revista da editora da ufsc
junho 2015
#19
Homenagem à reportagem • O Kwarùp de Takumã • Poesia como ventriloquismo • Universidade e crise • A rosa púrpura da filosofia no ensino médio • A reiteração fóbica do estrangeiro • Dois crimes, quatro cidades • Fotografia: Virgínia Rodrigues
expediente
reprodução
André Pereira (Porto Alegre, 1952), é jornalista, com pós-graduação em Jornalismo Literário. Autor de Éticas (Editora
Federal, 2000); Os Monges Barbudos — O massacre do fundão, com Carlos Wagner (Mercado Aberto, 1981); e Guerra dos Bugres: a saga da Nação Caingangue no Rio Grande do Sul, com Carlos Wagner e Humberto Andreatta (Editora Tchê, 1986), entre outros.
jornalismo
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Homenagem à reportagem Em sua missão de desvendar a verdade possível da guerra do Paraguai, Mauro César Silveira mostra como a imprensa brasileira contribuiu vergonhosamente para a deformação completa dos fatos narrados à época André Pereira Agora se sabe: o paraguaio Francisco Solano López não foi o santo injustiçado como alguns queriam, nem o demônio sanguinário como muitos outros propagavam — dependendo, é claro, de que lado dos interesses se observava a questão. E o vizinho Paraguai não é apenas a nação
revista da editora da ufsc
junho 2015
#19
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitora Roselane Neckel Vice-Reitora Lúcia Helena Martins Pacheco EDITORA DA UFSC Diretor Executivo Fábio Lopes da Silva Conselho Editorial Fábio Lopes da Silva (Presidente) Ana Lice Brancher
Andréa Vieira Zanella Andréia Guerini Clélia Maria de Mello Campigotto Luis Alberto Gómez João Luiz Dornelles Bastos Marilda Aparecida de Oliveira Effting Editor Dorva Rezende Planejamento gráfico Ayrton Cruz Foto da capa Ayrton Cruz Revisão Aline Valim Gráfica Rocha Tiragem 1,5 mil exemplares
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mergulhada no preconceito generalizado que dota o país com o uísque falso da piada recorrente, com a folclórica mulher paraguaia da canção popularesca e com os grotões do fim do mundo que tão bem servem às metáforas pejorativas da imprensa nacional. López foi classificado como vilão em seu próprio país durante 66 anos, sendo
Campus Universitário — Trindade Caixa Postal 476 88010-970 — Florianópolis/SC Fones: (48) 3721-9408, 3721-9605 e 3721-9686 editora@editora.ufsc.br www.editora.ufsc.br www.facebook.com/editora.ufsc.5
oficialmente recuperado como herói nacional do Paraguai apenas em 1936. Nestas plagas brasileiras, sempre foi considerado mais carrasco do que vítima errante dos historiadores. Agora, A batalha de papel — a charge como arma na guerra do Paraguai, de Mauro César Silveira (EdUFSC, 2015, 1.a edição reimpressa), põe as coisas nos seus devidos lugares. Confrontando opiniões apaixonadas e esmiuçando versões oficialistas, a obra converte-se em um importante documento histórico de resgate sobre o período da chamada Guerra do Paraguai, em que morreram pelo menos 600 mil soldados entre 1864 e 1870. Os conflitos, na verdade, são reapresentados em duas vias: a das batalhas reais do exército paraguaio frente à Tríplice Aliança composta pela parceria Argentina/Uruguai/Brasil — mas de fato liderada pelos brasileiros — e, especialmente, a das guerrilhas de papel encenadas pelas penas dos desenhistas dos periódicos da Corte de D. Pedro II, compondo um maniqueísta imaginário social da época. Mais do que isolar-se nesse espaço de tempo, porém, o autor recua a períodos anteriores e extrai do passado provas incontestáveis da importância política, social e econômica do Paraguai no contexto da época em que — pasmem — chegou a ser considerado o único país independente no continente sul-americano. Reencontra também Solano López, garoto de 15 anos já chefiando um pelotão da Guarda Nacional, aos 17 ungido ao posto de General de Brigada, aos 26 comandando uma missão diplomática à Europa, e segue seus passos rumo ao governo absolutista que inicia em 1862, mostrando com o máximo de dados confiáveis possível o homem que conduz seu país com mão de ferro e que acaba morto em março de 1870 no campo de batalha de Cerro Corá. Dono de personalidade dúbia e secundado por uma companheira que “roubou” na Europa — uma conveniente irlandesa conhecida como Madame Lynch —, Solano López é, de fato, um prato cheio para os chargistas. Mas, exatamente por isso, desvendá-lo é uma missão extremamente dificultada para o pesquisador que busca a isenção. E, mesmo respeitando dúvidas específicas sobre López, o autor deixa claramente expostas as grossas e deslavadas mentiras que os caricaturistas da Imprensa da Corte nacional propagandearam nos anos da Guerra, com uma propositada visão tendenciosa opondo a barbárie paraguaia à ação civilizadora do Brasil e seus aliados, com efeitos posteriores danosos para a imagem do país ao lado. Além do impacto documental, o livro é, ainda, uma aula de jornalismo, constituindo-se em uma grande reportagem dotada de todos os ingredientes de um trabalho investigativo, emoldurado por texto agradável que dinamiza a leitura e apaixona leitores, por mais leigos que sejam
na temática. Convém destacar essa linguagem atrativa porque o autor enfrenta a necessidade do rigorismo científico com um texto enxuto. Destituído de palavras desnecessárias e econômico em citações bibliográficas, o texto recorre a preciosos depoimentos transcritos em língua espanhola que dão ambiente verbal adequado à narrativa. Inconformado e cético, como convém aos bons repórteres, Mauro César Silveira exercita, em sua busca pelos dados corretos, a prática da persistência, da desconfiança e da denúncia que o tornou conhecido como bom profissional durante as duas décadas em que atuou na imprensa do Rio Grande do Sul — a maior parte — e do Rio de Janeiro. Paciente nas pesquisas (leu 136 publicações e vasculhou bibliotecas brasileiras e estrangeiras), impiedoso ao contestar dados equivocados e experimentado na reportagem de convívio com situações contraditórias, Mauro César Silveira vai reabrindo com determinação cirúrgica as cicatrizes do passado, desvendando os baús do historicismo oficial e costurando informações que descobre diluídas em narrativas esparsas. E, seguindo a máxima tão cara ao jornalista íntegro, doa a quem doer, tanto se debate que a verdade possível acaba por aparecer. A contribuição do autor, porém, ultrapassa os campos da pesquisa histórica e mesmo do estudo intrincado dos signos visuais, trafegando nos domínios do jornalismo e, deliberadamente, invadindo a questão maior da ética da informação. Não é essa a indagação principal do livro, naturalmente, mas ela está presente desde o início na proposta de questionar a intenção dos caricaturistas da Corte brasileira sobre o inimigo de Guerra. A dura e crua verdade é que, utilizando basicamente a charge — mote maior da pesquisa — amparada em textos-legendas e editoriais, a imprensa brasileira contribuiu vergonhosamente para a deformação completa dos fatos narrados à época. A angústia subliminar proposta — intencionalmente ou não — que emerge de A batalha de papel aponta para uma obrigatória transposição temporal na qual emerge a indagação legítima a ser feita por toda a sociedade nos dias de hoje: a imprensa está mesmo retratando com fidelidade os nossos fatos reais? Ou, apesar da parafernália digital que lhe concede status de modernidade e do discurso competitivista neoliberal, acocora-se solenemente com o mesmo ufanismo do jornalismo do século passado diante do oficialismo? É conveniente sabermos bem a resposta, pois não estamos livres de depararmos com um pesquisador/repórter da estirpe de Mauro César Silveira, desencavando nossos erros e nos condenando impiedosamente por representarmos, ainda hoje, por omissão profissional ou por submissão enquanto cidadãos, a mesma dolorosa farsa, com as mesmas falsas caricaturas.
