Revista dos Bancários 29 - abr. 2013

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Revista Bancários Ano III - Nº 29 - Abril de 2013

Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

www.bancariospe.org.br

Limpando a consciência

Nova Lei das Domésticas combate a secular violação de direitos no país e ajuda a corrigir uma injustiça histórica, que remonta a época da escravidão REVISTA DOS BANCÁRIOS 1


Editorial

Enfim, a alforria... Nossa herança escravocrata nunca falou tão alto quanto nestes últimos dias, depois da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional das Domésticas. A nova legislação, com imenso atraso, reconhece a estes trabalhadores os mesmo direitos que os demais. Nada mais justo. Afinal, varrer, lavar, cozinhar, cuidar de criança, limpar... tudo isso é trabalho duro. Mas, nos grandes meios de comunicação e nas conversas à boca miúda, o assunto foi tratado como um bicho de sete cabeças, que levaria à falência as famílias de classe média ou geraria demissões em massa. Argumento semelhante foi usado nos tempos da abolição É hora de começar a olhar as empregadas pelos defensores do trabalho escravo: “os pobres negros, domésticas a partir libertos, não teriam onde modo ponto de vista rar, nem como se alimentar. A delas. E, quando escravidão era, em verdade, ficar difícil pagar quem provia estas pobres o que elas de fato criaturas e mantê-la era uma merecem, que tal questão de humanidade”. começar a falar A mesma justificativa vale sobre relações também para quem defende compartilhadas? o trabalho infantil, que “dignifica a alma, formando bons cidadãos”. E os comentários em resposta à nova lei revelam esta cultura, herdada da escravidão: “Não é certo burocratizar uma relação, que é afetiva...”; “Ela mora conosco e não contribui com a despesa. É a casa dela também...”; “É como se fosse da família...”; “Não somos empresa, com fins lucrativos...”. Pergunta-se: se a relação é afetiva, não seria natural que quiséssemos ver feliz a pessoa de quem gostamos? Não seria natural que ela pudesse dispor de tempo para estudar, descansar, cuidar de seus próprios filhos, se divertir? Não é isso o que queremos para alguém que é de nossa família? E mais: uma empresa pública, sem fins lucrativos, acaso deixa de pagar seus funcionários? É hora de começar a olhar as empregadas domésticas a partir do ponto de vista delas. Afinal, elas não são uma extensão de suas patroas ou patrões. E, quando ficar difícil pagar o que elas de fato merecem, que tal começar a falar sobre relações compartilhadas? Ou exigir políticas públicas – creches, lavanderias ou refeitórios – ao invés de clamar contra a atrasada alforria das empregadas domésticas.

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Índice Lei das Doméstica

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Entrevista: Urariano Mota

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A Venezuela depois de Chávez

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Bancários em campanha permanente

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Dicas de lazer e cultura

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Bancário artista

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Conheça Pernambuco

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Revista Bancários DOS

Opinião

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone: 3316.4233 / 3316.4221 Correio eletrônico: imprensa@bancariospe.org.br Sítio na rede: www.bancariospe.org.br Presidenta: Jaqueline Mello Secretária de Comunicação: Anabele Silva Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João Rufino Redação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita Esteliam Projeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno Lombardi Foto da capa: E.D. Plug/SXC.hu Impressão: NGE Gráfica Tiragem: 11.000 exemplares


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Trabalho

Doméstica, com muito orgulho Nova legislação sobre trabalho doméstico corrige injustiça histórica e valoriza a profissão

© Deposit Photos / Duncan Noakes

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o dia 27 de abril, Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Eunice, Miriam e mais de sete milhões de pessoas, sobretudo mulheres, terão motivos para comemorar. Desde o último dia 2, elas deixaram de estar à margem do mundo do trabalho e passaram a ter os mesmos direitos assegurados a qualquer trabalhador. Nos grandes meios de comunicação, as mudanças foram tratadas, como de costume, a partir da ótica do empregador. Também nas conversas à boca miúda, reproduzia-se o discurso da mídia: lamentava-se as dificuldades geradas para a classe média e propagava-se a tese do risco de desemprego. Mas para Eunice do Monte, diretora administrativa do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Recife, este discurso já não incomoda. Ela faz parte da categoria há mais de 30 anos e já viu o mesmo papo ser repetido a cada avanço. “Depois da Constituição de 88, disseram a mesma coisa... A gente sabe que, no começo, vai haver algumas dificuldades. Mas depois, tudo se ajusta”, opina.

