nº 60 - jan./fev. 2016
DEMOCRACIA EM XEQUE Nas próximas semanas, o Congresso Nacional deve retomar o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Sem embasamento jurídico, uma eventual cassação colocaria em risco a jovem democracia brasileira. Entenda por que o Sindicato é contra
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Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Suzineide Rodrigues Secretária de Comunicação Daniella Almeida Conselho Editorial Suzineide Rodrigues Daniella Almeida Adeilton Filho Epaminondas Neto Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares
Sindicato filiado a
Editorial
O golpe do impeachment Dois mil e quinze foi um ano bem difícil para a presidenta Dilma. Além da crise econômica que atingiu em cheio todos os indicadores do país, a petista viveu uma crise política que a colocou na condição de presidente mais impopular da história recente do Brasil. A maioria dos brasileiros, hoje, reprova o seu governo, embora ela ainda tenha mais três anos de mandato para recolocar o Brasil nos trilhos. Mas gostar ou não gostar do governo Dilma não é argumento para ser contra ou a favor do impeachment da presidenta. O Sindicato dos Bancários de Pernambuco, assim como a maioria dos movimentos sindicais e sociais, é contra o impeachment. Primeiro porque não pesa contra Dilma denúncia alguma de corrupção ou qualquer ato que permita o impeachment. Vale destacar que o pedido que está sendo analisado pelo Congresso Nacional é baseado, única e exclusivamente, nas chamadas “pedaladas fiscais”, utilizadas por todos os governos como um mecanismo para adequar o orçamento em caso de necessidade. No caso deste governo, foram utilizadas para garantir o pagamento dos programas sociais. Esse expediente, por sinal, não é utilizado apenas no Brasil, as pedaladas são comuns em praticamente todos os governos, inclusive na Europa. Está claro que o impeachment foi aberto pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para chantagear o governo e a oposição. E, dessa forma, garantir os interesses dele, e, principalmente, para o salvar das denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito que se avolumam todos os dias. E o processo tem o apoio da oposição, que não ganha uma eleição para Presidência da República há exatos dezesseis anos. Ao ser derrotada novamente no último pleito, há pouco mais de um ano, essa mesma oposição decidiu que não precisa mais disputar eleições e partiu para o golpe do impeachment. O Sindicato não está defendendo a presidenta Dilma. Temos uma série de críticas e estamos nas ruas para protestar contra qualquer ato do governo que prejudique os trabalhadores ou os mais pobres. Mas não podemos permitir que esse golpe ocorra, pois ele colocará em risco a democracia brasileira, deixará o país ainda mais vulnerável diante da crise econômica e provocará a instabilidade do Brasil.
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Revista dos Bancários
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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
CIDADANIA Novo estatuto garante mais proteção para as pessoas com deficiência Página 12
Marcelo Soares / Pref. Olinda
#NãoVaiTerGolpe O impeachment de Dilma e o risco para a democracia
AGENDA Conheça nossas dicas de cultura e de lazer
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ENTREVISTA DO MÊS Maestro Carlos coloca todo mundo pra dançar no carnaval de Olinda Página 9
Bancário de talento Paulo Brito, do BNB, e a arte da transformação Página 15
CONHEÇA PERNAMBUCO Bom Jardim, o paraíso do turismo ecológico Página 16 Janeiro e Fevereiro de 2016
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A marcha de um golpe O polêmico processo de impeachment da presidenta Dilma pode até dividir opiniões. Mas, mesmo quem é contra o governo, sabe que o impedimento colocará a democracia brasileira em xeque
