dele nas pistas de skate foi incrível e já encarou até uma rampa grande de 2 metros de altura”, conta Pablo. Mas para crianças que têm lesões mais graves e não tem tanta autonomia, a prática por condução, além de proporcionar muita diversão, reforça os laços entre pais e filhos. Para quem ficou interessado e quer colocar adrenalina na vida e mandar as mais radicais manobras, são indicadas algumas fases de treinamento; lembrando que cada pessoa tem suas limitações internas ou decorrentes da própria lesão: 1ª Fase – Free-Running: inicialmente, o praticante fará um treino sob cadeira de rodas para adequação postural, aprender a empinar a cadeira, ultrapassar obstáculos do cotidiano, como rua, degraus ou buracos; o que garantirá uma maior mobilidade diária, possibilitando que o cadeirante possa andar livremente nas ruas. 2ª Fase – Para-parkour: após o início dos treinos nas ruas, o praticante, dependendo de suas limitações, ultrapassará obstáculos cada vez maiores e mais difíceis de forma gradativa e automática. Em um processo muito natural vai usar cada vez mais a criatividade e velocidade para ultrapassar os obstáculos. Nesse estágio, começa a inventar e aí acontecem as quedas. Alguns vão cair e


Foto: Barry Bland Photography

Entre vista com

levantar, sem se importar. Outros já vão entender a primeira queda como o limite dele. 3ª Fase – Hardcore Sitting: se o praticante sofreu uma queda, mas quer adrenalina diferente, tem vontade de ousar mais e sente-se bem na cadeira para isso, é hora de encarar as pistas de skate e começar a mandar as manobras. Próximos passos Na avaliação de Pablo Moya, o Hardcore Sitting está ganhando força diariamente, mobilizando cerca de 200 praticantes no mundo, sendo 50 só no Brasil. “O que venho percebendo nesses anos de desenvolvimento do esporte é que o HCS se tornou um ‘estilo de vida’! Muitos praticam para falarem que são hardcore e fazem por prazer na maioria das vezes”. Para ele de uma modalidade supostamente de alto risco, quando iniciada em 2006, o Hardcore Sitting chega em 2013 como um esporte para todos, com reconhecimento nacional e internacional, trabalhado sob diversas vertentes – educacional, social, esportivo e psicológico. Para popularizar o esporte no país, palestras e oficinas de iniciação estão sendo realizadas em parceria com prefeituras e unidades do SESC, no interior do Estado de São Paulo. Na cidade de São Paulo, a modalidade foi introduzida no CEU – Centro Educacional Unificado Aricanduva, pelo Professor Jonas Alfredo Santos, como uma modalidade educacional e está sendo trabalhado com profissionais da área de educação física sem nenhum custo ao praticante. O próximo passo é desenvolver o Hard-

A aro Fotheri n ngham

Com apenas 8 anos, Aaron “Wheelz” Fotheringham teve a primeira experiência numa quarter pipe (um tipo de rampa), depois de um convite do irmão. Ele costumava ir ao parque e vê-lo fazer manobras de bicicross (BMX). Um dia o irmão disse que ele deveria tentar. Apesar do medo, ele tentou e desde então não parou mais. O backflip, um mortal que não é nada fácil para skatistas sem deficiência, foi realizado por Wheelz em 2006, quando ele tinha apenas 14 anos. Depois de quatro anos foi a vez do double backflip e em 2011 o front flip. Aqui no Brasil, ele levou os brasileiros ao delírio ao descer com sucesso a Megarrampa no ano passado. Detalhe: a rampa tinha 30 metros de altura e um vão livre de 20 metros para aterrissar em outra rampa. O sucesso? Wheelz confessa que todas as manobras exigiram muitos treinos e tentativas ao custo de muitos hematomas. Em conversa com a PARASPORTS, ele fala sobre o esporte e dá algumas dicas importantes para quem está pensando em começar:


Qual foi a sensação de realizar o primeiro backflip em cadeira de rodas? Como você se sentiu? Foi como uma corrida louca para a felicidade. E então eu percebi que tudo é possível se você apenas se esforçar e visualizar o que quer. Quais são as principais adaptações? Ao longo dos anos, temos reforçado a cadeira de rodas para ela suportar as manobras, assim como a suspensão. Em sua opinião, todos podem praticar o esporte? Eu acho que mais cadeirantes deveriam experimentar o esporte ou tentar algo novo. Eles podem fazer muito mais do que acreditam! Qual sua avaliação sobre os esportes radicais para pessoas com deficiência nos Estados Unidos? E em outros países? Eu vejo o WCMX crescendo muito! Mais e mais pessoas estão mandando nas pistas de skate ao redor do mundo, inclusive tenho visto algumas no Brasil. Você é um exemplo para muitas pessoas, o que você recomendaria para quem quer começar somente para se divertir? Quais são suas principais dicas? O primeiro conselho é usar um capacete com queixeira. E então... apenas se divirta, comece com conceitos básicos e depois experimente mais e mais!

Imagem: Barnard Photography

Aaron Megarrampa A inspiração de Aaron veio do irmão que fazia manobras no Bicicross (BMX) aos 8 anos de idade

E qual o maior desafio de um iniciante? Como vencê-lo? O maior desafio é o medo. É preciso pesar o prós e contras de cada situação e deixar o medo no passado.


core Sitting para a alta performance, como já acontece nos Estados Unidos com a realização de campeonatos. A união de forças entre instituições, praticantes, atletas e fabricantes de equipamentos caminha nesta direção com a formação de uma confederação mundial do WCMX, algo como Wheelchair + BMX. Variação sobre o mesmo tema O skate é uma paixão também entre praticantes com outros tipos de limitações. Og de Souza, pernambucano de Olinda, foi e é inspiração para uma nova geração. Em razão da poliomielite na infância, adaptou o esporte e anda de skate usando somente suas mãos desde 1988. É skatista profissional e participa de campeonatos na liga Profissional de Skate. Ítalo Romano, de Curitiba (PR), é um desses garotos que se espelharam em Og. Em 2003, precisou amputar as pernas depois de um acidente de trem. Foi campeão paranaense amador depois de oito anos, disputando com skatista que não tinham deficiência. Depois de participar do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, Ítalo recebeu o convite para dropar a Megarrampa do skatista brasileiro Bob Burnquist, na Califórnia. Ele aceitou e fez bonito! Outro skatista apaixonado pelo esporte é André Cruz, de São Vicente, litoral sul de São Paulo. Aos 16 anos, ele trocou o judô e karatê pelo skate, e precisou adaptar sua forma de andar depois que sofreu uma amputação abaixo da tíbia direita (altura do joelho), quando tinha 24 anos. “Voltei a andar de skate por qualidade de vida, para continuar com o meu estilo de vida. O esporte ajudou bastante na minha motivação e, se por um lado a prótese impossibilitou algumas manobras, facilitou em outras”, conta. Hoje ele trabalha em uma ONG, a Casa da Mata, e confessou que tem o desejo de compartilhar com outras pessoas o que aprendeu com o skate adaptado. “Tem uma rampinha e pretendemos desenvolver o esporte com a comunidade”. Para quem quer começar, André dá algumas dicas que aprendeu no dia a dia: - Tenha, se possível, duas próteses – uma para caminhar e outra para o skate. Se houver alguma queda ou problema, você não corre o risco de ficar sem prótese. - Tente sempre. Com jeito e pesquisa, você vai encontrar o seu meio de adaptar melhor o esporte para você e encontrar também o seu próprio limite. - Cuidado para não se machucar para valer. Pratique com cautela e se não souber o movimento, não faça. Adaptado em cadeira de rodas ou no próprio skate; praticado por lazer, diversão, qualidade de vida ou profissionalmente; o que vale mesmo é vivenciar a adrenalina e ser o

