Revista dos Bancários 42 - Mai. 2014

DOS

Revista Bancários Ano IV - Nº 42 - Maio de 2014

Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

www.bancariospe.org.br

Eu posso roubar o seu emprego ;) As novas tecnologias têm ajudado os bancos a se modernizar e a cortar custos. Mas, para os bancários, as inovações podem custar o emprego e resultar em mais trabalho

Editorial

O futuro do bancário Nos últimos trinta anos, as novas tecnologias estão revolucionando o mundo do trabalho. E os bancos, como nenhum outro setor, sabem usar as inovações para cortar custos e modernizar a sua linha de trabalho.

O problema é que, para os bancários, as novas tecnologias não facilitaram a sua vida no banco. Pelo contrário: a modernidade está cortando empregos e abrindo espaço para que o profissional trabalhe ainda mais.

Nesta edição da Revista dos Bancários, discutimos esses problemas e apontamos Os bancários propostas para que os trabalhadores também também se apropriem das benesses precisam se das novas tecnologias. apropriar Um debate que ganha importândas benesses cia ainda maior neste momento em das novas que os bancos começam a implantar tecnologias, o chamado Mobile Payment. O pois as inovações não novo sistema permite uma série de podem ser transações bancárias pelo celular. boas apenas Deve cortar custos dos bancos e para os facilitar a vida dos clientes. Mas, bancos e para os bancários o que pode significar esta nova tecnologia?

Deixando o futuro de lado, estamos no mês de maio, e não poderíamos nos esquecer das mães. Nesta edição, preparamos uma matéria especial sobre o parto humanizado. Você sabe o que é isso?

Na entrevista do mês, conversamos com Eleonora Pereira,que teve o filho assassinado pela homofobia.

Ela transformou a sua dor numa luta incansável pela igualdade de direitos e pelo respeito às diferenças.

Para finalizar, conheça o bancário artista do mês e veja nossas dicas de cultura e turismo.

E prepare-se: na próxima edição da Revista dos Bancários estaremos com um novo layout para lhe proporcionar uma leitura ainda mais agradável.

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Índice A tecnologia e o bancário

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Entrevista: Eleonora Pereira

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Parto Humanizado

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Dicas de cultura

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Bancário artista

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Conheça Pernambuco

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@bancariospe

/bancariospe

Revista Bancários DOS

Opinião

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone: 3316.4233 / 3316.4221 Correio eletrônico: imprensa@bancariospe.org.br Sítio na rede: www.bancariospe.org.br Presidenta: Jaqueline Mello Secretária de Comunicação: Anabele Silva Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João Rufino Redação: Fabiana Coelho Diagramação: Studio Fundação Design & Editorial Impressão: NGE Gráfica Tiragem: 11.000 exemplares

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Trabalho

A quem serve a tecnologia bancária?

Q

Bancos se apropriam – de forma exclusiva – das benesses de uma tecnologia que poderiam servir, também, ao bancário e ao cidadão

uando o bancário aposentado Onofre Alves de Araújo começou a trabalhar no Banco do Brasil, há mais de 30 anos, não havia internet, nem computadores.

Nos anos 80, quando ele iniciou sua carreira como escriturário na agência Barreiros, seu serviço era no setor de abertura de contas.

“Havia um listão enorme, que a gente conferia e ia riscando. Depois passava os dados pro fichário. Cada cliente tinha o seu...”, lembra.

Pela manhã, todos os dias, havia em cada unidade um listão com o saldo médio dos correntistas. O setor de processamento era no antigo Cesec. Era lá que, todas as noites, era impressa a lista, que servia como base de conferência para cada operação realizada.

“Era um trabalho danado pra fechar o balancete. Se alguma coisa não batia, a gente tinha que olhar ponto por ponto”, recorda Onofre.

O trabalho era imenso. Dificilmente alguém conseguia encerrar a jornada em menos de oito horas. Muitas vezes, era necessário estender o serviço aos sábados. Quando os sistemas operacionais mais modernos começaram a surgir, os bancários não tiveram do que se queixar. Serviços complicados, que

demoravam várias horas, passaram a ser realizados rapidamente, de forma simples.

“A gente poderia ocupar mais tempo com cada cliente, qualificar o atendimento”.

Foi o que pensou Onofre, na época. Não foi o que aconteceu. Primeiro, o número de funcionários foi reduzido. “A agência de Paulista, por exemplo, onde trabalhei, tinha doze caixas. Ficou com quatro”, cita o aposentado. Somente entre o período de 89 a 96, a redução no número de bancários no Brasil foi de cerca de 40%, passando de 821.424 para 497.109.

O perfil do bancário, e do banco, também mudou.

No Banco do Brasil, por exemplo, o foco era o crédito, a carteira agrícola. A função era emprestar, atender o cliente... Gerente de banco em cidade de interior era uma figura pública: conhecia cada cidadão, resolvia problemas, atendia a população e

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Trabalho

liberava créditos.

