Revista dos Bancários 69 - ago./set. 2017

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REFORMA trabalhista

O DIA SEGUINTE


Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-000 Fones (81) 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Suzineide Rodrigues Secretária de Comunicação Daniella Almeida Conselho Editorial Adeílton Filho, Cleonildo Cruz, Daniella Almeida, Epaminondas Neto, Jonatas Campos, Micheline Américo e Suzineide Rodrigues Coordenação e supervisão Tempus Comunicação Jornalista responsável Micheline Américo Redação Beatriz Albuquerque e Ingrid Elihimas Estagiário Onirê de Morais Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem de capa Pixabay e Unsplash Impressão CCS Gráfica Tiragem 12.000 exemplares

Sindicato filiado à

/bancariospe

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Revista dos Bancários

Editorial

Nem pão, nem circo! A aniquilação dos direitos dos trabalhadores, também resultado da aprovação da reforma trabalhista, passa a valer a partir de novembro. Apesar da resistência popular à proposta do governo ilegítimo e corrupto de Michel Temer, deputados federais e senadores, mais uma vez, não se mostraram dignos do voto que receberam e foram comprados por meio da liberação de mais de R$ 1,8 bilhão em emendas, como denunciamos nesta edição da Revista dos Bancários. A matéria de capa traz um recorte dos impactos da reforma trabalhista sobre a categoria. E como o governo tem atacado não só a classe trabalhadora, mas também as empresas públicas, preparando o terreno para a privatização de diversos setores, abordamos em duas matérias medidas que visam ao desmonte da Caixa Econômica Federal. Na primeira, a distorção do papel social do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que ao ser liberado para saques foi utilizado para pagamento de dívidas e compra de bens não duráveis; na segunda, o relançamento do Programa de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVE), que promove o esvaziamento do papel social da Caixa e a precarização do atendimento à população. Tratando sobre as mudanças no cenário nacional que afetam os empregados do segmento financeiro, o emprego digital norteou a entrevista com o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Machado. Tido como tendência pelos bancos no país, o investimento em tecnologia tem resultado no fechamento de agências físicas, no descontrole da jornada de trabalho e na redução do quadro funcional das empresas. A política agora é ainda pior: nem pão, nem circo. Em nível municipal, o descaso com o centenário Teatro do Parque entristece os artistas e a população. Fechado para reforma desde o ano de 2010, a obra com custo previsto de R$13 milhões ainda não foi concluída. Os recifenses precisam recorrer a poucas opções culturais. Indicamos na página “Dicas de Cultura” atrações para os meses de setembro e outubro, ambas no bairro do Recife. Nesta editoria, apresentamos o “Bancário de Talento” Henrique Zanchi, empregado da Caixa. Ele lançou o livro “O viajante” que fala sobre vida, morte e o sentido da existência. Entre temas áridos e leves, esperamos que cada leitor possa fazer suas reflexões e definir qual será o seu papel em favor de um Estado de Bem-Estar Social, que ora se esfacela. Boa leitura! Suzineide Rodrigues Presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco


Liberação do FGTS inativo distorce papel social do fundo Pág. 04

PDVE é expediente para desmonte da Caixa Pág. 05

ENTREVISTA O economista do Dieese, Gustavo Machado, fala acerca dos impactos da tecnologia sobre a categoria bancária

Teatro do Parque: o triste espetáculo da restauração

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O Brasil à venda Pág. 10

Reforma trabalhista passa a valer a partir de novembro de 2017

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Corrida da Galinha em São Bento do Una Pág. 16 Agosto/Setembro de 2017

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Sociedade

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liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), engendrada pelo presidente ilegítimo Michel Temer, chegou à sua fase final no mês de julho, sem trazer benefícios à população. Para atender às expectativas do mercado financeiro, o governo distorceu o papel do recurso, antes utilizado para fins sociais, como o financiamento da casa própria. De acordo com a última pesquisa divulgada pela Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos (Seplan), no acumulado entre 10 de março e 31 de julho de 2017, foram sacados R$ 44 bilhões, sendo grande parte do recurso destinado ao pagamento de dívidas. Esse dinheiro que entraria para o trabalhador como uma renda suplementar, pode iniciar um círculo vicioso de pagamento de dívidas e de abertura de novos débitos. Entre os setores da economia, o varejo foi o mais beneficiado pela Medida Provisória (763/2016) que autorizou os saques do FGTS. Segundo o levantamento apresentado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor recebeu 25% dos recursos decorrentes dos saques nas contas inativas, apresentando melhor desempenho nos