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Capa

Trabalho

Semiescravidão Eunice começou a trabalhar com apenas 12 anos de idade. Moradora de Casa Amarela, foi forçada a pegar no batente depois que o pai perdeu a vista e, consequentemente, o ganha-pão. Ela e a irmã mais velha tiveram de abandonar a escola e foram, cada qual, para uma residência. Não tinham direito a nada, sequer a salário. Mas eram duas bocas a menos para alimentar. “Eu era uma menina. Lavava os pratos trepada num tamborete. Era uma criança tomando conta de outras... às vezes elas me batiam, gritavam comigo e eu não podia fazer nada. À noite, chorava sozinha”, lembra a trabalhadora. Com o tempo, Eunice foi “se acostumando” e as coisas “Parece um sonho! acesso ao Fundo melhoraram um pouco. “Mas Todo ano, no dia de Garantia por ainda passei por umas três Tempo de Serviou quatro casas sem direito 27 de abril (Dia das Trabalhadoras ço (FGTS). No nenhum”, lembra. Um dia, enquanto conversava com uma Domésticas), a gente entanto, definido como opcional, colega, que trabalhava na vizi- estava brigando, o direito ficou nhança, recebeu o convite para pressionando... restrito a uma ingressar no Movimento da Este ano, estaremos quantidade muiJuventude Operária Católica. comemorando” to limitada de Passou a ir a todas as reuniões trabalhadores. e se afeiçoou à militância. EUNICE DO MONTE Em 2006, a Tempos depois, o convite chegaria pelo rádio, em um anúncio do Lei 11.324 permitiu a dedução, no sindicato dos trabalhadores domésticos, Imposto de Renda das pessoas físicas, que dizia: “Doméstica, você não está das contribuições previdenciárias do só!”. Ela procurou sua entidade de classe empregador doméstico, o que estimula a e nunca mais saiu. “Na época, era ainda formalização dos contratos de trabalho. uma associação. Brigamos muito para Também incorporou direitos como estasermos reconhecidos como sindicato”, bilidade para gestante, direito a feriados conta Eunice, que também já foi presi- e proibição de descontos com moradia, alimentação ou produtos de higiene usadenta da entidade. A conquista só viria com a Constituição dos no local de trabalho. Depois disso, foram mais sete anos de 88, junto com outras: o salário mínimo como piso; 13º salário; folga remunerada para os trabalhadores domésticos deide pelo menos um dia por semana; férias xarem de ser uma exceção à legislação de 30 dias; licença gestante; aviso prévio trabalhista e conquistarem os mesmos direitos que qualquer outro. “Parece um proporcional e aposentadoria. sonho! Todo ano, no dia 27, a gente estava De conquista em conquista com faixas na mão, brigando, pressionanNo século XXI, viriam novos avan- do... Este ano, estaremos comemorando”, ços: em 2001, a Lei 10.208 facultou o comenta Eunice.

Arquivo pessoal

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Ela sabe, no entanto, que as leis não bastam. No Recife, por exemplo, somadas as diaristas e as mensalistas sem carteira assinada, o nível de informalidade no


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Tudo legal Miriam da Silva é uma das que já tem boa parte dos direitos assegurados. Moradora de Aldeia, Camaragibe, ela trabalha em uma residência perto de Paudalho. Tem carteira assinada, não faz hora extra,

folga aos domingos. “Tudo eles fazem dentro da Lei. Descontam o transporte e a previdência. Não dão nem a mais, nem a menos”, diz a trabalhadora. No ano passado, Miriam precisou ficar 30 dias afastada por conta de uma cirurgia. Não tivesse a carteira assinada e a previdência paga, teria que depender da boa vontade dos patrões para receber o salário no tempo de afastamento. Em boa parte dos casos, o trabalhador fica sem remuneração durante este período. Ou, pior, é substituído. Para os patrões de Miriam, pouca coisa vai mudar com a nova legislação. De novidade para eles, somente o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Mas, para ela, esta é uma novidade que faz muita diferença. “É bom a gente saber que, se for demitida, não vai sair com uma mão na frente e outra atrás... E também que vai poder recorrer ao seguro

desemprego”, afirma Miriam. Alguns pontos da Emenda Constitucional já passam a vigorar de imediato, a exemplo da jornada de 44 horas. Outros, no entanto, precisam ser regulamentados. É o caso do pagamento do seguro desemprego e demissão por justa causa. Uma comissão já foi constituída pelo Governo Federal e deve apresentar a proposta de regulamentação em 90 dias. Outro ponto que suscita dúvidas, inclusive para o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, é quanto às pessoas que dormem no trabalho. “Acredito que deve ser exigido um acordo entre as partes, mas ainda não sei ao certo...”, confessa Eunice. Além das leis O fato é que, nos últimos anos, a categoria tem sofrido mudanças e nem todas por conta das leis. As estatísticas mostram, por exemplo, que embora

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Domésticas comemoram a aprovação da NOVA LEGISLAÇÃO no Congresso nacional

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José Cruz/ABr

setor era de quase 70% em 2011, quando já vigoravam as leis de estímulo à formalização dos contratos. “O Sindicato recebe aqui muita gente que é humilhada e até apanha. Mas se vamos à Delegacia, não temos como provar, pois não há testemunhas. Tem gente que leva comida de casa para o trabalho, porque os patrões descontam; gente que é demitida quando fica doente; gente que é colocada pra fora e não recebe nem o salário do mês trabalhado... Mas, também tem patrão bom. E alguns nos procuram aqui porque querem fazer tudo direitinho”, conta Eunice.