lançamentos da
EdUFSC
livros
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Darcy Ribeiro: A Razão Iracunda autor: Gilberto Felisberto Vasconcellos Ateu, laico, marxista, nacionalista e anti-imperialista. Assim era Darcy Ribeiro, um intelectual insubmisso, o que é cada vez mais raro nas ciências sociais, porque a dependência do país é desejada pela academia universitária. Praticante de uma razão iracunda, Darcy dedicou a vida encontrar solução para dois enigmas: Por que a classe dominante sempre vence? Por que o Brasil ainda não deu certo? Tais perguntas são o ponto de partida do grande ensaísta Gilberto Felisberto Vasconcellos em seu percurso pela obra de um dos mais importantes pensadores brasileiros da segunda metade do século 20.
Curral autor: Rubens da Cunha Concorrendo com outros 40 autores, Rubens da Cunha, com esta obra, foi o vencedor do Prêmio Cruz e Sousa 2014. O livro reúne 29 poemas do jovem escritor joinvillense. A respeito deles, escreve Péricles Prade no prefácio: “Sem dúvida, é o corpo que perpassa de forma ostensiva nas linhas e de forma subliminar nas entrelinhas dos poemas virtuosos [de Rubens da Cunha], consubstanciados pela densidade de constante e generosa tensão erótica.”
Ensaios sobre a Filosofia de Strawson organizadores: Jaimir Conte e Itamar Luís Gelain Nem toda crença mantida ou informação pretendida pode ser verificada ou testada através do testemunho dos nossos olhos e ouvidos; mas algumas podem e devem sê-lo. O ceticismo radical e universal (isto é, filosófico) é, na pior das hipóteses, sem sentido; na melhor, vazio. Mas uma das coisas que aprendemos com a experiência é que um ceticismo prático e seletivo é sábio, particularmente quando o que está em questão são as asserções de partes interessadas ou de pessoas com opiniões fortemente partidárias ou ideológicas, apesar de seu desinteresse no plano pessoal.
notas universitárias w Histórias na Ditadura (Santa Catarina 1964-1985), organizado por Ana Brancher e Reinaldo Lohn, acaba de ser premiado como melhor livro de História pela Academia Catarinense de Letras. w Resenha de Thiago Canstañon, publicada em 6 de junho, em O Globo, destacou Mímesis: desafio ao pensamento, de Luiz Costa Lima. De acordo com o autor, a publicação do livro é fruto de “corajosa iniciativa” da Editora da UFSC.
antropologia
Ritual funerário dos índios xinguanos, que acontecerá no final de junho, celebra o grande chefe Kamayurá falecido em 2014 e o seu legado de independência
O Kwarùp de Takumã
de Antropologia da UFSC e pesquisador do CNPq. Autor de A Festa da Jaguatirica (EdUFSC, 2013), entre outros livros.
RAFAEL MENEZES BASTOS (Salvador, 1945) é professor
Rafael de Menezes Bastos Nos dias 25 e 26 de julho, os Kamayurá da Terra Indígena do Xingu — antigo Parque Nacional do Xingu — realizarão o Kwarùp de Takumã, seu grande chefe e pajé falecido em 25 de agosto de 2014. O Kwarùp é um ritual funerário dos índios xinguanos dedicado aos chefes, no qual uma aldeia anfitriã recebe as demais da área para celebrar o morto. Takumã pertence a uma geração de líderes e chefes xinguanos notabilizados, entre outros fatores, por terem interagido intensamente com os célebres Irmãos Villas Bôas, criadores (1961) e administradores (Orlando, até 1978) do Parque. Eles chegaram ao Alto Xingu em meados dos anos 1940, à frente da Expedição Roncador-Xingu. Takumã nasceu em torno de 1935, primogênito do chefe Kutamapù. Então os Kamayurá viviam um momento marcado pela turbulência — em muitos casos, beligerância — das relações com os demais grupos indígenas, xinguanos e não-xinguanos, com outros grupos de fora da área e com os não-indígenas em torno dela. Os Kamayurá chegaram à região provavelmente no século 18, provenientes dos interflúvios Tapajós-Xingu e Xingu-Araguaia. A palavra “Kamayurá” originalmente não é da língua Kamayurá, sendo um termo aruaque (kamayúla) que indica o sentido de “mortos” (kamá) no “jirau” (yúla) — “mortos no jirau sendo moqueados”. O termo aponta para o canibalismo, sendo através dele que os hospedeiros forçados caribes e aruaques, habitantes antigos da região, designavam os tupis, inclusive os formadores dos futuros Kamayurá, que no século 18 invadiam o Alto Xingu, em fuga da predação dos ocupantes não-índios dos citados interflúvios, sedentos por terras e mão de obra escrava.
A chegada dos Irmãos Villas Bôas — Orlando, Cláudio e Leonardo — no Alto Xingu dá-se em 1946, constituindo o broto daquilo que no futuro veio a se tornar a pax xinguenesis, base naquela região do projeto geopolítico do Estado brasileiro. Em 1947, eles ergueram o Posto Jacaré, situado próximo ao hoje Posto Indígena Diauarum. O Jacaré, sob controle da Fundação Brasil Central até 1954, passou nessa data para a administração da Força Aérea Brasileira, que ali instalou o Destacamento Xingu. A referida chegada dos Villas Bôas inscreve-se no contexto da Expedição Roncador-Xingu, que, articuladamente com a Marcha para o Oeste, tem começo em 1943, durante o Estado Novo. As duas são implantadas por Vargas como pretensa reação à ameaça de ocupação do Centro-Oeste por países estrangeiros, tipicamente aqueles que, como a Alemanha nazista, professavam a doutrina do espaço vital. A disseminação de campos de pouso pelo Brasil Central, marca forte da Expedição, objetivava construir a rede de apoio terrestre necessária à rota aérea Rio-Manaus-Miami, estratégica na conjuntura da Segunda Guerra Mundial. A expedição também tinha como finalidade “desbravar o sertão”, tendo “pacificado” muitos grupos indígenas. De 1947 em diante, Takumã passou a manter contatos constantes com os Villas Bôas, com os trabalhadores que os acompanhavam e com outros não-índios, como o cinegrafista do Serviço de Proteção ao Índio Nilo Vellozo e os antropólogos Kalervo Oberg e Eduardo Galvão. Ele foi apelidado, inclusive, de Nilo. Em 1948, quando Oberg e Galvão visitaram os Kamayurá, estes somavam cerca de 110 pessoas. Datam de então os desentendimentos do pai de Takumã com os Villas Bôas. Takumã estava em plena época de reclusão pubertária, crucial para a formação do adulto, especialmente para os futuros chefes.
