Revista dos Bancários 21 - ago. 2012

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Revista Bancários Ano II - Nº 21 - Agosto de 2012

Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

Ó S A R AGO Ê C O V A FALT

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1


Editorial

É hora de lutar Foi dada a largada para a Campanha Nacional dos Bancários 2012. No mesmo dia do fechamento desta edição da revista, 7 de agosto, os sindicatos deram início às negociações com os bancos. E as discussões começaram mal. Logo na primeira reunião, os representantes dos bancos rejeitaram todas as reivindicações dos bancários que tratam de emprego. Negaram, por exemplo, assinar a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe as empresas lucrativas de demitirem funcionários sem justa causa. A Fenaban chegou a admitir que alguns bancos “estão fazendo ajustes” no seu quadro de pessoal, mas disse, para espanto geral da mesa, que os bancários não estão preocupados com o emprego. Os sindicatos também cobraram o fim da rotatividade, que é altíssima no sistema financeiro e O cenário tem achatado salários e reduzido desenhado direitos. E, mais uma vez, os pelos bancos na bancos mostraram seu desrespeito primeira rodada com os bancários e disseram que de negociações vão continuar com a rotatividade, mostra que esta que, para eles, é “coisa normal” no meio empresarial. não será uma O cenário desenhado pelos campanha fácil e bancos na primeira rodada de que os bancários negociações mostra que esta não terão de lutar muito para ampliar será uma campanha fácil para os bancários. Para garantir que as as conquistas reivindicações sejam atendidas, os trabalhadores terão de lutar – e muito – para pressionar os bancos. O Sindicato já está realizando uma série de atividades de mobilização e a participação dos bancários é fundamental nesta luta. Arregace as mangas e vamos juntos construir uma campanha vitoriosa para comemoramos os vinte anos da Convenção Coletiva Nacional. Ela foi assinada pela primeira vez em 1992, numa campanha salarial em que a marca foi a mobilização. Com muita luta, conquistamos a tão sonhada Convenção Coletiva de forma pioneira, garantindo para todos os bancários do país, do Oiapoque ao Chuí, os mesmos salários e direitos. Juntos, podemos fazer história este ano também, garantindo mais empregos, melhores salários e mais qualidade de vida.

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Índice Campanha Nacional

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Dia dos Bancários

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Entrevista: Roberto Heloani

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Especial Dia dos Pais

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Dicas de cultura e lazer

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Bancário artista: Bento Rezende

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Conheça Pernambuco

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Revista Bancários DOS

Opinião

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Presidenta: Jaqueline Mello Secretária de Comunicação: Anabele Silva Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial: Jaqueline Mello, Anabele Silva, Geraldo Times e João Rufino Redação: Fabiana Coelho e Fábio Jammal Makhoul Projeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno Lombardi Capa: Montagem sobre foto de Beto Oliveira Impressão: NGE Gráfica Tiragem: 11.000 exemplares


Campanha Nacional

O bloco já está nas ruas Os bancários deram início a mais uma Campanha Nacional. A pauta de reivindicações foi entregue no dia 1º de agosto e as negociações começam no dia 7

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umento real de salários, PLR maior, menos metas, fim do assédio moral. Essas são algumas das principais reivindicações dos bancários para a Campanha Nacional deste ano (veja mais na página 5). A pauta com as demandas dos funcionários foi entregue aos bancos no dia 1º de agosto. As negociações começam no dia 7, mas desde o início do mês os bancários estão nas ruas, de norte a sul do país, para pressionar as instituições financeiras e garantir o atendimento das reivindicações. De acordo com a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello, a pauta de reivindicações dos bancários foi construída com base num amplo debate e reflete de perto os anseios da categoria. “As reivindicações começaram a ser discutidas em junho, quando os sindicatos aplicaram uma consulta com os bancários para ouvir suas demandas. Depois, realizamos o Encontro Estadual de Pernambuco e a Conferência Regional do Nordeste. Todo este debate culminou na Conferência Nacional, que fechou uma pauta bem completa e democrática, no