Trabalho


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Trabalho

Divisão sexual do trabalho Por outro lado, há algo que não muda no perfil do trabalhador doméstico brasileiro: mais de 90% da categoria, em todas as regiões do país, é formada por mulheres. E a maioria delas é negra. Mantém-se, desta forma, a tradicional divisão de papéis, que delega às mulheres o espaço privado, do lar e da família, e aos homens o espaço público. “As alterações ocorridas no mundo do trabalho

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© Deposit Photos / ArenaCreative

o número de trabalhadoras domésticas tenha aumentado entre 2001 e 2011, a proporção de pessoas que ocupam este setor diminuiu. No Recife, por exemplo, elas passaram de 107 mil para 129 mil pessoas. Mas, se antes constituíam 9,1% do total de trabalhadores, passaram a constituir apenas 8%. Para o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), o crescimento econômico trouxe novas oportunidades de inserção. A redução na proporção de trabalhadores domésticos guarda relação com esse processo na medida em que incentiva o deslocamento de trabalhadores para outras ocupações, menos vulneráveis. Essa afirmação é corroborada pelo fato de que as regiões com menor índice de desemprego registram também as menores parcelas de trabalhadores domésticos. De acordo com o Dieese, diminuiu também a proporção de trabalhadores que moravam na casa do empregador e o número de crianças e jovens no setor; e praticamente duplicou o percentual de empregadas domésticas com ensino médio completo. No entanto, as jornadas continuam imensas. Em Recife, por exemplo, as jornadas das mensalistas alcançaram 58 horas semanais em 2011: quase dez horas por dia. E o grau de instrução ainda é baixo: na maior parte das regiões analisadas pelo Dieese, mais da metade era analfabeta ou não tinha concluído o ensino fundamental.

O Recife tem cerca de 130 mil domésticas, o que representa 8% dos trabalhadores

não levaram a mudanças significativas na divisão sexual do trabalho”, avalia a pesquisadora Maria Betânia Ávila, do SOS Corpo. Com isso, cria-se uma rede de substituições, em que cada mulher trabalhadora recorre a uma outra, que a substitua em casa. Miriam e Eunice sempre puderam contar com a ajuda da família para criar

seus filhos. Já Jacilene Mariano precisa recorrer a uma outra pessoa, da vizinhança, a quem paga um pequeno valor para que cuide de seu bebê. “Minha mãe já toma conta dos filhos de minha irmã e do meu menino mais velho. Não consegue dar conta de um bebê. Como não tem creche, a gente tem que se virar como pode”, explica.


Urariano Mota

Maxim Lachmann / SXC.hu

Entrevista

Literatura para desvendar o real O escritor pernambucano lança seu terceiro livro, que trata do Recife dividido, do preconceito de classe, do racismo e da opressão sobre a mulher

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screver “é falar a verdade, é o desvendamento do real. É ter olhos para ver, sensibilidade para imitar”. Para o jornalista e escritor pernambucano, Urariano Mota, que também é bancário aposentado do Banco do Brasil, a Literatura vem pela memória do sentimento. Para ele, assim como é uma falácia a dita imparcialidade do jornalismo, definir ficção como fruto da imaginação é equívoco e pose. “A ficção é o desvendamento do real”, ensina. Urariano escreve sobre o que viu e vivenciou. Escreve sobre os resistentes, os solitários, os deserdados. É um militante social e político, com memória dos anos de chumbo inscrita na alma. Parte da experiência de menino e adolescente pobre e órfão “criado no beco” no Bairro de Água Fria. Sua literatura é enfática e intensa,

como ele próprio. Está no terceiro livro, a ser lançado em 8 de maio próximo, pela Bertand Russel, Rio de Janeiro: O Filho Deserdado de Deus. Conto inspirado na obra Mulheres como uma certa Maria, foi selecionado no Festival Internacional de Direitos Humanos, ano passado e integrou a mostra itinerante por 19 cidades latino-americanas. Na verdade, o novo livro é o quarto criado pelo escritor, que se dá ao luxo de renegar o primeiro, Arremedo de Voo, porque “foi mal escrito”; ainda assim, colheu menção honrosa no concurso literário da União Brasileira de Escritores, no início dos anos 70. Dentre os filhos, digamos, reconhecidos, Os Corações Futuristas, sobre a resistência à ditadura de 64 no Recife, foi edição independente, e pequena. Já o seguinte, Soledad no Recife, também sobre os anos de chumbo, ganhou editora consagrada, a Boitempo Editorial, e projetou o nome do pernambucano para o Brasil e o mundo. O livro foi tema de discussão no seminário sobre Literatura Brasileira na Universidade de Bolonha, na Espanha, ano passado. Para este mês de abril, Urariano participa de debate em seminário sobre Direitos Humanos, dia 1º, no Centro de Educação da UFPE. E na noite do dia 3, autor e obra são os convidados do Projeto História de Pernambuco em Debate pelos Trabalhadores, no Sindicato dos Bancários. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você está com mais um livro no prelo, que deve ser lançado em breve. O cenário, mais uma vez é o Recife, e os personagens, gente do povo. Qual é o argumento, desta vez?

