Revista dos Bancários 66 - Mar. 2017

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nº 66 - mar. 2017

Produzam sem nós Grupos feministas de 30 países, entre eles o Brasil, participam da Greve Internacional das Mulheres, realizada no Dia 8 de Março, contra o feminicídio, a exploração no trabalho e em defesa dos direitos reprodutivos.

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Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Editorial

O insustentável mundo machista Imagine um dia sem mulheres. Sem mulheres produzindo em seus locais de trabalho; sem mulheres assumindo as responsabili-

Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-000

dades da casa; sem mulheres cuidando dos filhos e da família. Essa

Fone (81) 3316.4233 / 3316.4221

Dia 8 de Março, com articulação em mais de 30 países. O protesto

Site www.bancariospe.org.br Presidenta Suzineide Rodrigues Secretária de Comunicação Daniella Almeida Conselho Editorial Adeílton Filho, Cleonildo Cruz, Daniella Almeida e Suzineide Rodrigues Coordenação e supervisão Tempus Comunicação

foi a proposta da Greve Internacional das Mulheres realizada no contra as desigualdades de gênero levou milhares de mulheres às ruas e evidenciou o valor dos trabalhos produtivo e reprodutivo das mulheres. Diante de um cenário de avanço da política neoliberal no mundo, com destaque no Brasil, a Revista dos Bancários traz uma entrevista com a socióloga e ativista feminista Maria Betânia Ávila sobre a mobilização política e a luta do movimento feminista contra os retrocessos sociais que atingem diretamente às populações femininas. Neste ambiente, apresentamos o artigo “O desmonte da previdência social e as mulheres” da economista Marilane Teixeira. Nas páginas a seguir, apontamos o avanço da

Jornalista responsável Micheline Américo

grave crise no sistema prisional cuja consequência é a morte de

Redação Beatriz Albuquerque, Camila Lima e Jonatas Campos

cialização humanizada e eficiente. Ao analisar os fatores que estão

Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação

leiros neste ano, o presidente do Instituto Brasileiro de Ciências

Imagem de capa Ministério da Cultura/Flickr Impressão CCS Gráfica Tiragem 12.000 exemplares

Sindicato filiado a

centenas de presos vítimas da ausência de uma política de ressopor trás das rebeliões que eclodiram em diversos Estados brasiJurídicas (IBCJUS), Adeildo Nunes, denuncia a falta de interesse político para solucionar a situação. A edição de março, também traz matérias sobre as “correntes” modernas que prendem ainda hoje trabalhadores em situações análogas à escravidão. Além disso, no mês das mulheres, esta edição faz uma homenagem às bancárias de talento, que além de trabalharem nos bancos, desenvolvem outras habilidades e vocações. Por fim, na seção “Conheça Pernambuco” apresentamos a cidade de Tracunhaém e sua reconhecida arte do barro. Boa leitura!

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Revista dos Bancários

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Fabrice Desmonts / Câmara de Piracicaba/SP

ARTIGO O desmonte da Previdência Social e as mulheres

SOCIEDADE Governo deixa de divulgar lista de empresas que lucram com o trabalho escravo no Brasil Página 8

CRISE Número de presos mortos em rebeliões ultrapassa o massacre do Carandiru Página 7

ENTREVISTA Socióloga e educadora do SOS Corpo, Maria Betânia Ávila, analisa a conjuntura política a partir da perspectiva feminista Página 10

Marcelo Camargo/Agência Brasil

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MULHERES Homenagem às bancárias de talento Página 15

TURISMO Tracunhaém é berço de renomados artesãos

Ministério da Cultura/Divulgacao

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Artigo

O desmonte da previdência social e as mulheres Marilane Oliveira Teixeira

É economista, doutoranda e pesquisadora do CESIT/IE-Unicamp, assessora sindical e membro do Fórum Permanente em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização

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Fabrice Desmonts / Câmara de Piracicaba/SP

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projeto de desmonte da Previdência Social enviado ao Congresso Nacional já pode ser considerado o maior ataque aos direitos da classe trabalhadora em décadas. Em especial das trabalhadoras urbanas, rurais, professoras, negras e idosas, ao desprezar os diferenciais de gênero, raça e desigualdades regionais, e como essas três dimensões estão interligadas. No caso das mulheres, a aposentadoria diferenciada está presente desde a Constituição Federal de 1967. Trata-se do reconhecimento de que elas vivenciam uma condição mais desfavorável no mercado de trabalho, no qual sofrem discriminação e recebem salários inferiores, e de que são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidados, portanto, sobrecarregadas com a dupla jornada de trabalho. Quando se trata das mulheres negras, as desigualdades são ainda mais destacadas. Embora representassem 51% das trabalhadoras ocupadas em 2014, elas eram maioria entre os trabalhos mais precários: 54% das trabalhadoras sem registro; 66% no trabalho sem