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Revista dos Bancários

Tomaz Silva/Agência Brasil

Liberação do FGTS inativo distorce papel social do Fundo

Saques foram utilizados para pagamento de dívidas e compras no varejo

ramos de vestuário (R$4,1 bi.), supermercados (R$ 2,8 bi.) e móveis e eletrodomésticos (R$ 1,2 bi.). O acesso às contas inativas foi liberado para aqueles que pediram demissão até 31 de dezembro de 2015 ou que não conseguiram sacar os recursos, no caso de demissão por justa causa. Os saques foram escalonados de março a julho, conforme data de nascimento dos trabalhadores. Antes da MP, os recursos do FGTS só poderiam ser sacados nas demissões sem justa causa, na aposentadoria para a compra ou amortização da casa própria ou quando o trabalhador permanecia três anos desempregado ou sem registro em carteira, além da possibilidade de saques em casos específicos de desastres naturais ou doenças graves. De acordo com a secretária-Geral do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Sandra Trajano, o governo golpista fez um afago ao mercado financeiro em detrimento da segurança social da população. “Com o desemprego atingindo mais de 13 milhões de brasileiros, era de se esperar que os recursos sacados fossem gastos com a compra de alimentos, roupas e bens não duráveis, deixando de ser utilizados para investimentos, como a compra da casa própria”, afirma. Ela ainda destaca que a medida faz parte do plano de desmonte da Caixa Econômica Federal como banco 100% público. “Foi disponibilizado para retirada o montante de R$ 49 bilhões. E o que sobrou das compras e pagamentos de dívidas foi parar em poupanças de bancos privados”, avalia. Além disso, com o propósito de recompensar o capital financeiro pelo apoio ao golpe, o governo intentou reduzir sua rejeição popular com a liberação da verba do FGTS no período de recessão. Temer, entretanto, continua amargando um baixo nível de aprovação de menos de 5% dos brasileiros, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Este é o menor índice da série histórica do instituto, que teve início em março de 1986.


Desestruturação

PDVE é expediente para desmonte da Caixa

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s impactos negativos decorrentes do corte de empregados da Caixa Econômica Federal na primeira fase do Programa de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVE) não foram suficientes para impedir que a direção do banco anunciasse o retorno da medida. O objetivo, agora, é reduzir o quadro de pessoal em até 5.480 funcionários. Somados aos 4.645 que se desligaram no primeiro semestre de 2017, poderão ser 10 mil trabalhadores a menos nas unidades de todo o país, dentro de poucos meses. A Caixa chegou a ter 101 mil empregados em 2014, e agora terá menos de 90 mil. Apesar de no último concurso terem sido aprovados cerca de 32 mil candidatos, o contingente contratado foi de apenas 8% desse total. Com menos trabalhadores e agências e áreas-meio fechadas serão agravadas as já precárias condições de trabalho e comprometida a qualidade do atendimento à população. O período de adesão ao PDVE ocorreu entre 17 de julho e 14 de agosto com desligamentos progressivos de 24 de julho a 25 de agosto. O público do programa foi de empregados com, no mínimo, 15 anos de casa; aposentados pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) até a data de desligamento, exceto quando for por

Defesa do emprego e da Caixa 100% é pauta permanente para a presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues

invalidez e, empregados aptos a se aposentarem até 31 de dezembro de 2017 ou com adicional de função de confiança/cargo em comissão gratificada até a data do desligamento. Para as entidades que representam os empregados da Caixa, está claro que não haverá reposição das vagas deixadas por aqueles que aderirem ao PDVE. E, como constatado na primeira fase do programa, os funcionários que permanecem no banco estão submetidos à sobrecarga de trabalho e consequente propensão ao adoecimento laboral. “Estamos analisando os termos do PDVE para que não haja perda de direitos. E também disponibilizamos o setor jurídico para orientar e acompanhar os interessados em aderir ao plano. Apesar desse suporte oferecido para a categoria, nos colocamos contra qualquer programa que vise ao desligamento de empregados”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues. Outro resultado das demissões desenfreadas, tidas como voluntárias, será uma menor atuação da empresa. Entre as políticas sociais que dependem do subsídio do banco público estão o Bolsa Família, Garantia Safra, Minha Casa Minha Vida, Chapéu de Palha e o Fundo de Incentivo Estudantil (FIES). “A Caixa é um dos poucos instrumentos de política social, mas esse perfil será riscado do mapa caso esse projeto ultraliberal e privatista obtenha êxito. O Sindicato não vai esmorecer na luta em defesa dos empregos e da Caixa 100% pública”, conclui Suzineide. Agosto/Setembro de 2017

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Entrevista: Gustavo Machado

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ão várias as especulações em torno dos impactos das tecnologias sobre os empregos no segmento bancário. Em entrevista concedida à Revista dos Bancários, o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Gustavo Machado, esclarece o assunto e orienta a categoria sobre como enfrentar a nova realidade. É verdade que entre todos os setores do mercado de trabalho, os bancários já são os mais impactados com os avanços das novas tecnologias? A onda tecnológica que afeta o setor financeiro está inserida em um contexto maior que alguns vêm chamando de 4ª Revolução Industrial. Esse fenômeno afeta todos os setores econômicos em escala global, mas pode-se dizer que o setor financeiro é um dos mais impactados, na medida em que é o campo que mais investe em tecnologia no Brasil. Inteligência Artificial, digitalização do