André Lavenère
4 Kutamapù reclamava dos Irmãos a presença do filho na aldeia, o que cada vez mais era difícil devido às demandas dos Villas Bôas para que fosse para o Jacaré. Os desentendimentos tornaram-se dramáticos devido ao caso amoroso de Leonardo com uma das esposas de Kutamapù. A partir daí, a relação dos Kamayurá com os Irmãos alcançou níveis críticos, o que paulatinamente fez com que orientassem seu contato com o mundo dos brancos para o Destacamento Xingu. Takumã casou-se pela primeira vez por volta de 1958. Seu primogênito, Kotok — atual chefe do grupo —, nasceu por volta de 1960, quando ele tinha mais ou menos 25 anos. Na época, as relações dos xinguanos com a sociedade regional eram pouco intensas, tendo nos postos indígenas Capitão Vasconcelos (futuro Posto Leonardo Villas Bôas) e Diauarum, e no Jacaré, importantes entrepostos de troca entre índios e não-índios. Em 1965, Takumã assumiu a chefia Kamayurá, sob contestação, porém, por parte de pelo menos dois outros pretendentes à posição, que, como ele, eram cabeças de facções importantes, embora não tivessem a sua qualificação genealógica. Os Villas Bôas reforçaram essa contestação, sob a argumentação de que Takumã seria um líder pouco “tradicional”. Na realidade, ele era cada vez mais ligado à FAB e a outras agências e agentes da sociedade nacional, e não ao Posto Leonardo, procurando, dessa maneira, sair da órbita dos Villas Bôas. Essa foi a situação que encontrei em 1969, quando de minha primeira estada entre os Kamayurá. Com o seu acesso, porém, cada vez mais bem-sucedido ao xamanismo, Takumã então já despontava como chefe consensualmente consagrado. Nos anos 1970 e 1980, o prestígio de Takumã consolida-se entre os Kamayurá, sendo contestado, porém, pelos Irmãos Villas Bôas e seus aliados, índios (Kamayurá e outros) e não-índios. As relações dos Kamayurá com o mundo dos não-índios passam a ser então cada vez mais intensas, a construção da BR080 a partir de 1971 e a inauguração da cidade de Canarana, em 1979, tendo sido muito importantes nessa direção. Através dessa cidade, os Kamayurá passaram a sair cada vez mais dos limites da área indígena, em busca de abastecimento de bens industrializados, crescentemente escassos nos postos indígenas. A partir dos anos 1980, dá-se a quase desativação da assistência aos índios por parte da FUNAI na região, a atenção à saúde tendo passado para a órbita da FUNASA em 1999. Algo similar aconteceu com a educação, que passou para a alçada do MEC e das secretarias de Educação dos estados nos quais a terra indígena está localizada (Goiás, Pará e Mato Grosso). Kotok desponta, na época, como chefe especializado em gerenciar a situação de contato dos Kamayurá com os não-índios, posição que assume por completo a partir dos anos 1990. Takumã, o principal conselheiro de Kotok, dedica-se então cada vez mais à vida cerimonial, especialmente ao xamanismo, e à diplomacia — intertribal e interétnica —, o que se manteve até a sua morte.
peças raras.blogspot
literatura
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Ademir Assunção oferece uma poesiaporrada, que abraça o mundo em seu absurdo e violência, mas que também é capaz de captá-lo com humor ferino RODRIGO GARCIA LOPES A Voz do Ventríloquo (Editora Edith) traz a poesia inquieta de Ademir Assunção, que estreou há exatos 20 anos, com LSD Nô (Iluminuras, 1994). Depois de nove livros publicados e dois CDs de poesia, o jornalista, escritor e letrista ganhou, com A Voz do Ventríloquo, o Prêmio Jabuti de Poesia de 2013. Não espere o leitor uma poesia de entretenimento, “limpinha”, “fofa” e de fácil digestão, que anda em voga na NPB (nova poesia brasileira). O que Assunção nos oferece é uma poesia-porrada, que abraça o mundo em seu absurdo e violência, mas que também é capaz de captá-lo com humor ferino (“árvores açoitavam cantoras de axé / com raquetes de frescobol”). O volume é atravessado por uma crítica indignada à mercadorização da vida, dos sentimentos, da religião. Como em “O Fim das Utopias”, tecido numa linha extensa que remete a Walt Whitman e aos letreiros digitais da bolsa de valores: “daqueles pei-
tos perfeitos de silicone dow jones daquele rostinho lindo esticado com botox wall trade daquele rabo colossal esculpido com anabolizantes nasdaq só restou uma massa disforme de lixo altamente tóxico”. Ou em “O Reino Universal da Picaretagem”, onde “velhacos vendem graças / pra desgraça alheia // almas bem fodidas / igrejas sempre cheias // lorotas milionárias / escroques indecentes”. O ventríloquo é uma espécie de mágico que consegue, como explica a etimologia, “falar com o ventre”. Ou seja, alguém que consegue projetar a voz sem mexer os lábios, passando a impressão de que é uma outra pessoa que está falando. O poema curto “El Día” parece resumir esse processo: “o deserto nos fere / a face, a cidade nos / desmembra, a paisagem / se desloca, humanos / se destroçam, dói / uma dor de não sei/ onde, uma voz que não / chega a tanto, mínima / mímica de um gesto mudo, / falas perdidas num mundo / maluco”. Assunção revitaliza a ideia do poeta como xamã da tribo, que fala através de sua voz. “O Triunfo do General Mandíbula”, um dos poemas que abrem o livro, resume tal processo. Há neste uma maior unidade em relação aos livros anteriores, com sete seções ou grupos de poemas que se intercalam com um “Diário do Ventríloquo”, em prosa. Um recurso bastante usado no livro é a parataxe, em que imagem é empilhada sobre imagem, com uma enumeração de suas qualidades, como se apenas mostrassem, como um instantâneo, um fragmento da realidade sempre em movimento. O tom mais discursivo de alguns poemas (como querendo nos convencer do urgente
estado das coisas) é rompido pela presença de outros de extrema concisão e ritmo sincopado, como “Polaroide”, informado pela poesia oriental: “rimas / tão gastas // gatos / tão pluma // asas / no céu / da casa // noite / de lua/ nenhuma”. Não posso deixar de apontar, em todo o livro, mas notadamente em poemas como “Jack Kerouac na Praia Brava” e “Outros Dias”, um tom melancólico, em clima de “fim de festa”. Destaco um desses, “Flash”, que mostra o poder de Assunção em fazer música com a linguagem, ou seja, poesia: “ilhas, ilíadas, olhares / vozes no murmúrio macio // das madrugadas, passos / na areia do tempo, pessoas // que se cansam de cruzar / os desertos, ou desistem / de acender seus incensos // quando as palavras não dizem / mais nada // e tudo o que resta / é uma ode ao silêncio”. Em vez de se processar por metáforas, o pensamento poético aqui procede por paragramas, com as imagens compostas por uma contaminação de sons e sentidos num encadeamento ao modo do jazz, até o tom niilista e surpreendente do final. A poesia, afinal, também é uma luta contra o silêncio, contra a incomunicabilidade. Em A Voz do Ventríloquo, mais do que em livros anteriores, em 57 poemas que estabelecem um diálogo maduro com poetas de sua predileção (Augusto e Haroldo de Campos, Leminski, Piva, Ginsberg), o autor parece assumir com mais veemência, na carne de seus poemas, o credo de que a poesia ainda pode ser um espaço de guerrilha, de crítica ao conformismo. De que ela pode, em tempos de superficialidade e banalização da linguagem, voltar a ser relevante, oferecer uma crítica da realidade.