remuneração e 66% do emprego doméstico sem carteira, no qual há um recuo na tendência de formalização do emprego doméstico verificado na última década, em que a contribuição para a Previdência Social caiu 27% entre 2013 e 2015. No que se refere às trabalhadoras rurais, uma vez que 70% começam a trabalhar no campo antes dos 14 anos e se ocupam de várias tarefas ao longo do dia, como plantio na roça e no quintal, o processamento de alimentos e os cuidados, as mudanças serão ainda mais perversas ao se propor ampliação de 55 para 65 anos (PNAD, 2014). O projeto pretende prolongar ao máximo o acesso à aposentadoria, de modo que a maioria da classe trabalhadora certamente não alcançará o benefício. E reduzir o seu valor para 76% em comparação com os valores da ativa, sendo que hoje representa em torno de 85,2% do salário da ativa para as mulheres e 77,4% para os homens. Portanto, a medida afeta mais as mulheres.

Persistem as desigualdades no mercado de trabalho Diversamente do que o projeto apregoa sobre a suposta igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, os dados sugerem que a taxa de participação das mulheres em relação aos homens é muito desigual: para as mulheres, 55,3%, enquanto que para os homens a taxa


era de 77,6%, em 2015. Inclusive, quanto menor a faixa de rendimento domiciliar per capita, maior a diferença entre mulheres e homens em termos de taxa de participação: a diferença chega a 40,6% entre os sexos para faixas de idade entre 25 a 29 anos e renda per capita entre 1/4 e 1/2 salário mínimo[1] (Dados da PNAD de 2013). O afastamento das mulheres do mercado de trabalho nessa faixa etária, em parte, está associado à maternidade e à ausência de creches públicas, obrigando as mulheres mais pobres a se afastarem temporariamente de alguma atividade remunerada para se dedicar às tarefas de cuidados e, quando retornam, isso se dá em condições mais desfavoráveis.

A informalidade e o trabalho sem remuneração afetam mais as mulheres A informalidade e o trabalho sem remuneração fazem parte das vivências profissionais da maior parte das mulheres, embora esse percentual tenha se reduzido nessa última década e voltado a crescer em 2015. Naquele ano, do total de ocupadas com 15 anos ou mais, 40% estavam em atividades como o trabalho doméstico, trabalhando por conta própria, em atividades não remuneradas ou sem rendimentos. Entre os homens, o percentual para o mesmo período era de 32%, conforme dados da PNAD de 2015. Entre as trabalhadoras domésticas, maioria mulheres negras, de um total de 5,7 milhões, apenas

31% detinham Carteira de Trabalho assinada em 2015. São aproximadamente 4 milhões de mulheres sem nenhum tipo de proteção social. Em relação ao segurado especial – homens e mulheres que exercem atividade rural individualmente ou em regime de economia familiar, sem o auxílio de empregados – o projeto, ao prever a contribuição individual em substituição ao segurado especial, condenará milhões de trabalhadoras à dependência econômica do único contribuinte da família, o trabalhador do sexo masculino.

Taxa de desemprego é mais elevada para as mulheres Conforme dados da PNAD, o ano de 2016 fechou com uma taxa de desemprego de 13,8% entre as mulheres e de 10,7% entre os homens. No Norte e Nordeste, a taxa de desemprego das mulheres chega a 16% e 16,5%, respectivamente. De modo igual, a taxa de desemprego entre as pessoas negras era de mais de 14% para o mesmo período.

Persistem as diferenças salariais entre mulheres e homens Considerando a comparação com base nas médias salariais, sem descontar o rendimento hora, as mulheres recebiam, em média, 76% dos rendimentos masculinos, segundo dados da PNAD de 2015. Nesse mesmo ano, 34% delas auferiam até 1 salário mínimo, enquanto que entre os homens o percentual era de 24%.

Na comparação entre pessoas negras e brancas, as diferenças de rendimento chegam a 55%. Quando se trata das mulheres negras, esse percentual pode chegar a representar 33%: para cada R$ 1.000,00 recebidos por uma pessoa de cor branca, uma mulher negra auferirá em torno de R$ 330,00 (PNAD, continua, 2016).