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atendimento aos clientes e das áreas de apoio, novos modelos de negócios e de agências e os novos paradigmas de trabalho como o Home Office são exemplos de inovações tecnológicas características deste processo e que já estão sendo aplicadas nos bancos, com forte impacto no mundo do trabalho da categoria bancária. Apenas para ilustrar, desde 2012 o setor já fechou mais de 47 mil postos de trabalho e as inovações tecnológicas explicam parte desse movimento. As agências digitais já começaram a substituir as agências físicas. É possível estimar a proporção entre adoção de novas tecnologias e dispensa da mão de obra no setor bancário? É possível apontar indicadores que nos ajudam a compreender o processo. Em 2016, 57% das transações financeiras no Brasil foram realizadas por meios digitais (celular e internet) e apenas 8% nas agências físicas. Há oito anos, a internet respondia por 30% das operações, o celular nem sequer fazia negociações bancarias e a agência física era responsável por 18%. Então, essa inversão tem forte impacto no emprego bancário e principalmente nos bancários de agências (caixas, atendentes, escriturários etc.). O fechamento de postos de trabalho está concentrado, por enquanto, nessas ocupações que estão mais na base da pirâmide ocupacional do setor. Isso gera mudanças no perfil da categoria que precisam ser estudadas pelo movimento sindical bancário. Com a legalização da terceirização até para as atividades-fim, aprovação da reforma trabalhista e com avanço acelerado da implementação das novas tecnologias no mercado de trabalho, podemos afirmar que as relações ficaram mais precarizadas para o trabalhador bancário? Há uma zona de intersecção entre as inovações tecnológicas e a reforma trabalhista, na medida em que a implementação de novos modelos de trabalho muitas vezes esbarra na proteção da legislação trabalhista. Esse era um


entrave que os bancos queriam tirar da frente. Vejamos o caso do Home Office, por exemplo: a reforma trabalhista tirou esse modelo das normas de controle da jornada de trabalho, não garantiu que a responsabilidade dos custos de infraestrutura e equipamentos será do empregador e jogou para o trabalhador a responsabilidade por questões de saúde e segurança do trabalho. Não há dúvida de que a consequência maior de tudo isso é a precarização das relações de trabalho. O Sindicato está acompanhando a implementação de novos termos - a exemplo de startups e fintechs no cotidiano dos bancários. Como a categoria pode se manter atualizada diante dessa nova realidade? Primeiro através da geração de conhecimento. É preciso estudar esse processo. Isso vai criar condições de atuar estrategicamente, seja debatendo e negociando com os bancos formas de preservação do emprego, de realocação de trabalhadores atingidos por tais inovações e de regulação das condições de trabalho no banco digital; seja junto ao Banco Central e ao poder legislativo, apontando à necessidade de regular as novas tecnologias financeiras que geram novos tipos de fraude. Por exemplo, elas podem ferir o sigilo bancário e as normas de segurança previstos para as agências bancárias. Alguns bancos vêm investindo bastante em sistemas de inteligência artificial. Como você analisa tais investimentos? O que pode estar por trás desse

interesse na tecnologia? No Brasil, os bancos investem cerca de R$ 20 bilhões por ano em tecnologia. O que está por trás deste investimento é a certeza de que isso irá gerar, num futuro próximo, uma enorme redução de custos para os bancos. Redução de custos com locação de imóveis, com segurança, papéis, arquivos, luz, impressão e, principalmente, com mão de obra. O próprio Bradesco em sua apresentação institucional aponta que o custo médio de uma transação no celular corresponde a apenas 3% do custo médio de uma transação nas agências. Também se especula muito sobre o 'Aprendizado de Máquina', campo de estudo que dá aos computadores a habilidade de aprenderem sem programação direta. Quais riscos a substituição de humanos por robôs podem trazer? Essa discussão deve ser feita em escala ampliada, pois na medida em que o “Aprendizado de Máquina” ou “Inteligência Artificial” e outras tecnologias passam a substituir uma série de etapas do trabalho em diversos setores econômicos e não só em trabalhos rotineiros, mas também trabalhos mais complexos como de médicos e advogados, poderemos ter uma grave crise social, já que nossa sociedade está organizada em torno do emprego. Quais as previsões do Dieese para os próximos dez anos? É muito difícil fazer previsões a longo prazo nesse contexto, pois as mudanças têm uma velocidade sem precedentes. O Fórum Econômico Mundial estima que até 2020 serão