O esporte ajudou bastante na minha motivação e, se por um lado a prótese impossibilitou algumas manobras, facilitou em outras

Matéria do Ítalo Romano no Caldeirão do Huck


ODONTOLOGIA PARA PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

CLÍNICA – DOMICÍLIO – HOSPITAIS – INSTITUIÇÕES


O supino é um dos principais exercícios para um cadeirante

Imagens: Tatyana Andrade e Divulgação

COMPLEMENTO ESSENCIAL A musculação é recomendada para os deficientes físicos, como complemento para recuperar e manter qualidade de vida Por Paulo Kehdi


Uma curva mal feita de motocicleta na Rodovia Raposo Tavares mudaria a vida de Marcelo Aires, hoje com 42 anos. Na época do acidente Marcelo, então com 30 anos, já praticava a medicina (formou-se em Presidente Prudente, com especialização em gastroenterologia e radiologia), adorava jogar futebol e praticava capoeira há nove anos. O choque contra a mureta de proteção causou uma lesão medular na oitava vértebra e, consequentemente, a paraplegia. “Fiquei 20 dias internado e mais três meses usando um colete para sustentação da coluna. Com o uso de medicamentos, como corticoides, engordei muito, fiquei inchado mesmo. Foi quando defronte ao espelho falei para mim mesmo que não ficaria daquele jeito. Minha cabeça estava boa, meus braços idem, decidi retomar a minha vida”, conta Aires. A primeira atividade que escolheu foi a natação, adaptando-se rapidamente na água. Porém, começou a ter pequenas lesões no ombro, no punho, caracterizando assim a necessidade de um reforço muscular. “Já no final de 2001, seis meses depois do acidente, intercalava a natação e a musculação. Em 2005, comecei a praticar corrida de rua e depois me apaixonei pelo triatlo. Mas só consegui realizar tudo o que queria porque minha musculatura estava em dia”, diz. Hoje Marcelo faz musculação cinco vezes por semana, na unidade da Runner Club localizada no Butantã, zona oeste de São Paulo. “Tenho autonomia completa, moro sozinho, faço as transferências da cadeira para o carro, para o banho, não preciso de ninguém. Mantenho minha postura, evito escolioses, escaras. Brinco que a diferença entre os dias atuais e os anteriores ao acidente se resumem a duas coisas: não jogo mais bola nem faço mais amor em pé”, diverte-se Aires.

a diferença entre os dias atuais e os anteriores ao acidente se resumem a duas coisas: não jogo mais bola nem faço mais amor em pé

Uma postura correta evita lesões na hora da transferência


Seu instrutor na Runner, Guilherme Maia, que é supervisor técnico da musculação na instituição, explica que cada caso é um caso. “Recebo o laudo médico assinado por um fisioterapeuta e por um médico fisiatra, faço a análise e procuro estabelecer uma programação baseada não só nisso, mas também na condição física que a pessoa apresenta. O Marcelo, por exemplo, já tinha uma musculatura desenvolvida, outros chegam aqui em condições piores, mas sempre seguimos em frente. Adaptamos aparelhos, faço uso de cintas para amarrar o deficiente ao aparelho, faço às vezes do apoio mesmo com as mãos nas costas, quando necessário, e vamos aumentando a carga progressivamente”, diz Maia que atende cerca de quinze deficientes físicos na Runner Club. Ele explica que o deficiente físico, especialmente o cadeirante, precisa trabalhar dois grupos de músculos: os grandes grupamentos, que são costas e peitoral; e os pequenos grupamentos, bíceps, tríceps, punho e ombro. “O ideal é que os exercícios sejam feitos pelo menos três vezes por semana e de forma intercalada, ou seja, se trabalhamos costas na última sessão, podemos priorizar o peitoral na seguinte ou os pequenos grupamentos. Como disse, não há uma regra específica, cada caso é um caso.”

Orientação de um profissional é fundamental para obter os melhores resultados no treinamento

Adaptamos aparelhos, faço uso de cintas para amarrar o deficiente ao aparelho, faço às vezes do apoio mesmo com as mãos nas costas, quando necessário, e vamos aumentando a carga progressivamente”


quadro estabilizado. Além disso, como tenho uma tendinite severa na mão esquerda, os exercícios se tornam preventivos e evitam que eu tenha dores. E, claro, me ajuda a ter autonomia para quase todas as tarefas básicas do dia a dia”.

ALTO RENDIMENTO

AMBIENTE DESCONTRAÍDO Nathalia Fernandez, 22 anos, nasceu com paralisia cerebral o que a medicina chama de hemiplegia direita. Ou seja, tem uma alteração na coordenação motora fina, o que torna mais difícil a mobilidade, no caso dela, do lado direito do corpo. Dessa forma, encontra dificuldades para tarefas relativamente simples, como abrir um pacote de biscoitos, por exemplo. Quando criança, fez hidroterapia (fisioterapia na água), equoterapia (terapia com cavalos) e balé adaptado. “Comecei a fazer musculação em 2008, quando deixei de gostar das sessões convencionais de fisioterapia em clínicas especializadas. Optei por uma academia porque queria ser mais ativa nos exercícios e estar em um ambiente mais animado, pois até os minutos chatinhos de alongamento se tornam mais agradáveis em um lugar descontraído”, afirma Nathalia, que frequenta a academia Bio Ritmo, unidade Higienópolis, duas vezes por semana, com sessões de uma hora cada. E ela é enfática com relação aos benefícios. “A fisioterapia deixa meu