O trabalho doméstico segue sendo de responsabilidade das mulheres A responsabilidade das tarefas domésticas continua sendo exclusividade das mulheres, que dedicam o dobro de tempo em relação aos homens. Enquanto elas se ocupam dos afazeres domésticos durante 21 horas semanais, eles gastam apenas 10 horas com essas tarefas. Dependendo da atividade em que a mulher estiver inserida, essa função pode se ampliar para 30 horas, a exemplo das trabalhadoras da agricultura e da pesca. Em um cálculo simplificado, considerando que a jornada total no trabalho remunerado e não remunerado totaliza 5 horas a mais por semana, pode-se concluir que as mulheres trabalham, em média, 240 horas a mais por ano. Conforme dados da PNAD, entre 2004 e 2015 cresceu em 65% a quantidade de lares chefiados por mulheres, de modo que 40,5% dos domicílios, ou mais de 28 milhões, possuem uma mulher como pessoa de referência. Leia este estudo na íntegra no endereço: http://brasildebate.com. br/wp-content/uploads/Artigo. Previdencia-e-as-mulheres.pdf Março de 2017

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Sociedade

Por trás das grades

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fragilidade do sistema prisional brasileiro ficou evidente nos primeiros meses de 2017, marcados pela morte de 119 presos, número superior ao massacre do Carandiru (1992). Os detentos mortos e suas famílias foram vítimas da ineficácia das políticas públicas do Estado, que culminaram nas rebeliões ocorridas em presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte. Diante da crise nacional, o presidente ilegítimo Michel Temer responsabilizou os estados federados pela morte dos detentos e, após quatro dias de silêncio, classificou como “acidente pavoroso” a tragédia no Complexo Anízio Jobim (Compaj), em Manaus. Após críticas, recorreu ao Twitter (rede social utilizada para o envio de mensagens curtas) para

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compartilhar sinônimos da palavra “acidente” e tentar justificar o uso da terminologia. Após os acontecimentos, um grupo nacional de intervenção penitenciária foi criado pelo Ministério da Justiça para atuar dentro dos presídios com a função de conter situações emergenciais. Além disso, foi anunciada a construção de cinco presídios federais de segurança máxima, sendo um por região, para contemplar todo o país. Para o secretário de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, João Rufino, os episódios recentes reforçam a necessidade de reformular o sistema prisional. “É preciso construir mais presídios, sim. Mas, o fundamental é reformular o sistema que não prepara o indivíduo encarcerado para conseguir uma reinserção na sociedade”, critica. De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas (IBCJUS), Adeíldo Nunes, as rebeliões em Manaus (AM), Natal (RN) e Boa Vista (RR) só causaram espanto porque ultrapassaram o número de mortes de presos, que antes era de 111, registrado há 25 anos, no Carandiru. “Não fosse isso, as mortes passariam despercebidas, porque maus tratos a presos, castigos físicos e mortes fazem parte do cotidiano nacional”, afirma. Segundo o jurista, a função ressocializadora da pena não tem sido eficaz no Brasil devido à falta de vontade política, ao não cumprimento da Lei de Execução Penal de 1984 e porque a administração dos presídios está nas mãos de organizações criminosas. “O preso, na visão do Estado, não é sujeito de direito, o que achávamos que era coisa do passado. Aliás,


Marcelo Camargo/Agência Brasil

a Lei não quer que o preso seja ressocializado, mas sim integrado à sociedade. São duas coisas diferentes”, destaca Nunes. “Quem entra no presídio analfabeto, era de se esperar que o Estado oferecesse a ele a oportunidade de estudar. Não o faz”, completa. O debate sobre as causas das rebeliões trouxe à luz um tema polêmico. A tese da terceirização do sistema penitenciário, defendida por interlocutores do governo e criticada por especialistas, possui projeto de lei que tramita no Senado. O PL 513/11 estabelece regras para parcerias público-privadas na construção e administração de estabelecimentos penais, a exemplo do Compaj, complexo prisional onde ocorreu a rebelião em Manaus, cuja gestão é feita por uma empresa privada. “A iniciativa privada não tem preocupação com o preso, mas sim com o seu faturamento mensal. Quem tem de cuidar do preso é o Estado, já que é ele quem prende. Entregar ao particular essa tarefa é fugir da responsabilidade, o que o Estado sabe fazer muito bem”, critica Nunes. O lucro com o encarceramento facilita o lobby, inclusive no Congresso, para que penas mais rígidas sejam aprovadas objetivando o crescimento da população carcerária do país. Os últimos dados divulgados em 2014 pelo Sistema Integrado de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen), indicam que o Brasil chegou à marca de 607,7 mil presos. Desta população, 41% aguardam julgamento atrás das grades. Ou seja,

há 222 mil pessoas presas sem condenação. “O número de presos é alarmante porque a prisão preventiva banalizou-se. O juiz - que ouve a sociedade - acha que a prisão resolve problemas sociais, o mesmo sentimento que envolve a sociedade. Ledo engano, problemas sociais são resolvidos com entrega de políticas sociais aos mais carentes, principalmente escolas, saúde, trabalho e moradia. O crime continua sendo um forte aliado do desemprego e da pobreza”, avalia o especialista. As consequências da solução carcerária em detrimento do investimento social são dramáticas. De acordo com o Atlas da Violência 2016, último estudo sobre o tema divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil registrou a marca recorde de 59.627 homicídios em

