DOS
Revista Bancários Ano III - Nº 26 - Janeiro de 2013
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
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MORDIDA menor
Depois de um ano de muita luta e mobilização, governo federal cede e isenta Imposto de Renda para quem recebe até R$ 6 mil de PLR. Para os que ganham acima deste valor, novas alíquotas reduzem sensivelmente o imposto. A nova tabela já está em vigor REVISTA DOS BANCÁRIOS 1
Editorial
Boas notícias no ano novo! Três dias depois do fracasso do fim do mundo, os trabalhadores brasileiros receberam uma grande notícia: a luta encampada há mais de um ano pela isenção do Imposto de Renda na Participação nos Lucros e Resultados deu certo e o governo anunciou o fim do tributo para quem recebe até R$ 6 mil de PLR. E para os que recebem acima deste valor, o governo criou novas alíquotas, que reduzem sensivelmente o imposto. A conquista não só beneficia Passado o os bancários e outros trabalhafracasso do fim dores que recebem PLR, mas do mundo, o também vai criar um impacto ano começou positivo em toda a economia. com boas Isso porque esses recursos irão notícias para os agora para o bolso do trabalhatrabalhadores. A dor, que poderá consumir mais, principal delas gerar empregos e incentivar o é a isenção de desenvolvimento do país. IR para quem Valeu a pena lutar e também recebe até R$ 6 torcer para que o mundo não mil de PLR acabasse em 2012. Aliás, essa não é a primeira vez que anunciam o fim do mundo e ele não acontece. Esta edição da Revista dos Bancários traz uma reportagem especial que lembra outras catástrofes que fracassaram. Entrevistamos alguns “sobreviventes”, que lembram com bom humor dos boatos que agora fazem parte do folclore. E já que o mundo não acabou, no dia 1º de janeiro tomaram posse os prefeitos e vereadores eleitos nos 5.565 municípios do Brasil em outubro passado. A boa notícia é que a participação feminina nos executivos e legislativos municipais cresceu, mas muito pouco. Em Pernambuco, são apenas 16 as novas prefeitas, o que representa 8,7% do universo de 184 municípios no estado. Esta edição também traz uma entrevista com o violinista Jessé de Paula, que apresenta sua arte nas ruas e nos ônibus de Recife e Olinda. Também tem as dicas de cultura e turismo e o bancário artista do mês. Boa leitura e um ótimo 2013!
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Índice Economia: PLR sem IR
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Política: Mulheres no Poder
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Entrevista: Jessé de Paula
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Notícias do fim do mundo
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Dicas de Cultura
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Bancário artista
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Conheça Pernambuco
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Revista Bancários DOS
Opinião
Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone: 3316.4233 / 3316.4221 Correio eletrônico: imprensa@bancariospe.org.br Sítio na rede: www.bancariospe.org.br Presidenta: Jaqueline Mello Secretária de Comunicação: Anabele Silva Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João Rufino Redação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita Esteliam Projeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno Lombardi Foto da capa: Kevin McGee / SXC.hu Impressão: NGE Gráfica Tiragem: 11.000 exemplares
Economia
Impostos
Este leão não assusta mais Mobilização e luta dos trabalhadores garantem isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 6 mil de PLR
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montagem sobre foto de Jean Scheijen / SXC.hu
s bancários brasileiros realizaram um grande desejo na véspera do Natal. Depois de um ano de mobilizações e muita luta, a presidenta Dilma Rousseff anunciou, no dia 24 de dezembro, a isenção de Imposto de Renda (IR) na Participação nos Lucros e Resultados (PLR) para trabalhadores que recebem até R$ 6 mil. Para quem ganha acima deste valor, o governo criou escalas de alíquotas, que reduzem sensivelmente o imposto cobrado.