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e nt ro de p o u co s meses, o Brasil deve concluir um processo que pode colocar em xeque a nossa recente democracia, conquistada a duras penas. Trata-se do impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), aberto no fim do ano pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Diferente do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, ocorrido duas décadas atrás, o processo contra Dilma é controverso e repudiado até mesmo por lideranças políticas, jurídicas e acadêmicas que, tradicionalmente, são de direita e estão na
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Revista dos Bancários
oposição ao governo petista. Isso porque a base do pedido de impeachment de Dilma são as chamadas “pedaladas fiscais”, utilizadas por governos anteriores como um mecanismo para adequar o orçamento em caso de necessidade. E, no caso deste governo, foram utilizadas para garantir o pagamento dos programas sociais. O jurista Dalmo Dallari, um dos nomes mais respeitados do meio jurídico brasileiro, disse em entrevista à BBC, que está “absolutamente convencido” de que não existe fundamento legal para a propositura do impeachment. “De fato não há consistência jurídica. Eu examinei todas as hipóteses, todos os pareceres e argumentos do pedido de impeachment. Estou absolutamente convencido de que não existe nada de consistente neste pedido”, afirma. Questionado especificamente sobre as chamadas pedaladas fiscais do governo para fechar suas contas, principal argumento do pedido de impeachment formulado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, Dallari diz não ter identificado crime de responsabilidade fiscal. “As pedaladas não caracterizam o crime de responsabilidade fiscal porque não houve qualquer prejuízo para o erário. As pedaladas configuram
Rovena Rosa/Agência Brasil
Política e democracia
Ivaldo Bezerra
Brasil 24/7
Bancários engrossaram a manifestação contra o impeachment e em defesa da democracia
Dalmo Dallari
um artifício contábil, mas o dinheiro não sai dos cofres públicos, então não ficam caracterizados os crimes de apropriação indébita ou desvio de recursos”, diz. Para Dallari, aceitar o pedido de impeachment era “a única e a última carta na manga” do presidente da Câmara dos Deputados. “Ele
está muito pressionado pelo risco de perda de seu próprio mandato, porque há muitos elementos contra ele. Com esse artifício, ele vai tentar coagir o PT e outros partidos que apoiam a presidente para que deem apoio a ele”, diz. Ainda sobre as motivações por trás da decisão, o advogado diz que vê duas questões: “Uma é a antecipação da campanha eleitoral, e a outra é essa busca de artifícios por pessoas que praticaram a corrupção e agora querem agir de qualquer modo”. Assim como Dallari, outros importantes juristas garantem que o impeachment de Dilma não tem fundamento. Ah, mas existem outros juristas que defendem o impeachment, você pode estar pensando.
Sim, e foi com essa questão em mente que o ator, humorista, roteirista e escritor brasileiro, Gregório Duvivier, pesquisou a opinião de “uns 33 juristas renomados”. Segundo ele, sua constatação foi de que a Constituição brasileira é tipo o último episódio da série Lost: “cada um entendeu uma coisa, e alguns, como eu, não entenderam nada. Ninguém sabe se a tal pedalada fiscal configura crime de responsabilidade, embora todos concordem que, mesmo que houvesse o tal crime, ele recairia sobre o secretário do Tesouro”. Em artigo publicado pela Folha de São Paulo, Gregório pondera: “Mas vamos supor que o impeachment fosse o certo e os juristas afirmassem que pedaladas justificam o impeachment. Seria justo? No governo Janeiro e Fevereiro de 2016
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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Política e democracia
A presidenta Dilma Rousseff recebe mais de 30 juristas para debater o processo de impeachment
FHC, a pedalada era uma tradição de fim de ano tão comum quanto a Simone cantando ‘Então É Natal’. E não só no Brasil. Nunca, em democracia alguma, um presidente caiu por causa de uma pedalada fiscal. Será que o Brasil finalmente chegou à vanguarda? Tirar a Dilma por uma pedalada do seu secretário é, por si só, uma espécie de pedalada”, conclui Gregório.