Desde o início de agosto, o Sindicato está realizando atividades cotidianamente para pressionar os bancos

dia 22 de julho”, explica Jaqueline. Como ocorre todos os anos desde 2004, a campanha dos bancários é unificada, com os funcionários dos bancos públicos e privados lutando lado a lado pela mesma pauta de reivindicações, que é negociada na mesa da Fenaban. Mas os pontos específicos serão tratados em negociações à parte, que ocorrem paralelamente com cada banco. As primeiras rodadas das discussões específicas com a Caixa e Banco do Brasil também já estão marcadas. “Mais uma vez, apostamos na mesa de negociação para garantir um acordo que atenda as nossas demandas. Sabemos que os bancos têm todas as condições de valorizar seus funcionários, já que a lucratividade continua altíssima. Só as seis maiores instituições financeiras lucraram R$ 52 bilhões no ano passado. Queremos nossa parte e, para isso, vamos lutar e muito, pois só com mobilização e pressão teremos uma campanha vitoriosa”, afirma Jaqueline. REVISTA DOS BANCÁRIOS 3

Beto Oliveira

Capa


Beto Oliveira

MOBILIZAÇÃO para ampliar as conquistas Mais uma vez, os bancários terão de lutar e pressionar os bancos para garantir o atendimento das reivindicações

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obilização. Esta é a palavra de ordem para garantir mais conquistas na Campanha Nacional deste ano. E os bancários sabem que sem pressão as reivindicações não saem do papel. “Historicamente nunca foi fácil negociar com os bancos. As instituições financeiras sempre tentam fechar um acordo rebaixado. Além de ignorar as reivindicações dos bancários, as empresas ainda tentam retirar alguns direitos já conquistados. Nos últimos anos, temos quebrado a intransigência dos bancos na mesa de

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negociações e garantimos grandes acordos graças à nossa mobilização. E este ano não será diferente. Se quisermos ampliar as nossas conquistas, teremos de mostrar força e todo o nosso poder de pressão”, explica a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello. No ano passado, os bancários conquistaram o melhor acordo com os bancos dos últimos vinte anos também graças à mobilização. “Tivemos de construir a maior greve das últimas duas décadas para garantir um grande acordo no ano passado”, lembra Jaqueline. As greves, aliás, têm feito parte de todas as campanhas dos bancários desde 2003. “Na última década, não há um ano sequer sem greve. Infelizmente, esta tem sido a única linguagem que os banqueiros entendem. O Sindicato, como sempre, aposta nas negociações para solucionar os impasses. Mas os bancos têm dificultado os debates e todos os anos temos de ir à greve. Esperamos que para este ano as empresas tenham amadurecido e que as discussões sejam produtivas. Caso contrário, vamos parar novamente. Por isso, é importante que os bancários mantenham-se mobilizados desde já”, explica Jaqueline. A presidenta do Sindicato destaca que em Pernambuco os bancários começam a


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Campanha Nacional com a mobiOs bancários lização em alta. sabem que Desde o início do sem pressão as ano, o Sindicato reivindicações instituiu a chamanão saem da “mobilização do papel. As permanente”, que instituições realizou atividafinanceiras des de manifessempre tação e protesto tentam fechar cotidianamente um acordo nas agências e derebaixado e só partamentos dos não conseguem bancos para gagraças à rantir a solução mobilização de diversos prodos seus blemas em todas funcionários as instituições financeiras. “Agora é hora de os bancários discutirem a Campanha Nacional com seus colegas e participar das atividades que estão sendo propostas pelo Sindicato. Os trabalhadores devem ficar atentos e se manter informados sobre as negociações e as atividades que o Sindicato vai realizar. E a melhor maneira de obter a informação verdadeira é pelo site e pelos veículos de comunicação do Sindicato. É comum, neste período, que os bancos espalhem boatos para confundir os bancários. Por isso, é importante que o trabalhador procure acompanhar o andamento da Campanha pelo Sindicato”, conclui Jaqueline. AGENDA DE NEGOCIAÇÕES 01/08 - Entrega da pauta 07/08 - Mesa geral (Fenaban) 08/08 - Mesa geral (Fenaban) 10/08 - Específica com a CEF 13/08 - Específica com o BB 14/08 - Específica com o BB 15/08 - Mesa geral (Fenaban) 16/08 - Mesa geral (Fenaban) 17/08 - Específica com a CEF