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Mobilização contra desconto do IR sobre a PLR começou no final de 2011
Isenção do IR sobre a PLR deve aquecer a economia
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isenção do IR sobre a PLR não foi um presente de Papai Noel. A conquista foi fruto de muita luta e pressão dos sindicatos sobre o governo federal. “Desde o final de 2011, os sindicatos de bancários, metalúrgicos, químicos, petroleiros, eletricitários e urbanitários estão lutando para garantir esta isenção. A conquista não deixa de ser uma pequena reforma tributária que torna o sistema mais justo. Vale destacar que os acionistas dos bancos, por exemplo, não pagam Imposto de Renda sobre dividendos”, destaca a presidenta do Sin-
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dicato, Jaqueline Mello. “A conquista não so objetivo. Isso mostra Ela lembra que a luta deixa de ser uma que a luta vale a pena”, pela isenção do IR sobre pequena reforma ressalta Jaqueline. a PLR é antiga, mas foi Em nota emitida pelo tributária que no final de 2011, com Palácio do Planalto, Diltorna o sistema o lançamento de uma ma destacou que a medimais justo” campanha em massa, que da só pôde ser fechada Jaqueline Mello, a conquista começou a graças ao entendimento presidenta do tomar forma. “De lá para entre governo e centrais Sindicato cá, os sindicatos realizasindicais. “Consultados ram diversas manifestações e reuniões sobre os termos da Medida Provisória com representantes do governo e parla- que implementará a desoneração, os mentares. Fizemos um abaixo-assinado sindicalistas concordaram e pediram em que coletamos mais de 220 mil que a decisão fosse anunciada ainda assinaturas. E agora conquistamos nos- neste ano (2012)”, diz a nota, que as-
sinala o recebimento de “Esses recursos sive a PLR adicional, uma carta assinada pelos até o valor de R$ 6 mil irão para presidentes das princiestará totalmente isento o bolso do pais centrais sindicais. do pagamento de IR. trabalhador, Para Carlos Cordeiro, Em 2012, o desconto de que poderá presidente da ContrafIR para esse montante consumir mais -CUT (Confederação Nafoi de R$ 893,47. Nos e incentivar o cional dos Trabalhadores ganhos até R$ 10 mil, o desenvolvimento do Ramo Financeiro), “a desconto do imposto cai do país”. isenção do IR na PLR é de R$ 1.993,47 para R$ Carlos Cordeiro, uma conquista importan375. Para quem recebe presidente da te, pois esses recursos até R$ 15 mil, o IR cai Contraf-CUT irão agora para o bolso de R$ 3.368,47 para R$ do trabalhador, que poderá consumir 1.338,75. E para a PLR de R$ 20 mil, mais, contribuindo para aquecer a eco- o desconto que era de R$ 4.743,47, vai nomia, gerar empregos e incentivar o para R$ 2.704,37. desenvolvimento do país”. Assim, todos os trabalhadores pagaO presidente da CUT, Vagner Freitas, rão menos imposto e terão mais dinheiconsiderou acertada a decisão do go- ro no bolso para suas necessidades, o verno federal de oficializar a isenção de que vai colaborar para o aquecimento Imposto de Renda sobre a participação da economia nacional. nos lucros e resultados. Ele acredita que esta conquista dará impulso para Como calcular que os trabalhadores lutem por outras A tabela progressiva de desconto do demandas em 2013. imposto de renda prevê isenção total “Medidas como estas nos dão mais para PLRs de até R$ 6 mil. Acima desse motivação para continuarmos a luta em valor, alíquotas progressivas definem a defesa de outras pautas que estão em cobrança. Para calcular o imposto devidiscussão no Legislativo e no Execu- do, aplica-se a alíquota correspondente tivo. Como a diminuição da jornada de à faixa que representa o valor da PLR trabalho para 40 horas sem redução de recebida e subtrai-se o valor da parcela salário, fim do fator previdenciário, a a deduzir do imposto. questão da terceirização, as ConvenPor exemplo, se sua PLR for de R$ ções 158 e 151 da OIT, reforma agrária, 10 mil, aplica-se a alíquota de 15% e reforma política, reforma tributária, obtém-se um resultado de R$ 1.500. entre outras demandas tão importantes Desse valor de R$ 1.500, subtraia para a classe trabalhadora e para o de- R$ 1.125 (que corresponde à parcela senvolvimento do país”, disse Vagner. a deduzir para essa faixa da PLR), e finalmente, você conseguirá o valor do imposto a ser pago, que nesse caso Menos impostos No caso dos bancários, o que foi pago será de R$ 375. de IR - na primeira parcela da PLR, recebida em outubro passado - poderá ser O Sindicato disponibilirestituído na declaração feita em 2013. zou uma tabela detalhada sobre as mudanças na Já a segunda parcela, que deverá ser cobrança de IR na PLR. paga pelos bancos até março, seguirá a nova tributação, o que trará um sigAcesse nificativo ganho para os trabalhadores. www.bancariospe.org.br Tudo que é recebido de PLR, inclu-
Impostos Lumen Fotos
Economia
Jaqueline Mello: “valeu a pena lutar”
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Política
Poder
O desafio das mulheres
Os novos prefeitos e vereadores acabam de tomar posse. Em Pernambuco, apenas 16 municípios serão governados por mulheres, que também são minoria nas câmaras
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©Depositphotos / HASLOO
ocupação dos espaços de poder evoluiu, mas continua sendo um desafio para as mulheres, a despeito de estas se constituírem maioria no eleitorado, possuírem melhor nível de instrução do que os homens e serem presença importante no mercado de trabalho. Amostra disso é o número de municípios pernambucanos a serem governados por mulheres a partir deste janeiro de 2013. São apenas 16 ou 8,7% do universo de 184 municípios no estado, e pouco mais de um terço das pernambucanas que entraram na disputa em 2012, ano em que se completou oito décadas da conquista do direito ao voto
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feminino. Percentuais, diga-se, abaixo da proporção nacional, que ficou em 12,03% nos 5.565 municípios brasileiros ao elegerem 664 prefeitas, ora empossadas. Outro detalhe é que, em Pernambuco, todas vão dirigir cidades do interior, de pequeno porte. Dado, porém, que é parte da tendência nacional, captada em pesquisa anterior e confirmada no pleito de 2012: mulheres têm mais facilidade em se eleger nos municípios menores, seja para o cargo Executivo, seja pra o Legislativo. A constatação é clara na atualização do estudo Mulheres Sem Espaço no Poder, de José Eustáquio Diniz, professor titular da Ense (Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE), publicado na Agência Patrícia Galvão (www.agenciapatriciagalvao.org.br), voltada para assuntos relativos à equidade de gênero e sobre a presença da mulher na mídia. “A exclusão feminina da política é a última fonteira a ser revertida. O déficit político de gênero em nível municipal não faz justiça à contribuição que as mulheres dão à sociedade brasileira”, avalia Diniz, no artigo. Em seu entender, apesar da exigência legal do mínimo de 30% de um ou outro sexo na lista de candidatos a cargos legislativos, falta apoio e investimento na formação política das mulheres. Falta, também, apoio financeiro para sustentar as campanhas femininas.