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Gregório Duvivier
Revista dos Bancários
É golpe! Diferente do impeachment de Fernando Collor, em que milhões de pessoas tomaram as ruas pela deposição do presidente, o processo de agora divide o país. Desde que o pedido contra Dilma foi aceito por Eduardo Cunha, no dia 2 de dezembro, dois grandes protestos foram realizados em nível nacional: um pró impeachment e outro contra. Até mesmo a chamada grande imprensa, que faz campanha sistemática contra o governo da presidenta Dilma e a favor do impeachment, reconheceu que o protesto contra o processo levou muito mais manifestantes às ruas do que o ato favorável à deposição de Dilma. Para presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues, a popuplação foi às ruas porque, “mesmo
quem não gosta do governo Dilma, entendeu que estamos vivendo um golpe. Vamos dar nomes aos bois, isso é um golpe, sim. E capitaneado por uma oposição que governou o país por séculos, mas que não ganha uma eleição presidencial há mais de uma década e meia. Agora, chegaram à conclusão de que não precisam de eleição, não precisam respeitar o voto dos brasileiros. Basta pedir o impeachment e deixar que o processo seja milimetricamente guiado por um presidente da Câmara dos Deputados que não tem qualquer patrimônio moral para conduzi-lo e, nem mesmo, para ocupar o cargo que ocupa”, diz. Para Suzi, o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é irresponsável e um atentado à Constituição. “É por
Ivaldo Bezerra
No Recife, cerca de 30 mil tomaram as ruas do centro, no dia 16 de dezembro, para dizer não ao golpe
isso que o Sindicato dos Bancários e os movimentos sindical e social estão juntos em defesa da democracia. Não estamos defendendo Dilma, temos uma série de críticas e estamos nas ruas para protestar contra qualquer ato da presidenta que prejudique os trabalhadores ou os mais pobres. Mas, vamos colocar os pingos nos is: não pesa contra a presidenta Dilma qualquer acusação que permita o impeachment. Ações desse tipo deixam o país ainda mais vulnerável diante da crise econômica, provocam instabilidade política e fragilizam as instituições democráticas. E há muita gente interessada em um cenário como esse”, comenta Suzi.
Jogo de interesses Além da oposição, liderada pelo PSDB, estão capitaneando esse golpe figuras como Michel Temer e Eduardo Cunha que, além de serem os possíveis presidentes da República em caso de impedimento da presidenta Dilma Rousseff, têm outros interesses em comum.
Ambos são signatários de um documento intitulado “Uma Ponte para o Futuro”, cujo teor remete mais a um túnel para o passado, que remonta os piores momentos do governo FHC. São políticos artífices de uma série de manobras congressuais a favor, por exemplo, da ampliação da terceirização de serviços, que só no setor bancário já eliminou mais de 500 mil empregos. Além da terceirização (PLC 30/2015), esse pessoal quer a redução da idade de trabalho (PEC 18/2011), a flexibilização do Conceito do Trabalho Escravo (PLS 432/13) e a privatização das estatais (PLS 555/2015). A oposição também quer facilitar a aquisição e o porte de armas de fogo (PL 3722/2012), a criminalização da vítima de violência sexual (PL 5069/2013) e acabar com qualquer possibilidade de respeitar os direitos dos casais LGBT (PL 6583/2013). “São projetos que tramitam na Câmara e no Senado e que nós vamos lutar para que não sejam
O processo de impeachment contra Dilma é um atentado à Constituição, provoca instabilidade política e fragiliza as instituições democráticas Suzineide Rodrigues
aprovados”, afirma Suzineide.
Fim da Nova República Em recente artigo publicado pelo filósofo e professor da USP Janeiro e Fevereiro de 2016
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Brasil 24/7
Tomaz Silva / Agência Brasil
Política e democracia
Vladimir Safatle
Vladimir Safatle, o acadêmico defende que, “neste exato momento, a população brasileira vê, atônita, a preparação de um golpe de Estado tosco, primário e farsesco”. Segundo ele, alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república da América Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos bastidores, conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de montar um novo governo com próceres da oposição que, há mais de uma década, não conseguem ganhar uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da administração pública se veem como dotados de um direito divino e eterno de governar as terras da nossa república, para eles, ganhar eleições é um expediente desnecessário e supérfluo. Safatle prossegue: o vice tem como seu maior aliado o presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas com
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Revista dos Bancários
Envolvido pessoalmente numa série de denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pode assumir a presidência da República em caso de impedimento de Dilma
vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante, para distrair parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. Para Safatle, esse romance histórico ruim e eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira. “O fato é que, no lugar da Nova República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua
feição de Estado Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter público dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas por meio da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os interesses não mais da elite cafeeira, mas da elite financeira”. Diante deste possível futuro, Safatle conclui: “podemos nos preparar para a guerra ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim”.