extintos 5 milhões de empregos no mundo todo em função da chamada 4ª Revolução Industrial. O Dieese montou um grupo de trabalho sobre esse tema para avaliar os impactos dessas transformações nos diversos setores de atividade no país e em breve teremos publicações disponíveis sobre o assunto. No caso específico dos bancários, o Dieese divulgou uma nota técnica chamada “A inovação tecnológica recente no setor financeiro e os impactos nos trabalhadores” que pode ser acessada em nosso site. É impossível frear as avanços tecnológicos e nem é esse o propósito da categoria. Assim sendo, como os bancários devem se preparar para enfrentar esse novo tempo que se avizinha? O debate da tecnologia deve ser tratado pelo movimento sindical em dimensões de curto, médio e longo prazos. A curto e médio prazos, devemos debater com os bancos a defesa irrestrita do emprego de qualidade. Recentemente, a categoria conquistou a garantia que os bancos iriam implementar processos de requalificação e realocação para trabalhadores atingidos por mudanças tecnológicas e organizacionais. Agora, esse tema será debatido em cada banco e é uma oportunidade importante para o movimento sindical conseguir regular esse processo e minimizar os prejuízos para a categoria. Do ponto de vista da discussão mais estrutural de longo prazo, as mudanças tecnológicas abrem espaço para debater reivindicações históricas dos trabalhadores como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário. Agosto/Setembro de 2017

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Retirada de direitos

Reforma trabalhista passa a valer a partir de novembro de 2017

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s bancários estão entre as categorias mais duramente atingidas pela reforma trabalhista do presidente ilegítimo Michel Temer, aprovada na Câmara e no Senado através de estratégias ardilosas do governo. Entre perdas sociais e financeiras, a categoria está sob ameaça de precarização das relações de trabalho. Os votos favoráveis dos senadores pernambucanos Armando Monteiro (PTB) e Fernando Bezerra Coelho (PSB) foram somados aos de outros 48 parlamentares e uma abstenção. Isso porque a movimentação espúria de Temer garantiu que a votação contasse com apenas 26 votos contrários. No mês que antecedeu à votação, em junho, ele liberou mais de R$ 1,8 bilhão em emendas, como moeda de troca.

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Em vigência a partir de novembro deste ano, a Lei 13.467 da reforma trabalhista altera mais de 100 artigos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e afetará diretamente os bancários de empresas públicas e privadas ao regulamentar, por exemplo, os processos dos bancos digitais como o teletrabalho, o que é um risco por não ter a duração da jornada de trabalho controlada, e o fim da incorporação de função após dez anos. Com a aprovação da reforma, a súmula 372 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) perdeu a validade. Ela previa que o empregado que recebeu gratificação de função por dez anos ou mais e, posteriormente, foi descomissionado, sem justo motivo, retornando ao cargo efetivo, tivesse a gratificação incorporada ao salário. Para impedir os impactos negativos deste ponto, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco vai dar entrada em ações judiciais para garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados, mesmo após a reforma trabalhista ter sido sancionada. Segundo o secretário de Assuntos Jurídicos da entidade, João Rufino, o processo de incorporação das funções já era difícil e tende a piorar. “Para se ter ideia da dificuldade pré-existente, até pouco tempo, os empregados da Caixa Econômica Federal tinham o direito à gratificação mesmo se trocassem de função. Atualmente, eles só conseguem a incorporação se entrarem na Justiça, assim como sempre aconteceu nos outros bancos públicos. E o pior de tudo é que além dos funcionários não terem essa possibilidade, eles são frequentemente vítimas de descomissionamento até como forma de assédio


moral. O Sindicato tem sido bastante atuante no sentido de garantir a recolocação da gratificação, mas as consequências psicológicas negativas para esses funcionários dificilmente serão reparadas”, avalia. A nova legislação prevê ainda dispositivos que poderão resultar em punições ao trabalhador que acionar o Judiciário reivindicando direitos trabalhistas. O empregado terá de arcar com as custas do processo e honorários dos advogados da empresa caso perca a ação ou falte à audiência, “ainda que beneficiário da justiça gratuita”. A situação dos bancários se agravou imediatamente após a sanção da reforma trabalhista, com a implementação da terceirização em vários setores dos bancos e o lançamento/reabertura de planos de desligamento voluntário. E com a nova legislação, ao aderir ao programa, o trabalhador dará quitação completa das obrigações da empresa, não podendo pleitear mais nenhum direito na Justiça, inclusive se descobrir que adquiriu doença ocupacional. O primeiro boletim divulgado

pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) após a aprovação da reforma trabalhista conclui que a lei certamente intensificará o quadro de precarização. “Diante do observado na economia e na crise política, espera-se, no máximo, a estagnação econômica, com baixo nível de produção e de emprego, este ainda em condições bastante desestruturadas, com redução da contratação formal e aumento das inserções mais precarizadas”, diz o documento. Pela nova legislação, os sindicatos não perdem apenas a contribuição sindical, perdem também a possibilidade de intervir de modo adequado nas relações de trabalho, pressionando o capital para obter melhores condições do que aquelas previstas em lei. As negociações entre trabalhador e empregador, balança onde ainda não há igualdade de poder, passam a se sobrepor à legislação, mesmo que resultem em perdas para a coletividade. Para a presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues, a reforma trabalhista ameaça a Convenção

