A História da Trompa

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Trompa (French Horn; Cor; Horn: Corno) Para a distinguir da trompa natural chamar-se-lhe também por vezes trompa de pistões, cromática ou trompa de harmonia. Uma caracterísca essencial do tubo é ser estreito e muito longo (mais de 4 metros); é isto que permite a obtenção de muitos harmônicos (até ao décimo-sexto). Na região aguda é difícil controlar a nota produzida, pois a menor imprecisão na conveniente articulação dos lábios dá origem a uma nota errada ou destimbrada. Na trompa cada nota pode ser obtida através de um maior numero de posições diferentes que nos outros metais. Assim, é fácil o executante livrar-se dos harmônicos 7 e 11 ( indesejáveis, por a sua afinação não corresponder exatamente à das notas que se pretende) e obter as notas correspondentes com base no critério formativo. Ao contrário de todos os outros instrumentos que tem pistões, na trompa é com a mão esquerda que se atua sobre eles, porque continua a ser preciso introduzir a mão direita na campana para obter os sons bouchés e para segurar o instrumento. A sua extensão e de quase quatro oitavas, de Sol (0) a Fa (4 ), embora as quatro notas mais graves sejam difíceis de obter, devendo ser evitadas pelos compositores em passagens rápidas. A trompa está afinada em Fa, transpondo-se à 5a perfeita inferior. No entanto em muitas partituras do século XIX as partes de trompas eram escritas em clave de fa, uma oitava abaixo do que é habitual (como se ela transpusesse à 4a superior). Para emitir as notas da região aguda, convinha que existisse uma trompa com o tubo mais curto: o modelo em Sib. Em 1935 apareceu no mercado o modelo moderno de trompa, que funciona como trompa em Fa e como trompa em Sib, alternadamente, sendo chamada trompa de afinação dupla. Para isso é dotada de um 4o Pistão (este ascendente) que corta a ligação de uma certa extensão do tubo, fazendo com que o instrumento passe a tocar uma quarta acima. A trompa apresenta um bocal cônico ou em forma de funil mas sempre relativamente fundo, o que confere ao instrumento um timbre aveludado. Surdina, Sons Bouchés e Outros Efeitos A trompa pode usar uma surdina em forma de pêra e que pode ser de metal, madeira ou cartão permitindo obter um timbre diferente. Para indicar a sua utilização usa-se as mesmas expressões que para cordofones: com sordino para a colocar, senza sordino para a retirar. Na trompa natural o instrumentista intrduzia a mão na campana, tapando-a em aproximadamente ¼, ½ ou ¾ da sua área, de modo a obetr sons fora da série dos harmônicos. Mas tapando com a mão obtém-se os chamados sons bouchés (stopped em inglês, gestopft em alemão, chiusi em italiano). Estes têm uma sonoridade muito diferente. Hoje os sons bouchés são usados unicamente para obter esse timbre diferente. O sinal " + " sobre a nota significa bouché, enquanto que "o" significa aberto. Numa célebre passagem do Capricho Espanhol de Rimsky Korsakov aparece a mesma frase primeiro em sons abertos e seguidamente em sons bouchés. A aplicação do som bouché é também útil quando se pretende fazer passar uma nota de sforzando a piano. Por outro lado, a introdução da mão na campana tem também por fim a correção da afinação, uma vez que por este meio se consegue baixar até meio-tom. Outro efeito sonoro da trompa é o som cuivré, que se obtém com uma tensão maior que a normal e um sopro muito forte. Isto origina a vibração do metal, produzindo assim um som muito característico . Esta técnica pode ser utilizada em sons normais (abertos), em sons bouchés e com surdina. O uso é indicado pelo sinal " ^ " sobre as notas, acompanhado da palavra cuivré no início da passagem. Os sons cuivré são de grande efeito dramático. Finalmente, há compositores que exigem que a trompa se toque com a campana voltada para cima (inglês; bells up; Francês; pavillons een láir; alemão Schalltriether auf). Isto pode acontecer em passagens em que o compositor pretende um som muito forte, violento até. Em relação à sonoridade da trompa convém salientar que ela é o único instrumento tratado como uma madeira e como um metal; na escrita para orquestra ela é associada principalmente aos metais, mas também às madeiras, com as quais liga perfeitamente; na música de câmara a trompa é membro permanente do quinteto de sopro, juntamente com a flauta, o oboé, o clarinete e o fagote. Além disso, a trompa resulta muito bem em combinações instrumentais bastante diversas; por isso, ela tem um status único entre os instrumentos da orquestra.