2014. O levantamento também revela que jovens negros e com baixa escolaridade são as principais vítimas. Segundo relato do agente penitenciário João Barbosa*, a situação em Pernambuco é alarmante. "As condições de superlotação são as mais nefastas, por exemplo, no presídio de Igarassu a capacidade é para menos de 500 presos, mas estão lá quase 4 mil . As gerências das unidades prisionais realizam acordos com os apenados que têm posição de liderança no crime. Esses são os chamados chaveiros, que controlam a disciplina na cadeia. Para conter os tumultos e rebeliões, o Estado faz vista grossa para a realidade caótica dos presídios, liberando armas brancas, drogas e, inclusive, armas de fogo", denuncia. *Nome fictício criado para preservar a identidade da fonte.

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Ludmila di Bernardo/MPT-SP

Direitos Humanos

Trabalho escravo ainda é realidade no Brasil

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anância, impunidade e miséria. Essas são as correntes modernas que aprisionam em pleno século XXI trabalhadores a situações análogas à escravidão. Apesar da organização não governamental (ONG) Free Walk ter registrado mais de 160 mil casos de trabalho escravo no Brasil em 2016, tramita no Senado um projeto de lei que poderá fragilizar a atuação do Ministério Público do Trabalho no combate a esse crime. O Projeto de Lei nº 432/2013 visa regulamentar, com mudanças no conceito de escravidão, a Emenda Constitucional nº 81, que dispõe sobre a expropriação dos imóveis onde for verificada a exploração de trabalho escravo, além do confisco de qualquer bem de valor econômico produzido por meio da exploração dessa força de trabalho.

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Atualmente, o Código Penal Brasileiro (Artigo nº 149) define quatro modalidades de escravidão: trabalho forçado; servidão por dívida; condições degradantes de trabalho; e jornadas exaustivas. Com a aprovação do PL 432/2013, as duas últimas modalidades seriam excluídas. As expressões “jornada exaustiva” e “condições degradantes de trabalho” foram introduzidas pela Lei Federal nº 10.803/2003, que modernizou a repressão à escravidão contemporânea no Brasil. A procuradora do Trabalho de Pernambuco, Débora Tito, defende que não há necessidade de uma regulamentação da Constituição, considerando que o crime de trabalho escravo contemporâneo já está previsto pela legislação vigente. “A aprovação desse projeto de lei seria um retrocesso inestimável, porque a escravidão contemporânea não é relativa apenas à liberdade física. A escravidão é também a coisificação do homem, que passa a ser tratado como propriedade, sem respeito à dignidade humana da pessoa trabalhadora”, afirma. Desde 1995, foram instituídas medidas governamentais de combate à escravidão no Brasil. Até 2016, foram viabilizadas a identificação e libertação de 50.816 trabalhadores, que resultaram em indenizações no montante de R$ 92,62 milhões. Em Pernambuco, o Ministério Público do Trabalho (MPT) tem atuado a partir de denúncias e do rastreamento em cadeias produtivas, como nas confecções, frigoríficos e no corte da cana. Um grupo móvel composto pelo órgão e integrantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Polícia Federal (PF) permanece realizando diligências, apesar do último resgate no


Ludmila di Bernardo/MPT-SP

Estado ter ocorrido em 2012. Na ocasião, seis empregados nas obras de construção do Shopping Riomar, um dos empreendimentos do Grupo JCPM, foram resgatados em situação análoga à ocorrência de trabalho escravo. Eles haviam sido arregimentados pela Mastel Montagem de Estruturas Metálicas Ltda., empresa que “quarteirizava” a atividade. De acordo com MTE, os empregados foram alojados em condições precárias, alguns sem salário por aproximadamente 40 dias e com Carteira de Trabalho retida na sede da empresa, que fica no Paraná. Não dispunham de água potável para beber, de roupas de cama, além de dormir sobre colchões sujos e até mofados diretamente sobre o chão. Segundo Débora Tito, ações de resgate como essa fizeram do Brasil uma referência no combate ao trabalho escravo pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Com o novo conceito proposto pelo Senado, não conseguiríamos mais resgatar esses trabalhadores. Voltaria a figura do negro acorrentado, com o sangue escorrendo do açoite”, avalia a procuradora.