Entrevista: Maestro Carlos
A trilha sonora do carnaval pernambucano
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ovenzinho ainda, o então estudante de música Carlos Rodrigues da Silva morava no Bonsucesso, em Olinda. De sua casa, ele via o Homem da Meia Noite sair. De longe, admirava o boneco e dizia a si próprio: - Eu ainda vou fazer esse gigante dançar! Hoje, conhecido como Maestro Carlos, ele faz dançar não apenas o gigante, mas a multidão que o acompanha. E muito mais: sua orquestra, a Armação Musical, acompanha vários dos grandes blocos de Olinda e, junto com tantos outros, ajuda a compôr a trilha do mais autêntico carnaval pernambucano. Não é fácil! São até cinco blocos por dia, sendo empurrado pelas multidões! Mas o maestro garante que não troca por nada o carnaval de Olinda e que gosta mesmo é dessa explosão! Maestro, em quantos blocos tua orquestra toca atualmente? Eu não sei te dizer o número exato. Mas, contando só a partir da quinta-feira, sem as semanas pré-carnavalescas, são dois blocos na quinta; três a quatro blocos na
sexta; cinco no sábado; no domingo, três; segunda, três; terça, três a quatro... É saindo de um bloco e correndo pra outro. E a saúde aguenta esse rojão? Tem que se alimentar né? Beber é bom. Mas, na época do carnaval, a gente tem que beber pouco e, principalmente, se hidratar com muita água. Também não gosto de comer qualquer coisa. Às vezes, tem aquele bloco que dá feijoada; outro, uma dobradinha... eu acho melhor não comer tanto essas coisas. Beber mais líquido! Mas, claro, não vou negar que também tomo uma cervejinha... É só não exagerar. E nas prévias, vocês também tocam? No período que vai até o desfile das Virgens do Bairro Novo, a gente toca. Depois, a gente se encontra mais para se organizar para o carnaval: Janeiro e Fevereiro de 2016
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Entrevista: Maestro Carlos
“De longe, eu ficava olhando e pensando: - Eu ainda vou fazer esse gigante (o Homem da Meia Noite) dançar!” definir quem vai para qual troça, o repertório etc. Na formação da orquestra, são sempre as mesmas pessoas? Os músicos são quase os mesmos: com uma ou outra pessoa nova. Você toca em blocos de massa, como o Homem da Meia Noite. Como é tocar no meio de tanta gente? Teve uma vez, no Homem da Meia Noite, que quando ia chegando ali no Largo do Amparo, eu puxando os músicos, um rapaz passou na frente da orquestra, eu acabei tropeçando e deslizei no chão. O instrumento ficou amassado e um colega pensou que o rapaz tinha feito de propósito... Foi a maior confusão! Acontecem várias coisas... Aí, claro, bate aquele nervosismo, porque eu me
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Revista dos Bancários
preocupo não só com a questão técnica da orquestra, mas tenho que cuidar dos músicos: observar como eles estão, se estão atentos, se estão bebendo demais... porque beber pode! Só não pode exagerar, ou não tem como aguentar o rojão! Há quanto tempo você é músico? Trinta anos, acho. Como foi o início dessa trajetória? Quando eu tinha meus dezessete anos, eu entrei na Banda Marcial. Eu sempre morei aqui, no Bonsucesso. Então eu via a sede do Homem da Meia Noite... o bloco não era tão grande nem tinha toda essa gente que tem hoje. Mas de onde eu morava dava pra ver ele saindo. Eu comecei a estudar música e ficava olhando e pensando: - Um dia, eu vou fazer esse gigante dançar! Como eu me destaquei no
Curso de Música e o professor ia se aposentar, então me colocou como instrutor. Depois, eu decidi criar uma bandinha, sem a intenção do carnaval. O primeiro bloco que veio me procurar foi o Bacalhau do Batata. Mas eu não tive coragem de aceitar. Meus músicos eram meninos ainda e eu não tinha experiência. E qual foi o primeiro bloco que você teve coragem de encarar? Nem lembro mais. Acho que foi o Menino do Beco... Nessa época a orquestra era pequena: uns dez a doze músicos. E hoje? Quantas pessoas são? São 55. Estou tentando fazer chegar a 60. Assim, a gente divide os músicos: trinta vão pra uma troça, trinta vão pra outra. A gente sempre foi muito requisitado, mas não tinha tantos músicos que
Porque eu estou ali preparado pra tocar o repertório que eu ensaiei. Mas tem blocos que tem um dono aporrinhando do lado. Você não consegue se concentrar.