Coletiva de Trabalho (CCT). “Essa reforma atinge as bancárias e os bancários brasileiros. Nós temos uma Convenção Coletiva de mais de 20 anos que está em risco. Garantias como férias, descanso remunerado e acesso à Justiça estão sendo enterradas juntamente com a CLT”, avalia. O Ministério Público do Trabalho (MPT) chegou a enviar uma nota técnica ao presidente ilegítimo Michel Temer, assinalando 14 pontos da reforma trabalhista que violam a Constituição Federal e convenções internacionais ratificadas pelo Brasil. Agora, o MPT estuda ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) para revogar a nova lei. Além do órgão público, o Partido dos Trabalhadores (PT) também pretende entrar com ação judicial. “Os trabalhadores não devem se acomodar e aguardar uma decisão favorável dos ministros do Supremo. Nós, bancários, precisamos nos alinhar com as outras categorias nas ruas, lutando para derrubar esses golpistas e exigindo a anulação desses atos ilegais”, defende Suzineide.

"Garantias como férias, descanso remunerado e acesso à Justiça estão sendo enterradas juntamente com a CLT", avalia Suzineide Rodrigues

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Não à privatização

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O Brasil à venda

presidente com o maior índice de rejeição da história do país, Michel Temer, lançou um pacote de privatizações e concessões que compromete o desenvolvimento do Brasil. O projeto que prevê a entrega de 57 empresas públicas para o grande capital e multinacionais, entre eles, a Lotex, o Aeroporto do Recife e a subsidiária Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), agradou o mercado financeiro, mas gerou protestos da sociedade. A extensa lista de empresas que serão desestatizadas conta com 14 aeroportos, além de quatro participações da Infraero nas concessionárias que administram os terminais de Brasília, Confins, Galeão e Guarulhos; 16 terminais portuários; 16 concessões de energia; quatro empresas (Casa da Moeda, Lotex, Ceasaminas e Casemg); duas rodovias; e uma Parceria

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Público-Privada de telecomunicação. A medida é criticada por entidades representantes dos trabalhadores, partidos de esquerda e movimentos sociais. Em nota pública, a coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, Rita Serrano, conclama a sociedade: “as ofensivas ao patrimônio público feitas desde o início do golpe tornam-se reais, exigindo reação urgente em defesa da sociedade brasileira e de seus trabalhadores. […] O Brasil não está à venda. E essa resposta daremos com nossa mobilização crescente, ao lado de milhões de brasileiros”. Esta não é a primeira vez que o Brasil é atingido por uma avalanche de privatizações. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também liquidou ativos públicos com o mesmo pretexto utilizado por Temer: o aumento da arrecadação. A meta não foi alcançada. As receitas das vendas de estatais no auge do processo, entre 1997 e 1998, corresponderam em média a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse retorno não foi capaz de frear a dívida pública e o desequilíbrio fiscal. A gestão tucana considerou a privatização do setor de telecomunicação a mais bem sucedida. Mas, a realidade é que este é um dos serviços com maior número de queixas por parte dos consumidores devido à baixa qualidade e ao alto custo. E o mesmo poderá acontecer com as empresas que estão no pacote do atual governo, como a Eletrobrás, a maior empresa do setor na América Latina, hoje responsável por 31% da capacidade de geração de energia do país e por 47% das linhas de transmissão. No Estado de Pernambuco, por exemplo, a venda da Eletrobrás recairá sobre a subsidiária Chesf. “A privatização de uma empresa pública do porte da Eletrobrás interessa


aos banqueiros e grandes investidores, que são beneficiados com as gigantes transações nas Bolsas de Valores. Este governo golpista está comprometendo o desenvolvimento do país e o futuro da população para atender ao interesse do capital. Temer não está vendendo um bem pessoal, está vendendo o patrimônio que é do povo brasileiro e isso não vamos aceitar”, protesta a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues. Atento ao movimento privatista do governo, o Sindicato lançou em Pernambuco a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos. Também recolheu assinaturas para a “Carta dos Bancários de Pernambuco ao Povo Brasileiro”, com o objetivo de defender o papel social exercido pelas empresas públicas Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco Nacional de Desenvolvimento Social e demais bancos estaduais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-presidenta Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Holffman e o senador Lindbergh Farias foram os primeiros signatários do documento. Um importante braço da Caixa, a Lotex, é uma das empresas que entraram na lista privatista. Responsável pela “Raspadinha”, a sua venda ao setor privado ameaça os repasses sociais feitos pelas Loterias Caixa. Conforme dados do banco, de 2011 a 2016, as loterias arrecadaram R$ 60 bilhões, dos quais R$ 27 bilhões foram destinados para financiamento de projetos em áreas como cultura, esporte, bolsa de