RODRIGO GARCIA LOPES (Londrina, 1965) é poeta, escritor, tradutor e compositor. Suas produções mais recentes são O Trovador (romance policial, 2014), Canções do Estúdio Realidade (música, 2013) e Experiências Extraordinárias (poesia, 2015). Site www.rgarcialopes.wix.com/site
Poesia como ventriloquismo
entrevista
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fotos Gabriel Neves
Universidade e crise Nildo Ouriques
C
riada por Epitácio Pessoa em 7 de setembro de 1920, a Universidade
do Brasil, hoje UFRJ, é a maior universidade federal do país. Em breve, ela terá como reitor o professor Roberto Leher, 54 anos, titular da Faculdade de Educação e do Programa de PósGraduação em Educação da instituição. Pesquisador do CNPq em Políticas Públicas em Educação, ele recebeu no ano passado a medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em homenagem ao seu trabalho como educador. Ex-presidente do Andes, o sindicato nacional dos docentes das instituições de ensino superior, entre 2000 e 2002, Leher foi eleito em maio na UFRJ defendendo uma plataforma de “autonomia constitucional, fortalecimento do autogoverno e a prerrogativa de autonormação” da universidade pública. Nesta entrevista, concedida durante uma visita ao Instituto de Estudos Latino-americanos (IELA), da UFSC, Leher fala sobre política universitária, crise financeira das instituições e como a universidade pode ajudar a pensar o futuro do país.
Subtrópicos | A sua gestão na UFRJ gera grandes expectativas, não só pelo seu trabalho como dirigente do Andes, mas como educador, pensador e formulador no campo da educação. O que se observa de imediato, talvez a questão mais aparente e estrutural das nossas universidades, é a tremenda crise financeira e orçamentária por que elas passam. Esse, naturalmente, é um problema sério. Qual é a sua análise sobre isso, tendo em conta que, até agora, a impressão que muitos tinham era a de que vivíamos num mar de rosas e que a pátria educadora finalmente caminhava bem? Roberto Leher | De fato, não é assim. Na década de 1980, as universidades viveram um processo de forte subfinanciamento, no período da chamada hiperinflação, do Plano Cruzado. Recebíamos pouquíssimo investimento em infraestrutura. A década de 1990, por outro lado, foi uma época áspera para a universidade. O que veio em seguida — o período de expansão via REUNI — foi muito curto. Vivemos de 2006 até 2010 um certo alívio orçamentário. Parecia que estávamos mudando qualitativamente de situação em termos de investimento na educação superior, mas, na realidade, essa conclusão decorre de uma leitura, a meu ver, muito incompleta. Estávamos comparando aquela situação com uma outra, que era absolutamente devastadora. Subtrópicos | Os oito anos de Paulo Renato (de Souza, ex-ministro da Educação, 19952002) foram efetivamente terríveis. Leher | Foram tenebrosos para a universidade. De modo que o período posterior, em que houve alguma expansão de recursos, pareceu ser muito melhor do que efetivamente foi, porque o padrão de comparação era praticamente inexistente. O custeio do período Fernando Henrique Cardoso/Paulo Renato foi devastador. O problema é que, depois disso, a universidade cresceu muito rapidamente, entre 2007 e 2014. Na UFRJ, por exemplo, nós tivemos um crescimento 55% no número de matrículas. Criamos 100 cursos novos, abrimos um campus no interior, em Macaé. Haveria um polo de tecnologia, nanotecnologia e biofísica
em Xerém (município de Duque de Caxias, RJ), um pouco com a expectativa de que aquele complexo petroquímico fosse se desenvolver, algo que acabou não se confirmando. Hoje, aquele polo está todo desmontado. A rigor, a expansão que conhecemos entre 2007 e 2014 foi muito precarizada. Os reitores não problematizaram, por exemplo, o fato de que grande parte das funções de técnicos-administrativos havia desaparecido do serviço público. Trata-se de funções muito importantes: pessoas que vão cuidar de biotérios, de manutenções de laboratórios, de infraestrutura para lidar com equipamentos, limpeza, segurança. Embora sejam atividades ditas meio, envolvem serviços muito articulados aos fins. Essas terceirizações foram terríveis, porque grande parte das empresas envolvidas não obedece a nenhum princípio, digamos, ético. São empresas vorazes do ponto de vista financeiro, que desrespeitam brutalmente o direito dos trabalhadores terceirizados, e isso desorganizou muito a vida da universidade. A verba de custeio — que é pra manter a infraestrutura da universidade, reforma de prédios, melhoria das instalações, cuidar de transporte dentro da universidade — foi sendo paulatinamente absorvida para pagar pessoal terceirizado. Subtrópicos | Foi uma forma de assaltar o Estado. Leher | Foi uma forma de assaltar o Estado e de, na realidade, dar recursos para a universidade com uma mão e retirar com a outra, em benefício de um setor privado que é economicamente muito feroz. Na UFRJ, tínhamos, em 2011, R$ 240 milhões de custeio e pagávamos 870 terceirizados. Em 2014, contamos com uma verba de R$ 301 milhões, mas pagamos 5 mil terceirizados. Então, na realidade, a verba de custeio que nós temos hoje é menos da metade da verba de custeio de 2011. Subtrópicos | Daí a crise? Leher | Daí a crise. E o impressionante é que as universidades, como instituições públicas, como instituições que são referências no pensamento crítico dos problemas nacionais, de energia, de transporte, cultura, arte, desafios na área de meio ambiente etc., foram incapazes de pensar a si próprias. Subtrópicos | Qual a sua avaliação sobre esse, por assim dizer, otimismo ingênuo que tomou conta da universidade? Leher | É um problema muito sério. Os professores universitários não têm pensado muito a instituição, a forma de organizar a pesquisa no Brasil. Os grupos têm uma relação quase direta com os órgãos de fomento. Os programas de pós-graduação têm uma relação direta com a Capes. E isso fez com que esses grupos fossem se encapsulando, não por egoísmo ou por falta de visão dos problemas, mas porque foi estabelecida, desde a época da ditadura empresarial-militar, uma certa dinâmica na produção do conhecimento. Os grupos foram se adaptando, se moldando a essa realidade em que a lógica é você proteger e tentar viabilizar o seu grupo de pesquisa, obter re-
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Subtrópicos | Nós vivemos uma grande crise pedagógica na universidade. Qual a sua avaliação sobre isso? E como enfrentá-la? Leher | O trabalho pedagógico, necessariamente, tem uma intencionalidade. A pedagogia é uma forma intencional de pensar o conhecimento, a socialização do conhecimento, os processos de formação humana. Há uma acomodação mundial em torno da ideia de que formamos gente para produzir capital humano. E o drama é que o capital humano que o mercado quer é um capital humano rebaixado, degradado, e a universidade não está sabendo muito como lidar com isso. O próprio debate pedagógico (os processos de formação, de como dialogamos com o povo, como é que interagimos com a sociedade, como podemos assegurar processos que sejam capazes de desenvolver a imaginação dos jovens etc.) é hoje quase que uma ideia fora
Subtrópicos | Qual é a função de um reitor? Leher | A função de um reitor é a função da universidade como instituição: incidir sobre a forma como estamos produzindo conhecimento para proteger a autonomia. A função de um reitor, e ele tem um mandato respaldado pela Constituição Federal, é ser um guardião da autonomia universitária. E isso se perdeu no Brasil. Subtrópicos | O pensamento dominante desqualifica a universidade de massa, tal como nós a temos na Universidade Autônoma do México ou na Universidade de Buenos Aires. Nos últimos anos, ocorreu no Brasil uma tentativa de massificação muito lenta, precária, com certa minimização do peso do vestibular e os sistemas de democratização por meio de cotas. Mas tudo isso ainda é muito pequeno diante da gigantesca tarefa cultural e científica de um país como o nosso. Como escapar ao risco de se contentar com esse pouco? E como um reitor pode impulsionar com força, desde a universidade, sabendo das limitações que tem, um projeto mais ambicioso, mais corajoso, mais radical nessa direção? Leher | Talvez o maior desafio, neste momento, é nós termos condições públicas de sustentar o conceito de universidade, e não de instituições de educação terciária. Há muitos anos, o Banco Mundial não utiliza mais a expressão ‘educação superior’, mas sim a expressão ‘educação terciária’, sob o pressuposto de que se trata de uma mera continuação do ensino médio. A massificação, nesse contexto, é muito devastadora para a juventude. É quase um genocídio intelectual da classe trabalhadora, da juventude de uma forma geral. Esse é um pouco o modelo de expansão mais massificada, por meio da indução do setor privado mercantil, por meio do Fies e do Prouni, que agora está mostrando limites econômicos graves, quando a conta já chega à casa dos R$ 13,5 bilhões para custear o Fies. Esta foi a aposta que de alguma forma os últimos governos fizeram: expandir o sistema a partir do setor privado.