Campanha Nacional Beto Oliveira

Capa Jaqueline: agora é hora de lutar

PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES DOS BANCÁRIOS REAJUSTE SALARIAL 10,25% (5% de aumento real mais inflação projetada) PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS (PLR) Três salários mais R$ 4.961,25 fixos PISO DA CATEGORIA Equivalente ao salário mínimo do Dieese (R$ 2.416,38) CARREIRA Plano de Cargos e Salários para todos os bancários AUXÍLIO-EDUCAÇÃO Bolsas para graduação e pós-graduação AUXÍLIO-REFEIÇÃO E VALE-ALIMENTAÇÃO Cada um igual ao salário mínimo nacional (R$ 622,00) EMPREGO Aumentar as contratações, acabar com a rotatividade, fim das terceirizações, aprovação da Convenção 158 da OIT (que inibe demissões imotivadas) e ampliação da inclusão bancária JORNADA Cumprimento da jornada de 6 horas para todos CONDIÇÕES DE TRABALHO Fim das metas abusivas e combate ao assédio moral para preservar a saúde dos bancários SEGURANÇA Cumprimento de uma série de itens para dar mais segurança nas agências e postos bancários APOSENTADORIA Previdência complementar para todos os trabalhadores REMUNERAÇÃO Contratação total de todos os ganhos dos bancários, o que inclui a parte variável da remuneração FIM DA DISCRIMINAÇÃO Igualdade de oportunidades para todos

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Capa

Campanha Nacional

Beto Oliveira

Chega de truques, banqueiro! Mote da Campanha deste ano vai desmascarar as “mágicas” feitas pelos bancos, que visam, sempre, aumentar os lucros em detrimento de toda a sociedade

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hega de truques, banqueiro!. Este é slogan da Campanha Nacional dos Bancários 2012, que visa desmascarar, com bom humor, criatividade e irreverência, as “mágicas” dos bancos para reduzir custos e aumentar ainda mais os lucros. O mote é resultado de quatro reuniões específicas promovidas pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e que contaram com a participação e a colaboração do Sindicato de Pernambuco. Os truques são usados todos os dias pelos bancos para iludir funcionários, clientes e sociedade. Um dos truques mais comuns hoje em dia é a transformação do cliente em funcionário do banco. As instituições financeiras fazem de tudo para que o

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Anabele: Bancários vão desmascarar truques dos bancos ao longo da Campanha

cliente utilize os caixas eletrônicos, a internet e o telefone para fazer suas transações, mas cobram tarifas caríssimas, além de reduzir paulatinamente o seu quadro de pessoal. A jornada de trabalho dos bancários, que é de seis horas, também sofre uma transformação. Ela se multiplica diariamente, por causa da falta de pessoal, e leva os bancários ao adoecimento. Aliás, os bancos têm utilizado com frequência o truque do desaparecimento de bancários. Diariamente, centenas de demissões se abatem sobre a categoria, uma das que mais sofrem com a alta rotatividade que achata salários e reduz direitos. A sociedade também é enganada com campanhas de marketing prometendo responsabilidade social e compromisso com a sustentabilidade, mas é um dos setores que menos gera empregos, não barateia o crédito, quer lucro fácil e sem riscos e quase não oferece contrapartidas sociais. “Os bancos são cheios de truques, mas todos para prejudicar a sociedade e ampliar os seus lucros. Essa mídia possibilita que, ao longo desta Campanha Nacional, o Sindicato e os bancários desmascarem estes e outros truques praticados pelos bancos, sempre com bom humor”, explica a secretária de Comunicação do Sindicato, Anabele Silva.


Celebração

Festa e luta no Dia dos Bancários Para comemorar a data, o Sindicato realiza uma grande festa no dia 6 de setembro, no Círculo Militar