Poder Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr
Política
Dois anos depois da eleição de Dilma Rousseff, primeira presidenta do Brasil, o crescimento nacional no número de prefeitas eleitas em outubro é de 31,5% em relação a 2008
Dois anos depois da eleição de Dilma Rousseff, primeira presidenta do Brasil, o crescimento nacional no número de eleitas para o Executivo é de 31,5% em relação a 2008. Entretanto, nas capitais, apenas uma tem o comando de uma mulher a partir de agora: Boa Vista, capital de Roraima, onde Teresa Surita (PMDB) acaba de assumir o posto. Nas cinco cidades pernambucanas com mais de 200 mil eleitores, não há presença feminina, sequer, como vice-prefeita, embora sejam 33 as eleitas para o posto no estado, das 71 que se candidataram. Melhor do que o Acre, contudo, que não elegeu mulher alguma. Nas câmaras municipais, a evolução também é positiva, embora bem menor: 13,3% a mais no total de vagas, com a eleição de 7.648 vereadoras em todo o país, 266 das quais em Pernambuco – ou 12,9% de um total de 1.796 legisladores eleitos e 0,08 pontos percentuais comparados à eleição anterior. Note-se que, no Recife e nos outros cinco municípios com pouco menos ou mais de 200 mil eleitores, a presença feminina no Legislativo se mantém escassa, cerca de 10%, ou nenhuma: seis em 39 na capital; duas em 17, em Olinda
e duas em 19, em Petrolina: Jaboatão dos Guararapes (27 cadeiras), Caruaru (23) e Paulista (15) não elegeram vereadoras. Resultados melhores para o Executivo No plano regional, Pernambuco fica em oitavo lugar no rol de mulheres eleitas vereadoras no Nordeste, que, ao lado da
região Norte, tradicionalmente detém a liderança no percentual de eleição feminina em relação às demais regiões no país. O Rio Grande do Norte foi o estado que mais elegeu mulheres para os legislativos municipais, crescimento de 20,5% em relação ao pleito de 2008. Dado curioso, que emerge do estudo do IBGE é que o aumento do número de
MULHERES NO COMANDO DE PREFEITURAS PERNAMBUCANAS 1. Afrânio: Lúcia Mariano de Miranda (PSB) 2. Arcoverde: Madalena Britto (PTB) 3. Betânia: Eugênia Araújo (PSD) 4. Capoeiras: Neide Reino (PSB) 5. Casinhas: Rosineide Barbosa (PSDB) 6. Condado: Sandra Félix (PSDB) 7. Flores: Soraya Morioka (PT) 8. Floresta: Rosângela de Moura Maniçoba Novaes Ferraz, Rorró (PSB) 9. Gameleira: Yeda Filha de Maria (PDT) 10. João Alfredo: Maria Sebastiana da Conceição (PTB) 11. Jupi: Celina Tenório (PDT) 12. Lagoa dos Gatos: Verônica de Oliveira (PTB) 13. Marraial: Maria Marlúcia de Assis, Marclue (PSD) 14. São Bento do Una: Déboara Almeida (PSB) 15. Solidão: Maria Aparecida Vicente Oliveira, Cida (PSB) 16. Tacaimbó: Sandra Aragão (PSD)
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Poder
mulheres candidatas às prefeituras foi menor do que o crescimento das candidatas à vereança, respectivamente, 21,3% e 84,7%. Diferentemente, os resultados foram melhores para o Executivo, mesmo sem haver política de cotas. Contudo, no conjunto dos municípios brasileiros, o percentual de mulheres prefeitas continua abaixo do percentual de mulheres vereadoras – 11,8% e 13,3%, respectivamente. Em resumo, o número de candidatas cresceu, significativamente, mas não foi acompanhado de resultado positivo nas urnas, na mesma medida. O fenômeno é nacional. Nas duas maiores capitais brasileiras, por exemplo, o Rio de Janeiro tem sua câmara composta por 15% de mulheres e em São Paulo 10% das vagas formam a bancada feminina. A explicação para o aumento do número de candidatas, à primeira vista e no que toca aos legislativos municipais, é a atualização da Lei 12.034, de 29/09/2009. A nova versão substitui a palavra “reservar” por “preencher” o mínimo