entrevista
Eu creio que hoje as universidades devem afirmar a sua importância, a necessidade da função social da universidade pública. Esse é um debate crucial, que serve de parâmetro para pensar a sua democratização. Não dá pra ampliar vagas no Brasil sem ter assistência estudantil real. A juventude desapropriada não tem meios de permanecer na universidade. Ela tem que chegar aqui e passar o maior tempo possível, estar em grupos de estudo, ter sala de leitura, dedicação exclusiva. O esforço de combinar a ampliação de vagas com políticas que assegurem direitos dos estudantes me parece um tema muito crucial. Temos que ampliar e aperfeiçoar essa lógica das políticas de ações afirmativas, por meios de critérios que combinem raça e classe. Eu acho isso muito importante, muito fecundo para a universidade. Temos que avançar, combinando o que está posto com critérios geográficos e ampliando a participação dos trabalhadores do campo. Não resta dúvida de que o futuro do país passa, necessariamente, pela forma como vamos organizar a produção de alimentos, enfim, o modelo de agricultura. A universidade tem que ter um papel proativo nessas políticas de formação dos trabalhadores no campo. Nós
“Nós temos que ter maior pragmatismo na formação. E isso está tirando a imaginação e a energia criadora dos professores e, também, obviamente, dos estudantes. E a universidade não pode ser uma instituição que teme fazer um debate público, ser uma voz pública, porque é para isso que ela existe.” não podemos estar presos a uma formação única, que é a perspectiva desse grande agronegócio, baseado no uso intensivo de energia, na concentração enorme de capital e na produção de alimentos que, na realidade, destinam-se à exportação, especialmente para fins como a fabricação de rações e coisas do gênero. Nós temos que mudar isso, mas para tanto temos que ter pessoas que, pelo seu lugar social, apostem na possibilidade de desenvolver uma agricultura que produza alimentos saudáveis para a população. Isso é um dilema que não só o Brasil enfrenta. O mundo todo está diante do desafio de produzir alimentos com qualidade. A Europa está banindo o transgênico, e o Brasil está bombando o transgênico, como assim? Tem alguma coisa errada por aí. Enquanto lá há cada vez mais regras que proíbem o plantio de transgênicos, aqui a cada dia esse tipo de agricultura é mais liberalizado. A universidade tem que fazer um balanço crítico disso, porque ela tem autoridade pública para tanto. E tem condição de ser uma voz pública que analise os problemas de forma fundamentada, científica, rigorosa, a fim de dizer qual o debate, quais são os termos do debate, quais são os perigos, os limites etc.
do Departamento de Economia e Relações Internacionais e presidente do IELA-UFSC.
Subtrópicos | O projeto era esconder o subdesenvolvimento e a dependência. Leher | Exatamente, e a universidade deixou de ser um espaço que toma essa nossa condição como um objeto de pesquisa nas diversas áreas, porque, na divisão do trabalho, tal aspecto diz respeito aos estudos sobre a biodiversidade, outro aspecto diz respeito aos estudos sobre energia das engenharias, e assim por diante. Naquele momento de expansão, em que parecia que pelo menos o setor de petróleo iria se desenvolver, com o Pré-Sal, com cadeias produtivas mais sofisticadas, polos petroquímicos mais sofisticados, envolvendo indústria química etc., criou-se um otimismo enorme que também não está se confirmando. Ao contrário, a crise da Petrobrás e a queda do preço de petróleo sinalizam tempos difíceis, ásperos, no que diz respeito à produção tecnológica. E tirando a Petrobrás e, talvez, alguma coisa lá em Campinas em torno daquele polo nas áreas de microeletrônica, nós não temos efetivamente hoje uma demanda por processos de conhecimentos mais sofisticados vinculados ao mundo do trabalho, o que exige pensar o que está acontecendo com o país e como a universidade pode se proteger para também não ser reduzida a mero apêndice de um capitalismo dependente que, efetivamente, não está dinamizando a instituição e a incitando à produção de conhecimento original.
do lugar, é tido como algo quase desnecessário. Pelo contrário, demanda-se atualmente mais pragmatismo na formação. E isso está tirando a imaginação e a energia criadora dos professores e, também, obviamente, dos estudantes. A universidade não pode ser uma instituição que teme fazer um debate público, ser uma voz pública, porque é para isso que ela existe. É muito ruim quando os mecanismos de financiamento não protegem a autonomia universitária. A universidade tem que voltar a pensar a sua autonomia, e essa autonomia essencialmente é uma autonomia intelectual, é uma autonomia crítica. Nós precisamos de autonomia para que a universidade possa falar de qualquer assunto sem temer retaliações decorrentes de que os professores, os estudantes ou os técnicos estejam produzindo um conhecimento que desagrada a um determinado setor econômico, a determinada corrente religiosa ou a determinada Razão de Estado.
