Turismo - Rota Transiberiana

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Ro ta Tr a n s i b e r i a n a

por Bárbara Blas

NOS TRILHOS DA MAIOR

FERROVIA DO MUNDO

Foto: Divulgação

Nas lendárias vias da Rota Transiberiana, passamos por Rússia, Mongólia e China, três países com paisagens, culturas e línguas distintas que se unem em uma experiência singular

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A mesquita Kul Sharif (acima) foi destruída por Ivan, o Terrível, na conquista de Kazan em 1552 e, para comemorar o feito, a Catedral de São Basílio (à direita) foi construída em Moscou

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Foto: Divulgação

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proposta de percorrer 7.867 km entre Moscou e Pequim em 16 dias pode parecer intrigante, já que as capitais estão interligadas por sete horas e meia de voo e ambas oferecem, por si só, notáveis atrações turísticas. Entretanto, os aventureiros que buscam a Transiberiana têm uma proposta diferente: vivenciar histórias, Patrimônios da Humanidade, culturas e paisagens por onde passam. A jornada mística e mágica pela Sibéria ocorre a bordo do trem Zarengold, conhecido como "cruzeiro sobre trilhos”. A partida é da capital russa. Já na primeira noite, os passageiros são surpreendidos pelas luzes dessa cidade e conhecem aquele que é, há séculos, o coração e a alma da Rússia: a Praça Vermelha, ponto oficial de desfiles militares do século 20 que se tornou um frequentado espaço cultural. O nome não está relacionado à cor dos tijolos ou ao comunismo, mas, sim, à palavra krasnyi, que significava “bonito” e, mais tarde, também “vermelho”. Imediatamente, os olhos são atraídos para as cúpulas coloridas das torres de tijolos vermelhos da Catedral de São Basílio. Não se pode deixar de passar pelos belos “palácios subterrâneos”, que são as estações de metrô, e pelo Kremlin, fortaleza símbolo do Estado russo e residência dos czares – agora, do presidente. Há muito mais o que se ver e experimentar em Moscou, mas o trem parte. Após esse aperitivo cultural, deixa-se a agitada capital russa para desbravar novas fronteiras.

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Foto: Mikhail Markovskiy

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FRonteiRa eURo-asiÁtiCa

AcimA, o pAnorAmA do Kremlin de KAzAn e, à direitA, A igrejA do sAngue derrAmAdo, em homenAgem Ao Último czAr russo, nicholAs ii, em YeKAterinBurgo

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Foto: Dima Rogozhin

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KAzAn Um dos grandes feitos da engenharia do século 20, a construção da Transiberiana ocorreu entre 1891 e 1916, com a ajuda do czar Alexandre III, para incentivar o desenvolvimento da Sibéria e conectá-la ao império russo. A imensa região da Rússia, que vai dos Montes Urais ao Oceano Pacífico, era, até então, isolada. Vale lembrar que a Transiberiana é, na verdade, formada por várias rotas. Esta viagem vai de Moscou a Pequim via Mongólia pela chamada Transmongol. O primeiro trecho percorrido é até Kazan, a capital do Tartaristão, uma república autônoma da Federação Russa. Banhada pelo rio Volga, o mais longo da Europa, a “Terceira Capital da Rússia” possui um famoso Kremlin, que reúne traços arquitetônicos dos séculos 10 ao 19. A bela Kul Sharif, destruída em 1552 e que renasceu em 2005, é uma das principais mesquitas da fortaleza.

YeKAterinBurgo O trem está prestes a cruzar a borda entre Europa e Ásia. Os Montes Urais formam uma fronteira natural e sua capital econômica e cultural, Yekaterinburgo, é a próxima parada. Dois monumentos marcam a fronteira, um mais antigo e grandioso, a cerca de 40 km, e outro, de 2004, a 14 km da cidade. Apesar de clichê, os turistas sempre se entusiasmam de estar com um pé em cada continente. Um dos principais atrativos da cidade está relacionado a uma tragédia: a morte do último czar russo, Nicholas II, e de sua família, os Romanovs, pelos bolcheviques durante sua Guerra Civil. Após serem canonizados, foi erguida no local, no começo do século 21, a chamada Igreja do Sangue Derramado em Honra de Todos os Santos Resplandecentes na Terra Russa.

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Foto: Tomatto

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por KrAsnoYArsK pAssA o rio Yenisei, um dos mAis lArgos do mundo, que vAi dAs montAnhAs sAYAn Até o gelAdo oceAno Ártico. jÁ novosiBirsK tem como um dos ícones o teAtro de óperA e BAllet

novosiBirsK Com o passar dos dias, fica-se mais à vontade nesse meio de transporte pouco habitual para percursos longos. Com ar de nostalgia, mas com conforto do século 21, o Zarengold oferece toda a estrutura necessária: guias de turismo, chefs, médico, técnicos, ar-condicionado, aquecedor e cabines de diferentes categorias. As mais luxuosas, Bolshoi e Bolshoi Platinum, têm banheiros e chuveiros privativos. No quilômetro 2.102, finalmente chega-se à Sibéria. Seu nome, que significa “terra que dorme”, é bem sugestivo, ao considerar seu isolamento até a construção da ferrovia e frio quase inimaginável do inverno, quando a temperatura pode chegar a 50°C negativos! Em sua capital, Novosibirsk, a recepção é tradicionalmente russa com a “Cerimônia do Pão e Sal”, uma apresentação cultural, com roupas e músicas típicas. A terceira mais populosa cidade da Rússia tem apenas 120 anos e nasceu ao redor da ponte sobre o rio Ob, construída para a Transiberiana. KrAsnoYArsK A “Cidade das Fontes”, em virtude da grande quantidade delas encontrada, é o centro industrial e cultural da Sibéria Oriental e abriga um extraordinário feito da engenharia: a ponte ferroviária sobre o rio Yenisei, um dos mais largos do mundo, com mais de quatro mil quilômetros. Colocada em