de 30% e o máximo de 70% das vagas para candidaturas de cada sexo. Por outro lado, assinala José Eustáquio Diniz, “a maioria dos partidos lançou candidatas “laranjas”; ou seja, registrou candidatas apenas para compor a lista, mas sem condições efetivas de ganharem as eleições. Reforma política e estereótipos As razões, na verdade, são múltiplas e complexas, e são alinhavadas pelas organizações feministas e estudiosos do assunto, como o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. A começar pela estrutura partidária, que reproduz, em todos os partidos, a secular oligarquia masculina na política, ainda que considerando o que seria “maior predisposição” - melhor diria, disponibilidade - do homem para o exercício da praxis. Some-se a isso a barreira econômica, que se traduz no custo exorbitante das campanhas eleitorais no Brasil, decorrente das listas abertas e do
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Mulheres eleitas no Brasil 1. PREFEITURAS MUNICIPAIS Eleição
Total de candidatos
Mulheres
Eleitas
% Prefeitas
2008
15.142
1.670
504
9,1
2012
15.128
2.026
663
11,8
0,1
21,3
31,5
-
Variação %
2. CÂMARAS MUNICIPAIS – BRASIL Eleição
Total de candidatos
Mulheres
Eleitas
% Vereadoras
2008
330.630
72.476
6.512
12,5
2012
419.633
133.868
7.648
13,3
Variação %
26,9
84,7
20,9
-
Mulheres vereadoras
Participação feminina nas seis cidades com maior eleitorado Recife: seis das 39 vagas Priscila Krause (DEM), Missionária Michele Collins (PP), Irmã Aimée (PSB), Marília Arraes (PSB), Isabela Roldão (PSB), Aline Mariano (PSDB) Jaboatão dos Guararapes: zero das 27 vagas Caruaru: zero das 23 vagas Petrolina: duas das 19 vagas Cristina Costa (PT), Maria Elena (PSB) Olinda: duas das 17 vagas Mônica Ribeiro (PDT), Graça Fonseca (PR) Paulista: zero em 15 vereadores
financiamento privado. Não à toa, a reforma política ocupa o topo das reivindicações do movimento de mulheres: financiamento público de campanha e democratização das estruturas partidárias, com lista aberta de candidatos, por exemplo. É o que preconiza documento da AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras). Em miúdos: a política de cotas é importante, mas não é suficiente. É preciso oferecer condições para que as candidaturas femininas se traduzam em vitórias. Análise publicada na Revista Anual do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, de dezembro de 2012, conclui que, a despeito das constatações, o resultado do último pleito municipal “é um marco importante no progressivo avanço da participação feminina no processo eleitoral”, até porque é o melhor dos últimos tempos para a presença feminina em eleições locais. Entretanto, recomenda, “não se pode perder de vista que a política ainda é um espaço masculino, e ainda há muito o que avançar”.
Outra constatação é de que é preciso ir às raízes do problema, buscar as razões efetivas para que as mulheres se mantenham afastadas da política. Mais: de que forma essa ausência se articula com outras manifestações da própria desigualdade de gênero, como raça e orientação sexual. “Os estereótipos de gênero, a divisão sexual do trabalho, o tempo comprometido com o cuidado e a identificação da esfera pública como masculina; todas as questões que contribuem para a reprodução das desigualdades entre mulheres e homens devem ser trazidas para a reflexão sobre mulheres e poder, pois não são fenômenos isolados”, conclui o estudo. Para começo de conversa, sugere, seria importante repensar o próprio conjunto de valores e práticas que informam o que denominamos política. Se o elemento estruturante das relações sociais se baseia na desigualdade entre mulheres e homens, então, pode dizer que “o molde do repertório” é bichado.