NILDO OURIQUES (Joaçaba, 1959) é professor
cursos para os seus estudantes, alguma infraestrutura para pesquisa, sem formular um pensamento sobre a universidade. A rigor, a universidade não tem avaliado suficientemente a forma como o país está inserido na economia mundial. Havia e ainda existe a crença de que estamos entrando na era da sociedade do conhecimento, da sociedade da informação, de que o conhecimento que está sendo produzido na universidade seria uma espécie de alavanca para que o país fosse inserido em circuitos sofisticados da produção mundial, com alta tecnologia, na área de fármacos, das tecnologias de uma forma geral, da nanotecnologia. Na realidade, o parque produtivo brasileiro não reflete isso.
A rosa púrpura da filosofia no ensino médio Solidão e sonho são atributos essenciais da autonomia e da liberdade, porque são um e o mesmo fenômeno, com a diferença de que um está na tela e o outro na plateia, como em uma dialética professor-aluno
1977) é mestre em Filosofia pela UFSC e professor na Faculdade Municipal de Palhoça.
FERNANDO MAURICIO SENNA (Florianópolis,
Fernando Mauricio Senna Como ensinar filosofia no ensino médio? O psicologismo pedagógico tende a partir do próprio “mundo comunicativo” dos educandos. Filmes são excelentes exemplos. Mas o problema que sempre se coloca é saber “qual o valor didático e pedagógico de um filme”. O filósofo típico diria que é preciso começar respondendo o que é um filme, a projeção, a tela de projeções etc. Insistamos no exemplo. “Você sabe, no escuro daquele cinema, olhando para aquele pedaço de tela iluminado pelo seu talento, senti pela primeira vez na vida que não estava sozinha”, dizia em carta uma espectadora de um filme de Tarkovski, em 1990. O mesmo fenômeno recebe clara expressão no filme A rosa púrpura do Cairo, dirigido por Woody Allen em 1985. Teria esse filme valor pedagógico? O que ele ensinaria de filosófico? Serão muitas as respostas. Em todo caso, o que faz um filme para ser educativo? Todos sabem: o filme projeta imagens na tela, oriundas da ficção de produtores e escritores. Assim, Platão acusara Homero e Hesíodo, ensinando que não se deve confiar em imagens, por não serem reais. Mas a pergunta se recolocará: o que é uma ficção e qual seu valor pedagógico?
O psicologismo pedagógico dirá: é como um sonho, embora um “exercício de criatividade”. Então, toda questão consiste em saber se a educação pode ensinar os jovens a passarem dos sonhos à realidade. Mas o que é sonhar? Será realmente um fenômeno psicológico? Em caso positivo, como explicar a analogia entre o cinema e o sonho, e como entender aquela espectadora de Tarkovski que se sentia menos solitária diante do filme? E em que ponto a educação diz respeito ao sonho e à solidão? Solidão é estar em algum lugar com ou sem os outros, em que falta algo mais. E assim como o filme se passa na tela, o sonho se passa em algum lugar. Chama-se a isto espaço virtual, pois nem no sonho nem no filme há lugar propriamente. Por isso mesmo, o sonho tem que se projetar na tela. Mas há algo mais. O filme diz algo ao espectador solitário, assim como ao homem é dado apenas sonhar sozinho. É possível contar um sonho. No contar o sonho, cada solitário entrega o algo mais sonhado ao outro, sendo essa projeção verbal o início do talento cinematográfico. Assim como o bom sonho leva a dizer “foi só um sonho, mas quero sonhar novamente!”, o sonho bem narrado diz “conte novamente!”. Mas o que alguém ensina ao outro quando relata seus sonhos? Ensina que
gordon willis, orion pictures
educação
8 sabe contar, mas, sobretudo, aprende que sua solidão é intransponível. E assim começa a vocação do educador: aquele que aprende na experiência solitária de não poder ensinar. Não se pode contar ao outro o onírico de um sonho, mas se pode transferir a solidão do sonhador, como fez Tarkovski. Neste sentido, o educador conta um sonho quando ensina. Assim se pode compreender a projeção onírica do filme: nele se projeta a construção de um cenário, e a educação é o sonho de construir um cenário social. Mas tanto o sonho quanto a construção são sempre uma vontade livre. Houve quem a tenha chamado de Autonomia, em oposição à opressão como negação da essência humana de “ser algo mais”. Mas também houve quem tenha afirmado, igualmente em nome da autonomia, que “a bela aparência do mundo do sonho, em cuja produção cada ser humano é um artista consumado, constitui a precondição de toda arte plástica” (Nietzsche, O Nascimento da Tragédia). A solidão e o sonho não são atribuídos ao filósofo por acaso: são também atributos essenciais da autonomia e da liberdade, porque sonho e solidão são um e o mesmo fenômeno, com a diferença de que um está na tela e o outro na plateia, como em uma dialética professor-aluno. Portanto, os elementos que compõem a educação são estes: projeção, solidão, narração e escuta. A pedagogia carrega consigo três preconceitos: que a educação é uma técnica da psicologia do desenvolvimento, que ensinar é comunicar, e que o educando é uma entidade moral. Ignora-se que o educando já sonha realmente, que os sonhos dos educadores são moralizações da educação e que os sonhos são solitários. Não basta fornecer ao educando o direito de falar, é preciso o direito de ser escutado. Quem sabe escutar faz o sonhador contar mais uma vez: só assim o onírico passa a uma “compreensão” da própria solidão. E quem assim se compreende quer ser novamente escutado. Só então sua fala diz a “educação”. Escutar é educar quando se escuta o desejo de ser escutado, não o desejo de falar. Certamente é a palavra o veículo da educação, mas não apenas a fala. O escutar é um deixar dizer que, ouvindo o dito tanto no falado quanto no calado, escuta o que efetivamente se está a dizer. Com isso, se preparam tanto as condições para o conhecimento quanto para a consciência do desconhecimento em si. Disso não se segue que a educação abandonou a disciplina e a civilização moral, pois o mero direito comunicativo é o princípio da barbárie. Moral? Sim. Mas como respeito ao “sonho” alheio, como direito à solidão. Filosofia no ensino médio? Talvez, desde que antes haja respeito à solidão que não se ensina. É preciso aprender a assistir a “filmes”, depois ensinar a filosofar. Ninguém procura na educação outra realidade, mas outros sonhos, que deem sentido ao fato de cada um sonhar sozinho. Assim se transpõem a educação e o conhecimento. Todo educador é como Tom Baxter: é preciso tornar os seus sonhos os sonhos de Cecília.