Em pouco tempo, os bancos descobriram novas formas de rentabilidade: a venda de títulos de capitalização, seguros e outros produtos. Bancário passou a ser vendedor, com metas cada vez mais difíceis de cumprir.

E os bancos se apropriaram do tempo que seria liberado para qualificar o atendimento. “Se você conversar com um bancário aposentado, ele vai lembrar com amor dos tempos que dedicou ao banco, há trinta anos. Mas dificilmente você encontra atualmente alguém que tenha pela profissão o mesmo carinho.

Bancário é um profissional em crise de identidade: entrou no banco para atender o cliente, passou a ser vendedor – obrigado a empurrar para as pessoas todo tipo de produto”, opina a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.

A SEGREGAÇÃO DA INCLUSÃO O discurso da automação era convincente: melhoraria a segurança interna, agilizaria serviços e qualificaria o atendimento. “Isso realmente aconteceu. O problema é que, em contraposição aos benefícios, os bancos encontraram novas formas de explorar o trabalhador e sugar a população”, afirma o diretor do Sindicato, Alan Patrício, que também é secretário AGÊNCIAS DE HOJE: TECNOLOGIA NÃO MELHOROU O ATENDIMENTO

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AGÊNCIAS ANTIGAS: MENOS TECNOLOGIA, MENOS ESTRESSE

de Assuntos Jurídicos da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).

Depois, mais um discurso bonito foi enterrado pelos bancos: o da inclusão. Ele veio à tona a partir da criação do modelo de correspondente bancário. “A inclusão financeira é a chave para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou o presidente o Banco Central, Alexandre Tombini. E completou: “Desde 2011, foram realizados aprimoramentos normativos conso-

lidando o modelo de correspondentes no país, (…) levando acesso a serviços financeiros a localidades antes desassistidas”.

De fato, entre 2003 e 2013, o número de agências bancárias cresceu 35%, passando de 16.829 a 22.740 unidades. Já o número de correspondentes teve ampliação de 1011%, passando de 36.474 em 2003 para 405.248 em 2013. Mas, destes correspondentes, a maioria (47%) está localizada no Sudeste, em cidades que já tinham acesso ao sistema financeiro. No Norte, por exemplo, estão apenas 4% dos correspondentes.

Aquilo que seria para incluir tornou-se modelo de segregação. “Primeiro faz-se de conta que os bancos não são uma concessão pública e os desobriga de abrir agências em cidades não ‘rentáveis’. E basta olhar as estatísticas para perceber que o modelo de correspondentes não está cumprindo seu papel. Eles se concentram nos grandes centros urbanos, onde já existe rede bancária. Foram usados, não para inclusão, mas para afastar das agências os clientes ‘indesejáveis’ – aqueles que não trarão retorno financeiro aos bancos”, diz Alan.

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JAQUELINE MELLO: O BANCÁRIO DE HOJE ESTÁ EM CRISE DE IDENTIDADE

A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA Em 93, quando a automação nas agências bancárias estava em sua etapa inicial, os bancos investiram US$ 3,8 bilhões em tecnologia. No ano seguinte, estas despesas subiram para US$ 4,1 bi. De 2008 para 2012, os investimentos dos bancos em tecnologia saltaram de R$ 12,6 bilhões para R$ 20,1 bilhões.

A cada momento, uma nova tecnologia chega às agências. O exemplo mais recente foi a extinção do setor de compensação.

“Antes, as trocas eram físicas. Hoje é tudo feito por imagem. Então aquilo que era executado nos centros de compensação passou a ser feito nas próprias unidades”, explica Alan. O fechamento dos centros de compensação gerou mais de 20 mil demissões no setor bancário.

Segundo reportagem do Valor Econômico do dia 29 de abril, em cinco anos as transações bancárias passaram de 20 bilhões para 35,7 bilhões por ano, as operações pela internet saltaram de 30% para 39% do total e as feitas por mobile banking saíram de 0,04% para 2,3%. Enquanto isso, nas agências, o movimento caiu de 18% para 11% e nos terminais de ATM, de 33% para 26%.

As transações por meio digital cresceram nos últimos quatro anos mais de 56% na Caixa, que realiza mais de 6 bilhões de operações financeiras e não-financeiras por ano. Internet banking e mobile banking respondem por 21% das operações diárias, enquanto correspondentes, lotéricas e terminais ATM ficam com 71% e as 4 mil agências da instituição suportam outras 7,8%.

No BB, que realiza 30 milhões de transações financeiras por dia, o uso do mobile banking já responde por 8% das transações feitas pelos clientes. A internet lidera com 34% e já deixou os caixas eletrônicos para trás, com 33%.

No Santander, quase 90% das transações são realizadas nos canais digitais. Para atender o mercado, uma das últimas novidades lançadas pelo banco foi o acordo firmado com a sueca iZettle para a expansão de um serviço que permite que celulares e tablets aceitem pagamentos com cartões.

