[ meio ambiente ]
2011 foi declarado, pela ONU (Organização das Nações Unidas), o Ano Internacional das Florestas. Em meio a tantas notícias de degradação, uma pergunta muitas vezes fica sem resposta: afinal, por que elas são tão importantes? DA REDAÇÃO i Arte: paula bizacho
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FOTO: Alexandre Gambarini / Conservação Internacional
a vista aérea, o que antes eram infinitos tapetes verdes cortados por caminhos azuis estão cada vez mais diminutos. Hoje as florestas são lembradas mais pela sua destruição, e o consequente aquecimento global, do que por sua majestosa beleza. O Brasil tem uma responsabilidade incontestável na sua conservação. Isso porque, com 519.522.000 hectares, possui a segunda maior área florestal do mundo, atrás apenas dos 809.090.000 hectares russos, de acordo com o Serviço Florestal Brasileiro. Além disso, abriga uma das maiores e mais conhecidas florestas — a amazônica. A importância das florestas não está só em sua extensão — 31% do planeta (dados da ONU) —, mas em seus benefícios ambientais, sociais e econômicos. Sua contribuição mais conhecida atualmente é na estabilização do clima por meio da retenção de carbono. Entretanto, elas também regulam o ciclo de chuvas — o que está ligado à produção de alimentos, quantidade e qualidade da água disponível —, protegem contra catástrofes naturais, já que suas raízes ajudam a fixar o solo, são abrigo e fonte de subsistência para fauna, flora e ser humano, participam na manutenção cultural de comunidades nativas, geram empregos, além de fornecerem matérias-primas com grande valor comercial — madeira, raízes, folhas, frutos, sementes, látex, minérios — que dão origem a móveis, construções, artesanato, remédios, chás, borracha, óleos, perfumes, entre tantos outros. Segundo um estudo da ONG Conservação Internacional, para a regulação do clima por meios artificiais, foi estimado um custo de 3,8 trilhões de dólares (livro “Mundo Sustentável — abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação”, 2005). E isso as florestas fazem de graça.
“Quando se devasta de forma agressiva, dá impressão de que todas as matérias-primas foram devidamente extraídas, usadas e vendidas. Mas o fato de tirar todas as árvores não quer dizer necessariamente que esteja se fazendo um bom uso delas” João Paulo, ANAGEA
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[ meio ambiente ] Porém, devido à ação desordenada do homem, esses benefícios se tornam cada vez mais escassos. Pecuária, extração de madeira e agricultura são os principais fatores do desmatamento, além de mineração e obras de grande porte, como construção de estradas e usinas hidrelétricas. Não é à toa que o Brasil é o maior exportador de carne bovina. Para cada habitante da Amazônia, há 3,3 cabeças de gado, o que faz da pecuária o maior vetor do desmatamento nesse bioma. No que diz respeito à extração de madeira, estima-se que cerca de 90% do volume consumido de origem amazônica seja ilegal, ou seja, são derrubadas de maneira e locais ilícitos. A monocultura brasileira também se destaca como propulsora do desmatamento, especialmente a de soja, que é a segunda em volume de produção no mundo. Além do impacto ambiental, é preciso considerar o lado (des) humano da devastação, cujos agentes são grandes responsáveis pelo trabalho escravo e pelo acuamento dos povos indígenas. Com o conhecimento dos males que o desmatamento causa, até quando vamos permitir que esse rolo compressor impere
FOTO: neil watters / sxc
nas nossas florestas?
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Área florestal (em 1.000 ha)
809.090 519.522
310.134 304.022 206.861 154.135
149.300
Fonte: FAO
94.432
69.949 68.434 67.992
Dos 100% de suas florestas originais, a África mantém hoje 7,8%, a Ásia 5,6%, a América Central 9,7% e a Europa — o pior caso do mundo — apenas 0,3% Fonte: Portal Brasil.gov
Fonte: Inpe, 2004
Áreas de desmatamento É uma área de intensa concentração de desmatamento nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, na qual grande parte da floresta deu lugar ao gado e à agricultura
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[ meio ambiente ] Como está bem representada em sua bandeira, a maior par-
pode ser extraído e a melhor forma de fazê-lo, certificação dos
te do Brasil é verde. Embora originalmente a cor não simboli-
produtos ecologicamente corretos e pactos nos quais as empre-
zasse as matas, e sim uma das famílias reais portuguesas do
sas se comprometam a produzir de forma sustentável devem
Império, essa adaptação posterior não foi sem fundamento, já
fazer parte desse conjunto de soluções. “Para que a floresta
que 61% do território correspondem às florestas. Em toda sua
seja preservada, ela precisa ter um valor econômico maior em
extensão, seis biomas compõem nossa área verde: Amazônia,
pé do que deitada”, afirma João Paulo Rodrigues, diretor de Co-
Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal. Dentre
municação e Imprensa da ANAGEA (Associação Nacional dos
elas, a Mata Atlântica encontra-se em estado mais grave. Do
Gestores Ambientais).