Outro importante instrumento de combate ao referido crime é a divulgação da Lista de Transparência do Trabalho Escravo Contemporâneo, que traz os dados de empregadores autuados em decorrência de caracterização de trabalho análogo ao de escravo. Uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro de 2014, impediu o governo Federal de divulgar novas atualizações do cadastro de empregadores flagrados com mão de obra escrava, a chamada “lista suja”, que esteve pública entre 2003 e 2014. A ministra Cármen Lúcia revogou a medida cautelar que impedia a divulgação da lista, mas o governo Michel Temer não publicou a nova relação referente ao período de abril de 2014 a abril de 2016. Em janeiro deste ano, a pedido da ONG Repórter Brasil e do Instituto do Pacto Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO), com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), os dados foram compilados pelo Ministério do Trabalho. A última versão da lista conta com o nome de 349 empregadores. “Nós vivemos em uma sociedade

capitalista, mas a sede pelo lucro não pode atingir a dignidade humana”, defende Débora Tito. A disputa jurídica em torno da divulgação da “lista suja” segue acirrada. Neste mês de março, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Ives Gandra Martins Filho, acatou um pedido feito pela Advocacia-Geral da União (AGU) e derrubou a liminar que obrigava o MTE a divulgar o documento. A divulgação dos nomes coíbe o aliciamento ao trabalho escravo porque, entre outros fatores, tem impacto financeiro para os exploradores. “Quando um nome é incluído na lista suja, instituições bancárias suspendem financiamentos e o acesso ao crédito”, esclarece a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues. Empresas signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo também aplicam bloqueios e restrições comerciais. “Para além da questão do acesso ao crédito, a divulgação da lista é fundamental para que a sociedade saiba quem são os empregadores que lucram com a exploração do trabalho o escravo no Brasil. Essa prática é inaceitável. Ao não publicar a ‘lista suja’, o presidente golpista Michel Temer mostra mais uma vez que atende aos interesses dos representantes do capital”, critica Suzineide. Para ter o seu nome retirado da lista, o empregador flagrado precisa assinar um Termo de Ajustamento de Conduta ou acordo judicial com o governo Federal. Cumprindo as exigências, poderão pedir sua exclusão dela partir de um ano. Março de 2017

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Entrevista

“No governo Temer os direitos das mulheres estão sendo permanentemente ameaçados e em muitos casos literalmente desestruturados”.

Neste 8 de Março, grupos feministas de mais de 30 países, incluindo o Brasil, marcaram presença na Greve Internacional das Mulheres. Qual a pauta que une as mulheres mundialmente? Mundialmente, nós temos uma situação de avanço no plano econômico de políticas neoliberais, que tem especificamente uma consequência sobre a vida cotidiana das mulheres de maneira dramática. Porque você tem uma desestruturação das políticas sociais, das relações de trabalho em termos de direitos e uma precarização das condições de trabalho. Os dados de pesquisa mostram, e as mulheres falam isso nos espaços coletivos das organizações do movimento, que estão em situação ainda mais precária em termos de

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Acervo pessoal

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o mês em que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres, convidamos a socióloga, ativista feminista e educadora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, para fazer uma análise de conjuntura a partir da perspectiva feminista. Diante do avanço da política neoliberal no mundo, as mulheres se organizam para realizar uma greve internacional a fim de afirmar o valor do trabalho produtivo e reprodutivo.

trabalho e condições sociais em geral. Nos países do Norte, com a quebra do Estado de Bem-Estar Social, uma das consequências é o aumento da carga de trabalho reprodutivo das mulheres em razão da eliminação das políticas sociais coletivistas dos equipamentos sociais e a implantação de políticas de cunho individualizado. Nos países do Sul, como o Brasil e em outros países da América Latina, onde nunca houve de fato a implantação de uma política de bem-estar social, nós estávamos avançando em políticas sociais em relação ao trabalho reprodutivo e às condições de trabalho remunerado das mulheres. Com o golpe se acirram os processos de implantação de políticas neoliberais que agravam profundamente as condições de vida da maioria das mulheres, que se constitui de mulheres trabalhadoras e mulheres negras. A violência sexual e doméstica é outra coisa que em todos os países tem uma permanência e aumenta neste contexto. No caso do Brasil, por exemplo, com essa conjuntura violenta, que estamos vivendo, na qual as forças e expressões mais conservadoras encontram espaço e liberação para a sua explicitação pública do preconceito, das ideias fundamentalistas, da homofobia, do machismo e do racismo, a consequência é o aumento da violência simbólica e material. A violência sexual e doméstica contra as mulheres se expressa de maneira cotidiana e as proposições de lei que se apresentam no Congresso Nacional evidenciam a busca de uma institucionalidade baseada na repressão e no controle do corpo e da sexualidade, o que implica na legalização de mecanismos que só provocarão mais violência. Então, existem motivações nacionais e mundiais que unem as mulheres. No Brasil, com o golpe e a desestruturação das políticas, essas motivações estão em um