O Itaú fechou com

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53% das transações realizadas pela internet ou pelo celular e 47% pelos canais tradicionais. Um ano antes, a proporção era de 43,5% para 56,5%.

Das 40 milhões de transações realizadas todos os dias no Bradesco, 88% são feitas por canais eletrônicos - 46% pela internet e 14% por celular e tablet somadas às 23% no caixa-automático e 5% no call center. A expectativa é que passe em breve os 90%. Para atender essa demanda, o banco criou a carteira eletrônica - um aplicativo que incorpora ao celular todos os cartões de crédito e débito do cliente.

A Rede Cielo já tem mais de 700 mil terminais instalados com a tecnologia.

No HSBC, das 860 milhões de transações realizadas por ano, 34,40% são feitas por canais eletrônicos - 17,6% pelo internet banking, 16,6% por ATM, além d e 0,2% por aparelhos móveis e 0,2% pelo call center.

A ÚLTIMA MODA Ao mesmo tempo, multiplicam-se as chamadas Agências Select, lojas de negócios e bancos Prime. São aquelas unidades sem caixas, com atendimento

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ANTONIOCRUZ/ABR

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ATÉ OS TERMINAIS DE AUTOATENDIMENTO ESTÃO FICANDO ULTRAPASSADOS

gerencial voltado apenas para negócios.

Ou aquelas unidades voltadas para um público específico, com alto poder aquisitivo e grandes investimentos.

Para a secretária de Finanças do Sindicato, Suzineide Rodrigues, o chamado Mobile Payment, regulamentado pela lei 12.865, de 9 de outubro do ano passado, traz consigo esta contradição entre as benesses trazidas pela tecnologia e sua adequação a um modelo que segrega usuários e precariza o trabalho.

O novo sistema permite, por exemplo, que um pagamento possa ser efetuado pelo celular. “A pessoa pode criar uma conta vinculada à telefônica e fazer o pagamento ou pode vincular o número telefônico a uma conta bancária ou cartão de crédito. A tecnologia não está fechada: pode ser por SMS, por leitura óptica, com uma maquininha de cartão”, explica Suzineide.

Significa que a pessoa, quando quiser

ALAN PATRÍCIO: A QUEM SERVE A TECNOLOGIA?

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pagar a conta de luz, pode apenas mandar um SMS informando o valor e a conta a ser creditada. Ou pode ver um produto na loja, aproximar o smartphone do código de barras bidimensional e ter o valor debitado da conta cadastrada. O modelo pode ser usado, inclusive, para pagamento de benefícios sociais como o Bolsa-família e aposentadoria do INSS. “Nós não somos contra a tecnologia.

Pelo contrário. Ela poderia servir para reduzir as filas e as demandas e melhorar, assim, a qualidade de vida do bancário.

Mas, basta examinar o histórico dos bancos no que diz respeito à adoção de novas tecnologias para desconfiar de que tais inovações não trarão os benefícios prometidos, nem para a sociedade, muito menos para os bancários”, opina Suzineide.

Há outros questionamentos: a que categoria vai pertencer os trabalhadores que vão operar estas transações? Quem vai responder pelas fraudes ou problemas?

Atualmente, os dois setores que mais têm queixas registradas de consumidores nos Procons são o sistema financeiro e de telecomunicações. Os quatro primeiros colocados no ranking de reclamações são o Grupo Vivo, Itaú, Claro e Bradesco.

As tarifas, por sua vez, contrastam com o discurso da inclusão, utilizado pelo Banco Central e sistema financeiro. Um saque, por exemplo, usando o mobile,

está custando R$ 6,00.

Para o secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, “não é mera coincidência que os investimentos bilionários em tecnologia da informação aconteçam ao mesmo tempo em que ocorre a pressão dos empresários, especialmente dos banqueiros, sobre os deputados para a aprovação do PL 4330/2004, que possibilitaria a terceirização integral dos serviços bancários”.

Segundo o dirigente sindical, o debate que está passando batido pela sociedade como um todo, inclusive pelos governos, é o de quem se beneficiará com esse novo processo tecnológico. “Servirá de fato para aumentar a inclusão, com a democratização do acesso, ou apenas engordará ainda mais os lucros dos banqueiros e empresários? O que será feito dos trabalhadores que serão eliminados nesse novo cenário?”, conclui.

SUZINEIDE RODRIGUES: MOBILE PAYMENT PODE PRECARIZAR O TRABALHO DOS BANCÁRIOS

Entrevista

Eleonora Pereira

FOTOS: IVALDO BEZERRA

Mães pela Igualdade No estado que mais mata homossexuais, a pernambucana Eleonora faz da dor da perda o combustível para a luta contra a homofobia

H

á mais de três anos, desde que mataram seu filho, Eleonora Pereira precisa fazer terapia para lidar com a dor. Desde aquela época, quando a homofobia lhe roubou seu caçula, ela passou a fazer parte do grupo “Mães pela Igualdade”, para lutar contra a discriminação. Em maio, o sofrimento é maior. Ela já não tem o seu menino mais novo para abraçar no Dia das Mães. Mas este é também um mês de ativismo: 17 de Maio é o Dia Internacional de Combate à Homofobia.