Soraia Alvarenga, 50 anos, teve poliomielite aos 8 meses de vida. Conseguiu dar seus primeiros passos com ajuda de aparelhos aos 5 anos. Hoje, tem a chamada Síndrome Pós-Pólio que contraiu aos 42 e desde então se utiliza da cadeira de rodas. Mas enganase quem pensa que isso a fez desistir de seus sonhos. “Meu maior desejo com 14 anos era ter uma mesa de pingue-pongue. Hoje, com cinquenta, sou mesa-tenista paralímpica estou em 19º lugar no Ranking Mundial, 3º no Ranking Nacional e 1º no Ranking Paulista”, diz ela que frequenta a academia Bodytech do Shopping Eldorado duas vezes por

como tenho uma tendinite severa na mão esquerda, os exercícios se tornam preventivos e evitam que eu tenha dores

A musculação preventiva evita dores, inchaços, além de aumentar a autonomia


Acessibilidade nas academias permitem que pessoas com deficiência pratiquem atividades nesses locais

semana para fazer musculação. “A musculação tem pra mim uma grande importância devido ao fato de ser atleta de alto rendimento. Tenho que sempre estar com força total para aguentar a carga de treinos e campeonatos”, fala Soraia, que também faz parte do Comitê de Apoio ao Paradesporto como Secretária Geral da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em São Paulo. E ela vai mais longe, ao citar os benefícios obtidos no dia a dia. “A musculação me traz energia, força, disposição para enfrentar os obstáculos cotidianos como, por exemplo, subir rampas, andar de metrô, entre outros”. Porém, seu treinador na Bodytech, Rodrigo Nicoleti, chama a atenção para um detalhe importante. “Existem princípios do treinamento que devem ser respeitados independente da pessoa com deficiência praticar ou não esporte de alto rendimento. O programa de treinamento deve respeitar esses princípios, cada um terá seu programa especifico às suas necessidades, controlando quantidades e sobrecargas impostas”, diz Nicoleti.

CUIDADOS Além dos cuidados mencionados por Nicoleti, o doutor Malcon Botteon, médico do esporte e fisiatra, e responsável pelo ambulatório de esportes adaptados da Rede de Reabilitação Lucy Montoro na unidade Morumbi em São Paulo, chama a atenção para outros aspectos. “A avaliação clínica é imprescindível. Quem possui doenças não controláveis, como pressão alta constante, glicemia idem ou doenças cardiovasculares não pode praticar a musculação. Mas é importante frisar que são doenças não controladas, ou seja, se a pessoa tem pressão alta, mas consegue regulá-la com a ajuda de medicamentos, ela estará apta ao exercício. Na verdade, ele é até recomendável nesse sentido, porque além de ajudar a baixar a pressão, a musculação traz uma série de outros benefícios como regular a frequência cardíaca, diminuir a glicemia, ajudar na locomoção, na autoestima, protege as articulações, ajuda a prevenir a osteoporose, ajuda na digestão,


Na verdade não há diferença entre deficientes ou não, a rotina ideal é que carboidratos sejam consumidos antes dos exercícios e depois também, acompanhados de proteína. É importante também a hidratação durante o treinamento e nunca se exercitar em jejum melhora o sono, etc. Botteon também chama a atenção para outra variável importantíssima, a biomecânica dos movimentos. “São três os sinais de que os exercícios estão sendo realizados de maneira equivocada. Dor, queda ou perda da funcionalidade para tarefas do dia a dia, e inchaço e estalos nas articulações. Por isso, é importante escolher bem o local para realizar seus exercícios e consultar um médico fisiatra a cada seis meses”, diz. Outro dado essencial, a musculação é uma atividade anaeróbica e deve vir acompanhada de exercícios na água e aeróbicos. “O ideal é que o deficiente faça exercícios de 3 a 6 vezes por semana, sempre alternando as atividades de musculação, com natação, handbikes ou corridas, por exemplo”. Para finalizar Botteon chama a atenção para um último aspecto, a nutrição. “Na verdade, não há diferença entre deficientes ou não, a rotina ideal é que carboidratos sejam consumidos antes dos exercícios e depois também, acompanhados de proteína. É importante também a hidratação durante o treinamento e nunca se exercitar em jejum”.

Veja uma sequência de exercícios de Aires na academia


André Brasil, um dos grandes medalhistas brasileiros da atualidade.

Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Natação Paralímpica

rumo ao Rio 2016

Planejamento e investimentos de todas as esferas governamentais são base da preparação dos atletas Por Karina Mosmann


Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

Estádio Olímpico de Desportos Aquáticos, Jogos Paralímpicos Rio 2016. No coração do Parque Olímpico do Rio, 18 mil pessoas lotam o estádio para ver os nadadores paralímpicos brasileiros quebrarem recordes e conquistarem medalhas de bronze, prata e ouro. Destaques da equipe, Daniel Dias e André Brasil confirmam o primeiro lugar no pódio, mas não são os únicos a se emocionarem com o hino nacional. Uma nova geração de nadadores repete o desempenho e comemora os excelentes resultados. Juntos, eles consolidam a natação brasileira como uma das principais forças paralímpicas mundiais, alcançando a meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) de posicionar o Brasil entre os cinco primeiros da modalidade. A largada internacional rumo a esse objetivo foi dada no Mundial de Natação Paralímpica. Considerado o maior e principal evento da modalidade depois de Londres 2012, o mundial reuniu em Montreal, no Canadá, de 12 a 18 de agosto, os 650 melhores nadadores do mundo, vindos de 60 países. Do Brasil, participaram 25 atletas, sendo dez estreantes na competição. Na piscina do complexo aquático do Parque Jean Drapeu, os nadadores brasileiros conquistaram 11 medalhas de ouro, nove de prata e seis de bronze. Comparado com o último mundial, disputado na cidade holandesa de Eindhoven, em 2010, a equipe brasileira repetiu o número de pódios – 26 no total, mas caiu uma colocação na classificação geral. De quinta posição em 2010, o Brasil encerrou sua participação em Montreal em sexto lugar, atrás de Ucrânia, Rússia, Grã-Bretanha, Nova Zelândia e Estados Unidos.