O presidente dos EUA Donald Trump reitera afirmações misóginas após eleição. O presidente Wladimir Putin acaba de aprovar uma lei que despenaliza violência doméstica na Rússia. No Brasil, Dilma Rousseff é arbitrariamente deposta do cargo de presidenta. As mulheres ameaçam a ordem mundial? O que ameaça o mundo, o planeta e a vida das pessoas é justamente esta ordem injusta e violenta dominante. Neste contexto atual existe uma explicitude das conexões entre a proposta neoliberal e o fundamentalismo. Não só para o exercício da violência contra as mulheres, como para a subtração de todas as conquistas em termos de leis e políticas que levam a processos emancipatórios para as mulheres. Eu não diria que o que o Trump está fazendo nos EUA, o Putin na Rússia e o Temer no

Brasil é porque as mulheres estão ameaçando a ordem mundial. O que eu acho é que as contradições entre essa ordem mundial - capitalista, patriarcal, homofóbica e racista - e as conquistas dos movimentos sociais, dos setores mais avançados da sociedade, incluindo o movimento feminista, que tem sido um sujeito político central contra esta ordem, estão em confronto. Internamente, a eleição de Trump nos EUA também estava sendo cultivada em termos de xenofobia, homofobia e destituição dos direitos das mulheres, e o que temos visto é o movimento de mulheres nos EUA em protesto desde o primeiro momento de sua posse. Se a gente retoma o caso do Brasil, o golpe político veio para desestruturar os avanços sociais e políticos que iam no sentido da democratização da vida social. Agora, eu não coloco a luta do movimento feminista como uma ameaça à ordem mundial. Eu coloco esta luta como

um processo de transformação e superação dessa ordem, e digo que neste contexto a correlação de força ainda é muito pesada para avançarmos neste sentido. Essa ordem mundial está disposta a não abrir nenhuma possibilidade para a classe trabalhadora, para a população negra, para as mulheres e nem para as populações LGBTI. Cresceu a acumulação da riqueza e o poder patriarcal e racista mostra toda sua truculência, inclusive, reafirmando do ponto de vista político formas grotescas de expressão desse poder. Nós sempre defendemos do ponto de vista teórico que o patriarcado pode ter sua periodicidade marcada historicamente, e que tem expressões diferentes tanto nos contextos mundiais como nos percursos de cada formação histórica. O momento de posse dos ministros do governo golpista é um retrato concreto do poder patriarcal encarnado em um grupo de homens brancos e neoliberais.

Mobilus in Mobili/Flickr

grau bastante profundo e exigem uma luta permanente e radical.

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Entrevista

De que maneira a gestão de Michel Temer se alinha com os governos Trump e Putin? Os golpistas (brasileiros) estavam apostando na vitória da Hillary (Clinton), mas eles rapidamente se adaptaram à vitória do Trump porque há uma disposição absoluta para submeter o Brasil aos interesses do capital financeiro internacional. Toda essa “abertura econômica”, com a venda, por exemplo, da Petrobrás, mostra que eles não têm nenhum pudor de rapidamente se adaptar às exigências desse novo governo e às ordens do poder econômico mundial que é, sobretudo, definida na sua correlação de forças pelos EUA. O atual governo brasileiro está propondo uma reforma da Previdência com a exigência da idade mínima de 65 anos para todos. A aprovação dessa proposta penalizará ainda mais as mulheres? Todos e todas serão penalizados/as, mas neste caso as mulheres serão mais penalizadas do que os homens. A diferenciação da idade de aposentadoria entre

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Valter Campanato/Agência Brasil

Quem acha que o patriarcado é uma figura de retórica atemporal precisa olhar bem a foto deste momento e depois acompanhar as consequências deste ato na vida das mulheres. Aquela foto é a encarnação do poder patriarcal, hibridado com o capitalismo e com o fundamentalismo. Estavam ali representações de poder dos setores mais conservadores, capitalistas, uma representação dos senhores brancos.