Aeroporto do Recife é uma das 57 privatizações anunciadas

estudo e segurança pública. No ano passado, as loterias, operadas exclusivamente pela Caixa, arrecadaram R$ 12,9 bilhões, e R$ 4,8 bilhões foram transferidos para programas sociais. Desse total, 45,4% foram direcionados para a seguridade social, 19% para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), 19,6 % para o esporte nacional, 8,1% para o Fundo Penitenciário Nacional, 7,5% para o Fundo Nacional de Cultura e 0,4% para o Fundo Nacional de Saúde. “A Caixa cumpre um papel social importante

para a população, especialmente a de baixa renda, financiando programas sociais que geram oportunidades e garantem que o brasileiro não volte a passar fome. Quando essa riqueza for entregue, isso tudo sucumbirá, pois o setor privado visa ao lucro e não tem interesse em manter esse perfil”, alerta Suzineide. A saída apontada pelo Sindicato é a unidade dos trabalhadores e a resistência. "Defender as empresas públicas é defender o Brasil!", conclui.

LIQUIDA

PACOTE DE PRIVATIZAÇÃO

TUDO! BRASIL

14 aeroportos e mais 4 participações da Infraero em concessionárias 16 terminais portuários 16 concessões de energia 4 empresas (Casa da Moeda, Lotex, Ceasaminas e Casemg) 2 rodovias 1 Parceria Público-Privada de telecomunicação

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Espaço público

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O Teatro está fechado para obra desde 2010

Guerrilha Cultural

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escaso e abandono. Este é o cenário que vemos hoje no Teatro do Parque, um dos maiores equipamentos públicos de cultura do Recife, localizado no Bairro da Boa Vista, área central da cidade. O espaço, fundado em 1915, está fechado para reformas há sete anos. Em 2015, passou por intervenções estruturais, que custaram R$1 milhão aos cofres públicos. A segunda etapa das obras, que prevê restauro e modernização, tem custo previsto de R$12 milhões, mas ainda está em processo de captação de recursos via Lei Rouanet. A entrega estava agendada para 2015, na comemoração do centenário do teatro. Entretanto, há mais de um ano as obras estão completamente paradas. O que se vê, ao transitar pelo local, são apenas grades fechadas e tapumes. Procurado pelo setor de comunicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, o chefe de Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura do Recife, João Guilherme, responsável pelo andamento das reformas, não se pronunciou a respeito. Já a bancada de oposição na Câmara Municipal do Recife, no último mês de abril, chegou a cobrar explicações sobre o atraso na obra, mas também não

Guerrilha Cultural

Teatro do Parque: o triste espetáculo da restauração

“Este é o retrato do descaso dos governantes com a cultura pernambucana”, afirma Fábio Sales

obteve sucesso. Artistas recifenses declararam insatisfação com a gestão municipal, devido ao descaso com o cineteatro. Para o jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz, o abandono do espaço é um retrato da falta de atenção da Prefeitura do Recife com a cultura. “Não há interesse, compromisso e nem respeito ao movimento cultural da cidade. O Teatro do Parque é um símbolo da nossa cultura devido à diversidade de linguagens artísticas que por ali passaram. Quando nós vemos esse descaso, nos sentimos, claro, um pouco desistimulados. Mas ainda bem que teatro é sinônimo de resistência e que sabemos que a transformação deste cenário depende do voto”, afirma. Desde o fechamento da casa, em 2010, grupos de artistas lutam pela conclusão da obra. “Estamos na briga pelo Teatro do Parque desde que ele foi fechado. Fizemos vistorias no local e vários movimentos de ocupação, a exemplo do #Ocuparque, em 2013; o #ResisteTeatrodoParque, em 2014 e 2015; e o #GuerrilhaCultural, que segue até hoje. No mês de agosto, quando o teatro completou 102 anos, fizemos uma audiência pública e uma virada cultural. Fechamos a Rua do Hospício, fazendo um grande ato com apre-


Arquivo pessoal

Oséas Borba é ator e diretor teatral

sentações artísticas. Além disso, vamos dar entrada em uma ação junto à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), para tombamento estadual”, garante Oséas Borba, ator e diretor teatral. Também segundo ele, o Cineteatro do Parque pode ser considerado o mais democrático do Recife. Desde a década de 70, filmes, peças de teatro, apresentações de dança e exposições eram oferecidos gratuitamente ou a preços populares (a exemplo do famoso projeto Cinema por R$1), que fidelizaram o público. Naquela época, as peças eram encenadas até pouco depois das 20h, para que as pessoas tivessem tempo de alcançar bondes e trens para todas as linhas na volta para casa. Passaram pelo palco grandes artistas como Jackson do Pandeiro, Alçeu Valença, Cassia Eller e Beto Guedes, entre outros. O Projeto Seis e Meia, com ingressos populares, também ficou marcado. O Parque ainda foi o local escolhido pelo cantor Gilberto Gil para o primeiro show no Brasil após exílio em Lon-