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Entrevista

Urariano Mota

Fotos: Beto Oliveira

URARIANO MOTA – É mais um romance. O lançamento está previsto para 8 de maio, desta vez pela Bertrand Russel. A intenção é desmontar a farsa dos maridos que se mostram chorosos e sofridos com a morte da mulher, quando na verdade se sentem libertos e, não raro, tentam se locupletar. Ainda outro dia, assistindo a um programa de TV, vi uma história dessas: o homem estrangulou a mulher, mostrou desespero durante o velório e o enterro, e queria mesmo era ficar com a pensão dela, coisa de dois mil reais por mês... Ocorre que a literatura costuma tratar da falsa viúva, nunca do falso viúvo. Resolvi assumir essa tarefa. Esse romance, O Filho Renegado de Deus, é a história da violentação do povo. Antigamente, a mulher era violentada, barbarizada, cotidianamente, mas isso era “natural”. Mulheres morriam de parto, feito formiga. O pobre não tinha direito à dor. Pobre com dor era frescura. Mulher, a esposa e mãe dos filhos, era doação total e absoluta. A amante é que era a dona do pedaço, era a mulher formosa, atraente, sexy, charmosa. Esse tipo de mulher era considerada puta, e normalmente as amantes eram putas, e estas eram mais valorizadas do que a dona do lar, porque as mulheres casadas eram essencialmente domésticas. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Mas você não acha que mesmo com a quebra dos tabus sexuais, que devemos às feministas, a imagem que prevalece da mulher, hoje, na mídia, pelo menos, é essa: a de objeto sexual? URARIANO MOTA – Claro que é a imagem que prevalece, ainda. A diferença é que hoje a gente fala sobre isso. É a mesma coisa com o negro, com os pobres e os miseráveis. O racismo está aí, pouco dissimulado. O preconceito de classe não acabou, mas a gente pode apontá-los, discuti-los, falar sobre eles. Lembro, agora do comercial da Caixa, comemorativo dos 200 anos: pegaram uma imagem do Machado de Assis branco. Ora, Machado

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de Assis era mulato. A coisa repercutiu tão mal que a Caixa pediu desculpas e mudou o anúncio. Aliás, a tendência dos negros, à medida em que ficam famosos é serem branqueados... Aconteceu também com o autor de O Guarani, o Carlos Gomes, ficou branco depois que fez sucesso no exterior. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Em Os Corações Futuristas, seu primeiro livro, e em Soledad no Recife, o segundo, você narra fatos da resistência à ditadura de 64, que permeou a sua adolescência e juventude, e agora? URARIANO MOTA – O Filho Renegado de Deus é memória anterior a 64. Como eu já passei dos 60, é mais funda, remonta à minha infância. E nada é tão forte como a memória da infância. Na infância você sente a dor, mas não tem consciência da dor da diferença de classe, do racismo, da discriminação da mulher. Na nossa infância, a gente sofria com isso, vivia com isso, mas não tinha consciência. Manuel Bandeira escreveu, em Itinerário de Pasárgada: “Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante”. REVISTA DOS BANCÁRIOS – E quando você descobriu que queria ser escritor? URARIANO MOTA – Quando na escola se tinha o bom costume de ler em voz alta. Eu lia com interpretação, e fui elogiado pela professora. Porque, na infância de escritores, sempre há um facilitador. Eu não tive. Mesmo Graciliano Ramos, que cresceu no sertão das Alagoas, teve oportunidades que eu nunca tive. No livro autobiográfico Infância, ele conta que, embora pobre, teve acesso à Literatura, através de um tabelião que lhe emprestava livros de sua biblioteca pessoal. Venho de uma época e de um meio onde se dizia que


Entrevista “quem lê muito fica doido” e “quem gosta de poesia é frango (fresco). REVISTA DOS BANCÁRIOS – E então você começou a escrever... URARIANO MOTA – A primeira tentativa foi também minha maior frustração. Ainda na adolescência, escrevi um humorístico em homenagem à professora. Quando terminei a leitura, ela estava chorando... Era para rir, pô! Mas o fracasso, muitas vezes, é mais importante que a vitória. A vitória simplifica. O fracasso te obriga a refletir. Um pouco mais tarde, escrevi um conto para a revista Escrita, ficção de humor: narrei a experiência de uma noite, a primeira, na Baiana, o maior puteiro do Recife; a prostituta me ensinou, exatamente, onde era o lugar. Eu achava que era, imediatamente, abaixo do umbigo...” (risos) Desta vez, consegui. Outros vieram. A Literatura é a minha vida, e foi responsável, inclusive, pelo fim do meu primeiro casamento. Só tinha a noite para escrever e, um dia, ela acordou e reclamou do barulho das teclas da minha Remingthon, que não a deixavam dormir. Então, eu disse: para mim, deu. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Sua literatura foca experiências do real, há também uma preocupação com a História. A realidade é mais rica do que a imaginação? URARIANO MOTA – Não é bem uma preocupação com a História. É mais com a memória. Como eu já passei dos 60, é História - o que marcou a minha geração. Escrevo o que eu vivi e sobre o que eu vi. Com Cruz e Souza aprendi que não era escrever, era para escrever para falar a verdade. É a astúcia do real, como dizia Lenin. A ficção é tratada como se fosse aquela que brota da imaginação. Pois eu digo que a ficção é o desvendamento do real. Você tem razão, nada é mais rico do que a realidade. Tem caras que posam de monumento. Eu seria incapaz de escrever um romance sobre os séculos XVIII e