mulheres e homens é justamente baseada no reconhecimento de uma situação de desigualdade no mundo do trabalho entre homens e mulheres uma vez que as mulheres estão no mercado de trabalho e são majoritariamente responsáveis pelo trabalho doméstico, que é o trabalho reprodutivo. Uma reforma da Previdência Social que leve ao aumento do tempo de trabalho remunerado das mulheres para acesso à aposentadoria significará uma perda concreta, do ponto de vista material, na vida das mulheres. A maioria das mulheres enfrentam, cotidianamente, uma jornada de trabalho extensa e intensa entre trabalho produtivo e reprodutivo. A falta de tempo é uma dimensão concreta da desigualdade e da exploração das mulheres. O que este governo propõe é estender mais longamente no tempo essa

super exploração. Essa proposta de reforma da Previdência exige uma enorme mobilização contra ela. Se passar, vai ser uma grande tragédia em termos de retrocesso social e político para os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, com agravante para as mulheres. No sistema capitalista que está posto, falta reconhecimento da força produtiva das mulheres? A palavra não é bem reconhecimento, porque esse reconhecimento implicaria mudanças concretas nas políticas econômicas e sociais. Caso contrário, serão apenas proselitismos vazios e demagógicos. Não reconhecer é parte da forma da exploração e de dominação que existe. O que estamos é em conflito aberto com a contradição das relações de trabalho considerando as relações de gênero, de raça e de classe. Nós achamos que para exis-


tir um reconhecimento é preciso que as políticas e as relações de trabalho se transformem. Porque, como eu já disse, um reconhecimento discursivo não é suficiente. Mas, estamos em uma conjuntura que nem do ponto de vista simbólico, do discurso público, existe qualquer sinal de reconhecimento ao valor da força produtiva das mulheres. Pensando no caso do Brasil, o que se tem hoje é não só uma desestruturação material do que as mulheres tinham alcançado como política social, seja na área da saúde, da educação, do trabalho e da qualificação profissional. E veja, ainda tínhamos muito a conquistar. O uso da violência simbólica no processo político que levou ao golpe de Estado contra uma mulher, Dilma Rousseff, eleita democraticamente Presidenta do Brasil, foi em si um mecanismo de desqualificação das mulheres como sujeito político e foi, portanto uma violência simbólica sexual e política contra todas as mulheres brasileiras. O acerto de contas com o “feminismo empresarial” e a construção do chamado “feminismo para 99%” significa que estamos diante de uma nova onda da luta feminista? O feminismo como expressão política tem várias correntes de pensamento, várias formas de encarar esse confronto. Hoje, na América Latina existe um forte feminismo que é formado de várias correntes políticas e uma pluralidade de coletivos de mulheres trabalhadoras urbanas, rurais, domésticas, mulheres lésbicas, mulheres negras, mulheres indígenas, e outras. Nada

Com esse mundo tão desigual e tão violento, nós temos de nos posicionar permanentemente. disso é novo no movimento feminista, apesar de sempre surgirem novas configurações, novas questões e novos conflitos. O que as feministas americanas colocaram em sua chamada para o 8 de Março com o feminismo para 99% foi uma afirmação de um feminismo que considere a realidade social da maioria das mulheres, que estão em situação de profunda desigualdade e uma crítica a um feminismo “empresarial”, próprio de uma perspectiva neoliberal individualista e empreendedorista, que no fundo é uma proposição elitista. O que nós temos é um contexto mais acirrado de contradição e que vai exigir do feminismo respostas mais radicais para o enfrentamento dessa conjuntura. Se trata de um processo histórico. Esse 8 de Março tem, eu acredito, uma expressão forte da luta das mulheres. A experiência da Marcha “Ni una a menos” que as mulheres argentinas realizaram no ano passado, e também no ano passado a greve das mulheres polonesas são momentos de grande inspiração e significado para estes novos contextos da luta feminista. A pluralidade é constitutiva desse movimento, onde também vão se constituindo as hegemonias, as alianças. Não dá para antever o que vai prevalecer. Mas, o 8 de Março está ganhando uma conotação de luta, que mostra uma disposição para o confronto em todas as dimensões e para o en-

frentamento mais radical. Essa data é muitas vezes capturada por outros setores sociais como um momento de festividades, inclusive, com o sentido desviado para uma concepção de igualdade de mercado etc. Acho que o que está se sobrepondo para este ano de 2017 é um dia de luta para as mulheres organizadas. Com esse mundo tão desigual e tão violento, nós temos de nos posicionar permanentemente. Feminismo é o extremo oposto do machismo? Essa é uma relação que não deve nem ser feita. Porque o feminismo é um movimento pela emancipação das mulheres, contra a dominação e a exploração das mulheres, contra uma ordem que está posta. O machismo é um mecanismo vulgar dessa ordem. É uma prática social e cultural de reprodução da dominação patriarcal. Então, não são termos nem comparáveis e nem podem ser postos um como o contrário do outro, porque dessa maneira se estaria destituindo o feminismo do sentido político e filosófico. A violência contra as mulheres, física e simbólica, é uma forma de machismo. O feminismo luta contra as estruturas e as relações sociais de exploração e dominação das mulheres. É um movimento de transformação social. É portanto um movimento e um pensamento crítico. Março de 2017