Participação do Brasil no Mundial de Natação Paralímpica de Montreal conquistou 26 medalhas


Imagens: Marcelo Regua/MPIX/CPB

A competição apresentou novos e jovens medalhistas, como Roberto Alcalde, Talisson Glock e Matheus Rheine, nos deixando animados para o futuro

Equipe Brasileira comemorando a vitória dos 100 metros com Susana Schnarndof

“Nossa participação foi dentro das nossas expectativas. Na nossa avaliação, o Brasil se consolidou como uma das grandes potências do esporte”, disse Andrew Parsons, presidente do CPB, que comemorou os resultados brasileiros no mundial. A comemoração pelo desempenho do Brasil no Canadá é explicada pelos resultados que vão além do número de medalhas ou a posição na classificação geral. “A competição apresentou novos e jovens medalhistas, como Roberto Alcalde, Talisson Glock e Matheus Rheine, nos deixando animados para o futuro. E ainda tivemos o ouro, muito comemorado da Suzana Schnardorf, que apesar de não ser jovem, está no esporte paralímpico há apenas três anos”, vislumbrou Parsons. Se em 2010, apenas André Brasil e Daniel Dias foram responsáveis pelas 14 medalhas de ouro; em Montreal, os gaúchos Susana Schnarndorf, nos 100m peito (SB6), e Roberto Alcalde, nos 100m peito (SB5) subiram no lugar mais alto do pódio com Daniel (seis ouros) e André (três ouros). A revelação de novos talentos também foi outro destaque da participação brasileira. Além do ouro de Alcalde, dois catarinenses conquistaram juntos três pratas e um bronze. Matheus Rheine foi prata nos 400m livre e bronze nos 100m livre (S11); e Talisson Glock, prata nos 200m medley (SM6) e nos 50m livre (S6). O quadro de medalhas do Brasil foi completado pela prata nos 50m livre (S10), de Phelipe Rodrigues, que também levou o bronze 100m livre; e a prata de Edênia Garcia no 50m costas (S4). “É sempre muito


importante manter o resultado e melhorar minhas marcas. Por minha doença ser degenerativa, é uma luta muito grande fazer melhores tempos do que em Londres. Isso mostra que o trabalho está sendo bem feito neste novo ciclo, que tem como objetivo maior a Rio-2016”, explicou Edênia. O bronze brasileiro veio com Joana Neves, classe S5, nas provas dos 200m livre, 50m borboleta e 50m livre.

Planejamento e investimentos Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

O desempenho do Brasil no Mundial de Natação Paralímpica é reflexo da bemsucedida dobradinha planejamento e investimento, base do trabalho de preparação da seleção brasileira de natação neste novo ciclo olímpico. Um desses investimentos foi realizado pelo governo federal, por meio do convênio firmado

Apresentando a Natação Paralímpica História

A natação faz parte do programa paralímpico desde os primeiros Jogos em Roma, 1960, e o número de atletas participantes vem crescendo a cada Paralimpíadas. Durante os Jogos de Londres, em 2012, 604 nadadores de 74 países competiram em 148 provas. A nadadora norte-americana Trischa Zorn é a atleta com maior número de medalhas em Paralimpíadas, com 32 ouros, nove pratas e cinco bronzes, conquistadas entre 1980 e 2004. Descrição: atletas com diversos tipos de deficiência (física e visual) competem em provas que vão de 50 aos 400m no estilo livre, dos 50 aos 100 metros nos estilos peito, costas e borboleta. O medley é disputado em provas de 150 e 200 metros. As provas são divididas na categoria masculino e feminino, seguindo as regras do IPC Swimming,

órgão responsável pela natação no Comitê Paralímpico Internacional. Adaptações: as adaptações são feitas nas largadas, viradas e chegadas. Os nadadores cegos recebem um aviso do tapper, por meio de um bastão com ponta de espuma quando estão se aproximando das bordas. A largada também pode ser feita na água, no caso de atletas de classes mais baixas, que não conseguem sair do bloco. As baterias são separadas de acordo com o grau e o tipo de deficiência. No Brasil, a modalidade é administrada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro.

Classificação funcional

O atleta é submetido à equipe de classificação, que procederá a análise de resíduos musculares por meio de testes de força muscular, mobilidade articular e testes motores (realizados dentro


Curiosidade

A classificação do revezamento é feita de acordo com a deficiência de cada atleta da equipe. Cada classe tem uma pontuação e, somadas, não podem ultrapassar o estipulado para a prova. No caso do revezamento 4x100m livre, as equipes não podem exceder os 34 pontos. A equipe brasileira, por exemplo, contou com André Brasil e Phelipe Rodrigues, na classe S10, Daniel Dias, S5, e Ruiter Silva, na S9, para essa prova no Mundial de Montreal.

Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

da água). Vale a regra de que quanto maior a deficiência, menor o número da classe. As classes sempre começam com a letra S (swimming) e o atleta pode ter classificações diferentes para o nado peito (SB) e o medley (SM): S1 a S10 / SB1 a SB9 / SM1 a SM10 nadadores com limitações físico-motoras. S11, SB11, SM11 S12, SB12, SM12 S13, SB13, SM13 – nadadores com deficiência visual (a classificação neste caso é a mesma do judô e futebol de cinco). S14, SB14, SM14 – nadadores com deficiência intelectual.

entre o Ministério do Esporte e o Comitê Paralímpico Brasileiro, que tornou possível o custeio de todas as despesas da delegação brasileira em Montreal. Antes de chegar ao mundial, 12 dos 25 atletas que representaram o país em Montreal passaram dez dias na cidade de La Loma, no México, fazendo treinamentos em altitude. Entre eles estavam os medalhistas: Edênia Garcia, Joana Neves, Matheus Rheine, Roberto Alcalde, Susana Schnarndorf e Talisson Glock.

Daniel Dias ganhou 6 medalhas de ouro e 2 de prata no Mundial de Montreal


Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Quadro de Medalhas da Natação Brasileira em Paralimpíadas:

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“Aqueles treino foram sofridos, pesados, mas foram muito importantes”, disse Roberto Alcalde, depois da conquista do ouro, lembrando o quanto o trabalho no México foi necessário. Parte da programação de treinamento antes do Parapan-Americano de Guadalajara-2011 e dos Jogos de Londres-2012, o treino em altitude tem como objetivo fazer com que os atletas ganhem mais resistência. Para a adaptação ao ar mais rarefeito, o corpo aumenta o número de glóbulos vermelhos no sangue, elevando a capacidade de transportar oxigênio pelo sangue, o que melho-

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ra o desempenho aeróbico do nadador que vai competir ao nível do mar. A preparação dos nadadores é um projeto de longo prazo do CPB que inclui, além do treinamento em altitude, programas feitos sob medidas para proporcionar o desenvolvimento dos atletas de alto rendimento e também iniciativas direcionadas à comissão técnica. Entre os programas, que também beneficiam outras modalidades além da natação, estão o Time São Paulo, parceria com o governo do Estado de São Paulo e CPB; Time Rio, com a prefeitura do Rio de Janeiro; e Loterias Caixa que investirá R$ 120 milhões até 2016.