Urariano Mota

XIX. Minha imaginação é curta. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Dizem que o jornalista é um escritor frustrado. Ou seria o contrário, o escritor é um jornalista que não deu certo. O que é para você? URARIANO MOTA – Você propõe um dilema complicado. Prefiro sair pela terceira via. Eu sempre quis ser escritor. O Jornalismo foi o mais próximo que eu consegui chegar, dentro da minha realidade da época. Agora, todo jornalista é escritor, quando tem intimidade com a Literatura. Euclides da Cunha foi a Queimados fazer uma reportagem, e escreveu Os Sertões, um grande livro. O Jornalismo Literário, aliás, não é uma escola restrita aos Estados Unidos, não é só Truman Capote. Nós também temos exemplos notórios: Machado de Assis, quando escrevia suas crônicas políticas para publicar nos jornais do século XIX, fazia Literatura. Já no século XX tem Antônio Maria, Rubem Braga, Drummond e tantos outros. REVISTA DOS BANCÁRIOS – Voltemos ao seu novo livro e ao preconceito. O personagem central é um homem negro, poliglota, que foi expulso do restaurante Leite, mesmo sendo convidado de um bacana estrangeiro... URARIANO MOTA – É, o personagem é discriminado, mas também oprime a mulher e os filhos. Essa história de bom e ruim, bem e mal, só existe em folhetins. Ninguém é de todo ruim nem é imaculado. A natureza do ser humano é múltipla e contraditória. O nosso personagem fala três idiomas. É neto de escrava, mas só gosta de puta loira. É semianalfabeto formal, mas fala inglês como ninguém, e também domina o francês. Seu prazer está no embate com os doutores, que não dominam os idiomas como ele. É a sua vingança. É orgulhoso do posto que conquistou, mas profundamente opressor, o filho renegado de Deus. REVISTA DOS BANCÁRIOS 9


Ana Veloso

Blog do Chavez - www.chavez.org.ve

Entrevista

A humanização da política e a vinculação aos sentimentos populares nestas eleições antecipadas pelo luto abrem uma distância que parece insuperável para a oposição

A Venezuela sem C Eleições definem novo presidente no dia 14 e misturam luto com luta pela manutenção do governo bolivariano

A

Venezuela vai às urnas em 14 de abril para escolher seu novo presidente, após a “perda física” do seu comandante, Hugo Chávez, morto em 5 de março. Honrar o legado do líder da revolução bolivariana é o que move os chavistas, que detêm o candidato favorito nas pesquisas. O presidente nomeado interino, Nicolás Maduro (PSUV) – o vice que se tornou herdeiro político designado por Chávez ainda em vida – tem de 14 a 18 pontos de vantagem sobre o opositor Capriles Radonski, do PJ (Primero Justicia), mostram as últimas medições. O início oficial da campanha eleitoral, se deu no dia 2 de abril. Contudo, nas ruas, na mídia e no cotidiano dos venezuelanos, respira-se política, muito antes do calendário oficial entrar em vigor. Do lado chavista, a preparação para a batalha democrática inclui a renovação do compromisso massivo do chamado “núcleo duro” do chavismo, através do Juramento das Unidades de Batalha, que coloriram de vermelho os ginásios de basquete de

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três cidades do oriente venezuelano, na última semana de março. Militares empenhados na tarefa “Um por Dez”: cada militante deve conseguir 10 votos. A meta do Partido Socialista Unido da Venezuela é crescer dos cerca de 8 milhões de votos, conquistados nas presidenciais de 2012 (55,25%), para 10 milhões em 2013, informa Carta Maior. Evidentemente, não faltam provocações de parte a parte, como em todo embate eleitoral. Particularmente da oposição, que se esforça para apropriar-se das políticas e da simbologia chavista, embora, contraditoriamente, não as reconheça. Capriles, que foi derrotado por Chávez nas eleições de outubro do ano passado, tenta desqualificar o candidato do PSUV por sua origem humilde de motorista de ônibus, o acusa de usar a imagem do presidente morto, e empenha-se em grudar-lhe a máxima de que “Maduro não é Chávez”, dentre outras coisas. Para o candidato oposicionista, a disputa eleitoral “é o embate do bem contra o mal”, e é claro, ele, Capriles encarna o bem. O preconceito de sempre, permeando as velhas práticas das elites. Matéria da Revista Fórum, a partir de perfil publicado pelo La Jornada, explica quem é Nicolás Maduro: “Faz parte da nova geração de líderes latino-americanos que, como o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva ou o cocaleiro Evo Morales, entrou para a política a partir das trincheiras das lutas sociais de oposição.” Sob a aparência do homem robusto de 1,90m, com bigode negro e espesso, está um revolucionário socialista que migrou de uma formação ortodoxa para se unir ao heterodoxo furacão da revolução bolivariana. É um homem de esquerda, que traz a política no sangue: seu pai fundou o partido socialdemocrata Accion Democrática (AD). Durante mais de sete anos, dirigiu ônibus pelas ruas de Caracas – e o faz, agora, para mobilizar-se na campanha presidencial –, foi chanceler outros seis anos e tornou-se colaborador fiel de Hugo Chávez, a ponto de tornar-se seu herdeiro. Observadores avaliam, por outro lado, que a humanização da política e a vinculação