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Foto: Mikhail Markovskiy

CateDRaL Da ePiFania, iRKUtsK

operação em 1899, essa conexão crucial da ferrovia já no ano seguinte ganhou o Grand Prix e a medalha de ouro, como a Torre Eiffel, na The World’s Fair. irKutsK Por sua vibrante vida cultural no final do século 19 e início do 20, é conhecida como "Paris da Sibéria", e já foi exílio para nobres intelectuais russos que participaram da Revolta Dezembrista em 1825. A casa que pertenceu à família do general Sergei Volkonsky, um dos líderes, hoje é um importante museu. Vale a pena conhecer também o Taltsy, um museu a céu aberto com típicas casas de madeira e uma “dacha”, tradicional casa de veraneio siberiana.

Foto: Serg Zastavkin

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Lago Baikal Ponto alto da Rota Transiberiana, o “Grande Lago Sagrado” e “Pérola da Sibéria” possui águas azuis e tão cristalinas que é possível enxergar até em uma profundidade de 40 metros. Formado pela rachadura de placas tectônicas, é o lago mais antigo, com 25 milhões de anos, e o mais profundo do mundo, cerca de 1.700 metros abaixo da superfície. E o mais impressionante é que seus 31.500 km² abrigam um quinto da água doce não congelada do planeta! Além disso, há uma questão mística, pois acreditava-se que o lago possuía po-

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deres mágicos e, reza a lenda que, quem mergulha em suas geladas águas, que não ultrapassam os 15º C, ganha mais cinco anos de vida. Uma de suas ilhas, Olkhon, é considerada sagrada pelo xamanismo, que, possivelmente, teve origem na Sibéria. A despedida da Rússia ocorre em Ulan-Ude, mas, antes de deixar o país, não se esqueça de comprar uma matrioshka, a clássica boneca russa que simboliza maternidade e família, e de provar a tradicional vodca russa. Aliás, a forma correta de apreciá-la é levantando totalmente a cabeça e bebê-la de uma só vez. E, claro, não pode faltar o brinde: “Na Zdorovie!”

Foto: Rory Cummins

Foto: Mikhail Markovskiy

Foto: Grisha Bruev

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Ulaanbaatar No país menos povoado do mundo ainda sobrevivem antigas tradições, vida nômade e templos budistas. Entretanto, há também uma Mongólia mais agitada em sua capital, Ulaanbaatar, que oferece cafés, lojas de departamento, galerias de arte e clubes noturnos, bem como muitos locais históricos. O Gandan, de 1835, é o principal monastério e centro de educação de budismo e foi um dos poucos que ficaram em pé quando os comunistas proibiram atividades religiosas. Outro sobrevivente foi o Choijin Lama (1908), transformado em museu e famoso por suas coleções de artes budistas, como pinturas em seda (thangkas) e máscaras de dança religiosa (tsam). A cerca de 80 quilômetros está o Parque Nacional Gorkhi-Terelj, de 294 mil hectares, onde se conhecerá a formação rochosa “turtle rock”, a cultura dos nômades e, se houver disposição, é possível acampar nas tendas tradicionais, as gers. O maior evento nacional é o Festival Naadam, entre 11 e 13 de julho, no qual praticam suas três paixões esportivas: wrestling (luta), corrida de cavalos e arco e flecha.

O percurso margeando o Lago Baikal, Patrimônio Natural da Humanidade, é um dos mais incríveis. Acima, tendas nômades mongóis, as gers, no Parque Nacional Gorkhi-Terelj

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Foto: Hung Chung Chih

Foto: Tepikina Nastya

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A Tiananmen, ou Praça da Paz Celestial, e a Grande Muralha da China são algumas das majestosas obras de Pequim

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Pequim Por fim, atravessamos o Deserto de Gobi e desembarcamos em Pequim. Começamos a explorar nosso destino final pelo Templo do Céu, usado para oferecer sacrifícios aos deuses para uma boa colheita. Com corpo e mente mais equilibrados, após praticar Tai Chi Chuan, seguimos para a Paz Celestial, a maior praça pública do mundo. Ao norte dela está a Cidade Proibida, que serviu como residência de imperadores durante cinco séculos. Após passagem pelas Tumbas da Dinastia Ming, onde 13 imperadores foram enterrados, o turista finalmente será surpreendido pela Grande Muralha da China. Eleita uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo em 2007, sua edificação oficial começou por volta de 200 a.C., embora tenha trechos mais antigos. A construção imponente utilizada para proteger a fronteira contra inimigos, se sobressai nas montanhas como um dragão imperial. Ela não é uma obra contínua e possui, no total, mais de 20 mil quilômetros. Um provérbio chinês diz que “você não é um homem de verdade se não tiver subido a Grande Muralha”, então, o jeito é respirar fundo e encarar esse gigante. E não haveria melhor panorama para se despedir da grandiosa e inesquecível Rota Transiberiana.

Nada melhor do que viajar com quem entende das tradições locais. Fui Viagens, a melhor opção. www.fuiviagens.com.br Foto: Angela Güzey

Haedong Yonggung - Coréia do Sul 24/01/14 11:10


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