RELAÇÃO DE MEDALHAS

CONQUISTADAS PELO BRASIL NO MUNDIAL DE NATAÇÃO PARALÍMPICA DE MONTREAL EM 2013 Ouro

200m livre, S5, masculino – Daniel Dias 100m livre, S5, masculino – Daniel Dias 200m medley, SM5, masculino – Daniel Dias 50m costas, S5, masculino – Daniel Dias 50m livre, S5, masculino – Daniel Dias 100m borboleta, S10, masculino – André Brasil 100m livre, S10, masculino – André Brasil 50m livre, S10, masculino – André Brasil 100m peito, SB5, masculino – Roberto Alcalde 100m peito, SB6, feminino – Susana Schnarndorf Revezamento 4×50 livre, masculino (20 pontos)

Prata

100m costas, S10, masculino – André Brasil 200m medley, SM10, masculino – André Brasil 200m medley, SM6, masculino – Talisson Glock 100m livre, S6, masculino – Talisson Glock 400m livre, S11, masculino – Matheus Rheine 50m borboleta, S5, masculino – Daniel Dias 50m livre, S10, masculino – Phelipe Rodrigues 50m costas, S4, feminino – Edênia Garcia Revezamento 4×100 livre (34 pontos)

Bronze

100m livre, S10, masculino – Phelipe Rodrigues 100m livre, S11, masculino – Matheus Rheine 400m livre, S6, feminino – Susana Schnarndorf 200m livre, S5, feminino – Joana Neves 50m borboleta, S5, feminino – Joana Neves 50m livre, S5, feminino – Joana Neves


Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

O planejamento e os investimentos vão de encontro ao desafio de fazer bonito nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, afinal o Brasil será anfitrião e protagonista dos maiores eventos esportivos do mundo. No âmbito paralímpico, o CPB desenvolveu um planejamento estratégico para o período 2010-2016 que prevê inúmeros projetos e programas para cumprir a meta de posicionar o país entre as cinco maiores potências do esporte paralímpico mundial. Só para a natação estão destinados R$ 22.118.889,30 (2010-2016) que estão sendo aplicados em recursos humanos, administração, capacitação, suporte, eventos nacionais e internacionais, materiais e equipamentos. Mas antes de Rio 2016, a natação terá pela frente um desafio tão importante quanto: o Parapan-Americano, em Toronto, Canadá em 2015, a meta é ficar em primeiro lugar no quadro de medalhas. Além dos esforços em prol do treinamento dos atletas, o CPB também está atento à preparação da Comissão Técnica da Natação, algo em torno de 16

André Brasil, outro destaque da equipe brasileira, grande esperança para os jogo no Brasil em 2016

profissionais, entre técnicos nacionais, fisioterapeuta e fisiologista. Por meio da Academia Paralímpica Brasileira, são ministrados cursos periódicos para a equipe técnica. Enquanto os brasileiros torcem para que a cena descrita na piscina Estádio Olímpico de Desportos Aquáticos do Rio de Janeiro, em 2016, torne-se cada vez mais próxima da realidade; os nadadores paralímpicos caem nas piscinas nas etapas nacionais do Circuito Caixa Loterias, no Mundial de Glasgow, na Escócia, em 2015, e Parapan-Americano 2015.


Imagem: Marcio Rodrigues/CPB Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Os medalhistas do Mundial de Natação Paralímpica André Brasil Esteves Vítima de poliomielite, aos três meses de idade, que deixou uma pequena sequela na perna esquerda conheceu a natação como forma de reabilitação. Em 2005, ingressou no paradesporto sem deixar de disputar competições com atletas sem deficiência. Aos 29 anos, possui títulos de destaque como os três ouros e duas pratas nas Paralimpíadas de Londres e quatro ouros e uma prata nas Paralimpíadas de Pequim.

Daniel de Faria Dias Ganhador de dois troféus Laureus, o “Oscar do Esporte”, Daniel nasceu com má formação congênita dos membros superiores e perna direita. Apaixonado por esportes, após o pai assistir a uma palestra do fundador da Associação Desportiva para Deficientes, Daniel começou a nadar e não parou mais. No currículo, acumula seis ouros nas Paralimpíadas de Londres e quatro ouros, quatro pratas e um bronze em Pequim.

Edênia Nogueira Garcia Portadora de polineuropatia sensitiva motora, doença progressiva que prejudica o movimento dos membros superiores e inferiores, foi incentivada pelos pais e viu que tinha potencial para ser atleta profissional. Começou a competir em 2001 e aos 26 anos possui títulos importantes como o tricampeonato mundial nos 50m costas (2002, 2006 e 2010) e a prata nas Paralimpíadas de Londres.


Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

Joana Maria Jaciara da Silva Neves Portadora de acondroplasia (nanismo desproporcional, causado por mutações genéticas), começou a praticar natação por recomendação médica e, aos 13 anos, passou a competir. Aos 26 anos, nada nas classes S5, SB5 e SM5, tendo no currículo o bronze nas Paralimpíadas de Londres 2012 e quatro ouros nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara 2011.

Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Matheus Rheine Corrêa de Souza Com 21 anos, o nadador das classes S11, SB11 e SM11 é uma das promessas paralímpicas brasileira. Nos primeiros dias de vida perdeu a visão, iniciando na natação aos 3 anos e em competições em 2007. Entre os títulos de destaque está a prata no Mundial do Canadá e a prata nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara 2011.

Phelipe Andrews Melo Rodrigues O nadador entrou para o desporto em 2008 e hoje aos 23 anos já acumula medalhas importantes como a prata nas Paralimpíadas de Londres-2012 e dois ouros e três prata nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara 2011. Phelipe nasceu com má formação congênita no pé direito e começou a nadar aos 4 anos, por recomendação médica.


Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB Imagem: Marcelo Regua/MPIX/CPB

Susana Schnarndorf Ribeiro Ex-triatleta, é dona de cinco títulos brasileiros no Triatlo e o ouro nos 100m peito no Mundial de Montreal foi seu primeiro título internacional. A gaúcha descobriu que tinha um tipo raro de Mal de Parkinson, que afeta a mobilidade do lado esquerdo do corpo, em 2005. Em 2010, conheceu o paradesporto e, em Londres, participou da primeira Paralimpíada.

Imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Roberto Alcalde Rodriguez Uma das revelações da natação paralímpica brasileira, Roberto tem 21 anos e nada nas classes S6, SB5 e SM6. Portador de mielomeningocele, uma má formação congênita na coluna vertebral, começou a nadar aos oito meses por recomendação médica. Foi um dos medalhistas de ouro do Brasil no Mundial de Montreal.

Talisson Henrique Glock Vítima de um acidente de trem aos 9 anos, perdeu o braço e a perna esquerdos. Convidado para participar do Centro Esportivo para Pessoas Especiais, em 2004, passou a se dedicar à natação. Caçula da Seleção Brasileira de natação, com 18 anos, é uma das revelações da piscina paralímpica. Além das duas pratas em Montreal, possui dois ouros conquistados no Parapan-Americanos de Guadalajara 2011.