Política

aos sentimentos populares nestas eleições antecipadas pelo luto abrem uma distância que parece insuperável pelos adversários do “filho de Chávez”. A despeito das manobras de marketing de Capriles, o favoritismo de Maduro é avassalador. No coração e na mente do povo, é preciso fazer prevalecer a independência, a soberania e a pátria socialista. “Chávez vive, la lucha sigue”, é o bordão da campanha situacionista. Fato é que, após 14 anos de combate agressivo e de derrotas sucessivas para o chavismo, os opositores já não ousam questionar em público a figura de Chávez, e tentam fazer valer o discurso da continuidade de políticas sociais, por exemplo. Até batizaram seu comando de campanha como Símon Bolivar, e ameaçaram lançá-la na cidade natal do ex-presidente, Barinas, na mesma data e lugar do comício inaugural de Maduro. Recuaram diante da acusação do candidato chavista de que a oposição buscava o conflito. Nicolás Maduro alertou seus seguidores para não caírem

Nepomuceno lembra que não se pode esquecer que Capriles enfrentou Chávez, em outubro passado, e saiu das urnas com quase 45% dos votos. Significa que, à época, havia uma expressiva parcela da população disposta a buscar nas urnas uma alternativa ao governo. Parece óbvio que Nicolás Maduro não detenha o carisma de Hugo Chávez. Entretanto, a um mês da morte do líder, revela-se promissor que Maduro, aparentemente, tenha obtido o apoio decidido das múltiplas correntes que integram o chavismo, tanto políticas como militares. Da mesma forma que mantém o elo com os movimentos populares. Não obstante a conscientização das massas, via programas sociais, a sociedade venezuelana está fraturada, também por isso. Lá, como no Brasil, as elites não aceitam repartir o bolo com as camadas populares. E se tentaram o golpe contra Chávez, não tentariam sem ele?

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opositores já não ousam questionar em público a figura de Chávez

Agência Brasil

Chávez

na “provocação que visa desestabilizar a democracia do país”. A identidade do “eleito” por Chávez para sucedê-lo com a causa bolivariana parece assegurar vitória nas eleições presidenciais com relativa facilidade. O grande desafio, porém, segundo analistas da política internacional, é assegurar a estabilidade política no longo prazo. Para Eric Nepomuceno, articulista de Carta Maior, por exemplo, “Nicolás Maduro tem pela frente o árduo desafio de consolidar sua liderança no imenso vazio deixado pelo presidente morto. Para isso, terá de buscar novos equilíbrios, conquistar lealdades, procurar um consenso delicado, não apenas junto a seus pares, mas também junto à população deixada órfã”. Mais: “Fazer tudo isso num país radicalmente polarizado, com profundos problemas de violência urbana, no abastecimento, na economia”.

Internacional

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Política

Internacional

‘O Projeto Bolivariano é do povo’

Consul da Venezuela no Nordeste brasileiro fala sobre o processo eleitoral e as perspectivas do país sem Hugo Chávez

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uem cruzar com Néstor Chirinos em qualquer local público, não imagina que está diante do consul da República Bolivariana da Venezuela no Nordeste. A juventude expressa nos traços latinos, entretanto, não expõe o nível de preparo do cientista político, formado pela Universidade Central da Venezuela, e que chefia o Consulado, com sede no Recife, desde janeiro deste ano, mas onde trabalha há cerca de cinco anos. A Revista dos Bancários conversou com Chirinos sobre o processo eleitoral venezuelano e as perspectivas políticas, sociais e econômicas da Venezuela sem Chávez. REVISTA DOS BANCÁRIOS – É uma característica da Revolução Bolivariana colocar jovens em cargos políticos importantes? NÉSTOR CHIRINOS – Há vários jovens em cargos de direção no Governo do comandante Hugo Chávez, inclusive ministros de Estado. Sou de 1983, um ano marcante. Minha geração nasceu e cresceu em meio à crise. Vimos como o sistema era corrupto e de exclusão das massas, a despeito da riqueza petrolífera. E as práticas políticas perpetuavam a desigualdade social e mantinham a riqueza

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Chirinos, durante a festa do mês dA mulher no sindicato Ivaldo Bezerra