A festa será no mesmo local do ano passado e promete ser tão animada quanto

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á 61 anos, no dia 28 de agosto, os bancários deram início a uma das mais longas e expressivas greves de sua história. Hoje, a data continua a ser um marco de luta e coincide com o período em que a Campanha Nacional começa a esquentar. Mas também é tempo de celebrar o orgulho de fazer parte de uma das categorias sindicais mais organizadas do Brasil, com invejável história de lutas e conquistas. Portanto, prepare o esqueleto porque o Dia dos Bancários será comemorado com festa, música e dança. Três bancários mostram seus talentos na festa que vai rolar no Círculo Militar, no dia 6 de setembro, véspera de feriado. Bento Rezende, que é o artista bancário desta edição (página 14), abre a programação a partir das 21 horas. Funcionário da Caixa no Cabo de Santo Agostinho, ele celebra o Dia do Bancário com seu tributo à Gonzaguinha. A partir das 22 horas, é hora do forró, em suas diversas roupagens. Quem dá início ao arrasta-pé é o sanfoneiro Neno Tocador, ou Adriano José da Silva, da Caixa Teatro Marrocos. Logo depois, João dos Santos Montarroyos Neto, do Bradesco de Paulista, traz um outro estilo do forró com a Banda Só na Manha. A tradicional sanfona incorpora novos instrumentos: o violão, a guitarra, o baixo, a percussão, a bateria.

Por fim, a partir da meia-noite, a Banda Megalove comanda o som, com um estilo eclético que vai do rock ao brega para fazer os bancários esquentarem a pista de dança. O Círculo Militar fica na Avenida Agamenon Magalhães e dispõe de segurança e amplo estacionamento. Os convites para a festa podem ser retirados no Sindicato ou com um dos diretores da entidade. História de lutas A data que deu origem ao Dia dos Bancários, 28 de agosto, marca o início de uma greve que durou 69 dias, em 1951. Os bancários reivindicavam um reajuste de 40%, salário mínimo profissional e adicional por tempo de serviço. Foram duramente reprimidos, com prisões e agressões. As reivindicações foram parcialmente aceitas, mas as semanas de luta dos bancários tiveram um simbolismo especial. As mobilizações colocaram em xeque a Lei de Greve do governo de Eurico Gaspar Dutra e, a partir desta greve, também surgiu a iniciativa de criar o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos), concretizado em 1955. REVISTA DOS BANCÁRIOS 7

Lumen Fotos

Memória


Entrevista

Roberto Heloani

ASSÉDIO MORAL SE COMB

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Leandro Taques

O professor Roberto Heloani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Fundação Getúlio Vargas, é hoje um dos maiores especialistas no combate ao assédio moral no Brasil. Ele estuda o assunto há 15 anos e diz que a atual forma de organização do trabalho, tanto bancário como de outras categorias, é responsável direta pelo assédio moral. Heloani participou no final de julho da Conferência Nacional dos Bancários e deu uma palestra que monopolizou as atenções. Até porque o assédio moral é apontado pela categoria como um dos temas mais urgentes nesta Campanha que está começando. Ao final da palestra, Heloani atendeu com exclusividade a Revista dos Bancários, do Sindicato de Pernambuco, e deu a seguinte entrevista.

SOLID


Entrevista

Roberto Heloani

BATE COM

DARIEDADE Esta conscientização é igual em todas as categorias? Não. Esta discussão sobre o assédio moral está mais presente nas parcelas mais avançadas dos sindicatos. O ideal é que o combate ao problema seja disseminado, mas este é um processo lento, que passa pela correlação de forças entre patrões e empregados. Tenho certeza que daqui a alguns anos o assédio moral vai ser visto como uma aberração, algo absurdamente negativo e que vai constar, inclusive, no código penal, como o racismo, por exemplo. Estamos avançando muito nesta área, mas as coisas não mudam como mágica da noite por dia. E como estão os bancários nesta luta?

Os sindicatos de bancários têm feito um grande trabalho com a categoria nesta área. Mas não tem sido fácil. No início dos anos 90, havia cerca de 1 milhão de bancários no país. Hoje temos a metade disso. Ou seja, a categoria foi ceifada, num processo de reestruturação e automação que prejudicou a organização dos trabalhadores. Mas os bancários reagiram e estão avançados nesta luta contra o assédio moral. Acho que a postura dos sindicatos e da Contraf está corretíssima, pois a luta tem sido feita com os pés no chão, sabendo como enfrentar a questão. E qual é a melhor maneira de enfrentar o problema? Sem dúvida nenhuma que é com solidariedade. Só assim vai ser possível

reverter este processo. É claro que temos de repensar a forma de organização do trabalho. Mas precisamos, acima de tudo, resgatar alguns valores que a lógica neoliberal tratou de esconder. A ética e a solidariedade são as melhores estratégias para avançarmos neste caminho de combate ao assédio moral, que ainda é árduo. As pessoas que sofrem com o problema se isolam. A solidariedade entre os colegas tira o trabalhador deste isolamento e ajuda a combater o agressor. As pessoas precisam repensar os próprios procedimentos e a forma de convivência no trabalho. Não podemos encarar os colegas como rivais. Só vamos vencer essa batalha revendo a forma de trabalhar e não fazendo com os outros o que não queremos que façam com a gente.