dres, na Inglaterra, além de sediar o primeiro Festival Nordestino de Música Popular, em 1969. A última apresentação realizada no teatro foi da Banda Sinfônica da Cidade, em 2010. A interrupção do funcionamento do Teatro, além de ser uma lástima para o cenário cultural do Recife, fez com que grupos teatrais da cidade procurassem meios alternativos para continuar suas apresentações. O grupo O Poste - Soluções Luminosas, por exemplo, tem 12 anos de atividade. Há quatro anos os integrantes adquiriram um espaço, localizado na Rua da Aurora, no Bairro da Boa Vista, para dar continuidade aos trabalhos. Hoje, o grupo realiza espetáculos com frequência e se tornou referência para artistas que vêm à cidade. A atriz, produtora e sócia do grupo O Poste, Naná Sodré, lamenta a situação em que o Teatro do Parque se encontra. “Algumas pessoas acham que nós, por termos um espaço físico, não precisamos dos teatros públicos, mas isso é um engano. Temos sim um teatro de bolso, com capacidade para 60 pessoas, mas é importante para nós, por exemplo, termos uma parceria para divulgação dos nossos espetáculos. Sem falar que é muito triste ver mais uma casa se fechando, um equipamento que está no coração da cidade, que abrigou espetáculos belíssimos e ajudou na formação do público”, lamenta. Outro grupo de teatro independente é o Magiluth, que tem 13 anos e faz suas apresentações em uma sala de ensaio localizada no Pátio de Santa Cruz, no centro do Reci-

fe. Um de seus integrantes, o ator Giordano Castro, também avalia o caos que o Cineteatro do Parque enfrenta. “O que está acontecendo é símbolo de uma gestão que fechou os olhos para a cultura na cidade. Nós estamos perdendo todos os avanços que tivemos em governos anteriores. Os teatros que ainda temos funcionam de forma precária, sem equipamentos e sem estrutura. Muitos deles só continuam abertos pela força dos artistas, que sabem que se algum teatro for fechado para reforma provavelmente não será aberto novamente”, denuncia. Para o secretário de Cultura, Esporte e Lazer do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fábio Sales, o fechamento do teatro além de prejudicar os artistas - que têm menos espaço para trabalhar - também é um retrato do descaso com a cultura pernambucana. “Desde sua primeira gestão, o atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio, promete concluir a reforma. O que constatamos é que ele continua sem levar a cultura a sério e quem perde somos nós, que estamos com um equipamento a menos”, critica. O fechamento das portas de um teatro para reforma não é exclusividade do Parque. O Teatro de Santa Isabel passou sete anos fechado, de 1995 a 2002. O Arraial (hoje, Ariano Suassuna), por sua vez, enfrentou uma reforma em 2007, e só voltou à ativa em 2011. A expectativa dos recifenses, de maneira geral, é que alguma medida seja tomada ainda este ano para que o palco do Teatro do Parque, um dos mais consagrados do Recife, volte a brilhar. Agosto/Setembro de 2017

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Dicas de Cultura

Trinca de Ases

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novo projeto musical Trinca de Ases, que reúne o trio Gilberto Gil, Gal Costa e Nando Reis já tem data para chegar ao Recife: será no dia 11 de outubro. O show acontecerá no Armazém do Porto (antigo Armazém 14), no Bairro do Recife, e trará os três juntos no palco, em diferentes formações (trios, duetos e solos). No repertório, canções que marcam a carreira dos artistas, e também músicas inéditas, como é o caso de “Trinca de Ases”, composta por Gil. SERVIÇO: Trinca de Ases no Recife Data:11 de outubro, às 21h Local: Armazém do Porto | Bairro do Recife Ingressos: R$ 200 (inteira), R$ 150 + 1 kg de alimento (social) e R$ 4 mil (suíte) À venda no site Bilheteria Digital e nas lojas Chilli Beans

Tomie Ohtake - Cor e Corpo Sob a curadoria de Carolina De Angelis e Paulo Miyada, a exposição Tomie Ohtake – Cor e Corpo é uma homenagem à artista plástica Tomie Ohtake, morta em 2015, considerada como um dos maiores nomes da arte brasileira no Século XX, tendo dedicado sua vida ao abstracionismo, reconhecida e premiada internacionalmente. As gravuras, esculturas e pinturas revelam a maturidade de seus mais de 60 anos de produção ininterrupta. Formas orgânicas e fluidas somam-se a curvas e cores, em obras que passam por diversos períodos criativos da artista. SERVIÇO Exposição Tomie Ohtake - Cor e Corpo Local: Caixa Cultural Recife Data: 22/09/2017 a 12/11/2017 Horário: De terça a sábado das 10h às 20h. Domingo das 10h às 17h