Fonte: TSE – Out/2012
Política
Ivaldo Bezerra
Entrevista
Jessé de Paula
Uma viagem com violino
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Jessé de Paula leva arte com seu violino nos ônibus e nas ruas do Recife e de Olinda: “a música ajuda a aliviar o desconforto, tem muita gente que até esquece que está em pé no ônibus”.
os últimos oito dos 28 anos de sua vida, Jessé de Paula garantiu a sobrevivência do corpo e do espírito tocando violino nos ônibus e nas ruas do Recife e de Olinda. Perdeu a conta de quantas viagens fez diariamente, subindo e descendo dos coletivos, debaixo de sol ou chuva, equilibrando sua arte nos corredores estreitos e, não raro, apinhados, com a audácia de um surfista sobre a prancha. Menino carente de Rio Doce, Olinda, criado pela avó batista, foi na igreja seu primeiro contato com a música. Lá aprendeu flauta doce e viu despertar sua paixão pelo violino. A aptidão lhe valeu o primeiro instrumento, comprado por uma tia, e uma bolsa para estudar música. Não parou mais. O ano que passou, trouxe na bagagem a oportunidade de outras viagens, para além do surfe musical entre passageiros nem sempre bem-humorados. Jessé conseguiu gravar o tão sonhado CD, independente, com músicas autorais; teve seu talento referendado por Ariano Suassuna e foi incluído na programação do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, realizado pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe). No primeiro 17 deste novo ano, desembarca no Teatro Apolo. Desta vez, a bordo de sua ArmorialRock, e para levar o público a uma Viagem com Violino.
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Jessé de Paula
REVISTA DOS BANCÁRIOS Como a música entrou em sua vida? JESSÉ DE PAULA - A música faz parte da minha vida desde que eu nasci. Minha avó me levava para a igreja e em casa cantava os hinos o tempo todo. Aos 6 anos eu já tocava flauta doce na escolinha da igreja e fazia parte, também, da bandinha da Escola Recanto Infantil, onde tocava atabaque. O primeiro contato com o violino veio antes dos 7 anos. Viram que eu tinha aptidão, o que me valeu uma bolsa de estudos no Cemo (Centro Musical de Olinda). Desde então, tenho me dedicado ao estudo do violino. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você vai do erudito ao popular. Como é que se deu esse ecletismo? JESSÉ DE PAULA – Naturalmente. Entre 1999 e 2001, tive uma banda de Rap, inspirada no movimento Hip Hop, a Ocubmanrep - que é Pernambuco ao contrário. Nossa banda foi destaque no Festival Rock na Praça, em Olinda, pois a gente inovava a cena musical: uma banda de Hip Hop formada por violino rabecado, violão, baixo acústico e bateria. Era época do surgimento de outras bandas de Hip Hop – Planet Hemp, Marcelo D2, que também faziam um som novo, parecido. Mas o meu primeiro contato em grupo foi na Camerata Musical Estudantil, em Olinda... REVISTA DOS BANCÁRIOS – E o que foi feito da Ocubmanrep? JESSÉ DE PAULA – Por questões financeiras não tive como dar sequência. Não venho de berço de ouro. As pessoas lá em casa precisam da minha contribuição. Viver de música era complicado... REVISTA DOS BANCÁRIOS – E aí você foi para os coletivos? JESSÉ DE PAULA – Não. Antes de ir para os coletivos, vendi CD pirata durante um bom tempo. Mas aí veio a abordagem policial, baixou a repressão, e eu fiquei sem ter o que fazer. Foi então que alguns amigos
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youtube
Entrevista
“O motorista pode, até, chamar a polícia. Já aconteceu comigo. Mas o povo reconhece o trabalho e interfere a favor”
sugeriram: “Pega teu violino e oferece tua música ao vivo”. Foi o que fiz, primeiro nos bares, restaurantes, em locais públicos, onde eu antes vendia CDs; depois nos coletivos. É como diz Milton Nascimento, “o artista tem que ir aonde o povo está”. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Nunca teve problemas com motoristas e fiscais? JESSÉ DE PAULA – Às vezes... As empresas têm uma norma que proíbe a venda de produtos nos coletivos. O motorista pode, até, chamar a polícia. Já aconteceu comigo. Mas o povo reconhece o trabalho e interfere a favor. A música ajuda a aliviar o desconforto, tem muita gente que até esquece que está em pé. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Consegue sobreviver dessa maratona nos coletivos e ainda ajudar sua família? JESSÉ DE PAULA – Eu sobrevivo da música. Apesar de que, na rua, a manutenção é muito mais cara. Não sei se você sabe, mas o arco do violino é feito da crina do cavalo; quando bate o vento, o sol, a chuva, tiram o breu. O que sobra eu invisto na música. Na verdade, quando comecei a tocar ao vivo, também comecei a prestar atenção no movimento cultural e comercial da música, investi na divulgação e venda pela internet. Artistas famosos fazem isso. A pessoa ouve a música, se gostar baixa, e cada um dá um valor xis; no caso do meu
produto, cada um dá o que pode ou quer. Meu CD foi feito graças à contribuição voluntária. Nos coletivos é a mesma coisa: só contribui quem gosta e pode. REVISTA DOS BANCÁRIOS Como pintou o Festival? E a banda ArmorialRock, como é que surge? JESSÉ DE PAULA – Foi a partir do encontro com Ariano Suassuna. Há quatro meses, eu estava procurando produtores para me ajudarem a divulgar meu produto. Fui atrás do Ariano, fui na casa dele, e comecei a tocar na calçada. A intenção era saber se ele gostava da minha música, e se poderia me ajudar. REVISTA DOS BANCÁRIOS – E ele foi receptivo? JESSÉ DE PAULA - Por sorte minha, todos estavam em casa. A esposa dele avisou que tinha um rapaz tocando violino à porta. Ele ouviu, gostou e me colocou em contato com a produção dele. Acabei fazendo a abertura de duas aulas-espetáculo; também toquei na fila da apresentação dele na Fliporto. Ele me pagou cachê do próprio bolso. Eu agradeço muito a força que ele me deu. Foi importante alguém como Ariano reconhecer minha música como armorial; isso ajudou na seleção para o Janeiro de Grandes Espetáculos. Mas minha música, também, tem soul, rock, tem guitarra e bateria... Tem raiz, mas é para ser tocada em banda, é outra história.