Heloani monopolizou as atenções na Conferência Nacional

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Leandro Taques

O trabalhador está mais consciente sobre o assédio moral? Sim, sem dúvida. As pessoas estão mais sensibilizadas a respeito do assunto e, em função disso, estão cobrando mais os seus direitos. Até alguns anos atrás, o achincalhe, as pechas, os apelidos, as maledicências eram vistos como normais no ambiente de trabalho. Hoje as pessoas não admitem mais esta postura não só do chefe, mas dos colegas. É um grande avanço, principalmente na questão da cidadania. A pessoa se torna cidadã quando conhece os seus direitos. E hoje, as pessoas já têm noção do que vem a ser dignidade no trabalho.


Dia dos pais

Direito

Uma filha, dois pais e uma família feliz

Os pernambucanos Wilson e Maílton Albuquerque são o primeiro casal homossexual do Brasil a registrar uma filha gerada a partir de inseminação. Os dois superaram os preconceitos e abriram caminho para que outros casais possam realizar o sonho de ter filhos 10 REVISTA DOS BANCÁRIOS


Direito

Fotos: arquivo pessoal

Dia dos pais

M

aria Teresa é um amor de bebê. Sorridente, tranquila, dorme a noite inteira desde os dois meses de idade. Nunca teve uma cólica, jamais ficou doente, nem mesmo teve febre quando os dentinhos apontaram. Maria Teresa é a primeira criança no país, gerada a partir de inseminação e que conseguiu ser registrada como filha de dois pais: o casal Wilson e Maílton Albuquerque. Concebida a partir do material gené-

tico de Maílton, no ventre de uma prima, ela nasceu no dia 24 de janeiro. Seis meses depois, os dois compartilham, na Revista dos Bancários, a experiência da paternidade. E são um exemplo para qualquer família, homo ou heterossexual, no que se refere à responsabilidade compartilhada e cuidados com a criação. Nesta família, não existe função materna ou paterna. Todos os cuidados são desempenhados pelos dois. “O máximo que acontece é que eu, como sou enfermeiro de formação, tome para mim a responsabilidade por algumas coisas, como o primeiro banho ou a limpeza do umbigo, nos primeiros dias de vida”, conta Maílton. Mas o casal se reveza ou realiza juntos todas as tarefas da criação: alimentar, colocar para dormir, levar ao médico ou à vacinação, fazer a higiene, dar banho, passear, educar... Eles contam que nos primeiros dois meses, quando Tereza ainda acordava de três em três horas, eles se dividiam da seguinte maneira: um dormia cedo e acordava no início da madrugada. O outro ficava acordado até então e dormia o resto da madrugada. Pais presentes Pela lei, eles têm direito à licença-maternidade e paternidade, como qualquer casal. Mas, como são empresários autônomos, acabaram não usufruindo deste benefício, já que são eles que constroem a própria jornada. Maria Tereza tem uma babá, desde os primeiros meses. Mas eles fazem questão de ter o máximo de tempo possível para dedicar à filha. Quando a babá chega, pela manhã, a pequena já tomou banho e fez a primeira refeição do dia. Mais tarde, voltam cedo do trabalho para dar o banho da noite, alimentar, botar para dormir. Tem mais: montaram, no escritório, um cantinho REVISTA DOS BANCÁRIOS 11


