A História do Trompete

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Trompete O Trompete por Sérgio Cascapera O descobrimento dos metais, e sobretudo do bronze, proporcionou um excelente material para a construção de instrumentos de sopro. Os trompetes de metal mais antigos não eram dotados de bocal; esta peça, que se inventou muito mais tarde, fundia-se com o tubo, do qual separou-se posteriormente. No Egito, o trompete era um instrumento militar, também utilizado nos mistérios em honra do deus Osíris, considerado o seu inventor. quando o túmulo do faraó Tutankhamon foi aberto, em 1922, foram descobertos dois trompetes retos. Um de prata, com 58,2 cm de comprimento, e outro de bronze, com 50,5 cm de comprimento: eles não possuíam bocais separados e os lábios estavam aplicados diretamente no estreito fino, datando aproximadamente de 1350 a.C.. Entre os hebreus, o trompete tinha um caráter divino. "Disse mais o Senhor a Moisés: 'Faze duas trombetas de prata, de obra batida as farás, servir-te-ão para convocares a congregação, e para a partida dos arraiais'". Essas trombetas eram tocadas pelos sacerdotes e empregadas nas festas solenes durante os sacrifícios de ação de graças, além de ter também uso militar. Os judeus ainda usam o chofar (corno de carneiro) para anunciar certas cerimônias de culto nas sinagogas. Os gregos e os etruscos utilizaram os instrumentos de metal quase que exclusivamente para fins militares. Os romanos empregavam-nos também em algumas cerimônias religiosas, em especial ao ar livre. Os instrumentos conhecidos pelos romanos eram: a tuba, instrumento comprido de seção cônica, usada pela infantaria. O lituus, muito mais curto, com tubo de seção cilíndrica e pavilhão curvado para cima, utilizado pela cavalaria e o primeiro instumento com bocal independente. O cornu, ou tuba curva que, como o nome indica, era uma tuba curvada em espiral. Uma barra transversal de madeira servia para dar solidez ao instrumento, servindo simultaneamente de suporte. Todos tinham um som forte, desagradável e até assustador, como provam as definições dos escritores latinos: horribilis, terribilis, raucus, rudis. Com a queda do Império Romano Ocidental, o trompete desapareceu temporariamente da Europa. O reaparecimento dos instrumentos de metal no continete europeu foi uma das conseqüências das Cruzadas. Os cristãos ficaram impressionados pelo brilho das orquestras militares muçulmanas e adotaram alguns dos seus instrumentos, entre os quais o nafir (comprido e estreito). O seu nome árabe foi substituído pelo de buisine, talvez derivado do antigo nome latino buccina. No século XV, o trompete deixou de ser reto, pois os fabricantes descobriram um sistema para curvar o tubo, que teve primeiramente a forma de um S e, um século depois, adquiriu mais ou menos o formato atual, com tubo cilíndrico em dois terços de seu comprimento, que se alarga na parte final, para formar o pavilhão. No mesmo período, e graças a uma série de modificações que formaram o seu som mais suave, o trompete começou a figurar nos conjuntos instrumentais. Dado que este trompete só podia produzir os harmônicos da sua nota fundamental, foi-lhe dado o nome de "natural". Por isso, tiveram de se construir instrumentos em diferentes tonalidades, dando-se origem a uma família de cinco membros: Clarino, Quinto, alto, Vulgaro e Basso. Cláudio Monteverdi foi o primeiro a utilizar o trompete na sua ópera "Orfeu" (1607). O século XVII e a primeira metade do século XVIII constituem a idade de outro do trompete natural que, por um lado, continuou a ocupar um lugar importante na música militar; e, por outro, sofreu uma evolução quanto à técnica de execução ao ser introduzido na música de concerto. No entanto, entre 1750 e 1815, o trompete atravessou um longo período de crise. com efeito, o fermento político e social que, surgido em meados do século XVII, desembocou na Revolução Francesa, afetou também este instrumento, que foi considerado como representativo do Ancien Régime. Além do mais, o trompete natural já não satisfazia as exigências dos compositores e, por isso, tentou-se aperfeiçoá-lo para o transformar num instrumento cromático.


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