“O bom de Olinda é essa explosão, esse calor humano. Não troco isso por nada!” desse pra assumir tudo. E quando não é carnaval? Como vocês sobrevivem? A maioria tem outro trabalho, né? Eu vivo de música: já toquei em uma banda, e hoje ensino música em uma escola particular. E, de vez em quando, aparece uma tocada ou outra. Mas o que vocês ganham no carnaval dá pra segurar quanto tempo? Eu, como maestro, consigo pagar minhas contas de três meses com o apurado do carnaval. Você gosta de carnaval? Muito. Eu ficava de longe: olhando, admirando, tirando fotos. Nunca gostei de ir pro meio do ruge-ruge não... só agora, com a orquestra. Teve uma época, quando Edmar Lopes era presidente do Clube Vassourinhas, que recebemos um convite pra tocar na Holanda. Era mês de maio e lá
E quais são os frevos que você mais gosta de tocar? Capenga, Último Dia, o Hino do Homem da Meia Noite, Ceroula, Elefante, Duda no Frevo... e vários outros.
tinha um Festival de Música. Tocamos, agradamos, passamos um mês e meio por lá. No outro ano, convidaram a gente pra passar o carnaval lá. Eu fui o primeiro a dizer: não quero! Se eu fosse, acho que eu morria. Não importava o quanto eu ia ganhar lá. Preferi ficar. Nenhum músico queria ir. Mas vocês já tocaram em muitos lugares? Já viajamos pra Holanda, pra Bélgica, Portugal, França... Como é tocar pra essa plateia? É estranho. O pessoal todo sentado e a gente tocando como se fosse uma orquestra de ópera. Não tem passista e é difícil aparecer quem dance. Quais os blocos onde você mais gosta de tocar? Muitos. O Homem da Meia Noite, o Sem Rumo Sem Direção, o Aratu Vermelho... o importante é não ter gente que me incomoda.
Você viveu o tempo em que, quando dois blocos se encontravam, as orquestras ficavam competindo? Vivi. Mas era complicado. Cada um quer gritar mais que o outro, tentando ser mais alto. Ficava aquela zoada, ninguém escutava mais nada direito... Eu não gostava. Quando eu via um bloco maior, com mais músicos, eu preferia parar. Hoje em dia, eu prefiro parar até mesmo quando encontro um bloco pequeno no caminho. Mesmo estando com uma quantidade de músicos maior, eu acho certo respeitar a vez. Não acho certo atrapalhar a festa dos outros. Você já tocou no carnaval do Recife? O que achou? Já. Lá é mais calmo... tem músico que prefere. Você não leva pancada, não corre riscos... Não há o medo de levar uma pancada e cortar os lábios, que ficam muito sensíveis de tanto tocar. Se isso acontece, acabou o carnaval. Mas o bom de Olinda é essa explosão, esse calor humano. Não troco isso por nada! Janeiro e Fevereiro de 2016
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Cidadania
Nova legislação protege as pessoas com deficiência
Luiz Antônio Bichir Garcia, 25 anos, é calouro na UnB. O aluno do primeiro semestre de história sofre de uma paralisia cerebral, e precisa de estrutura adaptada para acompanhar as aulas
Está em vigor, desde o início de janeiro, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Veja o que muda com o novo estatuto
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ano começou com uma grande notícia para as pessoas com deficiência. Desde o dia 2 de janeiro, está em vigor um novo Estatuto, que traz regras e orientações para a promoção dos direitos e liberdades dos deficientes com o objetivo de garantir a essas pessoas inclusão social e cidadania. A nova legislação, chamada de Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), garante condições de acesso à educação e à saúde e estabelece punições para atitudes discriminatórias contra essa parcela da população.
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Revista dos Bancários
Hoje, no Brasil, existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. A lei foi sancionada pelo governo federal em julho e passa a valer somente agora, 180 dias após sua publicação no Diário Oficial da União.