Dia dos pais

Direito

especial para o bebê, que duas vezes por semana os acompanha no trabalho. “Maria Tereza foi muito querida, muito planejada. Ela é amada demais, não apenas por nós, mas por toda nossa família. Queremos ser pais presentes e garantir também essa interação com os parentes e amigos”, diz Wilson. E não faltam tias, tios e avós para ajudar. O casal, em 15 anos de relação, sempre contou com total apoio da família. E isso se mantém. “Como somos empresários, viajamos muito. Na medida do possível, procuramos levá-la conosco ou garantir que pelo menos um de nós fique. Mas, quando não dá, todo mundo se prontifica a ficar com ela”, afirma Maílton. Nestes casos, os dois fazem questão de orientar os parentes, assim como fazem com a babá, para que não alterem a rotina de Maria Tereza. “Ela tem horários bem definidos para suas

O casal feliz, durante as comemorações da chegada da menina

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atividades e fazemos questão de que isso permaneça. Antes mesmo dela nascer, nós lemos um livro chamado A Encantadora de bebês. E aprendemos muito. Hoje, quando Tereza tem sono, a gente só faz ligar o ar-condicionado, colocá-la em seu berço e desligar a luz. Ela chega a se irritar quando alguém tenta sacolejá-la para fazê-la dormir”, conta Wilson. Planejamento O planejamento e a visão de futuro sempre foram atitudes determinantes do casal. A decisão de conceber Maria Tereza, por exemplo, foi muito bem pensada e discutida, juntamente com toda a rede de relações familiares mantidas pelos dois. “Chegamos a buscar crianças para adoção, mas é um processo lento e difícil”, conta Maílton. A primeira resolução do Conselho Federal de Medicina que tratava da re-

produção assistida no Brasil, de 1992, dizia que os usuários da técnica teriam de ser mulheres casadas ou em união estável. Em janeiro do ano passado, um novo texto foi escrito, garantindo esta possibilidade para “todas as pessoas capazes”. Foi quando leu sobre a mudança que o casal resolveu recorrer à fertilização in vitro. Foram colhidos espermatozoides dos dois para serem fecundados em óvulos de um banco de doadoras. Os pré-embriões fecundados por Wilson continuam congelados. “Queremos, ainda este ano, dar início à gestação do irmãozinho de Maria Tereza. Já iniciamos o processo para saber qual o útero que vai abrigá-lo. E não falta quem se prontifique”, diz Wilson. Assim como planejaram muito bem a chegada dos filhos, o casal se preocupa com o futuro deles. Maria Tereza, por exemplo, já tem uma previdência


Dia dos pais

Direito

em seu nome. E os dois estão cuidadosamente escolhendo a escola em que ela vai estudar. “Precisa ser uma escola mais aberta, que não limite os modelos de família aos tradicionais. No Canadá, por exemplo, onde estudei durante algum tempo, os livros de escola mostram várias famílias diferentes, de forma a incluir todas as crianças”, conta Maílton. Sem preconceitos Pensar no futuro significa, também, preparar a criança para lidar com os preconceitos. “Maria Tereza vai ser sempre muito bem informada sobre sua própria história e identidade. Além disso, ela é muito amada. E, se ela vive em uma família feliz e não tem problemas com a autoestima, é mais fácil se defender”, acredita Wilson. As experiências vividas pelo casal desde o nascimento da criança os deixam otimistas. Para eles, uma geração sem preconceitos já começa a surgir. “Depois que a gente saiu na mídia, em várias entrevistas, ficamos um pouco temerosos quanto à recepção por parte da sociedade. Mas nos surpreendemos. Um casal de vizinhos, por exemplo, com quem não tínhamos contato próximo, foi nos visitar, junto com seus filhos, para levar um presente para Maria Tereza. No prédio, as crianças são sempre muito atenciosas: perguntam por ela e nos recebem muito bem”, conta Maílton. E não é só entre as novas gerações que a receptividade é positiva. Os dois contam que, certa vez, estavam em um shopping com o bebê. Na Praça de Alimentação, um deles ficou com a criança, enquanto o outro ia buscar o lanche. Quando voltou, todas as cadeiras estavam ocupadas. “Mas um grupo de senhoras, prontamente, nos ofereceu para sentarmos com elas. E nos trataram com muito respeito”, lembra Wilson. Muito religiosos, a maior preocu-