Em Pernambuco, uma decisão judicial obrigou o Shopping Paço Alfândega a sediar a Exposição “Família é Amor”. Depois de ser vítima de discriminação no local, Eleonora comemora o fato de poder exibir imagens de famílias em que não há espaço para o preconceito. A iniciativa dobra de importância quando se fala de um estado que há décadas é onde mais se mata gays no Brasil: em 2013, foram 34 vítimas em Pernambuco.

Estado, por sua vez, que se situa na região mais homofóbica do país. O Nordeste abriga 28% da população e concentra 43% dos crimes contra homossexuais.

No Brasil, foram assassinados no ano passado 312 gays, travestis e lésbicas – uma morte a cada 28 horas. Trata-se do campeão mundial de crimes contra transsexuais e travestis, concentrando 40% dos casos em todo o mundo. “Dois sentimentos unem o grupo Mães pela Igualdade: a dor da perda e o medo da perda”, afirma Eleonora.

Fala um pouco sobre esta exposição e a luta para trazê-la aqui ao Paço Alfândega...

Primeiro, é bom que se diga que a iniciativa de abrigar a exposição não é do Shopping. Trata-se de decisão do Ministério Público depois que fui vítima de discriminação. Eu vim aqui no Shopping, em julho do ano passado, pra fazer uma foto para o movimento “Mães pela Igualdade”. Fiz algumas aqui no térreo, depois subi para fotografar no terraço. Quando tirei da bolsa a bandeira com o arco-íris, dois vigilantes me abordaram dizendo que eu não poderia tirar fotos ali. Uma senhora que ia passando, perguntou: - E eu? Posso fotografar? Eles disseram que sim... E isso foi o que mais me doeu. Se fosse outra bandeira qualquer, não haveria impedimento. Mas, como integrante de um movimento em defesa dos REVISTA DOS BANCÁRIOS 7

Entrevista

Eleonora Pereira

PAÇO ALFÂNDEGA APRESENTA ATÉ 19 DE MAIO UMA EXPOSIÇÃO COM FOTOS DE FAMÍLIAS QUE ACEITARAM E ACOLHEM OS FILHOS QUE MANTÊM RELAÇÕES HOMOAFETIVAS. SHOPPING FOI OBRIGADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO A FAZER ESSA EXPOSIÇÃO DEPOIS QUE ELEONORA FOI VÍTIMA DE DISCRIMINAÇÃO NO LOCAL

homossexuais, eu estava proibida de fazer fotos naquele lugar. Saí de lá e fui direto para o Ministério Público. Graças a isso, estamos com esta exposição agora, no Mês das Mães, para mostrar que famílias são diferentes e exibir mães que se orgulham e amam seus filhos, independente da orientação sexual.

O que é o movimento Mães pela Igualdade?

O grupo surgiu como uma iniciativa da organização internacional All Out. O número de crimes contra a população LGBT no Brasil fez com que eles pensassem na criação de grupos de mães. Como eu tinha perdido meu filho recentemente, e tinha uma trajetória de militância nos direitos humanos, fui indicada aqui no Recife.

A dor que eu sentia naquele momento era tão grande que me impulsionou a encarar este desafio. No ano seguinte, 2011, fizemos o 1º Seminário Nacional, na Câmara dos Deputados, com o tema:

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Família Igualitária. Em 2012, montamos a 1ª Exposição, “Mães pela Igualdade”, que circulou pelas praças do Rio de Janeiro.

Aqui no Recife, é onde o grupo tem mais força: temos gente de vários bairros, sobretudo das periferias; gente de Salgueiro, São Vicente Férrer e vários municípios da Região Metropolitana, Agreste e Sertão. O Nordeste é a região mais homofóbica do

Brasil e Pernambuco, há décadas, lidera o ranking de assassinatos por homofobia.

Isso amplia a importância de sermos o primeiro a sediar esta exposição, que tem apoio do Governo Federal.

Você disse que entrou no movimento pouco depois do assassinato de teu filho... Isso foi quando?

Entrevista Ligaram pra mim um mês depois, em 2010. E eu não pensei duas vezes. Meu filho sempre foi um ativista, eu também já tinha militância em grupos de direitos humanos. Mandei os materiais que eu tinha recolhido sobre a morte de José Ricardo e entrei de cabeça no movimento...

Você já sabia sobre a orientação sexual dele quando houve o assassinato?

Ele foi morto com 24 anos. Desde os 18, eu já sabia de tudo...

Ele te falou ou você descobriu sozinha?