Sociedade
“Sobreviventes” de vários “fins do mundo” contam suas histórias e lembram com bom humor dos boatos que agora fazem parte do folclore nacional
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nasa / noaa / gsfc / suomi npp / viirs / normam kuring
E o mundo nAo acabou
Ficção científica
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Sociedade
Ficção científica Divulgação / Columbia Pictures
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s redes sociais comentaram. A mídia repercutiu. O assunto foi manchete de jornais e tema de filmes no cinema. Mas o dia 21 de dezembro de 2012 passou e o mundo continua. A data fatídica em que, segundo diziam – citando o calendário Maia, a Terra seria eliminada, não passou de motivo para piada. “É que o lobby de meus credores era forte. Eu tinha cheque pré-datado pra janeiro e várias parcelas de financiamento em aberto”, brinca a aposentada da Caixa, Cristina Henriques. Cristina não tinha nenhum motivo para levar o boato a sério. Afinal, ela já sobrevivera a muitos outros fins do mundo. Sobreviveu também ao fim da cidade do Recife que, em 1975, seria inundada pela barragem de Tapacurá. “Eu tinha meus 15 anos. Lembro que um professor do Colégio Marista passou de sala em sala para tranquilizar as pessoas. Mas lembro, também, do desespero de alguns: as pessoas estavam ainda se recuperando de uma enchente quando surgiu o boato do rompimento de Tapacurá”, conta a aposentada. Fernando Batata, bancário do BNB
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e diretor do Sindicato, tinha 15 anos e estava no centro da cidade quando a notícia se espalhou. “As pessoas corriam de um lado pra o outro. Eu estava no meio da ponte, olhei para o rio e só imaginei aquela onda imensa arrastando tudo. Entrei então no primeiro prédio que encontrei e subi até o último andar. De lá esperei a água chegar. Mas não chegou”, lembra Batata. As gerações mais novas não viveram este drama, mas aprenderam a não temer os boatos. É o caso de Fernando Batata Maurício Cláudio de Figueiredo, do Bradesco. Ele era muito menino quando a história de Tapacurá se anunciou. No entanto, vieram outras: em 2000, em 2012. Nenhuma delas o abalou. Mas se as previsões de Nostradamus para o fim do mundo no ano 2000 não amedrontaram Maurício, Batata nem Cristina, o mesmo não pode se dizer do Bug do Milênio, que causou para a aposentada da Caixa muitos transtornos. Cristina namorava um gaúcho, que trabalhava em hidrelétrica. “E para quem trabalhava nesta área, o medo da desprogramação, deste tal Bug do Milênio, foi terrível. Todo mundo ficou em pânico. No fim de ano, os empregados tiveram de fazer plantão”, lembra ela.
SatElites e discos voadores
O medo do fim se utiliza de qualquer pretexto para se transformar em pânico. Em 1979, uma estação espacial dos Estados Unidos, que se encontrava a uma altitude de 435 quilômetros da órbita terrestre, entrara novamente na atmosfera e vinha descendo em direção a Terra. O Skylab, como se chamava, poderia cair em qualquer lugar. Sobre o assunto, o escritor paraibano Tarcísio Pereira escreveu um artigo. Ele conta: “Vi muitos carros saindo das portas, os vizinhos se despedindo; vi outros carros chegando e as pessoas se trancando dentro das casas de paredes largas, achando que as paredes largas pudessem protegê-las do impacto”. O Skylab caiu sim, mas no oceano.