cartaz de ONG em Portugal tenta quebrar o preconceito

pação de Wilson e Maílton, depois de publicadas as entrevistas, era com relação à acolhida na Igreja, que frequentavam há bastante tempo. Chegaram a ter um aconselhamento com o pastor, que afirmou que embora esta não seja uma opção defendida pela Igreja, eles jamais lhes fechariam os portões. “As pessoas precisam contextualizar melhor a Bíblia. Deus é amor. E hoje já oramos com Maria Tereza, já lhe ensinamos a agradecer o alimento e, principalmente, a amar e respeitar o

próximo”, diz Maílton. Ele cita o médico que acompanhou a fertilização de sua filha, que falou que fazia embriões, mas que a vida quem dá é Deus. “Acho que Maria Tereza veio ao mundo com esta missão: mostrar que um casal gay pode criar filhos equilibrados e muito bem educados. E que não existe esta história de que filhos de gays tenham de ser gays. Se assim fosse, não haveria homossexual em uma família de heterossexuais”, afirma Maílton. REVISTA DOS BANCÁRIOS 13


Cultura e lazer

Dicas

LITERATURA

A Letra e a Voz

Nelson Rodrigues é o homenageado da 10º edição do Festival Recifense de Literatura “A Letra e a Voz”. O evento acontece de 19 a 26 de agosto e quem abre a programação é o grupo de teatro Magiluth com a encenação inédita de “Viúva, porém honesta”, do autor homenageado. Durante uma semana, haverá palestras, oficinas, recitais, balada literária, feiras de livros, entre outras atividades. Para conferir os detalhes, acesse: www.festivalaletraeavoz.com.br

Inscreva seu time no Campeonato de Futebol dos Bancários Se liga: as inscrições para o 14º Campeonato de Futebol dos Bancários de Pernambuco vão até 25 de agosto. Inscreva seu time e prepare-se para a disputa, que está prevista para iniciar nos primeiros dias de setembro. O formulário está disponível no site do Sindicato (www.bancariospe. org.br). “Assim que encerrarem as inscrições, faremos uma reunião com os times para acertar os detalhes da organização e definirmos a tabela de jogos”, informa o coordenador do Campeonato, Adeílton Filho, secretário de Cultura, Esportes e Lazer do Sindicato.

Música

RECOMENDADOS A plenos pulmões

Vale a pena conferir o livro novo do poeta pernambucano Samuca Santos: “Sete poemas a plenos pulmões”. Com linguagem simples e, ao mesmo tempo, inovadora, o poeta fala do cotidiano e da cidade.

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Ficcionais

Trinta e dois autores falam sobre seu processo de criação em “Ficcionais: escritores revelam o ato de forjar seus mundos”. A edição é do jornalista Schneider Carpeggiani e o livro está à venda na Livraria Cultura.


Bancário Artista

O ofício em favor da arte

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ara Bento Rezende, empregado da Caixa há 29 anos, toda pessoa deveria ter uma arte e um ofício. “Eu já tentei viver apenas de música, mas a experiência não foi boa. A obrigação atrapalha a arte. Meu prazer é cantar as músicas que gosto, em lugares que gosto e com pessoas que gosto. E a Caixa me dá esse luxo”, afirma o músico, bancário por ofício. A carreira artística de Bento está, aliás, muito relacionada ao seu trabalho profissional. Foi na Caixa Econômica que ele começou a dar os primeiros passos: como ator, em 1985. A peça, montada pelo grupo teatral do banco, era “A Incelença”, de Luís Marinho. O personagem interpretado por Bento cantava em cena e a voz do ator chamou a atenção do público. “No ano seguinte, um cliente me chamou para montar um repertório de bossa-nova e passamos quase um ano cantando juntos em um bar no Poço da Panela”, conta o músico. O tal cliente era ninguém menos que o premiado violinista Caio César Sitônio. Aliás, bons parceiros não faltaram para o bancário-artista, que tocou com gente como Nenéu Liberalquino, regente da Orquestra Sinfônica do Recife; Ednaldo Queiroz, que foi violinista de Gonzagão; o pianista e maestro, Zé Gomes; o violinista Peter Cavalcanti; o pianista Denil Laranjeiras; entre outros. Foi também graças aos bons parceiros e ao seu trabalho na Caixa Econômica que ele acumulou várias premiações em festivais. Pelo banco, foram dois prêmios de melhor intérprete, em composições dos colegas Lula Gomes e Flávia Ferreira, hoje aposentados. Pela Prefeitura do Recife,