INFORME PUBLICITÁRIO

eSCOLA DE eSPORTE aDAPTADO O Projeto Em 2001, a ADD criou o Programa Crianças que tinha por objetivo proporcionar às crianças com deficiência física seu desenvolvimento por meio do esporte. Essa iniciativa, pioneira no Brasil, destinava-se, essencialmente, à prática do basquete em cadeira de rodas. A experiência adquirida durante nove anos de trabalho trouxe um conhecimento mais amplo nos aspectos fundamentais sobre o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, fomentanto assim a criação de um novo projeto mais abrangente. Em 2010, nasce a ADD Escola de Esporte Adaptado, uma iniciativa que traz um novo olhar para o paradesporto infantil e juvenil. Além do trabalho específico vinculado ao esporte, os alunos também têm acesso a outras atividades pedagógicas para auxílio no processo de desenvolvimento da criança.

Abordagem Multidisciplinar Na ADD Escola de Esporte Adaptado, os alunos contam com o excelente trabalho de profissionais da área de educação física e da equipe multidisciplinar formada por fisioterapeuta, psicopedagogo, psicólogo e nutricionista. Os atendimentos são realizados na sede da ADD durante a semana e também no contraturno das aulas aos sábados. • Fisioterapia: avaliação e identificação das necessidades específicas dos alunos, seleção e apontamento daqueles que precisam de fisioterapia individual e também promoção de palestras para os pais e professores. • Psicopedagogia: identificação e avaliação das dificuldades de aprendizagem e seus possíveis sintomas para intervir de forma positiva para melhorar o desempenho acadêmico, focando sempre nas possibilidades de aprendizagem da criança/adolescente e não em suas deficiências. • Psicologia: acompanhamento do desenvolvimento psicológico (emocional, comportamental e cognitivo)

dos alunos identificando as variáveis de interferência para uma correta intervenção e orientação psicológica junto à equipe multiprofissional e aos participantes. • Nutrição: avaliação da composição corporal dos alunos, adequação de sua alimentação às condições individuais de cada criança e monitoramento da sua evolução. Orientação para uma alimentação pré e pós-atividade, e prescrição às famílias para o balanceamento das dietas, quando necessário.


PERFIL

Atletismo

Acordar cedo, tomar banho e vestir o uniforme todos os sábados faz parte da rotina de Murilo Pereira da Silva Freitas de 12 anos que, acompanhado pelos pais, participa do projeto ADD Escola de Esporte Adaptado. “Gosto muito de praticar esportes na ADD, principalmente corrida e, sabe, corro muito”, diz Murilo, que tem Síndrome da Down e frequenta as aulas de Atletismo II. A mãe, Leonilda Pereira da Silva Freitas conta que ele não falta aos treinos e faz questão de convidar as pessoas que ele gosta para vê-lo participar de algum evento esportivo como, por exemplo, da São Silvestrinha. “Depois que iniciamos essa atividade aqui na ADD há dois anos, percebi o quanto se adapta tranquilamente em qualquer ambiente e isso faz muito bem para ele”, diz Leonilda. Além de praticar o Atletismo, Murilo também participa das aulas de Xadrez na escola onde frequenta o 7º ano do Ensino Fundamental.

O Atletismo trabalha as habilidades e capacidades físicas básicas do aluno. “Dentro das diversas provas desta modalidade (Arremesso, Lançamento, Corridas de Fundo e Velocidade) e de acordo com suas classificações funcionais, buscamos detectar as provas nas quais os participantes tenham maior aptidão e incentivar sua prática de modo espontâneo”, diz o professor de Atletismo em Cadeira de Rodas da ADD, Fabio Bellicieri. Logo após as primeiras aulas, já é possível perceber os resultados positivos que a atividade esportiva promove aos alunos. Segundo o professor, eles se tornam mais participativos e compreensivos com as dificuldades apresentadas pelos colegas, tornam-se amigos, dividem suas dificuldades e conquistas. “Em cada aula as execuções das atividades ficam mais sólidas, nota-se aumento da resistência do aluno no toque da cadeira o que naturalmente melhora a sua autonomia e independência no dia a dia”, afirma Bellicieri. Na ADD Escola de Esporte Adaptado, a modalidade está dividida da seguinte forma: Atletismo CR e Ciclismo, idade de 9 a 18 anos para paralisados cerebrais, mielomeningocele amputados de membros inferiores. Atletismo I, idade de 9 a 13 anos para paralisados cerebrais. Atletismo II, idade de 10 a 18 anos, para paralisados cerebrais, deficientes intelectuais (Síndrome de Down e Autismo) e amputados de membros superiores.

PATROCíNIO:


Fernando Aranha praticando o esqui cross-country

Imagem: Mateus Nascimento

Multi atleta

Avenidas, pistas de ciclismo, atletismo e esqui sรฃo cenรกrios da histรณria de amor de Fernando Aranha com o esporte

Por Claudete Oliveira


Imagem: Arquivo Pessoal

Houve um tempo em que alunos com deficiência eram dispensados das aulas de educação física por causa de suas limitações. Se essa era uma regra, o atleta Fernando Aranha, que usa cadeira de rodas por causa da sequela de poliomielite, era uma exceção já que durante toda a infância vivida no internato Pequeno Cotolengo de São Luiz Orione, em Cotia/SP, ele levava uma vida puramente ativa, se destacava em jogos e brincadeiras. Era o garoto conhecido como o bagunceiro da casa. Subia em telhados, pulava muros e aprontava com os colegas. Toda essa molecagem, de certo modo, contribuiu para o desenvolvimento da agilidade e da consciência do seu corpo para usá-lo mais tarde no esporte. A primeira modalidade esportiva que começou a praticar foi o basquete, mas logo partiu para os esportes individuais. “Estudava em um colégio em Cotia e treinava em São Paulo. Quando comecei a faculdade ficou difícil conciliar os dois, pois não me sentia muito proveitoso para o time, o que me fez deixar o basquete e experimentar o atletismo, o qual eu podia treinar de maneira mais livre, tanto com relação a horários e locais”, diz Aranha, que é formado em Comunicação Social, com habilitação em Rádio e trabalha SP-Telefilm Productions. O atleta não teve muito contato com sua família biológica, mas através do esporte, criou laços com pessoas que considera sua família. “Meus amigos sempre me incentivavam e ainda me incentivam muito. Acredito que o fato de eu estar sempre me divertindo com a prática de esportes seja uma inspiração não só para mim, mas para todos eles também.”