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Cena do “filme catástrofe” 2012: não foi desta vez que o mundo acabou
Sociedade Gases mortais
A desinformação é, de fato, um dos alimentos do medo. Em 1986, quando o cometa Halley passou pela Terra, ele já não causou espanto. Afinal, a onda de pânico já tinha acontecido em 19 de maio de 1910. Dizia-se que a cauda do cometa era formada por gases mortais, que devastariam a Terra e dissolveriam a pele das pessoas. Seria o fim do mundo: muita gente construiu abrigos subterrâneos e tentou enriquecer com a venda de máscaras de gás, garrafas de oxigênio e até comprimidos milagrosos. No entanto, muitas vezes, são justamente os fatos e as informações que fazem nascer os temores. O medo dos gases mortais, que veio no rastro do cometa em 1910, se repetiu nos tempos de Guerra Fria. E os perigos de uma bomba atômica se tornaram ainda mais assustadores após os casos de Chernobyl e de Goiás. Em 1986, um reator da central de Chernobyl, na Ucrânia, teve problemas técnicos e explodiu. Apenas cinco trabalhadores sobreviveram. As áreas do entorno tiveram de ser desocupadas porque o material radioativo disseminado era quatrocentas vezes maior que o das
bombas de Hiroshima e Nagasaki. Em Goiânia, o acidente com o Césio-137 aconteceu em setembro de 1987. Um aparelho utilizado em radioterapias foi encontrado por catadores de um ferro velho, que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, que afetou a saúde de centenas de pessoas. Foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. “Lembro que a gente lia os rótulos dos produtos que ia consumir, com medo de comer qualquer coisa que viesse da União Soviética ou, depois, de Goiás”, conta Batata. A ameaça de uma guerra nuclear permanece, como algo concreto. Os boatos e histórias de fim de mundo continuarão acontecendo. “Mas para mim, quem está de fato destruindo o mundo é a Queiroz Galvão e a Moura Dubeaux. Eles já devem ter conseguido algum terreno em outro planeta para morar, porque estão devastando tudo. Em Boa Viagem, por exemplo, já detonaram todos os lençóis freáticos”, ironiza Cristina Henriques.
Cometa Halley criou pânico em 1910. Dizia-se que sua cauda tinha gases mortais que devastariam a Terra
Concepção Artística do cometa halley
Todos se salvaram e a estação espacial virou nome de uma favela no Recife. Fernando Batata lembra deste fato. Mas lembra ainda mais de um outro, que até hoje é mistério para ele. “Uma noite, eu estava em Aldeia quando vi um objeto em forma de pilão, que fazia movimentos estranhos no céu. Não era uma órbita linear. Ele ia de um canto para outro e despertou minha curiosidade. Fiquei observando durante muito tempo e vi que, depois, apareceu um avião que fazia um percurso em torno daquele objeto. Até hoje não sei o que era: na minha mente, ficou marcado como meu disco voador”, conta. Para ele, sempre que fosse lançado algum objeto no espaço, deveria haver, por parte dos órgãos competentes, um processo anterior de informação às pessoas, para evitar o pânico. Cristina Henriques lembra, por exemplo, de um outro fato, ocorrido na década de 1980: “Apareceram uns círculos de luz no céu, um por dentro do outro. Todo mundo correu pra rua para ver. Na época não havia internet e aquilo gerou um medo imenso. Depois é que ficamos sabendo que tinha sido o lançamento de um foguete em Natal”.
Ficção científica
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Cultura
Dicas
Mais de uma centena de Grandes Espetáculos
O tradicional “Janeiro de Grandes Espetáculos” agita mais uma vez as terras pernambucanas em pleno mês de férias. O Festival Internacional de Artes Cênicas do estado já é considerado um dos maiores eventos artísticos do Brasil. A 19ª edição acontecerá de 8 a 27 de janeiro no Recife, Olinda, Caruaru e Arcoverde. O evento é uma realização da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), com programação distribuída em 118 sessões de espetáculos locais, nacionais e internacionais para adultos, crianças e na linguagem do teatro de rua, incluindo shows musicais, além de lançamentos de livros, seminário, debates, mesa redonda, palestras, sarau das artes, workshops, leituras dramatizadas, festas, entrega de prêmios e oficinas. Confira a programação em www. janeirodegrandesespetaculos.com. Os ingressos variam de R$ 10 e R$ 40, com meia entrada para artistas, crianças, estudantes, professores e maiores de 60 anos. Muitas sessões são gratuitas.
Das ruas para os palcos
Ivaldo Bezerra
Uma das atrações do “Janeiro de Grandes Espetáculos” é o músico Jessé de Paula, que concedeu uma interessante entrevista para esta edição da Revista dos Bancários (páginas 9 e 10). O artista apresenta o seu show “Viagem com Violino” no dia 17 de janeiro, quinta-feira, às 20h, no Teatro Apolo. Com uma apresentação em três atos, Jessé utiliza o violino para atrair o público com canções de consagrados compositores, além de peças autorais. Entre os homenageados da noite estão os músicos Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Rita Lee. A apresentação conta ainda com recital de poesias por Marco Polo e as participações de J. Duo, Cristina Amaral, Irah Caldeira, Banda Kastarrara e Banda Armorial Rock. Os ingresso custam entre R$ 10 e R$ 20.