Eu sempre percebi que ele tinha um jeito diferente. Lembro que ele chegou a ter uma namorada e, um dia, numa festa, eu fiquei observando. Ele parecia desengonçado, o beijo não tinha naturalidade... Mas claro que eu não comentava isso com ninguém. Nem com ele. Um dia, quando ele completou 18 anos, deixou um bilhetinho na minha cama: - Mãe, eu sou gay. Foi quando a gente conversou e eu falei pra ele: - É isso o que você quer? Você sabe o que vai enfrentar? Ele me pareceu muito seguro. E eu tive orgulho dele, porque é preciso ser guerreiro para assumir a homossexualidade na sociedade da gente. Meu filho era um ativista dos direitos humanos, tinha um grupo de

teatro, era coreógrafo da banda da escola... e, acima de tudo, era meu amigo, companheiro, confidente... Eu costumo dizer que ele era meu lírio, mas que este pântano que é a sociedade não deixou florescer.

Pela tua experiência com o movimento, você percebe que esta relação de entendimento se repete nas outras famílias em que há homossexuais?

Infelizmente, é mais comum as famílias excluírem do que apoiarem. Há jovens que são mantidos em cárcere privado, outros que são expulsos de casa... Tudo isso amplia a importância de se dar visibilidade a famílias diferentes, em que a orientação sexual de cada um é respeitada.

Por falar em visibilidade, as últimas novelas da Globo tem apostado em personagens homossexuais...

E é interessante você observar a trajetória de um personagem como o Félix.

Primeiro, ele era um perverso. Depois, um palhaço. E, só do meio para o fim da trama, ele foi humanizado. Isso é muito semelhante com o que acontece com os homossexuais na realidade. Eles não são vistos como humanos. São pervertidos ou objetos de piadas grosseiras.

Eleonora Pereira

Durante muito tempo, só apareciam nas novelas como palhaços... Hoje, a gente já vê a televisão retratar uma lésbica, com todos os seus conflitos, de uma forma mais humana. Isso é bom porque abre a discussão e a temática invade os espaços políticos e sociais. Por outro lado, nos amedronta porque o discurso do ódio e os fundamentalismos também vêm à tona. No começo do ano, um transexual foi apedrejado em Salgueiro.

No ano passado, um adolescente de 17 anos foi morto a tijoladas por causa de sua orientação sexual. A sociedade é muito cruel.

O grupo “Mães pela Igualdade” acompanha estes casos?

Sim. Eu costumo dizer que há dois sentimentos que nos unem: a dor da perda e o medo da perda. Fazemos questão de, a cada relato de crime, visitar as mães e familiares para dividir a dor. No caso de Salgueiro, por exemplo, encontrei uma mãe doente, debilitada... Ele morava com ela, eram muito próximos. Ela segurava o seu retrato e dizia: - Olha o cabelo dele como era lindo... E eu ficava pensando em meu filho, que também era lindo...

Os assassinos de José Ricardo, estão presos?

Sim, desde 2012. E vai ser o primeiro caso de homofobia que vai à Júri Popular em Pernambuco.

Você chegou a falar com os assassinos?

Antes da delegada chegar às conclusões, eu já sabia quem tinha sido. Eles estudaram com meu filho, cresceram juntos... Eu cheguei a ajudar um deles.

Fui na casa da mãe deles e fiz questão de dizer que elas não têm culpa pelo erro dos filhos. Eu entendo o lado delas: sei que têm raiva de mim porque ajudei a pôr os filhos delas na cadeia. Mas elas, pelo menos, podem abraçar os seus filhos, podem visitá-los no Dia das Mães. E eu?

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Medicina

Sociedade

Pra vida nascer feliz

Mulheres incluem a humanização do parto na agenda feminista

E

ra madrugada de uma sexta-feira quando Nélia de Paula sentiu as primeiras contrações, prenúncio da chegada de Gabriel. Durante nove meses, ela se informara, encontrara uma médica que fizesse parto humanizado, decidira que queria o nascimento na água, participara de grupos de gestantes. Por isso, quando as primeiras contrações apareceram, ela sabia que não precisava correr para o hospital. Observou as contrações enquanto seguia o ritmo normal de sua vida: almoçou, fez feira. Somente por volta das 22 horas, as contrações estavam bem ritmadas, de dez em dez minutos. E só aí a gestante se dirigiu ao hospital.

No próprio quarto onde foi internada, a médica instalou a banheira. O marido estava junto, segurando sua mão a cada contração. A médica apoiava e orientava: caminhar, usar a bola, entrar na banheira. Gabriel nasceu às quatro horas da manhã do dia seguinte. “Foi muito mais do que eu podia querer. Eu estava tranquila e informada, eu tinha segurança na médica, não precisei de anestesia nem de qualquer intervenção e sequer senti muita dor”, conta Nélia, cujo segundo filho também veio ao mundo de forma natural e humanizada.

Partos como os de Nélia são raros no Brasil. A formação médica e a cultura intervencionista, a rede de saúde inadequada, o sistema comandado pelos Planos de Saúde e interesses de instituições privadas são alguns motivos que fazem do país o campeão na América Latina em números de cesáreas. Pior: são alguns dos motivos que fazem com que as mulheres sejam alijadas do processo de nascimento de seus próprios filhos e privadas das informações sobre suas possibilidades.