Menos abusos Um dos avanços trazidos pela lei foi a proibição da cobrança de valores adicionais em matrículas e mensalidades de instituições de ensino privadas. O fim da chamada taxa extra, cobrada apenas de alunos com deficiência, era uma demanda de entidades que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência. Quem impedir ou dificultar o ingresso da pessoa com deficiência em planos privados de saúde também está sujeito à pena de dois a cinco anos de detenção, além de multa. A mesma punição se aplica a quem negar emprego, recusar assistência médico-hospitalar ou outros direitos a alguém, em razão de sua deficiência.
Cotas De acordo com o estatuto, as empresas de exploração de serviço de táxi deverão reservar 10% das vagas para condutores com deficiência. Legislações anteriores já previam a reserva de 2% das vagas dos estaciona-
mentos públicos para pessoas com deficiência, mas a nova lei garante que haja no mínimo uma vaga em estacionamentos menores. Os locais devem estar devidamente sinalizados e os veículos deverão conter a credencial de beneficiário fornecida pelos órgãos de trânsito. A legislação exige também que 10% dos dormitórios de hotéis e pousadas sejam acessíveis e que, ao menos uma unidade acessível, seja garantida.
Anabele Silva: os bancos têm apenas 3,6% de empregados com deficiência, menos que a cota exigida por lei
Mais direitos Outra novidade da lei é a possibilidade de o trabalhador com deficiência recorrer ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) quando receber prescrição de órtese ou prótese para promover sua acessibilidade. Ao poder público cabe assegurar sistema educacional inclusivo, ofertar recursos de acessibilidade e garantir pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, de acordo com a lei. Para escolas
Hoje, no Brasil, existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência
inclusivas, o Estado deve oferecer educação bilíngue, em Libras como primeira língua e português como segunda.
Situação dos bancários A legislação brasileira já obrigava as empresas com mais de 100 trabalhadores a reservarem, pelo menos, 5% dos seus empregos para as pessoas com deficiência. O problema é que as empresas mais lucrativas do Brasil, como os
bancos, sempre deram um jeito de burlar a lei. “O Sindicato está na luta, há anos, para garantir que os bancos contratem mais funcionários com deficiência. Hoje, as instituições financeiras não respeitam nem a cota mínima estabelecida por lei. Mas temos conseguido alguns avanços nos últimos anos”, comenta a secretária de Formação do Sindicato, Anabele Silva. Esse pequeno avanço, mesmo que tímido, foi constatado pelos Censos da Diversidade aplicados nos bancos após pressão dos sindicatos. No primeiro censo, realizado em 2008, as instituições financeiras tinham apenas 1,8% de empregados com deficiência. Esse número aumentou para 3,6% no último censo, realizado em 2014. “Mesmo assim, é uma vergonha que o setor mais lucrativo do país seja, também, um dos que tenham menos responsabilidade social”, conclui Anabele. Com informações da Agência Brasil Janeiro e Fevereiro de 2016
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Dicas de cultura »»Teatro
Janeiro de Grandes Espetáculos Bruna Belo
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Janeiro de Grandes Espetáculos traz, neste mês, dezenas de apresentações teatrais para as cidades do Recife, de Olinda, Caruaru e Goiana. Esta é 22ª edição do evento que é também conhecido como Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco. Grupos e atores locais, nacionais e internacionais se apresentam em doze casas de espetáculos do estado. A programação do festival e informações para compras antecipadas de ingressos estão disponíveis no site www.janeirodegrandesespetaculos.com/2016.
Última apresentação de “Salmo 91”, adaptação do best seller “Estação Carandiru” de Drauzio Varella, será dia 23, às 20h, no Espaço Cênicas
»»Lazer
Festa à Fantasia dos Aposentados Vinte e quatro de janeiro é Dia dos Aposentados. E o Sindicato os presenteará com entradas para o Baile à Fantasia em homenagem a eles, promovido pela Apcef (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal). A festa será no dia 22, a partir das 21h, no Círculo Militar do Recife (Avenida Agamenon Magalhães, 2.807, Boa Vista). A Orquestra de Frevo do Maestro Lima Neto, com participação de Ed Carlos, e a banda Nena’s Farias comandarão a festa. Bebidas e comidas serão vendidas no local. Os aposentados podem pegar os ingressos para o Baile na Secretaria-geral do Sindicato. Cada aposentado tem direito a
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Revista dos Bancários
um par de ingressos, para ele e um acompanhante. Os ingressos são limitados.