Bento Rezende

levou o segundo lugar no Festival Recife de Música, em 1989, entre mais de mil inscritos. Foi ainda por conta do banco que ele teve que deixar o Recife, para trabalhar em São Paulo, onde conseguiu alavancar sua carreira. “Toquei em bares, teatros, rádio, televisão... Enfim, tive uma vida musical muito intensa”, lembra. O fato é que, em São Paulo ou no Recife, nunca faltaram parcerias e convites para o bancário, que além de se apresentar em bares, também cantou em hotéis como o antigo Othon Palace, em Boa Viagem, ou o Blue Tree Park, em Suape. Atualmente, ele tem dois shows montados: “A maioridade de uma saudade: 21 anos sem Gonzaguinha” e “O centenário do Rei do Baião”. Com a homenagem à Gonzagão, ele viajou em junho para São Paulo, onde se apresentou no Espaço Cultural Oficina e em uma praça pública na cidade de Santana de Parnaíba. No último dia 2, levou o tributo à Gonzaguinha para o bar Pedra de Toque, em Parnamirim. Para os próximos meses, há três shows previstos. O primeiro será no dia 6 de setembro, na festa do Dia do Bancário (leia mais na página 7). O segundo show será no dia 21 de setembro, com “A maioridade de uma saudade: 21 anos sem Gonzaguinha”, às 20h, no Pátio Café. Em outubro, Bento apresenta “O centenário do Rei do Baião”, em data a definir. REVISTA DOS BANCÁRIOS 15

divulgação

Cultura


Mauro Guanandi / Flickr

Turismo

Conheça Pernambuco

São Lourenço da Mata

Capital do Pau-Brasil

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uem gosta de tranquilidade e quiser visitar São Lourenço da Mata, é bom aproveitar os últimos tempos de calmaria no local. O município será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e, junto com a Arena Pernambuco, que está sendo construída para abrigar 46 mil pessoas, uma imensa quantidade de indústrias, pontos comerciais e serviços já começam a invadir o lugar. Mas, por enquanto, ainda é possível desfrutar das belas construções históricas e da riqueza natural da cidade. São Lourenço encanta pela simplicidade. Muito arborizado, o município é conhecido como “Capital Nacional do Pau-Brasil”. Somente na Reserva Ecológica de Tapacurá, remanescente da Mata Atlântica, existem mais de 100 mil árvores do tipo. Somem-se a estas as várias plantações que se espalham pelas ruas e praças do local. O patrimônio histórico da cidade também é bastante rico. Afinal, trata-se de uma das cidades mais antigas do Brasil, com registros da presença de índios Tupinambás datados de 1554. A Igreja Matriz de São Lourenço, que fica no centro do município, foi construída em 1621, com altar-mor em estilo barroco. E a Igreja de Nossa Senhora da Luz, no distrito de Matriz da Luz - a 15 quilômetros do centro -, foi erguida em 1540 e é considerada a segunda mais antiga do país. Há outras atrações, como as ruínas das usinas Capibaribe e Tiúma, ou o belo viaduto sobre o bairro Parque Capibaribe. E para quem gosta de natureza, a dica é um passeio pela Reserva Ecológica de Tapacurá. São 776 hectares de terra, ocupado por matas primitivas, capoeiras e um lago formado pela represa do Rio Tapacurá. Na Estação, pertencente à Universidade Federal Rural de Pernambuco, são desenvolvidas pesquisas na área de botânica, zoologia e ecologia, além da produção de mudas. O acesso pode ser feito pelas Rodovias BR-232 e PE-040, mas as visitas devem ser agendadas previamente pelo telefone 3320-6071. Vale ressaltar que agosto é o mês ideal para conhecer São Lourenço da Mata. Até o dia 12, festividades religiosas e profanas marcam as celebrações do padroeiro da cidade: São Lourenço Mártir. Além de procissões e missas, haverá shows com diversos artistas, a exemplo de Adilson Ramos, Magníficos, Saia Rodada, Netinho, Garota Safada, entre outros. São Lourenço está distante 16 quilômetros da capital pernambucana e o acesso é pelas rodovias BR-408 e PE-05.

16 REVISTA DOS BANCÁRIOS


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