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA “A gente pensa que todas aquelas intervenções são necessárias: me deitaram com as pernas pra cima, me cortaram, me pontearam, me deram anestesia...

Ninguém sabe que é possível parir de outra forma”, conta a diretora do Sindicato Eleonora Costa.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), são práticas que devem ser eliminadas a enemia, ou lavagem intestinal; a tricotomia, ou raspagem dos pelos; a posição supina e de litotomia, ou seja, deitada com as pernas para cima; exame retal, entre outras. Também é recomendada cautela na utilização de práticas como a amniotomia precoce - romper a bolsa d’água antes do tempo e o uso de ocitocinas – substâncias para acelerar as contrações.

Segundo a Organização, a restrição do uso alimentar, o uso da analgesia peridural, a transferência do paciente para sala cirúrgica, os exames frequentes de toque e a episiotomia (corte no períneo) também são práticas que frequentemente são utilizadas inadequadamente. Ou seja, sem que haja necessidade.

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Medicina O desrespeito à autonomia da mulher e a realização de intervenções sem o consentimento explícito da parturiente é considerado, internacionalmente, violência obstétrica. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, de 2010, mostra que uma em cada quatro mulheres brasileiras já sofreu violência no atendimento ao parto.

“Isso inclui o tratamento grosseiro ou humilhante, piadinhas, pressão psicológica, intervenções desnecessárias ou não consentidas, indução à cesárea, entre outras práticas. Muitas mulheres sofrem a violência e sequer se dão conta disso. Mas saem do parto com um sentimento de frustração que elas não conseguem explicar”, afirma a dentista e doula, Paty Sampaio.

MILAN JUREK/FREEIMAGES

DA INVISIBILIDADE À AUTONOMIA Paty sofreu isso na pele. Em seu primeiro parto, não tinha tantas informações. Chegou cedo ao hospital, quando ainda estava com apenas quatro centímetros de dilatação e poucas contrações. O médico tinha plantão no outro dia. Rompeu a bolsa antes do tempo e aplicou o soro com ocitocina sintética, para acelerar as contrações.

“De uma hora pra outra, sem seguir

Sociedade

PATY SAMPAIO: DA VIOLÊNCIA À HUMANIZAÇÃO DO PARTO

o ritmo natural, passei a sentir todas as dores do mundo. Pra completar, aplicaram um excesso de analgesia, que estancou meu trabalho de parto. Meu filho nasceu com hipoxia e sem reação vital. Foi reanimado pelo neonatologista. Depois disso, me largaram num corredor, morrendo de frio, sem informações sobre nada. Eu tentava chamar alguém, mas parecia invisível”, conta.

Paty saiu do hospital com um sentimento que ela não sabia explicar.

Em sua primeira consulta pós-natal, o médico perguntou se ela gostara do parto. “Eu não soube responder. Ele fez esta pergunta amigavelmente, mas soou como se um estuprador perguntasse à mulher, depois de violentada, se ela

tinha gostado”, desabafa. Cinco anos depois, em sua segunda gestação, Paty decidiu que seria tudo diferente. Pesquisou na Internet, descobriu a rede Parto do Princípio e, com eles, o grupo Ishtar, ao qual se integrou. Decidiu parir na casa de uma parente, nas proximidades de um hospital. Assim foi.

O PARTO HUMANIZADO A experiência estimulou Paty a realizar um curso e se tornar doula. O nome vem do grego: significa mulher que serve. São pessoas treinadas para dar suporte emocional, munir a gestante de informações, prepará-las para o parto e acompanhá-las em todo processo de nascimento do bebê. “A gente prepara um ambiente acolhedor, faz massagens, oferece alguma água ou alimento leve e dá suporte constante”, explica.

A experiência também fez com que Paty incluísse o tema em sua agenda de militante feminista. “Este processo de hospitalização do parto vem impregnado de uma cultura machista.

Antigamente, este era um dos poucos momentos femininos, do qual os homens estavam excluídos. A partir desta medicina mais intervencionista, os homens passaram a ter o controle, porque os médicos eram sobretudo homens. A posição de parir deitada, a episiotomia, a cesárea... tudo isso são formas de exercer poder sobre o corpo REVISTA DOS BANCÁRIOS 11

Medicina

Sociedade

NÉLIA E O NASCIMENTO DE GABRIEL

da mulher”, afirma a doula, que está cursando especialização em gênero, desenvolvimento e políticas públicas, na UFPE. Para ela, há outro motivo pelo qual o parto humanizado se insere na agenda feminista. “Eu costumo dizer que, em um parto deste tipo, nasce uma nova mulher e um novo homem. O pai participa ativamente de todo o processo de nascimento do filho. Com isto, a tendência é que haja maior compartilhamento na educação das crianças”, ressalta.