Nas narrativas de ficção científica, o alienígena é visto negativamente como uma massa inquietante, um coletivo da diferença, ameaçador, porque não domesticável segundo os valores de quem o olha Marcio Markendorf O cinema de gênero, desde sua organização sistemática pelos estúdios norte-americanos, tem sido frequentemente alvo de críticas por certa previsibilidade estrutural dos roteiros. Ademais, por meio de classificações valorativas como cinema comercial e de entretenimento puro, os críticos parecem questionar mais a repetição por si mesma do que os significados éticos implicados na matéria repetida. No nicho narrativo da ficção científica, por exemplo, os elementos triviais da invasão alienígena exemplificam claramente uma preocupante reprodução de valores ideológicos. Em primeiro plano, tais produções parecem apenas representar o horror diante da tirania tecnológica outer space e o temor pelo colapso da ordem humana, respostas emocionais aninhadas ao prazer eufórico da destruição em massa e ao gozo cosmético pelo design futurista. Para melhor compreender os valores-base do segundo plano, vale circunscrever alguns traços típicos do extraterrestre: os visitantes espaciais apresentam monstruosidade aspectual, agem segundo um caráter predatório, são dotados
de um prepotente espírito invasor, consideram-se superiores racial e tecnologicamente aos terráqueos. Se assim é, como interpretar essas reiteradas representações levando em conta que o vocábulo alienígena, de acordo com o sentido etimológico do termo, antes do sentido figurado consagrado pelo imaginário ficcional, significa aquele que é estrangeiro/ forasteiro? Os conteúdos implícitos nas narrativas alienígenas nos dizem muito mais sobre o passado da história humana — e até mesmo sobre o presente imediato — do que versam sobre visões tecnológicas do contemporâneo, como o faz a ficção científica. Essas narrativas, assim, tornam-se veículo para uma forma naturalizada de xenofobismo, especialmente aquela que vê o estrangeiro como um tipo de ameaça à soberania local (no caso, a soberania planetária da raça humana) e contra o qual é preciso lutar sangrentamente. A jornada fantástica de Viagem à Lua, de Georges Méliès, de 1902, livremente inspirada em Júlio Verne e H.G. Wells, inclui temas caros ao gênero: o da superioridade tecnológica, representado pelos guarda-chuvas dos exploradores terrestres (substituto “lúdico” das armas militares), a superioridade racial e a dominação imperialista, percebida na apresentação de um cativo habitante do astro lunar como atração pública (ao modo dos ‘zoológicos humanos’ europeus) e o monumento em honra aos viajantes (simbolicamente, um homem pisando a Lua). Partindo da lógica força/raça, pode-se notar como nessa narrativa prototípica, na qual já estão veiculados elementos solidificados em produções recentes, advoga-se o direito de dominação militar, política, econômica e ideológica do Outro em vista de um argumento que privilegia — com consequências destrutivas — a autoridade racial, tecnológica e científica. Essa tensão pode ser lida como um embate tão retrógrado quanto aquele entre a barbárie e a civilização. Isso
cinema
sem falar na presença de vestígios de certo darwinismo social na demarcação das diferenças entre terráqueos e alienígenas. Logo, não é difícil perceber o quanto o estrangeiro é visto negativamente pela comunidade de aporte: uma massa inquietante, um coletivo da diferença, podendo ser atrasado ou avançado, mas ainda assim ameaçador porque não é domesticado/domesticável segundo os valores de quem os olha. Filmes da seara de Distrito 9 (Neill Blomkamp, 2009), Monstros (Gareth Edwards, 2010) e Ataque ao prédio (Joe Cornish, 2011) acabam por enfatizar tais representações da alteridade, denunciando a violência simbólica do apartheid, seja ele declarado ou silencioso, e a aversão ao imigrante por meio da alegoria alienígena. Sintomaticamente, o estrangeiro/alienígena é visto como um parasita/ predador/invasor do Estado Nacional para onde se destina. Essa visão do estrangeiro como o Mal parece uma releitura da própria história das expansões dos impérios, entretanto, do ponto de vista do dominado: para as tribos indígenas da América, os europeus que aqui estiveram desempenharam um papel semelhante à fábula de Méliès — obviamente de um modo mais implacável e cruel, não raro descambando no genocídio para a apropriação à força de territórios e das riquezas naturais, e para afirmação da soberania racial. Vale apontar, ainda, outro mote recorrente das ficções alienígenas, a prosofobia, o medo do progresso. Em outras palavras: o receio de que o projeto civilizatório humano entre em colapso e não passe de uma quimera. Não é à toa serem as raças alienígenas apresentadas no último esplendor do poderio militar, condição advinda depois do declínio absoluto de algum modelo industrial-progressista, assentado em uma prática científica e tecnológica predatória, responsável pelo esgotamento dos recursos básicos e pelo cataclismo da própria civilização. Exilados da terra natal, quando fracassam as promessas de felicidade baseadas no desenvolvimento, os extraterrestres, encaram a invasão interplanetária como legítima, apesar do estilhaçamento da construída identidade de raça superior. E se os nativos-humanos conseguem, na maioria das vezes, sobreviver, é porque é possível, sob a perspectiva da fábula moral, mudar diante da catástrofe. Algo bem ao gosto de Klaatu, o “Jesus alienígena” de O dia em que a Terra parou (Robert Wise, 1951; Scott Derrickson, 2008), defensor da união internacional e interplanetária. Caberia, então, perguntar o que há de “inocente” ou “inócuo” nos roteiros dos cinemas de gênero, se, em obras como as discutidas, a viagem espacial ou o embate interplanetário, investidos de um caráter progressista, no fundo, apenas continuam inoculando um modelo bastante reacionário de representação do estrangeiro? Será que, distraídos pelo estatuto de entretenimento dado ao cinema de gênero, não conseguimos reconhecer que os aliens somos nós?
Marcio Markendorf (Guarapuava, 1981) é doutor em Teoria da Literatura e professor do curso de Cinema na UFSC.
A reiteração fóbica do estrangeiro
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Traduzidos e publicados no Brasil no ano passado, Máquina de Armas, de Warren Ellis, e A Cidade & a Cidade, de China Miéville, revelam autores que não temem cruzar as fronteiras entre gêneros para produzir duas das melhores histórias policiais da atualidade Dorva Rezende Dois crimes acontecem em cidades que são outras duas ao mesmo tempo. Em Máquina de Armas, de Warren Ellis (Novo Século, 2014, tradução de Cinthia Alencar), o detetive James Rossato, da Polícia de Nova York, é morto com um tiro na cara, à queima roupa, dado por um atirador nu, armado de espingarda, num prédio da Pearl Street, em Manhattan, enlouquecido por ter recebido o aviso de despejo da empreiteira que comprara o edifício. Em A Cidade & a Cidade, de China Miéville (Boitempo, 2014, tradução de Fábio Fernandes), o corpo da pesquisadora canadense Mahalia Geary é encontrado com o rosto desfigurado perto de uma pista de skate em Besźel, situada em algum lugar do Leste Europeu. O que aproxima (e divide) as duas narrativas é como os dois ingleses usam da linguagem e do poder de uma boa história para sobrepor mundos que ocupam o mesmo espaço geográfico.