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Cultura
Bancário Artista
Diego Alexandre
A música como mensagem de fé Bancário do Bradesco, em Igarassu, e músico, Diego faz de sua arte um instrumento para falar da paz
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iego Alexandre ganhou, aos 10 anos de idade, seu primeiro instrumento musical. Desde então, a música o acompanha. “Eu via meu tio tocar e ficava só admirando. Depois que ganhei meu violão, passei a fazer aulas, comprar revistas, pesquisar...”, conta o artista. Nascido em família evangélica, a fé e religiosidade misturou-se à sua paixão pela música: há sete anos, ele toca contrabaixo na banda Gospel Ágape. Com dez anos de formação, a banda
usa a arte para transmitir sua mensagem religiosa. “Nossas letras falam de paz, de libertação, da volta de Jesus...”, conta Diego. Os ritmos são variados: da música popular e erudita ao forró. A formação atual da banda inclui oito pessoas: além de Diego no contrabaixo, há violão, duas guitarras, bateria, teclado, percussão e vocal. Bancário há três anos, no Bradesco de Igarassu, o músico garante que não há problemas para conciliar o ofício e a arte. “Mesmo antes de trabalhar no Bradesco, já fui corretor de seguros. Mas a gente geralmente toca à noite. Não atrapalha”, garante Diego mora em Igarassu, trabalha no município e também no local frequenta a igreja Assembleia de Deus, onde toca duas vezes por semana. Além disso, a banda costuma tocar em eventos e abertura de shows. Para janeiro, por exemplo, já está prevista uma participação da Ágape em um culto de ação de graças. E para o futuro, o projeto é a gravação do primeiro CD da banda. REVISTA DOS BANCÁRIOS 15
Conheça Pernambuco Divulgação
Turismo
Itapissuma
Salve São Gonçalo e a caldeirada!
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Divulgação
ebruçada sobre o Canal de Santa Cruz, a receber a brisa dos rios e do mar, está a cidade conhecida como a “terra da caldeirada”. Mas ,neste mês de janeiro, não são as comidas que fazem a alegria de quem visita Itapissuma. A cidade inteira se envolve nas festas em homenagem ao padroeiro, que além de ser protetor das mulheres, foi eleito
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pela população como protetor dos pescadores. É São Gonçalo do Amaranto. Conta-se que este santo, de origem portuguesa, era um homem simples, que andava pelo mundo com uma viola de cordas, difundindo suas mensagens com melodias e rodas de dança. Não à toa, a Buscada de São Gonçalo é também conhecida como Festa da Felicidade. Acontece em duas etapas: a Levada e a Buscada, e dura uma semana, a partir do segundo domingo de janeiro. Na Levada, a imagem é conduzida da Vila de Itapissuma até a Vila de Nova Cruz, em Igarassu, seguida por uma grande procissão por terra, com fogos de artifícios, flores e hinos. Durante uma semana, o santo lá permanece, com realização de casamentos, batizados e outros eventos religiosos no local. No domingo seguinte, é a vez da Buscada. Um cortejo marítimo, com embarcações enfeitadas com fitas, parte para trazer de volta a imagem do santo. Instalada de volta na Igreja de São Gonçalo, dá-se início às cirandas, banda de pífanos e outros folguedos. Enquanto espera a chegada da imagem, o visitante pode apreciar a culinária maravilhosa que faz a fama da cidade. Às margens do canal, com a vista dos manguezais, dos ancoradouros, do cais e da ponte Getúlio Vargas, nada melhor do que apreciar uma caldeirada, arraia ao coco ou moqueca seca de manjuba, entre outras iguarias. Vale ressaltar: o Mercado Público do local é um dos mais importantes mercados de crustáceos da região. E quem quiser acompanhar de perto a procissão, pode tentar alugar um barco à vela no estaleiro do Cabocim. Mas nem só de peixe, rios e santo é feita a cidade de Itapissuma. Além de fazer parte do maior polo náutico do Norte-Nordeste brasileiro, o município integra a Reserva da Biosfera de Mata Atlântica, considerada pela Unesco “Patrimônio da Humanidade”. Para conhecer de perto esse outro aspecto de Itapissuma, a dica é uma visita ao Sítio Ecológico Frei Alfredo, que é um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Lá, a Sociedade Nordestina de Ecologia mantém um viveiro de mudas, com mais de 90 espécies da Mata Atlântica e da Caatinga.