CONTRA A CORRENTE O problema é que desejar o parto humanizado é nadar contra a corrente.

A médica que botou Gabriel, o filho de Nélia, no mundo, foi demitida do hospital duas semanas após o parto.

Não adiantou mostrar a carta do Cre-

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mepe (Conselho Regional de Medicina de Pernambuco), garantindo que ela seguira todas as recomendações da OMS. Para o hospital, era um absurdo que a gestante tivesse parido no quarto e sequer tivesse usado, e pago, o material cirúrgico e sala de cirurgia.

Atualmente, quem quiser ter um parto humanizado tem duas opções. “Procurar a rede pública, mais especificamente o Imip, ou fazer particular, com equipes humanizadas que atuam em alguns hospitais. Pelo Plano de Saúde não dá. O valor que é pago aos médicos contrasta com o tempo de dedicação que uma equipe humanizada precisa disponibilizar”, explica Paty. É justamente esse sistema de saúde, além da cultura machista de hospitalização do parto, que produz o número absurdo de cesáreas no país. Apesar do índice recomendado pela OMS ser de no

máximo 15%, o Brasil lidera o ranking da América Latina com mais de 50% de nascimentos por meio de cirurgia. No sistema privado, a situação é bem pior: em 2011, foram 83,8% de cesáreas, contra 36,8% no Sistema Único de Saúde.

Em Recife, os índices mais baixos de partos cirúrgicos estão nas maternidades públicas – Barros Lima, Bandeira Filho, Arnaldo Marques e Imip. Entre as privadas, os índices mais baixos estão na Maternidade Santa Lúcia: 83,8% de cesáreas. O líder é o Hospital Memorial São José, onde 97,3% dos nascimentos ocorrem por meio de cirurgia.

A maior parte destas cesarianas não está incluída no que a OMS considera grupo de risco que as justifique. Segundo Paty, há pesquisas que mostram que a maioria das mulheres inicia a gestação querendo parto normal e acaba sendo “convencida” a mudar de ideia.

Medicina

Sociedade

MULHERES MARCHAM PELO PARTO HUMANIZADO

“Quando chega a 38ª semana, se o feto ainda não estiver posicionado, o obstetra já quer marcar a operação. O peso do feto, a existência de laço, o estreitamento da bacia... nada disso pode ser considerado um argumento definitivo para indicação de cesárea”, explica a doula.

LAMARTINY SANTOS

GRUPOS DE APOIO Para as gestantes, ela aconselha que se informem, pesquisem bastante e procurem grupos de apoio ou redes na Internet. Tanto Paty quanto Nélia fazem parte do grupo Ishtar, que já existe em dez cidades e é um referencial brasileiro na defesa do parto natural. “Temos encontros quinzenais, nos quais discutimos diversos temas relacionados aos direitos reprodutivos. Além disso, trocamos experiências e nos apoiamos mutuamente”, conta Nélia.

Além do Ishtar, há outros grupos como o C.A.I.S do Parto, em Olinda, e o Grupo Boa Hora do Instituto Nômades, na Várzea. O Ishtar e o Boa Hora fazem parte dos grupos de apoio do Parto do Princípio, uma rede nacional de luta pela humanização do parto.

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Dicas

Família é Amor

Vinte e duas fotografias com imagens de famílias que aceitaram e acolhem os filhos que mantêm relações homoafetivas compõem a exposição para celebrar o Dia das Mães, no Paço Alfândega, no Recife.

Com o tema “Família é Amor”, a mostra segue até 19 de maio, durante o horário de funcionamento do Paço: 10h às 22h, de segunda a sábado, e aos domingos e feriados, de 12h às 21h. A entrada é gratuita.

A exposição é uma parceria com o movimento Mães pela Igualdade e Ministério Público de Pernambuco.

O movimento reúne mães de várias partes do Brasil e desenvolve uma campanha contra a discriminação, a violência e a homofobia (leia mais na página 7).

FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESIA

O Recife abriga, entre os dias 21 e 25 de maio, a 3ª edição do Festival Internacional de Poesia. Uma abertura performática marca o primeiro dia do evento. Durante quatro dias, haverá roda de poesias, bate-papos poéticos, shows poético musicais, recitação de casa em casa, peleja de declamações, oficinas e exposições. Entre os participantes, poetas como Cláudio Willer (SP), Matilde Campilho (Portugal), Douglas Diegues (RJ), Jacques Demarcq (França), Everardo Norões (CE), Alice Ruiz (PR) e Ângelo Monteiro (AL). A programação completa está no site festivalinternacionaldepoesia.com.

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Cultura

FESTIVAIS RECOMENDADOS Palco Giratório

Seis teatros do Recife abrigam, este mês, o Festival Palco Giratório, promovido pelo Sesc. São 36 espetáculos de 31 companhias vindas de 15 estados brasileiros, além de 30 oficinas. As apresentações começam no dia 10 de maio e vão até o dia 31. Para conferir a programação completa, acesse www.sesc. com.br/portal/site/palcogiratorio.