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Dicas de Cultura

Autor de livros sobre o papel da mídia e a América Latina, o jornalista Leonardo Wexell Severo, assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Confederação Sindical Internacional (CSI), lançará o livro “Nicarágua, a flor mais linda do meu querer”. O trabalho, que inclui reportagem fotográfica, relata a história da solidariedade brasileira à revolução sandinista e o ativismo anti-imperialista. O livro resgata a luta solidária, coletiva, dos jovens da década de 80 e ajuda a jogar luz sobre o século 21. A obra pretende fazer um relato

Marco Antonio/Divulgação

»»Literatura

que, segundo o autor, “grite em cada página, mais do que o verbo lutar, o verbo vencer”, apontan-

do que a unidade, a mobilização e a consciência abrem caminho para a vitória.

por Dom João VI a retratar as cenas monárquicas e estruturar a Escola de Belas Artes, se dedicou também a realizar um impressionante número de 700 desenhos, em grande parte aquarelas, reproduzindo o dia

a dia da população da cidade sede do então Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A exposição segue até o dia 4 de abril. O IRB funciona de terça-feira a domingo, das 13h às 17h.

Fernando Frazão/Agência Brasil

»»Exposição

O Instituto Ricardo Brennand (IRB) recebe a exposição “Debret e a Missão Artística Francesa no Brasil - 200 Anos”, marcando os dois séculos da chegada do artista europeu ao Brasil. Debret, que foi convidado

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Revista dos Bancários


Bancárias de Talento

Homenagem às Bancárias de Talento Neste mês de março, em homenagem às mulheres, a Revista dos Bancários traz uma retrospectiva das Bancárias de Talento que apresentamos nos últimos cinco anos.

Bancária do Bradesco, Elaine Cavalcanti faz do talento musical um instrumento da religiosidade. Ela é soprano e estuda contrabaixo acústico

Magali Guerra Heuer é bancária do HSBC e estilista dedicada aos vestidos de noiva

Filha de cangaceiro, a bancária aposentada do Banco do Brasil, Rosa Bezerra escreve livros sobre a representação social do Cangaço

Marta Tavares, bancária do Bradesco, revela o dom da arte ao unir música e teatro

Bancária aposentada do Bandepe, Maria Vilani de Souza faz réplicas de automóveis antigos artesanalmente

Karyna Spinelli é bancária do Banco do Brasil e tem a música no sangue

Bancária da Caixa, Suzana Moraes escreve folhetos de cordel

Março de 2017

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Fotos: Percival Tirapeli/Acervo Unesp

Conheça Pernambuco

Tracunhaém, a cidade do barro

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sculturas de barro expostas na entrada da cidade dão as boas-vindas aos turistas que chegam em Tracunhaém, na Zona da Mata de Pernambuco. Localizado a cerca de 58 quilômetros do Recife, o pequeno município se destaca por abrigar renomeados artesãos, como Manoel Borges da Silva, o Mestre Nuca. Com características típicas de cidade de Interior, a vida de Tracunhaém gira em torno de uma praça central, chamada Costa Azevedo, e da Igreja de Santo Antônio. A cidade começou a ser povoada em meados do século XVIII e hoje possui aproximadamente 13 mil habitantes. A cultura da arte figurativa de Tracunhaém tem como raiz a an-

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Revista dos Bancários

tiga tradição indígena de produzir objetos de cerâmica. Além do Mestre Nuca, conhecido pela criação da obra Leão Cacheado, a cidade é berço de outros ceramistas importantes, como Maria Amélia, Zezinho de Tracunhaém, Noêmia Barbosa e Nilson Santeiro. A produção de Tracunhaém possui um estilo próprio, garantindo o reconhecimento estético das peças produzidas na cidade. No Centro de Artesanato, localizado na praça principal, é possível ver todas as etapas da produção, desde a argila bruta até as peças acabadas. Pelas ruas da cidade também há muita arte. Os artistas expõem obras em seus ateliês e em locais públicos, transformando Tracunhaém em um museu a céu aberto. Além de apreciar a cultura popular, os visitantes têm a oportunidade de conhecer de perto a história dos filhos e netos de oleiros que descobriram com o barro a vocação para a produção da arte figurativa.


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