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Revista dos Bancários


Bancário de Talento

Bancário por profissão, escritor por vocação

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screver é simples, nós não precisamos de nada além de papel, caneta e boas ideias. Essa é a resposta que o bancário Henrique Zanchi dá quando perguntado sobre de onde surgiu a paixão pela escrita. Empregado da Caixa Econômica Federal há seis anos, o gaúcho que mora no Recife também diz que essa é uma maneira encontrada por ele para ‘deixar de lado’ a profissão e relaxar após dias cansativos de trabalho. A aptidão pela escrita vem desde criança. Henrique sempre gostou de ler e estudou em um colégio onde era estimulado a participar de espetáculos e montagens teatrais. Aos sete anos, o bancário escreveu uma peça para apresentar na instituição de ensino e tomou gosto pela atividade. Recentemente, aos 31 anos, lançou sua primeira obra, intitulada de “O viajante”. Trata-se da estória de um escritor que, diante da complexidade da vida, comete suicídio e vai para outro plano espiritual onde encontra a morte, em carne e osso. A partir daí, a personagem inicia uma jornada para descobrir o sentido da existência e entender melhor os ciclos da vida. Ele chega a pedir uma segunda chance para viver e tentar, finalmente, encontrar a felicidade. “Nunca fui uma pessoa religiosa, mas tenho bastante interesse pela espiritualidade. Então associei o interesse ao fascínio pela escrita e

escrevi um romance/ ficção sobre o assunto. Gosto muito do começo, meio e fim das coisas e neste livro trago uma reflexão sobre tais etapas”, explica o escritor. Antes do livro, Henrique costumava escrever pequenos contos voltados à reflexão e publicava-os em blogs. Além da escrita, considerada pelo bancário como uma vocação, ele tem como hobbie a música e é vocalista da banda Caixa Preta, formada por empregados do banco onde trabalha. Ele descreve as atividades como partes indispensáveis de suas rotinas pessoal e profissional. “Nós, bancários, sofremos pouco estresse físico, mas o estresse psicológico advindo da pressão no ambiente de trabalho reflete no nosso corpo. Escrever e cantar para mim são como uma terapia ocupacional. Duas atividades onde eu me encontro, relaxo inteiramente e me livro das mazelas. Na minha opinião, todo trabalhador deve encontrar um hobbie que o leve para outras dimensões. Isso influenciará, consideravelmente, no seu rendimento no trabalho e na sua qualidade de vida”, avalia o gerente de Atendimento da Caixa. O bancário pretende dar continuidade aos exercícios e está em processo de pesquisa para começar a escrever uma nova obra ainda neste ano. “Estou planejando um romance que tem o título provisório de "As cartas de Gaupne". Conforme narra, será a estória de um velho perfumista solitário, que elabora perfumes através da mistura de essências e escreve cartas para desconhecidos ao redor do mundo, tratando-os como velhos amigos. “Essa é uma forma encontrada por ele para aplacar um pouco a solidão. Ele nunca envia as cartas, apenas as escreve quase de forma terapêutica. Até que um dia, decide contratar uma assistente e ela, por engano, envia todas as cartas”, conta entusiasmado. Agosto/Setembro de 2017

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Conheça Pernambuco

Corrida da Galinha é marco econômico em São Bento do Una

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cerca de 208 km do Recife, no Agreste pernambucano, está São Bento do Una. Nascida no fértil vale do Rio Ipojuca no final do Século XIX e originária da Fazenda Santa Cruz, a cidade é conhecida pela grande criação de galináceas e também por uma tradicional festa: a Corrida da Galinha, que chegou à 20ª edição neste ano. A atividade que dá nome à festa funciona da seguinte forma: os competidores precisam “tanger” as aves por um labirinto para que elas, batendo asas, completem o percurso o mais rápido possível. As competições são realizadas em uma pista fechada, popularmente chamada de “Galinhódromo”. A estrutura tem capacidade para cinco mil pessoas e conta ainda com o “Pinto stop”, versão local do “pit stop” do automobilismo. Assim como ocorre em competições automobilísticas, os três primeiros colocados sobem no pódio e ganham como recompensas dinheiro e brinde. A corrida é narrada por “Galão Bueno”, direto da torre de comando do local e os visitantes interessados em participar de última hora da disputa podem utilizar o serviço de “aluguel de galinhas”. A festa, criada em 1992, se inspira na vocação do município

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Revista dos Bancários

Cerca de 2.300 empregos são gerados com a festa

A atividade que dá nome à festa consiste em “tanger” galinhas

para a avicultura. Além das corridas, ocorrem também as irreverentes competições de quem come mais rápido e concurso de fantasia e imitações. Na programação de 2017 foram incluídos diversos shows, exposições, palestras e também a II Feira da Avicultura do Nordeste, que expõe e confirma a grande produção de ovos e aves na cidade. A Corrida da Galinha é um marco econômico, que fortalece a economia e a cultura local. Em média, 200 mil pessoas participam dos cinco dias de festa, e cerca de 2.300 empregos temporários são gerados. As inscrições para participar são gratuitas e podem ser realizadas no local.


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