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Continuum

Entre 16 e 25 de maio, acontece o 5º Continuum Festival de Arte e Tecnologia do Recife, com o tema Memória. Na programação, seminários exposições, experimentações sonoras, oficinas, mostra de vídeo e de games. Todas as atividades são gratuitas. De terça a sexta, das 9h às 18h; sábados e domingos, 12h às 18h. No Centro Cultural dos Correios.

Bancário Artista

Cultura JORGE JÚNIOR

A música que te habita Bancário do Bradesco, Jorge Júnior é um multi-instrumentista autodidata apaixonado por música desde pequeno

J

orge Júnior, bancário do Bradesco há seis anos, sempre gostou de ver os tios tocarem nos encontros familiares em Itamaracá. Criança ainda, tentava acompanhá-los com o pandeiro e fazia de conta que tocava violão. Mas seu casamento com a música aconteceria, de fato, aos 12 anos de idade, quando também iniciou sua união com a Igreja, onde exerce sua religião e sua arte.

Jorge começou como autodidata, descobrindo sozinho ou com orientações de amigos os segredos do violão. No Conservatório Pernambucano de Música, passou um ano. Não conseguiu entretanto comprar o piano que desejava e acabou abandonando as aulas. Nem por isso largou a música: continuou aprendendo sozinho o violão, a bateria, o baixo, o teclado. “Quando eu conseguia juntar algum dinheiro, comprava o instrumento e dava um jeito de aprender a tocar”, lembra o artista.

Jorge toca na banda “Ministério Tua Habitação”, de música gospel. Também montou um pequeno estúdio em casa e, atualmente, o grupo tem dois CDs e um DVD gravados. A banda também já participou de turnês por São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo; e de grandes eventos de música gospel, como o Recifeliz.

Todos os domingos, o grupo é responsável pelas músicas nas celebrações da Igreja do Nazareno, em Maranguape I. “A gente está, inclusive, transmitindo partes de nosso culto, ao vivo, pelo facebook da igreja”, diz Jorge.

Quem tiver interesse, o perfil é Nazareno Maranguape. Também é possível conferir a qualidade da banda pelo link: www.vagalume.com.br/ministerio-tua-habitacao.

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Turismo

Conheça Pernambuco

SÃO JOSÉ DO BELMONTE

Utopia renascida em um Brasil medieval O silêncio queima o veneno das serpentes, e, no campo de sono ensanguentado, arde em brasa o sonho perdido, tentando em vão reedificar seus dias, para sempre destroçados.

O

texto acima é um fragmento do romance A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna. É dito pela Moça Caetana, meio mulher, meio onça, meio profeta... Na obra, suas palavras se unem à de Quaderna, o narrador, à de Ariano, o autor, e à de tantos outros personagens para dar voz a uma história cujo pano de fundo é relembrado todo mês de maio, em São José do Belmonte, durante a Cavalgada da Pedra do Reino. Uma história de sangue e utopia; de sonho e morte.

Em um Sertão povoado pela opressão e injustiça, cresceu o sonho de um reinado perfeito. Era 1835, no então município de Floresta – hoje São José do Belmonte.

Lá, o beato João Antônio deu início a uma seita que acreditava no retorno do Rei Sebastião, mitológico personagem da história portuguesa, que encarna a utopia

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de um reino ideal. Mas onde a miséria impera, esperança e fanatismo andam próximos e o desfecho do sonho foi trágico.

As mortes começaram a acontecer em maio de 1938, depois que João Ferreira, sucessor de João Antônio, anunciou sua visão: a Pedra Bonita, ou Pedra do Reino, teria de ser lavada com sangue. Mais de cinquenta pessoas foram mortas, sobretudo crianças.

Mulheres eram dilaceradas pelos maridos, filhos sacrificados pelos pais, pessoas se jogavam do alto da pedra, em uma carnificina que só terminou com a intervenção da polícia e esvaziamento da seita.

Mas todos os anos, durante o mês de maio, o sonho renasce em São José do Belmonte. Não vem banhado de sangue, mas repleto de uma poesia e beleza com aura medieval. Centenas de cavaleiros e amazonas, alguns deles com trajes típicos da época, acompanham o cortejo que vai da Igreja Matriz de São José, no centro de Belmonte, até a Pedra Bonita.

Além de acompanhar a cavalgada, vale conhecer o Castelo Armorial, construção com arquitetura e esculturas típicas do movimento armorial, com altura equivalente a um prédio de seis andares.

Outras dicas são o Memorial da Pedra do Reino, o casario antigo da praça central e a casa da cultura - onde é possível encontrar documentos, fotos e objetos que remetem à história da cidade e do movimento sebastianista.

São José do Belmonte fica no sertão pernambucano, a 473 quilômetros da capital.

A viagem, pela BR 232, dura em média 6horas e 40 minutos.