cage skidmore
literatura
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Warren Ellis
Dois crimes,
Homônimo do violinista e multi-instrumenista australiano dos Bad Seeds, a banda de Nick Cave, Warren Ellis, 47 anos, nascido em Essex, é um celebrado autor de graphic novels para a Marvel (X-Men, Os Vingadores, Quarteto Fantástico), DC Comics/Vertigo (Batman), Image Comics, Wildstorm e Avatar Press, tendo recebido sete Eagle Awards, o Oscar britânico dos quadrinhos, entre outros prêmios, por trabalhos como The Authority, Fell, Ministry of Space, RED, Planetary e Transmetropolitan. Máquina de Armas, de 2013, é o seu segundo romance. O primeiro, Crooked Little Vein, foi publicado em 2007. O terceiro, Listener, foi dado oficialmente como perdido no HD de um computador quebrado. Ellis é um ativista na internet do transumanismo, termo criado em 1957 pelo biólogo e humanista Julian Huxley, irmão do escritor Aldous Huxley, para definir a doutrina filosófica que pensa o “homem continuando homem, mas transcendendo, ao perceber novas possibilidades de e para a sua natureza”. Para Ellis, isso inclui temas como nanotecnologia, criônica, upload mental e aprimoramento humano. China Miéville, 42 anos, natural de Norwich, é um dos principais escritores da chamada New Weird, corrente literária de horror e ficção especulativa iniciada no final dos anos 1990 que inclui entre suas fi-
leiras autores como Jeff VanderMeer, K. J. Bishop e Steph Swainston, todos discípulos de H.P. Lovecraft. Também autor de comic books (assim como Ellis, ele escreveu histórias de Hellblazer, a série de John Constantine), Miéville é um ativista de esquerda, fundador da Left Unity inglesa e membro da Organização Internacional Socialista dos Estados Unidos. Entre seus trabalhos de não ficção, está uma revisão (Between Equal Rights, 2005) da obra do teórico marxista Evgueni Pashukanis (morto em 1937, a mando de Stálin) aplicada ao direito internacional. Sua trilogia no mundo de Bas-Lag, onde magia e tecnologia steampunk coexistem, publicada nos livros Perdido Street Station (2000), The Scar (2003) e Iron Council (2004), também está sendo traduzida por Fábio Fernandes para a Boitempo. A Cidade & a Cidade, de 2009, venceu os prêmios Arthur C. Clarke, World Fantasy, British Science Fiction Association e Hugo, o mais importante da ficção científica. Nos dois livros, os protagonistas são tiras solitários que optaram por não fazer parte da vida de outras pessoas e que se veem enredados em uma trama complexa de assassinatos em série, na qual mergulham em uma investigação alucinada que quase os leva à morte. O ritmo das duas narrativas, no entanto, é distinto. Máquina de Armas é um thriller cuja ação presta muita reverência
ao métier de Ellis, os quadrinhos, e corre numa ferocidade desenfreada, impiedosa, em uma Nova York atual, que, aos olhos do Caçador, o serial killer da trama, também é a terra dos Werpoes, os americanos nativos do século 17, antes da chegada dos holandeses, os primeiros povoadores europeus da Ilha de Manhattan. O único respiro é quando o detetive John Tallow, parceiro de 20 anos do policial morto, cujo banco de trás do carro é um depósito de livros, vai para o seu apartamento à noite beber café gelado e escutar Blondie cantando Heart of Glass. Em A Cidade & a Cidade, Miéville ergue um monumento linguístico sobre cidades gêmeas que não podem se enxergar, a capitalista Besźel e a comunista Ul Qoma, mesmo dividindo ruas, esquinas, cenários e arquiteturas. A investigação do inspetor Tyador Borlú é mais lenta, esbarrando em burocracias, postos de controle, fronteiras que colidem em idiomas sem raízes comuns e populações que aprendem, desde cedo, a “desver” o que lhes é aparente. Como pano de fundo, uma perigosa pesquisa arqueológica sobre a lenda de Orciny, uma terceira cidade no mesmo local, e a onipresença da Brecha, uma organização secreta cujo objetivo é manter a separação entre cidadãos que vivem lado a lado. Fazer “brecha”, ver o outro que não pode ser visto, é considerado um crime pior do que assassinato.
Em Máquina de Armas, após o tiroteio que matou o seu amigo, John Tallow descobre no mesmo prédio da Pearl Street (o nome vem das conchas na praia do Rio Hudson, deixadas pelos indígenas) um apartamento repleto de armas, formando um intrincado e ilógico desenho representando um wampum, um cinto cerimonial usado pelas tribos do Nordeste da América do Norte para registrar sua história, leis, eventos sociais e transmitir informações. Pouco depois, ele fica sabendo que cada uma daquelas armas foi utilizada em um crime sem solução, ao longo de mais de 20 anos. Para ajudá-lo a desvendar o mistério desses assassinatos em série, Tallow conta com a ajuda de dois peritos forenses completamente díspares, o maníaco por invenções Bat (um nerd ao estilo Big Bang Theory) e a reservada Scarly, casada com uma espécie de halterofilista escandinava. Enquanto investigam, eles são vigiados de perto pelo Caçador, o matador de aluguel que vê (e transita por) uma Nova York sem prédios, avenidas, como era há quase 400 anos, que guardava as armas para contar a sua própria história num wampum macabro e que só espera a melhor oportunidade para atacar. Por trás disso tudo, uma conspiração que levou os três contratantes do assassino aos postos mais altos sociedade nova-iorquina.
Leopoldo, 1965) é jornalista, mestre em Letras pela UFSC.
quatro cidades
China Miéville
Para descobrir quem matou a jovem pesquisadora em A Cidade & a Cidade, o inspetor Borlú, do Esquadrão de Crimes Hediondos da Polícia de Besźel, se convence de que o crime está relacionado com uma passagem ilegal entre a sua cidade e Ul Qoma e precisa cruzar a fronteira metafísica que separa (e interliga) os dois lugares. Borlú também é auxiliado por um inusitado casal. Em Besźel, ele tem a ajuda da investigadora assistente Lizbyet Corwi e descobre que o corpo de Mahalia Geary veio de Ul Qoma, onde ela foi morta, em uma van que tinha autorização para passar pelo Copula Hall, um check point, zona neutra entre as duas cidades e um dos poucos lugares que existe em ambas ao mesmo tempo. Borlú consegue autorização para “viajar” até Ul Qoma e, na outra cidade, é recepcionado pelo detetive Qussim Dhat, que em princípio desconfia dos métodos e propósitos do colega “estrangeiro” (mesmo que eles morem um perto do outro). Aos poucos, Borlú vai se convencendo de que a morte de Mahalia foi ocasionada depois que ela encontrou, em suas escavações, artefatos surpreendentemente avançados que comprovariam a existência da mítica Orciny. Outros crimes e tentativas de assassinato ocorrem, e a ameaçadora presença da Brecha pode fazer com que ele, a qualquer momento, tenha que interromper a sua investigação. Os desfechos das duas histórias são vertiginosos, construídos com maestria por dois autores contemporâneos que não temem cruzar as fronteiras entre os gêneros, da ficção científica aos quadrinhos, para produzir literatura policial de fôlego, inventiva, engenhosa, que questiona a realidade que está ao nosso redor. Nas suas aproximações e diferenças, as obras de Warren Ellis e China Miéville mostram que a imaginação e a originalidade continuam sendo a melhor receita para uma boa e prazerosa leitura.
Dorva Rezende (São
kate eshelby/del rey
literatura
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e-mail: contato@virginiarodrigues.com.br contato: 48 9653 2517
fotografia
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Virgínia
Rodrigues
(Florianópolis, 1989) é fotógrafa e educadora social. Acredita que a fotografia é uma ferramenta importante da educação, pois desenvolve a observação, o poder de decisão e a criatividade. Ministra oficinas de fotografia para crianças, adolescentes e moradores de rua.
“Eu estava na África do Sul, morando e trabalhando em um abrigo de crianças, em novembro de 2012. Lá estava Divine, agarrado à sua bola Pelé, esperando por mais meninos dispostos a uma pelada de fim de tarde. Os sul-africanos têm uma enorme admiração pelos brasileiros, e esta foto representa bem esse sentimento.”