Fernando começou no Basquete mas depois optou pelas modalidades individuais


Imagem: Instituto Mara Gabrilli

Enquanto cursava a faculdade, Aranha praticava esporte para o benefício de sua saúde, como forma de reabilitação. Isso o conduziu aos esportes de resistência, como as maratonas e para melhorar sua performance, foi atrás de uma handbike, que o levou para o ciclismo com o qual tem se destacado. Após concluir os estudos, voltou de corpo e alma para o esporte competitivo. Hoje, aos 35 anos, avenidas, velódromos e pistas de atletismo não são páreos para esse multiatleta que é dono de um currículo esportivo recheado de conquistas. Sua história no esporte é sucesso comprovado. No ciclismo, coleciona oito títulos nacionais, sendo quatro Contra Relógio e quatro de Resistência. Venceu por três vezes a Maratona de São Paulo e cinco vezes a São Silvestre. Já no Paratriathlon, que mistura natação, bicicleta e atletismo, ele é bicampeão brasileiro e garantiu a medalha de bronze no Mundial de Paratriathlon disputado em Beijing 2011, na China. “Fiquei muito feliz quando conquistei o 3º lugar neste mundial, pois enfrentei os melhores do mundo e vi que era possível fazer melhor ainda. Toda competição é uma história completa que me estimula a seguir em frente.”

Aranha, dono de 8 títulos nacionais no ciclismo

Em busca de novas conquistas

E como prova disto, Aranha está a caminho de ser o primeiro atleta brasileiro a participar de uma Paralimpíada de Inverno. Seu novo desafio é o esqui crosscountry, modalidade que pretende disputar nos jogos que serão realizados em Sochi, na Rússia, de 7 a 16 de março de 2014. Para marcar presença nessa competição, o triatleta está treinando intensamente. Com o apoio da Confederação Brasileira de Desportos de Neve (CBDN) foi à Europa praticar o esqui duas vezes em mundiais. Aranha conta que cada prova foi uma experiência única de aprendizado. No mundial da Finlândia, em dezembro de


2012, ele caiu várias vezes, deu passagem, tentou ficar em pé e sofreu muito com o frio, mas o resultado, mesmo não tendo conseguido o índice paralímpico, foi bastante animador, pois ficou bem próximo. Conquistou 185 pontos – sendo que para conseguir a vaga em um torneio o atleta precisa obter menos de 180. Já no mundial da Suécia, realizado em fevereiro, o nível e número dos atletas adversários aumentou bastante, pois era a etapa final. Ele teve a oportunidade de acompanhar de perto atletas muito bem cotados de vários países. “Coloquei à prova as minhas melhorias e continuei próximo do índice. Isso é sinal de evolução”, comemora Aranha. No Brasil, o treinamento para a modalidade continua firme e forte, mesmo sem neve. O triatleta desenvolveu uma técnica para treinar o esqui cross-country nas ruas de São Paulo. “Treinar na neve é essencial, mas é possível similar parte da modalidade no seco também com o uso de Rollers Ski e bastão com pontas próprias para asfalto”, diz Aranha, que usa a própria cadeira de rodas para simular o sitski. Realmente, nada parece ser empecilho para ele nem mesmo o nosso clima tropical.

Classificatórias

Imagem: Instituto Mara Gabrilli

Até Sochi 2014, três competições classificatórias estão programadas para acontecer: 7 e 8 de dezembro em Canmore, no Canadá 6 e 7 de janeiro em Vuokatti, na Finlândia

14 e 15 de janeiro em Oberstdorf, na Alemanha

Muito treino e dedicação para alcançar suas vitórias

O triatleta desenvolveu uma técnica para treinar o esqui cross-country nas ruas de São Paulo. “Treinar na neve é essencial, mas é possível similar parte da modalidade no seco também com o uso de Rollers Ski e bastão com pontas próprias para asfalto”


Em agosto deste ano, esteve por duas semanas treinando em Ushuaia, na Argentina, para ter mais contato com a neve e desenvolver equipamentos e condições ideais de competição. Tem se mantido ativo, disputando ainda com qualidade os esportes de verão no Brasil. Representou o país no Mundial de Paratriathlon realizado de 9 a 15 de setembro, em Londres, no qual Aranha obteve a 8ª colocação na categoria TR-1. Também está se preparando fisicamente com o apoio da CBDN e da Bodytech academia para a temporada do esqui cross-country 2013-2014. “Hoje, tenho o paratriathlon como meta de trabalho, pois é a modalidade com a qual melhor me identifico pelo grau de competitividade e dificuldade. Mas, tenho me atentado ao planejamento para a disputa do esqui cross-country e os desafios trazidos pela proximidade dos jogos.” Fernando Aranha também pretende disputar as Paralimpíadas de 2016, no Rio. “Minha intenção é ser medalhista pelo paratriathlon. Isso me tornaria um atleta realizado.”

Imagem: Mateus Nascimento

Preparo para a temporada do esqui crosscountry 2013-2014


Terezinha e Guilherme recebem medalha na Paralimpíada de Londres

Imagem: Bruno de Lima/CPB

Na direção de seus olhos

Atletas cegos e seus guias trabalham em sintonia para conseguir bom desempenho nas competições

Por Claudete Oliveira


Eu não seria a melhor atleta do mudo se eu não tivesse o melhor guia do mundo

Uma parceria que trouxe muitos resultados positivos para o Brasil

menos corre o risco de lesionar e não ter a desenvoltura do atleta e acaba atrapalhando o seu rendimento

Imagem: Buda Mendes/CPB

Essa frase é dita com muito orgulho por Terezinha Guilhermina sempre que alguém pergunta o quanto ela confia em seu guia. Maior medalhista da história do paradesporto brasileiro em sua categoria (classe T11 – cega total) a atleta coleciona 6 recordes mundiais. Considerada a velocista mais rápida do planeta. Além dos recordes nos 100m, 200m e 400m conquistados no Mundial de Lyon, na França este ano e mais três recordes no Mundial de Nova Zelândia, em 2011, Terezinha também foi campeã nos 100m e nos 200m nas Paralimpíadas de Londres, em 2012. Em Pequim 2008, ela conquistou medalhas de ouro nos 200m, prata nos 100m, e bronze nos 400m. Mas tanto feito não seria possível sem a dedicação do guia Guilherme Santana, parceiro de Terezinha nas conquistas, seus olhos em todas as provas. “É preciso ter um guia que você confie e que te permita chegar ao melhor da sua condição física”, diz a atleta, que treina de 3 a 6 horas por dia em academia e pista de atletismo em Maringá (PR), onde mora. Já o guia deve ter até 20% a mais de preparo físico do que o atleta, para que, quando este estiver em seu desempenho máximo, o guia não precise chegar ao limite também. “Se treinar menos corre o risco de lesionar e não ter a desenvoltura do atleta e acaba atrapalhando o seu rendimento”, Se treinar explica Guilherme.


Imagem: Patricia Santos/CPB

Uma imagem marcante na Paralimpíada de Londres. Terezinha não completou a prova sem o seu guia

Você sabia?

Desde 2011, o atleta-guia, que corre ao lado do atleta cego nas paralimpíadas, também recebe medalha. A criação do prêmio para incentivar os guias foi anunciado no Mundial de Atletismo da Nova Zelândia. Oito meses depois, durante o Pan-americano de Guadalajara, os atletas-guias já passaram a receber medalhas ao lado dos atletas guiados.