Nordeste ao Sul, o bioma com a maior biodiversidade do planeta já teve 93% da sua área devastada. Por sorte, a Amazônia não teve o mesmo destino. Ainda. Mas o que pode ser feito para reverter essa situação? Segundo Paulo Amaral, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), toda atividade econômica desenvolvida na floresta vai causar impacto: “O que é preciso ver é em que modelo desenvolvê-la de forma que cause o menor possível”, analisa. Diante dessa necessidade, algumas ideias já são, mesmo que em pequena escala, colocadas em prática. A medida mais urgente e viável é o manejo sustentável, que proporciona a utilização dos recursos naturais sem destruir a área. Por exemplo, em vez de retirar todas as árvores de um
Em alusão às mulheres guerreiras da mitologia grega, o rio Amazonas ganhou esse nome no século 16 após uma luta entre espanhóis e índias nativas. Mais tarde, o Estado e a floresta da região também foram batizados. Assim como as guerreiras, a Amazônia é imponente. O bioma representa 30% das florestas tropicais do planeta, de acordo com o Serviço Florestal Brasileiro. Porém, ela também é alvo frequente das motosserras, da criação de gado e da agricultura, cujos produtos têm como principal destino o Sudeste, sobretudo os lares paulistas
hectare, removem-se duas sem danificar as outras que estão ao redor. Desse modo, a própria natureza é capaz de se recuperar, o que garante a continuidade da floresta. Além disso, plantação, aperfeiçoamento das políticas públicas, fiscalização e punição, monitoramento, criação de áreas protegidas, pesquisa do que
Fonte: Serviço Florestal Brasileiro
Área do bioma (em ha)
Cobertura florestal (em ha)
419.694.300 203.644.800 111.018.200 84.445.300 15.035.500 17.649.600
354.626.516 66.397.252 29.876.735 46.979.425 8.722.437 3.201.180
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FOTOs: Alexandre Gambarini / Conservação Internacional
O Brasil é o lar de pelo menos 43.020 espécies vegetais e 103.870 animais. Estima-se que a Amazônia sozinha reúna cerca de 10% de toda biodiversidade do planeta (Serviço Florestal Brasileiro)
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[ meio ambiente ] Ampliar, engajar e agir. Esses são os objetivos comunicacionais da ONU para 2011, o Ano Internacional das Florestas. Aumento da visibilidade, criação de responsabilidade e mudança de comportamento rodearão um ciclo no qual o manejo sustentável das florestas será o alvo. A fim de chamar a atenção para a importância delas não só para o meio ambiente de forma geral, mas para as pessoas no dia a dia e o papel de cada um na conservação e exploração sustentável, o tema escolhido da celebração foi “Florestas para o Povo”. FOTO: arquivo ecoaventura
Espera-se que, neste ano, sejam impulsionados debates, discussões, seminários e propostas para resolver problemas ligados à gestão florestal, além de atividades como plantio de árvores, competições artísticas, exposições e publicações educacionais de forma local, com o intuito de se obter um impacto global. FOTO: arquivo ecoaventura
Alta-Floresta - MT
FOTO: Luiz Baltar / sxc
“Muito se fala da importância de conservar a floresta. Por outro lado, alguns setores dizem que ela impede o desenvolvimento. Mas não vai existir desenvolvimento se não tiver florestas” Paulo Amaral, Imazon
FOTO: arquivo ecoaventura
FOTO: Päivi Tiittanen / sxc
FOTO: 5eran chesnutt / sxc
Retirada de madeira — queimada — pecuária bovina — monocultura de soja: um ciclo extrativista que avança na Amazônia
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FOTO: Arquivo ecoaventura
FOTO: Alexandre Gambarini / Conservação Internacional
A Rodovia Transamazônica abriu alas para o desflorestamento
A grande questão que perpassa pelo Ano Internacional das Florestas é a aparente contradição entre interesses econômicos e preservação da natureza. Antonio Carlos Hummel, diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, só enxerga uma saída: “Temos que conciliar o desenvolvimento econômico com a questão ambiental para a nossa sobrevivência e a do planeta. Não é questão de opção, é uma necessidade”, argumenta. Mas é realmente possível explorar sem devastar? Para Patrícia Baião, diretora do Programa Amazônia da ONG Conservação Internacional, essa compatibilização se dará na forma de economias verdes: “Trata-se de um tipo de economia na qual o bem-estar humano aumenta sem que haja degradação do capital natural”. Esse é o desafio não só deste ano, mas do milênio.
“O custo do cuidado é sempre menor que o custo do reparo” (Marina Silva). Quando vamos cuidar dos 24% de florestas primárias que restam no planeta?
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FOTO: Arquivo ecoaventura
“Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro” (Provérbio indígena). De fato, o manejo sustentável é a solução