História Há muito de comum entre as trompas e os trompetes primitivos: tal como estas, também as primeiras trompas se destinavam mais a fins mágicos e rituais do que à execução musical; também começaram por servir para amplificar e distorcer a voz, gritando ou falando através delas. Lur Da Idade do Bronze conhecem-se tompas originárias do norte da Europa, chamadas lur (plural, lurer). Este nome, dinamarquês, é relativamente recente (data de 1797, quando o primeiro destes instrumentos foi encontrado numa escavação na Dinamarca). Para além deste país, também na Suécia, costa oeste da Noruega, norte da Alemanha e Irlanda foram encontrados estes instrumentos. Estas trompas, que datam do período entre 1100 A.C. e 500 A.C., são feitas de bronze, com o tubo cônico alongado em forma de " S " mas com a segunda seção torcida em relação ao plano da primeira, e terminando não numa campana mas num disco plano ornamentado. Curiosamente, apresentam um bocal não destacável parecido com o do trombone tenor moderno. Cornu e Buccina Estas duas trompas, usadas no tempo dos romanos, são frequentemente confundidas ou apresentadas como sinônimos uma da outra, mas segundo Sibyl Marcuse as suas funções eram bem diferentes: o cornu era usado para fins militares (cerimonias fúnebres e outras) e também no circo (juntamente com o hydraulos); a buccina era usada pelos pastores, mas também servia para indicar as horas do dia à população. O cornu tinha um longo tubo metálico (com cerca de três metros), de perfil estreito e cônico, com a forma da letra "G . Uma barra transversal de madeira servia para dar solidez ao instrumento, servindo simultaneamente de suporte. Em relação à buccina não existem elementos suficientes para identificar convenientemente a sua forma. Idade Média: Cornus e Olidantes Durante a Idade Média continuaram a usar-se para fins musicais os primitivos cornos de animais. Primeiro, sem bocal, depois com bocal como parte integrante do instrumento, e só mais tarde com bocal destacável. Os bocais eram primitivamente em forma de taça e só mais tarde começaram a ser em forma de funil (cônicos). Convém notar que até ao séc. XVII os bocais das trompas e dos trompetes eram idênticos. No séc. X começam a surgir cornos com orifícios laterais, permitindo a execução de melodias simples (ainda hoje os pastores escandinavos utilizam cornos com três orifícios). Uma parte dos instrumentos deste tipo continuaram naturalmente a existir sem orifícios, como é o caso do olifante. O olifante, feito de uma presa de elefante, chegou ao Ocidente, vindo de Bizâncio, durante a Idade Média. De marfim, era ricamente esculpido e por vezes guarnecido a prata, tornando-se o símbolo da realeza. Continuou a usarse da Renascença, até ao séc. XVII. Renascença Durante a Renascença a trompa aumenta de tamanho, e na sua construção são progressivamente abandonados os materiais de origem animal, começando-se a utilizar apenas metal, com o qual são ensaiadas diferentes formas e tipos de curvatura. Mas as intervenções musicais de trompas e trompetes são muito limitadas devido à impossibilidade de tocar melodias em graus conjuntos. Só quando os tubos se tornam suficientemente longos e estreitos começa a ser possível produzir alguns harmônicos a partir do 7o e do 8o (zona em que os intervalos entre harmônicos começam a ser de um tom). Por outro lado o desenvolvimento da trompa é mais tardio que o do trompete, devido à maior dificuldade em produzir tubos cônicos longos e estreitos.