Marleide recebendo a única medalha brasileira no Paratriathlon ao lado da guia Verônica.

Imagem: Ana Lúcia Cantlay

O trabalho em conjunto com o guia é fundamental para o bom desempenho nas competições. Durante os treinos e nas provas, o guia deve expressar as informações através do contato e da fala com clareza. “O Guilherme apenas me passa os comandos que preciso no momento da prova. Avisa quando entro em uma reta ou curva e quando estamos chegando à reta final ele diz a palavra tronco para que eu possa me posicionar adequadamente. Para um atleta da minha classe o guia é fundamental. Não tem como treinar e realizar as provas sem ele”, afirma Terezinha. A parceria entre a atleta e o guia pôde ser notada em uma das cenas mais marcantes dos Jogos nas Paralimpíadas de Londres. Na final dos 400m, Guilherme sentiu dores nas pernas e se jogou no chão para não comprometer as provas em que Terezinha tinha mais chances de medalha. Quando notou a desistência, a velocista repetiu o gesto e esperou seu guia para juntos terminarem a prova em último.


Pedalando com os olhos do guia

Imagem: Mundo Tri

A triatleta Marleide da Silva e a guia Verônica Martins durante a prova de atletismo no Mundial de Paratriathlon, em Londres 2013

Essa relação de cumplicidade também acontece entre o guia e o atleta que pratica ciclismo Tandem, uma categoria do ciclismo Paralímpico, em que o para atleta pedala com a ajuda do atleta-guia. A bicicleta tem dois assentos e ambos os ocupantes pedalam em sintonia. Na frente, vai um ciclista vidente e no banco de trás, o atleta cego. É pedalando dessa maneira que a triatleta Marleide da Silva, que disputa as provas do triathlon (ciclismo, natação e corrida) em sua categoria (classe TRI-6a – cega total), com a ajuda de sua guia Verônica Martins, trouxe para casa a medalha de bronze conquistada no Mundial de Paratriathlon disputado no dia 13 de setembro, em Londres. Na capital inglesa, o circuito teve as seguintes distâncias: 750m de natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida. Marleide completou todas as provas em 2.06:36. O bronze foi a única medalha do paratriathlon brasileiro em Londres.


Imagem: Mundo Tri

“Durante os treinos conversamos muito sobre táticas, pontos fortes e pontos fracos a trabalhar para melhorar o desempenho nas competições”, conta Verônica. Antes do mundial, a guia e a atleta tiveram pouco mais de um mês para treinar, mas a tranquilidade e a atenção de Verônica foram essenciais para que Marleide se sentisse segura e confiante.

De guia a para-atleta

Apesar do pouco tempo para treinar, o resultado de Londres mostrou ótimo entrosamento entre guia e atleta

Imagem: Instituto Superar

Conhecido por ter disputado grandes competições internacionais, como atleta-guia, durante 13 anos ao lado de estrelas do paradesporto como Adria Rocha, Terezinha Guilhermina e Lucas Prado. Agora, de coadjuvante, ele passou a ser o ator principal de uma história de superação. De guia a para-atleta. Essa é a nova fase da vida de Jorge Luiz Silva de Souza, o Chocolate. Em pouco tempo como atleta paralímpico, já conquistou 8 medalhas. Mas essa mudança não foi nada fácil. Em 2011, começou a ter dificuldades para enxergar. Já em 2012, após uma bateria de exames descobriu que estava com Neurite Óptica, uma inflamação do nervo óptico que pode resultar na perda parcial ou total da visão. Chocolate já perdeu 30% da visão e, de acordo com os médicos, a doença ainda pode evoluir. Para Chocolate, toda carreira no esporte foi um aprendizado para o que ele está enfrentando agora.


Steven Dubner

A distância mais longa é entre a cabeça e o coração A frase de Thomas Merton parece tão simples e desafiadora que imaginei ser exata para este momento: o lançamento da primeira revista digital que traz todos os tipos e formas de esportes para pessoas com deficiência, única em se comunicar de maneira acessível aos seus leitores e sem limite de tiragem ou distribuição. Um grande desafio, não? Mas, talvez, a grande superação seja transpor a aparente simplicidade e certamente desafiadora distância entre a cabeça e o coração. Vamos pensar juntos no sentido dessa frase: “a distância mais longa é entre a cabeça e o coração”. Você pode ter certeza que não é uma Maratona (42,195 km), um Ironman (3.8 km de natação + 180,2 km de ciclismo + 42,2 km de corrida) ou até mesmo a Caminhada de Compostela (algo em torno de 850 km). Sim... a distância mais longa é entre a cabeça e o coração. Parece absurdamente simples e quando você realmente entender é fatal, é como se fosse um “click”... tudo se encaixa. É um grito que desperta para as infinitas possibilidades do que cada ser humano pode vir a ser. Pode começar pelo modo como você encara o mundo. A forma como escolhemos olhar para o mundo, cria o mundo que vemos. E felicidade também é uma questão de escolha: ser feliz e em sintonia com seu jeito. Não dá para ser feliz em cima das escolhas do outro. E, novamente, chega a ser absurdamente simples... se uma pessoa estiver feliz, todos em sua volta também estarão. Trabalho há muitos anos com esporte para pessoas

com deficiência e vivenciei nesses anos o poder de transformação que o esporte tem. Ele é uma fonte extraordinária de motivação, qualidade de vida e superação. Se por um lado havia as barreiras da falta de conhecimento, equipamentos e acessibilidade da cidade, havia muita vontade para começar a se movimentar, conviver com outras pessoas, curtir o momento e assim... eles transformaram suas vidas e de quem estava em sua volta. Porque não há coisa melhor do mundo que estar vivo, poder acordar de manhã e ter a consciência de que realmente estamos vivos, poder olhar para as pessoas, tocar nas pessoas, sentir as pessoas, ouvir música, sentir gosto de comida, sentir aromas maravilhosos, sentir o amor, compaixão, felicidade e até tristeza e medos. Afinal, se a vida fosse muito fácil, sem problemas e desafios, seria muito chata de se viver. Basta apenas dar o primeiro passo na direção entre a sua cabeça e o seu coração. Foi isso que fizeram centenas de pessoas com deficiência que hoje conhecem e praticam o esporte adaptado, seja por lazer, inclusão social ou profissionalmente. É isso que está fazendo a Áurea Editora ao lançar a ParaSports, transpondo a barreira do papel, realizando as adaptações inerentes desse movimento em direção ao multimídia e assumindo o desafio de fomentar o conhecimento sobre o paradesporto no Brasil. E que seja assim com você também: dê o primeiro passo e vença a distância entre a cabeça e o coração!

Imagem: Divulgação ADD

Steven Dubner é palestrante e fundador da ADD – Associação Desportiva para Deficientes


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