Café da Manhã Além do Baile, o Sindicato convida os aposentados para o tradicional Café da Manhã mensal. O de janeiro será no dia 27, numa quarta-feira. Como de costume, o café da manhã ocorrerá na sede do Sindicato, onde, além de saborear deliciosos pratos da culinária regional, os participantes poderão reencontrar os colegas e discutir questões políticas que afetam a vida dos trabalhadores, da ativa e aposentados.
Bancário de talento
»»Paulo Brito
A arte de transformar uma coisa em outra Bancário do BNB, Paulo muda o mundo como artista plástico e estilista
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ascido em Salgueiro, no Sertão Pernambucano, Paulo Brito tornou-se famoso na cidade como etilista de moda, na década de 1970. “Adorava desenhar Brasília, sua arquitetura e monumentos, e pagodes chineses. Passava horas desenhando. À época, trabalhava no balcão da maior loja de Salgueiro. Um dia, uma colega me pediu para desenhar uma saia. Foi como tudo começou”, conta Paulo. Ele desenhava roupas para pessoas de todas as classes sociais da cidade. “A aristocracia me prestigiava, mas não precisava de mim. Era uma roda viva em que eu que dava as cartas. Todo mundo queria saber a minha opinião”, lembra.
No fim da década de 1970, começou a trabalhar no Banco do Nordeste do Brasil. “Trabalhar no BNB era como se formar em medicina ou engenharia”, afirma. Ele trabalhou menos de um ano em Petrolina e foi transferido para São Paulo, onde morou durante 14 anos. Em São Paulo, como artista plástico, fez várias exposições dos seus quadros e cursou moda no Senac. “Considero o estilismo de moda arte. Qualquer coisa que é transformada e vira outra é arte. Roupa é arte, é a expressão primeira do mundo social”, comenta. De volta ao Recife, estudou astrologia. Atualmente, além de bancário, Paulo é artista plástico e astrólogo. “Existe muito preconceito dos leigos com a astrologia. O que se coloca, todos os dias, no jornal não é astrologia. A feitura do mapa astral do nascimento da pessoa é primeiro passo da astrologia”, explica. Há anos, Paulo participa da Coletiva Anual do Imip, que faz uma exposição dos artistas do Recife, no Museu do Estado. Hoje, ao relembrar da sua trajetória como artista, em Salgueiro, Petrolina, São Paulo e no Recife, Paulo se dá conta do que já criou. “Você só tem ideia do seu valor, quando se distancia da experiência vivida”, diz. Para conhecer mais o trabalho de Paulo, é possível entrar em contato com ele pelo telefone (81) 98657-4545 ou pelo facebook (www.facebook. com/paulo.brito.39982). Janeiro e Fevereiro de 2016
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Conheça Pernambuco
»»Bom Jardim
Turismo e ecologia de mãos dadas
A
cidade de Bom Jardim, localizada a cerca de 100 quilômetros do Recife, dispõe de vários atrativos para o turismo ecológico. Com rochas de granito esculpidas pela própria natureza e cachoeiras, Bom Jardim é um ótimo lugar para realização de trilhas. A Pedra do Navio, a mais conhecida rocha da cidade, possui 10 metros de altura e recebeu
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Revista dos Bancários
esse nome pela semelhança com uma embarcação antiga. A pedra ainda oferece aos visitantes uma vista privilegiada da cidade. O acesso se dá por uma escada de ferro. Outras formações rochosas de destaque são a Pedra de Nossa Senhora de Lourdes, onde foi construído um santuário, e o Sítio arqueológico da Pedra do Caboclo, onde foram encontrados urnas mortuárias e utensílios domésticos, que hoje estão expostos no Museu do Homem do Nordeste, no Recife. Tratava-se de um cemitério de povos pré-históricos. A Cachoeira da Paquevira, localizada no sítio de mesmo nome, é formada por um conjunto de pequenas cachoeiras, intercaladas por corredeiras, escorregos e piscinas naturais. Além disso, a cidade possui engenhos, casarões e igrejas dos séculos XVIII e XIX e a bela barragem Pedra Fina.