nas mãos da oligarquia. REVISTA DOS BANCÁRIOS - Chávez chega para colocar essa parcela que ficou excluída, inclusive no poder...? NÉSTOR CHIRINOS – Sim, Chávez é eleito em 1998 e, a partir de 1999, tudo muda. Criou-se ministérios para assegurar a participação popular, como por exemplo, o Ministério dos Povos Indígenas; as missões bolivarianas, para combater a miséria, o analfabetismo, a mortalidade infantil. A melhoria dos indicadores sociais é evidente. Em 14 anos os investimentos sociais somam 500 bilhões de dólares – na saúde, educação, moradia, transporte público, cultura... A educação básica, que no Brasil se chama fundamental, foi universalizada, assim como a educação técnica; acabamos com o analfabetismo. REVISTA DOS BANCÁRIOS - Nas eleições de outubro do ano passado, a oposição, representada por Capriles, obteve cerca de 45% dos votos, e foi contra Hugo Chávez. Para alguns observadores, significa que a sociedade venezuelana mantém-se fraturada. Agora, Capriles enfrenta Nicolás Maduro. O chavismo resistirá? NÉSTOR CHIRINOS – O Projeto Bolivariano se institucionalizou, não é de um grupo político. Nas eleições presidenciais de outubro tivemos 55% dos votos. Lá o voto é opcional. Você deve ter acompanhado: o sepultamento de Chávez levou milhares de pessoas às ruas para acompanhar o líder que se foi. O funeral teve a presença de chefes de Estado de todo o mundo. O reconhecimento da liderança do Comandante Chávez não se restringe à Venezuela... REVISTA DOS BANCÁRIOS – O próprio Capriles tenta se apropriar das políticas e dos símbolos do chavismo... NÉSTOR CHIRINOS – Sim, na verdade age para confundir. Antes, se perguntava às pessoas o que seria da Venezuela sem Chávez. Hoje já se sabe que o projeto bolivariano está institucionalizado. A atitude da oposição é uma mostra disso. Obviamente que as classes econômicas altas não gostam da palavra redistribuição, por que ela vai contra o status quo a que se acostumaram anos a fio...


Organização

Sindicato

Na luta, sempre! Luta dos bancários não se restringe ao período da Campanha Nacional. Nos últimos dias, os trabalhadores deram início às negociações temáticas e começaram a realizar congressos específicos por empresa para definir as reivindicações

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Campanha Nacional dos Bancários só começa pra valer no segundo semestre. Mas durante o ano inteiro, a categoria está na luta por melhores salários e condições de trabalho. No final do mês passado, por exemplo, o Sindicato e a Fenaban retomaram as negociações das mesas temáticas, que discutem as reivindicações de saúde, segurança, terceirização e igualdade de oportunidades. “Conseguimos alguns avanços importantes nesta primeira rodada de negociações do ano. O objetivo é chegar na Campanha Nacional com algumas questões consolidadas e prontas para entrar na nossa Convenção Coletiva. São reivindicações complexas que não podem ficar restritas às negociações da Campanha”, explica a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello. Além das negociações temáticas, os bancários deram início, agora em abril, aos encontros nacionais segmentados por empresas. Os dois primeiros reuniram os funcionários do Itaú e do Bradesco. Em maio é a vez dos congressos dos bancários do Banco do Brasil e da Caixa. Os demais trabalhadores ainda estão agendando os seus encontros. “O objetivo destes encontros é definir a pauta de reivindicações específicas dos funcionários de cada banco para negociarmos permanentemente com as empresas”, detalha Jaqueline. Como se vê, a luta dos bancários não se restringe ao período da Campanha

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Nacional. “Agora mesmo estamos na batalha contra o novo plano de funções comissionadas do Banco do Brasil, que é prejudicial aos bancários. Se o BB não atender nossas reivindicações, não descartamos uma possível greve nacional nos próximos meses. Aliás, foi a nossa mobilização que garantiu que os próprios bancários do BB não fossem prejudicados financeiramente com a reestruturação da empresa”, afirma Jaqueline. Confira no site do Sindicato (www.bancariospe.org.br) as últimas notícias da luta da categoria. Converse com seus colegas e engrosse a mobilização. “Só assim, com pressão e luta, vamos conseguir ampliar os nossos direitos, garantir melhores condições de trabalho e, enfim, mais qualidade de vida”, finaliza Jaqueline. REVISTA DOS BANCÁRIOS 13


Cultura e lazer

Dicas

ESPORTES

II Jogos do Sindicato

Dias 20 e 21 de abril, o Clube de Campo dos Bancários, em Aldeia, se enche de atletas, que participam do II Jogos do Sindicato. Vai haver disputa de natação, vôlei de areia, tênis de mesa, xadrez, sinuca, dominó, canastra e atletismo, com corrida rústica e de velocidade. As disputas serão abertas, também, aos dependentes dos bancários sindicalizados, diretores e funcionários do Sindicato. Os atletas, principalmente os do interior, terão prioridade na ocupação dos chalés. Inscrições pelo www.bancariospe.org.br.

Sindicato promove Corrida dos Bancários no dia 4 de maio O Sindicato realiza no próximo dia 4 de maio mais uma Corrida dos Bancários, desta vez em parceria com a tradicional Corrida do Pessoal da Caixa. A prova será realizada às 17h no centro do Recife, com percursos de 5 e 10 quilômetros. Serão 300 participantes com 150 vagas, gratuitas, divididas entre os bancários filiados ao Sindicato e seus dependentes e os associados da Apcef. Além das premiações gerais, há prêmios específicos para os bancários. Há, também, distinções por gênero e por faixa etária. Os atletas serão monitorados através de chip e podem se inscrever pelo endereço www.corre10.com.br. Todos os inscritos receberão uma bolsa com squeeze e camiseta e, caso concluam o percurso, também receberão medalhas.

Festivais

RECOMENDADOS Abril Pro Rock

Nos dias 19 e 20, mais um Abril pro Rock toma conta do Chevrolet Hall. O primeiro dia traz atrações como: Móveis Coloniais de Acaju, Television e Marcelo Jeneci. No segundo dia, de rock mais pesado, grupos como Dead Kennedys, Sodom e Devotos. Confira a programação em abrilprorock.info.