Trompa de caça e Trompa natural Ë na Segunda metade do séc. XVII que a chamada trompa de caça se transforma num verdadeiro instrumento musical: trompa natural. Hà por esta altura uma enorme confusão de nomenclatura, que se deve também ao aparecimento da designação trompa francesa. A trompa de caça é descrita nas suas várias formas por Mersenne em 1636, e ao longo de aproximadamente um século ela vai-se transformar na trompa natural. Durante este processo verificam-se as seguintes alterações: • • • •

O tubo torna-se mais comprido e estreito. O perfil do tubo, de puramente cônico, passa a ser em parte cilíndrico e em parte cônico. A campana expande-se muito mais. O bocal passa da forma de taça à forma de funil.

As consequencias destas transformações são uma alteração do timbre e a possibilidade de emitir até ao décimo-sexto harmônico e já não apenas até ao oitavo. A partir de 1740 o trompista Anton Joseph Hampel de Dresden, desenvolveu a técnica de introduzir a mão na campana (como uma espécie de surdina e também para corrigir a afinação), experimentando igualmente o uso de surdinas. Esta inovação, juntamente com a adoção do novo tipo de bocal, veio permitir o uso regular da trompa na orquestra. O aparecimento dos Pistões Desde esta altura até à invenção dos pistões em 1815 várias tentativas se fizeram para aumentar as possibilidades da trompa. Algumas consistiam na substituição e adição de tubos de diferentes comprimentos (roscas ou pontis) que permitiam à trompa emitir outras séries de harmônicos. Estes processos tinham o inconveniente do tempo necessário para a mudança, que em muitos casos se tornava impraticável no meio de uma peça musical. Em 1815 deu-se então a invenção dos pistões (que a trompa tem a forma de válvulas rotativas) e mais tarde faz-se a já referida trompa de afinação dupla (Sib e Fá), hoje a mais usada nas orquestras. A trompa natural continua ainda a ser usada, não só para a interpretação de música antiga mas também pelo seu extraordinário timbre, algo diferente do da trompa atual. Prova do grande interesse que este instrumento hoje desperta é o Concurso Internacional de Trompa Natural que se realiza em Bad Hzarzburb, na Alemanha. Repertório A primeira intervenção da trompa na orquestra é uma fanfarra da ópera Le Nozze de Tito e Pelei de Pier Francesco Cavalli, executada em 1635 em Veneza. Trinta anos mais tarde, Jean-Baptiste Lully usa trompa (cos de chasse) no seu divertimento La Princesse d’Élide, também em fanfarras. Do repertório solista com orquestra salientam-se: - Benjamin Britten, Serenata para Tenor, Trompa e Cordas. • • • • • • • •

Joseph Haydn, 2 Concertos. Paul Hindemith, Concerto. Wolfgang Amadeus Mozart, 4 Concertos. Thea Musgrave, Concerto. Robert Schumann, Concerto para 4 Trompas. Richard Strauss, 2 Concertos. Antonio Vivaldi, Concerto para 2 Trompas. Carl Maria von Weber, Concertino.


Para trompa e piano: • • • • •

Ludwing van Beethoven, Sonata Op. 17. Paul Dukas, Villanelle. Paul Hindemith, Sonata. Francis Poulene, Ëlégie. Roberto Schumann, Adagio e Alegro Op.70.

Em agrupamentos: • • • • • •

Ludwing van Beethoven, Sexteto para 2 Trompas e Cordas. Johannes Brahms, Trio para Trompa, Violino e Piano (em que o autor escreve a parte da trompa como se fosse para trompa natural). Joseph Haydn, Trio para Trompa, Violino e Violoncelo. Paul Hindemith, Sonata para 4 Trompas, Concerto para Metais e Cordas. Wolfgang Amadeus Mozart, Quinteto para Trompa, Violino, 2 Violas e Violoncelo. Alexander Tcherepnine, Suite para 4 Trompas.

Além deste repertório há ainda numerosos quintetos – pois como já se disse a trompa faz parte do quinteto de sopro, para o qual há inúmeras peças escritas.


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