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PE em Dança

Até maio, o Festival Pernambuco em Dança passa por diversos espaços no Recife, além das cidades de Paudalho, Bezerros, Vitória de Santo Antão e Santa Cruz do Capibaribe. São várias modalidades de dança, com grupos profissionais e amadores. Saiba mais em pernambucoemdanca.blogspot.com.br


Cultura

Bancário Artista

A arte em panos e linhas arquivo pessoal

Magali Guerra Heuer é bancária do HSBC durante o dia. À noite, ela vira estilista e já começa a ganhar fama no mundo da moda

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agali Guerra Heuer sempre inventou um jeito próprio de se vestir. Adolescente, fazia da calça jeans um short, desfiava, colocava um bico, tirava a gola da blusa e criava uma nova... Hoje, ela é bancária, do HSBC. E estilista. Ela era estudante de administração na Universidade Católica quando achou que poderia, também, investir em outro antigo talento. Com 12 anos de idade, já manejava a linha e agulha. Aos 16, sua mãe ganhou uma máquina de costura e ela deu um jeitinho de aprender como usá-la. “Sempre gostei de desenhar figurinos e customizar minhas roupas. Quando soube que, no Senac, bem pertinho da faculdade, tinha curso de desenho de moda, resolvi investir”, conta a artista. Foi além: concluiu este curso e fez outro: de estilismo. Na conclusão da turma, o desfile, realizado na Academia Brasileira de Letras, foi destaque na imprensa. A repercussão dos novos talentos pernambucanos foi tanta que as criações ganharam espaço até em rede nacional, inclusive no programa da Ana Maria Braga, na TV Globo. Junto com a irmã Manuela, Magali abriu uma loja: a Dona Comadre, que funcionava nas Graças e tinha, também, um atelier em Boa Viagem, que recebia encomendas. Magali respondia pelas criações. Manuela, pela administração. “Depois que Manuela teve bebê, a gente optou por fechar a loja, já que eu trabalho o dia inteiro e ela também já não poderia se dedicar”, diz Magali. Apesar disso, ela garante que concilia bem o trabalho e a arte. “O estilismo é, acima de tudo, um hobby, algo que me dá prazer. O HSBC foi meu primeiro emprego. Comecei como estagiária e estou lá há 10 anos”, afirma. Para as criações, ela reserva as noites e, atualmente, se dedica a desenhar vestidos para um momento inesquecível: o casamento. “O que eu gosto mais é da etapa da criação, do desenho. Então optei pelas noivas. Posso fazer de dois a três vestidos por ano e me dedicar plenamente a cada um deles”, explica. Seu estilo? “Sou uma pessoa romântica e coloco um pouco disso no que construo. Gosto muito de rendas, por exemplo. Mas claro que a gente mescla isso com o estilo de cada cliente”, responde a artista. REVISTA DOS BANCÁRIOS 15


Turismo

Conheça Pernambuco Fotos: prefeitura de tacaratu

Tacaratu

Serra de muitas pontas

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acaratu é terra indígena. Lá, entre Tacaratu e Petrolândia, vivem mais de 3 mil pessoas da etnia Pankararu. A origem do nome também é indígena: significa serra de muitas pontas. De fato, a paisagem da serra se destaca nesta que é a terceira cidade mais alta de Pernambuco. Trilhas ecológicas são uma boa pedida. Mas a cidade também atrai pela religiosidade, sobretudo no Santuário de Nossa Senhora da Saúde. Construído em 1929, é sede de uma das mais importantes festas religiosas da região, a da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Saúde. Entre o final de janeiro e início de fevereiro, o local atrai romeiros de vários estados nordestinos. Mas, em qualquer época do ano, o santuário atrai por sua

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beleza arquitetônica. Um passeio pelo centro da cidade revela outros encantos, como o coreto junto ao santuário ou a chamada praça do S, com sua fonte luminosa. Quem vai a Tacaratu deve estar disposto a boas caminhadas. A trilha pela Serra do Cruzeiro revela uma paisagem magnífica de toda a região. Um pouquinho mais acima, dá para aproveitar a Cachoeira do Salobro, com suas sete quedas e deliciosas duchas naturais. Pela Serra Grande, além da vista da cidade, chega-se à Fonte Grande, uma das principais atrações da região. A bica jorra água cristalina, através de uma fissura na rocha, a cerca de 2 metros de altura. O percurso da Serra Grande inclui a Bica dos Homens e uma gruta, que teria sido esconderijo dos cangaceiros comandados por Lampião. Quem deseja conhecer o município, não pode deixar de visitar a aldeia Pankararu. Cerca de 3.670 índios vivem numa área de 8.100 hectares, numa reserva na localidade de Brejo dos Padres, nas margens do Rio São Francisco. Entre suas festas típicas, destaca-se a Corrida do Umbu, realizada durante quatro finais de semana após o carnaval. Outra manifestação cultural bastante presente é o toré, dançado ao ar livre por homens, mulheres e crianças, de preferência nos fins de semana. O ritmo é marcado pelo som de maracás feitos de cabaças. Os versos da música são cantados em português, misturados com expressões do antigo dialeto da tribo.


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